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Sigmund Freud ....................................................................................... 2 Consciente, Pré-Consciente e Inconsciente ......................................................... 2 Pulsões ou Instintos.............................................................................................. 3 Instintos Básicos............................................................................................................................... 4 Libido e Energia Agressiva ............................................................................................................. 5 Catexia................................................................................................................................................ 5 Estrutura da Personalidade .................................................................................. 6 O Id .................................................................................................................................................... 6 O Ego................................................................................................................................................. 7 O Superego........................................................................................................................................ 7 Relações entre os Três Subsistemas ..................................................................... 8 Obstáculos ao Crescimento .................................................................................. 8 Ansiedade.............................................................................................................. 8 Mecanismos de Defesa ......................................................................................... 9 Repressão........................................................................................................................................... 9 Negação ........................................................................................................................................... 10 Racionalização................................................................................................................................. 10 Formação Reactiva ......................................................................................................................... 11 Projecção.......................................................................................................................................... 12 Regressão ......................................................................................................................................... 12 Sublimação....................................................................................................................................... 13 Deslocamento ................................................................................................................................. 13 Referência ............................................................................................................13 Transtornos de Personalidade ............................................................... 14 Aspectos Psicobiológicos e Transtornos de Personalidade ................................16 Transtorno Paranóide de Personalidade ..................................................................................... 16 Transtorno Esquizóide de Personalidade ................................................................................... 18 Transtorno Histriónico da Personalidade ................................................................................... 20 Transtorno Ansioso da Personalidade ........................................................................................ 22 Transtorno Obsessivo-Compulsivo da Personalidade (Anancástico) .................................... 23 1 Sigmund Freud Freud inicia seu pensamento teórico assumindo que não há nenhuma descontinuidade na vida mental. Ele afirmou que nada ocorre ao acaso e muito menos os processos mentais. Há uma causa para cada pensamento, para cada memória revivida, sentimento ou acção. Cada evento mental é causado pela intenção consciente ou inconsciente e é determinado pelos fatos que o precederam. Uma vez que alguns eventos mentais "parecem" ocorrer espontaneamente, Freud começou a procurar e descrever os elos ocultos que ligavam um evento consciente a outro. O ponto de partida dessa investigação é o facto da consciência. Consciente, Pré-Consciente e Inconsciente Segundo Freud, o consciente é somente uma pequena parte da mente, incluindo tudo do que estamos cientes num dado momento. O interesse de Freud era muito maior com relação às áreas da consciência menos expostas e exploradas, que ele denominava Pré-Consciente e Inconsciente. Inconsciente. A premissa inicial de Freud era de que há conexões entre todos os eventos mentais e quando um pensamento ou sentimento parece não estar relacionado aos pensamentos e sentimentos que o precedem, as conexões estariam no inconsciente. Uma vez que estes elos inconscientes são descobertos, a aparente descontinuidade está resolvida. "Denominamos um processo psíquico inconsciente, cuja existência somos obrigados a supor - devido a um motivo tal que inferimos a partir de seus efeitos - mas do qual nada sabemos" (1933, livro 28, p. 90 na ed. bras.). No inconsciente estão elementos instintivos não acessíveis à consciência. Além disso, há também material que foi excluído da consciência, censurado e reprimido. Este material não é esquecido nem perdido mas não é permitido ser lembrado. O pensamento ou a memória ainda afectam a consciência, mas apenas indirectamente. O inconsciente, por sua vez, não é apático e inerte, havendo uma vivacidade e imediatismo em seu material. Memórias muito antigas quando liberadas à consciência, podem mostrar que não perderam nada de sua força emocional. "Aprendemos pela experiência que os processos mentais inconscientes são em si mesmos intemporais. Isto significa em primeiro 2 lugar que não são ordenados temporalmente, que o tempo de modo algum os altera, e que a idéia de tempo não lhes pode ser aplicada" (1920, livro 13, pp. 41-2 na ed. bras.). Assim sendo, para Freud a maior parte da consciência é inconsciente. Ali estão os principais determinantes da personalidade, as fontes da energia psíquica, as pulsões e os instintos. Pré-consciente. Estritamente falando, o Pré-Consciente é uma parte do Inconsciente, uma parte que pode tornar-se consciente com facilidade. As porções da memória que nos são facilmente acessíveis fazem parte do Pré-Consciente. Estas podem incluir lembranças de ontem, o segundo nome, as ruas onde moramos, certas datas comemorativas, nossos alimentos predilectos, o cheiro de certos perfumes e uma grande quantidade de outras experiências passadas. O Pré-Consciente é como uma vasta área de posse das lembranças de que a consciência precisa para desempenhar suas funções. Pulsões ou Instintos Instintos são pressões que dirigem um organismo para determinados fins particulares. Quando Freud usa o termo, ele não se refere aos complexos padrões de comportamento herdados dos animais inferiores, mas aos seus equivalentes humanos. Tais instintos são "a suprema causa de toda actividade" (1940, livro 7, p. 21 na ed. bras.). Freud reconhecia os aspectos físicos dos instintos como necessidades, enquanto denominava seus aspectos mentais de desejos. Os instintos são as forças propulsoras que incitam as pessoas à acção. Todo instinto tem quatro componentes: uma fonte, uma finalidade, uma pressão e um objecto. A fonte é quando emerge uma necessidade, podendo ser uma parte ou todo corpo. A finalidade é reduzir essa necessidade até que nenhuma acção seja mais necessária, é dar ao organismo a satisfação que ele deseja no momento. A pressão é a quantidade de energia ou força que é usada para satisfazero instinto e é determinada pela intensidade ou urgência da necessidade subjacente. O objecto de um instinto é qualquer coisa, acção ou expressão que permite a satisfação da finalidade original. Tomamos como exemplo uma pessoa com sede. O corpo desidrata- se até o ponto em que precisa de mais líquido, portanto, a fonte é a necessidade crescente de líquidos. À medida que a necessidade se torna maior, torna-se consciente como a sensação de sede. Enquanto esta sede não for satisfeita, torna-se mais pronunciada e, ao mesmo tempo em que aumenta sua intensidade, também aumenta a pressão ou energia disponível para fazer algo no sentido de aliviar a sede. 3 A finalidade é reduzir a tensão e o objecto não é simplesmente um líquido, seja leite, água ou cerveja, mas todo o ato que busca reduzir essa tensão. Isto inclui levantar-se, ir a um determinado lugar, escolher entre várias bebidas, preparar uma delas e bebê-la. Enquanto as reacções iniciais de busca podem ser instintivas, o ponto crítico a ser lembrado é que há a possibilidade de satisfazer o instinto de várias maneiras. A capacidade de satisfazer necessidades nos animais é via de regra limitada a um padrão de comportamento estereotipado de cada espécie. Os instintos humanos servem apenas para iniciar a acção. Mas esta, por sua vez, não é predeterminada pela biologia de nossa espécie e nem se caracteriza sempre numa determinada acção particular. O número de soluções possíveis para um ser humano satisfazer uma finalidade instintiva é uma soma de sua necessidade biológica inicial, mais seu desejo mental (que pode ou não ser consciente) e mais uma grande quantidade de ideias anteriores, hábitos e opções disponíveis. Freud assume que o modelo mental e comportamental normal e saudável tem a finalidade de reduzir a tensão a níveis previamente aceitáveis. Uma pessoa com certa necessidade continuará buscando actividades que possam reduzir esta tensão original. O ciclo completo de comportamento que parte do repouso para a tensão e a actividade, e volta para o repouso, é denominado modelo de tensão-redução. As tensões são resolvidas pela volta do corpo ao nível de equilíbrio que existia antes da necessidade emergir. Ao examinar analiticamente um determinado comportamento, Freud considerava que a pessoa procurava satisfazer, por essa actividade, suas pulsões psicofísicas subjacentes. Se observarmos pessoas comendo, supomos que elas estão satisfazendo sua fome, da mesma forma como se estão chorando será provável que algo as perturbou. O trabalho analítico envolve a procura das causas dos pensamentos e comportamentos, de modo que se possa lidar de forma mais adequada com uma necessidade que está sendo imperfeitamente satisfeita por um pensamento ou comportamento particular. No entanto, vários pensamentos e comportamentos parecem não reduzir esta tensão. De fato, eles aparecem para criar mais tensão ou ansiedade. Estes comportamentos podem indicar que a expressão direta de um instinto pode ter sido bloqueada. Embora seja possível catalogar uma série ampla de instintos, Freud tentou reduzir esta diversidade a alguns instintos que chamou de básicos. Instintos Básicos 4 Num primeiro momento Freud descreveu duas forças instintivas opostas, a sexual (erótica ou fisicamente gratificante) e a agressiva ou destrutiva. Suas últimas descrições, mais globais, encararam essas forças ou como mantenedoras da vida ou como incitadoras da morte. Essas formulações supõem dois conflitos instintivos básicos, biológicos, contínuos e não- resolvidos. Tal antagonismo básico não costuma ser visível ou consciente, e a maioria de nossos pensamentos e acções são evocados por estas ambas forças instintivas em combinação. Freud impressionou-se com a diversidade e complexidade do comportamento que emerge da fusão das pulsões básicas. Por exemplo, ele escreve: "Os instintos sexuais fazem-se notar por sua plasticidade, sua capacidade de alterar suas finalidades, sua capacidade de se substituírem, permitindo uma satisfação instintiva ser substituída por outra, e por sua possibilidade de se submeterem a adiamentos . . . " (1933, livro 28, p. 122 na ed. bras.). Os instintos seriam então, canais através dos quais a energia pudesse fluir. Libido e Energia Agressiva Cada um destes instintos gerais teria uma fonte de energia separadamente. Libido (da palavra latina para "desejo" ou "anseio") é a energia aproveitável para os instintos de vida. "Sua produção, aumento ou diminuição, distribuição e deslocamento devem propiciar-nos possibilidades de explicar os fenómenos psicossexuais observados" ( 1905a, livro 2, p. 113 na ed. bras.). Outra característica importante da libido é sua mobilidade, ou a facilidade com que pode passar de uma área de atenção para outra. A energia do instinto de agressão ou de morte não tem um nome especial, como tem o instinto da vida (Libido). Ela supostamente apresenta as mesmas propriedades gerais que a Libido, embora Freud não tenha elucidado este aspecto. Catexia Catexia é o processo pelo qual a energia libidinal disponível na psique é vinculada a ou investida na representação mental de uma pessoa, ideia ou coisa. A libido que foi catexizada perde sua mobilidade original e não pode mais mover-se em direcção a novos objectos. Está enraizada em qualquer parte da psique que a atraiu e segurou. Tomando a Libido como exemplo de uma dada quantidade de dinheiro, a Catexia seria o processo de investir esse dinheiro. Digamos, então, que uma porção do dinheiro foi investida (catexizada), permanecendo nessa hipotética aplicação e deixando algo a menos do montante original para investir em outro lugar. 5 Estudos psicanalíticos sobre luto, por exemplo, interpretam o desinteresse das ocupações normais e a preocupação com o recente finado como uma retirada de Libido dos relacionamentos habituais e uma extrema Catexia na pessoa perdida. A teoria psicanalítica se interessa em compreender onde a libido foi catexizada inadequadamente. Uma vez liberada ou redireccionada, esta mesma energia ficará disponível para satisfazer outras necessidades habituais. A necessidade de liberar energias presas também se encontra nos trabalhos de Rogers e Maslow, assim como no Budismo. Cada uma dessas teorias chega a diferentes conclusões a respeito da fonte da energia psíquica, mas todos concordam com a alegação freudiana de que a identificação e a canalização dessa energia são uma questão importante na compreensão da personalidade. Estrutura da Personalidade As observações de Freud revelaram uma série interminável de conflitos e acordos psíquicos. A um instinto opunha-se outro. Eram proibições sociais que bloqueavam pulsões biológicas e os modos de enfrentar situações frequentemente chocavam-se uns com os outros. Ele tentou ordenar este caos aparente propondo três componentes básicos estruturais da psique: o Id, o Ego e o Superego. O Id O Id contém tudo o que é herdado, que se acha presente no nascimento e está presente na constituição, acima de tudo os instintos que se originam da organização somática e encontram expressão psíquica sob formas que nos são desconhecidas (1940, livro 7, pp. 17-18 na ed. bras.). O Id é a estrutura da personalidade original, básica e central do ser humano, exposta tanto às exigências somáticas do corpo às exigências do ego e do superego. As leis lógicas do pensamento não se aplicam ao Id, havendo assim, impulsos contrários lado a lado, sem que um anule o outro, ou sem que um diminua o outro (1933, livro 28, p. 94 na ed. bras.). O Id seria o reservatório de energia de toda a personalidade. O Id pode ser associado a um cavalo cuja força é total, mas que depende do cavaleiro para usar de modo adequado essa força. Os conteúdos do Id são quase todos inconscientes, eles incluem configurações mentais que nunca se tornaram conscientes, assim como o material que foi considerado inaceitável pela consciência. Um pensamento ou uma lembrança,excluído da consciência mas localizado na área do Id, será capaz de influenciar toda vida mental de uma pessoa. 6 O Ego O Ego é a parte do aparelho psíquico que está em contacto com a realidade externa. O Ego se desenvolve a partir do Id, à m edida que a pessoa vai tom ando consciência de sua própria identidade, vai aprendendo a aplacar as constantes exigências do Id. Com o a casca de um a árvore, o Ego protege o Id, m as extrai dele a energia suficiente para suas realizações. Ele tem a tarefa de garantir a saúde, segurança e sanidade da personalidade. Uma das características principais do Ego é estabelecer a conexão entre a percepção sensorial e a acção muscular, ou seja, comandar o movimento voluntário. Ele tem a tarefa de auto-preservação. Com referência aos acontecimentos externos, o Ego desempenha sua função dando conta dos estímulos externos, armazenando experiências sobre eles na memória, evitando o excesso de estímulos internos (mediante a fuga), lidando com estímulos moderados (através da adaptação) e aprendendo, através da actividade, a produzir modificações convenientes no mundo externo em seu próprio benefício. Com referência aos acontecimentos internos, ou seja, em relação ao Id, o Ego desempenha a missão de obter controle sobre as exigências dos instintos, decidindo se elas devem ou não ser satisfeitas, adiando essa satisfação para ocasiões e circunstâncias mais favoráveis ou suprimindo inteiramente essas excitações. O Ego considera as tensões produzidas pelos estímulos, coordena e conduz estas tensões adequadamente. A elevação dessas tensões é, em geral, sentida como desprazer e a sua redução como prazer. O ego se esforça pelo prazer e busca evitar o desprazer (1940, no. 7, pp. 18-19 na cd. bras.). Assim sendo, o ego é originalmente criado pelo Id na tentativa de melhor enfrentar as necessidades de reduzir a tensão e aumentar o prazer. Contudo, para fazer isto, o Ego tem de controlar ou regular os impulsos do Id, de modo que a pessoa possa buscar soluções mais adequadas, ainda que menos imediatas e mais realistas. O Superego Esta última estrutura da personalidade se desenvolve a partir do Ego. O Superego actua como um juiz ou censor sobre as actividades e pensamentos do Ego, é o depósito dos códigos morais, modelos de conduta e dos parâmetros que constituem as inibições da personalidade. Freud descreve três funções do Superego: consciência, auto-observação e formação de ideais. Enquanto consciência pessoal, o Superego age tanto para restringir, proibir ou julgar a actividade consciente, porém, ele também pode agir 7 inconscientemente. As restrições inconscientes são indirectas e podem aparecer sob a forma de compulsões ou proibições. O Superego tem a capacidade de avaliar as actividades da pessoa, ou seja, da auto-observação, independentemente das pulsões do Id para tensão-redução e independentemente do Ego, que também está envolvido na satisfação das necessidades. A formação de ideais do Superego está ligada a seu próprio desenvolvimento. O Superego de uma criança é, com efeito, construído segundo o modelo não de seus pais, mas do Superego de seus pais; os conteúdos que ele encerra são os mesmos e torna-se veículo da tradição e de todos os duradouros julgamentos de valores que dessa forma se transmitiram de geração em geração (1933, livro 28, p. 87 na ed. bras.). Relações entre os Três Subsistemas A meta fundamental da psique é manter e recuperar, quando perdido, um nível aceitável de equilíbrio dinâmico que maximiza o prazer e minimiza o desprazer. A energia que é usada para accionar o sistema nasce no Id, que é de natureza primitiva, instintiva. 0 ego, emergindo do id, existe para lidar realisticamente com as pulsões básicas do id e também age como mediador entre as forças que operam no Id e no Superego e as exigências da realidade externa. O superego, emergindo do ego, actua como um freio moral ou força contrária aos interesses práticos do ego. Ele fixa uma série de normas que definem e limitam a flexibilidade deste último. O id é inteiramente inconsciente, o ego e o superego o são em parte. "Grande parte do ego e do superego pode permanecer inconsciente e é normalmente inconsciente. Isto é, a pessoa nada sabe dos conteúdos dos mesmos e é necessário despender esforços para torná-los conscientes" ( 1933, livro 28, p. 89 na ed. bras.). Nesses termos, o propósito prático da psicanálise "é, na verdade, fortalecer o ego, fazê-lo mais independente do superego, ampliar seu campo de percepção e expandir sua organização, de maneira a poder assenhorear-se de novas partes do id" (1933, livro 28, p. 102 na ed. bras.). Obstáculos ao Crescimento Ansiedade Para Freud, o principal problema da psique é encontrar maneiras de enfrentar a ansiedade. Esta é provocada por um aumento, esperado ou previsto, da tensão ou desprazer, podendo se desenvolver em qualquer situação (real ou imaginada), quando a ameaça a alguma parte do corpo ou da psique é muito grande para ser ignorada, dominada ou descarregada. 8 As situações prototípicas que causam ansiedade incluem as seguintes: 1. Perda de um objecto desejado. Por exemplo, uma criança privada de um dos pais, de um amigo íntimo ou de um animal de estimação. 2. Perda de amor. A rejeição ou o fracasso em reconquistar o amor, por exemplo, ou a desaprovação de alguém que lhe importa. 3. Perda de identidade. É o caso, por exemplo, daquilo que Freud chama de medo de castração, da perda de prestígio, de ser ridicularizado em público. 4. Perda de auto-estima. Por exemplo a desaprovação do Superego por actos ou tracções que resultam em culpa ou ódio em relação a si mesmo. A ameaça desses ou de outros eventos causa ansiedade e haveria, segundo Freud, dois modos de diminuir a ansiedade. O primeiro modo seria lidando diretamente com a situação. Resolvemos problemas, superamos obstáculos, enfrentamos ou fugimos de ameaças, e chegamos a termo de um problema a fim de minimizar seu impacto. Desta forma, lutamos para eliminar dificuldades e diminuir probabilidades de sua repetição, reduzindo, assim, as perspectivas de ansiedade adicional no futuro. A outra forma de defesa contra a ansiedade deforma ou nega a própria situação. O Ego protege a personalidade contra a ameaça, falsificando a natureza desta. Os modos pelos quais se dão as distorções são denominados Mecanismos de Defesa. Mecanismos de Defesa Os principais Mecanismos de Defesa psicológicos descritos são: repressão, negação, racionalização, formação reactiva, isolamento, projecção, regressão e sublimação (Anna Freud, 1936; Fenichel, 1945). Todos estes mecanismos podem ser encontrados em indivíduos saudáveis, e sua presença excessiva é, via de regra, indicação de possíveis sintomas neuróticos. Freud não pretendeu que suas observações sobre Mecanismo de Defesa fossem inteiramente originais. Ele citava outras observações sobre o tema. A presença dos mecanismos é frequente em indivíduos saudáveis, mas, em excesso é indicação de sintomas neuróticos ou, em alguns casos extremos, o excesso indicaria até sintomas psicóticos, como por exemplo e principalmente, o excesso dos mecanismos de projeção, negação da realidade e clivagem do ego (Dr. Vasco Soares). Repressão A essência da Repressão consiste em afastar uma determinada coisa do consciente, mantendo-a à distância (no inconsciente) (1915, livro 11, p. 60 na ed. bras.). A repressão afasta da consciência um evento, ideia ou percepção potencialmente provocadoras de ansiedade e impede, dessa 9 forma, qualquer "manipulação" possível desse material. Entretanto, o material reprimido continua fazendo parte da psique, apesar de inconsciente, e que continua causando problemas. Segundo Freud, a repressão nunca é realizada de uma vez por todas e definitivamente, mas exige um continuado consumo de energia para se manter o material reprimido. Para ele os sintomas histéricos com frequência têm sua origemem alguma antiga repressão. Algumas doenças psicossomáticas, tais como asma, artrite e úlcera, também poderiam estar relacionadas com a repressão. Também é possível que o cansaço excessivo, as fobias e a impotência ou a frigidez derivem de sentimentos reprimidos. Negação Negação é a tentativa de não aceitar na consciência algum fato que perturba o Ego. Os adultos têm a tendência de fantasiar que certos acontecimentos não são, de fato, do jeito que são, ou que na verdade nunca aconteceram. Este voo de fantasia pode tomar várias formas, algumas das quais parecem absurdas ao observador objectivo. A seguinte estória é uma ilustração da negação: Uma mulher foi levada à Corte a pedido de seu vizinho. Esse vizinho acusava a mulher de ter pego e danificado um vaso valioso. Quando chegou a hora da mulher se defender, sua defesa foi tripla: "Em primeiro lugar, nunca tomei o vaso emprestado. Em segundo lugar, estava lascado quando eu o peguei. Finalmente, Sua Excelência, eu o devolvi em perfeito estado". A notável capacidade de lembrar-se incorrectamente de fatos é a forma de negação encontrada com maior frequência na prática psicoterápica. O paciente recorda-se de um acontecimento de forma vívida, depois, mais tarde, pode lembrar-se do incidente de maneira diferente e, de súbito, dar-se conta de que a primeira versão era uma construção defensiva. Para exemplificar a Negação, Freud citou Darwin, que em sua autobiografia dizia obedecer a uma regra de ouro: sempre que eu deparava com um fato publicado, uma nova observação ou pensamento, que se opunha aos meus resultados gerais, eu imediatamente anotava isso sem errar, porque a experiência me ensinou que tais fatos e pensamentos fogem da memória com muito maior facilidade que os fatos que nos são totalmente favoráveis. Racionalização Racionalização é o processo de achar motivos lógicos e racionais aceitáveis para pensamentos e acções inaceitáveis. É o processo através do qual uma pessoa apresenta uma explicação que é logicamente consistente ou 10 eticamente aceitável para uma atitude, acção, ideia ou sentimento que causa angústia. Usa-se a Racionalização para justificar comportamentos quando, na realidade, as razões para esses actos não são recomendáveis. A afirmação quotidiana de que "eu só estou fazendo isto para seu próprio bem" pode ser a Racionalização do sentimento ou pensamento de que "eu quero fazer isto para você, eu não quero que me façam isto ou até mesmo, eu quero que você sofra um pouco". Também pode ser Racionalização a afirmação de que "eu acho que estou apaixonado por você". Na realidade poderia estar sentido que "estou ligado no teu corpo, quero que você se ligue no meu". Racionalização é um modo de aceitar a pressão do Superego, de disfarçar verdadeiros motivos, de tornar o inaceitável mais aceitável. Enquanto obstáculo ao crescimento, a Racionalização impede a pessoa de aceitar e de trabalhar com as forças motivadoras genuínas, apesar de menos recomendáveis. Formação Reactiva Esse mecanismo substitui comportamentos e sentimentos que são diametralmente opostos ao desejo real. Trata-se de uma inversão clara e, em geral, inconsciente do verdadeiro desejo. Como outros mecanismos de defesa, as formações reactivas são desenvolvidas, em primeiro lugar, na infância. As crianças, assim como incontáveis adultos, tornam-se conscientes da excitação sexual que não pode ser satisfeita, evocam consequentemente forças psíquicas opostas a fim de suprimirem efectivamente este desprazer. Para essa supressão elas costumam construir barreiras mentais contrárias ao verdadeiro sentimento sexual, como por exemplo, a repugnância, a vergonha e a moralidade. Não só a ideia original é reprimida, mas qualquer vergonha ou auto- reprovação que poderiam surgir ao admitir tais pensamentos em si próprios também são excluídas da consciência. Infelizmente, os efeitos colaterais da Formação Reactiva podem prejudicar os relacionamentos sociais. As principais características reveladoras de Formação Reactiva são seu excesso, sua rigidez e sua extravagância. O impulso, sendo negado, tem que ser cada vez mais ocultado. Através da Formação Reactiva, alguns pais são incapazes de admitir um certo ressentimento em relação aos filhos, acabam interferindo exageradamente em suas vidas, sob o pretexto de estarem preocupados com seu bem-estar e segurança. Nesses casos a superprotecção é, na verdade, uma forma de punição. O esposo pleno de raiva contra sua esposa pode manifestar sua Formação Reactiva tratando-a com formalidade exagerada: "não é querida..." A Formação Reactiva oculta partes da 11 personalidade e restringe a capacidade de uma pessoa responder a eventos e, dessa forma, a personalidade pode tornar-se relativamente inflexível. Projecção O ato de atribuir a uma outra pessoa, animal ou objecto as qualidades, sentimentos ou intenções que se originam em si próprio, é denominado projecção. É um mecanismo de defesa através do qual os aspectos da personalidade de um indivíduo são deslocados de dentro deste para o meio externo. A ameaça é tratada como se fosse uma força externa. A pessoa com Projecção pode, então, lidar com sentimentos reais, mas sem admitir ou estar consciente do fato de que a ideia ou comportamento temido é dela mesma. Alguém que afirma textualmente que "todos nós somos algo desonestos" está, na realidade, tentando projectar nos demais suas próprias características. Ou então, dizer que "todos os homens e mulheres querem apenas uma coisa, sexo", pode reflectir uma Projecção nos demais de estar pessoalmente pensando muito a respeito de sexo. Outras vezes dizemos que "inexplicavelmente Fulano não gosta de mim", quando na realidade sou eu quem não gosta do Fulano gratuitamente. Sempre que caracterizamos algo de fora de nós como sendo mau, perigoso, pervertido, imoral e assim por diante, sem reconhecermos que essas características podem também ser verdadeiras para nós, é provável que estejamos a projectar. Pesquisas relativas à dinâmica do preconceito mostraram que as pessoas que tendem a estereotipar outras também revelam pouca percepção de seus próprios sentimentos. As pessoas que negam ter um determinado traço específico de personalidade são sempre mais críticas em relação a este traço quando o vêem nos outros. Regressão Regressão é um retorno a um nível de desenvolvimento anterior ou a um modo de expressão mais simples ou mais infantil. É um modo de aliviar a ansiedade escapando do pensamento realístico para comportamentos que, em anos anteriores, reduziram a ansiedade. Linus, nas estórias em quadrinhos de Charley Brown, sempre volta a um espaço psicológico seguro quando está sob tensão. Ele se sente seguro quando agarra seu cobertor, tal como faria ou fazia quando bebé. A regressão é um modo de defesa bastante primitivo e, embora reduza a tensão, frequentemente deixa sem solução a fonte de ansiedade original. 12 Sublimação A energia associada a impulsos e instintos socialmente e pessoalmente constrangedores é, na impossibilidade de realização destes, canalizada para actividades socialmente meritórias e reconhecidas. A frustração de um relacionamento afectivo e sexual mal resolvido, por exemplo, é sublimada na paixão pela leitura ou pela arte. Deslocamento É o mecanismo psicológico de defesa onde a pessoa substitui a finalidade inicial de uma pulsão por outra diferente e socialmente mais aceita. Durante uma discussão, por exemplo, a pessoa tem um forte impulso em socar o outro, entretanto, acaba deslocando tal impulso para um copo, o qual atira ao chão. Referência Ballone GJ - Alfred Adler, in. PsiqWeb, internet, disponível em http://www.psiqweb.med.br/, revisto em 2005 • - baseado no livro "Teorias da Personalidade"- J. Fadiman, R. Frager - Harbra - 1980 para saber mais: Tipos Psicológicos - C.G.Jung - Zahar Editores - RJ - 1980 13 Transtornos de Personalidade Os Transtornos da Personalidade caracterizampessoas que não têm uma maneira absolutamente normal de viver (do ponto de vista estatístico e comparando com a média das outras pessoas) mas não chegam a preencher os critérios para um transtorno mental franco. Estas alterações quando permanentes, diferem das alterações patológicas que podem surgir de um momento para outro, constitui o que poderíamos chamar de Ego Patológico ou Transtorno de Personalidade (Ey). De acordo com Henri Ey, entendendo o Ego como equivalente à Personalidade, a liberdade e a individualidade características da personalidade normal estariam comprometidas em determinadas alterações permanentes da maneira de existir no mundo, como se ap pessoa fosse refém de seus próprios traços, inflexíveis e permanentes. O Transtorno de Personalidade seria uma maneira de actuar permanente, continuada e duradoura de um Ego não-normal, ao contrário das alterações francamente patológicas que podem ocorrer durante a vida, à partir de um momento definido (tal qual as crises, os surtos, os processos patológicos). Em psicopatologia, as anormalidades da personalidade se reportam, principalmente, à possibilidade que se tem de classificar determinada personalidade como sendo desta ou daquela maneira de existir, enquanto o normal seria a pessoa ser "um pouco de tudo", ou seja, ter um pouco de cada característica humana sem prevalecer patologicamente nenhuma delas. Desta forma, diante da possibilidade de se destacar um traço marcante, específico e característico numa determinada pessoa, ou seja, diante do fato desta personalidade ser caracterizada por um determinado traço, torna-se possível sua classificação. Caso ainda esta característica responsável por sua classificação, prejudique a liberdade desta personalidade ser livre e desimpedida de qualquer estigma limitador de sua maneira de ser, caso ainda essa característica faça sofrer seu portador ou outras pessoas, aí então, ao invés de estarmos diante de apenas um certo tipo de personalidade, ou de um certo traço, estaremos diante de um Transtorno de Personalidade. Karl Jaspers afirma serem anormais as personalidades que fazem sofrer tanto o indivíduo quanto aqueles que o rodeiam. Para ele as personalidades anormais representam variações não-normais da natureza humana e que, na eventualidade de superpor-se à elas algum processo, tornar-se-iam personalidades propriamente mórbidas (doentias). Jaspers aborda o tema sob a ótica das variações do existir humano de origem constitucional (que fazem parte da pessoa). 14 Assim sendo, podemos considerar a maneira própria das Personalidades Anormais de ser no mundo como uma apresentação do indivíduo diante da vida situada nas extremidades da faixa de tolerância de sanidade pelo sistema cultural. Estas personalidades anormais seriam alterações perenes do caráter caracterizando não apenas a maneira de ESTAR no mundo mas, sobretudo, a maneira do indivíduo SER no mundo. A Organização Mundial de Saúde trata o assunto sob o titulo de Transtornos da Personalidade e de Comportamentos, especificando-os nos títulos de F60 até F69 na Classificação Internacional das Doenças (CID- 10). Descreve tais transtornos da seguinte maneira: “Estes tipos de condição (Transtornos de Personalidade) abrangem padrões de comportamento profundamente arraigados e permanentes, manifestando-se como respostas inflexíveis a uma ampla série de situações pessoais e sociais. Eles representam desvios extremos ou significativos do modo como o indivíduo médio, em uma dada cultura, percebe, pensa, sente e, particularmente, se relaciona com os outros. Tais padrões de comportamento tendem a ser estáveis e a abranger múltiplos domínios de comportamento e funcionamento psicológico. Eles estão frequentemente, mas não sempre, associados a graus variados de angústia subjetiva e a problemas no funcionamento e desempenho sociais”. Os Transtornos de Personalidade, segundo ainda o CID-10, são condições do desenvolvimento da personalidade, aparecem na infância ou adolescência e continuam pela vida adulta. Esta condição diferencia o Transtorno da Alteração da Personalidade. Esta última (Alteração), sucede durante a vida como consequência de algum outro transtorno emocional ou mesmo seguindo-se à stress grave. O Transtorno de Personalidade, conforme esta classificação diz, ao tratar dos Transtornos Específicos (uma subdivisão dos Transtornos em geral), são perturbações graves da constituição do carácter e das tendências comportamentais, portanto, não são adquiridas do meio. Desta forma, os Transtornos de Personalidade seriam modalidades incomuns do indivíduo interagir com sua vida, de se manifestar socialmente, de experimentar sentimentos (ou não experimentá-los). A CID-10 apresenta entre os títulos F60 e F69 uma grande variedade de subtipos de Transtornos de Personalidade. Procuraremos aqui compatibilizá-los todos com outras classificações de forma a abordar os tipos sinónimos com a mesma descrição. O DSM-III-R falava sobre o que deve ser entendido dos Distúrbios da Personalidade de maneira muito próxima ao que a O.M.S. considera válido para seus Transtornos da Personalidade; "Características de personalidade são padrões duradouros de percepção, relação e pensamento acerca do ambiente e de si mesmo, e são exibidos numa ampla faixa de 15 contextos sociais e pessoais importantes. É somente quando as características de personalidade são inflexíveis e inadaptadas, e causam um comprometimento funcional significativo é que elas constituem os Transtornos da Personalidade. As manifestações dos Transtornos da Personalidade são, freqüentemente, reconhecíveis na adolescência ou mais cedo, e continuam por quase toda a vida adulta, embora elas muitas vezes se tornem menos óbvias nas faixas médias ou extremas de idade". O DSM-IV fala dos Transtornos da Personalidade da seguinte forma: "Um Transtorno da Personalidade é um padrão persistente de vivência íntima ou comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, é invasivo e inflexível, tem seu início na adolescência ou começo da idade adulta, é estável ao longo do tempo e provoca sofrimento ou prejuízo." Aspectos Psicobiológicos e Transtornos de Personalidade As diferenças biológicas individuais têm sido há muito tempo relacionadas à diversos tipo de temperamento e de personalidade e cada avanço da ciência torna mais clara a interacção dos factores genéticos e ambientais na determinação da constituição da pessoa. Modernamente considera-se que o estudo dos Transtornos da Personalidade se estrutura sobre quatro domínios psicobiológicos. São eles: 1. A regulação dos impulsos; 2. A modulação afectiva; 3. A organização cognitiva e; 4. O controle da ansiedade. E estudo dessas, digamos, funções psíquicas, extremamente relacionadas às alterações da personalidade, tem recebido substancial contribuição pelos modernos métodos de avaliação bioquímica, pelos exames neuropsicológicos e pelas imagens computadorizadas das tomografias e dos aparelhos de emissão de pósitrons. Transtorno Paranóide de Personalidade A característica essencial deste distúrbio é uma tendência global e injustificável para interpretar as ações das pessoas como deliberadamente humilhantes ou ameaçadoras. Tem normalmente início no final da adolescência ou no começo da idade adulta. Quase invariavelmente há uma crença de estar sendo explorado ou prejudicado pelos outros de alguma forma e, por causa disso, a lealdade e fidelidade das pessoas estão sendo sempre questionadas. Muitas vezes o portador deste Transtorno é patologicamente ciumento e questionador da fidelidade do cônjuge, ao ponto de causar situações francamente constrangedoras. O portador deste distúrbio de personalidade pode interpretar acontecimentos triviais e rotineiros como humilhantes e ameaçadores, desde um erro casual no saldo bancário, até um cumprimento não efusivo 16 podem significar atitudes premeditadamentemaldosas. Há uma sensibilidade exagerada às contrariedades ou a tudo que possa ser interpretado como rejeição, uma tendência para distorcer as experiências, interpretando-as como se fossem hostis ou depreciativas, ainda que neutras e amistosas (pensamento paranóide). Estas pessoas podem sentir-se irremediavelmente humilhadas e enganadas, consequentemente agressivas e insistentemente reivindicadoras de seus direitos. Sobrevalorizam sua própria importância, as suas ideias são as únicas correctas e seus pontos de vistas não devem ser contestadas, daí a facilidade em conquistar inimigos e a tendência em pensamentos auto- referentes. São desconfiadas, teimosas, dissimuladoras e obstinadas, vivem numa solidão frequentemente confundida com timidez, como se não houvesse no mundo pessoas com quem pudessem partilhar sua prodigalidade, dignidade e seus sentimentos superiores. As pessoas com Transtorno Paranóide da Personalidade são extremamente sarcásticas em suas críticas, irónicas ao extremo nos comentários e contornam as eventuais situações constrangedoras recorrendo a artimanhas teatrais e chantagens emocionais. Não toleram críticas dirigidas à sua pessoa e qualquer comentário neste sentido é entendido como declaração de inimizade. Pelo entusiasmo com que valorizam suas ideias, sempre as únicas corretas, podem ser vistos como fanáticos nas várias áreas do pensamento; seja religioso, político, ético ou profissional. Gostam de fantasiar mas tem dificuldades em distinguir a fantasia da realidade. Pessoas com estes distúrbios são hiper-vigilantes e tomam precaução contra qualquer ameaça percebida. A afectividade, nestes casos, é muitas vezes restrita e pode parecer fria, dado ao gosto destas pessoas em serem sempre objectivas, racionais e pouco emocionais. Recomenda-se, como critérios para este Transtorno, que sejam caracterizados por: a) sensibilidade exagerada à contratempos e rejeições; b) tendência a guardar rancores persistentemente, isto é, recusam à perdoar aquilo que julgam como insultos ou desfeitas: c) desconfiança e tendência à interpretar erroneamente as experiências amistosas ou neutras; d) obstinado senso de direitos pessoais em desacordo com a situação real; e) suspeitas injustificáveis em relação à fidelidade (conjugal ou de amigos); f) autovalorização excessiva; g) pressuposições quanto à conspirações 17 Transtorno Esquizóide de Personalidade Este tipo de distúrbio é verificado em pessoas que exibem um padrão de afastamento social persistente, um constante desconforto nas interações humanas, uma excentricidade de comportamento e pensamento, isolamento e introversão. O esquizóide nos dá a impressão de desinteresse, reserva e falta de envolvimento com os acontecimentos cotidianos e com as preocupações alheias, normalmente ele tem pouca necessidade de vínculos emocionais. Este tipo de personalidade reflecte interesses na solidão, em trabalhos solitários e em actividades não competitivas. Por outro lado, estas pessoas são capazes de investir grande energia afectiva em interesses que não envolvam seres humanos e podem ligar-se muito aos animais. Normalmente são os últimos a aceitarem as variações da moda popular, mas normalmente mantém-se algo excêntricos. Frequentemente absorvem-se em certas obsessões acerca de dietas esdrúxulas, programas de saúde alternativos, movimentos religiosos e filosóficos incomuns, esquemas de aperfeiçoamento sócio-culturais, associações mais ou menos secretas de assuntos esotéricos. Embora pareçam absortos em devaneios fantasiosos e fantásticos, não perdem a capacidade de reconhecer a realidade. Não obstante os Esquizóides podem oferecer ao mundo idéias realmente criativas e originais. Juntando os critérios estabelecidos pelo DSM-IV e pelo CID-10 para o diagnóstico deste tipo de transtorno podemos recomendar o seguinte: a) um padrão de indiferença às relações sociais e uma variação pobre da expressão emocional; b) indiferença aos sentimentos alheios; c) questionamento, indisposição e desrespeito às normas e obrigações sociais; d) pouco interesse em relações sexuais; e) preferência quase invariável por atividades solitárias; f) preocupação excessiva com fantasias e introspecção; g) falta de amigos íntimos, relacionamentos confidentes e a falta de desejo de tais relacionamentos; h) raramente vivenciam emoções fortes, como raiva e alegria; i) indiferença à elogios e críticas. As pessoas Esquizóides sentem-se frequentemente incompreendidas, o que reforça a tendência ao isolamento e ao afastamento dos mortais comuns. Este ausente sentimento de companheirismo normalmente é compensado pelo zelo apaixonado pela leitura, pelos animais ou alguma outra expressão artística de difícil compreensão. Transtorno Explosivo da Personalidade 18 Na CID-10 o Transtorno Explosivo da Personalidade aparece como Transtorno de Personalidade Emocionalmente Instável. Aqui, a característica mais marcante é uma tendência a agir impulsivamente, desprezando as eventuais consequências do ato impulsivo, juntamente com instabilidade afectiva. Os frequentes acessos de raiva podem levar à violência ou à explosões comportamentais. Tais crises de agressividade e explosividade podem ser desencadeadas mais facilmente quando as atitudes impulsivas são criticadas ou impedidas pelos outros. Estes distúrbios são caracterizados pela instabilidade do estado de ânimo com possibilidades de explosões de raiva, ódio, violência ou afeição. A agressão pode ser expressada fisicamente ou verbalmente e as explosões fogem ao controle das pessoas afectadas. Entretanto, tais indivíduos não tem conduta anti-social e, pelo contrário, são simpáticas, bem falantes, sociáveis e educadas quando fora das crises. A extrema sensibilidade aos aborrecimentos causados pelos pequenos estímulos ambientais produz, nos explosivos, respostas de súbita violência e incontida agressividade. Normalmente chamamos estas pessoa de pavio- curto ou de cinco-minutos. No DSM-III-R a caracterização mais compatível com esta personalidade era o denominado de Distúrbio Explosivo Intermitente. De acordo com o DSM-III-R, estes indivíduos apresentam episódios de perda de controle sobre os impulsos agressivos resultando em agressões ou destruição de propriedade e, normalmente, a agressividade expressada é totalmente desproporcional aos estressores ambientais que possam tê-la desencadeado. Estes episódios geralmente são seguidos de arrependimentos ou auto-reprovação, os quais são capazes de produzir variados graus de depressão como uma espécie de ressaca moral pelos procedimentos cometidos. A instabilidade na escolha de objectivos, valores e aspirações profissionais em constante mudança é responsável pela acentuada inconstância no ritmo e estilo e tipo de vida dessas pessoas. O indivíduo pode exibir súbitas mudanças de opiniões e planos acerca da carreira, dos valores e dos tipos de amigos desejáveis. O Transtorno da Personalidade Borderline (tipo Explosivo) favorece a instabilidade afectiva em consequência à uma acentuada reactividade do humor. Este humor disfórico básico dos indivíduos com Transtorno da Personalidade Borderline é caracterizado por períodos de raiva, pânico ou desespero. Esses episódios podem reflectir a extrema reactividade do indivíduo a stresses interpessoais. Subjectivamente essas pessoas com Transtorno da Personalidade Borderline podem ser incomodadas por sentimentos crónicos de vazio. Facilmente entediados, podem estar sempre procurando algo para fazer. 19 Os indivíduos com este transtorno frequentemente expressam raiva intensa e inadequada ou têm dificuldade para controlar essa raiva. São constantes também o extremo sarcasmo, a persistente amargura ou explosões verbais. A raiva frequentemente vem à tona quando uma pessoa de sua simpatia é tida por eles como negligente, omisso, indiferente ou prestes a abandoná-lo. Durante períodos de extremo stress, podem ocorrer ideação paranóideou sintomas dissociativos transitórios (por ex., despersonalização) mas estes, em geral, têm gravidade ou duração insuficiente para indicarem um outro diagnóstico psiquiátrico. Transtorno Histriónico da Personalidade A Personalidade Histérica, referida na CID-10 como Transtorno Histriónico de Personalidade ou Histérica, conforme denominação mais antiga, é caracterizada por um comportamento colorido, dramático e extrovertido que se apresenta sempre exuberantemente. É um dos únicos distúrbios de personalidade mais frequentes no sexo feminino, onde os pacientes apresentam uma tendência de comportamento em busca de atenção. Os histriónicos tendem a exagerar seus pensamentos e sentimentos, apresentam acessos de mau humor, lágrimas e acusações sempre que percebem não serem o centro das atenções ou quando não recebem elogios e aprovações. Frequentemente animados e dramáticos, tendem a chamar a atenção sobre si mesmos e podem, de início, encantar as pessoas com quem travam conhecimento por seu entusiasmo, aparente franqueza ou capacidade de sedução. Tais qualidades, contudo, perdem sua força à medida que esses indivíduos continuamente exigem o papel de "dono da festa". Manifestam pronunciados traços de vaidade, egocentrismo, exibicionismo e dramaticidade. No afã de representar um papel que lhes é negado pela vida ou por suas próprias limitações pessoais, os histriónicos fazem teatro para si e para todos os demais, a sua grande plateia. Pode haver fases onde eles já não sabem onde termina a realidade e começa a fantasia, passando a acreditar em seus próprios mitos e em suas próprias encenações. Às vezes, devido sua excepcional teatralidade, esta tendência em polarizar as atenções é perfeitamente dissimulada sob o papel de coitadinho(a), ou de um retraimento social tão lamentável que é capaz de chamar mais a atenção que uma participação mais normal. As mães com esta personalidade podem idealizar manobras que objectivam fazer seus 20 filhos se compadecerem de seu estado "lastimável" e provocar arrependimentos vários. São pessoas que estão sempre a se queixar de incompreensão mas jamais tentam compreender os outros ou entender que os outros não têm obrigação de compreendê-los. Essas pessoas glorificam a doença, as queixas somáticas e atribuem todos eventuais fracassos ou limitações à eventuais transtornos orgânicos que os independem de sua sempre presente boa vontade. A somatização, dissociação e repressão são os mecanismos de defesa mais intensamente utilizados por eles. Tão intensos são estes mecanismos de defesa que reconhecerem seus próprios sentimentos e suas tendências de personalidade torna-se praticamente impossível. Sexualmente, a personalidade histriónica determina nas mulheres um comportamento sedutor, provocante, coquete e com tendência a erotizar as relações não sexuais do dia-a-dia. As fantasias sexuais com as pessoas pelas quais estão envolvidos são comuns e, embora volúveis, o arremate final do jogo sexual costuma não ser satisfatório. O DSM-IV e o CID-10 recomendam como critérios para o diagnóstico do Transtorno Histriónico da Personalidade, um padrão generalizado de excessiva emotividade e busca de atenção, indicado pelas seguintes características: a) busca constante ou exigência de afirmação, aprovação ou elogios; b) autodramatização, teatralidade e expressão exagerada das emoções; c) alta sugestionabilidade, facilmente influenciada pelos outros ou por certas circunstâncias; d) sedução inapropriada em aparência ou comportamento; e) preocupação excessiva com a atractividade física; f) expressão de emoções exageradamente; g) expressão de emoções rapidamente mutável; h) egocentrismo nas satisfações; i) intolerância severa às frustrações e à não-satisfação; j) discurso impressionista e superficial. O Transtorno da Personalidade Histriónica proporciona um alto grau de sugestionabilidade. Suas opiniões e sentimentos são facilmente influenciados pelos outros e por tendências do momento. Há uma certa perda da inibição social nessas pessoas. Isso faz com que, muitas vezes, considerem os relacionamentos mais íntimos do que são de fato, dirigindo- se à, praticamente, qualquer pessoa conhecida recentemente como "meu querido, meu amigo" ou chamando um médico por seu prenome mesmo na primeira consulta. 21 Uma das marcas mais características das pessoas com Transtorno da Personalidade Histriónica é tentar controlar as pessoas através da manipulação emocional ou sedução. Por causa disso eles tendem afastar os amigos com suas exigências de constante atenção. Estes indivíduos em geral manifestam intolerância ou frustração por situações que envolvem um adiamento da gratificação, sendo que suas acções frequentemente são voltadas à obtenção de satisfação imediata, ou seja, têm extrema dificuldade em esperar ou contemporizar situações. Transtorno Ansioso da Personalidade A marca característica deste Transtorno de Personalidade é a persistência e continuidade de tensão e apreensão. Como consequência disso o portador deste tipo psicológico experimenta a crença frequente de ser socialmente inepto, desinteressante e desagradável, portanto, inferior aos demais. Na realidade, a ansiedade aparece com maior exuberância sempre que tais pessoas vislumbrem a possibilidade de serem objecto de apreciação por parte dos demais. Normalmente, devido aos sentimentos supra-referidos, há isolamento social e, como o próprio nome do transtorno diz, uma constante evitação social. O que, de fato, eles evitam é a possibilidade de experimentarem sentimentos desagradáveis de desapreço ao se submeterem ao jugo público. Com frequência se utilizam de mentiras com a intenção de dissimularem sua real situação existencial, pois, de qualquer forma, acham que se os interlocutores souberem como eles são realmente, perderão todo interesse em suas pessoas. Assim sendo, a pessoa com este transtorno está sempre dissimulando sua verdadeira performance social, interpessoal ou psicológica, procurando aparentar aquilo que, decididamente, não é. Isso tudo por que, como dissemos, tem uma preocupação excessiva em estar sendo criticada ou rejeitada em quase todas situações sociais. Há também, aqui, uma severa relutância no envolvimento com outras pessoas, sempre motivada pelo medo da crítica, como dissemos. Poderão envolver-se caso tenham certeza absoluta de sua apreciação. Os critérios do DSM.IV para o diagnóstico são: a) sentimentos persistentes e invasivos de tensão e apreensão; b) crença constante de ser socialmente inepto, pessoalmente desinteressante ou inferior aos demais; c) preocupação excessiva em ser criticado ou rejeitado em situações sociais; d) relutância em se envolver com pessoas, a não ser quando absolutamente certo de ser apreciado; e) restrições ao estilo de vida devida à necessidade de segurança física; 22 f) evitação de actividades sociais e ocupacionais que envolvam contacto interpessoal significativo por medo de opiniões a seu respeito. Transtorno Obsessivo-Compulsivo da Personalidade (Anancástico) Há, neste Transtorno de Personalidade, um padrão generalizado de perfeccionismo e inflexibilidade. As pessoas assim preocupam-se com a observância das normas, das regras, com a organização e com os detalhes. Normalmente são escravizados pelo simétrico, pelo limpo e pela ordem das coisas, desde a arrumação de seus pertences pessoais (guarda-roupas, gavetas, mesas), até a organização extremamente cuidadosa de coisas relacionadas à ocupação e profissão. A preocupação com a origem geral das coisas é tanta que, não raras vezes, é impossível conciliar o sono se lhes vier à mente a impressão de que os chinelos estão desarrumados, ou que há uma gaveta semi-aberta, ou que talvez a porta não esteja trancada e assim por diante. Evidentemente, observamos também um zelo exagerado para com a arrumação do banheiro, havendo desconforto se este se encontrar respingado, com uma torneira gotejante oucom algo fora de lugar. Estas pessoas são incapazes de suportar tudo aquilo que consideram como infracção às suas próprias determinações de organização, por isso são inflexíveis consigo próprios e com os que lhes são mais próximo na observância de suas leis. O exagerado perfeccionismo, a precisão meticulosa na arrumação das coisas e a constante repetição para que tudo saia da forma obsessivamente idealizada tornam estes indivíduos muito enfadonhos. Estas características de obsessão rigidamente voltadas para a perfeição, somadas ao medo de que algo pode não estar perfeito fazem com que estas pessoas tenham muita dificuldade para terminarem aquilo que começaram. Não importa quão boa esteja a realização em pauta mas sim a obsessiva impressão de que algo esteja faltando, algo não esteja correcto ou imperfeito. Os obsessivos têm dificuldade em expressar sentimentos de ternura, compaixão e compreensão aos sentimentos e comportamentos dos outros. Quando eles se dão ao luxo do lazer e recreação, fazem isso com tanto planejamento e meticulosidade a ponto de sacrificarem o próprio prazer em benefício das regras e normas para que tenham prazer. Os critérios para diagnóstico deste Transtorno de Personalidade Obsessivo-Compulsivo podem ser agrupados da seguinte forma: a) sentimentos de dúvida e cautela exagerados; b) preocupação com detalhes, regras listas, ordem, organização e esquemas; c) perfeccionismo que interfere na conclusão de tarefas; 23 24 d) escrupulosidade excessiva com a produtividade, concomitante à quase exclusão do prazer; e) aderência excessiva à algumas convenções sociais; f) inflexibilidade, rigidez e teimosia; g) insistência para que os outros se submetam aos seus conceitos de valor em relação à maneira de fazer as coisas; h) evitam tomar decisões acreditando haver sempre outras prioridades; i) falta de generosidade e de sentimentos de compaixão e tolerância para com os outros; j) dificuldade em descartar-se de objectos usados. Ballone GJ - Transtornos da Personalidade, PsiqWeb, internet, disponível em www.psiqweb.med.br, revisto em 2005. 0B0B0BSigmund Freud 2B2B2BConsciente, Pré-Consciente e Inconsciente 3B3B3BPulsões ou Instintos 11B11B11BInstintos Básicos 12B12B12BLibido e Energia Agressiva 13B13B13BCatexia 4B4B4BEstrutura da Personalidade 14B14B14BO Id 15B15B15BO Ego 16B16B16BO Superego 5B5B5BRelações entre os Três Subsistemas 6B6B6BObstáculos ao Crescimento 7B7B7BAnsiedade 8B8B8BMecanismos de Defesa 17B17B17BRepressão 18B18B18BNegação 19B19B19BRacionalização 20B20B20BFormação Reactiva 21B21B21BProjecção 22B22B22BRegressão 23B23B23BSublimação 24B24B24BDeslocamento 9B9B9BReferência 1B1B1BTranstornos de Personalidade 10B10B10BAspectos Psicobiológicos e Transtornos de Personalidade 25B25B25BTranstorno Paranóide de Personalidade 26B26B26BTranstorno Esquizóide de Personalidade 27B27B27BTranstorno Histriónico da Personalidade 28B28B28BTranstorno Ansioso da Personalidade 29B29B29BTranstorno Obsessivo-Compulsivo da Personalidade (Anancástico)
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