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Professora: Maria Flor 2022 1 Professora: Maria Flor Professora: Maria Flor 2022 2 SUMÁRIO UNIDADE I :CONCEITOS BÁSICOS DE SAÚDE MENTAL........................................................................................ 1.2 Fatores de influências........................................................................................................................... UNIDADE II TEORIA DO DESENVOLVIMENTO E TEORIA DA PERSONALIDADE.................................................. Psicanálise .............................................................................................................................................. 2.1 1ª Estrutura do Aparelho Psíquico .................................................................................................... 2.2 2ª Estrutura do Aparelho Psíquico..................................................................................................... 2.3 Mecanismos de defesa do EGO. ........................................................................................................... 2.4 Teoria do desenvolvimento psicossexual segundo Freud...................................................................... 2.5 Teoria de desenvolvimento psicossocial de Erikson............................................................................... 2.6 Teoria da personalidade interpessoal Sulivam ................................................................................... 2.7 Teoria do desenvolvimento moral de Lawrence Kohlberg.................................................................... UNIDADE III 3. FUNÇÕES DO EGO............................................................................................................... Os principais transtornos psicológicos, sinais e sintomas........................................................................... 1. Transtornos do humor............................................................................................................................... 2. Síndrome depressiva........................................................................................................................... 3. Transtorno Bipolar..................................................................................................................................... 4. Distimia e Ciclotimia.................................................................................................................................. 5. Transtornos de ansiedade. ........................................................................................................................ 6. Transtorno de pânico................................................................................................................................. 7. Agorafobia.................................................................................................................................................. 8. Transtorno de ansiedade social (fobia social)........................................................................................... 9. Transtorno de ansiedade generalizada..................................................................................................... 10. Transtorno de estresse pós traumático (TEP)............................................................................................ Doenças psicossomáticas.................................................................................................................... UNIDADE IV REFORMA PSIQUIATRICA – LEI 10.216.01.................................................................................... 4.3 Centro de atenção psicossocial................................................................................................................. 4.4 Direitos das pessoas com transtornos mentais de acordo com a lei 10.216 de 2001............................. 4.5 Saúde mental na atenção básica............................................................................................................. UNIDADE V URGÊNCIA E EMERGÊNCIA........................................................................................................... 5.1 Intervenções psicossociais em crise, emergência e catástrofe................................................................. 5.2 Importância do atendimento de emergência e a humanização................................................................ 5.3. O processo de comunicação..................................................................................................................... 5.4 A comunicação no atendimento presencial em serviços de saúde......................................................... 5.5 A humanização como política pública....................................................................................................... 5.6 Ética profissional na assistência de pacientes com transtorno mental..................................................... 5.7 Sobre a morte e o morrer ....................................................................................................................... Professora: Maria Flor 2022 3 UNIDADE I 1. CONCEITOS BÁSICOS DE SAÚDE MENTAL Saúde X Saúde Mental Para você... O que significa saúde? O que é importante para se ter uma vida saudável? SAÚDE o que é? Considera-se que a saúde depende de três fatores representados por cada um dos lados do triângulo. Os três lados do triângulo são iguais porque cada um dos fatores influencia, com a mesma importância, o estado de saúde. As setas são bidireccionais porque cada um dos fatores pode influenciar e ser influenciado pelos outros dois. Fatores sociais: A ausência de saneamento básico, de recolha de resíduos, de água potável canalizada, de condições de higiene e habitabilidade favorece o aparecimento de doenças (cólera, tifo). Em centros urbanos desenvolvidos, as condições de vida podem originar perturbações de ordem psíquica - stress. Fatores psíquicos: As pessoas que vivem sobre stress têm maior probabilidade de desenvolver doenças exemplo: cardiovasculares e incluir transtornos Fatores físicos A ausência de bem estar físico pode dificultar ou impedir o desenvolvimento de funções sociais, como trabalhar, estudar, conviver, praticar desporto… provocando um mal estar psíquico. SAÚDE A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a saúde como sendo o estado de completo bem-estar físico, mental e social. Ou seja, o conceito de saúde transcende à ausência de doenças e afecções. Por outras palavras, a saúde pode ser definida como o nível de eficácia funcional e metabólica de um organismo a nível micro (celular) e macro (social). Dentre os elementos mais importantes para a vida na terra, está a saúde. Ela causa impactos aos seres humanos a todo o momento. E pode tanto mudar ao longo dos anos como de maneira quase instantânea. O estilo de vida, isto é, o conjunto de comportamentos adaptados por uma pessoa, pode ser benéfico ou prejudicial à saúde. Por exemplo, um indivíduo que mantém uma alimentação equilibrada e que realiza atividades https://conceito.de/ser Professora: Maria Flor 2022 4 físicas diariamente tem maiores hipóteses de desfrutar de uma boa saúde. Por outro lado, as pessoas que comem e bebem em excesso, que não descansam o suficiente e que fumam correm sérios riscos de sofrer doenças que poderiam ser evitadas. Após a segunda Guerra Mundial, foi criada a Organização Mundial da Saúde (OMS), e ela fez a definição de saúde incluindo elementos como a práticade exercícios físicos e uma boa alimentação, tendo incluído também o acesso a sistemas de saúde para a população. Em linhas gerais, a saúde pode dividir-se em saúde física e saúde mental embora, na realidade, sejam dois aspectos interrelacionados. Para o cuidado da saúde física, é recomendada a realização frequente e regular de exercícios, e uma dieta equilibrada e saudável, com variedade de nutrientes e proteínas. A saúde mental, faz referência ao bem-estar emocional e psicológico no qual um ser humano pode utilizar as suas capacidades cognitivas e emocionais, desenvolver-se socialmente e resolver as questões quotidianas da vida diária. Convém destacar que as ciências da saúde são aquelas que proporcionam os conhecimentos adequados para a prevenção das doenças e a promoção da saúde e do bem-estar quer do indivíduo quer da comunidade. A bioquímica, a bromatologia, a medicina e a psicologia, entre outras, são ciências da saúde. O conceito atual de saúde desprende-se do campo biológico, já que não é pensado unicamente do ponto de vista de uma enfermidade. Tal conceito leva em conta também os aspectos políticos e econômicos, de qualidade de vida e também das necessidades básica do ser humano. Por isso que é importante entender o conceito de saúde analisando o contexto no qual o indivíduo está inserido. Através das relações sociais, culturais e históricas que ele cultiva com outros indivíduos e com o meio ambiente. Logo, uma pessoa pode avaliar o seu estado de saúde (se são ou não saudáveis) dependendo da maneira como concebem o que é a saúde. O exemplo disso pode-se citar os programas de saúde, os quais são desenvolvidos segundo o entendimento de saúde de quem os idealiza e executa. E aqui cabe um importante papel para a ciência, que é ajudar na identificação de diferentes tipos de doenças que podem influenciar de forma negativa na saúde. Apresentando tanto as causas de determinada doença, como também as formas de tratamento para eliminá-la. Saúde significa o estado de normalidade de funcionamento do organismo humano. Ter saúde é viver com boa disposição física e mental. A saúde de um indivíduo pode ser determinada pela própria biologia humana, pelo ambiente físico, social e econômico a que está exposto e pelo seu estilo de vida, isto é, pelos hábitos de alimentação e outros comportamentos que podem ser benéficos ou prejudiciais. Uma boa saúde está associada ao aumento da qualidade de vida. É sabido que uma alimentação balanceada, a prática regular de exercícios físicos e o bem-estar emocional são fatores determinantes para um estado de saúde equilibrado. Por outro lado, as pessoas que estão expostas a condições precárias de sobrevivência, não possuem saneamento básico (água, limpeza, esgotos, etc.), assistência médica adequada, alimentação e água de qualidade, etc., têm a sua saúde seriamente afetada. SAÚDE MENTAL A saúde mental afeta os sistemas: imunológico, prejudicando a imunidade e as defesas do organismo; endócrino, aumentando ou diminuindo a produção de certos hormônios; nervoso, interferindo na produção de neurotoxinas (relacionadas a doenças como Mal de Parkinson e Alzheimer), entre outros problemas. Na saúde mental, a promoção ao bem-estar e a prevenção são essenciais para evitar o adoecimento psíquico. Por isso, cultivar determinados hábitos saudáveis cria condições favoráveis para o funcionamento cerebral e, consequentemente, da mente. A saúde mental é definida como sendo o estado de equilíbrio entre uma pessoa e o seu meio sociocultural. Este estado garante ao indivíduo a sua participação laboral, intelectual e social para alcançar um bem-estar e alguma qualidade de vida. Ainda que o conceito de saúde mental surja por analogia à saúde física, trata de fenómenos mais complexos. https://conceito.de/dieta https://conceito.de/quem https://conceito.de/papel Professora: Maria Flor 2022 5 A Organização Mundial da Saúde (OMS) assegurou que não existe nenhuma definição oficial que diga respeito à saúde mental, já que esta é sempre influenciada pelas diferenças culturais e pela subjetividade. Em todo o caso, pode-se dizer que a saúde mental é um estado de bem-estar emocional e psicológico, mediante o qual o indivíduo é capaz de fazer uso das suas habilidades emocionais e cognitivas, funções sociais e de responder às solicitações ordinárias da vida quotidiana. Convém destacar que a ausência de uma doença mental não implica que o indivíduo goze de boa saúde mental. O acompanhamento do comportamento diário de uma pessoa é a melhor forma de conhecer o estado da sua saúde mental. Também há que ter em conta que a saúde mental não é uma dimensão que se possa dissociar da saúde física, tal como nos relembra a famosa expressão latina “mens sana in corpore sano” (uma mente sã num corpo são). Existem evidentes ligações entre as patologias mentais e as biológicas. Os psicólogos defendem que a saúde mental deve ser promovida a nível individual (com a motivação dos recursos próprios da pessoa através de estímulos na autoestima), a nível comunitário (com uma coesa inclusão social) e a nível oficial (com planos estatais e o acesso à saúde pública). A saúde mental é importante também para que se tenha uma boa saúde em geral. Um exemplo disso seria no caso de pessoas que sofrem de ansiedade ou depressão, essas pessoas podem ter mais problemas gastrointestinais, podem desenvolver ou piorar doenças do coração, tende a ficar doentes com mais facilidades, etc. Logo, para que se tenha mais qualidade de vida, as doenças mentais precisam ser identificadas e tratadas por um especialista. Há pessoas, inclusive, que julgam terem um problema de saúde, não sabendo elas que o sintoma que as levam a pensar isso pode ser algum sintoma de uma doença mental. Quem possui uma saúde mental fragilizada corre o risco de ter alterações de comportamento que podem deixa- la excluída socialmente e, ainda, a depender do problema que sofra, fazê-la correr mais perigo estando exposta a violência devido a incapacidade de poder se defender. É por isso que a família é muito importante nesse momento para ajudar a pessoa que sofrem com algum problema mental (também chamado de transtorno mental) a buscar o melhor tratamento. Existem muitos mitos disseminados que podem levar ao preconceito quanto a quem sofre de algum tipo de doença mental. É por isso que é importante que haja uma maior conscientização quanto a tais problemas a fim de que as pessoas entendam e compreendam quem sofre com algum desses problemas. Cabe também dizer que os transtornos mentais surgem devido a distintas causas: há a influência da genética, de fatores sociais ou psicológicos e até mesmo de fatores ambientais. Fatores socioculturais - presença ou não de rede social, expectativas da sociedade e do meio cultural, influências da família, de amigos, modelos de papéis sociais, Fatores psicológicos processos cognitivos como o nível de resiliência a fatores estressores. Fatores biológicos genéticos, metabolismo e/ou fatores externos que influenciam o organismo.n Problemas de saúde mental mais frequentes Ansiedade. Mal-estar psicológico ou stress continuado. Depressão. Dependência de álcool e outras drogas. Perturbações psicóticas, como a esquizofrenia. Atrasomental. Demências https://conceito.de/caso https://conceito.de/ser https://conceito.de/logo https://conceito.de/quem https://conceito.de/risco https://conceito.de/poder Professora: Maria Flor 2022 6 SOFRIMENTO MENTAL No decorrer da história das sociedades humanas, já se ouviu falar de sofrimento mental de várias formas diferentes. O louco já foi considerado possuído pelo diabo e a loucura já foi considerada castigo de Deus, preguiça de trabalhar, desculpa de malandro, coisa de gente ruim,doença contagiosa e sem cura e até já se acreditou que a pessoa ficava louca por vontade própria. Hoje se tem uma visão diferente da loucura. Ao olharmos um sujeito em sofrimento mental, não destacamos nele somente suas fragilidades e limitações, procuramos destacar também seu lado saudável, suas potencialidades e capacidades. Ninguém está em sofrimento mental o tempo todo e ninguém é completamente doente. Há muitos aspectos saudáveis preservados e é através deles que as pessoas podem ser resgatadas para uma vida o mais normal possível. Neste contexto, entende-se a importância de se respeitar os modos diferentes de ser e de viver que cada pessoa tem seu jeito de ver o mundo e de se relacionar com ele e com as pessoas. Alguns são mais corações, outros razões; alguns são mais calmos, outros mais agitados; alguns gostam de certas coisas, outros desgostam, e assim vai. O que vale mesmo é o respeito, a cordialidade e a conduta de cada um voltada para o bem comum. É por isso que podemos e devemos ajudar a quem precisa observar quem está numa condição de maior vulnerabilidade e acolhê-lo nas suas necessidades. Isso inclui as pessoas em sofrimento mental. É comum observarmos nestas pessoas algumas fragilidades e limitações que podem variar de uma pequena confusão mental. 1.2 FATORES DE INFLUÊNCIAS Quando nos detemos a tentar conhecer mais as pessoas que estamos atendendo, saber do que gostam, de onde vêm, como vivem, torna-se mais fácil fazer uma ideia dos fatores que podem estar exercendo maior influência no momento atual de seu transtorno. De forma simplificada, podemos dizer que três grupos de fatores influenciam o surgimento da doença mental: os físicos ou biológicos, os ambientais e os emocionais. FATORES FÍSICOS BIOLÓGICOS O nosso corpo funciona de forma inte- grada, isto é, os aparelhos e sistemas se comu nicam uns com os outros e o equilíbrio de um depende do bom funcionamento dos outros. Muitas vezes podemos achar difícil de entender como sintomas tão “emocionais” como sentir-se culpado ou ter pensamentos re- petidos de morte ou ouvir vozes possam ter também uma base orgânica, mas ela existe. O envelhecimento, o abuso de álcool ou outras substâncias são exemplos comuns. Em Muitos casos essa base já pode ser identificada e descrita pelos especialistas, em outros casos ainda não. O que se sabe é que sempre que temos alguma emoção, seja ela agradável ou desagradável, ocorrem uma série de trocas elétricas e quí- micas em nosso cérebro, o que já constitui, por si só, um fator orgânico. Podemos definir os fatores físicos ou biológicos como sendo as alterações ocorridas no corpo como um todo, em determinado órgão ou no sistema nervosos central que possam levar a um transtorno mental. Dentre os fatores físicos ou biológicos que podem ser a base ou deflagrar um transtorno mental, existem alguns mais evidentes, que avaliaremos a seguir. FATORES GENÉTICOS OU HEREDITÁRIOS: O nome “genético” vem da palavra genes, que são grandes moléculas que existem dentro de nossas células contendo informações sobre como nosso corpo deve se organizar. As informações contidas nos genes são muitas e não são todas que utilizamos; algumas ficam guardadas. Em Psiquiatria, os fatores genéticos ou hereditários têm sido muito falados ultimamente, muitas vezes em programas de televisão, sempre caracterizados como grandes descobertas. Isso porque embora popularmente Professora: Maria Flor 2022 7 sempre se diga que a pessoa com transtorno mental o herdou de alguém da família, há muito tempo os cientistas tentam identificar se essa “herança” veio através do corpo ou do ambiente em que a pessoa foi criada. Atualmente, os avanços da Medicina têm permitido identifi- car alguns genes que possam ter influência no desenvolvimento de trans- tornos mentais. No entanto, é importante deixar claro que quando se fala de fato- res genéticos em Psiquiatria, estamos falando de tendências, predispo- sições que o indivíduo possui de desenvolver determinados desequilíbrios químicos no organismo que possam levá-lo a apresentar determinados transtornos mentais. Ainda assim, é uma grande armadilha acreditarmos que aí está “toda” a causa da doença mental, pois passamos a acreditar que a solução do problema só estará neste ponto e deixamos de prestar atenção em todos os outros aspectos da pessoa que atendemos em sofrimento mental. Dessa forma, a constituição genética precisa ser vista como uma “facilidade orgânica” para desenvolver um determinado transtorno mental, mas não há garantias de que, ao longo da vida do sujeito, tal fato ocorrerá, visto que dependerá de outros fatores para que tal “tendência” de fato se manifeste. Em alguns filmes de ficção do futuro, vemos pessoas tendo cartões magnéticos contendo informações sobre seu genoma (o “mapa” deseus genes), utilizados como carteira de identidade. Os cientistas afirmam que isto não está tão longe de acontecer. Imaginamos até que seja possível, mas esperamos que até lá a sociedade tenha evoluído o suficiente para não usar de forma preconceituosa tais informações. Ou talvez venhamos a descobrir que todos nós temos uma ou outra altera ção genética que possa nos predispor ao transtorno mental. a) Fatores pré- natais As condições de gestação, dentre eles os fatores emocionais, eco nômicos e sociais, o consumo de álcool, drogas, cigarro e de alguns tipos de medicação podem prejudicar a formação do bebê, gerando pro blemas futuros que poderão comprometer sua capacidade adaptativa no crescimento e desenvolvimento, podendo facilitar o surgimento da doença mental. b) Fatores peri- natais Peri-natal é tudo aquilo que acontece “durante” o nascimento do bebê. Em algumas situações o bebê pode sofrer danos neurológicos devido a traumatismos ou falta de oxigenação do tecido cerebral. Nesses casos, dependendo da gravidade desses danos, a criança poderá desenvolver problemas neurológicos (como, por exemplo, a epilepsia ou diversos tipos de atraso de desenvolvimento) que podem formar a base para futuros transtornos psiquiátricos. c) Fatores neuro- endocrinológicos O sistema endócrino, que é responsável pela regulação do equilí brio de nosso organismo, faz isso através da produção de hormônios pelas glândulas endócrinas (pituitária, tireóide). Acontece que esse sistema tem estreita ligação com o sistema nervoso central, havendo uma influência recíproca entre eles, isto é, o que acontece em causa reações no outro e vice-versa. Muitos estudos recentes têm mostrado a ligação entre mecanismos neuro-endocrinológicos e reações cerebrais. As mudanças hormonais podem influenciar nosso estado de humor e deflagrar até mesmo estados psicóticos como é o caso da psicose puerperal ou da tensão pré-menstrual (TPM). d) Fatores ligados a doenças orgânicas O transtorno mental pode também aparecer como conseqüência de determinada doença orgânica, tal como infecções, traumatismos, vasculopatias, intoxicações, abuso de substâncias e qualquer agente nocivo que afete o sistema nervoso central. FATORES AMBIENTAIS Você acorda pela manhã e percebe que o tempo mudou. O sol que havia ontem não apareceu hoje, faz frio e cai forte chuva. Ao se preparar para sair, com certeza você buscará roupas mais quentes e procurará se proteger com capa ou guarda chuva. Estamos, assim, procurando nos ajustar aos fatores ambientais (nesse caso, climáticos). Professora: Maria Flor 2022 8 Na verdade, estamos o tempo todo procurando formas de nos adaptarmos, o melhor possível, ao que acontece à nossa volta. Tantos são os estímulos que sofremos que acabamos desenvolvendo maneiras características de reagir, muitas vezes supervalorizando as informações que nos chegam, outras vezes tornando-nos apáticos a elas. Que sensa ção você experimentaquando entra em contato com as constantes (e massacrantes!) notícias de violência via rádio e televisão? As pessoas costumam ter diferentes reações: algumas tornam-se apáticas a elas, outras fazem uso do humor para digeri-las, outras tornam-se excessivamente medrosas, e assim por diante. Como exemplo, uma paciente passou a pensar na possibilidade de fazer algum mal à sua pequena filha a partir de noticiários de rádio que relatavam maus tratos e até homicídios materno-infantis. Os fatores ambientais exercem forte e constante influência sobre nossas atitudes e nossas escolhas diárias, tanto externa quanto internamente, isto é, como nos sentimos e enxergamos a nós mesmos. As reações a cada estímulo ambiental se darão de acordo com a estrutura psíquica de cada pessoa, e essa estrutura psíquica estará intimamente ligada às experiências que a pessoa teve durante a vida. Assim se esta- belece uma relação circular entre todos os fatores geradores de transtorno mental onde um ocasiona o outro. Para melhor compreensão, podemos dizer que os fatores ambientais podem ser sociais, culturais e econômicos. Como sociais podemos compreender todas as interações que te- mos com o outro, nossas relações pessoais, profissionais e com outros grupos. Estudos falam da importância das pessoas significativas em nossa infância e de como ficam marcadas em nós as suas formas de pensar e agir, assim como as reações que passamos a ter influenciam o nosso comportamento diante de outras pessoas. Se, com as pessoas importantes de nossa infância, aprendemos que existem pessoas que não são confiáveis e que devemos estar sempre atentos para não ser- mos enganados, possivelmente teremos dificuldades em confiar em alguém mesmo em nossa vida adulta. Entre os fatores ambientais culturais podemos lembrar de todo o sistema de regras no qual estamos envolvidos. Este sistema varia de país para país, de estado para estado, de grupo para grupo, e também de acordo com a época. Ou seja, noção de certo e errado, de bom e mau varia muito dependendo do local e época em que estamos. Os mitos, as crenças, os rituais que nos cercam, nos dão as noções de bem e mal que são aceitas pelos grupos aos quais pertencemos, seja ele o nosso país, o nosso grupo religioso, a nossa escola ou mesmo a nossa família. Outro grupo de fatores ambientais que podemos perceber como exercendo influência sobre nós são os econômicos. Nesse tópico tan to podemos nos referir à nossa possibilidade mais direta de aquisição de bens, ou seja, “nosso bolso”, quanto às atuais condições sociais, onde a miséria, aliada à baixa escolaridade, pode levar ao aumento da criminalidade e esta ao aumento de tensão em nosso dia-a-dia. FATORES EMOCIONAIS OU PSICOLÓGICOS Continuamos tentando compreender o que, afi nal de contas, torna as pessoas diferentes umas das outras. O que faz com que se comportem de uma maneira e não de outra. Já abordamos os aspectos físicos e os ambientais e, não por acaso, deixamos para abordar os aspectos emocionais depois de bem compreendidos os anteriores. Isso porque, como já foi visto antes, os fatores influenciam-se entre si, mas no caso dos aspectos emocionais estamos falan- do de formação de identidade, que se inicia justamente com a conjugação dos aspectos físicos e ambientais. Cada pessoa vem a este mundo como ser único, diferente de todos os outros. Cada um de nós apresenta, mesmo ao nascer, uma forma de interagir com o mundo que influencia o comportamento de quem está à nossa volta e é influ- enciado por ele. Não é incomum as mulheres que possuem mais de um filho afirmarem que foram bebês totalmente diferentes: um dormia mais, outro chorava o tempo todo, ou estava sempre doente. Também devemos lembrar que, quando nascemos, já trazemos conosco uma “história de vida”. Se fomos desejados ou não, se somos o primeiro filho ou o décimo, se nossa estadia na barriga foi tranqüila ou cheia de altos e baixos, se a mamãe fez uso de algum medicamento ou droga que tenha nos deixado mais agitados ou mais apagados, se tivemos ou não dificuldades maiores no parto, se fomos bem atendidos e fomos logo para perto da mamãe, ou se tivemos que ficar mais tempo longe (indo para uma UTI neonatal, por exemplo), se a mamãe ficou bem após nosso nascimento (disponível para gente) ou se teve, por exemplo, uma depressão puerperal. Professora: Maria Flor 2022 9 Bom, estes são só alguns exemplos que mostram que nós já “bota- mos o pé na vida” com algumas características que nos são individiduais e que as interações que vamos estabelecer com o mundo, a partir de nosso nascimento, serão formadoras de um modo de ser caracteristicamente nosso, mais ou menos ajustado, ao qual chamamos personalidade. Ao nascer, o bebê não tem ainda consciência de si mesmo e do mundo à sua volta. Não consegue diferenciar suas sensações internas do mundo externo. Apenas consegue perceber sensações boas (prazerosas) e más (desprazerosas). A fralda molhada dá desprazer e ele chora. O colo da mamãe dá prazer (possivelmente lembra o conhecido aconchego do útero e dá segurança) e ele dorme. Nessa seqüência, entre chorar e ser confortado, se dá um dos alicerces fundamentais para o restante da vida do bebê (e dificilmente a mãe se dá conta do papel fundamental desses momentos), pois, aos poucos, a criança vai construindo a noção de confiança, que é o ponto de partida para sentimentos como segurança, otimismo e fé na vida adulta. Além disso a formação do vínculo afetivo com a mãe ou pessoa substituta faz com que o bebê ganhe condições para amadurecer e voltar-se para conhecer e experimentar o mundo. Imagine-se chegando sozinho a um país estranho, onde você não conhece a língua, os costumes, nada .Agora imagine que nesse lugar esteja te esperando alguém que fala a sua língua (que alívio!) e que pode te ensinar tudo quanto você precisa para se adaptar melhor. A mãe e o pai, ou pessoas substitutas, atuam mais ou menos como “guias turísticos” do mundo para o bebê que chega. A grande diferença é que o bebê é um “turista” até mesmo em seu próprio corpo, precisando de alguém para ajudá-lo a se conhecer. Acontece que quando o bebê não tem suas necessidades atendi- das, ele não tem ainda a capacidade de suportar a sensação ruim para aguardar a boa. O bebê não diz para si mesmo: “Ah! Agora estou com fome, mas mamãe não pode me dar de mamar porque está tomando banho. Tudo bem! Quando ela sair do banheiro, eu choro de novo.” Não! Para o bebê recém-nascido, a fome é um desprazer tão intenso que, se não atendida, adquire tons de ameaça de destruição (mais ou menos como nos sentiríamos diante do fim do mundo). Nesses mo- mentos o bebê experimenta profunda sensação de desamparo. A repetição constante de tais exposições à frustração, por perío dos mais prolongados, pode levar o indivíduo, no futuro, a desenvolver uma série de transtornos mentais. Alguns autores identificam aí as raízes emocionais das psicoses e da famosa síndrome do pânico. À medida que vai estabelecendo trocas positivas com as pessoas que cuidam dele, o bebê vai criando uma diferenciação entre ele e o restante do mundo (que, nesse momento, ainda são as pessoas mais próximas) e vai adquirindo uma certa tolerância à frustração e maior capacidade de espera, pois já consegue “antecipar” (fazendo uso da memória) a satisfação de suas necessidades. Com a continuidade de seu crescimento e desenvolvimento, a criança vai adquirindo noções de julgamento de si e dos outros, isto é, vai internalizando as regras e proibições de seu ambiente e passando a captar a impressão que ela própria provoca no ambiente. O papel da comunidade na atenção à saúde mental A comunidade tem um papel muito importante na atenção à saúde mental. Para que alcancemos a inclusão social das pessoas em sofrimento mental, sobretudo daquelas que foram privadas doconvívio social por ter permanecido muitos anos internadas em manicômios, é preciso que a comunidade esteja melhor informada sobre o que é o sofrimento mental, como lidar com ele e, principalmente, é preciso vencer ideias e preconceitos quase sempre associados às pessoas que receberam um diagnóstico psiquiátrico. É ai que entra a comunidade. As famílias precisam ser acolhidas e fortalecidas para que possam ter um convívio próximo e constante com seus familiares adoecidos e a comunidade precisa, do mesmo modo, ser mais tolerante com as diferenças. As escolas de ensinos formais e profissionalizantes, as instituições sociais, as empresas, os espaços de lazer precisam estar preparados e abertos a receberem as pessoas em sofrimento mental, dar-lhes a oportunidade do convívio saudável, da ampliação de sua rede social e do usufruto dos recursos comunitários, como educação, trabalho e lazer. Professora: Maria Flor 2022 10 UNIDADE II TEORIA DO DESENVOLVIMENTO E TEORIA DA PERSONALIDADE 2. PSICANÁLISE A psicologia tradicional centrou seus estudos na consciência. Sigmund Freud significou uma nova forma de entender à psicologia e influiu de maneira notável em toda a cultura do século XX. Sua contribuição fundamental é a descoberta do inconsciente. Estabeleceu que ali se encontrasse as verdadeiras razões que determinam nossas condutas que são desconhecidas para nós mesmos. A partir das descobertas freudianas surgiu uma nova forma de entendimento da psicologia; assim foi como se constituiu a Teoria Psicanalítica. Freud; enfatiza o papel do inconsciente e as experiências infantis. Psicanálise, criada por Sigmund Freud, por volta de 1900. A grande inovação trazida por Freud foi introduzir na psicologia a noção do inconsciente. Segundo a visão psicanalítica, a mente humana é composta por uma parte consciente e uma parte inconsciente. A parte consciente contém todos os conhecimentos e informações que utilizamos conscientemente. Nossos pensamentos, emoções conhecidas, memórias, reflexões e devaneios estão todos lá. Mas essa é apenas uma parte muito pequena da mente. A outra parte, o inconsciente, é muito maior que a parte consciente. Os principais são os sonhos, o método de associação livre e os atos falhos ou lapsos. Freud afirmou que os sonhos são uma realização de desejos inconscientes. No sonho, acontece aquilo que você deseja. Mas sempre é um desejo que você mesmo não aceita que possui, normalmente por razões morais. Por exemplo, você teve uma séria briga com seu pai e no mesmo dia sonhou que ele estava caindo num abismo. Isso pode indicar que naquele momento você desejou a morte de seu pai. Por ser um desejo moralmente inaceitável, ele permanece inconsciente e se realiza através do sonho. É claro que este é um exemplo bem didático e simplista. Normalmente, mesmo nos sonhos o desejo inconsciente aparece de forma bem mais disfarçada. Outro método de acesso ao inconsciente é a associação livre. Esse método foi criado por Freud e consiste em pedir que o paciente vá falando livremente sobre qualquer assunto a partir de um dado tema. Analisando as divagações do paciente por assuntos aparentemente sem qualquer relação entre si, pode-se encontrar as conexões inconscientes. Por isso aquela imagem clássica do paciente deitado no divã e falando sem parar, enquanto o terapeuta só escuta. O homem é visto por Freud como um ser que busca o prazer e evita o desprazer, guiado fundamentalmente por instintos primitivos. Freud era psiquiatra e seus estudos foram quase todos feitos sobre pessoas com distúrbios psíquicos. É criticado, portanto, por focalizar excessivamente a doença e não a saúde. A influência da psicanálise não só determinou mudanças importantes na ciência psicológica senão que se estendeu a outros campos científicos, para a arte em todas suas manifestações e à vida social da população. A psicanálise para Freud é: Método de investigação dos processos mentais, através de CATARSES (Associação Livre). Psicoterapia para o tratamento dos transtornos neuróticos Teoria científica sobre a psicologia 2.1 1ª Estrutura do Aparelho Psíquico INCONSCIENTE – PRÉ-CONSCIENTE – CONSCIENTE INCONSCIENTE: Conjunto de conteúdos não presentes no campo atual da consciência. Conteúdos reprimidos, não têm acesso ao pré-consciente/consciente, pela ação de censura interna. Estão armazenadas as idéias, desejos e sentimentos recalcados, assim como todos os fatos traumáticos que a pessoa não consegue recordar, porque os esqueceu como defesa contra o sofrimento que a lembrança do fato traz como os: sentimentos bons ou ruins, pensamentos positivos ou negativos, acidentes, raiva, ódio, castigo, vergonha. Professora: Maria Flor 2022 11 O conteúdo inconsciente permanece agindo sobre o nosso comportamento atual. Ex: fatos acontecidos na infância (traumas, castigos, acidentes, dores) são armazenados no inconsciente, que no campo atual criam medos, ressentimentos, angústias, sentimentos ruins. PRÉ-CONSCIENTE: Conteúdos que não estão na consciência neste momento, mas no momento seguinte podem estar. São fatos armazenados que exigem um maior esforço introspectivo para serem chamados à consciência e, muitas vezes, não conservam a mesma nitidez dos fatos armazenados em nível consciente. CONSCIENTE: É o sistema que recebe informações do mundo exterior e interior. Acontece principalmente o fenômeno da percepção (consciência que o indivíduo possui frente ao estímulo sensorial - 5 sentidos), principalmente do mundo exterior. É o nível que armazena os fatos ocorridos, considerados como atuais pela facilidade que se tem de lembrá-los como, por exemplo: que dia é, que mês é, em que dia da semana estamos e assim por diante. Quando esquecemos esses dados recentes e/ou atuais pode estar ocorrendo uma patologia. 2.2 2ª Estrutura do Aparelho Psíquico Id – Ego – Superego ID – Instância estruturalmente inconsciente. É responsável pelos processos primários: fome, sede, sexo, ou seja, o conjunto de impulsos inatos (sexuais e agressivos) e de desejos recalcados. Esses conteúdos não são estáticos. São dinâmicos e sempre buscam a satisfação de seus desejos, impulsos e instintos. Sendo assim, é a parte mais primitiva e menos acessível da personalidade, constituído de conteúdos inconscientes, inatos ou adquiridos, que buscam contínuas gratificações. Não conhece juízo de valor (bem, moral, certo, errado), busca a satisfação imediata. No Id não se aplicam as leis lógicas do pensamento, o que permite a integração de conteúdos contrários com valência semelhante. EGO (eu) – É a parte do psiquismo que faz contato com a realidade externa, pois estabelece a relação com o meio em que vivemos através da percepção consciente, do pensamento e da ação. O Ego tem o controle de todas as funções cognitivas. Contém elementos conscientes e inconscientes. Procura conciliar os desejos do ID com as exigências do SUPEREGO e adequá–las a realidade. SUPEREGO – É o representante interno das normas e valores sociais que foram transmitidos pelos pais aqtraves do sistema de castigo e recompensa imposto à criança. Com a formação do superego, o controle dos pais é substituído pelo autocontrole. Suas principais funções são: inibir os impulsos do id e lutar pela perfeição, o que se faz necessário para a convivência em grupo e na sociedade. É o último sistema da personalidade a desenvolver-se. Representante interno dos valores morais e ideais da sociedade, transmitidos e reforçados pelo sistema de recompensas e castigos impostos à criança. É a arma moral (certo e errado) da personalidade. Sua preocupação principal é decidir se alguma coisa é certa ou errada, de modo que a pessoa possa se comportar em harmonia com os padrõesmorais autorizados pela sociedade gerando sentimentos de culpa por erros ou falhas. Sendo assim, atua como censor do ego, representa as exigências da moralidade. Tem a função de formar ideais, a auto-observação, etc. Recompensa o ego por comportamentos aceitáveis e cria sentimentos de culpa para castigá-lo por ações ou pensamentos contrários a princípios morais. 2.3 Mecanismos de defesa do EGO. É uma denominação dada por Freud para as manifestações do Ego diante das exigências das outras instâncias psíquicas (Id e Superego), mas a psicanálise freudiana não é a única teoria a se utilizar desse conceito. Outras vertentes da psicologia também se utilizam dessa denominação. Professora: Maria Flor 2022 12 Os mecanismos de defesa são determinados pela forma como se dá a organização do ego: quando bem organizado, tende a ter reações mais conscientes e racionais. Todavia, as diversas situações vivenciadas podem desencadear sentimentos inconscientes, provocando reações menos racionais e objetivas e ativando então os diferentes mecanismos de defesa, com a finalidade de proteger o Ego de um possível desprazer psíquico, anunciado por esses sentimentos de ansiedade, medo, culpa, entre outros. Resumindo, os mecanismos de defesa são ações psicológicas que buscam reduzir as manifestações iminentemente perigosas ao Ego. São todos inconscientes e podem ocorrer ao mesmo tempo, por isso são dinâmicos. Visam proteger a auto-estima do indivíduo e eliminar o excesso de tensão e ansiedade. Sua principal função é manter a ansiedade e a tensão em níveis que não sejam tão dolorosos para nós. Evitam o desgaste advindo das tensões intrapsíquicas causadas pela situação de frustração e conflito. Todos os mecanismos de defesa exigem certo investimento de energia e pode ser satisfatório ou não em cessar a ansiedade, o que permite que sejam divididos em dois grupos: Mecanismos de defesa bem-sucedidos e aqueles ineficazes. Os bem-sucedidos são aqueles que conseguem diminuir a ansiedade diante de algo que é perigoso. Os ineficazes são aqueles que não conseguem diminuir a ansiedade e acabam por constituir um ciclo de repetições. Nesse último grupo, encontram-se, por exemplo, as neuroses e outras defesas patogênicas. 2.3.1 Funcionamento dos mecanismos de defesa: REPRESSÃO: fundamenta todos os outros mecanismos de defesa. Tira da consciência a percepção de acontecimentos cuja dor o indivíduo não pode suportar. CISÃO OU DIVISÃO: um objeto ou imagem com o qual nos relacionamos podem ter simultaneamente características que despertam nosso amor e nosso ódio. NEGAÇÃO: não perceber aspectos que magoam ou são perigosos. É a defesa que se baseia em negar a dor, ou outras sensações de desprazer. É considerado um dos mecanismos de defesa menos eficazes. Podemos citar como exemplo o comportamento de crianças de “mentir”, negando ações que realizaram e que gerariam castigos. PROJEÇÃO: consiste em atribuir aos outros as ideias e tendências que o sujeito não pode admitir como suas. Sem que percebemos, muitas vezes vemos nos outros defeitos que nos são próprios. Resumidamente, podemos dizer que é o deslocamento de um impulso interno para o exterior, ou do indivíduo para outro. Os conteúdos projetados são sempre desconhecidos da pessoa que projeta, justamente porque tiveram de ser expulsos, para evitar o desprazer de tomar contato com esses conteúdos. Um exemplo é uma mulher que se sente atraída por outra mulher, mas projeta esse sentimento no marido, gerando a desconfiança de que será traída, ou seja, de que a atração é sentida pelo marido. Além desse, outros exemplos de projeção podem estar na causa de preconceitos e violência. RACIONALIZAÇÃO: abstraímos as vivências afetivas e em cima de premissas lógicas, tentamos justificar nossas atitudes. COMPENSAÇÃO: Esse mecanismo de defesa tem por característica a tentativa do indivíduo de equilibrar suas qualidades e deficiências, por exemplo, uma pessoa que não tem boas notas e se consola por ser bonita. EXPIAÇÃO: É o mecanismo psíquico de cobrança. O sujeito se vê cobrado a pagar pelos seus erros no exato momento em que os comete, com esperança na crença de que o erro será imediatamente ou magicamente anulado. FANTASIA: Nesse mecanismo de defesa, o individuo cria uma situação em sua mente que é capaz de eliminar o desprazer iminente, mas que, na realidade, é impossível de se concretizar. É uma espécie de teatro mental onde o indivíduo protagoniza uma história diferente daquela que vive na realidade, onde seus desejos não podem ser satisfeitos. Nessa realidade criada, o desejo é satisfeito e a ansiedade diminuída. Os exemplos de fantasia são: os sonhos diurnos, ou fantasias conscientes, as fantasias inconscientes, que são decorrentes de algum recalque e as chamadas fantasias originárias. FORMAÇÃO REATIVA: É um mecanismo caracterizado pela aderência a um pensamento contrário àquele que foi, de alguma forma, recalcado. Na formação reativa, o pensamento recalcado se mantém como conteúdo inconsciente. As formações reativas têm a peculiaridade de se tornar uma alteração na estrutura da personalidade, Professora: Maria Flor 2022 13 colocando o indivíduo em alerta, como se o perigo estivesse sempre presente e prestes a destruí-lo. Um exemplo, uma pessoa com comportamentos homofóbicos, que na verdade, sente-se atraído por pessoas do mesmo sexo. IDENTIFICAÇÃO: diante de sentimentos inadequados, o sujeito internaliza características de alguém valorizado, passando a sentir-se como ele. É o mecanismo baseado na assimilação de características de outros, que se transformam em modelos para o individuo. Esse mecanismo é a base da constituição da personalidade humana. Como exemplo podemos citar o momento em que as crianças assimilam características parentais, para posteriormente poderem se diferenciar. Esse momento é importante e tem valor cognitivo à medida que permite a construção de uma base onde a diferenciação pode ou não ocorrer. REGRESSÃO: volta aos níveis anteriores de desenvolvimento que em geral caracterizam por repostas menos maduras de uma frustração. É o processo de retorno a uma fase anterior do desenvolvimento, onde as satisfações eram mais imediatas, ou o desprazer era menor. Um exemplo é o comportamento de crianças que, na dificuldade em seus relacionamentos com outras crianças, retornam, por exemplo, a fase oral e retomam o uso de chupetas, ou ainda, comem excessivamente. ISOLAMENTO: consiste em isolar um pensamento, atitude ou comportamento das conexões que teria com o resto da elaboração mental. É o mecanismo em que um pensamento ou comportamento é isolado dos demais, de forma que fica desconectado de outros pensamentos. É uma defesa bastante comum em casos de neurose obsessiva. Os exemplos desse mecanismo são diversos, como rituais, fórmulas e outras ideias que buscam a cisão temporal com os demais pensamentos, na tentativa de defesa contra a pulsão de se relacionar com outro. DESLOCAMENTO: através dele descarregamos sentimentos acumulados, sentimentos regressivos em pessoas ou objeto. O mecanismo de deslocamento está sempre ligado a uma troca, no sentido de que a representação muda de lugar, e é representada por outra. Esse mecanismo também compreende situações em que o todo é tomado pela parte. Por exemplo: alguém que teve um problema com um advogado e passa, então, a rejeitar todos esses profissionais, ou ainda, num sonho, quando uma pessoa aparece, mas, na verdade está representando outra pessoa. SUBLIMAÇÃO: um deseja passa a ser canalizado em outro local., com ações aceitáveis socialmente. ANULAÇÃO: Desfazer ou cancelar simbolicamente uma experiência que se considera intolerável, com fim de anular ou reparar o significado do atoanterior. REPARAÇÃO: Consiste na reestruturação do objeto que foi danificado. Por exemplo, um indivíduo que fala mal de uma entidade religiosa, sente-se culpado e passa a rezar para restaurar o que fez e não mais sentir culpa. SOMATIZAÇÃO: conflito manifesto através do sintoma. Há uma predisposição orgânica para o uso da função corporal eleita para a descarga psíquica. INTELECTUALIZAÇÃO: controle dos afetos e impulsos por pensar sobre eles ao invés de vivenciá-lo. CONVERSÃO: há uma ideia penosa ligada a um conflito e se configura em um estado afetivo. Tem sintoma mas não tem nada. DISSOCIAÇÃO: modificação temporária, mas drástica, do caráter ou do senso de identidade, a fim de evitar a angústia. 2.4 TEORIA DO DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL SEGUNDO FREUD Fases Oral, Anal, Fálica, Período de Latência e Fase Genital Na fase oral de 0 a 1 ano A região do corpo com maior prazer na criança é a boca, onde entra em contato com o mundo. É por esta razão que a criança pequena tende a levar tudo o que pega à boca. O principal objeto de desejo nesta fase é o seio da mãe, que além de alimentar proporciona satisfação ao bebê. Fase anal de 2 a 4 anos. Período que a criança passa a adquirir controle dos esfíncteres - a zona de maior satisfação é a região do anus; descobre que pode controlar as fezes que sai de seu interior, oferecendo-o à mãe ora como um presente, ora como algo agressivo. É aí que a criança começa a ter noção de higiene; fases de birras. Fase fálica de 4 a 6 anos Professora: Maria Flor 2022 14 A atenção da criança volta-se para a região genital. Inicialmente a criança imagina que tanto os meninos quanto as meninas possuem um pênis e defrontadas com as diferenças anatômicas entre sexos, as crianças criam as chamadas teorias sexuais infantis, imaginando que as meninas não tem pênis porque este órgão lhe foi arrancado (complexo de castração). É neste momento que a menina tem medo de perder o seu pênis. Surge aí o complexo de Édipo, em que o menino apresenta atração pela mãe e se rivaliza com o pai, e na menina ocorre o inverso. Fase de latência de 6 a 11 anos. Este período caracteriza-se pelo deslocamento da libido da sexualidade para atividades socialmente aceitas, ou seja, a criança passa a gastar sua energia em atividades sociais e escolares. Fase genital, a partir de 11 anos. Início da adolescência, há uma retomada dos impulsos sexuais, o adolescente passa a buscar, em pessoas fora de seu grupo familiar, um objeto de amor. Adolescência é um período de mudanças no qual o jovem tem que elaborar a perda da identidade infantil e dos pais da infância para que pouco a pouco possa assumir uma identidade adulta. 2.5 TEORIA DE DESENVOLMENTO PSICOSSOCIAL DE ERIKSON A teoria de Erikson foi criada pelo psiquiatra alemão Erik Homburger Erikson no séc. XX. Nessa teoria é valorizado o papel do meio social na formação da personalidade do indivíduo, a energia que orienta o desenvolvimento é psicossocial. Segundo Erikson, existem oito estágios psicossociais ou oito idades em que ocorre o desenvolvimento. Cada estágio ou idade atravessa uma crise entre uma vertente positiva e uma negativa. Um estágio está conectado ao outro, os primeiros influenciam os posteriores, sendo que os cinco primeiros estágios formam a identidade, e em todos os estágios existem conflitos para serem resolvidas, resoluções que influenciarão a vida futura. O primeiro estágio – confiança/desconfiança (0 - 18 meses) A idade em que a criança adquire confiança em si mesmo e no mundo ao redor, através da relação com a mãe. Se a mãe atende as necessidades do filho, a confiança está construída. Se não, medo, receio e desconfiança podem ser desenvolvidos pela criança. Virtude social desenvolvida: esperança. O segundo estágio – autonomia/dúvida e vergonha (18 meses – 3 anos) A contradição entre o que a criança quer fazer (impulso) e o que as normas permitem. A criança deve ser estimulada a fazer as coisas de forma autônoma, para não se sentirem envergonhadas. Os pais devem ajudar os filhos para terem vontade de fazer as coisas corretamente. Virtude social desenvolvida: desejo O terceiro estágio – iniciativa/culpa (3 anos- 6 anos) Neste estágio a criança já tem a capacidade de distinguir as coisas que pode e as coisas que não pode fazer. Começando a tomar iniciativas, mas sem sentir culpa. A criança começa a assumir outros papéis, tendo noção de ‘outro’ e de individualidade, começando a se preocupar com a aceitação do seu comportamento. Virtude social desenvolvida: propósito. O quarto estágio – indústria (produtividade)/inferioridade (6 anos- 12 anos) A criança começa a se sentir como uma pessoa trabalhadora, capaz de produzir. A resolução positiva dos estágios anteriores é importantíssima, sem confiança, autonomia e iniciativa, não conseguirá se sentir capaz. O sentimento de inferioridade pode levar se sentir incapaz. Este é o momento de relações interpessoais importantes. Virtude social desenvolvida: competência. O quinto estágio – identidade/confusão de identidade (adolescência) Aqui se adquire a identidade psicossocial, o adolescente precisa entender seu papel no mundo e reconhecer sua singularidade. Há uma redefinição nos elementos de identidade já adquiridos. Algumas dificuldades desse período são: falta de apoio no crescimento, expectativas parentais e sociais diferentes, dificuldades em lidar com as mudanças, etc. Virtude social desenvolvida: fidelidade. Professora: Maria Flor 2022 15 O sexto estágio – intimidade/isolamento (25 anos – 40 anos) É essencial estabelecer uma relação íntima durável com outras pessoas, caso não consiga estabelecer essa relação se sentirá isolado. Virtude sócia desenvolvida: amor. O sétimo estágio – generatividade/estagnação (35 anos – 60 anos) A necessidade de orientar a geração seguinte, uma fase de afirmação pessoal no trabalho e na família. Podendo ser produtivo em várias áreas. Existe a preocupação com as gerações futuras, educando e criando os filhos. O lado negativo é que pode levar a pessoa a parar em seus compromissos sociais. Virtude social desenvolvida: cuidar do outro. O oitavo estágio – integridade/desespero (após os 60 anos) É a hora da avaliação de tudo que se fez na vida, em caso de uma negação em relação ao passado, se sente fracassado pela falta de poderes físicos e cognitivos. O desespero para pessoas que acham o balanço de sua vida negativa e integridade para pessoas que sentem o balaço de sua vida positiva. Virtude social desenvolvida: sabedoria. 2.6 TEORIA DA PERSONALIDADE INTERPESSOAL SULIVAM Sullivan e a Teoria Interpessoal da Psiquiatria Defendia uma visão social dos estágios definidos de desenvolvimento da personalidade. Não quer dizer que a duração dos estágios é taxativo, pois o organizamo é plástico e maleável, a personalidade pode mudar a qualquer tempo em função de interações sociais. Apersonalidade é um padrão duradouro de situações interpessoais contínuas e recorrentes. Entidade hipotética. Ilusão. Não pode ser separada do social sob risco de não ser possível estudá-la assim. A unidade de estudo é a interação social. Dinâmica e centro de interação de campos interpessoais. Cabe a ela reduzir as tensões, pois é um sistema de energia. Comportamento interpessoal é tudo que se pode observar como personalidade. Não há entendimento isolado, apenas contextualizado no social. Desde o nascimento o homem é membro de um campo social. Os produtos humanos são frutos de interações sociais. O organismo é social, deixando de ser biológico a partir do momento em que o social modifica o biológico. Ex: maneira socializada de respirar. Todos os processos psicológicos tem caráter interpessoal. Aestrutura da personalidade possui alguns processos como: 1. Dinamismo – menor unidade a ser estudada. Padrão duradouro, persistente e recorrente de transformação de energia (comportamentos). Caracteriza o organismo vivo. Hábito. Caracterizam as relações interpessoais. Os dinamismos básicos são os mesmos para todos, mas a forma de expressão depende do contexto social. Satisfazer necessidades básicas. 2. Autossistema – dinamismo que nasce da ansiedade (dinamismo do self ou autossistema). Ansiedade é produto das relações interpessoais. Tramita da mãe para o bebê. Sanciona alguns comportamentos,proíbe outros e exclui os desagradáveis da consciência. Filtro da consciência. Isolado do resto, tende a se inflar conforme a ansiedade aumenta na pessoa, impedindo-a que faça julgamentos objetivos. Produto dos aspectos irracionais da sociedade. 3. Personificações – imagem que possui de si e de outro. Decorrem das experiências de satisfação e de ansiedade. Representações que carregam informações que distorcem o real. Eu-bom e eu-mau. 4. Processos cognitivos – como a experiência é assimilada. Para Sullivan são três formas: protáxica (primeiros meses de vida. condição para que surjam os outros meios. Descontínuo); paratáxica (relaciona casualmente eventos que ocorrem ao mesmo tempo, mas que não estão relacionados, como supertições); sintáxica (atividade simbólica real e verbal. Pensamento elaborado). Professora: Maria Flor 2022 16 Estereótipos são personificações compartilhadas, com ampla aceitação social e transmitidas por gerações. OBSTÁCULOS: 1. Autossistema inflado. 2. Autopersonificações tendem a atrapalhar a autoavaliação objetiva. FONTES DE TENSÕES: 1. Das necessidades do organismo 2. Resultam das ansiedades Ansiedade é a resultante de tensão gerada por ameaças reais ou imaginárias. Varia de intensidade, e quanto maior mais afeta a eficiência da pessoa, perturbando suas relações interpessoais e gerando confusão de pensamentos. Na forma menos grave a ansiedade pode ser informativa. O dinamismo é conectado à zonas corporais que são receptores de estímulos. Estágios de desenvolvimento da personalidade definitivos: 1. Infância – nascimento até fala articulada. Zona oral é a zona primária. Amamentação como primeira experiência primária. Transição do modo prototáxico para o paratáxico. Dinamismo de pataia e desligamento sonolento. Movimentos coordenados. Autossistema rudimentar. Organização das personificações e da aprendizagem. 2. Meninice – organização sintáxica. Aprendizagem da linguagem. Autossistema mais coerente. Início da concepção de gênero. Dramatizações (brincar de ser adulto). Aparece a sublimação (substituição do que causa dor por comportamentos sociais aceitos), se dedica a atividades que visam diminuir a ansiedade e evitar a punição. Transformação malevolente (sentimento de que vive com inimigos causados por experiências dolorosas) 3. Idade juvenil – anos iniciais do ensino fundamental. Socialização, competitividade e cooperação. Ostracismo, desprezo e sentimento de pertencer a um grupo. Controles internos, presta atenção somente ao que interessa. Estereótipos. Diferenciação da fantasia e do real. Surge a orientação na vida. 4. Pré-adolescência – breve. Necessidade de relacionamento íntimo com mesmo sexo. Amigo. Relacionamentos humanos genuínos. 5. Adolescência inicial – padrão de atividade heterossexual. Puberdade experienciada como desejo sexual. Zona genital. Necessidade erótica com o sexo oposto. Necessidade de intimidade com o mesmo sexo. Se essas necessidades não se separarem, surge a homossexualidade (????????? Que viagem!!). Período persiste até que um padrão de satisfação das pulsões genitais seja encontrado. 6. Adolescência final – do padrão de satisfação das pulsões genitais até o estabelecimento de relações maduras interpessoais. Aperfeiçoamento das relações interpessoais. Desenvolvimento sintáxico. Ampliação do horizonte simbólico. Estabilização do autossistema. 2.6 TEORIA DO DESENVOLVIMENTO MORAL DE LAWRENCE KOHLBERG Uma das influentes teorias sobre o desenvolvimento moral foi apresentada por Lawrence Kohlberg, um psicólogo estadunidense que viveu entre 1927 e 1987, e relacionou o desenvolvimento moral ao desenvolvimento cognitivo da criança. Ele apontou que por meio de um processo maturacional e interativo, todas as pessoas têm a capacidade de chegar à plena competência moral. Em seu estudo principal, entrevistou 72 garotos de 10, 13 e 16 anos dos arredores de Chicago. Apresentava-lhes uma série de dilemas morais e esses o explicavam como chegavam às soluções, sendo que chegou a acompanhar alguns dos sujeitos por cerca de 20 anos. Sua teoria apresenta 3 níveis de moralidade, cada um com 2 sub estágios. Professora: Maria Flor 2022 17 Nível 1 (Pré-Convencional) O NÍVEL 1 é o “Pré-Convencional” (de 2 a 6 anos, aproximadamente) e o 1º estágio é “Obediência e Punição”. Aqui o comportamento é orientado para evitar a punição e são as consequências das ações que determinam o que é certo e errado. O 2º estágio é “Hedonismo Instrumental Relativista”, onde o raciocínio moral é egocêntrico e o indivíduo segue as normas pensando em interesses próprios. Nível 2 (Convencional) O NÍVEL 2 é o “Convencional” (idade escolar) e o 3º estágio é o das “Relações Interpessoais”. Aqui o correto é aquilo pautado nas convenções e regras sociais determinadas por pessoas de autoridade, sendo que o que importa é “ser o bom menino/boa menina” para corresponder às expectativas morais dos outros O 4º estágio é a “Orientação Para a Lei e Ordem / Autoridade Mantém a Moralidade”. Nesse momento, os deveres, a manutenção da ordem social e da lei orientam a moralidade. Está além da necessidade de aprovação individual exibida no estágio . Nível 3 (Pós-Convencional) O NÍVEL 3 é o “Pós-Convencional” (adolescência), e o 5º estágio é de “Contrato Social”, onde o indivíduo determina o certo e o errado, com base em parâmetros sociais democraticamente pré-estabelecidos. As leis são consideradas como contratos sociais em vez de um mandamento rígido. O 6º estágio é de “Princípios Éticos Universais”. Aqui a pessoa transcende sociedades e leis para buscar princípios de igualdade e dignidade, com uma ética válida para todos. Segundo Kohlberg, poucas pessoas atingem esse estágio. UNIDADE III 3. FUNÇÕES DO EGO 1. Consciência Conceito: É o estado de lucidez ou de alerta em que a pessoa se encontra, variando da vigília até o coma. É o reconhecimento da realidade externa ou de si mesmo em determinado momento, e a capacidade de responder aos seus estímulos. Não se deve confundir com o sentido "moral" da palavra (superego), que envolve o julgamento de valores; nem com o conceito psicodinâmico (consciente e inconsciente); nem com o sentido de autocrítica. AVALIAÇÃO: Observar as reações do paciente frente aos estímulos, se sua reação é rápida ou lenta; se mostra sonolento ou não. No caso de lucidez, percebe-se através da própria conversa com o paciente, porém, se houver alguma alteração devem-se utilizar estímulos verbais e/ou táteis. Na clínica geral usa- se também a escala de Glasgow, a qual avalia alterações no nível de consciência usando basicamente os parâmetros de: abertura ocular, resposta verbal e resposta motora a estímulos. ALTERAÇÕES: Obnubilação/sonolência: está alterada a capacidade de pensar claramente, para perceber, responder e recordar os estímulos comuns, com a rapidez habitual. O paciente tende a cair em sono quando não estimulado. Às vezes é necessário falar alto ou tocá-lo para que compreenda uma pergunta. Confusão: caracterizada por um embotamento do sensório, dificuldade de compreensão, atordoamento e perplexidade, juntamente com desorientação,distúrbios das funções associativas e pobreza ideativa. O paciente demora a responder aos estímulos e tem diminuição do interesse no ambiente. A face de um doente confuso apresenta uma expressão ansiosa, enigmática e às vezes de surpresa. É um grau mais acentuado que a obnubilação. Estupor: estado caracterizado pela ausência ou profunda diminuição de movimentos espontâneos, mutismo. O paciente somente responde a estímulos vigorosos, após os quais retorna ao estupor. Professora: Maria Flor 2022 18 Coma: há abolição completa da consciência; o paciente não responde mesmo aos estímulos externos (dolorosos), ou internos (fome, frio, necessidades fisiológicas, outros). Hiperalerta: estado no qual o paciente encontra-se ansioso, com hiperatividade autonômica e respostas aumentadas aos estímulos. Pode ocorrer em conseqüência ao uso de drogas (anfetaminas, cocaína), abstinência (benzodiazepínicos), ou no stress pós-traumático. TRANSTORNOS MAIS COMUNS: A obnubilação ocorre frequentemente em pacientes que sofrem traumatismos cranianos ou processos infecciosos agudos. Pode, ainda, ser efeito colateral de álcool ou drogas. A confusão ocorre na fase aguda de algumas doenças mentais, nas doenças associadas a fatores tóxicos, infecciosos ou traumáticos, na epilepsia, e em situações de grande estresse emocional. Observa-se o estupor na esquizofrenia (catatônico), em intoxicações, doenças orgânicas, depressão profunda, reações epilépticas e histéricas. 1. ATENÇÃO Conceito: A atenção é uma dimensão da consciência que designa a capacidade para manter o foco em uma atividade. Designa, ainda, o esforço voluntário para selecionar certos aspectos de um fato, experiência do mundo interno (memórias), ou externo, fazendo com que a atividade mental se volte para eles em detrimento dos demais. Avaliação: Vigilância: designa a capacidade de voltar o foco da atenção para os estímulos externos. Pode estar: aumentada - hipervigil podendo haver, neste caso, um prejuízo da atenção para outros estímulos; ou diminuída hipovigil quando o paciente torna-se desatento em relação ao meio. A melhor forma de avaliar a atenção é através da observação durante a entrevista. Tenacidade: capacidade de manutenção da atenção ou de uma tarefa específica. Deve-se observar a capacidade de prestar a atenção às perguntas durante a entrevista, sem estar constantemente distraindo-se. Pode-se pedir ao paciente para bater na mesa toda vez que se diga a letra A, entre uma série de letras aleatórias como K,D,A,M,X,T,A,F,O,K,L,E,N,A,... Grava-se o tempo e o número de erros. Concentração: é a capacidade de manter a atenção voluntária em processos internos do pensamento ou em alguma atividade mental. O teste formal para a avaliação da concentração é o da subtração consecutiva do número 7 a partir do número 100. Para pacientes com défcit cognitivo ou QI abaixo de 80 utiliza-se uma série de 3 números a partir de 20. Se o paciente já realizou o teste muitas vezes, altera-se os números para 101 ou 21, para evitar que tenham sido decorados. Alterações Desatenção: incapacidade de voltar o foco para um determinado estímulo. Distração: incapacidade de manter o foco da atenção em determinado estímulo. Transtornos mais comuns: A desatenção ocorre em depressões, demências, delirium, efeito adverso de medicamentos, Transtornos de Déficit de Atenção. A distração ocorre em depressões, mania, retardo mental, etc. São comuns os estados: hipo ou hipervigil e hipo ou hipertenaz. 2. SENSOPERCEPÇÃO Conceito: Designa a capacidade de perceber e interpretar os estímulos que seapresentam aos órgãos dos sentidos. Os estímulos podem ser: auditivos, visuais, olfativos, táteis e gustativos. Avaliação: A senso percepção é investigada através da entrevista com o paciente. Professora: Maria Flor 2022 19 Alterações: Ilusões: ocorrem quando os estímulos sensoriais reais são confundidos ou interpretados erroneamente; geralmente ocorrem quando há redução de estímulos ou do nível de consciência (delirium); por exemplo, um cinto é percebido como uma cobra, miragens no deserto (enxerga-se água nas dunas). Dismegalopsias: são ilusões nas quais os objetos ou pessoas tomam tamanho e/ou distâncias irreais; nas macropsias os objetos parecem mais próximos e maiores; nas micropsias, parecem menores e mais distantes. Ocorrem em descolamento de retina, distúrbios de acomodação visual, lesão temporal posterior e intoxicações por drogas. Alucinações: ocorre a percepção sensorial na ausência de estímulo externo. Tipos de alucinações: Visuais: As alucinações visuais são mais características de transtornos mentais orgânicos, especialmente em estados de delírium e podem ser amedrontadoras. Podem também ocorrer no luto normal (visão da pessoa falecida), em depressões psicóticas (ver-se dentro de um caixão). Hipnagógicas: ocorrem imediatamente antes de dormir e sua ocorrência,quando ocasional, é normal, porém, experiências repetidas representam invasões do sono REM na consciência; Hipnopômpicas: precedem o acordar, geralmente nos estados semicomatosos. Auditivas: (as mais comuns) são classificadas tanto como elementares (ruídos) ou complexas (vozes ou palavras). São comumente relatadas por pacientes psicóticos (transtorno afetivo bipolar (TAB), esquizofrenia), mas também ocorrem nas Síndromes Cerebrais Orgânicas (SCO). Alguns pacientes, nos estágios iniciais de surtos psicóticos ouvem seus próprios pensamentos falando em voz alta ("echo de la pensée"). Mais adiante as vozes perdem o contato com a pessoa, parecendo vir de fora, fazendo comentários sobre o comportamento do paciente ou discutindo sobre ele na terceira pessoa. As alucinações auditivas podem ser congruentes com o humor como por exemplo: "mate-se", para um paciente depressivo, ou incongruentes com o humor (Schneiderianas). Táteis: são geralmente referidas como picadas de insetos na pele (formigamentos) e ocorrem na intoxicação por cocaína, por anfetaminas, em psicoses e delirium tremens devido à abstinência do álcool. Pacientes esquizofrênicos podem apresentar sensações estranhas: orgasmos produzidos por objetos ou seres invisíveis. Devem ser distinguidas do aumento da sensibilidade (hiperestesia) e da sua diminuição (hipoestesia). Podem ocorrer em doenças de nervos periféricos e na histeria. Vestibulares: alucinações relacionadas com o equilíbrio e localização do indivíduo no espaço. Ex: sensação de estar voando, comumente vistas em situações orgânicas, como o delirium tremens e psicoses pelo uso de alucinógenos. Olfativas: exemplo: se uma mulher possui baixa auto-estima, pode preocupar-se com o odor vaginal e interpretar que outras pessoas estão percebendo seu mau cheiro. Em crises parciais complexas, de origem no lobo temporal, alucinações olfativas de tinta ou borracha podem representar auras. De presença: sensação de presença de outra pessoa ou ser vivo que permanece invisível. Nas alucinações extra campinas o indivíduo vê objetos fora do campo sensorial (atrás de sua cabeça), enquanto que na autoscopia, o paciente visualiza ele próprio projetado no espaço. Somáticas: experiências sensoriais irreais envolvendo o corpo do paciente ou seus órgãos internos (sentir o fígado apodrecido). Tipos específicos de alucinações: Cinestesias: escutar cores, cheirar músicas; Pseudoalucinações: são reconhecidas, percebidas como irreais; Despersonalização: esquisita impressão de que o corpo está mudando, perda da identidade corporal, com sensação de estranheza em relação a ele; Desrealização: sensação de que o ambiente está mudando ou mudou, parece irreal, como se fosse um filme, é comum em esquizofrênicos. Transtornos mais comuns: Transtornos psicóticos (principalmenteesquizofrenia) e Síndromes Cerebrais Orgânicas. Professora: Maria Flor 2022 20 3. ORIENTAÇÃO Conceito: Capacidade do indivíduo de situar-se no tempo, espaço ou situação e reconhecer sua própria pessoa. Avaliação: Tempo: pode-se perguntar ao paciente qual é a hora aproximada, dia da semana, do mês, mês, ano, estação e há quanto tempo ele está no hospital. Espaço: o paciente deve ser capaz de descrever o local onde se encontra (consultório, nome do hospital), o endereço aproximado, a cidade, o estado, o país, sabendo também quem são as pessoas à sua volta. A própria pessoa: Deve-se perguntar dados sobre o paciente, como nome, data de nascimento, profissão e o que faz no hospital. Estas informações devem ser conferidas através de uma fonte confiável, como um familiar hígido. Demais pessoas: Deve ser capaz de identificar seus familiares, amigos próximos e pessoal que o atende (médicos, enfermeiras, auxiliares, etc.). Alterações: Quando um paciente fica desorientado, após um quadro de delirium, por exemplo, a primeira noção de orientação perdida é em relação ao tempo, depois espaço e por último (e raramente) em relação a si próprio. A recuperação se dá de maneira inversa: inicialmente o paciente orienta-se em relação à própria pessoa, posteriormente em relação ao espaço e por fim ao tempo. Desorientação: pode ser influenciada por alterações na atenção e consciência. Transtornos mais comuns: Síndromes Cerebrais Orgânicas, psicoses afetivas, esquizofrenia. Pacientes com transtornos psicóticos (por exemplo: TAB ou esquizofrenia) não são tipicamente desorientados, embora, pela apatia, eles possam ter falhas no desempenho das rotinas diárias. Já o paciente que sofre de alguma doença orgânica, caracteristicamente está desorientado. Na Síndrome Cerebral Orgânica os pacientes frequentemente mostram flutuação na orientação conforme a hora do dia (piora à noite), podendo ocorrer total desorientação com o aumento da gravidade. Nos Transtornos Dissociativos (fuga) ocorre uma amnésia psicogênica, de maneira que o indivíduo não sabe o seu nome, ou outros dados de identificação ou a identidade das pessoas de seu ambiente, nem o local de onde é proveniente ou reside. 4. MEMÓRIA Conceito: É a capacidade de registrar, fixar ou reter, evocar e reconhecer objetos, pessoas e experiências passadas ou estímulos sensoriais. São fixados na memória fatos ou situações que quando ocorreram provocaram emoções associadas: prazer, medo, etc, ou que foram significativas para a pessoa. Ao ser evocada, a lembrança pode trazer a emoção a ela associada. A memória fotográfica ou automática é a mais fiel, que reproduz exatamente o registro dos fatos, mesmo que a pessoa não os tenha compreendido. A memória lógica recorda o significado essencial das experiências, sem sua reprodução fiel. As memórias auditivas e visuais ocorrem conforme a maior facilidade em reter o que se vê ou se ouve. A memória é ainda dividida em memória declarativa ou verbal (de fatos, eventos, nomes de pessoas) ou procedural: de habilidades ou procedimentos. A primeira é acessível à consciência ao contrário da segunda que não é expressa em palavras e é inconsciente, ou implícita. Funcionalmente as áreas encefálicas responsáveis pela memória podem ser divididas em: área de registro (córtex cerebral), área de consolidação ou retenção (hipocampo), área de armazenamento (lobo temporal) e área de recuperação(dorso medial do tálamo). Professora: Maria Flor 2022 21 Para fins de avaliação divide-se a memória em: sensorial, que recebe a informação dos órgãos dos sentidos e a retém por breve período de tempo (0,5 segundos); imediata, responsável pelo registro de informações ouvidas nos últimos 15 a 20 segundos; recente, que se divide em de curto prazo (5-10min) e de longo prazo (mais de 30 min); e remota, que é a responsável pela retenção permanente de informação selecionada. Esta seleção da memória remota é feita em função do significado emocional e é mais facilmente evocada quando a pessoa está em situação semelhante à ocasião inicial. Avaliação: Memória imediata: pode-se pedir ao paciente para repetir uma seqüência de números com 3, 4, 5, 6 e 7 algarismos, ou mencionar 3 objetos não relacionados, como "pente, rua e azul" do"MiniMentalState Examination" (MMSE), e pedir para repetir imediatamente; pode-se fazer o "Span de Palavras". Memória recente (passado recente): a) de curto prazo: pode-se solicitar ao paciente que guarde três palavras ("pente, rua e azul" do MMSE) e que as repita 5 minutos após; b) de longo prazo: indaga-se ao paciente sobre o que comeu no café da manhã ou na janta na véspera, ou o que fez no último fim-de-semana. Pode-se usar o teste Memória remota (passado remoto): solicita-se que o paciente fale de eventos importantes com a respectiva data no passado (nascimento, aniversário, casamento, nascimento dos filhos, onde cresceu, estudou, últimos 3 presidentes). Alterações e Transtornos mais comuns: Amnésia: incapacidade parcial ou total de evocar experiências passadas. Amnésia imediata: geralmente existe um comprometimento cerebral agudo. Amnésia anterógrada: o paciente esquece tudo o que ocorreu após um fato ou acidente importante. Ex: traumatismo craniano, distúrbio dissociativo (histeria). Amnésia retrógrada: esquecimento de situações ocorridas anteriormente a um trauma, doença ou fato importante. Amnésia lacunar: esquecimento dos fatos ocorridos entre duas datas. Por exemplo: não se lembra de o que fez no ano de 1995, o ano da sua separação. Eventualmente, o paciente pode preencher estas lacunas com inverdades ou situações não ocorridas, sem dar-se conta. A isto se dá o nome de confabulação, frequente em pacientes com Demência. Amnésia remota: esquecimento de fatos ocorridos no passado. Pacientes idosos com algum grau de demência. Classificação das Amnésias: A- pela extensão: Parciais: esquecimento de um nome, um local, uma língua; total: perda total das lembranças; b-pelo mecanismo: De fixação: por falta de reações lógicas, referenciais cronológicos e memorização; De evocação ou psicógena: por inibição emocional da evocação; Conservação: por extinção definitiva das lembranças antigas demais; c-paramnésias: -déjà vu: sensação de familiaridade com uma percepção efetivamente nova. -Dijavu: sensação de estranheza em relação a uma situação familiar. d-hipermnésia: capacidade aumentada de registrar e evocar os fatos. 5. INTELIGÊNCIA Conceito: Capacidade de uma pessoa de assimilar conhecimentos factuais, compreender as relações entre eles e integrá- los aos conhecimentos já adquiridos anteriormente; de raciocinar logicamente e de forma abstrata manipulando Professora: Maria Flor 2022 22 conceitos, números ou palavras. Capacidade de resolver situações novas com rapidez e com êxito mediante a realização de tarefas que envolvam a apreensão de relações abstratas entre fatos, eventos, antecedentes e consequências, etc. Idade Mental é o nível intelectual médio de determinada idade. Binet elaborou uma equação que permite expressar a capacidade intelectual de um sujeito em Coeficiente de Inteligência (QI), através da avaliação com testes padronizados. Segundo a teoria das inteligências múltiplas identificam-se sete tipos de inteligência: lingüística, lógico- matemática, espacial, musical, cinestésico-corporal, interpessoal e intrapessoal. Ainda conforme Gardner, cada tipo de inteligência é um sistema genético ativado por informação interna ou externa que possui uma certa plasticidade, de modo que certas capacidades intelectuais podem ser ampliadas a partir de estímulos apropriados.