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1 Os processos psicossociais da exclusão O que é exclusão? Noção polissêmica; Termo ambíguo; Termo complexo. Ao se referir a racismo, desemprego, pobreza, conflitos internacionais, deficiência física, transtorno mental... Os processos psicossociais da exclusão Jodelet aponta que na Psicologia Social é possível trabalhar a exclusão como abordagem única do estudar "o nível das interações entre pessoas e entre grupos, que dela são agentes ou vítimas" (p.53), através do estudo das relações socias. Sendo o resultado de procedimentos de relações e tratamento social, exclusão se inscreverá em uma interação entre pessoas ou entre grupos: Segregação - Manutenção do afastamento, distanciamento de um indivíduo ou grupo. Marginalização - Manutenção de um indivíduo (ou grupo) à parte de um grupo, ou sociedade, ou instituição. Discriminação - Impedimento de acesso a bens ou recurso. Psicologia social e exclusão Analisar processos de exclusão (ou qualquer outro fenômeno) à luz da Psicologia Social não pressupõe opor uma interpretação psicológica, interpretações, sócio-históricas, culturais ou econômicas. Ao contrário, tenta-se compreender o sujeito a partir da interlocução entre os tantos olhares quanto for possível sobre o sujeito ou o fenômeno de interesse. Categorias de análise via Psicologia Social Preconceito, estereótipo, discriminação, identidade social, discursos sociais, representações sociais, ideologia etc. Questão central: "O que é que faz com que em sociedades que cultuam valores democráticos e igualitários, as pessoas sejam levadas a aceitar a injustiça, a adotar ou tolerar, frente àqueles que não são seus pares ou como eles, práticas de discriminação que os excluem?" (0.54) Teoria da frustração-agressão Propõe a existência de motivações hostis ativadas por frustrações. O impedimento de atingir um objetivo provocaria um estado de raiva que aumentaria a tendência agressiva. Como? Deslocamento para alvos mais frágeis e/ou acessíveis. Discriminação de grupos minoritários. "Bode expiatório" (atitudes depreciativas). Preconceitos e estereótipos negativos. Rompimento de laços de solidariedade (Milgram: poder sobre o outro) 2 "Experiência de Milgram" - Conduzida pelo psicólogo professor de Yale, Stanley Milgram, que queria verificar até que ponto um ser humano "bom" era capaz de fazer o mal a outro por uma questão de obediência. O cientista dividiu 40 voluntários em dois grupos aleatórios: a um disse que seriam professores, e aos outros, que seriam estudantes; Em seguida, levou os "estudantes" para outra sala e pediu aos "professores" que colocassem à prova a memória de seus "alunos"; O pesquisador os instruiu a castigar aqueles que errassem com choques elétricos. A máquina que utilizariam emitia descargas que iam de 50 a 450 volts. A potência máxima vinha acompanhada de uma inscrição que dizia "Perigo: choque severo"; Cerca de dois terços dos "educadores" utilizaram voltagem máxima do medidor em algum momento e todos chegaram à marca de 300 volts, apesar dos gritos dos 'estudantes' na sala vizinha; O aparelho, contudo, não chegava a dar choques, e os gritos que os "professores" escutavam vindo da sala vizinha eram, na verdade, gravações. Contraponto da teoria frustração-agressão está no controle social do grupo: temor pela desaprovação social. Crença em um mundo justo (Lerner, 1980) - pessoas tem o que merecem - experimento de "ver" o sofrimento de uma mulher: Quanto maior a "pena", mais se avalia negativamente a vítima. Culpabilização individual pelo sofrimento. "Nos contextos sociais, onde dominam valores e crenças que favorecem o desprezo das vítimas, porque elas são vítimas maltratadas, exploradas, pode ser difícil adotar uma posição contrária por temor de nos encontrarmos em uma situação incômoda em relação ao grupo do qual pertencemos". (p.56) Personalidade autoritária e racismo simbólico Agressões (não apenas físicas) ao outro mostram o peso das relações de poder, das normas sociais e das representações sociais no processo de produção da exclusão social. Teoria da Personalidade autoritária - associa ideologia e personalidade para explicar as posições racistas e antidemocráticas; aceita-se aqueles culturalmente semelhantes e rejeitam o diferente (etnocentrismo) - punir aqueles que se apresentam contrários aos valores ditos tradicionais, rejeição ao diferente, intolerância à ambiguidade. Associação do diferente à ideia de ameaça dos valores aos quais se está ligado (ou valores pertencentes a determinado grupo). Teoria da personalidade autoritária Tendência a desconsiderar e mesmo punir aqueles que se apresentam contrários aos valores ditos tradicionais, rejeição ao diferente, intolerância à ambiguidade, generalização de clichês e estereótipos generalizados desconsiderando diferenças individuais. Associação do diferente à ideia de ameaça para os valores aos quais se está ligado ou valores pertencentes a determinado grupo), ou seja, mesmo com outras informações e experiências, não mudam (preconceito). Os processos de socialização, a educação, a comunicação midiática e institucional contribui para a transmissão, manutenção e enraizamento de preconceitos. O sujeito constrói sentido para as suas experiências através das relações que estabelece com o outro, em uma determinada cultura. A crença na ameaça cultural leva à discriminação - Exemplo: Povos muçulmanos. Racismo simbólico - Exclusão devido à "incompatibilidade" entre os interesses coletivos (normas, cultura, status) e aqueles que poderiam afetar a posição privilegiada daquele grupo. 3 Preconceitos e estereótipos São dois mediadores importantes no estudo da exclusão. São processos mentais mediadores-chaves que operam a descrição e julgamento; através deles pessoas e grupos são caracterizados e julgados, por pertencer a determinada categoria social ou por apresentar um ou mais atributos desta categoria (processo de exclusão). Preconceito - É uma atitude, julgamento positivo ou negativo, formulado sem exame prévio a propósito de uma pessoa ou de uma coisa e que, assim, compreende vieses e esferas específicas. Possui as dimensões cognitiva (conteúdo e forma tal como se apresenta), afetiva (correspondente nas emoções e valores) e conativa (positiva ou negativa), é forçado nos processos de comunicação em os contextos sócio-históricos. Cognitiva Conteúdo e forma tal como se apresenta Afetiva Correspondente nas emoções e valores Conativa Positiva ou negativa Estereótipo – São esquemas que relacionam os atributos pessoais que caracterizam os membros de um determinado grupo ou de uma categoria social. São "Imagens na cabeça" que representam o meio social, que simplificam sua complexidade. Uma simplificação típica do senso comum. Preconceito e Estereótipo estão distantes das normas de racionalidade, justiça e humanismo. Categorização Social Categorizar - Classificar em divisão social, numa categoria já dada (homem/ mulher); atribuir uma característica a alguém/grupo. "Imputar uma característica a um conjunto de objetos pode servir para constituí-lo em uma classe definida pela divisão desta característica" (p.60). Ex: Mulher é delicada e gentil. E se o homem for gentil? A categorização social segmenta o meio social em classes cujos membros são considerados como equivalentes em razão de características, ações e intenções comuns. Simplifica e estrutura o mundo social, a partir da classificação de objetos e grupos - o que é semelhante e o que é diferente. Esta categorização (distinção) desconsidera todo o processo de percepção e de diferenciação presente nos sujeitos. Paradigma do grupo mínimo Tendência a favorecer seu grupo, ou membro do grupo ao qual pertence, ampliando a diferença entre os grupos. Ex: Experimento da professora Jane Elliot - estabeleceu diferenças isentas de objetividade,criando um clima de favoritismo (crianças com olhos azuis). E assim que o grupo dominante sempre vai tirar mais proveito de todas as situações, ao estar respaldado pela autoridade. É surpreendente como crianças que antes eram amáveis, cooperativas e amigáveis, se transformaram em soberbas, discriminadoras e hostis do pertencer a um grupo dito superior. Ou seja, temos a necessidade de pertencimento social – investimos (material e emocionalmente) no grupo do qual pertencemos; 4 A imagem que temos de nós próprios encontra-se ligada à imagem que temos de nosso grupo. Assim, defendemos os valores do nosso grupo, protegemos os iguais a nós e excluímos aqueles que não são do mesmo grupo. Porém, os grupos são diversos. Possuem limites imprecisos com critérios diversos de inclusão e exclusão. As categorizações produzidas nos grupos nem sempre são nítidas e organizadas. O modo de se relacionar no grupo do qual pertencemos está relacionado ao status social deste grupo: nos grupos considerados dominantes; percebemos diferenciação das identidades; nos grupos dominados (considerados inferiores) há uma tendência à homogeneização (identidade social). Concluindo Sentimento de insegurança, inferioridade, marginalidade contribuem para a exclusão social, reafirmando a socialização defeituosa, o grupo dominado, interiorizando os preconceitos e estereótipos e limitando as chances sociais. "Preconceitos e estereótipos se alimentam do discurso social para servir às forças de poder na regulação das relações entre grupos que se confrontam em situações sociais e políticas concretas". (p.64) Nos processos de exclusão faz-se as seguintes associações: Estereótipos de deslegitimação (excluir moralmente); Ancorados na falta de importância econômica e na associação com perigo; A sociedade exclui alguns grupos do campo de normas e valores aceitáveis; Gera no imaginário social, uma imagem de desumanidade dos excluídos; desencadeia nos demais setores da sociedade, sentimentos de ameaça, hostilidade, desconfiança, irritação e medo. O excluído não é reconhecido como sujeito, é estigmatizado e considerado perigoso para a sociedade. Isto se reflete na forma como ele se constitui enquanto sujeito, pois não sendo reconhecido como sujeito, não reconhece a si mesmo como sujeito e não atua como sujeito; Esse mecanismo revela como o ciclo da exclusão se fortalece e se reproduz por meio dos significados sociais que o imaginário coletivo atribui à pobreza, os quais reforçam e ampliam o processo de segregação, levando próprio excluído a acreditar na irreversibilidade de sua condição.
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