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Engenharia Civil SISTEMA DE DRENAGEM SUPERFICIAL EM RODOVIAS PAVIMENTADAS SURFACE DRAINAGE SYSTEM ON PAVED ROADSG OF A SCIENTIFIC ARTICLE Renato Batista Campos1, Hélio da Silva Mota2 1 Acadêmico do Curso de Engenharia Civil 2 Engenheiro Civil, Professor de Engenharia Civil Resumo O trabalho contou com a revisão bibliográfica sobre os sistemas de drenagem superficial em rodovias pavimentadas, observando sua importância no sentido da prevenção às patologias nos pavimentos. Identificou-se a importância do modal rodoviário no Brasil, bem como os dispositivos utilizados na drenagem superficial, que são a valeta de proteção de corte, a valeta de proteção de aterro, a sarjeta de corte, a sarjeta de aterro, a sarjeta de canteiro central, a descida d’água, a saída d’água, as caixas coletoras, o bueiro de greide, os dissipadores de energia e o escalonamento de taludes. Constatou-se que o sistema de drenagem superficial proporciona o aumento da vida útil do pavimento, resultando em maior segurança no tráfego. Palavras-Chave: Drenagem Superficial; Rodovias; Patologias. Abstract The research included a bibliographic review of the surface drainage systems on paved roads, noting their importance in terms of preventing pathologies on pavements. The importance of the road modal in Brazil was identified, as well as the devices used in surface drainage, which are the cut protection ditch, the embankment protection ditch, the cutting gutter, the embankment gutter, the construction gutter central, the water descent, the water outlet, the collection boxes, the manhole, the energy sinks and the slope escalation. It was found that the surface drainage system provides an increase in the useful life of the pavement, resulting in greater traffic safety. Keywords: Surface Drainage; Highways; Pathologies. Contato: nip@finom.edu.br Introdução Os sistemas de drenagem se apresentam como componentes essenciais no campo das obras viárias. Todavia, a observação a respeito da importância desses sistemas, bem como de suas características e mesmo dos aspectos relacionados às obras em comento, carece da relevante conceituação acerca do transporte e sua relevância social. Compreende-se, nesse aspecto, que o transporte tem como finalidade o deslocamento de pessoas, a troca de bens e de informações, sendo essencial para o desenvolvimento da sociedade. Como citar esse artigo: CAMPOS, Renato Batista; MOTA, Hélio Silva. SISTEMA DE DRENAGEM SUPERFICIAL EM RODOVIAS PAVIMENTADAS. Anais do 3° Simpósio de TCC, das faculdades FINOM e Tecsoma. 2020; 863-878 864 Verifica-se que a qualidade do transporte tem influência direta no modo como a sociedade utiliza seus recursos naturais, sua produção e seus materiais, compreendendo que alguns deslocamentos ocorrem diariamente. Em todos os países e regiões desenvolvidas e que possuem uma economia desenvolvida verifica-se o investimento significativo em transportes de melhor qualidade. A competitividade de diversos segmentos, talvez da maioria, tem relação com a qualidade dos transportes em seus diferentes modais. Nesse sentido, observa-se também que a infraestrutura de transportes, para sua construção e adequação, requer um significativo aporte de recursos e comumente demora anos para sua conclusão (HOEL; GARBER; SADEK, 2012). O modal predominantemente utilizado para o transporte de cargas e de passageiros no Brasil é o rodoviário, verificando que a extensa malha rodoviária nacional possui como uma de suas características o predomínio da utilização de pavimentos flexíveis. Nesse tipo de pavimento observa-se a necessidade de manutenção em lapso temporal inferior ao que ocorre com os pavimentos rígidos, mais resistentes, mas de maior custo inicial (BENEDETTI et al., 2013). A análise da qualidade dos pavimentos utilizados nas rodovias nacionais mostra-se importante diante da observação da citada importância desse modal para o desenvolvimento econômico e social do país, mas também para que se possa observar os aspectos inerentes às obras necessárias para a realização da pavimentação, como a terraplenagem e a drenagem. Destaca-se, nesse sentido, a necessidade de se analisar também a prevenção ao surgimento de patologias nos pavimentos rodoviários, considerando os prejuízos oriundos dessas ocorrências. A desatenção ao que é determinado no projeto de drenagem é um elemento a ser observado como um obstáculo recorrente à execução. Essa desatenção ocorre comumente devido à inabilitação por parte dos profissionais executantes, considerando a escassez desse tipo de mão de obra. As consequências são principalmente as falhas na eficiência da drenagem, considerando que as declividades calculadas interferem na capacidade da vazão escoada. Outro aspecto elencado como problema no campo da drenagem se refere aos erros e fraudes na execução do projeto, observando que a alteração do mesmo às vezes é feita de modo indiscriminado e sem conhecimento. Esse problema ocorre também por inaptidão das perícias executadas (DAL-PRÁ, 2016). Como consequência das deficiências nos processos de drenagem, entre outras, podem ser citados os danos à pavimentação. As patologias causadas por problemas de drenagem são comuns nas rodovias, trazendo prejuízos significativos. Assim, pergunta-se sobre qual a relação entre a adequada execução do sistema de drenagem superficial em rodovias pavimentadas e a 865 minimização do surgimento de patologias. Desse modo, a pesquisa com a abordagem proposta tem sua motivação na relevância da drenagem rodoviária em todas as etapas das obras viárias, desde o projeto, observando a necessidade de prevenção às patologias, que além dos riscos à integridade humana e dos veículos, apresentam-se como gastos públicos de grandes proporções. Assim, o objetivo do presente trabalho é discutir a importância do sistema de drenagem superficial em rodovias pavimentadas, considerando suas especificidades e seu papel no sentido da prevenção às patologias. 2 Materiais e Métodos A metodologia utilizada no presente trabalho é a revisão bibliográfica em livros, artigos científicos e dissertações de mestrado e documentos oficiais publicados entre os anos de 2000 e 2020. Os trabalhos foram prospectados em meio eletrônico por meio das palavras-chave “drenagem”, “rodovias” e “patologias”. Os descritores foram submetidos à pesquisa por meio dos operadores booleanos “and” e “or”, nas bases Scielo, Google Acadêmico e Spell, tendo sido obtidos como resultados 20 trabalhos. Depois da leitura dos resumos dos artigos, foram excluídos 6 por não serem pertinentes aos objetivos da pesquisa e 1 por se tratar de estudo bibliométrico, além de 2 que foram exibidos de modo repetido e 2 publicados antes do ano 2000. Assim, foram selecionados 9 artigos trabalhos, tendo sido incluídos também 4 documentos produzidos pelos órgãos governamentais, 8 livros, 5 dissertações de mestrado, 1 documento classificado entre anais de congresso e 1 nota de aula. 3 Resultados e discussão 3.1 Revisão bibliográfica A drenagem é uma atividade de grande importância nas construções, utilizando-se de diversos processos e sendo abordada por normas que buscam conferir qualidade e eficácia à prática. A drenagem nas construções pode ser considerada como uma atividade essencial em todos os tipos de edificação, consistindo no escoamento ou na retirada da água presente no local. Verifica-se que todos os terrenos, ainda que possuam a topografia totalmente plana, têm um sistema natural de drenagem superficial, que proporciona o encaminhamento natural da água. Todavia, na maioria dos solos a drenagem natural é 866 insuficiente, exigindo a necessidade de uma melhoria do sistema (JONES; BODÓ, 2017). Tucci (2005) compreende que a drenagem é o ato da escoação e remoção do excesso de água em rodovias, zona ruralou na malha urbana afim de melhorar e proteger tudo sobre o que elas podem influir. No Brasil, o processo de drenagem começou em 1850, sendo atualizado pela tecnologia até os dias de hoje. Já a micro drenagem surgiu com o passar do tempo, por a população começar a crescer cada vez mais aumentando a vazão, causando inundações, então ela surgiu com isso sendo o deslocamento final das águas recolhidas pela drenagem primária. Conforme Botelho (2015), antes do início da fundação de uma obra, o solo do terreno pode estar encharcado ou ter uma quantidade de água acima da quantidade recomendada, sendo que essa situação pode ser atribuída a diversos fatores, como a presença de nascentes subterrâneas, a elevada precipitação no local ou tubulações danificadas. A análise deve levar em consideração a situação presente e a futura, evitando o surgimento de novos pontos de acúmulo de água. Segundo Acioli e Amorim (2014), a umidade pode ser considerada como uma das principais causas das patologias nas construções, o que indica a importância da correta realização do processo de impermeabilização. A execução incorreta da impermeabilização, desprovida do devido cuidado, pode ter como resultado as patologias oriundas de agentes naturais como chuvas, umidade e ventos. As consequências dessa incorreção no processo de impermeabilização comumente se refletem na passagem da umidade ou da água por capilaridade, podendo comprometer seriamente as estruturas. A realização da drenagem exige o cumprimento de alguns processos preliminares, que são a delimitação da região afetada, a identificação da origem do excesso de água, a realização de um levantamento a respeito do lençol freático e acerca da elevação do terreno, buscando a facilitação do escoamento (BOTELHO, 2015). A escolha do sistema de drenagem a ser empregado requer também o estudo do solo, compreendendo que por meio das características do terreno são definidos os parâmetros a serem adotados. O estudo do solo avalia também a resistência mecânica do terreno e diante da constatação de que o mesmo não se encontra apto para determinada obra, podem ser realizadas as estabilizações do mesmo, compreendendo que esta realização requer a realização de testes de retração do solo (KOLLING; TROGELLO; MODOLO, 2012). O estudo dos solos exige atenção especial quanto à resistência, considerando que a mesma decorre da ação integrada entre a coesão e o atrito. Desse modo, a análise da resistência do solo indica a possibilidade de realização de drenagem e do desenvolvimento 867 de pressões neutras. A análise quanto à resistência ao cisalhamento é uma importante etapa do estudo da resistência do solo, considerando que esta ocorrência consiste no deslizamento entre partículas do solo ou entre corpos sólidos (PINTO, 2000). A drenagem se utiliza de diversas técnicas artificiais, como túneis, valas, fossos, canais e tubos. Existem também métodos naturais de drenagem, por meio de rios, córregos ou outros meios de escoamento que passam pelo local. Utilizam-se materiais auxiliares no processo de drenagem, como as mantas geossintéticas. Para o emprego dos métodos artificiais de drenagem ou mesmo para se identificar que os métodos naturais são suficientes, é necessário o estudo prévio do solo (JONES; BODÓ, 2017). De modo amplo, a definição do modo como será executada a drenagem é feita na etapa de projeto. O projeto de drenagem pode ser compreendido como uma forma de se minimizar os efeitos da umidade e do percurso da água de chuva para as obras. Existem alguns dispositivos utilizados para a atividade de drenagem, como os tubos de concreto, as caixas de passagem e de ligação. Observa-se que o projeto de drenagem envolve, a princípio, a avaliação a respeito da estrutura e tipo do terreno, além da própria obra. Uma das análises a serem realizadas se refere à inclinação do terreno, pois é uma variável essencial relacionada ao acúmulo de água (KEELER; VAIDYA, 2018). O projeto de drenagem considera aspectos como os estudos hidrológicos, geométricos, topográficos e geotécnicos, onde se destacam as análises inerentes às características do solo. A drenagem pode ser profunda ou superficial, sendo que drenagem superficial, como o próprio nome define, é voltada ao escoamento das águas mais próximas da superfície, geralmente oriundas de meios externos. Já a drenagem profunda ou subterrânea é um processo onde se busca a interceptação ou o rebaixamento do lençol freático (JONES; BODÓ, 2017). As falhas dos projetos de drenagem tanto realizados nas edificações quanto aqueles elaborados no que se refere às obras de infraestrutura têm entre seus resultados a ocorrência de enchentes. Essas situações exigem a elaboração de um controle, que conforme Giudice (2019) possui métodos diversos, sendo predominantemente utilizados os canais, diques e galerias de águas pluviais. Existem também métodos considerados como não convencionais, como pavimentos porosos, detenção em coberturas de telhados planos, em lotes e outros métodos de compensação em drenagem urbana, que ainda são pouco empregados no Brasil, bem como as bacias de amortecimento de cheias, que se utilizam dos reservatórios de detenção. Observa-se, no que se refere às obras públicas, que a etapa de drenagem deve 868 necessariamente compor o projeto executivo e depois ser objeto de fiscalização, antecedendo à entrega da obra. Nesse ponto, destaca-se a consideração de Bretas (2010), que considera que a ausência da integração entre as fases de projeto e concepção é uma das causadoras do não cumprimento dos prazos de entrega das obras públicas. A política existente de desenvolvimento e controle dos impactos quantitativos na drenagem se baseia no conceito de escoar a água precipitada o mais rápido possível (TUCCI, 2002). As iniciativas destinadas ao aprimoramento da qualidade dos processos de drenagem são utilizadas em caráter auxiliar, geralmente considerando que os sistemas convencionais não comportam a demanda. A compreensão a respeito do funcionamento desses sistemas depende do entendimento de que o pavimento deve possuir condições de escoamento das águas, tanto longitudinal como transversal (DAL-PRÁ, 2016). Discutindo-se os projetos de drenagem, Dal-Prá (2016) afirma que alguns parâmetros a serem abordados no contexto dos projetos de drenagem são a intensidade das chuvas e recorrência, declividade do terreno, escoamento superficial e a localização da bacia hidrográfica. Quanto à localização da bacia hidrográfica em relação ao local de execução do projeto, esta influencia diretamente no resultado da vazão calculada, na extensão e no custo da tubulação necessária. O fator econômico mostra sua relevância diante da observação dos elevados custos das obras de infraestrutura, com destaque para obras de drenagem. Conforme a NBR 15645/2008 (ABNT, 2008), com relação ao canteiro de obras, a execução de sistemas de drenagem requer a definição de local específico para que ocorra o recebimento, descarga e estocagem de materiais, armazenamento de equipamentos e ferramentas, instalações para a uso e transição segura dos trabalhadores. As obras de drenagem são antecedidas pelo licenciamento ambiental, pela sinalização da área e pelo desmatamento e limpeza do local. Com relação às estradas pavimentadas, objeto de discussão do presente trabalho, observa-se que conforme a CNT (2017), 58,2% das rodovias analisadas possui algum tipo de deficiência, seja no pavimento, na geometria da via ou na sinalização. Os defeitos ou irregularidades aumentam o risco de acidentes e afetam de modo direto o conforto e a segurança dos passageiros. Os dados da pesquisa indicaram que 48,3% dos trechos avaliados receberam classificação regular, ruim ou péssimo. Nesse sentido, identifica-se a importância da efetividade dos meios de prevenção contra as patologias, entre os quais situa-se adrenagem superficial do solo. 869 A drenagem superficial do solo se utiliza de diversos dispositivos, como valeta de proteção de corte - VPC; valeta de proteção de aterro - VPA; sarjeta de corte - SC; sarjeta de aterro - SA; sarjeta de canteiro central - SCC; descida d’água - DAD; saída d’água; caixas coletoras; bueiro de greide; dissipadores de energia e escalonamento de taludes (ALMEIDA, 2007). Na Figura 1 pode ser observado um exemplo de valeta de proteção de corte: Figura 1 – Valeta de proteção de corte Fonte: Barbosa (2015) As valetas de proteção de corte têm por finalidade evitar que as águas provenientes da montante do terreno escorram para o talude provocando, dessa forma, prejuízos à estrutura da estrada. O material retirado a construção da valeta é colocado manualmente entre a valeta e a crista do aterro. A valeta de proteção do aterro tem o objetivo de interceptar a água, de forma a evitar que ela atinja ou fique estagnada no pé do aterro (ROCHA, 2013). 870 Figura 2 – Valeta de proteção de aterro Fonte: Barbosa (2015) A sarjeta de corte capta as águas da estrada e dos taludes e as leva no sentido longitudinal pela lateral da rodovia, até um ponto de transição entre corte e aterro, possibilitando a saída lateral da água para o terreno natural ou para valetas de aterro, ou mesmo, para a caixa coletora de um bueiro de greide. Quanto à sarjeta de aterro, ela conduz as águas precipitadas sobre o pavimento até um local elas possam desaguar com segurança, evitando a ocorrência de erosão na borda da via ou no talude do aterro. A sarjeta de canteiro central capta as águas vindas das pistas e do canteiro central e as conduz longitudinalmente até a captação nas caixas coletoras de bueiros de greide. Essas sarjetas geralmente são triangulares, mas podem ter forma trapezoidal ou outros formatos (ROCHA, 2013). A descida d´água conduz as águas provenientes dos taludes de corte até as caixas coletoras ou à sarjeta de corte. Já a saída d’água é um dispositivo de transição que leva as águas provenientes das sarjetas e as encaminham para tubulações ou outro dispositivo de drenagem (ROCHA, 2005). 871 Figura 3 – Descida d’água Fonte: Barbosa (2015) A ausência de material de vedação, possibilitando o acúmulo de material incompressível e a infiltração de água são considerados como problemas que podem levar às fissuras longitudinais nos pavimentos rígidos. As possíveis causas são pela perda de adesão do material de vedação com a borda da laje, remoção do material de vedação devido ao efeito do trânsito, falta de material de vedação nas juntas e falta de manutenção preventiva. O grau de severidade é alto devido à falta de vedação, o rompimento geralmente ocorre nas bordas das placas (AYALA, 2014). A correta execução da drenagem superficial tem como resultado a prevenção às diversas patologias, como ocorre nos pavimentos rígidos. Figura 4 – Possíveis anomalias nos pavimentos rígidos 872 Fonte: Santos, Sacramento e Castro (2015) As aberturas causadas tanto pelo esborcinamento de placas quanto pelo esborcinamento de juntas e de cantos facilita a entrada de água, que pode chegar às camadas inferiores e causar o carreamento do solo, podendo resultar em outras patologias (SILVA JÚNIOR, 2018). 3.2 Resultados e discussão A conservação de pavimentos deve observar predominantemente os aspectos preventivos, verificando, inclusive, que as falhas devem ser corrigidas em menor tempo na identificação de seu aparecimento e que a conservação deve incluir a manutenção de obras de drenagem superficial e subterrânea (SENÇO, 2017). Nesse sentido destaca-se a importância da drenagem. Oliveira et al. (2011) afirmam que a drenagem é uma atividade essencial nas obras viárias, sendo necessária sua execução também das estradas não pavimentadas, que representam cerca de 90% da malha rodoviária no Brasil. Os autores consideram que as estradas não pavimentadas são construídas, na maioria das vezes, sem projeto geométrico de dimensionamento ou mesmo do sistema de drenagem. Nas obras viárias, os estudos geotécnicos têm como objetivo o reconhecimento a respeito dos materiais que compõem os cortes e aterros, bem como do terreno de fundação e das obras-de-arte. Tais estudos indicam também a localização, as distâncias econômicas de transporte, a existência de materiais com características aceitáveis para execução da pavimentação e as demais estruturas exigidas para a realização da obra (BRASIL, 2013). Nas obras viárias os estudos geológicos e geotécnicos começam na etapa de estudo prévio, buscando a fixação do traçado e tendo sua continuidade na fase de execução, definindo com exatidão a sequência dos trabalhos. Na fase de estudo prévio, os trabalhos 873 consideram a memória descritiva e a justificativa; a planta geológica e o perfil geotécnico interpretativo, longitudinal; bem como os dados dos ensaios laboratoriais e da prospecção geotécnica (RIBEIRO, 2008). A necessidade da adoção de medidas preventivas se justifica também considerando o elevado custo de manutenção inerente às obras viárias. Segundo a CNT (2017), sugere- se, inclusive, a utilização de critérios de contratação de obras que considerem a qualidade técnica como fator superior ao preço e a mudança dos métodos de dimensionamento utilizados, voltando-se à adoção de técnicas passíveis de conceder maior confiabilidade e precisão aos projetos. Importa, inclusive, analisar o custo do ciclo de vida do pavimento e realizar ensaios de materiais voltados à seleção de insumos e alternativas tecnológicas melhores para a utilização nas obras viárias. Soma-se a essas posturas iniciais a demarcação dos locais se encontrarem dispositivos a serem utilizados no sistema de drenagem e deve ocorrer a atenção quanto aos pontos de referenciais de nível, que devem ser estar de preferência próximos ao eixo da vala, em seguimento das guias das calçadas e onde não será lançado material da escavação. As diferenças identificadas entre a materialização dos pontos e o projeto devem ser reportadas ao contratante para que se possa garantir com exatidão as orientações (PAULA et al., 2017). A degradação de estradas não pavimentadas é motivada pela ausência de um adequado sistema de drenagem, levando à ocorrência de acúmulos de água no leito e nas margens, bem como ao escoamento excessivo às condições de suporte do solo. As causas são principalmente a falta de projetos e estruturas próprias ou adequadas para essas vias e a inexistência desses cuidados provocado atoleiros, erosões nos canais e no leito da estrada, ou mesmo nas áreas marginais (OLIVEIRA et al., 2011). Griebeler et al. (2005) consideram que a diminuição dos problemas de erosão nas estradas não pavimentadas pode ser obtida por meio da adoção de medidas que evitem que a água proveniente do escoamento superficial, tanto aquele gerado na própria estrada como o proveniente das áreas às suas margens, venha a se acumular na estrada, passando a utilizá-la para o seu escoamento. Assim, deve ocorrer a coleta da água escoada na estrada nas suas laterais e encaminhada para os escoadouros naturais, artificiais, bacias de acumulação ou outro sistema de retenção localizado no terreno marginal de modo controlado. Observa-se que para a aplicação desse método é necessária a definição do espaçamento entre os desaguadouros a serem utilizados. Buscando definir o espaçamento entre os desaguadouros, são determinadas as 874 condições de escoamento no canal de drenagem da estrada, fazendo uma comparação com a capacidade que o solo tem de resistir ao desprendimento de partículas pelo escoamento superficial. Em seguida processa-se a quantificação da perdade solo no canal, comparando-a com um limite tolerável de perdas. Inclusive, diversos autores recomendam a utilização de espaçamentos entre desaguadouros ou bacias de acumulação de água com fundamento apenas na textura do solo e na declividade do terreno (GRIEBELER et al., 2005). Observa-se, no campo da prevenção às patologias, a necessidade de se realizar a drenagem de transposição dos talvegues, definidos como sendo a linha que fica na parte mais profunda de um rio ou um vale. Essa transposição pode utilizar-se da construção de bueiros, pontes e pontilhões de acordo com a necessidade de cada local. Os bueiros objetivam proporcionar condições de passagem de fluxos d’água superficiais para o lado da jusante ou permitir a transposição de talvegues atingidos pela rodovia (DNIT, 2006). Geralmente os bueiros são instalados sob os aterros, onde se procura neste caso lançar o bueiro na linha do talvegue; nas bocas de corte quando o volume d’água dos dispositivos de drenagem for passível de causar erosão no terreno natural nesses locais; e. nos cortes de seção mista quando a altura da saia de aterro não for muito elevada, ou quando a capacidade das sarjetas for insuficiente. Nesses casos, não mais se refere à transposição de talvegues, mas de bueiros de greide. Quanto às pontes, as mesmas são destinadas à transposição de água e os pontilhões são obras utilizadas para a transposição de talvegues nos casos em que não possam ser construídos bueiros por imposição da descarga de projeto ou do greide projetado (DNIT, 2006). Verifica-se que a inadequação desses processos relacionados à drenagem pode resultar em patologias diversas nas rodovias. Um exemplo são as panelas, definidas como danos resultantes da desintegração localizada, sob a ação de tráfego e em presença de água depois da ocorrência de trincas por fadiga ou desgaste, com a remoção de partes do pavimento. As panelas ocorrem com mais frequência em revestimento com pouca espessura ou baixa capacidade de suporte das camadas inferiores, podendo aparecer em locais com segregação de material devido à falta de ligante em alguns pontos ou com problemas construtivos representados pela drenagem inadequada (MACHADO, 2013). Os desgastes da superfície também são patologias identificadas nos pavimentos e que podem ser motivadas pela ausência ou incorrência do sistema de drenagem. Nos pavimentos flexíveis, verifica-se a perda de agregados e/ou argamassa fina do revestimento asfáltico, trazendo aspereza superficial anormal, perda do envolvimento betuminoso e 875 arrancamento progressivo dos agregados. Entre as causas do desgaste superficial nos pavimentos flexíveis pode-se situar a presença de água no interior do revestimento, que resulta em sobrepressões hidrostáticas passíveis de provocar o descolamento da película betuminosa (DNIT, 2006). As trincas são patologias encontradas com relativa frequência nos pavimentos das rodovias brasileiras. Entre outros fatores passíveis de ocasionar as trincas transversais, podem-se considerar a alta variação de temperatura, o envelhecimento do asfalto e a propagação de trincas presentes nas camadas inferiores, principalmente em bases cimentadas ou em juntas de revestimento rígido. As principais causas das trincas transversais não se relacionam de modo direto com as tensões geradas pelas rodas dos veículos, no entanto, à ação do tráfego e a infiltração da água no revestimento contribuem para maior degradação em um período de tempo menor que o previsto (DNIT, 2005). O afundamento por trilha de roda pode ser causado pela infiltração de água em uma ou mais camadas do pavimento, do mesmo modo que ocorre com a ondulação ou com a corrugação, que é causada pelo excesso de umidade nas camadas inferiores ou pela contaminação e retenção de água na mistura asfáltica (DNIT, 2005). Outras patologias comumente encontradas são as panelas ou covas. Panelas ou covas surgem devido a buraco ou cavidade que se forma no revestimento, podendo passar para a próxima camada, a base. É uma patologia que surge com a evolução de outras, como as fendas – principalmente aquelas do tipo pele de crocodilo, afundamentos, desgastes, desagregação da camada de desgaste e a falta de aderência entre as camadas. A água da chuva acaba sendo um fator agravante, pois o seu acúmulo entre as trincas superficiais acelera a degradação do revestimento (RIBEIRO, 2017). Destaca-se que a pavimentação realizada sem o sistema de drenagem pode resultar em prejuízos, pois a vida útil do pavimento é menor. Com a ausência da drenagem e, nas vias urbanas, de sistema de esgoto, identifica-se o acúmulo de águas e o surgimento de buracos, resultando em transtornos para pedestres, condutores de veículos e saneamento básico (STUCHI, 2005). De modo geral, constata-se a necessidade de que seja realizada a drenagem de modo adequado, em convergência com as características do solo e da via, buscando a minimização da predisposição da mesma à ocorrência de patologias. 4 Conclusão 876 O presente trabalho buscou identificar a importância da drenagem superficial em rodovias pavimentadas para a prevenção à ocorrência de patologias. Destacou-se a importância do modal rodoviário no Brasil, tendo sido identificados também os tipos de pavimentos utilizados nas obras rodoviárias, com suas características. Verificou-se que a drenagem tem uma função essencial no sentido da proteção contra a ocorrência de patologias diversas, como trincas, esborcinamento de juntas e cantos, fissuras, panelas e outras patologias, considerando que o projeto e a execução da drenagem devem ser pautados pela qualidade. Especificamente a respeito da drenagem superficial, constatou-se que a mesma tem como dispositivos a valeta de proteção de corte, a valeta de proteção de aterro, a sarjeta de corte, a sarjeta de aterro, a sarjeta de canteiro central, a descida d’água, a saída d’água, as caixas coletoras, o bueiro de greide, os dissipadores de energia e o escalonamento de taludes. Desse modo, observa-se que a mesma se assemelha aos sistemas de drenagem pluvial adotados em meio urbano, proporcionando aumento da vida útil do pavimento e proporcionando segurança, entre outros pontos. Sugere-se a realização de outros trabalhos a respeito do tema, considerando sua importância no contexto da Engenharia, bem como sua relevância social por se tratar de componentes que se apresentam como elementos críticos no campo da infraestrutura. Referências: ACIOLI, André Vaz Ferreira; AMORIM, José Emilio de Omena. A importância da impermeabilização na construção civil: sistema de manta asfáltica. 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