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Prévia do material em texto

Anthony
G453s Giddens, Anthony.
 Sociologia [recurso eletrônico] / Anthony Giddens ; 
 tradução: Ronaldo Cataldo Costa ; revisão técnica: Fernando 
 Coutinho Cotanda. – 6. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : 
 Penso, 2012.
 
 Editado também como livro impresso em 2012.
 ISBN 978-85-63899-27-9
 1. Sociologia. I. Título. 
CDU 316
Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052
Anthony Giddens é ex-diretor da London School of Economics.
Philip W. Sutton é professor na University of Leeds e na Robert Gordon University.
Anthony Giddens144
nos países desenvolvidos, enquanto os países em desenvol-
vimento devem apenas monitorar e divulgar suas emissões. 
Esse é um reconhecimento de que estes precisam “alcançar” 
os outros em termos de desenvolvimento econômico, que se-
ria gravemente impedido por uma limitação ou redução nas 
emissões. No longo prazo, porém, todos os países terão que 
controlar e reduzir suas emissões de gases de efeito estufa.
O protocolo de Kyoto usou os níveis de emissões de 1990 
como ponto de partida. Porém, muitos no mundo em desen-
volvimento acreditam que isso favorece os países industriali-
zados, pois não leva em conta a sua “responsabilidade histó-
rica” para o problema do aquecimento global e, assim, evita 
a atribuição de culpa. Também não está claro exatamente 
quando os países em desenvolvimento deverão reduzir suas 
emissões, ou quanto. Será que isso permitirá níveis de emis-
sões inevitavelmente mais altos, à medida que o seu desen-
volvimento econômico alcança o do mundo industrializado? 
Se não, pode ser considerado injusto e impraticável (Najam 
et al., 2003). Neste momento, um sucessor para o protocolo 
de Kyoto foi aprovado formalmente pelos países do G8+5 (os 
países do G8 e China, Índia, Brasil, México e África do Sul) 
na chamada “Declaração de Washington” de 2007. Ele traz a 
introdução de um sistema global de “limite e comércio” (en-
volvendo todos os países), no qual os limites para emissões 
serão introduzidos juntamente com um sistema de créditos 
de emissões (voltado para o comércio de carbono) que for-
ça os poluidores a pagar. O sistema funciona recompensan-
do aqueles países que reduzirem as emissões (e venderem 
créditos) e penalizando aqueles que não reduzirem (e serão 
forçados a pagar por créditos de carbono). Todavia, o efeito 
geral do sistema de limite e comércio é forçar todos os países 
a reduzir suas emissões.
Como ocorre com muitas novas formas de risco fabri-
cado, ninguém pode saber ao certo quais serão os efeitos do 
aquecimento global. Suas causas são muito difusas e suas 
consequências exatas são difíceis de calcular. Será que um 
cenário de emissões “elevadas” resultaria realmente em de-
sastres naturais disseminados? Será que estabilizar o nível de 
emissões de dióxido de carbono protegeria a maioria das pes-
soas do mundo dos efeitos negativos das mudanças climáti-
cas? É possível que os atuais processos de aquecimento global 
já tenham desencadeado uma série de outras perturbações 
climáticas? Não podemos responder essas questões com 
nenhum grau de certeza. O clima da Terra é extremamente 
complexo, e diversos fatores interagem para produzir conse-
quências diferentes em países individuais em pontos variados 
do planeta.
REFLEXÃO CRÍTICA
“Os países industrializados são responsáveis por produzir 
o aquecimento global, e suas populações deveriam se pre-
parar para aceitar um padrão de vida inferior para reduzir 
drasticamente as emissões de gases de efeito estufa”. Que 
argumentos podem ser usados para persuadir as pessoas no 
mundo industrializado a aceitar um padrão de vida material 
inferior? Seria provável que aceitassem essa solução?
Teorias sociológicas e 
sustentabilidade ecológica
Os cientistas naturais estão na vanguarda em debates sobre 
questões ambientais. Conforme mostram os exemplos da 
poluição, esgotamento de recursos, modificação genética e 
aquecimento global, as questões ambientais são diferentes 
de muitos outros temas sociológicos, pois geralmente en-
volvem pesquisas e evidências científicas naturais. Todavia, 
o caráter híbrido das questões ambientais significa que os 
cientistas naturais jamais podem deter o monopólio sobre 
elas. Nossa breve introdução ao problema do aquecimento 
global é o exemplo mais notável disso. Os cientistas do IPCC 
reconhecem que o aquecimento global do século XXI é pro-
duto principalmente das atividades humanas – processos de 
industrialização, urbanização e globalização, por exemplo – e 
os especialistas nessas áreas são sociólogos e outros cientistas 
sociais. Para se entender os problemas ambientais, os cientis-
tas sociais e naturais terão que tentar entender uns aos outros 
muito mais do que fazem atualmente. Esse certamente será 
um desafio positivo para toda a comunidade acadêmica.
O restante desta seção analisa algumas das principais teo-
rias sociológicas que relacionam o desenvolvimento social e a 
degradação ambiental, juntamente com algumas das princi-
pais abordagens para resolver problemas ambientais globais.
Consumismo e degradação ambiental
Uma questão importante que envolve o meio ambiente e o 
desenvolvimento econômico é a dos padrões de consumo. O 
consumo refere-se a bens, serviços, energia e recursos que 
pessoas, instituições e sociedades usam. É um fenômeno com 
dimensões positivas e negativas. Por um lado, o aumento dos 
níveis de consumo ao redor do mundo significa que as pes-
soas estão vivendo em condições melhores do que no passa-
do. O consumo está ligado ao desenvolvimento econômico 
– à medida que os padrões aumentam, as pessoas podem ter 
mais alimentos, roupas, objetos pessoais, tempo de lazer, fé-
rias, carros e assim por diante. Por outro lado, o consumo 
também pode trazer impactos negativos. Os padrões de con-
sumo podem prejudicar a base de recursos ambientais e exa-
cerbar os padrões de desigualdade.
As tendências no consumo mundial no decorrer do sécu-
lo XX são chocantes de observar. Em 1900, os níveis mundiais 
de consumo eram de pouco mais de 1,5 trilhão de dólares 
(UNDP, 1998); ao final do século, os gastos com o consumo 
público e privado chegaram a aproximadamente 24 trilhões 
de dólares – duas vezes o nível de 1975 e seis vezes o de 1950. 
As taxas de consumo cresceram de forma extrema e rápida 
nos últimos 30 anos. Nos países industrializados, o consumo 
por pessoa tem crescido a uma taxa de 2,3% anualmente; no 
Leste Asiático, o crescimento tem sido ainda maior – 6,1% a 
cada ano. Em comparação, o lar médio na África consome 
20% menos hoje do que consumia 30 anos atrás. Existe uma 
preocupação comum de que a explosão do consumo passe ao 
largo da quinta parte mais pobre da população do mundo.
As desigualdades no consumo entre os ricos e pobres 
do mundo são significativas. A América do Norte e a Euro-
pa Ocidental contêm apenas por volta de 12% da população 
esaito
Retângulo
Sociologia 145
do planeta, mas seu consumo privado – a quantidade gasta 
em bens e serviços no nível doméstico – é de mais de 60% 
do total mundial. Em contrapartida, a região mais pobre do 
mundo – a África subsaariana, que contém em torno de 11% 
da população global total – tem uma proporção de apenas 
1,2% do consumo privado total do planeta.
Argumenta-se que o capitalismo industrial coloca as so-
ciedades em um “ciclo da produção” que leva à degradação 
ambiental, usando os recursos naturais em um ritmo rápido 
e gerando níveis elevados de poluição e resíduos (Schnaiberg, 
1980). Todavia, no século XX, foi o consumismo moderno 
que manteve essa esteira correndo mais rápido nessa direção 
(Bell, 2004). O consumo é algo que os seres humanos fazem 
para sobreviver, mas as formas modernas de consumo são 
muito diferentes das formas anteriores.
A produção em massa também deve ser acompanhada 
pelo consumo em grande escala. Os produtos da indústria 
devem ser comprados e consumidos, embora a produção e 
o consumo possam ocorrer em regiões geograficamente dis-
tantes. Os produtos são fabricados ondeé mais barato e con-
sumidos onde for possível obter o maior preço. Nos últimos 
60 anos, aproximadamente, isso fez a produção industrial se 
mudar para os países em desenvolvimento. A rápida transfor-
mação dos países recentemente industrializados, como Hong 
Kong, Coreia do Sul, Cingapura e Taiwan na década de 1970 
e o desenvolvimento industrial recente na Índia, China e Ma-
lásia prestam testemunho disso, que faz parte do processo de 
globalização.
Os sociólogos do consumismo argumentam que ele tam-
bém é um modo de pensar, uma mentalidade, ou mesmo uma 
ideologia (Corrigan, 1997). Podemos entender esse aspecto 
se perguntarmos: “por que as pessoas consomem e querem 
consumir constantemente?” Talvez seja simplesmente porque 
os bens de consumo têm “valor de uso” para as pessoas; eles 
as ajudam a economizar tempo e esforço. Porém, os objetos 
de luxo não se encaixam tão bem nessa explicação. Eles mos-
tram um outro lado do consumismo moderno; seu papel na 
competição por status social dentro da sociedade (ver o Ca-
pitulo 7, “Interações sociais e vida cotidiana”). O consumo 
de massa diferenciado permite distinções mais complexas e 
finas, segundo os estilos e modismos do momento. As pes-
soas podem estar preparadas para pagar um preço pela úl-
tima moda porque esses produtos lhes permitem dizer algo 
sobre si mesmas, comunicar seu status ou suas aspirações 
de maneiras bastante visíveis para as outras pessoas. Mesmo 
produtos com um valor de uso claro, como roupas, também 
são objetos da moda que são descartados e substituídos antes 
que seu “valor de uso” tenha expirado. As grandes quanti-
dades desse lixo alimentado pela moda aumentam a pressão 
sobre o meio ambiente.
Com o tempo, os produtos de consumo são embutidos 
na rotina e são considerados básicos. Quando isso ocorre, 
é difícil perceber alternativas ao seu uso. Um bom exemplo 
disso está nos veículos modernos, particularmente o. Muitas 
famílias têm um, dois ou mais carros, e as pessoas os usam 
mesmo para fazer compras rápidas ou para visitar amigos ou 
parentes que moram bastante perto. Contudo, a propriedade 
e o uso de carros em grande escala geram grandes quantida-
des de poluição e resíduos na produção e consumo deles. Por 
que ficou tão difícil reduzir o uso do carro?
Uma pesquisa sobre posturas em relação à propriedade 
do carro mostra uma variedade de tipos de consumidores en-
tre os visitantes dos parques da National Trust no noroeste da 
Inglaterra (Anable, 205).
 1. Os motoristas insatisfeitos formam o maior grupo. Esses 
motoristas não estão felizes com muitos aspectos do uso 
do carro, mas acreditam que o transporte público tem 
muitas limitações para ser viável como uma alternativa 
genuína e, por isso, não mudam.
 2. Os viciados em carro complacentes (car-less cruzaders) 
aceitam que existam alternativas, mas não sentem ne-
nhum imperativo moral para mudar seu padrão de uso.
 3. Os ambientalistas aspirantes já reduziram o uso do carro, 
mas acreditam que ele tem vantagens que os forçam a 
não abrir mão dele totalmente.
 4. Os motoristas obcecados sentem que têm o direito de di-
rigir, gostam de dirigir e tendem a ter sentimentos nega-
tivos para com outros meios de transporte, como ônibus 
ou trem.
 5. Os defensores da redução no uso do carro abriram mão 
dos seus por razões ambientais e, como resultado, consi-
deram positivas as maneiras alternativas de viajar.
 6. Os passageiros relutantes usam transporte público, mas 
prefeririam usar o carro; contudo, por uma variedade de 
razões, como problemas de saúde, não podem fazê-lo, e 
pegam carona com outras pessoas.
O estudo mostra que apelos coletivos à consciência am-
biental das pessoas provavelmente fracassarão. Ao contrário, 
“a abordagem da segmentação mostra que as intervenções 
políticas devem responder às diferentes motivações e restri-
ções dos subgrupos” (Anable, 2005, p. 77).
REFLEXÃO CRÍTICA
Olhando essa tipologia dos usuários do transporte, que cate-
goria melhor descreve você? Pense em uma política pública 
ambiental apropriada para cada tipo de consumidor, que 
tenha mais chance de gerar comportamentos pró-ambientais 
nesse grupo específico. Existem políticas ambientais univer-
sais que possam ter o efeito desejado sobre todos os grupos?
Outro elemento do consumismo moderno é o aspecto 
do prazer. Mas por que ele é prazeroso? Alguns sociólogos ar-
gumentam que o prazer do consumismo não está no uso dos 
produtos, mas na antecipação da sua compra. Colin Camp-
bell (1992) argumenta que essa é a parte mais prazerosa do 
processo; o querer, o almejar, o procurar e o desejar produ-
tos, e não o seu uso. É uma “ética romântica” do consumo, 
baseada no desejo e na ânsia. A publicidade de produtos e 
serviços usa esse consumismo antecipatório de maneiras se-
dutoras para criar e intensificar o desejo das pessoas. É por 
isso que continuamos voltando em busca de mais e nunca 
estamos totalmente satisfeitos. Em uma perspectiva ambien-
tal, a “ética romântica” do consumismo é desastrosa. Cons-
Anthony Giddens146
tantemente, queremos novos produtos, e cada vez mais. Isso 
significa mais produção, de modo que o ciclo de produção 
em massa e consumo em massa continua a gerar poluição e 
consumir os recursos naturais. No lado da entrada no pro-
cesso de produção, os recursos naturais são usados em quan-
tidades enormes, e, no lado da saída no consumo, as pessoas 
jogam coisas úteis no lixo não porque não tenham utilidade, 
mas porque não estão mais na moda ou não representam 
suas aspirações de status.
A sociologia do consumo nos mostra que a combinação 
entre industrialização, capitalismo e consumismo transfor-
mou as relações entre a sociedade e o meio ambiente. Muitos 
ambientalistas e alguns cientistas sociais e naturais concluí-
ram que essa expansão contínua de economias e a promoção 
continuada do crescimento econômico não podem continuar 
indefinidamente. A poluição resultante poderia ser ecologi-
camente insignificante se fosse restringida a uma pequena 
parcela da população humana global. Porém, quando a in-
dustrialização se espalha pelo planeta, quando a maioria das 
pessoas vive em cidades imensas e quando as empresas ca-
pitalistas se tornam multinacionais e o consumismo seduz 
pessoas em todos os países, a capacidade de recuperação e 
resiliência do ambiente natural se torna gravemente enfra-
quecida.
Os ambientalistas argumentam que os atuais padrões de 
consumo não apenas são muito desiguais, como também es-
tão tendo um grave impacto no meio ambiente e, no longo 
prazo, são insustentáveis. Por exemplo, o consumo de água 
doce dobrou desde 1960; a queima de combustíveis fósseis, 
que é o principal fator que contribui para o aquecimento glo-
bal, quase quintuplicou nos últimos 50 anos e o consumo de 
madeira aumentou em 40% desde 25 anos atrás. Os estoques 
pesqueiros estão em declínio, espécies selvagens estão em ex-
tinção, os suprimentos de água estão diminuindo e as áreas 
florestadas estão minguando. Os padrões de produção e con-
sumo não apenas estão exaurindo os elementos naturais exis-
tentes, como também estão contribuindo para a sua degrada-
ção por meio de resíduos e emissões nocivas (UNDP, 1998).
Finalmente, embora os abastados sejam os principais 
consumidores do mundo, o dano ambiental causado pelo 
consumo crescente mostra seu maior impacto sobre os po-
bres. Como vimos na discussão sobre o aquecimento global, 
os ricos estão em melhor posição de desfrutar dos muitos be-
nefícios do consumo sem ter que lidar com seus efeitos nega-
tivos. No nível local, os grupos ricos geralmente têm recursos 
para mudar de áreas problemáticas, deixando que os pobres 
absorvam a maioria dos custos. As indústrias químicas, usi-
nas de energia, grandes estradas, linhas férreas e aeroportos 
geralmente estão perto de áreas de baixa renda. No nível glo-
bal, podemos ver um processo semelhante em andamento: 
a degradação do solo, o desmatamento, falta de água, emis-
sões de chumbo e poluição atmosférica estão todos concen-
trados no mundoem desenvolvimento. A pobreza também 
intensifica esses problemas ambientais. Pessoas com poucos 
recursos têm poucas opções além de maximizar os recursos 
disponíveis. Como resultado, existe uma pressão crescente 
sobre uma base de recursos cada vez menor, à medida que a 
população humana aumenta.
Limites ao crescimento e desenvolvimento 
sustentável
Uma ideia motivadora central para aqueles que fazem cam-
panhas ambientais foi a da “sustentabilidade” – garantir que 
a atividade humana não comprometa a ecologia do planeta 
Terra. Na The Ecologist, a revista ativista do Reino Unido, 
Edward Goldsmith e colaboradores começaram o ataque 
contra a expansão industrial em sua Blueprint for Survival 
(1972, p. 15): “o principal defeito do modo de vida industrial 
com o etos da expansão é que ele não é sustentável... podemos 
ter certeza... de que, mais cedo ou mais tarde, ele acabará”. 
Essas previsões trágicas eram descritas como “catastróficas” 
e se restringiam aos grupos mais radicais do movimento am-
bientalista. Todavia, a ideia agora tem um espaço mais amplo 
entre o público em geral e os legisladores, para os quais as 
previsões científicas sobre o aquecimento global são muito 
responsáveis. Qualquer um que recicle o seu plástico, papel e 
vidro, conserve água ou tente usar menos o carro, provavel-
mente, está ciente de que está tentando colocar em prática a 
noção da sustentabilidade.
Uma influência importante na ascensão dos movimentos 
ambientalistas e da preocupação pública com os problemas 
ambientais pode ser rastreada a um famoso relatório publica-
do no começo da década de 1970, que apresentou o argumen-
to de que o crescimento econômico não poderia continuar 
indefinidamente. O relatório e suas conclusões são discutidos 
no quadro “Estudos clássicos 5.1”.
Desenvolvimento sustentável
Em vez de apelar para que o desenvolvimento econômico 
seja freado, os acontecimentos mais recentes voltaram-se 
para o conceito de desenvolvimento sustentável. Esse termo 
foi introduzido em um relatório de 1987 encomendado pela 
Organização das Nações Unidas, Nosso Futuro Comum, tam-
bém conhecido como Relatório Brundtland, em referência à 
chefe do comitê organizador, Gro Harlem Brudtland, então 
primeira-ministra da Noruega. Os autores do relatório argu-
mentam que o uso dos recursos da Terra pela geração atual 
era insustentável.
No decorrer do século XX, a relação entre o mundo humano 
e o planeta que o sustenta passou por uma mudança profun-
da... mudanças importantes e involuntárias estão ocorrendo 
na atmosfera, no solo, nas águas, entre plantas e animais e 
nas relações entre todos eles.... Para manter as opções abertas 
para as gerações futuras, a geração atual deve começar agora, 
e começar nacional e internacionalmente. (Brundtland, 1987)
A Comissão Brundtland considerou o desenvolvimento 
sustentável como “o desenvolvimento que atende as necessi-
dades da geração atual, sem comprometer a capacidade das 
gerações futuras de atender as suas” (ibid.) – uma definição 
concisa, mas que traz enorme significância. O desenvolvi-
mento sustentável significa que o crescimento econômico 
deve ocorrer de maneira a reciclar os recursos físicos em vez 
de esgotá-los, e manter os níveis de poluição ao mínimo.
Depois da publicação de Nosso Futuro Comum, a expres-
são “desenvolvimento sustentável” passou a ser amplamente 
utilizada por ambientalistas e governos. Ela foi empregada 
Sociologia 147
na Cúpula da Terra no Rio de Janeiro em 1992, e posterior-
mente apareceu em outros encontros ecológicos realizados 
pela ONU, como a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimen-
to Sustentável em Joanesburgo em 2002. O desenvolvimento 
sustentável também é um dos Objetivos de Desenvolvimen-
to do Milênio (ODM), decidido em comum acordo por 191 
Estados ao redor do mundo, que visam reduzir muitas for-
mas de pobreza nas décadas futuras. Os ODM relevantes são 
a integração dos princípios do desenvolvimento sustentável 
em políticas e programas nacionais, a reversão da perda de 
recursos ambientais, a redução pela metade na proporção de 
pessoas sem acesso sustentável à água potável e alcançar uma 
melhora significativa na vida de pelo menos 100 milhões de 
moradores de favelas – tudo até 2020.
Para mais sobre os Objetivos de Desenvolvimento do 
Milênio, ver o Capítulo 13, “Desigualdade global.”»
O problema de pesquisa
A população humana global cresceu imensamente desde a in-
dustrialização, e a pressão resultante sobre o meio ambiente le-
vou à degradação do solo, desmatamento e poluição. Será que 
existem limites a esse padrão de desenvolvimento? Será que os 
estoques de alimentos conseguirão acompanhar essa demanda 
crescente, ou o mundo verá a fome em massa? Quantas pessoas 
o planeta consegue sustentar sem arruinar o meio ambiente? Es-
sas perguntas imensamente significativas foram feitas para um 
grupo global de cientistas e pensadores, o Clube de Roma, há 
quase 40 anos. O livro resultante foi publicado como Os limites do 
crescimento (Meadows et al., 1972).
A visão de Meadows e colaboradores
O estudo dos Limites usou técnicas modernas de modelagem 
computacional para fazer previsões sobre as consequências da 
continuação do crescimento econômico, crescimento populacio-
nal, poluição e a exaustão dos recursos naturais. Seu modelo de 
computador – World3 – mostrou o que aconteceria se as tendên-
cias que foram estabelecidas entre 1900 e 1970 continuassem 
até o ano 2100. Depois, as projeções foram alteradas para gerar 
uma variedade de consequências possíveis, dependendo de dife-
rentes taxas de crescimento dos fatores considerados. Os pesqui-
sadores observaram que cada vez que alteravam uma variável, 
havia uma crise ambiental no final. Se as sociedades do mundo 
não mudassem, o crescimento acabaria de qualquer maneira, 
pelo esgotamento dos recursos, escassez de alimento ou colapso 
industrial em algum momento antes de 2100.
A equipe de pesquisa usou modelagem computacional para 
explorar cinco tendências globais (Meadows et al., 1974, p. 21):
 • Industrialização acelerada em todo o mundo
 • Rápido crescimento populacional
 • Desnutrição disseminada em certas regiões
 • Exaustão de recursos não renováveis
 • Deterioração do ambiente natural
O programa foi rodado para testar 12 cenários alternativos, 
cada um manipulado para resolver alguns dos problemas identi-
ficados. Isso permitiu que os pesquisadores fizessem perguntas 
sobre quais combinações de níveis populacionais, produção in-
dustrial e recursos naturais seriam sustentáveis. A conclusão a 
que chegaram, em 1972, foi que ainda havia tempo para impedir 
a crise ambiental emergente. Porém, se nada fosse feito, e mes-
mo se a quantidade de recursos disponíveis no modelo dobrasse, 
a poluição fosse reduzida a níveis de antes de 1970 e fossem 
introduzidas novas tecnologias, o crescimento econômico entra-
ria em colapso antes de 2100. Alguns ativistas consideraram que 
isso justificava o argumento ambientalista radical de que as so-
ciedades industriais não eram sustentáveis no longo prazo.
Pontos de crítica
Muitos economistas, políticos e industrialistas condenaram o 
relatório de forma veemente, argumentando que ele era dese-
quilibrado, irresponsável e, quando suas previsões não se ma-
terializaram, simplesmente errado. A modelagem não continha 
variáveis políticas e sociais e, portanto, era uma representação 
parcial da realidade. Os pesquisadores posteriormente aceitaram 
que algumas críticas eram justificadas. O método usado basea-
va-se nos limites físicos e pressupunha as taxas existentes de 
crescimento econômico e inovação tecnológica, mas não levava 
em conta a capacidade dos seres humanos de responder aos de-
safios ambientais. Por exemplo, as forças do mercado poderiam 
ser mobilizadas para limitar a sobre-exploração de recursos. Se 
um mineral como o magnésio começa a se tornar escasso, seu 
preço aumenta. À medida que o preço aumenta, ele será menos 
usado, e os produtores podem encontrar alternativas se o cus-
to subir demais. Muitospassaram a ver os Limites como mais 
um tratado catastrófico e excessivamente pessimista, que fazia 
“futurologia” questionável – prevendo o futuro a partir das ten-
dências atuais.
Relevância contemporânea
Independentemente de suas limitações, o relatório original teve 
um impacto significativo no debate público e no ativismo am-
biental. Ele conscientizou muitas pessoas sobre as consequên-
cias prejudiciais do desenvolvimento industrial e da tecnologia, 
além de advertir sobre os perigos de permitir que a poluição au-
mente. O relatório foi um importante catalisador para o movimen-
to ambientalista moderno (para uma discussão mais ampla, ver o 
Capítulo 22, “Política, governo e movimentos sociais”). Vinte anos 
depois, a equipe publicou Além dos limites (1992), um relatório 
ainda mais pessimista, que criticava os políticos do mundo por 
desperdiçarem o tempo, identificado como crucial no primeiro 
relatório, argumentando que a “saturação” ecológica já estava 
ocorrendo. Então, em 2003, o 30 Year Update foi publicado, ar-
gumentando que, embora tenha havido progresso na consciência 
ambiental e no desenvolvimento tecnológico, as evidências do 
aquecimento global, declínio nos estoques pesqueiros e muitos 
outros fatores mostravam um mundo “excedendo” seus limites 
naturais. Essa conclusão também foi a da Avaliação Ecossistêmi-
ca do Milênio, publicada pela ONU em 2005, que tem um título 
franco, Vivendo além dos nossos meios. A conclusão básica do 
relatório original dos Limites e de suas atualizações continua a 
repercutir em nosso mundo globalizado.
Estudos clássicos 5.1 Modelando os limites do crescimento econômico
Anthony Giddens148
O Relatório Brundtland atraiu muitas críticas, assim 
como o relatório do Clube de Roma havia feito quase um 
quarto de século antes. Os críticos consideram que a noção 
de desenvolvimento sustentável é vaga demais e negligencia 
as necessidades específicas dos países mais pobres. Segundo 
os críticos, a ideia de desenvolvimento sustentável tende a se 
concentrar apenas nas necessidades dos países ricos, e não 
considera as maneiras em que os níveis elevados de consumo 
nos países mais ricos são satisfeitos à custa de outras pessoas. 
Por exemplo, as demandas para que a Indonésia conserve 
suas florestas tropicais podem ser injustas, pois a Indonésia 
tem uma necessidade maior do que os países industrializados 
da renda que deverá ceder se abraçar a conservação.
Também se pode argumentar que relacionar o conceito de 
sustentabilidade ecológica ao de desenvolvimento econômico 
é contraditório. Esse é um ponto particularmente pertinente, 
onde a sustentabilidade e o desenvolvimento entram em con-
flito. Por exemplo, ao se considerar a construção de novas es-
tradas ou locais de comércio, é comum que a perspectiva de 
muitos novos empregos e prosperidade econômica signifique 
que a sustentabilidade fique em segundo plano. Isso é ainda 
mais acentuado para os governos de países em desenvolvimen-
to, que têm grande necessidade de atividade econômica. Nos 
últimos anos, as ideias de justiça econômica e cidadania eco-
lógica assumiram preponderância (como veremos a seguir), 
em parte como resultado dos graves problemas associados ao 
conceito e à prática do desenvolvimento sustentável.
É fácil ser cético quanto às perspectivas futuras do desen-
volvimento sustentável. Seu objetivo de encontrar maneiras 
de equilibrar a atividade humana com ecossistemas naturais 
sustentáveis pode parecer impossível. Todavia, o desenvol-
vimento sustentável busca criar uma base comum entre os 
Estados-Nações e conecta o movimento pelo desenvolvimen-
to mundial com o movimento ambientalista de um modo 
que nenhum outro projeto havia conseguido antes. Ele dá aos 
ambientalistas radicais a oportunidade de buscar a imple-
mentação plena de seus objetivos mais amplos, mas, ao mes-
mo tempo, os moderados podem se envolver no nível local e 
exercer um impacto. Essa inclusão pode ser considerada uma 
fraqueza, mas também uma vantagem potencial do projeto 
de desenvolvimento sustentável.
Vivendo na “sociedade de risco” global
Os seres humanos sempre tiveram que enfrentar riscos de um 
ou outro tipo, mas, hoje em dia, os riscos são qualitativamen-
te diferentes dos que ocorriam em épocas passadas. Há até 
pouco tempo, as sociedades humanas eram ameaçadas por 
riscos externos – perigos como secas, escassez de alimentos, 
terremotos e tempestades que surgiam do mundo natural e 
não tinham relação com as ações dos humanos. Atualmente, 
porém, cada vez mais temos que enfrentar tipos variados de 
riscos fabricados – riscos que são criados pelo impacto do 
nosso próprio conhecimento e tecnologia sobre o mundo 
natural. Como veremos a seguir, muitos riscos ambientais 
e à saúde que as sociedades contemporâneas enfrentam são 
exemplos de riscos fabricados: são consequências de nossas 
intervenções na natureza.
Os debates sobre alimentos geneticamente modificados, 
aquecimento global e outros riscos fabricados apresentam 
novas opções e desafios aos indivíduos em suas vidas cotidia-
nas. Como não existe mapa para esses novos perigos, os indi-
víduos, países e organizações transnacionais devem negociar 
os riscos na medida em que fazem escolhas sobre como deve-
mos viver nossas vidas. E como não existem respostas defini-
tivas em relação aos resultados desses riscos, cada indivíduo 
se vê forçado a tomar decisões sobre quais riscos está prepa-
rado para enfrentar. Isso pode ser desconcertante, devemos 
usar alimentos e matérias-primas se a sua produção ou con-
REFLEXÃO CRÍTICA
O desenvolvimento sustentável é o “desenvolvimento que 
atende as necessidades da geração atual, sem comprometer 
a capacidade das gerações futuras de atender as suas pró-
prias necessidades”. Quais são as necessidades da geração 
atual? Como podemos descobrir quais serão as necessidades 
das gerações futuras? É possível criar políticas públicas de 
desenvolvimento sustentável a partir dessa definição?
Em 2003, Martin Rees, o Astrônomo Real Britânico, publicou um 
livro com um título provocante, Nosso século final, e uma pergun-
ta como subtítulo: “será que a raça humana sobreviverá ao século 
XXI?”. Rees argumenta que os avanços explosivos em ciência e 
tecnologia, vistos, por exemplo, na bio ciber e na nanotecnologia 
e na exploração do espaço, não apenas trazem perspectivas ani-
madoras para o futuro, mas também contêm o que ele chama de 
um lado obscuro.
O avanço científico pode ter consequências involuntárias, 
como já vimos, e o livro de Rees analisa a probabilidade de cená-
rios catastróficos, onde a civilização humana perece. Ele descre-
ve alguns riscos apocalípticos que poderiam ocorrer com a nova 
ciência do século XXI, incluindo um holocausto nuclear, causado 
por terroristas ou nações e o uso terrorista de armas biológicas ou 
erros de laboratório que criem novas doenças.
As conclusões de Rees são assustadoras. Ele separa o longo 
do curto prazo. No curto prazo, que define como os próximos 20 
anos, ele está preparado para apostar em uma grande catástrofe 
que matará mais de um milhão de pessoas (embora espere vee-
mentemente estar errado nessa avaliação). Voltando ao subtítulo 
do livro, Rees argumenta que, nos próximos 100 anos – que cha-
ma de longo prazo – ele dá à humanidade uma chance de 50% 
de sobreviver ao século XXI.
O prognóstico pode parecer desesperadamente pessimista, 
mas Rees argumenta que espera que seu livro estimule a discus-
são sobre como podemos nos proteger o máximo possível contra 
os piores riscos, enquanto empregamos o novo conhecimento de 
maneira ideal para gerar benefício humano.
Sociedade global 5.4 Riscos fabricados e a sobrevivência da humanidade
esaito
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Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta 
Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, 
você encontra a obra na íntegra.
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