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Cópia de SILVEIRA Jr. (ORG.). SERVIÇO SOCIAL EM PERNAMBUCO - primeiras decadas - 2020

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Este livro é resultado dos estudos e debates realizados pelo projeto de 
extensão História e Memória do Serviço Social em Pernambuco entre as 
décadas de 1940 e 1970 (MEHSSPE). Vinculado ao Departamento de 
Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco, o projeto envolve
ações em três planos: organização e socialização do acervo histórico e de 
documentos do Serviço Social no estado; incentivo a estudos sobre as 
dimensões e tendências da profissão; e divulgação de conhecimentos sobre 
essa história e memória. Em 2019, o MEHSSPE engajou parte de sua equipe 
na realização de estudos exploratórios sobre as particularidades do Serviço 
Social em Pernambuco, considerando as características de seu desenvolvi-
mento entre as décadas de 1930 e 1960. Neste livro, seguem os artigos 
produzidos nos estudos, abordando determinações da formação profissio-
nal, dos espaços sócio-ocupacionais e das respostas do Serviço Social no 
curso das referidas décadas. Esta publicação pretende fortalecer o trabalho 
– já desenvolvido pelo MEHSSPE – de ampliação do acesso público à 
produção científica, à memória e aos documentos da história do Serviço 
Social e das políticas sociais em Pernambuco.
Adilson Aquino Silveira Júnior
Professor Adjunto do Depar- 
tamento de Serviço Social da 
Universidade Federal de 
Pernambuco. Doutor e Mestre 
em Serviço Social da Univer- 
sidade Federal de Pernam- 
buco. Coordena o projeto de 
extensão História e Memória 
do Serviço Social em Pernam- 
buco entre as décadas de 1940 
e 1970 (MEHSSPE). Realiza 
pesquisas e publicações com 
os temas Teoria Social, Política 
Social, Fundamentos Teórico- 
Metodológicos e Históricos do 
Serviço Social.
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O livro SERVIÇO SOCIAL EM 
PERNAMBUCO: primeiras déca-
das da formação e atuação 
profissional é produto de um 
trabalho coletivo viabilizado pelo 
projeto de extensão História e 
Memória do Serviço Social em 
Pernambuco entre as décadas 
de 1940 e 1970 (MEHSSPE). 
Seus artigos nasceram dos 
debates e dos estudos explora-
tórios em torno das particulari-
dades do Serviço Social em 
Pernambuco. As elaborações 
privilegiam as determinações da 
formação profissional, dos espa-
ços sócio-ocupacionais e das 
respostas do Serviço Social no 
estado entre as décadas de 
1930 e 1960.
SERVIÇO SOCIAL
EM PERNAMBUCO
primeiras décadas da formação
e atuação profissional
ADILSON AQUINO SILVEIRA JÚNIOR
Organizador
SERVIÇO SOCIAL
EM PERNAMBUCO
primeiras décadas da formação
e atuação profissional
9 786586 087079
ISBN 978-65-86087-07-9
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Editora CRV
Curitiba – Brasil
2020
Adilson Aquino Silveira Júnior 
(Organizador)
SERVIÇO SOCIAL EM PERNAMBUCO: 
primeiras décadas da formação 
e atuação profissional
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Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Diagramadores e Designers CRV
Revisão: Analista de Línguas CRV
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
CATALOGAÇÃO NA FONTE
Bibliotecária responsável: Luzenira Alves dos Santos CRB9/1506
2020
Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14/12/2004
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV
Todos os direitos desta edição reservados pela: Editora CRV
Tel.: (41) 3039-6418 – E-mail: sac@editoracrv.com.br
Conheça os nossos lançamentos: www.editoracrv.com.br
ESTA OBRA TAMBÉM ENCONTRA-SE DISPONÍVEL 
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Se481
Serviço social em Pernambuco: primeiras décadas da formação e atuação profi ssional / 
Adilson Aquino Silveira Júnior (organizador) – Curitiba : CRV, 2020.
206 p. 
Bibliografi a
ISBN Digital 978-65-86087-19-2
ISBN Físico 978-65-86087-07-9
DOI 10.24824/978658608707.9
1. Serviço social 2. Serviço social – história e memória 3. Política social 4. Serviço social
– Pernambuco I. Silveira Júnior, Adilson Aquino. org. II. Título III. Série.
CDU 364 CDD 361.0023
Índice para catálogo sistemático
1. Serviço social 361.0023
Este livro foi avaliado e aprovado por pareceristas ad hoc.
Comitê Científico:
Alexsandro Eleotério Pereira de Souza (UEL)
Luciene Alcinda de Medeiros (PUC-RJ)
Maria Regina de Avila Moreira (UFRN)
Patrícia Krieger Grossi (PUC-RS)
Regina Sueli de Sousa (UFG)
Solange Conceição Albuquerque 
de Cristo (UNIFESSPA)
Thaísa Teixeira Closs (PUC-RS)
Vinícius Ferreira Baptista (UFRRJ)
Conselho Editorial:
Aldira Guimarães Duarte Domínguez (UNB)
Andréia da Silva Quintanilha Sousa (UNIR/UFRN)
Anselmo Alencar Colares (UFOPA)
Antônio Pereira Gaio Júnior (UFRRJ)
Carlos Alberto Vilar Estêvão (UMINHO – PT)
Carlos Federico Dominguez Avila (Unieuro)
Carmen Tereza Velanga (UNIR)
Celso Conti (UFSCar)
Cesar Gerónimo Tello (Univer. Nacional 
Três de Febrero – Argentina)
Eduardo Fernandes Barbosa (UFMG)
Elione Maria Nogueira Diogenes (UFAL)
Elizeu Clementino de Souza (UNEB)
Élsio José Corá (UFFS)
Fernando Antônio Gonçalves Alcoforado (IPB)
Francisco Carlos Duarte (PUC-PR)
Gloria Fariñas León (Universidade 
de La Havana – Cuba)
Guillermo Arias Beatón (Universidade 
de La Havana – Cuba)
Helmuth Krüger (UCP)
Jailson Alves dos Santos (UFRJ)
João Adalberto Campato Junior (UNESP)
Josania Portela (UFPI)
Leonel Severo Rocha (UNISINOS)
Lídia de Oliveira Xavier (UNIEURO)
Lourdes Helena da Silva (UFV)
Marcelo Paixão (UFRJ e UTexas – US)
Maria Cristina dos Santos Bezerra (UFSCar)
Maria de Lourdes Pinto de Almeida (UNOESC)
Maria Lília Imbiriba Sousa Colares (UFOPA)
Paulo Romualdo Hernandes (UNIFAL-MG)
Renato Francisco dos Santos Paula (UFG)
Rodrigo Pratte-Santos (UFES)
Sérgio Nunes de Jesus (IFRO)
Simone Rodrigues Pinto (UNB)
Solange Helena Ximenes-Rocha (UFOPA)
Sydione Santos (UEPG)
Tadeu Oliver Gonçalves (UFPA)
Tania Suely Azevedo Brasileiro (UFOPA)
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ............................................................................................ 9
Adilson Aquino Silveira Júnior
CAPÍTULO 1 
“EXISTIRMOS – A QUE SERÁ QUE SE DESTINA?”: 
a questão regional e o Nordeste na formação social brasileira ..................... 15
Evelyne Medeiros Pereira
CAPÍTULO 2
A PARTICULARIDADE DE PERNAMBUCO NO ESTADO NOVO: 
transformações econômicas, questão social e lutas de classes .................... 33
Zélia de Oliveira Gominho
CAPÍTULO 3
CAPITALISMO, ESTADO E POLÍTICA SOCIAL NO 
BRASIL DOS ANOS 1950 .............................................................................. 51
Adilson Aquino Silveira Júnior
CAPÍTULO 4
A EMERGÊNCIA DO SERVIÇO SOCIAL EM PERNAMBUCO 
NOS ANOS 1940 ............................................................................................ 65
Adilson Aquino Silveira Júnior
CAPÍTULO 5 
SERVIÇO SOCIAL EM PERNAMBUCO NOS 
ANOS 1950: racionalização do ensino e 
diversificação técnico-profissional .................................................................. 93
Adilson Aquino Silveira Júnior
Lenita Maria Maciel de Almeida
Mariana Macena da Silva
CAPÍTULO 6 
BASES DA RENOVAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL EM 
PERNAMBUCO: afirmação da “abordagem comunitária” 
entre 1940 e 1960 ........................................................................................ 121
Adilson Aquino Silveira Júnior
Lenita Maria Maciel de Almeida
CAPÍTULO 7
A POLÍTICA “CONTRA O MOCAMBO” E A EMERGÊNCIA DO 
SERVIÇOSOCIAL EM PERNAMBUCO ...................................................... 147
Bruna Soares Farias
Camila Sobral Leite Lyra Montalvão 
CAPÍTULO 8
O SERVIÇO SOCIAL E A “QUESTÃO DO
MENOR” EM PERNAMBUCO (1940-1950):
história, memória e perspectivas .................................................................. 167
Andresa Maria da Silva 
Fernanda Helen de Paula Lira
Thalia de Oliveira Barbosa
CAPÍTULO 9 
AS PRIMEIRAS ASSISTENTES SOCIAIS DE PERNAMBUCO E 
O INÍCIO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL 
NO ESTADO (1940-1950) ............................................................................ 185
Maria Angélica Pedrosa de Lima Silva
Laura Sophie de Andrade Freire
Rennan Araújo de Lima
SOBRE OS AUTORES ................................................................................ 203
APRESENTAÇÃO 
Este livro reúne os textos resultantes, em sua maioria, de estudos desen-
volvidos em 2019 através do projeto de extensão História e Memória do Ser-
viço Social em Pernambuco entre as décadas de 1940 e 1970 (MEHSSPE). 
Vinculado ao Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de 
Pernambuco, o projeto propõe ações em três planos: organização e socializa-
ção do acervo histórico e de documentos do Serviço Social no estado; incen-
tivo a estudos sobre as dimensões e tendências da profissão; e divulgação de 
conhecimentos sobre essa história e memória. Mais amplamente, a pretensão 
é contribuir com o acesso público à produção científica e a documentos vin-
culados à história do Serviço Social e das políticas sociais em Pernambuco, 
articulando, ainda, pesquisa e ensino à extensão universitária.
Na sua interface com a dimensão da pesquisa, o MEHSSPE engajou parte 
de sua equipe, composta de estudantes e docentes do Curso de Serviço Social, 
na realização de estudos exploratórios sobre as particularidades do Serviço 
Social em Pernambuco, considerando as características de seu desenvolvi-
mento, principalmente, entre as décadas de 1930 e 1960. As determinações 
enfocadas, considerando sua historicidade e condicionantes sociais, ainda que 
de modo abrangente e aproximativo, corresponderam às esferas da formação 
profissional, dos espaços sócio-ocupacionais e das respostas (teórico-metodo-
lógicas, político-ideológicas e técnico-operativas) do Serviço Social no curso 
das referidas décadas. Tratou-se de uma iniciativa cuja pretensão primeira 
consistia, tão somente, em incentivar estudos exploratórios, cujos resultados 
se materializariam na construção de hipóteses para pesquisas mais consisten-
tes e profundas. Em geral, as sistematizações alcançadas nos surpreenderam 
pela sua capacidade de (além de propor hipóteses de pesquisa) fornecer um 
contributo para a reconstrução histórica do Serviço Social em Pernambuco, 
através do levantamento e análise de fontes até então inexploradas do acervo 
da profissão nessa realidade. 
No início de 2019, uma parte da equipe do MEHSSPE se dividiu em torno 
de alguns eixos temáticos para o encaminhamento desses estudos, guiados 
por súmulas que registravam as estratégias metodológicas e fontes de dados a 
serem assumidas em cada caso. Foram projetados cinco eixos: 1) As transfor-
mações do Serviço Social em Pernambuco nos anos 1950, 2) Serviço Social e 
Política Habitacional nos anos 1940 – a “questão dos mocambos”; 3) Atuação 
do Serviço Social nos anos 1940 e 1950 em torno da “questão do menor” 
em Pernambuco; 4) As demandas para o Serviço Social em Pernambuco nos 
anos 1940-1950, 5) As pioneiras do Serviço Social de Pernambuco e a marca 
10
do gênero na profissão. Ao propor tais estudos, o projeto de extensão previa 
suscitar, ainda, o protagonismo dos(as) estudantes envolvidos(as) na equipe 
de execução, incorporando-os(as) em atividades de análise e sistematização 
da realidade, despertando-os(as) para o desenvolvimento de uma interpretação
própria da história, bem como da elaboração e divulgação do conhecimento
adquirido com o acervo documental digitalizado e catalogado. Ao findar o
ano, o amadurecimento obtido, em termos de apropriação da fundamentação
teórica e histórica, e da análise das evidências documentais, foram registrados 
nos artigos deste livro. 
Além das sistematizações provenientes dos estudos exploratórios,
incluem-se aqui textos de duas docentes-pesquisadoras que generosamente
colaboraram com as atividades do MEHSSPE. O artigo de Evelyne Medei-
ros Pereira – “Existirmos – a que será que se destina?”: a questão regional
e o Nordeste na formação social brasileira– oferece uma síntese das suas 
investigações sobre a dialética do desenvolvimento desigual e combinado
do capitalismo no Brasil; base que preside a coexistência e persistência do 
“arcaico” e do “moderno” na exploração e acumulação da riqueza entre nós; 
solo histórico das contradições do Nordeste do país, sua aridez social, suas 
formas agrestes de dominação política, a crueza da rebeldia que sempre brota
em suas paragens. Evelyne também cooperou em algumas orientações dos
estudos exploratórios, além de participar de debates promovidos nas ativi-
dades de formação do MEHSSPE, em especial no curso Serviço Social em
Pernambuco entre 1940-1970. Já a participação de Zélia de Oliveira Gominho
neste livro – através do texto A particularidade de Pernambuco no Estado 
Novo: transformações econômicas, questão social e lutas de classes – foi 
provocada após sua intervenção no mesmo curso de extensão, no encontro 
dedicado à reflexão sobre o Estado Novo em Pernambuco. Desde o início da 
execução do projeto, eram referências os trabalhos acadêmicos dessa histo-
riadora – maturados desde os anos 1990 – sobre a realidade de Pernambuco
na primeira metade do século XX, em especial sua premiada dissertação 
de 1997, Veneza Americana X Mucambópolis: o Estado Novo na cidade do 
Recife (Décadas de 30 e 40).
Os demais textos condensam os esforços de sistematização dos estudos
exploratórios pela equipe do projeto de extensão. Alguns deles tiveram suas 
versões preliminares aproveitadas em encontros do curso, e muitos conteúdos
foram divulgados em eventos acadêmicos regionais, nacionais e internacio-
nais durante 2019. No seu conjunto, dividem-se em duas abordagens sobre 
a realidade do Serviço Social no estado, considerando o intervalo histórico 
entre finais dos anos 1930 e início de 1970: uma parte coloca-se sob um 
ângulo mais panorâmico e inclusivo do processo de afirmação da profissão, 
ou de seus condicionantes históricos macroscópicos; outra parte envereda em 
SERVIÇO SOCIAL EM PERNAMBUCO: 
primeiras décadas da formação e atuação profissional 11
determinados complexos que se mostraram decisivos para conformar algumas 
particularidades da emergência do Serviço Social no estado. No primeiro 
grupo, incluem-se os seguintes artigos: Capitalismo, Estado e política social 
no Brasil dos anos 1950 e A emergência do Serviço Social em Pernambuco 
nos anos 1940, ambos de Adilson Aquino Silveira Júnior; Serviço Social em 
Pernambuco nos anos 1950: racionalização do ensino e diversificação téc-
nico-profissional, de Adilson Aquino Silveira Júnior, Lenita Maria Maciel de 
Almeida e Mariana Macena da Silva; Bases da renovação do Serviço Social 
em Pernambuco: afirmação da “abordagem comunitária” entre 1940 e 1960, 
de Adilson Aquino Silveira Júnior e Lenita Maria Maciel de Almeida. No 
segundo grupo de artigos estão: A política “contra o mocambo” e a emer-
gência do Serviço Social em Pernambuco, de Bruna Soares Farias e Camila 
Sobral Leite Lyra Montalvão; O Serviço Social e a “questão do menor” 
em Pernambuco (1940-1950): história, memória e perspectivas, de Andresa 
Maria da Silva, Fernanda Helen de Paula Lira e Thalia de Oliveira Barbosa; 
As primeiras assistentes sociais de Pernambuco e a introdução da formação 
profissional no estado (1940-1950), de Maria Angélica Pedrosa de Lima Silva, 
Laura Sophie de Andrade Freire e Rennan Araújo de Lima. 
Este livro completa o trabalho a que o projeto de extensão se propôs ao 
arrolar a documentação catalogada, digitalizada e analisada, através da publi-cação Memória do Serviço Social em Pernambuco: inventário do acervo.1 
O inventário tratou de apresentar a base de documentos, até então acumula-
dos, direta ou indiretamente relacionados à trajetória do Serviço Social no 
estado entre as décadas de 1940 e 1970. As suas três seções principais foram 
dedicadas a relacionar os seguintes conjuntos documentais: os Trabalhos de 
Conclusão de Curso das alunas e alunos da antiga Escola de Serviço Social 
de Pernambuco (ESSPE) – instituição existente entre 1940 e 1971, depois 
agregada à UFPE; os documentos da ESSPE, os quais constituem evidências 
dos processos de funcionamento da instituição; e matérias do Jornal Folha de 
Manhã – com suas respectivas transcrições – nas quais se encontram notícias e 
artigos, majoritariamente assinados pelo interventor do Estado Novo em Per-
nambuco, Agamenon Magalhães, explicitando as ideologias que informavam 
a atuação governamental em torno das refrações da “questão social” entre os 
anos de 1938 e 1944. Agora, os artigos divulgados com este novo livro, ao 
esboçarem sua contribuição para a sistematização histórica da particularidade 
da profissão no estado, acabam por proporcionar também uma demonstração 
de como aquele acervo documental pode ser aproveitado nas pesquisas do 
Serviço Social. Ao projetarem algumas hipóteses de trabalho sobre esse objeto, 
se tornam um estímulo para que outros(as) pesquisadores(as) avancem no des-
bravamento das fontes empíricas colocadas à disposição através do inventário. 
1 Essa publicação pode ser acessada através do site do MEHSSPE: mehsspe.wixsite.com/projeto
12
Ao lançarmos o inventário do acervo, já havíamos atentado para o 
fato de que, no âmbito da pesquisa e sistematização teórica sobre as dimen-
sões e tendências da história do Serviço Social em Pernambuco, depara-
mo-nos com um quadro ainda carente de desenvolvimentos. As iniciativas 
mais substanciais limitavam-se, até pouquíssimo tempo, às investigações de 
Gomes (1987), Vieira (1992) e Padilha (2008), além das algumas coletâneas 
(UFPE, 1990, 1985). Malgrado a qualidade e profundidade desses estudos, 
eles acabaram por privilegiar as dimensões da formação profissional e das suas 
determinações político-ideológicas, permanecendo à margem reflexões que 
transladassem para os espaços e demandas ocupacionais, processos de trabalho 
e respostas interventivas, encarados de modo abrangente e numa perspectiva 
totalizadora dos ritmos e estágios de desenvolvimento da profissão. Ademais 
de indicarem que estávamos há mais de uma década sem novos empreendi-
mentos de pesquisa em torno da história do Serviço Social no estado. Nosso 
livro pretende colaborar para a reversão desse quadro, coadunando com tra-
balhos recentes como o de Mota (2019) e Silva (2019a, 2019b). 
Com este livro, o MEHSSPE, concomitantemente, brinda os 40 anos 
da Pós-Graduação em Serviço Social da UFPE, comemorados em 2019, e 
pretende nutrir as celebrações dos 80 anos do Serviço Social em Pernambuco, 
realizadas em 2020. Através dessa contribuição, nosso projeto de extensão 
quer se somar às iniciativas de entidades e órgãos corporativos da profissão, de 
docentes e pesquisadores(as), que têm se engajado no fortalecimento e aper-
feiçoamento da memória e história do Serviço Social no país como mediação 
para alicerçar um projeto profissional vinculado aos movimentos e lutas das 
classes exploradas e oprimidas. 
Adilson Aquino Silveira Júnior
Coordenador do MEHSSPE
Recife, fevereiro de 2020
SERVIÇO SOCIAL EM PERNAMBUCO: 
primeiras décadas da formação e atuação profissional 13
REFERÊNCIAS
GOMES, Vilma Dourado de Matos Maia. A Escola de Serviço Social de 
Pernambuco – 1940/1945 Políticas de ação e ações políticas. Recife, 1987. 
114 f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Universidade Federal de 
Pernambuco, Recife, 1987. 
MOTA, Ana Elizabete Mota. De histórias e da memória: José Paulo Netto e a 
renovação do Serviço Social. In: RODRIGUES, Mavi; SOUSA, Adrianyce A. 
Silva de. O marxismo impenitente de José Paulo Netto. São Paulo: Outras 
Expressões, 2019. p. 185-209. 
PADILHA, Helena Maria Barros. História da Escola de Serviço Social 
de Pernambuco: uma análise do projeto ideopolítico em articulação com a 
realidade pernambucana e brasileira dos anos 30 a 70 do século XX. 2008. 
430 f. Tese (Doutorado em Serviço Social) – Universidade Federal de Per-
nambuco, Recife, 2008. 
SILVA, Maria Angélica Pedrosa de Lima. A centralidade da família na for-
mação em Serviço Social na década de 1940 em Pernambuco. 2019a, 168 
f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Universidade Federal de Per-
nambuco, Recife, 2019a. 
SILVA, Maria Angélica Pedrosa de Lima. As pioneiras do Serviço Social 
de Pernambuco e a marca do gênero na formação profissional (1940 – 
1946). 2019b, 54 f. Monografia (Graduação em Serviço Social) – Universidade 
Federal de Pernambuco, Recife, 2019b. 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO. A trajetória do ensino 
em Serviço Social em Pernambuco – em comemoração aos 50 nos de ensino 
de Serviço Social. Dissertação (Mestrado em Serviço Social), 1990.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO. Cadernos de Serviço 
Social. Dissertação (Mestrado em Serviço Social), n. 3, 1985.
VIEIRA, Ana Cristina de Souza. Ensino do Serviço Social no Nordeste: 
entre a Igreja e o Estado. 1992. 249 f. Tese (Doutorado em Serviço Social) – 
Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 1992.
CAPÍTULO 1 
“EXISTIRMOS – A QUE SERÁ QUE 
SE DESTINA?”2: a questão regional e o 
Nordeste na formação social brasileira
Evelyne Medeiros Pereira
1. Introdução
Em certa ocasião, um artista popular brasileiro, jovem que desce do Norte pra 
cidade grande3, ao ser questionado sobre a qualidade de seu trabalho que, naquela 
altura, já não trazia mais tanta “marca de nordestinidade”, elegantemente responde:
O que acontece é que o Sul do país [...] tem uma expectativa muito carac-
terizada a respeito do nordestino [e do Nordeste]. [...] Eu sempre pretendi 
revelar um outro Nordeste no meu trabalho. Claro que você pretender revelar 
um outro Nordeste quando a expectativa é dar continuidade a tudo aquilo 
que tem sido feito nesse sentido, causa um choque enorme que pode muito 
bem ser identificado com outra qualidade. Ou seja, com uma qualidade 
menor [...]. Em nenhum momento eu acho que a música dos nordestinos 
tenha perdido a sua qualidade [...]. Adquiriu uma outra qualidade que eu 
jugo infinitamente melhor, maior do que aquela do começo. Os nordestinos 
hoje conhecem muito bem os recursos técnicos da feitura do seu trabalho, 
perderam completamente qualquer sentimento de atenção a expectativa 
folclorizante a respeito deles. E pessoalmente eu quero dizer, a respeito do 
meu trabalho, que eu não tenho sequer vontade artística de dar continuidade 
aquilo que no Sul se chama “a cultura do Nordeste”, porque eu acho um 
imenso passivo morto [...]. O meu trabalho pretende descobrir qual é a nova 
cultura do Nordeste, como é que essa cultura nova pode, sinceramente, par-
ticipar do novo mundo, com um sentido de descoberta, de ação nova, mas 
infinitamente superior ao que estava pensado no começo [...].4
2 Trecho retirado da música Cajuína do compositor e cantor baiano Caetano Veloso, do álbum Cinema Trans-
cendental, gravado e lançado em 1979 pela gravadora Verve. 
3 Trecho retirado da música Fotografia 3x4 do compositor e cantor cearense Belchior, do álbum Alucinação, 
gravado e lançado em 1976 pela gravadora PolyGram. 
4 Entrevista do cantor Belchior concedida ao Programa Vox Populi, TV Cultura, em 1983. Disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=TO9bMJP8-rw. Acesso em: 28 jan. 2020.
16
A verdade é que as mistificações em torno da imagem do nordeste brasi-
leiro, que são alvo da resposta do cantador, há muito já fazem parte da nossa 
formação social e, especialmente nos momentos de maior acirramento das 
contradições, vez ou outra, esse tema chega à porta daqueles que sentem a 
necessidade de entender o Brasil para transformá-lo, sinalizando que essa 
regiãocumpriu (e continua cumprindo) um importante papel na constituição 
da questão regional no país. 
Qualquer pessoa desavisada olharia a capa dos livros antigos de Francisco 
de Oliveira, Celso Furtado e Tânia Bacelar; assistiria aos filmes com a inter-
pretação dos lendários personagens de José Dumont e Marcélia Cartaxo; leria 
os romances de Guimarães Rosa, Raquel de Queiroz e Graciliano Ramos, tudo 
isso, como simples artigos de um passado morto e enterrado. Ledo engano! 
Primeiro, porque, apesar dos cenários de inspiração regionalista, tal como a 
questão regional é também nacional e mundial, os enredos tratam de temas 
universais da existência humana, não se limitando aos locais inóspitos de 
criaturas, ao mundo fabuloso dos “rudes homens do cangaço”, “sertanejos 
castigados” das “terras tostadas de sol e tintas de sangue”, parafraseando José 
Lins do Rego. Segundo, porque, ao contrário do que pode se pensar e propa-
gandear, a questão regional continua viva e pulsante em nossos dias. Basta 
observar o papel que o Nordeste e as desigualdades regionais têm cumprido 
no contexto político, cultural e econômico do último período histórico.
Consideramos oportuno lembrar, desde aqui, da iniciativa de um con-
junto de estudiosos do antigo Programa Integrado de Mestrado em Economia 
e Sociologia (PIMES) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em 
Recife. Referimo-nos a realização do Seminário Nordeste: Estrutura Econô-
mica e Social, Desenvolvimento e Processos Políticos, em março de 1982, que 
deu origem ao livro A Questão Nordeste: estudos sobre formação histórica, 
desenvolvimento e processos políticos e ideológicos, publicado em 1984. 
Naquele momento, o organizador, Silvio Maranhão (1984, p. 8-9), nos cha-
mava atenção para o seguinte:
O Nordeste que se vê nesses textos não é um Nordeste harmonioso, comu-
nitário, quase idílico, mistificado e “folclórico”. O Nordeste aqui discutido 
é um Nordeste fortemente diferenciado, parte integrante e integradora da 
formação social brasileira, onde as associações e dissociações, alianças e 
conflitos de classes e grupos sociais marcam, por assim dizer, o ritmo e o 
compasso dos processos históricos que tem lugar na região.
O fato é que a perspectiva priorizada no presente trabalho sobre a questão 
regional e o Nordeste na formação social brasileira parte do pressuposto de que 
a realidade que a nós nos parece local “[...] está sempre governada, altamente 
SERVIÇO SOCIAL EM PERNAMBUCO: 
primeiras décadas da formação e atuação profissional 17
determinada, pela dinâmica da produção predominante na sociedade, no conjunto 
do subsistema econômico brasileiro” (IANNI, 1981, p. 127-128). Assim, a garantia 
de hegemonia capitalista por aqui implica em fazer com que o Nordeste continue 
sendo visto pelo prisma de uma caricatura temperada de exotismo, ressaltando as 
belezas nativas que se tornam cenário dos cartões postais pra turista ver, conco-
mitante ao reforço da ideia do lugar dos esquecidos e dos condenados pela seca, 
pobreza e pelo “subdesenvolvimento”. E é exatamente movido pela contestação 
a essa imagem que fundamenta uma lógica de ser “Nordeste”, aparentemente 
cristalizada pelas circunstâncias da própria natureza da região, que o artista ao 
qual nos referimos no início deste texto canta: 
NINGUÉM É GENTE! 
Nordeste é uma ficção! Nordeste nunca houve! 
Não! Eu não sou do lugar dos esquecidos! 
Não sou da nação dos condenados! 
Não sou do sertão dos ofendidos! 
Você sabe bem: 
CONHEÇO O MEU LUGAR!5
E é com as palavras do cantor popular nordestino, porém não “nordes-
tinado”6, que adentramos, a partir de então, panoramicamente, aos aspectos 
que são de fundamental importância para os estudos e as reflexões acerca da 
questão regional ontem e hoje.
2. A questão regional na dialética universal-particular:
o desenvolvimento desigual inter-regional no Brasil
A questão regional depara-se hoje com uma realidade que a torna cada vez 
mais viva e pulsante, demonstrando que o debate crítico em torno desse tema 
precisa ser reaberto, particularmente no Serviço Social. Desafio este necessário 
a ser enfrentado por parte daqueles que já estão caducos de entender que as 
desigualdades regionais não são obra da simples ausência de uma política de 
desenvolvimento regional ou da má gestão de quem dirige o Estado e o plane-
jamento de suas ações para as regiões, mas compõem a dinâmica própria do 
padrão de reprodução do capital, de forma especial, nos países dependentes.
O desenvolvimento capitalista, ao mesmo tempo que demanda o processo 
de homogeneização para sua reprodução ampliada, cria e aprofunda, pelos 
mesmos meios, as desigualdades regionais que permitem uma acumulação cada 
5 Trecho retirado da música Conheço meu lugar, do compositor e cantor cearense Belchior, do álbum Era uma 
vez um homem e seu tempo, gravado e lançado em 1979 pela gravadora WEA. 
6 Fazemos alusão ao poema de Patativa do Assaré intitulado Nordestino, sim. Nordestinado, não! (CAR-
VALHO, 2007).
18
vez mais privada das riquezas socialmente produzidas. Caso contrário, o padrão 
de reprodução das relações sociais capitalistas estaria fadado ao colapso. Tais 
desigualdades e contradições universalizaram-se mediante uma combinação 
entre diversas configurações regionais. Nesse sentido, a região é “[...] produ-
to-produtora das dinâmicas concomitantes de globalização e fragmentação [...] 
dos processos de diferenciação social” (HAESBAERT, 2010, p. 7).
No Brasil, alguns pensadores foram (e ainda são) fundamentais para 
entender a natureza dessas desigualdades nas nuances de uma formação social 
constituída através de um processo histórico-social que “vinculou o destino 
da Nação emergente ao neocolonialismo” (FERNANDES, [1968] 2008, p. 
24). Dentre outros intérpretes, priorizamos o diálogo com aqueles que nos 
ajudaram a entender essa realidade e seus desdobramentos sobre o desenvolvi-
mento econômico regional fora do circuito de interpretações dualistas rígidas, 
consonante com a lei do desenvolvimento desigual e combinado (Trotsky, 
[1930] 1977). Lei esta que, segundo Florestan Fernandes ([1968] 2008, p. 65):
[...] punha em questão a relação do desenvolvimento do capitalismo e do 
regime de classes com a revolução social, enfatizando que, dadas certas 
premissas, em um país atrasado uma classe social pode desempenhar as 
tarefas de outra e promover, assim, um salto qualitativo na história. Essa é 
a forma dialética de resolver o assunto. Não é preciso que o regime de clas-
ses esteja “completamente desenvolvido” para que o proletariado realize 
suas tarefas revolucionárias (as que não foram alcançadas pela burguesia). 
Essa característica, universal ao capitalismo, aprofundada e particula-
rizada em sociedades dependentes, revela o caráter integrador e ao mesmo 
tempo desintegrador de regiões nesse sistema, que, para Leon Trotsky ([1930] 
1977, p. 25), viabiliza uma “[...] aproximação das diversas etapas, combi-
nação das fases diferenciadas, amálgama das formas arcaicas com as mais 
modernas”. Em outras palavras, “[...] estruturas econômicas em diferentes 
estágios de desenvolvimento não só podem ser combinadas organicamente e 
articuladas no sistema econômico global”. Especialmente sob o capitalismo 
dependente, “[...] a persistência de formas arcaicas não é uma função secun-
dária e suplementar” (FERNANDES, [1968] 2008, p. 61). E isso ocorre no 
desenvolvimento do capitalismo brasileiro.
É exatamente nessa dialética do desenvolvimento desigual inter-regional 
que se constituiu historicamente a formação social brasileira numa combinação 
entre relações sociais capitalistas e aquelas que, mesmo não sendo tipicamente 
capitalistas, sobrevivem, se configuram e reforçam tal modo de produção. 
Afinal, “[...] não reconhecer [...] que existem marcadas diferenças entre as 
várias formas de produção do valor dentro do capitalismo é não reconhecer 
SERVIÇO SOCIAL EM PERNAMBUCO: 
primeiras décadas da formação e atuação profissional 19
[...] o processo de constituição dopróprio capital enquanto relação social” 
(OLIVEIRA, 1993, p. 30).
O particular dinamismo do desenvolvimento desigual inter-regional na 
realidade brasileira é, em outras palavras, uma forma particular de configu-
ração do complexo arcaico-moderno. Este tem complexificado a articulação 
daquilo que, para Florestan Fernandes ([1975] 2006), integra o padrão de 
dominação burguesa na nossa formação social: a relação entre o “desenvol-
vimento desigual interno” e a “dominação imperialista externa”, recompondo 
as desigualdades regionais que, a despeito de serem componentes da própria 
natureza capitalista, apresentam uma tônica diferenciada nos países depen-
dentes, bem como já sinalizamos. 
O fato é que, mesmo diante de todas as desconformidades, o “agente 
organizador” da acumulação capitalista não deixou de ser a burguesia asso-
ciada ao grande capital (IANNI, 2004) e destituída de um projeto político de 
orientação democrática e de soberania nacional, mediante arranjos de cúpula 
com setores oligárquicos, sem por isso realizar uma ruptura através de uma 
“revolução democrático-burguesa” ou de “libertação nacional” (IAMA-
MOTO, 2007, p. 132). Em outras palavras, a dinâmica do capital por aqui 
foi realizada por meio de mecanismos ainda não essencialmente capitalistas 
(GORENDER, 1982), não tendo como “meio ambiente original”, de transição, 
o definhamento do feudalismo, ao contrário de países da Europa.
Frente a tais considerações, o núcleo central da dinâmica capitalista no 
Brasil é exatamente a perpetuação de um enorme contingente de força de 
trabalho disponível, do monopólio da terra, das formas extraeconômicas de 
exploração do trabalho (semi ou pré-capitalistas) e de remuneração (monetária 
e não-monetária) bem abaixo do valor da reprodução da força de trabalho, 
refletindo num baixíssimo padrão de vida do produtor direto, mesmo com o 
aumento da produtividade do trabalho. Tudo isso sob a interferência direta 
do Estado que subsidia toda a infraestrutura de sustentação dessa engenhosa 
arquitetura, socializando parte dos custos da reprodução da força de trabalho.7
7 Portanto, “[...] os serviços realizados a base de pura força de trabalho, que é remunerada a níveis baixíssimos, 
transferem, permanentemente, para as atividades econômicas de corte capitalista, uma fração do seu valor, 
‘mais-valia’ em síntese. Não é estranha a simbiose entre ‘moderna’ agricultura de frutas, hortaliças e outros 
produtos de granja com o comércio ambulante? [...] Esses tipos de serviços, longe de serem excrescência e 
apenas depósito do ‘exército industrial de reserva’, são adequados para o processo da acumulação global e 
da expansão capitalista e, por seu lado, reforçam a tendência à concentração de renda” (OLIVEIRA, 2013, 
p. 57-58). O circuito da dependência e o “círculo vicioso do subdesenvolvimento” explicitam que mais vale 
empregadas domésticas recebendo baixíssimos salários, mulheres e homens realizando constantemente 
o trabalho não pago necessário a sua reprodução em cidades intrafegáveis que um dispêndio de recursos 
destinados a estruturas coletivas que não propiciam lucro suficiente com o rebaixamento da força de traba-
lho urbana que depende desses mesmos serviços abundantes e degradados, e boa parte dessa força de 
trabalho não pode ao menos consumir tais serviços demandados. 
20
Daí o entendimento de que não há etapas bem definidas de desenvolvi-
mento pelas quais cada formação social deva passar, inevitável ou predes-
tinadamente. A apreensão dos aspectos que tornaram burguesa a sociedade 
brasileira sem vivenciar, por exemplo, um processo de ruptura com o latifúndio 
e seus antigos representantes é, a nosso ver, pressuposto central para o estudo 
sobre os fundamentos das desigualdades regionais e os descompassos entre 
as regiões tidas como mais ricas ou “avançadas” e as pobres ou “atrasadas” 
enquanto fenômeno moderno.
Essas desigualdades tomam proporções e características diversas no 
contexto contemporâneo. O processo de financeirização, e sua incessante 
busca de valorização do capital tem como necessidade a constante superação 
de fronteiras de tempo e espaço, o que, por outro lado, acaba por estabelecer 
outras tantas barreiras territoriais e diferenciações regionais em uma mundiali-
zação que também se regionaliza. Fruto desse processo, ocorre o adensamento 
da questão social na sua dimensão regional, expressa pela intensificação da 
divisão internacional – e inter-regional – do trabalho8, da exploração por inter-
médio da reestruturação produtiva e dos diversos conflitos de base territorial 
refletidos na violenta onda migratória, (re)compondo a questão regional em 
termos macrossociais.
Em resumo, esse modelo permite a diferenciação produtiva e de produti-
vidade através da elevada exploração de trabalhadores com base na “[...] manu-
tenção de baixíssimos padrões do custo de reprodução da força de trabalho e, 
portanto, do nível de vida da massa trabalhadora rural” (OLIVEIRA, 2013, p. 
45). Trata-se, assim, de um complexo arcaico-moderno dialeticamente pautado 
pelo desenvolvimento tardio, pela modernização dependente e acumulação 
primitiva estrutural. Esse processo pesa distintamente em cada região, espe-
cialmente no Nordeste, território que, combinado desigualmente às demais 
regiões, funciona como uma verdadeira reserva da superpopulação relativa, 
garantindo o baixo custo da força de trabalho, mesmo com o aumento da 
produtividade. Já o Sudeste passa a assumir a função de “região-centro”, 
8 A menor rotação de capital nos países centrais implica em uma maior rotação nos países dependentes tal 
como uma menor composição orgânica do capital nos primeiros, demanda uma realização mais rápida da 
mercadoria nos segundos. Ocorre que tais (des)compassos se reproduzem internamente aos próprios países, 
integrando os territórios nacionais à divisão internacional (e inter-regional) do trabalho. Assim, “[...] a divisão 
do trabalho em geral está relacionada diretamente à divisão territorial do trabalho, à especialização de certas 
regiões na produção de um único artigo, às vezes de uma única variedade de um artigo e até de uma única 
parte de um artigo. [...] A manufatura não cria apenas regiões completas, mas introduz a especialização no 
interior mesmo dessas regiões”. Isto, porém, contraditoriamente, nos diz que “[...] a existência de matéria-prima 
num dado local não é, de modo algum, obrigatória para a manufatura e dificilmente seria comum a ela, já que 
a manufatura pressupõe relações comerciais já bastante amplas” (LÊNIN, 1982, p. 275-276).
SERVIÇO SOCIAL EM PERNAMBUCO: 
primeiras décadas da formação e atuação profissional 21
constituindo sua hegemonia sobre as demais regiões. Peça fundamental na 
engrenagem da divisão regional do trabalho. 
Assim, no Brasil, compreendemos a região Nordeste como destaque na 
questão regional, sofrendo com tônica diferenciada os reflexos da concen-
tração de riqueza, renda e poder no país. Os desdobramentos econômicos 
e políticos desse processo constituíram uma narrativa dominante e elitista 
de “região-problema”, predominante até hoje, muito embora com aspectos 
dissonantes em alguns momentos históricos, a exemplo do último ciclo de 
desenvolvimento no país (2007-2012) que pôs em destaque essa região como 
promissora e protagonista de uma onda nova de crescimento econômico.9
Numa perspectiva histórica, o Nordeste assume destaque no Brasil, espe-
cialmente a partir dos anos de 1950, alvo de inúmeros estudos que nem sempre 
contribuíram para seu entendimento, de fato. Ao contrário, para Perruci (1984, 
p. 12), a região foi “[...] vítima de tantas descobertas e teorizações, especial-
mente após o verdadeiro trauma técnico-burocratizante que nos foi imposto 
desde a criação da Sudene e, em especial, com a implantação das políticas 
pós-1964”. Trauma este que persiste mesmo diante das inflexões nas formas de 
enfrentamento às desigualdades regionais a partir do Nordeste, implementadas 
pela frente neodesenvolvimentista10, já tão rapidamentedesestruturadas no 
9 Sobre isso, conferir Pereira (2018).
10 “A frente política neodesenvolvimentista começou a se formar no decorrer da década de 1990. Na década 
anterior, elementos de ordem econômica e política tornavam os principais instrumentos de luta política e social 
recém-criados pelas classes trabalhadoras – o PT, a CUT e o Movimentos dos Sem Terra (MST) – infensos 
a qualquer aproximação política com o grande empresariado. [...] No início da década de 1990, contudo, 
a situação mudou. A parte mais significativa da burguesia unificou-se em torno do programa neoliberal, o 
desemprego aumentou muito e o movimento sindical e popular, com exceção do MST (COLETTI, 2002), 
entrou em refluxo (BOITO, 1999). Na segunda metade da década de 1990, começaram a surgir sinais de 
mudança. Um setor da grande burguesia interna, que também havia apoiado, ainda que de modo seletivo, 
o programa neoliberal foi acumulando contradições com esse mesmo programa. Foi nesse quadro marcado, 
de um lado, por dificuldades crescentes para o movimento sindical e popular e, de outro lado, pelo fato de 
um setor da burguesia começar a rever suas posições frente a algumas das chamadas reformas orienta-
das para o mercado que se criaram as condições para a construção de uma frente política que abarcasse 
setores das classes dominantes e das classes dominadas. Essa frente, organizada, fundamentalmente, pelo 
PT chegou ao poder governamental em 2003 [...]. Não se tratava, agora, de uma frente que se pudesse 
denominar populista e, ademais, tampouco o seu programa poderia ser identificado com o programa do 
velho desenvolvimentismo. [...] Por que recorrer ao termo ‘desenvolvimentista’? De maneira tentativa e 
inicial, diríamos que é porque esse é um programa de política econômica e social que busca o crescimento 
econômico do capitalismo brasileiro com alguma transferência de renda, embora o faça sem romper com os 
limites dados pelo modelo econômico neoliberal ainda vigente no país. Para buscar o crescimento econômico, 
os governos Lula da Silva e Dilma Rousseff lançaram mão de alguns elementos importantes de política 
econômica e social que estavam ausentes nas gestões de Fernando Henrique Cardoso. Sem a pretensão 
de sermos exaustivos, enumeraríamos a título inicial alguns elementos que têm sido destacados por parte 
da bibliografia: a) políticas de recuperação do salário mínimo e de transferência de renda que aumentaram o 
poder aquisitivo das camadas mais pobres, isto é, daqueles que apresentam maior propensão ao consumo; 
b) forte elevação da dotação orçamentária do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES)
22
atual período histórico, pondo novamente no limbo a realidade do Nordeste, 
tal como a brasileira.
3. O Nordeste desigualmente combinado
ao nosso tempo histórico
Para entender o papel e as condições de inserção da região Nordeste no 
padrão de (re)produção capitalista, é fundamental relacionar os aspectos de 
natureza conjuntural (o valor da força de trabalho, os custos de vida, os incen-
tivos fiscais, a “geografia econômica”, o índice de empregabilidade, o acesso 
aos serviços sociais etc.) com as condições estruturais, as leis e tendências 
gerais do capitalismo (em meio ao complexo sistema de financeirização e 
fetichismo da mercadoria). Essa dinâmica é impulsionada não apenas pelos 
condicionantes e determinantes econômicos, mas também pelas circunstân-
cias e desdobramentos no âmbito político que põem em outro patamar a luta 
de classes.
Basta recordarmos os acontecimentos da primeira década do século 
XXI no Brasil. Naquela ocasião, tomava volume um conjunto de iniciativas 
(socioeconômicas e ideopolíticas), desenvolvidas por parte dos governos, que 
consagrava, através dos diversos meios de divulgação e institutos de pesquisas, 
aquele período como o que teria viabilizado o protagonismo de regiões que 
eram vistas como atrasadas, como é o caso do Nordeste, Norte e Centro-Oeste. 
Contudo, por outro lado, ocorreu, simultaneamente, uma relativa perda de 
base industrial no Sul e Sudeste, fazendo com que estas regiões não tivessem 
um crescimento tão exitoso como observado nas áreas identificadas como 
regiões subdesenvolvidas e mais pobres. Isto além dos dados que revelam 
a persistência das desigualdades regionais que continuavam a conduzir o 
Nordeste ao patamar de região brasileira com maior taxa de analfabetismo, 
elevados indicadores de mortalidade infantil e pobreza, menores índices de 
desenvolvimento humano (IBGE, 2014).
Portanto, é certo que a expansão capitalista pode (e deve) promover, 
mesmo que temporariamente, inclusão de uma maior parcela da população, 
tanto no consumo quanto no mercado de trabalho, elevando os índices de 
crescimento econômico e o incentivo ao setor produtivo em regiões como 
para financiamento das grandes empresas nacionais a uma taxa de juro favorecida ou subsidiada; c) política 
externa de apoio às grandes empresas brasileiras ou instaladas no Brasil para exportação de mercadorias 
e de capitais (DALLA COSTA, 2012); d) política econômica anticíclica – medidas para manter a demanda 
agregada nos momentos de crise econômica e e) incremento do investimento estatal em infraestrutura. 
[...] E por que empregar o prefixo ‘neo’? Porque as diferenças com o velho desenvolvimentismo do período 
1930-1980 são significativas. O neodesenvolvimentismo é o desenvolvimentismo da época do capitalismo 
neoliberal” (BOITO JR., 2012, s/p).
SERVIÇO SOCIAL EM PERNAMBUCO: 
primeiras décadas da formação e atuação profissional 23
o Nordeste brasileiro. Contudo, isso ocorre de forma descompassada entre
os setores da economia capitalista e entre as próprias regiões, acompanhado 
pelo avanço do agronegócio no Brasil cuja capacidade de gerar ocupações 
é incomparável às atividades relativas à agricultura camponesa. Dentre as 
ocupações geradas, o peso da informalidade e da reestruturação produtiva 
ganha cada vez mais notoriedade, o que tende a se agravar diante das recen-
tes modificações na legislação trabalhista e previdenciária, especialmente 
nas condições do trabalhador do campo, beneficiando frações burguesas a se 
apropriarem ainda mais do trabalho necessário via exploração e expropriação 
da força de trabalho. De repente, os ínfimos ganhos da população se esvaem. 
Fica evidente, no caso brasileiro, a impossibilidade de fugir à lei do 
desenvolvimento desigual e combinado nos marcos do capitalismo, cujo peso 
e funcionalidade do atraso adquirem maior centralidade. É o que revela o atual 
contexto que combina de forma peculiar o reacionarismo político-cultural às 
medidas ultraliberais do ponto de vista econômico, atualizando e reforçando o 
conservantismo próprio da burguesia brasileira e o seu padrão autocrático de 
dominação em uma “tendência intensa e permanente de fascistização” (FER-
NANDES, 2015, p. 21). Junto a isto, reforça-se também a questão regional, o 
papel histórico do Nordeste na divisão regional do trabalho, bem como aquela 
velha e renovada imagem dos nordestinados. 
As atuais medidas de austeridade e completa retração nos direitos sociais 
e políticos intensificam com maior violência a precarização, via empreende-
dorismo e terceirização, e, consequentemente, um diferenciado e aprofundado 
desenvolvimento desigual, interna e externamente. O movimento de concen-
tração e centralização do capital toma renovada amplitude e reforça a condição 
do Brasil de país agroexportador e dependente, tendo algumas das seguintes 
expressões: desindustrialização e reprimarização da pauta exportadora, com 
base na alavanca da dívida pública; atrofia do mercado interno, da capacidade 
de consumo das classes subalternas e da formalização do trabalho; peso da 
pauperização absoluta na combinação com formas de pauperização relativa; 
menor composição orgânica do capital na indústria; rebaixamento real do 
salário; formas de elevação de produtividade intermediadas pela recomposição 
de relações de trabalho não-monetarizadas e pela coerção extraeconômica 
sobre o trabalhadoretc.; ou seja, um amplo movimento de “reversão” das 
conquistas históricas da classe trabalhadora cujos efeitos atingem de forma 
particular regiões como o Nordeste.
Referimo-nos ao quadro de queda de 14,3%, em 2016, para 13,7%, 
em 2017, do total de domicílios que recebem Bolsa Família, somada a 
um conjunto de medidas que atinge também outras iniciativas, tal como 
o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e os direitos sociais, traba-
lhistas e previdenciários como um todo. Em 2018, o Nordeste era a região 
24
com 29% dos desocupados do país, bem como a maior na proporção de 
pessoas que procuraram trabalho por mais de 2 anos. Dos 12,8 milhões 
de brasileiros nesta situação, 3,7 milhões eram nordestinos. O Nordeste 
representou 41% dos subocupados por insuficiência de horas trabalhadas 
no país. Dos 6,6 milhões de brasileiros nesta situação, 2,7 milhões eram 
nordestinos (IBGE, 2018).
Diante disso, as migrações tendem a tomar um novo fôlego e, mais uma 
vez, o capital parece “reconquistar o Nordeste” de forma ampla, tal como 
nos sinalizou Octavio Ianni (1981) ao retratar a questão regional no período 
da “ditadura do grande capital” dos anos de chumbo. De lá até cá a questão 
regional não teve resolubilidade. Assim como Corrêa (1988, p. 60-61), consi-
deramos que “[...] o avanço das relações capitalistas provoca transformações 
nas características da questão regional, em suas exterioridades, mas, em vez de 
eliminá-la, ele agrava, aprofunda a questão”. A partir desse entendimento, “[...] 
a questão regional persiste [...] e coexiste com a questão nacional”. Ou, em 
outros termos, a “questão nordestina é regional e nacional”, hoje mais ainda.
Segundo Florestan Fernandes ([1973] 2009), esse quadro tem seus deter-
minantes mais bem estruturados desde a consolidação do “período ditatorial”, 
exigindo mecanismos prioritários por parte do Estado na tentativa de combater 
os efeitos do aprofundamento da questão regional como particularidade da 
questão social no Brasil. Mecanismos estes necessários inclusive para viabili-
zar tal consolidação via integração nacional diante da decadência da burguesia 
industrial, do declínio do pacto populista, da penetração de grupos econômi-
cos e mercadorias produzidas no Centro-Sul e no Nordeste, da destruição da 
economia regional promovendo, contraditoriamente, uma superacumulação 
e adensamento das forças populares na região em questão.
É preciso também lembrar que “[...] foram as lutas sociais que romperam 
o domínio privado nas relações entre capital e trabalho, extrapolando a
questão social para a esfera pública, exigindo a interferência do Estado para 
o reconhecimento e a legalização de direitos e deveres dos sujeitos sociais
envolvidos” (IAMAMOTO, 2001, p. 17). Isto somado ao pauperismo que 
gerou a ameaça social dos “flagelos da seca”, demandou por parte do Estado 
o aprimoramento de mecanismos e formas de manutenção da hegemonia
burguesa nas regiões. Por isso, o reforço ideológico, entranhado no discurso 
oficial sobre o território nordestino estava diretamente associada à “região 
perigosa”, bem como à agudização da repressão aos trabalhadores rurais organi-
zados.11 A ideia difundida era que o país estava na iminência de uma verdadeira 
11 Vale destacar que existe um vasto enredo da vida real centrado em um conjunto de experiências de protestos e 
lutas populares que não foram incorporadas nas “narrativas nacionais” com uma nítida intenção por parte dos 
setores dominantes de isolá-las e pejorativamente associá-las ao fanatismo e banditismo. Isto é demonstrado 
na importante obra de Rui Facó (1963, p. 15-16) ao fazer alusão e desconstruir a concepção hegemônica dos 
SERVIÇO SOCIAL EM PERNAMBUCO: 
primeiras décadas da formação e atuação profissional 25
revolução no Nordeste, tendo como referência a revolução cubana. Isto em 
virtude da experiência de movimentos de trabalhadores rurais como o das 
Ligas Camponesas. “Foi assim que o imperialismo e a burguesia, no Brasil, 
decidiram transformar o Nordeste numa questão política, militar e policial 
prioritária” (IANNI, 1981, p. 112) com a finalidade de acabar com todas as 
experiências democráticas que emergiam na região. Afinal, até os avanços de 
natureza democrática e popular por aqui ameaçam a estrutura que sustenta 
uma engenharia tão moderna quanto arcaica do latifúndio.
Voltando às principais estratégias de enfrentamento à questão regional, 
podemos situar, mesmo que tardia, uma nova política de desenvolvimento para 
o Nordeste com base na industrialização da região. Para os idealizadores dessa
política, certamente o que estaria em questão seria o enfrentamento às relações 
tidas como atrasadas na agricultura e a produção de uma “[...] larga ‘periferia’ 
onde predominam padrões não-capitalísticos de relações de produção, como 
forma e meio de sustentação e alimentação do crescimento dos setores estra-
tégicos nitidamente capitalistas [...] ” (OLIVEIRA, 2013, p. 69). Contudo, a 
superação desse tipo de relações seria como romper com a dependência da 
dependência, já que “[...] a integração ao mercado interno significa tornar a 
região que se integra ‘dependente’ da economia do Sudeste, isto é, as vantagens 
fenômenos do cangaceirismo e do messianismo vividos especialmente no Nordeste no fim do século XIX e 
na primeira metade do século XX. Outra figura que passa a compor a narrativa nacional sobre o Nordeste 
foi o “flagelo da seca”, expressão do fenômeno social da seca na região. Diante disso, para Nobre (2010, p. 
5-6), foram quatro principais as formas de enfrentamento às consequências das secas por parte do Estado: 
1) “Controlar os flagelos”, mantendo-os “isolados na periferia da cidade, em estruturas precárias de cercados
[...] e sob severa vigilância. [...] tais locais de contenção dos flagelos da seca passaram a ser chamados de 
‘campos de concentração’ [...] depositário de força de trabalho barata que era usada em obras públicas e de 
particulares.”.2) Estímulos a migrações para o trabalho nos cafezais do Centro-Sul, e na extração de látex nos 
seringais da Amazônia, recrutamento por parte de empreiteiras envolvidas na construção da transamazônica; 
3) Medidas de contenção das migrações do sertão para as cidades com a ‘criação de órgãos públicos voltados
para a chamada ‘solução hidráulica’. Esta consistia no direcionamento da força de trabalho dos retirantes da 
seca para a construção de açudes, através das chamadas ‘frentes de serviço’” (NOBRE, 2010, p. 7). Para 
Oliveira (1981, p. 55), esses episódios da história do Nordeste expressam formas típicas da acumulação 
primitiva do capital. Antigas instituições, como a Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS), de 1909, que 
passa a se chamar de Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), em 1945, representaram 
um “esforço racionalizador” por parte do Estado, avançando-se “muito no conhecimento físico do Nordeste 
semi-árido, de suas potencialidades e limites [...]. Não se avançou nada, porém, em termos do entendimento 
e desvendamento de sua estrutura socioeconômica [...]” (OLIVEIRA, 1981, p. 51). Em suma, acabaram por 
beneficiar proprietários rurais e o “controle político na distribuição de alimentos e vagas para o alistamento”, 
conformando a conhecida “indústria da seca”; 4) Criação de instituições voltadas para a assistência aos “flage-
lados” da seca. Estas tinham, no entanto, associação direta com a polícia, referendando a velha e necessária 
combinação entre repressão e assistência na garantia de hegemonia. Nobre (2010) apresenta como exemplo 
o Serviço de Socorro e Assistência às Vítimas da Seca (SSAVS) e o Serviço Social do Estado (SSE), além de
ações de combate a mendicância, de profissionalização e “higienização” da cidade. 
26
da industrialização desequilibram a economia ‘normal’ da região e impõem uma 
nova divisão do trabalho em função do Sudeste” (OLIVEIRA, 1977, p. 52). 
Por outro lado, esse desequilíbrio regional, expressando também con-
flito de classes, “[...] que aparece sob as roupagensde conflitos regionais [...] 
chegará a uma exacerbação cujo resultado mais imediato é a intervenção ‘pla-
nejada’ do Estado no Nordeste, ou a SUDENE” (OLIVEIRA, 1981, p. 113). 
Este órgão estatal foi um dos mais memoráveis desse tipo de intervenção no 
Nordeste e sua história representa exatamente o direcionamento hegemônico 
que as políticas dessa natureza tiveram no período desenvolvimentista.12
A intervenção planejada do Estado dá-se, portanto, através do desloca-
mento de “[...] esquemas de reprodução próprios da economia do Nordeste por 
outros que têm sua matriz noutro contexto de acumulação”. Desse modo, o “pla-
nejamento” age conduzindo a mais-valia captada pelo Estado através de imposto 
em capital a favor da “grande burguesia do Centro-Sul” (OLIVEIRA, 1981, 
p. 113). Ou, em outras palavras: “[...] o Estado descapitaliza a economia do
Nordeste em favor do centro da acumulação. Mesmo em 1953, quando se cria 
o Banco do Nordeste do Brasil [...], a intervenção do Estado fica muito aquém
de sua própria atuação num caso como o do BNDE [...]” (OLIVEIRA, 1981, p. 
94). Daí a importância do Estado na promoção da industrialização do Nordeste 
que, “[...] em si mesmo, é a síntese dialética dos processos de concentração e 
centralização do capital, que o promove” (OLIVEIRA, 1977, p. 3-4).
Isso significa que o custo da reprodução da força de trabalho continuará 
baixa mesmo com o aumento da produtividade; as mercadorias produzidas 
na região continuarão sofrendo a deterioração dos termos de troca, abaste-
cendo a nova classe assalariada urbana em ascensão especialmente no Sudeste 
e garantindo a oferta de recursos naturais à industrialização nacional em 
uma espécie de acumulação primitiva; que o enorme exército industrial de 
reserva continuará vivo legitimando relações de trabalho híbridas, monetárias 
12 É importante ressaltar que, ao contrário de muitas análises críticas à experiência da SUDENE, ela não pode 
ser resumida como uma “farsa”. A história dessa instituição foi marcada por ambiguidades e embates entre as 
forças e aspirações populares e aquelas do grande capital monopolista que procuravam socorrer os interesses 
das elites locais do “[...] velho Nordeste dos ‘coronéis’ e da burguesia açucareira, convocando as forças da 
burguesia internacional-associada e do imperialismo para liquidar as classes populares” (OLIVEIRA, 1981, p. 
15). Caso estas forças não tivessem ganho, certamente teríamos um outro Nordeste e um outro Brasil. De toda 
forma, há que considerar a SUDENE como “um empreendimento de uma audácia inédita na história nacional” 
(OLIVEIRA, 1981, p. 18) que de alguma forma enfrentou resistências, inclusive das “elites nordestinas temerosas 
da perda de privilégios” que atacavam a figura de Celso Furtado e viam sua defesa à reforma agrária como 
ameaçadora, abrindo margem para a subversão associada aos movimentos camponeses da época. (FUR-
TADO, 2009, p. 12).Mesmo com o teor progressista, com o objetivo de combater as desigualdades regionais 
e com a diversidade de opiniões e concepções em disputa em torno da SUDENE, ela acaba tornando-se “[...] 
um mecanismo de destruição acelerada da própria economia ‘regional’ nordestina, promovendo a expansão 
capitalista no Nordeste via hegemonia da burguesia do Centro-Sul expressa na tendência das empresas ou 
grupo de empresas que já são principais no Brasil serem principais no Nordeste” (OLIVEIRA, 1981, p. 113).
SERVIÇO SOCIAL EM PERNAMBUCO: 
primeiras décadas da formação e atuação profissional 27
e não-monetárias, recompondo a divisão regional do trabalho e o complexo 
arcaico-moderno com um maior peso no Nordeste.
O empobrecimento da população trabalhadora nessa região, portanto, 
caminhou junto a extração da mais-valia extraordinária na ditadura do grande 
capital, fazendo com que o crescimento da taxa de expropriação tenha viabili-
zado o “milagre brasileiro”. Este quadro pode nos apresentar vários elementos 
consonantes e dissonantes com a particularidade do ciclo econômico e político 
do tempo presente.
A base e as circunstâncias objetivas das expressões da questão social 
no Nordeste, atravessadas pelo monopólio da terra, sinalizam a forma de 
ser capitalista não apenas da região, mas do país, que generalizou o modo 
de produção por meio da industrialização sem, no entanto, destituir-se do 
peso agrário-exportador mediante a superexploração da força de trabalho e a 
associação entre capital nacional e estrangeiro, obstaculizando brutalmente o 
crescimento das forças produtivas e o desenvolvimento com soberania nacio-
nal. Isto, ao contrário do que muitos atestaram (e continuam atestando) sob 
o invólucro da marcha do desenvolvimento e crescimento econômico, não
seria possível nos marcos do pleno desenvolvimento desigual e combinado 
capitalista em que o Brasil e suas regiões são partícipes. 
Não se trata, desse modo, de uma suposta ausência, deformação ou atraso 
desse desenvolvimento, mas de uma forma necessariamente particular de 
inserção. “Daí, por exemplo, o liberalismo das elites nacionais, numa ordem 
social acentuadamente patrimonial; ou o racismo, num país de mestiçagem 
intensa” (IANNI, 1965, p. 65). Em outras palavras, “[...] o Brasil de hoje, 
apesar de tudo de novo e propriamente contemporâneo […] ainda se acha 
intimamente entrelaçado com o seu passado” (PRADO JR., 1972, p. 18).
4. Considerações finais
Procuramos, aqui, dentre as diversas nuances no trato acerca da questão 
regional, delimitar nosso caminho a partir dos aspectos que constituem o 
método no qual nos orientamos:
Primeiro, a concepção de história atrelada substancialmente à perspec-
tiva de totalidade bem como de contradição, o que nos leva a romper com a 
ideia fragmentada de história, entre a vida comum dos indivíduos e os grandes 
acontecimentos da sociedade, bem como unilateral, negando o fazer histórico 
como uma simples sucessão de fatos ou de modos de vida predestinadamente 
estabelecidos. Neste sentido, o desenvolvimento social da humanidade não se 
apresenta, nem poderia, como inexorável. Na verdade, trata-se de entender que 
a ação humana sobre a história permite exatamente a combinação e a abertura de 
múltiplas possibilidades e determinantes sócio-históricos. Isto nos leva a entender 
28
que a questão regional, tal como trabalhamos ao decorrer deste texto, não diz 
respeito, em si, às diferenças naturalmente e geograficamente existentes entre 
as regiões. O mesmo desenvolvimento que integra regiões, as tornam desiguais.
Segundo, a consideração permanente da dialética entre o universal e o 
particular, o que faz com que tendências gerais capitalistas se reproduzam no 
particular como uma “[...] iluminação universal em que atuam todas as cores, e às 
quais modifica em sua particularidade [...] um éter especial, que determina o peso 
específico de todas as coisas às quais põe em relevo” (MARX, 2008, p. 264). Em 
outras palavras, “[...] no lugar da tradicional autossuficiência e do isolamento das 
nações surge uma circulação universal, uma interdependência geral entre os países. 
E isso tanto na produção material quanto na intelectual”. Trata-se da condição de 
existência e desenvolvimento do modo de produção capitalista: a universalização, 
a expansão mundial do capital como tendência, o que torna possível a burguesia 
criar um mundo “à sua imagem e semelhança” (MARX; ENGELS, [1848] 1998, 
p. 11-12). Isto, porém, sob uma combinação dialética de desigualdades de ritmo e
intensidade entre nível das forças produtivas ou formas de reprodução do capital 
e relações de produção presentes nos diferentes territórios e regiões. Assim:
A coexistência das duas regiões numa mesma economia tem consequências 
práticas de grande importância. Assim, o fluxo de mão-de-obra da região 
de mais baixa produtividade para a de mais alta, mesmo que não alcance 
grandes proporções relativas, tenderá a pressionar sobre o nível de salário 
desta última, impedindo que os mesmos acompanhem a elevação da pro-
dutividade. Essa baixa relativa do nível desalários traduz-se em melhora 
relativa da rentabilidade média dos capitais invertidos. Em consequência, 
os próprios capitais que se formam na região mais pobre tendem a emigrar 
para a mais rica (FURTADO, [1959] 2003, p. 248-249).
A concentração de riquezas e sua apropriação privada representam a socia-
lização do trabalho e a concentração, também territorial, da pobreza em regiões 
que vivem o fenômeno do pauperismo de forma mais latente, refletindo alte-
rações na composição interna da superpopulação relativa – sobretudo com o 
adensamento de “segmentos inferiores do proletariado, e deste para o lumpem-
proletariado” – e nas formas de extração de mais-valia (GUIMARÃES, 2008).
Esse modelo permite a diferenciação produtiva e de produtividade através 
da elevada exploração de trabalhadores com base na “[...] manutenção de bai-
xíssimos padrões do custo de reprodução da força de trabalho e, portanto, do 
nível de vida da massa trabalhadora rural” (OLIVEIRA, 2013, p. 45).
Esse complexo arcaico-moderno, dialeticamente pautado pelo desenvol-
vimento tardio e dependente, reflete-se, por exemplo, na prosperidade expressa 
entre os personagens do romance Menino de Engenho, de José Lins do Rego 
([1932] 2012, p. 233), diante da passagem do antigo engenho para a moderna 
SERVIÇO SOCIAL EM PERNAMBUCO: 
primeiras décadas da formação e atuação profissional 29
usina, onde “seiscentas toneladas de cana entravam nas suas esteiras e oito-
centos sacos de açúcar saíam de suas turbinas”, convivia com a realidade dos 
flagelos da seca. Realidade esta que passava cada vez mais a ter um contorno 
de fenômeno social tão bem retratado no romance O Quinze de Raquel de 
Queiroz, em 1930. O imperativo desse complexo incide sobre a divisão regional 
do trabalho, a configuração do Estado brasileiro e suas formas predominantes 
de enfrentamento a questão social na sua dimensão regional no contexto do 
capitalismo monopolista.
Assim, ao contrário da aparência, as regiões são e estão em movimento. Há, 
pois, por aqui, na história regional e nacional, vários “nordestes”. Nas palavras de 
Manuel Correia de Andrade (1984, p. 53), em meio ao desequilíbrio planejado, o 
Nordeste “[...] é muito mais um amálgama de regiões do que uma região”. Nessa 
perspectiva, se, por um lado, o Nordeste é reserva de acumulação primitiva do 
sistema global, também é, por outro lado, “[...] espaço onde se imbricam dialeti-
camente uma forma especial de reprodução do capital, e, por consequência uma 
forma especial da luta de classes [...]” (OLIVEIRA, 1981, p. 79).
Como podemos perceber, a questão regional, que é nacional, assim como 
a questão social, é insuprimível nos marcos da hegemonia capitalista, pois 
trata-se de uma economia que “[...] articula estruturas arcaicas e modernas, na 
qual essas últimas apresentam intenso crescimento ‘desordenado’ e se impõem 
às primeiras como centros hegemônicos da economia nacional” (FERNANDES, 
[1968] 2008, p. 79).
Não à toa que desde o Golpe de 2016 os vetores e números têm tomado 
outro contorno, especialmente para o Nordeste. Frente a isso, lembramos da 
sinalização feita por Coutinho (2011, p. 141-142) sobre como a crise da socie-
dade brasileira tem no Nordeste “cores mais vivas e intensas” em relação as 
demais regiões do país, condenando os que “lutavam por uma nova comunidade 
à solidão e à incompreensão”. E, ainda, enfatiza: “De certo modo, na medida em 
que aí as contradições eram mais ‘clássicas’ (no sentido de Marx), o Nordeste 
era a região mais típica do Brasil; a sua crise expressava, em toda a sua crueza, 
a crise do conjunto do país”.
O que nos resta, diante dos elementos apresentados até então, é seguirmos 
a nossa saga em recompor os fios que ligam o passado ao presente, consti-
tuindo a dialética arcaico-moderno, entre permanências e mudanças. Isso 
implicará tecermos, ainda, nessa colcha de retalhos, os fios que constituíram (e 
constituem) as “novidades” do nosso tempo. E é exatamente este tempo, desde 
o chão onde pisamos, que nos motiva a retomarmos a pergunta que intitula o
presente artigo: “Existirmos – a que será que se destina?”. E, assim, o ponto 
final encontra-se com o da partida dando mais um passo nesse caminho, cuja 
busca é a medida, tal como cantava Sérgio Ricardo.13
13 Referência à música Ponto de Partida do cantor e compositor brasileiro Sérgio Ricardo, composta em 1974.
30
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CAPÍTULO 2
A PARTICULARIDADE DE 
PERNAMBUCO NO ESTADO 
NOVO: transformações econômicas, 
questão social e lutas de classes
Zélia de Oliveira Gominho
Segundo Aníbal Fernandes, mocambos são “células de descontentamento”14
Toda época é impregnada de anseios e receios, já dizia Eugen Weber 
(1989, p. 10); e, na percepção de uma longa duração, a transição do século 
XIX para o XX não foi diferente, foi de muitas tensões. Desde meados do 
século XIX o capitalismo industrial vinha proporcionando riqueza, progresso, 
mudanças socioculturais e políticas; primeiramente na Europa, depois na 
América do Norte. O imperialismo neocolonial expandiu a exploração do 
capitalismo para o continente africano, América Latina e o Oriente; fez deles 
mercado de matérias-primas, de mão de obra barata e de consumidores.
Não há avanço sem custo. O liberalismo econômico justificou um pro-
cesso de acúmulo de capital, de culto ao progresso e defesa da propriedade 
privada, de estímulo ao individualismo, à competitividade e à meritocracia 
em prol de um desenvolvimento econômico que manteve a Grã-Bretanha por 
muito tempo na supremacia dos mares e das relações de força; entretanto, 
também fez o eixo do poder político-econômico se deslocar para os Esta-
dos Unidos, que se consolidaram como potência mundial. O progresso, no 
entanto, acontece em detrimento das condições de vida e trabalho das massas 
de camponeses, artesãos e proletários do mundo, que perdem referenciais de 
costumes, são desprovidos de seus recursos naturais e tradicionais de sobre-
vivência, restando-lhes apenas a força de trabalho para oferecer, e devendo 
se submeter a novas relações de produção e de convivência social.
A Primeira Grande Guerra (1914-1918) aconteceu motivada por questões 
territoriais, demandas econômicas, disputas imperialistas, que, a pretexto de 
nacionalismos, massacravam minorias étnicas consideradas entraves diante 
de poderosos interesses.
14 Duarte (1939, p. 2). 
34
O período pós Primeira Guerra foi um reerguer difícil para as nações 
europeias, territórios das batalhas homem a homem, e dos bombardeios. Além 
dos efeitos colaterais de um conflito de grandes proporções, ocorreram, no 
decorrer da guerra, mudanças geopolíticas importantes que iriam afetar as 
relações internacionais por muitas décadas: A Revolução Russa de 1917 fez 
surgir, em 1922, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a URSS, ou 
simplesmente União Soviética, um bloco comunista sob a égide ditatorial 
russa, com sede em Moscou. O pavor de que revoluções proletárias pipocas-
sem pelo mundo já era sentido desde que os escravos do Haiti tomaram o 
poder em 1804, inspirados nas bandeiras revolucionárias francesas. O ideário 
anarquista e socialista já vinha há tempos formando a consciência de classe dos 
proletários; e o Manifesto Comunista, panfleto elaborado por Marx e Engels 
direcionado à luta sindical e política, contribuiu para a formação da classe 
operária em oposição à burguesia, consequentemente de crítica e combate 
aos males do capitalismo.
O Brasil viveu essa transição de maneira um pouco diversa; embora 
também enfrentando conflitos político-sociais significativos. Em um pouco 
mais de seis décadas declarou sua independência (1822) – o único Império 
escravista das Américas –, aboliu, após 300 anos, o sistema escravista (1888) 
e, logo em seguida, proclamou-se uma república (1889). Contudo, a “vocação 
agrícola” ainda dominava a mentalidade da elite político-econômica brasileira; 
o processo de industrialização levou tempo para se aprumar e acompanhar
o desenvolvimento tecnológico europeu e norte-americano. O Brasil esteve
limitado, por interesses conservadores locais e estrangeiros, a ser mercado 
fornecedor de matéria-prima e consumidor de produtos importados. Além 
da indústria de beneficiamento de café e de algodão, as poucas fábricas exis-
tentes eram, em sua maioria, de produtos alimentícios e têxteis, localizadas, 
geralmente, nos centros dos espaços urbanos.
Entretanto, a imigração estrangeira, além de braços, capitais, e inves-
timentos, proporcionou também o intercâmbio de culturas, especialmente a 
cultura político-sindical. Desde o final do século XIX que os operários bra-
sileiros já se manifestavam, reivindicavam e faziam greves.
O fim do sistema escravista favoreceu a ocupação de periferias, morros e 
regiões ribeirinhas das cidades; lugares desprezados, ou ainda não valorizados 
pela elite político-econômica, tornavam-se espaço de moradia para ex-es-
cravos, retirantes da seca e expulsos do campo pelo latifúndio monocultor; 
gente trabalhadora que buscava nas capitais e cidades economicamente ativas 
possibilidades de ter uma vida melhor.
Recife, a capital de Pernambuco, foi um desses centros que aco-
lheu migrantes, que vinham de diversos lugares do Nordeste atraídos pela 
SERVIÇO SOCIAL EM PERNAMBUCO: 
primeiras décadas da formação e atuação profissional 35
oportunidade de trabalho no porto, no comércio, nas fábricas têxteis loca-
lizadas no centro (bairro de São José), nos bairros da Torre e Macaxeira, e 
nos municípios vizinhos de Paulista e Camaragibe; movimento percebido, 
especialmente, nos períodos mais intensos de seca no Sertão. O início da 
década de 1920 foi um dos períodos mais críticos; histórias que foram retra-
tadas pela literatura em obras como: O Quinze, de Raquel de Queiroz; Vidas 
Secas, de Graciliano Ramos; e os relatos poéticos de João Cabral de Melo 
Neto retratando o roteiro dos corumbas – os “flagelados da seca”– rumo à 
capital pernambucana: O Cão Sem Plumas (1949-1950), O Rio ou Relação 
da viagem que faz o Capibaribe de sua nascente à cidade do Recife (1953) e 
Morte e Vida Severina: Auto de Natal Pernambucano (1954-55).
A elite brasileira era encantada com a Belle Époque francesa, com a 
arquitetura neoclássica, o urbanismo monumental de amplas avenidas, com 
o toque de modernidade da arte em ferro, com as novidades tecnológicas das
telecomunicações, motores e transportes: o telégrafo, o telefone, o cinema-
tógrafo, os automóveis, as linhas férreas etc. Acalentava-se o desejo de se 
reproduzir

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