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Floricultura Prof.ª Ana Paula Alves Barreto Damasceno Paisagismo e Indaial – 2022 1a Edição Elaboração: Prof.ª Ana Paula Alves Barreto Damasceno Copyright © UNIASSELVI 2022 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Impresso por: C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI. Núcleo de Educação a Distância. DAMASCENO, Ana Paula Alves Barreto. Paisagismo e Floricultura. Ana Paula Alves Barreto Damasceno. Indaial - SC: UNIASSELVI, 2022. 204p. ISBN 978-85-515-0579-3 ISBN Digital 978-85-515-0573-1 “Graduação - EaD”. 1. Paisagismo 2. Floricultura 3. Produção CDD 635.9 Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 Caro acadêmico! O desenvolvimento de uma atividade começa por conhecê-la e assim descobrir as possibilidades que essa atividade pode proporcionar. Com este livro didático iremos conhecer como funciona o setor de paisagismo e floricultura. Neste livro, vamos ver ainda que o desenvolvimento desta atividade depende de vários fatores, entre eles conhecer as necessidades das plantas e as preferências pessoais do consumidor. Flores e plantas ornamentais fazem parte de um grupo que possui suas próprias especificidades e por isso é preciso compreendê-las para aumentar as possibilidades. Na Unidade 1, vamos conhecer os aspectos relacionados ao cultivo das flores e das plantas ornamentais. Quais as estruturas necessárias para sua produção, quais as principais espécies, quais as questões envolvidas que podem afetar o produto final e como evitar esses problemas e o que é necessário observar por quem deseja entrar nessa cadeia produtiva. Na Unidade 2, iremos conhecer os principais aspectos relacionados à atividade do paisagismo, quais as etapas do processo paisagístico, os elementos que compõem um projeto, os estilos que foram desenvolvidos durante diversos períodos da história e qual a sua importância no meio social. Na Unidade 3, veremos a importância e a necessidade de parques e jardins, como deve ser realizada sua implantação e manutenção para que tenha um impacto positivo na vida da população urbana e como a arborização influencia o espaço urbano de forma a proporcionar bem-estar nas cidades. Bons estudos! Ana Paula Alves Barreto Damasceno APRESENTAÇÃO Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO Olá, eu sou a Gio! No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. QR CODE Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! SUMÁRIO UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À FLORICULTURA ......................................................1 TÓPICO 1 — ASPECTOS ECONÔMICOS E PERSPECTIVAS DO MERCADO DE FLORES........................................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3 2 SITUAÇÃO DA FLORICULTURA NO CONTEXTO MUNDIAL E NACIONAL ...........4 3 IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE NO BRASIL ......................................................... 5 4 CADEIA PRODUTIVA DE FLORES E PLANTAS ORNAMENTAIS ......................... 5 RESUMO DO TÓPICO 1 ............................................................................................ 9 AUTOATIVIDADE ................................................................................................... 10 TÓPICO 2 — CULTIVO E MANEJO DE FLORES E PLANTAS ORNAMENTAIS ....... 13 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 13 2 ÁREA DE PRODUÇÃO EM FLORICULTURA ....................................................... 13 2.1 SISTEMA DE PRODUÇÃO A CAMPO ABERTO ...............................................................14 2.2 SISTEMA DE PRODUÇÃO COM TELA DE SOMBREAMENTO ....................................14 2.3 SISTEMA DE PRODUÇÃO EM AMBIENTE PROTEGIDO ..............................................16 3 TIPOS DE SUBSTRATOS PARA AS PLANTAS ................................................... 18 4 ADUBAÇÃO .........................................................................................................23 5 SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO .................................................................................26 RESUMO DO TÓPICO 2 ..........................................................................................29 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................30 TÓPICO 3 — FLORES E PLANTAS ORNAMENTAIS ...............................................33 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................33 2 PRINCIPAIS CULTURAS DE FLORES E PLANTAS ORNAMENTAIS ..................33 3 CONCEITOS SOBRE PROPAGAÇÃO ..................................................................39 3.1 PROPAGAÇÃO SEXUADA .................................................................................................39 3.2 PROPAGAÇÃO ASSEXUADA ............................................................................................41 3.2.1 Estaquia ...................................................................................................................... 42 3.2.2 Mergulhia ...................................................................................................................44 3.2.3 Alporquia ....................................................................................................................45 3.2.4 Enxertia ......................................................................................................................45 3.2.5 Micropropagação .....................................................................................................46 4 PRAGAS E DOENÇAS QUE AFETAM OS CULTIVOS ..........................................46 4.1 PRAGAS ................................................................................................................................46 4.2 CONTROLE DE PRAGAS .................................................................................................. 49 4.3 DOENÇAS ............................................................................................................................ 49 4.3.1 Doenças fúngicas .....................................................................................................51 4.3.2 Doenças bacterianas ..............................................................................................54 4.3.3 Viroses ........................................................................................................................ 55 RESUMO DO TÓPICO 3 ..........................................................................................56 AUTOATIVIDADE ................................................................................................... 57 TÓPICO 4 — COLHEITA, PÓS-COLHEITA, ARMAZENAMENTO E COMERCIALIZAÇÃO .........................................................................59 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................59 2 ASPECTOS DA COLHEITA DE FLORES DE CORTE ............................................59 3 CONSERVAÇÃO PÓS-COLHEITA .......................................................................62 4 PLANEJAMENTO DA PRODUÇÃO COMERCIAL ................................................65 LEITURA COMPLEMENTAR ..................................................................................68 RESUMO DO TÓPICO 4 .......................................................................................... 72 AUTOATIVIDADE ................................................................................................... 73 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 75 UNIDADE 2 — INTRODUÇÃO AO PAISAGISMO ..................................................... 77 TÓPICO 1 — IMPORTÂNCIA DO PAISAGISMO ....................................................... 79 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 79 2 CONCEITO E ATUAÇÃO ...................................................................................... 79 3 ATUAÇÃO ............................................................................................................80 4 ÁREAS VERDES .................................................................................................. 81 5 EVOLUÇÃO HISTÓRICA E ESTILOS DE JARDINS ............................................ 84 5.1 IDADE ANTIGA (3000 a.C. ATÉ 476 d.C.) ......................................................................85 5.2 IDADE MÉDIA (476 d.C. ATÉ 1453) ................................................................................. 87 5.3 IDADE MODERNA (1453 ATÉ 1789) ................................................................................ 87 5.4 IDADE CONTEMPORÂNEA (1789 ATÉ OS DIAS ATUAIS) ..........................................90 6 PAISAGISMO NO BRASIL ................................................................................... 91 RESUMO DO TÓPICO 1 ..........................................................................................92 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................93 TÓPICO 2 — ARQUITETURA PAISAGÍSTICA ........................................................95 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................95 2 ELEMENTOS DE COMPOSIÇÃO E ESTÉTICA ....................................................95 2.1 ELEMENTOS DE COMUNICAÇÃO NO JARDIM ............................................................. 95 2.1.1 Linha ............................................................................................................................. 96 2.1.2 Formas .........................................................................................................................97 2.1.3 Textura .........................................................................................................................98 2.1.4 Cor ................................................................................................................................ 99 2.2 ELEMENTOS DE TRABALHO PAISAGÍSTICO ............................................................. 102 2.2.1 Elementos naturais ................................................................................................ 103 2.2.2 Vegetação ................................................................................................................ 103 2.2.3 Animais..................................................................................................................... 105 2.2.4 Outros elementos naturais.................................................................................. 105 2.2.5 Elementos arquitetônicos ................................................................................... 106 2.2.6 Circulação e pisos ................................................................................................. 106 2.2.7 Construções do jardim ..........................................................................................107 2.3 PRINCÍPIOS DE ESTÉTICA ............................................................................................. 108 3 GRUPOS VEGETAIS ..........................................................................................109 3.1 ÁRVORES .............................................................................................................................111 3.2 CONÍFERAS ....................................................................................................................... 113 3.3 PALMEIRAS ....................................................................................................................... 114 3.4 TREPADEIRAS ................................................................................................................... 115 3.5 ARBUSTOS ......................................................................................................................... 116 3.6 HERBÁCEAS .......................................................................................................................117 3.7 FORRAÇÕES ...................................................................................................................... 119 3.8 PISOS VEGETAIS ............................................................................................................. 120 3.9 PLANTAS ATÍPICAS ......................................................................................................... 120 4 MACROPAISAGISMO E MICROPAISAGISMO ..................................................120 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................122 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 123 TÓPICO 3 — PROJETO PAISAGÍSTICO ............................................................... 125 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 125 2 TIPOLOGIAS: JARDINS, PARQUES E ESPAÇOS VERDES .............................. 125 3 ELABORAÇÃO DE PROJETOS .........................................................................128 4 ANTEPROJETO ................................................................................................ 129 5 PROJETO EXECUTIVO .....................................................................................130 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................133 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................138 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 139 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 141 UNIDADE 3 — VEGETAÇÃO NA PAISAGEM ........................................................143 TÓPICO 1 — PARQUES E JARDINS: ASPECTOS GERAIS ...................................145 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................145 2 PLANEJAMENTO .............................................................................................145 3 IMPLANTAÇÃO .................................................................................................149 3.1 ETAPAS DA IMPLANTAÇÃO ........................................................................................... 154 4 MANEJO ........................................................................................................... 162 4.1 TÉCNICAS DE MANEJO .................................................................................................. 163 4.2 PODA .................................................................................................................................. 164 4.2.1 Reação das árvores à poda .................................................................................. 165 4.2.2 Tipos de podas ....................................................................................................... 166 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................168 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 169 TÓPICO 2 — ARBORIZAÇÃO URBANA .................................................................171 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................171 2 IMPORTÂNCIA ...................................................................................................171 3 CONFORTO AMBIENTAL .................................................................................. 173 4 CLASSIFICAÇÃO DA VEGETAÇÃO URBANA ................................................... 178 4.1 FATORES QUE AFETAM O DESENVOLVIMENTO DAS .............................................. 180 ÁRVORES INSERIDAS NO MEIO URBANO ........................................................................ 180 5 SELEÇÃO DE ESPÉCIES PARA ARBORIZAÇÃO URBANA .............................. 181 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................185 AUTOATIVIDADE .................................................................................................186 TÓPICO 3 — LEGISLAÇÃO ...................................................................................189 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................189 2 LEIS E NORMAS ................................................................................................189 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................ 195 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................ 199 AUTOATIVIDADE ................................................................................................ 200 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 203 1 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À FLORICULTURA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer a cadeia produtiva de flores e plantas ornamentais; • compreender os aspectos agronômicos relevantes das espécies vegetais passíveis de uso em projetos paisagísticos; • identificar as principais espécies ornamentais; • reconhecer as técnicas de propagação, cultivo e manejo de espécies de flores e plantas ornamentais de maior interesse econômico; • avaliar os aspectos da pós-colheita de flores de corte. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – ASPECTOS ECONÔMICOS E PERSPECTIVAS DO MERCADO DE FLORES TÓPICO 2 – CULTIVO E MANEJO DE FLORES E PLANTAS ORNAMENTAIS TÓPICO 3 – FLORES E PLANTAS ORNAMENTAIS TÓPICO 4 – COLHEITA, PÓS-COLHEITA, ARMAZENAMENTO E COMERCIALIZAÇÃO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 ASPECTOS ECONÔMICOS E PERSPECTIVAS DO MERCADO DE FLORES TÓPICO 1 — UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A floricultura é o ramo da agricultura dedicado ao cultivo comercial de flores e plantas ornamentais. Por seu processo produtivo assemelhar-se ao de plantas hortícolas e medicinais, também é chamada de horticultura ornamental. Dentre os produtos comercializados temos as flores de corte, desidratadas, envasadas, folhagens de corte, de interior, mudas de jardins, mudas para arborização urbana e gramados. Essa é uma área de grande importância seja do ponto de vista comercial e social. A diversidade de climas e solos do Brasil contribui para a expansão do setor com o cultivo de flores e plantas ornamentais diversas, sejam elas nativas ou exóticas que podem ser adaptadas. Do ponto de vista social, a produção de flores e plantas ornamentais contribui para a melhor distribuição de renda, pois os números alcançados por esse mercado atraem os pequenos produtores. O mercado de flores e plantas ornamentais possui alta sazonalidade, atingindo picos de venda em datas comemorativas como Dia das Mães, Namorados e Finados, no entanto, ele é dinâmico, pois os consumidores estão sempre em busca de novidades. Para melhor classificar os segmentos da produção de flores e plantas ornamentais no Brasil, utilizaremos a seguinte divisão: flores de corte, flores de vaso, sementes, plantas de interiores, plantas de paisagismo e folhagens. A produção de plantas ornamentais é uma atividade dinâmica, para a qual se deve estar atento tanto aos aspectos fitossanitários das espécies cultivadas, preservando a qualidade e a estética do produto, quanto às novas tecnologias que surgem e que podem ser utilizadas no setor, de forma a se manter sempre atualizado. A seguir veremos os números alcançados por este setor. 4 2 SITUAÇÃO DA FLORICULTURA NO CONTEXTO MUNDIAL E NACIONAL Estima-se que a área mundial plantada com flores e plantas ornamentais ultrapasse 1,7 milhões de hectares e que movimentam valores acima de 109 bilhões de dólares. As flores de corte (frescas e secas) representam o principal produto exportado, devido às exigências sanitárias que restringem a exportação de plantas com raízes e solo. Em 2020, o comérciode flores de corte atingiu valores acima de 8 bilhões de dólares. A perspectiva de crescimento do setor de floricultura e plantas ornamentais é de 6,3% até 2024. Isso demonstra o quanto esse mercado continua em ascensão, apesar da crise do COVID-19 no período de 2020-2021 que reduziu o consumo. Segundo da OEC (2022), os cinco maiores exportadores mundiais foram Holanda (US$ 4,01 bilhões), Colômbia (US$ 1,42 bilhão), Equador (US$ 835 milhões), Quênia (US$ 596 milhões) e Etiópia (US$ 191 milhões), no ano de 2020. E os cinco maiores importadores para o mesmo ano foram Estados Unidos (US$ 1,68 bilhão), Alemanha (US$ 1,26 bilhão), Reino Unido (US$ 832 milhões), Holanda (US$ 830 milhões) e Rússia (US$ 559 milhões). As flores mais populares no comércio global são rosas, crisântemos, tulipas e lírios. No Brasil, a área ocupada pela floricultura representa cerca de 15.600 ha, onde são cultivadas 2.500 espécies e aproximadamente 17.500 variedades. O setor é bilionário, com cifras acima de R$10 bilhões, segundo dados da Ibraflor (2022) – Instituto Brasileiro de Floricultura – responsável por representar e promover a cadeia produtiva da floricultura no país. Entre os segmentos do setor destacam-se decoração, autosserviço, paisagismo e floricultura como os mais lucrativos, respondendo por cerca de 88% do faturamento. De toda a produção, 97,5% é absorvido pelo mercado interno, o restante é exportado para países como Estados Unidos, Uruguai e Holanda. O Estado que mais produz flores no Brasil é São Paulo, seguido por Minas Gerais, Ceará, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Entre as espécies destacam-se rosas, crisântemos, orquídeas, kalanchoes (flor da fortuna) e antúrios. Assista a uma reportagem sobre o comércio de flores. Acesse o vídeo em: http://twixar.me/j0Mm DICA 5 3 IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE NO BRASIL O setor de flores e plantas ornamentais apresenta-se em crescimento constante, com uma geração de empregos que chega a 209.000 pessoas envolvidas. O modelo de produção segue o da agricultura familiar, uma vez que a maior parte das áreas produtoras pertencem a pequenos produtores. O tamanho médio das propriedades é 1,88 ha. Estima-se que, a cada hectare cultivado para horticultura ornamental sejam criados oito empregos diretos. Segundo Terra e Züge (2013, p. 2): A função social da floricultura refere-se à utilização de pequenas propriedades rurais, que muitas vezes são consideradas impróprias para outras atividades agropecuárias, sendo uma alternativa para o pequeno produtor, oferecendo a possibilidade de fixar o homem do campo à zona rural, reduzindo o êxodo rural, assim como permite que a atividade seja familiar, por empregar pessoas de ambos os sexos e de todas as idades. Além disso, possui alta rentabilidade, as espécies cultivadas possuem crescimento rápido e podem ser cultivadas em áreas menores do que aquelas utilizadas pela agricultura alimentar. Os produtos têm faturamento superior àqueles alcançados por produtos alimentares, e isso gera uma receita significativa. Também é uma atividade que atrai as mulheres, seja na produção ou na comercialização, de forma a se tornar a atividade principal da propriedade ou complementar a renda com a participação das mulheres no campo. As mulheres são mais requeridas na área de cultivo de flores por ser uma atividade que exige maior delicadeza, principalmente, na colheita, já que se trata de um produto considerado frágil, e, nesse caso, considera-se que as mulheres possuem mais tato. 4 CADEIA PRODUTIVA DE FLORES E PLANTAS ORNAMENTAIS A cadeia produtiva constitui um ciclo que pode iniciar com a produção dos insumos que serão utilizados até chegar ao produto final. É composta por produtores, distribuidores, varejistas e consumidores. Dessa forma, podemos dividir os aspectos da produção em três elos: antes do campo, no campo e depois do campo. O primeiro elo, antes do campo, envolve toda a produção de insumos necessários para a atividade ser praticada. Estamos falando de mudas, sementes e bulbos, substratos, adubos e fertilizantes, defensivos, equipamentos e estruturas que são fundamentais para o trabalho no campo. 6 As empresas que atuam nessa fase podem ser divididas em dois tipos: as que fornecem insumo e as que fornecem equipamento e investimento essenciais. O primeiro tipo é caracterizado pela perecibilidade do material fornecido, que normalmente não é reaproveitado por mais de um ano, sendo consumido durante a ou as safras do ano agrícola em vigor. O segundo tipo apresenta materiais que podem ser utilizados por mais tempo, cerca de três anos, assim são reaproveitados em várias safras, dependendo da espécie cultivada, no entanto, para sua durabilidade, é preciso realizar atividades de manutenção. O segundo elo da cadeia produtiva de flores e plantas ornamentais corresponde às atividades praticadas no campo para a produção, como: preparo do solo, aplicação de calcário, adubação, semeio ou plantio das mudas, tratos culturais, colheita, pós- colheita, armazenamento e transporte. Nesta etapa, a eficiência das atividades desenvolvidas pode ser medida pela produtividade ou rendimento da cultura e pela produtividade dos fatores de produção, ou seja, o quanto foi alcançado em relação ao que foi utilizado para gerar o produto. Outro índice importante é o da qualidade dos produtos. Os produtores podem estar organizados em cooperativas, geralmente, atendem a atacadistas e varejistas, essa organização proporciona que haja maior controle das informações e, também, maior alcance tecnológico para a produção, como melhor precificação para a compra de materiais, insumos e venda da produção. Há também os que atuam em centrais de abastecimento públicas ou privadas, que muitas vezes compram a produção de vizinhos para ter maior volume de produtos e aumentar o faturamento de suas vendas. O terceiro grupo são os produtores independentes que possuem menor acesso ao uso de tecnologia para a produção e maior dificuldade na gestão do negócio. O terceiro elo, depois do campo, é representado pelas etapas de comercialização e logística, que têm por objetivo a distribuição do produto entre três mercados destino: varejo, atacado e consumidor final. A forma como os produtores estão organizados pode influenciar em como essa distribuição ocorre. Acerca de como o comércio varejista está dividido o Sebrae (2015, p. 33) apresenta o seguinte: O setor varejista brasileiro de distribuição de flores e plantas orna- mentais compõe-se de diferentes modalidades de empreendimentos, que podem ser classificados, de uma maneira geral, em três diferentes categorias, a saber: a) equipamentos e agentes tradicionais; b) autosserviço e c) comércio eletrônico. No grupo dos equipamentos e agentes tradicionais, incluem-se as floriculturas, lojas de plantas e acessórios, feiras livres e vendedores ambulantes. Já o grupamento do autosserviço agrega os super e hipermercados e os garden centers. Finalmente, o comércio eletrônico inclui as lojas de varejo virtual especializadas nas vendas de flores e plantas, acompanhamentos e produtos afins. 7 O setor atacadista também pode estar dividido em alguns formatos (SEBRAE, 2015): • Leilão Neste sistema, é possível manter a qualidade do produto porque um maior volume é vendido em um curto tempo, além disso, os preços alcançados são considerados mais justos. • Contratos de intermediação (formais e informais) Neste sistema, são fechados contratos que podem ser de curto, médio ou longo prazo entre quem produz e quem distribui, de forma que existe uma espécie de garantia, tanto para o produtor, que pode programar as atividades de produção, quanto para o distribuidor que pode fixar os preços do produto no decorrer do ano. • Comercialização virtual Neste sistema, os produtores disponibilizaminformações acerca da quantidade, qualidade, preço e prazo de entrega de seus produtos, e os interessados têm acesso a essas informações para a tomada de decisão por meio da internet ou de terminais fixos. • Centrais de abastecimento S/A (Ceasas) Trata-se do sistema mais antigo e tradicional, em que os próprios produtores oferecem sua produção diretamente para os clientes, sejam eles, varejistas, atacadistas ou o consumidor final. • Centrais de distribuição e comercialização de flores e plantas ornamentais Em locais onde não há centrais de abastecimento, este tipo de central é utilizado para suprir a necessidade de estruturas próprias para o setor na comercialização atacadista, pode ser implantado e gerido tanto pela iniciativa pública quanto privada. • Centrais atacadistas privadas Geralmente, compostos por sócios e operadas pela iniciativa privada, com o objetivo de escoar a produção de floricultores que estão fora dos demais formatos de atacados mencionados anteriormente. Os produtos cultivados podem ser categorizados em três segmentos distintos: plantas ornamentais para paisagismo e jardinagem, flores e folhagem de corte, e flores e plantas em vasos. Dentro da cadeia produtiva de flores e plantas ornamentais, o setor de serviços tem destaque por utilizar esses produtos como insumos para suas atividades. Entre os principais empreendimentos podemos citar: a) decoradores e artistas florais; b) funerárias; e c) paisagistas e jardineiros profissionais. Com relação ao consumidor final, o qual pode adquirir o produto por meio de algum dos agentes da cadeia ou diretamente do produtor, a relação com esse setor ocorre de acordo com a renda, conjuntura econômica, classe social e fatores de gênero. 8 FIGURA 1– FLUXOGRAMA DAS ATIVIDADES NA CADEIA DE FLORES E PLANTAS ORNAMENTAIS Textos- Rubik Light (tamanho 10 espaçamento 14) Títulos- -Títulos de primeira ordem são (Neo Sans - tam 15 - esp 18 - Caixa alta - Negrito) -Títulos de segunda ordem são (Neo Sans - tam 15 - esp 18 - Caixa alta - regular) -Títulos de terceira ordem são (Neo Sans - tam 15 - esp 18 - Apenas a primeira letra em maiúsculo - regular) Setor de Insumos Produção Mercado Interno Exportações Atacado Cooperativas, Centrais de abastecimento, Centrais privadas Distribuidores/ Intermediários Vendas diretas Varejo Setor de serviços Tradicional, Autosserviço ou Comércio eletrônico Consumidor final Decoração, Paisagismo, Setor funerário FONTE: a autora 9 Neste tópico, você aprendeu: • O setor de floricultura está inserido na agricultura como um ramo da horticultura, devido às práticas de cultivo serem muito semelhantes. • Se trata de um setor bilionário e que tem importância mundial. Que está em expansão e com chances de alcançar números cada vez maiores. • Você pode observar que a atividade é desenvolvida, em grande, parte por pequenos e médios produtores que atuam em cooperativas ou mesmo sozinhos. • O desenvolvimento da atividade não exige grandes áreas e por isso pode ser implantado na agricultura familiar, o que pode gerar uma renda extra para os agricultores. • A cadeia produtiva envolve diversos atores como em outras culturas, no entanto, no caso de flores e plantas ornamentais, diferencia-se por serem mais requeridas em certas datas comemorativas, quando há maior procura e, portanto, os atores envolvidos precisam ter maior organização para que não haja falta do produto. RESUMO DO TÓPICO 1 10 1 O cultivo de flores e plantas ornamentais estão inseridos na agricultura como uma parte da horticultura que movimenta um mercado bilionário tanto externa como internamente, de forma que a cada ano ganha mais importância. Sobre esse mercado, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) A horticultura ornamental envolve o cultivo de flores, plantas ornamentais e hortaliças. ( ) O mercado de flores e plantas ornamentais possui vendas durante todo o ano, mas o pico de vendas acontece no período de datas comemorativas como dia das mães e dos namorados. ( ) A exportação principal de produtos ornamentais são as flores e folhagens envasadas. ( ) A Holanda é um país que tanto exporta como também importa flores. ( ) São Paulo é o Estado responsável pela maior parte da produção brasileira de flores e plantas ornamentais. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) F – V – F – V – V. b) ( ) V – V – F – F – V. c) ( ) F – F – V – V – F. d) ( ) V – F – V – F – F. 2 A produção de flores e plantas ornamentais envolve diversos agentes, que estão presentes antes mesmo de iniciar o cultivo das plantas, e participam das demais etapas até que o produto chegue ao consumidor final. Sobre a produção comercial de flores e plantas ornamentais, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) A produção de flores e plantas ornamentais no Brasil ocorre em áreas pequenas menores que 2 ha. ( ) Os produtos da horticultura ornamental podem atingir valores muito superiores aos produtos da agricultura alimentar. ( ) A cadeia produtiva de flores ornamentais é composta somente por produtores e consumidor final. ( ) O primeiro elo da cadeia produtiva corresponde ao setor de insumos, o segundo elo à produção e o terceiro elo à comercialização do produto. ( ) O setor de varejo inclui floriculturas, supermercados e o comércio eletrônico. AUTOATIVIDADE 11 Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) F – F – V – F – F. b) ( ) F – V – F – V – F. c) ( ) V – V – F – V – V. d) ( ) V – F – V – F – V. 3 No mercado de venda dos produtos ornamentais, a comercialização pode ser feita tanto a nível varejista como atacadista. Assinale a alternativa que contém apenas formatos do setor atacadista: a) ( ) Hipermercados e lojas de planta. b) ( ) Garden centers e leilão. c) ( ) Leilão e contrato de intermediação. d) ( ) Centrais de abastecimento e lojas de planta. 4 A atividade de produção de flores e plantas ornamentais representa uma área de grande importância para a agricultura brasileira. Dessa forma, é necessário conhecer os atores inseridos em cada elo da cadeia produtiva de flores. Cite em qual elo se encontram e quem são esses atores: 5 Os setores varejista e atacadista estão divididos em diferentes modalidades. Cite as modalidades de cada setor. 12 13 CULTIVO E MANEJO DE FLORES E PLANTAS ORNAMENTAIS UNIDADE 1 TÓPICO 2 — 1 INTRODUÇÃO Quando se deseja investir na produção de qualquer espécie de planta, alguns aspectos precisam ser observados. A decisão sobre a área de produção, quais substratos devem ser utilizados, como a adubação será realizada e qual sistema de irrigação melhor se adéqua, devendo levar em consideração a especificidade destes parâmetros para cada cultivo em particular, e assim obter o sucesso da produção. As espécies ornamentais possuem características que podem exigir maior grau de tecnicidade e conhecimento, o que pode tornar sua produção mais onerosa quando comparada às culturas cujo a finalidade é a alimentação. Nos subtópicos a seguir, serão apresentados parâmetros indispensáveis para a instalação de uma área de produção que proporcione a cultura os elementos necessários para o seu pleno e saudável desenvolvimento. 2 ÁREA DE PRODUÇÃO EM FLORICULTURA Para iniciar qualquer tipo de produção de plantas, é preciso estar atento a alguns pontos fundamentais. Em primeiro lugar, é necessário conhecer o ambiente de cultivo, o clima da região, o tipo de solo, o relevo, o nível de fertilidade do solo, a disponibilidade de água, o nível de conhecimento do produtor, dentre outros aspectos. As áreas de produção das plantas recebem o nome de viveiros, independentemente de serem ou não cobertos. Esses viveiros devem possuir estruturas anexas que atendam devidamente às necessidades da produção.De acordo com as informações obtidas sobre o local de produção, será possível definir as espécies que melhor se adéquam e que tipo de sistema produtivo será utilizado. A seguir, conheceremos três sistemas de produção: a campo aberto, sob telado e em ambiente protegido. 14 2.1 SISTEMA DE PRODUÇÃO A CAMPO ABERTO Neste sistema, o cultivo é semelhante ao que acontece no plantio de grandes culturas, como soja, trigo e milho. As plantas são conduzidas em campo aberto e ficam sujeitas aos fatores ambientais, como vento, chuva, incidência direta dos raios de sol, variações de temperatura e luminosidade excessiva ou insuficiente, e ao ataque de insetos. Não há controle sobre o que acontece com as plantas. Esse sistema pode ser utilizado para espécies menos exigentes, como plantas ornamentais, que serão utilizadas em jardins externos, por exemplo, já que essas plantas precisam apresentar rusticidade em relação às intempéries ambientais. O cultivo a céu aberto é mais barato porque não utiliza estruturas de proteção, no entanto, algumas espécies, quando cultivadas nesse sistema, podem perder qualidade. Dentre as espécies para a produção de flores de corte que se adaptam a esse tipo de sistema, temos o crisântemo (Dendranthema grandiflora T.). A espécie pode ser cultivada dessa forma no inverno, quando ocorrem menos chuvas, e em locais com ausência de geadas. Contudo, a luminosidade pode ser um fator limitante à produção, uma vez que nesse período os dias são mais curtos. Outra espécie é a gérbera (Gerbera jamesonii L.), que possui rusticidade e tolera solos secos, suportando melhor irregularidades no período chuvoso, no entanto, é necessário que as regas ocorram ao menos uma ou duas vezes por semana. Outras espécies que podem ser cultivadas a céu aberto, tomando-se os devidos cuidados com a época de plantio, são gladíolo (Gladiolus hortulanus L.), girassol de corte (Helianthus annuus L.), dália (Dahlia pinnata Cav.) e áster (Aster ericoides L.). Além dessas, algumas cultivares de rosa também podem ser cultivadas dessa forma. 2.2 SISTEMA DE PRODUÇÃO COM TELA DE SOMBREAMENTO Também chamadas de sombrite, as telas de sombreamento possuem a capacidade de restringir a quantidade de luz solar que chega às plantas e podem ser utilizadas em diversas atividades. Neste tipo de sistema, as plantas podem ser produzidas sob diferentes níveis de sombreamento, e as cores das telas são escolhidas de acordo com a necessidade. A coloração nas telas é utilizada com o objetivo de promover a filtração diferencial dos raios de sol que chegam às plantas, pois podem barrar ou estimular certos comprimentos de onda de acordo com a cor da tela utilizada. Algumas respostas fisiológicas das plantas, como o crescimento, atividades enzimáticas e acúmulo de nutrientes nos tecidos vegetais, são reguladas pela luz e, por isso, sofrem interferência das cores. 15 Esse produto é confeccionado com fios de polietileno de alta densidade, quanto maior a densidade maior o sombreamento, assim, quanto menor a densidade mais claro será o ambiente. O uso das telas de sombreamento protege as plantas do excesso de luz e calor nos períodos mais quentes, e do vento e poeira também nos períodos mais frios do ano. As telas permitem a passagem de ar, distribuem melhor a luminosidade e aumentam a umidade de forma regulada, visando à produção vegetal em um ambiente mais ameno. Além disso, protegem da incidência direta dos raios de sol que podem causar queima nas pétalas e de chuvas muito fortes que podem causar a queda dos botões florais pelo impacto das gotas. As densidades das telas encontradas no mercado variam de 30% a 90%, mas, na média, se utiliza para plantas densidades entre 50% e 70%, que permitem às plantas luz suficiente para que suas funções fisiológicas não sofram nenhum prejuízo. Plantas como Samambaias (Nephrolepis exaltata; Adiantum capillus-veneris; Polypodium persicifolium – e outras espécies), Azaleia (Rhododendron simsii P.) e Orquídeas (Cattleya Walkeriana; Ludisia discolor; Phalaenopsis – e outras espécies) são beneficiadas com o cultivo em áreas teladas. É importante ressaltar alguns conceitos importantes sobre a relação das plantas com a luminosidade. A quantidade de incidência da luz durante o dia, ou seja, a duração do dia é chamada de fotoperíodo, e a forma como as plantas respondem biologicamente às modificações que ocorrem na proporção de luz e escuridão durante um ciclo de 24 horas, recebe o nome de fotoperiodismo. Cada espécie possui um fotoperíodo crítico, que corresponde ao valor, em horas diárias, necessário de iluminação para provocar a floração. De acordo com esse fotoperiodismo as plantas podem ser classificadas em plantas de dias curtos (PDC), plantas de dias longos (PDL) e plantas de dias neutros (PDN). As espécies PDC são aquelas que florescem nas épocas do ano cujo fotoperíodo é inferior ao seu máximo fotoperíodo crítico, ou seja, os dias devem ter duração menor que a quantidade de horas em que a planta pode ficar exposta à luz, exemplo: crisântemo (Chrysanthemum spp. L.) e begônia (Begonia sp. L.). Já as espécies PDL florescem principalmente no verão, quando o fotoperíodo é igual ou superior ao seu fotoperíodo crítico, ou seja, os dias têm duração maior e há maior exposição à luz solar, exemplo: cravo (Syzygium aromaticum L.) e trevo-branco (Trifolium repens L.). E as espécies PDN são aquelas que não são afetadas pelo comprimento do dia, podendo florescer em uma ampla faixa de duração da luz (tomate e pepino). 16 2.3 SISTEMA DE PRODUÇÃO EM AMBIENTE PROTEGIDO Estufas são construções que proporcionam um ambiente protegido para as plantas, utilizando materiais diversos como madeira, bambu ou aço galvanizado, e cobertos com material plástico próprio para revestir toda a estrutura, que podem ser: polietileno (PE) de baixa densidade (PEBD) ou de alta densidade (PEAD), EVA (etileno-vinil-acetato), PVC (policloreto de vinila), PMM (Polimetacrilato de metil), policarbonato e vidro. Algumas plantas, para se desenvolverem de forma mais produtiva, necessitam de um ambiente controlado. Neste caso, as estufas atuam proporcionando condições microclimáticas que permitem a entrada da luminosidade, regulam a temperatura e a umidade e, protegem as plantas do vento, chuva e da entrada de insetos. Nas estufas, podem, ou não, serem instalados equipamentos para a climatização e irrigação das plantas. Quando a estufa é climatizada, existe um controle sobre as variáveis do clima, como, temperatura, umidade, radiação e CO2. Para isso, são utilizados, em geral, equipamentos automatizados. O controle das variáveis é feito com a instalação de materiais e/ou equipamentos que variam de acordo com o objetivo. No caso da luminosidade, dependendo da espécie, as opções podem ser telas ou filmes plásticos desde transparentes até translúcidos. O uso de telas de sombreamento no interior da estufa ou, até mesmo, o uso de luz artificial em culturas sensíveis ao fotoperiodismo e que possuem alto valor agregado. Para o controle da temperatura deve ser instalado um termômetro no centro da estufa, que mede a temperatura máxima e a mínima, e que não fique exposto diretamente à luz solar. Para que a temperatura se mantenha dentro do desejado, é preciso conhecer as necessidades fisiológicas da espécie que será cultivada, e, assim, montar uma estrutura que possibilite manter as condições favoráveis. A umidade pode ser verificada utilizando um higrômetro, instalado junto ao termômetro. Existem aparelhos que fazem as duas leituras, denominados de termo- higrômetros. De modo geral, a umidade exerce uma relação inversa com temperatura, ou seja, reduz durante o dia quando a temperatura é mais alta, e aumenta durante a noite, quando a temperatura reduz. A ventilação pode interferirna umidade, seja para aumentá-la ou reduzi-la. Em ambientes climatizados utilizam-se exaustores e ventiladores para renovar o ar dentro do ambiente. 17 As estufas não climatizadas são estruturas construídas com o objetivo de promover a proteção das plantas contra a incidência de chuvas fortes, ao mesmo tempo que é feito o controle da luminosidade e da umidade internamente. No entanto, a temperatura sofre influência dos fatores externos e, consequentemente, a umidade também varia. Essa estrutura tem menor custo de instalação e manutenção, entretanto, devido à estrutura ser aberta e haver variações internas em função do reduzido controle das condições ambientais, as plantas estão mais sujeitas à ocorrência de pragas e doenças. A utilização de estufas climatizadas ou não climatizadas para a produção de flores e plantas ornamentais possibilitam ao produtor cultivar também em períodos de entressafra. A escolha de qual tipo depende do nível de exigência da espécie cultivada e dos recursos de que o produtor dispõe. Plantas como amor-perfeito (Viola tricolor L.), antúrio (Anthurium andraeanum L.), begônia (Begonia elatior L.), crisântemo (Chrysanthemum morifolium L.) e lírio-da- paz (Spathiphyllum L.) são exemplos de espécies que respondem melhor em ambiente protegido. As estruturas básicas, para que uma área de produção possa iniciar sua operação são: estradas, poço semiartesiano, energia elétrica, topografia plana (relevo) e quebra-vento. As estruturas de produção são as estufas de produção, depósitos para insumos, bandejas e equipamentos, câmara de germinação, reservatórios de água, galpões para semeadura, desinfecção e lavagem de bandejas. E não menos importante, as estruturas de apoio, escritório, laboratórios, estufas para pesquisa, cozinha com refeitório, banheiros, vestiários e locais para destinação e tratamento do lixo. Conheça mais sobre a construção de estufas. Acesse o site: http://twixar. me/V0Mm. DICA 18 3 TIPOS DE SUBSTRATOS PARA AS PLANTAS Podemos definir o substrato como qualquer material, seja de um único tipo ou uma mistura com propriedades que permitem o desenvolvimento e a estruturação das raízes e da parte aérea das plântulas em um recipiente com volume limitado. Os substratos podem ser divididos em quatro tipos, de acordo com sua origem (SENAR, 2017): • Naturais – são os materiais encontrados na natureza como serrapilheira, turfa, areia, pedras, conchas. • Sintéticos – são materiais industrializados a partir de elementos químicos. Poliestirenos (isopor), poliuretanos (espuma), lã de vidro. • Minerais – são materiais industrializados a partir de elementos minerais. Vermiculita, perlita, argila expandida, pedra-pomes. • Orgânicos – são materiais que se decompõem com o passar do tempo, devido a sua origem orgânica. Estercos e vermicompostos, resíduos de madeira, de folhas, de cascas de árvores e de frutos (cascas de arroz, cascas de coco, folhas de carnaubeiras, casca de pinos). Segundo Bunt (1961), é necessário fazer algumas considerações acerca das alterações que ocorrem na relação entre a raiz e o substrato, devido ao uso de vasos ou outros recipientes: • O pequeno volume do vaso leva a uma alta concentração de raízes, consequentemente, ocorre maior demanda em relação à taxa de fornecimento de oxigênio e remoção de dióxido de carbono, isso significa que há necessidade que o substrato apresente porosidade suficiente para a realização das trocas gasosas. • A grande quantidade de água necessária para sustentar as altas taxas de crescimento deve estar disponível em um volume muito restrito. O substrato deve possuir capacidade de reter a água e liberá-la, de acordo com a demanda. • A pouca profundidade do recipiente dificulta a drenagem com risco de encharcamento. O material escolhido deve ser permeável para evitar o excesso no acúmulo de água. • A alta frequência de rega torna o substrato sujeito à lixiviação. Dessa forma, podem ocorrer a perda dos nutrientes adicionados. As propriedades químicas, físicas e biológicas dos substratos podem influenciar o processo inicial para obtenção de mudas, seja pela germinação, seja pelo enraizamento de estacas e, por isso, é preciso ter atenção quanto à escolha dos materiais que serão utilizados. Um bom substrato deve equilibrar a quantidade de água e oxigênio presente no recipiente onde a semente será depositada, para germinar e possuir uma quantidade de nutrientes onde a plântula se desenvolva em boas condições para, posteriormente, ser transplantada. 19 Essas características consistem em propriedades conhecidas e constantes. As propriedades químicas são capacidade de troca de cátions (CTC), teor total de sais solúveis (TTSS), pH, teor percentual de matéria orgânica, condutividade elétrica (CE) e nutrientes disponíveis e as propriedades físicas são densidade seca, porosidade total, capacidade de retenção de água a 10 cm (CRA10), espaço de aeração (EA), drenagem e economia hídrica. As características biológicas se referem à ausência de patógenos, pragas e propágulos de plantas daninhas. TABELA 1 – RESUMO DAS PRINCIPAIS PROPRIEDADES DOS SUBSTRATOS Propriedade Conceito Obtenção Valores recomenda- dos Capacidade de troca de cátions (CTC) Representa a capacidade do substrato em absorver e trocar cátions. Ca²+Mg²+ K+ + H++Al3+ Quanto maior a CTC, maior a disponibilidade de nutrientes. pH Determina o nível de acidez ou alcalinidade do meio. Obtido por medi- ção direta com o uso de phmetro (peagâmetro). Varia de 0 a 14. Material orgânico pre- dominante – 5,5 a 6,5; Material mineral predo- minante – 6,0 a 7,0. Teor percentual de matéria orgânica A matéria orgânica melhora as proprieda- des químicas e físicas dos substratos. Existem algumas metodologias que determinam o valor de carbono orgânico e, a par- tir disso, o teor de matéria orgânica. Varia com a espécie. Condutividade elétrica (CE) Mede a facilidade do extrato em conduzir corrente elétrica em função da quantidade de solutos iônicos (sais) presentes na solução. Obtido por medi- ção direta com o uso de conduti- vímetro. Pode ser expressa em dS m-1, mS cm-1 ou µS cm-1. Na literatura há uma grande variação dos valores de condutividade, o que indica que a tolerância pode mudar de acordo com as condições de cultivo. Densidade seca Consiste na relação entre a massa seca e o volume do substrato. Ds = densidade seca (kg /m3 ou g/L); mS = massa do substrato (kg ou g); vS = volume do substrato (m3 ou L). Células e bandejas – 100 a 300 kg/m3; Vasos até 15 cm de altura - 200 a 400 kg/ m3; Vasos de 20 a 30 cm de altura - 300 a 500 kg/m3; Vasos acima de 30 cm de altura - 500 a 800 kg/m3. 20 Porosidade total Proporção de volume de solo ou substra- to não ocupado por partículas sólidas, tem influência sobre o volume de ar e água presente no solo. Pt = porosidade total (%); Ds = densidade seca (kg /m3); Dp = densidade de partículas (kg /m3); 85% Obs.: Dp Partículas minerais – 2,65 g cm-3 Partículas orgânicas - 1,45 g cm-3 Capacidade de retenção de água a 10 cm (CRA10) Quantidade de água retida no substrato quando submetido a 10 cm de sucção. Depois de satu- rado por 24 h, o substrato é sub- metido em uma mesa de tensão ajustada para 10 cm de coluna de água (10 hPa), por cerca de 48 h. Após esse tempo, é retirado, pesado e seco em estufa a 65 °C, por cerca de 48 h ou até obter massa constante. Espaço de aeração (EA) É o inverso da capaci- dade de retenção, cor- responde ao volume de ar presente, após a água ser liberada na tensão de 10 hPa. β = espaço de aeração (m3 m-3); Pt = porosidade total (m3 m-3); V10 = volume de água retida na tensão de 10 hPa (m3 m-3). 20 a 40% FONTE: a autora É também esperado que os substratos sejam um meio estérile que não sofram alterações físicas e/ou químicas no decorrer do cultivo. Além disso, quando submetidos à esterilização ou ao armazenamento, que sejam facilmente encontrados próximos aos centros produtores, manuseáveis, disponíveis em grandes quantidades, não onerem os custos da produção, que se adéquem ao cultivo de várias espécies e promovam boa agregação às raízes. Os principais problemas relacionados ao uso de substratos podem ser evitados com uma escolha consciente sobre os materiais usados, assim, se você conhece as propriedades do material que será utilizado, é possível que sua produção tenha maior êxito. 21 Entre os problemas, podemos citar aqueles relacionados às questões hídricas. O substrato deve ter boa capacidade de retenção de água e mantê-la facilmente disponível para as plantas, o excesso de água pode reduzir a concentração de oxigênio e comprometer o crescimento das raízes, além do risco de podridões na base do caule pela maior incidência de doenças. O tamanho das partículas e a alta densidade e pouca estabilidade podem resultar em compactação, que reduz a drenagem e a porosidade e, com isso, o espaço de aeração, afetando diretamente no crescimento das raízes que ocorre mais lentamente, isso significa que haverá comprometimento na absorção de nutrientes e, por sua vez, no desenvolvimento das plantas. O pH deve estar dentro da faixa ideal para a espécie cultivada. Em geral, quando predomina matéria orgânica, a recomendação é que esteja entre 5,5 e 6,5, e quando predomina material mineral, entre 6,0 e 7,0. Valores muito alcalinos ou muito ácidos, considerando esses intervalos, influenciam na absorção de nutrientes e causam desequilíbrios fisiológicos. O teor de sais reduz o potencial osmótico da planta, que irá precisar gastar mais reservas para absorver água em um meio salino. Algumas espécies possuem maior tolerância ao ambiente salino, no entanto, o estresse causado promove o fechamento de estômatos, o que reduz a fotossíntese e a translocação dos nutrientes absorvidos pelas raízes. A tolerância, em relação ao teor total de sais solúveis presentes no substrato, divide as plantas ornamentais em três grupos: plantas sensíveis (< 1,00 g L-1), entre as espécies temos azaléa, avenca, érica, antúrio, gardênia, amor-perfeito e impatiens; plantas medianamente sensíveis (1,00 – 2,00 g L-1), são elas: gérbera, gloxínia, cíclame, afelandra e rosa; e plantas resistentes (2,00 – 3,00 g L-1) como gerânio, crisântemo, aspargo, petúnia, lobularia, poinsetia, hortênsia e lobélia. 22 TABELA 2 – SUBSTRATOS ESPECÍFICOS PARA PRODUÇÃO DE PLANTAS ORNAMENTAIS Materiais Sementeiras Turfas, compostos orgânicos, casca-de-arroz carbonizada, cascas de árvores, vermiculita e perlita. Enraizamento Casca-de-arroz carbonizada, vermiculita, areia e espuma fenólica. Produção/Crescimento Orquídeas e bromélias Epífitas: cascas de árvores (pinus) não compostadas e não desintegradas; cascas de acácia, fibra de coco e turfa fibrosa. Terrestres: composto, areia e cascas de árvores compostadas. Cactáceas e suculentas Areia, composto orgânico, turfa, perlita e vermiculita. Floríferas em vaso a) azaleias e éricas Turfa, areia, cascas de árvores e acículas de conífera. b) violetas e gloxínias Cascas de árvores compostadas ou trituradas, composto orgânico, fibra de coco, perlita, vermiculita e turfa. c) ciclâmen Areia, cascas de árvores, composto orgânico e turfa. d) kalanchoe Areia, cascas de árvores, composto orgânico e turfa. e) crisântemo Areia, cascas de árvores, casca de arroz carbonizada, compostos orgânicos, fibra de coco, perlita e turfa. f) impatiens Cascas compostadas ou trituradas e casca de arroz carbonizada, fibra de coco, perlita e turfa. Folhagens de interior Caladium, Anthurium, Monstera, Philodendron e samambaias Areia, cascas de árvores (pinus, acácia), compostos orgânicos, fibra de coco e turfas fibrosas. Árvores e arvoretas Areia, composto orgânico, cascas de árvores e estercos. FONTE: Adaptada de Petry (2008) Aprenda mais sobre substratos. Acesse o site: http://twixar.me/20Mm. DICA 23 4 ADUBAÇÃO As plantas são seres autotróficos, ou seja, produzem seu próprio alimento através da fotossíntese. No entanto, para que esse processo funcione, elas necessitam de suprimento contínuo dos nutrientes essenciais para desempenhar suas atividades metabólicas. Ao todo, são 16 nutrientes considerados essenciais para as plantas. Três deles são obtidos pela água ou pelo ar, no caso, hidrogênio, oxigênio e carbono. Os demais são divididos em dois grupos em relação à quantidade exigida pelas plantas. Os macronutrientes são exigidos em maior quantidade. São eles nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre. Já os micronutrientes são exigidos em menor quantidade pela planta, sendo eles o ferro, zinco, boro, manganês, cobre, molibdênio e cloro. Mesmo variando a quantidade exigida de cada nutriente, é importante saber que a falta ou o excesso de qualquer nutriente, seja ele macro ou micro, provocam disfunções metabólicas na planta, que podem interferir na absorção de outros nutrientes, atrasar as fases do ciclo fenológico, deixar a planta susceptível ao ataque de pragas e doenças, provocar deformações, dentre outras disfunções. Para que as plantas possam absorver os nutrientes, estes devem ser encontrados em formas disponíveis e assimiláveis na solução do solo. Portanto, é necessário estar atento e realizar análises periódicas do meio onde se encontram as plantas para evitar problemas. A adubação consiste em fornecer nutrientes às plantas pela adição dos elementos ao solo para a complementação daquilo que a planta exige, considerando o que pode ficar retido ou possa ser perdido. É preciso, então, que haja uma análise do solo ou substrato e, também, conhecer as necessidades nutricionais da espécie escolhida, para a devida aplicação do adubo. Além da análise do solo, para quantificar os elementos que estão em falta, existem fatores como pH e a CTC que podem influenciar na disponibilidade e na absorção dos nutrientes. Dessa forma, é necessário que se faça a correção do solo com o uso do calcário. Esta prática, conhecida como calagem, reduz o pH do solo, fornece dois nutrientes essenciais para as plantas que são o cálcio e o magnésio, aumenta a disponibilidade dos outros nutrientes, reduz problemas de toxicidade causados por alumínio, manganês e ferro, em consequência disso, a produtividade da cultura melhora. Os adubos podem ser de origem orgânica (restos vegetais ou animais) ou de origem mineral (químicos), também podem ser organominerais (combinação dos dois tipos). Os adubos orgânicos utilizam materiais que seriam descartados, são ricos em vários nutrientes, influenciam de forma muito positiva nas propriedades químicas e físicas do solo como na estrutura e na retenção de água. No entanto, existe uma dificuldade na quantificação dos nutrientes disponíveis, que pode ser muito variável em função da origem do composto orgânico. 24 TABELA 3 – COMPOSIÇÃO DE ALGUNS ADUBOS ORGÂNICOS COM BASE NA MATÉRIA SECA Adubo MO N P2O5 K2O C/N % Bagaço de cana-de-acúcar 71,4 1,0 0,2 0,9 37/1 Bagaço de cevada 95,0 5,1 1,3 0,1 10/1 Borra de café 90,4 2,3 0,4 1,2 22/1 Cascas de arroz 54,5 0,8 0,6 0,5 39/1 Esterco bovino 57 1,7 0,9 1,4 32/1 Esterco de aves 50 3,0 3,0 2,0 11/1 Esterco de suínos 53 1,9 0,7 0,4 16/1 Folhas de mandioca 91,6 4,3 0,7 - 12/1 Penas de galinha 88,2 13,5 0,5 0,3 4/1 Sabugos de milho 45,2 0,5 0,2 0,9 101/1 Serrapilheira 30,7 1,0 0,1 0,2 17/1 Serragem de madeira 93,4 0,1 traços traços 865/1 Torta de coco 94,5 4,3 2,4 3,1 11/1 Torta de mamona 92,2 5,4 1,9 1,5 10/1 MO – matéria orgânica. N – Nitrogênio. P2O5 – Fósforo. K2O – Potássio. C/N – relação carbono/nitrogênio. FONTE: Adaptado de Kiehl, 1985 e Ribeiro,Guimarães e Alvarez (1999) Os adubos minerais são preferidos por disponibilizarem, de forma imediata, os nutrientes para as plantas, no entanto, são, muitas vezes, responsáveis por encarecer os custos da produção. TABELA 4 – PRODUTOS COMERCIAIS UTILIZADOS PARA A ADUBAÇÃO DE MACRONUTRIENTES Produto N P2O5 K2O CaO MgO S % Sulfato de amônio 21 Ureia 45 Salitre do chile 16 Nitrato de amônio 33 Nitrato de cálcio (F) 15,5 Nitromag (F) 26 Nitrato de magnésio (F) 11 Fosfato monoamônico (MAP) (F) 11 61 Magnum – P44 (F) 18 44 25 FertiCare (F) 13 44 Superfosfato simples 18 25 28 12 Superfosfato triplo 45 Fosfato de Araxá 30 Fosfato natural de Arad 33 37 Fosfato natural de Gafsa 29 36 36 Fosfato monopotássico (F) 51 33 Kemifos PK (F) 30 20 Cloreto de potássio 60 Sulfato de potássio (F) 50 18 Sulfato de potássio e magnésio 20 18 22 Calcário dolomítico 30 20 Calcário calcítico 45 Cal hidratada 46 53 (F) – O produto pode ser aplicado via fertirrigação. N – Nitrogênio. P2O5 – Fósforo. K2O – Potássio. CaO – Cálcio. MgO – Magnésio. S – Enxofre. FONTE: Adaptado de Segovia (2020) Os micronutrientes, muitas vezes, estão disponíveis em quantidades suficientes no solo, mas alguns elementos são disponibilizados indiretamente quando realizada a fertilização com macronutrientes, é o caso do cloro quando se utiliza o cloreto de potássio como fonte de potássio. No entanto existem alguns produtos comerciais que podem ser utilizados como o ácido bórico (boro), óxido de cobre (cobre), sulfato férrico (ferro), óxido manganoso (manganês), óxido de molibdênio (molibdênio) e óxido de zinco (zinco). A primeira adubação é chamada de adubação de base, realizada no preparo do solo, após a correção, ou no preparo do substrato. Neste caso, os nutrientes são fornecidos para permitir que, após a germinação, as mudas tenham um desenvolvimento mais rápido e possam manter o vigor. Caso a opção seja por produtos de liberação lenta, normalmente não serão necessárias adubações complementares, de acordo com a ação do produto e o ciclo da espécie cultivada. Caso a adubação seja feita da forma tradicional, é provável que os nutrientes necessitem ser repostos devido ao esgotamento no decorrer do ciclo da planta. As recomendações para a adubação variam em relação à espécie, ao ciclo e ao meio de cultivo. Já a forma de aplicação pode ser a mesma para algumas espécies. 26 Por exemplo, no manejo das espécies alpínias (Alpinia purpurata V.), bastão do imperador (Etlingera elatior J.), gladíolos (Gladiolus sp. L.), helicônia (Heliconia orthotricha L.) e roseira (Rosa grandiflora L.) recomenda-se que o fósforo seja aplicado todo na adubação de base, juntamente com 40% do nitrogênio e 40% do potássio. Na adubação de cobertura, aplica-se o restante do nitrogênio, e o potássio é parcelado em cinco vezes. 5 SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO A água é o principal veículo de transporte dos nutrientes presentes no solo ou substrato para a planta. Em sistemas de cultivo em ambiente protegido a água deve ser fornecida às plantas de forma que não haja excesso ou déficit hídrico. A irrigação é o modo como a água é fornecida às plantas e, também, pode ser utilizada para a aplicação de adubos (fertirrigação) ou de biocidas (quimigação). Para que a irrigação seja eficiente, parâmetros relacionados à água, à planta, ao solo e ao clima devem ser observados. Em primeiro lugar, é necessário conhecer a qualidade da água que será utilizada para a irrigação. A água interfere diretamente no pH dos substratos, e como já vimos, as alterações no pH interferem na disponibilidade dos nutrientes. Assim, a alcalinidade é um fator a ser verificado antes de definir um projeto de irrigação. Outros fatores, também importantes, são a condutividade elétrica, a razão de adsorção do sódio (RAS) e a toxicidade. Quando falamos de alcalinidade, nos referimos ao pH da água, que pode alterar o pH do substrato, e devemos lembrar que há uma faixa que promove o melhor desenvolvimento das plantas. O que vai definir o quanto essa alcalinidade pode ser crítica é o tempo necessário para o desenvolvimento da muda, o tamanho do recipiente e o nível de tolerância da espécie cultivada. Com o tempo ocorre acúmulo de carbonatos e bicarbonatos que aumentam o pH, além disso, recipientes maiores comportam maior quantidade de substrato o que atrasa o processo de alcalinização, e o mais importante, cada espécie cultivada possui um limite de tolerância que, quando alcançado, prejudica o seu desenvolvimento, caso o problema não seja resolvido. O controle da alcalinidade pode ser feito com a utilização de adubos acidificantes, que contenham amônio em sua formulação, ou pela adição de ácidos como o nítrico, o fosfórico, o sulfúrico e o cítrico, na água que será utilizada para a irrigação. 27 A condutividade elétrica mede a presença de sais solúveis na água, o acúmulo desses sais nos substratos reduz a capacidade de absorção das plantas devido aos efeitos osmóticos. O nível de salinidade que pode afetar os cultivos depende do nível de tolerância da espécie cultivada, e é importante observar que essa tolerância está relacionada à soma da salinidade acumulada pela adubação e à utilização de águas salinas. Para reduzir as perdas por esse problema, em casos onde a água disponível possui salinidade alta, uma solução é escolher espécies mais tolerantes, no entanto, mesmo as mais tolerantes podem ser sensíveis nas fases mais jovens, então é necessário procurar uma outra fonte com água de melhor qualidade. Caso o local de produção possua duas fontes, uma de melhor qualidade e outra com água salina, pode-se realizar a mistura das águas para a irrigação de forma a atingir o limite tolerado para as culturas. A razão de adsorção do sódio (RAS) corresponde à concentração de sódio em relação ao cálcio e magnésio, ou seja, ele calcula o risco de sodicidade do substrato, ou solo, pelo deslocamento do cálcio e magnésio que são substituídos pelo sódio. Quanto maior o valor, maior a retenção da água pelo meio e maior a redução do oxigênio devido aos poros estarem preenchidos, prejudicando o desenvolvimento da raiz e, consequentemente, da planta. A RAS é utilizada para dividir a água em quatro classes, com relação ao risco de sodicidade. De acordo com a classe em que a água se encontra, ela deve ser utilizada observando os critérios de cada classe. É preciso ter em mente que quanto maior a CE da água, maior o risco de sodicidade mesmo que a RAS seja considerada baixa. A toxicidade pode ocorrer pela contaminação da água por elementos como o boro, o flúor, cloretos e sódio. Esses elementos, quando presentes em quantidades excessivas, podem causar danos às plantas como queimaduras nas folhas pela absorção, ou se acumularem sob as folhas em forma de resíduos, prejudicando a absorção de luz. A escolha do sistema de irrigação depende da quantidade de água disponível, da qualidade da água, do capital que se dispõe e da rentabilidade que se espera alcançar. Os sistemas tradicionalmente utilizados são por aspersão, localizado e por capilaridade. Dentro do sistema por aspersão o método mais simples é o manual com a aspersão por mangueira, ou utilizando tubos perfurados (chuveiros). O investimento inicial é baixo quando comparado a outros métodos, no entanto, esse método se torna oneroso por exigir mais mão de obra, e a aplicação de água não é uniforme com maior perda de água. Outro método, consiste no uso de miniaspersores rotativos distribuídos em tubulação suspensa. Neste caso, o investimento inicial é maior em relação ao método anterior porque envolve adquirir tubulação, conjunto motobomba, mas o sistema pode ser automatizado e reduzir os custos com mão-de-obra, além da melhor uniformidade na distribuição da água e menor desperdício. 28 No sistema de irrigaçãolocalizada, um dos métodos mais utilizados é o gotejamento. Neste sistema, a água é aplicada em volumes menores e bem próximo ao solo, na área onde se encontram as raízes, o que permite um maior aproveitamento da água pelas plantas. No caso de canteiros, utilizam-se linhas gotejadoras que formam uma faixa molhada por toda extensão da área cultivada. No caso de vasos e outros recipientes, são utilizados os gotejadores de múltiplas saídas ou os microtubos, que são distribuídos ao redor das plantas e proporcionam menor desperdício da água, que poderia ser jogada em áreas sem cultivo. O uso de microaspersores do tipo spray, também chamado de nebulizadores, é outro método do sistema de irrigação localizado que é muito utilizado em ambientes protegidos, geralmente com o objetivo de aumentar a umidade relativa dentro da estufa para promover o enraizamento de estacas e aclimatação de plantas in vitro. O sistema por capilaridade, também chamado subirrigação, é muito utilizado para irrigar bandejas, tubetes ou mesmo vasos. Parte do substrato é saturado em contato com a água que chega até as raízes por capilaridade. O sistema deve utilizar algum processo de reciclagem e reaproveitamento da água, nesse caso há riscos de salinidade na água pelo acúmulo de fertilizantes e pela presença de patógenos, se não houver algum processo de desinfecção. O manejo da irrigação se baseia em quando e quanto irrigar, para isso, é necessário conhecer a capacidade de campo (CC), ou capacidade de vaso (CV) do substrato, que corresponde à quantidade máxima de água retida após a livre-drenagem. Esse valor reduz à medida que o meio começa a secar pela evapotranspiração das plantas. O controle deve ser realizado de forma a evitar que o meio seque, causando danos irreversíveis para a planta, ou seja, chegue no ponto de murcha, quando a planta não consegue mais se recuperar. Além disso, devem-se evitar irrigações muito frequentes, que mantenham o solo muito úmido e, com isso, aumente a incidência de doenças. Outra propriedade já falada, é a capacidade de retenção do solo ou substrato, que também deve ser conhecida. A capacidade de retenção indica a profundidade de armazenamento da água que estará disponível para as plantas. Se a quantidade de água aplicada for excessiva, a água em excesso pode ser perdida por percolação ou lixiviar nutrientes, se for aplicada abaixo da capacidade pode haver apenas um molhamento da superfície que logo será absorvida ou perdida por evaporação, o que significa aumentar a frequência de aplicação. Conhecer o nível de umidade do solo, a capacidade do solo em manter a água disponível para as plantas e as condições ambientais nas áreas de cultivo auxiliam a definir a necessidade de irrigação. 29 Neste tópico, você aprendeu: • As flores e plantas ornamentais podem ser cultivadas a céu aberto, em ambientes telados ou em ambientes protegidos, que são as estufas. A escolha de qual sistema será utilizado depende da espécie a ser cultivada e, também, do recurso financeiro de que se dispõe. • O cultivo em ambiente protegido possui um investimento inicial que pode ser mais oneroso, no entanto, proporciona plantas com melhor qualidade, característica que vai implicar no valor de comercialização do produto. • A estrutura para produção de flores e plantas ornamentais vai além da área de cultivo, empregando outros setores que são fundamentais para auxiliar todo o processo. • Com relação ao substrato que qualquer material, que possa servir de base para a planta emitir suas raízes, e que também possa fornecer nutrientes sem interferir no seu desenvolvimento, poderá ser utilizado. • Os substratos possuem propriedades, assim como o solo, e que a utilização de materiais diferentes e com qualidade podem fornecer um meio completo para o bom desenvolvimento das plantas. • A escolha do substrato varia de acordo com a espécie, é importante adquirir substratos que se adequem às mais diversas espécies, mas é fundamental conhecer as necessidades das plantas que serão cultivadas. • A adubação é outro aspecto de extrema importância e deve ser realizada de acordo com a necessidade da espécie cultivada. O excesso ou a falta de nutrientes pode ser muito prejudicial ao desenvolvimento das plantas e afetar a qualidade final do produto. • Com relação à irrigação, dois pontos são principais: a qualidade da água que será utilizada para a irrigação, a qual pode afetar diretamente o desenvolvimento das plantas; e a escolha da forma como a água será aplicada, que deve ser feito de acordo com a espécie para evitar que haja escassez e, também, danos às estruturas das plantas. RESUMO DO TÓPICO 2 30 1 O sistema de produção tem muita importância com relação à escolha das espécies que serão cultivadas e, também influencia, posteriormente, na comercialização dos produtos obtidos. Se tratando desse assunto, classifique V para sentenças verdadeiras e F para Falsas: ( ) O cultivo de flores e plantas ornamentais pode ser feito tanto a campo como em ambiente protegido. ( ) No cultivo a céu aberto, as plantas estão sujeitas às intempéries do tempo e ao ataque de pragas e doenças, assim, é recomendado que esse sistema seja utilizado para plantas que apresentem maior rusticidade. ( ) No sistema sob telado as plantas são cultivadas em ambiente totalmente controlado. ( ) As estufas não são indicadas para flores e plantas ornamentais mais sensíveis às variações climáticas. ( ) Em uma produção de flores e plantas ornamentais, além da área de produção, devem haver estruturas para dar suporte às atividades desenvolvidas. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) F – V – V – F – V. b) ( ) V – V – F – F – V. c) ( ) V – F – F – V – V. d) ( ) F – F – V – V – F. 2 Os substratos são a base para que as sementes ou mudas possam se estabelecer, de modo a emitir suas raízes e desenvolver sua parte aérea, dando a origem a futura planta. Com relação aos substratos, classifique V para sentenças verdadeiras e F para Falsas: ( ) Os substratos podem ser de origem natural, sintéticos, orgânicos e minerais. ( ) Um bom substrato deve ser constituído de um único material que será capaz de suprir todas as necessidades das plântulas. ( ) O CRA10 é uma propriedade que mede a capacidade de retenção de água no substrato. ( ) Os substratos devem ter boa porosidade e também boa drenagem, de forma que retenha água suficiente para disponibilizar para as plantas sem encharcar. ( ) O pH do substrato pode interferir no desenvolvimento da planta, a faixa de 5,5 a 7,0 pode ser recomendada de acordo o material. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) V – F – F – V – V. b) ( ) F – F – V – V – V. c) ( ) V – – V – F – V. d) ( ) V – F – V – V – V. AUTOATIVIDADE 31 3 A irrigação é a prática utilizada para que a água chegue de forma uniforme e em quantidade suficiente para as plantas. Assinale a alternativa que apresenta as características que influenciam na irrigação: a) ( ) pH da água e condutividade elétrica. b) ( ) Adubação e CTC do solo. c) ( ) Método de irrigação e adubação. d) ( ) Condutividade elétrica e CTC do solo. 4 O substrato é a base onde as plântulas serão inicialmente desenvolvidas e por isso devem ser observados aspectos que auxiliem no crescimento das plantas. Fale sobre as características que um bom substrato deve ter. 5 A salinidade constitui um problema na produção de mudas porque afeta negativamente as plantas, principalmente nessa fase. Cite seis plantas ornamentais, ordenando desde a mais tolerante até a mais sensível em relação à salinidade. 32 33 TÓPICO 3 — FLORES E PLANTAS ORNAMENTAIS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO As flores e plantas ornamentais fazem parte de um grupo de espéciesque possuem características bem diversas, seja por sua origem ou por sua capacidade de adaptação a vários ambientes. Além disso, há uma grande influência do mercado consumidor que anseia por plantas com características diferentes, seja na ornamentação de eventos, ou mesmo, para se ter em casa. De toda forma, uma diversidade de flores e plantas ornamentais pode ser cultivada para os vários segmentos do ramo. A seguir, veremos um pouco das características de algumas das mais conhecidas plantas utilizadas nesse ramo da agricultura. 2 PRINCIPAIS CULTURAS DE FLORES E PLANTAS ORNAMENTAIS Existe uma grande diversidade de plantas ornamentais que são cultivadas em todas as regiões do país, e cada espécie possui variedades que se adaptam às diferentes condições climáticas e ambientais. Algumas são mais famosas e preferidas para a produção, seja por sua beleza ou versatilidade no cultivo e no uso. Iremos, então, conhecer algumas espécies que são mais populares. • Flores de corte ◦ Roseira A rosa (Rosa spp.) é, provavelmente, a espécie ornamental mais apreciada e comercializada em todo o mundo. Seu cultivo, além de flor de corte, é realizado para uso em outros setores como na produção de cosméticos e no setor culinário. Pertence à família Rosaceae, planta perene, arbustiva, altura entre 1,5 e 2,0 m, caule lenhoso; folhas compostas, pinadas e decíduas; as flores são emitidas nos ramos basais com cores variadas como branco, rosa, vermelho, amarelo e até azul. A propagação é normalmente feita por estacas, mas também pode ser feita por sementes. A propagação por sementes não é muito usual porque estas apresentam dormência, e as plantas são desuniformes e demoram a florescer. O cultivo pode ser realizado tanto a céu aberto como em ambiente protegido, as plantas são exigentes em insolação, requerendo grande exposição ao sol. Não tolera temperaturas altas, a faixa ideal está entre 17° a 26°C. Solo argiloso, bem drenado fértil, pH entre 5,5 e 6,0, que deve ser mantido úmido. 34 ◦ Crisântemo O crisântemo (Dendranthema T.), também conhecido como “Monsenhor” é cultivado tanto como flor de corte como flor de vaso. Suas pétalas são comestíveis e utilizadas em tratamentos medicinais. Pertence à família Asteraceae, planta perene, mas que às vezes é cultivada como anual, porte herbáceo, altura entre 0,3 e 1,0 m, caule do tipo haste; folhas lobulosas; as flores são do tipo inflorescência, denominadas capítulos com cores variadas como branco, rosa, vermelho, amarelo e champagne. A propagação se dá a partir de estacas. O cultivo pode ser realizado a céu aberto no período do inverno em regiões onde não ocorram geadas, mas ocorre preferencialmente em ambiente protegido, são plantas de pleno sol, requerem dias longos para maior exposição à luminosidade. Não tolera temperaturas muito altas e nem muito baixas (acima de 30°C e abaixo de 3°C), a faixa ideal está entre 23° e 25°C. Solo de textura leve, não sujeito a encharcamento, com alto teor de matéria orgânica e pH entre 5,5 e 6,5. ◦ Gérbera A gérbera (Gerbera L.) foi, por muito tempo, mais produzida como flor de corte por sua longa vida pós-colheita, mas seu uso envasado também ganhou espaço. É muito utilizada em decorações, buquês, paisagismo e na produção de cosméticos. Pertence à família Asteraceae, planta perene de porte herbáceo com caule do tipo haste, atinge alturas entre 0,30 e 0,45 m, as folhas estão dispostas em forma de roseta, e as flores são, na verdade, inflorescências denominadas capítulos com cores variadas como branco, rosa, vermelho, amarelo e laranja. A propagação se dá por sementes. A planta em seu centro de origem cresce espontaneamente em áreas sombreadas, portanto é melhor adaptada ao cultivo em ambiente sombreado. São plantas que precisam de um local arejado, em climas quentes e úmidos florescem o ano inteiro. A faixa ideal de temperatura está entre 22° a 26 °C. Tolera solos secos, porém necessita de regas pelo menos uma a duas vezes por semana, o solo deve possuir boa drenagem pois a planta não tolera encharcamento e ser fértil, o pH deve estar entre 5,5 e 6,5. ◦ Helicônia A helicônia (Heliconia G.) pode ser utilizada tanto como flor de corte quanto em jardins, de acordo com a espécie cultivada. Pertence à família Heliconiaceae, planta perene, porte herbáceo com rizomas subterrâneos; altura entre 1,5 e 4,0m; folhas grandes coriáceas; as flores são do tipo inflorescência, e são encontradas dentro das brácteas coloridas com cores variadas como branco, rosa, vermelho, amarelo e creme. A propagação é feita pela divisão das touceiras ou separação dos rizomas. O cultivo pode ser realizado a céu aberto ou em ambiente protegido, são plantas que estão adaptadas a locais sombreados devido a sua origem, mas se desenvolvem bem a pleno sol sem que a qualidade das flores seja afetada. A planta é bastante tolerante a temperaturas altas, a faixa ideal está entre 21° e 35 °C, temperaturas abaixo de 15 °C prejudicam seu desenvolvimento. Seu desenvolvimento é favorecido em solos areno-argilosos, profundos, com boa drenagem e pH entre 4,5 e 6,5. 35 Conheça mais sobre as helicônias, acesse o site: http://twixar.me/dDMm. DICA ◦ Bastão-do-imperador A planta bastão-do-imperador (Etlingera elatior J.) é muito cultivada para a comercialização como flor de corte, mas é também utilizada na culinária de alguns países asiáticos e na medicina popular para tratamento de dores musculares. Pertence à família Zingiberaceae, planta perene, porte herbáceo com rizomas subterrâneos; altura entre 3,0 e 6,0m; folhas grandes e vistosas; as inflorescências são cônicas, com colorações branco, rosa, vermelho e amarelo e são protegidas por brácteas até a abertura. A propagação comercial é feita pela divisão de touceiras que proporcionam plantas com produção precoce. A planta também pode ser propagada por sementes, que possuem boa dispersão, no entanto, a formação de frutos e sementes é baixa na cultura em campo. O cultivo pode ser realizado a pleno sol ou em ambiente parcialmente sombreado com proteção contra os ventos. É necessário o cuidado com o espaçamento e a adubação, por ser uma planta que forma grandes touceiras, pode haver competição por luz e nutrientes. A faixa ideal de temperatura está entre 24° e 30 °C, possui sensibilidade ao frio, mas se adapta a locais úmidos. Seu desenvolvimento é favorecido em solos ricos em matéria orgânica, profundos, bem drenados, o pH deve estar entre 5,6 e 6,2. • Folhagens de corte ◦ Avencão O avencão (Adiantum spp.) pertence à família Dryopteridaceae, é uma pteridófita de rizomas longos e folhas permanentemente verdes, muito usado em diversos arranjos por causa da sua durabilidade pós-colheita. Por ser uma pteridófita, a propagação pode ser feita por esporos, pela divisão dos rizomas ou separação dos rebentos. A exploração comercial é feita de forma extrativista na região da mata atlântica. Tolera bem todos os solos. O cultivo deve ser feito em ambiente protegido sombreado de 40 a 60%. A faixa de temperatura ideal está entre 25° e 30 °C, a planta não tolera temperaturas baixas. O solo deve ser rico em matéria orgânica, com boa drenagem e arejado, mas mantido úmido. ◦ Dracena A dracena (Dracaena spp.) pertence à família Asparagaceae, é uma planta arbustiva, perene, de folhas alongadas e estreitas, com cores lisas ou variegadas. Sua principal característica é a capacidade de purificar o ar no ambiente em que se encontra, sendo capaz de remover o NO2 presente devido à poluição. A propagação é feita por estaquia do caule. O cultivo pode ser feito a sol pleno, mas é uma planta que se adapta bem ao uso em interiores, assim, o ambiente protegido sombreado de 20% a 64%, é ideal. A faixa de temperatura ideal está entre 25° e 30 °C, a planta se adéqua bem ao calor e à umidade, não tolera geadas.Prefere solos areno-argilosos, que devem ser ricos em matéria orgânica e bem drenado, não tolera encharcamento, mas deve ser irrigado regularmente. 36 Conheça mais sobre plantas que possuem a capacidade de purificar o ar, acesse o site http://twixar.me/0DMm. DICA ◦ Papiro O papiro (Cyperus spp.) pertence à família Cyperaceae, são plantas perenes, herbáceas, com altura entre 1,5 e 2,5 m, caules tipo rizoma que formam touceiras. As folhas são finas e formam um tipo de cabeleira pendente na extremidade. A propagação é feita pela divisão dos rizomas. O cultivo é feito a pleno sol. Não é exigente em relação aos tratos culturais e tem muita tolerância à variação de temperatura. É considerada uma planta aquática, sendo encontrada em margens de rios e lagos, por isso necessita de solos férteis e encharcados. ◦ Filodendro O filodendro (Philodendron spp.) pertence à família Araceae, plantas perenes e herbáceas. As folhas possuem formatos variados e coloração que varia entre o verde-escuro e o roxo, de acordo com as condições de luz do ambiente em que a planta foi colocada. A propagação é feita pela estaquia do caule. O cultivo deve se dar em ambiente protegido, com sombreamento de 50% a 70%, a maior luminosidade acentua as cores mais claras nas folhas e a menor luminosidade deixa as cores mais escuras. Não tolera temperaturas baixas, ideal é entre 20° a 30 °C. O solo deve ser rico em matéria orgânica, mantido úmido, mas nunca encharcado. ◦ Costela de adão A costela de adão (Monstera deliciosa) pertence à família Araceae, é uma trepadeira perene. As folhas são largas, com bordas consideradas perfeitamente recortadas e coloração verde-escura brilhante, lembram uma costela humana. A propagação é feita pela estaquia do caule. O cultivo deve se dar em ambiente sombreado de 50 a 70% ou com luz difusa. Não tolera geadas, a temperatura ideal está entre 20° a 24°C. O solo deve ser rico em matéria orgânica, ser mantido úmido, mas nunca encharcado. O pH do solo deve estar entre 5,6 e 7,5. • Flores de vaso ◦ Violeta-africana A violeta-africana (Saintpaulia ionantha W.) pertence à família Gesneriaceae, as folhas verdes são cobertas por penugens que lembram o veludo, as flores são miúdas, abundantes, não exalam perfume e são encontradas em várias cores. Alcançam tamanho de 0,15 a 0,20 m. A propagação comercial é realizada pelo enraizamento das folhas (folha + pecíolo), mas é possível a obtenção de sementes. Precisam da luminosidade, mas são muito sensíveis exposição direta ao sol. O solo deve ser rico em nutrientes minerais e úmido, mas irrigações em excesso podem levar as raízes ao apodrecimento. 37 A faixa de temperatura ideal está entre 16° e 28°C. Podem ser plantadas em vasos de plástico ou de barro de 12 centímetros de altura, de forma que os de barro apresentem melhor absorção da umidade. O cultivo deve ser feito em ambiente fechado como uma estufa, e é necessário utilizar telas de sombreamento. ◦ Kalanchoe A kalanchoe (Kalanchoe blossfeldiana) é uma planta perene pertencente à família Crassulaceae, mesma família dos cactos e o utras suculentas. Suas folhas são suculentas, com bordas rendadas, as flores apresentam tonalidades variadas. Atingem de 0,30 a 0,40 m de altura. Podem ser expostas diretamente à luz do sol e em áreas com circulação de vento, mas também podem ser cultivadas à meia-sombra, neste caso a planta precisa ficar a pleno sol algumas horas por dia. A propagação pode ser feita por estaquia ou alporquia. Requerem bastante luminosidade, são plantas bem adaptadas ao clima quente e úmido, mas toleram o frio, a faixa de temperatura ideal está entre 13 ºC e 29 ºC. O solo deve ser fértil, bem drenado e rico em matéria orgânica. A irrigação é realizada com pouca água, apenas para umedecer o solo, evitando acúmulo excessivo, em geral duas vezes por semana no verão e uma no inverno. ◦ Orquídeas A orquídea pertence à família Orchidaceae, diversos gêneros (Phalaenopsis sp.; Cattleyas spp.; Paphiopedilum sp.; Cymbidium spp.; Dendrobium spp.; Vanda sp.; Oncidium sp.) são cultivados. Possuem características exclusivas em relação a outras flores e uma grande diversidade de cores e tamanhos, além de serem adaptadas a diversos climas. As características comuns aos diversos gêneros é que são plantas herbáceas e epífitas, apresentam apenas raízes secundárias que saem diretamente do caule que é do tipo rizoma. A propagação por sementes é inviável, de forma que os principais métodos utilizados são estaquia, propagação de ramos e cultura de tecidos. O cultivo deve ser realizado em ambiente sombreado, 50 a 70%, as plantas devem ser protegidas da incidência direta dos raios de sol. A faixa de temperatura pode variar com o gênero, mas é bem ampla, de 10° a 30°C. Com exceção de algumas espécies que são terrestres, a maioria não gosta de terra pois preferem que suas raízes fiquem arejadas, dessa forma as melhores opções são os substratos como xaxim desfibrado, carvão vegetal, piaçava ou coxim. São plantas que precisam de uma boa ventilação, principalmente em lugares quentes. A irrigação é determinada pelo desenvolvimento das raízes e pela temperatura. ◦ Lírios O lírio (Lilium sp.) pertence à família Liliácea, é uma planta perene, de porte herbáceo e seu florescimento é contínuo. As características desta planta são folhas lanceoladas estreitas e carnudas e flores que podem ter formato plano, de trombeta, cálice ou turbante com colorações variadas, das quais predominam o branco, rosa, roxo e amarelo. A propagação é feita por pequenos bulbos (bulbilhos) no solo, que se formam na base do caule e produzem raízes grossas. Para entrar no período reprodutivo é necessário que aconteça a vernalização dos bulbos pela exposição ao frio, isso porque essas plantas são quiescentes ou dormentes no inverno. A temperatura ideal de cultivo está entre 15° e 29°C. As plantas 38 são adequadas a quase todos os tipos de solo, desde que bem estruturados e bem drenados. A irrigação é realizada para manter o solo sempre úmido na área ocupada pelas raízes, a falta de água pode antecipar o ciclo, o excesso pode retardar. ◦ Girassol ornamental O girassol (Helianthus annuus L.) pertence à família Asteraceae, é uma planta herbácea, anual, com sistema radicular pivotante. Sua inflorescência é do tipo capítulo com flores estéreis (lígulas) e férteis (tubulares). As flores estéreis estão localizadas no raio com a função biológica de atrair polinizadores, já as flores férteis ficam no centro do capítulo. Já existem variedades que não produzem pólen. As flores, tradicionalmente, possuem cor amarela, mas através do melhoramento podem ser encontradas variedades em tons de ferrugem, vinho, rosa, rosa-claro, amarelo com mesclas alaranjadas e amarelo limão. A altura média desejada para as plantas ornamentais são 0,35 m. São plantas que requerem insolação direta, o cultivo é feito em ambiente protegido para produção em vaso, mas também podem ser cultivadas para corte em campo a pleno sol. A faixa de temperatura ótima é de 20 a 25 ºC. O ciclo de cultivo é mais curto varia entre 50 e 80 dias. O solo pode ser ligeiramente ácido, a faixa ideal de pH é de 5,8 a 6,5, mas com boa drenagem, as raízes são sensíveis à compactação do solo. É uma planta tolerante à seca, mas necessita que a irrigação mantenha a umidade próxima à capacidade de campo. • Folhagens de vaso Folhagens de vaso são plantas que despertam o interesse, em geral, pela beleza de suas folhas independentemente de terem flores ou não, tornando-se, assim, plantas ornamentais para decoração de áreas interiores ou áreas sombreadas, quando usadas no exterior. O cultivo é realizado em vasos que podem ser plásticos na formação das mudas, mas no decorrer do desenvolvimento das plantas, são realizados alguns transplantios, desse modo, ao ser levada para áreadefinitiva, podem ser utilizados vasos plásticos, de argila e cimento. A luminosidade é fundamental, de forma que é preciso estar atento ao fotoperíodo da espécie para que não interfira no seu metabolismo por excesso ou falta. A faixa de pH ideal para a maioria das folhagens está entre 4,5 e 6,5, mas algumas plantas pertencentes a gêneros como as marantas e várias samambaias, crescem melhor com um pH mais ácido entre 4,5 e 5,5. A propagação comercial, normalmente, é feita de forma assexuada, sendo mais comum por estaquia. Há uma grande variação entre as espécies com relação à temperatura, que pode variar de 18° a 35°C. 39 Como o produto de valor são as folhas, é importante ter atenção com o vento, que pode influenciar a produção de folhagens. Quando não são utilizadas barreiras para proteger as plantas, podem ocorrer queima dos brotos e abrasão foliar pela ação de ventos mais fortes e isso reduz a qualidade do produto. As instalações necessárias serão determinadas de acordo com o sistema de produção e as condições climáticas locais como variação de temperatura, ventos fortes, incidência de chuvas, geadas, dentre outras. O sistema de irrigação pode ser escolhido de acordo com a arquitetura da planta, o mais utilizado na produção de folhagens é o de aspersão. Alguns exemplos de folhagens de vasos são: árvore-da-felicidade (Polyscias fruticosa L.); camedórea-elegante (Chamaedorea elegans M.); ciclanto (Cyclanthus bipartitus P.); cróton (Codiaeum variegatum L.); lança-de-São-Jorge (Sansevieria cylindrica B.); palmeira-leque (Licuala grandis H.); peperômia (Peperomia sandersii R.); samambaia (Nephrolepis exaltata L.); yucca (Yucca elephantipes L.); zamioculca (Zamioculcas zamiifolia E.). 3 CONCEITOS SOBRE PROPAGAÇÃO A propagação de plantas é realizada por meios sexuais e assexuais (vegetativos) e tem como objetivo multiplicar plantas matrizes com características ideais, com o emprego das técnicas mais adequadas. Essas técnicas variam de acordo com a espécie, disponibilidade de recursos e mão de obra para a execução do trabalho. Para se obter sucesso, é importante conhecer as espécies, o ambiente em que as plantas serão desenvolvidas e como cada técnica funciona. A propagação de plantas pode ser feita de forma sexuada e assexuada. A propagação sexuada envolve a fusão de gametas masculinos e femininos, neste caso, ocorre variação genética em relação à planta matriz, e essa variação pode ter maior ou menor intensidade nas características das plantas geradas. 3.1 PROPAGAÇÃO SEXUADA A é realizada por sementes. Muitas plantas ornamentais produzem sementes, são espécies anuais, bianuais e perenes. Em programas de melhoramento vegetal, a produção de sementes gera variabilidade genética, que proporciona indivíduos com características diversas, e isso é muito importante para realizar a seleção das melhores cultivares. 40 A obtenção de plantas por sementes é muitas vezes preterida, porque numa produção comercial, a uniformidade e a qualidade do produto são condições necessárias para que o produtor esteja apto a participar do mercado. É preciso diferenciar as plantas chamadas de cultivadas e as não cultivadas. As plantas cultivadas são aquelas que passaram por algum processo de melhoramento genético como os híbridos comerciais, cujas caraterísticas são fixadas e as sementes devem ser adquiridas para a manter as exigências para a espécie. É o caso de plantas como lisianto (Eustoma grandiflorum L.), gérbera (Gerbera jamesonii L.), amor- perfeito (Viola tricolor L.), begônia (Begonia sp. L.), petúnia (Petunia sp. L.), Flor-de- estudante (Tagetes sp. L.), gazânia (Gazania rigens L.) e sálvia (Salvia officinalis L.). As plantas não cultivadas são aquelas cujas sementes são obtidas pela coleta, isto é, por meio do extrativismo vegetal, como é o caso de árvores e palmeiras utilizados no paisagismo. A propagação sexuada é um método com baixo custo, além de não exigir mão de obra especializada, proporciona facilidade de transporte e armazenamento por causa do tamanho das sementes. As plantas são livres de vírus, que normalmente se desenvolvem no sistema vascular das plantas e não são transmitidos pelas sementes. Proporciona variabilidade genética, que pode ser considerada uma vantagem para o melhoramento, mas, no caso do produtor, implica variação com perda do original. No entanto, a germinação pode ser lenta e ter baixas taxas de poder germinativo, devido, também, à dificuldade em se identificar a correta maturação das sementes, causando desuniformidade no campo, em algumas espécies as sementes apresentam dormência e como as plantas passam pela fase juvenil, algumas espécies podem demorar muito para alcançar a maturidade. Além dos fatores intrínsecos da semente, os fatores ambientais também influenciam a obtenção de plantas por sementes. A presença ou ausência de luz para a germinação é condição particular de cada espécie e pode ser usada para classificar as sementes em relação à sensibilidade à luz. Existem espécies que são fotoblásticas positivas, porque germinam melhor ou só germinam em presença de luz e espécies que são fotoblásticas negativas, germinam melhor quando há ausência de luz, e um terceiro grupo, afotoblásticas, para as quais a quantidade de luz é indiferente. Esse conhecimento é importante para que, no processo de semeadura, não haja erros quanto à cobertura das sementes. A temperatura é um outro fator que influencia a germinação de forma expressiva, ela regula o processo germinativo, alterando a velocidade de germinação e de absorção de água, as reações bioquímicas e, consequentemente, a germinação total pela alteração (aumento ou redução) do número de dias necessários para que o processo ocorra. É imprescindível conhecer os limites (máximo e mínimo) para cada espécie que se deseja produzir. 41 A água é responsável por reativar o metabolismo da semente, a absorção de água é o primeiro acontecimento no processo de germinação e será tão importante quanto, nas demais fases. Se a disponibilidade hídrica for insuficiente, o processo germinativo pode ser retardado ou até mesmo interrompido pela morte do embrião. Por outro lado, o excesso de água também é prejudicial devido à menor aeração, que facilita o surgimento de doenças e o apodrecimento das sementes. É necessário, então, que haja uma manutenção constante do teor de umidade exigido pela espécie cultivada. A forma como se realiza a semeadura também pode influenciar a germinação, é preciso ter cuidado com a profundidade na qual a semente será depositada, e isso pode ser definido de acordo com o tamanho da semente em questão. Quanto maior a semente, maior a profundidade da cova, enquanto sementes muito pequenas devem ser colocadas superficialmente e cobertas com uma camada fina de substrato como areia ou pó de coco. Algumas sementes devem ser apenas comprimidas para que entrem em contato com o solo ou substrato, sem que haja a necessidade de cobri-las. Os esporos são as estruturas sexuais de propagação das pteridófitas (samambaias e avencas), sendo produzidos em grande quantidade por este tipo de plantas. INTERESSANTE 3.2 PROPAGAÇÃO ASSEXUADA A propagação assexuada, vegetativa ou agâmica consiste em utilizar partes da planta (células, tecidos, órgãos ou propágulos) que não sejam as sementes, para produzir, por meios de mecanismos de divisão e diferenciação celular, novas mudas que possuam as características agronômicas da planta matriz. A principal característica do método é a obtenção de plantas uniformes e produtivas nas condições de clima e solo favoráveis. A propagação vegetativa é possível devido a uma propriedade denominada totipotência celular, que é a capacidade que as células vegetais possuemde se organizarem em um novo indivíduo, por conterem em seus núcleos toda a informação genética necessária para dar origem a uma nova planta. As vantagens da propagação vegetativa são: obtenção de mudas em menor tempo, a carga genética transmitida é igual à da planta mãe, precocidade das plantas geradas, redução na duração do período juvenil e de não florescimento, perpetuação de espécies que produzem poucas sementes ou sementes estéreis, uniformidade do plantel. 42 Entre os aspectos negativos estão a susceptibilidade a pragas e doenças vasculares (bacterianas e viroses), necessidade de manutenção de plantas matrizes e de instalações apropriadas para uso das técnicas, gera um volume de material muito grande que dificulta o transporte e o armazenamento. A propagação vegetativa pode ocorrer naturalmente por estruturas especializadas naturalmente produzidas pelas plantas como: • Estolões ou estolhos – consistem em prolongamentos vegetativos originados a partir da axila da folha, determinados pelo fotoperíodo: Chlorophytum comosum, Saxifraga stolonifera, Ajuga reptans e Ophiopogon jaburan. • Rebentos ou brotos – são brotações que surgem das raízes ou do caule das plantas, também são chamados de perfilhos: Handroanthus spp., Ravenala madagascariensis, Chlorophytum comosum e Ananas bracteatus. • Bulbos – são órgãos subterrâneos especializados, consistem em um caule e folhas adaptadas ao armazenamento: Narcissus spp., Tulipa sp., Hyacinthus orientalis e Gladiolus sp. • Rizomas ou soca – tipo especializado de caule que apresenta gemas e substâncias de reservas em que o eixo principal da planta cresce horizontalmente ou logo abaixo da superfície do solo, onde emitem raízes: Heliconia rostrata, Zingiberaceae, Sansevieria trifasciata e Dietes iridioides. A propagação também pode ser feita por intervenção humana, são os denominados métodos “artificiais”, porque não ocorrem naturalmente e utilizam outras estruturas das plantas: estaquia, mergulhia, alporquia, enxertia e micropopagação. 3.2.1 Estaquia A estaquia é uma técnica que consiste em induzir porções de uma planta, sob condições favoráveis ao enraizamento adventício e formação da parte aérea, dando origem a uma muda. As estacas podem ser formadas a partir de segmentos do caule, folhas ou raízes, desde que haja pelo menos uma gema vegetativa. O processo ocorre devido à capacidade de regeneração das células, que se dá em razão da totipotência, que já vimos antes, e a desdiferenciação, que é a capacidade que uma célula madura (diferenciada ou especializada) possui de funcionar como uma célula meristemática e desenvolver um novo ponto de crescimento. A estaquia proporciona a obtenção de um grande número de plantas, em curto espaço de tempo e a com maior aproveitamento das plantas matrizes, por isso é um método que pode ser considerado rápido, simples e barato. No entanto, pode haver uma grande variação natural na capacidade de enraizamento que é relativa aos fatores intrínsecos da planta e às condições ambientais. 43 As estacas podem ser classificadas de acordo com o tipo, quanto ao órgão; em caulinares (Hibiscus spp., Rosa spp., Bougainvillea spp.), foliares (Saintpaulia sp., Sansevieria spp., Begonia sp., Kalanchoe blossfeldiana e outras Crassulaceae) e radiculares (Peschiera affinis, Papaver orientale, Emilia fosbergii). As estacas que são retiradas do caule podem ser classificadas quanto à consistência e a posição no ramo. Quanto à consistência podem ser herbáceas – retiradas das pontas dos ramos em crescimento, normalmente com folhas (Rhododendron simsii, Dendranthema grandilfora, Plumbago auriculata, Salvia officinalis); semilenhosa ou semi- herbácea – tomadas da porção mediana dos ramos (Rosa spp., Euonymus japonicus, Jasminum sp., Hydrangea macrophylla); lenhosa – retiradas da porção madura dos ramos e caules (Hibiscus spp., Bougainvillea spp.). Quanto à posição no ramo, chama-se de apical, retirada no ápice da planta (Dracaena spp., Dendranthema grandilfora, Rhododendron simsii) e medianas, da porção intermediária da estaca (Bougainvillea spp., Hydrangea macrophylla), ou ainda basal, de forma que essa escolha deve ter por base a quantidade de auxina endógena, que é variável em cada parte do ramo, de acordo com a espécie. A formação das raízes pode ser afetada por fatores internos e externos, que podem facilitar o enraizamento de algumas espécies ou dificultar o sucesso na produção de mudas por estacas. Os fatores internos são (PETRY, 2008): • condição fisiológica da matriz: condições hídricas, nutricionais e sanitárias da planta matriz comprometem a capacidade de enraizamento das estacas; • idade da planta: a maturidade pode reduzir a capacidade de enraizamento de algumas espécies que só enraízam na fase juvenil; • tipo de estaca: é uma característica importante a ser considerada em espécies de difícil enraizamento, a escolha é feita com no acúmulo de reservas ou hormônios que facilitem o processo de emissão de raízes; • época do ano: está relacionada às condições fisiológicas da estaca e às condições ambientais como temperatura, umidade do ar, disponibilidade de água; • potencial genético do enraizamento: algumas espécies possuem maior capacidade de formar raízes em suas estacas do que outras, elas podem ser classificadas em fácil, mediano ou difícil enraizamento; • balanço hormonal: os hormônios exercem ação sobre o enraizamento, em especial as auxinas (promotoras de enraizamento), giberelinas e citocininas (podem atuar como inibidores ou indutores de crescimento competitivo com o enraizamento). A auxina tem efeito no alongamento e divisão celular e estimula a diferenciação dos tecidos vasculares (floema e xilema); a formação de raízes em estacas; a dominância apical em ramos; e retarda o amadurecimento de frutos; e promove o florescimento em plantas das bromeliáceas. 44 As giberelinas atuam no crescimento do caule e dos frutos; e induzem a germinação de sementes e a produção de enzimas nesse período; além da masculinidade em flores dioicas. As citocininas têm efeito na divisão celular; induzem o crescimento de brotos laterais; auxiliam a expansão foliar; retardam a senescência das folhas; e influenciam a abertura dos estômatos. Os fatores externos são a temperatura, que favorece a divisão celular e com isso a formação de raízes, no entanto, estimula a transpiração, que em estacas herbáceas ou semi-herbáceas resulta em murchamento; a luz que é importante para a fotossíntese, mas degrada a auxina que auxilia no enraizamento; a umidade que mantém a turgidez das células; e o substrato, em relação as suas características (pH, aeração, umidade), que variam de acordo com a espécie. Em estacas de difícil enraizamento, ou quando se deseja maximizar a quantidade de raízes, podem ser aplicadas algumas técnicas para facilitar o processo, podemos citar: tratamento com hormônio (auxina sintética); câmara de nebulização; aquecimento do leito de propagação; enriquecimento com CO2. 3.2.2 Mergulhia A mergulhia é um método de propagação assexuada pelo qual um ramo da planta é submetido ao enraizamento, enquanto ainda faz parte dela. Para isso, o ramo é curvado em direção ao solo, onde terá sua porção intermediária enterrada, mantendo a ponta para fora. A planta a ser formada só é destacada da matriz após ter formado seu próprio sistema radicular. É um processo de uso limitado a características inerentes às plantas, como ramificações baixas e flexíveis, no caso de arbustos ou trepadeiras. O processo é caracterizado por apresentar alta porcentagem de enraizamento e a possibilidade de formar mudas já bem desenvolvidas. No entanto, o rendimento é baixo devido à produção de poucas mudas por matriz e ser um processo trabalhoso elento (pouca aplicação comercial). Entre as espécies que podem ser propagadas por este método podemos citar: Wisteria sp., Cotoneaster spp., Rosa wichuraiana, Allamanda cathartica, Rhododendron simsii, Magnolia spp. 45 3.2.3 Alporquia A alporquia é um tipo de mergulhia, também chamada de mergulhia aérea, utilizada quando o ramo não pode ser levado até o solo, por não possuir comprimento suficiente ou por não ser flexível. As raízes são formadas na parte aérea da planta, para isso é realizado o anelamento em uma parte do ramo onde pode ou não ser aplicado um regulador de crescimento (auxina), dependendo do seu teor endógeno, e o local lesionado é envolvido com solo ou outro substrato contido em plástico (o preto é mais recomendado pela sensibilidade das raízes à luz) amarrado firmemente nas extremidades, de forma a proporcionar boas condições para o enraizamento. Este método pode ser utilizado em plantas como Rhododendron simsii, Myrciaria cuspidata, Wisteria sp., Spiraea cantoniensis. 3.2.4 Enxertia A enxertia é uma técnica que consiste em unir partes (tecidos vivos) de duas ou mais plantas, normalmente do mesmo gênero, de modo que eles sejam combinados e haja a regeneração de tecidos, para que à medida que aconteça o processo de crescimento, as partes se desenvolvam como uma única planta. A escolha do material é feita de acordo com as características desejáveis para a copa ou enxerto, que é a planta que se deseja produzir para a comercialização, e para o porta-enxerto ou cavalo, que é a planta que possui alguma qualidade que lhe confere maior resistência a doenças e pragas ou adaptada às condições locais. Existem inúmeros processos para se fazer a enxertia, que podem ser agrupados em três categorias que representam as mais empregadas: garfagem, borbulhia e encostia. A garfagem consiste na retirada e transferência de um pedaço de ramo que contenha uma ou mais gemas, chamado de garfo, para o caule de uma planta que teve sua parte aérea decepada a certa altura do solo. A enxertia por borbulhia consiste na justaposição de uma única gema e uma pequena seção de casca, com ou sem lenho, sobre um porta-enxerto enraizado, ou seja, a planta que receberá o enxerto precisa estar estabelecida e ter atingido um diâmetro mínimo do caule, para permitir a aplicação da técnica e o sucesso no pegamento do enxerto. A encostia consiste em se promover a junção de ramos de duas plantas ou, inclusive, duas plantas inteiras, enxerto e porta-enxerto, no caso de ramos o porta- enxerto ainda deve estar ligado à matriz, que são mantidas dessa forma até a união dos tecidos. O contato é feito por cortes realizados nos dois ramos, de forma que os tecidos se liguem por regeneração. Pode ser utilizada em roseiras, coníferas e cactáceas. 46 3.2.5 Micropropagação A micropropagação ou propagação “in vitro” envolve técnicas de cultura de tecidos para a produção de plantas idênticas à planta matriz. Consiste em isolar qualquer parte da planta (chamada explante), seja uma célula, um tecido ou um órgão, para cultivá-lo em um meio nutritivo artificial sob condições assépticas. Possibilita propagar vegetativamente ou clonar genótipos de interesse, produzindo mudas com alta qualidade genética e fitossanitária a partir de pequenos propágulos, partindo do pressuposto que qualquer célula no organismo vegetal é totipotente. Representa uma alternativa para a multiplicação de plantas que produzem poucas sementes ou sementes estéreis via reprodução sexuada, ou quando o emprego de outros métodos de propagação vegetativa não se torna viável. Entre as vantagens deste método, estão a produção de um grande número de plantas a partir de um explante em menor tempo, uniformidade das plantas obtidas, número menor de matrizes e possibilidade de produzir mudas livres de patógenos causadores de doenças a partir de plantas contaminadas. Entre as desvantagens estão o tempo para o estabelecimento da cultura que pode ser longo, os procedimentos podem ser muito caros de acordo com a espécie, o emprego das técnicas implica a compra de equipamentos de laboratório de custo elevado e mão de obra especializada. Exemplos de plantas cultivadas comercialmente por esta técnica são orquídeas, samambaias, gérberas, crisântemos, bromélias, violetas e palmeiras. 4 PRAGAS E DOENÇAS QUE AFETAM OS CULTIVOS Em cultivos comerciais, um dos maiores problemas a se enfrentar é o controle de pragas e doenças, que podem representar um risco tanto para a qualidade do produto final, devido às modificações em sua aparência, quanto uma perda total dos recursos investidos, caso as plantas não possam completar seu ciclo. Dessa forma, precisamos conhecer os principais organismos que são capazes de causar danos às plantas ornamentais. 4.1 PRAGAS Quando um organismo causa danos econômicos a uma determinada cultura, ele pode ser considerado praga. Esses organismos atacam as plantas afetando o seu desenvolvimento, transmitem moléstias, provocam a morte das plantas ou danificam as partes comercializadas, como as folhagens e/ou as flores, e reduzem seu valor de mercado. 47 A forma como as plantas são infestadas pode variar de acordo com o sistema de cultivo. Nas áreas de cultivo em estufas, os organismos podem ser levados para dentro do ambiente protegido através de mudas infestadas, ferramentas e pelo próprio homem. Já em áreas de cultivo a céu aberto ou apenas sombreadas, além dessas formas, os organismos podem ser transportados pelo vento ou pela migração dos organismos de outros cultivos. As pragas utilizam as plantas como hospedeiras para abrigo, reprodução e principalmente alimentação. As pragas que ocorrem com maior frequência em plantas ornamentais são: ácaros, besouros, cochonilhas, lagartas, lesmas, mosca-branca, mosca-minadora, pulgões, tripes, entre outras. Abaixo são caracterizados os principais organismos que afetam as plantas ornamentais de acordo com Petry (2008): • Ácaros (Acari – Eryophiidae, Tetranychidae) – Os ácaros são ápteros que possuem aparelho bucal sugador e tanto as ninfas quanto os adultos sugam a seiva nas folhas, são encontrados sob finas teias na face inferior das folhas. Suas ações provocam cloroses, deformações, queda de folhas e falta de florescimento da planta. As principais espécies de ácaros citadas para plantas ornamentais são: Eriophyes tulipae, Tetranychus urticae, Tetranychus cinnabarina, Tetranychus mexicanus. • Besouros (Coleoptera – Scarabaeidae, Chrysomelidae) – Eles são pragas tanto na fase de larva como na fase adulta, mas é na fase adulta que os principais danos são provocados. Os adultos são dotados de peças bucais mastigadoras, eles se alimentam de folhas, flores e caules, especialmente nas folhas, o resultado são buracos arredondados. As principais espécies citadas em plantas ornamentais são: Diabrotica speciosa, Euphoria lurida, Macrodactylus pumilio, Paraulaca dives, Pelidnota pallidipennis, Pelidnota sordida, Rutela lineola. • Cochonilhas (Homoptera – Diaspididae, Coccidae, Margarodidae, Pseudococcidae, Ortheziidae) – Um grande número de espécies faz parte deste grupo. São insetos diminutos que vivem geralmente em colônias. Possuem aparelho bucal sugador e fixam-se na face inferior das folhas, nas hastes, brotações novas e nas raízes sob a terra. O ataque provoca o amarelecimento das plantas e o definhamento, podendo levá- las à morte. Expelem líquidos açucarados, os quais favorecem o aparecimento de um fungo preto que recobre as folhas com uma película preta, chamada de “fumagina”, o que dificulta a fotossíntese e a respiração das plantas, e atraem formigas açucareiras. As principais espécies de cochonilhas em ornamentais são: Chrysomphalus ficus, Chrysomphalus dictyospermi, Coccus viridis, Coccus hesperidium,Eurhizococcus brasiliensis, Icerya brasiliensis, Mytilococcus beckii, Orthezia spp., Pericerya purchasi, Pseudococcus maritimus. • Lagartas (Lepidoptera – Noctuidae, Eucleidae, Megalopygidae) – As formas jovens de mariposas ou borboletas são as lagartas, que possuem aparelho mastigador. Essa fase é considerada nociva, porque as lagartas alimentam-se de folhas, hastes, brotações, botões florais. As principais espécies citadas em ornamentais são: Agrotis ipsilon, Callopistria floridensis, Helicoverpa zea, Megalopyge lanata, Phobetron hipparchia, Podalia sp., Spodoptera eridania. 48 • Lesmas (Classe Gastropoda) – Na produção de mudas ornamentais, o desequilíbrio na população desses moluscos pode trazer prejuízos importantes tanto em aspectos quantitativos quanto qualitativos, pois diminuem a produtividade, podem causar danos estéticos e, em casos severos, o esgotamento e a morte das plantas. São capazes de se alimentar de qualquer tipo de material vegetal, mas têm preferência pelas folhas mais tenras. A espécie que mais tem causado problemas atualmente é a Achatina fulica, por ser uma espécie invasora que não possui inimigos naturais. • Moscas-brancas (homoptera – aleyrodidae) – Os adultos e ninfas sugam a seiva das plantas diretamente do floema, através de seu aparelho bucal que é do tipo picador-sugador. Sua localização nas plantas é a face inferior das folhas. O ataque provoca o enfraquecimento das plantas e a redução do vigor, que podem resultar na morte delas, mas também podem ocorrer atrofiamento ou deformações nas plantas infestadas. Expelem o excesso de seiva sugada na forma de uma substância pegajosa e açucarada como as cochonilhas, e, também, podem ser responsáveis pela transmissão de viroses. As principais espécies de moscas-brancas citadas em ornamentais são Bemisia tabaci, Bemisia argentifoli, Trialeurodes vaporariorum. • Moscas-minadoras (Diptera – Agromyzidae) – São insetos extremamente pequenos, a postura dos ovos é feita nas folhas, onde, após a eclosão dos ovos, as larvas passam a viver dentro do tecido foliar, em minas. Os adultos provocam danos pelas puncturas feitas nas folhas para alimentação ou oviposição, resultando em áreas necrosadas. As larvas abrem minas nas folhas, daí o nome, e se alimentam do parênquima foliar. Este processo pode danificar os tecidos condutores de seiva e provocar a queda prematura das folhas. Nas plantas ornamentais, as moscas-minadoras causam, principalmente, danos estéticos. As principais espécies associadas às plantas ornamentais são: Chromatomyia syngenesiae, Liriomyza huidobrensis, Liriomyza sativae, Liriomyza trifolii. • Pulgões (Homoptera – Aphididae) – Podem ser encontrados nos brotos, nos ponteiros, na base de botões florais e na face inferior das folhas, vivendo em colônias, onde estão presentes ninfas e adultos ápteros ou alados. Tanto as ninfas como os adultos possuem aparelho bucal do tipo picador-sugador e inserem as peças bucais no floema para remover a seiva. O resultado são plantas que podem apresentar amarelecimento, atrofia, deformações e, inclusive, morte pelo enfraquecimento generalizado. Também expelem grande quantidade de substância pegajosa e açucarada como as cochonilhas, além de serem vetores de viroses. As principais espécies de pulgões citadas em plantas ornamentais são: Aphis gossypii, Capitophorus rosarum, Cerataphis lataniae, Macrosiphum rosae, Macrosiphum euphorbiae, Macrosiphoniella sanborni, Macrosiphum luteum, Myzus persicae. • Tripes (Thysanoptera – Thripidae) – Possuem aparelho bucal intermediário entre raspador e picador-sugador, o raspador atua sobre a superfície do vegetal, expondo a seiva, que é sugada pela outra parte do cone bucal. Os ovos são inseridos no tecido vegetal. Podem ser encontrados em folhas ainda enroladas e na face inferior das folhas abertas, no interior de botões florais e em hastes. As partes atacadas tornam-se descoradas, pode ocorrer o enrolamento de folhas e deformação das flores no momento da abertura. Em ataques severos, as folhas secam e caem. Também atuam como transmissores de viroses. As principais espécies de tripes citadas em ornamentais são: Frankliniella tritici, Frankliniella occidentalis, Heliothrips haemorrhoidalis, Retithrips syriacus, Selenothrips rubrocinctus, Thrips tabaci, Thrips palmi, Thrips simplex. 49 4.2 CONTROLE DE PRAGAS O ideal que se espera em um cultivo é evitar a entrada de pragas, mas esta é uma prática quase impossível de ser realizada mesmo em ambientes fechados. Alguns insetos podem não parecer problemáticos, a princípio, devido à quantidade, no entanto, caso haja a multiplicação desses insetos e não seja realizado nenhum tipo de controle, poderemos ter um grande problema na produção. Nesse caso, é importante que um trabalho de monitoramento e identificação seja feito. É preciso estar atento à presença de certos insetos, aqueles que são sabidamente prejudiciais às espécies cultivadas, e à quantidade desses insetos na área de produção. A quantidade de insetos determina a forma como será realizado o manejo. O que é mais recomendado é que exista um programa regular de inspeção das plantas e/ ou colocação de armadilhas para a avaliação da presença ou ausência de pragas, para se obter uma estimativa do tamanho populacional e verificar os danos já provocados e quais os danos potenciais. As medidas de controle devem levar em consideração fatores como: identificação da praga e seus aspectos biológicos, tamanho da população, a produção e a distribuição das plantas (necessidade de quarentena), presença de predadores naturais, a resistência que muitas espécies apresentam aos inseticidas e acaricidas já utilizados. Os métodos de controle podem ser físicos, cujo o objetivo é a alterar fatores ambientais, como luz, temperatura, umidade etc., para afetar a população de insetos, a principal estratégia é o uso de armadilhas. Podem ser biológicos com a utilização de inimigos naturais e inseticidas biológicos (extratos botânicos), de forma a prevenir, reduzir ou erradicar a infestação de pragas. E podem ser químicos, com o uso de moléculas sintéticas para o combate de pragas, que são diluídos em água para seu uso. São formulados visando o ideal de eliminar por completo a população de insetos. 4.3 DOENÇAS Doenças são distúrbios provocados pelo mau funcionamento de células, que ocorrem nas plantas, cujas causas podem ser resultantes da ação contínua de um agente patogênico ou fator ambiental. Esses distúrbios quebram o equilíbrio do balanço energético da planta e são externados por alterações chamadas sintomas, que são a caracterização da doença percebida pelos sentidos humanos. Mudanças na coloração das folhas, manchas foliares, encrespamento de folhas, murcha, enfezamento da planta, podem ser interpretados como sintomas demonstrativos de doenças. 50 As causas das doenças podem ser divididas em dois grupos: parasitárias ou infecciosas (agentes bióticos) e não parasitárias ou fisiológicas (agentes abióticos). Os agentes causais recebem o nome de patógenos. No grupo das doenças parasitárias estão as causadas por fungos, bactérias, vírus, riquétsias, micoplasmas, protozoários, viroides e nematoides. No grupo das doenças fisiológicas estão as induzidas por temperatura, excesso ou pouca umidade do solo, luz, oxigênio, poluição do ar, deficiência nutricional, toxicidade de minerais e pesticidas e práticas culturais impróprias. O diagnóstico da doença é feito com base nos sintomas apresentados pela planta e na identificação do agente causal. A relação entre o agente biótico e a planta- hospedeira é chamado de “ciclo da doença”, que possui cinco fases: sobrevivência, disseminação, infecção, colonização e reprodução.Os agentes causais danificam as plantas: parasitando, ou seja, quando o agente retira do hospedeiro todos os nutrientes de que precisa para sua sobrevivência, sem oferecer nada em troca; secretando toxinas, que podem ser enzimas ou controladores de crescimento, os quais prejudicam a planta hospedeira; bloqueando o transporte de nutrientes nos tecidos de condução da planta, quando a colônia se estabelece em pontos centrais do sistema fisiológico da planta; e, no caso do ambiente, as adversidades podem causar desequilíbrio químico, deixando a planta susceptível a ação de agentes bióticos. Os principais sintomas observados em plantas doentes são: antracnose, cancros em ramos e caules, distorção ou descoloração de folhas ou pétalas, enfezamento ou nanismo, ferrugens, galhas, manchas de folhas, míldios, mofo cinzento, murchas, oídios, podridões, tombamento de plântulas. O controle de doenças nas áreas de produção pode ser feito por (PETRY, 2008): • exclusão – com a interrupção da disseminação do patógeno com o uso de sementes e mudas sadias, eliminação de insetos que atuam como vetores de viroses etc.; • erradicação – que consiste em eliminar o patógeno que já está presente na produção através de técnicas como a rotação de culturas, eliminação de hospedeiros alternativos, eliminação do agente presente no solo; • proteção – busca evitar a infecção pela penetração do agente nas células da planta com a pulverização produtos químicos nas partes aéreas; • imunização – utiliza técnicas do melhoramento vegetal para introduzir resistência genética e criar cultivares menos susceptíveis à ação do agente patogênico; • terapia – é realizada em mudas ou sementes no período de quarentena, antes de introduzir esse material na área de produção, utilizando produtos químicos, calor; • regulação – são feitas modificações como a aplicação de tratos culturais adequados ou alterações ambientais como maior ventilação ou insolação, que conferem melhores condições de resistência para as plantas; 51 • evasão – o cultivo é realizado observando a escolha de área geográfica, local, data e sistema de plantio que não favoreçam o patógeno. No caso de ambiente protegido com controle dos fatores ambientais, isso é facilitado. Veremos, a seguir, os sintomas mais comuns observados em plantas ornamentais de acordo com o tipo de patógeno causador. 4.3.1 Doenças fúngicas • Antracnose É caracterizada por manchas de cor castanho-claro, encharcadas e isoladas em diversos órgãos como folhas, pecíolos, hastes, botões florais e frutos. A lesão se desenvolve normalmente no formato circular, em pequenos pontos que aumentam de tamanho. Com o progresso da doença, as lesões coalescem e provocam seca precoce em partes do órgão, as quais se destacam da planta ainda verdes. Atacam uma diversidade de plantas: antúrio, babosa, begônia, cíclame, comigo- ninguém-pode, espada de São Jorge, helicônia, hortênsia, lírio, orquídea, palmeira. Em cíclame e orquídeas o agente causal é o Colletotrichum gloeosporioides e em antúrio é o Colletotrichum sp. A doença ocorre, principalmente, em regiões quentes e úmidas, e a disseminação é feita pela água da chuva ou pelo vento. Para o controle, a recomendação é remover e destruir as partes afetadas, e que a irrigação seja realizada por gotejamento ou infiltração. •Ferrugem Se apresenta como lesões em forma de pústulas irregulares recobertas por massas de esporos que podem ter coloração amarelada, alaranjada ou marrom avermelhada. Em geral, são específicas para cada hospedeiro de forma que a ferrugem da roseira não ataca o crisântemo e vice-versa, mas por ser uma doença complexa pode acontecer do patógeno precisar de mais de um hospedeiro para completar seu ciclo de vida. As plantas ficam debilitadas e em casos severos as folhas secam e caem, o que compromete toda a planta, a qual pode morrer. Algumas plantas hospedeiras são: acácia, antúrio, cravo, crisântemo, gerânio, gladíolo, rosa. O agente causal em cravo é o Uromyces dianthi, em crisântemo o Puccinia horiana (ferrugem branca) e o Puccinia chrysanthemi (ferrugem parda), em orquídea o Hemileia oncidii, em antúrio o Uredo anthurii e em roseira o Phragmidium sp. 52 O controle é realizado pela escolha de matrizes sadias, retirada e incineração de partes doentes, as folhas devem ser mantidas secas. Existem diversos princípios ativos registrados que poderão ser utilizados, se for necessário. • Galha Caracteriza-se pelo intumescimento de órgãos como folhas, pétalas, brotos e frutos novos, que se tornam espessos e parcialmente deformados com aspecto esbranquiçado. Algumas vezes, pode apresentar aspecto pulverulento. As plantas hospedeiras são azaléa, camélia, ipomeia e as plantas da família Lauraceae. O controle é feito pela remoção das partes atingidas, que devem posteriormente ser incineradas. • Oídio É um fungo que tem ocorrência em diferentes hospedeiros (polífago). Caracteriza- se por apresentar manchas esbranquiçadas na face superior da folha, mas podem ocorrer nas duas faces, em caso de ataque intenso. As manchas podem ocorrer também no pecíolo, cálice pedúnculo e pétalas. Em estágio mais avançado, as folhas tomam uma coloração mais acinzentada e caem prematuramente, se essa desfolha for intensa, espécies mais susceptíveis deixam de florescer. Os períodos mais quentes e alta umidade (em torno de 80%) favorecem o desenvolvimento do oídio. Plantas hospedeiras: acalifa, azaléa, begônia, hortênsia, resedá. O agente causal em crisântemo é o Erysiphe cichoracearum, em roseira o Oidium leucoconium e em violeta africana o Oidium spp. O tratamento começa com a eliminação dos órgãos atacados, e a planta deve ser tratada com pulverizações à base de enxofre. Existem alguns produtos registrados e recomendados pelos órgãos oficiais de controle para as pulverizações. Outro ponto importante, é não fazer novos plantios próximos a lavouras infectadas ou velhas. • Míldio Essa doença pode ser identificada pelas manchas irregulares de cor parda na face superior das folhas, enquanto na face inferior, as estruturas do fungo se acumulam em formações semelhantes ao algodão. O sombreamento, temperatura amena, umidade elevada (acima de 90%) e alta densidade de plantio favorecem o ataque do fungo. O resultado são folhas que se enrolam, secam e caem, mas também podem afetar as extremidades dos ramos, pecíolos e brotos. Como plantas hospedeiras temos: roseira, sempre-viva, girassol. O agente causal da doença em roseiras é o Peronospora sparsa. 53 O controle é feito com o corte e a incineração das partes afetadas. Para o roseiral é indicado que se faça uma poda para o arejamento, de forma a diminuir a umidade dentro do plantel. Recomendam-se aplicações de chlorothalonil ou Mancozeb. • Mofo cinzento É uma doença em que, os primeiros sinais são pequenas manchas marrons aquosas de rápido espalhamento, essas queimaduras ocorrem no ápice das folhas e se estendem até a base e o pecíolo. Os órgãos afetados ficam cobertos pelas estruturas do fungo de aspecto pulverulento e coloração acinzentada, tornando-se inúteis. A disseminação é muito rápida em condições favoráveis com temperaturas amenas (16 a 23 °C), alta umidade e ventilação deficiente. Entre as plantas hospedeiras temos: antúrio, begônia, cíclame, cravo, crisântemo, gerânio, gloxínia, lírio, orquídea, roseira e violeta. O agente causal em todos é o Botrytis cinerea. O tratamento consiste em eliminar os órgãos afetados. No caso das roseiras, deve-se realizar uma poda de arejamento. Reduzir a umidade do ambiente também contribui para diminuir a intensidade. • Manchas de folhas Consiste em áreas escuras de tamanho e forma variáveis, e podem apresentar zonas concêntricas de tecido morto e necrosado.As pontuações podem iniciar em qualquer parte do limbo, posteriormente aumentam de tamanho podendo atingir folha toda. As características das manchas mudam de acordo com a planta hospedeira e o patógeno. Diversas plantas podem ser afetadas: crisântemo, dracenas, gramas em geral, hibisco, ipês, roseira. A doença tem como agentes causais: Alternaria sp., Septoria chrysanthemi e Ascochyta chrysanthemi. O tratamento depende do patógeno envolvido, mas a retirada das partes afetadas, ajuda a reduzir a disseminação para outras plantas. É necessário exame laboratorial para o diagnóstico adequado. • Murcha Caracteriza-se pela flacidez total ou parcial da planta, devido à incapacidade da planta em absorver água, mesmo com o solo úmido. O patógeno age entupindo os vasos com suas estruturas. 54 O ataque acontece pelas raízes, onde o patógeno penetra e impede a subida da seiva. Sem conseguir absorver a água, a planta perde a turgescência, se a doença progredir ocorre o ressecamento das folhas, enquanto as raízes apodrecem em pouco tempo. Temperaturas altas e solos mal drenados favorecem o aparecimento dessa doença. Plantas que podem ser prejudicadas são: antúrio, cravo, crisântemo, dália, margarida, orquídea. O problema mais comum é a Murcha de Fusarium, que tem como agente causal o fungo Fusarium sp. O controle é realizado com base em medidas preventivas como a manutenção do solo ou substrato bem drenado, limpeza e destruição de plantas doentes, substituição da terra do canteiro, rotação de cultura. 4.3.2 Doenças bacterianas • Mancha bacteriana Caracteriza-se pela presença de manchas transparentes, aquosas, com formas irregulares que se tornam amareladas ou pardas com a morte dos tecidos. Podem ocorrer no limbo ou nas margens das folhas, na haste da planta ou nos cálices das flores. A chuva e água de irrigação são os principais vetores que facilitam a disseminação da bactéria. Plantas hospedeiras: begônia, cravo, crisântemo, gerânio, orquídea. No Crisântemo o agente causal é o Pseudomonas cichorii. As plantas doentes devem ser separadas e as partes afetadas retiradas e destruídas. O local de cultivo deve ter baixa umidade e bom arejamento. O material propagativo deve ser adquirido em locais onde a doença não ocorra. • Murcha bacteriana As bactérias vivem no solo e penetram nas plantas pelas raízes, semelhante aos fungos, entopem os vasos que conduzem a seiva. A haste fica amolecida e os vasos se tornam escurecidos. As plantas susceptíveis a este ataque são o cravo e a dália. O agente causal é a bactéria Pseudomonas caryophylli. O tratamento consiste em destruir as plantas doentes, rotação de cultura e esterilização do solo. • Galha da coroa Caracteriza-se pelo aparecimento de tumores esféricos e ásperos na haste da planta, chamadas de galhas que, quando envolvem a haste causam a interrupção na circulação da seiva e a planta torna-se clorótica e raquítica, o que pode levar à morte. A penetração ocorre por ferimentos provocados nas raízes. 55 Plantas hospedeiras: crisântemo, girassol, roseira. O agente causal é o Agrobacte- rium tumefaciens. As plantas doentes devem ser erradicadas, deve-se realizar tratamentos com antibióticos como oxitetraciclina + estreptomicina nas áreas afetadas, esterilização do solo utilizado em canteiros ou vasos, rotação de cultura. 4.3.3 Viroses Vírus são proteínas complexas capazes de se reproduzir e se perpetuar somente no corpo de um hospedeiro vivo. Podem ser levados entre as plantas por insetos ou transmitidos ao propagar estacas de plantas doentes. Nas plantas ornamentais, observa-se, como efeitos das viroses, distorção ou descoloração de folhas ou pétalas, as mudanças podem ser na forma ou na cor de folhas ou pétalas. Essas alterações da cor são manchas em forma de anel, estrias, mosaico e clorose. O ataque de vírus em plantas como o cravo podem causar mancha em forma de anel, estrias amarelas e vermelhas e mosaico mosqueado; nas orquídeas surgem clorose, estrias brancas e mosaico, já em roseiras podem surgir o mosaico amarelo e o mosaico comum. Para citar alguns agentes viróticos temos em crisântemo o Topo virose – Chysanthemun stem necrosis vírus (CSNV), em orquídea o Cymbidium mosaic virus (CyMV) e Odontoglossum ringspot virus (ORSV), e em roseira o mosaico causado por um complexo viral. O controle das viroses é preventivo, deve-se utilizar material sadio para propagação e as plantas afetadas devem ser destruídas. 56 Neste tópico, você aprendeu: • Conhecer algumas espécies que podem ser cultivadas para corte ou vaso e que há uma diversidade entre as opções citadas. Esta diversidade é muito ampla, devido à quantidade de espécies e variedades conhecidas, que podem ser utilizadas na área da floricultura. • A propagação de flores e plantas ornamentais pode ser feita sexuadamente por sementes, mas existe uma preferência por métodos vegetativos (assexuada) como o uso de estacas, ganhando importância as técnicas de cultura de tecido. • Conhecemos algumas pragas e doenças que podem prejudicar a produção, e que medidas de controle devem ser adotadas desde o início, para evitar maiores danos. A melhor forma de evitar o ataque é a prevenção. RESUMO DO TÓPICO 3 57 1 As plantas que serão cultivadas, podem ser escolhidas considerando o mercado que se deseja atender, mas, para tanto, é necessário conhecer as características intrínsecas de cada espécie, as quais afetam as relações de cultivo. Com relação às plantas ornamentais, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) As flores de corte apresentam como principal característica a capacidade de se manterem belas na pós-colheita. ( ) O papiro é uma folhagem de corte que se adapta muito bem em regiões alagadas. ( ) A kalanchoe é uma planta suculenta que também pode ser utilizada como planta de corte. ( ) As orquídeas são plantas epífitas que só se desenvolvem bem quando cultivadas a pleno sol. ( ) A maioria das folhagens de vaso possuem características bem parecidas, entre elas o pH recomendado que fica entre 4,5 e 5,5. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) V – V – F – F – V. b) ( ) F – F – V – V – F. c) ( ) F – V – F – V – V. d) ( ) V – F – V – V – F. 2 A propagação de plantas é uma fase da produção na qual se deve escolher o método que melhor se adeque à espécie escolhida, mas também, aquele que proporcione maior economia nos custos da produção. Sobre os métodos de propagação, assinale a alternativa correta: a) ( ) A propagação sexuada é a principal forma de multiplicação das espécies orna- mentais cultivadas. b) ( ) O método da estaquia consiste em retirar uma parte dos ramos que não contenha gemas para induzir o enraizamento. c) ( ) O uso da borbulhia com gemas de uma mesma espécie, mas de cores diferentes em uma única planta, resulta em ramos com flores de cada cor utilizada. d) ( ) A mergulhia é a prática de envolver uma parte de um ramo não flexível com substrato para induzir o enraizamento. e) ( ) Na alporquia os ramos flexíveis são enterrados para que possam enraizar e dar origem a uma nova planta. 3 As pragas são um grande problema para a produção de plantas ornamentais. Entre as principais pragas encontradas neste tipo de cultivo, temos aquelas que expelem uma substância açucarada que favorece o surgimento de fungos, são elas: AUTOATIVIDADE 58 a) ( ) Lagartas, besouros, tripes. b) ( ) Lesmas, ácaros, lagartas. c) ( ) Mosca-branca, ácaros, pulgões. d) ( ) Cochonilha, mosca-minadora, tripes. e) ( ) Cochonilha, mosca-branca, pulgões. 4 A propagação de plantas pode ocorrer de forma sexuada, pela obtenção de sementes, ou de forma assexuada, utilizandopartes da planta para realizar a multiplicação da espécie. Descreva os métodos de propagação vegetativa. 5 Doenças são distúrbios que ocorrem nas plantas devido, muitas vezes, à ação de microrganismos que podem danificar as plantas e levá-las, inclusive, à morte. As doenças podem ser causadas por agentes bióticos que podem ser fungos, bactérias ou vírus. Cite os principais sintomas observados em cada grupo e as medidas de controle. 59 TÓPICO 4 — COLHEITA, PÓS-COLHEITA, ARMAZENAMENTO E COMERCIALIZAÇÃO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A colheita corresponde ao final da fase de produção. Depois de todos os cuidados despendidos durante o ciclo de desenvolvimento da planta, é na colheita que vemos o resultado de todo o trabalho. Na pós-colheita, outros cuidados são necessários para que o produto chegue ao consumidor final mantendo a qualidade. No entanto, é também imprescindível evitar perdas que gerem prejuízos para toda a cadeia. Neste tópico, veremos os cuidados necessários para que, não sejam em vão todos os esforços aplicados durante o cultivo. Compreenderemos que nessa fase é preciso ter tanta ou mais atenção durante a condução das atividades necessárias para que o produto chegue ao consumidor final. 2 ASPECTOS DA COLHEITA DE FLORES DE CORTE A colheita de flores de corte é normalmente realizada quando a flor está em botão. Este ponto pode ser indicado como o estágio de abertura a ser completado com sua colocação em água. A colheita da haste com a flor aberta deve ser evitada porque apresenta maior risco de perda. O momento da colheita está sujeito a variações regionais, que influenciam a época do ano em que ocorre a colheita, o sistema de cultivo utilizado (campo aberto, telado ou estufa), as variedades plantadas e a distância do mercado consumidor. Cada material vegetal possui padrões que definem sua qualidade, e esses padrões levam em conta aspectos externos como o formato da flor, comprimento da haste, número de flores e botões, presença de resíduos químicos, danos causados por pragas e/ou doenças, defeitos aparentes; e aspectos internos como a longevidade em ambientes internos sem alteração da cor, resistência ao estresse do transporte e comercialização, suscetibilidade ao resfriamento e o etileno. É importante que as flores estejam em seu desenvolvimento normal ao serem colhidas, estejam com boa quantidade de reservas e adequado suprimento de água, antes de atingir o ponto de completa maturação. 60 Os horários indicados para a colheita são aqueles do início da manhã e do final da tarde, quando as temperaturas são mais amenas, sendo a faixa de horário definida pela sensibilidade da espécie ao calor, porém, a exposição excessiva é totalmente desaconselhada para qualquer espécie, pois pode ocorrer desidratação das hastes. Quando a colheita é realizada em horários mais quentes, os tecidos estão menos túrgidos, o que significa que há menos água e, com a separação da flor em relação à planta-mãe, resulta em maior desidratação da haste, que reflete em menor resistência na pós-colheita. A colheita de flores, em geral, é realizada manualmente, dessa forma, é possível selecionar aquelas que estão no ponto de colheita adequado para a comercialização. O corte deve ser realizado com uma ferramenta afiada e ser feito na base da haste. Podem ser utilizadas tesouras ou lâminas próprias para o corte, de forma a evitar o esmagamento dos vasos condutores. Considerando que doenças e pragas podem ser levadas de um canteiro a outro pelo uso de ferramentas, é importante fazer a desinfestação da ferramenta utilizada, ao menos na mudança de canteiro de forma preventiva. Recomenda-se utilizar solução com hipoclorito de sódio a 5%. O ponto de colheita varia entre as espécies, uma vez que cada uma possui características próprias e específicas. Para o antúrio (Anthurium spp.), o ponto de colheita pode ser detectado pela mudança da coloração da espádice e a proporção de flores abertas sobre a espádice. Deve-se observar que a espata esteja totalmente expandida e metade a 2/3 de suas flores estejam maduras. Colheitas precoces podem reduzir a vida pós-colheita das inflorescências e colheitas tardias comprometem a qualidade do produto final. Na alpínia (Alpinia spp.) a maior durabilidade é verificada quando o terço superior das brácteas já se encontra totalmente expandido, a haste floral deve possuir diâmetro igual ou maior que 1cm e ser o mais longo possível, devendo ser colhido inteiro. A colheita de estrelícia (Strelitzia spp.) pode ser realizada quando as primeiras flores saem da espata e ainda estiverem fechadas ou quando a primeira flor abrir. A haste contendo a inflorescência é quebradiça e exige cuidado no manuseio, ela deve ser arrancada da planta com um leve puxão, e não cortada. A colheita da helicônia (Heliconia spp.) é realizada quando as hastes florais apresentam duas ou três brácteas abertas e medem 70 cm-100 cm de altura. O corte deve ser em diagonal na base da planta, deixando pelo menos de 10 a 15 cm do pseudocaule junto à haste. As folhas acima das inflorescências devem ser eliminadas, deixando-se apenas os pecíolos para proteção durante o transporte. 61 As hastes do sorvetão (Zingiber spectabile) devem ser colhidas quando a inflorescência inteira medir pelo menos 15 cm de comprimento. Os tecidos devem estar bem-hidratados e todas as flores devem ser removidas. O ponto de colheita pode variar desde a fase de botão à inflorescência totalmente expandida. No bastão-do-imperador (Etlingera elatior) o ponto de colheita é definido pelo mercado a que se destinam as flores. A colheita pode ser feita desde o estágio de botão até o de brácteas totalmente expandidas. O tamanho mínimo exigido das hastes florais para comercialização é de 60 cm. O ideal é que as hastes ao serem colhidas sejam colocadas em locais sombreados e as bases imersas em água, para evitar a perda da turgescência dos tecidos. Na roseira (Rosa spp.) o ponto ideal para a colheita é quando as rosas estão no estágio de botões fechados, com hastes e flores túrgidas. O corte do botão deve ser realizado a partir da 4º gema. As flores devem ser mantidas na água após colhidas para não perder a turgidez. No crisântemo (Chrysanthemum spp.) a definição do ponto de colheita ocorre em relação à distância do mercado onde as flores serão comercializadas, de forma que, para mercados distantes parte das inflorescências devem estar fechadas (40 a 50% fechadas) e para mercados próximos as inflorescências podem estar mais abertas (70% abertas). Visualmente, o ponto de colheita é o estágio em que as lígulas externas se encontram abertas, e as flores do centro da inflorescência encontram-se em início de abertura. O girassol ornamental para corte (Helianthus annuus L.) deve ser colhido com o capítulo parcialmente aberto, pois estas hastes quando mantidas em água, podem durar até uma semana após a completa abertura. O diâmetro mínimo exigido para comercialização de girassol de corte para capítulos parcialmente abertos varia de 45 a 55mm de acordo com o tamanho das hastes. O ponto de colheita para a flor de corte da gérbera (Gerbera jamesonii B.) ocorre quando há duas fileiras de flores tubuladas (flores da coroa) visivelmente abertas. Deve-se puxar as hastes com remoção de sua base antes da hidratação. Para algumas espécies ou variedades pode haver a necessidade de se ter uma solução com conservante para imersão da base da haste imediatamente após a colheita, ou a utilização de algum material como papel, papel impermeável ou polietileno, para o acondicionamento das flores. A operação de colheita é realizada de acordo com a logística estabelecida para venda do produto e o tamanho da área, mas também deve respeitar o ponto de colheita da espéciecultivada. Pode ocorrer uma duas vezes por semana. 62 3 CONSERVAÇÃO PÓS-COLHEITA Ao finalizar a colheita alguns processos devem ser iniciados para manter a qualidade do produto, até que esse chegue ao consumidor final, e evitar perdas de produtos, mantendo a quantidade de produtos comercializados próxima da que foi colhida. A esse conjunto de práticas que visam manter ao máximo a durabilidade dos produtos dá-se o nome de pós-colheita. A produção e qualidade das flores colhidas estão correlacionadas com cultivares, condições edafoclimáticas, tratos culturais, condições fitossanitárias e condições nutri- cionais das plantas. Dessa forma, a qualidade do produto na pós-colheita é influenciada pelas escolhas feitas na pré-colheita. Sabemos que as flores têm um tempo de vida pré-determinado, sua função biológica é a reprodução, por isso elas permanecem abertas por um período que seja suficiente para ocorrer a polinização. A expectativa no comércio de flores é prolongar esse período o máximo possível. Podemos dizer que, a pós-colheita inicia-se no momento do planejamento do cultivo e deve ser considerada em todo o manejo durante a condução das plantas. A decisão sobre o ponto em que se deve iniciar a colheita e a forma como o material vegetal é manuseado durante o processo, podem influenciar, junto com os tratamentos pós- colheita, a extensão da vida útil das flores de corte, ou mesmo, quando comercializadas como planta em vaso. Ao serem cortadas, os processos fisiológicos passam a atuar sobre flores e folhagens de forma mais rápida já que, suas reservas, compostas principalmente por carboidratos, gradativamente são exauridas devido à respiração normal. Podem ocorrer outros fatores que alterem a durabilidade desse material durante e após o corte como: lesões durante a colheita; exposição excessiva a temperaturas inadequadas após o corte; colheita antecipada ou muito atrasada; armazenamento ina- dequado que propicia doenças pós-colheita; perda de umidade em razão da transpiração; alterações bioquímicas; acúmulo de etileno. Veremos agora, os fatores fisiológicos que afetam a pós-colheita das flores de corte durante o transporte, armazenamento, comercialização e utilização final do produto. • Relações hídricas O murchamento e a senescência das pétalas podem acontecer devido à absorção de água pelas hastes ocorrer de forma deficiente pela redução da condutância hidráulica na haste. Isso acontece porque os vasos xilemáticos são obstruídos fisicamente por microrganismos, pela deposição de pectina e fenóis ou por embolismo. 63 Como a planta não consegue absorver ou absorve muito pouco a água fornecida, ela perde turgescência em razão do desbalanceamento que ocorre entre a água que foi utilizada, ou perdida, e a água que chegou até os tecidos. Quando a flor chega ao ponto de murchamento ou apresenta problemas para a abertura das pétalas, significa que sua vida útil acabou. A qualidade da água também é um fator a ser considerado, porque sua composição pode influenciar diretamente a longevidade de flores de corte. A presença de sais pode afetar a absorção devido ao efeito osmótico. O pH também pode determinar a capacidade de absorção de água pelas flores cortadas, quando é alcalino diminui a mobilidade desta no caule, de forma contrária, a água é mais rapidamente absorvida quando o pH é ácido. • Carboidratos O momento da colheita representa a separação entre a planta-mãe e o material colhido (flores ou folhagens), que param de receber nutrientes e passam a se manter consumindo as reservas em seus tecidos. Os carboidratos são, então, requeridos para que a respiração seja mantida, e também agem como regulador osmótico dos tecidos. Dessa forma, o início da senescência é marcado pela diminuição da concentração de carboidratos. Quanto maior essa concentração maior durabilidade pós-colheita. • Etileno A senescência das pétalas e flores é a fase final do desenvolvimento e está relacionada com processos que conduzem à desorganização celular, esse conjunto de processos fisiológicos que culminam com a morte e a abscisão. Esta fase pode ser espontânea devido ao processo natural do desenvolvimento das plantas, marcado por mudanças bioquímicas como a elevação da atividade de enzimas hidrolíticas, degradação do amido e da clorofila e produção climatérica de etileno, mas também pode desencadeada por agentes externos como o corte da haste ou o uso do etileno. O etileno é o regulador de crescimento que tem efeitos sobre a indução da senescência, abscisão e murchamento das flores. Algumas flores apresentam maior ou menor sensibilidade à ação do etileno, e são agrupadas em: muito sensíveis (cravo, orquídeas, lírio); pouco sensíveis (antúrio, gérbera, tulipas) e insensíveis ao etileno (rosas, gladíolos, ave do paraíso). 64 O etileno é um regulador de crescimento endógeno e o único hormônio vegetal gasoso. Seu aumento na planta ocorre quando há a abscisão foliar, a senescência de flores e o amadurecimento de frutos. Alguns fatores externos induzem a síntese de etileno, devido ao estresse sofrido pela planta (escuro, injúria mecânica, doenças e estresses fisiológicos). O etileno tem papel importante na regulação do processo de degradação intrínseca da planta. O principal objetivo na pós-colheita é aumentar a durabilidade dos produtos. Para que isso aconteça, existem tratamentos que podem aumentar o tempo de armazenamento e, com isso, o período de comercialização das flores e folhagens cortadas. O armazenamento é importante para a manutenção do equilíbrio entre o mercado distribuidor e consumidor de flores de corte. • Pré-acondicionamento Consiste em um tratamento com água quente que extrai o ar dos talos. O tratamento também melhora a posterior absorção de água porque provoca efeitos bioquímicos no interior dos tecidos. As plantas que respondem bem a esse tratamento são as lenhosas, rosas de estufa, crisântemos, dálias e produtoras de látex. • Pré-resfriamento As flores e folhagens são resfriadas rapidamente logo após a colheita. Com isso, é possível reduzir a perda de umidade, retirar o calor, retardar a deterioração, diminuir a respiração e o risco de infecção por patógenos. Botões de cravo e crisântemos respondem bem a esse tratamento. • Resfriamento A refrigeração reduz a transpiração, a taxa de respiração, a produção de etileno, reduz a atividade enzimática e inibe a incidência de microrganismos. É o método mais econômico para armazenamento longo, e mesmo que sejam utilizados outros métodos, estes se tornam mais eficientes quando suplementados com tratamentos de baixas temperaturas. Entre as desvantagens das baixas temperaturas, é que podem ocorrer mudanças na coloração das pétalas e queima das folhas. Os métodos de armazenamento refrigerado variam em função da espécie e do período de estocagem. O método úmido é utilizado para curtos períodos de armazenagem, e o método a seco é usado para períodos prolongados. 65 Várias flores de corte podem ser armazenadas dessa forma como antúrio, cravo, crisântemo, gérbera, gladíolo, lírio e rosa. • Tratamentos químicos As soluções preservativas são utilizadas para manter a qualidade e prolongar a vida das flores ou folhagens colhidas. São compostas por um substrato energético (sacarose); uma substância conservante básica como um agente biocida (8-HQC); e uma substância conservante auxiliar, como um agente acidificante (sulfato de alumínio ou ácido cítrico) ou um agente antietileno (tiossulfato de prata). As soluções são formuladas de acordo com o objetivo (PETRY, 2008): ◦ Soluções de condicionamento: é realizada a saturação com água para a restauração da turgidez das flores e folhagens cortadas, pode ser feita após a colheita, duranteo transporte ou no armazenamento. ◦ Soluções de pulsing: consiste em saturar os tecidos florais com açúcares. O tratamento é considerado rápido e afeta a fase final da vida das flores e folhagens, prolongando-a mesmo após a transferência para a água ou soluções de manutenção. ◦ Soluções de abertura floral: utilizadas quando os botões colhidos estão imaturos ou a quantidade de botões abertos necessárias numa determinada época não são suficientes. Semelhante à solução de pulsing, porém o teor de açúcar é inferior, e o período de uso superior. ◦ Solução de manutenção: são utilizados produtos comerciais que favorecem a qualidade das flores e folhagens cortadas. 4 PLANEJAMENTO DA PRODUÇÃO COMERCIAL a) Mercado Para iniciarmos uma produção comercial, é importante que o produtor conheça a estrutura do mercado de flores, esta informação serve para indicar o caminho mais viável. Os setores que compõem a cadeia do agronegócio são: produção, distribuição, atacado, varejo e consumidor. Um estudo de mercado eficiente deve considerar seis aspectos fundamentais: segmentação; público-alvo; necessidades do público-alvo; concorrência; barreiras de entrada; regulamentação. A segmentação traça o perfil dos diferentes grupos de compradores de acordo com suas necessidades e preferências, que no caso das plantas ornamentais podemos dividir em quatro segmentos principais: flores de corte; folhagens de corte; flores de vaso; e folhagens de vaso. 66 O público-alvo é o grupo que pode trazer maior retorno financeiro para o investimento, o qual pode variar de acordo com a região de produção, a escolha das espécies cultivadas e no caso das flores as datas comemorativas. Quando se tem em mente o público-alvo é possível definir metas de trabalho e oferecer produtos para suprir suas necessidades. Conhecer a concorrência e oferecer produtos diferenciados é outro aspecto que não deve ser esquecido para que o negócio possa crescer. É preciso identificar potenciais barreiras que possam impedir ou dificultar o início ou a expansão da produção. A regulamentação se refere às questões burocráticas, como leis e normas técnicas, que precisam ser atendidas quando se inicia qualquer atividade comercial agrícola. b) Localização O cultivo de flores requer espaço, portanto a área escolhida deverá ser buscada na zona rural. É preferível que haja proximidade com as cidades para facilitar a comercialização, mas quando não é viável, é indicado que o local fique próximo a rodovias para facilitar o escoamento da produção. Outro ponto importante, é conhecer o solo antes de adquirir o local, devendo ser realizada uma análise em laboratório certificado, pois uma produtividade expressiva depende da qualidade do solo e da capacidade de ajuste às condições ideais de plantio. Podemos dividir em três categorias alguns aspectos considerados como favoráveis para a produção: infraestrutura (energia elétrica, água e esgoto, serviço telefônico e de internet; via de acesso ao local de produção e pontos de escoamento da produção), existência de mão de obra qualificada e condições naturais (solos favoráveis para o plantio de várias espécies, terrenos pouco acidentados e clima favorável). c) Espécies cultivadas No Brasil, há uma diversidade de climas e solos, o que permite o cultivo de espécies diversas, de origens nativas e exóticas, oriundas de clima temperado e tropical. No entanto, a escolha da espécie precisa ser feita de acordo com a região onde a produção será instalada. É importante conhecer a espécie que se pretende cultivar e quais os aspectos relacionados a isso como: classificação botânica, substrato adequado, necessidades nutricionais, principais pragas e doenças, manejo pós-colheita, durabilidade, tipo de estrutura mais adequada para a produção, controle do fotoperíodo e temperatura dentre outras. 67 É importante conhecer bem os ciclos das espécies de plantas ornamentais cultivadas, pois cada espécie tem a época e as condições de solo e clima adequadas para o plantio, e isso pode influenciar na comercialização do produto, seja porque as plantas não atingiram a maturidade e por isso não podem ser colhidas ou porque há excesso de produto no mercado. d) Fornecedores/matéria-prima Deve-se estar atento à escolha de fornecedores idôneos e comprometidos para garantir a qualidade e a sanidade dos produtos. Os principais produtos utilizados pelos produtores de flores e plantas ornamentais são: estufas, telas de sombreamento, sistema de irrigação, sistema de iluminação, câmara fria, vasos, bandejas, substratos, mudas, sementes, bulbos, rizomas, adubos, defensivos químicos e biológicos, reguladores de crescimento, embalagens, dentre outros. e) Organização do processo produtivo É importante conhecer bem os ciclos das flores e plantas ornamentais que serão cultivadas, para disponibilizar os produtos durante o ano e, especialmente, nas principais datas comemorativas quando há um aumento significativo da demanda. Cada espécie tem suas próprias exigências fisiológicas, que se refletem na época e nas condições de solo e clima adequados para a implantação do cultivo. f) Comercialização A comercialização eficiente exige estruturação logística que inclua técnicas e operações de transporte, utilização de caminhões com isolamento térmico e acondicionamento dos produtos em locais adequados. A estrutura do mercado interno para a comercialização de produtos é formada por atacado, onde atuam as cooperativas, centrais de abastecimento e centrais privadas; distribuidores ou intermediários para a venda direta; o varejo, que pode ser tradicional, autosserviço ou comércio eletrônico; o setor de serviços, para o qual as flores e plantas ornamentais são insumos para o serviço oferecido. Todos esses atores têm por finalidade fazer o produto chegar ao consumidor final, que pode ser qualquer um de nós. A comercialização é uma fase que pode ser muito crítica dentro da cadeia de produção de flores e plantas ornamentais. O destino da produção, desde o produtor até o consumidor final, passa por diferentes veículos de comercialização. Se esta etapa não for eficiente, todas as anteriores serão perdidas. 68 LEITURA COMPLEMENTAR ASPECTOS LEGAIS DA PRODUÇÃO DE PLANTAS ORNAMENTAIS Ângela Maria Pereira do Nascimento Simone Novaes Reis Lívia Mendes Carvalho A produção de sementes e a formação de um viveiro de mudas para fins de exploração comercial deverão ser registrados junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), conforme a Lei Federal Nº 10.711, de 5 de agosto de 2003, que regulamenta o Sistema Nacional de Sementes e Mudas. O produtor deve obedecer às normas e aos padrões técnicos e legais vigentes, e responsabilizar-se pela qualidade do produto e por todos os procedimentos pertinentes ao registro e à condução da produção, além de fornecer as informações solicitadas, no momento da fiscalização das áreas de produção. Cada estado possui sua própria legislação no que tange à produção, ao comércio, trânsito, armazenamento e à sanidade das mudas de plantas ornamentais, cabendo ao produtor procurar o órgão responsável, providenciar o registro do viveiro e o seu próprio, como produtor de mudas, e contratar um responsável técnico. Para a produção de mudas e sementes, o produtor, bem como todos os agentes envolvidos no processo (responsáveis técnicos, fiscais, comerciantes, transportadoras etc.), devem estar devidamente inscritos no Registro Nacional de Sementes e Mudas (RENASEM). Todas as categorias envolvidas no processo deverão realizar os cadastros de acordo com as normas estabelecidas. As etapas básicas deste processo consistem em: • ler todas as normas correspondentes à categoria; • coletar e reunir documentos necessários; • preencher formulários anexos de acordocom a categoria; • realizar o pagamento das taxas correspondentes; • manter os dados cadastrais atualizados; • ficar atento aos prazos de renovação do cadastro; • manter a documentação disponível para a fiscalização. 69 A produção de flores e plantas ornamentais precisa estar em conformidade com a seguinte legislação específica: • Lei nº 10.711/2003: dispõe sobre o Sistema Nacional de Sementes e Mudas e dá outras providências. • Lei 9456/1997: institui a Lei de Proteção de Cultivares, e dá outras providências. • Instrução Normativa Nº 35/2008: aprova os formulários necessários para o requerimento de proteção de cultivar e para o relatório técnico descritivo de obtenção de cultivar. • Instrução Normativa Nº 52/2007: estabelece a lista de pragas quarentenárias ausentes (A1) e de pragas quarentenárias presentes (A2), e aprova os procedimentos para as suas atualizações. • Instrução Normativa Nº50/2006: aprova as Normas para Importação e Exportação de Sementes e de Mudas. • Instrução Normativa Nº 24/2005: aprova as Normas para Produção, Comercialização e Utilização de Mudas. O MAPA é o órgão responsável por promover, coordenar, normatizar, supervisionar, auditar e fiscalizar as ações decorrentes da produção de mudas. Além disso, os Estados e o Distrito Federal devem elaborar normas e procedimentos complementares relativos à produção, e exercer a fiscalização do comércio estadual de sementes e mudas. Todas as etapas de produção de mudas deverão ser acompanhadas pelos responsáveis técnicos, pelo engenheiro agrônomo ou engenheiro florestal, que devem estar devidamente credenciados no RENASEM. O Responsável Técnico deverá assumir a responsabilidade por todas as fases do processo, firmando os Termos de Compromisso junto ao MAPA, de acordo com as atividades exercidas, efetuar a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), elaborar e assinar o projeto técnico de produção de mudas, quando for o caso. Responde, também, pela realização das vistorias e assinatura dos laudos necessários. A vistoria é o processo de acompanhamento da produção de mudas pelo responsável técnico em todas as suas etapas, até a identificação do produto final, visando a verificar o atendimento às normas, aos padrões e procedimentos estabelecidos, mediante a emissão do respectivo Laudo de Vistoria. Deverão ser efetuadas vistorias durante os processos de semeadura, no plantio, na enxertia ou repicagem e na fase de pré-comercialização. No processo de certificação, as vistorias serão realizadas pelo responsável técnico do certificador e do produtor. No laudo de vistoria, deverão constar as recomendações técnicas e os procedimentos necessários à produção de mudas, como a indicação de não-conformidades e suas respectivas medidas corretivas. 70 Muitos materiais e várias técnicas podem ser utilizados no processo de produção de mudas, sendo que, para cada material, devem ser observadas as respectivas normas. Os materiais podem ter origem genética comprovada, ou não, devendo ser observadas as exigências em cada caso. Os principais materiais propagativos descritos na legislação são: • Borbulheira: conjunto de plantas de uma mesma espécie ou cultivar proveniente de planta básica, planta matriz ou muda certificada, destinadas a fornecer borbulhas. • Planta básica: obtida a partir de processo de melhoramento, sob responsabilidade e controle diretos do seu obtentor ou introdutor, mantidas as suas características de identidade e pureza genética. • Planta matriz: fornecedora de material de propagação que mantém as características da planta básica da qual é proveniente. • Jardim clonal: conjunto de plantas, matrizes ou básicas, destinadas a fornecer material de multiplicação de determinada cultivar. Todas as plantas fornecedoras de material para propagação deverão ser devidamente registradas. Os diferentes materiais propagativos devem possuir a inscrição junto ao órgão de fiscalização da Unidade da Federação em que estes estejam instalados, e serem renovados a cada três anos, salvo o previsto em normas específicas. A certificação é o processo que controla a produção de mudas, mediante controle de qualidade em todas as suas etapas, incluindo o conhecimento da origem genética e o controle de gerações. O processo de certificação tem por objetivo disponibilizar material de propagação vegetal com garantia de identidade e qualidade, atendidos os padrões e as normas específicas estabelecidas. A certificação da produção é feita pelo MAPA, pela entidade certificadora ou pelo certificador de produção própria credenciados no RENASEM. A muda certificada poderá ser obtida a partir de material de propagação proveniente de planta básica, planta matriz, jardim clonal ou borbulheira, e também, a partir de sementes, das categorias genética e básica certificadas de primeira geração – C1; ou de segunda geração – C2. O MAPA certificará a produção nos seguintes casos: por abuso do poder econômico das entidades certificadoras; em caráter suplementar, em face da suspensão ou cassação do credenciamento do certificador ou da entidade certificadora; caso seja necessária sua atuação para atender aos interesses da agricultura nacional e da política agrícola; e para atender às exigências previstas em acordos e tratados relativos ao comércio internacional. No processo de certificação, a produção de mudas fica condicionada à prévia inscrição da Planta Básica, Planta Matriz, Jardim Clonal ou Borbulheira no órgão de fiscalização, observados os padrões e as normas estabelecidos. A certificação fitossanitária é um procedimento que atesta a condição de origem e sanidade de produtos vegetais capazes de disseminar pragas regulamentadas. Os documentos emitidos são: o Certificado 71 Fitossanitário de Origem (CFO) para o produto vegetal na propriedade rural, e o Certificado de Origem Consolidado (CFOC) na unidade de consolidação (beneficiadora, processadora ou embaladora). Só estão autorizados a emitir os certificados os Responsáveis Técnicos (RT), engenheiros, agrônomos ou florestais habilitados em cursos específicos de capacitação, ministrados regularmente nos órgãos estaduais de fiscalização. Estará apta à comercialização, em todo o território nacional, a muda produzida e identificada de acordo com o Regulamento da Lei nº 10.711, de 2003, aprovado pelo Decreto nº 5.153, de 2004. A comercialização de mudas somente poderá ser feita por produtor, reembalador ou comerciante inscrito no RENASEM. No processo de comercialização, transporte e armazenamento, a muda deve estar identificada e acompanhada da respectiva Nota Fiscal e de cópia do Atestado de Origem Genética, ou do Certificado de Mudas, ou do Termo de Conformidade, em função de sua classe e categoria. Em alguns casos, quando exigido pela legislação fitossanitária, para o trânsito de mudas, além dos documentos supracitados, será obrigatória a Permissão de Trânsito de Vegetais. O preparo da muda para comercialização deverá ser realizado de acordo com as normas estabelecidas para cada espécie. As etapas de preparação da muda envolvem: coleta ou arranquio, beneficiamento (operações para aprimorar a qualidade da muda) e embalagem e identificação detalhada das mudas. Após o preparo da muda, elas deverão ser armazenadas de forma a manter a individualidade dos lotes e em local adequado à manutenção de sua qualidade. No processo de comercialização, pode haver intermediários e reembaladores. Entende-se por reembalador de mudas toda pessoa física ou jurídica, e inscrita no RENASEM, que, assistida por Responsável Técnico adquire muda reembala e a revende. O reembalador de mudas deve responsabilizar-se pela reembalagem e pelo controle da qualidade e identidade das mudas, em todas as etapas da reembalagem; deve atender a todos os prazos e normas estabelecidos para esses procedimentose o armazenamento. A identificação do lote de mudas formado a partir da reembalagem, deverá permitir sua correlação com o lote que lhe deu origem. A muda certificada poderá ser reembalada, desde que sua certificação seja revalidada. Sem esta revalidação, a muda certificada passará à categoria da classe não certificada. As ações de fiscalização da produção de mudas podem ocorrer em todas as etapas do processo de produção. Pode ser iniciado com a inscrição do viveiro ou da unidade de propagação in vitro e concluído com a emissão da nota fiscal de venda pelo produtor ou pelo reembalador, com o objetivo de verificar se as mudas estão sendo produzidas em conformidade com as normas e os padrões estabelecidos. No exercício de suas funções, o fiscal terá poder de polícia e livre acesso aos estabelecimentos, produtos e documentos previstos na legislação referente às mudas. FONTE: http://twixar.me/zDMm2. Acesso em: 8 jun. 2022. 72 Neste tópico, você aprendeu: • A importância dos cuidados na colheita. O ponto de colheita pode influenciar na longe- vidade pós-colheita, e que é necessário o uso de ferramentas afiadas e desinfectadas. • Vimos também, o ponto de colheita de algumas espécies e como isso é mutável, inclusive entre as variedades de uma mesma espécie pode haver diferenças no momento ideal para a colheita. • Com relação à pós-colheita, podemos compreender que os cuidados dispensados até a colheita influenciam diretamente na durabilidade do produto. • Três processos fisiológicos são responsáveis pelas perdas de qualidade durante o transporte, armazenamento e comercialização: relações hídricas, carboidratos e etileno, mas existem tratamentos capazes de parar ou ao menos, desacelerar estes processos. • Uma produção comercial precisa ser bem planejada e todos os aspectos que a envolvem devem ser observados para que se tenha sucesso. • A comercialização é uma fase muito importante e deve ser parte do planejamento, porque mesmo que toda a parte de cultivo tenha sido bem-feita, o trabalho será perdido caso o produto seja disponibilizado em um período errado. RESUMO DO TÓPICO 4 73 1 A colheita das flores de corte representa um momento crucial do cultivo, uma vez que se não for realizada corretamente pode representar a perda de todo o trabalho empenhado durante o ciclo da cultura. Sobre esse aspecto, classifique as sentenças em V para verdadeiras e F para as falsas: ( ) O ponto de colheita é igual para todas as espécies e não sofre influência da época do ano. ( ) A qualidade de uma flor de corte é avaliada de acordo com a espécie, pois cada espécie possui características próprias. ( ) As flores devem ser colhidas, preferencialmente em períodos de temperaturas amenas para reduzir as perdas de água. ( ) As ferramentas utilizadas na colheita podem transportar pragas e doenças de um canteiro para outro, por isso recomenda-se que se faça a desinfecção antes da mudança. ( ) O ponto de colheita da Rosa spp. é quando as pétalas estão completamente abertas. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) F – V – F – V – F. b) ( ) F – F – V – V – F. c) ( ) F – V – V – V – F. d) ( ) V – V – F – V – F. 2 A pós-colheita se inicia ainda na área de produção. No momento em que se realiza a colheita, já deve haver uma estrutura que minimize as perdas que os produtos sofrem após serem desligados da planta-mãe. Assinale a alternativa correta em relação a pós-colheita de flores: a) ( ) A pós-colheita não é influenciada pelos cuidados realizados durante o período de cultivo. b) ( ) Problemas durante a condução da colheita podem alterar a durabilidade das flores e folhagens na pós-colheita. c) ( ) Após o corte, os processos fisiológicos são paralisados, não sendo necessário nenhum tipo de ação para o armazenamento dos produtos. d) ( ) O etileno é responsável por manter a respiração normal das flores e folhagens após o corte. e) ( ) O uso de tratamentos químicos não é recomendado para a pós-colheita de flores e folhagens. AUTOATIVIDADE 74 3 Para se obter sucesso com a produção comercial de flores e plantas ornamentais é imprescindível ter atenção com os diversos aspectos que envolvem a cadeia produtiva. Com relação a esses aspectos, classifique as sentenças em V para as verdadeiras e F para as Falsas: ( ) Conhecer o mercado, no qual se pretende estar inserido, é importante para evitar erros que possam ser cruciais. ( ) A localização da área de produção não tem importância, podendo ser escolhida qualquer uma que seja mais barata. ( ) Conhecer o ciclo das espécies cultivadas auxilia na escolha da época de plantio mais adequada para disponibilizar os produtos. ( ) A escolha de fornecedores idôneos para a aquisição de matérias primas é um dos pontos importantes no planejamento comercial. ( ) A distribuição dos produtos é feita exclusivamente para os atacados. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) V – V – F – F – V. b) ( ) F – F – V – V – F. c) ( ) F – V – F – V – V. d) ( ) V – F – V – V – F. 4 Para uma pós-colheita eficiente é importante que a colheita seja realizada com os cuidados devidos. Cite os cuidados que se deve ter para aumentar a durabilidade das flores e folhagens de corte na pós-colheita. 5 Após a colheita, as flores e folhagens iniciam rapidamente diversos processos fisiológicos que passam a utilizar as reservas presentes nos tecidos e que, se não forem interrompidos, resultarão na rápida degradação dos produtos. Explique como os processos fisiológicos afetam a pós-colheita de flores e folhagens de corte. 75 ALEXANDRE, M. A. V. et al. Doenças das plantas ornamentais. In: AMORIM, L. Manual de Fitopatologia: doenças das plantas cultivadas. São Paulo, SP: Agronômica Ceres, 2016. v. 2, 5. ed., cap. 63, p. 603-624. BUNT, A. C. Some physical properties of pot-plant composts and their effect on plant growth. Plant and soil, [s. l.], v. 13, n. 4, p. 322-332, 1961. IBRAFLOR. O mercado de flores no Brasil. 2022. Disponível em: https://www. ibraflor.com.br/_files/ugd/b3d028_2ca7dd85f28f4add9c4eda570adc369f. pdf. Acesso em: 20 abr. 2022. KIEHL, E. J. Fertilizantes orgânicos. Piracicaba: Editora Agronômica Ceres Ltda., 1985. 492 p. OEC. The Observatory of Economic Complexity. Cut flowers, 2022. Disponível em: https://oec.world/en/profile/hs/cut-flowers. Acesso em: 20 abr. 2022. PETRY, C. Plantas ornamentais: aspectos para a produção. Passo Fundo: Editora Universidade de Passo Fundo, 2008. 202 p. RIBEIRO, A. C.; GUIMARÃES, P. T. G.; ALVAREZ, V. V. H. Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais. Viçosa, MG: Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais, 1999. 359 p. SEBRAE. Como montar um negócio para cultivo de flores, 2017. Disponível em: http://twixar.me/SDMm. Acesso em: 30 maio 2022. SEBRAE. Flores e plantas ornamentais do Brasil. Série estudos mercadológicos, v. 2. 2015.Disponível em: http://twixar.me/5DMm. Acesso em: 21 abr. 2022. SEGOVIA, J. F. O. Princípios de nutrição e adubação de flores e plantas ornamentais tropicais. In: SEGOVIA, J. F. O. (ed.). Floricultura tropical: técnicas e inovações para negócios sustentáveis na Amazônia. Brasília, DF: Embrapa, 2020. Cap. 4, p. 67-112. SENAR. Plantas ornamentais: jardinagem. Brasília: SENAR, 2017. 84 p. TERRA, S. B.; ZÜGE, D. P. P. de O. Floricultura: a produção de flores como uma nova alternativa de emprego e renda para a comunidade de Bagé-RS. Revista Conexão UEPG, Ponta Grossa, v. 9, n. 2, p. 342-353, jul./dez. 2013. REFERÊNCIAS 76 77 INTRODUÇÃO AO PAISAGISMO UNIDADE 2 — OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender conceitos sobre paisagem; • conhecer os principais elementos paisagísticos; • identificar os fatoresque influenciam no planejamento de jardins; • desenvolver habilidades para elaborar propostas de espaços livres de pequena e média complexidade. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – IMPORTÂNCIA DO PAISAGISMO TÓPICO 2 – ARQUITETURA PAISAGÍSTICA TÓPICO 3 – PROJETO PAISAGÍSTICO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 78 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 2! Acesse o QR Code abaixo: 79 TÓPICO 1 — IMPORTÂNCIA DO PAISAGISMO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO A atividade paisagística traz a proposta de expressar a beleza. Tal qual outros artistas, o paisagista tem a capacidade de provocar sensações por meio de composições que unem a natureza e aquilo que pode ser criado pelo ser humano. Em diversas épocas, os diversos povos tentaram unir homem e natureza e, por vezes, sobrepor o homem à natureza, de forma que a paisagem sempre exerceu um fascínio e, por isso, a história nos conta como essa relação foi estabelecida com o desenvolvimento dos diversos estilos. O paisagismo nos devolve a conexão homem e natureza, de modo a promover um bem-estar que, mesmo com toda a tecnologia que facilita nossa vida, não poderemos encontrar em outro lugar. 2 CONCEITO E ATUAÇÃO Podemos definir o paisagismo como uma forma de organizar o espaço externo de modo a inserir o homem de volta na natureza, em um processo consciente no qual se recria a paisagem fisicamente harmonizada, considerando o planejamento e a manutenção dos objetos e da natureza que farão parte em conjunto desse cenário. O paisagismo é uma ciência que estuda o espaço exterior ordenado para trazer bem-estar ao ser humano devido à relevância que os elementos naturais possuem. É também uma arte ao considerar critérios estéticos e artísticos que manifestam emoções estritamente humanas ao contemplar o belo. E para que ciência e arte interajam são utilizadas técnicas que combinem os elementos fundamentais: a vegetação, o ser humano e as construções. Além do conceito de paisagismo, outros conceitos precisam ser entendidos. Paisagem pode ser descrita como a porção dentro de uma extensão territorial que pode ser alcançada pela visão em um golpe de vista, ou seja, se considerarmos um expectador que está fixo em determinado ponto, a paisagem será tudo aquilo que seus olhos alcançam a partir daquele ponto. Uma visão paisagística corresponde àquilo que agrada visualmente e com naturalidade, envolvendo aspectos de clima, natureza e pessoas que interagem entre si naquele cenário que pode ser natural, ou seja, com pouca ou nenhuma interferência humana, ou artificial, assim dizendo, planejado pelo homem. 80 No caso, as paisagens artificiais recebem o nome de jardim. A palavra jardim tem origem no hebreu e corresponde à junção de duas ideias “gan”; que significa defender, proteger e “eden”; que constitui a ideia de prazer, encanto. Dessa forma, tem-se a percepção de um lugar que nos traz a sensação de ser agradável e resguardado. Um jardim é um espaço sensorial que reúne aspectos estéticos e técnicos, mas ao mesmo tempo pode ser observado sob um olhar de dinamismo por envolver seres vivos, sujeitos ao ciclo biológico, que se alteram e se modificam no decorrer do ano em razão das mudanças de estação. Dentro dessa concepção, temos a jardinagem, que pode ser considerada uma arte na qual os jardins são construídos, sendo, portanto, uma atividade que possui caráter prático, ou seja, corresponde à execução da atividade paisagística, a instalação propriamente dita do que foi planejado. 3 ATUAÇÃO Ao analisarmos o que vem a ser o paisagismo e outros conceitos, vemos que o que se espera de quem pretende atuar no planejamento paisagístico é que possua, além da técnica, a sensibilidade artística de fazer o melhor uso de um espaço delimitado, permanecendo esse local belo e produtivo. Segundo Galhego (2017a, p. 10), Entre as atribuições de um profissional paisagista, está a de planejar e gerenciar o plano físico e os sistemas naturais onde vivemos. Eles projetam jardins, sendo fundamental que estes sejam integrados em sua totalidade. Tudo o que possui vida depende do sistema como um todo e a paisagem é onde tudo se integra. A paisagem deve ser referenciada em tudo o que for desenvolvido nela, devendo-se observar o seu entorno e sua localidade para, dessa maneira, ser bem-sucedida e sustentável, sendo isso fundamental para a prática do paisagismo. Busca-se na criação do projeto conservar a natureza, partindo-se da premissa que há um conhecimento prévio sobre como a natureza está organizada, e com isso diversificar os componentes da paisagem, tornando-a apropriada para múltiplos usos. A atuação no paisagismo envolve diversas áreas e com isso, normalmente, os projetos são elaborados e executados por uma equipe multidisciplinar, na qual cada profissional colabora com seus conhecimentos para criar o todo. 81 TABELA 1 – ALGUNS CONHECIMENTOS NECESSÁRIOS PARA A ELABORAÇÃO DE PROJETO PAISAGÍSTICO Saberes necessários Áreas de conhecimento Importância Manejo de recurso naturais Ecologia, Biologia, Botânica, Geologia e Geografia etc. Compreensão dos sistemas naturais, como formações geológicas de um terreno. Técnicas de cultivo Agronomia (Fitopatologia, Entomologia, Fitotecnia, Adubação, Fisiologia Vegetal, Horticultura, Solos, Nutrição de plantas, Proteção de plantas, Climatologia, Topografia, Irrigação e Drenagem etc.) Tipo de solo, vegetação nativa, topografia, recursos hídricos, clima, luminosidade e ecologia. Organização dos espaços Arquitetura e Urbanismo Construções e sua execução, como estradas, pontes, muros e pisos. Conhecimentos artísticos Artes plásticas: elementos vivos e inertes (esculturas); Artes industriais: cerâmicas, serralherias, marcenarias etc. Uso de ferramentas como croquis e fotomontagens, utilizando-se de elementos de projetos como formatos, texturas e cores. FONTE: Adaptado de Galhego (2017b) e Bellé (2013) Para saber mais sobre o paisagismo, assista ao vídeo “Importância e funções do Paisagismo”. Acesse: http://twixar.me/XDMm. DICA 4 ÁREAS VERDES As áreas verdes e os espaços livres são importantes espaços urbanos que desempenham funções paisagísticas, representando os valores visuais, as funções de entretenimento, que são os valores recreativos e funções de sustentabilidade, ou valores ambientais. São funções não excludentes, ou seja, o espaço pode abarcar todas ao mesmo tempo, sendo esse o ideal, que todas as atividades possam ser interligadas. As áreas verdes podem funcionar em diferentes papéis como valorizar aspectos da topografia de um determinado local, delimitar o início e o fim de áreas urbanizadas, formar espaços paisagísticos. Além disso, elementos naturais presentes na paisagem podem ser aproveitados e melhor apreciados como os cursos d’água (rios, riachos, córregos, ribeirões etc.), lagos, lagoas, represas. 82 Podem ser criados pontos de observação da paisagem em áreas de topografia privilegiada. Outra função que merece ser lembrada é a de que áreas verdes funcionam como um “refúgio” em relação às construções que a rodeiam, um local em que se pode, de certo modo, descansar a visão em relação ao cenário cinza de grandes cidades. Segundo Oliveira Filho et al. (2013), as áreas verdes influenciam na qualidade de vida ao suscitar benefícios que muitas vezes são derivados essencialmente por sua existência, de forma que minimizam os efeitos da excessiva impermeabilização, regulam o microclima, amenizando as altas temperaturas produzidas pela concentraçãode áreas edificadas ou pavimentadas, tudo isso porque propiciam sombra, conforto térmico, redução da poluição e de ruídos, ameniza o estresse, melhora a estética da cidade, entre outros. O papel que áreas verdes exercem em relação às condições ambientais é notável, o efeito sobre a temperatura ao amenizar a sensação de conforto térmico é facilmente sentido pelos cidadãos, sobretudo, àqueles que vivem em locais de clima predominantemente quente. Esse desempenho vai além do imediato, ou seja, pode ser verificado com o passar do tempo, uma vez que a presença dessas áreas produz variações térmicas que alteram, além da temperatura, o ciclo dos ventos, o regime pluvial e com isso atenuam efeitos nocivos como “ilhas de calor” que muitas vezes se formam em áreas com muitas construções. Também ganha importância a proteção do solo, a vegetação com a fixação de suas raízes ajuda a manter a estabilidade do solo, com isso áreas íngremes em encostas podem ser beneficiadas com projetos que viabilizem seu uso para áreas verdes. Essas áreas verdes proporcionam proteção, pois reduzem o risco de erosão, ao mesmo tempo melhoram a infiltração de água no solo, aumentando o armazenamento de água no subsolo, resguardam mananciais do risco de assoreamento e com isso reduzem problemas como o desabastecimento hídrico. Podemos dividir as funções das áreas verdes da seguinte forma: • Função Social: as áreas verdes dentro de centros urbanos podem ser utilizadas como áreas de lazer, elas possuem características distintas em relação à luminosidade, ventilação, temperatura ambiente e outros parâmetros capazes de afetar a saúde mental e física da população. • Função Estética: a presença dessas áreas diversifica a paisagem, e cria um ambiente visual que ornamenta a imagem que se tem da paisagem urbana. • Função ecológica: as áreas verdes podem atuar diretamente na preservação ambiental de diversas formas, pela melhoria na qualidade do ar, por influenciar no ciclo hidrológico e por reduzir o risco de erosão ao promover a estabilidade dos taludes. 83 • Função Educativa: a educação ambiental pode utilizar essas áreas para desenvolver uma consciência coletiva a respeito da preservação do meio ambiente, podendo tais locais se tornarem patrimônios culturais por sua participação na história local. • Função Psicológica: esses locais podem ser utilizados para recreação com atividades que promovam o relaxamento e o bem-estar daqueles que decidem frequentá-los, permitindo o contato com elementos naturais. Existem divergências sobre a conceituação de área verde, que, por muitas vezes, é um termo utilizado de forma indiscriminada, assim, vejamos algumas definições importantes: • Espaço livre: este conceito abrange de forma geral todas as áreas consideradas livres de construções dentro das áreas urbanas do ponto de vista de espaços abertos. • Área verde: podemos considerar como áreas verdes aqueles locais onde predominam vegetação arbórea, os quais podem ser representados por praças, jardins públicos, parques urbanos, incluindo canteiros e rotatórias, desde que não sejam calçadas impermeabilizadas. • Praça: é um espaço arquitetônico, considerada um espaço livre por ser uma área aberta, que pode ou não ser arborizada e muitas vezes encontra-se totalmente impermeabilizada, de forma que nem sempre seja considerada uma área verde. • Jardim público: é semelhante a praça, no entanto, corresponde a áreas onde são cultivadas plantas ornamentais, com o objetivo de proporcionar uma experiência mais visual com a vegetação. • Parque urbano: é uma área verde que proporciona o contato mais próximo entre o ser humano e a natureza por funcionar como um local de preservação ecológica, mas que adiciona a paisagem urbana o elemento estético e propicia aos cidadãos um local para atividades de lazer. Trata-se de áreas cuja extensão é maior do que a ocupada por praças e jardins públicos. • Parque ambiental: são áreas cujo principal objetivo é a preservação de espécies, flora e/ou fauna, ou mesmo recursos terrestres, como cavernas, e/ou hídricos. Esses locais podem ou não serem abertos ao público de forma a funcionar, também, como áreas de lazer. • Arborização urbana: corresponde à vegetação de porte arbóreo que se encontra espalhada por toda a área urbana, mesmo aquelas que se encontram em áreas impermeabilizadas como o leito de vias públicas (calçadas). Um ponto em comum nos conceitos é que para se considerar um determinado espaço como área verde, o local deve possuir solo permeável, ou seja, não deve haver construções que impeçam a infiltração de água, e há um consenso de que a porcentagem de área permeável deva ser pelo menos 70% do espaço delimitado com a vegetação. Áreas verdes são espaços que funcionam sob várias óticas e com isso existem inter-relações que devem ser consideradas na sua elaboração, de forma que não é apenas uma questão quantitativa, é necessário ter em mente a que essa área verde se destina, onde será instalada, qual a sua distribuição no meio urbano. 84 Mesmo a preservação de fauna e flora sendo uma questão de grande importância, um sistema de áreas verdes deve estar associado ao meio urbano, de forma que a população possa estabelecer uma relação de uso consciente desse espaço, ao mesmo tempo em que supra suas necessidades, havendo, assim, um equilíbrio na relação do homem com a natureza. O planejamento correto deve considerar a diversidade de funções desenvolvidas simultaneamente nessas áreas verdes, os aspectos físicos das áreas urbanas, os processos naturais que ocorrem, as mudanças sociais que fazem parte do movimento das cidades e, assim, além de promover a recuperação de áreas naturais, tornar a vida urbana mais agradável. Ilhas de calor se referem a um fenômeno antrópico caracterizado pelo aumento acentuado das temperaturas nas cidades. Esse processo ocorre principalmente nos grandes centros, cujas áreas principais são marcadas pelo grande adensamento urbano. FONTE: <http://twixar.me/BDMm>. Acesso em: 4 ago. 2022. Talude é um terreno inclinado que serve para dar sustentação e estabilidade ao solo próximo de um platô. Também são conhecidos por morros, encostas ou rampas. Os taludes podem ser de origem natural, ou seja, criados pela natureza, ou artificiais, quando feitos pelos seres humanos. FONTE: <http://twixar.me/RDMm> Acesso em: 4 ago. 2022. INTERESSANTE 5 EVOLUÇÃO HISTÓRICA E ESTILOS DE JARDINS Os jardins fazem parte da história humana desde os séculos passados e sua importância se deve à relação desenvolvida entre o homem e a natureza, relação esta muitas vezes marcada pelo desejo humano por controle. Ao longo da história, os jardins foram construídos de acordo com as pretensões de cada povo, de forma a atender as necessidades que surgiram em cada época. A seguir, veremos como os estilos se alteraram em razão da sociedade e da época em que foram projetados. 85 5.1 IDADE ANTIGA (3000 a.C. ATÉ 476 d.C.) A palavra jardim tem origem hebraica e traz a ideia de um espaço a ser apreciado onde as pessoas podem conviver em harmonia com a natureza. A criação de jardins se relaciona com o progresso civilizatório, uma vez que se trata de áreas onde eram cultivadas plantas utilizadas na alimentação humana como frutas, legumes e, inclusive, flores. Isso permitia ao homem maior proteção em relação a sua sobrevivência e maior controle ambiental quanto à produção. Os locais onde se instalavam os jardins eram o interior ou o entorno de palácios, e geralmente possuíam topografia plana, quando não, utilizavam-se patamares. Os egípcios, por exemplo, orientavam seus jardins de acordo com os pontos cardeais. A arquitetura desses jardins era marcada por formas geométricas simétricas e rigidezdas linhas retas. As principais construções presentes tinham o objetivo de ser funcionais, com isso foram construídos canais de água para facilitar a irrigação e proporcionar maior conforto térmico pelo controle da umidade. Podemos destacar o cultivo de plantas como lótus (Nelumbo nucifera L.), papiro (Cyperus papyrus L.), parreira (Vitis vinífera L.), figueira-do-faraó (Ficus sycomorus L.), macieira (Pyrus malus L.), mirra (Commiphora mollis O.; C. myrrha L.) e o jasmim (Jasminum azoricum L.), além de palmeiras e ciprestes. Os jardins persas são conhecidos por serem os mais antigos de que se tem notícia, as principais características desses jardins são o fechamento por muros, vegetação organizada em um jogo de luzes e sombra, além disso, o jardim era dividido em quatro quadrantes, projetados com desenhos quadriculados. Os jardins eram cortados por dois canais de água com tanques no centro ou alamedas em forma de cruz, possuíam também fontes de baixa pressão. Fizeram uso de pátios e varandas para acentuar o contato entre as pessoas e o jardim, além de pórticos, eixos de composição e caminhamentos revestidos de azulejos. As plantas cultivadas nesses jardins eram frutíferas, plantas ornamentais e aromáticas, mas com a introdução da aclimatação de espécies, foi possível utilizar outras espécies como grandes palmeiras e árvores que promovem sombra. Entre as espécies podemos destacar: os plátanos (Platanus orientalis L.), ciprestes (Cupressus sp. L.), palmeiras (ordem: Arecales), pinheiros (Pinus sp. L.), rosas (Rosa sp. L.), tulipas (Tulipa sp. L.), narcisos (Narcissus spp. L), jacintos (Hyacinthus spp. L), jasmins (Jasminum spp. L), açucenas (Hippeastrum spp. L) etc. Os jardins suspensos da Babilônia são os mais famosos desse período, trata-se de uma construção realizada por amor, pelo rei Nabucodonosor, para que sua esposa preferida, Amitis, pudesse matar a saudade de sua terra. 86 Trata-se de uma obra com extraordinária estrutura de alvenaria, composta por uma sucessão de terraços escalonados em patamares ascendentes, que formavam terraços na encosta de um morro de 25 a 100 metros de altura irrigados por um complexo sistema de canalizações que retiravam água do Rio Eufrates. Da forma como foram projetados, a paisagem circundante proporcionava sombra e conforto térmico. Se assemelhavam ao estilo persa e tinham características dos estilos egípcio e grego, no entanto, possuíam maior número de detalhes e uso de plantas floríferas e perfumadas presando não apenas o valor prático, mas também a aparência paisagística. Uma espécie que ganhou importância nesse jardim é a tamareira (Phoenix dactylifera L.). Os jardins gregos eram compostos por vegetação nativa e sem interferência humana, utilizavam formas mais naturais e menos simétricas. Foram densamente influenciados pelos jardins egípcios, mas se diferenciaram desse estilo em virtude do relevo elevado e declivoso, além do tipo climático. A principal característica desse estilo era a de que os gregos buscavam a natureza e reconheciam como importante preservar o “genius loci”, o que fazia desses jardins locais racionais e ponderados, assim como a intelectualidade grega. Genius loci é um conceito que remonta à época clássica românica, podendo ser traduzido como o “espírito do lugar”; o termo refere-se, na sua origem, ao espírito protetor de um local, uma entidade que surge onde estão presentes seres humanos. FONTE: http://twixar.me/VDMm. Acesso em: 4 ago. 2022. INTERESSANTE Entre as obras construídas nesses jardins, houve a introdução de colunas e pórticos, e essas estruturas promoviam uma transição harmoniosa entre a parte externa e interna do jardim, já que utilizavam recintos fechados para os jardins, além disso, possuíam esculturas humanas e de animais bem realistas. Os jardins também tinham a proposta de serem úteis, e, com isso, havia o cultivo de legumes, trigo, plantas frutíferas como romãs, peras, figos, oliveiras, uvas, algumas flores e hortaliças. 87 Os jardins romanos tiveram influência grega em sua composição, no entanto, destacam-se pela decoração pomposa e por serem valorizados apenas para atividades recreativas. O foco principal era a arquitetura, e havia como ideia predominante a interpenetração casa-jardim, que integrava o jardim à residência de forma que as varandas, com jardineiras, eram construídas para serem locais agradáveis de estar e lazer, e nos muros eram utilizadas trepadeiras para revesti-los. Esses jardins eram projetados de forma metódica e ordenada, com o objetivo de poderem ser utilizados tanto durante o dia como a noite, por isso eram incluídas áreas ensolaradas e sombreadas. Em sua decoração possuíam elementos diversos como lagos que funcionavam como espelhos d’água, mesas de mármore, recursos arquitetônicos (pérgulas e pórticos), vasos, estátuas e floreiras. Outro destaque nesse estilo de jardim é a utilização de um recurso chamado de topiaria, que corresponde a uma poda plástica, ou seja, uma poda que consiste em moldar a planta criando uma escultura vegetal, aplicada, principalmente, em plantas como cipreste (Cupressus sempervirens L), buxinho (Buxus sempervirens L.), teixo (Taxus baccata L.) e louro (Laurus nobilis L.). Também estavam presentes pequenas hortas irrigadas com plantas que eram utilizadas para alimentação e condimentos, além de plantas arbóreas como amendoeiras, pessegueiros, macieiras, coníferas e plátanos. 5.2 IDADE MÉDIA (476 d.C. ATÉ 1453) Os jardins nesse período passaram para ambientes totalmente fechados, no caso, mosteiros e castelos, em superfícies planas, com caminhos desenhados em ângulos retos que lembravam uma cruz cristã. Ao redor dos jardins eram colocadas cercas revestidas por plantas trepadeiras ou arbustos. As plantas cultivadas eram espécies úteis que serviam para a alimentação, em usos medicinais e aromáticas, além de flores de corte que eram colocadas nos altares como ornamentação. 5.3 IDADE MODERNA (1453 ATÉ 1789) Os jardins no renascimento representam bem a época de transformações que ocorria na Europa, assumindo um estilo mais imperialista e grandioso. As plantas passaram a ser vistas como esculturas e eram, dessa forma, integradas à grandiosidade que se via nas construções. Os jardins passaram a ser luxuosos, em oposição à simplicidade do período medieval, e bem elaborados, aproveitando a maior liberdade e variedade de formas para se compor, incluindo o uso de estátuas e fontes como em períodos anteriores. 88 A arquitetura passou a ser mais valorizada, o que caracteriza esses jardins como mais artificiais em relação aos anteriores. Utilizavam áreas cada vez maiores e diversificadas, com espaços para animais selvagens, piscicultura, aves, pomares e o que mais se pudesse imaginar. Há o predomínio de formas geométricas e simetria, que se refletia na maneira como as plantas eram dispostas e organizadas. O uso de técnicas como a topiaria e o parterre demonstram o interesse em mostrar a superioridade do ser humano em relação à natureza, de forma que eram utilizadas espécies como as coníferas, murtas, buxos, camélias, plátanos, louros, rosas e plantas aromáticas. Os jardins italianos que foram idealizados no período renascentista eram locados em áreas mais rurais, devido ao clima ameno encontrado nessas áreas, além de proporcionarem vistas panorâmicas da paisagem. Por serem, muitas vezes, terrenos acidentados, localizavam-se em colinas e encostas, foram utilizadas escadarias de pedra acompanhadas de corredeiras de água e terraços. Quando o terreno era plano, instalavam- se fontes grandiosas. Também fizeram uso de estátuas e grutas em áreas de nascente. A casa e o jardimeram projetados para estarem unidos por meio de galerias externas que levavam a áreas privativas e a outras abertas, onde realizavam festas. Caracterizavam-se pelos traçados lineares que apresentavam a simetria no uso de linhas geométricas. Na vegetação foi muito empregada a técnica da topiaria, que evidenciava a ideia da domesticação da natureza. As plantas eram distribuídas por toda área, tendo como ponto mais elevado e central da composição, a residência. Esses jardins foram marcados pelo verde, que se tornava mais escuro e sombreado à medida que se distanciava da casa. As espécies mais apreciadas para o uso nesses jardins foram louro, azinheiro, tuia, pinheiro, cipreste, oliveiras e buxinhos (em topiarias). O jardim francês dava destaque às construções utilizando espécies arbustivas em maior quantidade, de forma que as obras arquitetônicas tinham maior visibilidade. Em sua composição estavam as topiarias e os canteiros floridos que embelezavam a paisagem no período de primavera-verão. Esse estilo valorizava a perspectiva, de modo a se criar uma sensação de grandiosidade na paisagem, na qual o homem é o senhor soberano sobre a natureza. Para que esse efeito cenográfico se tornasse maior, foram adotados os parterres (tapetes florais que impactam visualmente), uma vez que os terrenos tinham desníveis pouco acentuados. Foram adicionados a esses jardins enormes espelhos d’água e fontes colossais. 89 Entre as características desse jardim podemos citar a rígida distribuição axial, a residência como parte da paisagem, proporções matemáticas, escala monumental, simetria e a perspectiva unidirecional infinita. Os jardins do Palácio de Versailles representam bem a composição desse estilo. Enquanto o jardim francês trazia aspectos de artificialidade, o jardim inglês buscava o retorno à natureza. Em sua composição havia uma diversidade de plantas, de forma que era possível encontrar espécies herbáceas anuais e arbustivas perenes misturadas a espécies bulbosas, flores silvestres e forrações, além de incluir espécies exóticas. Esse estilo tem como características a informalidade em sua implantação, com orientação assimétrica e utilizavam recursos como muros e sebes (cercas vivas), além disso enfatizavam a presença de extensos gramados, a definição do projeto se dava pela escolha das árvores, normalmente nativas e valorizavam a exploração do elemento surpresa devido às descobertas que poderiam ocorrer no caminho. Elementos arquitetônicos também fizeram parte deste estilo, dos quais temos as ruínas, bancos, pérgulas, pagodes, arcos e pontes. A água estava presente em grandes espelhos d’água ou em lagos. Os jardins chineses e japoneses tinham sua concepção baseada em recriar a natureza, sendo marcante a presença de uma montanha ou um lago. A construção se dava considerando aspectos da topografia, clima e vegetação da região e, diferente dos jardins europeus, não estavam presos a formas rígidas e simétricas. Nos lagos era comum a presença de carpas. Outros elementos presentes são a areia, muitas vezes utilizada para representar a água onde não havia, pedras para formar os caminhos e contornar a água ou a areia, cascalhos, edificações, pontes e lanternas. A vegetação consistia no uso de plantas perenes de modo a ter estabilidade na paisagem durante todo o ano. As espécies mais comuns eram azaleias, bambus, camélias, cerejeiras e pinheiros. As árvores preferidas são do gênero Acer, devido à variação de cores e folhas e do gênero Pinus com formas e texturas variadas. Já nas frutíferas ganham destaque a amendoeira e a cerejeira. 90 Parterre é um componente do jardim geométrico clássico, um plano de terra onde se desenha os canteiros para espécies de forração baixa (folhagens ou flores), com controle sobre o crescimento da planta para permitir a visão da fachada da edificação. Em pontos estratégicos, pode-se permitir a introdução de espécies arbustivas. FONTE: <http://twixar.me/1FMm>. Acesso em: 4 ago. 2022 INTERESSANTE 5.4 IDADE CONTEMPORÂNEA (1789 ATÉ OS DIAS ATUAIS) Nesses jardins é possível observar a influência dos demais estilos, encontrando diversos elementos que fizeram parte das tendências que se desenvolveram no passado. Portanto, o projeto pode seguir um único estilo ou combinar elementos desses estilos pré-existentes. Os principais estilos são: • Jardim clássico ou formal: predomínio de formas geométricas, simetria e separação rígida dos espaços; uso de coníferas e plantas apropriadas para esculturas vegetais, estátuas, escadarias e fontes de desenho clássico. • Jardim inglês: traçado é orgânico, com elementos integrados; plantas em sua forma natural. • Jardim tropical: composição informal, vegetação composta por palmeiras, helicônias, zingiberáceas, bromélias e outras plantas tropicais. Marcado pela exuberância da flora tropical, mostrando a presença de muito verde e muitas flores. • Jardim rochoso ou árido: adequado para locais que possuem solos arenosos e climas secos; a vegetação é composta por cactos, plantas suculentas e plantas xerófitas; reproduz a paisagem árida. • Jardim alpino: adequado para as regiões onde o clima seja temperado e por isso as temperaturas baixas predominam. A vegetação é composta por plantas adaptadas às condições frias como coníferas, hortênsia, amor-perfeito, dentre outras. • Jardim japonês: os elementos remetem a uma concepção espiritual alinhados com a filosofia oriental. Marcado pela presença de pedras, água, bambu, bonsai e plantas como samambaia, cerejeira do Japão e grama japonesa. • Jardim especial: o objetivo é atender pessoas que fazem parte de um grupo especial de usuários, como portadores de deficiência visual, crianças e pessoas idosas. 91 6 PAISAGISMO NO BRASIL No Brasil colonial, a tendência era de construções que ocupavam totalmente o terreno, de modo que, em geral, não existiam jardins nas residências, e onde existia era difícil determinar algum estilo ou tendência paisagística marcante. As plantas eram cultivadas para servirem ao uso, seja na alimentação ou como ervas medicinais e plantas aromáticas; as plantas ornamentais eram cultivadas nos mosteiros e conventos, para decoração das igrejas e, outros tipos de árvores eram plantados aleatoriamente de modo a tentar amenizar o calor tropical. A chegada de Dom João VI impulsionou o paisagismo no Brasil com a criação de várias praças e parques e a fundação do Horto Real, hoje o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que era um local para aclimatação de plantas, o que permitiu a introdução de espécies ornamentais exóticas como cróton, canforeira, falsa murta, gardênia, cássia, entre outras. O trabalho de Roberto Burle Marx marcou o paisagismo brasileiro no século XX, que iniciou seus trabalhos em Recife onde projetou e executou jardins públicos, dando ênfase ao uso de plantas nativas da caatinga e da flora amazônica. A escolha em utilizar plantas nativas nas composições paisagísticas que elaborou, marcou seu trabalho como um registro na linha projetual. Ele se ocupou em coletar diversas espécies, oriundas das diferentes regiões brasileiras, e ao utilizá-las em suas composições deu-lhes o devido valor paisagístico. Burle Marx gostava das formas orgânicas e dos volumes nas suas composições e utilizava traçados sinuosos e livres em seus projetos. Seu falecimento ocorreu em 1994, aos 84 anos, deixando grande número de jardins projetados, tanto no Brasil como no exterior. Para saber mais sobre os estilos de jardins veja “Plantas ornamentais e paisagismo: a história da arte dos jardins”. Acesse em: http://twixar.me/TFMm. DICA 92 Neste tópico, você aprendeu: • O paisagismo busca recriar aspectos da natureza dentro dos centros urbanos de forma a reconectar o homem e o verde. • Para atuar no paisagismo são necessários conhecimentosde diversas áreas. • Os espaços livres são áreas importantes nas cidades e se dividem em diversos tipos. • As áreas verdes são aquelas em que a vegetação ocupa a maior parte do espaço projetado, proporcionado bem-estar aos frequentadores. • Ao longo de décadas, o paisagismo foi sendo modificado e ganhando importância pelos diversos povos que a ele se dedicaram. RESUMO DO TÓPICO 1 93 1 Quando falamos em paisagismo nos vem a ideia de áreas cercadas por plantas onde é possível o contato com toda a beleza proporcionada pela natureza e de forma segura. Sobre a importância do paisagismo analise as afirmativas a seguir: I- O paisagismo tem por objetivo ornamentar a parte interior das residências, prédios comerciais e públicos. II- O paisagismo pode ser implantado tanto em áreas públicas quanto em áreas privadas, como, por exemplo, jardins, parques, praças, entre outros. III- Os jardins proporcionam sensações em seus frequentadores de maneira visual, olfativa e tátil. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente a I está correta. b) ( ) I e II estão corretas. c) ( ) II e III estão corretas. d) ( ) Somente a II está correta. e) ( ) Somente a III está correta. 2 Os espaços livres são divididos em públicos e privados, mas em relação ao acesso, podem ter caráter público ou privativo. Assim, temos espaços públicos cujo acesso é público e outros cujo acesso é privativo. Do mesmo modo, temos espaços privados cujo acesso é público e aqueles cujo acesso é privativo. Sobre os locais, os quais são espaços livres, público de acesso público e privado de acesso privativo, respectivamente, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Praça e pátio de shopping. b) ( ) Pátio de escola pública e supermercado. c) ( ) Fórum e praia. d) ( ) Praia e pátio de escola particular. e) ( ) Universidade e parque. 3 No decorrer das diferentes épocas, o paisagismo se modificou de acordo com as mudanças de pensamento de cada época e, também, com a diversidade dos povos, o que deu origem a estilos de composição variados. Sobre a evolução histórica dos estilos de jardim assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Os jardins suspensos da Babilônia são os principais representantes do paisagismo na Idade antiga. b) ( ) Na Idade Média, os jardins eram implantados, principalmente, na parte externa dos mosteiros. AUTOATIVIDADE 94 c) ( ) Os jardins na Idade Moderna foram caracterizados pela simplicidade. d) ( ) Os jardins da Idade Contemporânea são revolucionários e não utilizam nenhum elemento dos estilos anteriores. e) ( ) O jardim japonês se destaca por utilizar elementos ocidentais em sua composição. 4 Os espaços livres recebem diferentes nomenclaturas, de acordo com sua finalidade de uso. Diante disso, explique qual é a diferença entre áreas verdes, jardim público e parque ambiental? 5 Os diferentes estilos de jardim possuem elementos que os tornam marcantes e mais fáceis de serem reconhecidos. Discorra sobre o que há de marcante nos estilos de jardim de cada período. 95 ARQUITETURA PAISAGÍSTICA UNIDADE 2 TÓPICO 2 — 1 INTRODUÇÃO Para criar uma composição é preciso combinar os diversos elementos, e para que essa combinação atenda aos objetivos propostos é importante conhecê-los e também saber identificar o que eles comunicam. Todo elemento, seja natural ou arquitetônico, tem uma função e um significado que fará com que o espaço projetado seja um lugar considerado excepcional ou apenas monótono, de acordo com as escolhas realizadas pelo paisagista. A estética entra como uma ferramenta que auxilia a montar as combinações e assim o paisagista pode, através de sua arte, atender as expectativas daqueles que irão desfrutar do ambiente projetado. 2 ELEMENTOS DE COMPOSIÇÃO E ESTÉTICA Se considerarmos o paisagismo como arte, estamos dizendo que ele é capaz de nos comunicar sentimentos através de sua composição, seja tanto com elementos naturais, quanto com elementos arquitetônicos. No entanto, é uma arte que está sujeita a aspectos que incluem a fertilidade do solo, o regime das chuvas, a germinação das plantas, o ciclo fenológico de cada espécie cultivada, e diversos outros fatores da ecologia. Segundo Lira Filho (2002, p. 14), “o jardim ordenado, nos espaços urbanos atuais, é um convite ao convívio, à recuperação do tempo real da natureza das coisas, em oposição à velocidade ilusória das regras da sociedade de consumo”. 2.1 ELEMENTOS DE COMUNICAÇÃO NO JARDIM O projeto paisagístico tem o objetivo de estabelecer um tipo de comunicação entre as pessoas e a paisagem na forma como elementos naturais e arquitetônicos são distribuídos em um cenário natural já existente. E para que haja essa comunicação alguns elementos devem ser utilizados pelo paisagista, são eles: linha, forma, textura e cor. A seguir veremos mais sobre cada um deles. 96 2.1.1 Linha As linhas, do ponto de vista físico/concreto, não existem na natureza, elas são na verdade percepções nossas de contornos dos objetos presentes no jardim ou da maneira como a vegetação está distribuída. Assim, poderemos chamar de linha, um conjunto de árvores enfileiradas sequencialmente em uma direção única, mas também podemos usar uma pérgula ou um banco para estabelecer o alinhamento do jardim, estaremos nessa configuração atribuindo o aspecto de linha ao limite da forma. A percepção das linhas ocorre tanto na direção horizontal, chamada de horizontalidade, a qual visualizamos quando olhamos em direção ao mar ou em uma longa estrada, por exemplo, como na direção vertical, chamada de verticalidade, que pode ser visualizada em locais com presença de árvores altas como as palmeiras, ou o jequitibá-rosa e edifícios ou torres. As composições paisagísticas são, então, formadas por essas linhas que podem ser geometrizadas, quando são previstas no projeto, e as linhas orgânicas, quando estão presentes naturalmente na paisagem. O peso que cada linha dependerá do desenho do projeto, de modo que se não houver atenção, alguns objetos chamarão mais atenção que outros devido ao contraste que irá provocar. Por exemplo, se um projeto é marcado por ser composto por linhas retas, a presença de linhas curvas ou sinuosas pesarão na paisagem, o mesmo ocorre quando há o predomínio da horizontalidade e são incluídas linhas verticais sem que haja um equilíbrio entre os elementos. As linhas podem transmitir diversas sensações, mesmo que de maneira imper- ceptível e isso pode agregar maior significado ao jardim por aqueles que o frequentam, algo que pode ser explorado de acordo com o sentimento que se quer exprimir ou pro- vocar. 97 FIGURA 1 – TIPOS DE LINHA Textos- Rubik Light (tamanho 10 espaçamento 14) Títulos- -Títulos de primeira ordem são (Neo Sans - tam 15 - esp 18 - Caixa alta - Negrito) -Títulos de segunda ordem são (Neo Sans - tam 15 - esp 18 - Caixa alta - regular) -Títulos de terceira ordem são (Neo Sans - tam 15 - esp 18 - Apenas a primeira letra em maiúsculo - regular) Vertical Nobre Inspiradora Horizontal Calma Fluída Ativa Efusiva Brutal Curvilínea Feminina-Suave Rugosa Sólida Estável Instável Crescente Expansiva Decrescente Depressiva Dinâmica Estática Focal-Fixa Caótica Confusa Otimista Feliz Pessimista Deprimida Indireta Concentração Paralelismo Excitação Nervosismo Divergência Divisão FONTE: Lira Filho (2002, p. 22) A função que é dada às linhas numa composição paisagística é a de dividir espaços em razão do que se pretende passar em cada ambiente introduzido no jardim. 2.1.2 Formas O conceito de forma está interligado a linha, uma vez que para existir a forma é necessário a presença da linha para delimitá-la, então podemos dizer que a forma corresponde a superfície ou o volume formado dentro do limite estabelecido pela linha. E essa forma pode ter diversas constituições visuais, que podemtransmitir sentimentos diferentes. Cada elemento que é utilizado para compor a paisagem possui sua forma e pode ser trabalhado de acordo com o que se espera transpor na composição. 98 O peso que cada forma terá na composição vai depender do seu tamanho, uma vez que formas grandes geralmente são mais chamativas, no entanto, formas pequenas com cores atrativas também podem se destacar. Outro fator que influencia o peso da forma na composição é a sua localização, um objeto colocado de forma central, por exemplo, supõe a ideia de que aquele é o ponto principal da paisagem. Outro exemplo é o cuidado que se deve ter com o lado direito, considera-se que a observação de uma paisagem ocorre da esquerda para a direita, assim, o uso dos elementos deve ser bem estudado para que não haja o risco de comprometer toda a composição por torná-la estática. As formas escolhidas podem tornar um elemento mais destacado por seu valor próprio, é o caso de estátuas humanas ou de animais, símbolos religiosos, ou qualquer objeto que represente algo importante para quem observa. Em relação à vegetação, o peso visual está presente em toda a planta, mas as copas de árvores e arbustos possuem as formas mais marcantes para a composição. 2.1.3 Textura Textura é uma característica em determinada superfície que nos transmite uma sensação tátil apenas pelo que visualizamos, ou seja, quando olhamos um objeto de mármore ou o tronco de uma árvore, percebemos de forma visual que essas superfícies possuem aspectos distintos ao toque, uma é lisa, enquanto a outra é áspera, essa percepção pelo olhar sem a necessidade de tocar o objeto é o que chamamos de textura do objeto. Cada objeto é constituído por linhas, formas e cores, de modo que a agregação desses elementos pode promover, em sua superfície, diferentes texturas, que são diferenciadas pelo padrão, ou trama, desenvolvido por formas repetidas, em função da escala e da cor. As plantas ornamentais que são utilizadas nos jardins apresentam diversas texturas em relação a folhagem e em relação ao caule, o paisagista pode fazer uso dessa diversidade junto com outros elementos do jardim para criar efeitos, por exemplo de distância, já que quanto mais próximo o observador está do objeto mais sua textura se mostra nítida e quanto mais distante temos o inverso. 99 FIGURA 2 – FORMAS DE EXEMPLIFICAR A TEXTURA FONTE: A autora 2.1.4 Cor A cor é a sensação visual produzida pela luz refl etida ou absorvida pelos corpos, de forma que o que há, na verdade, é a percepção da luz, que chega em diferentes comprimentos de onda e produz as diferentes cores. Vemos os objetos devido à refl exão da luz que ocorre quando a luz bate em um objeto e volta para os nossos olhos. Um corpo branco refl ete cerca de 85% da luz, enquanto um corpo negro absorve cerca de 85% da luz. As variações entre a luz refl etida e absorvida determinam os tons de cinza. No entanto, conseguimos ver as outras cores porque o objeto absorveu de forma seletiva a luz em um determinado comprimento de onda e a refl etiu no mesmo comprimento de onda, possibilitando aos nossos olhos enxergar a cor em questão (vermelho, amarelo, verde, azul etc.). Outro ponto a se considerar é o fato de que a luz é uma forma de energia e, portanto, pode se transformar em outras formas de energia, isso signifi ca que na escolha de determinados objetos é preciso ter atenção com a escolha das cores. Objetos escuros tendem a absorver mais luz, que se transforma em calor. Em contrapartida, se esses objetos forem bancos expostos à luz solar, por exemplo, será desconfortável a visualização, de forma que é preferível, nesse caso, o uso de cores claras. 100 • Polígono das cores O polígono das cores é formado por dois triângulos, um deles invertido, que se cruzam, formando uma estrela com seis vértices, os quais representam as cores primárias (vermelho, verde e azul) e secundárias (magenta, amarelo e ciano) . FIGURA 3 – POLÍGONO DAS CORES PRIMÁRIAS E SECUNDÁRIAS FONTE: A autora As cores primárias não podem ser obtidas pela combinação de outras cores, ou seja, elas não se decompõem, são consideradas puras, enquanto as secundárias resultam da combinação das cores primárias. As cores posicionadas em extremidades opostas no polígono são chamadas de complementares por apresentarem contrastes mais fortes entre si, temos então: vermelho-ciano; amarelo-azul; magenta-verde. Enquanto as cores que são vizinhas apresentam contrastes mais suaves, por exemplo azul e ciano. As variações das cores podem ser qualifi cadas por três parâmetros que são chamados de dimensões da cor: tonalidade ou matiz; luminosidade ou brilho; e saturação ou croma (pureza da cor). A cor de uma superfície é chamada de tonalidade, e corresponde ao valor do comprimento de onda predominante na luz refl etida e absorvida, por exemplo: laranja- avermelhado e vermelho-violeta. As tonalidades são encontradas no gradiente que há entre duas cores vizinhas, por exemplo, azul e verde, esse grupo de variações da tonalidade denomina-se matiz. O brilho (ou luminosidade) corresponde à quantidade de luz que a superfície refl ete ou emite em certo comprimento de onda. Pode determinar também o grau de mistura entre o branco e determinado tom de cor, o que indica quão clara ou escura é a cor. Por exemplo, em uma escala, se pegarmos o tom vermelho mais forte como sendo a cor mais escura e, adicionarmos o branco a ela, chegando ao tom rosa mais claro, teremos uma gradação de cores dentro da mesma tonalidade. 101 A pureza da cor, também chamada de saturação ou croma, se refere à intensidade que uma cor contém de si mesma, ou seja, é o grau de mistura de uma cor de certa tonalidade com valores de preto a cinza, ou até mesmo outras tonalidades. Cores brilhantes e vívidas são aquelas que possuem a máxima saturação e nenhuma mistura com o cinza, enquanto cores opacas possuem menor saturação e maior mistura com o cinza. Sabemos que as cores secundárias são resultado da mistura de cores primárias, ou seja, a soma de duas ou mais luzes coloridas resulta em uma nova sensação visual. No caso das cores primárias, elas são também aditivas porque podem dar origem a qualquer outra cor variando apenas sua intensidade na combinação, além disso se combinadas as três (vermelho, verde, azul) com a mesma intensidade, o resultado é a cor branca. FIGURA 4 – REPRESENTAÇÃO DA COMBINAÇÃO DE CORES Textos- Rubik Light (tamanho 10 espaçamento 14) Títulos- -Títulos de primeira ordem são (Neo Sans - tam 15 - esp 18 - Caixa alta - Negrito) -Títulos de segunda ordem são (Neo Sans - tam 15 - esp 18 - Caixa alta - regular) -Títulos de terceira ordem são (Neo Sans - tam 15 - esp 18 - Apenas a primeira letra em maiúsculo - regular) Verde (Primária) Ciano (Azul + Verde) Azul (Primária) Magenta (Azul + Vermelho) Vermelho (Primária) Amarelo (Vermelho + Verde) FONTE: A autora Conhecer as cores e as sensações que podem ser transmitidas por elas, dá ao paisagista, junto com os outros elementos (linha, forma e textura), ferramentas para criar paisagens de acordo com os sentimentos que se deseja passar. As cores podem ser divididas em dois grupos: cores quentes e cores frias. As cores quentes (amarelo, vermelho e laranja) são visualmente mais chamativas, excitantes e criam a impressão de proximidade. Já as cores frias (azul, verde e violeta) tem menor destaque, são calmantes e provocam a sensação de afastamento. A cor em um jardim tem a função de transmitir com clareza a mensagem que se deseja passar, de forma que ela é um instrumento técnico, então podemos dizer que a escolha das cores deve ser realizada de forma criteriosa para se obter o equilíbrio entre as cores e os demais elementos, e assim obter uma composição paisagística equilibrada eharmoniosa. 102 As cores que existem na natureza são responsáveis pela beleza da paisagem e ajudam na identificação dos seus componentes. Assim, objetos de mesma forma e mesma textura se distinguirão pela cor. A cor dos objetos é reflexo da luz que incide neles. No paisagismo, é importante saber combinar as cores desses objetos, bem como os sentimentos que cada uma delas transmitem. Para combiná-las, basta que conheçamos sua posição no polígono das cores e saibamos que se conseguem os maiores contrastes com as cores opostas e os menores com as cores vizinhas. As plantas ornamentais fornecem uma grande variação de cores que pode ser explorada pelo paisagista. Não se pode deixar de levar em consideração os matizes das flores, dos frutos, da folhagem e dos demais órgãos da planta como raízes e galhos (ramos). No campo perceptivo da paisagem, existem elementos que forçam a direção do olhar e chamam mais atenção do que outros. No mundo das cores, algumas direcionam a força do olhar, obrigando que se olhe para elas. Entretanto, qualquer cor pode ser dominante, desde que seja a mais forte na composição paisagística. Na hora de escolher a cor predominante no jardim, convém não esquecer algumas regras: • tem sempre maior efeito uma massa de vegetação com uma cor só, do que a de uma mistura de cores; • é melhor formar maciços de cores uniformes, alternando eventualmente as cores dos maciços, do que misturar todas as cores num bloco único; • alguns contrastes são visualmente mais agradáveis do que outros. Consegue-se melhor efeito combinando harmonicamente as cores. FONTE: LIRA FILHO, J. A. de. Comunicando através da paisagem. In: LIRA FILHO, J. A. de. Paisagismo: elementos de composição e estética. Viçosa: Aprenda fácil, [s. l.], v. 2, cap. 2, p. 38-41, 2002. DICA 2.2 ELEMENTOS DE TRABALHO PAISAGÍSTICO Um projeto paisagístico é composto por dois tipos de elementos: naturais e artificiais. Os elementos naturais correspondem àqueles já existentes no local ou que foram inseridos, e são compostos por uma combinação de agentes físicos (clima, solo, água) e agentes biológicos (plantas e animais), podemos citar os lagos, rios, afloramento de rochas, árvores, canteiros de flores, entre outros. Os elementos artificiais são também chamados de elementos arquitetônicos, aqueles que foram construídos pelo homem, ou seja, não estariam no local a não ser por ação humana para moldá-los, tais como vasos, coretos, portões, bancos, piscinas, obras de arte, entre outros. 103 2.2.1 Elementos naturais Na natureza existe toda uma harmonia, na qual os componentes naturais se relacionam entre si de forma tão profunda que influenciam toda a paisagem ao redor com a diversidade de formas, tamanhos, aromas, cores, movimentos, sons e demais caracteres que lhe sejam atribuídos. Desse modo, podemos dizer que animais e plantas não estão presentes apenas como decoração, eles fazem parte do sistema, de forma a moldá-lo e transformá-lo, sendo considerados elementos de alto valor estético e funcional. Ainda assim, é permitido que alguns dos elementos naturais possam ser modificados ou melhorados para que o jardim fique mais adequado, esteticamente, e se apresente mais agradável aos seus frequentadores. 2.2.2 Vegetação Por serem seres vivos, o uso das plantas exige que o paisagista possua conhecimentos sobre as espécies escolhidas para compor a paisagem sobre seu ciclo vegetativo, sua forma, aspectos ambientais de cultivo (clima, solo, água e luminosidade) e tratos culturais (podas). A vegetação é dotada de atributos estéticos por ser constituída por uma diversidade de espécies com portes, formas, texturas e cores diferentes, e isso a torna de extrema importância na composição paisagística. Para facilitar o trabalho paisagístico existem algumas classificações propostas: • Quanto à forma ◦ Arquitetura própria: sua forma e volume não se alteram independentemente de onde estejam, corresponde a uma característica que é própria do tipo de planta que as torna facilmente reconhecíveis, é o caso das árvores, dos arbustos e das herbáceas. ◦ Arquitetura dependente: são plantas que necessitam de um suporte, como pérgulas ou caramanchões, para que tenha sustentação, de modo que se moldem ao suporte em sua forma, aqui temos as trepadeiras, os arbustos escandentes e as forrações. ◦ Arquitetura plástica: corresponde aos arbustos que suportam maior número de podas e podem ser moldados para a criação de esculturas, ou sejam, nessas plantas pode ser aplicada a técnica de topiaria. 104 • Quanto ao cultivo ◦ Plantas de jardim: são aquelas que podem ser cultivadas diretamente no solo em canteiros sem a necessidade de adaptação prévia, a maioria das plantas ornamentais pode ser considerada desse tipo. ◦ Plantas de vaso: devido ao grau de domesticação necessitam de cuidados especiais em relação ao solo/substrato, quantidade de água, de luz, normalmente possuem porte pequeno, é o caso das orquídeas e das violetas. ◦ Plantas de corte: são plantas que exigem total controle das variáveis ambientais para seu cultivo, uma vez que seu valor está em serem utilizadas para ornamentação em ambientes internos, são exemplos as gérberas, crisântemos, tulipas e rosas. ◦ Outras: são espécies que não possuem um cultivo específico para se enquadrar nas classificações citadas anteriormente, temos assim as bromélias, os cactos e as suculentas. • Quanto ao ciclo de vida ◦ Anuais: todo o seu ciclo vegetativo é completado em um ano, de forma que, após a sua floração, será necessário preparar novamente o solo e uma nova semeadura. ◦ Bianuais: seu ciclo vegetativo é completado em dois anos e após isso todo o processo é reiniciado. ◦ Perenes: seu ciclo vegetativo é indefinido e se repete por vários anos, de forma que se deve realizar apenas o manejo cultural, para evitar problemas sanitários à planta, e adubação. • Quanto ao ambiente Nesta classificação, as plantas devem ser avaliadas quanto ao tempo de exposição ao sol, de forma a se determinar se são plantas de sombra, pleno sol, ou meia sombra. Também deve-se considerar as necessidades das plantas aquáticas que diferem entre aquelas que vivem dentro da água e as que necessitam de umidade alta. • Quanto ao tipo ◦ As plantas são separadas quanto ao seu tipo em árvores, arbustos, palmeiras, trepadeiras, herbáceas e forrações, piso vegetal, cactos e suculentas, plantas aquáticas e epífitas e parasitas. Veremos mais cada tipo no subtópico “Grupos vegetais”. As plantas podem ser arranjadas no jardim de maneira isolada ou em grupos divididos em relação à forma como se apresentam e o volume: ◦ Maciços: a característica principal é um volume cheio que ocupa proporcionalmente, no sentido horizontal e vertical, o espaço em que se encontra. Para esse agrupamento, as plantas utilizadas podem ser da mesma espécie ou de espécies diferentes. ◦ Bordaduras: as plantas utilizadas possuem porte baixo, o arranjo delas se dá de forma linear formando bordas em canteiros, caminhos ou para destacar determinada árvore que se quer em evidência. 105 ◦ Tufos: é constituído por um volume de plantas que se torna mais vazio que o maciço, destacando-se por ter forma mais vertical do que horizontal. ◦ Alegretes: são tufos nos quais estão presentes espécies com flores, proporcionando uma paisagem mais alegre e colorida. ◦ Cercas-vivas: as plantas são dispostas linearmente com o objetivo fechar ou mesmo dividir um ambiente, para isso são utilizadas espécies que possuam porte médio a grande, caso as plantas sejam podadas recebem o nome de sebe. ◦ Corbelhas: várias plantas são associadas de modo a criar desenhos coloridos no jardim, porque além do volume e forma, são consideradas as cores e texturas das espécies selecionadas.2.2.3 Animais Os animais são um ótimo recurso paisagístico e devem ser integrados na composição paisagística, de modo a adicionar mais beleza à paisagem. As espécies mais utilizadas são as aves e os peixes, especialmente os coloridos, mas há outros como tartarugas e lebres, que também são opções. Independentemente de serem previstos no projeto, muitos animais podem ser encontrados em um jardim em função da atração exercida pelas plantas e pela água, é o caso de aves e insetos. 2.2.4 Outros elementos naturais Primeiramente temos a água, que pode aparecer de forma corrente ou parada, e que está sempre presente por sua importância para as plantas. Ela pode compor a paisagem por estar presente em reservatórios de forma natural (rios, lagos, cachoeiras etc.) ou de forma artificial (represas, lagos cavados no solo e piscinas) e em fontes. De maneira geral, a água pode ser utilizada tanto para a decoração como para a rega, assim é possível se pensar em maneiras que promovam seu melhor aproveitamento dentro da composição. Além disso, sua presença também provoca diversas sensações que podem ser combinadas com os outros elementos do jardim. As pedras são elementos auxiliares que proporcionam belos contrastes com as plantas em função das diferentes formas e tamanhos que apresentam, devendo ser escolhidos de acordo com o ambiente no qual serão alocados. 106 2.2.5 Elementos arquitetônicos Para que o jardim se torne esteticamente mais agradável e seja funcional, além dos elementos naturais, é necessário que se adicione outros elementos chamados de arquitetônicos, que irão complementar a paisagem e deixar o espaço mais aconchegante para aqueles que irão usufruir do local. Esses elementos podem constituir a infraestrutura local para o lazer passivo ou ativo com a construção de vias de acesso, quadras de esportes, luminárias, piscinas, quiosques etc., mas também podem ter função apenas estéticas no caso de obras de arte. Os elementos arquitetônicos podem definir qual o estilo que se propõe para a composição, além de transmitir sensações em conjunto com os elementos naturais, de forma que, ao serem planejados deve-se ter cuidado para que não haja um embate entre os dois tipos, portanto, é importante considerar a frequência com que os objetos arquitetônicos surgem na paisagem, a predominância em suas linhas e formas e quais os materiais utilizados para sua construção. 2.2.6 Circulação e pisos Para o deslocamento no trânsito de pedestres e veículos, são inseridos no jardim caminhos de circulação ou vias de acesso, que constituem os caminhos dentro do jardim para que as pessoas possam ser conduzidas aos pontos de apreciação da paisagem. Esses caminhos fazem com que o jardim seja ligado tanto internamente quanto externamente e funcionam como elemento integrador da paisagem. Os caminhos não são construídos com objetivo estético, ainda assim, a escolha dos materiais e a forma como serão desenhados podem ser realizadas de modo que ornamentem com os demais elementos da paisagem. A escolha da forma e da largura dependem do terreno onde será locado o jardim, sendo preferível utilizar a área mínima para sua construção, priorizando a área vegetada, também podem ser permeáveis ou impermeáveis. Os principais materiais utilizados para a pavimentação dos caminhos são: asfalto, ladrilhos, lajotas de concreto, cimento ou granito, mosaico português, pedras toscas, saibro, seixos lavados ou tijolos prensados. Para a construção do piso em outros componentes do jardim podem ser utilizados materiais diversos, de forma que sua escolha deverá ser realizada de acordo com a forma como local será utilizado, sendo eles: ardósia, arenito, blocos de concreto, bolachas de madeira, dormentes, grelha de concreto/grama, ladrilho hidráulico, lajota de cerâmica, mosaico português, paralelepípedos, pedras (pedra mineira), pedrisco, piso cimentado, placas de concreto, seixo branco, seixo rolado, tábuas de madeira, terra batida e tijolo de barro. 107 2.2.7 Construções do jardim Para que se tenha certos elementos arquitetônicos compondo a paisagem, é necessário realizar construções diversas que variam quanto ao porte. Algumas podem ser consideradas simples e exigem mãos habilidosas, mas sem a necessidade de conhecimentos profundos, enquanto que para outras construções é impraescindível a contratação de mão de obra especializada. Dentre os componentes que podem ser utilizados em jardins temos: • Reservatórios e espelhos d'água: destacam-se os tanques e laguinhos, cujas funções na paisagem podem ser o cultivo de plantas aquáticas e criação de peixes ornamentais. Também são utilizados para a formação de espelhos d'água, que além de efeitos estéticos, aumentam a umidade relativa do ar e a luminosidade local por causa da reflexão. • Pontes: podem ser utilizadas em áreas com presença de cursos d’água, mas também em terrenos acidentados para ligar dois pontos do jardim. • Pérgulas e caramanchões: seu uso se deve à necessidade de um local para que as plantas trepadeiras possam se estabelecer, de forma que proporcionam um local coberto que podem servir como alpendre ou até mesmo como garagem, uma vez que propiciam sombra e arejamento. • Treliças: são estruturas em forma de grade que podem ser colocadas em muros para que as plantas trepadeiras se estabeleçam, além de criar um visual agradável no espaço. • Quiosques: podem ser tantos os locais comerciais para venda de alimentos ou outros produtos de interesse no local onde estão, como também funcionar como guarda-sol espalhados pelo jardim em áreas com alta insolação. • Decks: são estruturas maiores e planas construídas em madeiras que funcionam como locais para a confraternização onde as pessoas podem apreciar a paisagem, mas mantendo certa distância das plantas. • Estufas: são estruturas específicas para os amantes de plantas que desejam cultivar diversas espécies que necessitam de condições climáticas controladas. • Mirante: são muito utilizados em parques que possuam elevações no terreno que possibilitem uma visão privilegiada da paisagem. • Telhado verde: pode ser utilizado na cobertura de casas e edifícios, que recebem um tratamento impermeabilizante, sistema de drenagem e barreira para limitar o crescimento das raízes, utilizando espécies que se adaptem às condições de substrato e clima oferecidos de acordo com o sistema escolhido – intensivo ou extensivo – que diferem em relação ao nível de manutenção. Além dessas construções, existem alguns componentes cuja funcionalidade é o lazer ativo ou passivo, de forma que enquadram como uma categoria especial, no caso, temos as áreas específicas para a prática de esportes como campos de futebol e quadras poliesportivas, divertimento e prática de esportes no caso de piscinas e áreas para as crianças como os playgrounds. 108 Os jardins são ambientes que podem ser frequentados tanto durante o dia, quanto a noite, e por isso é importante estar atento para o uso da iluminação, que também pode compor um ornamento, criando novos efeitos para a paisagem. Desse modo, o uso de luminárias proporciona segurança aos usuários do jardim durante o período da noite, mas também, de acordo com o enfoque desejado, podem realçar e valorizar determinados elementos, de modo que é possível manter-se dentro dos mesmos critérios definidos para a parte do dia, como projetar sensações distintas para a parte da noite. Caso se deseje criar divisórias além das horizontais, no caso as vias de circulação, podem ser utilizadas as cercas vivas, que funcionam como divisórias verticais, além de criar espaços mais reservados, elas tornam o ambiente mais agradável por utilizar o verde. Mas há também a opção de se utilizar outros materiais como bambu, madeira e concreto. Ostipos de divisórias podem ser as cercas-vivas, os muros e muretas, os alambrados e as cercas. 2.3 PRINCÍPIOS DE ESTÉTICA Para compor uma paisagem que seja ao mesmo tempo funcional e agradável para aqueles que irão frequentá-la é preciso levar em consideração, além dos fatores de ordem natural e social, os princípios de estética. Esses princípios direcionam a disposição e organização dos elementos naturais e arquitetônicos para criar um ambiente visualmente agradável. De forma inconsciente, um observador analisa a paisagem e a divide, atribuindo pesos visuais diferentes para cada elemento, da organização desses pesos visuais são tirados os princípios que norteiam a composição paisagística, sejam eles: mensagem, equilíbrio, escala, dominância, harmonia e clímax. Segundo Lira Filho (2002, p.111) Para criar um espaço agradável, o jardim é moldado por um nível inferior, constituído por piso, gramado e forrações; por um teto, proporcionado por elementos construídos, copas de árvores ou trepadeiras conduzidas; e, lateralmente, por maciços vegetais, construção integrada à paisagem ou perspectivas belas e repousantes. O ideal de beleza em um jardim consiste em harmonizar os elementos, de modo que a falta de unidade entre as partes resulta em ‘feiura’, uma vez que a presença de elementos discordantes gera confusão na mente. Essa beleza é apresentada em três níveis: emotivo, sensitivo e intelectual, que se distinguem de acordo com o nível de conhecimento do observador. 109 Iremos apresentar os seis princípios básicos que fundamentam a composição paisagística: • Mensagem: está diretamente relacionada com o sentimento que se deseja transmitir. De modo que é necessário ter um conhecimento de a quem se destina o espaço. As linhas, formas, texturas e cores devem ser utilizadas de modo a transmitir sensações agradáveis aos frequentadores. • Equilíbrio: promove a sensação de estabilidade físico-visual do local devido a algum componente ou composição presente no campo visual. Por esse princípio se determina a estabilidade entre os pesos visuais dos elementos e as massas dos componentes, havendo uma compensação mais ou menos regular. Isso pode ser feito de maneira formal, onde se marca o centro ou eixo e os pesos são distribuídos em igualdade ao redor; e de maneira informal, no qual a distribuição dos pesos ocorre de maneira desigual no jardim. • Escala: corresponde ao distanciamento entre os elementos, de modo que podem causar a sensação de liberdade ou enclausuramento de acordo com a forma como os elementos estão dispostos no jardim. • Dominância: se refere à existência de elementos que se sobrepõem a outros na paisagem, devido às características de tamanho, cor, forma e textura. Essa dominância pode ser natural, ou seja, o elemento possui qualidades naturais que o fazem se destacar, por exemplo, a presença de flores em árvores, ou induzida, quando o paisagista direciona o projeto para que determinado elemento tenha mais atenção. No caso da dominância induzida é preciso considerar certos pressupostos: analogia e contraste, sequência e ritmo, convergência e eixo, codominância e, moldura. • Harmonia: reside na combinação entre os elementos. A ideia que se pretende é a de que haja unidade na composição, de modo que os diversos elementos ali presentes estejam dispostos de maneira que não há necessidade de alterações pela retirada ou adição de qualquer elemento, mantendo-se o equilíbrio. Esse princípio considera a proporção entre os elementos para criar um ambiente harmonioso. • Clímax: corresponde a um elemento ou parte do jardim na qual o observador se sente tão bem a ponto de se deixar permanecer por um tempo considerável de apreciação diferente de outros elementos ou outras partes. 3 GRUPOS VEGETAIS A vegetação é de suma importância para o paisagismo, na verdade é o ponto principal do projeto, de forma que, conhecer as espécies e suas características ajuda a melhor desenvolver uma ideia de concepção para um jardim. É possível agrupar as espécies em dois conjuntos. O primeiro corresponde à arquitetura da planta, nos hábitos de crescimento que as distinguem em relação à ocupação do espaço em que se encontram, sendo observados seu formato, altura, largura, estrutura da copa, número, tamanho, forma e disposição das folhas, aspectos de textura e cor do vegetal como um todo ou de partes dele. 110 O segundo conjunto diz respeito aos aspectos ambientais a que cada espécie está adaptada. Cada grupo de espécies possui adaptações próprias para os diversos ambientes, algumas são mais sensíveis, outras mais tolerantes, no entanto toda espécie tem suas exigências quanto ao tipo de solo, nível de umidade, quantidade de luz, salinidade da água e do solo, temperatura, resistência a pragas e doenças, e questões que podem afetar seu crescimento e seu ciclo fenológico. Assim, temos no primeiro conjunto espécies de árvores, arbustos, trepadeiras e algumas herbáceas têm sua escolha para composição de jardins realizada com base em aspectos visuais. Já para o segundo conjunto, não é possível uma clara categorização das espécies, uma vez que em cada grupo podem haver plantas que só se adaptam a determinadas condições e outras que se adaptam às condições mais adversas. Para facilitar a escolha das plantas que serão utilizadas no projeto, é realizada uma divisão no paisagismo por tipos vegetais, de forma que as plantas são agrupadas, principalmente, pelo porte do seu caule, e/ou subdivididas de acordo com outras características que as aproxime. O quadro a seguir resume esses tipos: TABELA 2 – RESUMO DOS PRINCIPAIS TIPOS VEGETAIS UTILIZADOS NO PAISAGISMO PLANTAS ARBÓREAS: Plantas com altura normalmente acima de 5 ou 6 metros, caule autoportante, único na base, repartindo-se acima do nível do solo. 1. ÁRVORES: Plantas arbóreas, com estrutura ramificada em diferentes formas, caule único, ramos providos de folhas laminares, com formas e tamanhos variados. 2. PALMEIRAS: Plantas de caule único, provido de folhas alongadas, caracteristicamente pinadas, inseridas em rosetas na extremidade superior do caule. 3. CONÍFERAS: Plantas arbóreas, em geral de grande porte, estrutura monopodial (caule vertical com ramificações laterais), copa frequentemente cônica, folha em forma de acículas, lâminas estreitas ou escamas. TREPADEIRAS: Plantas de caule não autoportante, que crescem apoiadas em outras estruturas. 4 TREPADEIRAS PLANTAS ARBUSTIVAS: Plantas até a altura de cinco ou seis metros, caule em geral subdividido junto ao nível do solo, resistente ao menos parcialmente. 5 ARBUSTOS 111 PLANTAS HERBÁCEAS: Plantas de caule não resistente, herbáceo, com altura raramente acima de 1 metro. 6. HERBÁCEAS: Plantas erguidas, geralmente até um metro de altura, excepcionalmente podendo atingir a altura de um arbusto, com o caule completamente herbáceo. 7. FORRAÇÕES: Plantas herbáceas, rasteiras, geralmente em comunidades densamente enraizada, com altura até 30 cm, aproximadamente, que não admitem pisoteio. 8. PISOS VEGETAIS: Plantas herbáceas, rasteiras, normalmente providas de rizomas ou estolões, fortemente enraizados e muito resistentes ao pisoteio, admitindo poda rente ao solo. FONTE: Salviatí (1993, p. 11) 3.1 ÁRVORES São plantas que se destacam pelo porte que atingem e são classificadas de acordo com a altura, o diâmetro de copa ou ambos, havendo três gradações que são: grande porte (>15 m de altura, >12 m de diâmetro), médio porte (8 – 15 m de altura, 6 – 12 m de diâmetro) e pequeno porte (até 8 m de altura, até 6 m de diâmetro). Com relação à forma, pode haver variações entre indivíduos que pertencem à mesma espécie devido à variabilidade genética, além disso, condições ambientais deiluminação podem modificar a forma como a árvore cresce, uma vez que as plantas que crescem em locais sombreados podem apresentar copa estreita e caule alongado em razão da busca pela luz, e quando colocadas em uma área aberta apresentam outra forma. Portanto, para se determinar a forma específica de uma árvore, ela deve se desenvolver em local com plena insolação e estar isolada. A forma é resultado de duas variáveis combinadas, o formato da copa e o tipo de fuste. O formato da copa tem relação com a estrutura e conformação dos ramos que proporcionam uma arquitetura mais aberta ou mais fechada. O fuste corresponde à parte do caule que não se subdivide, ou seja, a parte do caule que segue inteiro da base até que inicie a copa, podendo ser baixo (até 2,5 m), médio (2,5 – 4 m) e alto (>4 m). Ainda em relação à estrutura, o tipo de crescimento pode resultar em uma forma mais vertical, na qual o tronco segue único e os ramos são lançados lateralmente, recebendo o nome de estrutura monoaxial, ou em uma forma mais distribuída, que aproveita o espaço ao redor com maior abertura da copa, uma vez que o caule se subdivide pelo menos uma vez, essa estrutura recebe o nome de poliaxial. 112 De acordo com a densidade da folhagem é possível classificar o sombreamento em: denso, quando os raios de sol não conseguem atravessar a folhagem, de forma que na área da sombra projetada pela copa não há crescimento de outros vegetais; médio, promove considerável proteção e pouca entrada de luz, o que é ideal para o desenvolvimento de plantas umbrófilas (adaptadas a lugares úmidos e sombrios); e ralo, os raios de sol penetram o interior da copa, o que resulta em pouca ou nenhuma proteção do solo abaixo da copa. A permanência da folhagem também influencia o sombreamento. Árvores com folhagem permanente fazem a troca de folhas naturalmente sem que fiquem desnudas, ou seja, sempre há presença de folhas em sua copa, enquanto que árvores caducifólias perdem todas as suas folhas em determinada época do ano, seja em período de estiagem ou por ocasião do inverno. As árvores podem ser divididas entre as que possuem raízes pivotantes ou profundas e aquelas que possuem raízes superficiais, é preciso certo cuidado com raízes superficiais, pois danificam calçadas e fundações ao redor, sendo que árvores com esse tipo de raiz são mais adequadas a locais com grandes espaços de solo livre, onde suas raízes podem se desenvolver sem causar problemas. Nome científico Nome popular Altura (m) Diâmetro de copa Ø (m) Acacia podalyriaefolia Acácia mimosa 5 4 Caesalpinea peltophoroides Sibipiruna 6-7 6 Caesalpinia echinata Pau-brasil 6 8 Callistemon atrinus Calistemo 3 - 5 2 Ceiba speciosa Paineira 12-14 14-15 Enterolobium contortisiliquum Timbaúva 15 8-12 Erythrina crista-galli Corticeira do banhado 12 6 Erythrina speciosa Eritrina 4 - 6 5 Eucaliptus cinerea Eucalipto prateado 15-18 10-12 Grevillea robusta Grevilha 15 <10 Handroanthus chrysotrichus Ipê amarelo <15 10 Handroanthus heptaphyllus Ipê roxo <15 10 Jacaranda mimosifolia Jacarandá mimoso 9-11 7-8 Lagerstroemia indica Resedá ou extremosa 4 - 6 3 TABELA 3 – LISTA DE ALGUMAS ESPÉCIES DE PLANTAS ARBÓREAS UTILIZADAS NO PAISAGISMO 113 Licania tomentosa Oiti 8 - 15 6 Magnolia grandiflora Magnólia 10-12 8-10 Peltophorum dubium Canafístula 15 8-12 Platanus occidentalis Plátano 15-18 12-15 Salix babilonica Chorão 10-12 8-10 Schinus molle Aroeira 6-8 5-6 Schizolobium paraybum Guapuruvu 15-17 12 Tibouchina mutabilis Quaresmeira 5 4 Tipuana tipu Tipuana < 12 < 10 FONTE: Adaptada de Petry (2014) e Galhego (2017b) 3.2 CONÍFERAS As coníferas são plantas em sua maioria de porte arbóreo, que apresentam resistência a pragas e doenças e que são oriundas de regiões mais frias ou com clima temperado. Sua forma é bem definida por um tronco único, linear e elevado, do qual saem as ramificações laterais que são regularmente distribuídas ao longo do seu comprimento. Em seus ramos, as folhas podem ser finas (acículas) ou estreitas e alongadas. Os frutos característicos desse tipo de vegetal têm formato de cone, coberto por escamas lenhosas onde podemos encontrar as sementes nuas. Apesar de mais conhecidas pelo porte alto, também são encontradas em formas arbustivas, sendo classificadas em: porte anão (até 1,5 m de altura); porte pequeno (1,5 até 5 m de altura); porte médio (5 a 15 m de altura); porte alto (15 a 25 m de altura); e porte muito alto (acima de 25 m de altura). A copa é bem variada com formas amplas ou muito irregulares, formatos que lembram um chapéu de sol no caso do pinheiro-do-Paraná (Araucaria angustifólia B.), os tipos mais comuns são as formas regulares e simétricas, tais como colunar, cônicas e em forma de morro. 114 3.3 PALMEIRAS Em geral, possuem caule esguio que pode ser vertical ou inclinado, até mesmo tortuoso, na extremidade superior do caule as folhas formam uma coroa em formato de roseta composta por folhas grandes que se caracterizam pela aparência de pena ou de leque. Outra característica das palmeiras é que o pecíolo das folhas envolve o caule, marcando a transição para a copa. O caule pode variar seu formato, podendo ser perfeitamente vertical, inclinado ou encurvado, múltiplo, ramificado (em casos raros), e também assumir a forma de trepadeira, e ainda apresentar variações em seu diâmetro ao longo do comprimento. Com relação ao aspecto da superfície, pode ser praticamente lisa ou com anéis muito pouco pronunciados, com ranhuras no sentido vertical, fortemente anelada, com espinhos, provida de remanescentes do pecíolo ou das próprias folhas. Pelo porte temos palmeiras cujo caule aéreo é quase inexistente devido ao ponto em que saem as folhas, as de porte baixo (até 2 m de altura), as de porte médio (2 a 10 m de altura) e as de porte alto (acima de 10 m de altura). A copa pode ser mais globular quando as folhas possuem eixos mais flexíveis ou em forma de leque quando o eixo é menos deformável. TABELA 4 – LISTA DE ALGUMAS ESPÉCIES DE PALMEIRAS UTILIZADAS NO PAISAGISMO Nome científico Nome popular Altura (m) Diâmetro de copa Ø (m) Bismarckia nobilis Palmeira-azul 12 8 Butia capitata Butiazeiro 7 6 Chamaedorea elegans Camedoréa < 3 < 2 Chrysalidocarpus lutescens Areca bambu 9 4 Euterpe oleracea Açaí < 15 2 Licuala grandis Leque 2 – 4 Phoenix canariensis Tamareira das Canárias 7 5 Phoenix roebelinii Tamareira anã 3 2 Raphis excelsa Palmeira rafia < 5 1 Roystonea oleracea Palmeira imperial < 50 5 Roystonea regia Palmeira real < 15 3 Saygrus romanzoffianum Gerivá 17 2 Trachycarpus fortunei Traquicarpo 3-5 3 Wodyetia bifurcata Rabo-de-raposa 6 – 9 3 – 4 FONTE: Adaptada de Petry (2014) e Galhego (2017b) 115 3.4 TREPADEIRAS São plantas que não possuem caule resistente e por isso costumam se desenvolver próximas a espécies arbóreas e arbustivas nas quais se apoiam para chegar até o exterior da copa dessas plantas e, assim, podem realizar suas funções fisiológicas aproveitando a luz solar. Seu sucesso, na maioria das espécies, se deve a suas flores vistosas. Existem três tipos de trepadeiras em relação ao hábito de crescimento. O primeiro grupo é constituído por plantas que não possuem órgão específico de fixação, utilizando seus caules e suas folhas como forma de ancoragem, que pode ser facilitada pela presença de espinhos ou por adaptações morfológicas de alguma estrutura. Algumas espécies desse grupo precisam ser amarradas quando cultivadas. No segundo grupo temos as plantas que possuem dispositivos próprios para promover sua amarração, essas partes recebem o nome de gavinhas e correspondem a alterações morfológicas de outras partes vegetais, de modo que nascem de gemas que dariam origem a folhas, ramos ou flores, sua principal característicaé se enrolarem rapidamente ao apoio logo que o encontram. Também estão nesse grupo as trepadeiras cujas raízes são fixadoras, encontradas em dois tipos: as que criam pontos de sustentação pela penetração em fendas e as que produzem um cimento de adesão. No terceiro grupo estão plantas que possuem caules volúveis e com isso crescem se enrolando ao suporte em espiral de forma bem estreita, o que pode causar, inclusive, a morte do suporte. Com relação ao porte, ou extensão que podem atingir, a classificação se dá da seguinte forma: pequenas trepadeiras (dois ou três metros de comprimento), crescimento lento, servindo para utilização em estruturas baixas; trepadeiras médias (cinco ou seis metros de comprimento), podem ser utilizadas em estruturas com altura de um pé direito simples e; trepadeiras grandes, (podem ultrapassar os 40 metros de comprimento), são plantas muito vigorosas e, por isso, não devem ser utilizadas em espaços limitados. 116 TABELA 5 – LISTA DE ALGUMAS ESPÉCIES DE TREPADEIRAS UTILIZADAS NO PAISAGISMO Nome científico Nome popular Allamanda cathartica Alamanda Boungainvilea spectabilis Primavera ou Três Marias Ficus pumila Unha-de-gato Hedera helix Hera Ipomoea cairica Cairica Jasminum meysnii Jasmim amarelo Jasminum polyanthum Jasmim perfumado Pyrostegia venusta Cipó de São João Rosa sp. Rosa trepadeira Wisteria sinensis Glicínia FONTE: Petry (2014, p. 59) 3.5 ARBUSTOS Com características muito próximas às árvores, a principal diferença se refere ao porte, que pode chegar a até 6m de altura, e o fato de que o caule se reparte a partir do nível do solo. A folhagem também se assemelha a das árvores, mas nos arbustos as folhas variegadas, coloridas ou manchadas ocorrem com maior frequência entre as espécies. Por terem formatos peculiares, sua utilização é feita em conjuntos vegetais para a formação de barreiras vegetais como sebes, maciços ou cortinas vegetais, para a organização do jardim. Os arbustos podem ser divididos em porte baixo (até 1m de altura), utilizados como barreiras ou divisórias sem obstruir o campo visual, e porte alto (acima de 1m de altura), que funcionam como barreiras físicas e obstruem a visão, de modo a criar áreas restritas e de privacidade protegida. A forma que o arbusto terá depende da constituição do caule, que pode ser lenhoso ou semilenhoso, que implica na sua resistência, além do tipo de ramificação. 117 TABELA 6 – LISTA DE ALGUMAS ESPÉCIES ARBUSTIVAS UTILIZADAS NO PAISAGISMO Nome científico Nome popular Porte até (m) Abutilon megapotamicum Lanterna japonesa 3 Bambusa gracillis Bambuzinho amarelo 2,5 Brunfelsia uniflora Manacá de jardim 2 Caesalpinea pulcherrina Flamboyant de jardim 2 – 3 Calliandra tweedii Espuminha, Caliandra, Sarandi 2 Callistemon lanceolatus Escova de garrafa 4 Camellia japonica Camélia 4 Cordyline terminalis Dracena vermelha 3 Dracaena spp (D. fragans, D. deremensis) Dracena 5 Euonymus japonica Evônimo 3 Fucsia sp Brinco de princesa 2 Gardenia jasminoides Gardênia 2 Hibiscus rosa-sinensis Hibisco 2,5 Hydrangea macrophylla Hortênsia 1,5 Lantana camara Lantana 1,5 Lavandula officinalis Lavanda, Alfazema 2 Plumbago capensis Bela-emília 2 FONTE: Petry (2014, p. 60) 3.6 HERBÁCEAS As plantas consideradas herbáceas requerem maiores cuidados e manutenção quando comparadas às plantas arbustivas ou arbóreas, havendo, dependendo da espécie, certa necessidade de replantio quando chega determinada época, e os tratos culturais são mais frequentes. Suas raízes, em geral, são mais superficiais, e as plantas tendem a exigir sombreamento, solos férteis e maior umidade do ar. As plantas herbáceas podem apresentar ciclo de vida curto, dividindo-se em anuais e bianuais, dentro desse período elas se desenvolvem e florescem, com início normalmente na primavera, finalizando antes da chegada do inverno, e apresentar floração intensa. Enquanto as perenes, que possuem ciclo de vida mais longo, possuem floração menos chamativas, mas são mais duráveis. Dividem-se em plantas de folhagem persistente, que permanecem verdes o ano todo, e caducas, perdem a parte aérea em certo período, mas os órgãos subterrâneos permanecem em estado de dormência, rebrotando quando as condições se apresentam favoráveis. 118 TABELA 7 – LISTA DE ALGUMAS ESPÉCIES HERBÁCEAS FLORÍFERAS UTILIZADAS NO PAISAGISMO Nome científico Nome popular Porte até (cm) Ageratum houstonianum Agerato 40 Antirrhinum majus Boca de leão 40 Begonia semperflorens Begonia 30 Calendula officinalis Calêndula 40 Celosia cristata Crista de galo 50 Cosmos bipinnatus Cosmos 100 Dianthus barbatus Cravina 40 Eschscholtzia californica Papoula 40 Gomphrena globosa Gonfrena 30 Lobelia erinus Lobélia 20 Lobularia marítima Alisso ou flor de mel 25 Mirabilis jalapa Maravilha 90 Myosotis sylvatica Não me esqueça 30 Nemesia strumosa Nemésia 50 Papaver spp Papoula verdadeira 40 Petúnia x hybrida Petúnia 25 Phlox drummondi Flocos, flox 40 Portulaca grandiflora Onze horas 20 Salvia splendens Alegria de jardim <50 Tagetes pátula Cravo de defunto 35/100 Torenia fournieri Torênia 25 Verbena x hybrid Verbena 25 Viola X wittrockiana Amor perfeito 20 Zinnia elegans Zínia 100 FONTE: Petry (2014, p. 63) Os órgãos subterrâneos são encontrados em três tipos: bulbos, que são formados por camadas que se sobrepõe ou uma porção central maciça coberta por escamas; rizomas, que são caules subterrâneos e se desenvolvem de forma horizontal no solo, emitem raízes e brotos e; tubérculos, que podem ser, originalmente, caules subterrâneos ou raízes do tipo soqueira. A maior parte das espécies atinge no máximo 1m de altura, mas as plantas pertencentes à família das Musaceaes, devido ao modo como a bainha das folhas se enrola no caule, conseguem estruturá-lo e dar sustentação para que cheguem a até 5 metros de altura. Devido à quantidade de espécies e variação entre elas, há uma diversidade de formas e estruturas. 119 3.7 FORRAÇÕES Corresponde ao grupo de plantas herbáceas cuja altura máxima é de 30 cm e o caule é rastejante, mesmo não sendo resistentes ao pisoteio, possuem vigor e rusticidade que lhes conferem valor de interesse para cobertura de determinadas áreas do terreno, sendo utilizadas como elemento de superfície. A junção de várias plantas independentes forma touceiras que, por sua densidade, se estabelecem sobre o solo em uma cobertura contínua e fechada e, assim, impedem o surgimento de plantas invasoras. Normalmente são espécies que constituem grupos extensos, que se multiplicam em razão da mergulhia de seus caules por estarem sobre ou sob a superfície do solo. TABELA 8 – LISTA DE ALGUMAS ESPÉCIES PARA FORRAÇÃO UTILIZADAS NO PAISAGISMO Nome científico Nome popular Porte até (m) Acalipha repens Rabo de gato 0,20 Agapanthus umbellatus Lírio do Nilo 0,70 Ajuga reptans Ajuga 0,10 Alternanthera amoena Periquito 0,20 Aptenia morifolia Maringá 0,10 Catharanthus roseus Cataranto ou vinca 0,50 Chlorophytum comosum Clorofito 0,30 Cineraria marítima Cinerária, Falsa sálvia 0,40 Gazania ringens Funcionária pública 0,30 Hemerocallis fulva Hemerocallis flava Lírio laranja e lírio amarelo 0,50 Impatiens balsamina Beijinho, Maria sem vergonha 0,60 Ophiopogon jaburans Barba de serpente 0,40 Ophiopogon japonicus Grama preta ou pelo de urso 0,25 Ophiopogon japonicus ‘nana’ Grama preta anã 0,10 Pelargonium X hortorum Gerânio 0,60 Persicaria capitata Tapete inglês 0,10 Pilea cadierei Pilea ou alumínio 0,40 Setcresea purpúrea Manto de viúva 0,20 Stachys bizanthina Pulmonária 0,20 Strelitzia reginae Ave do paraíso 0,90 Tropaelum majus Chaguinhas 0,40 Vinca major Vinca 0,50 Zantedeschia aeothipica Copo de leite 0,60 FONTE: Petry (2014, p. 60) 120 3.8 PISOS VEGETAIS A maior parte das espécies utilizadas fazem parte da família das gramíneas, possuem crescimentorasteiro, têm resistência ao pisoteio e podem sofrer podas drásticas que as deixem rentes ao solo. O número de espécies é muito extenso e diverso, de modo que são encontradas em inúmeras paisagens naturais e se adaptam às mais variadas condições ambientais. A maior parte das espécies cultivadas possuem estolões ou rizomas, que correspondem a prolongamentos do caule que se desenvolvem horizontalmente. O estolão é um tipo de caule aéreo que, na proximidade com o solo, emite raízes nos seus nós e dá origem a novas plantas, já o rizoma é um tipo de caule subterrâneo que forma novas plantas nas suas extremidades. TABELA 9 – LISTA DE ALGUMAS ESPÉCIES DE GRAMÍNEAS UTILIZADAS NO PAISAGISMO Nome científico Nome popular Axonopus sp Sempre-verde, grama larga Cynodon dactylon Grama seda Paspalum notatus Forquilha ou paulista Stenotaphrum secundatum Santo Agostinho Zoysia sp Coreana ou esmeralda FONTE: Petry (2014, p. 62) 3.9 PLANTAS ATÍPICAS Nem todas as espécies de plantas que podem ser utilizadas no paisagismo podem ser enquadradas nos tipos descritos anteriormente, de modo que fazem parte de grupos especiais, os mais comuns são: a) Bambus e gramíneas altas; b) Bromélias, dracenas, agaves e yuccas; c) Suculentas e cactáceas; d) Samambaias-açu e cycas; e) Bananeiras e helicônias; f) Filodendros e monstera; g) Aquáticas e epífitas 4 MACROPAISAGISMO E MICROPAISAGISMO O macropaisagismo tem como objetivo projetos que envolvem grandes áreas verdes e espaços verdes urbanos, em geral, o trabalho envolve grandes equipes que reúnem profissionais diversos para realizar o planejamento, a execução e a conservação, as unidades básicas projetadas são, em geral, as praças e os parques. 121 Por serem áreas extensas, possuem escala visual maior e as representações gráficas são desenhadas em escalas de 1:5.000 a 1:50.000. Há maior preocupação em se preservar a natureza, de modo que essas áreas são pensadas visando proteção de mananciais, controle à erosão urbana, recuperação de paisagens danificadas etc. Segundo Petry (2014), as unidades básicas trabalhadas são as praças e os parques e podem apresentar muitas variações: parques lineares (ao longo de rios), reservas legais urbanas, quarteirões verdes e a própria arborização urbana como uma malha tecendo o verde urbano, de modo que se trata de áreas maiores, espaços públicos ou não. No micropaisagismo o objetivo é remodelar áreas que tenham no máximo 1000 m2, que em outra época correspondiam aos jardins caseiros ou residenciais, os quais poderiam ser de fachada (o objetivo era valorizar a arquitetura construída) ou de quintal (com o cultivo de hortas e pomares na parte de trás da residência). Os jardins internos (em casas, lojas, escritórios e outros ambientes), chamados de jardins de inverno ou hortas suspensas, também são projetados no micropaisagismo. Também é possível envolver o uso de vegetação na construção como um todo, como as peles verdes (trepadeiras inseridas diretamente nas paredes), muros verdes (estruturas verticais que permitem o uso de substrato e espécies herbáceas) e telhados verdes (sobre lajes de construções), para que haja mais harmonia e funcionalidade, sempre que possível, o projeto do jardim deve ser elaborado junto com o projeto da casa (PETRY, 2014). Você sabia que dá para fazer um paisagismo mais ecológico? Leia sobre o assunto no artigo intitulado “Paisagismo produtivo”. Acesse em: http://twixar.me/4LMm. DICA 122 Neste tópico, você aprendeu: • Os jardins são projetados para comunicar sensações diversas e essa comunicação se estabelece por meio de determinados aspectos como: linha, forma, textura e cor. • Os elementos de trabalho se dividem em duas categorias: os elementos naturais e os elementos arquitetônicos. • Tanto os elementos naturais orgânicos (plantas e animais) quanto os elementos minerais (pedras, água) são importantes para definir e moldar a paisagem. • Os elementos arquitetônicos podem ter tanto aspectos funcionais e deixar o espaço mais aconchegante, quanto aspectos apenas estéticos. • Outro ponto sobre a composição de jardins é que a combinação dos elementos naturais e arquitetônicos deve considerar os princípios de estética: mensagem, equilíbrio, escala, dominância, harmonia e clímax. • A vegetação utilizada para o paisagismo se divide em tipos, segundo as características que se assemelham entre as diversas espécies, temos então: árvores, palmeiras, coníferas, trepadeiras, arbustos, herbáceas, forrações e pisos vegetais. • A principal diferença entre o macropaisagismo e micropaisagismo corresponde ao tamanho da área a ser projetada. RESUMO DO TÓPICO 2 123 1 A comunicação entre os elementos que compõe a paisagem e aqueles que a observam é de grande importância para o sucesso de um projeto. Sobre os elementos de comunicação é possível afirmar que: a) ( ) A percepção horizontal das linhas se dá quando olhamos para uma palmeira, enquanto a percepção vertical se dá quando olhamos o pôr do sol no mar. b) ( ) A forma corresponde ao volume delimitado pela linha. c) ( ) A textura somente pode ser percebida se tocarmos a superfície. d) ( ) As cores primárias são aquelas que podemos obter pela combinação das cores secundárias. e) ( ) As topiarias fazem parte dos elementos arquitetônicos. 2 Os princípios de estética auxiliam na distribuição dos elementos naturais e arquitetôni- cos de forma que o observador tenha uma experiência agradável com a composição implantada. Sobre isso, analise as seguintes sentenças: I- O princípio do equilíbrio visa promover a estabilidade físico-visual do local, distribuindo os pesos em todo o espaço. II- O princípio da dominância se refere ao distanciamento que deve ser estabelecido entre os elementos. III- O princípio da harmonia busca trazer unidade na combinação dos elementos. É correto afirmar que: a) ( ) Somente I está correta. b) ( ) Somente II está correta. c) ( ) Somente III está correta. d) ( ) I e II estão corretas. e) ( ) I e III estão corretas. 3 As plantas são parte essencial em um projeto paisagístico, uma vez que são elas que dão vida ao ambiente do jardim. Classifique em V para verdadeiro e F para falso nas afirmações a seguir: ( ) As plantas que possuem arquitetura plástica não modificam sua forma, indepen- dentemente do local em que se encontrem. ( ) As plantas de vaso necessitam de cuidados especiais em razão do grau de domesticação a que foram submetidas. ( ) Plantas perenes possuem ciclo de vida indeterminado, podendo emitir flores e frutos todos os anos sem a necessidade de substituição. AUTOATIVIDADE 124 ( ) Plantas de sombra são aquelas que podem ser colocadas na área exterior, enquanto plantas de sol devem ficar no ambiente interno. ( ) As plantas são separadas em tipos, as árvores, por exemplo, correspondem aos vegetais de porte alto, acima de 6 metros e que possuem caule lenhoso. Assinale a alternativa correta: a) ( ) F – V – V – F – V. b) ( ) F – F – V – V – F. c) ( ) V – V – V – V – F. d) ( ) F – V – F – V – V. e) ( ) V – F – F – V – F. 4 Uma composição é projetada utilizando diversos elementos que são divididos em naturais e arquitetônicos. Fale sobre a importância dos elementos arquitetônicos. 5 As diversas espécies que são utilizadas para a composição de um jardim possuem aspectos próprios que, quando bem combinados, proporcionam uma paisagem agradável. Cite os tipos vegetais e suas principais características. 125 TÓPICO 3 — PROJETO PAISAGÍSTICO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO O projeto de paisagismo é elaborado visando à implantação em áreas que podem ser públicas ou privadas, e é percebido no espaço exterior às edificações, podendo ser mais complexo ou menos complexo de acordo com a dimensão que irá alcançar.Corresponde ao documento que será elaborado em função do local, da dimensão e do orçamento disponível com todos os elementos e etapas necessárias para atingir os objetivos propostos. O projeto é a transposição para o papel das ideias e a primeira visualização de como o espaço ficará. 2 TIPOLOGIAS: JARDINS, PARQUES E ESPAÇOS VERDES • Paisagismo em áreas comerciais A atenção dos projetos nesses espaços, por onde as pessoas transitam diariamente, está nas paginações (piso e parede) e a vegetação que tem papel estrutural. As recomendações para a elaboração de projetos são: ◦ não é necessário considerar a privacidade de forma que se pode trabalhar com elementos de transparência; ◦ o uso das plantas como cortinas vegetais ajudam a esconder visuais indesejáveis como medidores e caixas de força, por exemplo, entre outros; ◦ amenizar os níveis de insolação em fachadas desprotegidas do sol; ◦ promover o sombreamento de estacionamentos externos utilizando espécies arbóreas que se adequem a esse papel; ◦ a vegetação pode ser utilizada para demarcar os espaços e recintos de modo que haja continuidade interior-exterior; ◦ o projeto deve enfatizar e valorizar tanto as linhas arquitetônicas quanto seus matizes cromáticos, além de dar destaque aos símbolos principais. 126 • Paisagismo em espaços livres multifamiliares Aqui falamos sobre espaços semipúblicos (clubes, condomínios etc.) onde a visibilidade exterior depende de como o local é apresentado, de modo que o paisagismo pode ser realizado tanto para proteger quanto para permitir que o interior seja visto. As recomendações básicas são: ◦ as áreas utilizadas para interações sociais, salões de festa e saunas, devem permanecer com privacidade em relação a outras áreas próximas; ◦ a forma como a luz solar incide deve ser avaliada criteriosamente para que haja insolação direta sobre piscinas, mas chegue filtrada em áreas de playgrounds e, no caso de varandas e locais de permanência haja proteção em relação à insolação; ◦ usos de espécies arbóreas para promover o sombreamento de estaciona- mentos ao ar livre; ◦ o zoneamento deve ser criterioso para que haja organização em relação aos acessos, às áreas de circulação tanto de veículos quanto de pessoas e das áreas de permanência; ◦ em escadarias de acesso e em áreas lajeadas podem ser utilizadas jardineiras laterais; ◦ a vegetação de porte proporciona visuais amplos, funcionando como ele- mento estético que deve ser enfatizado; ◦ antecipar jardins de contemplação nas áreas destinadas ao descanso; ◦ promover a valorização das fachadas e, assim, mantê-las protegidas; ◦ as espécies vegetais (folhagens ou florísticas) devem ser escolhidas de acordo com o local onde serão plantadas, de modo que, não causem problemas, mas fiquem bem adaptadas. • Paisagismo em áreas livres públicas ou semipúblicas Os espaços públicos refletem a qualidade ambiental urbana e a vegetação funciona como o principal suporte na composição paisagística. O projeto deve atender aos interesses do grupo social ali presente. É importante que os seguintes aspectos sejam considerados: ◦ uso de estruturas que tragam significado para o local, com valorização e identificação do espaço pelo público usuário; ◦ o desenho deve ser elaborado considerando o máximo de aproveitamento para o público; ◦ deve-se ter atenção com questões de acessibilidade para pessoas portadoras de deficiência e idosas, instalação de playgrounds em locais seguros e harmonizar conflitos em certas atividades (carro x pedestre); 127 ◦ o mobiliário deve ser adequado aos diferentes usos e possuir condições de abrigo em relação ao sol e aos ventos; ◦ considerar a presença de grupos específicos e seus interesses, incorporando na paisagem elementos que possam ser apreciados por esses grupos, é o caso de esculturas, brinquedos alternativos etc.; ◦ a tipologia de uso deve estar bem definida com base na localização da área (comercial, residencial, industrial etc.) e, também, o mobiliário que será instalado (playgrounds, quadras esportivas, bancos etc.), para que o espaço seja bem dimensionado e adequado às necessidades dos usuários; ◦ aspectos naturais já existentes como água, vegetação, topografia e paisagens devem ser aproveitados; ◦ o estrato arbóreo deve ser valorizado para destacar o verde urbano e trazer conforto climático, a escolha de espécies deve priorizar plantas nativas da região; ◦ estimular a escolha de plantas que façam parte do ecossistema primitivo local, de modo a preservar e recuperar sempre que possível matas nativas; ◦ o componente vegetal tem potencial arquitetônico que deve ser bem aproveitado em reação à forma, cor, textura e ao porte das espécies, de modo que seu uso pode valorizar a paisagem urbana. • Paisagismo em espaços livres unifamiliares Diferente do que ocorre na tipologia comercial, a expectativa é de um projeto que permaneça sem muitas alterações no decorrer dos anos e a privacidade tem muita relevância, somado a isso têm-se as necessidades funcionais dos moradores. A vegetação terá seu porte definido em relação ao tamanho da área em que o jardim será implantado. Entre as considerações para o projeto temos: ◦ é possível propor transparência desde que se mantenha a privacidade dos espaços interiores; ◦ a disposição das plantas deve ser tal que se mantenham os aspectos de funcionalidade do espaço (que é uma moradia) e o conforto ambiental (proteção da privacidade, insolação, ventos etc.); ◦ arranjar e distinguir os diversos espaços entre os que devem ser mantidos privados, destinados aos encontros sociais, utilizados como áreas de serviço etc.; ◦ proporcionar com a vegetação a sensação de amplitude visual e de continuidade da paisagem; ◦ tornar o jardim um ambiente agradável onde se queira permanecer por um tempo, contemplando a paisagem. 128 3 ELABORAÇÃO DE PROJETOS Um jardim deve ser elaborado e pensado para seus frequentadores, sendo, portanto, importante conhecer os usuários para que as diferentes necessidades possam ser atendidas e o espaço seja adequado a todos, crianças, idosos ou pessoas com necessidades especiais. E para que o jardim tenha significado, é preciso conhecer as preferências da comunidade em relação às espécies vegetais, o estilo paisagístico que adequa a região ou os aspectos estéticos que são esperados. O planejamento tem, então, o objetivo de proporcionar o melhor uso dessa área limitada, de forma que possa entregar para a população um local que conserve sua produtividade e beleza e que esteja em atenção aos aspectos ambientais. O planejamento pode ser dividido em duas fases: a arte de criar, que corresponde a concepção de uma ideia e; a arte de organizar, quando se envolve conhecimentos técnicos e científicos para que o projeto possa ser desenvolvido. Para que a ideia sobre de como será o jardim possa ser concebida, o primeiro passo é o estudo do local onde se pretende implantar esse jardim, é preciso observar aspectos relacionados ao tamanho da área, topografia, tipo de solo, drenagem, vegetação, insolação, ocorrências climáticas (ventos, geadas, chuvas), presença de fiação elétrica e tubulações, entre outros. Conhecendo o local é preciso, também, conhecer as aspirações e necessidades do cliente ou usuários, de forma que se possa conciliar com as possibilidades e limitações da área e definir a vocação do local. Para tanto, são realizadas entrevistas ou reuniões, também podem ser usados questionários, para que os clientes ou os usuários possam estar envolvidos no processo. Dessa forma, é possível definir as diretrizes de projeto, que correspondem às intenções de projeto e o foco são os usuários. As diretrizes podem estar relacionadasa como os usuários irão se sentir no local, outras se referem ao acesso e orientação, poderão ser eixos visuais e de circulações etc. O planejamento também pode ser feito com base em um conceito de projeto, que serve para auxiliar na pesquisa e escolha dos elementos que serão utilizados na composição. Esse conceito pode ter inspiração na natureza, na arquitetura ou pode ser uma analogia a algo que se deseje representar como um zoológico, música, sentimentos humanos etc. Outra parte do planejamento é a concepção de um programa para o projeto de paisagismo, no qual se realiza a listagem de espaços e equipamentos que serão implantados no espaço e a lista de atividades a serem desenvolvidas, de modo a determinar o dimensionamento dos espaços. 129 Definido o programa, deve-se realizar o zoneamento espacial, que consiste em localizar na área os elementos que serão implantados, formando combinações até que se atinja a composição mais condizente com o conceito definido e que corresponda às necessidades dos usuários. 4 ANTEPROJETO No anteprojeto temos a primeira definição do projeto e uma visualização da proposta. Todos os dados do levantamento estão nas mãos do projetista, de forma que ele é capaz de esboçar um desenho do futuro jardim. No anteprojeto são apresentados os recursos necessários para que área possa atender de forma conceitual e física as demandas dos clientes ou usuários, com distribuição dos espaços em relação a suas funções e das áreas onde haverá intervenção quanto aos elementos naturais e arquitetônicos, adequação da escala em desenhos e cortes esquemáticos. Segundo Niemeyer (2019, p. 61): O anteprojeto deve ser apresentado em nível suficiente de informações para permitir o início do seu detalhamento. Vem acompanhado de memoriais básicos que constam de fluxogramas e outros diagramas, perspectivas melhor definidas, maquete física e/ ou eletrônica, plantas baixas, vistas, seções, pré-dimensionamentos de revestimentos e equipamentos. Indica, ainda, a topografia final e especificações básicas do componente vegetal, sistemas de irrigação, drenagem e luminotécnica. Nele encontramos a definição dos volumes vegetais, do mobiliário e dos pavimentos. Desse modo, é preciso transportar para o papel a ideia na forma de desenho e montar as combinações dos elementos, que deverão ser definidos e como serão distribuídos no espaço. Se faz, então, o estudo da forma com base na distribuição proporcional dos elementos e, assim, se tenha um espaço harmonioso. O ideal é que se faça uma planta baixa do local, considerando as construções já existentes, e a forma como a vegetação existente está distribuída. A partir disso, são realizados os rearranjos, adicionados outros elementos arquitetônicos e, assim, poder criar uma ligação entre esses elementos. Com base nessas ligações, são definidos os caminhos e como a vegetação será envolvida. Os desenhos são importantes para se ordenar, progredir e explanar como funcionará o projeto paisagístico. Esses desenhos técnicos podem ser apresentados na forma de planos, cortes, projeções, perspectivas e elevações para evidenciar os detalhes construtivos e as ligações estabelecidas entre os elementos edificáveis. 130 5 PROJETO EXECUTIVO Com o anteprojeto aprovado, pode-se partir para o projeto executivo que corresponde a uma sequência lógica de informações, que incorpora em desenhos toda a simbologia gráfica e os requisitos necessários para o entendimento e a construção do projeto proposto. Nessa fase são apresentados em escala os desenhos detalhados por plantas, cortes, elevações, perspectivas e croquis coloridos, memoriais e orçamentos. Para Fritsch e Souza (2019, p. 175): A etapa do projeto executivo compreende um detalhamento muito mais minucioso do que a do anteprojeto. Nesta etapa, devem ser desenvolvidos os projetos referentes às plantas gerais de implantação, aos cortes (longitudinais e transversais), às elevações (fachadas), às plantas e aos cortes de terraplanagem e aos projetos referentes aos detalhamentos (tanto do paisagismo como dos elementos construtivos). O projeto executivo é composto por cinco partes. TABELA 10 – ETAPAS DE UM PROJETO EXECUTIVO Etapas Objetivos Características Profissionais Envol- vidos Pré - execução ou estrutural Desenvolver de forma mais elaborada o anteprojeto ou esboço realizado, incluindo dados reais relativos aos itens constantes na ideia original, tais como detalhes de muros, escadas, pérgulas, volumes vegetais, disposição de pisos, diâmetros de árvores, arbustos e palmeiras, áreas de forrações, espelhos de água, dentre outros. O projeto arquitetônico deverá estar marcado com informações como janelas, portas e outros elementos pertencentes ao projeto arquitetônico. O produto final se refere às plantas de vários tipos que podem ser distribuídas dentre a própria equipe ou para outros profissionais com informações capazes de alimentar os projetos complementares. Paisagista, cliente, arquiteto, gerenciador do projeto, profissionais complementares e consultores. 131 Projeto básico ou projeto executivo Suprir informações de projeto, uma eventual licitação pública ou privada antes do término do projeto executivo para efeitos de diminuição de prazos de execução. O produto final é um conjunto de plantas que definem a obra e possibilitam a contratação de profissionais para implantar o jardim através de edificação de estruturas projetadas, projeto de plantio de mudas de grande, médio, pequeno porte e forrações, decks, piscinas e outros itens passíveis de comporem um projeto paisagístico. Paisagista, cliente, arquiteto e gerenciador do projeto. Compatibilização e coordenação Verificar as interfaces entre os projetos e analisar as alternativas e diretrizes destes. O produto final é um relatório com observações, listagens de atividades, desenhos comentados, correções e ajustes necessários. Paisagista, cliente, arquiteto, gerenciador do projeto, profissionais complementares e consultores. Projeto botânico Mostrar todas as espécies vegetais componentes do projeto e suas respectivas informações. O produto final é um relatório ou tabela onde constam das informações componentes, como nome científico e nome popular das espécies utilizadas, altura de chegada das plantas na obra, espaçamento, cor das flores, porte, diâmetro da muda, tipo de envasamento, observações especiais, tipo de muda, dentre outras informações. Paisagista, cliente, gerenciador do projeto e profissionais complementares. Projeto de iluminação paisagística Listar todos os equipamentos necessários para a iluminação paisagística e seus respectivos modelos e locais para instalação. O produto final é um projeto onde constam todos os modelos de equipamentos de iluminação paisagística, suas informações técnicas e respectivas localizações em planta. Paisagista, cliente, arquiteto, gerenciador do projeto, profissionais complementares e consultores. FONTE: Adaptado de Galhego (2017b) 132 Definidos os elementos que serão adquiridos e construídos, é necessário que se faça um orçamento com todos os custos de material, mão de obra, objetos, serviços. Também deve-se adicionar um cronograma para todas as etapas de implantação. DICA Para saber mais sobre elaboração de projetos leia o artigo “Elaboração de projetos paisagísticos”, disponível no seguinte endereço: http://twixar.me/bLMm. 133 LEITURA COMPLEMENTAR ROTEIRO PARA PROJETO PAISAGÍSTICO DE ESPAÇOS PÚBLICOS ABERTOS Miua Cíntia Maruyama Juliana Rammé Após compreender as principais características e ideias do paisagismo contempo- râneo, é importante realizarestudos de caso a fim de promover a troca e atualização de informações, bem como de ampliar o repertório paisagístico. O objeto de estudo volta-se para um espaço aberto, preferencialmente público, a fim de facilitar a coleta de dados. A praça é o objeto que melhor se encaixa neste contexto, pois além de se tratar de um espaço aberto ela também é um equipamento comunitário, e por isso, deve existir em todos os bairros, facilitando a aplicação em outros semestres em espaços diferentes. Após definir o objeto de estudo, no caso a praça, define-se o terreno de intervenção dentro da área urbana do município, a fim de desenvolver o levantamento e da área e o projeto paisagístico. O levantamento é desenvolvido em forma de textos, mapas, esquemas gráficos e croquis, buscando entender a área em todos os seus aspectos. Para isso, os acadêmicos seguem alguns itens básicos: a) apresentação, localização e situação da área de estudo: a fim de nortear os demais levantamentos e compreender se esta inserção no traçado urbano apresenta alguma característica específica; b) dimensões principais: para entender a escala de intervenção; c) acessos da área de estudo: para compreender a relação da população do entorno com a praça, elencando-os por prioridade de uso; d) sítio e o contexto (clima, terra, água, topografia e vegetação), a fim de compreender questões importantes que serão norteadoras do projeto, como a inclinação do terreno, qual sua insolação, ventos dominantes, características do clima no inverno e verão etc. e) memorial botânico: busca-se conhecer cada espécie através de suas características individuais como floração, raízes, porte, densidade da copa, frutificação, resistência a intempéries e sua função principal, como, por exemplo, de barreira, de sombra, de odor agradável etc. estas espécies são localizadas em um mapa individual, com legenda apropriada. f) relação com o entorno: busca compreender qual é a relação do objeto de estudo com os elementos do entorno, como a rua, os edifícios vizinhos seus gabaritos e usos, as características da população e como estes elementos interferem no uso da praça. 134 g) relações morfológicas: para identificar as relações entre os espaços de domínios público, semipúblico e privado, as relações entre distâncias percorridas e acessibilidade, as relações entre cheios e vazios, as relações temporais de configuração do espaço, a sistematização de elementos tipológicos e a apropriação dos espaços e as atividades oferecidas. h) mobiliário urbano existente: busca identificar a adequação da tipologia do mobiliário para seu uso, sua ergonomia, sua disposição de modo acessível e sua relação com os aspectos estéticos e formais do espaço; i) tráfegos/fluxos: busca-se perceber quais são as rotas utilizadas, quais são seus usuários e qual e mapear sua intensidade de fluxo. Estas análises são muito importantes, pois é nesse momento que é possível considerar as rotas alternativas e os espaços com maior apropriação do usuário. É imprescindível também identificar se estes caminhos ou rotas apresentam acessibilidade; j) iluminação: busca identificar sua tipologia, a quantidade e disposição no espaço, bem como busca compreender se ela atende à demanda do espaço e se sua carência ou excesso pode ocasionar atividades indevidas; k) materiais e revestimentos: identificar o tipo de pavimentação e forração do espaço, compreendendo se é adequado e compatível com seu uso. l) análise crítica da área: busca estimular o acadêmico a identificar e compreender o espaço através de uma análise crítica, onde sua percepção do espaço e seu conhecimento técnico devem ser avaliados. Neste momento é possível ter um panorama geral do espaço, buscando subsidiar as tomadas de decisão sobre o projeto a ser desenvolvido. • Estudo Preliminar O estudo preliminar é o elemento a ser incorporado ao projeto quando a escala e ou a complexidade do programa assim o exigir, deve apresentar a concepção e as diretrizes a serem adotadas, indicando eventualmente as alternativas de partidos e sua viabilidade física e econômica. Os critérios a serem observados neste momento são: a) Conceito do projeto paisagístico: busca atender as condições levantadas previamente, de modo a se aproximar a realidade do local, levando em considerações as questões ambientais, sociais, econômicas e culturais. b) Diretrizes e ações: visa elencar as principais intenções de projeto e como elas vão ser elaboradas. c) Programa de necessidades: elaborado a partir do conceito e das diretrizes elencadas na fase do levantamento contextual. d) Setorização temática dos espaços, segundo as intenções de projeto: representada em planta baixa, busca determinar quais atividades serão desenvolvidas e em quais espaços. É importante frisar que o conceito deve estar diretamente conectado com todas as etapas do projeto. Ele deve ser o norteador das tomadas de decisão. O conceito deve utilizar algum elemento, seja ele abstrato ou não, que resgate as principais características da área de intervenção e que represente as principais intenções do projeto a ser desenvolvido. 135 O conceito deve ser escrito em forma de texto e deve utilizar esquemas gráficos que auxiliem no seu entendimento. As diretrizes estimulam o foco do trabalho e são divididas em quatro ou cinco, contemplando todas as ações de projeto. Estas ações vão desde a criação de espaços, como por exemplo, um playground, até a definição de que todos os espaços devem ser acessíveis. O programa de necessidades deve ser desenvolvido em forma de tabela, facilitando, assim, a relação com as atividades oferecidas no espaço e seu pré- dimensionamento. O pré-dimensionamento é imprescindível para o sucesso do projeto, uma vez que ele deve corresponder ao tamanho da área disponível para a intervenção. Por fim, a setorização temática fecha esta primeira fase do projeto e deve mostrar claramente a conexão entre o conceito, as diretrizes e o programa de necessidades. Todos estes itens devem estar bem estruturados para poder seguir para a próxima fase: o anteprojeto. • Anteprojeto O Anteprojeto deve ser apresentado através de peças gráficas, plantas, cortes, elevações, ilustrações, de forma a permitir o total entendimento do projeto. O partido adotado deve ser explicitado, assim como a distribuição espacial das atividades e a indicação do tratamento paisagístico e linguagem de desenho a ser imprimido a cada espaço. Deve haver a definição básica dos materiais a serem adotados, modelagem preliminar do terreno, tipologia da vegetação e indicação de elementos especiais tais como: estruturas, peças de água, obras de arte etc. Essa fase deve conter informações que possibilitem estimativa de custo da implantação do projeto. Os critérios definidos nessa etapa do projeto paisagístico são classificados a partir das três qualidades de paisagem: ambiental, funcional e estética. • Qualidade ambiental Os valores ambientais causam melhoria na ventilação e areação urbana, na insolação de áreas muito adensadas, na drenagem das águas pluviais com superfícies permeáveis, ajuda no controle da temperatura, auxilia na proteção do solo contra erosão, proteção e valorização dos mananciais de abastecimento, dos cursos d’água, lagos, represas contra contaminação e poluição. Os elementos desta qualidade são: a) escolha da vegetação (memorial botânico); b) definição de corte e aterro; c) sustentabilidade: apresentar soluções que minimizem os impactos da intervenção feita pelo homem; d) acessibilidade: projeção de rampa, piso antiderrapante, guarda corpo etc.; 136 e) acessos: entrar em um lugar é condição inicial para poder usá-lo. São definidos três tipos de acesso: o físico, que se refereà ausência de barreiras espaciais ou arquitetônicas, o acesso visual, que informa ao usuário sobre o local, e o acesso simbólico ou social, que se refere à presença de sinais, sutil ou ostensivos, que sugere quem é ou não bem-vindo ao lugar. Todos esses elementos são os principais norteadores do projeto, uma vez que as definições de corte e aterro e das massas vegetativas podem alterar a posição dos demais elementos. A vegetação deve ser pensada, principalmente, junto com os caminhos e edificações, buscando aproveitar ao máximo todas suas funções, ou seja, apesar do destaque para a qualidade ambiental, ela não pode ser pensada separadamente das outras qualidades: funcional e estética. • Qualidade funcional A qualidade funcional avalia o grau de eficiência do lugar no tocante ao funcionamento da sociedade. Os valores funcionais são uma das mais importantes opções de lazer urbano. Os elementos desta qualidade são: a) definição do traçado: a partir da elaboração de planta baixa com determinação dos caminhos e áreas de circulação, demonstração da situação anterior x proposta, forma, dimensões, hierarquia de caminhos (principais, secundários, intermediários etc.), materiais usados para pavimentação; b) definição dos elementos construídos: edificações, fontes, ou outros elementos que fazem parte da composição do projeto paisagístico, buscando unidade visual; c) escolha do mobiliário: deve estar em harmonia com o conceito e a identidade visual da proposta, seguir os padrões de ergonomia, e levar em consideração o material em relação ao seu uso; d) escolha da iluminação: deve ser representada por uma planta noturna, considerando os raios de abrangência de cada lâmpada e os materiais utilizados; e) atribuição de elementos do desenho universal: deve considerar a diversidade humana, suas diferentes capacidades e habilidades, utilizando elementos arquitetônicos que proporcionem estímulos nos diversos canais perceptivos; f) manutenção dos mobiliários e estruturas: deve ser considerada em todas as etapas do projeto, desde o plantio da vegetação até a escolha dos materiais. • Qualidade estética Os espaços livres são simbolicamente importantes, pois se tornam objetos referenciais e cênicos na paisagem da cidade, exercendo importante papel na identidade do bairro ou da rua. Os elementos desta qualidade são: 137 a) definição dos materiais: deve partir do conceito e da identidade visual do projeto; b) identidade visual: considerando o conceito. Questionar-se: qual a imagem que se quer transmitir? Essa imagem será criada pela unidade do conjunto através da composição dos elementos e da linguagem visual; c) elementos de composição: predominância de linhas, formas e sua distribuição num plano, proporção, harmonia, unidade, equilíbrio, dominância, sequência e ritmo, mo- vimento, recursos visuais e cores; d) representação gráfica: elaborar mapas e plantas bem como perspectivas, mostrando a área geral e, também, as decisões projetuais ao nível do observador, com texto explicativo; e) a qualidade estética deve ser considerada deste o início do projeto. As definições dos materiais, muitas vezes, limitam seu uso, condições econômicas devem ser consideradas. Após a correção do anteprojeto é dado o encaminhamento para a elaboração do projeto executivo, que compreende o detalhamento completo de todas as tomadas de decisão. • Projeto Executivo e Projeto de Plantio O projeto executivo é apresentado por meio de desenhos e números, nas escalas convenientes e adequadas para a total compreensão do projeto e sua implantação. É composto, no mínimo, por plantas (com indicação do modelado no terreno, cotas de nível, especificação dos materiais e distribuição dos equipamentos, soluções de drenagem, pontos de água e luz), cortes e detalhes construtivos. O Projeto executivo deve ser acompanhado de memorial descritivo e quantitativo e orçamento detalhado. O projeto de plantio deve apresentar a locação das plantas e especificação qua- litativa e quantitativa das espécies vegetais. É necessário também anexar tabelas com a denominação botânica, quantidades e outras informações que permitam a elaboração de orçamentos dos serviços de plantio e a implantação do projeto. Outros itens a constar são: memorial de preparo do terreno, técnicas de plantio e de qualidade das mudas. Na elaboração de projeto de plantio devem ser levados em consideração os cuidados de manutenção e crescimento. Adotar projetos que usam topiarias de formas geométricas em arbustos requer atenção constante de podas. Por outro lado, plantas têm diferentes velocidades de crescimento, se o objetivo for proporcionar sombreamento, o ideal é mesclar espécies de crescimento rápido e lento. As que crescem rapidamente logo proporcionam sombra, mas têm ciclo de vida curto. Já as que se desenvolvem lentamente têm vida útil mais longa. FONTE: <http://twixar.me/JLMm> Acesso em: 2 jul. 2022. 138 Neste tópico, você aprendeu: • Os espaços onde o paisagismo atua são diferentes em função do público e, por isso, é preciso ter atenção na hora de elaborar o projeto. • Vimos que, em um planejamento, deve-se ter como prioridade aproveitar bem o espaço para as necessidades dos usuários sejam atendidas da melhor forma. • No anteprojeto são definidos todos os principais pontos do projeto, desde o conceito até os elementos que deverão ser adquiridos, e isso é apresentado ao cliente para que possa aprovar, caso esteja de acordo com suas perspectivas. • O projeto executivo corresponde ao projeto final, aprovado, com todos os documentos, orçamento e cronograma, pronto para ser implantado. RESUMO DO TÓPICO 3 139 1 Um projeto paisagístico pode ser pensado para diferentes ambientes que possuem exigências próprias quanto a forma como deverá ser planejado. Sobre isso, analise as afirmativas e assinale a alternativa verdadeira: a) ( ) O paisagismo em ambiente comercial tem como foco a privacidade. b) ( ) No paisagismo no ambiente familiar é possível utilizar muita transparência. c) ( ) Espaços multifamiliares são espaços em áreas privativas como clubes e condo- mínios, utilizados por diversas pessoas. d) ( ) O projeto de paisagismo para espaços públicos deve aproveitar o mínimo possível da área. e) ( ) O paisagismo em espaço unifamiliar deve ser modificado todos os anos. 2 O anteprojeto é considerado uma importante fase porque é nele que são discutidas as ideias entre o paisagista e o cliente. Sobre o anteprojeto analise as sentenças: I- O anteprojeto é o primeiro esboço de como ficará um futuro jardim. II- A distribuição de espaços não ocorre no anteprojeto. III- O anteprojeto não precisa de muito detalhamento, apenas informações simples. a) ( ) Somente a I está correta. b) ( ) Somente a II está correta. c) ( ) Somente a III está correta. d) ( ) I e II estão corretas. e) ( ) II e III estão corretas. 3 O projeto executivo é a fase na qual se tem uma melhor visão do futuro jardim, de forma que todas as ferramentas que proporcionem a visualização do que se pretende implantar devem ser utilizadas. Classifique em V para verdadeiro e F para falso: ( ) Na etapa estrutural do projeto executivo, o anteprojeto deve ser mais detalhado para constar informações mais reais sobre os elementos. ( ) O projeto básico é uma etapa de mera formalidade, podendo ser dispensada. ( ) O produto final da compatibilização é um relatório com observações e listagens de atividades. ( ) A função do projeto botânico é detalhar todos os componentes vegetais que serão utilizados. ( ) O projeto de iluminação é desnecessário, a iluminação pode ser detalhada junto com o projeto botânico. AUTOATIVIDADE 140 Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) V – F – V – V – F. b) ( )F – F – F – V – V. c) ( ) V – V – F – F – V. d) ( ) F – V – F – F – V. e) ( ) V – F – F – V – F. 4 A elaboração de um projeto de paisagismo exige o conhecimento do local onde será implantado, caso seja aprovado. Cite os passos necessários para o levantamento da área. 5 A elaboração de um projeto paisagístico passa por algumas etapas antes de poder ser implantado. Descreva as fases para elaboração de um projeto paisagístico. 141 BELLÉ, S. Apostila de paisagismo. Bento Gonçalves, IFRS, 2013. 40p. DORNELES, V. G. Apostila de projeto de paisagismo. Curso de Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal de Santa Catarina. [s.d.] FRITSCH, N. N. e SOUZA, R. S. R. de. Projeto de paisagismo. In: FRITSCH, N. N. e SOUZA, R. S. R. de. Paisagismo. Londrina, Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2019. unid. 4, p. 143-189. GALHEGO, A. de A. Introdução ao paisagismo: espécies de plantas ornamentais. In: GALHEGO, A. de A. Paisagismo: floricultura, parques e jardins, Londrina, Editora e Distribuidora Educacional S.A., unid. 1, p. 7-48, 2017a. GALHEGO, A. de A. Paisagismo: floricultura, parques e jardins. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2017b. 193 p. LIRA FILHO, J. A. de. Comunicando através da paisagem. LIRA FILHO, J. A. de. Paisagismo: elementos de composição e estética. Viçosa: Aprenda fácil, 2002. v.2, cap. 2, p. 10-44. LIRA FILHO, J. A. de. Princípios de estética aplicados ao paisagismo. LIRA FILHO, J. A. de. Paisagismo: elementos de composição e estética. Viçosa: Aprenda fácil, [s. l.], v. 2, cap. 4, p. 108-134, 2002. NIEMEYER, C. A. da C. Paisagismo: métodos e técnicas de intervenção. In: NIEMEYER, C. A. da C. Paisagismo no planejamento arquitetônico. Uberlândia, EDUFU, 2019. 3. ed., cap. 4, p. 59-90. OLIVEIRA FILHO, P. C. et al. A importância das áreas verdes em uma cidade de pequeno porte: estudo de caso na cidade de Irati-PR. Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, Curitiba, v. 8, n. 1, p. 89-99, 2013. PETRY, C. Paisagens e paisagismo: do apreciar ao fazer e usufruir. Passo Fundo, Ed. Universidade de Passo Fundo, 2014. 125p. SALVIATÍ, E. J. Tipos vegetais aplicados ao paisagismo. Paisagem e Ambiente, [s. l.], n. 5, p. 9-45, 1993. REFERÊNCIAS 142 143 VEGETAÇÃO NA PAISAGEM UNIDADE 3 — OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender os fundamentos gerais para projetar, executar e manejar parques e jardins; • reconhecer a importância da utilização de árvores na paisagem; • conhecer as características das espécies para arborização urbana; • identificar a legislação aplicada à arborização urbana. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – PARQUES E JARDINS: ASPECTOS GERAIS TÓPICO 2 – ARBORIZAÇÃO URBANA TÓPICO 3 – LEGISLAÇÃO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 144 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 3! Acesse o QR Code abaixo: 145 TÓPICO 1 — PARQUES E JARDINS: ASPECTOS GERAIS UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Parques e jardins constituem a maior parte das áreas verdes em áreas urbanas, junto com a arborização viária, por isso, mesmo com um projeto bem-feito, é importante que outras ações sejam tomadas a partir da aprovação. O primeiro passo para que uma área como essa seja implantada é o planejamento, de modo que as ações a serem tomadas sejam baseadas na situação encontrada em cada espaço. Após a implantação, os cuidados devem prosseguir com a manutenção das áreas e das plantas, para que elas possam se desenvolver de maneira adequada, e que possam ser evitados problemas que causem danos à área urbana. 2 PLANEJAMENTO As áreas verdes devem fazer parte do planejamento urbano, de forma que sejam avaliados fatores de população quanto ao seu crescimento e se determine onde estão essas áreas verdes, quantas existem e qual o tamanho delas. Junto a isso, é preciso verificar em que condições de manutenção se encontram, se a população tem acesso e se utilizam, e o que mais for necessário para que esses ambientes proporcionem bem-estar aos usuários e qualidade ambiental à região que ocupam. Quando as áreas verdes não estão presentes no planejamento urbano, o resultado é uma degeneração socioambiental, porque afeta, junto como outros problemas sociais, a qualidade de vida dos habitantes que passam a não contar com um espaço para sua recreação e lazer. Além disso, as áreas tomadas por construções favorecem o aumento dos índices de desconforto ambiental. É preciso considerar que não se pode fazer um planejamento único em todo o território nacional, ou tentar transportar o planejamento de uma cidade para outra, devemos avaliar as condições de clima e solo que diferem entre as cidades, inclusive aquelas que são vizinhas, e observar o crescimento urbano em relação às preferências da população. 146 O Plano Diretor é o documento utilizado pela gestão municipal para o planejamento urbano e, com ele, determinar como cada área deve ser mais bem utilizada para o melhor funcionamento da cidade. Para isso, é preciso conhecer bem a cidade para trazer informações que ajudem nas decisões e, também, dispor de equipe técnica especializada que possa indicar os melhores caminhos para o desenvolvimento urbano, considerando a preservação do meio ambiente. Portanto, a arborização urbana deve ser planejada pela gestão pública da mesma forma que ocorre com qualquer outra área quando é ocupada, e deve, inclusive, fazer parte da previsão orçamentária. Dessa forma, é preciso que haja uma equipe capacitada e comprometida em planejar a melhor forma de tornar a cidade mais verde, mas que considere, nesse planejamento, as práticas devidas a sua eficiente condução. O planejamento da arborização pode ser dividido em dois tipos principais: as áreas verdes e a arborização viária. Para a concepção das áreas verdes (parques, jardins e praças), o seu planejamento corresponde à elaboração de projetos paisagísticos, de implantação e manejo, que muitas vezes é preparado designadamente para uma determinada unidade, não podendo, ou devendo ser replicado devido às condições específicas de cada local. Por serem, muitas vezes, locais amplos com pouca presença de construções e serviços essenciais, há maior liberdade na escolha das espécies para a composição, proporcionando a elaboração de diversas ideias de composições paisagísticas. Já a arborização viária corresponde ao plantio de árvores em calçadas pelas ruas da cidade e, também, nos canteiros que separam as pistas em avenidas. No entanto, devido à presença de estrutura de serviços essenciais, ocorrem restrições que devem ser observadas no planejamento pelo diagnóstico local através da realização de um levantamento de tudo o que existe na área, que deva ser considerado, antes de prosseguir para a escolha da espécie que poderá ser utilizada. Para que o planejamento seja bem realizado, é preciso considerar alguns aspectos importantes da localidade ligados a fatores culturais e históricos, além de observar as necessidades e anseios da comunidade a qual se destina a arborização, de forma que haja a participação da população, condição essa, importante para o sucesso do projeto. Sabemos que a arborização urbana gera diversos benefícios ambientais, consequentemente, melhora a qualidade de vida na cidade, por isso um planejamento eficiente é tão importante e necessário para obter sucesso na implantação. É preciso, então, que a escolha do local e das espécies arbóreas seja realizada adequadamente, para que, assim, as árvores consigam se desenvolver de forma a minimizar os problemas que envolvam riscos de acidentes por quebras de ramos, prejuízos à acessibilidade por plantio em locais inadequados, danos à infraestrutura porpresença de raízes superficiais, demasiada necessidade de podas, entre outras situações a serem evitadas. 147 O planejamento adequado da arborização urbana faz com que haja enriquecimento da paisagem urbana, e deve ser pautado por definir objetivos e metas, qualitativas e quantitativas, que irão contribuir para que os processos de implantação e manutenção sejam realizados de maneira mais eficiente. De forma que, ao realizar o planejamento, a escolha da espécie é um fator que ganha importância, porque com base nessa seleção é possível definir aspectos que envolvem a compatibilização entre o porte e a forma da árvore com o espaço físico disponível. E sobre esse espaço, é necessário considerar questões que impactam o cotidiano urbano quando mal planejadas, como a distância entre a árvore e o prédio e qual a largura das ruas e calçadas disponível, para que a implantação de uma árvore não crie um obstáculo e atrapalhe o tráfego local. Para que o planejamento da arborização em ruas e avenidas seja feito de maneira assertiva e não cause problemas, precisamos considerar alguns aspectos dessas áreas: • Condições ambientais – cada espécie possui exigências próprias quanto às condições edafoclimáticas, que quando não atendidas, interferem nas suas atividades fisiológicas provocando alterações em seu desenvolvimento e ciclo. Além disso, as condições em áreas de tráfego de veículos podem ser inóspitas para algumas espécies que não toleram certos níveis de poluição, de forma que é importante uma análise do local de implantação para uma escolha adequada da espécie que será utilizada. • Características das espécies – conhecer a espécie escolhida também é fundamental para obter bons resultados, principalmente em relação ao comportamento da planta em uma área que apresenta limitações para seu crescimento, de forma a minimizar a ocorrência de inconvenientes que podem ser acarretados por espécies não adaptadas. Um ponto importante a ser analisado, se refere à formação da copa (Figura 1) das espécies que serão utilizadas para a arborização viária, uma vez que copas com ramos muito baixos podem atrapalhar o tráfego de pessoas, enquanto espécies com ramos muito longos podem invadir as pistas de trânsito e tirar a visibilidade do motorista quanto aos sinais de trânsito, o que pode resultar em acidentes. FIGURA 1 – FORMAÇÕES DE COPAS Fonte: a autora 148 • Largura de calçadas e ruas – em ruas que tenham menos de 7m de largura (con- sideradas estreitas) a recomendação é não arborizar, e mesmo nas ruas consideradas largas é necessário observar a espessura das calçadas e se as casas possuem recuo, algo que vai ajudar a definir o porte da árvore que será plantada. TABELA 1 – INDICAÇÃO DO PORTE DAS ÁRVORES BASEADO NA LARGURA DAS RUAS E CALÇADAS Largura da rua Largura da calçada Recuo das edificações (4m) Porte de árvore recomendado Rua estreita (< 7m) <3m sem recuo com recuo - pequeno Rua larga (> 7m) <3m sem recuo com recuo pequeno médio > 3m sem recuo com recuo médio grande Fonte: Miranda (1970 apud PIVETTA; SILVA FILHO, 2002 p. 7) Além da largura, o plantio de árvores em calçadas deve considerar que este é um local por onde os pedestres trafegam, de forma que deve haver trânsito livre, sendo importante, também, que a árvore possa ter um desenvolvimento adequado, assim, a espécie escolhida não deve atrapalhar o caminho, mas deve ter espaço suficiente para seu crescimento. Com relação a isso, espécies com raízes pivotantes são preferidas para o plantio em calçadas que, por seu enraizamento penetram profundamente no solo, incorre em menor risco de danos aos muros, calçadas, construções em geral, e ao sistema viário. Os canteiros centrais são construções utilizadas para separar duas pistas de rolamento. No caso dessas áreas, a escolha do porte da árvore vai ser influenciada pela largura que o canteiro apresenta, caso esse valor seja menor que 1,50m, palmeiras ou arbustos se adequam melhor, enquanto espécies de médio a grande porte podem ser utilizadas naqueles mais largos. De toda forma, a escolha também deve ser pautada pelo cuidado com a condução no crescimento da planta para evitar que esta invada a área de deslocamento dos veículos e possa causar acidentes. • Fiação aérea e subterrânea – a fiação pode ser muito impactada pela presença de árvores, seja pelo crescimento dos ramos ou pelo crescimento das raízes e, portanto, é outro ponto a ser observado no planejamento. Em geral, a rede de distribuição da energia elétrica está dividida em rede elétrica primária, com tensões trifásicas de 13,8 a 34,5 kV entre as fases, e a rede elétrica secundária com tensões de 127V por fase e 220V entre as fases, e a fiação utilizada por provedores de internet e TV a cabo. 149 Para que haja uma boa convivência entre a rede de energia elétrica e as árvores, é recomendado que na implantação da fiação aérea, os postes fiquem, preferencialmente, nas calçadas do lado oeste e norte, e as árvores, sob essa fiação, sejam de pequeno porte, enquanto nas calçadas leste e sul podem ser utilizadas árvores de porte médio. Em locais onde há fiação subterrânea e, também, para proteger as redes de água e esgoto, a arborização deve ser implantada a uma distância de 1 a 2m do local onde a tubulação se encontra, de acordo com o crescimento das raízes da espécie escolhida, para que sejam evitados problemas com obstrução das canalizações. FIGURA 2 – PLANTIO INADEQUADO DE ÁRVORES CUJAS RAÍZES ESTÃO INTERFERINDO NAS CANALIZAÇÕES SUBTERRÂNEAS Fonte: Guia (1988 apud PIVETTA; SILVA FILHO, 2002, p. 9) • Diversificação das espécies – é uma forma de evitar monotonia na paisagem, pois diferencia as áreas, que se tornam pontos de interesse, criando maior dinamismo no visual da cidade, além disso, reduz o risco de propagação de pragas e doenças em razão do plantio de uma única espécie. 3 IMPLANTAÇÃO Na fase de implantação, considera-se que a escolha das espécies foi realizada de acordo com as condições ambientais do local e que as restrições foram observadas para que não haja maiores problemas. Portanto, nessa etapa, analisaremos como o terreno se encontra para o plantio e quais os cuidados necessários para que as espécies vegetais se adaptem ao local definitivo para o seu desenvolvimento. O uso de técnicas corretas aliado à escolha de um local que seja conveniente para todos os usuários e a utilização da espécie que melhor se adequa à situação, proporciona maiores benefícios dentro da malha urbana. 150 O primeiro passo, então, é o preparo do local que irá receber a muda, de modo que algumas atividades serão necessárias para que a planta, ao ser transplantada, tenha total capacidade de se desenvolver. Desse modo, devemos atender a certas condições: • Solo O solo é a base para que a árvore se fixe e o meio para que possa crescer e expressar seu potencial, de forma que é do solo que as plantas retiram a maior parte dos nutrientes essenciais para o seu desenvolvimento através das raízes, que se distribuem e servem de apoio para que a planta se mantenha ereta. O solo deve apresentar uma boa porcentagem de poros (micro e macroporos) suficiente para que o ar e a água penetrem, de forma que haja boa aeração e boa umidade, fatores que variam de acordo com o tipo de solo e com o nível de intervenção humana na área. TABELA 2 – CARACTERÍSTICAS DOS SOLOS Principais características dos solos Variável Definição Características Textura Proporção de areia, silte e argila em sua composição. Influencia na taxa de infiltração da água, no armazenamento da água, sua composição na aeração e na disponibilização de determinados nutrientes (fertilidade do solo). Estrutura Referência ao tamanho, forma e aspecto dos agregados das partículas. Os agregados têm diversos graus de adesão, podendo ser mais friáveis (macios) ou mais brandos (duros). A resistência desses agregados é conhecida como consistência. Porosidade Sãoos espaços dentro do solo. Afeta a infiltração de água (permeabilidade), que, por sua vez, transporta material para dentro do solo, das partes mais superficiais para as mais profundas. Relaciona-se também com a ação de macro e microrganismos que vivem no solo. 151 Principais tipos de solo quanto à textura Tipo Aparência Características para o plantio Arenoso Maior parte de suas partículas classificadas na fração areia, de tamanho entre 0,05 e 2 mm. Tem boa aeração e capacidade de infiltração de água, mas menor capacidade de retenção. Siltoso Maior parte de suas partículas classificadas na fração silte, de tamanho entre 0,002 e 0,05 mm. É erodível, uma vez que o silte não se agrega como as argilas e, ao mesmo tempo, suas partículas são muito pequenas e leves. Argiloso Maior parte de suas partículas classificadas na fração argila, de tamanho menor que 0,002 mm. Não é tão arejado, mas possui maior capacidade de reter água. Principais problemas relacionados ao solo para arborização urbana Problema Significado Características Compactação Compressão do solo, promoven- do aumento de sua densidade e redução de sua porosidade, resultante da expulsão do ar dos poros do solo. Dificulta o desenvolvimento radicular e reduz a absorção de água e nutrientes pelas plantas; aumenta o escoamento superficial devido à menor taxa de infiltração de água no solo. Erosão Fenômeno resultante da desagregação, transporte e deposição ou sedimentação das partículas de solos. Ocorre quando o solo permanece desnudo e exposto à ação dos ventos e da água. Remove a porção mais fértil do solo, onde há melhores condições biológicas e físicas ao desenvolvimento radicular das plantas. Causa o assoreamento de cursos d’água, contribuindo para inundações. Poluição Significa a presença de níveis de algum elemento ou substância que pode afetar componentes bióticos do ecossistema. Compromete a funcionalidade e a sustentabilidade biológica. Baixa fertilidade Deficiência de nutrientes. Compromete o bom desenvolvimento da planta. FONTE: Cemig (2011, p. 48) 152 Solos em áreas urbanas diferenciam-se por uma série de modificações nas suas propriedades físicas que afetam o desenvolvimento das plantas e, com isso, dificultam o processo de arborização. Um exemplo disto são as edificações, onde ocorre o acúmulo de diversos resíduos, como entulhos de sobras de construção que, muitas vezes, são incorporados ao solo, além do uso de produtos que geram partículas contaminantes e se tornam tóxicas para as plantas. Além disso, o tráfego de máquinas pesadas causa a compactação do solo e diversas áreas que antes de receberem as construções ficam sem nenhuma cobertura e sujeitas a ação do sol, vento e chuva. Tudo isso se reflete em condições que são adversas para o cultivo de árvores, o que implica em plantas que terão dificuldade em seu crescimento e poderão ter seu tempo de vida reduzido, o que significa prejuízo à qualidade ambiental que se busca, além de onerar o orçamento com os custos de arborização devido à necessidade de substituição dessas árvores. Para evitar problemas como esses é que o planejamento da arborização deve ser realizado em conjunto com o planejamento urbano para as demais áreas, de modo que haja a previsão dos locais que receberão as plantas para que se mantenha essas áreas mais naturais, ou seja, com menos interferência na estrutura do solo, de modo a se evitar desequilíbrio hídrico e nutricional para as plantas. • Adubação e calagem Assim, como ocorre na agricultura, é preciso conhecer fatores relacionados à química do solo, como o nível de acidez e de fertilidade, para poder oferecer melhores condições nutricionais para as plantas. Portanto, é importante realizar a análise do solo para proceder com as correções que forem necessárias. Na análise do solo é possível obter informações quanto aos teores de N, P, K, Mg, Ca, S, Al e dos micronutrientes (B, Cu, Fe, Mn, Zn), nível de acidez do solo, quantidade de matéria orgânica e textura do solo, proporção de areia, silte e argila. Com base nos resultados da análise é feita a recomendação da calagem para que o pH possa ser corrigido, em geral essa correção será realizada na área toda e antes do plantio, obedecendo um período de pousio para que haja a reação do calcário no solo. Outro ponto a se determinar, com base na análise, é a necessidade de adubação e a quantidade de cada nutriente a ser adicionado ao solo antes do plantio e em cobertura, para garantir o pleno desenvolvimento da vegetação. A adubação deve ser ajustada às plantas presentes no projeto, de modo que em áreas verdes é preciso ter atenção com cada tipo de planta listada no projeto quanto a sua necessidade, algumas como arbustos de flores ou frutíferas possuem exigência maior quanto à precisão da adubação. 153 A forma como a adubação será aplicada também varia com o tipo de vegetal, no caso de pisos vegetais e forrações, a adubação pode ser distribuída na área total que será coberta pelas plantas, já no caso de árvores e palmeiras, a adubação é aplicada diretamente no berço, chamada de adubação ao pé da planta, mas lembrando de tomar cuidado em não colocar o adubo sobre as raízes da planta e causar danos como queima. Em plantas herbáceas também é possível aplicar adubos foliares de acordo com a situação. A aplicação de matéria orgânica é muito recomendada, ela atua no solo melhorando a capacidade de drenagem, o que reduz o risco de encharcamento, melhora a capacidade de adsorção dos nutrientes, o que faz com que os nutrientes estejam disponíveis para a absorção pelas raízes e fornece nutrientes às plantas devido a seus compostos. Os materiais utilizados para fornecer matéria orgânica ao solo são resultado da decomposição de resíduos que podem ser de origem vegetal e animal como restos de podas, restos de produção agrícola, ossos de animais, esterco de diferentes animais, húmus de minhoca, cinzas de madeira etc. A quantidade a ser aplicada depende do solo e da exigência das plantas. Espécies vegetais A aquisição das mudas começa pela escolha dos fornecedores, sendo fundamental a pesquisa para garantir a qualidade dos produtos a serem adquiridos, que perpassam por diversos insumos necessários para que o projeto seja implantado, sejam adubos, corretivos, substratos, e tudo mais que for necessário para a implantação. Além disso, é preciso ter uma lista de contatos de profissionais habilitados nas mais diversas áreas, uma vez que um projeto de paisagismo, como já vimos, é constituído por diversas áreas de conhecimento e exige, para tanto, uma equipe multidisciplinar. É necessário que façamos uma observação em relação ao que foi falado até aqui, neste tópico, porque no caso de implantação em áreas públicas, o processo de aquisição de material é realizado através de pregões ou licitação para contratar uma empresa fornecedora, no caso dos profissionais o contrato também pode ocorrer por licitação para contratar uma empresa de paisagismo ou por seleções para contratar cada profissional. A compra das mudas deve ser acompanhada por profissional (Engenheiro agrônomo e/ou Engenheiro florestal) que possua conhecimento e experiência, para que se faça a avaliação das plantas que serão adquiridas de forma que possam ser identificados os aspectos desejáveis e, principalmente, necessários como sanidade do material vegetal. Portanto, devem ser observados os locais onde as plantas devem ser armazenadas até o plantio, as características das plantas como altura, presença e cor das flores, estado físico e quantidade de folhas e perfilhos, condições físicas dos ramos, diâmetro do caule, presença de pragas, sinais de doença ou desequilíbrio nutricional, entre outros fatores que se julgue importantes de acordo com a espécie e o tipo vegetal. 154 Outro fator que deve ser observado se refere aos custos envolvidos, é esperado que se compare as opções existentes nomercado, assim como analisar as possíveis formas de pagamento, e que estas sejam adequadas ao orçamento previsto. Também deve-se verificar o prazo de garantia para possíveis perdas de plantas, que podem dificultar o cronograma de implantação devido à necessidade de reposição, além dos prejuízos financeiros que isso pode causar. • Época de plantio A decisão sobre a época de plantio em áreas urbanas é algo que pode ser variável em relação às diferentes regiões, no entanto, não possui limitações ou restrições que determinem qual a melhor época anual. O que se recomenda é que ocorra no início do período chuvoso, uma vez que haverá maior disponibilidade no fornecimento de água, além disso, os fatores climáticos como temperatura e umidade do ar são mais agradáveis, o que facilita a adaptação de plantas jovens. Caso haja a possibilidade de uso de equipamentos de irrigação, a época de plantio se torna flexível, podendo ser definida de acordo com outros fatores, como disponibilidade de recursos financeiros para a aquisição das mudas ou de equipamentos necessários para a realização do trabalho. Ainda assim, é importante ter atenção com o período do dia em que será realizado o transplantio, preferencialmente horários menos quentes como início da manhã ou final de tarde, já que essa ação implica em fator de estresse para a planta. No paisagismo urbano, diferente da agricultura, o desenvolvimento das plantas não está atrelado à velocidade e, muito menos, à produtividade, sendo importante que haja constância para que a planta possa crescer saudável, de modo que é exercido um controle sobre o seu desenvolvimento, para que o ambiente em que essas plantas estejam inseridas se mantenha ordenado. Dessa forma, as plantas, isoladas ou em conjunto, podem atingir seu potencial máximo em relação aos aspectos paisagísticos, ecológicos e ambientais. • Berço (Coveamento) À abertura cavada no terreno onde a planta será colocada é dado o nome de berço. Este termo vem sendo utilizado atualmente e foi escolhido em substituição à “cova”, que foi empregado por muito tempo, porque traduz de forma mais significativa a intenção que se tem ao plantar, uma vez que o berço é utilizado na chegada de uma nova vida, já a cova é utilizada quando uma vida termina. 3.1 ETAPAS DA IMPLANTAÇÃO 155 O preparo do berço para o plantio envolve alguns fatores com os quais é preciso ter cuidado, pois o transplantio é um momento crítico para o desenvolvimento da muda, que precisa se adaptar ao novo ambiente. Desse modo, devemos estar atentos a ações como: a inversão das camadas de solo, a colocação do adubo de forma adequada, o uso de produtos como o gel hidroretentor para manter a umidade do solo, a profundidade do berço para a muda, a necessidade de irrigação, e o uso de mecanismos de controle de pragas e ervas daninhas que possam ser prejudiciais para a planta. O tamanho do berço deve ser compatível com a altura das mudas, que no caso de plantas para a arborização urbana compreende, em geral, de 2,0 a 2,5 m. No caso das plantas de porte herbáceo é possível fazer a semeadura diretamente no local a lanço, sem a necessidade de abrir o terreno, ou em sulcos, que podem abertos com ferramentas como o ancinho. Se a opção for pela utilização de mudas, podem ser abertos, no local, sulcos ou berços menores, de acordo com a composição. Nos projetos a serem implantados em áreas de florestamento e reflorestamento, as espécies utilizadas, frequentemente, são de crescimento rápido, e, por isso, as mudas possuem porte pequeno, de forma que os berços devem ser correspondentes. O mesmo não ocorre com plantas frutíferas e espécies que são transplantadas já com porte maior como as palmeiras, que necessitam de aberturas de berços maiores, o que implica no uso de maquinário. Nesse sentido, as dimensões do berço para plantio variam com tamanho da árvore, mas também, com o volume do torrão de terra na qual as raízes estão envolvidas. Com relação a este devemos considerar que o solo, principalmente em áreas urbanas, possui condições que podem ser muito adversas para o desenvolvimento da planta. No caso de áreas compactadas, as raízes recém transplantadas podem ter dificuldade em romper a barreira que se forma ao redor, o que pode atrasar o desenvolvimento da planta. Os berços de plantio costumam ter medidas mínimas de 0,5m x 0,5m x 0,5m, mas se a área apresentar características que podem dificultar o crescimento das raízes, é recomendável que seja ampliado, optando-se por um berço com maiores dimensões, ou seja, 1,0x1,0x1,0 m. É necessário frisar que a abertura dos berços implica em custos que devem estar nas planilhas de orçamento. Precisamos considerar o estado do solo, que no caso de áreas compactadas a abertura será maior, o período em que será feita a abertura, caso ocorra no período chuvoso o solo estará úmido e macio suficiente para não haver necessidade de maquinário, e o tamanho da muda e do torrão, uma vez que a profundidade deve ser adequada à planta. Outro ponto sobre a abertura de berços para o plantio, é que no caso das espécies arbóreas ou arbustivas o formato também é fator importante, devendo ser cúbico, uma vez que irá receber todo o volume do torrão, e ter os chamados cantos “vivos”, ou seja, com ângulos de 90° que permitem melhor distribuição das raízes. 156 Diferente dos cantos “vivos”, os cantos arredondados favorecem o enovelamento das raízes do espécime, o que pode implicar o “estrangulamento” de seu tronco. Acesse em: http://twixar.me/5LMm. INTERESSANTE • Plantio O plantio de cada espécie possui ações diferentes a serem executadas, que também são influenciadas pelo local onde a muda será colocada, de forma que os procedimentos tomados para o transplantio de uma árvore, ou mesmo um arbusto, diferem daqueles necessários para implantação de pisos vegetais, forrações e herbáceas florícolas. Da mesma forma, muitas coisas precisam ser consideradas no plantio em uma área ampla e num local que seja impermeabilizado. Assim, alguns cuidados devem ser tomados para que se obtenha sucesso nessa fase, como, por exemplo, remover recipientes que não sejam biodegradáveis, ou seja, que irão permanecer no solo por anos, e essa remoção deve ser realizada de tal forma que o torrão não seja desintegrado. Para evitar que isso ocorra, é importante que o substrato do recipiente esteja úmido o suficiente para que as raízes e o solo se mantenham agregados. Também é necessário observar o estado das raízes, aquelas que se encontram enoveladas devem ser eliminadas. Para que isso seja feito, a recomendação é cortar o fundo do recipiente, em caso de vasos, ou o fundo da embalagem, em caso de sacos, para que, no corte, a parte enovelada seja podada. No caso de mudas arbóreas, é necessário verificar as raízes laterais, que devem ser podadas, caso apresentem enovelamento. Ao realizar o transplantio de espécies arbóreas e arbustivas, que possuem caule lenhoso, é preciso ter cuidado com o nível do colo da planta (representa a parte final do caule e onde se inicia a emissão de raízes), que deve estar alinhado com o nível do terreno. Caso o colo fique enterrado, o excesso de umidade no local pode facilitar a entrada de microrganismos que causam o apodrecimento dessa parte e, com isso, a morte da planta. O contrário, quando fica muito acima, pode causar a exposição das raízes, facilitando a perda de umidade devido a correntes de ar que retiram a água das raízes expostas e provocam o ressecamento da muda. Para evitar que haja problemas com o nivelamento, é importante realizar o plantio cerca de, pelo menos, 15 dias após o preparo. Esse tempo é necessário para que o solo remexido se acomode dentro do berço de plantio, o que é chamado de acamamento. 157 Nos casos em que esse tempo não possa ser cumprido, é necessário que se encontre alguma solução para que a planta se mantenha nivelada, depreferência algo que a mantenha suspensa para manter o nível com o terreno, porque, uma vez que o acamamento ocorra, o solo da área onde a planta está pode ser completado para cobrir as raízes que ficaram expostas. Após a muda ser colocada no berço de plantio, o terreno ao redor deve ser levemente compactado. Essa ação evita o tombamento da planta e elimina bolsas de ar que possam ter se formado e que podem ser prejudiciais no processo de pegamento. Feito isso, deve-se aplicar água no solo a fim de garantir umidade suficiente para compensar as perdas que a planta teve entre a retirada do recipiente em que se encontrava, e ser colocada em seu local definitivo. Com relação à aplicação e manutenção da água, existem técnicas que permitem a melhor disponibilização para as plantas que ainda estejam na embalagem, como as mudas recebidas, e que melhoram a retenção de água no entorno próximo à planta que já esteja no seu local de plantio definitivo. TABELA 3 – MÉTODOS PARA DISPONIBILIZAR ÁGUA PARA AS PLANTAS Técnica Característica ou descrição Gotejamento A água é aplicada ao solo diretamente sobre a zona da raiz da planta em alta frequência e baixa intensidade. Possui alta eficiência, porém maior custo de implantação. Aspersão Gotículas finas de água são lançadas sobre as plantas na forma de chuva. Cobertura morta Colocação de lascas de madeira, cascas ou outro material orgânico sobre a superfície do solo ao redor de uma árvore. O objetivo é manter constante a temperatura do solo, reduzir a perda de umidade, e eliminar ervas daninhas que competem com as árvores por água e nutrientes. A cobertura não deve estar em contato com o tronco da árvore. Hidrogel Polímero condicionador de solo que tem a capacidade de absorver e armazenar água e fertilizante, liberando-os lentamente para a planta. Atua como “bolsa de água” no solo, que libera o líquido apenas quando as raízes entram em contato com a sua estrutura, evitando a movimentação da água para as camadas mais profundas do solo ou perdas por evaporação, reduzindo exigências de irrigação. 158 Vermiculita expandida Trata-se de produto inerte de origem mineral formado, essencialmente, por silicatos hidratados de alumínio e magnésio, sendo utilizado no paisagismo para contenção de umidade e de nutrientes no solo. Utilizado tanto de forma independente, incorporado direto ao solo, quanto na composição de substratos industrializados para plantio, possui um poder de retenção de umidade de até cinco vezes o seu peso em relação à água. Antitranspirante Produto químico pulverizado em plantas para reduzir a perda de água por transpiração. A pulverização forma uma fina camada na folhagem, reduzindo a perda de água. Usado para aumentar as chances de sobrevivência das plantas transplantadas em períodos de estresse e em condição de seca. Sua eficiência depende da espécie e das condições do ambiente, como temperatura e umidade. Seu uso tende a ser mais benéfico em curtos períodos de tempo, uma vez que o uso prolongado pode gerar desequilíbrios na fisiologia da planta. FONTE: Adaptado de Cemig (2011, p. 55) e SMMA (2019, p. 23) • Proteção para as raízes O ambiente urbano implica a necessidade de proteção para as raízes da vegetação arbórea, principalmente em locais impermeabilizados, como no caso de calçadas e canteiros em avenidas. Nos locais abertos, como as áreas verdes, essa proteção é dispensável caso as raízes possuam amplitude para crescer. A proteção para as raízes pode ser feita de duas formas: área de crescimento e cinta de proteção. ◦ Área de crescimento Árvores a serem implantadas em locais altamente impermeabilizados como calçadas ou circundadas por áreas pavimentadas, como no caso de estacionamentos, devem ter ao seu redor uma área livre, a qual deve ser prevista no planejamento, para permitir que a água infiltre, haja maior aeração e possam ser realizadas adubações quando necessário. O termo utilizado para denominar esse espaço é área de crescimento, que também pode ser chamado de "gola", essa região pode influenciar o tempo de vida da árvore. Seu tamanho não possui uma medida padronizada e deve ser dimensionado de acordo com o porte da planta adulta. É evidente que áreas maiores favorecem o desenvolvimento da muda, no entanto, é necessário considerar a área que se tem disponível, de modo a proporcionar uma boa relação entre a necessidade da planta e não atrapalhar o tráfego dos pedestres. 159 Mesmo sendo importantes para que as plantas tenham um bom desenvolvimento, as áreas de crescimento estão sujeitas a diversas situações inconvenientes como o pisoteio, que pode implicar em compactação, e a colocação de lixo por parte dos habitantes, podendo causar diversos problemas para a saúde da população, devido à presença de animais que podem provocar doenças nas pessoas e nos animais domésticos e ao meio ambiente, em razão da poluição do solo. Para evitar ou ao menos minimizar o problema, uma boa opção é o plantio do piso vegetal ou alguma forração que emita flores, porque além de protegerem a área dessas inconveniências, ajudam a manter a umidade do solo e trazem mais beleza ao local. ◦ Cinta de proteção As cintas de proteção são elevações, colocadas entre a área impermeabilizada e a área de crescimento, no entorno da planta, que servem para evitar que águas sujas, provenientes de lavagens, infiltrem na área radicular, carregando produtos tóxicos para a planta como graxas, detergentes e sabões, e assim possa causar danos. As cintas podem representar um problema em relação à infiltração da água da chuva, uma vez que as áreas de crescimento podem atuar como escoadouros, de forma a evitar ou reduzir os riscos de enchentes nas cidades. Seu uso, então, fica a critério do paisagista, para definir sua necessidade ou não, o que depende da localização, já que há ruas que possuem melhor drenagem ou menor risco do que outras. • Proteção para a parte aérea As plantas nos espaços públicos estão sujeitas a muita hostilidade, inclusive agressões que podem ser causadas pelos ventos, devido à canalização proporcionada pelas construções, e depredações devido à ação de animais e pessoas. Para que as plantas tenham tempo de se adaptarem, ganharem resistência e, assim, se desenvolverem de forma plena, podemos utilizar dois tipos de proteção para a parte aérea: o tutor e o gradil. ◦ Tutor Para que a planta possa crescer de forma retilínea, sem que haja desvios, como inclinações, são utilizados suportes que mantêm a sustentação delas, aos quais chamamos de tutores. O tutoramento é necessário porque muitas plantas, principalmente aquelas que apresentam caules herbáceos, muitas vezes não conseguem se manter eretas sozinhas, e esse equilíbrio é fundamental para evitar danos no caule, inclusive quebras, caso ocorram situações adversas como chuvas ou ventos fortes. O objetivo de se utilizar o tutor é proteger e ancorar a planta até que seu crescimento permita que ela consiga se manter em pé sozinha, quando isso é percebido, o tutor deve ser retirado. O tutoramento é realizado logo após a colocação da muda 160 no berço, e deve ser posicionado à frente da muda verificando o sentido dos ventos predominantes. O material do tutor pode ser plástico, mas é preferencial a utilização de estacas de bambu ou madeira tratada, roliças e descascadas. O amarrilho utilizado para fixar a muda ao tutor deve ser de material que se rescinda com o tempo tais como sisal, fitas de borracha ou barbante, que devem envolver a planta e o tutor de modo que não cause danos ao caule e permita à planta maior mobilidade. O uso de fios de náilon ou arames podem causar o anelamento e o descascamento do caule da planta e, por isso, seu uso deve ser completamente evitado. Gradil Em certos casos, assim como ocorre com as áreas de crescimento, é necessário o uso de algum tipo de proteção para as mudas recém-plantadas contra agressõesque podem ser causadas por animais ou pessoas, ou mesmo evitar choques mecânicos em locais de grande circulação. Segundo Gonçalves e Paiva (2013, p. 33): A necessidade de maior ou menor proteção parece se relacionar com o grau de civismo ou, antes, com o grau de consciência ecológica da população. Ressalta-se, no entanto, que a proteção deve estar intimamente associada à qualidade e ao porte da muda utilizada na arborização, bem como ao local de plantio. Os materiais utilizados para montar a estrutura dos pilares do gradil devem ser resistentes como madeira e ferro, enquanto o material a ser usado para envolver essa estrutura deve ser moldável, mas resistente como os arames de aço galvanizado ou ripas de madeira macia, por exemplo. A escolha dos materiais é algo regional, de acordo a disponibilidade deste em cada local, mas é importante ter atenção com alguns pontos nessa escolha, como o uso de materiais que possam machucar as pessoas. O período de 90 dias após o plantio é o mais crítico, em razão das plantas estarem se adaptando às novas e condições e pela emissão de novas raízes, de modo que é necessário verificar o nível de umidade no solo para que não haja estresse hídrico e se há presença de pragas e doenças que possam causar danos irreversíveis às plantas. Além disso, aos 30 dias após o transplantio, se pode fazer a adubação de cobertura com nitrogênio. 161 FIGURA 3 – REPRESENTAÇÃO DOS PONTOS A SEREM OBSERVADOS NO PROCESSO DE TRANSPLANTIO Fonte: Cemig (2011, p. 52) TABELA 4 – ETAPAS PARA O TRANSPLANTIO QUE REDUZEM O ESTRESSE CAUSADO NA PLANTA 1. Abrir o berço: o local para a colocação da planta deve ter, no mínimo, três vezes o diâmetro do torrão, mas a profundidade deve ser igual à da altura do torrão, para evitar que fique muito abaixo ou acima do nível do terreno. As raízes da muda devem crescer no solo circundante a fim de se estabelecerem, de forma que, no caso de solos compactados é importante soltar a terra ao redor da muda para permitir que as raízes emerjam e se expandam na terra solta, apressando seu estabelecimento. 2. Identificar o colo da muda: o colo é o local de partida da propagação de raízes na muda. Este ponto deve ser parcialmente visível depois que a muda foi plantada e nunca enterrado, caso isso ocorra, poderá ocasionar problemas de apodrecimento em função da umidade e a muda poderá morrer. 3. Remover o reci- piente: cuidadosamente, se deve cortar as laterais do recipiente e inspecionar o torrão para identificar e cortar possíveis raízes enoveladas. 4. Colocar a muda na altura apropriada: a maioria das raízes da muda recém-plantada deverá se desenvolver nos centímetros superiores do solo. Se a muda for plantada muito profundamente, as raízes novas terão dificuldade para se desenvolver, devido à falta de oxigênio. 5. Endireitar a muda no berço: antes de começar a colocar terra no berço, observar a muda de várias direções para confirmar que ela esteja ereta. 162 6. Encher o berço suavemente, mas com firmeza: encher o berço até cerca de um terço de sua altura e, de forma delicada, mas firme, compactar (ou apertar) o solo ao redor da base do torrão. Preencher o restante do berço, tendo o cuidado de eliminar bolsões de ar, que podem secar as raízes. 7. Estaquear a muda: o estaqueamento é necessário em locais onde o vandalismo ou as condições de vento são preocupações. Duas estacas são usadas em conjunto e amarradas com material flexível, o que a manterá em pé, minimizando a flexibilidade e possibilidade de lesão do caule. 8. Colocar cobertura morta na base da muda: ela atua como um cobertor para manter a umidade, modera os extremos de temperatura do solo e reduz a concorrência com ervas daninhas. A altura entre 5 e 10 cm é ideal e não deve ser superada. Certificar-se de que a base do caule não esteja coberta. 9. Manutenção: manter o solo úmido, mas não encharcado, regando pelo menos uma vez por semana quando não chover, e mais frequentemente durante o tempo seco. FONTE: adaptado de Cemig (2011) 4 MANEJO O processo de arborização urbana inicia no planejamento e é executado na implantação, mas desde a colocação da árvore no seu local definitivo, é dado início a uma outra etapa que terá sua duração até que a planta chegue ao final de seu ciclo vital. A essa etapa chamamos de manejo, para a qual devem ser pensadas ações de cuidado para que a planta possa cumprir seu papel no ambiente. O manejo eficiente permite que as árvores tenham longa permanência no ambiente, evitando constantes substituições, de modo que as plantas, sempre frondosas e saudáveis, contribuam de forma positiva com o objetivo da melhoria ambiental. As ações de manejo se referem aos cuidados com a disponibilidade de água para as plantas, necessidade de podas e/ou substituições, readequação de canteiros, remoção de plantas daninhas e supressão de plantas. Para a aplicação dessas ações é preciso uma avaliação da planta, de modo que se possa determinar qual(is) a(as) melhor(es) opção(ões). 163 4.1 TÉCNICAS DE MANEJO O manejo compreende um conjunto de ações que visam ao melhor desenvolvimento e formação das árvores, por isso, é importante que seja realizado de forma preventiva e periódica para que as plantas cresçam e permaneçam saudáveis, além de evitar riscos à segurança pela queda de galhos, por exemplo, e ações mais drásticas pela poda ou retirada da planta. • Solo – adubação No processo de implantação das mudas devem ser realizadas análises do solo para definir a necessidade de correção e complementação dos nutrientes. Com o crescimento da planta o solo pode ficar exaurido, caso não seja tomada alguma ação para manter a fertilidade. Dessa forma, adubações periódicas devem ser programadas de acordo com a espécie e a fase do ciclo em que a planta se encontra, devendo-se realizar a análise do solo para que seja feita essa complementação. A recomendação é que as árvores no ambiente urbano recebam adubação uma vez ao ano e que a aplicação seja feita no início do período chuvoso, uma vez que a disponibilidade maior de água contribui para que as plantas absorvam os nutrientes com maior eficiência. A adubação pode ser realizada com fertilizantes orgânicos, minerais ou a combinação dos dois. Caso o solo da área plantada, principalmente canteiros de plantas herbáceas e algumas arbustivas, esteja desgastado de forma que não seja possível sua recuperação, é recomendável a substituição do solo por outro que apresente maior agregação das partículas, consequentemente melhor estrutura, e níveis de porosidade e permeabilidade que permitam o desenvolvimento das plantas, como, por exemplo, os solos orgânicos. • Irrigação Para garantir que não falte água para a planta e evitar que haja estresse hídrico no início de seu desenvolvimento, é importante que se faça o aporte periódico de água, pelo menos, nos primeiros dois anos após a implantação ou até que a planta esteja estabelecida, com suas raízes ocupando e explorando maior área de solo. Outra estratégia a ser utilizada é o coroamento do solo ao redor da planta, que forma uma bacia e melhora a captação da água. Para definir a melhor época para aplicação de água e a quantidade necessária, devem ser observados alguns parâmetros referentes aos índices pluviométricos, evapotranspiração e aqueles ligados à capacidade do solo em reter água. Há, no entanto, a recomendação de que seja aplicado entre 10 e 20 litros de água por planta, de acordo com a necessidade. 164 • Fitossanidade O controle de pragas e doenças contribui para a longevidade das plantas no ambiente urbano, onde estão susceptíveis à ação de agentes bióticos e abióticos. Os danos podem ser provocados de maneira intencional ou não, como ferimentos devidos a algum tipo de contato físico, a própria poluição pela emissão de gases tóxicos, e, inclusive, pelo manejo executado de forma inadequada. Essas ações podem resultar em pequenas lesões que, emmuitos casos, servem de entrada ou início para problemas maiores e com isso ocasionar a morte dos indivíduos. As ações a serem tomadas devem considerar a origem do problema. No caso dos problemas abióticos, eles podem ocorrer em função da ação de fatores ambientais como temperaturas fora da faixa tolerada pela espécie, excesso ou déficit hídrico, produtos químicos que possam causar fitotoxidez, entre outros. Já no caso de agentes bióticos temos insetos, fungos, bactérias, vírus e, até mesmo, outras plantas chamadas de parasitas. O controle fitossanitário começa com a observação dos indivíduos para verificar alguma anormalidade que possa ser identificada como sintoma. Caso sejam observados sintomas, é imprescindível identificar sua origem para que o controle seja efetivo. O controle fitossanitário pode ser feito pela exclusão, erradicação, proteção, imunização, terapia e regulação. Pode-se utilizar o controle biológico para criar uma situação de equilíbrio ecológico ou o controle químico em casos muito específicos, uma vez que, na área urbana, os efeitos colaterais podem causar um problema muito maior, tais como intoxicação de pessoas e animais domésticos, já que, nessas áreas, é mais difícil se manter o controle em relação ao contato direto com os indivíduos arbóreos. Plantas parasitas são espécies que apresentam raízes modificadas, denominadas de haustórios, que são capazes de perfurar os tecidos dos hospedeiros e, assim, retirar parte ou totalmente sua nutrição deles. Fonte: https://bit.ly/3f9Y9Zz. Acesso em: 21 set. 2022. INTERESSANTE 4.2 PODA A poda consiste na remoção parcial de ramos de uma planta com vistas a compatibilizá-la com o espaço físico existente no entorno. Por ser um procedimento capaz de modificar a estrutura da planta, também altera seu estado de desenvolvimento, portanto deve ser realizada de forma criteriosa, objetivando preservar, o quanto possível, seu formato original e natural. 165 A poda é uma técnica agronômica, aplicada às plantas com finalidades específicas quanto ao resultado esperado, e isso varia com a espécie, podendo ser usada para estimular o crescimento da planta sob determinado formato, florações, frutificações e, também, para a limpeza da copa. Em ambientes urbanos, a poda é realizada para que a planta possa se desenvolver de forma saudável, sem que cause danos a estrutura pública, mantendo assim seus benefícios ambientais, aspecto visual agradável e, principalmente, compatibilidade com o espaço no seu entorno. 4.2.1 Reação das árvores à poda Durante o período de maturação e, também, quando chegam a senescência, ocorre a perda de ramos na árvore, em razão do seu crescimento, que promove novas brotações e, com isso, provoca o sombreamento de partes mais velhas, que acabam perdendo função na planta. Antes da poda, é preciso ter atenção com a estrutura da planta, de forma a identificar a relação dos ramos com a planta, numa análise de seus aspectos morfológicos para, então, ser tomada a decisão de quais ramos devem ser retirados, qual o local onde deve ocorrer esse corte e qual a melhor época do ano para isto. A maioria das espécies possui um processo de proteção que é chamado de compartimentalização da lesão, que funciona como uma espécie de cicatrização da área lesionada pelo corte, formando uma barreira devido a reações fisiológicas das células tronco e da base do ramo, de modo a impedir a entrada de microrganismos prejudiciais para si. • A compartimentalização segue um modelo básico na maioria das espécies: • As células localizadas na área do corte, inicialmente, produzem compostos químicos de defesa, que são mortais para organismos contaminantes, o que evita sua entrada para o interior do tronco na área exposta. • De acordo com a espécie, podem ser depositadas resinas, gomas ou cristais, que causam a obstrução dos vasos que transportam a seiva. • Nas células localizadas na área do ferimento ocorre o aumento da atividade metabólica, também com a liberação de compostos químicos, dando início ao processo de cicatrização mais aparente e impedindo o avanço de microrganismos oportunistas. • Por último, ocorre a multiplicação das células do câmbio e parênquima floemático, promovendo o recobrimento da lesão e, com isso, protegendo o interior do caule contra a ação de agentes presentes no ambiente externo. 166 Para saber mais sobre podas leia o texto Poda Urbana: Princípios Básicos e Execução. Acesse em: http://twixar.me/pLMm. DICA 4.2.2 Tipos de podas Na tabela a seguir são apresentados os principais tipos de podas realizados para a manutenção de plantas inseridas no ambiente urbano, tanto em áreas verdes como na arborização viária. TABELA 5 – PODAS E SEUS OBJETIVOS Tipos de Podas Razão Roçada Procedimento adotado em vegetação herbácea utilizada como forração, normalmente gramíneas, e se refere ao rebaixamento da vegetação para uma altura homogênea de forma a conseguir o melhor aspecto visual do maciço. Topiaria Trata-se na realidade de uma técnica de jardinagem que utiliza a poda para dar formas ornamentais variadas aos maciços vegetais, muitas vezes é utilizada para configurar padrões artísticos a folhagem de um vegetal. Na arborização urbana é de difícil utilização, pois exige manutenção e poda constante do vegetal para atingir o fim desejado. Poda de formação A poda de formação é essencial para a padronização e crescimento saudável das mudas que serão empregadas na arborização urbana, pois condiciona todo o desenvolvimento da árvore e sua adaptação às condições em que vai ser plantada definitivamente. De forma geral é realizada nos viveiros de produção de mudas e devem atender a padrões técnicos, para árvores, independente do porte da espécie, e empregado o sistema denominado “haste única”, que consiste na desbrota permanente num caule único e ereto, até que a muda atinja a altura mínima de 2,0 metros. Poda de levantamento Consiste na remoção de ramos e brotações inferiores, que atrapalhem a iluminação ou a circulação de carros ou pessoas sob a copa da árvore ou arbusto, sempre levando em consideração o modelo arquitetônico da espécie no qual se está fazendo a intervenção. Poda de condução Trata-se da remoção precoce de ramos do vegetal, de forma racional, visando à convivência harmoniosa entre arborização urbana e os demais elementos da infraestrutura da cidade, tais como: fiações, iluminação, fachadas, sinalização de trânsito, posteamento, bocas de lobo etc., de forma a direcionar o desenvolvimento do espécime para os espaços disponíveis, sempre levando em consideração o modelo arquitetônico. 167 Poda de limpeza A poda de limpeza se refere à retirada de todo ramo ou brotação que esteja infectado por fungos ou ervas daninha que possam prejudicar o vegetal que se queira preservar, assim como quaisquer outras lesões que possam ocasionar em situação adversa, seja para a segurança do espécime ou para àqueles no entorno. Poda de adequação É empregada para solucionar ou amenizar conflitos entre equipamentos urbanos, como rede aérea no interior da copa de árvores ou quando ocorre a obstrução de sinalização de trânsito devido ao crescimento da arborização existente e consolidada. Poda de correção É empregada quando se torna necessário a remoção de ramos em desarmonia ou que estejam comprometendo a estabilidade do exemplar vegetal, é normalmente aplicada a árvores ou arbustos que estejam desequilibrados ou crescendo de forma desigual para algum de seus lados. Poda de emergência Consiste na remoção de partes da árvore que apresentam risco iminente de queda, podendo comprometer a integridade física das pessoas, ou do patrimônio público ou particular. Por exemplo, de ramos que se quebram durante a ocorrência de chuva, tempestades ou ventos fortes. Poda drástica Trata-se de um tipo de poda de grande impacto visual para a população e principalmente sobre a saúde do vegetal, pois consistena retirada de grande volume de folhagem e galhada. Normalmente é caracterizado pela supressão de mais de 30% da copa da árvore, sendo de difícil recuperação para o vegetal, geralmente sendo seguido pelo processo de “envassouramento” em árvores, processo onde há o crescimento de grande quantidade de brotações laterais frágeis após a realização da poda. Este tipo de poda é fortemente desaconselhado, e utilizado somente quando esgotada as alternativas. Poda de raiz A poda de raiz consiste-se na retirada de partes da raiz de um vegetal que por conta de seu desenvolvimento esteja afetando, devido ao afloramento ou não, a estrutura de casas, ou de outras obras superficiais ou subterrâneas. É de extrema importância frisar que este tipo de poda é utilizado com grande cautela e critério técnico, e seu uso é desaconselhado na maior parte dos casos, pois a utilização incorreta da técnica pode desestabilizar o vegetal em questão e vir a acarretar sua queda, desta forma, o procedimento somente deve ser realizado com acompanhamento de técnico responsável, principalmente quando nos referimos a árvores de espécies de médio e grande porte. Fonte: Adaptado de SSMA (2019) 168 Neste tópico, você aprendeu: • O planejamento é uma etapa fundamental para o sucesso da implantação de áreas verdes e da arborização urbana. • Vimos que a implantação precisa ser orientada pelo planejamento para evitar perdas durante o processo. • O manejo deve ser iniciado a partir da implantação para garantir a longevidade das plantas. • A poda é uma técnica que, quando bem utilizada, melhora as condições da planta e do ambiente ao redor. RESUMO DO TÓPICO 1 169 1 A fase de planejamento é muito importante para garantir o sucesso do projeto. Por isso, alguns aspectos devem ser observados para evitar perdas e gastos desnecessários. Com relação a estes aspectos, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As condições ambientais não têm importância na fase de planejamento. b) ( ) A escolha da espécie deve ser feita com muita atenção para evitar problemas posteriores. c) ( ) A largura da calçada não influencia a escolha da espécie. d) ( ) A fiação aérea não é comprometida, independentemente do porte da planta. e) ( ) É recomendada a escolha de uma única espécie em todo o território urbano. 2 Entre as atividades necessárias para a implantação da arborização está a análise de solo, que fornece informações tanto sobre os nutrientes disponíveis quanto à acidez e à textura do solo. Sobre essas atividades, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A calagem é recomendada para corrigir o pH. b) ( ) Para corrigir a estrutura do solo recomenda-se o uso da calagem. c) ( ) A análise de solo é realizada apenas em áreas pequenas como as residenciais. d) ( ) Imediatamente após o plantio das mudas é feita a adubação de cobertura. e) ( ) A adubação de plantio deve ser aplicada na área total do terreno para qualquer tipo vegetal. 3 O manejo corresponde à fase de manutenção e deve se estender pelo tempo de vida da planta, com ações mais ou menos intensas de acordo com as necessidades apresentadas em cada situação. Sobre o manejo, assinale alternativa CORRETA: a) ( ) O manejo não engloba a adubação, que deve ser realizada apenas na implantação. b) ( ) Não há necessidade de irrigação após dois meses da implantação, porque a planta já está estabelecida. c) ( ) Os problemas com fitossanidade em árvores urbanas são decorrentes apenas da poluição. d) ( ) A poda é uma técnica que consiste na remoção de ramos. e) ( ) A poda não causa estresse à planta. 4 O processo de implantação é uma fase na qual se deve ter todos os cuidados para que a planta se adapte da melhor forma possível ao novo ambiente. Com base nisso, descreva as etapas do transplantio da muda. 5 A poda consiste na retirada de ramos da planta, no entanto existem alguns tipos que são executados para se alcançar um determinado objetivo, que pode estar relacionado à estética ou à sanidade da planta. De acordo com o que foi visto, fale sobre os tipos de poda. AUTOATIVIDADE 170 171 ARBORIZAÇÃO URBANA UNIDADE 3 TÓPICO 2 — 1 INTRODUÇÃO A arborização é uma atividade realizada com a inserção de árvores, seja de forma individual ou em grupo, no meio urbano, para qual é feito o planejamento tanto para o plantio, quanto, posteriormente, para a manutenção dessas árvores. O conjunto de árvores presentes por toda a área urbana recebe o nome de floresta urbana por fazer parte desse ecossistema. Essa vegetação, composta em grande parte por árvores, exerce influência direta sobre o ambiente transformado das áreas urbanas, principalmente pela presença de áreas verdes, como é o caso de parques e jardins, que possuem funções que interferem no dia a dia da vida urbana, por promoverem locais para interações sociais, pelas expressões culturais e por contribuírem de forma positiva para a melhoria estética das cidades. Além disso, atuam na preservação de espécies da flora e da fauna. 2 IMPORTÂNCIA As árvores são elementos importantes da paisagem urbana por sua capacidade de tornar esse espaço mais agradável para as pessoas que transitam e convivem diariamente nesses locais tomados pelo cinza. Na tabela a seguir, são apresentadas as principais contribuições observadas pela arborização das áreas urbanas: TABELA 6 – IMPORTÂNCIA DA ARBORIZAÇÃO PARA O AMBIENTE URBANO Contribuição da arborização Razão Estabilidade do solo As raízes das árvores reduzem os riscos de deslizamentos, principalmente em áreas de encosta, porque a quantidade e a forma como as raízes se espalham no solo, propiciam a maior fixação da terra. Conforto térmico A presença de árvores promove equilíbrio do microclima presente no ambiente urbano, uma vez que melhora a sensação térmica pela absorção dos raios ultravioletas, o que contribui para a redução da temperatura e da evapotranspiração. 172 Proporcionar sombra Em áreas arborizadas, a presença de sombra contribui tanto com a manutenção de áreas pavimentadas, que sofrem menos com os fenômenos de contração e dilatação, diminuindo seu desgaste, quanto com a saúde das pessoas, que ficam menos expostas a ação direta dos raios de sol sobre o corpo, que, quando em excesso, podem causar doenças de pele e de visão. Reduzir a poluição do ar As árvores, de acordo com as características de cada espécie, possuem a capacidade de reter em suas folhas os particulados em suspensão no ar. De forma que quanto mais pilosa, cerosa ou espinhosa, maior será a absorção de gases e folículos poluentes nas superfícies, que, posteriormente, serão lavadas pelas águas da chuva. Sequestrar e armazenar carbono As árvores capturam o gás carbônico do ar durante o processo da fotossíntese e o utilizam para a formação de moléculas orgânicas que serão degradadas na própria respiração da planta ou ficarão armazenadas nos tecidos vegetais. Infiltração da água no solo As raízes reduzem a compactação do solo, o que melhora consideravelmente a infiltração, dessa forma, reduz o escoamento superficial das águas das chuvas, o que evita a erosão do solo. Proteção contra o vento e seu direcionamento Funcionam como uma barreira natural que, quando arranjada adequadamente, protege as edificações contra a ação dos ventos ou direcionar sua passagem por um determinado local. Proteção dos corpos d’água e do solo Existem espécies que filtram as impurezas das águas, aprisionando sedimentos entre suas raízes e troncos, e com isso, também impedem a condução direta de poluentes ao lençol freático. Conservação genética da flora nativa O uso de árvores nativas para a arborização, contribui com a proliferação das espécies nativas, o que reduz o risco de extinção da espécie. Abrigo à fauna silvestre A presença de árvores contribui para o equilíbrio das cadeias alimentares, uma vez que permite o desenvolvimento de predadores de pragas e agentesvetores de doenças. 173 Corredor ecológico As árvores abrigam uma infinidade de seres vivos, como insetos, líquens, pássaros e mamíferos. Suas flores e frutos servem de atrativo para uma diversidade de insetos e aves que enriquecem o ecossistema urbano e aumentam sua biodiversidade, o que representa um ganho ambiental significativo. Barreira contra ruídos e alta luminosidade As estruturas vegetais possuem a capacidade de absorver ondas sonoras, de forma que há uma redução da poluição sonora em grandes centros. Também, atenuam o incômodo que pode haver em decorrência das superfícies altamente reflexivas de determinadas edificações. Bem-estar físico e mental O aumento da umidade relativa do ar, a redução da poluição, em suas diferentes formas, e da temperatura, a funcionalidade atribuída aos locais arborizados contribuem para o bem-estar físico da população. De outra forma, as texturas, cores e formas diferentes propiciam a quebra da monotonia da paisagem arquitetônica na urbe pela promoção da beleza cênica e melhoria estética, que contribuem para um aumento da qualidade de vida da população e do bem-estar mental. Interceptar a água da chuva A água da chuva é fracionada pelas copas das árvores, e isso diminui a energia do impacto direto da gota no solo, além disso, parte da água fica retida nas estruturas aéreas e escorre pelo caule para chegar ao solo, de forma que em áreas arborizadas o problema de erosão é minimizado. Fonte: Adaptado de Cemig (2011) e Prefeitura Municipal de São Paulo (2015) Podemos dizer que as árvores são parte de uma estratégia que busca amenizar aspectos ambientais adversos pela regulação do ecossistema, mas também proporcionam benefícios estéticos e funcionais às pessoas. 3 CONFORTO AMBIENTAL Conforto térmico é a condição mental que o indivíduo expressa, mostrando-se satisfeito com a temperatura ambiente do local onde está inserido. De forma que as perdas e ganhos de calor corporal são equivalentes quando a temperatura do local em que a pessoa se encontra é mantida constante. Podemos verificar o balanço dessas perdas e ganhos por aspectos que são facilmente observáveis. Quando temos o excesso de calor, que representa um saldo positivo de energia incidente, o corpo produz o suor para eliminar o calor latente. Por outro lado, quando ocorre o frio, significa que há um saldo negativo de calor, de modo que, no corpo, isso é percebido pelos tremores e tensionamento dos músculos. 174 A forma como a sensação de conforto térmico é percebida, varia entre os indivíduos e depende das condições ambientais do local. No entanto, para termos uma ideia de como ocorre a percepção da temperatura pelos indivíduos, podemos elencar três fatores que atuam na construção dessa percepção, os quais são divididos em físicos, referentes à troca de calor com o meio, fisiológicos, se referem à forma como cada organismo reage às alterações do meio, e psicológicos, que estão ligados a uma preferência individual. Os processos pelos quais ocorrem a troca de calor entre os indivíduos e o ambiente ao redor são a condução, convecção, radiação e evaporação. Esses processos de trocas de calor fazem com que o organismo experimente ganhos e perdas de energia com o ambiente sob a influência de variáveis (temperatura, umidade do ar e radiação), que ao serem modificadas proporcionam a cada indivíduo a sensação de conforto térmico mais ou menos agradável. A sensação térmica, que cada indivíduo experimenta, é função da interação entre os fatores ambientais e as variáveis individuais metabólicas, de modo que, o resultado dessa interação, é chegar ao equilíbrio e promover o conforto térmico. Quando nosso corpo experimenta o desconforto térmico, significa que há um intenso trabalho corporal interno, realizado pelo metabolismo, que está sendo exigido para que a temperatura interna se mantenha equilibrada pelo hipotálamo, desde que as trocas térmicas ocorram de forma proporcional ao trabalho, dando o tempo necessário para que o corpo se adeque às variações. Basicamente, existem cinco estágios térmicos corporais: a eutermia, a hiper e hipotermia, a febre e anapirexia. Sendo a eutermia o estado de equilíbrio em que o corpo mantém a temperatura interna típica da espécie, apenas com o metabolismo basal. A hipertemia e hipotermia ocorrem quando há ganho e perda de energia, respectivamente, de forma abrupta, e os mecanismos termorreguladores não são capazes de atingir a eutermia. Os outros dois estágios (febre e anapirexia) são mudanças reguladas da temperatura corporal, ou seja, na febre mecanismos de ganho de energia são ativados causando o acréscimo da temperatura corporal, de forma inversa ocorre com a anapirexia. Fonte: http://twixar.me/PLMm. Acesso em: 26 set. 2022. INTERESSANTE 175 Os fatores ambientais que influenciam no conforto térmico são a temperatura do ar, medida pelo termômetro de bulbo seco (TBS), tem por base o ar circundante ao corpo humano, a temperatura radiante média (TRM), que pressupõe a temperatura uniforme em uma superfície imaginária como sendo igual a uma troca de calor de um corpo humano em condições reais e não uniforme, a umidade relativa do ar, que corresponde a quantidade de água presente no ar e a velocidade do ar, que atua na retirada do ar quente e da água presentes na superfície de um corpo humano. Segundo Silva, Gonzalez e silva Filho (2011, p. 37): “Esses fatores estão relacionados às trocas por convecção (TBS e velocidade do ar), por radiação (TRM) e, principalmente, à perda de calor latente por evaporação, que depende da umidade relativa e da velocidade do ar”. Com relação aos fatores, que afetam o conforto térmico de forma pessoal em cada indivíduo, estão o nível de atividade física que, quanto mais intensa, maior será a taxa metabólica e o calor gerado, e o tipo de vestimenta, que pode promover maior isolamento térmico devido à resistência que apresenta às trocas de calor por convecção e radiação. Com relação à área urbana, é importante observar questões envolvendo a circulação dos ventos e da quantidade de radiação solar que incide diretamente sobre as pessoas e, também, sobre os materiais utilizados para a construção, esses fatores irão definir o nível de conforto nessas áreas. As árvores têm um papel importante na promoção do conforto térmico, pois, são capazes de interceptar os raios solares que atravessam a atmosfera e promovem o sombreamento de maneira eficaz. Além disso, o vento ao penetrar em uma área arborizada, entra em contato com a superfície das folhas e, por possuir a capacidade de transportar ou retirar calor nas trocas por convecção, dependendo de como esteja a superfície (resfriada ou aquecida), é refrigerado, proporcionando maior sensação de conforto térmico. Através da abertura e fechamento dos estômatos, as árvores atuam na regulação do conforto térmico dentro do ambiente urbano, a forma como isso ocorre está condicio- nada a resposta fisiológica das árvores em relação às condições ambientais, de forma que, caso haja disponibilidade de água e calor, os estômatos são abertos e partículas de água são liberadas para o meio em função da evapotranspiração. O contrário, quando há uma situação adversa, os estômatos se fecham, de modo a preservar a água em seu sistema. Essas trocas gasosas reduzem a amplitude térmica e melhoram a sensação térmica em relação ao ambiente urbano. O desconforto que ocorre nas áreas urbanas se deve às alterações do ambiente natural, em função do uso e da construção de materiais e estruturas que auxiliam na criação de condições para o desbalanço energético e, com isso, aumentam a temperatura, proporcionando áreas onde atua um microclima quente e seco. 176 O resultado é a ocorrência de bolsões, mais conhecidos como “ilhas de calor”, que são decorrentes das alterações promovidas no clima devido a uma série de mudanças observadasnas áreas urbanas como a cobertura da superfície natural com materiais que alteram a emissão de calor, aumento das taxas de evaporação por superfícies que não possuem a capacidade de reter umidade, além de impermeabilizarem o solo, impedindo a infiltração da água da chuva. Outra questão, são as atividades como indústria e trânsito que, jogam no ar diversas partículas de poluentes com a capacidade de se concentrarem em determinadas áreas, fato esse devido à modificação no padrão de circulação dos ventos. Além disso, com a supressão da vegetação nessas áreas, a radiação que incide diretamente nas construções, é refletida para o meio, ao redor, na forma de calor, que, por sua vez, não pode ser dissipado devido ao microclima formado. A junção dessas ações faz com que cidades onde a arborização é inexistente ou muito reduzida lembrem estufas, provocando maior desconforto à medida que o problema piora. Para que se possa avaliar o conforto térmico de áreas externas, existem metodologias que consideram os aspectos do ambiente e, também, individuais, com o objetivo de se ter uma visão ampla sobre como proporcionar ambientes mais agradáveis. Para tanto, essas metodologias consideram as variáveis termodinâmicas, que podem ser medidas e estão ligadas diretamente ao calor no ambiente como a temperatura e a umidade relativa do ar, mas também consideram variáveis mais subjetivas como a percepção da sensação térmica por cada usuário e, também, comportamentos associados à utilização dos locais como o horário em que realiza certas atividades e em qual área as pratica. Com relação ao modo como cada indivíduo se sente mais confortável quanto à sensação térmica, algumas metodologias consideram a sazonalidade percebida no ambiente ao longo das diferentes épocas do ano, além das diferenças entre as diversas regiões, que fazem com que as pessoas de diferentes climas possuam diferentes adaptações e percepções quanto ao conforto térmico. De forma a se elucidar a sensação térmica, foram criados índices a partir das metodologias que visam medir o nível de conforto térmico, com base em aferições diretas ou no comportamento fisiológico do corpo humano em condições de estresse devido às condições térmicas do ambiente. Esses índices auxiliam na tomada de decisão quanto ao planejamento dos espaços abertos nas cidades, o que contribui para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. Esses índices de conforto térmico consideram em seu cálculo a umidade relativa do ar, a temperatura e a radiação. Para citar dois deles que servem de base para outros, temos: 177 • Universal Thermal Climate Index – UTCI Esse índice foi desenvolvido pela Comissão 6 da Sociedade Internacional de Biometeorologia (ISB na sigla em inglês) e considera variáveis como temperatura do ar, temperatura média radiante, pressão de vapor d’água, umidade relativa e velocidade do vento a 10m de altura. Ele permite avaliar as condições térmicas do ambiente externo por meio das respostas fisiológicas do corpo, o que faz dele um índice fisiologicamente calibrado, que pode ser aplicado independentemente do clima da região e das características individuais da pessoa (ISB 2001). • Predicted Mean Vote – PMV – Predicted Percentage of Dissatisfied – PPD ou Modelo do balanço térmico. O conforto estimado pelo índice PMV é avaliado com base nas respostas de um grupo amostral de pessoas em relação ao ambiente térmico em que se encontram, utilizando, para isso, uma escala que vai de +3 (muito quente) a -3 (muito frio), e no caso do PPD é obtido o número de pessoas que se apresentam insatisfeitas. O cálculo desses índices utiliza uma equação desenvolvida por Fanger (1967) Para entender mais sobre conforto térmico leia o artigo intitulado “Influência dos elementos meteorológicos no conforto térmico humano: bases biofísicas”. Acesse em: http://twixar.me/6LMm. DICA 178 Metabolismo é o conjunto das reações químicas que ocorrem num organismo vivo com o fim de promover a satisfação de necessidades estruturais e energéticas. http://twixar. me/2LMm. Acesso em: 26 set. 2022. A capacidade de regular a temperatura corporal, característica especial dos animais homeotérmicos, é exercida pelo hipotálamo. Este é informado da temperatura corporal, não só por termorreceptores periféricos, mas principalmente por neurônios que funcionam como termorreceptores. A termorregulação está associada à homeostase da temperatura corporal do organismo, e o controle da temperatura é exercido através de mecanismos do SNA Simpático. Fonte: http://twixar.me/CLMm. Acesso em: 21 set. 2022. INTERESSANTE 4 CLASSIFICAÇÃO DA VEGETAÇÃO URBANA Os conjuntos arbóreos que encontramos em diversas áreas da paisagem urbana são chamados de vegetação urbana e, sua presença, tem grande relevância para o bem- estar físico e mental das pessoas que vivem nesses locais. Dessa forma, a classificação tem como objetivo avaliar os indivíduos arbóreos urbanos presentes nas diferentes áreas, de modo a produzir um levantamento que apresente informações úteis que serão utilizadas para que o manejo seja realizado de forma eficiente para a melhor preservação tanto das plantas como das construções no entorno. Como descrito anteriormente, os conjuntos arbóreos são encontrados em diferentes áreas, o que implica em diferentes formas de planejamento e manejo, de modo que podemos classificar esses conjuntos em quatro tipos: • Áreas verdes As áreas verdes incluem praças, parques e jardins, nos quais há presença abundante de árvores de vários portes e que, além de exercerem funções estéticas e ecológicas, funcionam como áreas de convívio social. 179 • Arborização viária Segundo Lima et al., (1994, p. 548): “Os canteiros centrais e trevos de vias públicas, que tem apenas funções estética e ecológica, devem, também, conceituar-se como Área Verde. Entretanto, as árvores que acompanham o leito das vias públicas, não devem ser consideradas como tal”. A diferença se deve ao fato de que os leitos de vias públicas, normalmente, possuem calçadas, de forma que o terreno ao redor das plantas se torna impermeabilizado, e isso interfere no desenvolvimento desses indivíduos quando comparados a outros indivíduos da mesma espécie, que estão em áreas onde podem desenvolver todo o seu potencial. • Florestas urbanas Podemos dizer que as florestas urbanas correspondem a um ecossistema complexo que circunda os diversos ambientes urbanos, ambientes estes que são representados pelas comunidades presentes em áreas rurais, assim como as áreas de maior concentração de pessoas no caso de grandes cidades que formam as regiões metropolitanas, portanto originam da interação entre o ser humano e os processos que ocorrem na natureza. Desse modo, abrigam áreas que resguardam a vegetação nativa e que possuem características (diversidade de espécies, abrigo e alimento para animais, proteção do solo e da água) que auxiliam na manutenção de certo equilíbrio que influencia diretamente o ambiente urbano, melhorando o conforto térmico. • Cobertura vegetal A cobertura vegetal corresponde às áreas onde há presença de vegetação, no caso da área urbana, qualquer massa verde em qualquer local do perímetro urbano que seja observada, fotografada e mapeada sob a perspectiva de instrumentos que tomem uma visão aérea do local, como aviões, drones ou satélites. 180 Segundo Paiva e Gonçalves (2002 apud LINDENMAIER, 2013), árvores isoladas ou em pequenos grupos estão presentes em quase todo tecido urbano, incluindo áreas predominantemente edificadas. Essas árvores são cultivadas e mantidas como indivíduos, sendo planejadas para ocuparem o espaço na sua forma dendrológica plena, e a sua arquitetura individual é quase sempre trabalhada para o planejamento. Para os autores, a ação de plantar e cultivar árvores em meio urbano, contempla a noção de indivíduo. A plasticidade, a forma e a função, ou seja, o tipo biológico de cada árvore influenciana ocupação do espaço urbano. Quando se deseja arborizar um espaço qualquer, quase sempre se pensa ao nível de espécies, que em última análise resumem-se a indivíduos. Fonte: http://twixar.me/HLMm. Acesso em: 21 set. 2022. INTERESSANTE 4.1 FATORES QUE AFETAM O DESENVOLVIMENTO DAS ÁRVORES INSERIDAS NO MEIO URBANO Quando comparamos o desenvolvimento de uma árvore em ambiente natural e em ambiente urbano, vemos que diversos fatores influenciam seu pleno desenvolvimento, o que pode causar modificações em sua estrutura. É certo que existem diversas espécies que se adaptaram ao ambiente urbano, e outras que podem se adaptar, no entanto, certos fatores podem ser mais ou menos prejudiciais, tais como: • Compactação do solo – o solo urbano, em geral, encontra-se pavimentado ou asfaltado, além disso, a fundação dos prédios e o seu entorno também recebem operações de terraplanagem que promovem a compactação dos agregados que formam o solo. Devido a isso, as plantas têm seu desenvolvimento prejudicado, em função do crescimento das raízes que pode ser limitado. • Restos de construção e entulhos no subsolo – as construções em áreas urbanas geram muitos resíduos que, diversas vezes, são dispostos de forma totalmente equivocada, causando danos ambientais em locais que poderiam ser melhor aproveitados para a criação de áreas verdes. • Pavimentação – na via, as áreas que correspondem ao leito carroçável e às calçadas são pavimentadas para a melhor circulação de carros e pessoas, no entanto, isso impede que a água das chuvas e o ar penetrem no solo e possam ser absorvidos pelas raízes. • Poluição do ar – o ar na área urbana é composto por partículas em suspensão, que tem sua origem nas indústrias, principalmente aquelas que utilizam madeira para o aquecimento de caldeiras, e nos veículos automotores, que liberam a fumaça pelos escapamentos. Essas partículas encontram as folhas e se aderem a elas na forma de poeira e gotículas de óleo, de forma que recobrem a superfície das folhas obstruindo os estômatos, resultando em dificuldade na respiração e fotossíntese. 181 De acordo com Sousa et al. (2020, p. 3): Os problemas decorrentes da falta de planejamento na arborização urbana podem ser representados por danos causados aos passeios públicos, prejuízos à mobilidade urbana, conflitos com as redes de eletrificação, obstrução da iluminação pública e danos causados às redes de água, esgoto sanitário e edificações. Também a utilização de espécies exóticas pode prejudicar a biodiversidade local. 5 SELEÇÃO DE ESPÉCIES PARA ARBORIZAÇÃO URBANA A escolha das espécies que serão utilizadas para compor os espaços que se destinam à arborização requer, principalmente, conhecimento. Esses conhecimentos se referem aos aspectos botânicos como porte, tipo de caule, formação da copa, tempo de desenvolvimento, período de floração, tipos de frutos, tipos de raízes, além de aspectos fitossanitários, como resistência ao ataque de pragas e de doenças, e tolerância aos níveis de poluição. Outros aspectos importantes se referem às exigências fisiológicas da planta e características de adaptação como a relação com o clima. É importante verificar se a planta apresenta tolerância a baixas ou altas temperaturas, de acordo com a localização da cidade; em qual o tipo de solo ocorre melhor desenvolvimento vegetal; o nível de fertilidade, tipo de textura, nível de compactação e a capacidade do solo de manter a umidade. Dessa forma, é possível observar os fatores que podem influenciar negativamente o crescimento de uma planta. No que versamos sobre árvores que serão colocadas em áreas públicas, especificamente, é preciso estar atento se, na espécie escolhida, há presença de componentes químicos que possam ser tóxicos para seres humanos e animais (alcaloides, glicosídeos, oxalato de cálcio, resinas etc.) e se a espécie é alelopática. No que tange a questões mais paisagísticas, na escolha de espécies também devem ser observados os elementos de comunicação que irão compor, junto aos elementos arquitetônicos, a paisagem. Para isso, devem ser observados: linha, forma, textura e cor. E questões que se referem às exigências quanto ao manejo, como necessidade de rega, quantidade de podas, se as plantas forem colocadas em áreas que possuem calçamento é preciso saber se a espécie é caducifólia, uma vez que a queda das folhas em certas áreas pode se tornar um resíduo problemático. 182 A alelopatia é um tipo de interação bioquímica entre vegetais, considerada uma forma de adaptação química defensiva das plantas, além de ser um fator de estresse ambiental para muitas espécies. Os aleloquímicos, substâncias químicas vegetais que atuam nessa interação, podem ter origem no metabolismo primário, mas em sua maioria são provenientes do metabolismo secundário, destacando-se as saponinas, os taninos e os flavonoides, que apresentam solubilidade em água. Fonte: http://twixar.me/kLMm. Acesso em: 22 set. 2022. INTERESSANTE Na tabela a seguir estão resumidos alguns pontos importantes a serem observados na escolha de espécies. TABELA 7 – ESCOLHA DE ESPÉCIES Critério Razão Origem da espécie botânica É interessante que mudas de espécies nativas sejam preferidas devido a sua adaptação, e dese- jável que haja diversidade das espécies selecio- nadas. Rusticidade É preciso considerar a escolha de espécies adap- tadas às condições edafoclimáticas do local, e, principalmente, adaptadas às condições adversas da área urbana. Além disso, as plantas devem resistência em relação a pragas e doenças porque existem muitas restrições ao uso de agroquímicos na área urbana. Dimensões da planta e formato da copa O local que receberá a árvore deverá ser um espaço amplo e compatível com o formato e a dimensão da copa. Desenvolvimento Espécies pioneiras são vigorosas, de rápido cres- cimento, ciclo de vida curto, frágeis à ação dos ventos. As espécies mais resistentes são lenhosas e estáveis, de desenvolvimento lento. Sistema radicular Devido à presença de calçadas nem sempre é possível destinar um espaço que seja grande o suficiente para as espécies com raízes superfi- ciais, o que pode resultar em danos às calçadas com o crescimento das raízes, sendo preferível a escolha por espécies com raízes pivotantes. 183 Interesses ornamentais em flores e frutos É preciso ter cuidado com o tamanho e a perma- nência das flores na planta, uma vez que flores grandes caídas podem representar um risco de queda aos transeuntes. Também é preciso considerar o perfume exalado, que pode se tornar enjoativo para quem convive com a planta. Plantas produtoras de frutos pesados, volumosos e deiscentes (que se desprendem da planta) além da sujeira nas calçadas, podem representar um risco para os transeuntes. Frutíferas comerciais também devem ser evitadas porque, para produ- zir, necessitam de cuidados especiais e, também, podem causar transtornos àqueles que convivem com a planta. Folhas Em espécies com folhagem decídua, a queda de folhas velhas normalmente ocorre entre o outono e o inverno, o que as torna preferíveis em áreas de clima ameno, que devem ser posicionadas con- forme o sol, para que propiciem sombreamento no verão e aquecimento no inverno. Já em locais de clima quente a preferência é por plantas de folhagem permanente. Toxicidade e agressividade Algumas espécies contêm em suas partes princí- pios tóxicos, efeitos causadores de alergia e mes- mo espinhos ou acúleos que podem, acidental- mente, provocar ferimentos em pessoas e animais domésticos, portanto se deve evitar o cultivo. Fonte: Adaptada de Santos (2019) TABELA 8 – LISTA DE ESPÉCIES QUE PODEM SER UTILIZADAS PARA A ARBORIZAÇÃO DE CALÇADAS Nome científico Nome popular Altura Aspidosperma polyneuron Peroba-rosa 20-30m Astronium fraxinifolium Aroeira-vermelha 8-12m Caesalpinia peltophoroiddes Pata de vaca 7-10m Cariniana estrelensis Jequitibá-branco