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Prova Final - Vitor Gabriel Coelho Santos

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1) O modelo de Crescimento com Causação Circular Cumulativa e as “Contradições da Industrialização na Periferia”, pensadas em termos da realidade brasileira atual.
O seguinte ensaio trata do desenvolvimento econômico de economias periféricas que se condicionam a exportação, normalmente com especialização em setores primários, o que se encaixa no modelo de crescimento com Causação Circular que, conforme será explicado, identifica a exportação como principal fator do desenvolvimento que, por sua vez, tende a especialização do setor exportador. Dado a contradição da industrialização da periferia, por causa da estrutura voltada a exportação, o desenvolvimento industrial se vê limitado pela focalização de recursos nos setores primários. Com a perspectiva de desenvolvimento do Brasil, ainda com a dificuldade em desenvolver a industrialização e focalização evidente no agronegócio, entende-se a necessidade de ampliar os esforços na consolidação de uma indústria estratégica, promovendo maior desenvolvimento em setores industriais e de bens 
com alto valor agregado.
O Modelo de Causação Cumulativa Kaldor-Dixon-Thirwall descreve o crescimento da economia liderado pelas exportações. O modelo é complementado com a função de demanda por exportações, além da lei de Verdoorn que identifica a regularidade da associação entre a taxa de crescimento do produto e a taxa de crescimento da produtividade. O modelo mencionado é descrito pela equação (6) do texto “Modelos Kaldorianos de Crescimento e suas Extensões Contemporâneas”, de autoria conjunta de Gustavo Brito e João Prates Romero.
Conforme evidenciado no texto de Gustavo Brito e João Romero, o impacto do coeficiente de Verdoorn sobre o crescimento do produto é mais aparente quando um país obtém uma vantagem na produção de bens com maior elasticidade renda da demanda; bens que são comumente produzidos no setor industrial, caracterizado por rendimentos crescentes de escala. Interpretando o modelo de exportação baseado na lei de Verdoorn, temos que, para um país em expansão focada no setor de exportação, pode existir a especialização na produção de produtos para a exportação, o que eleva o nível de produtividade e de habilidades centralizada no setor direcionado a exportação. Isso pode levar a uma realocação dos recursos do setor menos eficiente e de pouco comércio para o setor mais produtivo e focado na exportação. Essa mudança na produtividade pode então levar a expansão das exportações pelo crescimento do produto.
Quanto ao estruturalismo referente ao desenvolvimento da América Latina, têm-se uma linha de raciocínio que explora o subdesenvolvimento sujeito a tendências estruturais no sentido da dinâmica das estruturas produtivas das economias centrais incorporada nas condições de desenvolvimento das economias periféricas. Do ponto de vista organizacional, os centros são onde as técnicas capitalistas de produção penetram primeiro, enquanto as periferias são constituídas por economias cuja produção permanece inicialmente atrasada. De forma prática, os centros são os polos industriais de produção de bens com valor agregado, enquanto as periferias são caracterizadas como produtoras de bens primários, com lento processo de industrialização devido ao atraso inicial.
Na periferia, as novas técnicas são implantadas nos setores exportadores de produtos primários e em algumas atividades diretamente relacionadas com a exportação, as quais passam a coexistir com setores atrasados. No que tange o “desenvolvimento para fora” focado na exportação, a estrutura produtiva da periferia adquire dois traços fundamentais: o caráter especializador que foca na ampliação do setor exportador de produtos primários e o caráter heterogêneo no sentido de que coexistem setores com níveis de produtividade muito distintos.
Dado o papel que coube as economias periféricas desempenhar no desenvolvimento da economia mundial, se caracterizam por condicionar seu crescimento às exportações, se especificando nos setores primário, desalocando recursos de outros setores e limitando dessa forma seu desenvolvimento e crescimento da produtividade.
Em retrospectiva, no modelo onde o crescimento é liderado pela exportação, tem-se a interseção entre as teorias do estruturalismo e do crescimento com causação circular cumulativa. O modelo de causação cumulativa explica a especialização de economia, baseado no crescimento liderado por exportações. Como pontuado na teoria estruturalista latino-americano, as economias periféricas, focadas no desenvolvimento para fora, se especializam nos setores primários que visam a exportação. A especialização inicial e o padrão de industrialização gerado sobre essa base trazem consigo um ritmo de progresso técnico mais lento na periferia, de modo que as possibilidades de complexar a estrutura industrial são limitadas.
Um exemplo dessa especialização é o Brasil, que foca suas exportações em setores primários como o agro e pratica especialização de tecnologias e outros setores complementares a produção deste. No entanto, dado a situação atual da globalização, existe-se uma alta dependência de semicondutores (produto industrializado de alto valor agregado) em todos os setores da economia. A indústria de semicondutores se encontra principalmente nos países de centro. Dado as dificuldades estruturais, o Brasil falhou em desenvolver esse tipo de tecnologia, focando na produção de bens primários para a exportação, o que tornou lento o desenvolvimento de outras indústrias. Como consequência, existe uma grande dependência da produção internacional de semicondutores que foi posta em xeque durante os eventos dos últimos anos (como a pandemia) que geraram instabilidade no cenário econômico. Com isso, a oferta de semicondutores por parte dos países de centro diminuiu, enquanto a demanda mundial aumentou. O resultado foi uma escassez de semicondutores por parte de países periféricos, como o Brasil, que não possuem a indústria desenvolvida para produção de tal (consequência da especialização e heterogeneidade).
A partir das circunstâncias destacadas, tem-se uma limitação quanto ao desenvolvimento do Brasil. A especialização em produtos primários para a exportação traz consigo uma dificuldade estrutural em desenvolver rapidamente a indústria, situação característica de países periféricos. Dessa forma, tem-se o debate a cerca da distribuição dos recursos, promovendo um desenvolvimento menos focalizado, quebrando a dependência com as cadeias globais de bens de valor agregado. No Brasil, a discussão se tornou relevante frente a escassez de semicondutores. O ministério da economia, em conjunto com empresários industriais e universidades, estão desenvolvendo um projeto para que o Brasil possua uma indústria de semicondutores. Assim, percebe-se a relevância da autonomia que os países de centro possuem em relação à produção de produtos estratégico e de alto valor agregado, que beneficia o desenvolvimento.

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