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Intoxicação por Baccharis coridifolia em bovinos

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Intoxicação por Baccharis coridifolia em bovinos 
 
Doenças de bovinos 
Laboratório de Patologia Veterinária, Departamento de Patologia, 
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil. 
http://www.ufsm.br/lpv
 
 
Histórico e sinais clínicos 
 
Em meados de setembro de 2004, 151 novilhas de 1 ano de idade foram transportadas de 
caminhão de uma pastagem cultivada com aveia e azevém para outro local. A viagem 
durou aproximadamente 90 minutos, e as novilhas foram soltas em um piquete de 11 ha, 
onde pernoitaram; havia água à vontade, mas a pastagem era escassa. Os animais ficaram 
no local por 15 a 20 horas, quando novamente foram transportados, por aproximadamente 
uma hora, até uma invernada de 350 ha localizada em outro município. Nessa invernada 
havia uma população de 94 novilhas (79 de 3 anos e 15 de 2 anos de idade). Os bovinos 
foram observados novamente 36 horas após terem sido introduzidos na invernada de 350 
ha, quando 19 novilhas foram encontradas mortas. Nas 24 horas seguintes, mais 13 
novilhas morreram. A identificação pelos brincos revelou que apenas as novilhas de um 
ano, recentemente introduzidas na propriedade, foram afetadas. O campo estava altamente 
infestado por Baccharis coridifolia (Fig. 1). 
 
 
 
Fig. 1. Espécime de Baccharis coridifolia. 
 
 
 
http://www.ufsm.br/lpv
 
Achados de necropsia e histopatologia 
 
Os achados de necropsia incluíam desidratação, grande volume de conteúdo líquido no 
rúmen e vários graus de avermelhamento, edema e erosões na mucosa dos pré-estômagos, 
principalmente rúmen (Fig. 2) e retículo. Em dois bovinos foi observada hiperemia da 
mucosa do abomaso (Fig. 3) e intestino e, em um caso, o conteúdo intestinal estava tingido 
de sangue. Os linfonodos mesentéricos estavam intumescidos, úmidos e vermelhos. As 
lesões histológicas incluíam alterações degenerativas e necróticas no revestimento epitelial 
do rúmen (Fig. 4) e retículo em todos os casos e necrose de folículos linfóides de 
linfonodos e nos nódulos linfóides da polpa branca do baço (Fig. 5). 
 
 
Fig. 2. Intoxicação por Baccharis coridifolia em bovino. Hiperemia da mucosa do rúmen. 
 
 
Fig. 3. Intoxicação por Baccharis coridifolia em bovino. Avermelhamento da mucosa do 
abomaso. 
 
 
Fig. 4. Intoxicação por Baccharis coridifolia em bovino. Necrose do epitélio de 
revestimento do rúmen. 
 
 
 
Fig. 5. Intoxicação por Baccharis coridifolia em bovino. Necrose de linfócitos na polpa 
branca do baço. 
 
Diagnóstico final 
 
Intoxicação por B. coridifolia (“mio-mio”). 
 
 
Comentários 
 
B. coridifolia é uma das plantas tóxicas mais conhecidas no sul do Brasil. Ocorre também 
em São Paulo, em grandes áreas do Uruguai, norte da Argentina e Paraguai. No Brasil a 
planta é popularmente conhecida como mio-mio e nos países de língua espanhola como 
romerillo. A intoxicação espontânea afeta principalmente bovinos, menos freqüentemente 
ovinos e raramente eqüinos. Tem sido reproduzida experimentalmente em várias espécies 
incluindo bovinos, ovinos eqüinos e coelhos. As lesões induzidas por B. coridifolia são 
principalmente confinadas ao trato gastrintestinal. Embora a planta seja mais tóxica 
durante a floração (outono), a intoxicação espontânea ocorre todo o ano. Doses de 0,25-
0,50 g/kg da planta verde em floração podem causar a morte de bovinos. No período de 
brotação, 2g/kg são necessários para o mesmo efeito. De acordo com esse dado, a 
concentração de princípio tóxico é 4-8 vezes maior no período de floração. Quando secada, 
B. coridifolia retém cerca de 50% de sua toxidez por, pelo menos, 17 meses. Vários fatores 
influenciam o aparecimento da intoxicação por B. coridifolia. Bovinos que são criados em 
pastagens onde existe B. coridifolia, raramente, ou nunca, consomem a planta. 
Tipicamente a toxicose ocorre quando animais que desconhecem a planta (criados em 
pastagens livres de B. coridifolia) são transferidos para pastos infestados por mio-mio. Os 
riscos da toxicose aumentam consideravelmente se, quando transportados, os animais são 
submetidos a fatores estressantes como fadiga, fome ou sede. A intoxicação tem sido 
relatada também em cordeiros lactentes no primeiro mês de vida, quando começam a 
pastar. 
 
A intoxicação por mio-mio em bovinos é uma doença aguda. Os sinais iniciam 5-30 horas 
após a ingestão da planta e as mortes ocorrem 3-23 horas após o início dos sinais clínicos. 
Os sinais clínicos consistem de anorexia, timpanismo discreto ou moderado, instabilidade 
dos membros pélvicos, tremores musculares, focinho seco, corrimento ocular seroso, fezes 
secas ou diarréia, salivação excessiva, sede, respiração rápida e trabalhosa, taquicardia e 
inquietude. 
 
Os achados de necropsia são principalmente associados ao trato gastrintestinal e consistem 
de graus variáveis de avermelhamento, edema e erosões da mucosa dos pré-estômagos. A 
mucosa do abomaso e intestinos pode estar hiperêmica e com petéquias. O conteúdo do 
rúmen e do intestino é freqüentemente líquido. As lesões microscópicas consistem de 
alterações necróticas no revestimento epitelial dos pré-estômagos (principalmente rúmen e 
retículo) e necrose do tecido linfóide. 
 
Todas as partes de B. coridifolia são tóxicas. Flores e sementes contêm a maior 
concentração dos princípios tóxicos que são tricotecenos macrocíclicos (roridinas A e E, 
miotoxinas A, B, C e D, miofitocenos A e B e verrucarol). Esses tricotecenos são 
provavelmente produzidos por fungos do gênero Myrothecium (principalmente M. roridum 
e M. verrucaria) que crescem no solo na rizosfera da planta. Experimentos com B. 
coridifolia em coelhos e bovinos sugerem que o espécime feminino da planta seja muito 
 
mais tóxico e isso tem sido confirmado pela análise química de exemplares masculinos e 
femininos de B. coridifolia. 
 
No diagnóstico da intoxicação por mio-mio são mais importantes os dados 
epidemiológicos (i.é, doença com evolução aguda e morte em bovinos trazidos de zonas 
indenes introduzidos em campos infetados pela planta) e os históricos clínicos do que o 
diagnóstico etiológico. No entanto, o material a ser colhido da necropsia e fixado em 
formol a 10% para confirmação histológica da suspeita clínica deve incluir rúmen, 
linfonodos mesentéricos e baço. 
 
 
Leia mais sobre essa doença: 
 
Barros C.S.L. 1993. Intoxicação por Baccharis coridifolia, p.159-169. In: Riet-Correa F., 
Méndez M.C. & Schild A.L. (ed.) Intoxicação por Plantas e Micotoxicoses em Animais 
Domésticos. Editora Hemisfério Sul, Pelotas. 340p. 
 
Barros C.S.L. 1998. Livestock poisoning by Baccharis coridifolia, Cap. 111, p. 569-572. 
In Garland T, Barr AC (ed.). Toxic Plants and Other Natural Toxicants. Wallingford, 
Inglaterra: Cab International 576p. 
 
Rissi D. R., Rech R.R., Fighera R.A., Cagnini D. Q., Kommers G.D.& Barros C.S.L. 2005. 
Intoxicação espontânea por Baccaris coridifolia em bovinos. Pesq. Vet. Bras. 25:111-114. 
 
Varaschin M.S., Barros C.S.L. & Jarvis B.B. 1998. Intoxicação experimental por 
Baccharis coridifolia (Compositae) em bovinos. Pesq Vet Bras 18:69-75. 
 
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