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Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS LEGISLAÇÃO AMBIENTAL E UNIDADES DE CONSERVAÇÃO Autor: Nicolau Cardoso Neto CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Profa. Cláudia Regina Pinto Michelli Profa. Erika de Paula Alves Revisão de Conteúdo: Daniela Viviani e Rosimar Bizello Müller Revisão Gramatical: Iara de Oliveira Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci Copyright © Editora Grupo UNIASSELVI 2009 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 574.5 N46991 Neto, Nicolau Cardoso. Legislação Ambiental e Unidades de Conservação/ Nicolau Cardoso Neto. Centro Universitário Leonardo da Vinci. - Indaial : Grupo UNIASSELVI. 2009.x: 118 p. : il. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-215-3 1. Meio Ambiente 2. Ecologia I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título Possui graduação em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI (2001), especialização em Planejamento Turístico, Gestão e Marketing pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI (2003), especialização em Direito Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC (2006) e mestrado em Engenharia Ambiental pela Fundação Universidade Regional de Blumenau – FURB (2008). Atualmente é professor de Política, Legislação Ambiental de Requisitos Legais Aplicados e Gestão de Recursos Hídricos.Também leciona a disciplina de Direito Ambiental Aplicado. Tem experiência na área de Direito Ambiental, Direito Coletivos e Difusos, Gestão de Recursos Hídricos e Legislação de Recursos Hídricos. Realiza pesquisa para a Fundação Agência de Água do Vale do Itajaí – FAAVI, nas linhas de Pesquisa de Política Ambiental Municipal e Gestão de Recursos Hídricos. Publicou o capítulo “Uma análise do impacto da sociedade de risco na biodiversidade da bacia hidrográfica do Rio Itajaí através do exame de jurisprudências do Estado de Santa Catarina”, no livro organizado por José Rubens Morato Leite, intitulado Aspectos destacados da Lei de Biossegurança na Sociedade de Risco. Dentre outros artigos em eventos científicos, destacam-se: A Concretização dos princípios da participação e da responsabilização na práxis penal- ambiental: estudo de caso, Comarca de Pomerode/ SC; Os Conflitos de uso dos recursos ambientais: um reflexo da sociedade de risco e Legislação Ambiental Urbana: Estudo dos Instrumentos de controle das áreas naturais do município de Florianópolis em Santa Catarina. Nicolau Cardoso Neto Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................ 7 CAPÍTULO 1 Introdução ao Direito – Noções Básicas .................................. 9 CAPÍTULO 2 Introdução ao Direito Ambiental .............................................. 21 CAPÍTULO 3 Introdução à Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA ........................................................... 47 CAPÍTULO 4 Responsabilização Ambiental e Lei dos Crimes Ambientais ........................................................... 67 CAPÍTULO 5 Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC ................................................................... 85 APRESENTAÇÃO Neste caderno de estudo será apresentada a disciplina Legislação Ambiental e Unidades de Conservação, para tanto foi definido um plano de desenvolvimento que procura traçar uma linha bem delineada sobre o assunto. Tratar sobre esse tema é uma tarefa que necessita de toda uma base conceitual sobre noções fundamentais de Direito, pois não podemos estudar o que é Direito Ambiental sem antes compreendermos o que é o Direito e quais são suas fontes. Este ponto será apresentado no primeiro capítulo. Depois de termos um primeiro contato com a ciência do direito, o segundo capítulo irá apresentar a evolução histórica do ambientalismo no mundo, assim como a história do Direito Ambiental no Brasil. A contextualização histórica é necessária para compreendermos como ocorreu a evolução da construção do aparato legal ambiental brasileiro. A importância de estudar a base constitucional e os princípios fundamentais se comprova no momento em que o terceiro capítulo apresenta a Política Nacional do Meio Ambiente, pois esta utiliza tais bases, além da demanda social, para fundamentar a necessidade da formulação de lei que institua uma base política ambiental para o país. Mas de nada adiantaria toda uma base fundamental para a criação de uma política nacional se não existissem formas de comando e controle. Neste sentido, o quarto capítulo traz o assunto da responsabilização ambiental e analisa a responsabilidade jurídica tripla do direito ambiental brasileiro. O caderno finaliza com o quinto capítulo que apresenta o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, instituído pela Lei nº 9.985/00. Todas estas conexões de apoio legal para a construção de uma Política Nacional de Meio Ambiente, enfatizando as leis que oferecem elementos para a responsabilização ambiental e proteção de áreas de especial interesse, são subsídios para que todos tenham direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, devendo o Poder Público e a coletividade defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. O autor. CAPÍTULO 1 Introdução ao Direito - Noções Básicas A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 9 Saber a conceituação e a noção de Direito. 9 Compreender o que é Direito. 9 Analisar o que é Direito. 10 Legislação ambiental e unidades de conservação 11 Introdução ao Direito - Noções BásicasCapítulo 1 Contextualização Antes de começarmos a estudar o tema da disciplina, Legislação Ambiental e Unidades de Conservação, é necessário dialogarmos sobre o que é direito. A intenção é possibilitar que você compreenda o que é e como a matéria ambiental se relaciona com a Ciência Jurídica. Neste sentido, o primeiro capítulo traz a conceituação e uma noção básica de direito. Tratar sobre Legislação Ambiental e Unidades de Conservação sem antes esboçar a teoria do direito seria semelhante à tentativa de aplicar uma prova objetiva a uma pessoa que ainda não sabe ler e nem interpretar. Para tanto, é necessário estudarmos alguns conceitos e significados, a começar pelo termo ‘direito’. Esta é a primeira questão que teremos que responder no nosso estudo. Ademais, este capítulo também irá trabalhar questões como: Teoria, Fontes e Divisão do Direito. O Que é Direito? Se procurarmos pelo significado do termo ‘direito’ no dicionário, encontraremos a seguinte conceituação: “O que é justo, conforme a lei. Faculdade legal de praticar ou não praticar um ato. Prerrogativa que alguém tem de exigir de outrem, em seu proveito, a prática ou abstenção de algum ato. O conjunto das normas jurídicas vigentes num país.” (FERREIRA, 1999). O significado da palavra já nos remete a algumas demandas legais, pois cita questões como justiça, a possibilidade de fazer ou não fazer, a oportunidade de exigência, além da esperança de ser um conjunto de normas vigentes. A definição oferecida pelo dicionário, para a palavra direito, além de conceituar o significado da palavra, também apresenta a conceituação legal do termo. Tanto que estas afirmações podem ser identificadas na Constituição Federal de 1988 – CF/88, no seu artigo 5º, inciso II: “Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtudede lei”. A afirmação da CF/88 é conhecida como o princípio da legalidade, que representa uma garantia para o cidadão, pois qualquer ato da Administração Pública somente terá validade se respaldado em lei. Representa, ainda, um limite Antes de começarmos a estudar o tema da disciplina, Legislação Ambiental e Unidades de Conservação, é necessário dialogarmos sobre o que é direito. Direito. O que é justo, conforme a lei. Faculdade legal de praticar ou não praticar um ato. Prerrogativa que alguém tem de exigir de outrem, em seu proveito, a prática ou abstenção de algum ato. O conjunto das normas jurídicas vigentes num país.” (FERREIRA, 1999). 12 Legislação ambiental e unidades de conservação para a atuação do Estado, visando à proteção em relação ao abuso de poder. Da mesma forma, limita a liberdade e os atos do cidadão, pois o direito regulamenta o que as pessoas e o Estado podem ou não fazer. Se não houver previsão legal, ainda assim a possibilidade de se fazer ou não exige prudência e responsabilidade. Por falar em Constituição Federal, você já leu alguma vez este documento? Esta é a chance que você tem para acessar a Constituição e saber o que ela prevê como direitos e obrigações dos cidadãos brasileiros. Este documento é considerado a lei maior do Brasil. Entre no site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Constituicao Compilado.htmt e leia pelo menos os cinco primeiros artigos, pois eles fazem menção aos princípios fundamentais, aos direitos e aos deveres individuais e coletivos de cada cidadão brasileiro. Teoria do Direito Como apontado por Ferreira (1999), a palavra ‘direito’ pode ser utilizada em diferentes contextos, mas para a Ciência do Direito o termo é compreendido e analisado em três sentidos (GUSMÃO, 1990): - Regra de conduta obrigatória - Direito Objetivo. - Faculdade ou poderes que tem ou pode ter uma pessoa - Direito Subjetivo. - Sistema de conhecimentos jurídicos - Ciência do Direito. a) Direito Objetivo Podemos compreender por Direito Objetivo a consideração normativa do direito, ou seja, o direito expresso através de normas obrigatórias. Portanto, o Direito Objetivo somente é vislumbrado quando apontado por intermédio de normas escritas. Se não houver previsão legal, não existe obrigação de fazer ou não fazer. (GUSMÃO, 1990). O conceito trazido por Ferreira (1999) já identifica o Direito Objetivo a partir Por falar em Constituição Federal, você já leu alguma vez este documento? O Direito Objetivo somente é vislumbrado quando apontado por intermédio de normas escritas. Se não houver previsão legal, não existe obrigação de fazer ou não fazer. (GUSMÃO, 1990). 13 Introdução ao Direito - Noções BásicasCapítulo 1 do momento em que expõe o ideal de justo por meio da previsão legal. Da mesma forma, quando indica como “faculdade legal” de praticar ou não um ato, pois direciona a capacidade de alguém à previsão legal. Dentre os conceitos de ‘direito’ apontados por Ferreira (1999), o que mais expressa o Direito Objetivo é a afirmação de que o significado da palavra direito é expresso pela seguinte conceituação: “O conjunto das normas jurídicas vigentes num país”. Esta afirmação conduz o termo direito às regras legais, ou seja, ao Direito Objetivo. b) Direito Subjetivo O Direito Subjetivo pode ser compreendido como a prerrogativa que uma pessoa possui para executar certo ato ou obrigação, é a garantia ou direito que uma pessoa tem de exigir de outra ou do Estado direito reconhecido. O Direito Subjetivo é a faculdade assegurada pela ordem jurídica de exigir determinada conduta. Ultrapassa a objetividade do direito, ou seja, é a execução de garantia ou obrigação de uma pessoa para com direito seu. (GUSMÃO, 1990) A conceituação de Ferreira (1999) expõe o Direito Subjetivo a partir da seguinte redação: “Prerrogativa que alguém tem de exigir de outrem, em seu proveito, a prática ou abstenção de algum ato”, pois condiciona o direito ao interesse de alguém exigir, se este não quiser a obtenção de seu direito, a liberdade de não solicitar. O Direito Subjetivo pode ser afirmado como sendo a execução do Direito Objetivo, pois é a partir dele que as relações passam a ser analisadas e apoiadas no conjunto de normas jurídicas vigentes em um país, são nas leis que os direitos das pessoas se amparam. c) Ciência do Direito O Direito também pode ser apontado como uma ciência, pois estuda as relações, causas e consequências das leis ou de sua inexistência. Se não houvesse este estudo, o direito seria uma teoria fechada e imposta como verdade, sem que houvesse a possibilidade de discussão e defesa dos direitos individuais e coletivos. A Ciência do Direito proporciona a evolução das teorias do direito, nas quais o estudo, a execução, a discussão e a interpretação das normas possibilitam o enriquecimento e a adequação de novos direitos à Ciência do Direito. Podemos citar como exemplo, o Direito Ambiental, que possui pouco mais de vinte anos, sendo, portanto, um ramo do O Direito Subjetivo é a faculdade assegurada pela ordem jurídica de exigir determinada conduta. Estudo metódico das normas jurídicas com o objetivo de descobrir o significado objetivo das mesmas e de construir o sistema jurídico, bem como de estabelecer as suas raízes sociais e históricas. 14 Legislação ambiental e unidades de conservação direito muito recente. Para reforçar o que é Ciência do Direito, citaremos o conceito de Gusmão (1990, p.17): “Estudo metódico das normas jurídicas com o objetivo de descobrir o significado objetivo das mesmas e de construir o sistema jurídico, bem como de estabelecer as suas raízes sociais e históricas”. Você pode perceber que a conceituação de Gusmão afirma que a Ciência do Direito é o estudo das normas, que possui como intenção estudar as normas e possibilitar a construção de um sistema jurídico. Então, seguindo esta lógica, nós podemos afirmar que estamos, por intermédio deste caderno, construindo Ciência do Direito, pois estamos estudando a relação do Direito com o Meio Ambiente. Atividade de Estudos: 1) Aponte a principal diferença entre Direito Objetivo, Direito Subjetivo e Ciência do Direito. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Fontes do Direito Verificamos até agora que somente existe obrigação de se fazer ou não quando previsto em lei. Estas obrigações, definidas pelo Direito Objetivo e estudadas pela Ciência do Direito, possibilitam às pessoas a demanda de seus direitos, Direito Subjetivo. Para que possamos compreender como acontece a relação de definição do 15 Introdução ao Direito - Noções BásicasCapítulo 1 que é ou não direito, devemos examinar e identificar quais foram as fontes que asseguraram e demandaram estes direitos. Neste sentido, passaremos a estudar quais são as fontes do direito. a) Fontes materiais e formais do direito Como você pode perceber, a Ciência do Direito estuda a relação existente entre as pessoas e seus bens com as normas e tem como intenção estabelecer um sistema jurídico. Para tanto, é necessário que exista uma demanda de situações,fatos, fontes de informação e conteúdo, oferecendo subsídios para a pesquisa e estruturação da Ciência do Direito. Neste sentido, podemos dizer que o direito possui duas fontes, a Material e a Formal. Podemos afirmar como Fontes Materiais aquelas identificadas pelas demandas sociais e pelos elementos extraídos da realidade social, das tradições e dos ideais dominantes, que contribuem para formar o conteúdo ou a matéria das regras jurídicas que serão previstas pelo Direito Objetivo. (GUSMÃO, 1990) Você compreenderá melhor o conceito de Fontes Materiais por intermédio do seguinte exemplo: antes de o Código Penal apontar como crime uma pessoa matar outra, toda a sociedade respeitava a regra de convívio social e não saia matando uns aos outros, salvo exceções, pois crimes aconteciam. Então, a Ciência do Direito, escutando a demanda social por um controle dos crimes, anunciou como crime o ato de matar alguém e definiu punição para quem não o respeitasse. As Fontes Materiais são diferentes do Direito Subjetivo, pois trazem para a Ciência do Direito o conteúdo a ser disciplinado, como as demandas sociais e as regras disciplinares pela moral e pelos costumes, estas ainda não possuem previsão legal, ou seja, não foram escritas e determinadas como Direito Objetivo (leis, normas). No caso do Direito Subjetivo a previsão legal já existe. Já as previsões legais são as Fontes Formais do direito, são os meios de conhecimento e expressão do direito. São as leis, decretos, resoluções escritas e em vigência. Todas as leis que estejam em atuação no ordenamento jurídico nacional são Fontes Formais do direito, também conhecidas como Fontes Estatais. Podemos afirmar como Fontes Materiais aquelas identificadas pelas demandas sociais e pelos elementos extraídos da realidade social, das tradições e dos ideais dominantes, que contribuem para formar o conteúdo ou a matéria das regras jurídicas que serão previstas pelo Direito Objetivo. (GUSMÃO, 1990) As previsões legais são as Fontes Formais do direito, são os meios de conhecimento e expressão do direito. 16 Legislação ambiental e unidades de conservação Fontes Estatais do Direito As Fontes Estatais são constituídas de textos que possibilitam o conhecimento do direito. Podemos citar as seguintes normas escritas como exemplos de Fontes Estatais: a) Constituição – é a norma maior de toda a ordem jurídica estatal, a constituição oferece subsídios para a validação de todo direito do Estado e nela estão definidas todas as regras do processo de criação do direito. É a fonte principal do direito do Estado, a lei fundamental a qual devem se adaptar todas as demais leis, pois se com ela conflitarem serão inconstitucionais. Como lei fundamental, organiza a estrutura do Estado e de Governo, bem como ordena os direitos individuais, que devem ser respeitados pelo poder público e pela coletividade, prevendo para tal fim procedimentos eficazes e eficientes. b) Lei – é norma escrita, geral e permanente, garantida pelo poder público, aplicável por órgãos do Estado enquanto não revogada. Diz- se que é permanente, pois enquanto não for revogada tem validade. A Lei é formulada pelo Legislativo (Câmaras e Senado) sancionada e promulgada pelo Executivo (Presidente, Governador, Prefeito). Em seu processo de formação, passa por várias fases estabelecidas na Constituição, esta tramitação é conhecida como Processo Legislativo e tem as seguintes fases: a iniciativa da Lei, discussão, votação, aprovação, sanção, promulgação, publicação e a vigência da Lei. c) Regulamento – é uma norma jurídica procedente exclusivamente da Administração, em virtude de uma atribuição constitucional de poderes. Em sentido amplo, são internos ou administrativos. Como exemplo de regulamento, podemos citar os regulamentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA ou da Agência Nacional de Telecomunicações – ANATEL. Em ambos você irá descobrir regulamentos sobre matérias específicas, como, por exemplo, citam- se dois casos da ANVISA: quando disciplina o uso de transgênicos e quando indica as boas práticas em lanchonetes e restaurantes. O regulamento é utilizado para determinar parâmetros que não necessitariam de regulamentação em lei. A intenção é facilitar a disciplina de questões pontuais sem a necessidade de tramitação em processo legislativo. Constituição é a norma maior de toda a ordem jurídica estatal. Lei – é norma escrita, geral e permanente, garantida pelo poder público, aplicável por órgãos do Estado enquanto não revogada. Regulamento – é uma norma jurídica procedente exclusivamente da Administração, em virtude de uma atribuição constitucional de poderes. 17 Introdução ao Direito - Noções BásicasCapítulo 1 d) Decreto – é um ato administrativo de competência do chefe do Poder Executivo (Presidente, Governador e Prefeito), possui força de lei e vale como lei. Usualmente são utilizados para regulamentar lei, pois uma lei pode determinar, de forma geral, o direito a ser seguido, exigindo, para tanto, que a matéria seja regulamentada por decreto. Podemos citar a Lei da Mata Atlântica (Lei nº 11.284/2006), que foi regulamentada pelo Decreto nº 6.063/2007. Um decreto também pode ser utilizado pelo chefe do poder executivo para fazer nomeações de pessoas que assumem cargos comissionados. e) Medida Provisória – é um ato normativo editado pelo Presidente da República, tem força de lei, mas não é verdadeiramente uma lei, pois não passou por processo legislativo prévio para sua formação. O Presidente da República pode baixar Medida Provisória havendo extraordinária urgência e necessidade, cuja eficácia cessa retroativamente, se não aprovada pelo Congresso Nacional. Tem validade de sessenta dias, prorrogável por mais sessenta dias. Após este prazo, se o Congresso Nacional não aprová-la, convertendo-a em lei, perde sua eficácia. A extraordinária urgência deve ser justificada pela necessidade de atuação frente à ordem econômica e financeira, pela paz social ou pela ordem e segurança pública. (Art.62 CF/88). A seguir, é apresentada uma figura com um esboço da estrutura legal, em que é possível perceber a hierarquia das Fontes Estatais legais. A intenção da ilustração é mostrar para você que da mesma forma que existe hierarquia de poderes entres os Poderes Legislativo e Executivo, existe entre as leis, pois todas têm sua previsão determinada na constituição. Figura 1 - Estrutura Legal Poder Legislativo Poder Judiciário Poder Executivo Constituição Federal Leis Decretos Resoluções Normas Primárias Normas Secundárias Fonte: O autor. Medida Provisória é um ato normativo editado pelo Presidente da República, tem força de lei, mas não é verdadeiramente uma lei, pois não passou por processo legislativo prévio para sua formação. Decreto – é um ato administrativo de competência do chefe do Poder Executivo, possui força de lei e vale como lei. 18 Legislação ambiental e unidades de conservação Fontes Infraestatais Compreendem-se como fontes infraestatais aquelas não previstas em lei, mas que podem ser estabelecidas em virtude delas. Estas fontes envolvem um conjunto de decisões dos tribunais, conhecidas como jurisprudência, e a construção de conhecimento por meio das doutrinas. a) Jurisprudência É o conjunto uniforme e constante de decisões judiciais proferidas num mesmo sentido sobre uma dada matéria e proveniente de tribunais da mesma instância ou de uma instância superior, ou seja, de soluções dadas pelas decisões dos tribunais sobre determinadas matérias. Pode ser compreendida como o estudo das tomadas de decisões (a análise da fundamentação dada nas decisões judiciais). É o conjunto de regras ou princípios jurídicos extraídos de decisões judiciais constantes e uniformes. Esta constância nas decisões expõe a tendência dos resultados dos processos. b) Doutrina Já a Doutrina, pode ser compreendidacomo o conjunto de soluções jurídicas contidas nas obras, livros de autores que escrevem sobre matérias jurídicas. Não é fonte imediata de direito, só indiretamente contribui para a formação do direito, não só sugerindo reformas aos legisladores como também originando uma interpretação comum, usual do direito. Não é semelhante ao Direito Objetivo, já que as doutrinas são interpretações e estudos de pesquisadores sobre a Ciência do Direito. Logo, servem de apoio e fundamentação para a construção do saber técnico e científico sobre o Direito. Divisão do Direito Tradicionalmente o direito se divide em duas categorias: Direito Público e Direito Privado. O primeiro regulamenta relações em que predominam o interesse público, o segundo, por sua vez, as relações entre particulares. Existe a possibilidade destas categorias não conseguirem distinguir a matéria, podendo haver confusão na separação das duas, impossibilitando a divisão em A Doutrina pode ser compreendida como o conjunto de soluções jurídicas contidas nas obras, livros de autores que escrevem sobre matérias jurídicas. É o conjunto uniforme e constante de decisões judiciais proferidas num mesmo sentido sobre uma dada matéria e proveniente de tribunais da mesma instância ou de uma instância superior. Compreendem- se como fontes infraestatais aquelas não previstas em lei, mas que podem ser estabelecidas em virtude delas. 19 Introdução ao Direito - Noções BásicasCapítulo 1 uma ou outra. Nesses casos, caracterizam-se como Direito Misto, representado costumeiramente pelos direitos de família, trabalho e consumidor. Mas não são somente estes os ramos do direito, existem, ainda, os novos direitos caracterizados pelos Direitos Coletivos e Direito Difuso. Os primeiros são aqueles relacionados a um determinado grupo de pessoas que possuem as mesmas prerrogativas. Exemplo: moradores de um bairro, pescadores de uma mesma comunidade. Já o Direito Difuso se caracteriza como um direito transindividual, com objeto indivisível, titularidade indeterminada e interligada por circunstâncias de fato. São aqueles que transcendem o indivíduo, ultrapassando o limite da esfera de direitos e obrigações de cunho individual. a) Direito Público É a parte do direito em que predomina o interesse público. O Estado é protetor da ordem e paz social, sendo parte obrigatória. Os ramos do Direito Público: constitucional, administrativo, tributário, processual, penal, eleitoral, político, entre outros. b) Direito Privado É o ramo em que predomina o interesse privado, em que os interesses pessoais são tutelados. Representado principalmente pelo direito civil e pelo direito comercial. Atividade de Estudos: 1) Esquematize e conceitue quais são as fontes do direito. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ É a parte do direito em que predomina o interesse público. É o ramo em que predomina o interesse privado. 20 Legislação ambiental e unidades de conservação Algumas Considerações A intenção deste primeiro capítulo era proporcionar a você um primeiro contato com o que é Direito, para isso foi exposto o conceito de direito objetivo, subjetivo e a ciência do direito, além das suas fontes. Todo este desenho do significado do direito procurou vencer o primeiro objetivo da disciplina que é fazer com que você saiba o significado conceitual e uma noção de Direito. Este primeiro esforço procura fazer com que você compreenda o que é Direito. A necessidade por este conhecimento é base para a compreensão do que é Direito Ambiental. Como iríamos discutir este ramo do direito se não compreendêssemos o que é direito? Neste sentido, o próximo capítulo está estruturado e organizado de forma a introduzirmos o Direito Ambiental, suas competências e princípios. Referências BRASIL. Lei 10.257, de 10 de julho de 2001. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 11 jul. 2001. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LEIS_2001/L10257.htm>. Acesso em: 02 ago. 2009. ______. Constituição da República Federativa do Brasileira, Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 05 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm> Acesso em: 4 maio 2009. GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1990. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio – Século XXI. São Paulo: Editora Nova Fronteira, 1999. CAPÍTULO 2 Introdução ao Direito Ambiental A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 9 Compreender a evolução do direito ambiental no Brasil. 9 Identificar os parâmetros constitucionais e os princípios do Direito Ambiental. 9 Compreender o que é direito ambiental. 22 Legislação ambiental e unidades de conservação 23 Introdução ao Direito AmbientalCapítulo 2 Contextualização No capítulo anterior, estudamos o que é Direito e procuramos analisar o seu significado. Se levarmos em consideração que o Direito é a realização ordenada e garantida do bem comum, observando-se a necessidade de uma integração normativa de fatos e valores, então poderíamos dizer que o ramo do direito que estuda, regulamenta e prescreve condutas sobre a interação, obrigações e deveres do homem com o meio ambiente é o Direito Ambiental? No sentido de responder este questionamento, é necessário compreender e estudar como ocorreu a evolução do Direito Ambiental no Mundo e no Brasil, pois, como vimos no capítulo anterior, o direito objetivo é resultado da evolução de uma demanda social e para entender o Direito Ambiental Brasileiro é necessário analisar sua história. Uma norma é concebida muito antes de ser aprovada, existe todo um contexto histórico que determina sua evolução e consequente aprovação. O objetivo deste capítulo é possibilitar que você compreenda a evolução do direito ambiental no Brasil e consiga identificar os parâmetros constitucionais e os princípios do Direito Ambiental. Para que isso ocorra, estudaremos a evolução do direito ambiental no Brasil. Este resgate histórico, aliado ao estudo das competências indicadas pela constituição federal de 1988, e os princípios fundamentais do direito ambiental serão condição para que você possa compreender o que é e o que envolve o Direito Ambiental. Assim como no primeiro capítulo, este segundo também servirá de base para que possamos adentrar no estudo da Política Nacional de Meio Ambiente, compreender os motivos pelos quais se pode exigir a responsabilização de alguém por fatos ou omissões provocadas ao meio ambiente e os fundamentos legais para se criar um Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Evolução do Direito Ambiental no Mundo No princípio do desenvolvimento econômico e industrial, os recursos ambientais eram tidos como ilimitados e o foco de interesse era direcionado apenas para a geração de riquezas e crescimento. Entretanto, com o passar do tempo, os passivos ambientais e a necessidade por mais recursos ambientais se tornaram perceptíveis, levando à urgência por respostas, de forma que este modelo desenvolvimentista passou a receber críticas. No princípio do desenvolvimento econômico e industrial, os recursos ambientais eram tidos como ilimitados e o focode interesse era direcionado apenas para a geração de riquezas e crescimento. 24 Legislação ambiental e unidades de conservação A primeira aparição significativa do ambientalismo em âmbito mundial se registra no campo científico e aconteceu na década de 50. A ideia de Ecossistema e Teoria Geral dos Sistemas dá maior importância para a extensão da ecologia às ciências humanas e outros campos. (SÉGUIN, 2002). Você pode perceber esta evolução a partir do momento em que os cientistas começaram a procurar por respostas e criaram a Fundação da União Internacional para a Proteção da Natureza (IUPN) em 1948. Este grupo de cientistas era vinculado às Nações Unidas. Outro evento histórico, que é identificado como um dos pontos de referência para o início do ambientalismo, foi a ocorrência, em 1949, da Conferência Científica das Nações Unidas sobre Conservação e Utilização de Recursos (Lake Success, NY). (SÉGUIN, 2002). A emergência do ambientalismo passou a ser identificada pelos atores do sistema social a partir da década de 60 quando a relação do homem com o meio ambiente passou a ser pensada. Neste período, começaram a surgir as Organizações não Governamentais (ONG), a mais famosa é a Fundo para a Vida Selvagem (WWF), instituída em 1961. Neste mesmo período, cientistas e pesquisadores, como Rachel Carson (Primavera Silenciosa, em 1962) e Paul Ehrilch (Bomba Populacional, em 1968) publicam livros que levam a preocupação ambiental à população, difundindo o interesse pelo meio ambiente. (SÉGUIN, 2002). A consequência desta evolução da preocupação ambiental mundial se refletiu na década de 70 nos atores do sistema político, promovendo a expansão das agências estatais de meio ambiente. Nesta década, Aurélio Peccei escreveu o livro Limites do Crescimento 1970/1972, aconteceu a Conferência de Estocolmo em 1972 e surgiram os partidos verdes. (SÉGUIN, 2002). Vale a pena você conhecer as obras que mencionei na íntegra, para isso, segue a referência completa destas obras: a) CARSON, Rachel. Primavera silenciosa. São Paulo: Melhoramentos, 1962. b) EHRLICH, Paul. Bomba populacional. São Paulo: Melhoramentos, 1968. c) PECCEI, Aurélio. Limites do crescimento. São Paulo: Perspectiva, 1972. 25 Introdução ao Direito AmbientalCapítulo 2 A Conferência de Estocolmo teve como objetivos: criar no seio da ONU bases para uma consideração abrangente dos problemas do meio ambiente humano e fazer convergir a atenção de governos e opinião pública em vários países para a importância que envolve a questão ambiental. (SÉGUIN, 2002). O grande legado da Conferência de Estocolmo foi a evolução do pensamento de metas limitadas de proteção da Natureza e conservação dos recursos naturais para a visão mais abrangente da má utilização da biosfera por parte dos humanos. Teve ênfase no sentido de uma compreensão plena dos problemas e do acordo sobre uma ação legislativa efetiva. (SÉGUIN, 2002). Desta forma, os resultados da conferência forçaram um compromisso entre as diferentes percepções sobre o meio ambiente defendidas pelos países mais e menos desenvolvidos, de modo que as necessidades dos países menos desenvolvidos se tornaram um fator chave na determinação das políticas internacionais. A conferência não somente colocou as ONGs nacionais em contato umas com as outras, mas enfatizou o fato de que enfrentavam problemas comuns que pediam uma resposta muito bem pensada e articulada. O grande resultado da conferência de Estocolmo para o meio ambiente foi a criação do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (UNEP). (SÉGUIN, 2002). Lembre-se: na disciplina de Fundamentos da Educação Ambiental você já estudou conferências internacionais sobre o meio ambiente e os movimentos ambientalistas. Depois de haver muita turbulência intelectual nas décadas de 50, 60 e 70, os resultados com a preocupação ambiental se refletiram diretamente nos sistemas econômicos mundiais. Na década de 80, a emergência do ambientalismo entre os atores vinculados ao sistema econômico proporcionou a criação da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1983, pela Assembléia Geral da ONU. (SÉGUIN, 2002). Isto ocorreu pois havia a necessidade de se reexaminarem as questões críticas relativas a meio ambiente e desenvolvimento e formular propostas realísticas para abordá-las. Também era indispensável a proposição de novas formas de cooperação internacional nesse campo, de modo a orientar políticas e ações para mudanças. 26 Legislação ambiental e unidades de conservação O legado da década de 80 foi o relatório “Nosso Futuro Comum”, publicado em 1987, e a defesa da ideia do desenvolvimento sustentável como sendo aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades. (SÉGUIN, 2002). O desenvolvimento sustentável requer um sistema político que assegure a efetiva participação dos cidadãos no processo decisório, um sistema econômico capaz de gerar excedente e know- how técnico em bases confiáveis e constantes, um sistema social que possa resolver as tensões causadas por um desenvolvimento não-equilibrado, um sistema de produção que respeite a obrigação de preservar a base ecológica do desenvolvimento, um sistema tecnológico que busque constantemente novas soluções, um sistema internacional que estimule padrões sustentáveis de comércio e financiamento e um sistema administrativo flexível, capaz de autocorrigir-se. (MACHADO, 2003). Toda esta evolução histórica do ambientalismo no mundo serve de base para a afirmação de que o Direito Ambiental exerce a interlocução entre os direitos do homem para com o meio ambiente, assim como os direitos do meio ambiente para com o homem, pois envolve regras de condutas definidas pelo homem, que deve saber interpretar e identificar as regras definidas pela Natureza para que o convívio destes ocorra de forma que se proporcione a manutenção da vida do homem e da Natureza, permitindo que interajam por diferentes gerações. Evolução do Direito Ambiental no Brasil A evolução do direito ambiental brasileiro acompanhou todo o processo evolutivo da emergência ambiental mundial. Se dividirmos em fases a evolução do direito ambiental brasileiro, poderemos identificar três (algumas pessoas, e eu sou uma delas, afirmam que estaríamos vivenciando uma quarta fase). a) Primeira fase A primeira fase foi a da utilização dos recursos naturais, teve início na década de 30 do século XX e foi marcada pelo início das ações governamentais no campo da regulamentação ambiental, mas enfatizando as formas de utilização dos recursos naturais (água, flora, fauna, subsolo). Esta regulamentação ocorreu O desenvolvimento sustentável requer um sistema político que assegure a efetiva participação dos cidadãos no processo decisório. Direito Ambiental exerce a interlocução entre os direitos do homem para com o meio ambiente, assim como os direitos do meio ambiente para com o homem, pois envolve regras de condutas definidas pelo homem, que deve saber interpretar e identificar as regras definidas pela Natureza. 27 Introdução ao Direito AmbientalCapítulo 2 de forma segmentada, não reconhecendo a interface entre os problemas ambientais e o processo de desenvolvimento econômico. (SILVA, O., 2003). A preocupação em regulamentar a utilização dos recursos naturais se deu em virtude do processo de industrialização brasileiro, que tomou corpo na década de 30 e se intensificou significativamente na década de 50. A regulamentação ambiental teve por objetivos: racionalizar a utilização dos recursos naturais, regulamentar as atividades extrativas e estabelecer áreas protegidas. A regulamentação aconteceu através da limitação do direito de propriedade, no qual os recursos considerados de interesse comum não podiam ser dispostos sem restrições pela iniciativa privada. Da mesma forma, ocorreu por intermédio da definição de instrumentos decomando e controle. O Estado estabeleceu um conjunto de regras a serem cumpridas para a utilização dos recursos naturais. O seu descumprimento levava a aplicação de penalidades aos transgressores. Assim como a regulamentação, as instituições criadas pelo Estado para implementar, fiscalizar e aplicar a legislação eram segmentadas (IBDF, DNPM, MME, DNAEE, INCRA, SUDEPE), pertencendo a ministérios e secretarias distintas, não existindo nenhuma estrutura de governo responsável pelo ambiente como um todo. (SÉGUIN, 2002). Para você lembrar: IBDF - Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral MME- Ministério de Minas e Energia DNAE - Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária SUDEPE - Superintendência do Desenvolvimento da Pesca Para você compreender a importância da Primeira Fase, veja as Principais normas editadas neste período: 1934 – Código Florestal (revogado). 28 Legislação ambiental e unidades de conservação 1934 – Código de Águas (Decreto no 24.643/34). 1934 – Medidas de Proteção aos Animais (Decreto no 24.645/34). 1937 – Lei de Proteção ao Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Decreto-Lei no 25/37). 1938 – Código de Pesca (Revogado). 1940 – Código de Minas (Revogado). 1962 – Política Nacional de Energia Nuclear (Lei no 4.118/62). 1964 – Estatuto da Terra (Lei no 4.504/64). 1965 – Novo Código Florestal (Lei no 4.771/65). 1967 – Novo Código de Pesca (Decreto-Lei no 221/67). 1967 – Código de Mineração (Decreto-Lei no 227/67). 1967 – Código de Proteção à Fauna (Lei no 5.197/67). b) Segunda fase A segunda fase teve forte influência dos resultados da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo em 1972. O evento marcou o início da regulamentação das atividades produtivas, tendo em vista seu potencial poluidor e os efeitos da concentração espacial deste desenvolvimento, junto à intensiva urbanização, sobre o bem-estar e a saúde da população. Houve pressão social em relação a problemas ambientais urbanos, como poluição do ar e saneamento, emergidos após o período de industrialização e urbanização brasileira das décadas de 50 e 60. Como resposta, o estado brasileiro institui a Secretaria Especial do Meio Ambiente – SEMA - que tinha competências genéricas em termos de conservação do meio ambiente e do uso racional dos recursos naturais. (SÉGUIN, 2002). A criação da SEMA e a regulamentação sobre poluição teve por objetivo dirimir a imagem de que o Brasil negligenciava deliberadamente os problemas ambientais numa época em que os países e organismos internacionais internalizavam o discurso do meio ambiente. O evento marcou o início da regulamentação das atividades produtivas, tendo em vista seu potencial poluidor e os efeitos da concentração espacial deste desenvolvimento 29 Introdução ao Direito AmbientalCapítulo 2 Para você compreender a importância da Segunda Fase, veja as Principais normas editadas neste período: 1973 – Criação da SEMA - Secretaria Especial de Meio Ambiente (Decreto no 73.030/73). 1973 – Criação de Regiões Metropolitanas de São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, Curitiba, Belém e Fortaleza. 1975 – Controle da poluição por atividades industriais (Decreto-Lei no 1.413/75). 1975 – Planos de proteção ao solo e combate à erosão (Lei no 6.225/75). 1977 – Responsabilidade civil e criminal por danos nucleares (Lei no 6.453/77). 1977 – Criação de áreas especiais e de locais de interesse turístico (Lei no 6.513/77). 1979 – Normas para a prática didático-científica da vivissecção de animais (Lei no 6.638/79). 1979 – Política Nacional de Irrigação (Lei no 6.662/79). 1979 – Lei de parcelamento do solo urbano (Lei no 6.766/79). 1980 – Diretrizes básicas para o zoneamento industrial nas áreas críticas de poluição (Lei no 6.803/80). c) Terceira fase A terceira fase da evolução do direito ambiental brasileiro teve ênfase na criação e consolidação de uma política pública de proteção do meio ambiente. A década de 80 do século XX marcou o início de uma visão mais integrada e sistêmica no tratamento da questão ambiental. (SÉGUIN, 2002). Esta evolução da regulamentação ambiental brasileira ocorreu no sentido da instituição de uma lei abrangente, que definisse todas as dimensões das ações do Governo sobre o meio ambiente. A instituição da Política Nacional de Meio A terceira fase teve ênfase na criação e consolidação de uma política pública de proteção do meio ambiente. 30 Legislação ambiental e unidades de conservação Ambiente – PNMA, por intermédio da Lei no 6.938/81, foi o início da definição de todo o marco regulatório atual do direito ambiental brasileiro. Esta lei definiu princípios, objetivos, instrumentos e uma estrutura institucional-organizacional responsável por operacionalizar a política: o SISNAMA – Sistema Nacional de Meio Ambiente. Este assunto será tema do próximo capítulo. A partir da Lei no 6.938/81 há uma expansão da regulamentação ambiental (leis, decretos, resoluções, portarias) com vistas ao atendimento dos objetivos propostos na PNMA e à regulamentação dos seus instrumentos. Na trajetória de consolidação da base legal da política ambiental brasileira houve a edição de três normas significativas que consolidaram e representaram a definição do marco legal brasileiro para o direito ambiental. Estas três leis representam a definição e o apoio legal necessário para que o meio ambiente seja discutido, controlado e comandado dentro de um sistema normativo legal. As três leis marcos são: • a Lei no 7.347/85 que regulamenta a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente; • a Constituição Federal de 1988, com a inclusão de um capítulo específico sobre meio ambiente; • a Lei no 9.605/98 que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente. As três leis possibilitaram a delineação e a consolidação do marco legal ambiental brasileiro e esquematizam esta terceira fase como uma fase de leis que instituem o comando e o controle. Assim são compreendidas pois estas leis ditam regras que, em muitos casos, limitam direitos. Da mesma forma, estipulam formas de controle e determinam sanções para quem não as cumprir. Você deve lembrar a figura 1 da Estrutura Legal do primeiro capítulo! A pirâmide demonstrava a relação das leis primárias e secundárias. As primárias, que estão no topo da pirâmide, estipulam, na maioria dos casos, regras gerais que necessitam de regulamentação ou abrem brechas para que determinados assuntos sejam trabalhados posteriormente. Já as secundárias regulamentam as leis, estabelecendo a forma e sistema de atuação. Como lei primária, podemos citar a Lei no 6.938/81 que institui a Política Nacional do Meio Ambiente - PNMA, assunto do próximo capítulo. Ela define objetivos, princípios e diretrizes para a PNMA. Esta lei determina a necessidade de se preservar áreas de especial interesse, da mesma forma como consta no artigo 225 da CF/88 em seu inciso III. Seguindo estas determinações, o legislador atuou 31 Introdução ao Direito AmbientalCapítulo 2 no sentido de responder a demanda da PNMA e da CF/88 e instituiu o Sistema Nacional de Unidade de Conservação da Natureza – SNUC (Lei no 9.985/2000). Atividade de Estudos: 1) Realize uma pesquisa na internet ou em livros e procure identificar sobre o que dispõem as leis no 6.938/81, no 9.605/98, no 9.985/2000 e anote o resultado a seguir. Dica: as leis no seu cabeçalho justificam sua razão e sobre o que dispõem. O site do Planalto é uma boa opção para realizar esta atividade: www.planalto.gov.br. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ O período necessário para a regulamentação destas leis, que foram referência para a terceira fase (basicamente toda a década de 90 até os anos de 2007), expôs certa fragilidade do sistema de comando e controle. A falta de regulamentação proporcionou que as pessoas não as respeitassem e, no momento em que eram fiscalizadas e demandadas para que respeitassem às normas, agiam de forma a continuar desrespeitando. A consequência dessas atitudes foi a demanda de algumas classes econômicas pela alteração das leis. Você lembra, conforme expusemos no capítulo anterior, que o direito tem diferentes fontes e que a demanda social pode almejar e conseguir alterar as leis. São as fontes materiais do direito e, na atualidade, estão contribuindo para que os legisladores discutam e alterem alguns parâmetros legais do Direito Ambiental. Você deve ter acompanhado as notícias que tramitaram na mídia no período de março e abril de 2009. Elas informavam sobre a intenção dos Deputados Estaduais de Santa Catarina em aprovar um Código Ambiental Estadual. Pois então, o que aconteceu em Santa Catarina foi a definição de uma legislação para o estado, mas que em alguns 32 Legislação ambiental e unidades de conservação pontos entra em conflito com parâmetros definidos pelas leis federais. Esta manobra política serviu de chamamento para a questão a ser discutida no Congresso Nacional, mesmo que a lei do estado de SC seja apontada como Inconstitucional por não respeitar as regras da CF/88, o Congresso poderá atuar de forma legal e alterar as leis federais, usando a demanda das fontes materiais e formais. Pode-se afirmar que vivenciamos o final da terceira fase, pois é possível perceber a intenção política de desmonte do aparato legal ambiental no Brasil, iniciativas individuais de estados já estão acontecendo. Para você compreender a importância da Terceira Fase, veja as Principais normas editadas neste período: 1981 – Criação de Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental (Lei no 6.902/81). 1981 – Política Nacional de Meio Ambiente – PNMA (Lei no 6.938/81). 1983 – Estabelecimento e funcionamento de Jardins Zoológicos (Lei no 7.173/83). 1985 – Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente (Lei no 7.347/85). 1986 – Instituído o Pró-Fruti – Programa Nacional de Arborização Urbana com Árvores Frutíferas (Lei no 7.563/86). 1987 – Proibição da pesca de cetáceo nas águas jurisdicionais brasileiras (Lei no 7.643/87). 1988 – Instituído o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (Lei no 7.661/88). 1988 – O Meio Ambiente é introduzido na Constituição Federal. 1988 – Proibição da Pesca de espécies em período de reprodução (Lei no 7.679/88). 1989 – Criação do IBAMA (Lei no 7.735/89). 1989 – Estabelecimento de medidas para proteção das florestas existentes nas nascentes dos rios (Lei no 7.754/89). 33 Introdução ao Direito AmbientalCapítulo 2 1989 – Criação do Fundo Nacional de Meio Ambiente (Lei no 7.797/89). 1989 – Lei de agrotóxicos (Lei no 7.802/89). 1989 – Criação do regime de permissão de lavra garimpeira (Lei no 7.805/89). 1989 – Instituição da compensação financeira pelo resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de recursos minerais (Lei no 7.990/89). 1990 – Condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e funcionamento dos serviços correspondentes (Lei no 8.080/90). 1991 – Instituição da Política Agrícola (Lei no 8.171/91). 1991 – Estabelecimento de concessão de benefício de seguro- desemprego a pescadores artesanais, durante os períodos de defeso (Lei no 8.287/91). 1993 – Redução de emissão de poluentes por veículos automotores (Lei no 8.723/93). 1995 – Estabelecimento de normas para o uso das técnicas da engenharia genética e liberação no meio ambiente de organismos geneticamente modificados (Lei no 8.974/95). 1995 – Disciplina a extração, industrialização, utilização, comercialização e transporte do asbesto/amianto e dos produtos que o contenham, bem como das fibras naturais e artificiais utilizadas para o mesmo fim (Lei no 9.055/95). 1996 – Restrições ao uso e à propaganda de produtos fumígeros, bebidas alcoólicas, medicamentos, terapias e defensivos agrícolas (Lei no 9.294/96). 1997 – Instituição da Política Nacional de Recursos Hídricos e criação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Lei no 9.433/97). 1997 – Instituição da proteção de cultivares (Lei no 9.456/97). 1998 – Estabelecimento de sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente (Lei no 9.605/98). 1999 – Instituição da Política Nacional de Educação Ambiental (Lei no 9.795/99). 34 Legislação ambiental e unidades de conservação 1999 - Dispõe sobre a especificação das sanções aplicáveis às condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências (Decreto no 3.179). 2000 – Disposições sobre a prevenção, o controle e a fiscalização da poluição causada por lançamentos de óleo e outras substâncias nocivas ou perigosas em águas sob jurisdição nacional (Lei no 9.966/00). 2000 – Criação da Agência Nacional de Águas – ANA (Lei no 9.984/00). 2000 – Instituição do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC (Lei no 9.985/00). 2001 – Estabelecimento de diretrizes gerais de Política Urbana (Lei no 10.257/01). 2001 – Disposições sobre a seleção de locais, a construção, o licenciamento, a operação, a fiscalização, os custos, a indenização, a responsabilidade civil e as garantias referentes aos depósitos de rejeitos radioativos (Lei no 10.308/01). 2002 –Disposições sobre a promoção e a fiscalização da defesa sanitária animal quando da realização de rodeio (Lei no 10.519/02). 2003 – Disposições sobre o acesso público aos dados e informações existentes nos órgãos e entidades integrantes do SISNAMA (Lei no 10.650). 2005 – Lei da Biossegurança (Lei no 11.105). 2006 – Institui o Serviço Florestal Brasileiro e cria o Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal (Lei no 11.284). 2006 – Utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântida (Lei no 11.428). 2007 – Saneamento Básico (Lei no 11.445). 2007 – Institui o Instituto Chico Mendes (Lei no 11.516). 2008 -Dispõe sobre as infrações e sanções administrativas ao meio ambiente, estabelece o processo administrativo federal para apuração destas infrações, e dá outras providências. (Decreto no 6514). 35 Introdução ao Direito AmbientalCapítulo 2 Direito Ambiental Constitucional Ainda no primeiro capítulo, você estudou que a constituição é fonte estatal do direito, que oferece subsídios para a validação de todo direito do Estado e nela estão definidas todas as regras do processo de criação do direito. Como lei fundamental, organiza a estrutura do Estado e do Governo, bem como ordena os direitos individuais, que devem ser respeitados pelo poder público e pela coletividade, prevendo, para tal fim, procedimentos eficazes e eficientes. A organização da estrutura do Estado Brasileiro ocorre por intermédio da repartição de competências. Podemos compreender que estas são as diversas modalidades de poder de que se servem os órgãos ou entidades estatais para realizar suas funções, suas tarefas, prestar serviços. Ou seja, as competências previstas nos artigos de 21 a 32 da CF/88 desenham como funciona cada ente federativo, que são: a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal. Vejamos a seguir como funciona esta distribuição de competências no Brasil, mas antes vamos fazer um exercício. Atividade de Estudos: 1) Pesquise na Constituição Federal de 1988 ou acesse: (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ConstituicaoCompilado.htm) Na sequência, identifique dentre os artigos de 21 até32 da CF/88 aqueles que determinam as competências da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Organize as informações conforme a estrutura a seguir: • artigos que determinam a competência da União: ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ • artigos que determinam a competência dos Estados: ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ 36 Legislação ambiental e unidades de conservação • artigos que determinam a competência do Distrito Federal: ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ • artigos que determinam a competência dos Municípios: ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ a) Competências Você pôde perceber, ao realizar o exercício anterior, que existem competências privativa, comum, concorrente e suplementar. A privativa é própria de uma entidade, mas passível de delegação e suplementação (art. 22 par. único CF/88); a comum é comum a todos os entes da federação (art.23 CF/88); a concorrente determina que a União legisle sobre normas gerais e os Estados e o Distrito Federal podem dispor sobre o mesmo assunto (art. 24 CF/88); e, por sua vez, a suplementar atribui competências aos Estados, Distrito Federal (art. 24, § 2˚CF/99) e Municípios (art. 30, II CF/88). A repartição de competências entre a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal constitui o fulcro de nosso Estado Federal, dando origem a uma estrutura estatal complexa, em que se manifestam diversas esferas governamentais sobre a mesma população e o mesmo território. (SILVA, J., 2003). À União resta uma posição de supremacia no que tange à proteção ambiental, já que possui competência exclusiva para elaborar e executar planos nacionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social. Respeitando esta competência, a União criou a Política Nacional de Meio Ambiente, que aconteceu a partir da materialização da Lei no 6.938/81. Cabe à União elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território (art. 21, IX, CF/88). Só nisso já se tem uma base sólida para o estabelecimento de planos nacionais e regionais de proteção ambiental. O art. 23 da CF/88 dispõe sobre a competência material comum à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios. Essa competência diz respeito à prestação dos serviços referentes àquelas matérias, à tomada de providências A repartição de competências entre a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal constitui o fulcro de nosso Estado Federal 37 Introdução ao Direito AmbientalCapítulo 2 para a sua realização. Alguns incisos do artigo se referem à proteção do meio ambiente cultural ou natural. Assim é que se atribuem àquelas entidades, cumulativamente, a competência para proteger as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos (inciso III), bem como a competência para impedir a distribuição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural (inciso IV). Nesse âmbito da legislação concorrente, contudo, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. Já no tocante ao meio ambiente natural, encontramos a competência comum (artigo 23 CF/88) para protegê-lo e para combater a poluição em quaisquer de suas formas (inciso VI), assim como para preservar as florestas, a fauna e a flora (inciso VII). Essa é uma competência mais voltada para a execução das diretrizes, políticas e preceitos relativos à proteção ambiental. O art. 24 da CF/88, por sua vez, declara competir à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre florestas, caça, pesca, fauna, conservação da Natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição (inciso VI), assim como sobre responsabilidade por dano ao meio ambiente, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (inciso VIII). Os quatro parágrafos do artigo 24 da CF/88 regulamentam como deve ocorrer o ato de legislar concorrentemente, pois pode acontecer de os entes legislarem sobre um mesmo assunto de forma a definir parâmetros diferentes. Para evitar um estado de confusão legal, o artigo que determina a concorrência legislativa dita regras para evitar problemas. O § 1˚ do artigo 24 da CF/88 determina que, no âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. Este impede que a União determine regras específicas para cada Estado, aliás, estas regras específicas, de atuarem sobre peculiaridades regionais, são competências de cada Estado, e é isso que o § 2˚ do artigo 24 da CF/88 afirma, quando decide que a competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. Já no caso de inexistência de legislação federal sobre normas gerais, o Estado possui competência legislativa para atender a suas peculiaridades. Esta afirmação é encontrada no § 3˚ do artigo 24 da CF/88. Na omissão legislativa da União, o 38 Legislação ambiental e unidades de conservação Estado pode assumir a responsabilidade de legislar sobre matéria que lhe interesse. O § 4˚ do artigo 24 da CF/88 é o mais polêmico, pois trata sobre casos de superveniência de lei federal sobre normas gerais que, nestes casos, suspendem a eficácia da lei estadual no que lhe for contrário. Ou seja, se o Estado legislar sobre determinado assunto que já seja definido por normas gerais em legislação federal, a lei do estado perde sua força. A competência dos Municípios para a proteção ambiental é reconhecida no art. 23, III, IV, VI e VII da CF/88, em comum com a União e os Estados. Mas nesse dispositivo o que se outorga é a competência para ações materiais. Portanto, a competência fica mais no âmbito da execução de leis protetivas do que de legislar sobre o assunto. Em relação aos Estados, esse último aspecto foi contemplado no art. 24, VI, VII e VIII da CF/88, no qual é reconhecida a competência concorrente com a União para legislar sobre a matéria, em uma correlação entre normas gerais desta e normas suplementares daqueles. A questão já não é tão clara com os Municípios. Pode-se dizer, no entanto, que sua competência suplementar na matéria é também reconhecida. De fato, dá-se a eles competências para promover o adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, parcelamento e ocupação do solo urbano (art. 30, VIII). Outorga-se a eles a competência para a política de desenvolvimento Urbano e estabelecimento do Plano Diretor (art. 182). (ESTATUTO DA CIDADE Lei no 10.257/2001). b) Princípios do Direito Ambiental A importância do estudo dos princípios fundamentais do direito ambiental converge para a necessidade de compreensão da autonomia do Direito Ambiental, da identificação da unidade e coerência do sistema normativo ambiental, da compreensão da forma pela qual a proteção do meio ambiente é vista na sociedade, da correta interpretação das normas que compõem o sistema jurídico ambiental, da identificação da existência de fontes normativas que indicam os princípios fundamentais do direito ambiental. Os princípios podem ser identificados na própria Constituição Federalde 1988, na lei que institui a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei no 6.938/81), na Declaração de Estocolmo – 1972, na Declaração do Rio de Janeiro – 1992. Vejamos o artigo 225 da CF/88, nele é possível identificar alguns princípios fundamentais do direito ambiental. Vejamos: A necessidade de compreensão da autonomia do Direito Ambiental, da identificação da unidade e coerência do sistema normativo ambiental, da compreensão da forma pela qual a proteção do meio ambiente é visto na sociedade, da correta interpretação das normas que compõem o sistema jurídico ambiental, da identificação da existência de fontes normativas que indicam os princípios fundamentais do direito ambiental. 39 Introdução ao Direito AmbientalCapítulo 2 Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Perceba que o artigo, quando afirma que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado”, remete-se ao princípio do ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental da pessoa humana. A parte que aborda o meio ambiente como “bem de uso comum do povo” se refere a quatro princípios: o Princípio da Proporcionalidade, da Razoabilidade e Isonomia e o Princípio do Acesso Equitativo aos Recursos Naturais. A terceira parte, “essencial à sadia qualidade de vida” refere-se ao direito fundamental da pessoa humana que é a vida. A quarta parte, que determina obrigação ao Poder Público e à coletividade, impõe quatro princípios: o Princípio da intervenção estatal obrigatória na proteção do meio ambiente; o da Participação; o da Responsabilização Ambiental e o da Reparação. A quinta parte, “preservá-lo para as presentes e futuras gerações”, trata sobre o Princípio do Desenvolvimento Sustentável. Depois de analisarmos o artigo 225 da CF/88 e verificarmos que a redação do artigo não afirma apenas uma intenção, mas possibilita a identificação de princípios que fundamentam o direito ambiental e todo o suporte legal ambiental nacional, veremos o que significam alguns destes princípios, digo alguns, pois foram indicados aqueles que são identificados nas três leis que foram afirmadas como bases para a construção do aparato legal no item anterior, quando tratávamos das fases do Direito Ambiental no Brasil, em especial a terceira. Vejamos alguns: • Princípio do ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental da pessoa humana O meio ambiente ecologicamente equilibrado, como essencial à sadia qualidade de vida (art. 225 CF/88), está diretamente relacionado à dignidade da pessoa humana (art.1 CF/88) e ao direito à vida (art. 5 CF/88). O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado pertence a todos, gerações presentes e futuras, brasileiros e estrangeiros residentes no país. Da mesma forma como existem leis que regulam a vida em sociedade, há leis que regulam a vida dos ecossistemas, que são comunidades sustentáveis de plantas, de animais e microorganismos. Compreender as leis que regulam os ecossistemas e respeitá-las é a única forma de se garantir que o ambiente seja ecologicamente equilibrado. O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado pertence a todos, gerações presentes e futuras, brasileiros e estrangeiros residentes no país. 40 Legislação ambiental e unidades de conservação • Princípio da intervenção estatal obrigatória na proteção do meio ambiente O art. 225 da CF/88 impõe ao Poder Público o dever de atuar na defesa do meio ambiente. A referência a “poder público” quer ressaltar a atuação conjunta dos poderes executivo, legislativo e judiciário, bem como a participação da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na proteção do meio ambiente. • Princípio da Participação A participação na proteção do meio ambiente, além de um direito dos cidadãos, é um dever expressamente declarado no art. 225 da CF/88. Existem três formas de participação direta da população na proteção do meio ambiente: participação na criação do Direito Ambiental (iniciativa popular, referendos e atuação em órgãos colegiados com poderes normativos); formulação e execução de políticas ambientais e proposição de ações judiciais na área ambiental. A participação implica dois pressupostos: informação e educação ambiental. O direito à informação é garantido no art. 5º da CF/88, nos incisos: - XIV (é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional); - XXXIII (todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado). O indivíduo sem informação não pode formar opinião e se manifestar, da mesma forma os órgãos públicos, os agentes econômicos envolvidos na utilização de recursos naturais também deveriam prestar informações, uma vez que o ambiente se constitui em bem de uso comum do povo. Vamos ilustrar um pouco a importância da informação: o cidadão pode solicitar informações judiciais ou administrativas sobre os casos de que deseja participar, pois estes dados são públicos a menos que sejam determinados como sigilosos, devendo-se resguardar a devida privacidade. O art. 225 da CF/88 impõe ao Poder Público o dever de atuar na defesa do meio ambiente. 41 Introdução ao Direito AmbientalCapítulo 2 • Princípio do Desenvolvimento Sustentável Desenvolvimento Sustentável é aquele que atende às necessidades do presente, sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades, é o processo que conduzirá para a sociedade sustentável: aquela capaz de produzir sustentabilidade econômica, cultural, social e ambiental. As Políticas de Governo devem ser sustentáveis, o processo de desenvolvimento tem que imitar os processos da Natureza tanto quanto possível. O desempenho econômico de um país ou região deve ser medido pela qualidade de vida e não pelo consumo material, e deve desencorajar atividades que causem ameaças à saúde do ecossistema e à base biofísica da economia (ineficiência, lixo, poluição, dissipação de recursos esgotáveis). Estas políticas devem conciliar medidas ambientais com propostas de equidade social. Da mesma forma, devem rever os hábitos de consumo e estilos de vida, a demanda, incluindo os custos ecológicos de extração, produção e depleção nos preços dos produtos comercializáveis. Você leu com atenção o parágrafo anterior, sabe o que significa depleção? Compreende-se depleção como desvalorização, redução, diminuição, abatimento ou desconto. • Princípio da Precaução Aplica-se quando apenas há suspeita de que uma atividade pode provocar danos ao ambiente, sobretudo, à poluição acidental nas atividades perigosas, abrangendo, em qualquer caso, a adoção de precauções ou cuidados excepcionais no desenvolvimento da atividade ou até a interdição de produtos, processos ou atividades. Emissões potencialmente poluentes deveriam ser reduzidas, mesmo quando não haja prova científica evidente do nexo causal entre as emissões e os efeitos. São efeitos do Princípio da Precaução sobre o Direito Ambiental: a adoção do enfoque da prudência e da vigilância na aplicação do direito ambiental em detrimento do enfoque da tolerância; a necessidade de os juízes, nos Aplica-se quando apenas há suspeita de que uma atividade pode provocar danos ao ambiente, sobretudo, à poluição acidental nas atividades perigosas. 42 Legislação ambiental e unidades de conservação processos, decidirem com base em probabilidades de risco sério e fundado, em detrimento do ideal de certeza na apuração da lesividade apontada; a inversãodo ônus da prova na caracterização da lesão ao meio ambiente; a aplicação da regra: in dubio pro ambiente. Você sabe, o direito, às vezes, utiliza-se de expressões latinas. “in dubio pro ambiente” significa: se houver dúvida, a questão deverá sempre beneficiar o meio ambiente. • Princípio da Prevenção Aplica-se quando já há a certeza do dano provocado por certa atividade e que abrange, sobretudo, o controle da poluição “gradual” (ou crônica) que, por um efeito de acumulação, pode tornar-se aguda, provocando um desequilíbrio ecológico. Um exemplo clássico para justificar este princípio é o da poluição dos rios provocada pelo lançamento de esgotos sanitários. Sabemos que o esgoto polui, mas fazemos muito pouco para remediar e acabar com a poluição. Muitas vezes colocamos a culpa no Governo, mas esquecemos nossa obrigação de preservar o meio em que vivemos. • Princípio do Poluidor-Pagador A Lei no 6.938/81, em seu art. 4º, VII, estabelece que a Política Nacional de Meio Ambiente visará à implantação, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário da contribuição, pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos. O princípio do Poluidor-Pagador parte da constatação de que os recursos ambientais são escassos e de que o seu uso na produção e no consumo acarreta a sua redução e degradação. Ora, se o custo da degradação dos recursos naturais não for considerado no sistema de preços, o mercado não será capaz de refletir a escassez. Assim sendo, são necessárias políticas públicas capazes de eliminar a falha de mercado, de forma a assegurar que os preços dos produtos reflitam os custos ambientais. • Princípio do Usuário-Pagador O princípio do Poluidor- Pagador parte da constatação de que os recursos ambientais são escassos e de que o seu uso na produção e no consumo acarreta a sua redução e degradação. 43 Introdução ao Direito AmbientalCapítulo 2 O fundamento desse princípio encontra-se no fato de que os recursos ambientais existem para o benefício de todos. Dessa forma, todos os usuários se sujeitam à aplicação dos instrumentos econômicos, estabelecidos para regular seu uso, tendo em vista o bem comum da população. • Princípio da Responsabilização Ambiental A Constituição Federal, em seu art. 225, § 3º, estabelece que as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Devemos compreender por responsabilidade a capacidade de assumir as consequências dos atos ou das omissões, que pressupõe a ocorrência de um ilícito. Em matéria de proteção ambiental, a ênfase deve ser na prevenção dos danos. Entretanto, há que se reconhecer que, na prática atual, as medidas preventivas têm sido limitadas e incapazes de garantir essa proteção. Daí a necessidade de se promover a responsabilização dos causadores de danos ambientais da maneira mais ampla possível. • Princípio da Cooperação As agressões ao meio ambiente nem sempre se circunscrevem aos limites territoriais de um município, estado ou país, de forma que o seu enfrentamento deve ocorrer dentro de um espírito mais efetivo de cooperação ante as exigências urgentes de se combater os efeitos devastadores da degradação ambiental. A cooperação no âmbito interno em matéria ambiental está prevista no art. 23 da CF/88, que dispõe sobre a competência comum da União, Estados, DF e Municípios, para proteger o meio ambiente e combater a poluição. • Princípio do Acesso Equitativo aos Recursos Naturais Os recursos não renováveis do Globo devem ser explorados de tal modo que não haja risco de serem exauridos e que as vantagens extraídas de sua utilização sejam partilhadas a toda a humanidade. (art. 5˚ da Declaração de Estocolmo). A equidade deve orientar a fruição ou o uso da água, do ar, do solo. Dará oportunidades iguais diante de casos iguais ou semelhantes. A equidade no acesso aos recursos ambientais deve ser enfocada não só com relação à Devemos compreender por responsabilidade a capacidade de assumir as consequências dos atos ou das omissões, que pressupõe a ocorrência de um ilícito. O fundamento desse princípio encontra-se no fato de que os recursos ambientais existem para o benefício de todos. 44 Legislação ambiental e unidades de conservação localização espacial dos usuários atuais, como em relação aos usuários potenciais das gerações vindouras. • Princípio da Reparação A declaração do Rio de Janeiro/92 diz, em seu Princípio 13, que: “Os Estados deverão desenvolver legislação nacional relativa à responsabilidade e à indenização das vítimas da poluição e outros danos ambientais”. • Princípios da Proporcionalidade, da Razoabilidade e Isonomia Usados geralmente em defesa dos interesses de particulares (Direito Civil). Têm como intenção proporcionar que direitos não sejam definidos de forma diferente aos iguais. Todos têm os mesmos direitos e deveres. Deve o direito ser exigido e cumprido da mesma forma e de forma proporcional, levando uma qualidade razoável às decisões e imposições. • Princípios da Administração Pública A administração Pública deve zelar pelo interesse Público, respeitando a hierarquia dos poderes, de forma continua. Da mesma forma, sempre será interessada em processos que envolvam seus bens e direitos, não podendo eximir-se de suas responsabilidades. Os bens públicos são do povo, desta forma, não podem ser doados e usados por particulares em interesse próprio. A Administração Pública sempre é parte interessada no controle dos seus atos, devendo corrigi-los quando executados de forma equivocada. Os atos e manifestações da Administração Pública são verdadeiros até que se prove o contrário. Atividade de Estudos: 1) Identifique pelo menos três princípios em cada uma das seguintes Leis: Lei nº 6.938/81, Lei nº 9.605/98, Lei nº 9.985/00 e no artigo 225 da CF/88. Para encontrar estas leis na internet, acesse: http://www.planalto.gov.br . Princípios identificados na Lei nº 6.938/81: A equidade deve orientar a fruição ou o uso da água, do ar, do solo. Dará oportunidades iguais diante de casos iguais ou semelhantes. 45 Introdução ao Direito AmbientalCapítulo 2 ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Princípios identificados na Lei nº 9.605/98: ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Princípios identificados na Lei nº 9.985/00: ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Princípios identificados no artigo 225 da CF/88: ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Algumas Considerações Depois de acompanharmos a evolução do Direito Ambiental, parte constitucional referente às competências e aos princípios fundamentais, podemos afirmar que o Direito Ambiental é o ramo do Direito que exerce a interlocução entre os direitos do homem para com o meio ambiente, assim como os direitos do meio ambiente para com o homem, pois envolvem regras de condutas definidas
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