Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
199 Thiago Coelho (@taj_studies) CADERNO – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES – MAURÍCIO REQUIÃO 2022.2 AULA 01 – APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA E NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 1. Apresentação da disciplina: Noções introdutórias; princípios e fontes das obrigações; classificação das obrigações e transmissão das obrigações (1ª avaliação); Adimplemento, extinção e inadimplemento das obrigações (2ª avaliação); Classificação das obrigações é o assunto mais denso e importante (levará mais ou menos 4 aulas); Avaliações: 29/09 e 17/11 Referências: FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: obrigações. 12. ed. Salvador: Juspodivm, 2018. MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no direito privado: sistema e tópica no processo obrigacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. ______. Comentários ao novo código civil: do direito das obrigações. Do adimplemento e da extinção das obrigações: vol. V, tomo I. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. MENEZES CORDEIRO, António Manuel da Rocha e. Da boa fé no direito civil. Coimbra: Almedina, 2007. NORONHA, Fernando. Direito das obrigações: vol. I. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. REQUIÃO, Maurício. Normas de textura aberta e interpretação: uma análise no adimplemento das obrigações. Salvador: Jus Podivm, 2011. ______. A obrigação pecuniária como categoria autônoma. In: Revista de direito privado: vol. 52. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. ______. Inadimplemento, dano e responsabilidade: estudo da relação. In: Teses da Faculdade Baiana de Direito: volume 5. Salvador: Faculdade Baiana de Direito, 2013. ______. Questões sobre a escolha na obrigação de dar coisa incerta. In: YARSHELL, Flávio (coord.). Revista brasileira de Advocacia, v.3. São Paulo: RT, 2016 SILVA, Clóvis do Couto e. A obrigação como processo. Rio de Janeiro: FGV, 2007. SILVA, Jorge Cesa Ferreira da. Adimplemento e extinção das obrigações. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. 200 Thiago Coelho (@taj_studies) 2. Atividade inicial: Com base nos seus conhecimentos adquiridos até o momento e sem pesquisa, conceitue obrigação. Obrigação trata-se de um dever jurídico presente em uma relação jurídica, a qual pode ser de fazer (ex: obrigação de prestar socorro); de não fazer (ex: manter o sigilo profissional); ou de dar (ex: a efetuação de um pagamento). 3. Introdução do conteúdo: Obrigação é um termo que estende para além do âmbito jurídico. Quando um indivíduo consente com uma obrigação, ele abdica de parte da sua liberdade. Ex: Maurício Requião tem a obrigação de dar aula, vindo somente a extinguir tal obrigação no horário do seu término (12:35). Ex: Um pai diz para um filho que este tem o dever de estudar. Ex: Regra de cortesia como um “bom dia” trata-se de uma obrigação vista pela óptica social, porém não jurídica. As obrigações não jurídicas – como a citada obrigação de cumprimentar uma pessoa – não recebem atenção do Direito. A obrigação na disciplina “Direito das obrigações” é aquela que apresenta um cunho técnico- jurídico e, portanto, considerada pelo ordenamento jurídico como relevante. A obrigação trata-se de uma relação jurídica que se dá em pelo menos dois sujeitos, sendo um deles credor (sujeito ativo) e o outro devedor (sujeito passivo), tendo o último que cumprir uma prestação em favor do primeiro, ocorrendo, nessa perspectiva, um vínculo jurídico. Obrigação, aqui, se vincula a uma relação de “débito” e “crédito”. Os elementos da obrigação civil são: os sujeitos envolvidos na relação jurídica; a prestação e o vínculo jurídico. 4. Sujeitos: Um sujeito incapaz pode ser credor ou devedor? Sim, pois aqui há a análise do plano da eficácia, levando-se em consideração do direito de gozo (garantido a todos os cidadãos brasileiros). Caso haja um vício no plano da validade, ou seja, na fixação do evento que 201 Thiago Coelho (@taj_studies) originou a obrigação, tal obrigação não iniciará a produzir os seus efeitos; caso inicie, poderá ser revogada. A obrigação, em si, não exige capacidade de exercício. Uma obrigação pode se destinar a vários credores? Sim. Os alunos são múltiplos credores da Faculdade Baiana de Direito e não apresentam obrigações para com os professores. Além disso, podem ocorrer múltiplos devedores. Os sujeitos envolvidos na obrigação jurídica podem ser determinados ou determináveis. 5. Prestação: OBS: Prestação = objeto de obrigação. Essa prestação deve ser: Possível; Lícita; Determinada ou determinável; Dotada de valor econômico; Essa prestação é uma conduta, que pode ter algo envolvido ou não. 6. Vínculo jurídico: Vínculo jurídico é composto pela ideia de dever e de responsabilidade. O ordenamento jurídico precisa dizer que caso a obrigação for descumprida, o credor pode procurar o Estado para uma indenização ou para satisfazer o que pretendia. Conforme já dito, a obrigação civil pressupõe o reconhecimento do dever e da responsabilidade. O Estado reconhece que o indivíduo tem um dever e, se tal indivíduo não cumprir a obrigação, sofrerá as consequências dessa conduta. 7. Síntese dos elementos da obrigação civil: OBRIGAÇÃO RELAÇÃO JURÍDICA PRESTAÇÃO VÍNCULO JURÍDICO Há uma insuficiência nessa definição para Maurício Requião pois, mesmo antes do surgimento da obrigação, já há a incidência da boa-fé (no período de deliberação acerca do 202 Thiago Coelho (@taj_studies) estabelecimento de um contrato). Isso também é perceptível no período posterior ao cumprimento da obrigação, já que podem existir demais adimplementos. A obrigação deve, portanto, ser concebida como um processo. Nesse sentido, é importante compreender como a boa-fé pode intervir nos deveres anexos. Para a próxima aula: Ler sobre a “obrigação como processo”. AULA 02 – A OBRIGAÇÃO COMO PROCESSO E DEVERES ANEXOS 1. Boa-fé objetiva e a obrigação como processo: A união do interesse de um lado (credor) e do outro (devedor) é que faz com que exista certo objetivo a ser atendido. Tem-se, nesse cenário, uma noção de cooperação, embora não descarte um antagonismo entre ambas partes. Ex: Maurício está acostumado a realizar compras diversas vezes em um mercadinho situado próximo à sua casa. Certo dia, ele esqueceu sua carteira e perguntou a um funcionário se ele poderia levar a mercadoria que, na volta, após pegar a sua carteira, efetuaria o pagamento. Maurício, já bastante conhecido na localidade, tem mais chances de levar esse produto para casa em comparação a um cidadão que estava indo ao mercadinho pela primeira vez. O agir ético vinculado à boa-fé não se resume a relações contratuais (embora tenda a ser), mas é esperado em qualquer obrigação. Ex: Luca atropelou Maurício no trânsito. Ambas as partes precisam cooperar – o que atropelou e o atropelado. Maurício não pode inventar danos médicos que não existiram para exigir obrigações por parte de Luca. A obrigação como processo corrobora a tese de que, a todo o momento, os sujeitos envolvidos em determinada obrigação devem realizar atitudes em prol do adimplemento de tal dever. Deve existir algo que sirva de parâmetro para esse proceder. E esse “algo” é justamente o princípio da boa-fé objetiva. A boa-fé objetiva não se confunde com a boa-fé subjetiva. A boa-fé subjetiva pode compor o princípio da boa-fé, entretanto, essa se relaciona muito mais a uma análise do conhecimento do sujeito em relação a algo (noção popular de boa-fé/má-fé). A boa-fé objetiva é um princípio defendido por Miguel Reale como um dos norteadores do Código Civil. A boa-fé objetiva trata-se de um padrão ideal de conduta, ou seja, existe um 203 Thiago Coelho (@taj_studies) modo que se espera que as partes ajam conforme. A boa-fé só é atendida se esse padrão ideal (se essa exigência) for atendido. Em determinadas situações,pode ocorrer, simultaneamente, a manifestação da boa-fé subjetiva, entretanto, a violação da boa-fé objetiva. Ex: Supondo que Maurício queira comprar o tablet de Maíra e pergunta-a se o equipamento já tomou uma queda. Maíra responde que não. Entretanto, em um dia em que Maíra não estava em casa, um familiar derrubou o tablet no chão, o que veio a quebrar um equipamento. Maurício, após comprar o tablet, constata o prejuízo no exercício das funções do aparelho. Embora Maíra tenha agido de boa-fé subjetiva, sem intenção de enganar Maurício, houve uma violação do princípio da boa-fé objetiva, uma vez que Maurício foi enganado. Na doutrina, se costuma apontar algumas funções do princípio da boa-fé objetiva: Função de coibir abuso de direito (função corretiva): No caso, por exemplo, da existência de uma cláusula abusiva em um contrato – como uma taxa de juros extremamente elevada em comparação com a praticada no mercado; Função de solucionar ambiguidades (função interpretativa): Sempre que existir uma ambiguidade, uma dúvida interpretativa, buscar-se-á acabar a ambiguidade através do padrão ético de conduta usado como referência. A boa-fé, nesse cenário, resolve a ambiguidade entre as soluções A e B. Função de criação de deveres jurídicos (função supletiva): Criação dos deveres anexos. Aqui é que há a distinção entre a visão clássica de obrigação e a obrigação enquanto processo. Por mais que a autonomia das partes seja importante, esta não é a única responsável por criar deveres para as partes. Muitas vezes o básico do comportamento adequado não é colocado no papel. O descumprimento de um dever anexo pode vir a ensejar a extinção do contrato. 2. Pesquisar uma decisão judicial que envolva deveres anexos. STJ 19/10/2020 - Rel. MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA Contexto: Um indivíduo contratou um seguro de automóvel para o seu veículo. Seu filho, um terceiro nesse caso, se envolveu em um acidente de trânsito - com o veículo do pai - em estado de embriaguez. Problemática: O seguro deve cobrir ou não o dano causado ao veículo do pai? 204 Thiago Coelho (@taj_studies) Argumento 01: Extensão da obrigação a pessoas próximas do beneficiário. A configuração do risco agravado não se dá somente quando o próprio segurado se encontra alcoolizado na direção do veículo, mas abrange também os condutores principais (familiares, empregados e prepostos). Argumento 02: A cláusula do contrato é lícita: A direção do veículo por um condutor alcoolizado já representa agravamento essencial do risco avençado, sendo lícita a cláusula do contrato de seguro de automóvel que preveja, nessa situação, a exclusão da cobertura securitária. A bebida alcoólica é capaz de alterar as condições físicas e psíquicas do motorista, que, combalido por sua influência, acaba por aumentar a probabilidade de produção de acidentes e danos no trânsito. Argumento 03: O seguro de automóvel não pode servir de estímulo para que se assumam riscos imoderados que, muitas vezes, beiram o abuso de direito, a exemplo da embriaguez ao volante. A função social desse tipo de contrato é ser um instrumento de valorização da segurança no trânsito, harmonizando com as leis penais e administrativas que criaram esses ilícitos justamente para proteger a incolumidade pública no trânsito O segurado deve se portar como se não houvesse seguro em relação ao interesse segurado (princípio do absenteísmo), isto é, deve abster-se de tudo que possa incrementar, de forma desarrazoada, o risco contratual, sobretudo se confiar o automóvel a outrem, sob pena de haver, no Direito Securitário, salvo-conduto para terceiros que queiram dirigir embriagados, o que feriria a função social do contrato de seguro, por estimular comportamentos danosos à sociedade. Argumento 04: Dever de vigilância por parte do pai: Sob o prisma da boa-fé, concluiu-se que o segurado, quando ingere bebida alcoólica e assume a direção do veículo ou empresta-o a alguém desidioso, que irá, por exemplo, embriagar-se (envolvendo tanto dolo quanto culpa, já que ele tinha o dever de vigilância (culpa in vingilando) e de escolher adequadamente a quem se confia a prática do ato (culpa in eligendo,) frustra a justa expectativa das partes contratantes na execução do seguro, pois rompe-se com os deveres anexos do contrato, como os de fidelidade e de cooperação. Argumento 05: Autocolocação em perigo: Constatado que o condutor do veículo estava sob influência do álcool (causa direta ou indireta) quando se envolveu em acidente de trânsito - fato esse que compete à seguradora comprovar -, há presunção relativa de que o risco da sinistralidade foi agravado, a ensejar a aplicação da pena do art. 768 do Código Civil (dispõe que o segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do contrato) →”autocolocação em perigo” 205 Thiago Coelho (@taj_studies) Argumento 06: Violação do disposto no art. 768 do Código Civil: Art. 768 - CC: O segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do contrato. Há um caráter de intenção, não necessariamente dolosa em relação ao seguro. Decisão: Favorável ao seguro e comprovação do rompimento dos deveres anexos pela outra parte (pai). OBS: Vale lembrar que a depender da idade do titular do seguro, os preços tendem a variar. Os jovens titulares tendem a pagar mais pois se presume que eles são menos responsáveis no trânsito. Daí uma série de fraudes é comumente identificada, quando os pais tentam proteger os filhos. Para a próxima aula: Princípios e fontes do Direito das Obrigações AULA 03 – DEVERES ANEXOS 1. Classificação dos deveres: Deveres primários: Obrigação principal Deveres secundários: São, normalmente, deveres relacionados à própria prestação principal, sem, contudo, com esta se confundirem. Ex: O pagamento de uma multa por conta de um inadimplemento – a multa trata-se de um dever do secundário surgido do inadimplemento (a não quitação de um boleto, por exemplo). Deveres anexos: Deveres derivados da boa-fé que, levando um padrão adequado de conduta (o que se espera de agir), nascem da perspectiva da obrigação como processo. Como decorrentes da boa-fé, não precisam ser pactuados nem expressos pelas partes (independem dessas condições). Esses deveres anexos geralmente geram um inadimplemento positivo (violação positiva) – o que pode impactar nos efeitos desse inadimplemento. OBS: Inadimplemento absoluto (A não entrega o bolo de aniversário de B na data que este solicitou) x inadimplemento relativo (A deve a B R$100,00 e resolve pagá-lo amanhã ao invés de hoje, tendo B, ainda, o interesse em receber a quantia). 2. Classificações doutrinárias dos deveres anexos: 206 Thiago Coelho (@taj_studies) Medeiros Cordeiro: Dever anexo de informação; Dever anexo de cuidado; Dever anexo de assistência; Fernando Noronha: Dever anexo de informação; Dever anexo de cuidado; Dever anexo de assistência e de lealdade; Martins Costa: Adverte, para além dos deveres anexos, para a existência dos deveres de proteção – inclusos pelos demais autores como deveres anexos. 3. Os deveres anexos para a doutrina: Dever anexo de informação: Para o sujeito iniciar a sua tratativa que gerará uma obrigação, precisa estar bem informado. Ex: A quer comprar um aspirador de pó, mas não se atenta a não indicação da voltagem no produto. Supondo que A não teria adquirido o aparelho se este tivesse a voltagem de 220. É um dever da empresa especificar tal voltagem do seu produto. Dever de cuidado: Se vincula à obrigação de não causar dano a outra parte. Ex: Uma construtora fez um prédio na região de Sussuarana. Quando o prédio estava prestes a ser entregue, veio a ruir. Depois, descobriu-se que a empresa não realizou oestudo de solo (estudo do terreno para entender a viabilidade de se erguer a construção). Trata- se de um dever básico, já que nenhum comprador vai perguntar “foi feito o estudo de solo?”. A outro título exemplificativo trata-se do dever de cuidado dos camarotes de carnaval com a segurança do público (presença de extintor de incêndios, boa infraestrutura, etc). Dever de assistência (ou assistência e lealdade): Trata-se de uma ideia geral de cooperação, a qual as partes devem ter durante e após o processo obrigacional. Assistência, para Fernando Noronha, seria a ação; e a lealdade, a inação. Ex: A compra um carro novo e, depois, a montadora resolve parar de fabricar o carro – o que é permitido. Entretanto, esta deve continuar a fabricar as peças daquele modelo em virtude da obrigação de assistência (almeja ao adequado desenvolvimento). 207 Thiago Coelho (@taj_studies) Dever de proteção (Martins Costa) (?): Deveres que não se relacionam com a prestação, não impactando tanto nesta. Ex: A entra no mercado pensando em comprar algo. O chão está molhado e não há sinalização. A escorrega e sofre uma fratura. Esse exemplo é questionado devido à inexistência de uma obrigação pré- existente (a não ser que A deixe de comprar em virtude do escorrego). 4. Atividade: 1) Indique três pontos de distinção entre Direito das Obrigações e Direito das Coisas. DIREITOS OBRIGACIONAIS DIREITO DAS COISAS Incide sobre uma prestação Incide sobre uma coisa Cooperação de sujeito passivo Independe de cooperação Caráter mais transitório (regra) Caráter mais perpétuo (regra) Efeito inter partes Efeito Erga omnes 2) Um cliente lhe procura querendo saber, na condição de credor, qual das três seguintes garantias reais lhe seria melhor: penhor, hipoteca ou anticrese. Explique as três e responda à dúvida do seu cliente. PENHOR: Bem móvel; há transferência do bem ao credor, exceto - rural, industrial, mercantil e de veículo. HIPOTECA: Bem imóvel ou móvel; não há transferência do bem ao credor. ANTICRESE: Bem imóvel; há transferência do bem ao credor, podendo retirar da coisa os frutos para pagamento da dívida. Aparentemente a anticrese é mais desvantajosa para o cliente que se encontra na condição de credor pois este tem que administrar os frutos do bem. 3) Na condição de juiz, chega até você um caso em que A, proprietário, locou para B um apartamento. Neste contrato, ficou determinado que as parcelas condominiais deveriam ser pagas pelo locatário. B não pagou três meses da citada parcela. O condomínio, então, ingressou com ação contra A, para que pague o valor devido. Em sua contestação, A apresentou o contrato firmado com B, argumentando que tal responsabilidade foi a este transmitida. Como julgaria esse litígio entre A e o condomínio? 208 Thiago Coelho (@taj_studies) Correção na próxima aula. 5. Direito das obrigações x Direito das coisas: Essa distinção é importante pois essa parte de “obrigações” e “coisas” engloba os ramos do Direito Civil que tratam de relações patrimoniais. O “Direito das coisas” é mais abrangente em comparação aos “direitos reais”, tratando de questões como posse. No Direito das Obrigações, temos um único objeto: a prestação; já no âmbito do Direito das coisas, ter-se-á uma variação do objeto de estudo ou objeto daquela relação. No Direito das Obrigações, os efeitos típicos (ou principais) só se dão em relação aos envolvidos na relação jurídica. Ex: Se A vende a B uma garrafa, A somente pode cobrar a quantia somente de B, assim como B só pode exigir a garrafa de A. No âmbito do Direito das Coisas, tem-se efeitos Erga omnes, ou seja, se estendem para todos, por se tratar de uma situação jurídica (ex: A tem o status de ser dono de uma determinada garrafa). Aqui, não há uma relação jurídica entre o proprietário e demais pessoas da comunidade, mas o status de proprietário, o qual gera um dever geral de abstenção em relação aos outros sujeitos de não ofender o direito de propriedade de outrem. A outro título exemplificativo pode-se citar a integridade física de um indivíduo, direito deste que deve ser respeitado pelos demais. Como algum dos direitos das coisas são criados, estes não são pensados para uma obrigação relacional, mas em uma relação de domínio que deve ser respeitada pelos demais indivíduos (ex: direitos de posse). No que concerne ao tempo, não se pode adotar uma perspectiva generalizante – podem existir obrigações com tempo ilimitado (ex: algumas obrigações de não fazer), assim como podem existir direitos reais com tempo limitado (ex: usufruto). Todavia, a regra é de que o caráter temporário caracteriza o Direito das Obrigações, enquanto o caráter definitivo marca o Direito das coisas. Quando a obrigação se extingue, o exercício do direito encerra a obrigação (Ex: A paga B). Uma das características do direito de propriedade trata-se do direito de sequela (vinculado ao plano da eficácia). Ex: Se A faz um contrato de compra e venda com B a respeito de uma garrafinha. B paga vinte reais a A e B, portanto, pode exigir a garrafinha a A. A não entrega a garrafinha de imediato. Supondo que, nesse meio tempo, A resolva vender a garrafinha a C. B nunca mais consegue receber essa garrafa pois não é dono de tal instrumento (não ocorrência da tradição, ou seja, entrega), tendo, somente, uma dívida de crédito com A. 209 Thiago Coelho (@taj_studies) No Direito das Obrigações, no geral, a violação de uma obrigação se dá a partir de uma inação (como o não pagamento). Todavia, deve-se atentar para demais tipos de obrigação – como, por exemplo, a de não fazer (o sigilo profissional é violado quando a ação de falar sobre determinado conteúdo sigiloso é realizada). 6. Penhor x hipoteca x anticrese (direitos reais de garantia): Penhor: Um bem móvel é colocado como garantia. Empenhar (impor um penhor) x Penhorar (retirar bens via processo). Hipoteca: Se faz uma averbação informando que determinado bem está hipotecado como garantia de tal dívida (ex: imóveis, aviões, navios...). Anticrese: É o único que não gera a perda da propriedade no caso de inadimplemento do devedor. Ter-se-á um bem imóvel dado como garantia e, caso ocorra o inadimplemento, o credor poderá administrar aquele bem por certo período a fim de receber frutos para cobrir o inadimplemento. Percebe-se, por conseguinte, um maior desgaste por parte do credor para relações patrimoniais que envolvam anticrese. O penhor apresenta maior praticidade e a hipoteca tem a vantagem de se conseguir bens de maior valor. Para a próxima aula: Fontes e princípios das obrigações + classificações das obrigações. AULA 04 – FONTES E CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES 1. Resolução da questão pendente da aula anterior (Direito das Obrigações e Direito das Coisas): Na condição de juiz, chega até você um caso em que A, proprietário, locou para B um apartamento. Neste contrato, ficou determinado que as parcelas condominiais deveriam ser pagas pelo locatário. B não pagou três meses da citada parcela. O condomínio, então, ingressou com ação contra A, para que pague o valor devido. Em sua contestação, A apresentou o contrato firmado com B, argumentando que tal responsabilidade foi a este transmitida. Como julgaria esse litígio entre A e o condomínio? Essa obrigação de pagar a taxa condominial trata-se de uma obrigação em razão da coisa. O fato de alguém ser proprietário faz com que ele tenha o dever de pagar o valor da obrigação. Como é uma obrigação de direito real, o proprietário deve arcar com essa obrigação. Entre 210 Thiago Coelho (@taj_studies) locador e locatório tenha eficácia o negócio estabelecido entre eles, podendo A cobrar regressivamente o valor em relação a B, entretanto a obrigação de pagar a taxa condominial é de A (proprietário) não pode ser delegadaa B (locatário). Se A quiser vender o imóvel a C, nas mesmas condições do contrato firmado com B (supondo que haja uma preferência de compra pelo valor de R$ 300.000,00), A deve, antes, comunicar a B. Caso B não demonstre o interesse em pagar os R$ 300.000,00, A, portanto, pode negociar sem nenhum problema com C. Caso A não comunique B e venda o imóvel a C, B pode, portanto, se demonstrar interesse no imóvel, “tomá-lo” de C. 2. Princípios das obrigações: A autonomia das partes é limitada por outros princípios, tais como o da boa-fé objetiva e o da função social da propriedade (embora este tenha sofrido intensas restrições com o advento do novo Código Civil). Os princípios dialogam com o intuito de conduzir ao adimplemento correto da obrigação. A autonomia, portanto, mantém conexão com um padrão de eticidade (os sujeitos não podem fazer tudo o que querem). 3. Fontes das obrigações: Houve, outrora, a classificação romana em delito, quase delito, contrato e quase contrato. O quase delito seria o que chamamos de crime culposo. Com o advento do Código Napoleônico, a lei passa a ser concebida como uma fonte direta das obrigações. No direito brasileiro, nunca houve a enumeração das fontes das obrigações. Essa enumeração de fontes, portanto, é tarefa da doutrina. Fernando Noronha critica a concepção da lei como fonte direta das obrigações, argumentando que o suporte fático abstrato, sozinho, não gera obrigações. A lei, por si só, não pode ser considerada fonte das obrigações por não gerar obrigações imediatas. Uma das fontes das obrigações seria, nessa perspectiva, o fato jurídico. Toda obrigação deriva, portanto, de um fato jurídico, inclusive lícitos que geram o dever de indenizar (como no caso de A, em estado de necessidade, arrombar a porta da casa de B para se proteger de uma ameaça – A tem o dever de indenizar B). 211 Thiago Coelho (@taj_studies) 4. Classificações das obrigações: CLASSIFICAÇÕES CASO 1 CASO 2 CASO 3 CASO 4 João se obrigou a dar para Carla seu veículo placa ABC 1234 ou pagar cinquenta mil reais. Gustavo apostou com Márcio que se um dia o Vitória for campeão brasileiro da série A lhe pagará um milhão de reais Fernando, advogado, foi contratado para dar um parecer sobre determinado caso. Criou-se uma obrigação em que Joana e Cláudia ficaram obrigadas a pagar quatrocentos reais, podendo o credor exigir o valor integral de qualquer delas. QUANTO AO OBJETO De dar Alternativa Divisível (quantia financeira) e indivisível (veículo) De dar Simples Divisível De fazer Simples Indivisível De dar Simples Divisível QUANTO AOS SUJEITOS Única Não solidária Única Não solidária Única Não solidária Múltipla Solidária QUANTO À LIQUIDEZ Liquída Líquida Líquida Líquida QUANTO AO CONTEÚDO DO ADIMPLEMENTO Resultado Resultado Resultado Resultado QUANTO À EFICÁCIA Simples (Pura) Condicional Simples (Pura) Simples (Pura) RECIPROCAMENTE CONSIDERADAS Principal Principal Principal Principal QUANTO À EXIGIBILIDADE Civil Natural Civil Civil Quanto ao objeto: Dar: Geralmente vincula-se a pagamentos; Fazer: Conduta comissiva; 212 Thiago Coelho (@taj_studies) Não fazer: Omissão obrigatória. Ex: Sigilo profissional; Facultativa: Parece uma alternativa, mas será aprofundada posteriormente; Simples: Único objeto; Cumulativa: Conjunção “e” (mais de um objeto); Alternativa: Conjunção “ou” (há a opção de escolha); Divisível: Dinheiro; Indivisível: Carros, mouse, pareceres; Quanto aos sujeitos: Única: Envolve dois sujeitos (cada um em um polo); Múltipla: Envolve mais de dois sujeitos (pode ter dois devedores e/ou dois credores, por exemplo). Trata-se de um pré-requisito para uma obrigação poder ser solidária (toda solidária é múltipla, mas nem toda múltipla é solidária); Solidária: A responsabilidade é solidária entre os deveres, podendo o credor exigir integralmente de qualquer um dos devedores solidários; Não solidária: É a regra; Quanto à liquidez: Líquida: Regra geral. Para determinar o conteúdo da prestação, não é necessária a ocorrência de evento posterior. Todos os exemplos da atividade representam obrigações líquidas; Ilíquida: Para determinar o conteúdo da prestação, é necessária a ocorrência de evento posterior. Ex: A atropela B e B entra com uma ação para pedir indenização de A. B, ainda em tratamento, não tem noção do valor da indenização (pedido ilíquido) – há a falta do conteúdo da prestação (depende do tempo da recuperação de B, sessões de fisioterapia, etc); Quanto ao conteúdo do adimplemento: Meio: O resultado pouco importa. Ex: Advogado receberá uma quantia do cliente ainda que perca a causa ou no caso de um cirurgião que, mesmo agindo adequadamente, não conseguiu evitar a morte do paciente (“evoluir à morte”)*; Resultado: O resultado é determinante para o cumprimento da obrigação. Ex: Uma transportadora precisa entregar o produto e não só tentar entregar a um cliente para o cumprimento dessa obrigação; 213 Thiago Coelho (@taj_studies) *motivo de intenso debate doutrinário. Quanto à eficácia: Simples (Pura): Não há condição, termo ou encargo; Condicional: Há uma condição (evento futuro e incerto); Modal: Há um encargo (ônus); A termo: Há um termo (evento futuro e certo); Reciprocamente consideradas: Principal: Independente; Acessória: Caso a obrigação principal seja extinta, a acessória também se extingue. Ex: Contrato de locação que envolve um fiador; Quanto à exigibilidade: Civil: Caso ocorra o inadimplemento, haverá meios eficazes, protegidos pelo Direito, para promover o adimplemento. Natural: O ordenamento reconhece que se ocorrer o inadimplemento, ninguém pode obrigar a tal. Ex: Jogo de aposta; Referências: https://www.direitonet.com.br/resumos/exibir/9/Classificacao-das- Obrigacoes#:~:text=Quanto%20ao%20objeto%2C%20seus%20elementos,penal%20e%20%2 2propter%20rem%22. https://jus.com.br/artigos/90528/classificacao-das-obrigacoes-em-relacao-a-pluralidade-de- sujeitos Para a próxima aula: Obrigação de dar e pecuniária + dois textos de Maurício Requião. AULA 05 – A OBRIGAÇÃO DE DAR COISA CERTA 214 Thiago Coelho (@taj_studies) 1. Atividade: Realize análise comparativa da solução das quatro situações abaixo: Um sujeito havia vendido seu carro. Antes da entrega este carro foi furtado: Tem-se uma obrigação de dar coisa certa propriamente dita (a prestação se encontra concretamente determinada e não somente em abstrato). Como o carro não foi entregue (não houve a transferência da posse), o dono do carro consiste no devedor. O bem móvel somente se transmite a partir da tradição (entrega/transferência de posse). O fato do comprador ter ou não pago é irrelevante. Se não teve culpa, o prejuízo é do dono, não tendo, em regra, o dever de indenizar a outra parte. A consequência específica deste caso concreto é que resolve-se a obrigação. No caso de pagamento adiantado total ou parcial, o dono deve devolver o dinheiro para impedir um enriquecimento sem causa. Um sujeito estava indo devolver o notebook que um amigo o havia emprestado. Antes da entrega este notebook foi roubado: Tem-se uma obrigação de coisa certa, mais especificamente, de restituição de coisa certa. O dono do notebook é o sujeito que emprestou e não o que estava com a posse temporária. A obrigação foi resolvida e como não houve culpa por parte do devedor, o prejuízo é de responsabilidade do credor. Um sujeito devia para o outro 10 máscaras PFF2. Na véspera do dia da entrega foram furtadas todas as 50 máscaras do referido modelo que tinha em casa: Tem-se uma obrigação de dar coisaincerta (o objeto se encontra somente determinado por gênero e quantidade – não estando concretamente determinado). O que se sabe aqui é a quantidade de máscaras (10) e o modelo (PFF2). Se as máscaras não estavam determinadas em concreto, não se pode falar em perda nem em deterioração da coisa. Enquanto não acontecer a escolha (transformação em obrigação de dar coisa certa), o sujeito continua obrigado a entregar as 10 máscaras (obrigação ainda não cumprida). Um sujeito devia ao outro mil reais. Quando estava a caminho para realizar o pagamento, o dinheiro foi roubado: Tem-se uma obrigação pecuniária. O sujeito devedor ainda possui a obrigação de pagar (o dinheiro não perece). 2. A obrigação de dar coisa certa: Há duas espécies de obrigação de dar coisa certa, nas quais identificamos quem é o sujeito dono da coisa a ser entregue. 215 Thiago Coelho (@taj_studies) Quando é o devedor, tem-se uma obrigação de dar coisa certa propriamente dita (exemplo 1 do exercício); quando o dono é o credor, tem-se uma obrigação de restituição (exemplo 2 do exercício). Quando o inadimplemento ocorre sem culpa, não se fala na obrigação de indenização de perdas e danos. O prejuízo, portanto, é de responsabilidade exclusiva do dono. Perda: A coisa não tem mais como ser entregue; Deterioração: A coisa sofre um dano que diminui o seu valor (existe, porém não mais da forma que foi pactuada). Art. 233 – CC: A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso. Na obrigação de dar coisa certa, segue-se a premissa de que o acessório acompanha o principal (art. 233 – CC). Se se cria uma obrigação de dar e a coisa envolvida é um acessório, este, em regra, acompanha o bem principal. No caso da perda, tem-se qualquer situação que impossibilite o cumprimento da obrigação (destruição completa da coisa, furto, roubo, etc). Art. 234 – CC: Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos. O art. 234 do Código Civil discorre sobre a perda da obrigação de dar coisa certa propriamente dita. Se a perda resultar de culpa do devedor, este responde pelo valor equivalente, somado a perdas e danos (busca por reparar os efeitos provenientes de tal inadimplemento). Ex: Um sujeito deixa de fazer uma prova (dano) por conta da não entrega de um notebook (perda). Art. 238 – CC: Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda. Art. 239 – CC: Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais perdas e danos. 216 Thiago Coelho (@taj_studies) No caso de perda do objeto da obrigação de restituir coisa certa, caso não haja culpa do devedor, a obrigação se resolverá. Se a coisa se perder por culpa do devedor, este responde pelo equivalente, mais perdas e danos. Na deterioração, a coisa existe, só que de forma diferente das condições iniciais. Ex: Um celular que caiu no chão e rachou a tela (danifica-se o aparelho). Art. 235 – CC: Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu. Ex: A vai vender o seu notebook pra B e C se esbarra no aparelho, quebrando-o. O credor pode não querer mais a coisa, ou querer desde que abatido o preço que se perdeu (não é uma indenização, mas só o reestabelecimento das condições). Art. 236 – CC: Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização das perdas e danos. Tendo culpa o devedor, pode-se falar em perdas e danos. Ex: A vende um carro a B, o qual pretende ser Uber. Por culpa de A, após a transmissão do bem móvel, o carro sofre um dano. Os dias em que B não poderá trabalhar por conta do carro estar em conserto na oficina serão arcados por A (perdas e danos). A solução da deterioração da obrigação de restituir é a mesma da propriamente dita. O fato da coisa ser danificada não altera a propriedade do objeto. Art. 239 – CC: Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais perdas e danos. Art. 240 – CC: Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239. 217 Thiago Coelho (@taj_studies) No caso de melhoria, tem-se o art. 237 do Código Civil. Ex: A vende um terreno a B, terreno que acaba se valorizando. Caso o credor não aceite aumentar o valor, há a possibilidade de simplesmente resolver a obrigação. Art. 237 – CC: Até a tradição pertence ao devedor a coisa, com os seus melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação. Parágrafo único. Os frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor os pendentes. Art. 241 – CC: Se, no caso do art. 238, sobrevier melhoramento ou acréscimo à coisa, sem despesa ou trabalho do devedor, lucrará o credor, desobrigado de indenização. Art. 242 – CC: Se para o melhoramento, ou aumento, empregou o devedor trabalho ou dispêndio, o caso se regulará pelas normas deste Código atinentes às benfeitorias realizadas pelo possuidor de boa-fé ou de má-fé. Parágrafo único. Quanto aos frutos percebidos, observar-se-á, do mesmo modo, o disposto neste Código, acerca do possuidor de boa-fé ou de má-fé. Se o melhoramento foi “acidental”, o lucro vai para o credor (dono). Se o melhoramento foi resultante de trabalho ou dispêndio do devedor, o credor deve pagá-lo sob pena de enriquecimento sem causa. O código protege a parte que age com boa-fé. No caso de má-fé, a indenização somente deve ocorrer no caso de benfeitorias necessárias. No que tange aos frutos, o sujeito de boa-fé tem direito aos percebidos, enquanto que o sujeito de má-fé não tem direito aos frutos, devendo indenizar os frutos ainda que não os perceba. Ex: A, embora não use os frutos provenientes do terreno de B, tem o dever de indenizá-lo. Relembrando: Benfeitoria necessária Voltada para evitar a deterioração ou conservação. Benfeitoria útil Voltada para melhorar o uso da coisa. Ex: Transformar um portão manual em eletrônico. Benfeitoria voluptuária Voltada para o recreio, lazer ou deleite. Ex: 218 Thiago Coelho (@taj_studies) Pintar uma parede por uma cor mais agradável. Para a próxima aula: A obrigação de fazer e de não fazer. AULA 06 – CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES (CONTINUAÇÃO) 1. A obrigação de dar coisa incerta: Entre as obrigações de dar, se encontram: a obrigação de dar coisa certa e a obrigação de dar coisa incerta. A coisa incerta, pela letra do Código Civil, é especificada em gênero e quantidade. Tem-se somente, portanto, que individualizar posteriormente esse objeto. A obrigação de dar coisa incerta não se confunde com a obrigação alternativa, uma vez que nesta a escolha se dá entre prestações já pré-determinadas (ex: A tem que dar a B um carro ou 30 mil reais). Em regra, não há que se falar em perda ou deterioração da coisa na obrigação de dar coisa incerta pois o objeto não está concretamente determinado (coisa em abstrato), podendo ser substituído – o gênero não perece como regra. Caso essa premissa seja prejudicada, poderá, nesse sentido, falar em perda ou deterioração da coisa na obrigação de dar coisa incerta.A deterioração da coisa certa por culpa do devedor mantém o dever deste prestar. A deterioração da coisa certa sem culpa do devedor adimple a obrigação. A deterioração da coisa incerta (como no caso de uma forte chuva que estraga uma safra rara de vinho da qual A pretendia adquirir uma garrafa) extingue a obrigação – por se tratar de uma safra rara, torna-se extremamente difícil substituir a coisa quando o próprio gênero pereceu. A escolha da prestação, em regra, será realizada pelo devedor, o qual deve observar a boa-fé objetiva (padrão ideal de conduta vinculado a usos e costumes) e a regra do meio-termo 219 Thiago Coelho (@taj_studies) (mediae aestimationis): não deve dar a pior coisa, mas não se encontra obrigado a dar a melhor coisa (mas pode dar essa melhor coisa se quiser, por exemplo, agraciar o credor com foco em futuros negócios). O universo geral de possibilidades da prestação pode se tornar um universo específico quando as partes têm acesso a um recorte mais aprofundado. Por exemplo: A tem a obrigação de vender um boi a B (A não pode dar o boi mais magro que tiver – X -, por exemplo). Agora, se B visitar a fazenda de A e constatar a presença somente de bois magrinhos, pode ser que X seja aceito de acordo com a regra do meio-termo. A regra do meio-termo passa a ser analisada a partir desse recorte (universo específico = fazenda de A). A cientificação do credor não é o mero aviso, mas sim o fornecimento a este de elementos que o permitam, tanto quanto o devedor, identificar qual a coisa escolhida. Ex: Supondo que A tem cinco cães e B quer adquirir um, alertado por A de que o valor do cão Y é 2X. Após um surto de doença, quatro dos cães morrem. Considerando que B ainda não tenha tido contato com o cão Y, A tentará alegar a B de que o sobrevivente é o cão Y que custa 2X (possibilidade de fraude contra credores). Somente após B ter ciência exata do cão que queria é que a obrigação de dar coisa incerta se converterá à obrigação de dar coisa certa. Cientificação: Aviso + Concessão de elementos suficientes para identificar a coisa. 2. A obrigação pecuniária: A obrigação pecuniária é aquela em que a prestação devida é a transferência de determinado valor monetário. Ex: Compõe a essência de contratos como o de locação, operações bancárias e dos títulos de crédito. Ex: Pagamento por perdas e danos. Ex: Pagamento por criptomoedas. Divergência doutrinária acerca do enquadramento da obrigação pecuniária: Para alguns, trata-se de um subtópico da obrigação de dar coisa certa; 220 Thiago Coelho (@taj_studies) Outros autores afirmam que trata-se de uma categoria independente e diferenciada da obrigação de dar (Maurício Requião adere a essa visão); Embora se assemelhem às obrigações de dar, principalmente a de dar coisa incerta, a obrigação pecuniária constitui uma categoria autônoma. O dinheiro é só o suporte do valor colocado pelo governo sobre ele. Ex: Uma nota de 50 reais é uma mera folha de papel, mas apresenta um valor a ela relacionada. Por outro lado, as moedas em desuso (como o cruzado e o cruzeiro) apresentam importância real somente a nível de colecionador. Não importa a coisa em si, mas o valor a ela atribuído. Não se pode jamais converter uma obrigação pecuniária em uma obrigação de dar coisa certa. A tradição não é essencial, mas sim acidental. Consoante o art. 315, CC, o pagamento das obrigações pecuniárias se dá com base no seu valor nominal. Todavia, se admite a correção do valor devido para que até o momento do pagamento seja mantido o seu valor real (funcional). Medida protetiva da moeda nacional: O pagamento das obrigações pecuniárias no território brasileiro se dá com a moeda em curso (art. 318, CC). Não é necessária a criação de uma categoria específica para as obrigações pecuniárias no Código Civil. Basta que a posição doutrinária e jurisprudencial atente para as particularidades inerentes a essa obrigação. 3. A obrigação de fazer: Na obrigação de fazer não há a entrega de coisa, assim como na obrigação de não fazer. A regulamentação da obrigação de fazer é parecida com a obrigação de não fazer (evidenciando o papel que a transferência de propriedade exerce no nosso ordenamento jurídico – obrigação de dar). Exemplo de obrigação de fazer: A contrata B para pintar um quadro. B presta o serviço. Uma obrigação de fazer pode ser sucedida de uma obrigação de dar. No exemplo citado, após pintar o quadro, B deve entregá-lo a A. 221 Thiago Coelho (@taj_studies) Se B sequer pintou o quadro, A pode alegar o descumprimento da obrigação de fazer (ensejou perdas e danos). Se B pintou o quadro, mas não entregou a A, este pode alegar o descumprimento da obrigação de dar. A obrigação de fazer fungível x a obrigação de fazer infungível: Distinção pautada na necessidade (obrigação de fazer infungível ou personalíssima) ou não (obrigação de fazer fungível) da obrigação ser realizada por um sujeito específico. Emergem polêmicas discussões, a luz do caso concreto, se uma determinada obrigação de fazer é fungível ou infungível. Ex: Se um público comprou um ingresso para assistir a um show da banda A e, no dia, o show foi realizado pela banda B. É nítido o descumprimento da obrigação de fazer, por esta ser personalíssima. Ex: Caso o evento acima se desse em um festival, o qual é formado por diversas bandas (principais e secundárias – A, B, C, D...), o inadimplemento seria relacionado a uma obrigação de fazer fungível. Caso algumas pessoas compraram ingressos só para prestigiar a banda A e esta foi substituída pela banda E, tem-se uma discussão travada acerca da obrigação de fazer ser fungível ou infungível. Ex: Se os alunos de uma faculdade querem cursar Direito Civil e o professor que iria lecionar a disciplina foi substituído, tem-se uma obrigação de fazer fungível pois o contrato é sobre ter aula da disciplina e não necessariamente do professor X (embora X possa ter influenciado na escolha da disciplina por parte de alguns alunos). Ex: No caso de um curso de extensão coordenado pelo professor X, caso este seja substituído, tem-se uma obrigação de fazer infungível. O mesmo raciocínio vale para uma cirurgia a ser realizada pelo médico Y e não pelo seu assistente CAPÍTULO II Das Obrigações de Fazer Art. 247 – CC: Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exeqüível. Art. 248 – CC: Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor, resolver-se-á a obrigação; se por culpa dele, responderá por perdas e danos. 222 Thiago Coelho (@taj_studies) Art. 249 – CC: Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível. Parágrafo único. Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido. Inadimplemento sem culpa (art. 248 – CC): Obrigação resolvida. Extingue-se a obrigação; O art. 247 do Código Civil se refere à obrigação de fazer infungível, enquanto o art. 249 se assemelha à obrigação de fazer fungível; A obrigação de planos de saúde é uma obrigação de fazer (uma cirurgia, por exemplo). Há uma intensa juridicialização na área da saúde, uma vez que constantemente liminares forçam o plano de saúde a autorizar certos procedimentos. Pode-se impor uma multa ao plano a cada dia de descumprimento (medida alternativa ao pagamento de perdas e danos); No caput do art. 249 não há uma autotutela pois há a dependência de autorização judicial, fazendo o parágrafo único uma ressalva (exceção) no que concerne ao caso de urgência. Ex: A contratou um encanador para consertar um vazamento e este não comparece.A pode solicitar que a companhia envie outro funcionário em virtude do caráter emergencial de se reparar o domicílio (risco iminente de danos patrimoniais); 4. A obrigação de não fazer: Constantemente presentes em nosso dia-dia, ainda que imperceptíveis. Cláusula de exclusividade: Qualquer cláusula em que contexto impõe uma obrigação de não fazer. Ex: Um contrato impõe que o ator A só pode aparecer no canal X (implícita a obrigação de não aparecer nos demais canais). Boa parte dos bares e restaurantes tem contratos que se comprometem a não vender produtos de outra marca. Por exemplo, no local em que se vende Guaraná Antártica, geralmente não se vende Coca-Cola e sim, Pepsi. O sigilo profissional também representa uma obrigação de não fazer. Ex: T trabalha em uma empresa e conhece o modo de trabalho dela. T não pode divulgá-lo mesmo após a sua desvinculação da empresa (dever de fidelidade). 223 Thiago Coelho (@taj_studies) Cláusulas de não concorrência também são obrigações de não fazer. Ex: X é dono dos mercados A e B. X resolve vender B para um grupo ainda pouco experiente. X não pode abrir logo depois um mercado C para concorrer com B. Cláusulas de raio correspondem a cláusulas de não concorrência delimitada geograficamente. Ex: Tantos metros do negócio A, o negócio B não poderá se estabelecer. A obrigação de não fazer é, geralmente, aquela que mais dura em comparação com as obrigações de fazer e de dar (cumprimento mais continuado) – como no caso do sigilo inerente a um profissional que já deixou a empresa. CAPÍTULO III Das Obrigações de Não Fazer Art. 250 – CC: Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do devedor, se lhe torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar. Art. 251 – CC: Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos. Parágrafo único. Em caso de urgência, poderá o credor desfazer ou mandar desfazer, independentemente de autorização judicial, sem prejuízo do ressarcimento devido. Sem culpa do devedor, extingue-se a obrigação no caso de inadimplemento. Ex: A realiza ato que não deveria em virtude de coação realizada pelo Poder Público; No caso de descumprimento que gera a responsabilidade, seguir-se-á a lógica da obrigação de fazer já estudada. Ex: Caso A, ator da empresa X, atue na empresa Y, A deverá arcar com perdas e danos (não tem, em um número significativo de ocasiões, como se desfazer o que já foi feito = desfazimento impossível); 5. A obrigação alternativa: A obrigação alternativa é aquela obrigação na qual o devedor (como regra) deverá escolher entre duas ou mais prestações. É possível que haja uma obrigação alternativa simultaneamente com uma cumulativa, embora não seja comum. Ex: A deve escolher X ou Y, mais Z. 224 Thiago Coelho (@taj_studies) Ex: O professor Maurício Requião se obrigou a dar uma aula ou dar um livro. Caso ele escolha dar a aula, cumprirá com a obrigação, assim como cumprirá no caso de dar um livro. O poder de escolha do devedor é limitado entre as prestações previamente definidas. A obrigação alternativa não se confunde com a obrigação de dar coisa incerta. A escolha na obrigação de dar coisa incerta, também, como regra, cabe ao devedor, o qual deve selecionar um meio-termo. Na obrigação alternativa, contudo, não se aplica a regra do meio-termo, mas é muito raro que se haja a escolha entre coisas de valores tão díspares (um celular e um apartamento, por exemplo). Na obrigação alternativa, geralmente, as prestações apresentam o mesmo poder, pouco importando o valor econômico. CAPÍTULO IV Das Obrigações Alternativas Art. 252 – CC: Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou. § 1 o Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra. § 2 o Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida em cada período. § 3 o No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá o juiz, findo o prazo por este assinado para a deliberação. § 4 o Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a escolha se não houver acordo entre as partes. Supondo que o professor Maurício Requião se obrigou a dar uma aula ou dar um livro. Consoante o parágrafo 1º do art. 252, ele não pode decidir, por exemplo, dar meia aula e meio livro, pois assim se estaria criando uma terceira prestação. Destarte, o poder de escolha do devedor é limitado entre as prestações previamente definidas. Trata-se de uma obrigação periódica (§2º), a título exemplificativo, pagar boleto de aluguel. Não se confunde, vale o alerta, no caso de parcelamento do pagamento de um produto (como na compra de um pedaço de carne). 225 Thiago Coelho (@taj_studies) No caso de pluralidade de optantes (pluralidade de pessoas com direitos de escolha), eles, em conjunto, terão que decidir via deliberação. A escolha precisa, de acordo com o Código Civil, ser unânime. Segundo o parágrafo 4º, se o direito de escolha for concedido a terceiro, saindo do devedor, caso esse direito retorne, não retorna ao devedor e sim ao consenso entre as partes. No caso de não acordo entre as partes, a escolha caberá a juiz. Art. 253 – CC: Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação ou se tornada inexeqüível, subsistirá o débito quanto à outra. Art. 254 – CC: Se, por culpa do devedor, não se puder cumprir nenhuma das prestações, não competindo ao credor a escolha, ficará aquele obrigado a pagar o valor da que por último se impossibilitou, mais as perdas e danos que o caso determinar. Art. 255 – CC: Quando a escolha couber ao credor e uma das prestações tornar-se impossível por culpa do devedor, o credor terá direito de exigir a prestação subsistente ou o valor da outra, com perdas e danos; se, por culpa do devedor, ambas as prestações se tornarem inexeqüíveis, poderá o credor reclamar o valor de qualquer das duas, além da indenização por perdas e danos. Art. 256 – CC: Se todas as prestações se tornarem impossíveis sem culpa do devedor, extinguir-se-á a obrigação. Os demais dispositivos do Código Civil que tratam da obrigação alternativa discorrem sobre o inadimplemento. No caso de culpa do devedor, deve-se considerar vários fatores. Ex: A tinha que entregar um celular ou um notebook, mas o celular foi danificado. A obrigação pode ser cumprida com o notebook, já que a escolha cabe ao devedor (A). Se o credor de A tivesse o poder de escolha e quisesse escolher o celular. Se o credor de A escolher a prestação subsistente (notebook), não houve prejuízo. Agora, se o credor de A tivesse escolhido o celular (prestação perdida), A deve arcar com perdas e danos somado ao valor equivalente. 226 Thiago Coelho (@taj_studies) No caso da impossibilidade do cumprimento de todas as prestações (A quebrar o celular e depois o notebook), o devedor deverá pagar o equivalente, perdas e danos em relação à última que foi impossibilitada (art. 254, CC) – neste caso, em relação ao notebook. No que tange à perda de uma prestação acontece com culpa e a outra acontece sem culpa, o Código não disciplina. Para Maurício Requião, deve-se seguir a lógica do art. 254, embora não seja um consenso doutrinário, justamente em virtude da lacuna no Código Civil. 6. A obrigação facultativa: Em síntese, o devedor pode se omitir da obrigação. Quando a obrigação é criada, há uma única prestação (não há alternatividade). Ex: Descoberta (encontrar coisa alheia). Quando alguém devolve algo que pertence ao dono, este terá uma obrigação para com o responsável por achar o objeto (recompensa de, no mínimo, 5% do valorda coisa + indenização pelas despesas com a conservação e transporte da coisa). Todavia, o próprio artigo que discorre sobre a recompensa faculta tal obrigação ao dono: “se o dono não preferir abandoná-la”. Art. 1.234 – CC: Aquele que restituir a coisa achada, nos termos do artigo antecedente, terá direito a uma recompensa não inferior a cinco por cento do seu valor, e à indenização pelas despesas que houver feito com a conservação e transporte da coisa, se o dono não preferir abandoná-la. (grifos nossos) 7. Atividade a ser corrigida na próxima aula: Fernanda é credora de um notebook a ser entregue por Guilherme e Lara. Juliana é credora de mil reais de Fellipe e Carlos, devedores solidários. Partindo das duas situações acima: a) analise como deve se dar o pagamento e a diferença dos fundamentos. Fernanda pode cobrar o notebook de Guilherme ou de Lara em virtude da natureza da prestação (indivisível). Ademais, Juliana pode cobrar os mil reais (prestação pecuniária) em virtude de Fellipe e Carlos serem devedores solidários (condição dos sujeitos). 227 Thiago Coelho (@taj_studies) b) caso um dos devedores morra, deixando dois herdeiros, como isso influenciaria no cumprimento da obrigação em cada um dos caso. No primeiro caso, Fernanda pode cobrar o notebook (bem indivisível) dos herdeiros do devedor falecido em virtude da natureza da prestação. No segundo caso, cada um dos herdeiros só estará obrigado a pagar a cota que corresponder ao seu quinhão hereditário, ou seja, cada um deles estará obrigado a pagar 500 reais. AULA 07 – A OBRIGAÇÃO INDIVISÍVEL E SOLIDÁRIA 1. Obrigação divisível e indivisível: CAPÍTULO V Das Obrigações Divisíveis e Indivisíveis Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores. Art. 258. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico. Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for divisível, cada um será obrigado pela dívida toda. Parágrafo único. O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos outros coobrigados. Art. 260. Se a pluralidade for dos credores, poderá cada um destes exigir a dívida inteira; mas o devedor ou devedores se desobrigarão, pagando: I - a todos conjuntamente; II - a um, dando este caução de ratificação dos outros credores. 228 Thiago Coelho (@taj_studies) Art. 261. Se um só dos credores receber a prestação por inteiro, a cada um dos outros assistirá o direito de exigir dele em dinheiro a parte que lhe caiba no total. Art. 262. Se um dos credores remitir a dívida, a obrigação não ficará extinta para com os outros; mas estes só a poderão exigir, descontada a quota do credor remitente. Parágrafo único. O mesmo critério se observará no caso de transação, novação, compensação ou confusão. Art. 263. Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos. § 1 o Se, para efeito do disposto neste artigo, houver culpa de todos os devedores, responderão todos por partes iguais. § 2 o Se for de um só a culpa, ficarão exonerados os outros, respondendo só esse pelas perdas e danos. A prestação divisível é aquela que pode ser reduzida em frações menores sem alterar a estrutura. Todavia, há exceções: um diamante quebrado gera uma série de diamantes menores, só que o valor desses diamantes fragmentados é inferior ao valor do diamante original que estava inteiro. Quando a prestação é divisível, a solução é bem simples: cada um só pode pagar o que é seu e cada um só pode cobrar o que é seu. Ex: A deve 100 reais a B e C. B e C podem cobrar, separadamente, 50 reais de A. Quando a prestação é indivisível, a solução anterior é impossível. Daí, faz-se necessário realizar algumas ponderações: Se há multiplicidade de devedores: Um devedor paga sozinho, o credor está satisfeito, todavia o pagamento não extingue a obrigação. O devedor se sub-roga no direito do credor – o credor agora é o antigo devedor. Este credor poderá cobrar o valor equivalente ao outro devedor que não pagou. Por exemplo: A e B devem um notebook a C que custa mil reais. A dá o notebook a C e, nesse sentido, C está satisfeito. A pode, posteriormente, cobrar 500 reais de B, já que A sub-roga-se no direito de C e tem o direito de cobrar B. Se há multiplicidade de credores: Cada credor vai ter que cobrar o inteiro (prestação indivisível) do devedor. O devedor, ao pagar, deve tomar uma das duas medidas: (I) reúne os credores e paga ou (II) paga a um credor, desde que esse credor apresente 229 Thiago Coelho (@taj_studies) um documento chamado calção de ratificação, o qual autoriza esse credor a receber a prestação em nome dos demais credores. 2. Extinção: Art. 262 – CC: Se um dos credores remitir a dívida, a obrigação não ficará extinta para com os outros; mas estes só a poderão exigir, descontada a quota do credor remitente. Parágrafo único. O mesmo critério se observará no caso de transação, novação, compensação ou confusão. Transação: A deve uma quantia a B. B aceita que A pague uma parte; Novação: A busca renegociar uma dívida com B (o contrato anterior é extinto e um novo é criado); Compensação: A deve 200 a B e B deve 100 a A. A só pagará 100 a B; Confusão: A deve uma quantia ao seu pai, B. B morre. A é herdeiro de B. A passa a dever para ele mesmo; 3. Impossibilidade: A indivisibilidade decorre da prestação. Se a prestação se perdeu e a obrigação vai se resolver com o pagamento de indenização, a obrigação passa a ser divisível (há a perda da qualidade de indivisível). Art. 263 – CC: Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos. § 1 o Se, para efeito do disposto neste artigo, houver culpa de todos os devedores, responderão todos por partes iguais. § 2 o Se for de um só a culpa, ficarão exonerados os outros, respondendo só esse pelas perdas e danos. No que tange ao § 2º, há uma ressalva feita pela doutrina. O culpado só paga pelas perdas e danos, mas os demais continuam tendo que pagar o equivalente. 4. Obrigação solidária: 230 Thiago Coelho (@taj_studies) CAPÍTULO VI Das Obrigações Solidárias Seção I Disposições Gerais Art. 264. Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigado, à dívida toda. Art. 265. A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes. Art. 266. A obrigação solidária pode ser pura e simples para um dos co-credores ou co- devedores, e condicional, ou a prazo, ou pagável em lugar diferente, para o outro. Seção II Da Solidariedade Ativa Art. 267. Cada um dos credores solidários tem direito a exigir do devedor o cumprimento da prestação por inteiro. Art. 268. Enquanto alguns dos credores solidários não demandarem o devedor comum, a qualquer daqueles poderá este pagar. Art. 269. O pagamento feito a um dos credores solidários extingue a dívida até o montante do que foi pago. Art. 270. Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível. Art. 271. Convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade. Art. 272. O credor que tiver remitido a dívida ou recebido o pagamento responderá aos outros pela parte que lhes caiba. Art. 273. A um dos credores solidários não pode o devedor opor as exceções pessoais oponíveis aos outros. Art. 274. O julgamento contrário a um doscredores solidários não atinge os demais, mas o julgamento favorável aproveita-lhes, sem prejuízo de exceção pessoal que o devedor tenha direito de invocar em relação a qualquer deles. (Redação dada pela Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência) 231 Thiago Coelho (@taj_studies) Seção III Da Solidariedade Passiva Art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto. Parágrafo único. Não importará renúncia da solidariedade a propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos devedores. Art. 276. Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado a pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível; mas todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores. Art. 277. O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por ele obtida não aproveitam aos outros devedores, senão até à concorrência da quantia paga ou relevada. Art. 278. Qualquer cláusula, condição ou obrigação adicional, estipulada entre um dos devedores solidários e o credor, não poderá agravar a posição dos outros sem consentimento destes. Art. 279. Impossibilitando-se a prestação por culpa de um dos devedores solidários, subsiste para todos o encargo de pagar o equivalente; mas pelas perdas e danos só responde o culpado. Art. 280. Todos os devedores respondem pelos juros da mora, ainda que a ação tenha sido proposta somente contra um; mas o culpado responde aos outros pela obrigação acrescida. Art. 281. O devedor demandado pode opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais e as comuns a todos; não lhe aproveitando as exceções pessoais a outro co- devedor. Art. 282. O credor pode renunciar à solidariedade em favor de um, de alguns ou de todos os devedores. Parágrafo único. Se o credor exonerar da solidariedade um ou mais devedores, subsistirá a dos demais. 232 Thiago Coelho (@taj_studies) Art. 283. O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a exigir de cada um dos co-devedores a sua quota, dividindo-se igualmente por todos a do insolvente, se o houver, presumindo-se iguais, no débito, as partes de todos os co-devedores. Art. 284. No caso de rateio entre os co-devedores, contribuirão também os exonerados da solidariedade pelo credor, pela parte que na obrigação incumbia ao insolvente. Art. 285. Se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores, responderá este por toda ela para com aquele que pagar. A solidariedade pode ser ativa ou passiva. Tanto na ativa quanto na passiva, o credor pode cobrar o todo de qualquer um dos devedores. De acordo com o Código Civil, não há presunção de solidariedade, decorrendo da lei (alguns artigos expressamente escancaram a obrigação como solidária) ou da vontade das partes (é feito um acordo para que se constitua a solidariedade). Há um único vínculo ou vários vínculos? Para Maurício Requião, deve-se reforçar o art. 266 a partir da segunda perspectiva. Pode-se criar regramentos distintos para os devedores (ex: local de pagamento, data de vencimento, imposição de determinadas condições ou não). Art. 266 – CC: A obrigação solidária pode ser pura e simples para um dos co-credores ou co- devedores, e condicional, ou a prazo, ou pagável em lugar diferente, para o outro. No dia-dia ocorrem mais casos de solidariedade passiva. Ex: A vai no banco pedir um empréstimo e o banco exige a presença de um fiador solidário (ou A aceita ou não pega o seu empréstimo). O credor tem maior poder de negociação e, geralmente, impõe a solidariedade (o credor terá no mínimo dois patrimônios para cobrar o adimplemento da obrigação). A solidariedade ativa não é benéfica aos credores, pois outras pessoas receberão a prestação no seu lugar. Geralmente, caso haja esse interesse, no máximo é concedida uma procuração para que outro receba e, posteriormente, dê a prestação ao credor. 5. Solidariedade ativa: Se o credor recebe e não passa para os demais, o devedor não tem responsabilidade nenhuma (não deve mais se preocupar). Os demais credores precisam cobrar do credor que 233 Thiago Coelho (@taj_studies) não passou aos demais. A prestação, mesmo com a multiplicidade de credores, é única. Ex: Se A deve 1000 a B e a C, pagando 700 a B. A deve pagar só 300 a C. Se nada for dito, presume-se que cada um tem uma parte igual do crédito/débito. Art. 270 – CC: Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível. A solidariedade se relaciona com os sujeitos. Se o credor solidário morreu, os herdeiros não são credores solidários. Ex: A deve 900 reais a B, C e D. Se B morre, deixando dois herdeiros – E e F – estes só devem receber a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário (não são credores solidários). Destarte, A deve pagar 150 a cada (900/3 = 300/2 = 150 reais a E, e 150 reais a F). Art. 273 – CC: A um dos credores solidários não pode o devedor opor as exceções pessoais oponíveis aos outros. Outro ponto importante trazido pelo Código diz respeito às exceções pessoais. Exceções correspondem a meios de defesa no Direito. As exceções pessoais são limitadas aos sujeitos às quais elas se aplicam. Art. 274 – CC: O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais, mas o julgamento favorável aproveita-lhes, sem prejuízo de exceção pessoal que o devedor tenha direito de invocar em relação a qualquer deles. (Redação dada pela Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência) 234 Thiago Coelho (@taj_studies) Se B entra com uma ação contra A e perde, C e D podem entrar com ação contra A. Todavia, se A ganha a ação, isso se aproveita a C e a D, mas se ressalvam as exceções pessoais para os credores que ainda não se envolveram em litígio. Em suma: B entra com uma ação contra A: B perde: Não impacta em C e D; B ganha: Os benefícios se aproveitam a C e D, ressalvando-se a estes as exceções pessoais; 6. Solidariedade passiva: Na solidariedade passiva, há uma pluralidade de devedores. O credor pode ir a qualquer devedor e cobrá-lo a obrigação. O credor pode perdoar a dívida toda ou apenas a parte de um. Neste caso, obrigação continua sendo solidária, abatido o valor perdoado. Remissão não se confunde com renúncia. Remissão é o perdão de dívida; renúncia solidária se dá quando o credor renuncia a solidariedade. Art. 276 – CC: Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado a pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível; mas todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores. No caso de devedores solidários, aplica-se o semelhante ao estudado no caso de credores solidários. Os herdeiros de um devedor solidário que falecera não serão devedores solidários, podendo o credor cobrar a cada um a parte que compete a cada. Todos reunidos são considerados um devedor solidário (mas cada um individualmente, não). Art. 284 – CC: No caso de rateio entre os co-devedores, contribuirão também os exonerados da solidariedade pelo credor, pela parte que na obrigação incumbia ao insolvente. Se um dos devedores for insolvente, a parcela dele será rateada (dividida) entre todos os devedores, inclusive o devedor que tenha sido excluído da solidariedade. 235 Thiago Coelho (@taj_studies) Art. 285 – CC: Se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores, responderá este por toda ela para com aquele que pagar.A regra é que a obrigação se divide igualmente entre os devedores, todavia, há exceções – como a trazida pelo art. 285 do Código Civil. Pode, destarte, existirem dois devedores, um devendo pagar 100% e o outro, nada. Nesse sentido, existindo uma dívida de interesse exclusivo, o regramento funciona de forma distinta (somente o interessado responderá). Para próxima aula: Resolver avaliações anteriores de Direito de Obrigações. AULA 08 – CESSÃO DE CRÉDITO E ASSUNÇÃO DE DÍVIDA 1. Cessão de crédito: Credor cedente: Sujeito que era credor originalmente; Credor cessionário: Novo credor; Cedido: Devedor; A vontade das partes pode impedir que um crédito seja cedido (embora a lei permita). Art. 286 – CC: O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação. Art. 287 – CC: Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito abrangem-se todos os seus acessórios. Como regra, transmissão da obrigação principal se estende às obrigações acessórias. A cessão de crédito pode ser total ou parcial. 236 Thiago Coelho (@taj_studies) A cessão de crédito não exige o consentimento do devedor. Tal negócio jurídico é válido e eficaz entre o cedente e cessionário. Para que o negócio tenha eficácia para o devedor e para terceiros, a lei traz, contudo, alguns requisitos. Art. 288 – CC: É ineficaz, em relação a terceiros, a transmissão de um crédito, se não celebrar-se mediante instrumento público, ou instrumento particular revestido das solenidades do § 1 o do art. 654. Art. 289 – CC: O cessionário de crédito hipotecário tem o direito de fazer averbar a cessão no registro do imóvel. Art. 290 – CC: A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a este notificada; mas por notificado se tem o devedor que, em escrito público ou particular, se declarou ciente da cessão feita. Art. 291 – CC: Ocorrendo várias cessões do mesmo crédito, prevalece a que se completar com a tradição do título do crédito cedido. Art. 292 – CC: Fica desobrigado o devedor que, antes de ter conhecimento da cessão, paga ao credor primitivo, ou que, no caso de mais de uma cessão notificada, paga ao cessionário que lhe apresenta, com o título de cessão, o da obrigação cedida; quando o crédito constar de escritura pública, prevalecerá a prioridade da notificação. O primeiro sujeito a notificar é aquele que terá o direito de receber o crédito. Exemplo de terceiros: Um credor de B, C, o qual apresenta interesse na transmissão da cessão de crédito. Extingue-se a obrigação para o devedor que paga o credor primitivo sem ter conhecimento da cessão. Art. 293 – CC: Independentemente do conhecimento da cessão pelo devedor, pode o cessionário exercer os atos conservatórios do direito cedido. Art. 294 – CC: O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe competirem, bem como as que, no momento em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o cedente. 237 Thiago Coelho (@taj_studies) Art. 295 – CC: Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se responsabilize, fica responsável ao cessionário pela existência do crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cessões por título gratuito, se tiver procedido de má-fé. Art. 296 – CC: Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do devedor. Art. 297 – CC: O cedente, responsável ao cessionário pela solvência do devedor, não responde por mais do que daquele recebeu, com os respectivos juros; mas tem de ressarcir- lhe as despesas da cessão e as que o cessionário houver feito com a cobrança. Art. 298 – CC: O crédito, uma vez penhorado, não pode mais ser transferido pelo credor que tiver conhecimento da penhora; mas o devedor que o pagar, não tendo notificação dela, fica exonerado, subsistindo somente contra o credor os direitos de terceiro. 2. Atividade de fixação: 1) Analise como se dá a eficácia de uma cessão de crédito em relação a: a) Cedente e cessionário: Eficaz independentemente de notificação ao devedor. A eficácia, portanto, é imediata; b) Cedido: Precisa ser notificado, pois, caso contrário, a cessão será ineficaz; c) Terceiros: Consoante o art. 288, CC, é ineficaz, em relação a terceiros, a transmissão de um crédito, se não celebrar-se mediante instrumento público, ou instrumento particular revestido das solenidades do § 1 o do art. 654. O parágrafo 1º do art. 654 do Código Civil, determina que: “O instrumento particular deve conter a indicação do lugar onde foi passado, a qualificação do outorgante e do outorgado, a data e o objetivo da outorga com a designação e a extensão dos poderes conferidos”. Ademais, deve-se ocorrer o registro em prol da eficácia em relação a terceiros. 2) Explique, explorando as possibilidades, a responsabilidade do cedente no que toca à existência do crédito e à solvência do devedor. A responsabilidade no que tange à existência é pautada na existência de um crédito (a dívida ainda não foi paga). É importante saber se a cessão de crédito se deu a título oneroso (o novo credor pagou algo) ou gratuito (só há benefícios). Assim, segundo o art. 295 do CC, “na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se responsabilize, fica responsável ao 238 Thiago Coelho (@taj_studies) cessionário pela existência do crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cessões por título gratuito, se tiver procedido de má-fé”. Consoante o art. 296 do CC, “salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do devedor”. O artigo subsequente completa ao afirmar que “o cedente, responsável ao cessionário pela solvência do devedor, não responde por mais do que daquele recebeu, com os respectivos juros; mas tem de ressarcir-lhe as despesas da cessão e as que o cessionário houver feito com a cobrança”. Observa-se que a lei limita essa responsabilidade: tal responsabilidade não recai sobre o valor da dívida, mas sobre o valor pago pela dívida (B paga a A 900 para ceder os 1000 – B responde com base nos 900, ou seja, o valor pago pela dívida). 3) Diferencie assunção de dívida por delegação e por expromissão. Tanto a expromissão quanto a delegação são formas de assunção de dívida. No primeiro caso, o expromitente, novo devedor, assume a dívida diretamente com o credor, sem acordo com o devedor primitivo. Já a delegação, como o nome indica, ocorre quando o antigo devedor delega sua dívida ao novo devedor. A mudança do devedor só pode ser feita com delegação do credor, a qual pode acontecer por dois caminhos: por delegação (o antigo devedor delega sua dívida ao novo devedor) ou por expromissão (o novo devedor procura diretamente o credor). (NINA, 2017) Assunção de dívida não se confunde com pagamento. No negócio jurídico de assunção de dívida, uma pessoa se tornou devedora, tendo que pagar em um dia futuro. A assunção pode ser total ou parcial, cumulativa (o antigo devedor permanece na relação) ou liberatória (quando o novo devedor entra e o antigo devedor já está livre). 239 Thiago Coelho (@taj_studies) 4) Partindo do pressuposto que a cessão de posição contratual não é expressamente regulamentada pelo Código Civil de 2002, e realizando análise por analogia com as formas de transmissão das obrigações, é possível que aquela se realize independentemente da autorização da outra parte que integra o referido contrato? Cessão de contrato ou cessão de posição contratual é a transferência da posição (ativa ou passiva) em um contrato, a um terceiro, com todos os direitos e deveres. Necessariamente ocorre em contratos bilaterais,
Compartilhar