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199 Thiago Coelho (@taj_studies) CADERNO – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES – MAURÍCIO REQUIÃO 2022.2 AULA 01 – APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA E NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 1. Apresentação da disciplina: Noções introdutórias; princípios e fontes das obrigações; classificação das obrigações e transmissão das obrigações (1ª avaliação); Adimplemento, extinção e inadimplemento das obrigações (2ª avaliação); Classificação das obrigações é o assunto mais denso e importante (levará mais ou menos 4 aulas); Avaliações: 29/09 e 17/11 Referências: FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: obrigações. 12. ed. Salvador: Juspodivm, 2018. MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no direito privado: sistema e tópica no processo obrigacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. ______. Comentários ao novo código civil: do direito das obrigações. Do adimplemento e da extinção das obrigações: vol. V, tomo I. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. MENEZES CORDEIRO, António Manuel da Rocha e. Da boa fé no direito civil. Coimbra: Almedina, 2007. NORONHA, Fernando. Direito das obrigações: vol. I. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. REQUIÃO, Maurício. Normas de textura aberta e interpretação: uma análise no adimplemento das obrigações. Salvador: Jus Podivm, 2011. ______. A obrigação pecuniária como categoria autônoma. In: Revista de direito privado: vol. 52. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. ______. Inadimplemento, dano e responsabilidade: estudo da relação. In: Teses da Faculdade Baiana de Direito: volume 5. Salvador: Faculdade Baiana de Direito, 2013. ______. Questões sobre a escolha na obrigação de dar coisa incerta. In: YARSHELL, Flávio (coord.). Revista brasileira de Advocacia, v.3. São Paulo: RT, 2016 SILVA, Clóvis do Couto e. A obrigação como processo. Rio de Janeiro: FGV, 2007. SILVA, Jorge Cesa Ferreira da. Adimplemento e extinção das obrigações. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. 200 Thiago Coelho (@taj_studies) 2. Atividade inicial: Com base nos seus conhecimentos adquiridos até o momento e sem pesquisa, conceitue obrigação. Obrigação trata-se de um dever jurídico presente em uma relação jurídica, a qual pode ser de fazer (ex: obrigação de prestar socorro); de não fazer (ex: manter o sigilo profissional); ou de dar (ex: a efetuação de um pagamento). 3. Introdução do conteúdo: Obrigação é um termo que estende para além do âmbito jurídico. Quando um indivíduo consente com uma obrigação, ele abdica de parte da sua liberdade. Ex: Maurício Requião tem a obrigação de dar aula, vindo somente a extinguir tal obrigação no horário do seu término (12:35). Ex: Um pai diz para um filho que este tem o dever de estudar. Ex: Regra de cortesia como um “bom dia” trata-se de uma obrigação vista pela óptica social, porém não jurídica. As obrigações não jurídicas – como a citada obrigação de cumprimentar uma pessoa – não recebem atenção do Direito. A obrigação na disciplina “Direito das obrigações” é aquela que apresenta um cunho técnico- jurídico e, portanto, considerada pelo ordenamento jurídico como relevante. A obrigação trata-se de uma relação jurídica que se dá em pelo menos dois sujeitos, sendo um deles credor (sujeito ativo) e o outro devedor (sujeito passivo), tendo o último que cumprir uma prestação em favor do primeiro, ocorrendo, nessa perspectiva, um vínculo jurídico. Obrigação, aqui, se vincula a uma relação de “débito” e “crédito”. Os elementos da obrigação civil são: os sujeitos envolvidos na relação jurídica; a prestação e o vínculo jurídico. 4. Sujeitos: Um sujeito incapaz pode ser credor ou devedor? Sim, pois aqui há a análise do plano da eficácia, levando-se em consideração do direito de gozo (garantido a todos os cidadãos brasileiros). Caso haja um vício no plano da validade, ou seja, na fixação do evento que 201 Thiago Coelho (@taj_studies) originou a obrigação, tal obrigação não iniciará a produzir os seus efeitos; caso inicie, poderá ser revogada. A obrigação, em si, não exige capacidade de exercício. Uma obrigação pode se destinar a vários credores? Sim. Os alunos são múltiplos credores da Faculdade Baiana de Direito e não apresentam obrigações para com os professores. Além disso, podem ocorrer múltiplos devedores. Os sujeitos envolvidos na obrigação jurídica podem ser determinados ou determináveis. 5. Prestação: OBS: Prestação = objeto de obrigação. Essa prestação deve ser: Possível; Lícita; Determinada ou determinável; Dotada de valor econômico; Essa prestação é uma conduta, que pode ter algo envolvido ou não. 6. Vínculo jurídico: Vínculo jurídico é composto pela ideia de dever e de responsabilidade. O ordenamento jurídico precisa dizer que caso a obrigação for descumprida, o credor pode procurar o Estado para uma indenização ou para satisfazer o que pretendia. Conforme já dito, a obrigação civil pressupõe o reconhecimento do dever e da responsabilidade. O Estado reconhece que o indivíduo tem um dever e, se tal indivíduo não cumprir a obrigação, sofrerá as consequências dessa conduta. 7. Síntese dos elementos da obrigação civil: OBRIGAÇÃO RELAÇÃO JURÍDICA PRESTAÇÃO VÍNCULO JURÍDICO Há uma insuficiência nessa definição para Maurício Requião pois, mesmo antes do surgimento da obrigação, já há a incidência da boa-fé (no período de deliberação acerca do 202 Thiago Coelho (@taj_studies) estabelecimento de um contrato). Isso também é perceptível no período posterior ao cumprimento da obrigação, já que podem existir demais adimplementos. A obrigação deve, portanto, ser concebida como um processo. Nesse sentido, é importante compreender como a boa-fé pode intervir nos deveres anexos. Para a próxima aula: Ler sobre a “obrigação como processo”. AULA 02 – A OBRIGAÇÃO COMO PROCESSO E DEVERES ANEXOS 1. Boa-fé objetiva e a obrigação como processo: A união do interesse de um lado (credor) e do outro (devedor) é que faz com que exista certo objetivo a ser atendido. Tem-se, nesse cenário, uma noção de cooperação, embora não descarte um antagonismo entre ambas partes. Ex: Maurício está acostumado a realizar compras diversas vezes em um mercadinho situado próximo à sua casa. Certo dia, ele esqueceu sua carteira e perguntou a um funcionário se ele poderia levar a mercadoria que, na volta, após pegar a sua carteira, efetuaria o pagamento. Maurício, já bastante conhecido na localidade, tem mais chances de levar esse produto para casa em comparação a um cidadão que estava indo ao mercadinho pela primeira vez. O agir ético vinculado à boa-fé não se resume a relações contratuais (embora tenda a ser), mas é esperado em qualquer obrigação. Ex: Luca atropelou Maurício no trânsito. Ambas as partes precisam cooperar – o que atropelou e o atropelado. Maurício não pode inventar danos médicos que não existiram para exigir obrigações por parte de Luca. A obrigação como processo corrobora a tese de que, a todo o momento, os sujeitos envolvidos em determinada obrigação devem realizar atitudes em prol do adimplemento de tal dever. Deve existir algo que sirva de parâmetro para esse proceder. E esse “algo” é justamente o princípio da boa-fé objetiva. A boa-fé objetiva não se confunde com a boa-fé subjetiva. A boa-fé subjetiva pode compor o princípio da boa-fé, entretanto, essa se relaciona muito mais a uma análise do conhecimento do sujeito em relação a algo (noção popular de boa-fé/má-fé). A boa-fé objetiva é um princípio defendido por Miguel Reale como um dos norteadores do Código Civil. A boa-fé objetiva trata-se de um padrão ideal de conduta, ou seja, existe um 203 Thiago Coelho (@taj_studies) modo que se espera que as partes ajam conforme. A boa-fé só é atendida se esse padrão ideal (se essa exigência) for atendido. Em determinadas situações,pode ocorrer, simultaneamente, a manifestação da boa-fé subjetiva, entretanto, a violação da boa-fé objetiva. Ex: Supondo que Maurício queira comprar o tablet de Maíra e pergunta-a se o equipamento já tomou uma queda. Maíra responde que não. Entretanto, em um dia em que Maíra não estava em casa, um familiar derrubou o tablet no chão, o que veio a quebrar um equipamento. Maurício, após comprar o tablet, constata o prejuízo no exercício das funções do aparelho. Embora Maíra tenha agido de boa-fé subjetiva, sem intenção de enganar Maurício, houve uma violação do princípio da boa-fé objetiva, uma vez que Maurício foi enganado. Na doutrina, se costuma apontar algumas funções do princípio da boa-fé objetiva: Função de coibir abuso de direito (função corretiva): No caso, por exemplo, da existência de uma cláusula abusiva em um contrato – como uma taxa de juros extremamente elevada em comparação com a praticada no mercado; Função de solucionar ambiguidades (função interpretativa): Sempre que existir uma ambiguidade, uma dúvida interpretativa, buscar-se-á acabar a ambiguidade através do padrão ético de conduta usado como referência. A boa-fé, nesse cenário, resolve a ambiguidade entre as soluções A e B. Função de criação de deveres jurídicos (função supletiva): Criação dos deveres anexos. Aqui é que há a distinção entre a visão clássica de obrigação e a obrigação enquanto processo. Por mais que a autonomia das partes seja importante, esta não é a única responsável por criar deveres para as partes. Muitas vezes o básico do comportamento adequado não é colocado no papel. O descumprimento de um dever anexo pode vir a ensejar a extinção do contrato. 2. Pesquisar uma decisão judicial que envolva deveres anexos. STJ 19/10/2020 - Rel. MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA Contexto: Um indivíduo contratou um seguro de automóvel para o seu veículo. Seu filho, um terceiro nesse caso, se envolveu em um acidente de trânsito - com o veículo do pai - em estado de embriaguez. Problemática: O seguro deve cobrir ou não o dano causado ao veículo do pai? 204 Thiago Coelho (@taj_studies) Argumento 01: Extensão da obrigação a pessoas próximas do beneficiário. A configuração do risco agravado não se dá somente quando o próprio segurado se encontra alcoolizado na direção do veículo, mas abrange também os condutores principais (familiares, empregados e prepostos). Argumento 02: A cláusula do contrato é lícita: A direção do veículo por um condutor alcoolizado já representa agravamento essencial do risco avençado, sendo lícita a cláusula do contrato de seguro de automóvel que preveja, nessa situação, a exclusão da cobertura securitária. A bebida alcoólica é capaz de alterar as condições físicas e psíquicas do motorista, que, combalido por sua influência, acaba por aumentar a probabilidade de produção de acidentes e danos no trânsito. Argumento 03: O seguro de automóvel não pode servir de estímulo para que se assumam riscos imoderados que, muitas vezes, beiram o abuso de direito, a exemplo da embriaguez ao volante. A função social desse tipo de contrato é ser um instrumento de valorização da segurança no trânsito, harmonizando com as leis penais e administrativas que criaram esses ilícitos justamente para proteger a incolumidade pública no trânsito O segurado deve se portar como se não houvesse seguro em relação ao interesse segurado (princípio do absenteísmo), isto é, deve abster-se de tudo que possa incrementar, de forma desarrazoada, o risco contratual, sobretudo se confiar o automóvel a outrem, sob pena de haver, no Direito Securitário, salvo-conduto para terceiros que queiram dirigir embriagados, o que feriria a função social do contrato de seguro, por estimular comportamentos danosos à sociedade. Argumento 04: Dever de vigilância por parte do pai: Sob o prisma da boa-fé, concluiu-se que o segurado, quando ingere bebida alcoólica e assume a direção do veículo ou empresta-o a alguém desidioso, que irá, por exemplo, embriagar-se (envolvendo tanto dolo quanto culpa, já que ele tinha o dever de vigilância (culpa in vingilando) e de escolher adequadamente a quem se confia a prática do ato (culpa in eligendo,) frustra a justa expectativa das partes contratantes na execução do seguro, pois rompe-se com os deveres anexos do contrato, como os de fidelidade e de cooperação. Argumento 05: Autocolocação em perigo: Constatado que o condutor do veículo estava sob influência do álcool (causa direta ou indireta) quando se envolveu em acidente de trânsito - fato esse que compete à seguradora comprovar -, há presunção relativa de que o risco da sinistralidade foi agravado, a ensejar a aplicação da pena do art. 768 do Código Civil (dispõe que o segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do contrato) →”autocolocação em perigo” 205 Thiago Coelho (@taj_studies) Argumento 06: Violação do disposto no art. 768 do Código Civil: Art. 768 - CC: O segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do contrato. Há um caráter de intenção, não necessariamente dolosa em relação ao seguro. Decisão: Favorável ao seguro e comprovação do rompimento dos deveres anexos pela outra parte (pai). OBS: Vale lembrar que a depender da idade do titular do seguro, os preços tendem a variar. Os jovens titulares tendem a pagar mais pois se presume que eles são menos responsáveis no trânsito. Daí uma série de fraudes é comumente identificada, quando os pais tentam proteger os filhos. Para a próxima aula: Princípios e fontes do Direito das Obrigações AULA 03 – DEVERES ANEXOS 1. Classificação dos deveres: Deveres primários: Obrigação principal Deveres secundários: São, normalmente, deveres relacionados à própria prestação principal, sem, contudo, com esta se confundirem. Ex: O pagamento de uma multa por conta de um inadimplemento – a multa trata-se de um dever do secundário surgido do inadimplemento (a não quitação de um boleto, por exemplo). Deveres anexos: Deveres derivados da boa-fé que, levando um padrão adequado de conduta (o que se espera de agir), nascem da perspectiva da obrigação como processo. Como decorrentes da boa-fé, não precisam ser pactuados nem expressos pelas partes (independem dessas condições). Esses deveres anexos geralmente geram um inadimplemento positivo (violação positiva) – o que pode impactar nos efeitos desse inadimplemento. OBS: Inadimplemento absoluto (A não entrega o bolo de aniversário de B na data que este solicitou) x inadimplemento relativo (A deve a B R$100,00 e resolve pagá-lo amanhã ao invés de hoje, tendo B, ainda, o interesse em receber a quantia). 2. Classificações doutrinárias dos deveres anexos: 206 Thiago Coelho (@taj_studies) Medeiros Cordeiro: Dever anexo de informação; Dever anexo de cuidado; Dever anexo de assistência; Fernando Noronha: Dever anexo de informação; Dever anexo de cuidado; Dever anexo de assistência e de lealdade; Martins Costa: Adverte, para além dos deveres anexos, para a existência dos deveres de proteção – inclusos pelos demais autores como deveres anexos. 3. Os deveres anexos para a doutrina: Dever anexo de informação: Para o sujeito iniciar a sua tratativa que gerará uma obrigação, precisa estar bem informado. Ex: A quer comprar um aspirador de pó, mas não se atenta a não indicação da voltagem no produto. Supondo que A não teria adquirido o aparelho se este tivesse a voltagem de 220. É um dever da empresa especificar tal voltagem do seu produto. Dever de cuidado: Se vincula à obrigação de não causar dano a outra parte. Ex: Uma construtora fez um prédio na região de Sussuarana. Quando o prédio estava prestes a ser entregue, veio a ruir. Depois, descobriu-se que a empresa não realizou oestudo de solo (estudo do terreno para entender a viabilidade de se erguer a construção). Trata- se de um dever básico, já que nenhum comprador vai perguntar “foi feito o estudo de solo?”. A outro título exemplificativo trata-se do dever de cuidado dos camarotes de carnaval com a segurança do público (presença de extintor de incêndios, boa infraestrutura, etc). Dever de assistência (ou assistência e lealdade): Trata-se de uma ideia geral de cooperação, a qual as partes devem ter durante e após o processo obrigacional. Assistência, para Fernando Noronha, seria a ação; e a lealdade, a inação. Ex: A compra um carro novo e, depois, a montadora resolve parar de fabricar o carro – o que é permitido. Entretanto, esta deve continuar a fabricar as peças daquele modelo em virtude da obrigação de assistência (almeja ao adequado desenvolvimento). 207 Thiago Coelho (@taj_studies) Dever de proteção (Martins Costa) (?): Deveres que não se relacionam com a prestação, não impactando tanto nesta. Ex: A entra no mercado pensando em comprar algo. O chão está molhado e não há sinalização. A escorrega e sofre uma fratura. Esse exemplo é questionado devido à inexistência de uma obrigação pré- existente (a não ser que A deixe de comprar em virtude do escorrego). 4. Atividade: 1) Indique três pontos de distinção entre Direito das Obrigações e Direito das Coisas. DIREITOS OBRIGACIONAIS DIREITO DAS COISAS Incide sobre uma prestação Incide sobre uma coisa Cooperação de sujeito passivo Independe de cooperação Caráter mais transitório (regra) Caráter mais perpétuo (regra) Efeito inter partes Efeito Erga omnes 2) Um cliente lhe procura querendo saber, na condição de credor, qual das três seguintes garantias reais lhe seria melhor: penhor, hipoteca ou anticrese. Explique as três e responda à dúvida do seu cliente. PENHOR: Bem móvel; há transferência do bem ao credor, exceto - rural, industrial, mercantil e de veículo. HIPOTECA: Bem imóvel ou móvel; não há transferência do bem ao credor. ANTICRESE: Bem imóvel; há transferência do bem ao credor, podendo retirar da coisa os frutos para pagamento da dívida. Aparentemente a anticrese é mais desvantajosa para o cliente que se encontra na condição de credor pois este tem que administrar os frutos do bem. 3) Na condição de juiz, chega até você um caso em que A, proprietário, locou para B um apartamento. Neste contrato, ficou determinado que as parcelas condominiais deveriam ser pagas pelo locatário. B não pagou três meses da citada parcela. O condomínio, então, ingressou com ação contra A, para que pague o valor devido. Em sua contestação, A apresentou o contrato firmado com B, argumentando que tal responsabilidade foi a este transmitida. Como julgaria esse litígio entre A e o condomínio? 208 Thiago Coelho (@taj_studies) Correção na próxima aula. 5. Direito das obrigações x Direito das coisas: Essa distinção é importante pois essa parte de “obrigações” e “coisas” engloba os ramos do Direito Civil que tratam de relações patrimoniais. O “Direito das coisas” é mais abrangente em comparação aos “direitos reais”, tratando de questões como posse. No Direito das Obrigações, temos um único objeto: a prestação; já no âmbito do Direito das coisas, ter-se-á uma variação do objeto de estudo ou objeto daquela relação. No Direito das Obrigações, os efeitos típicos (ou principais) só se dão em relação aos envolvidos na relação jurídica. Ex: Se A vende a B uma garrafa, A somente pode cobrar a quantia somente de B, assim como B só pode exigir a garrafa de A. No âmbito do Direito das Coisas, tem-se efeitos Erga omnes, ou seja, se estendem para todos, por se tratar de uma situação jurídica (ex: A tem o status de ser dono de uma determinada garrafa). Aqui, não há uma relação jurídica entre o proprietário e demais pessoas da comunidade, mas o status de proprietário, o qual gera um dever geral de abstenção em relação aos outros sujeitos de não ofender o direito de propriedade de outrem. A outro título exemplificativo pode-se citar a integridade física de um indivíduo, direito deste que deve ser respeitado pelos demais. Como algum dos direitos das coisas são criados, estes não são pensados para uma obrigação relacional, mas em uma relação de domínio que deve ser respeitada pelos demais indivíduos (ex: direitos de posse). No que concerne ao tempo, não se pode adotar uma perspectiva generalizante – podem existir obrigações com tempo ilimitado (ex: algumas obrigações de não fazer), assim como podem existir direitos reais com tempo limitado (ex: usufruto). Todavia, a regra é de que o caráter temporário caracteriza o Direito das Obrigações, enquanto o caráter definitivo marca o Direito das coisas. Quando a obrigação se extingue, o exercício do direito encerra a obrigação (Ex: A paga B). Uma das características do direito de propriedade trata-se do direito de sequela (vinculado ao plano da eficácia). Ex: Se A faz um contrato de compra e venda com B a respeito de uma garrafinha. B paga vinte reais a A e B, portanto, pode exigir a garrafinha a A. A não entrega a garrafinha de imediato. Supondo que, nesse meio tempo, A resolva vender a garrafinha a C. B nunca mais consegue receber essa garrafa pois não é dono de tal instrumento (não ocorrência da tradição, ou seja, entrega), tendo, somente, uma dívida de crédito com A. 209 Thiago Coelho (@taj_studies) No Direito das Obrigações, no geral, a violação de uma obrigação se dá a partir de uma inação (como o não pagamento). Todavia, deve-se atentar para demais tipos de obrigação – como, por exemplo, a de não fazer (o sigilo profissional é violado quando a ação de falar sobre determinado conteúdo sigiloso é realizada). 6. Penhor x hipoteca x anticrese (direitos reais de garantia): Penhor: Um bem móvel é colocado como garantia. Empenhar (impor um penhor) x Penhorar (retirar bens via processo). Hipoteca: Se faz uma averbação informando que determinado bem está hipotecado como garantia de tal dívida (ex: imóveis, aviões, navios...). Anticrese: É o único que não gera a perda da propriedade no caso de inadimplemento do devedor. Ter-se-á um bem imóvel dado como garantia e, caso ocorra o inadimplemento, o credor poderá administrar aquele bem por certo período a fim de receber frutos para cobrir o inadimplemento. Percebe-se, por conseguinte, um maior desgaste por parte do credor para relações patrimoniais que envolvam anticrese. O penhor apresenta maior praticidade e a hipoteca tem a vantagem de se conseguir bens de maior valor. Para a próxima aula: Fontes e princípios das obrigações + classificações das obrigações. AULA 04 – FONTES E CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES 1. Resolução da questão pendente da aula anterior (Direito das Obrigações e Direito das Coisas): Na condição de juiz, chega até você um caso em que A, proprietário, locou para B um apartamento. Neste contrato, ficou determinado que as parcelas condominiais deveriam ser pagas pelo locatário. B não pagou três meses da citada parcela. O condomínio, então, ingressou com ação contra A, para que pague o valor devido. Em sua contestação, A apresentou o contrato firmado com B, argumentando que tal responsabilidade foi a este transmitida. Como julgaria esse litígio entre A e o condomínio? Essa obrigação de pagar a taxa condominial trata-se de uma obrigação em razão da coisa. O fato de alguém ser proprietário faz com que ele tenha o dever de pagar o valor da obrigação. Como é uma obrigação de direito real, o proprietário deve arcar com essa obrigação. Entre 210 Thiago Coelho (@taj_studies) locador e locatório tenha eficácia o negócio estabelecido entre eles, podendo A cobrar regressivamente o valor em relação a B, entretanto a obrigação de pagar a taxa condominial é de A (proprietário) não pode ser delegadaa B (locatário). Se A quiser vender o imóvel a C, nas mesmas condições do contrato firmado com B (supondo que haja uma preferência de compra pelo valor de R$ 300.000,00), A deve, antes, comunicar a B. Caso B não demonstre o interesse em pagar os R$ 300.000,00, A, portanto, pode negociar sem nenhum problema com C. Caso A não comunique B e venda o imóvel a C, B pode, portanto, se demonstrar interesse no imóvel, “tomá-lo” de C. 2. Princípios das obrigações: A autonomia das partes é limitada por outros princípios, tais como o da boa-fé objetiva e o da função social da propriedade (embora este tenha sofrido intensas restrições com o advento do novo Código Civil). Os princípios dialogam com o intuito de conduzir ao adimplemento correto da obrigação. A autonomia, portanto, mantém conexão com um padrão de eticidade (os sujeitos não podem fazer tudo o que querem). 3. Fontes das obrigações: Houve, outrora, a classificação romana em delito, quase delito, contrato e quase contrato. O quase delito seria o que chamamos de crime culposo. Com o advento do Código Napoleônico, a lei passa a ser concebida como uma fonte direta das obrigações. No direito brasileiro, nunca houve a enumeração das fontes das obrigações. Essa enumeração de fontes, portanto, é tarefa da doutrina. Fernando Noronha critica a concepção da lei como fonte direta das obrigações, argumentando que o suporte fático abstrato, sozinho, não gera obrigações. A lei, por si só, não pode ser considerada fonte das obrigações por não gerar obrigações imediatas. Uma das fontes das obrigações seria, nessa perspectiva, o fato jurídico. Toda obrigação deriva, portanto, de um fato jurídico, inclusive lícitos que geram o dever de indenizar (como no caso de A, em estado de necessidade, arrombar a porta da casa de B para se proteger de uma ameaça – A tem o dever de indenizar B). 211 Thiago Coelho (@taj_studies) 4. Classificações das obrigações: CLASSIFICAÇÕES CASO 1 CASO 2 CASO 3 CASO 4 João se obrigou a dar para Carla seu veículo placa ABC 1234 ou pagar cinquenta mil reais. Gustavo apostou com Márcio que se um dia o Vitória for campeão brasileiro da série A lhe pagará um milhão de reais Fernando, advogado, foi contratado para dar um parecer sobre determinado caso. Criou-se uma obrigação em que Joana e Cláudia ficaram obrigadas a pagar quatrocentos reais, podendo o credor exigir o valor integral de qualquer delas. QUANTO AO OBJETO De dar Alternativa Divisível (quantia financeira) e indivisível (veículo) De dar Simples Divisível De fazer Simples Indivisível De dar Simples Divisível QUANTO AOS SUJEITOS Única Não solidária Única Não solidária Única Não solidária Múltipla Solidária QUANTO À LIQUIDEZ Liquída Líquida Líquida Líquida QUANTO AO CONTEÚDO DO ADIMPLEMENTO Resultado Resultado Resultado Resultado QUANTO À EFICÁCIA Simples (Pura) Condicional Simples (Pura) Simples (Pura) RECIPROCAMENTE CONSIDERADAS Principal Principal Principal Principal QUANTO À EXIGIBILIDADE Civil Natural Civil Civil Quanto ao objeto: Dar: Geralmente vincula-se a pagamentos; Fazer: Conduta comissiva; 212 Thiago Coelho (@taj_studies) Não fazer: Omissão obrigatória. Ex: Sigilo profissional; Facultativa: Parece uma alternativa, mas será aprofundada posteriormente; Simples: Único objeto; Cumulativa: Conjunção “e” (mais de um objeto); Alternativa: Conjunção “ou” (há a opção de escolha); Divisível: Dinheiro; Indivisível: Carros, mouse, pareceres; Quanto aos sujeitos: Única: Envolve dois sujeitos (cada um em um polo); Múltipla: Envolve mais de dois sujeitos (pode ter dois devedores e/ou dois credores, por exemplo). Trata-se de um pré-requisito para uma obrigação poder ser solidária (toda solidária é múltipla, mas nem toda múltipla é solidária); Solidária: A responsabilidade é solidária entre os deveres, podendo o credor exigir integralmente de qualquer um dos devedores solidários; Não solidária: É a regra; Quanto à liquidez: Líquida: Regra geral. Para determinar o conteúdo da prestação, não é necessária a ocorrência de evento posterior. Todos os exemplos da atividade representam obrigações líquidas; Ilíquida: Para determinar o conteúdo da prestação, é necessária a ocorrência de evento posterior. Ex: A atropela B e B entra com uma ação para pedir indenização de A. B, ainda em tratamento, não tem noção do valor da indenização (pedido ilíquido) – há a falta do conteúdo da prestação (depende do tempo da recuperação de B, sessões de fisioterapia, etc); Quanto ao conteúdo do adimplemento: Meio: O resultado pouco importa. Ex: Advogado receberá uma quantia do cliente ainda que perca a causa ou no caso de um cirurgião que, mesmo agindo adequadamente, não conseguiu evitar a morte do paciente (“evoluir à morte”)*; Resultado: O resultado é determinante para o cumprimento da obrigação. Ex: Uma transportadora precisa entregar o produto e não só tentar entregar a um cliente para o cumprimento dessa obrigação; 213 Thiago Coelho (@taj_studies) *motivo de intenso debate doutrinário. Quanto à eficácia: Simples (Pura): Não há condição, termo ou encargo; Condicional: Há uma condição (evento futuro e incerto); Modal: Há um encargo (ônus); A termo: Há um termo (evento futuro e certo); Reciprocamente consideradas: Principal: Independente; Acessória: Caso a obrigação principal seja extinta, a acessória também se extingue. Ex: Contrato de locação que envolve um fiador; Quanto à exigibilidade: Civil: Caso ocorra o inadimplemento, haverá meios eficazes, protegidos pelo Direito, para promover o adimplemento. Natural: O ordenamento reconhece que se ocorrer o inadimplemento, ninguém pode obrigar a tal. Ex: Jogo de aposta; Referências: https://www.direitonet.com.br/resumos/exibir/9/Classificacao-das- Obrigacoes#:~:text=Quanto%20ao%20objeto%2C%20seus%20elementos,penal%20e%20%2 2propter%20rem%22. https://jus.com.br/artigos/90528/classificacao-das-obrigacoes-em-relacao-a-pluralidade-de- sujeitos Para a próxima aula: Obrigação de dar e pecuniária + dois textos de Maurício Requião. AULA 05 – A OBRIGAÇÃO DE DAR COISA CERTA 214 Thiago Coelho (@taj_studies) 1. Atividade: Realize análise comparativa da solução das quatro situações abaixo: Um sujeito havia vendido seu carro. Antes da entrega este carro foi furtado: Tem-se uma obrigação de dar coisa certa propriamente dita (a prestação se encontra concretamente determinada e não somente em abstrato). Como o carro não foi entregue (não houve a transferência da posse), o dono do carro consiste no devedor. O bem móvel somente se transmite a partir da tradição (entrega/transferência de posse). O fato do comprador ter ou não pago é irrelevante. Se não teve culpa, o prejuízo é do dono, não tendo, em regra, o dever de indenizar a outra parte. A consequência específica deste caso concreto é que resolve-se a obrigação. No caso de pagamento adiantado total ou parcial, o dono deve devolver o dinheiro para impedir um enriquecimento sem causa. Um sujeito estava indo devolver o notebook que um amigo o havia emprestado. Antes da entrega este notebook foi roubado: Tem-se uma obrigação de coisa certa, mais especificamente, de restituição de coisa certa. O dono do notebook é o sujeito que emprestou e não o que estava com a posse temporária. A obrigação foi resolvida e como não houve culpa por parte do devedor, o prejuízo é de responsabilidade do credor. Um sujeito devia para o outro 10 máscaras PFF2. Na véspera do dia da entrega foram furtadas todas as 50 máscaras do referido modelo que tinha em casa: Tem-se uma obrigação de dar coisaincerta (o objeto se encontra somente determinado por gênero e quantidade – não estando concretamente determinado). O que se sabe aqui é a quantidade de máscaras (10) e o modelo (PFF2). Se as máscaras não estavam determinadas em concreto, não se pode falar em perda nem em deterioração da coisa. Enquanto não acontecer a escolha (transformação em obrigação de dar coisa certa), o sujeito continua obrigado a entregar as 10 máscaras (obrigação ainda não cumprida). Um sujeito devia ao outro mil reais. Quando estava a caminho para realizar o pagamento, o dinheiro foi roubado: Tem-se uma obrigação pecuniária. O sujeito devedor ainda possui a obrigação de pagar (o dinheiro não perece). 2. A obrigação de dar coisa certa: Há duas espécies de obrigação de dar coisa certa, nas quais identificamos quem é o sujeito dono da coisa a ser entregue. 215 Thiago Coelho (@taj_studies) Quando é o devedor, tem-se uma obrigação de dar coisa certa propriamente dita (exemplo 1 do exercício); quando o dono é o credor, tem-se uma obrigação de restituição (exemplo 2 do exercício). Quando o inadimplemento ocorre sem culpa, não se fala na obrigação de indenização de perdas e danos. O prejuízo, portanto, é de responsabilidade exclusiva do dono. Perda: A coisa não tem mais como ser entregue; Deterioração: A coisa sofre um dano que diminui o seu valor (existe, porém não mais da forma que foi pactuada). Art. 233 – CC: A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso. Na obrigação de dar coisa certa, segue-se a premissa de que o acessório acompanha o principal (art. 233 – CC). Se se cria uma obrigação de dar e a coisa envolvida é um acessório, este, em regra, acompanha o bem principal. No caso da perda, tem-se qualquer situação que impossibilite o cumprimento da obrigação (destruição completa da coisa, furto, roubo, etc). Art. 234 – CC: Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos. O art. 234 do Código Civil discorre sobre a perda da obrigação de dar coisa certa propriamente dita. Se a perda resultar de culpa do devedor, este responde pelo valor equivalente, somado a perdas e danos (busca por reparar os efeitos provenientes de tal inadimplemento). Ex: Um sujeito deixa de fazer uma prova (dano) por conta da não entrega de um notebook (perda). Art. 238 – CC: Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda. Art. 239 – CC: Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais perdas e danos. 216 Thiago Coelho (@taj_studies) No caso de perda do objeto da obrigação de restituir coisa certa, caso não haja culpa do devedor, a obrigação se resolverá. Se a coisa se perder por culpa do devedor, este responde pelo equivalente, mais perdas e danos. Na deterioração, a coisa existe, só que de forma diferente das condições iniciais. Ex: Um celular que caiu no chão e rachou a tela (danifica-se o aparelho). Art. 235 – CC: Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu. Ex: A vai vender o seu notebook pra B e C se esbarra no aparelho, quebrando-o. O credor pode não querer mais a coisa, ou querer desde que abatido o preço que se perdeu (não é uma indenização, mas só o reestabelecimento das condições). Art. 236 – CC: Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização das perdas e danos. Tendo culpa o devedor, pode-se falar em perdas e danos. Ex: A vende um carro a B, o qual pretende ser Uber. Por culpa de A, após a transmissão do bem móvel, o carro sofre um dano. Os dias em que B não poderá trabalhar por conta do carro estar em conserto na oficina serão arcados por A (perdas e danos). A solução da deterioração da obrigação de restituir é a mesma da propriamente dita. O fato da coisa ser danificada não altera a propriedade do objeto. Art. 239 – CC: Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais perdas e danos. Art. 240 – CC: Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239. 217 Thiago Coelho (@taj_studies) No caso de melhoria, tem-se o art. 237 do Código Civil. Ex: A vende um terreno a B, terreno que acaba se valorizando. Caso o credor não aceite aumentar o valor, há a possibilidade de simplesmente resolver a obrigação. Art. 237 – CC: Até a tradição pertence ao devedor a coisa, com os seus melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação. Parágrafo único. Os frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor os pendentes. Art. 241 – CC: Se, no caso do art. 238, sobrevier melhoramento ou acréscimo à coisa, sem despesa ou trabalho do devedor, lucrará o credor, desobrigado de indenização. Art. 242 – CC: Se para o melhoramento, ou aumento, empregou o devedor trabalho ou dispêndio, o caso se regulará pelas normas deste Código atinentes às benfeitorias realizadas pelo possuidor de boa-fé ou de má-fé. Parágrafo único. Quanto aos frutos percebidos, observar-se-á, do mesmo modo, o disposto neste Código, acerca do possuidor de boa-fé ou de má-fé. Se o melhoramento foi “acidental”, o lucro vai para o credor (dono). Se o melhoramento foi resultante de trabalho ou dispêndio do devedor, o credor deve pagá-lo sob pena de enriquecimento sem causa. O código protege a parte que age com boa-fé. No caso de má-fé, a indenização somente deve ocorrer no caso de benfeitorias necessárias. No que tange aos frutos, o sujeito de boa-fé tem direito aos percebidos, enquanto que o sujeito de má-fé não tem direito aos frutos, devendo indenizar os frutos ainda que não os perceba. Ex: A, embora não use os frutos provenientes do terreno de B, tem o dever de indenizá-lo. Relembrando: Benfeitoria necessária Voltada para evitar a deterioração ou conservação. Benfeitoria útil Voltada para melhorar o uso da coisa. Ex: Transformar um portão manual em eletrônico. Benfeitoria voluptuária Voltada para o recreio, lazer ou deleite. Ex: 218 Thiago Coelho (@taj_studies) Pintar uma parede por uma cor mais agradável. Para a próxima aula: A obrigação de fazer e de não fazer. AULA 06 – CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES (CONTINUAÇÃO) 1. A obrigação de dar coisa incerta: Entre as obrigações de dar, se encontram: a obrigação de dar coisa certa e a obrigação de dar coisa incerta. A coisa incerta, pela letra do Código Civil, é especificada em gênero e quantidade. Tem-se somente, portanto, que individualizar posteriormente esse objeto. A obrigação de dar coisa incerta não se confunde com a obrigação alternativa, uma vez que nesta a escolha se dá entre prestações já pré-determinadas (ex: A tem que dar a B um carro ou 30 mil reais). Em regra, não há que se falar em perda ou deterioração da coisa na obrigação de dar coisa incerta pois o objeto não está concretamente determinado (coisa em abstrato), podendo ser substituído – o gênero não perece como regra. Caso essa premissa seja prejudicada, poderá, nesse sentido, falar em perda ou deterioração da coisa na obrigação de dar coisa incerta.A deterioração da coisa certa por culpa do devedor mantém o dever deste prestar. A deterioração da coisa certa sem culpa do devedor adimple a obrigação. A deterioração da coisa incerta (como no caso de uma forte chuva que estraga uma safra rara de vinho da qual A pretendia adquirir uma garrafa) extingue a obrigação – por se tratar de uma safra rara, torna-se extremamente difícil substituir a coisa quando o próprio gênero pereceu. A escolha da prestação, em regra, será realizada pelo devedor, o qual deve observar a boa-fé objetiva (padrão ideal de conduta vinculado a usos e costumes) e a regra do meio-termo 219 Thiago Coelho (@taj_studies) (mediae aestimationis): não deve dar a pior coisa, mas não se encontra obrigado a dar a melhor coisa (mas pode dar essa melhor coisa se quiser, por exemplo, agraciar o credor com foco em futuros negócios). O universo geral de possibilidades da prestação pode se tornar um universo específico quando as partes têm acesso a um recorte mais aprofundado. Por exemplo: A tem a obrigação de vender um boi a B (A não pode dar o boi mais magro que tiver – X -, por exemplo). Agora, se B visitar a fazenda de A e constatar a presença somente de bois magrinhos, pode ser que X seja aceito de acordo com a regra do meio-termo. A regra do meio-termo passa a ser analisada a partir desse recorte (universo específico = fazenda de A). A cientificação do credor não é o mero aviso, mas sim o fornecimento a este de elementos que o permitam, tanto quanto o devedor, identificar qual a coisa escolhida. Ex: Supondo que A tem cinco cães e B quer adquirir um, alertado por A de que o valor do cão Y é 2X. Após um surto de doença, quatro dos cães morrem. Considerando que B ainda não tenha tido contato com o cão Y, A tentará alegar a B de que o sobrevivente é o cão Y que custa 2X (possibilidade de fraude contra credores). Somente após B ter ciência exata do cão que queria é que a obrigação de dar coisa incerta se converterá à obrigação de dar coisa certa. Cientificação: Aviso + Concessão de elementos suficientes para identificar a coisa. 2. A obrigação pecuniária: A obrigação pecuniária é aquela em que a prestação devida é a transferência de determinado valor monetário. Ex: Compõe a essência de contratos como o de locação, operações bancárias e dos títulos de crédito. Ex: Pagamento por perdas e danos. Ex: Pagamento por criptomoedas. Divergência doutrinária acerca do enquadramento da obrigação pecuniária: Para alguns, trata-se de um subtópico da obrigação de dar coisa certa; 220 Thiago Coelho (@taj_studies) Outros autores afirmam que trata-se de uma categoria independente e diferenciada da obrigação de dar (Maurício Requião adere a essa visão); Embora se assemelhem às obrigações de dar, principalmente a de dar coisa incerta, a obrigação pecuniária constitui uma categoria autônoma. O dinheiro é só o suporte do valor colocado pelo governo sobre ele. Ex: Uma nota de 50 reais é uma mera folha de papel, mas apresenta um valor a ela relacionada. Por outro lado, as moedas em desuso (como o cruzado e o cruzeiro) apresentam importância real somente a nível de colecionador. Não importa a coisa em si, mas o valor a ela atribuído. Não se pode jamais converter uma obrigação pecuniária em uma obrigação de dar coisa certa. A tradição não é essencial, mas sim acidental. Consoante o art. 315, CC, o pagamento das obrigações pecuniárias se dá com base no seu valor nominal. Todavia, se admite a correção do valor devido para que até o momento do pagamento seja mantido o seu valor real (funcional). Medida protetiva da moeda nacional: O pagamento das obrigações pecuniárias no território brasileiro se dá com a moeda em curso (art. 318, CC). Não é necessária a criação de uma categoria específica para as obrigações pecuniárias no Código Civil. Basta que a posição doutrinária e jurisprudencial atente para as particularidades inerentes a essa obrigação. 3. A obrigação de fazer: Na obrigação de fazer não há a entrega de coisa, assim como na obrigação de não fazer. A regulamentação da obrigação de fazer é parecida com a obrigação de não fazer (evidenciando o papel que a transferência de propriedade exerce no nosso ordenamento jurídico – obrigação de dar). Exemplo de obrigação de fazer: A contrata B para pintar um quadro. B presta o serviço. Uma obrigação de fazer pode ser sucedida de uma obrigação de dar. No exemplo citado, após pintar o quadro, B deve entregá-lo a A. 221 Thiago Coelho (@taj_studies) Se B sequer pintou o quadro, A pode alegar o descumprimento da obrigação de fazer (ensejou perdas e danos). Se B pintou o quadro, mas não entregou a A, este pode alegar o descumprimento da obrigação de dar. A obrigação de fazer fungível x a obrigação de fazer infungível: Distinção pautada na necessidade (obrigação de fazer infungível ou personalíssima) ou não (obrigação de fazer fungível) da obrigação ser realizada por um sujeito específico. Emergem polêmicas discussões, a luz do caso concreto, se uma determinada obrigação de fazer é fungível ou infungível. Ex: Se um público comprou um ingresso para assistir a um show da banda A e, no dia, o show foi realizado pela banda B. É nítido o descumprimento da obrigação de fazer, por esta ser personalíssima. Ex: Caso o evento acima se desse em um festival, o qual é formado por diversas bandas (principais e secundárias – A, B, C, D...), o inadimplemento seria relacionado a uma obrigação de fazer fungível. Caso algumas pessoas compraram ingressos só para prestigiar a banda A e esta foi substituída pela banda E, tem-se uma discussão travada acerca da obrigação de fazer ser fungível ou infungível. Ex: Se os alunos de uma faculdade querem cursar Direito Civil e o professor que iria lecionar a disciplina foi substituído, tem-se uma obrigação de fazer fungível pois o contrato é sobre ter aula da disciplina e não necessariamente do professor X (embora X possa ter influenciado na escolha da disciplina por parte de alguns alunos). Ex: No caso de um curso de extensão coordenado pelo professor X, caso este seja substituído, tem-se uma obrigação de fazer infungível. O mesmo raciocínio vale para uma cirurgia a ser realizada pelo médico Y e não pelo seu assistente CAPÍTULO II Das Obrigações de Fazer Art. 247 – CC: Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exeqüível. Art. 248 – CC: Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor, resolver-se-á a obrigação; se por culpa dele, responderá por perdas e danos. 222 Thiago Coelho (@taj_studies) Art. 249 – CC: Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível. Parágrafo único. Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido. Inadimplemento sem culpa (art. 248 – CC): Obrigação resolvida. Extingue-se a obrigação; O art. 247 do Código Civil se refere à obrigação de fazer infungível, enquanto o art. 249 se assemelha à obrigação de fazer fungível; A obrigação de planos de saúde é uma obrigação de fazer (uma cirurgia, por exemplo). Há uma intensa juridicialização na área da saúde, uma vez que constantemente liminares forçam o plano de saúde a autorizar certos procedimentos. Pode-se impor uma multa ao plano a cada dia de descumprimento (medida alternativa ao pagamento de perdas e danos); No caput do art. 249 não há uma autotutela pois há a dependência de autorização judicial, fazendo o parágrafo único uma ressalva (exceção) no que concerne ao caso de urgência. Ex: A contratou um encanador para consertar um vazamento e este não comparece.A pode solicitar que a companhia envie outro funcionário em virtude do caráter emergencial de se reparar o domicílio (risco iminente de danos patrimoniais); 4. A obrigação de não fazer: Constantemente presentes em nosso dia-dia, ainda que imperceptíveis. Cláusula de exclusividade: Qualquer cláusula em que contexto impõe uma obrigação de não fazer. Ex: Um contrato impõe que o ator A só pode aparecer no canal X (implícita a obrigação de não aparecer nos demais canais). Boa parte dos bares e restaurantes tem contratos que se comprometem a não vender produtos de outra marca. Por exemplo, no local em que se vende Guaraná Antártica, geralmente não se vende Coca-Cola e sim, Pepsi. O sigilo profissional também representa uma obrigação de não fazer. Ex: T trabalha em uma empresa e conhece o modo de trabalho dela. T não pode divulgá-lo mesmo após a sua desvinculação da empresa (dever de fidelidade). 223 Thiago Coelho (@taj_studies) Cláusulas de não concorrência também são obrigações de não fazer. Ex: X é dono dos mercados A e B. X resolve vender B para um grupo ainda pouco experiente. X não pode abrir logo depois um mercado C para concorrer com B. Cláusulas de raio correspondem a cláusulas de não concorrência delimitada geograficamente. Ex: Tantos metros do negócio A, o negócio B não poderá se estabelecer. A obrigação de não fazer é, geralmente, aquela que mais dura em comparação com as obrigações de fazer e de dar (cumprimento mais continuado) – como no caso do sigilo inerente a um profissional que já deixou a empresa. CAPÍTULO III Das Obrigações de Não Fazer Art. 250 – CC: Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do devedor, se lhe torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar. Art. 251 – CC: Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos. Parágrafo único. Em caso de urgência, poderá o credor desfazer ou mandar desfazer, independentemente de autorização judicial, sem prejuízo do ressarcimento devido. Sem culpa do devedor, extingue-se a obrigação no caso de inadimplemento. Ex: A realiza ato que não deveria em virtude de coação realizada pelo Poder Público; No caso de descumprimento que gera a responsabilidade, seguir-se-á a lógica da obrigação de fazer já estudada. Ex: Caso A, ator da empresa X, atue na empresa Y, A deverá arcar com perdas e danos (não tem, em um número significativo de ocasiões, como se desfazer o que já foi feito = desfazimento impossível); 5. A obrigação alternativa: A obrigação alternativa é aquela obrigação na qual o devedor (como regra) deverá escolher entre duas ou mais prestações. É possível que haja uma obrigação alternativa simultaneamente com uma cumulativa, embora não seja comum. Ex: A deve escolher X ou Y, mais Z. 224 Thiago Coelho (@taj_studies) Ex: O professor Maurício Requião se obrigou a dar uma aula ou dar um livro. Caso ele escolha dar a aula, cumprirá com a obrigação, assim como cumprirá no caso de dar um livro. O poder de escolha do devedor é limitado entre as prestações previamente definidas. A obrigação alternativa não se confunde com a obrigação de dar coisa incerta. A escolha na obrigação de dar coisa incerta, também, como regra, cabe ao devedor, o qual deve selecionar um meio-termo. Na obrigação alternativa, contudo, não se aplica a regra do meio-termo, mas é muito raro que se haja a escolha entre coisas de valores tão díspares (um celular e um apartamento, por exemplo). Na obrigação alternativa, geralmente, as prestações apresentam o mesmo poder, pouco importando o valor econômico. CAPÍTULO IV Das Obrigações Alternativas Art. 252 – CC: Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou. § 1 o Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra. § 2 o Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida em cada período. § 3 o No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá o juiz, findo o prazo por este assinado para a deliberação. § 4 o Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a escolha se não houver acordo entre as partes. Supondo que o professor Maurício Requião se obrigou a dar uma aula ou dar um livro. Consoante o parágrafo 1º do art. 252, ele não pode decidir, por exemplo, dar meia aula e meio livro, pois assim se estaria criando uma terceira prestação. Destarte, o poder de escolha do devedor é limitado entre as prestações previamente definidas. Trata-se de uma obrigação periódica (§2º), a título exemplificativo, pagar boleto de aluguel. Não se confunde, vale o alerta, no caso de parcelamento do pagamento de um produto (como na compra de um pedaço de carne). 225 Thiago Coelho (@taj_studies) No caso de pluralidade de optantes (pluralidade de pessoas com direitos de escolha), eles, em conjunto, terão que decidir via deliberação. A escolha precisa, de acordo com o Código Civil, ser unânime. Segundo o parágrafo 4º, se o direito de escolha for concedido a terceiro, saindo do devedor, caso esse direito retorne, não retorna ao devedor e sim ao consenso entre as partes. No caso de não acordo entre as partes, a escolha caberá a juiz. Art. 253 – CC: Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação ou se tornada inexeqüível, subsistirá o débito quanto à outra. Art. 254 – CC: Se, por culpa do devedor, não se puder cumprir nenhuma das prestações, não competindo ao credor a escolha, ficará aquele obrigado a pagar o valor da que por último se impossibilitou, mais as perdas e danos que o caso determinar. Art. 255 – CC: Quando a escolha couber ao credor e uma das prestações tornar-se impossível por culpa do devedor, o credor terá direito de exigir a prestação subsistente ou o valor da outra, com perdas e danos; se, por culpa do devedor, ambas as prestações se tornarem inexeqüíveis, poderá o credor reclamar o valor de qualquer das duas, além da indenização por perdas e danos. Art. 256 – CC: Se todas as prestações se tornarem impossíveis sem culpa do devedor, extinguir-se-á a obrigação. Os demais dispositivos do Código Civil que tratam da obrigação alternativa discorrem sobre o inadimplemento. No caso de culpa do devedor, deve-se considerar vários fatores. Ex: A tinha que entregar um celular ou um notebook, mas o celular foi danificado. A obrigação pode ser cumprida com o notebook, já que a escolha cabe ao devedor (A). Se o credor de A tivesse o poder de escolha e quisesse escolher o celular. Se o credor de A escolher a prestação subsistente (notebook), não houve prejuízo. Agora, se o credor de A tivesse escolhido o celular (prestação perdida), A deve arcar com perdas e danos somado ao valor equivalente. 226 Thiago Coelho (@taj_studies) No caso da impossibilidade do cumprimento de todas as prestações (A quebrar o celular e depois o notebook), o devedor deverá pagar o equivalente, perdas e danos em relação à última que foi impossibilitada (art. 254, CC) – neste caso, em relação ao notebook. No que tange à perda de uma prestação acontece com culpa e a outra acontece sem culpa, o Código não disciplina. Para Maurício Requião, deve-se seguir a lógica do art. 254, embora não seja um consenso doutrinário, justamente em virtude da lacuna no Código Civil. 6. A obrigação facultativa: Em síntese, o devedor pode se omitir da obrigação. Quando a obrigação é criada, há uma única prestação (não há alternatividade). Ex: Descoberta (encontrar coisa alheia). Quando alguém devolve algo que pertence ao dono, este terá uma obrigação para com o responsável por achar o objeto (recompensa de, no mínimo, 5% do valorda coisa + indenização pelas despesas com a conservação e transporte da coisa). Todavia, o próprio artigo que discorre sobre a recompensa faculta tal obrigação ao dono: “se o dono não preferir abandoná-la”. Art. 1.234 – CC: Aquele que restituir a coisa achada, nos termos do artigo antecedente, terá direito a uma recompensa não inferior a cinco por cento do seu valor, e à indenização pelas despesas que houver feito com a conservação e transporte da coisa, se o dono não preferir abandoná-la. (grifos nossos) 7. Atividade a ser corrigida na próxima aula: Fernanda é credora de um notebook a ser entregue por Guilherme e Lara. Juliana é credora de mil reais de Fellipe e Carlos, devedores solidários. Partindo das duas situações acima: a) analise como deve se dar o pagamento e a diferença dos fundamentos. Fernanda pode cobrar o notebook de Guilherme ou de Lara em virtude da natureza da prestação (indivisível). Ademais, Juliana pode cobrar os mil reais (prestação pecuniária) em virtude de Fellipe e Carlos serem devedores solidários (condição dos sujeitos). 227 Thiago Coelho (@taj_studies) b) caso um dos devedores morra, deixando dois herdeiros, como isso influenciaria no cumprimento da obrigação em cada um dos caso. No primeiro caso, Fernanda pode cobrar o notebook (bem indivisível) dos herdeiros do devedor falecido em virtude da natureza da prestação. No segundo caso, cada um dos herdeiros só estará obrigado a pagar a cota que corresponder ao seu quinhão hereditário, ou seja, cada um deles estará obrigado a pagar 500 reais. AULA 07 – A OBRIGAÇÃO INDIVISÍVEL E SOLIDÁRIA 1. Obrigação divisível e indivisível: CAPÍTULO V Das Obrigações Divisíveis e Indivisíveis Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores. Art. 258. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico. Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for divisível, cada um será obrigado pela dívida toda. Parágrafo único. O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos outros coobrigados. Art. 260. Se a pluralidade for dos credores, poderá cada um destes exigir a dívida inteira; mas o devedor ou devedores se desobrigarão, pagando: I - a todos conjuntamente; II - a um, dando este caução de ratificação dos outros credores. 228 Thiago Coelho (@taj_studies) Art. 261. Se um só dos credores receber a prestação por inteiro, a cada um dos outros assistirá o direito de exigir dele em dinheiro a parte que lhe caiba no total. Art. 262. Se um dos credores remitir a dívida, a obrigação não ficará extinta para com os outros; mas estes só a poderão exigir, descontada a quota do credor remitente. Parágrafo único. O mesmo critério se observará no caso de transação, novação, compensação ou confusão. Art. 263. Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos. § 1 o Se, para efeito do disposto neste artigo, houver culpa de todos os devedores, responderão todos por partes iguais. § 2 o Se for de um só a culpa, ficarão exonerados os outros, respondendo só esse pelas perdas e danos. A prestação divisível é aquela que pode ser reduzida em frações menores sem alterar a estrutura. Todavia, há exceções: um diamante quebrado gera uma série de diamantes menores, só que o valor desses diamantes fragmentados é inferior ao valor do diamante original que estava inteiro. Quando a prestação é divisível, a solução é bem simples: cada um só pode pagar o que é seu e cada um só pode cobrar o que é seu. Ex: A deve 100 reais a B e C. B e C podem cobrar, separadamente, 50 reais de A. Quando a prestação é indivisível, a solução anterior é impossível. Daí, faz-se necessário realizar algumas ponderações: Se há multiplicidade de devedores: Um devedor paga sozinho, o credor está satisfeito, todavia o pagamento não extingue a obrigação. O devedor se sub-roga no direito do credor – o credor agora é o antigo devedor. Este credor poderá cobrar o valor equivalente ao outro devedor que não pagou. Por exemplo: A e B devem um notebook a C que custa mil reais. A dá o notebook a C e, nesse sentido, C está satisfeito. A pode, posteriormente, cobrar 500 reais de B, já que A sub-roga-se no direito de C e tem o direito de cobrar B. Se há multiplicidade de credores: Cada credor vai ter que cobrar o inteiro (prestação indivisível) do devedor. O devedor, ao pagar, deve tomar uma das duas medidas: (I) reúne os credores e paga ou (II) paga a um credor, desde que esse credor apresente 229 Thiago Coelho (@taj_studies) um documento chamado calção de ratificação, o qual autoriza esse credor a receber a prestação em nome dos demais credores. 2. Extinção: Art. 262 – CC: Se um dos credores remitir a dívida, a obrigação não ficará extinta para com os outros; mas estes só a poderão exigir, descontada a quota do credor remitente. Parágrafo único. O mesmo critério se observará no caso de transação, novação, compensação ou confusão. Transação: A deve uma quantia a B. B aceita que A pague uma parte; Novação: A busca renegociar uma dívida com B (o contrato anterior é extinto e um novo é criado); Compensação: A deve 200 a B e B deve 100 a A. A só pagará 100 a B; Confusão: A deve uma quantia ao seu pai, B. B morre. A é herdeiro de B. A passa a dever para ele mesmo; 3. Impossibilidade: A indivisibilidade decorre da prestação. Se a prestação se perdeu e a obrigação vai se resolver com o pagamento de indenização, a obrigação passa a ser divisível (há a perda da qualidade de indivisível). Art. 263 – CC: Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos. § 1 o Se, para efeito do disposto neste artigo, houver culpa de todos os devedores, responderão todos por partes iguais. § 2 o Se for de um só a culpa, ficarão exonerados os outros, respondendo só esse pelas perdas e danos. No que tange ao § 2º, há uma ressalva feita pela doutrina. O culpado só paga pelas perdas e danos, mas os demais continuam tendo que pagar o equivalente. 4. Obrigação solidária: 230 Thiago Coelho (@taj_studies) CAPÍTULO VI Das Obrigações Solidárias Seção I Disposições Gerais Art. 264. Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigado, à dívida toda. Art. 265. A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes. Art. 266. A obrigação solidária pode ser pura e simples para um dos co-credores ou co- devedores, e condicional, ou a prazo, ou pagável em lugar diferente, para o outro. Seção II Da Solidariedade Ativa Art. 267. Cada um dos credores solidários tem direito a exigir do devedor o cumprimento da prestação por inteiro. Art. 268. Enquanto alguns dos credores solidários não demandarem o devedor comum, a qualquer daqueles poderá este pagar. Art. 269. O pagamento feito a um dos credores solidários extingue a dívida até o montante do que foi pago. Art. 270. Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível. Art. 271. Convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade. Art. 272. O credor que tiver remitido a dívida ou recebido o pagamento responderá aos outros pela parte que lhes caiba. Art. 273. A um dos credores solidários não pode o devedor opor as exceções pessoais oponíveis aos outros. Art. 274. O julgamento contrário a um doscredores solidários não atinge os demais, mas o julgamento favorável aproveita-lhes, sem prejuízo de exceção pessoal que o devedor tenha direito de invocar em relação a qualquer deles. (Redação dada pela Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência) 231 Thiago Coelho (@taj_studies) Seção III Da Solidariedade Passiva Art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto. Parágrafo único. Não importará renúncia da solidariedade a propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos devedores. Art. 276. Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado a pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível; mas todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores. Art. 277. O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por ele obtida não aproveitam aos outros devedores, senão até à concorrência da quantia paga ou relevada. Art. 278. Qualquer cláusula, condição ou obrigação adicional, estipulada entre um dos devedores solidários e o credor, não poderá agravar a posição dos outros sem consentimento destes. Art. 279. Impossibilitando-se a prestação por culpa de um dos devedores solidários, subsiste para todos o encargo de pagar o equivalente; mas pelas perdas e danos só responde o culpado. Art. 280. Todos os devedores respondem pelos juros da mora, ainda que a ação tenha sido proposta somente contra um; mas o culpado responde aos outros pela obrigação acrescida. Art. 281. O devedor demandado pode opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais e as comuns a todos; não lhe aproveitando as exceções pessoais a outro co- devedor. Art. 282. O credor pode renunciar à solidariedade em favor de um, de alguns ou de todos os devedores. Parágrafo único. Se o credor exonerar da solidariedade um ou mais devedores, subsistirá a dos demais. 232 Thiago Coelho (@taj_studies) Art. 283. O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a exigir de cada um dos co-devedores a sua quota, dividindo-se igualmente por todos a do insolvente, se o houver, presumindo-se iguais, no débito, as partes de todos os co-devedores. Art. 284. No caso de rateio entre os co-devedores, contribuirão também os exonerados da solidariedade pelo credor, pela parte que na obrigação incumbia ao insolvente. Art. 285. Se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores, responderá este por toda ela para com aquele que pagar. A solidariedade pode ser ativa ou passiva. Tanto na ativa quanto na passiva, o credor pode cobrar o todo de qualquer um dos devedores. De acordo com o Código Civil, não há presunção de solidariedade, decorrendo da lei (alguns artigos expressamente escancaram a obrigação como solidária) ou da vontade das partes (é feito um acordo para que se constitua a solidariedade). Há um único vínculo ou vários vínculos? Para Maurício Requião, deve-se reforçar o art. 266 a partir da segunda perspectiva. Pode-se criar regramentos distintos para os devedores (ex: local de pagamento, data de vencimento, imposição de determinadas condições ou não). Art. 266 – CC: A obrigação solidária pode ser pura e simples para um dos co-credores ou co- devedores, e condicional, ou a prazo, ou pagável em lugar diferente, para o outro. No dia-dia ocorrem mais casos de solidariedade passiva. Ex: A vai no banco pedir um empréstimo e o banco exige a presença de um fiador solidário (ou A aceita ou não pega o seu empréstimo). O credor tem maior poder de negociação e, geralmente, impõe a solidariedade (o credor terá no mínimo dois patrimônios para cobrar o adimplemento da obrigação). A solidariedade ativa não é benéfica aos credores, pois outras pessoas receberão a prestação no seu lugar. Geralmente, caso haja esse interesse, no máximo é concedida uma procuração para que outro receba e, posteriormente, dê a prestação ao credor. 5. Solidariedade ativa: Se o credor recebe e não passa para os demais, o devedor não tem responsabilidade nenhuma (não deve mais se preocupar). Os demais credores precisam cobrar do credor que 233 Thiago Coelho (@taj_studies) não passou aos demais. A prestação, mesmo com a multiplicidade de credores, é única. Ex: Se A deve 1000 a B e a C, pagando 700 a B. A deve pagar só 300 a C. Se nada for dito, presume-se que cada um tem uma parte igual do crédito/débito. Art. 270 – CC: Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível. A solidariedade se relaciona com os sujeitos. Se o credor solidário morreu, os herdeiros não são credores solidários. Ex: A deve 900 reais a B, C e D. Se B morre, deixando dois herdeiros – E e F – estes só devem receber a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário (não são credores solidários). Destarte, A deve pagar 150 a cada (900/3 = 300/2 = 150 reais a E, e 150 reais a F). Art. 273 – CC: A um dos credores solidários não pode o devedor opor as exceções pessoais oponíveis aos outros. Outro ponto importante trazido pelo Código diz respeito às exceções pessoais. Exceções correspondem a meios de defesa no Direito. As exceções pessoais são limitadas aos sujeitos às quais elas se aplicam. Art. 274 – CC: O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais, mas o julgamento favorável aproveita-lhes, sem prejuízo de exceção pessoal que o devedor tenha direito de invocar em relação a qualquer deles. (Redação dada pela Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência) 234 Thiago Coelho (@taj_studies) Se B entra com uma ação contra A e perde, C e D podem entrar com ação contra A. Todavia, se A ganha a ação, isso se aproveita a C e a D, mas se ressalvam as exceções pessoais para os credores que ainda não se envolveram em litígio. Em suma: B entra com uma ação contra A: B perde: Não impacta em C e D; B ganha: Os benefícios se aproveitam a C e D, ressalvando-se a estes as exceções pessoais; 6. Solidariedade passiva: Na solidariedade passiva, há uma pluralidade de devedores. O credor pode ir a qualquer devedor e cobrá-lo a obrigação. O credor pode perdoar a dívida toda ou apenas a parte de um. Neste caso, obrigação continua sendo solidária, abatido o valor perdoado. Remissão não se confunde com renúncia. Remissão é o perdão de dívida; renúncia solidária se dá quando o credor renuncia a solidariedade. Art. 276 – CC: Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado a pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível; mas todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores. No caso de devedores solidários, aplica-se o semelhante ao estudado no caso de credores solidários. Os herdeiros de um devedor solidário que falecera não serão devedores solidários, podendo o credor cobrar a cada um a parte que compete a cada. Todos reunidos são considerados um devedor solidário (mas cada um individualmente, não). Art. 284 – CC: No caso de rateio entre os co-devedores, contribuirão também os exonerados da solidariedade pelo credor, pela parte que na obrigação incumbia ao insolvente. Se um dos devedores for insolvente, a parcela dele será rateada (dividida) entre todos os devedores, inclusive o devedor que tenha sido excluído da solidariedade. 235 Thiago Coelho (@taj_studies) Art. 285 – CC: Se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores, responderá este por toda ela para com aquele que pagar.A regra é que a obrigação se divide igualmente entre os devedores, todavia, há exceções – como a trazida pelo art. 285 do Código Civil. Pode, destarte, existirem dois devedores, um devendo pagar 100% e o outro, nada. Nesse sentido, existindo uma dívida de interesse exclusivo, o regramento funciona de forma distinta (somente o interessado responderá). Para próxima aula: Resolver avaliações anteriores de Direito de Obrigações. AULA 08 – CESSÃO DE CRÉDITO E ASSUNÇÃO DE DÍVIDA 1. Cessão de crédito: Credor cedente: Sujeito que era credor originalmente; Credor cessionário: Novo credor; Cedido: Devedor; A vontade das partes pode impedir que um crédito seja cedido (embora a lei permita). Art. 286 – CC: O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação. Art. 287 – CC: Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito abrangem-se todos os seus acessórios. Como regra, transmissão da obrigação principal se estende às obrigações acessórias. A cessão de crédito pode ser total ou parcial. 236 Thiago Coelho (@taj_studies) A cessão de crédito não exige o consentimento do devedor. Tal negócio jurídico é válido e eficaz entre o cedente e cessionário. Para que o negócio tenha eficácia para o devedor e para terceiros, a lei traz, contudo, alguns requisitos. Art. 288 – CC: É ineficaz, em relação a terceiros, a transmissão de um crédito, se não celebrar-se mediante instrumento público, ou instrumento particular revestido das solenidades do § 1 o do art. 654. Art. 289 – CC: O cessionário de crédito hipotecário tem o direito de fazer averbar a cessão no registro do imóvel. Art. 290 – CC: A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a este notificada; mas por notificado se tem o devedor que, em escrito público ou particular, se declarou ciente da cessão feita. Art. 291 – CC: Ocorrendo várias cessões do mesmo crédito, prevalece a que se completar com a tradição do título do crédito cedido. Art. 292 – CC: Fica desobrigado o devedor que, antes de ter conhecimento da cessão, paga ao credor primitivo, ou que, no caso de mais de uma cessão notificada, paga ao cessionário que lhe apresenta, com o título de cessão, o da obrigação cedida; quando o crédito constar de escritura pública, prevalecerá a prioridade da notificação. O primeiro sujeito a notificar é aquele que terá o direito de receber o crédito. Exemplo de terceiros: Um credor de B, C, o qual apresenta interesse na transmissão da cessão de crédito. Extingue-se a obrigação para o devedor que paga o credor primitivo sem ter conhecimento da cessão. Art. 293 – CC: Independentemente do conhecimento da cessão pelo devedor, pode o cessionário exercer os atos conservatórios do direito cedido. Art. 294 – CC: O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe competirem, bem como as que, no momento em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o cedente. 237 Thiago Coelho (@taj_studies) Art. 295 – CC: Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se responsabilize, fica responsável ao cessionário pela existência do crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cessões por título gratuito, se tiver procedido de má-fé. Art. 296 – CC: Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do devedor. Art. 297 – CC: O cedente, responsável ao cessionário pela solvência do devedor, não responde por mais do que daquele recebeu, com os respectivos juros; mas tem de ressarcir- lhe as despesas da cessão e as que o cessionário houver feito com a cobrança. Art. 298 – CC: O crédito, uma vez penhorado, não pode mais ser transferido pelo credor que tiver conhecimento da penhora; mas o devedor que o pagar, não tendo notificação dela, fica exonerado, subsistindo somente contra o credor os direitos de terceiro. 2. Atividade de fixação: 1) Analise como se dá a eficácia de uma cessão de crédito em relação a: a) Cedente e cessionário: Eficaz independentemente de notificação ao devedor. A eficácia, portanto, é imediata; b) Cedido: Precisa ser notificado, pois, caso contrário, a cessão será ineficaz; c) Terceiros: Consoante o art. 288, CC, é ineficaz, em relação a terceiros, a transmissão de um crédito, se não celebrar-se mediante instrumento público, ou instrumento particular revestido das solenidades do § 1 o do art. 654. O parágrafo 1º do art. 654 do Código Civil, determina que: “O instrumento particular deve conter a indicação do lugar onde foi passado, a qualificação do outorgante e do outorgado, a data e o objetivo da outorga com a designação e a extensão dos poderes conferidos”. Ademais, deve-se ocorrer o registro em prol da eficácia em relação a terceiros. 2) Explique, explorando as possibilidades, a responsabilidade do cedente no que toca à existência do crédito e à solvência do devedor. A responsabilidade no que tange à existência é pautada na existência de um crédito (a dívida ainda não foi paga). É importante saber se a cessão de crédito se deu a título oneroso (o novo credor pagou algo) ou gratuito (só há benefícios). Assim, segundo o art. 295 do CC, “na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se responsabilize, fica responsável ao 238 Thiago Coelho (@taj_studies) cessionário pela existência do crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cessões por título gratuito, se tiver procedido de má-fé”. Consoante o art. 296 do CC, “salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do devedor”. O artigo subsequente completa ao afirmar que “o cedente, responsável ao cessionário pela solvência do devedor, não responde por mais do que daquele recebeu, com os respectivos juros; mas tem de ressarcir-lhe as despesas da cessão e as que o cessionário houver feito com a cobrança”. Observa-se que a lei limita essa responsabilidade: tal responsabilidade não recai sobre o valor da dívida, mas sobre o valor pago pela dívida (B paga a A 900 para ceder os 1000 – B responde com base nos 900, ou seja, o valor pago pela dívida). 3) Diferencie assunção de dívida por delegação e por expromissão. Tanto a expromissão quanto a delegação são formas de assunção de dívida. No primeiro caso, o expromitente, novo devedor, assume a dívida diretamente com o credor, sem acordo com o devedor primitivo. Já a delegação, como o nome indica, ocorre quando o antigo devedor delega sua dívida ao novo devedor. A mudança do devedor só pode ser feita com delegação do credor, a qual pode acontecer por dois caminhos: por delegação (o antigo devedor delega sua dívida ao novo devedor) ou por expromissão (o novo devedor procura diretamente o credor). (NINA, 2017) Assunção de dívida não se confunde com pagamento. No negócio jurídico de assunção de dívida, uma pessoa se tornou devedora, tendo que pagar em um dia futuro. A assunção pode ser total ou parcial, cumulativa (o antigo devedor permanece na relação) ou liberatória (quando o novo devedor entra e o antigo devedor já está livre). 239 Thiago Coelho (@taj_studies) 4) Partindo do pressuposto que a cessão de posição contratual não é expressamente regulamentada pelo Código Civil de 2002, e realizando análise por analogia com as formas de transmissão das obrigações, é possível que aquela se realize independentemente da autorização da outra parte que integra o referido contrato? Cessão de contrato ou cessão de posição contratual é a transferência da posição (ativa ou passiva) em um contrato, a um terceiro, com todos os direitos e deveres. Necessariamente ocorre em contratos bilaterais,com execução não concluída. Exige-se o consentimento da outra parte, especialmente no que concerne aos contratos a título oneroso, aplicando-se por analogia o art. 299, do Código Civil, que trata da assunção de dívida. 3. A assunção de dívida no Código Civil: CAPÍTULO II Da Assunção de Dívida Art. 299 – CC: É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava. Parágrafo único. Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assunção da dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa. Art. 300 – CC: Salvo assentimento expresso do devedor primitivo, consideram-se extintas, a partir da assunção da dívida, as garantias especiais por ele originariamente dadas ao credor. Art. 301 – CC: Se a substituição do devedor vier a ser anulada, restaura-se o débito, com todas as suas garantias, salvo as garantias prestadas por terceiros, exceto se este conhecia o vício que inquinava a obrigação. Art. 302 – CC: O novo devedor não pode opor ao credor as exceções pessoais que competiam ao devedor primitivo. Art. 303 – CC: O adquirente de imóvel hipotecado pode tomar a seu cargo o pagamento do crédito garantido; se o credor, notificado, não impugnar em trinta dias a transferência do débito, entender-se-á dado o assentimento. No caso de anulação da assunção resultante, por exemplo, de coação, os sujeitos retornam à condição original (o coator à condição de devedor). 240 Thiago Coelho (@taj_studies) As exceções pessoais do antigo devedor não se estendem ao novo credor por razões óbvias (condições pessoais). O que assume a dívida recebe o nome de assuntor. O art. 303 do CC expressa uma exceção ao parágrafo único do art. 299: Existência de crédito hipotecário. Ex: Se A comprou um imóvel de B, diz que assumiu e notifica o credor para que ele se manifeste em 30 dias. Se o credor ficar em silêncio por 30 dias, compreende-se uma aceitação tácita e não uma recusa. ATIVIDADE DE REVISÃO – AVALIAÇÃO I: 1) Geraldo, que trabalha como uber, resolveu tirar um final de semana de folga e emprestou seu veículo (avaliado em trinta mil reais) para que suas amigas Maria e Larissa o utilizassem durante esse período. Ocorre que Maria, dirigindo alcoolizada, acabou por bater num poste, destruindo totalmente o veículo, embora miraculosamente tenha sobrevivido sem maiores danos. Diante deste quadro, pode Geraldo tomar medidas contra suas até então amigas? (limite de linhas: 12 – valor: 3,5). Ante o exposto, é notório que Geraldo pode tomar medidas contra as suas até então amigas, Maria e Larissa. Com a destruição do veículo, que ocorreu por culpa de Maria, já que ela dirigiu embriagada, a prestação indivisível se transformará em divisível. Como Maria e Larissa não são devedoras solidárias, Geraldo pode cobrar metade do equivalente a cada uma delas (trinta e cinco mil reais divido por duas: quinze mil de cada devedora) mais perdas e danos à Maria, devido à necessidade de se indenizar Geraldo pelos dias não trabalhos enquanto uber. 2) Analise a veracidade da seguinte frase: “Os deveres anexos, que decorrem da função corretiva da boa-fé subjetiva, são normalmente divididos pela doutrina em apenas duas espécies: assistência e lealdade” (limite de linhas: 12 – valor: 3,5) O fragmento anterior é falso. Corrigindo-o, obtemos: “Os deveres anexos, que decorrem da função supletiva da boa-fé objetiva, são normalmente divididos pela doutrina em cinco espécies: proteção, cuidado, informação, assistência e lealdade”. 3) Cláudia firmou contrato com Luísa e Glauber, renomados cirurgiões plásticos, para que o último lhe realizasse cirurgia estética. A escolha especificamente desse 241 Thiago Coelho (@taj_studies) cirurgião se deu após muita pesquisa, tendo a paciente por fim concluído que ele seria o mais indicado. Destaque-se que no contrato ambos ficaram como devedores solidários. No dia da cirurgia, entretanto, Glauber estava muito cansado e, após a sedação da paciente, sem consultar mais ninguém, acabou delegando a realização da cirurgia a seu assistente, William, e foi para casa mais cedo. A despeito desse fato, a cirurgia foi bem-sucedida, dentro das expectativas regulares. Cláudia, entretanto, se sentiu ultrajada pelo fato. Tendo ela lhe procurado como advogado(a), que linha de argumentação desenvolveria numa possível ação indenizatória contra os médicos? (limite de linhas: 10 – valor: 3,0) Diante da quebra de expectativa legítima criada por Cláudia e o profissional específico ter sido um fator determinante para o consentimento com a cirurgia (obrigação de fazer personalíssima/infungível) a paciente poderá solicitar o equivalente de qualquer dos dois médicos – Luísa e Glauber – já que esses são devedores solidários e houve um inadimplemento da obrigação, mesmo que a cirurgia tenha sido bem sucedida. Ademais, vale ressaltar Cláudia pode solicitar as perdas e danos somente do culpado, Glauber. AULA 09 – ADIMPLEMENTO (INTRODUÇÃO) 1. Natureza jurídica do pagamento: Para parcela da doutrina, o pagamento é um ato-fato jurídico por não envolver a vontade como elemento do suporte fático. Esta é a linha de raciocínio seguida por Maurício Requião. Entretanto, há parte doutrinária que considera o pagamento como ato jurídico stricto sensu, tendo a vontade humana como elemento do suporte fático. Não há campo de discussão para validade de um ato-fato jurídico, mas apena no ato jurídico (seja stricto sensu ou negócio jurídico). Ex: A deve 100 reais a B e, também a C. Se A queria pagar a C, mas acabou pagando a B, pode A tomar de volta a quantia? Não. Não se pode alegar erro para anular o pagamento pois o pagamento é um ato- fato jurídico e a dívida com B foi quitada. Sim, se consideramos o pagamento como um ato jurídico stricto sensu, pode ocorrer a anulação via erro. Há artigos do Código Civil que mencionam “não valerá o pagamento”, todavia, sem um rigor técnico – muito mais no sentido de eficácia (o pagamento não alcançará o seu efeito). 242 Thiago Coelho (@taj_studies) 2. Efeitos do pagamento: Para se falar em pagamento, é necessário que haja um débito (só se pode pagar aquilo que é devido). Os principais efeitos do pagamento são: Gera-se a satisfação objetiva do credor. Não se analisa se o credor ficou feliz ou não com o pagamento (satisfação subjetiva), mas se o crédito foi ou não satisfeito, se a obrigação foi ou não inadimplida. Gera-se a liberação do devedor. Com o pagamento, ele não mais deve ao credor. Todavia, existem ocasiões que o pagamento não satisfaz objetivamente o credor. Do mesmo modo que possa existir um pagamento que não libera o devedor (ex: no caso de um terceiro pagar a dívida). Uma característica do pagamento é a pontualidade (não no sentido do dia-dia, mas um viés mais amplo). O pagamento só será satisfatório se for pontual no sentido de que todos os pontos têm que ser cumpridos para que realmente haja adimplemento (incluindo os deveres anexos). O devedor tem o dever de pagar e o credor, o direito de receber, mas se pode afirmar que o devedor tem direito de pagar? Falar que o devedor tem o direito de pagar soa estranho, pois no polo oposto se teria um credor com o “dever de receber”. Nessa perspectiva, é mais plausível em conformidade com o Código Civil afirmar que o devedor tem o direito de se liberar da dívida (ele não pode ficar preso à dívida por mero arbítrio do credor). Próxima aula: Sujeitos, tempo, lugar e provas do adimplemento. AULA 10 – O ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES 1. Os sujeitos do adimplemento: Quem deve pagar: 243 Thiago Coelho (@taj_studies) Seção I De Quem Deve Pagar Art. 304 –CC: Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor. Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste. Art. 305 – CC: O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar; mas não se sub-roga nos direitos do credor. Parágrafo único. Se pagar antes de vencida a dívida, só terá direito ao reembolso no vencimento. Art. 306 – CC: O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposição do devedor, não obriga a reembolsar aquele que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ação. Art. 307 – CC: Só terá eficácia o pagamento que importar transmissão da propriedade, quando feito por quem possa alienar o objeto em que ele consistiu. Parágrafo único. Se se der em pagamento coisa fungível, não se poderá mais reclamar do credor que, de boa-fé, a recebeu e consumiu, ainda que o solvente não tivesse o direito de aliená-la. Podem realizar o pagamento o devedor ou um terceiro (que pode ser interessado ou não interessado). Exemplo de terceiro interessado: fiador (sofrerá sanções caso não pague). Exemplo de terceiro não interessado: um pai que paga a dívida do filho (vínculo meramente afetivo – não sofrerá sanções caso não pague). Quando o terceiro interessado paga, tem-se o pagamento por sub-rogação, ou seja, a obrigação não se extingue. O terceiro interessado se sub-roga no direito do credor. O terceiro não interessado pode realizar o pagamento por dois caminhos distintos: Pagar pelo nome do devedor: Cria-se uma nova obrigação – o antigo devedor torna- se credor do terceiro não interessado. Só se mantém o prazo da obrigação anterior; Pagar pelo seu próprio nome: Tem direito de ser reembolsado, mas não se sub-roga nos direitos do credor (art. 305 – CC); O art. 305 do CC é de suma importância e aparece em concursos públicos. 244 Thiago Coelho (@taj_studies) O art. 306 do Código Civil é muito lógico. Se o devedor tinha meios para não pagar, não faz sentido reembolsar aquele que pagou. Ilidir = contrapor/contestar/refutar/repugnar... Consoante a ressalva feita pelo parágrafo único do art. 307, é importante considerar o bem fungível e consumível. O Código também ratifica a importância de se atentar à boa-fé objetiva. Quem pode receber: Seção II Daqueles a Quem se Deve Pagar Art. 308 – CC: O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito. Art. 309 – CC: O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor. Art. 310 – CC: Não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não provar que em benefício dele efetivamente reverteu. Art. 311 – CC: Considera-se autorizado a receber o pagamento o portador da quitação, salvo se as circunstâncias contrariarem a presunção daí resultante. Art. 312 – CC: Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que poderão constranger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor. O pagamento deve ser feito ao credor ou ao seu representante. Um representante pode receber o pagamento da dívida pelo credor e ratificar o adimplemento, salvo nas hipóteses em que é necessária a constatação pelo credor. Quando o credor é incapaz (art. 310, CC), não vale o pagamento feito a este. Deve ser feito a seu representante. Ex: Um pai deve pagar a pensão alimentícia à conta bancária da mãe. Supondo que o pai tenha pago em “dinheiro vivo” ao filho. Se esse menor gastou tudo no cinema com os amigos, a finalidade do pagamento não foi alcançada e, portanto, o devedor (pai) não é liberado da dívida. Se esse menor utilizasse o dinheiro para pagar a mensalidade 245 Thiago Coelho (@taj_studies) escolar (finalidade inclusa no pagamento), o devedor seria liberado. Cabe ao devedor provar que o pagamento se deu em proveito do credor incapaz de quitar. De acordo com o art. 311 do Código Civil, é necessário provar que o devedor pagou. Se alguém está de posse da quitação, a presunção é de que essa pessoa está autorizada, também, a receber o pagamento. Observa-se que o referido diploma faz a ressalva de “se as circunstâncias contrariem a presunção daí resultante”. Ex: Se A deve pagar B e, no dia agendado, aparece C com o documento que libera A. Só que A não conhece e não foi informado por B que C receberia a quantia em seu lugar. Ora, aqui é plausível A se recusar a pagar a C. Mas caso ligue para B e B confirme que C está lhe representando, A deve pagar e C o libertar da dívida. Aqui também há a incidência da boa-fé objetiva. Vamos à aplicação prática do art. 312 do Código Civil. Ex: A paga a C para que C pague B. Só que C não pagou a B. B mantém o direito de cobrar a A, assim como A poderá ajuizar uma ação contra C. 2. O lugar do pagamento: Seção IV Do Lugar do Pagamento Art. 327 – CC: Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias. Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles. Art. 328 – CC: Se o pagamento consistir na tradição de um imóvel, ou em prestações relativas a imóvel, far-se-á no lugar onde situado o bem. Art. 329 – CC: Ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no lugar determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o credor. Art. 330 – CC: O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato. A regra geral é de que o local do pagamento é o domicílio do devedor (obrigação quesível). Ex: Sr. Barriga cobra o aluguel diretamente na casa do Sr. Madruga. A obrigação é portável quando o local de pagamento é o domicílio do credor. 246 Thiago Coelho (@taj_studies) Sabendo o local do pagamento, é possível identificar quem está inadimplente. Se ficou acordado que o pagamento deverá ser feito na casa do devedor e o credor não comparece, este (o credor) se encontra inadimplente. Ex: Sr. Barriga não vai à casa de Sr. Madruga. Pode-se ter, também, um local neutro – como em uma faculdade, por exemplo. Quem não compareceu, este se encontra inadimplente. Se os dois não comparecerem, o Código não responde se os dois estão inadimplentes ou se os dois estão adimplentes. Ocorrendo motivo grave (art. 329 – CC) – termo generalizante – que inviabilize o pagamento no lugar determinado. Ex: A tem que pagar B em Salvador. Supondo que um parente de A tenha morrido e ele teve que se deslocar rapidamente para Feira de Santana. A quita a obrigação em uma casa de B em Feira de Santana. O prejuízo de eventual transporte recai sobre o devedor. O art. 330 do Código Civil dialoga com supressio e surrectio (abuso de direito estudado em IED Privado II): inação + ação ganho de um direito + perda de um direito. Ex: A tem que pagar B no local X, só que todo mês o pagamento é feito no local Y. No 5º mês, B resolve cobrar A no local X. Isso não pode ser feito, já que o nosso ordenamento jurídico compreende a renúncia tácita do local previsto no contrato. A ganhou o direito de pagar no local Y, assim como B perdeu o direito de receber o pagamento no local X. 3. O tempo do pagamento: Seção V Do Tempo do Pagamento Art. 331 – CC: Salvo disposição legal em contrário, não tendo sido ajustada época para o pagamento, pode o credor exigi-lo imediatamente. Art. 332 – CC: As obrigações condicionais cumprem-se na data do implemento da condição,cabendo ao credor a prova de que deste teve ciência o devedor. Art. 333 – CC: Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no contrato ou marcado neste Código: I - no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores; II - se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor; III - se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las. 247 Thiago Coelho (@taj_studies) Parágrafo único. Nos casos deste artigo, se houver, no débito, solidariedade passiva, não se reputará vencido quanto aos outros devedores solventes. De acordo com o art. 331 do Código Civil, a obrigação pode ser exigida desde o momento em que ela surja (eficácia imediata = regra geral). Pode existir, no entanto, que a eficácia esteja subordinada a um termo ou uma condição. No que tange ao termo, basta que o prazo seja alcançado. Ex: A deve pagar um boleto até 30/10 (o termo geralmente é fixado em favor do devedor). Estará inadimplente a partir do dia 31/10. Quando se tem uma condição (evento futuro e incerto), a obrigação deve ser cumprida no momento em que a condição se concretize. A cobrança antecipada (prevista no art. 333, CC) é autorizada em determinadas ocasiões. Maurício Requião faz um questionamento: é cobrança antecipada ou vencimento antecipado? (em virtude do expresso no parágrafo único do artigo supracitado). Casos em que pode acontecer a cobrança antecipada: No caso de falência do devedor ou de concurso de credores. Se a chance aqui de receber já é remota, a longo prazo tende a diminuir; Se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor. Ex: A tem uma dívida com B e outra com C. B tem a garantia de uma casa com A. C resolve penhorar a “casa garantia” de B para com A. Como o bem utilizado como garantia foi penhorado, B pode cobrar a dívida de A; Se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las. Ex: Supondo que o terreno de uma casa usada como garantia venha a ruir, só que o valor do terreno é inferior ao da casa outrora existente. O credor pode cobrar a diferença do devedor logo após constatar essa disparidade econômica. 4. O objeto do pagamento e sua prova: Seção III Do Objeto do Pagamento e Sua Prova 248 Thiago Coelho (@taj_studies) Art. 313 – CC: O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa. A obrigação gira em torno da prestação que é devida. O credor, mesmo que receba uma prestação mais valiosa, essa pode não ter muito significado para ele. Da mesma forma que o credor não pode exigir algo menos valioso para o devedor, caso não tenha sido isso que foi pactuado. Art. 314 – CC: Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou. O pagamento deve se dar em um único ato (indivisibilidade do pagamento). Art. 315 – CC: As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos subseqüentes. Art. 316 – CC: É lícito convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas. Art. 318 – CC: São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira, bem como para compensar a diferença entre o valor desta e o da moeda nacional, excetuados os casos previstos na legislação especial. Não há uma seção específica de obrigação pecuniária no Código, mas artigos dispersos. O art. 315 discorre sobre o nominalismo e sobre o curso forçado da moeda – reforçado no art. 318. Quando se tem uma obrigação pecuniária, a determinação da lei é que deve-se o valor nominal (não incide inflação, juros e poder de compra, por exemplo). O pagamento tem que se dar na moeda nacional. Trata-se de uma medida que o Código adota para valorizar, preservar e fortalecer a economia nacional. Há exceções (como, por exemplo, nos contratos de câmbio). Há, conforme o art. 316 do Código Civil, de se preservar a possibilidade de se estabelecer contratos mais longos (exceção ao nominalismo do art. 315). Mitiga-se, assim, o risco de eventuais prejuízos ao credor e ao devedor. Esse instituto é chamado de cláusula de escala móvel. 249 Thiago Coelho (@taj_studies) Art. 317 – CC: Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação. O art. 317 traz a possibilidade de revisar aquilo que é devido. A menção a “motivos imprevisíveis” trata-se da saída do ordinário – o extraordinário. Essa expressão abre uma margem muito grande de discricionariedade para o magistrado, englobando fatores diversos (eleição de Lula e a Guerra no Oriente Médio, por exemplo, que já foram acatadas). Praga e seca ascendem diversas discussões doutrinárias. Art. 7º - Lei 14.010/20 (elaborada e com vigência durante o período pandêmico): Não se consideram fatos imprevisíveis, para os fins exclusivos dos arts. 317, 478, 479 e 480 do Código Civil, o aumento da inflação, a variação cambial, a desvalorização ou a substituição do padrão monetário. Ademais, o art. 317 dialoga com a lesão (vício de vontade) ao mencionar “desproporção manifesta”. O contrato pode ser encerrado ou os valores podem ser reajustados pelo juiz a fim de se mitigar a desproporcionalidade constatada. Art. 325 – CC: Presumem-se a cargo do devedor as despesas com o pagamento e a quitação; se ocorrer aumento por fato do credor, suportará este a despesa acrescida. Art. 326 – CC: Se o pagamento se houver de fazer por medida, ou peso, entender-se-á, no silêncio das partes, que aceitaram os do lugar da execução. A regra geral (art. 325 – CC) é de que a despesa com o pagamento e a quitação cabe ao devedor, entretanto, pode-se alterar contratualmente (é o que acontece geralmente quando compramos na internet, já que nós – credores – pagamos o frete). Por isso nos animamos tanto com “frete grátis”, isto é, a empresa arca com o frete, contudo, essa é a regra. O art. 326 apresenta pouca aplicabilidade prática. Art. 319 – CC: O devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode reter o pagamento, enquanto não lhe seja dada. 250 Thiago Coelho (@taj_studies) Art. 320 – CC: A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, designará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu representante. Parágrafo único. Ainda sem os requisitos estabelecidos neste artigo valerá a quitação, se de seus termos ou das circunstâncias resultar haver sido paga a dívida. Art. 321 – CC: Nos débitos, cuja quitação consista na devolução do título, perdido este, poderá o devedor exigir, retendo o pagamento, declaração do credor que inutilize o título desaparecido. A quitação é um ato jurídico stricto sensu, daí a exigência da capacidade civil. O código traz os requisitos dessa quitação no art. 320. Caso haja falta desses elementos, a quitação é nula. É necessário democratizar esses requisitos na sociedade, uma vez que muitos pagamentos são feitos rapidamente e sem respeitar os pressupostos presentes no Código Civil. O indivíduo sem conhecimento jurídico pode ter problemas para provar a quitação da dívida. A proteção a essa parcela da população é feita no parágrafo único do artigo mencionado, admitindo outras formas de prova como, por exemplo, o comprovante do pix feito (válido). Art. 322 – CC: Quando o pagamento for em quotas periódicas, aquitação da última estabelece, até prova em contrário, a presunção de estarem solvidas as anteriores. Art. 323 – CC: Sendo a quitação do capital sem reserva dos juros, estes presumem-se pagos. Art. 324 – CC: A entrega do título ao devedor firma a presunção do pagamento. Parágrafo único. Ficará sem efeito a quitação assim operada se o credor provar, em sessenta dias, a falta do pagamento. A regra geral é de que quem pagou, deve provar. Entretanto, há situações de presunção de pagamento, ou seja, o sujeito não tem a quitação daquela parcela, mas a lei inverte a ordem das coisas (presunção de que pagou). São as hipóteses elencadas nos arts. 322, 323 e 324 do Código Civil. Quotas periódicas. Ex: Conta de energia elétrica (o pagamento da última faz presumir o pagamento das parcelas anteriores); Capital sem reservas dos juros. Ex: Se quitou os juros, presume-se que o capital foi pago; 251 Thiago Coelho (@taj_studies) Entrega do título ao devedor. O credor tem sessenta dias para provar que o pagamento não ocorreu e a presunção relativa de que houve a quitação, se torna absoluta; 5. A imputação do pagamento: CAPÍTULO IV Da Imputação do Pagamento Art. 352 – CC: A pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem o direito de indicar a qual deles oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos. Art. 353 – CC: Não tendo o devedor declarado em qual das dívidas líquidas e vencidas quer imputar o pagamento, se aceitar a quitação de uma delas, não terá direito a reclamar contra a imputação feita pelo credor, salvo provando haver ele cometido violência ou dolo. Art. 354 – CC: Havendo capital e juros, o pagamento imputar-se-á primeiro nos juros vencidos, e depois no capital, salvo estipulação em contrário, ou se o credor passar a quitação por conta do capital. Art. 355 – CC: Se o devedor não fizer a indicação do art. 352, e a quitação for omissa quanto à imputação, esta se fará nas dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao mesmo tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa. Ex: A deve mais de uma coisa para B. Certo dia resolve dar a B uma quantia financeira. A deve indicar, entre as dívidas, o que está sendo pago (se é parte de uma, se é outra de forma integral, etc). Se o devedor for omisso (só depositou), o credor pode fazer a imputação (gerenciar a quantia recebida). O devedor pode impugnar, mas caso não faça isso, vale o que o credor imputou. Se os dois forem omissos (não se manifestaram) – credor e devedor, tem-se a aplicação do art. 355 do Código Civil (feito nas dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar). 6. A dação em pagamento: 252 Thiago Coelho (@taj_studies) CAPÍTULO V Da Dação em Pagamento Art. 356 – CC: O credor pode consentir em receber prestação diversa da que lhe é devida. Art. 357 – CC: Determinado o preço da coisa dada em pagamento, as relações entre as partes regular-se-ão pelas normas do contrato de compra e venda. Art. 358 – CC: Se for título de crédito a coisa dada em pagamento, a transferência importará em cessão. Art. 359 – CC: Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento, restabelecer-se-á a obrigação primitiva, ficando sem efeito a quitação dada, ressalvados os direitos de terceiros. Se houver acordo entre o devedor e o credor para mudar o que vai se pagar, houve a dação em pagamento. O Código traz algumas situações específicas de dação em pagamento: Determinando o preço da coisa dada em pagamento. Ex: Ao invés do celular, A entrega R$ 2.000,00 a B; Dação envolvendo título de crédito – tal dação se dá pelas regras de cessão de crédito; Caso o credor seja evicto da coisa recebida em pagamento (perda do bem adquirido – é prejudicado): a obrigação é reestabelecida; Evicto: aquele que adquire o bem, ou seja, quem sofre a perda do bem em evicção; AULA 11 – ADIMPLEMENTO E EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES 1. O pagamento em consignação: O sujeito não consegue, por algum motivo, fazer o pagamento ao credor. A lei autoriza, nesse sentido, que ele faça um depósito da coisa – que pode ser em juízo ou bancário. 253 Thiago Coelho (@taj_studies) CAPÍTULO II Do Pagamento em Consignação Art. 334 – CC: Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em estabelecimento bancário da coisa devida, nos casos e forma legais. Art. 335 – CC: A consignação tem lugar: I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma; II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos; III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil; IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento; V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento. O inciso I faz menção à recusa do credor (não querer receber a prestação). O inciso II se aplica mais para as obrigações quesíveis (o credor precisa ir em algum lugar). O inciso III faz, novamente, referência à incapacidade do credor. Se um curador do ausente não tiver competência para receber – mas somente para administrar os bens do ausente – será necessário fazer o depósito em consignação. Os incisos IV e V dialogam entre si. Quando vários sujeitos se apresentam como credores, para não correr o risco de pagar para o credor errado, faz-se o pagamento em consignação. Art. 336 – CC: Para que a consignação tenha força de pagamento, será mister concorram, em relação às pessoas, ao objeto, modo e tempo, todos os requisitos sem os quais não é válido o pagamento. Art. 337 – CC: O depósito requerer-se-á no lugar do pagamento, cessando, tanto que se efetue, para o depositante, os juros da dívida e os riscos, salvo se for julgado improcedente. 254 Thiago Coelho (@taj_studies) Art. 338 – CC: Enquanto o credor não declarar que aceita o depósito, ou não o impugnar, poderá o devedor requerer o levantamento, pagando as respectivas despesas, e subsistindo a obrigação para todas as conseqüências de direito. Art. 339 – CC: Julgado procedente o depósito, o devedor já não poderá levantá-lo, embora o credor consinta, senão de acordo com os outros devedores e fiadores. Art. 340 – CC: O credor que, depois de contestar a lide ou aceitar o depósito, aquiescer no levantamento, perderá a preferência e a garantia que lhe competiam com respeito à coisa consignada, ficando para logo desobrigados os co-devedores e fiadores que não tenham anuído. O código traz a possibilidade do levantamento do depósito. Ex: A depositou em juízo. A lei autoriza, em determinados momentos, ele pegar de volta essa quantia (exceção – raros momentos). Geralmente isso acontece quando há um acordo entre credor e devedor. Se o credor não se manifestar, o devedor é livre para fazer o levantamento do depósito (pegou de volta e está inadimplente). Se o credor se manifestou e não teve uma sentença. Neste caso, o devedor, para fazer o levantamento do depósito, depende de autorização do credor. Se o credor autorizar sozinho – sem a anuência de codevedores, fiadores e demais envolvidos – o credor só pode cobrar do devedor que fez o levantamento. Depois da sentença julgada procedente, o devedor só pode levantar em depósito com autorização de demais codevedores, fiadores e demais envolvidos. Nessa hipótese, portanto, torna-se ainda mais difícil. Art. 341 – CC: Se a coisa devida for imóvel ou corpo certo que deva ser entregue no mesmo lugar onde está, poderá o devedor citar o credor para vir ou mandar recebê-la, sob pena de ser depositada. Art. 342 – CC: Se a escolha da coisa indeterminada competir ao credor, será ele citado para esse fim, sob cominação de perder o direito e de ser depositada a coisa que o devedorescolher; feita a escolha pelo devedor, proceder-se-á como no artigo antecedente. Art. 343 – CC: As despesas com o depósito, quando julgado procedente, correrão à conta do credor, e, no caso contrário, à conta do devedor. Art. 344 – CC: O devedor de obrigação litigiosa exonerar-se-á mediante consignação, mas, se pagar a qualquer dos pretendidos credores, tendo conhecimento do litígio, assumirá o risco do pagamento. 255 Thiago Coelho (@taj_studies) Art. 345 – CC: Se a dívida se vencer, pendendo litígio entre credores que se pretendem mutuamente excluir, poderá qualquer deles requerer a consignação. 2. Pagamento de sub-rogação: O indivíduo que se sub-rogou passa a ter. O nosso código traz duas espécies de pagamento por sub-rogação: legal e convencional. Legal: Basta que o pagamento tenha acontecido dentro dos requisitos previstos em lei; Convencional: Um dos requisitos é a exteriorização da vontade de permitir a sub- rogação; CAPÍTULO III Do Pagamento com Sub-Rogação Art. 346 – CC: A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor: I - do credor que paga a dívida do devedor comum; II - do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem como do terceiro que efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel; III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte. Os três incisos do art. 346 discorrem sobre a sub-rogação legal. O inciso I retrata uma hipótese bastante rara de se constatar na prática (não é algo corriqueiro, que acontece com frequência). O inciso II traz questões que envolvem imóveis. Ex 1: A tem uma dívida e colocou um apartamento como garantia. Se B resolve comprar esse imóvel, torna-se adquirente do imóvel hipotecado. O problema é que se A não pagar a dívida, B perderá o apartamento. Se B quiser pagar a dívida, automaticamente, se sub-roga; Ex 2: A é dono de um prédio e loca este todo para B. B loca diversas salas do prédio (para C, D, E...) Se B (locatário) não pagar A, B poderá ser despejado e, por conseguinte, C, D, E... 256 Thiago Coelho (@taj_studies) Art. 347 – CC: A sub-rogação é convencional: I - quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere todos os seus direitos; II - quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito. Art. 348 – CC: Na hipótese do inciso I do artigo antecedente, vigorará o disposto quanto à cessão do crédito. O art. 347 discorre acerca da sub-rogação convencional. O inciso I remete à cessão de crédito, sendo suas regras as aplicadas. No inciso II, o terceiro empresta ao devedor uma quantia para quitar a dívida, se sub- rogando nos direitos do credor satisfeito. Art. 349 – CC: A sub-rogação transfere ao novo credor todos os direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor principal e os fiadores. Art. 350 – CC: Na sub-rogação legal o sub-rogado não poderá exercer os direitos e as ações do credor, senão até à soma que tiver desembolsado para desobrigar o devedor. Art. 351 – CC: O credor originário, só em parte reembolsado, terá preferência ao sub- rogado, na cobrança da dívida restante, se os bens do devedor não chegarem para saldar inteiramente o que a um e outro dever. O credor originário tem preferência em relação ao sub-rogado caso o devedor não tenha no patrimônio bens suficientes (situação de insolvência). 3. Extinção da obrigação – exercício introdutório: Thiago celebrou contrato com Luca para enviar anotações das aulas de direito, cobrando, por aula, R$ 20,00. Passado um semestre inteiro, Luca recebeu os resumos, contudo, não efetuou os pagamentos que deveria. Com a chegada do fim do ano, Luca, animado com o possível acesso do Bahia à Série A e sabendo que Thiago é torcedor do clube, resolveu presenteá-lo 257 Thiago Coelho (@taj_studies) com um uniforme oficial de 2022. Thiago agradeceu a Luca e decidiu não mais cobrar o valor acumulado, uma vez que o uniforme em questão apresentava preço semelhante ao totalizado pelos cadernos. Luca concordou. De qual forma foi extinta a obrigação presente no caso concreto? Houve remissão da dívida total, uma vez que Luca foi perdoado da sua dívida com Thiago ao presenteá-lo com o uniforme tricolor. Ademais, os requisitos exigidos pelo Código para acontecer a remissão foram respeitados: aceitação do credor, aceitação do devedor e a inexistência de prejuízo a direito de terceiro. 4. Novação: CAPÍTULO VI DA NOVAÇÃO Art. 360 – CC: Dá-se a novação: I - quando o devedor contrai com o credor nova dívida para extinguir e substituir a anterior; II - quando novo devedor sucede ao antigo, ficando este quite com o credor; III - quando, em virtude de obrigação nova, outro credor é substituído ao antigo, ficando o devedor quite com este. Art. 361 – CC: Não havendo ânimo de novar, expresso ou tácito mas inequívoco, a segunda obrigação confirma simplesmente a primeira. Art. 362 – CC: A novação por substituição do devedor pode ser efetuada independentemente de consentimento deste. Art. 363 – CC: Se o novo devedor for insolvente, não tem o credor, que o aceitou, ação regressiva contra o primeiro, salvo se este obteve por má-fé a substituição. Art. 364 – CC: A novação extingue os acessórios e garantias da dívida, sempre que não houver estipulação em contrário. Não aproveitará, contudo, ao credor ressalvar o penhor, a hipoteca ou a anticrese, se os bens dados em garantia pertencerem a terceiro que não foi parte na novação. 258 Thiago Coelho (@taj_studies) Art. 365 – CC: Operada a novação entre o credor e um dos devedores solidários, somente sobre os bens do que contrair a nova obrigação subsistem as preferências e garantias do crédito novado. Os outros devedores solidários ficam por esse fato exonerados. Art. 366 – CC: Importa exoneração do fiador a novação feita sem seu consenso com o devedor principal. Art. 367 – CC: Salvo as obrigações simplesmente anuláveis, não podem ser objeto de novação obrigações nulas ou extintas. A novação é caracterizada pela criação de uma nova obrigação (Animus novandi) com o intuito de extinguir e substituir a anterior. O fato de que o contrato apresenta uma cláusula abusiva (ex: a cobrança de uma taxa indevida), não necessariamente impacta na nulidade do contrato. Contudo, há exceções: um contrato sobre objeto ilícito (droga ilícita, por exemplo), tende a ser nulo em sua totalidade. A novação pode ser objetiva ou subjetiva, ativa ou passiva. Em relação à novação passiva, quando o sujeito aceita essa nova ação (subjetiva passiva), extingue-se a obrigação anterior e o devedor da obrigação primitiva se encontra exonerado. A única hipótese em que ele pode vir a responder se encontra presente no art. 363 do Código Civil, caso tenha atuado de má-fé. Existindo obrigação solidária, no caso da novação (art. 365 – CC), a ideia é de que a novação extingue a obrigação. 5. Compensação: CAPÍTULO VII Da Compensação Art. 368 – CC: Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem. Art. 369 – CC: A compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis. Art. 370 – CC: Embora sejam do mesmo gênero as coisas fungíveis, objeto das duas prestações, não se compensarão, verificando-se que diferem na qualidade, quando especificada no contrato. 259 Thiago Coelho (@taj_studies) Art. 371 – CC: O devedor somente pode compensar com o credor o que este lhe dever; mas o fiador pode compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado. Art. 372 – CC: Os prazos de favor, embora consagrados pelo uso geral, não obstam a compensação.Art. 373 – CC: A diferença de causa nas dívidas não impede a compensação, exceto: I - se provier de esbulho, furto ou roubo; II - se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos; III - se uma for de coisa não suscetível de penhora. Art. 374 – CC: (Revogado pela Lei nº 10.677, de 22.5.2003) Art. 375 – CC: Não haverá compensação quando as partes, por mútuo acordo, a excluírem, ou no caso de renúncia prévia de uma delas. Art. 376 – CC: Obrigando-se por terceiro uma pessoa, não pode compensar essa dívida com a que o credor dele lhe dever. Art. 377 – CC: O devedor que, notificado, nada opõe à cessão que o credor faz a terceiros dos seus direitos, não pode opor ao cessionário a compensação, que antes da cessão teria podido opor ao cedente. Se, porém, a cessão lhe não tiver sido notificada, poderá opor ao cessionário compensação do crédito que antes tinha contra o cedente. Art. 378 – CC: Quando as duas dívidas não são pagáveis no mesmo lugar, não se podem compensar sem dedução das despesas necessárias à operação. Art. 379 – CC: Sendo a mesma pessoa obrigada por várias dívidas compensáveis, serão observadas, no compensá-las, as regras estabelecidas quanto à imputação do pagamento. Art. 380 – CC: Não se admite a compensação em prejuízo de direito de terceiro. O devedor que se torne credor do seu credor, depois de penhorado o crédito deste, não pode opor ao exeqüente a compensação, de que contra o próprio credor disporia. Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem (os valores devem ser semelhantes). A lei traz algumas exceções aos requisitos, como, por exemplo, a compensação de obrigações entre sujeitos que não são credores e devedores recíprocos. A título 260 Thiago Coelho (@taj_studies) exemplificativo pode-se citar os casos envolvendo fiador, o qual pode usar para compensar o crédito do devedor que ele fiança. As dívidas envolvidas na compensação devem estar vencidas. Quando tem o prazo de favor, contudo, pode acontecer a compensação nesse prazo. Ex: A deve a B R$ 1.000,00. No dia do pagamento, A pede que B aumente o prazo. B resolve dar mais um mês para A pagar (prazo de favor = ampliação do prazo em um contexto que o credor não tinha nenhuma obrigação). Daqui a duas semanas, ainda na constância do prazo de favor, vence uma obrigação que B deve a A – R$ 100,00. A resolve cobrar B. B resolve fazer a compensação durante o prazo de favor (R$ 1.000,00 – R$ 100,00 = R$ 900,00). Em regra, qualquer obrigação pode ser compensada, contudo, o código traz exceções no art. 373 para além da vontade das partes: Situações de ilicitude (esbulho, furto, roubo...); Se originar de comodato, depósito ou alimentos (esta última apresenta natureza existencial); Se um bem for impenhorável (não perde nem em estado de inadimplência); Pode ser que um sujeito tenha para com outro duas ou mais dívidas compensadas. Ex: A deve a B R$ 200,00 e R$ 300,00, enquanto que B deve a A R$ 500,00. Segue-se a mesma lógica da imputação do pagamento na compensação. 6. Confusão: CAPÍTULO VIII Da Confusão Art. 381 – CC: Extingue-se a obrigação, desde que na mesma pessoa se confundam as qualidades de credor e devedor. Art. 382 – CC: A confusão pode verificar-se a respeito de toda a dívida, ou só de parte dela. Art. 383 – CC: A confusão operada na pessoa do credor ou devedor solidário só extingue a obrigação até a concorrência da respectiva parte no crédito, ou na dívida, subsistindo quanto ao mais a solidariedade. Art. 384 – CC: Cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus acessórios, a obrigação anterior. Na mesma pessoa se confunde as figuras do credor e do devedor. 261 Thiago Coelho (@taj_studies) No caso do art. 383, a extinção vai se dar somente na parte do crédito da dívida daquele sujeito (confusão parcial). 7. Remissão: CAPÍTULO IX Da Remissão das Dívidas Art. 385 – CC: A remissão da dívida, aceita pelo devedor, extingue a obrigação, mas sem prejuízo de terceiro. Art. 386 – CC: A devolução voluntária do título da obrigação, quando por escrito particular, prova desoneração do devedor e seus co-obrigados, se o credor for capaz de alienar, e o devedor capaz de adquirir. Art. 387 – CC: A restituição voluntária do objeto empenhado prova a renúncia do credor à garantia real, não a extinção da dívida. Art. 388 – CC: A remissão concedida a um dos co-devedores extingue a dívida na parte a ele correspondente; de modo que, ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros, já lhes não pode cobrar o débito sem dedução da parte remitida. A remissão precisa, obviamente, ser aceita pelo credor. A remissão precisa ser aceita pelo devedor e não pode prejudicar direito de terceiro. Se se tem uma obrigação a título de crédito e o título é devolvido, essa devolução é entendida como uma remissão. Um indivíduo pode abrir mão do objeto empenhado (garantia), mas não da obrigação em si. Se se tem vários devedores solidários, pode-se perdoar um deles e os demais continuam devedores solidários do restante. Para a próxima semana: Inadimplemento das obrigações. AULA 12 – INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES 1. Noções introdutórias: 262 Thiago Coelho (@taj_studies) Inadimplemento absoluto: Não foi e nem será cumprida, seja pela impossibilidade da prestação ou porque essa prestação deixou de ter utilidade para o credor. Ex: O aniversário de A era ontem e ele havia encomendado um bolo, entretanto, este não foi entregue. Hoje, tal bolo não apresenta mais utilidade. Logo, tem-se um caso de inadimplemento absoluto. Inadimplemento relativo: O pagamento não aconteceu, mas ainda pode acontecer, já que há utilidade para o credor a prestação ou se pode resolver o problema relacionado ao lugar, à forma... O inadimplemento relativo não terá esse caráter para sempre, sendo, portanto, transitório. Ex: A comprou um livro para estudar para uma prova do dia 21/11. O livro deveria ser entregue até o dia 14/11, mas não foi entregue na data prevista (inadimplemento relativo). O interesse de A só se prolonga até a data da realização do teste (21/11). Nesse sentido, converte-se o inadimplemento relativo em inadimplemento absoluto. Violação positiva do contrato: Não há previsão legal expressa. Apresenta um espectro bem limitado a luz do nosso ordenamento jurídico. Pode-se ter um inadimplemento total (nada foi pago) ou parcial (uma parte não foi paga). 2. O inadimplemento absoluto: TÍTULO IV Do Inadimplemento das Obrigações CAPÍTULO I Disposições Gerais Art. 389 – CC: Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. O inadimplemento absoluto obriga o devedor a pagar perdas e danos, juros, atualização monetária e honorários. Art. 390 – CC: Nas obrigações negativas o devedor é havido por inadimplente desde o dia em que executou o ato de que se devia abster. Art. 391 – CC: Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor. 263 Thiago Coelho (@taj_studies) Respondem todos os bens do devedor que podem responder (há bens, por exemplo, impenhoráveis). Art. 392 – CC: Nos contratos benéficos, responde por simples culpa o contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça. Nos contratos onerosos, responde cada uma das partes por culpa, salvo as exceções previstas em lei. A regra geral das obrigações é de que quando há inadimplemento sem culpa, extingue-se a obrigação; com culpa, paga-se perdas e danos. Uma das exceções está prevista no art. 392. A regra dos contratos onerosos é de que quem é culpado, responde. Nos contratos benéficos, a pessoa a quem o contrato favorece(o donatário, por exemplo), ela responde por simples culpa; a pessoa a quem o contrato não favoreça só responde por dolo. Ex: A quer doar um livro para B. A esqueceu o livro perto da janela e o livro foi molhado. A só teria responsabilidade caso tivesse agido com dolo, o que não aconteceu, uma vez que o contrato de doação não lhe favorece. Por isso, A não responde por nada. Art. 393 – CC: O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado. Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir. O legislador brasileiro tratou o caso fortuito e a força maior com mesmas consequências. A doutrina distingue os fenômenos acima – caso fortuito (envolve ação humana, imprevisibilidade) x força maior (natural, embora possível de previsão). É necessário verificar o contexto em que tal circunstância foi criada. 3. O inadimplemento relativo (a mora): CAPÍTULO II Da Mora Art. 394 – CC: Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer. Art. 395 – CC: Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização dos valores monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. 264 Thiago Coelho (@taj_studies) Parágrafo único. Se a prestação, devido à mora, se tornar inútil ao credor, este poderá enjeitá-la, e exigir a satisfação das perdas e danos. O art. 389 fala sobre “perdas e danos”, enquanto que o art. 395 fala sobre “prejuízos”. Essa distinção se faz plausível. “Perdas e danos” dá uma ideia de substituição da prestação. Como na mora, ainda há a possibilidade do cumprimento da prestação, fala-se em prejuízos. O legislador fez questão de tratar da mora tanto do credor quanto do devedor. A regra é que a mora seja ex re. Ex: A devia pagar um boleto até o dia X. A partir de X, caso não tenha pago, estará inadimplente. Às vezes é necessário, para constituir mora, uma circunstância para gerar o inadimplemento. Tem-se a mora ex persona. Ex: A emprestou um livro a B. B só estará inadimplente a partir do momento em que A cobra o livro. Art. 396 – CC: Não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, não incorre este em mora. Art. 397 – CC: O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora o devedor. Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial. Art. 398 – CC: Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora, desde que o praticou. Art. 399 – CC: O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada. Tem-se uma mudança. Normalmente o devedor não vai responder se o inadimplemento por caso fortuito ou força maior. Se o devedor estiver em mora no momento do caso fortuito ou força maior, ele não poderá alegar caso fortuito ou força maior pois já estava inadimplente. Ex: A devia um celular a B. Já em mora, A tem o celular roubado. Há, contudo, uma exceção. Caso o dano ocorresse de qualquer maneira, pode-se alegar caso fortuito ou força maior. A conduta do devedor no atraso não afetaria em nada a natureza do dano. Ex: A devia entregar uma parede pintada a B. Enquanto estava em mora, ocorreu uma 265 Thiago Coelho (@taj_studies) chuva forte que estragou a parede. Tal fenômeno natural aconteceria e danificaria a pintura mesmo que A não tivesse em mora. Art. 400 – CC: A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a recebê-la pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação. Quando o credor está em mora, o devedor só responde caso aja dolosamente. Ex: A doa um livro para B. A deveria pegar o livro de volta no dia X, mas não o fez. B deixou o livro em uma estante e, após uma chuva forte (força maior), o livro foi danificado. B não responde pois o credor estava em mora e B não ter agido com dolo (a não ser que tenha colocado, de propósito, o livro na chuva forte). Se houver alguma oscilação do preço, o preço que terá que ser pago é aquele mais favorável ao devedor. Art. 401 – CC: Purga-se a mora: I - por parte do devedor, oferecendo este a prestação mais a importância dos prejuízos decorrentes do dia da oferta; II - por parte do credor, oferecendo-se este a receber o pagamento e sujeitando-se aos efeitos da mora até a mesma data. A lógica é bem simples. Para purgar a mora (quitar a obrigação após um lapso de atraso), o sujeito tem que fazer o que deveria ter feito antes e se sujeitar aos efeitos da mora. 4. Consequências do inadimplemento: Questão 01 – Em um contrato, foi fixada cláusula penal moratória no montante de R$ 2.000,00 (dois mil reais). Posteriormente, houve inadimplemento absoluto por parte do devedor, que causou ao credor prejuízo de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Como se resolve a questão indenizatória neste caso? 266 Thiago Coelho (@taj_studies) Resposta: Cláusula penal moratória não se aplica ao inadimplemento absoluto ocorrido (art. 411, CC). A cláusula penal moratória não produz efeito. O que deve se pagar são as perdas e danos – R$ 5.000,00. CAPÍTULO V Da Cláusula Penal Art. 408 – CC: Incorre de pleno direito o devedor na cláusula penal, desde que, culposamente, deixe de cumprir a obrigação ou se constitua em mora. Art. 409 – CC: A cláusula penal estipulada conjuntamente com a obrigação, ou em ato posterior, pode referir-se à inexecução completa da obrigação, à de alguma cláusula especial ou simplesmente à mora. Art. 410 – CC: Quando se estipular a cláusula penal para o caso de total inadimplemento da obrigação, esta converter-se-á em alternativa a benefício do credor. Art. 411 – CC: Quando se estipular a cláusula penal para o caso de mora, ou em segurança especial de outra cláusula determinada, terá o credor o arbítrio de exigir a satisfação da pena cominada, juntamente com o desempenho da obrigação principal. Art. 412 – CC: O valor da cominação imposta na cláusula penal não pode exceder o da obrigação principal. Art. 413 – CC: A penalidade deve ser reduzida eqüitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio. Art. 414 – CC: Sendo indivisível a obrigação, todos os devedores, caindo em falta um deles, incorrerão na pena; mas esta só se poderá demandar integralmente do culpado, respondendo cada um dos outros somente pela sua quota. Parágrafo único. Aos não culpados fica reservada a ação regressiva contra aquele que deu causa à aplicação da pena. Art. 415 – CC: Quando a obrigação for divisível, só incorre na pena o devedor ou o herdeiro do devedor que a infringir, e proporcionalmente à sua parte na obrigação. Art. 416 – CC: Para exigir a pena convencional, não é necessário que o credor alegue prejuízo. 267 Thiago Coelho (@taj_studies) Parágrafo único. Ainda que o prejuízo exceda ao previsto na cláusula penal, não pode o credor exigir indenização suplementar se assim não foi convencionado. Se o tiver sido, a pena vale como mínimo da indenização, competindo ao credor provar o prejuízo excedente. Normalmente os valores não cumulam, salvo pacto das partes. Perdas e danos dependem dacomprovação do prejuízo. A cláusula penal independe da prova do prejuízo (basta a ocorrência do inadimplemento). A cláusula penal compensatória se relaciona com o inadimplemento absoluto. A cláusula penal moratória se relaciona com a mora (inadimplemento relativo) ou trata-se daquela que é criada por uma cláusula específica do contrato. O juiz pode reduzir o valor da cláusula penal caso haja um valor desproporcional ao inadimplemento ou no caso de ocorrer inadimplemento parcial. O código faz ressalvas quando há a presença de obrigações divisíveis e indivisíveis. Na obrigação divisível, não há nenhuma novidade em relação ao que foi estudado: considera-se a obrigação dividida em quantos forem os credores e devedores – cada um responde pela sua parte. Se a obrigação for indivisível (ex: celular) e se todos foram culpados do inadimplemento, o credor pode exigir integralmente de qualquer devedor, salvo expressão contratual diversa. Caso nem todos forem culpados, pode o credor, portanto, cobrar o valor integral do culpado/responsável ou de todos, levando em consideração o valor proporcional para os que não tiveram culpa. CAPÍTULO III Das Perdas e Danos Art. 402 – CC: Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar. Art. 403 – CC: Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual. Art. 404 – CC: As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão pagas com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem prejuízo da pena convencional. 268 Thiago Coelho (@taj_studies) Parágrafo único. Provado que os juros da mora não cobrem o prejuízo, e não havendo pena convencional, pode o juiz conceder ao credor indenização suplementar. Art. 405 – CC: Contam-se os juros de mora desde a citação inicial. Perdas e danos integram um capítulo menor no Código Civil. São situações voltadas para questões patrimoniais. Contudo, o descumprimento de um contrato pode gerar, para além de danos patrimoniais, danos extrapatrimoniais. Faz-se uma divisão inicial (ponto central) da parte patrimonial no art. 402 do Código Civil: danos emergentes (o que o sujeito efetivamente perdeu) e lucros cessantes (o que o sujeito razoavelmente deixou de lucrar). Ex: A colide o seu veículo no veículo-uber de B. A deve pagar o conserto de B (danos emergentes) e indenizar B pelos dias não trabalhados em virtude do carro estar na oficina (lucros cessantes). A doutrina tem entendido, para além dos danos emergentes e do lucro cessante, a perda de uma chance. Indeniza-se a chance de que o sujeito já tem, ou seja, que já integra o patrimônio do sujeito. Ex: Não ter uma resposta certa em um concurso, fez com que um indivíduo perdesse a chance de ganhar R$ 1 milhão. Essa chance precisa ser fundamentada, coerente e plausível. Ex: A ia viajar para prestar um concurso para diplomata, mas teve sua passagem adiada pela companhia aérea. Não é plausível que A peça indenização à companhia área pela perda da chance de se tornar diplomata. O pedido aqui foi infundado. Para pagar, é necessário comprovar as perdas e danos. O que não for comprovado, não será pago. Há situações, todavia, em que o sujeito realiza condutas repetitivas ou é uma conduta em que se nota um grave desrespeito, principalmente com a pessoa que foi vitimada. Nesses casos, consoante a doutrina e a jurisprudência, o juiz deve fixar uma indenização maior do que o valor do dano. Ex: Uma montadora que sabia de antemão a possibilidade de seus veículos, após acidentes, entrarem em combustão espontânea. Às vezes o mesmo acontece com contextos envolvendo planos de saúde e companhias telefônicas. Fala-se também em danos morais e danos estéticos, os quais podem combinar entre si. O dano estético se configura quando é causado um dano no corpo da pessoa que seja perceptível. 269 Thiago Coelho (@taj_studies) Ex: A, insatisfeito com o término do relacionamento com B, tatuou seu nome na testa de B. Ex: A, deu um chute em B, deixando-o manco. Se um dano estético acontecer em um modelo (ex: Gisele Bündchen), pode-se falar em lucro cessante (maior potencial lesivo). O dano estético é o mesmo para todos os cidadãos (tem a ver com a lesão causada e não com o status/beleza da pessoa). Dano existencial é aquele que prejudica o projeto de vida de uma pessoa (a normalidade do que seria a vida do sujeito atingido). Ex: A dá uma surra em B. B fica manco. B é atleta. B se aposenta. Ex: Um médico não alertou ao paciente que o procedimento de regular a sua incontinência urinária poderia-lhe deixar hipotônico. O paciente fica hipotônico e, depois de um tempo morre. A esposa do paciente ingressa com uma ação contra o médico por danos existenciais em relação ao marido, o que impossibilitou que ela tivesse com o seu marido relações sexuais. Caso real e que Maurício Requião não lembra do desfecho. Pode existir inadimplemento de uma obrigação sem causar danos? Sim. Ex: A compra um livro qualquer para leitura e que deveria ser entregue em três dias. O livro foi entregue em cinco dias. Houve inadimplemento sem dano. A não sofreu nenhum prejuízo com o atraso de dois dias. AULA 13 – ARRAS E JUROS 1. Arras: CAPÍTULO VI Das Arras ou Sinal Art. 417 – CC: Se, por ocasião da conclusão do contrato, uma parte der à outra, a título de arras, dinheiro ou outro bem móvel, deverão as arras, em caso de execução, ser restituídas ou computadas na prestação devida, se do mesmo gênero da principal. Art. 418 – CC: Se a parte que deu as arras não executar o contrato, poderá a outra tê-lo por desfeito, retendo-as; se a inexecução for de quem recebeu as arras, poderá quem as deu 270 Thiago Coelho (@taj_studies) haver o contrato por desfeito, e exigir sua devolução mais o equivalente, com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e honorários de advogado. Art. 419 – CC: A parte inocente pode pedir indenização suplementar, se provar maior prejuízo, valendo as arras como taxa mínima. Pode, também, a parte inocente exigir a execução do contrato, com as perdas e danos, valendo as arras como o mínimo da indenização. Art. 420 – CC: Se no contrato for estipulado o direito de arrependimento para qualquer das partes, as arras ou sinal terão função unicamente indenizatória. Neste caso, quem as deu perdê-las-á em benefício da outra parte; e quem as recebeu devolvê-las-á, mais o equivalente. Em ambos os casos não haverá direito a indenização suplementar. Uma das partes entrega a outra algo a título de arras. Ex: A quer comprar um carro de R$ 50.000,00 e paga R$ 5.000,00 de arras. Trata-se de uma garantia para que o pagamento seja quitado completamente no futuro (“adiantamento”). Pode-se dar coisa distinta de dinheiro como arras. Quando a coisa dada é da mesma natureza do que se deve (dinheiro-dinheiro), o que foi dado já serve como princípio do pagamento. Ex: R$ 50.000,00 – R$ 5.000,00 = R$ 45.000,00 necessário para quitar a dívida. Se o sujeito que deu as arras foi o responsável pelo contrato não seguir em frente (não adimpliu), as arras dadas vai para outro devedor; Se o contrato não vai adiante por conta de quem recebeu as arras, deve este devolver as arras e pagar o equivalente; No caso de arras penitenciais (encerramento do contrato por um ato de vontade), não há inadimplemento. A regra é a mesma do anteriormente mencionado. O direito de arrependimento foi disponibilizado e, portanto, não há consequências de inadimplemento. Nas arras confirmatórias, contudo, não háo direito de arrependimento, estando o sujeito passível de inadimplemento caso não cumpra com o que deveria. Neste caso, as arras funcionarão como o mínimo da indenização e o que exceder, se paga com perdas e danos. Nas arras, assim como na cláusula penal, não é necessária nenhuma prova. Contudo, a cláusula penal, como regra, cumula com perdas e danos. 2. Juros: 271 Thiago Coelho (@taj_studies) Juros representam acréscimo no valor. Correção monetária é só a atualização do valor visando a manter o valor com a equivalência do poder tido no momento da dívida. A ideia de juros, contudo, é diferente: é aumentar o capital. Existia antes do CC/02, uma discussão sobre se seria possível ter perdas e danos diante do descumprimento de uma obrigação pecuniária. Havia uma corrente que defendia que na obrigação pecuniária, os juros já cobriam o possível prejuízo. Podemos classificar os juros com base em determinados critérios: a) A partir do ato que gerou a existência desses juros: Juros legais: Independem de qualquer vontade humana (imposição de lei); Juros convencionais: Criados por ato de vontade dos envolvidos. As taxas de juros sempre serão legalmente fixadas. As partes têm que seguir os limites impostos pela lei (não é um “mangue”); b) A partir do evento que gerou a existência desses juros: Juros moratórios: Vinculados a qualquer inadimplemento; Juros compensatórios: Servem pra compensar. Ex: O Banco concede um empréstimo já contendo juros, somente pelo fato da pessoa estar usando um capital do banco; c) A partir do modo em que se dá o cálculo desses juros: Juros simples : Não integram de imediato o capital para o cálculo de novos juros; Juros compostos : Integram de imediato o capital para o cálculo de novos juros; C = capital; I = taxa; T = tempo; J = juros; CAPÍTULO IV Dos Juros Legais Art. 406 – CC: Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que 272 Thiago Coelho (@taj_studies) estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional. (Vide ADIN 5867) (Vide ADC 58) (Vide ADC 59) (Vide ADPF 131) Art. 407 – CC: Ainda que se não alegue prejuízo, é obrigado o devedor aos juros da mora que se contarão assim às dívidas em dinheiro, como às prestações de outra natureza, uma vez que lhes esteja fixado o valor pecuniário por sentença judicial, arbitramento, ou acordo entre as partes. O Banco Central (BACEN) impõe limites de faixa para determinadas questões. Por exemplo, para X, só pode cobrar taxas de 2% a 5%. Mesmo com esses regramentos, um número significativo de ações discute juros (qual é o valor da dívida). Quando os juros moratórios não forem estabelecidos ou o forem sem taxa estipulada, deve- se seguir a taxa em vigor da Fazenda Nacional. Síntese – Direito das Obrigações/ Maurício Requião CESSÃO DE CRÉDITO Cessão de crédito = o credor (cedente) transmite a obrigação para outra pessoa (cessionário); O devedor recebe o nome de cedido; Não é permitida a cessão de crédito nos casos em que a lei proíbe ou nos casos em que não é compatível com a natureza da obrigação (exemplos: obrigações personalíssimas ou que envolvem direitos potestativos); Em regra, os acessórios do crédito seguem o crédito principal. Há, contudo, exceções (vide o caso VALE); Extingue-se a obrigação para o devedor que não havia sido notificado da cessão e tenha pago para o credor primitivo (cedente); A cessão do crédito pode ocorrer a título gratuito ou a título oneroso (envolve benefício); A cessão de crédito também pode ser total ou parcial. Caso parcial, o credor primitivo continua credor da parte que não cedeu, assim como o cessionário passa a ser credor da parte que recebeu; A eficácia entre os credores independe de 273 Thiago Coelho (@taj_studies) notificação ao cedido (devedor); A eficácia para o cedido (devedor) depende deste ser notificado; A eficácia em relação a terceiro depende da celebração mediante registro público; Ocorrendo várias cessões do mesmo crédito, prevalece a que se completar com a tradição do título do crédito cedido; No que tange à existência, o cedente se responsabiliza pelo crédito a título oneroso (caso este exista) e se responsabiliza pelo crédito a título gratuito caso tenha agido de má-fé; Salvo estipulação em contrário (acordo entre as partes), o cedente não responde pela solvência do devedor; ASSUNÇÃO DE DÍVIDA É o “oposto” da cessão de crédito; Um terceiro assume a obrigação do devedor; O credor deve consentir expressamente; Quem recebe a dívida recebe o nome de assuntor; O devedor primitivo responde pela solvência do novo devedor quando este for insolvente (não faz sentido transmitir um negócio para uma pessoa que não tem condições de pagar, seria injusto com o credor); O silêncio do credor, em regra, implica em recusa da assunção de dívida. Contudo, há uma exceção: no caso de adquirente do imóvel hipotecado (aquele que compra um imóvel hipotecado). Ex: A comprou o imóvel de B. Depois descobriu que o imóvel estava colocado como garantia de uma obrigação contraída por B com C. A quer adimplir tal obrigação. Se C se calar durante 30 dias após ser notificado, entende-se renúncia tácita; Assunção por delegação: O devedor delega a sua dívida para o novo devedor para, posteriormente, perguntar ao credor; Assunção por expromissão: O novo devedor procura diretamente o credor; Quando o novo devedor entra e o antigo devedor já está livre, tem-se uma assunção liberatória; 274 Thiago Coelho (@taj_studies) Se o antigo devedor permanece na relação, tem-se uma assunção cumulativa; A assunção da dívida, assim como a cessão de crédito, pode ser total ou parcial; É plenamente possível a combinação entre essas classificações (por exemplo, assunção parcial e liberatória); Delegação x Expromissão; Liberatória x Cumulativa; Total x Parcial; Se a assunção vier a ser anulada, restaura-se o débito com todas as suas garantias. O débito volta para quem transferiu a dívida (devedor primitivo), salvo as garantias prestadas por terceiro; Se a “pessoa-garantia” sabia do vício, essas garantias prestadas por terceiro retornam ao devedor primitivo (exceção da exceção); O assuntor não tem nada a ver com as exceções pessoais do devedor primitivo; Cessão de contrato ou cessão de posição contratual é a transferência da posição (ativa ou passiva em um contrato). O assuntor assume tudo do contrato no que tange à sua parte. Exige-se o consentimento dos contraentes (até porque é um contrato). Aplicação em analogia do art. 299 do CC; PAGAMENTO Debate doutrinário quanto à sua natureza jurídica; Maurício Requião considera o pagamento um ato- fato jurídico. Nessa linha, a vontade humana não compõe o suporte fático; Efeitos do pagamento: Satisfação objetiva do credor e a liberação do devedor; ADIMPLEMENTO – NOÇÕES INTRODUTÓRIAS: Em regra, o adimplemento leva à extinção da obrigação; Há, contudo, determinadas exceções, tais como o pagamento por sub-rogação; O adimplemento pode ser amplo (a forma de pagar 275 Thiago Coelho (@taj_studies) pode alterar) ou estrito (se paga exatamente como foi determinado); ADIMPLEMENTO – QUEM DEVE PAGAR Pode adimplir a dívida terceiro interessado (ex: fiador), o qual se sub-roga nos direitos do credor; Pode adimplir a dívida terceiro não interessado (ex: pai paga a dívida do filho – vínculo afetivo); Se ele pagar em nome próprio, não se sub-roga no direito do credor. Todavia, cabe reembolso; Se terceiro não interessadopaga a dívida em nome do devedor, não cabe reembolso e há o surgimento de uma nova obrigação; Se terceiro não interessado paga a dívida em nome do devedor, sem o conhecimento deste e o devedor tinha meios para ilidir a ação (não pagar), não cabe reembolso. É considerado doação; Se o terceiro pagou a dívida antes do vencimento, só cabe reembolso no dia do vencimento; Só pode vender um imóvel quem tem legitimidade para isso. Caso contrário, ter-se-á uma venda a non domino; Se o bem é fungível e consumível, não se pode exigir a devolução do credor caso este tenha agido de boa- fé (Ex: 1kg de arroz usado para preparar um almoço); ADIMPLEMENTO – QUEM DEVE RECEBER O credor, como regra, deve receber; Pode também o representante do credor receber o pagamento; Aquele que tiver com o documento que libera o devedor (posse da quitação), desde que se mostre plausível a confiança do devedor (o devedor conhecer a outra pessoa e/ou ter sido notificado pelo credor); Se o credor disse ao devedor para pagar a ele e somente a ele, o pagamento feito a outra pessoa será ineficaz. Pode receber o incapaz de quitar, desde que o devedor prove que o pagamento se deu em proveito do incapaz. Caso contrário, o pagamento foi inválido. É o caso de um pai que paga a pensão alimentícia para uma criança; Cabe ao devedor ratificar que foi pago 276 Thiago Coelho (@taj_studies) corretamente, afinal, quem paga errado, paga duas vezes; Se o devedor pagar a um credor putativo (imaginário), o devedor está liberado, desde que tenha agido de boa-fé (objetiva). Ex: Valdir paga a um Maurício Requião distinto do Maurício Requião professor da Faculdade (error in persona). Ex: O credor de A morreu e A resolve pagar para um suposto filho de A (novo credor). A acaba pagando errado; O credor verdadeiro pode dialogar com o credor putativo a fim de exigir a quantia. Poderia configurar enriquecimento sem causa por parte do credor putativo; É necessário notifica o credor da penhora, tendo a possibilidade de se pagar em juízo (pagamento por consignação); LUGAR DAS OBRIGAÇÕES Obrigação quesível: A regra é de que a obrigação deve ser adimplida no domicílio do devedor (salvo disposição expressa); Obrigação portável = se dá no domicílio do credor; Designados dois ou mais lugares, a escolha cabe ao credor; No caso da obrigação quesível, caso o credor não compareça, este estará inadimplente, independentemente da presença ou não do devedor; Quem não comparecer ao local está inadimplente; Se os dois não comparecerem, o Código não responde. Há uma divergência doutrinária: ou os dois estão inadimplentes ou nenhum dos dois estão inadimplentes. É mais plausível entender a configuração do tu quoque (ninguém pode reclamar, seria uma hipocrisia); Salvo disposição contratual, nas tradições de imóvel ou em prestações relativas ao imóvel, o local do pagamento deve ser feito no lugar do imóvel (ex: cidade de Salvador); Possível pagar em outro local desde que justificado 277 Thiago Coelho (@taj_studies) por motivo grave e que não gere prejuízo ao credor; Se o pagamento se der reiteradamente (com frequência/habitualidade) em local diferente do estabelecido, tem-se supressio e surrectio. Presume- se uma renúncia tácita do local pactuado. É passível, portanto, a configuração de abuso de direito; TEMPO DAS OBRIGAÇÕES A obrigação, no geral, tem eficácia imediata (pode ser exigida desde o momento em que surja); Se for inserido um vencimento, o devedor está inadimplente a partir da data pactuada; Caso submetida a condição (evento futuro e incerto) ou termo (evento futuro e certo), o devedor só estará inadimplente a partir da ocorrência do fenômeno; Deve-se notificar o devedor, a não ser que seja um fenômeno conhecido por todos – como o Brasil ganhar a Copa do Mundo (condição que, caso se materialize, todos ficarão sabendo e o país irá parar); É permitida a cobrança antecipada nos casos previstos no art. 333 do Código Civil; Falência do devedor ou concurso de credores; Bens hipotecados ou penhorados por outro credor; ou Se cessarem ou se tornarem insuficientes as garantias do débito ou pessoais (ex: a casa desabou e o preço do terreno é inferior ao da casa); Cobrança antecipada não se confunde com vencimento antecipado. Quando o credor vai atrás antes da data, se trata de cobrança antecipada (é a ressalva feita ao Código Civil). Vencimento antecipado é quando o negócio vence antes. Ex: Se X acontecer, a obrigação vencerá no dia Y; No caso de solidariedade passiva, é possível cobrar antecipadamente apenas do devedor que se encontra inserido em uma das hipóteses do art. 305; OBJETO DO PAGAMENTO O credor não é obrigado a receber prestação distinta da que lhe é devida, ainda que mais valiosa; O pagamento deve ser dado em um único ato, sob possibilidade de não satisfazer objetivamente o 278 Thiago Coelho (@taj_studies) credor; Pode-se convencionar a cláusula de escala móvel (aumento progressivo de prestações sucessivas) com o intuito de se estabelecer contratos mais longos; O pagamento deve ser dado na moeda nacional, salvo exceções previstas em lei (como nos contratos de câmbio); Nominalismo: O valor nominal é aquele vigente naquele momento; Curso forçado da moeda: É aquela pela economia por força de lei; Por motivos imprevisíveis, surgindo uma desproporção manifesta entre os valores, o juiz pode corrigir. No caso de contratos de execução continuada ou diferida, o prejudicado exigir a resolução do contrato com efeitos retroativos; Art. 317 – CC: Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação. Art. 478 – CC: Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação. O silêncio das partes implica renúncia tácita do objeto de pagamento (ex: peso ou medida); PROVA DO PAGAMENTO A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, designará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu representante; Admite-se, contudo, outras formas menos formais – exemplo: comprovante do pix; As despesas com o pagamento, em regra, é do 279 Thiago Coelho (@taj_studies) devedor. As partes podem alterar contratualmente; Há a presunção em relação às quotas periódicas. Se o credor emite a quitação da última parcela, permite-se que todas as outras foram pagas; Sendo a quitação do capital sem reserva de juros, presume-se pago os juros; A entrega do título ao devedor firma a presunção do pagamento; O credor tem 60 dias para provar o não pagamento da obrigação; PAGAMENTO EM CONSIGNAÇÃO O devedor deposita o bem em juízo; Isso só é permitido para as obrigações de dar (pagamento em consignação deve ser compatível com a natureza da prestação); Existe, também, o pagamento pela via bancária; Permite-se a consignação: Impossibilidade ou recusa do credor sem justa causa; Se o credor não comparecer ao local estabelecido nem mandar um representante; Se o credor for desconhecido; Se tiver dúvida sobre quem é o credor; Se tiver um litígio pendente sobre o objeto do pagamento; O levantamento do depósito(retirada pelo devedor) é permitido, mas é pouco comum de se constatar na prática. O levantamento pode ocorrer em três momentos (arts. 338, 339 e 340), nos quais paulatinamente se torna mais difícil o levantamento; IMPUTAÇÃO DE PAGAMENTO Se o devedor tem mais de uma dívida com o credor, ele deve especificar o que está pagando; Ficando calado o devedor, deve o credor fazer a imputação. Se o devedor aceitar, não pode reclamar, salvo comprado vício de vontade; Se os dois ficaram calados, a imputação se dá nas dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Se duas ou mais vencem no mesmo tempo, imputar-se- á a mais onerosa; Havendo uma só dívida com juros e capital, a imputação se dará primeiro nos juros, salvo estipulação em contrário ou decisão do credor; 280 Thiago Coelho (@taj_studies) A DAÇÃO EM PAGAMENTO O credor consente em receber uma prestação diferente da que lhe é devida; A dação pode ser total ou parcial; Após a regulação da dação, a relação se dará de forma semelhante a uma compra e venda; Evicção ocorre quando uma pessoa transmite para outra o bem e depois aparece um terceiro e demonstra que ele é o proprietário da coisa. Estabelece-se novamente a obrigação primitiva; O PAGAMENTO POR SUB- ROGAÇÃO Forma de adimplemento em que, também, muda o credor; Uma pessoa paga e se sub-roga nos direitos do credor; Trata-se de um pagamento que dá origem a uma sub-rogação; A sub-rogação pode ser legal ou convencional, sendo esta possível de ajuste pela vontade das partes; A hipótese I de sub-rogação convencional (quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere todos os seus direitos) é regida pelas regras da cessão de crédito; A sub-rogação não extingue a obrigação. Quando ocorre a sub-rogação, o credor primitivo tem direito a tudo que podia exigir; A sub-rogação transfere ao novo credor todos os direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor principal e os fiadores; A NOVAÇÃO Novação: Cria-se uma nova obrigação com o ânimo de extinguir a anterior. Não se confunde com assunção de dívida; Não havendo o animus de novar, expresso ou tácito, mas inequívoco, a segunda obrigação somente ratifica a primeira; Forma de extinção da obrigação; A novação pode objetiva (novação propriamente dita – mesmos sujeitos) ou subjetiva (mudança no credor ou devedor); ativa (mudança no credor) ou passiva (mudança no devedor); Se o devedor for insolvente, não responde o credor. 281 Thiago Coelho (@taj_studies) A única hipótese em que ele pode vir a responder se encontra presente no art. 363 do Código Civil, caso tenha atuado de má-fé; Se a nova obrigação for nula, não há novação; CONFUSÃO Ocorre quando, na mesma pessoa, se confundem as figuras do credor e devedor (a pessoa deve para ela mesma); É mais comum nos casos de sucessão. O filho tem dívida com o pai, só que quando o pai morre e o filho é o único herdeiro, há a caracterização da confusão; A confusão pode ser total ou parcial; COMPENSAÇÃO Ocorre quando dois sujeitos são credor e devedor um do outro; Se dá somente em dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis; Os valores entre as dívidas para serem compensadas devem ser semelhantes; É possível a compensação de uma dívida em prazo de favor (prolongamento do prazo sem obrigatoriedade nenhuma por parte do credor); Em regra, qualquer obrigação pode ser compensada. O Código, contudo, faz três ressalvas: Situações de ilicitude (embrulho, furto, roubo...); Se originar de comodato, depósito ou alimentos (subsistência do indivíduo); Se um bem for impenhorável (insuscetível de penhora); REMISSÃO DA DÍVIDA A remissão da dívida, aceita pelo devedor, extingue a obrigação, mas sem prejuízo de terceiro; A remissão deve ser aceita pelo devedor e, obviamente, pelo credor; Se se tem uma dívida a título de crédito e esse crédito é devolvido, infere-se uma remissão da dívida; Um indivíduo pode abrir mão da garantia, mas não da obrigação em si; Se se tem vários devedores solidários, pode-se perdoar um deles. Os outros se mantém devedores solidários, sendo abatida a quota parte do devedor que foi perdoado; 282 Thiago Coelho (@taj_studies) INADIMPLEMENTO ABSOLUTO DAS OBRIGAÇÕES Inadimplemento absoluto: Não foi e nem será cumprida, seja pela impossibilidade da prestação ou pela falta de interesse do credor em receber. Fala-se em perdas e danos, salvo se a deterioração ou impossibilidade não se deu por culpa do devedor; Sem culpa do devedor, extingue-se a obrigação; com culpa, deve pagar perdas e danos; Não responde o devedor por eventuais danos provenientes de caso fortuito ou força maior; Pelo inadimplemento da obrigação, respondem todos os bens do devedor que podem responder, já que há bens, por exemplo, impenhoráveis; Nos contratos benéficos responde por simples culpa o contraente (favorecido pelo contrato) e por dolo a quem o contrato não favoreça. Nos contratos onerosos, responde ambas as partes por culpa; INADIMPLEMENTO RELATIVO (MORA) Inadimplemento relativo (mora): Ainda é possível de se pagar. O Código Civil menciona “prejuízos”; A mora pode-se converter em inadimplemento absoluto caso perca o credor o interesse em receber a prestação. Não será mora para sempre; No geral, o devedor em mora não pode alegar caso fortuito ou força maior (pois ele já estava inadimplente), salvo se demonstrar que o dano aconteceria independentemente da mora; Na mora do credor, o devedor só responde caso haja com dolo; O credor em mora deve indenizar o devedor pelas despesas com a conservação da coisa (prestação); Mora Ex re: O devedor está inadimplente desde que os efeitos imediatos da obrigação começaram a ser produzidos; Mora Ex persona: O devedor está inadimplente a partir do momento em que o credor cobra o adimplemento da prestação; A lógica é bem simples. Para purgar a mora (quitar a obrigação após um lapso de atraso), o sujeito tem que fazer o que deveria ter feito antes e se sujeitar aos efeitos da mora; Violação positiva do contrato: Sem previsão legal. 283 Thiago Coelho (@taj_studies) Pode-se ter uma violação total ou parcial; CLÁUSULA PENAL Normalmente os valores não cumulam, salvo pacto entre as partes; A cláusula penal não pode superar o valor da obrigação principal; A cláusula penal pode ser estabelecida no mesmo momento de fixada a obrigação ou em ato posterior; Cláusula penal compensatória: se vincula ao inadimplemento absoluto; Cláusula penal moratória: se relaciona à mora; O juiz pode reduzir o valor da cláusula penal caso haja um valor desproporcional ao inadimplemento ou no caso de ocorrer inadimplemento parcial; O Código faz ressalvas quando há a presença de obrigações divisíveis e indivisíveis. Na obrigação divisível, não há nenhuma novidade em relação ao que foi estudado: considera-se a obrigação dividida em quantos forem os credores e devedores – cada um responde pela sua parte. Se a obrigação for indivisível (ex: celular) e se todos foram culpados do inadimplemento, o credor pode exigir integralmente de qualquer devedor, salvo expressão contratual diversa. Caso nem todos forem culpados, pode o credor, portanto, cobrar o valor integral do culpado/responsável ou de todos, levando em consideração o valor proporcional para os que não tiveram culpa; Ainda que o prejuízo exceda ao previsto na cláusula penal, não pode o credor exigir indenização suplementar se assim não foi convencionado. Se o tiver sido, a pena vale como mínimo da indenização, competindo ao credor provar o prejuízo excedente; PERDAS E DANOS Abrangem osdanos emergentes (o que se perdeu), como também os lucros cessantes (o que deixou de ganhar); É necessário provar as perdas e danos; Pagamento com atualização monetária (valor nominal), abrangendo juros, honorários de advogado, sem prejuízo de pena convencional; Contam-se os juros da mora desde a citação inicial; 284 Thiago Coelho (@taj_studies) A doutrina tem admitido a indenização pela perda de uma chance, desde que fundamentada; Há danos morais (contra a honra de alguém); Há danos estéticos; Há danos existenciais – muda o projeto de vida de outrem; O juiz pode conceder indenização suplementar se considerar que os juros da mora não cobram os prejuízos e que não há pena convencional; É possível a ocorrência de um inadimplemento sem causar danos, desde que o inadimplemento não tenha prejudicado o credor; ARRAS A quer comprar um carro de R$ 50.000,00 e paga R$ 5.000,00 de arras. Trata-se de uma garantia para que o pagamento seja quitado completamente no futuro (“adiantamento”); Se o sujeito que deu as arras foi o responsável pelo contrato não seguir em frente (não adimpliu), as arras dadas vai para outro devedor; Se o contrato não vai adiante por conta de quem recebeu as arras, deve este devolver as arras e pagar o equivalente; No caso de arras penitenciais (encerramento do contrato por um ato de vontade), não há inadimplemento; Nas arras confirmatórias, contudo, não há o direito de arrependimento, estando o sujeito passível de inadimplemento caso não cumpra com o que deveria. Neste caso, as arras funcionarão como o mínimo da indenização e o que exceder, se paga com perdas e danos; Assim como no que tange à cláusula penal, não é necessária nenhuma prova; JUROS Representam acréscimo no valor – busca-se aumentar o capital; Juros legais x convencionais – os convencionais podem ser modelados pela vontade das partes, desde que, obviamente, respeitando os limites estabelecidos em lei (não é uma liberdade absoluta/mangue); 285 Thiago Coelho (@taj_studies) Juros moratórios (relacionados à mora) x juros compensatórios (há inadimplemento absoluto); Juros simples x juros compostos – os juros compostos se integram diretamente ao capital; Quando os juros moratórios não forem estabelecidos ou o forem sem taxa estipulada, deve- se seguir a taxa em vigor da Fazenda Nacional.