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INTRODUÇÃO À FARMÁCIA E DEONTOLOGIA PROF.A MA. CARMEN LÚCIA RUIZ SCHLICHTING Reitor: Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira Pró-reitor: Prof. Me. Ney Stival Gestão Educacional: Prof.a Ma. Daniela Ferreira Correa PRODUÇÃO DE MATERIAIS Diagramação: Alan Michel Bariani Thiago Bruno Peraro Revisão Textual: Gabriela de Castro Pereira Letícia Toniete Izeppe Bisconcim Mariana Tait Romancini Produção Audiovisual: Heber Acuña Berger Leonardo Mateus Gusmão Lopes Márcio Alexandre Júnior Lara Gestão da Produção: Kamila Ayumi Costa Yoshimura Fotos: Shutterstock © Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Primeiramente, deixo uma frase de Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Cada um de nós tem uma grande responsabilidade sobre as escolhas que fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica e profissional, refletindo diretamente em nossa vida pessoal e em nossas relações com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente e busca por tecnologia, informação e conhecimento advindos de profissionais que possuam novas habilidades para liderança e sobrevivência no mercado de trabalho. De fato, a tecnologia e a comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e nos proporcionando momentos inesquecíveis. Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Distância, a proporcionar um ensino de qualidade, capaz de formar cidadãos integrantes de uma sociedade justa, preparados para o mercado de trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Que esta nova caminhada lhes traga muita experiência, conhecimento e sucesso. Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira REITOR 33WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................. 4 1 - PALEONTOLOGIA E MEDICINA PRÉ-TÉCNICA .................................................................................................. 5 2 - ANTIGUIDADE CLÁSSICA – GRÉCIA E ROMA ................................................................................................... 6 3 - IDADE MÉDIA E RENASCIMENTO ..................................................................................................................... 11 4 - FARMÁCIA CONTEMPORÂNEA ......................................................................................................................... 15 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................................................. 17 A HISTÓRIA DA FARMÁCIA NO MUNDO PROF.A MA. CARMEN LÚCIA RUIZ SCHLICHTING ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: INTRODUÇÃO À FARMÁCIA E DEONTOLOGIA 4WWW.UNINGA.BR IN TR OD UÇ ÃO À F AR M ÁC IA E D EO NT OL OG IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO A farmácia tem uma história com vários milênios. Uma história que remonta à origem do homem. Há milhares de anos, o homem, para curar doenças e ferimentos, tirava partido de práticas mágico-religiosas e preparava medicamentos com produtos naturais. Galeno (131-200 d.C.), considerado o “Pai da Farmácia”, sistematizou pela primeira vez, as matérias-primas necessárias à preparação dos medicamentos e a sua preparação como nunca tinha sido feito. Galeno concebia os medicamentos e a arte de prepará-los em função da teoria dos humores proveniente da Grécia Antiga, por Empédocles e Hipócrates. Os árabes divulgaram as práticas de alquimia e defendiam uma farmácia voltada para o laboratório, já o cristianismo influenciara as práticas farmacêuticas através dos hortos botânicos para cultivo de plantas medicinais e boticas para a preparação de medicamentos. Surgem nesta época medieval as primeiras autorizações para a arte de preparar os medicamentos em estabelecimento próprio denominadas de boticas e a fundação das primeiras Universidades. Até ao século XVI, a farmácia europeia ainda era sustentada nas doutrinas humorais de Hipócrates e de Galeno, tirando partido de drogas vegetais conhecidas na Europa e bacia do Mediterrâneo com recurso a purgas, sangrias, clisteres e dietas apropriadas. A expansão europeia pelo Oriente e pela América proporcionou a chegada à Europa de drogas desconhecidas de grande interesse terapêutico e comercial. Surgia a farmácia química através de Paracelso contrariando as teorias do galenismo até então vigentes. Ao longo dos séculos XVII e XVIII as inovações terapêuticas provenientes da América e do Oriente foram sendo introduzidas na terapêutica europeia. São publicados tratados botânicos, farmacêuticos e farmacopeias com estas inovações botânicas e farmacêuticas. A revolução química de Lavoisier (1743-1794) e a revolução botânica de Lineu (1707-1778) influenciam a farmácia. Afirmação da higiene pública. Surgem às primeiras farmacopeias oficiais e o primeiro medicamento preventivo, a vacina contra a varíola. Em finais do século XVIII assiste-se ao declínio da vigência do galenismo. Durante o século XIX, a análise química, a química orgânica e outros ramos da química permitiram obter novos medicamentos. O desenvolvimento da fisiologia experimental, da farmacologia experimental e da terapêutica experimental. No final do século XIX, começam a surgir e consolidam-se indústrias farmacêuticas de grandes dimensões. A farmácia e o farmacêutico tornam-se uma profissão e uma atividade cuja atuação é sustentada em bases científicas. O farmacêutico alarga a sua atividade para fora do medicamento e dedica-se também ao controle analítico. No século XX, os avanços provenientes de diferentes áreas laboratoriais fizeram-se sentir na farmácia. Melhoramento de alguns grupos medicamentosos e surgimento de novos grupos. Difusão das matérias-primas sintéticas e dos princípios ativos sustentados na síntese química. Melhoramento das formas farmacêuticas já existentes e surgimento de novas formas farmacêuticas. Os novos grupos terapêuticos e os medicamentos industrializados alteraram o exercício profissional farmacêutico nas diferentes áreas. Muito além de ser um simples dispensador de remédios, o farmacêutico está envolvido no processo de pesquisa de novas drogas, no estudo de efeitos colaterais e de reações adversas dos medicamentos já existentes, na fabricação de cosméticos, na medicação de doentes hospitalares, na fiscalização sanitária e em outras atividades que asseguram a qualidade de vida. 5WWW.UNINGA.BR IN TR OD UÇ ÃO À F AR M ÁC IA E D EO NT OL OG IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 1 - PALEONTOLOGIA E MEDICINA PRÉ-TÉCNICA Nos tempos pré-históricos, as pessoas acreditavam que a doença era causada pelos deuses quando zangados ou por espíritos maus. Para curar os enfermos, os deuses tinham de ser apaziguados ou tinham que expulsar os espíritos diabólicos do corpo do doente. Com o tempo, essa tarefa tornou-se competência dos primeiros “médicos” os sacerdotes das tribos, que procuravam conciliar os deuses ou expulsar os demônios, segundo Dias (2005). Provavelmente, o homem pré-histórico também descobriu que muitas plantas podiam ser usadas como remédios. Por exemplo, o uso da casca de salgueiro para aliviar dores data possivelmente de milhares de anos. Esses sacerdotes deram início às Ciências da Saúde, que, obviamente, ainda não tinham uma divisão de “tarefas” por especialidades, ou seja, não existia o conceito claro de profissionais especializados. Na pessoa do sacerdote estavam embutidos o médico, o farmacêuticoe o psicólogo entre outros. Com a evolução do conhecimento surge a necessidade da especialização e a separação das atividades específicas de cada profissão começa a ficar mais clara, informa Dias (2005). Cerca de 3000 a.C., os egípcios desenvolveram uma das primeiras civilizações e inventaram um dos primeiros sistemas de escrita. Pouco depois do ano 3000 a.C., também começaram a fazer importantes progressos médico-farmacêutico. Grande parte desses progressos até os dias atuais por meio de antigos manuscritos (chamados de papiros) egípcios. O primeiro profissional médico-farmacêutico do mundo de que se tem notícia foi o egípcio Imhotep, que viveu em torno de 2000 a.C. Os egípcios adoraram-no depois como o deus da saúde, explica Dias (2005). A Mesopotâmia era uma zona geográfica compreendida entre os rios Tigre e Eufrates Desde o Neolítico (4º milénio a.c.), que é pano de fundo de várias culturas históricas, depois extintas como a Suméria, Assíria, Babilônia Figura 1 - Crescente Fértil. Portal História. Fonte: Menezes (2005) 6WWW.UNINGA.BR IN TR OD UÇ ÃO À F AR M ÁC IA E D EO NT OL OG IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Os conceitos terapêuticos assírio-babilônicos baseavam-se na crença de que todos os fenômenos encontravam-se estreitamente unidos e subordinados à vontade dos deuses como o deus Marduk que era o deus criador do homem para os babilônios e Shêrtu que significava simultaneamente doença, pecado ou castigo divino, cita Pita (1998). O mais antigo documento farmacêutico conhecido é uma tabuinha suméria (Tábua de Nippur) do último quartel do 3º milénio a.C., tabuinhas de argila gravadas com um estilete em escrita cumeiforme, informa Pita (1998). Na antiga Persia a medicina tinha acentuada carga mágico-religiosa, os principais deuses médicos: Thrita, Traetona e Ahriman, haviam médicos-sacerdotes e os cirurgiões. Os cirurgiões usavam drogas de origem vegetal (aloés, benjoim, mirra, gálbano, óleos diversos), são os fundadores da cosmética e das práticas de higiene do espírito e de higiene corporal, expõe Pita (1998). Na Índia antiga, os deuses responsáveis pelo destino do homem: Brahma (constrói), Wischnu (conserva), Siva (destrói). Eles acreditavam que o corpo era constituído por ar, água, terra, fogo e éter. Para dar vida era necessário 3 elementos Vata (movimento), Pitta (calor), Kafa (alimentação). As principais drogas eram de origem vegetal (açafrão, maná, gengibre), animal (víboras, leite, mel, bílis) e mineral (borax, carbonato de amônio, mercúrio, sulfato ferroso). Para o povo hebreu a doença estava relacionada com impureza e a Bíblia era a fonte de cuidados médico-farmacêuticos, que envolviam práticas higiênicas para a purificação do corpo. O Tratamento das doenças consistia em práticas, suscitando a intervenção de Deus; práticas higiênicas, e numa terapêutica medicamentosa adequada, conforme Pita (1998) Para os Incas, Maias e Astecas as Doenças também eram resultado de um pecado e as drogas eram de majoritariamente de origem vegetal: • Incas: coca; quina • Maias: unguentos, unções (mistura e extração são técnicas utilizadas) • Astecas: guáiaco, jalapa, óleo de rícino, salsaparrilha. Usavam banhos sulfurosos e de vapor. 2 - ANTIGUIDADE CLÁSSICA – GRÉCIA E ROMA A Medicina racional grega não implicou uma ruptura com as crenças mágico-religiosas, mantendo-se um florescente culto a Asclépio, depois latinizado como Esculápio. Asclépio é filho de Apolo e daninfa Coronis. Como deus solar (não o deus do sol: Hélios), Apolo é também deus da saúde (Alexikakos), devido às propriedades profiláticas do sol. O fato de Apolo ter tirado o filho do ventre da mãe no momento em que esta se encontrava na pira funerária, confere-lhe o simbolismo de deus da medicina logo à nascença: a vitória da vida sobre a morte. A arte da medicina foi-lhe ensinada pelo centauro Quirón e uma serpente ensinou-lhe como usar certa planta para dar vida aos mortos. Acusado de diminuir o número dos mortos, Asclépio foi morto por um raio de Zeus. Esta saga heróica, cantada pelo poeta Píndaro (522-443 a.C.), traduziu-se depois na deificação de Asclépio, transformado em deus e tornado imortal por vontade divina, mostra Pita (1998). Asclépio é uma figura fundamental do período pré-técnico da medicina Grega. Existem dúvidas se Asclépio existiu, de fato ou se foi apenas uma figura lendária. Tem um bastão com uma serpente. À serpente cuja simbologia está associada poderes divinos e ainda propriedades terapêuticas de que é portadora, coloca Cabral (2015). 7WWW.UNINGA.BR IN TR OD UÇ ÃO À F AR M ÁC IA E D EO NT OL OG IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Ergueram-se santuários onde eram praticados os atos médicos mágicos-religiosos e designavam-se por asclepiones, existiam médicos-sacerdotes denominados de asclepíades. Existem vestigios destes templos em Kos, Epitauro, Knidos, Pérgamo, etc. A preocupação com a explicação da saúde e da doença sem ser em bases sobrenaturais nasce com a filosofia grega e a sua busca de uma explicação da constituição da natureza. Alcméon (535 a.C.) foi o primeiro a caracterizar a saúde como um equilíbrio no corpo humano de qualidades opostas, como o frio e o quente, o úmido e o seco, o doce e o amargo, e a caracterizar a doença como o predomínio de uma delas, baseando-se para isso na ideia de Pitágoras (560-480 a.C.) sobre o equilíbrio baseado em proporções numéricas definidas, segundo Cabral (2015). Descontente com a quebra do ciclo natural da vida, Zeus resolveu intervir. Os deuses entraram então em batalha e Zeus acabou matando Asclépio com um raio. Com a morte de Asclépio, a saúde passou a ser responsabilidade de sua filha Hígia, que se tornou dessa maneira a deusa da saúde. Hígia tinha como símbolo uma taça que com sua “promoção” foi adicionada por uma serpente nela enrolada. Essa cobra é, obviamente, uma representação do legado de seu pai. Assim o símbolo de Hígia da taça com a serpente se tornou, posteriormente, o símbolo da farmácia. Figura 2: História do símbolo da Farmácia. Fonte: Silva (2003) A taça com a serpente nela enrolada é internacionalmente conhecida como símbolo da profissão farmacêutica. Sua origem remonta a antiguidade, sendo parte das histórias da mitologia grega. Tudo começou com um centauro: Chiron. Ao contrário da maioria dos de sua raça, caracterizados pela selvageria e violência, Chiron se dedicou aos conhecimentos de cura. Teve como um dos seus discípulos o deus Asclépio (também denominado Esculápio na mitologia romana), ao qual ensinou os segredos das ervas medicinais. Asclépio se tornou o deus da saúde e tinha como símbolo um cetro com duas serpentes nele enroladas. Contudo, ele não utilizava seu conhecimento somente para salvar vidas, mas usava seu poder para inclusive ressuscitar pessoas. 8WWW.UNINGA.BR IN TR OD UÇ ÃO À F AR M ÁC IA E D EO NT OL OG IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Uma visão diferente sobre a história do símbolo da farmácia pode ser vista no vídeo: História dos símbolos das Farmácias. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=rzaz81Sxo9Q]. A civilização da Grécia antiga atingiu seu auge no século V a.C., onde Empédocles de Agrigento (492-432 a.C.) começou a ensinar que a vida provinha de quatro elementos: terra, ar, fogo e água como sendo os constituintes de todas as coisas, as quais variavam entre si na proporção em que entrava cada um desses elementos. Também defendia que estes elementos correspondiam a quatro humores do corpo: bílis negra, sangue, bílis amarela e fleuma. Os médicos gregos começaram a trabalhar no princípio de que uma boa saúde dependia do equilíbrio certo entre estes quatro humores e a doença era provocada por desequilíbrio entreesses elementos na constituição do corpo humano. Portanto, esta teoria foi o primeiro conceito real, de que a causa da doença é natural mais do que sobrenatural e, dominou a medicina no Oriente cerca de dois mil anos. Hoje, ainda falamos de alguém estar bem ou mal-humorado, segundo CABRAL (2015). Hipócrates de Kos (460-370 a.C.) nasceu nesta ilha jónica, sendo filho de um asclepíade de nome Heráclides, de quem recebeu a formação médica básica. Foi contemporâneo de Péricles, de Empédocles, Sócrates e Platão, entre muitas outras figuras do florescimento intelectual ateniense. É tradicionalmente atribuída a Hipócrates uma vasta obra constituída por 53 livros, reunidos em Alexandria no século III a.C., constituindo o chamado Corpus Hippocraticum, mas sabe-se hoje que só uma parte dessa obra foi escrita por Hipócrates, sendo os restantes livros oriundos das escolas de Knidos, Kos e Crotone, mas próximas dos seus ensinamentos. Hipócrates seguia a teoria dos quatro humores desenvolvida por Empédocles as quais a vida era mantida pelo equilíbrio entre quatro humores: Sangue, Fleuma, Bílis amarela e Bílis negra, procedentes, respectivamente, do coração, cérebro, fígado e baço. Cada um destes humores teria diferentes qualidades: o sangue era quente e úmido, a fleuma era fria e úmida, a bílis quente e seca e a bílis negra fria e seca. Segundo o predomínio natural de um destes humores na constituição dos indivíduos, teríamos os diferentes tipos fisiológicos: o sanguíneo, o fleumático, o bilioso ou colérico e o melancólico. A doença seria devida a um desequilíbrio entre os humores, tendo como causa principal as alterações devidas aos alimentos, os quais, ao serem assimilados pelo organismo, davam origem aos quatro humores (PITA, 1998). Para a medicina hipocrática as causas das doenças podiam ser externas ou internas: 1-Causas externas: podiam ser inanimadas (temperatura, clima, alimentação e os venenos); animadas (parasitas de origem animal) psíquicas (emoções); 2- Causas internas: têm origem no sexo, idade, meio, doenças congénitas; A doença comportava diferentes fases: 1- começo; 2-incremento; 3- clímax; 4- resolução. 9WWW.UNINGA.BR IN TR OD UÇ ÃO À F AR M ÁC IA E D EO NT OL OG IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 3 - Teoria dos Humores. Fonte: Menezes (2005). Cada momento poderia servir para o diagnóstico da doença e aplicação do respectivo tratamento. Para os hipócráticos a natureza contem em si a força suficiente para curar as doenças e ao médico compete seguir a vontade da natureza e auxiliar o restabelecimento do equilíbrio orgânico dos humores. Deste modo a medicina hipocrática é apenas servidor privilegia as dietas alimentar e se a higiene para o restabelecimento da saúde uma vez que estes meios eram o veículo da natureza. As prinicipais substâncias medicamentosas utilizadas por hipocrates: escamónea e heléboro (purgantes); alho, cebola, melão, melancia, pepino e funcho (diuréticos); heléboro branco, hissopo (eméticos); dormideira, mandrágora meinmendro e beladona (somníferos). Indicou ainda para diferentes fins farmacêuticos, diversas bebidas como o vinho, o hidromel, o oximel, o cozimento de cevada, leites variados (de mulher e de burra), menciona Pita (1998). Retenhamos na questão da produção e da comercialização dos medicamentos na Grécia antiga. O médico e farmacêutico era a mesma pessoa. Contudo, na antiga Grécia nos deparamos com diversos profissionais que exerciam a sua profissão no vasto campo da farmácia, mostra Dias (2005). As principais fórmulas farmacêuticas que os gregos produziam eram: pílulas, bolos, pastilhas, unguentos, pomadas, ceratos, pomadas oftálmicas, colírios, supositórios e clisteres, conforme Dias (2005). Os gregos dedicaram especial atenção aos ginásios, perfumaria e cosmética. Os ginásios para além de local de tratamento físico, eram ponto de reunião, local de encontro e de troca de ideias e de opiniões de um leque de intelectuais, fossem eles filósofos, políticos ou poetas. Os perfumes podiam ter várias formas: óleo de murta (muito popular), megalium, narcisum, etc. Os cosméticos eram conhecidos produtos para combater as rugas (rizoma de açucena), substâncias destinadas a atenuar as manchas da pele, preparações para combater a caspa, dentífricos (resina de lentisco), depilatórios, menciona Dias (2005) Existem poucas diferenças entre a Medicina grega e romana. O deus grego da medicina, Asclépio, tornou em Roma o nome de Esculápio e muitos dos médicos influentes em Roma, como Galeno, são de origem grega. A profissão médica tinha um estatuto social baixo e a prática da Medicina era considerada como pouco adequada para os cidadãos romanos. Entre as figuras mais importantes da medicina e da farmácia em Roma devemos destacar Celso, Dioscórides e Galeno, expõe Pita (1998). 10WWW.UNINGA.BR IN TR OD UÇ ÃO À F AR M ÁC IA E D EO NT OL OG IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Aulo Cornelio Celso (25 a. C.- 40 a. C.) não era médico, mas conhecia bem a medicina Greco-Romana sobre a qual escreveu um tratado intitulado De medicina octo libri, dividido segundo um critério terapêutico, dietético, farmacêutico e cirúrgico, informa Pita (1998). Pedáneo Dioscórides nasceu em Anazarbo, próximo de Tarsos, terá estudado Medicina em Tarsos e em Alexandria, acompanhou as legiões romanas, provavelmente como médico, na Ásia Menor, em Itália, Grécia, Gália e Espanha, no tempo de Nero. É considerado o fundador da Farmacognosia através da sua obra De matéria medica, nome pelo qual ficou conhecida na sua tradução latina, coloca Pita (1998). Dividida em cinco livros, nela se descrevem cerca de 600 plantas, 35 fármacos de origem animal e 90 de origem mineral. Dioscórides não seguiu nenhuma escola ou sistema médico em particular. A sua obra é essencialmente de caráter empírico e manteve-se afastada das controvérsias médicas do seu tempo. Apesar disso, ele procurou desenvolver um método para observar e classificar os fármacos testando-os clinicamente. Este método, patente na sua forma de organizar e classificar os fármacos pelas suas afinidades, observadas através da ação no corpo humano, foi inteiramente esquecido nos séculos seguintes pelos editores e comentadores da sua obra, que a reorganizaram, colocando os fármacos por ordem alfabética, mostra Pita (1998). Galeno (129-200) nasceu em Pérgamo quando esta era colônia romana e aí estudou Medicina. Foi médico de gladiadores e foi viver para Roma em 161, onde atingiu uma posição conceituada, vindo a ser nomeado médico do filho do imperador Marco Aurélio. Galeno baseou-se na Medicina hipocrática para criar um sistema de patologia e terapêutica de grande complexidade e coerência interna, menciona Cabral (2015). Galeno escreveu bastante sobre farmácia e medicamentos, apesar de nas suas obras se encontrarem apenas cerca de quatro centenas e meia de referências a fármacos, menos de metade do que se pode encontrar na obra de Dioscórides. Do ponto de vista farmacêutico, a grande linha de força do galenismo foi a transformação da patologia humoral numa teoria racional e sistemática, em relação à qual se tornava necessário classificar os medicamentos. Assim, tendo em vista utilizar os medicamentos que tivessem propriedades opostas às da causa da doença, Galeno classificou-os em três grandes grupos, segundo um critério fisiopatológico humoral: o primeiro grupo incluía os simples, aqueles que possuíam apenas uma das quatro qualidades, seco, úmido, quente ou frio, o segundo grupo era o dos compostos, quando possuíam mais do que uma e por fim o terceiro grupo incluía os que atuavam segundo um efeito específico inerente à própria substância como os purgantes os vomitivos e outros, cita Cabral (2015). Figura4 - Dioscórides. Fonte: Cabral (2015). 11WWW.UNINGA.BR IN TR OD UÇ ÃO À F AR M ÁC IA E D EO NT OL OG IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Foi na forma de galenismo que a Medicina greco-romana passou para o Ocidente cristão, dominando a Medicina e a Farmácia até ao Século XVII e mantendo ainda uma grande influência mesmo no século XVIII, mostra Dias (2005). A aplicação dos medicamentos na terapêutica galenica dependia de vários fatores, como a personalidade do doente, a sua idade, a raça e o clima, que afetavam a própria natureza da mistura (krasis) dos humores no corpo humano. O temperamento das crianças seria mais sanguíneo e o dos idosos, mais fleumático, pelo que os primeiros necessitariam de um medicamento frio em maior grau que os últimos para o tratamento de uma febre. Esta preocupação tinha principalmente a ver com o tipo de medicamento ministrado, com as suas propriedades (qualidades) e respectiva intensidade, na medida em que a dose não seria tão importante, dado que a propriedade do medicamento era um atributo essencialmente qualitativo e não quantitativo, coloca Pita (1998). Para Galeno o medicamento era constituído: • Princípios ativos: conferem as propriedades terapêuticas • Compostos que têm uma ação corretiva das características organolépticas • Excipientes: substancias ativas são neles incorporadas 3 - IDADE MÉDIA E RENASCIMENTO Compreende diversos períodos: 1) Bizantino, que conservou a medicina greco-romana – foi continuação direta da escola grega, mesmo não tendo elaborado uma medicina nem contribuído com grandes novidades, prosseguiu a difusão do saber na língua grega onde estavam escritas as grandes obras, segundo Dias (2005); 2) Árabe, que transmitiu ao Ocidente contributos do maior valor, a alquimia, – era pouco desenvolvida no início da expansão do Islão, tendo sido o contato com os sábios nestorianos que a elevou e lhe permitiu atingir grande importância nos séculos seguintes, informa Dias (2005); 3) Idade Média latina, que compreende um período de forte influência cristã e, posteriormente, de recuperação do saber clássico greco-romano. A importância da farmácia conventual na consolidação da farmácia. Fundação das Universidades (476-1453), menciona Pita (1998). A Medicina islâmica baseou-se na teoria humoral. No campo da farmácia e do conhecimento dos medicamentos o seu nível foi muito elevado, não só pela incorporação dos conhecimentos clássicos, mas também pelos contributos próprios, em parte devidos às possibilidades abertas pela grande extensão do império islâmico. Os árabes terão acrescentado cerca de três a quatro centenas ao cerca de um milhar de drogas medicinais conhecidas na Antiguidade clássica. Igualmente muito importante foi o contributo árabe para o desenvolvimento das técnicas e operações unitárias físico-químicas, como a destilação, sublimação, cristalização e filtração, cita Dias (2005). 12WWW.UNINGA.BR IN TR OD UÇ ÃO À F AR M ÁC IA E D EO NT OL OG IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA O mundo árabe foi o primeiro a desenvolver uma divisão de trabalho entre médicos e farmacêuticos. Em Bagdá estabeleceram-se locais de venda de drogas e medicamentos. Muitos desses estabelecimentos seriam dirigidos por comerciantes de fraca preparação técnico-científica, o al-attar, mas desde o séc. VIII que também passou a existir um outro profissional de mais elevada formação, o Sayadilah, conforme Pita (1998). A idade média latina (3) teve início no desenvolvimento da medicina e da farmácia monástica é marcado pela fundação em 529 do Mosteiro de Montecassino por São Bento (c. 480-544) e pela redação por este da Regula Benedicti, em que um dos capítulos estabelecia a necessidade de cuidar dos enfermos, com a existência de um local próprio e de um religioso dedicado a esse serviço. Com base nesta norma, surgiu a figura do irmão enfermeiro e das celas para enfermos, a que se seguiram as enfermarias, as boticas e os jardins botânicos. Esta prática levou também a que os livros de medicina e de farmácia ocupassem um papel importante nos conventos, onde os monges copiavam e guardavam manuscritos. Os mosteiros de Montecassino e de Saint Gall destacaram-se como locais de cultura e prática médico-farmacêutico, onde para além da cura de enfermos se desenvolveram escolas médicas que atingiram o auge do seu prestígio em finais do século IX, cita Dias (2005). Entre os autores religiosos que procuraram compendiar os conhecimentos greco-latinos, compilando e traduzindo para latim os textos dos manuscritos antigos guardados nos mosteiros, destacam-se Cassiodoro, Isidoro de Sevilha e Hildegarde de Bingen. Cassiodoro Senator (480- 575) foi prefeito de Teodorico, o Grande, fundou em 537 o mosteiro de Vivarium, na região da Calábria onde nascera, onde se desenvolveu uma escola médica monástica em que se traduziram e copiaram obras de autores greco-romanos como Hipócrates, Dioscórides, Galeno e outros. Escreveu textos sobre o uso medicinal de plantas, animais e vegetais e descrevendo as doenças e os seus medicamentos seguindo a ordenação denominada abcapitae ad calcem (da cabeça aos pés), mostra Pita (1998). Por volta do século X foi criada em Salerno uma Civitas Hippocratica, uma comunidade de médicos que estudava, compendiava e ensinava a medicina. Tratava-se de um centro laico, embora em estreita ligação com o mosteiro de Montecassino. Pouco se sabe da sua fundação. Das obras nascidas da Escola de Salerno durante os séculos XII e XIII, destacamos apenas algumas, segundo Cabral (2015). A função universitária de Salerno fortaleceu-se desde finais do século XII, quando já se encontravam regulamentados os exames a ser realizados pelos seus alunos e quando se começou a exigir que os médicos fossem licenciados por Salermo, cita Cabral (2015). O desenvolvimento do ensino universitário da medicina deu-se ao mesmo tempo em que sofreu um novo impulso o comércio de especiarias orientais através do Mediterrâneo e cresceu o número dos que se dedicavam ao comércio ambulante de drogas e especiarias. Estes comerciantes, os especieiros, foram sofrendo um progressivo processo de especialização na preparação de medicamentos, aumentando a sua perícia e formação técnica e perdendo progressivamente o caráter ambulante, à medida que, a partir do século XI, a formação médica em geral e a assimilação do saber médico greco-romano aumentavam e que as condições econômico-sociais, o desenvolvimento do comércio e crescimentos das cidades, o permitiam. O processo de nobilitação da profissão médica, associado ao domínio do latim e ao ensino universitário, implicava o abandono progressivo das funções manuais, incluindo a preparação de medicamentos, deixando o campo aberto para o crescimento do número de boticários, menciona Cabral (2015). 13WWW.UNINGA.BR IN TR OD UÇ ÃO À F AR M ÁC IA E D EO NT OL OG IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA O mesmo processo de separação se deu entre a medicina, chamada dogmática, e a cirurgia, que juntamente com a farmácia constituíam a Medicina ministrante. Ao mesmo tempo em que os médicos passavam a ter um ensino universitário com professores altamente especializados, os farmacêuticos e cirurgiões mantinham um tipo de formação baseado na aprendizagem com um mestre estabelecido, um tipo de aprendizagem que era comum às restantes profissões mecânicas. Os boticários, cujo nome se encontra etimologicamente relacionado com a existência de um armazém fixo, foram surgindo por toda a Europa, substituindo os especieiros, mesmo nos idiomas em que esta denominação se manteve. A separação de fato entre as duas profissões foi seguida pela separação legal. O primeiro caso em que tal aconteceu terá sido em Arlés,França, onde posturas municipais redigidas em 1162 determinaram a separação das duas profissões. Em 1240, Frederico II da Sicília e Nápoles, através do chamado Édito de Melfi, reafirmou a obrigatoriedade de um curso de tipo superior em Salerno para os médicos, ao mesmo tempo em que proibiu qualquer sociedade entre médicos e farmacêuticos e determinou que estes tivessem de dispensar os medicamentos de acordo com as receitas médicas e as normas da arte provenientes de Salerno. O mesmo diploma introduziu o princípio da necessidade de algum tipo de controle dos preços dos medicamentos e do licenciamento e inspeção da atividade farmacêutica (PITA, 1998). Estas normas foram progressivamente adotadas pela Europa. Na França, as cidades de Avignon (1242) e Nice (1274) proibiram a sociedade entre farmacêuticos e médicos. Na Europa central, Basileia também separou as duas profissões entre finais do século XIII e princípios do século XIV. Em Portugal a obrigatoriedade dessa separação foi determinada em 1462. A farmácia foi separada da medicina, que estabeleceu na mesma época um código de ética profissional, conforme Pita (1998). A queda de Constantinopla em 1453, às mãos dos turcos otomanos, levou à emigração para Itália de grande número de bizantinos, continuadores da cultura de língua grega e portadores de manuscritos de ciência, de medicina e de outras áreas do saber. Foi essa chegada que marcou o início do Renascimento, provocando uma enorme renovação do interesse pela cultura clássica, num movimento crescente que foi das letras e das artes à ciência e à tecnologia, potenciado pela introdução dos caracteres móveis na imprensa por Gutemberg (1454). A descoberta da imprensa foi o culminar de um longo processo, menciona Cabral (2015) No campo geográfico e político-econômico, o Renascimento foi complementado pela expansão europeia, de que podemos indicar, como marcos, a passagem do Cabo da Boa Esperança por Bartolomeu Dias (1487), a chegada de Colombo às Antilhas (1492) e a viagem de Vasco da Gama, contornando a África e chegando à Índia (1498). Outro desenvolvimento, de caráter religioso, com profundas consequências para a história das ciências e da medicina na Europa, foi a Reforma. A Reforma protestante foi iniciada em 1517, com a afixação na porta da Igreja universitária de Wittenberg das noventa e cinco teses do monge alemão Martinho Lutero (1483-1546) contra o sistema das indulgências da Igreja católica. 14WWW.UNINGA.BR IN TR OD UÇ ÃO À F AR M ÁC IA E D EO NT OL OG IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Este movimento, que ganhou fortes raízes na Europa central e do Norte, originou uma reação por parte da Igreja católica, iniciada com o Concílio de Trento (1545-1563), que é denominada a Contrarreforma, mostra Pita (1998). Durante o Renascimento, o velho conceito galênico dos odores e sabores das drogas como manifestação das qualidades dos medicamentos, junto com o aperfeiçoamento das técnicas de destilação pelos árabes, levou ao desenvolvimento do conceito de princípio ativo e ao aparecimento da química farmacêutica, cita Cabral (2015). A aplicação da destilação por via úmida a especiarias e outras drogas aromáticas permitiu a obtenção de essências, onde o odor e o sabor da droga original se encontravam concentrado. Daí se desenvolveu a ideia de ser possível extrair das drogas um princípio ativo ou essência, que concentrasse as suas qualidades e ação terapêutica, eliminando os componentes supérfluos e aumentando o efeito farmacológico, coloca Cabral (2015). A primeira corrente médica europeia oposta à teoria dos humores desenvolveu-se no século XVI com Paracelso (1493-1541). Theophrastus Philippus Aureolus Bombastus von Hohenheim nasceu na Suíça e era filho de um médico. O nome “Paracelso” só foi adotado por volta de 1529, significando “acima de Celso”. Aulo Cornelio Celso era o autor romano de uma De medicina, que tinha sido redescoberta e impressa há pouco tempo, estando no auge da sua fama. A educação de Paracelso foi mais prática e mística do que seria usual num médico do seu tempo. Com o pai aprendeu a medicina, a botânica, e a filosofia natural. O abade Johannes Trithemius, de Sponheim, ensinou-o sobre as artes mágicas e o ocultismo. Também frequentou a escola de minas em Huttenberg e chegou a ser aprendiz nas minas de Schwaz. Neste contexto, desenvolveu um maior interesse pelas manifestações da cultura contemporânea e local, dos camponeses e artesãos e menor veneração pela cultura clássica dos humanistas do seu tempo. Desta forma a obra de Paracelso caracterizou-se por uma profunda religiosidade, por uma simultânea hostilidade à religião organizada e à medicina oficial, e aproximou-se da magia e da alquimia. Embora se mantivesse formalmente como católico, Paracelso desenvolveu uma visão radical, reformista e profética da religião, onde a salvação se encontraria na descoberta das marcas da presença de Deus no mundo natural e na fé popular. Paracelso manifestou grande distanciamento em relação à Medicina universitária do seu tempo, embora ele próprio tenha ensinado durante algum tempo numa Faculdade de Medicina, conforme Dias (2005). Dentro das características fundamentais da obra de Paracelso, temos um antigalenismo sistemático, a valorização dos conhecimentos populares, propunha uma farmácia vocacionada para a obtenção dos princípios ativos isolados dos componentes da formula e uma medicação específica adequada a cada doença, além da concepção unitária das ciências da Saúde: não dividir profissionalmente medicina, cirurgia e farmácia, cita Dias (2005). A saúde para Paracelso correspondia a um equilíbrio dos elementos químicos: enxofre, mercúrio e sal que existiam no organismo e a doença resultava do desequilíbrio destes elementos e de origem localizada. Para cada doença havia uma terapêutica específica e o médico devia ser filósofo da natureza, astrónomo, alquimista, sendo entendido num sentido mais próximo do farmacêutico, segundo Pita (1998). Figura 5 - Paracelso. Fonte: Cabral (2015). 15WWW.UNINGA.BR IN TR OD UÇ ÃO À F AR M ÁC IA E D EO NT OL OG IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA A expansão europeia pela África, Índia e América contribui com a descoberta de drogas desconhecidas para a Europa, aumentando o arsenal terapêutico. Contributos decisivos de Bacon, Descartes e Galileu. Invenção de diversos instrumentos de laboratório como o microscópio, barômetro, termômetro, etc. A descoberta da circulação sanguínea. Aparecimento da iatroquímica e da iatromecânica (CABRAL, 2015). Na iatroquímica as doenças são interpretadas quimicamente e a terapêutica é realizada utilizando medicamentos químicos apropriados como, por exemplo, sais metálicos sendo administrados internamente. A iatromecânica considerava o organismo humano semelhante a uma máquina, saúde e doença dependendo de interpretações físicas, por exemplo, a utilização dos termômetros com fins medicinais. O estudo dos gases por Joseph Black. A revolução química de Lavoisier e a sua influência na farmácia: o novo conceito de elemento químico, a nova nomenclatura química, a lei da conservação das massas (ou da matéria). As leis ponderais ou leis de Proust. A descoberta do hidrogênio e do oxigênio. A taxonomia naturalista de Lineu, o sistema de nomenclatura binominal e sua importância no domínio da farmácia: a relevância das diferentes espécies. O final da vigência galênica. Aplicação consistente da química à farmácia. Poucas inovações tecnológico-farmacêuticas. A medicina preventiva. A primeira medicação preventiva — vacinação antivariólica introduzida por Edward Jenner. A divulgação do saber médico e da higiene pública. Aparecimento da homeopatia. Difusão de farmacopeias e publicação das primeiras farmacopeiasoficiais: a tutela do Estado na normalização dos medicamentos (1740-1800). O último contributo significativo de especulação médica pouco articulada com a experiência e com a observação da realidade: a Naturphilosophie. A teoria celular de Schleiden e Shwann. A visão evolutiva e dinâmica da natureza por Lamarck e Lyell. Contributos anatômicos e histológicos de Bichat. A teoria atômica de Dalton. A síntese laboratorial da ureia por Wöhler. A descoberta e isolamento dos primeiros princípios ativos e sua utilização na terapêutica. As bases da farmacodinâmica por Liebig. As bases da farmacologia experimental por Magendie. Aparecimento da toxicologia. Invenção de tecnologias laboratoriais aplicadas à preparação de medicamentos (1800-1848), menciona Cabral (2015). A industrialização do medicamento, o aparecimento das especialidades farmacêuticas e a consolidação da publicidade farmacêutica. A afirmação da higiene e da saúde pública (1848- 1914) são todos eventos que marcaram esta época, conforme Dias (2005). 4 - FARMÁCIA CONTEMPORÂNEA A revolução tecnológica com repercussões nas ciências e nas práticas médico- farmacêutico. Inovações no campo da química com influência na farmácia. Estudos sobre o sangue: a descoberta dos tipos sanguíneos e dos fatores Rh. Avanços no domínio da bioquímica. O aparecimento de diferentes técnicas analíticas como a ultracentrifugação, a eletroforese e a cromatografia. Desenvolvimento da indústria farmacêutica e surgimento de novas formas farmacêuticas como comprimidos e injetáveis. Aparecimento de novos grupos medicamentosos. Aparecimento de novas áreas farmacêuticas como a biofarmácia e a farmacocinética. Novos sistemas terapêuticos. As biotecnologias aplicadas à farmácia e ao medicamento. A globalização do medicamento (1914-2014), segundo Cabral (2015). A grande industrialização do medicamento, mesmo que a farmácia continua a produzir os medicamentos magistrais a indústria farmacêutica evolui para roubar o seu espaço. As farmácias vão se transformando em locais de dispensação de medicamentos industrializados. Assiste-se a promoção do medicamento comercialmente, explica Cabral (2015). 16WWW.UNINGA.BR IN TR OD UÇ ÃO À F AR M ÁC IA E D EO NT OL OG IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 6 - Primeiras Boticas. Fonte: Cabral (2015). A realidade agora é outra, o conhecimento sobre medicamentos sempre esteve diretamente ligado ao exercício da profissão farmacêutica, no século XX com o surgimento da indústria das farmácias o farmacêutico precisa agora, principalmente, familiarizar-se não só com a legislação sanitária, mas também com a trabalhista, a tributária, além é claro da gestão de pessoas e movimentação financeira, cita Dias (2005). Muito além de ser um simples dispensador de remédios, o farmacêutico está envolvido no processo de pesquisa de novas drogas, no estudo de efeitos colaterais e de reações adversas dos medicamentos já existentes, na fabricação de cosméticos, na medicação de doentes hospitalares, na fiscalização sanitária e em outras atividades que asseguram a qualidade de vida, explica Cabral (2015). Para mais informações sobre a história da farmácia, acessar: SIDIÃO, E. História da farmácia. 2005. Disponível em: http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAmyUAJ/historia- farmacia. 17WWW.UNINGA.BR IN TR OD UÇ ÃO À F AR M ÁC IA E D EO NT OL OG IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS A história da Farmácia se confunde com a da própria humanidade, já que a busca de remédios para combater as doenças é constante por parte do ser humano. Na antiguidade, não havia distinção entre médico e farmacêutico, cabendo a um mesmo profissional diagnosticar doenças e preparar os medicamentos necessários. Essa separação só foi oficializada por volta do século XII. A trajetória da profissão farmacêutica é repleta de curiosidades, como o símbolo utilizado para representá-la. A origem da profissão remonta à Grécia antiga e seus deuses: o símbolo da Farmácia ilustra o poder (cobra) da cura (taça) e era utilizado pela deusa Hígia, responsável pela saúde. Até ao século XVI, a farmácia europeia ainda era sustentada nas doutrinas humorais de Hipócrates e de Galeno, tirando partido de drogas vegetais conhecidas na Europa e bacia do Mediterrâneo com recurso a purgas, sangrias, clisteres e dietas apropriadas. A expansão europeia pelo Oriente e pela América proporcionou a chegada à Europa de drogas desconhecidas de grande interesse terapêutico e comercial. Surgia a farmácia química através de Paracelso contrariando as teorias do galenismo até então vigentes. Revolução tecnológica com repercussões nas ciências e nas práticas médico- farmacêuticas com inovações no campo da química influenciando na farmácia. O aparecimento de diferentes técnicas analíticas como a ultracentrifugação, a eletroforese e a cromatografia, o desenvolvimento da indústria farmacêutica e surgimento de novas formas farmacêuticas como, comprimidos e injetáveis além do aparecimento de novos grupos medicamentosos, contribuiu para o aparecimento de novas áreas farmacêuticas como a biofarmácia e a farmacocinética. Os novos sistemas terapêuticos e a biotecnologia aplicada à farmácia e ao medicamento geram a globalização do medicamento e da profissão farmacêutica. 1818WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 02 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................ 19 1 - A FARMÁCIA NO BRASIL ................................................................................................................................... 20 2 - COMPARAÇÃO ENTRE A PROFISSÃO FARMACÊUTICA NO BRASIL E NO MUNDO .................................... 24 3 - A NATUREZA DA PROFISSÃO FARMACÊUTICA .............................................................................................. 26 4 - FARMÁCIA COMO PROFISSÃO: FARMACÊUTICO GENERALISTA ................................................................ 28 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................................ 32 A HISTÓRIA DA FARMÁCIA NO BRASIL PROF.A MA. CARMEN LÚCIA RUIZ SCHLICHTING ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: INTRODUÇÃO À FARMÁCIA E DEONTOLOGIA 19WWW.UNINGA.BR IN TR OD UÇ ÃO À F AR M ÁC IA E D EO NT OL OG IA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Os primeiros povoadores, náufragos, degredados, aventureiros e colonos aqui deixados por Martim Afonso, tiveram de valer-se de recursos da natureza para combater as doenças, curar ferimentos e neutralizar picadas de insetos. As boticas só foram autorizadas, como comércio, em 1640. A partir deste ano as boticas se multiplicaram, de norte a sul, dirigidas por boticários aprovados em Coimbra pelo físico-mor, ou por seu delegado comissário na capital do Brasil, Salvador. A utilização da expressão botica para farmácia e boticário para o farmacêutico vem desde o descobrimento do Brasil, perdurando até a terceira década do século XIX; nessa época o profissional, à vista do doente, manipulava e produzia os medicamentos, de acordo com a farmacopeia e a prescrição dos médicos. Para seguir a carreira farmacêutica, é preciso ter aptidão em matérias ligadas à Química e à Biologia, que formam a base do conhecimento necessário à formação em Ciências Farmacêuticas. Em linhas gerais, o farmacêutico atua em seis modalidades básicas: Fármacos e Medicamentos, Análises Clínicas e Toxicológicas, Alimentos, Educação, Saúde Pública e Práticas Integrativas e Complementares. Na primeira, pode-se trabalhar na indústria farmacêutica,dedicando-se à pesquisa de novos fármacos e cosméticos ou atuando na produção e no controle de qualidade de medicamentos. As farmácias de qualquer natureza, com manipulação, fitoterápicas ou homeopáticas, além daquelas instaladas em hospitais e unidades de saúde, formam também um mercado de trabalho em expansão. Os profissionais devem estar aptos a tomar iniciativas, fazer o gerenciamento e administração tanto da força de trabalho, dos recursos físicos e materiais e de informação, da mesma forma que devem estar aptos a serem empreendedores, gestores, empregadores ou lideranças na equipe de saúde. Os profissionais devem ser capazes de aprender continuamente, tanto na sua formação, quanto na sua prática. 20WWW.UNINGA.BR IN TR OD UÇ ÃO À F AR M ÁC IA E D EO NT OL OG IA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 1 - A FARMÁCIA NO BRASIL Os primeiros povoadores, náufragos, degredados, aventureiros e colonos aqui deixados por Martim Afonso, tiveram de valer-se de recursos da natureza para combater as doenças, curar ferimentos e neutralizar picadas de insetos. Para combater a agressividade do ambiente, e a hostilidade de algumas tribos indígenas os primeiros europeus tiveram de contornar a adversidade com amabilidade, e com isso foram aprendendo com os pajés a preparar os remédios da terra para tratar seus próprios males. Remédio da “civilização” só aparecia quando expedições portuguesas, francesas ou espanholas apareciam com suas esquadras, onde sempre havia um cirurgião barbeiro ou algum tripulante com uma botica portátil cheia de drogas e medicamentos. As coisas ficam assim até que a coroa portuguesa resolveu instituir no Brasil o governo geral, e o primeiro a ser nomeado foi Thomé de Souza, que veio para a colônia com uma armada de três naus, duas caravelas, trazendo autoridade, funcionários civis e militares, tropa de linha, diversos oficiais, ao todo aproximadamente mil pessoas que se instalaram na Bahia. Vieram também nesta armada seis jesuítas, quatro padres e dois irmãos, chefiados por Manuel da Nóbrega. O corpo sanitário da grande armada compunha-se de apenas um boticário, Diogo de Castro, com função oficial e com salário. Não havia nesta armada nenhum físico, denominação de médico na época. O físico-mor, só viria a ser instituído no segundo governo de Duarte da Costa. Dentre os irmãos destinados ao sul do país, estava José de Anchieta. Os jesuítas eram mais práticos e previdentes que os donatários e, até do que os próprios governadores-gerais, e trataram logo de instituir enfermarias e boticas em seus colégios, e colocando um irmão para cuidar dos doentes e outro para preparar remédios. Em São Paulo o irmão que preparava os remédios era José de Anchieta, por isso podemos considerá-lo o primeiro boticário de Piratininga. A princípio os medicamentos vinham do reino já preparado. Mas a pirataria do século XVI e as dificuldades da navegação impediam com freqüência a vinda de navios de Portugal, e era preciso reservar grandes provisões como acontecia com São Vicente e São Paulo. Por estas razões os jesuítas terminaram sendo os primeiros boticários da nova terra, e nos seus colégios as primeiras boticas onde o povo encontrava drogas e medicamentos vindos da metrópole bem como, remédios preparados com plantas medicinais nativas através da terapêutica dos pajés. A botica mais importante dos jesuítas foi a da Bahia, sua importância a tornou um centro distribuidor de medicamentos para as demais boticas dos vários colégios de norte a sul do país. Para isso, e como a Bahia mantivesse maiores contatos com a metrópole, os padres conservavam a botica bem sortida e aparelhada para o preparo de medicamentos, iniciando-se nela, inclusive, o aproveitamento das matérias primas indígena. Os jesuítas possuíam um receituário particular, onde se encontravam não só as fórmulas dos medicamentos como seus processos de preparação. Havia também método de obtenção de certos produtos químicos, como a pedra infernal (nitrato de prata). (GUÉDON, 1965). 21WWW.UNINGA.BR IN TR OD UÇ ÃO À F AR M ÁC IA E D EO NT OL OG IA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA A utilização da expressão botica para farmácia e boticário para o farmacêutico vem desde o descobrimento do Brasil, perdurando até a terceira década do século XIX; nessa época o profissional, à vista do doente, manipulava e produzia os medicamentos, de acordo com a farmacopéia e a prescrição dos médicos. O comércio das drogas e medicamentos era privativo dos boticários, segundo o que estava nas “Ordenações”, conjunto de leis portuguesas que regeram o Brasil durante todo o período colonial, reformada por D. Manuel e em vigor desde o princípio do século XVI, bem como por leis e decretos complementares. Foi com base nesta legislação que o físico-mor do reino, por intermédio de seu comissário de São Paulo, ordenou o cumprimento integral do regimento baixado em maio de 1744. Com isto intensificou-se a fiscalização do exercício dessa profissão, pois o regimento proibia terminantemente o comércio ilegal das drogas e medicamentos, estabelecendo pesadas multas e seqüestro dos respectivos estoques. Houve, busca e apreensões das mercadorias proibidas, que foram depositadas nas boticas locais. Foi um “Deus nos acuda”. Quanto ao exame prestado pelos candidatos a boticários, bem como a inutilização das drogas eventualmente deterioradas, desde a sua chegada aos portos, e a fiscalização das boticas, tudo se faria de acordo com o regimento: legalização do profissional responsável; existência de balança; pesos e medidas; estado de conservação das drogas vegetais, principalmente as importadas; medicamentos galênicos; produtos químicos; vasilhames e ocasionalmente, a existência de alguns livros. As inspeções das boticas seriam rigorosas e realizadas a cada três anos. Este regimento foi considerado modelar para a sua época. Foi depois da vinda da família real, em 1803, que o país, ainda colônia, adquiriu o direito de acompanhar os movimentos culturais e científicos que aconteciam no velho continente a mais de um século. As boticas só foram autorizadas, como comércio, em 1640, a sangria, também foi legalmente autorizada naquele mesmo ano e, resultou em competição entre os barbeiros e os escravos sangradores. A partir deste ano as boticas se multiplicaram, de norte a sul, dirigidas por boticários aprovados em Coimbra pelo físico-mor, ou por seu delegado comissário na capital do Brasil, Salvador. Estes boticários, que obtinham com a máxima facilidade a sua “carta de aprovação” eram profissionais empíricos, às vezes analfabetos, possuindo apenas conhecimento de medicamentos corriqueiros. Por causa de toda essa “facilidade”, muitas vezes lavadores de vidros ou simples ajudantes de botica, requeriam exame perante o físico-mor ou seu delgado e, uma vez aprovados, o que geralmente acontecia, arvoravam-se em boticários, estabelecendo-se por conta própria ou associando-se a um capitalista ou comerciante, normalmente do ramo de secos e molhados, que alimentava a expectativa dos bons lucros no novo negócio. Em todas as cidades do Brasil, desde os primeiros tempos da colonização, foi hábito dos comerciantes de secos e molhados, negociarem com drogas e medicamentos, não só para uso humano como para tratamento dos animais domésticos, aos cuidados dos alveitares (veterinários). Raras eram as boticas legalmente estabelecidas (CRF, 2015). 22WWW.UNINGA.BR IN TR OD UÇ ÃO À F AR M ÁC IA E D EO NT OL OG IA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA O primeiro passo largo rumo à modernidade foi encabeçado pelo príncipe regente D. João VI que admirava os estudos de história natural, bem como o trabalho dos naturalistas. Em 18 de fevereiro de 1808,instituiu os estudos médicos no Hospital Militar da Bahia, por sugestão do cirurgião-mor do reino, Dr. José Correia Pincanço, futuro Barão de Goiana, com ensino de anatomia e cirurgia, porém o ensino de farmácia só se iniciou em 1824. A intenção de D. João VI era formar médicos e cirurgiões para o exército e marinha, onde estava a elite econômica da época, mostra CRF (2015). No Rio de Janeiro instituiu o curso de medicina em 1809. Este curso era composto das cadeiras de Medicina, Química, Matéria Médica e Farmácia. O primeiro livro desta faculdade foi escrito por José Maria Bontempo, primeiro professor de farmácia do Brasil, e chamava-se “Compêndios de Matéria Médica” e foi publicado em 1814. Em quatro de abril de 1839, o governo provincial de Minas Gerais fundava em sua capital Ouro Preto, uma escola de farmácia, pioneira para o ensino exclusivo da profissão no país. Decorrido pouco mais da metade do século, surgiram mais duas escolas para o ensino autônomo de farmácia: a escola de Porto Alegre, em 1896 e, logo a seguir, a de São Paulo, em 11 de fevereiro de 1898, segundo CRF (2015). A consolidação do ensino de farmácia, no entanto, só aconteceu em 1832, quando o curso passa a ser Faculdade de Farmácia, filiada como as outras, a Universidade do Rio de Janeiro. (GUÉDON, 1965). Foi uma luta composta por diversas batalhas para que a profissão de farmacêutico ganhasse o direito à exclusividade na produção e manipulação de medicamentos. O mercado de trabalho era pequeno e normalmente vinculado aos hospitais militares ou as Santas Casas. Para que a indústria farmacêutica se estabelecesse, foi outra batalha contra a ignorância dos políticos da época sobre o exercício da profissão, e a concorrência desigual dos produtos importados, nem sempre de boa qualidade, além da falta de confiança na capacidade profissional e científica dos profissionais brasileiros. É certo que o farmacêutico do século passado e boa parte deste século tinham tempo para exercer outras funções sociais importantes como juiz de paz, vereador, prefeito, deputado, senador, etc., sem deixar de atender no seu estabelecimento, Apesar das diversas instituições de ensino de farmácia pelo país no século passado, a passagem do comércio de botica para farmácia, não foi nada fácil. Afinal o hábito, na cultura popular, dificulta em muito as mudanças, por mais necessárias que elas sejam. O boticário dará definitivamente espaço ao farmacêutico depois de 1886. A farmácia no Brasil teve de vencer muitos obstáculos para se firmar enquanto profissão. Não era só o número de alunos reduzido nas faculdades, mas também a concorrência profissional dos químicos, botânicos, médicos, curandeiros, benzedeiras, comerciantes de secos e molhados e principalmente da pouca ou nenhuma escolaridade da grande maioria da população por vários séculos. Aliado a isso a necessidade de desenvolvimento científico nunca fez parte da cultura nativa (CRF, 2015). 23WWW.UNINGA.BR IN TR OD UÇ ÃO À F AR M ÁC IA E D EO NT OL OG IA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA afinal o mais importante era formular o remédio, e isso acontecia uma vez ao dia, às vezes de dois em dois dias. Às vezes também, acontecia de ter de formular a noite, dependendo do caso eram acordadas altas horas da madrugada por causa de uma dor de dente ou de uma febre. Em algumas cidades exercia também a função de médico, já que determinava a doença e receitava o remédio. Aliás, era mais fácil que os habitantes do interior fossem a farmácia do que ao médico. Quando o farmacêutico formulava tinha de anotar no livro de farmácia o nome do paciente, a prescrição, a data e o nome do médico. (CRF, 2015). Não havia necessidade de grandes maquinismos, mas o indispensável, não era barato. Balança, vidros, termômetro, conta gotas, prensa, filtros, cápsula, cadinho, cortador de raiz, almofariz, mão de almofariz, caçarola, tacho, terrina, espátula, seringa, apertador de rolha entre tantos outros, menciona Cruz (2011). Já estamos no século XX (de 1901 a 2000), e a evolução da sociedade brasileira traz à profissão farmacêutica, nova e mais rigorosa legislações específicas, as indústrias multinacionais começam a se instalar no país principalmente a partir da década de 30, os medicamentos de origem vegetal perdem importância e os “remédios industrializados” começam a tomar conta das prateleiras. Novas tecnologias são descobertas, surgem os antibióticos... A tradicional botica cede espaço às farmácias e as drogarias, segundo CFF (2015). Figura 1 - História da Farmácia no Brasil. Fonte: CFF (2015). A realidade agora é outra, o comércio de remédios que sempre esteve diretamente ligado ao exercício da profissão farmacêutica, no século XX com o surgimento da indústria das farmácias, drogarias, passa então a exigir do farmacêutico, conhecimentos outros além da parte técnica da profissão. O Farmacêutico precisa agora, principalmente para os optam por atuar no comércio, familiarizar-se com não só com legislação sanitária, mas também com legislação trabalhista, legislação tributária, gestão de pessoas, movimentação financeira, etc. Em 1969, ocorreu a reforma universitária que estabeleceu um currículo mínimo diferenciado para Farmacêutico Bioquímico e Farmacêutico Industrial, além da Assinatura do Decreto-Lei nº 1.005, que instituiu o código da propriedade industrial. No final da década de 1960, eram produzidos no país 98% dos medicamentos prescritos pela classe médica, basicamente por empresas multinacionais aqui instaladas, mostra CFF (2015). Em 1973 a publicação da Lei Federal nº 5.991, que dispõe sobre o controle sanitário do comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos. Esta lei revogou o decreto n° 19.606/31. Esta Lei sanitária com forte pressão de associações de donos de farmácias, além da indústria farmacêutica, cria posto e dispensários de medicamentos em estabelecimentos hospitalares, permitem a venda de anódinos em hotéis e similares; estabelece a drogaria como 24WWW.UNINGA.BR IN TR OD UÇ ÃO À F AR M ÁC IA E D EO NT OL OG IA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA estabelecimento de venda e varejo de produtos farmacêuticos; admite a abertura de farmácia por leigos, a farmácia é caracterizada por comércio. Foram anos marcados por um elevado índice de produção de medicamentos essenciais, não só pelos laboratórios governamentais, mas também pelas empresas privadas de capital nacional. Em 1981 a publicação do Decreto n° 85.878, que estabeleceu normas para execução da Lei nº 3.820, de 11 de novembro de 1960, sobre o exercício da profissão de farmacêutico. Em 1988 houve a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), devido à promulgação da Constituição. O Estado tornou-se responsável por promover e garantir a saúde para todos, assegurando a universalidade, integralidade e equidade no atendimento aos cidadãos, menciona CFF (2015). Em 1993 com a publicação do Decreto nº 793, conhecido como “Decreto dos Genéricos”, altera os Decretos n°s 74.170/74 e 79.094/77 que regulamentam, respectivamente, as Leis n°s 5.991/73 e 6.360/76. Em 1997, a OMS publicou documento intitulado “O papel do farmacêutico no sistema de atenção à saúde”, que reafirmou a missão do farmacêutico como agente de saúde, enquanto profissional capaz de oferecer produtos e serviços que contribuam para a melhora da saúde da sociedade. Em 1998 há a Publicação da Portaria n° 344, que aprova o regulamento técnico das substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial. Em 1999, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) foi constituída como autarquia, sob regime especial, vinculada ao Ministério da Saúde; e foi publicada a Lei nº 9.787 que alterou a Lei nº 6.360, de 23 de setembro de 1976, que dispõe sobre a vigilância sanitária, estabeleceuo medicamento genérico, dispõe sobre a utilização de nomes genéricos em produtos farmacêuticos. Revogou o Decreto n° 793/93. Em 2000, são concedidos os primeiros registros de medicamentos genéricos, cita CFF (2015). No século XXI, temos em 200 a Publicação da Política Nacional de Medicamentos. Em 2002 a Publicação da Resolução CNE/CES nº 2, que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Farmácia (DCNs) e criação do farmacêutico generalista. Muitas mudanças estão ocorrendo como a publicação da atualização da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), incluindo a da profissão farmacêutica. Desde a última atualização em 2002, a profissão farmacêutica era classificada em apenas duas classes de ocupações, as quais estavam desatualizadas com relação a atual realidade profissional. Atualmente, com 92% das propostas dos Conselhos Regionais acatadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), são oito ocupações, que se desdobram em mais de 100 sinônimos. Além disso, definiu a farmácia como uma unidade de prestação de serviços destinada a prestar assistência farmacêutica, assistência à saúde e orientação sanitária individual e coletiva. E estabeleceu a responsabilidade solidária entre farmacêutico e proprietário para a promoção do uso racional de medicamentos, mostra CFF (2015) 2 - COMPARAÇÃO ENTRE A PROFISSÃO FARMACÊUTICA NO BRASIL E NO MUNDO Em Portugal, desde 1521, D. Manuel instituiu o Regimento do Físico-Mor do Reino, em que somente os farmacêuticos (boticários) poderiam ser proprietários, após exame de conhecimento realizado por um júri, composto pelo Físico-Mor, físicos da corte e pelos boticários do rei e da rainha, expõe Zubioli (1992). O ensino do curso de farmácia é de cinco anos com possibilidade de o profissional formado exercer Farmácia Pública, Hospitalar, Industrial e Análises Clínicas. Existe em Portugal a limitação de instalação do número de farmácias por distância. A propriedade da Farmácia em Portugal encontra- se liberalizada, mas a direção técnica fica sendo exclusivamente do farmacêutico. 25WWW.UNINGA.BR IN TR OD UÇ ÃO À F AR M ÁC IA E D EO NT OL OG IA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Portugal tem uma das melhores redes de farmácia da Europa, com um sistema de assistência farmacêutica às populações, a um baixo custo. As farmácias portuguesas são unidades enquadradas no sistema nacional de prestação de cuidados de saúde, com direção técnica permanente de farmacêuticos, cita Zubioli (1992). A instalação de farmácias está condicionada por critérios demográficos e geográficos. Este fato impossibilita a concentração de farmácias nos centros urbanos e promove uma distribuição homogênea por todo o território nacional. Na França, o rei Luís XV mandou chamar de farmacêutico em vez de boticário, as farmácias funcionam com farmacêuticos durante todo o horário e fecham nas férias do farmacêutico, segundo Zubioli (1992). As farmácias são identificadas por uma cruz verde e os remédios ficam atrás do balcão. O farmacêutico é remunerado por uma margem fixa sobre o preço da venda. Os medicamentos são reembolsados pela seguridade. Não há propriedade sem direção técnica e no caso de falecimento do farmacêutico, os herdeiros podem ficar no máximo um ano, mas contratando um farmacêutico, cita Zubioli (1992). Figura 2 - A farmácia na França. Fonte: Zubioli (1992). Na Espanha, as farmácias são bem tradicionalistas com laboratórios de manipulação e a farmácia somente pode ser aberta por farmacêuticos, nas férias ou quando não há farmacêuticos, as farmácias fecham, existe também um zoneamento para a instalação do número de farmácias por habitante, informa Zubioli (1992). Na Itália, a abertura de farmácias é exclusiva de farmacêuticos, não há redes. A presença de farmacêutico é necessária durante todo o horário de funcionamento, fechando nas férias. A lei obriga uma farmácia a cada 4.000 habitantes e não menos de 200 m entre farmácias. A lei também obriga farmacêuticos em hospitais, menciona Zubioli (1992). Na Alemanha, a propriedade da farmácia é do farmacêutico e a sua presença durante todo o período de funcionamento, na ausência e férias as farmácias também fecham. Na entrada de algumas farmácias há uma placa com o nome do farmacêutico e pode cobrar por consultas e serviços como profissional de saúde, independentemente da venda (serviços farmacêuticos). O mercado farmacêutico alemão é um dos maiores do mundo, sendo conhecidas pelos seus laboratórios globais como Bayer, Merck, Schering e Altana. A Alemanha deu inicio ao tratamento homeopático, com o médico alemão Samuel Hahnemann, considerado o pai da homeopatia, comenta Zubioli (1992). No Reino Unido, a farmácia também é de propriedade exclusiva do farmacêutico, que recebe por margem média de 33% e os medicamentos podem ser vendidos a granel. As farmácias também fecham na ausência ou férias do farmacêutico (ZUBIOLI, 1992). 26WWW.UNINGA.BR IN TR OD UÇ ÃO À F AR M ÁC IA E D EO NT OL OG IA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 3 - A NATUREZA DA PROFISSÃO FARMACÊUTICA Para seguir esta carreira, é preciso ter aptidão em matérias ligadas à Química e à Biologia, que formam a base do conhecimento necessário à formação em Ciências Farmacêuticas. O conhecimento dos farmacêuticos sobre a síntese química de um fármaco em particular, o mecanismo de ação, metabolismo, distribuição, excreção, efeitos fisiológicos e farmacológicos sobre o corpo humano, o torna um especialista em produtos farmacêuticos com importante função nos resultados esperados pelos pacientes, segundo Cruz (2011). Figura 3 - Consultório farmacêutico, o que é preciso?. Fonte: CRF (2015). A Farmácia é conceituada como um serviço de saúde, posto que a única razão para pesquisar, produzir, distribuir, prescrever e dispensar medicamentos é que através dos mesmos se podem produzir efeitos benéficos na saúde da população, curando, prevenindo, controlando as doenças e reduzindo o sofrimento humano, mostra CRF (2015). Atualmente, o Brasil vive um movimento de intensa reestruturação da profissão farmacêutica, o que envolve a formação e a prática dos profissionais da saúde em favor do bem- estar e da qualidade de vida das pessoas, coloca Pereira (2008). Em consonância com as novas tendências do mercado de trabalho, as diretrizes curriculares atuais estabelecem que o egresso deva estar capacitado ao exercício de atividades referentes aos fármacos e aos medicamentos, às análises clínicas e toxicológicas e ao controle, produção e análise de alimentos. Deve, também, pautar sua atuação em princípios éticos e na compreensão da realidade social, cultural e econômica do seu meio, dirigindo sua atuação para a transformação da realidade, em benefício da sociedade, cita Pereira (2008). Diante dessas mudanças, o farmacêutico está apto a desempenhar suas funções com qualidade, nas 131 especialidades distribuídas em 10 áreas de atuação regulamentadas pela Resolução/CFF nº 572/2013, expõe CFF (2015). 27WWW.UNINGA.BR IN TR OD UÇ ÃO À F AR M ÁC IA E D EO NT OL OG IA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Em linhas gerais, o farmacêutico atua em seis modalidades básicas: Fármacos e Medicamentos, Análises Clínicas e Toxicológicas, Alimentos, Educação, Saúde Pública e Práticas Integrativas e Complementares. Na primeira, pode-se trabalhar na indústria farmacêutica, dedicando-se à pesquisa de novos fármacos e cosméticos ou atuando na produção e no controle de qualidade de medicamentos. As farmácias de qualquer natureza, com manipulação, fitoterápicas ou homeopáticas, além daquelas instaladas em hospitais e unidades de saúde, formam também um mercado de trabalho em expansão, cita CFF (2015). A área de Análises Clínicas e Toxicológicas,o farmacêutico absorvido por laboratórios de análise, públicos e particulares, será responsável pela execução de exames clínico-laboratoriais que auxiliam no diagnóstico de doenças. Pode também controlar e identificar a presença de produtos que, atuando como tóxicos, afetam as pessoas, o ambiente, os alimentos e os próprios medicamentos. Outra possibilidade é a toxicologia ocupacional, que trata da adequação dos ambientes de trabalho às funções do trabalhador. E ainda a Toxicologia Desportiva para avaliação de doping de atletas e animais, conforme CFF (2015). A área de Alimentos, o profissional pode atuar na indústria de produtos alimentícios e de bebidas, principalmente no controle da qualidade microbiológica, físico-química e sensorial. Merece destaque as indústrias de água mineral, de cervejas, de óleos vegetais comestíveis, de leite e derivados e de produtos que podem promover a saúde, todas em franca expansão. O farmacêutico também pode trabalhar no desenvolvimento de novos produtos e ingredientes alimentícios, segundo CFF (2015). Nas instituições de estudo e pesquisa, suas atividades estarão voltadas para a pesquisa básica e aplicadas. Qualquer que seja a modalidade escolhida, o estudante ainda poderá, depois de formado, seguir a carreira acadêmica em universidades e centros de pesquisa públicos ou particulares, dentro dos vários campos que a profissão oferece, mostra Pereira (2008). Na área de Saúde Pública, poderá atuar como farmacêutico sanitarista buscando oferecer maiores condições para o tratamento de epidemias e doenças que resultam de condições de trabalho, por exemplo. Também pode atuar na saúde ambiental, controle de vetores e pragas urbanas, epidemiologia genética e participar de outras atividades de vigilância sanitária, trazendo uma contribuição relevante para a melhoria da saúde no país, coloca CFF (2015). O farmacêutico que opta pelas Práticas Integrativas e Complementares, por sua vez, atua no campo da antroposofia, trabalhando com homeopatia, acupuntura, plantas medicinais e fitoterapia, termalismo social/crenoterapia, ou seja, terapias que visam à prevenção de agravos e recuperação da saúde, coloca CFF (2015). Para que o farmacêutico possa desempenhar bem o atendimento aos usuários é imprescindível o desenvolvimento de habilidades, segundo Cruz (2011), como: • Atenção a detalhes; • Capacidade de concentração e de observação; • Curiosidade e espírito de investigação; • Facilidade para matemática; • Gosto pela pesquisa e pelos estudos; • Habilidade para transformar ideias em ações; • Capacidade para ouvir e responder a dúvidas; • Capacidade de expressar-se por escrito; • Fazer apresentações orais; 28WWW.UNINGA.BR IN TR OD UÇ ÃO À F AR M ÁC IA E D EO NT OL OG IA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA • Capacidade de cooperação e iniciativa; • Facilidade para trabalhar em equipe; • Destreza para treinar e aconselhar; • Reconhecer problemas e resolvê-los; • Identificar oportunidades para promover inovações que gerem mais benefícios ao trabalho; • Capacidade de selecionar informações importantes para a tomada de decisões. De acordo com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), a função do farmacêutico na farmácia materializa-se, entre outras, através das seguintes ações: 1) Informação aos doentes sobre a utilização correta de produtos farmacêuticos e contribuição para o seu uso racional; 2) Acompanhamento e avaliação de acordo com protocolos terapêuticos para os doentes (perfil farmacoterápico); 3) Aconselhamento aos doentes sobre o uso de produtos farmacêuticos não prescritos (auto-tratamento farmacológico), de produtos médicos-farmacêutico e produtos para a saúde; 4) Participação em programas de educação em saúde; 5) Colaboração com outros membros da equipe de atenção à saúde. Em síntese, essas características fazem parte do dia a dia do farmacêutico. Portanto, a natureza do exercício da profissão farmacêutica tem por base pressupostos quanto à atitude, ao conhecimento e à habilidade do profissional na busca de satisfação de necessidades sociais que melhorem a qualidade de vida da população, coloca Cruz (2011). 4 - FARMÁCIA COMO PROFISSÃO: FARMACÊUTICO GENERALISTA O farmacêutico generalista surgiu 2002, de acordo com a Resolução CNE/CES 02 de 2002, trazendo uma filosofia inovadora que habilita ao generalista atuar em todas as áreas farmacêuticas, como as ocupações citadas no tópico anterior. De acordo com o Conselho Federal de Farmácia, são mais de 70 áreas de atuação, informa Cruz (2011). O Antigo currículo do curso de Farmácia, estabelecido pela Resolução nº 4/69 do Conselho Federal de Educação definia as seguintes opções de formação: • Farmacêutico; • Farmacêutico Industrial; • Farmacêutico Bioquímico. 29WWW.UNINGA.BR IN TR OD UÇ ÃO À F AR M ÁC IA E D EO NT OL OG IA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Duas opções: A- Tecnologia de alimentos B- Análises clínicas e toxicológicas A Resolução CNE/CES n°. 2, de 19/02/2002, do Ministério da Educação que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Farmácia, foi um importante passo para apontar, como política, a necessidade de produzir mudanças no processo de formação, já que indica um caminho, flexibilizando as regras para a organização de cursos e favorece a construção de maiores compromissos das Instituições de Ensino Superior com o profissional e a sociedade, segundo Cruz (2011). As Diretrizes Curriculares Nacionais alteraram significativamente o perfil do profissional a ser formado. Deixaram de existir as habilitações, e o âmbito de formação passou a abranger todas as áreas das ciências farmacêuticas. O caráter tecnicista deu lugar à formação de um profissional com conhecimentos técnico-científicos, permeados de atividades de caráter humanístico, com capacidade de criticar, refletir e ser um agente de mudanças. Figura 4 - Farmacêutico generalista. Fonte: Cruz (2011). A Resolução 04/69/CFE propunha o modelo antigo, supracitado. Era um modelo técnico, segregacionista, com rigidez de conteúdos, o modelo proposto pela Resolução CNE/CES nº 02/2002 é um modelo reflexivo criativo, onde a prática docente deve ser fonte permanente na busca de conhecimentos com situações de troca entre escola-sociedade e medida do processo pesquisa-ação, com flexibilidade e riqueza na formação de competências, mostra Cruz (2011). Desta forma, todos os currículos de Farmácia aprovados após a instituição da nova diretriz têm que se adequar a esse novo perfil generalista. Assim as habilitações foram extintas e os farmacêuticos formados a partir da nova diretriz são “Farmacêuticos” e podem exercer as análises clínicas, indústria e alimentos, portanto o termo “Farmacêutico–Bioquímico” foi extinto a partir da nova diretriz. A Resolução CNE/CES 2/2002 estabelece, em seu artigo 3º, que “O curso de graduação em Farmácia tem como perfil do formando egresso/profissional o farmacêutico, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, para atuar em todos os níveis de atenção à saúde, com base no rigor científico e intelectual. 30WWW.UNINGA.BR IN TR OD UÇ ÃO À F AR M ÁC IA E D EO NT OL OG IA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Capacitado ao exercício de atividades referentes aos fármacos e aos medicamentos, às análises clínicas e toxicológicas e ao controle, produção e análise de alimentos, pautado em princípios éticos e na compreensão da realidade social, cultural e econômica do seu meio, dirigindo sua atuação para a transformação da realidade em benefício da sociedade”. O que era dado de conteúdos e estágios sob forma de habilitação e opcional oferecimento aos graduandos hoje, pela nova
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