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BREVE HISTÓRIA DAS ARTES LIBERAIS Platão, Aristóteles

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CAPÍTULO 1: O TRIVIUM E A SUA HISTÓRIA 
Prof. Dr. Marco Antonio Chabbouh Junior 
 
 
UNIDADE 3: BREVE HISTÓRIA DAS ARTES LIBERAIS – Platão, Aristóteles 
e a Idade Média 
 
 Na Unidade 2, nós veremos como cada um dos problemas e respostas 
postulados pelos autores estudados na unidade anterior se manifestam na filosofia de 
Platão. Veremos que para o filósofo de Atenas, há uma super-estrutura que coordena 
a natureza, que a alma tem uma relação importante com essa super-estrutura e que, 
por isso, ela pode ser guiada, por meio da dialética, ao conhecimento da realidade. Em 
outras palavras, iremos estudar como se caracteriza a teoria platônica das Ideias e que 
relação essa teoria tem com o que Platão chama de dialética (nome dado também à 
lógica, segunda arte do Trivium). 
 Para isso, nós iremos analisar as três famosas alegorias presentes nos livros VI 
e VII da República de Platão. Iremos ver (1) como a Alegoria do Sol introduz a Ideia 
de Bem, (2) como a Alegoria da Linhas organiza a totalidade dos seres em graus de 
existência e de cognoscibilidade1 e (3) como a Alegoria da Caverna descreve o 
processo do praticante da dialética. 
 
1. A filosofia de Platão 
 
 Platão foi um residente de Atenas de família nobre. De maneira muito 
importante, ele foi discípulo do célebre filósofo Sócrates de Atenas. Seu mestre ficou 
famoso por dar centralidade à investigação sobre a ação humana, por seu conflito com 
a sociedade ateniense, mas também por sua condenação e morte no tribunal da referida 
cidade grega. 
 
1 Capacidade de ser conhecido. Há quem acredite que há coisas incognoscíveis, isto é, impossíveis de 
serem conhecidas. 
2 
 
 Uma das características mais notáveis a respeito da filosofia de Platão é o fato 
de ele ter escrito praticamente todos os seus textos em forma de diálogo. Seus 
aproximadamente trinta e cinco textos principais2 eram apresentados como conversas 
entre personagens que, na sua grande maioria, realmente existiam e viviam na Grécia 
de seu tempo. Ricos em detalhes de cenários e de interações entre as personagens, os 
textos platônicos tem uma forma bastante pouco comum para textos filosóficos e essa 
característica da sua obra tem a ver com sua própria proposta de método filosófico. 
 O legado de Platão, todavia, não se limita às suas obras. Em primeiro lugar, o 
filósofo fundou uma escola, chamada Academia3, que foi ocupada por importantes 
filósofos da Antiguidade. Em segundo lugar, no início da era cristã, diversos 
pensadores foram chamados de neo-platônicos; bons exemplos sendo Proclo e 
Plotino. Em terceiro lugar, o célebre Aristóteles de Estagira – de cujo trabalho nos 
ocuparemos - foi um de seus discípulos. Por fim, citando Alfred North Whitehead, a 
própria história da filosofia e do pensamento no ocidente pode ser compreendida 
como notas de rodapé escritas a partir da obra de Platão. 
 
2. A dialética como método da filosofia em A República 
 
 Como você deve se lembrar, na Unidade 1 nós vimos que o Trivium é 
composto de três artes liberais, uma delas sendo a lógica que também é chamada de 
dialética. Platão é o primeiro autor na história da filosofia a chamar de dialética não 
só uma parte de seus ensinamentos, mas a atividade própria da filosofia. Para Platão, 
fazer filosofia é fazer dialética. 
 A caracterização que Platão faz da dialética, no entanto, não é direta e literal, 
como a filosofia costuma operar a partir de Aristóteles. Diferentemente, o filósofo de 
Atenas faz descrições aproximativas da dialética em toda a sua obra. No que se segue, 
ficarei feliz se conseguirmos entender como Platão caracteriza a dialética em uma de 
suas mais célebres obras, A República. 
 A República de Platão, como a grande maior parte de seus demais livros, é 
escrita em diálogos. Esses diálogos da Repíublica, que ocorrem na maior parte do 
 
2 Digo aproximadamente, pois ainda há debate na literatura especializada que discute quais desses trinta e 
cinco podem ser corretamente atribuídos ao filósofo de Atenas. 
3 Que hoje é utilizado como nome informal para Universidade. 
3 
 
tempo entre as personagens Sócrates e Glaucon, estão divididos em livros. A 
passagem do livro 6 para o livro 7 é aquela que nos interessa especialmente, pois é 
nessas passagens que o filósofo apresenta suas alegorias do Sol, da Linha Dividida e 
da Caverna que servem para caracterizar sua dialética e sua Teoria da Ideias. 
 
2.1 Alegoria do Sol 
 
A Alegoria do Sol, além de ter o objetivo de caracterizar a dialética platônica 
– precursora da lógica que compõe o Trivium - , tem especificamente a intenção de 
nos fazer compreender o que é a Ideia de Bem. Nessa Alegoria, Platão faz uma 
analogia entre o Sol e a Ideia de Bem. A analogia relaciona, por um lado, o Sol com 
as coisas visíveis e, por outro, a Ideia de Bem com as coisas inteligíveis. 
O Sol, diz Platão na boca da personagem Sócrates, é filho do Bem e, por essa 
razão, há uma relação íntima entre o astro e a referida ideia. O Sol é fonte da existência 
das coisas visíveis, de tal maneira que se o Sol não existisse tampouco existiriam as 
coisas visíveis que dependem dele para ser o que são. Se não houvesse o Sol, podemos 
exemplificar, não existiriam nem as plantas, nem os homens e nem os demais animais. 
O calor do Sol é necessário para que haja a existência dos visíveis. 
Todavia, o Sol não é meramente fonte da existência dessas coisas, mas também 
da sua visibilidade. Se o Sol não brilhasse, não haveria luminosidade capaz de nos 
fazer enxergar as coisas visíveis. Isso é mais facilmente compreensível quando 
tomamos o cuidado de pensar na vida dos gregos antigos: não havia domínio sobre a 
energia elétrica em 375 a.C. quando o texto foi escrito. Toda luz artificial era por meio 
do fogo, muito mais difícil de controlar do que a energia elétrica. 
Ainda que o Sol tenha tão maravilhosa capacidade de iluminar, não basta que 
ele exista e que brilhe para nós para que sejamos capazes de enxergar as coisas. Nós 
precisamos de algo em nós que nos possibilite ver as coisas, uma capacidade e um 
órgão, a saber, a visão e nossos olhos. Se nossos olhos existem, se nossa capacidade 
de visão está intacta e se o Sol brilha, nós podemos ver as coisas visíveis, caso 
contrário, essa possibilidade simplesmente não existe. 
Analogamente, o Bem mantém uma relação muito similar com as coisas 
inteligíveis. As coisas inteligíveis são aquelas coisas que nós não podemos perceber 
4 
 
pelos nossos sentidos. Por exemplo, ainda que sejamos capazes de perceber pelos 
nossos sentidos certas coisas que são belas, nós não somos capazes de perceber a 
Beleza. Ainda que sejamos capazes de ver quatro maçãs, nós não somos capazes de 
ver o número 44. 
 Platão, por meio da personagem Sócrates, diz que a Ideia de Bem possibilita a 
existência dos inteligíveis. Mas, além disso, é meramente pelo ser da Ideia de Bem 
que nós somos capazes de entender os inteligíveis. Sem o Bem, os inteligíveis não 
existiriam nem seriam entendidos, assim como sem o Sol, os visíveis não existiriam e 
não poderiam ser vistos. Como no caso do Sol, todavia, é preciso haver uma 
capacidade em nós que nos permita acessar as coisas inteligíveis. No caso das coisas 
visíveis, os órgãos são os olhos, no caso das coisas inteligíveis, o órgão é a alma. 
 
2.2 A Alegoria da Linha dividida 
 
 Assim como a Alegoria do Sol, a Alegoria da Linha Dividida serve para ensinar 
acerca da dialética e da Ideia de Bem. Diferentemente da analogia anterior, Platão não 
irá comparar a Ideia do Bem com algum ser do mundo visível, mas irá relacionar 
visíveis e inteligíveis em uma linha continua. O objetivo é nos fazer entender como 
se relacionam a existência e a cognoscibilidade dos existentes. 
 Façamos como Platão e imaginemos uma linha continua. Essa linha deve ser 
dividida em duas parte e depois em quatro. A semirreta AC representa o mundo 
visível, enquanto a semirreta CE representao mundo inteligível: 
 
 
4 Cuidado! Isto ‘4’ não é o número quatro. Isso é a representação arábica do número quatro. Outras 
representações possíveis são ‘quatro’ – palavra em português -, ‘IV’ – representação romana -, ‘four’ – 
palavra inglesa – e assim por diante. O número quatro é uma quantidade e, ainda que possamos representá-
la graficamente de maneiras variadas, a própria quantidade não pode ser vista ou percebida. 
5 
 
 Na primeira fração da Linha, representada pela semirreta AB, se encontram as 
imagens e sombras. Por exemplo, reflexos no espelho ou na água, sombras de nós ou 
de outros objetos. Esses objetos só existem porque existem também outros objetos 
que os tornam possíveis. Se há uma sombra, essa sombra é de alguém ou de algo e o 
mesmo vale para os reflexos. Ademais, essas coisas não são fáceis de conhecer. Tudo 
que somos capazes de dizer sobre elas é parcial e temporário. Isso se dá, pois as 
sombras e os reflexos deixam de ser o que são assim que há movimento nas entidades 
geradoras: se eu saio da frente do espelho, meu reflexo some. 
 Na segunda fração se encontram aquelas coisas das quais as primeiras – 
presentes na semirreta AB – são imagens. Ou seja, se na fração AB estão as imagens 
das coisas visíveis, então na fração BC estão as coisas visíveis que dão realidade aos 
reflexos e às sombras. As entidades em BC são aquelas mesmas coisas que têm sua 
realidade possibilitada pelo Sol na Alegoria anterior. Essas coisas existem em um 
sentido muito mais próprio do que as sombras e as imagens: não são cópias mal feitas 
de nada e, portanto, não dependem de moldes originais para existir. Todavia, as coisas 
materiais necessitam do Sol e de outras materialidades para existir: cães precisam de 
água, gatos precisam de carne, etc. Ademais, cada um dos seres materiais passou a 
existir e, um dia deixará de existir. Nosso conhecimento desses objetos é, certamente, 
mais confiável do que nossos conhecimento das sombras e das imagens, mas ainda há 
pouco que se possa dizer de absolutamente certo sobre essas entidades. 
 Na terceira fração, representada pelo segmento CD, estão o primeiro grupo de 
inteligíveis. Esse primeiro grupo é o grupo das quantidades estudado pela matemática. 
O número quatro, um triângulo, uma função ou uma esfera não são objetos materiais, 
mas objetos meramente inteligíveis com representações materiais possíveis. Ainda 
que eu veja a representação do número onze, 11, eu sou plenamente incapaz de ver a 
quantidade 11 e é com essa quantidade que a matemática está operando. A matemática 
não opera com instanciações particulares do número onze, como o número de 
jogadores em um time de futebol, mas com as características mais gerais dessa 
quantidade. De maneira especialmente importante, as entidades matemáticas são 
eternas: se eu morrer, se todos os seres humanos morrerem ou se a galáxia deixar de 
existir, ainda haverá quantidades como a do número onze. Esse número, como os 
demais, na visão platônica, não depende de nada para existir. 
6 
 
 Na última divisão da linha, por fim, se encontram os inteligíveis por 
excelência; aqueles que não dependem de absolutamente nada para existir, a saber, as 
Ideias ou Formas das quais a Ideia de Bem é a superior. Para Platão, o objetivo da 
dialética é permitir ao seu praticante passar de um estágio para o outro da Linha ao 
ponto de, em suas palavras, “entrar na antessala do Bem”. 
 
2.3 A Alegoria da Caverna 
 
 A Alegoria da Caverna é, certamente, a mais famosa das três alegorias. Se você 
estudou filosofia no Ensino Médio ou em qualquer outro momento da sua vida, é certo 
que já ouviu falar dessa alegoria e que tem, ao menos, uma ideia do que ela trata. 
 Como as outras duas alegorias, a Alegoria da Caverna tem o objetivo de ilustrar 
o papel da dialética e a sua relação com a Ideia de Bem. Diferentemente das duas 
alegorias precedentes, a Alegoria da Caverna nos revela uma narrativa com 
personagens – algo muito presente na filosofia de Platão e, lembre-se, muito presente 
nas obras dos poetas gregos5, mas pouco comum no restante da História da Filosofia 
desde Tales de Mileto. 
 A história é bastante simples. Um grupo de pessoas está presa dentro de uma 
caverna desde o início de suas vidas. Essas pessoas estão presas por correntes e são 
obrigadas a olhar sempre para uma mesma direção. Na direção em que elas estão 
olhando há uma parede que projeta suas sombras. Essas sombras são projetadas por 
uma fogueira que arde por detrás deles. 
 Agora, vamos imaginar com Platão, que uma pessoa se solta das correntes. 
Essa pessoa não é mais obrigada a olhar para a mesma direção, não é mais obrigada a 
olhar para as mesmas sombras. Imagine, então, que essa pessoa se volta para a 
fogueira: ela não tem como não sentir dor. A luminosidade, para quem fica muito 
tempo no escuro, como que cega aquele que olha para ela. 
 Em um primeiro momento, então, evidentemente essa pessoa teria o ímpeto de 
parar de olhar para a luminosidade da fogueira. É mais do que natural. Para poder 
olhar para a fogueira e, para além disso, poder enxergar a luminosidade de fora da 
 
5 Falamos sobre isso em nossa Unidade 2. 
7 
 
caverna, ela precisaria se habituar aos poucos, passar por um caminho longo de 
adaptação à luminosidade. 
 Neste momento, imagine então que um dos prisioneiros fez, de fato, esse 
caminho. Que ele olhou para fogueira, se habituou a luminosidade, que subiu o árduo 
caminho até a entrada da caverna. Essa pessoa teria muito dificuldade de olhar para o 
Sol. De fato, se sentiria impelida a não olhar e teria, de novo, de passar por um 
processo de adaptação. 
 Tal é o processo do praticante da dialética. Um processo de se livrar da prisão, 
de sair da investigação presente meramente no mundo dos visíveis, para a passagem 
de contemplação dos inteligíveis. Não por um acaso, aquilo que o prisioneiro vê fora 
da caverna é o Sol, o mesmo símbolo da primeira das Alegorias. 
 
Considerações Finais 
 
 Platão é o último autor que nos interessa antes de entrarmos de fato no estudo 
das Artes Liberais – e não meramente de sua história. Foi ele, o professor de 
Aristóteles, quem, primeiramente colocou os desafios a respeito dos quais as artes 
liberais terão de se debruçar. 
 A dialética é, na visão platônica, a arte que tem como objetivo o conhecimento 
da Ideia de Bem que, para Platão, está diretamente relacionada ao bem agir e à justiça, 
mas, também, com toda e qualquer possibilidade de conhecimento de coisas 
inteligíveis. Nossos próximos passos serão os de entrar no conhecimento desses 
mesmos inteligíveis, mas de um ponto de vista aristotélico. No estudo das artes do 
Trivium estudaremos a Gramática Geral, a Lógica (ou Dialética) e a Retórica com o 
objetivo de apreender, articular e comunicar o conhecimento das coisas não materiais, 
mas, também, das materiais.

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