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TEMAS ESPECIAIS PARA JUIZ FEDERAL DIREITO PREVIDENCIÁRIO Introdução ao Regime Próprio de Previdência Social dos Servidores 1. Contextualização, características e estrutura O Regime Próprio de Previdência Social ou Regime Próprio de Previdência dos Servidores (RPPS), juntamente com o Regime Geral de Previdência Social (RGPS), compõem os chamados Planos Básicos de Previdência no Brasil. A temática foi abordada há pouco tempo com mudanças expressivas promovidas pela Emenda Constitucional (EC) nº 103/2019. Por isso, nesta unidade de aprendizagem destacaremos as principais alterações. Nesta esteira, a EC nº 103/2019 deu nova redação ao art. 40 da Constituição Federal de 1988 (CF/1988) e definiu que o regime de previdência tem caráteres contributivo e solidário. Ademais, o dispositivo nomeia o regime previdenciário básico dos servidores públicos efetivos de RPPS. Não obstante, o supracitado dispositivo não mais citou todos os entes políticos (União, estados, Distrito Federal e municípios), de forma a não haver mais imposição constitucional para que todos os entes políticos da federação constituam RPPS. Veja a nova redação: Art. 40. O regime próprio de previdência social dos servidores titulares de cargos efetivos terá caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente federativo, de servidores ativos, de aposentados e de Curso Ênfase © 2021 1 pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019.) Por outro lado, os demais agentes públicos que não sejam servidores ocupantes de cargos efetivos (servidores comissionados, temporários, empregados públicos e exercentes de mandatos eletivos) estão vinculados ao RGPS, segundo o disposto no novo § 13 do art. 40 da CF/1988. Art. 40. (...) § 13. Aplica-se ao agente público ocupante, exclusivamente, de cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração, de outro cargo temporário, inclusive mandato eletivo, ou de emprego público, o Regime Geral de Previdência Social. O legislador, ao realizar a reforma da previdência, utilizou a expressão “agente público” para dar maior abrangência, e inseriu o detentor de mandato eletivo como vinculado ao RGPS, superando discussão sobre a temática. Todavia, o titular de mandato eletivo que seja servidor efetivo amparado por RPPS permanece vinculado ao RPPS, segundo o disposto no art. 38, inciso IV, da CF/1988. Portanto, guarde a seguinte informação de maneira sistemática sobre quem integra os planos básicos do RPPS e RGPS: Curso Ênfase © 2021 2 Atenção! Isso também ocorre com os servidores ocupantes de cargos efetivos em ente político que não tenha criado o seu próprio RPPS. Atualmente, apenas alguns municípios do país não criaram o seu próprio RPPS, ao passo que União, estados e Distrito Federal já o fizeram. As regras previdenciárias do art. 40 da CF/1988 são aplicáveis aos magistrados e aos membros do Ministério Público, por força de expressa vinculação constitucional prevista nos arts. 93, inciso VI, e 129, § 4º, da CF/1988. Nesse contexto, existem os seguintes RPPS: a) RPPS da União. b) RPPS de cada estado da Federação. c) RPPS do Distrito Federal. d) RPPS de cada município. e) RPPS dos militares da União. f) RPPS dos militares dos estados e do Distrito Federal. As normas gerais antes da EC nº 103/2019, que eram destinadas aos servidores públicos ocupantes de cargos de provimento efetivo, estão previstas para todos os níveis federativos (União, estados, Distrito Federal e municípios). Porém, com a EC nº 103/2019, não há mais a imposição para que todos os entes políticos constituam RPPS. Na referida EC existem regras que se aplicam aos servidores de todas as esferas de governo, enquanto outras normas apenas são aplicáveis aos servidores dos estados, do Distrito Federal e dos municípios se a legislação local for alterada posteriormente, como é o caso, por exemplo, do critério de renda para as aposentadorias. Neste momento, importante tratar da competência legislativa sobre a temática. A competência para legislar sobre RPPS é concorrente, na medida em que a União edita as normas gerais e os demais entes federativos instituem os seus próprios regimes. Não podem ser criados mais de um regime próprio ou órgão gestor de regime próprio em cada ente da federação, abrangidos todos os poderes, órgãos e as entidades autárquicas e Curso Ênfase © 2021 3 fundacionais, as quais serão responsáveis pelo seu financiamento, observados os parâmetros e critérios definidos em lei complementar (LC). Esta vedação consta no art. 40, § 20, da CF/1988, com redação dada pela EC nº 103/2019. Art. 40. (...) § 20 É vedada a existência de mais de um regime próprio de previdência social e de mais de um órgão ou entidade gestora desse regime em cada ente federativo, abrangidos todos os poderes, órgãos e entidades autárquicas e fundacionais, que serão responsáveis pelo seu financiamento, observados os critérios, os parâmetros e a natureza jurídica definidos na lei complementar de que trata o § 22. É digno de nota que o regime de previdência dos servidores públicos titulares de cargos efetivos observará, no que couber, os requisitos e critérios fixados para o RGPS (art. 40, § 12, da CF/1988). A nova redação dada ao mencionado dispositivo pela EC nº 103/2019 torna mais claro o caráter subsidiário das regras constitucionais do RGPS. Desta forma, em caso de omissão, foi autorizado pela Carta Magna a utilização das normas do RGPS. Em nível infraconstitucional, as regras gerais do RPPS dos servidores efetivos de todos os níveis federativos constam da Lei nº 9.717/1998 (que dispõe sobre regras gerais para a organização e o funcionamento dos RPPSs dos servidores públicos da União, dos estados, do Distrito Federal, dos municípios e dos militares dos estados e do Distrito Federal, e dá outras providências) e da Lei nº 10.887/2004 (que dispõe, essencialmente, sobre a contribuição previdenciária do servidor). Para regulamentar, em nível infralegal, as regras gerais para todos os níveis federativos, foram editadas a Portaria nº 402/2008 (“Disciplina os parâmetros e as diretrizes gerais para organização e funcionamento dos regimes próprios de previdência social dos servidores públicos ocupantes de cargos efetivos da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, em cumprimento das Leis nº 9.717, de 1998 e nº 10.887, de 2004”), do então Ministério da Previdência Social (MPS), e a Orientação Normativa MPS/SPS nº 02/2009, do Secretário de Políticas de Previdência Social do então MPS. Esses instrumentos normativos trazem elevado detalhamento da disciplina do RPPS Curso Ênfase © 2021 4 em nível nacional, sendo de interesse, apenas, para quem busca aprofundamento no assunto. A Lei nº 8.112/1990 (arts. 183 a 230) dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais, e contém normas específicas do RPPS na esfera federal. Leis específicas de cada estado, do Distrito Federal e de cada município abordam e minudenciam a disciplina dos respectivos regimes próprios, sem contrariar as normas gerais. A superveniência das normas gerais do RPPS (Lei nº 9.717/1998 e Lei nº 10.887/2004) suspenderam a eficácia das leis específicas de estados, Distrito Federal e municípios anteriores às normas, e que com elas conflitassem, conforme determina o art. 24, § 4º, da CF/1988. O RPPS dos militares da União e dos estados é meramente referido pelos arts. 42, § 1º, e 142, § 3º, inciso X, da CF/1988. Sua disciplina legal, na esfera federal, consta de alguns dispositivos das Leis nºs 9.717/1998, 6.880/1980 (quedispõe sobre o Estatuto dos Militares membros das Forças Armadas) e 3.765/1960 (que dispõe sobre as pensões dos militares das Forças Armadas). Há leis específicas no âmbito de cada estado da Federação. O foco desta unidade, doravante, serão as normas gerais, constitucionais (art. 40 da CF/1988) e legais (Lei nº 9.717/1998 – benefícios; Lei nº 10.887/2004 – custeio), do RPPS dos servidores (civis apenas), bem como as normas específicas do regime próprio dos servidores federais e as alterações promovidas pela EC nº 103/2019. O RPPS é gerido e administrado por cada ente político que o haja instituído. Embora haja uma matriz normativa prevista na CF/1988 e nas normas gerais, União, estados, Distrito Federal e municípios criam e administram os seus regimes próprios, observando as normas de caráter nacional e editando as normas específicas diante de suas peculiaridades. É necessário lembrar que, com a EC nº 103/2019, o RPPS deixou de ser uma garantia dos servidores. Na reforma, foi excluído do art. 40, caput, da CF/ 1988 a asseguração do direito ao regime próprio, proibindo a criação de novos regimes próprios e, atendidos certos parâmetros, acabou por prever a possibilidade de extinção de regimes próprios existentes (art. 40, § 22, I da CF/1988; art. 34 da EC nº 103/2019). Não obstante, a EC nº 103/2019 inovou Curso Ênfase © 2021 5 ao prever que LC federal estabelecerá, para os regimes próprios que já existam, normas gerais de organização, de funcionamento e de responsabilidade em sua gestão. Salvo quanto ao regime dos militares, regulado e gerido apartadamente, em cada esfera política somente pode existir um RPPS instituído e uma unidade gestora desse regime, englobando administração direta e indireta de todos os poderes (art. 40, § 20, da CF/1988). É vedado o pagamento de benefícios mediante convênios ou consórcios entre estados, entre estados e municípios e entre municípios (art. 1º, inciso V, da Lei nº 9.717/1998). Aqui, cabe compreender o conceito de unidade gestora. Segundo o disposto no art. 10, § 1º, da Portaria MPS nº 402/2008, a unidade gestora é a entidade ou órgão integrante de estrutura da Administração Pública de cada ente federativo, que tenha por finalidade o gerenciamento, a administração e a operacionalização do RPPS, somado à gestão de recursos, arrecadação e fundos previdenciários. A unidade gestora operacionaliza a concessão, pagamento e manutenção dos benefícios. É, portanto, facultado aos entes federativos a constituição de fundos integrados de bens, direitos e ativos com finalidade previdenciária. A unidade gestora do regime próprio de previdência contará com um colegiado com participação paritária de representantes e de servidores dos Poderes da União, cabendo-lhes acompanhar e fiscalizar sua administração, na forma do regulamento. A unidade gestora procederá, no mínimo, a cada cinco anos, a recenseamento previdenciário, abrangendo todos os aposentados e pensionistas do respectivo regime, bem como disponibilizará ao público, inclusive por meio de rede pública de transmissão de dados, informações atualizadas sobre as receitas e despesas do respectivo regime, contendo os critérios e parâmetros adotados para garantir o seu equilíbrio financeiro e atuarial (art. 9º da Lei nº 10.887/2004). Ainda sobre a unidade gestora do RPPS, importante novidade legislativa é a Lei nº 13.846/2019, que alterou o disposto no art. 8º da Lei nº 9.717/1998, para determinar a responsabilidade direta por infração imputada aos dirigentes da unidade gestora do respectivo regime próprio e os membros dos seus conselhos e comitês, sendo possível também serem sujeitados ao regime disciplinar estabelecido na LC nº 109/2001. Ademais, a Curso Ênfase © 2021 6 responsabilização é solidária na medida da participação desses agentes, e respondem eles pelo ressarcimento de prejuízos advindos de aplicação incorreta dos recursos. A Lei nº 13. 846/2019 estabeleceu requisitos aos dirigentes da unidade gestora do RPPS, que devem observar (art. 8º-B da Lei nº 9.717/1998): a) formação em nível superior; b) não ter sofrido condenação ou indiciamento, baseado no art. 1º, inciso I, da LC nº 64/1990; c) deve possuir certificado e habilitação comprovados nos termos definidos em parâmetros geral; d) comprovada experiência no exercício de atividade nas áreas financeira, administrativa, contábil, jurídica, de fiscalização, atuarial ou de auditoria. Acerca da organização, faculta-se à União, aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios a constituição de fundos integrados de bens, direitos e ativos, com finalidade previdenciária, observando-se os seguintes preceitos (art. 6º, caput, da Lei nº 9.717/1998 – os incisos I e III estão revogados): II – existência de conta do fundo distinta da conta do Tesouro da unidade federativa; (...) IV – aplicação de recursos, conforme estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional; V – vedação da utilização de recursos do fundo de bens, direitos e ativos para empréstimos de qualquer natureza, inclusive à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, a entidades da administração indireta e aos respectivos segurados; VI – vedação à aplicação de recursos em títulos públicos, com exceção de títulos do Governo Federal; VII – avaliação de bens, direitos e ativos de qualquer natureza integrados ao fundo, em conformidade com a Lei 4.320, de 17 de março de 1964 e alterações subsequentes; Curso Ênfase © 2021 7 VIII – estabelecimento de limites para a taxa de administração, conforme parâmetros gerais; IX – constituição e extinção do fundo mediante lei. No estabelecimento das condições e dos limites para aplicação dos recursos dos RPPSs (inciso IV), o Conselho Monetário Nacional (CMN) deverá considerar, entre outros requisitos: a natureza pública das unidades gestoras dos regimes e dos recursos aplicados, exigindo a observância dos princípios de segurança, proteção e prudência financeira; e a necessidade de exigência, em relação às instituições públicas ou privadas que administram direta ou indiretamente, por meio de fundos de investimento, os recursos dos regimes, da observância de critérios relacionados a boa qualidade de gestão, ambiente de controle interno, histórico e experiência de atuação, solidez patrimonial, volume de recursos sob administração e outros destinados à mitigação de riscos (art. 6º, parágrafo único, da Lei nº 9.717/1998, incluído pela Lei nº 13.846/2019). Havendo a criação do Fundo Previdenciário da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, as contribuições e os recursos a ele vinculados somente poderão ser utilizados para pagamento de benefícios previdenciários dos respectivos regimes, ressalvadas com taxa de administração e observados os limites de gastos estabelecidos em parâmetros gerais (art. 1º, inciso III, da Lei nº 9.717/1998). Quanto às características, o regime próprio tem caráter contributivo e solidário, chamado de “modelo repartição”, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (art. 40, caput, da CF/1988). Outra característica é que em cada esfera governamental somente pode existir um RPPS instituído e uma unidade gestora desse regime. E deve o RPPS ser instituído, gerido e administrado por cada ente político que o haja criado. O caráter contributivo decorre da obrigatoriedade de contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos, dos inativos e dos pensionistas. Ainda como decorrência do caráter contributivo, não se computa para concessão de benefícios o mero tempo de serviço, devendo haver efetivo recolhimento de contribuições. Na mesma linha, a leinão poderá estabelecer Curso Ênfase © 2021 8 qualquer forma de contagem de tempo de contribuição fictício (art. 40, § 10, da CF/1988). O caráter solidário demonstra que o regime é organizado sob o modelo de repartição, em que os contribuintes vertem contribuições para o fundo comum visando financiar os benefícios ativos; paga-se para o sistema, e não para uma conta de capitalização individual. O equilíbrio financeiro e atuarial visa a administração do regime de forma a preservar sua saúde financeira e viabilidade econômica. A Lei nº 9.717/1998 estabelece que os regimes próprios de previdência social deverão ser organizados e baseados em normas gerais de contabilidade e atuária, de modo a garantir o seu equilíbrio financeiro e atuarial, observando-se, dentre outras, as seguintes normas (incisos do art. 1º da Lei nº 9.717/1998): (i) realização de avaliação atuarial inicial e em cada balanço, utilizando-se parâmetros gerais para a organização e revisão do plano de custeio e de benefícios (inciso I); (ii) cobertura de um número mínimo de segurados, de modo que os regimes possam garantir diretamente a totalidade dos riscos cobertos no plano de benefícios, preservando o equilíbrio atuarial sem necessidade de resseguro (inciso IV); (iii) pleno acesso dos segurados às informações relativas à gestão do regime e participação de representantes dos servidores públicos e dos militares, ativos e inativos, nos colegiados e instâncias de decisão em que os seus interesses sejam objeto de discussão e deliberação (inciso VI); (iv) registro contábil individualizado das contribuições de cada servidor e dos entes estatais, conforme diretrizes gerais (inciso VII); (v) identificação e consolidação em demonstrativos financeiros e orçamentários de todas as despesas fixas e variáveis com pessoal inativo civil, militar e pensionistas, bem como dos encargos incidentes sobre os proventos e pensões pagos (inciso VIII); (vi) sujeição às inspeções e auditorias de natureza atuarial, contábil, financeira, orçamentária e patrimonial dos órgãos de controle interno e externo (inciso IX); (vii) vedação de inclusão na renda dos benefícios de parcelas remuneratórias pagas em decorrência de local de trabalho, de função de confiança ou de cargo em comissão, exceto quando tais parcelas integrarem a remuneração de contribuição do servidor (inciso X); e (viii) vedação de inclusão nos benefícios, para efeito de percepção destes, do abono de permanência (inciso XI). Curso Ênfase © 2021 9 Atenção! Os recursos dos regimes próprios de previdência social instituídos pela União, pelos estados, pelo Distrito Federal e pelos municípios devem ser aplicados no mercado financeiro como forma de potencializar a arrecadação através de ganhos com investimentos, contribuindo na manutenção do equilíbrio financeiro. A regulamentação da aplicação desses recursos é feita pela Resolução nº 3.922/2010 do CMN (cuja leitura é necessária apenas se o edital do certame cobrar especificamente esse ato normativo). Compete à União, por intermédio da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, em relação aos regimes próprios de previdência social e aos seus fundos previdenciários (art. 9º, caput, da Lei nº 9.717/1998, com redação dada pela Lei nº 13.846/2019): a) a orientação, a supervisão, a fiscalização e o acompanhamento; b) o estabelecimento e a publicação de parâmetros, diretrizes e critérios de responsabilidade previdenciária na sua instituição, organização e funcionamento, relativos a custeio, benefícios, atuária, contabilidade, aplicação e utilização de recursos e constituição e manutenção dos fundos previdenciários, para preservação do caráter contributivo e solidário e do equilíbrio financeiro e atuarial; c) a apuração de infrações, por servidor credenciado, e a aplicação de penalidades, por órgão próprio (conforme art. 8º da Lei nº 9.717/1998); e d) a emissão do Certificado de Regularidade Previdenciária (CRP), que atestará o cumprimento, pelos estados, Distrito Federal e municípios, dos critérios e exigências aplicáveis aos regimes próprios de previdência social e aos seus fundos previdenciários. O CRP está disciplinado no Decreto nº 3.788/2001 e na Portaria nº 204/2008 do então Ministério da Previdência Social (MPS). Curso Ênfase © 2021 10 Discute-se se o CRP (arts. 7º e 9º da Lei nº 9.717/1998 e Decreto nº 3.788/2001) seria constitucional diante do princípio federativo. O Plenário (ACO-TAR nº 830, 29.10.2007), e, mais recentemente, a Primeira Turma (ACO nº 3.134 TP-AgR/DF, 18.12.2018) do STF concederam liminares (julgamentos de mérito ainda pendentes) afastando, no caso concreto, a exigência do certificado e das sanções por sua não apresentação, por aparente extravasamento dos limites constitucionais dos poderes da União de editar normas gerais, ocasionando ingerência indevida na autonomia federativa de estados, Distrito Federal e municípios. O tema também será decidido com repercussão geral no RE nº 1.007.271/PE (acompanhar). O descumprimento das normas gerais dispostas na Lei nº 9.717/1998 pelos estados, pelo Distrito Federal, pelos municípios e pelos respectivos fundos implica (art. 7º da Lei nº 9.717/1998): I − suspensão das transferências voluntárias de recursos pela União; II − impedimento para celebrar acordos, contratos, convênios ou ajustes, bem como receber empréstimos, financiamentos, avais e subvenções em geral de órgãos ou entidades da Administração direta e indireta da União; e III − suspensão de empréstimos e financiamentos por instituições financeiras federais. 2. O novo regime próprio e EC nº 103/2019 Antes da EC nº 103/2019, a CF/1988 previu a possibilidade de a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios criarem regime de previdência complementar (RPC) para seus servidores, caso em que podiam fixar como limite máximo para os benefícios o teto do RGPS, sendo a eventual diferença de renda paga por um fundo de pensão a título de complementação (art. 40, § 14, da CF/1988 – antiga redação). A EC nº 103/2019 alterou o § 14 do art. 40, que passou a contemplar que o RPC dos servidores públicos ocupantes de cargo efetivo observará o limite máximo, previsto para os benefícios do RGPS, para o valor das aposentadorias e das pensões em regime próprio de previdência social. Curso Ênfase © 2021 11 Art. 40. (...) § 14 A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, por lei de iniciativa do respectivo Poder Executivo, regime de previdência complementar para servidores públicos ocupantes de cargo efetivo, observado o limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social para o valor das aposentadorias e das pensões em regime próprio de previdência social, ressalvado o disposto no § 16. O RPC será instituído por lei de iniciativa do respectivo Poder Executivo. O RPC oferecerá planos de benefícios somente na modalidade contribuição definida e será efetivado por intermédio de entidade fechada de previdência complementar ou de entidade aberta de previdência complementar (art. 40, § 15, da CF/1988). Art. 40. (...) § 15 O regime de previdência complementar de que trata o § 14 oferecerá plano de benefícios somente na modalidade contribuição definida, observará o disposto no art. 202 e será efetivado por intermédio de entidade fechada de previdência complementar ou de entidade aberta de previdência complementar. Antes da Reforma da Previdência, a instituição do regime complementar, que desde a EC nº 20/1998 era uma faculdade de cada ente político, tornou-se com a EC nº 103/2019 uma imposição. E, segundo o texto da EC nº 103/2019 (art. 9º, § 6º), a criação do RPC deverá ocorrer no prazo máximo de dois anos da data de entradaem vigor da EC nº 103/2019. Ainda sobre as inovações abordadas na EC nº 103/2019, o legislador incluiu o § 22 ao art. 40 da CF/1988 para impor a vedação a instituição de novos RPPSs. Além do que, cabe à LC federal editar normas para os regimes que já existem, normas gerais de organização, responsabilidade na gestão, funcionamento. Esta LC deve dispor sobre requisitos para extinção e migração dos regimes existentes para o RGPS; modelo de arrecadação, aplicação e utilização de recursos; dispor sobre fiscalização e controle externo pela União e controle e fiscalização social; dispor sobre o equilíbrio financeiro e atuarial; condições para instituição de fundos integrados pelos recursos provenientes de contribuições e por bens, direitos e ativos de qualquer natureza; mecanismos de Curso Ênfase © 2021 12 equacionamento do déficit atuarial; estruturação do órgão ou entidade gestora do regime; condições e hipóteses para responsabilização na atuação da gestão dos regimes; condições para adesão a consórcio público e parâmetros para apuração da base de cálculo e definição de alíquota de contribuições ordinárias e extraordinárias. Com a reforma previdenciária, a criação do regime complementar tornou obrigatória a limitação das aposentadorias e pensões do regime próprio ao teto do RGPS, ressalvados o regime dos antigos servidores, conforme o disposto no § 16 do art. 40 da CF/1988. Outra alteração significativa sobre o regime próprio de previdência social diz respeito à competência legislativa privativa da União para legislar sobre regras gerais referentes aos inativos de policiais militares e bombeiros dos estados e Distrito Federal (art. 22, inciso XXI, da CF/1988). Outrossim, no atual cenário, a operação dos planos de previdência complementar, que antes caberia apenas a entidades fechadas de previdência complementar, poderá ser feita também por entidades abertas de previdência complementar (art. 40, § 15, da CF/1988). Por isso, atualmente, no tocante à estrutura, o RPPS dos servidores civis pode ser organizado segundo dois grandes arcabouços: Arcabouços estruturais do RPPS Entes que criaram o novo RPPS ou RPC para seus servidores Entes que não criaram o novo RPPS ou RPC para seus servidores Contribuição previdenciária sobre a base de contribuição limitada ao teto do RGPS. Contribuição sobre a “base cheia”, sem limite no teto do RGPS. Benefícios previdenciários limitados ao teto do RGPS. Complemento de renda mediante contribuição facultativa ao plano de previdência complementar. Benefícios previdenciários sem limite no teto do RGPS, observado o teto do funcionalismo. Curso Ênfase © 2021 13 Nos entes políticos que criaram o RPC para seus servidores, abre-se uma subdivisão quanto ao enquadramento dos beneficiários: a) Os servidores que ingressaram no serviço público (de qualquer esfera federativa) depois da vigência do RPC (criação e efetivo funcionamento) estarão obrigatoriamente sujeitos ao novo RPPS. b) Os servidores que ingressaram no serviço público (de qualquer esfera federativa) antes da vigência do RPC estarão vinculados ao regime pretérito, somente podendo haver sujeição ao novo RPPS mediante sua prévia e expressa opção (art. 40, § 16, da CF/1988). É dizer, quem ingressou no serviço público antes do efetivo funcionamento do RPC pode, por ato de vontade, e observadas as condições legais, migrar de forma irrevogável e irretratável para o novo regime. Na esfera federal, a Lei nº 12.618/2012 instituiu o RPC dos servidores federais e autorizou a criação de três entidades fechadas de previdência complementar (uma para cada Poder), com natureza de fundações públicas dotadas de personalidade jurídica de direito privado, com autonomias administrativa, financeira e gerencial, integrantes da administração indireta: a) a Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Executivo (FUNPRESP-Exe), para os servidores públicos titulares de cargo efetivo do Poder Executivo, por meio de ato do presidente da República; b) a Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Legislativo (FUNPRESP-Leg), para os servidores públicos titulares de cargo efetivo do Poder Legislativo e do Tribunal de Contas da União (TCU), e para os membros deste tribunal, por meio de ato conjunto dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal; e c) a Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Judiciário (FUNPRESP-Jud), para os servidores públicos titulares de cargo efetivo e para os membros do Poder Judiciário, por meio de ato do presidente do STF. Curso Ênfase © 2021 14 Por ato conjunto das autoridades competentes para a criação das fundações, poderá ser criada fundação que contemple os servidores públicos de dois ou dos três Poderes (art. 4º, § 2º, da Lei nº 12.618/2012). Assim, foram criadas a FUNPRESP-Exe (Decreto nº 7.808/2012) e a FUNPRESP-Jud (STF, Res. nº 496/2012), esta englobando os membros e servidores do Ministério Público da União (MPU). Não foi criada a FUNPRESP-Leg, podendo os servidores do Poder Legislativo federal e servidores e membros do TCU aderir à FUNPRESP-Exe. Em razão da criação do regime complementar, para os servidores públicos titulares de cargo efetivo da administração direta e indireta de todos os poderes da União, determinou-se a aplicação do limite máximo estabelecido para os benefícios do RGPS às aposentadorias e pensões a serem concedidas pelo novo regime próprio de previdência (art. 3º da Lei nº 12.618/2012). As datas de vigência do RPC (correspondentes à criação e efetivo funcionamento do fundo de pensão – art. 30 da Lei nº 12.618/2012), relevantes para definir a vinculação obrigatória do RPC federal, são as seguintes: Como dito, quem ingressou no serviço público antes do efetivo funcionamento do RPC pode, por ato de vontade, migrar de forma irrevogável e irretratável para o novo regime. Agora, há a obrigatoriamente aos servidores que ingressaram no serviço público depois da criação e operação do fundo de previdência complementar. Na esfera federal, a migração para o novo RPPS tinha como prazo limite 24 meses contados do início da vigência do RPC (art. 3º, § 7º, da Lei nº 12.618/2012). Posteriormente, houve prorrogação para 24 meses da vigência da Lei nº 13.328/2016, com término em 29.07.2018 (art. 92 da Lei nº 13.328/2016). Por fim, a Medida Provisória (MP) nº 853/2018, convertida na Lei nº 13.809/2019, prorrogou a opção de migração até 29.03.2019. Datas de vigência do RPC federal FUNPRESP-Exe FUNPRESP-Leg FUNPRESP-Jud Criada: Decreto nº 7.808/2012. Não criada; adesão ao FUNPRESP-Exe. Criada: STF, Res. nº 496/2012. Funcionamento: 04.02.2013. – Funcionamento: 14.10.2013. Curso Ênfase © 2021 15 Para os servidores que ingressaram no serviço público federal em data pretérita à vigência do RPC e optarem por migrar para o novo RPPS federal, a Lei nº 12.618/2012 previu o chamado benefício especial (art. 3º, §§ 1º a 8º). Trata-se de benefício apenas federal; cada esfera de governo pode criar algo parecido ou não. O benefício especial é um “minibenefício” proporcional do tempo de contribuição, pago junto com a aposentadoria ou pensão (diferido no tempo), quando a média das contribuições no antigo RPPS superar o teto do RGPS. Também fazem jus ao benefício especial os servidores que ingressaram no serviço público de outras esferas de governo (art. 40, § 16, da CF/1988; art. 22 da Lei nº 12.618/2012) em data anterior à vigência do RPC federal, mas que, sem quebra de continuidade, venham a integrar o RPPS federal depois do funcionamento do RPC e optem por efetuar a migração. Por exemplo: Pablo ingressou no serviço público estadual em 2005; em 2017, depois de criada a FUNPESP-Exe, prestou novo concurso e ingressouno serviço público federal (Poder Executivo), sem quebra de continuidade; ele poderá optar entre permanecer no antigo RPPS ou migrar para o novo RPPS federal, pois a sua data de ingresso no serviço público (esfera estadual, em 2005) é anterior à vigência do RPC federal e não houve quebra de continuidade. A razão de ser do benefício especial é que, antes da migração, o servidor contribuía sobre a totalidade dos rendimentos, podendo receber proventos sem limite no teto do RGPS, ao passo que depois da migração passará a contribuir e a receber benefícios com a baliza do teto do RGPS. Nesse cenário, o benefício especial visa compensar as contribuições anteriores à migração, incidentes sobre base superior ao teto do RGPS, que não serão restituídas e nem reverterão em benefícios futuros. Termo final de prazo de migração para o novo RPPS Prazo inicial 1ª prorrogação 2ª prorrogação 24 meses da instituição do RPC (art. 3º, § 7º, da Lei nº 12.618/2012). 24 meses da vigência da Lei nº 13.328/2016 (art. 92) (término em 29.07.2018). Até 29. 03.2019 (MP nº 853/2018). Curso Ênfase © 2021 16 De acordo com a lei, o benefício especial será equivalente à diferença entre a média aritmética simples das maiores remunerações anteriores à data de mudança do regime, utilizadas como base para as contribuições do servidor ao regime de previdência da União, dos estados, do Distrito Federal ou dos municípios, atualizadas pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – ou outro índice que venha a substituí-lo –, correspondentes a 80% de todo o período contributivo desde a competência julho de 1994, ou desde a do início da contribuição, se posterior àquela competência, e o teto do RGPS, multiplicada essa diferença pelo fator de conversão (fórmula matemática prevista na lei) (art. 3º, § 3º, da Lei nº 12.618/2012). O benefício especial será pago pelo órgão competente da União, por ocasião da concessão de aposentadoria, inclusive por invalidez, ou pensão por morte pelo regime próprio de previdência da União, enquanto perdurar o benefício pago por esse regime, inclusive junto com a gratificação natalina (art. 3º, § 5º, da Lei nº 12.618/2012). O benefício especial calculado será atualizado pelo mesmo índice aplicável ao benefício de aposentadoria ou pensão mantido pelo RGPS (art. 3º, § 6º, da Lei nº 12.618/2012). O exercício da opção por migrar é irrevogável e irretratável, não sendo devida pela União, suas autarquias e fundações públicas qualquer contrapartida referente ao valor dos descontos já efetuados sobre a base de contribuição acima do limite do teto do RGPS (art. 3º, § 8º, da Lei nº 12.618/2012). Em síntese: o benefício especial é uma prestação apurada pela diferença entre média das maiores contribuições antes da migração e o teto do RGPS, proporcionalizada ao tempo de contribuição. Tal prestação será paga junto com a aposentadoria ou pensão (diferida no tempo), quando a média das contribuições no antigo RPPS superar o teto do RGPS. Adquire-se o direito no momento da migração (irretratável), nada mais se podendo reivindicar quanto às contribuições passadas. A prestação, reajustada pelo mesmo índice dos benefícios do RGPS, é paga enquanto durar a aposentadoria ou pensão, rendendo, inclusive, gratificação natalina. Há grande celeuma quanto à natureza jurídica do benefício especial. Formaram-se algumas correntes: a) benefício previdenciário; b) compensação pelas contribuições vertidas a maior; c) relação contratual (manifestação de vontade em aderir à benesse); d) prestação sui generis prevista em lei. Curso Ênfase © 2021 17 Atenção! O tema está em aberto, mas, aparentemente, tem prevalecido a posição quanto à natureza jurídica compensatória (nesse sentido: Parecer nº 601/2018/GCG/ CGJOE/CONJUR-MP/CGU/ AGU, de 29.05.2018, da Consultoria Jurídica do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão; Parecer Jurídico nº 30/2018/GEJUR/FUNPRESP-EXE, de 30.04.2018, da Gerência Jurídica da Funpresp-Exe). É importante compreender que, sendo previdência complementar, a adesão à FUNPRESP é sempre facultativa. Assim, o servidor pode estar enquadrado no novo RPPS de forma compulsória ou voluntária (migração), significando contribuição e proventos com observância do teto do RGPS. Contudo, a adesão ao fundo de pensão, para fins de complementação de renda, é sempre facultativa. Com efeito, fica assegurado ao participante o direito de requerer, a qualquer tempo, o cancelamento de sua inscrição na FUNPRESP, nos termos do regulamento do plano de benefícios (art. 1º, § 3º, da Lei nº 12.618/2012, incluído pela Lei nº 13.183/2015). Na hipótese de o cancelamento ser requerido no prazo de até 90 dias da data da inscrição, fica assegurado o direito à restituição integral das contribuições vertidas, a ser paga em até 60 dias do pedido de cancelamento, corrigidas monetariamente; o cancelamento no prazo de 90 dias não constitui resgate (art. 1º, §§ 4º e 5º, da Lei nº 12.618/2012, incluído pela Lei nº 13.183/2015). No cancelamento, a contribuição aportada pelo patrocinador será devolvida à respectiva fonte pagadora no mesmo prazo da devolução da contribuição aportada pelo participante (art. 1º, § 6º, da Lei nº 12.618/2012, incluído pela Lei nº 13.183/2015). Em resumo, um aposentado do novo RPPS federal poderá ter até três fontes ou origens de seus proventos: a) proventos até o teto do RGPS: pagos pela unidade gestora do RPPS; b) benefício especial: pago pela unidade gestora do RPPS; c) complementação de aposentadoria: paga pelo fundo de pensão (adesão sempre facultativa). Curso Ênfase © 2021 18 3. Custeio 3.1. Aspectos gerais A CF/1988 prevê que o custeio do RPPS é realizado pelo orçamento do respectivo ente político, e contribuições previdenciárias dos entes, dos servidores ativos, de inativos e de pensionistas (art. 40, caput, da CF/1988, com redação dada pela EC nº 103/2019). As contribuições previdenciárias têm por contribuintes os servidores ativos, os servidores inativos (aposentados) e os pensionistas e entes políticos. Tais contribuições previdenciárias possuem natureza jurídica de tributo. São espécies de contribuições sociais que, por sua vez, pertencem ao gênero das contribuições especiais (contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico, de interesse das categorias profissionais ou econômicas e de iluminação pública – arts. 149 e 149-A da CF/1988). Os servidores ativos passaram a contribuir para o custeio do regime a partir da EC nº 03/1993. O caráter contributivo do sistema foi reforçado com a EC nº 20/1998. Já a incidência de contribuição previdenciária dos aposentados e pensionistas foi prevista pela EC nº 41/2003. O STF (ADI nº 3.105) validou a criação de contribuição previdenciária sobre proventos de aposentados e pensionistas pela EC nº 41/2003, inclusive para os beneficiários que já estavam em gozo de benefício quando da edição da referida EC. A Suprema Corte entendeu que a criação do novo tributo não violou o direito adquirido cristalizado no ato de aposentação de concessão da pensão, porque se trata de alteração da legislação tributária (aspecto externo ao benefício concedido), e não existe direito adquirido à não alteração do sistema tributário. Contribuintes do RPPS Ente público (aportes orçamentários e contribuições previdenciárias) Servidores ativos Servidores inativos (aposentados) Pensionistas Curso Ênfase © 2021 19 Antes da EC nº 103/2019, a CF/1988 determinava que os estados, o Distrito Federal e os municípios efetivamente instituíssem a contribuição, cobrada de seus servidores, para o custeio do respectivo regime previdenciário próprio, e previa que a alíquota não seria inferior à da contribuição dos servidores titulares de cargos efetivos da União (art. 149, § 1º, da CF/1988– antiga redação). Tal disposição (denominada alíquota mínima da União) foi reconhecida como constitucional pelo STF (ADI nº 3.138), por não contrariar o pacto federativo nem causar desequilíbrio atuarial. A reforma da previdência tratou de forma inovadora a previsão da possibilidade de instituir alíquotas progressivas ao tratar das contribuições previdenciárias. Sendo assim, o art. 149, § 1º foi alterado prevendo a possibilidade da União, estados, Distrito Federal e municípios instituírem, por meio de lei, contribuições para custeio de RPPS, sendo possível ter alíquotas progressivas de acordo com a base de contribuição ou dos proventos de aposentadorias e pensões. A progressividade das contribuições pode ser aplicada para os ativos, inativos e pensionistas de todos os entes da federação. Veja a nova redação do art. 149, § 1º, da CF/ 1988: Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo. § 1º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, por meio de lei, contribuições para custeio de regime próprio de previdência social, cobradas dos servidores ativos, dos aposentados e dos pensionistas, que poderão ter alíquotas progressivas de acordo com o valor da base de contribuição ou dos proventos de aposentadoria e de pensões. As alíquotas e as bases de cálculo no âmbito dos estados, do Distrito Federal e dos municípios ficam a cargo da legislação de cada ente político. Nesta esteira, por força do art. 36, inciso II, da EC nº 103/2019, a alteração mencionada acima apenas será aplicada ao RPPS dos estados, Distrito Federal e dos municípios na data de publicação de lei de iniciativa privativa dos respectivos entes federativos. Curso Ênfase © 2021 20 O STF (RE nº 346.197 AgR/DF; RE nº 679.710 AgR/PE) possui entendimento, embora não totalmente pacífico (RE nº 464.765 AgR/DF), de que é incabível a progressividade de alíquotas das contribuições previdenciárias do servidor público, ativo e inativo, e do pensionista, para se evitar ofensa ao princípio da vedação da utilização do tributo com efeito de confisco. Anote-se, não obstante, que no âmbito do RGPS as alíquotas das contribuições dos segurados empregados, domésticos e avulsos são progressivas (art. 20 da Lei nº 8.212/1991) e em nenhum momento foram pronunciadas como inconstitucionais pela Suprema Corte. Ainda sobre as inovações da reforma previdenciária, abordaremos as previsões constitucionais a respeito do déficit atuarial. Assim, como regra, no regime próprio, incide contribuição previdenciária dos inativos e pensionistas sobre os proventos de aposentadorias e pensões concedidas que superem o teto do RGPS (art. 40, § 18, da CF/ 1988). Contudo, havendo déficit atuarial, o art. 149, § 1º-A, da CF/1988, incluído pela EC nº 103/2019, dispõe sobre a possibilidade da criação de contribuição ordinária dos aposentados e pensionistas incidente sobre valor dos proventos de aposentadoria e de pensões que superem o valor do salário-mínimo quando houver déficit atuarial. Se ainda assim a situação perdurar, é facultada à instituição contribuição extraordinária, no âmbito da União, dos servidores públicos ativos, dos aposentados e dos pensionistas (art. 149, § 1º-B, da CF/1988). Aqui, especialmente na esfera federal, acaso a medida de tributação não reste suficiente para equilibrar o déficit, será possível criar contribuição extraordinária por prazo determinado juntamente com medidas paralelas de combate ao déficit (art. 149, § 1º-C, da CF/1988). Neste caso, a reforma constitucional não detalhou dois aspectos no texto da CF/1988: (i) quais medidas paralelas de combate ao déficit; e (ii) não fixou limite temporal para a aplicação da contribuição extraordinária. Com relação ao limite temporal, o art. 9º, § 8º, da EC nº 103/2019 dispõe que, por meio de lei, a contribuição extraordinária pode ser instituída por prazo máximo de 20 anos. Por fim, após a reforma da Previdência, a alíquota da contribuição de um ente político poderá ser inferior a da contribuição no âmbito da União se o ente não possuir déficit atuarial no regime próprio; a alíquota não poderá ser inferior às aplicáveis ao RGPS (art. 9º, § 4º, da EC nº 103/2019). Curso Ênfase © 2021 21 3.2. Contribuição do ente público Segundo o texto constitucional, a contribuição do ente federativo é obrigatória, de acordo com a nova redação do art. 40, caput, da CF/1988 (redação dada pela EC nº 103/2019). No mesmo sentido, o art. 1º, inciso II, da Lei nº 9.717/1998 estabelece a obrigatoriedade da contribuição dos entes públicos ao respectivo RPPS. Ditando regra de caráter geral, o art. 2º da Lei nº 9.717/1998 preconiza que a contribuição da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, incluídas suas autarquias e fundações, não poderá ser inferior ao valor da contribuição do servidor ativo, nem superior ao dobro desta contribuição, aos regimes próprios de previdência social a que estejam vinculados seus servidores. Isso significa que União, estados, Distrito Federal e municípios, a cada desconto de contribuição do beneficiário, devem aportar no fundo do seu regime próprio uma quantia que, conforme fixado em lei, deve ser equivalente, no mínimo, ao valor da contribuição do servidor ativo, e, no máximo, ao dobro dessa contribuição. Exemplificando: Lourival, segurado do RPPS, recebe R$ 10.000,00 por mês de subsídio. Em cada contracheque são descontados R$ 1.400,00 (14%) a título de contribuição previdenciária. Assim, em cada competência, o ente político gestor do RPPS deve aportar no fundo de previdência própria uma quantia que pode variar de R$ 1.100,00 (mínimo) a R$ 2.200,00 (máximo), conforme previsto na lei específica que disciplinar o assunto. A contribuição do ente público, na esfera federal, foi regulamentada pelo art. 8º da Lei nº 10.887/2004. A contribuição da União, de suas autarquias e fundações para o custeio do regime próprio de previdência será o dobro da contribuição do servidor ativo, devendo o produto de sua arrecadação ser contabilizado em conta específica. Neste ponto, é necessário pontuar que, conforme art. 11 da EC nº 103/2019, a alíquota será de 14%. A União, os estados, o Distrito Federal e os Municípios são responsáveis pela cobertura de eventuais insuficiências financeiras do respectivo regime próprio, decorrentes do pagamento de benefícios previdenciários (regra geral: art. 2º, § 1º, da Lei nº 9.717/1998) e regra federal: art. 8º, parágrafo único, da Lei nº 10.887/2004. Curso Ênfase © 2021 22 3.3. Contribuição dos servidores ativos Na esfera federal, a contribuição previdenciária dos servidores ativos foi criada pela Lei nº 10.887/2004. Com as alterações promovidas pela EC nº 103/2019, as alíquotas de contribuição dos servidores públicos foram alteradas. A contribuição do servidor público ativo de qualquer dos Poderes da União, incluídas suas autarquias e fundações, para a manutenção do RPPS, será de 14%. E esta alíquota de 14% será reduzida ou majorada, considerado o valor da base de contribuição ou do benefício recebido, de acordo com parâmetros remuneratórios (art. 11, § 1º, da EC nº 103/2019). Segundo o art. 11 da EC nº 103/2019, a alíquota contributiva ordinária dos servidores públicos será de 14% até que entre em vigor lei que altere a alíquota de contribuição dos servidores ativos e inativos. Esta é uma regra de transição que regulaa contribuição previdenciária do servidor federal. Logo, por determinação do art. 9º, § 4º, do corpo da EC nº 104/2019, as faixas de contribuição de que dispõe o art. 11 passam a constituir piso para as contribuições de servidores estaduais, distritais e municipais, salvo se o RPPS não possuir déficit atuarial a ser equacionado. Observe o disposto na EC nº 103/2019: Art. 9º Até que entre em vigor lei complementar que discipline o § 22 do art. 40 da Constituição Federal, aplicam-se aos regimes próprios de previdência social o disposto na Lei nº 9.717, de 27 de novembro de 1998, e o disposto neste artigo. (...) § 4º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios não poderão estabelecer alíquota inferior à da contribuição dos servidores da União, exceto se demonstrado que o respectivo regime próprio de previdência social não possui déficitatuarial a ser equacionado, hipótese em que a alíquota não poderá ser inferior às alíquotas aplicáveis ao Regime Geral de Previdência Social. A alíquota será aplicada de forma progressiva sobre a base de contribuição do servidor público, incidindo assim cada alíquota sobre a faixa de valores compreendidos os limites. Desta forma, é oportuno esquematizar a sistemática das alíquotas previstas no art. 11 da EC nº 103/2019: Curso Ênfase © 2021 23 Entendem-se como base de contribuição as faixas de remuneração do cargo efetivo, acrescido das vantagens pecuniárias permanentes estabelecidas em lei, os adicionais de caráter individual ou quaisquer outras vantagens (art. 4º, § 1º, da Lei nº 10.887/2004). A base de contribuição é composta, então, de verbas remuneratórias que não sejam excluídas pela lei; verbas indenizatórias jamais integram a base de contribuição. Estão excluídas da base de contribuição as seguintes verbas (art. 4º, § 1º, da Lei nº 10.887/2004, alterada pela Lei nº 13.846/2019): I – as diárias para viagens; II – a ajuda de custo em razão de mudança de sede; III – a indenização de transporte; IV – o salário-família; V – o auxílio-alimentação; ALÍQUOTA FAIXA DE RENDA 7,5% Até um salário mínimo 9% Acima de um salário mínimo até R$ 2.000 12% De R$ 2.000 até R$ 3.000 14% De R$ 3.000 até R$ 5.839,45 14, 5% De R$ 5.839,45 até R$ 10.000 16, 5% De R$ 10. 000 até R$ 20.000. 19% De R$ 20.000 até R$ 39.000 22% Acima de R$ 39.000 Curso Ênfase © 2021 24 VI – o auxílio-creche; VII – as parcelas remuneratórias pagas em decorrência de local de trabalho; VIII – a parcela percebida em decorrência do exercício de cargo em comissão ou de função comissionada ou gratificada; IX – o abono de permanência de que tratam o § 19 do art. 40 da Constituição Federal , o § 5º do art. 2º e o § 1º do art. 3º da Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003; X – o adicional de férias; XI – o adicional noturno; XII – o adicional por serviço extraordinário; XIII – a parcela paga a título de assistência à saúde suplementar; XIV – a parcela paga a título de assistência pré-escolar; XV – a parcela paga a servidor público indicado para integrar conselho ou órgão deliberativo, na condição de representante do governo, de órgão ou de entidade da administração pública do qual é servidor; XVI – o auxílio-moradia; XVII – a Gratificação por Encargo de Curso ou Concurso, de que trata o art. 76-A da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990; XVIII – a Gratificação Temporária das Unidades dos Sistemas Estruturadores da Administração Pública Federal (GSISTE), instituída pela Lei nº 11.356, de 19 de outubro de 2006; XIX – a Gratificação Temporária do Sistema de Administração dos Recursos de Informação e Informática (GSISP), instituída pela Lei nº 11.907, de 2 de fevereiro de 2009; XX – a Gratificação Temporária de Atividade em Escola de Governo (GAEG), instituída pela Lei nº 11.907, de 2 de fevereiro de 2009; Curso Ênfase © 2021 25 Atenção! XXI – a Gratificação Específica de Produção de Radioisótopos e Radiofármacos (GEPR), instituída pela Lei nº 11.907, de 2 de fevereiro de 2009; XXII – a Gratificação de Raio X; XXIII – a parcela relativa ao Bônus de Eficiência e Produtividade na Atividade Tributária e Aduaneira, recebida pelos servidores da carreira Tributária e Aduaneira da Receita Federal do Brasil; XXIV – a parcela relativa ao Bônus de Eficiência e Produtividade na Atividade de Auditoria-Fiscal do Trabalho, recebida pelos servidores da carreira de Auditoria-Fiscal do Trabalho. XXVI – o Bônus de Desempenho Institucional por Perícia Médica em Benefícios por Incapacidade (BPMBI); e XXVII – o Bônus de Desempenho Institucional por Análise de Benefícios com Indícios de Irregularidade do Monitoramento Operacional de Benefícios (BMOB). O servidor ocupante de cargo efetivo poderá, para efeito de cálculo do benefício, optar pela inclusão, na base de cálculo da contribuição, de parcelas remuneratórias percebidas em decorrência de local de trabalho e do exercício de cargo em comissão ou de função comissionada ou gratificada, da Gratificação Temporária das Unidades dos Sistemas Estruturadores da Administração Pública Federal (GSISTE), da Gratificação Temporária do Sistema de Administração dos Recursos de Informação e Informática (GSISP), da Gratificação Temporária de Atividade em Escola de Governo (GAEG), da Gratificação Específica de Produção de Radioisótopos e Radiofármacos (GEPR), da Gratificação de Raio X e daquelas recebidas a título de adicional noturno ou de adicional por serviço extraordinário (art. 4º, § 2º, da Lei nº 10.887/2004). Assim, há parcelas remuneratórias que podem ou não integrar a base de contribuição do servidor ativo, conforme ele almeje repercussão no cálculo da renda do seu benefício futuro. Curso Ênfase © 2021 26 O rol de verbas que integram e não integram a base de contribuição é muito distinto no RGPS e no RPPS, sendo importante uma leitura comparativa para organizar a memorização. As verbas indenizatórias são sempre excluídas da base de contribuição, seja no RGPS, seja no RPPS. Contudo, observe que, no RPPS, o legislador (art. 4º, § 1º, da Lei nº 10.887/2004) optou por também excluir da base de contribuição diversas verbas claramente remuneratórias. Indo além das previsões legais sobre a composição da base de contribuição da contribuição previdenciária dos servidores, a jurisprudência traz definições importantes e também polêmicas. Como norma-diretriz, tem-se que as parcelas remuneratórias adicionadas aos vencimentos somente constituem base de cálculo da contribuição previdenciária se repercutirem nos proventos da inatividade. Dizendo de outra maneira: não basta ser verba remuneratória habitual para ensejar a incidência de contribuição previdenciária; além do vencimento básico dos servidores, as rubricas remuneratórias adicionais compõem a base de contribuição apenas se gerarem repercussão nos proventos da aposentadoria ou pensão. Esse posicionamento já foi externado em arestos do STF (AI nº 603.537 AgR/DF, 2ª turma, julgado em 27.02.2007), tendo sido decidido sob repercussão geral no RE nº 593.068/ SC, julgado em 11.10.2018: “Não incide contribuição previdenciária sobre verba não incorporável aos proventos de aposentadoria do servidor público, tais como terço de férias, serviços extraordinários, adicional noturno e adicional de insalubridade” (RE nº 593.068, rel. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 11.10.2018, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL − MÉRITO DJe-056 DIVULG 21.03.2019 PUBLIC 22.03.2019). Se de um lado não deve incidir contribuição sobre verbas que não repercutem na atividade, de outro, as verbas que não se sujeitaram à contribuição não podem refletir na aposentadoria ou pensão (Acórdão do Plenário do TCU nº 47/2018). Quanto às polêmicas, tem-se a discussão acerca da incidência ou não decontribuição previdenciária sobre juros e correção monetária enquanto consectários de verbas recebidas por Curso Ênfase © 2021 27 servidor através de processo judicial. Sobre isso, o entende o Superior Tribunal de Justiça (STJ): a) incide contribuição previdenciária sobre a correção monetária, pois essa parcela se destina a corrigir/atualizar o valor básico sobre o qual incide a contribuição (STJ, REsp. nº 1.268.737/RS, julgado em 14.02.2017); b) não incide contribuição previdenciária sobre os juros de mora, pois essa parcela, não constituída remuneração do trabalho ou do capital, tem natureza indenizatória em razão da demora na Administração em cumprir o direito violado (STJ, nº 1.239.203/PR, julgado em 12.12.2012, recurso repetitivo). Instituto muito importante em matéria de contribuição do servidor ativo, criado pela EC nº 41/2003, é o abono de permanência. O servidor que reunir os requisitos para requerer aposentadoria voluntária integral receberá, enquanto permanecer em atividade, um abono financeiro correspondente ao valor da contribuição previdenciária (art. 40, § 19, da CF/1988; art. 7º da Lei nº 10.887/2004). Sobre o abono não incide contribuição. Objetiva-se, com isso, incentivar o servidor que possa se aposentar a permanecer em atividade, gerando economia aos cofres públicos. Com a reforma da previdência, o abono de permanência passou a ser de pagamento facultativo, por força da novel redação do § 19 art. 40 da CF/1988: Observados critérios a serem estabelecidos em lei do respectivo ente federativo, o servidor titular de cargo efetivo que tenha completado as exigências para a aposentadoria voluntária e que opte por permanecer em atividade poderá fazer jus a um abono de permanência equivalente, no máximo, ao valor da sua contribuição previdenciária, até completar a idade para aposentadoria compulsória. 3.4. Contribuição dos aposentados e dos pensionistas A contribuição dos aposentados e pensionistas incide sobre a parcela dos proventos que exceder o teto do RGPS (base de contribuição), com percentual (alíquota) igual ao estabelecido para os servidores titulares de cargos efetivos (art. 40, § 18, da CF/1988). A reforma da previdência não alterou a previsão que determina a contribuição do inativo que incide apenas sobre o valor que ultrapassa o limite máximo do RGPS, portanto, fica mantida a regra do § 18 do art. 40 da CF/1988. Curso Ênfase © 2021 28 Atenção! Como fruto da EC nº 103/2019, o art. 40 do texto constitucional passou a prever a contribuição dos servidores públicos aposentados e pensionistas e a contribuição dos inativos sobre o valor que ultrapasse o teto do RGPS. Esta previsão é encontrada também no art. 11, § 4º, do corpo da emenda (bloco de constitucionalidade): § 4º A alíquota de contribuição de que trata o caput, com a redução ou a majoração decorrentes do disposto no § 1º, será devida pelos aposentados e pensionistas de quaisquer dos Poderes da União, incluídas suas entidades autárquicas e suas fundações, e incidirá sobre o valor da parcela dos proventos de aposentadoria e de pensões que supere o limite máximo estabelecido para os benefícios do Regime Geral de Previdência Social, hipótese em que será considerada a totalidade do valor do benefício para fins de definição das alíquotas aplicáveis. Outra particularidade da EC nº 103/2019 foi a revogação do dispositivo que previa a hipótese de o aposentado ou pensionista portador de doença incapacitante contribuir sobre o benefício se ele ultrapassasse o dobro do teto do RGPS. Portanto, atualmente, o § 21 do art. 40 da CF/1988 está revogado. Logo, os inativos portadores de doença incapacitante passarão a contribuir sobre o valor que ultrapasse o teto do RGPS. Na esfera federal, a contribuição previdenciária dos servidores aposentados e pensionistas foi criada pela Lei nº 10.887/2004 (art. 5º). A alíquota é a mesma dos servidores ativos: 14% por força do art. 11 da EC nº 103/2019. Da compreensão da base de contribuição, percebe-se que existe, para os aposentados e pensionistas, imunidade de contribuição sobre os proventos recebidos até o limite do teto do RGPS. O art. 4º, parágrafo único, incisos I e II, da EC nº 41/2003, que criaram regra especial de imunidade de inativos e pensionistas do RPPS com benefícios em vigor da data de publicação da EC, foram declarados inconstitucionais pelo STF (ADI nº 3.105), razão pela qual também desponta inconstitucional o art. 6º da Lei nº 10.887/2004, que repete a norma contida na EC. Tais dispositivos ditavam que, Curso Ênfase © 2021 29 para os aposentados e pensionistas com benefício vigente na data de publicação da EC nº 41/2003, a imunidade não seria o teto do RGPS, mas apenas 50% do teto na esfera dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, e 60% do teto na esfera da União. O STF reputou que houvera discriminação e quebra da isonomia entre aposentados e pensionistas tão somente em função da data do início do benefício. Havia uma regra constitucional que ampliava a imunidade (imunidade ampliada, em dobro ou diferenciada): a contribuição incidia apenas sobre as parcelas de proventos de aposentadoria e de pensão que superavam o dobro do limite-teto do RGPS quando o beneficiário, na forma da lei, fosse portador de doença incapacitante (art. 40, § 21, da CF/1988). Atualmente, este parágrafo foi revogado pela EC nº 103/2019. Na conjuntura anterior, o dispositivo constitucional, além de não estabelecer o que seria uma doença incapacitante, ainda não deixava claro que lei deveria regulamentá-lo, razão pela qual o STF (RE nº 534.559/MT) entendeu que se tratava de norma de eficácia limitada. A falta de lei regulamentadora não impede o ajuizamento de ações para pleitear o gozo da imunidade constitucional. Nesse passo, há precedentes de tribunais (entendimento polêmico) utilizando, para efeito de imunidade ampliada, o rol de doenças graves, contagiosas ou incuráveis que autorizam a aposentadoria por invalidez com proventos integrais (art. 40, § 1º, inciso I, da CF/ 1988), ou o rol de doenças incapacitantes àquelas que permitem a isenção do imposto de renda (art. 6º, inciso XIV, da Lei nº 7.713/1988). O próprio STF (Suspensões de Segurança nºs 3.679, 3.680, 3.681, 3.682, 3.683, 3.684, 3.685 e 3.703) externou que, à míngua de lei nacional, leis estaduais, distritais ou municipais podem criar isenções por doença incapacitante, cuja eficácia restará suspensa em caso de superveniência da regulamentação geral incompatível. Embora o parágrafo tenha sido revogado na reforma previdenciária, o alcance do art. 40, § 21, da CF/ 1988 será dado pelo STF no RE nº 630.137, com repercussão geral reconhecida e ainda não julgado (acompanhar). Observe que a contribuição previdenciária do aposentado e do pensionista tem espectro de incidência atualmente reduzido. Restringe-se aos inativos e pensionistas enquadrados no antigo RPPS e àqueles vinculados a ente político que não criou o novo RPPS. Isso porque, relativamente aos inativos e pensionistas enquadrados no novo RPPS, a base da contribuição é limitada ao teto do RGPS, patamar esse abarcado pela imunidade reconhecida na CF/1988. Curso Ênfase © 2021 30 Fazendo um comparativo da tributação de inativos no RGPS e no RPPS, observa-se que ambos os regimes possuem imunidade para os proventos até o teto do RGPS. Isso acarreta que no RGPS jamais haverá incidência de contribuição de inativo, pois nada se paga acima do teto (art. 195, inciso II, da CF/1988 – imunidade constitucional sobre os proventos de aposentadoria e pensões do RGPS). Já no RPPS, poderá incidir contribuição sobre os proventos dos aposentados e pensionistas que superarem o teto do RGPS. Em ambos os regimes,se o aposentado ou pensionista desempenhar atividade laboral paralela, haverá incidência da contribuição previdenciária sobre a remuneração dessa atividade em nome do princípio da solidariedade (caráter solidário dos Planos Básicos de previdência social). 4. Retenção e recolhimento das contribuições Na esfera federal, a responsabilidade pela retenção e recolhimento das contribuições dos servidores ativos, dos inativos, dos pensionistas e da própria União será do dirigente e do ordenador de despesa do órgão ou entidade que efetuar o pagamento da remuneração ou do benefício (art. 8º-A, caput, da Lei nº 10.887/2004). Trata-se de norma que estabelece uma responsabilidade tributária pela retenção e recolhimento em substituição ao contribuinte. O recolhimento das referidas contribuições deve ser efetuado (art. 8º-A, § 1º, da Lei nº 10.887/2004): RPPS e RGPS: contribuição de aposentados e pensionistas RPPS (art. 40, § 18, da CF/1988) RGPS (art. 195, inciso II, da CF/1988) Incide contribuição sobre os proventos dos aposentados e pensionistas que superarem o teto do RGPS. Incide contribuição sobre a remuneração de atividade laboral desempenhada depois da aposentadoria. Não incide contribuição sobre os proventos dos aposentados e pensionistas. Incide contribuição sobre a remuneração de atividade laboral desempenhada depois da aposentadoria. Curso Ênfase © 2021 31 I – até o dia 15, no caso de pagamentos de remunerações ou benefícios efetuados no primeiro decêndio do mês; II – até o dia 25, no caso de pagamentos de remunerações ou benefícios efetuados no segundo decêndio do mês; ou III – até o dia 5 do mês posterior, no caso de pagamentos de remunerações ou benefícios efetuados no último decêndio do mês. O não recolhimento das contribuições, pelo responsável, nos prazos apontados enseja a aplicação dos acréscimos de mora previstos para os tributos federais e sujeita o responsável às sanções penais e administrativas cabíveis (art. 8º-A, § 2º, da Lei nº 10.887/2004). Ainda na hipótese de não recolhimento, cabe ao órgão pagador apurar os valores não retidos e proceder ao desconto na folha de pagamento do servidor ativo, do aposentado e do pensionista, em rubrica e classificação contábil específicas, podendo essas contribuições ser parceladas na forma lei – art. 46 da Lei nº 8.112/1990; art. 56 da Lei nº 9.784/1999 (art. 8º-A, § 3º, da Lei nº 10.887/2004). O art. 46, caput, da Lei nº 8.112/1990 (Estatuto dos Servidores Públicos Federais) estabelece que as reposições e indenizações ao erário serão previamente comunicadas ao servidor ativo, aposentado ou ao pensionista, para pagamento, no prazo máximo de 30 dias, podendo ser parceladas a pedido do interessado. O valor de cada parcela não poderá ser inferior ao correspondente a 10% da remuneração, provento ou pensão (art. 46, § 1º, da Lei nº 8.112/1990). Quando o pagamento indevido houver ocorrido no mês anterior ao do processamento da folha, a reposição será feita imediatamente em uma única parcela (art. 46, § 2º, da Lei nº 8.112/1990). Por sua vez, o art. 56 da Lei nº 9.784/1999 (Lei do Processo Administrativo Federal) garante o direito ao recurso no âmbito do processo administrativo. Entretanto, apesar de a Lei nº 10.887/2004 fazer referência ao parcelamento e ao recurso administrativo nos termos dos dispositivos legais explicitados, não se pode esquecer que as contribuições são tributos, e, nessa linha, há entendimento de que deveriam observar as regras de parcelamento e impugnação próprias dos créditos tributários (STJ, AgRg no AREsp. nº 14.264). Caso o órgão pagador não proceda à apuração e ao desconto em folha, a Secretaria da Receita Federal do Brasil formalizará representações aos órgãos de controle e constituirá o crédito tributário relativo à parcela devida pelo servidor ativo, aposentado ou pensionista (art. 8º-A, § 4º, Curso Ênfase © 2021 32 da Lei nº 10.887/2004). A atribuição da Receita Federal se justifica pela natureza tributária da contribuição previdenciária para o custeio do regime próprio. Tratando-se de servidor ativo, inativo ou pensionista de entidade da administração indireta, qualquer insurgência quanto a retenção e recolhimento das contribuições (por exemplo: erro na base de contribuição ou de alíquota), tanto na via administrativa quanto na judicial, deve ser deduzida em face do ente político (União, estados, Distrito Federal ou município), que é o sujeito ativo da relação jurídico-tributária, e não da entidade descentralizada, mera responsável tributária (STJ, AgRg no AREsp. nº 199.169, 05.12.2013). A contribuição do Plano de Seguridade do Servidor Público (contribuição previdenciária no RPPS), decorrente de valores pagos em cumprimento de decisão judicial , ainda que derivada de homologação de acordo, será retida na fonte, no momento do pagamento ao beneficiário ou seu representante legal, pela instituição financeira responsável pelo pagamento, por intermédio da quitação da guia de recolhimento remetida pelo setor de precatórios do Tribunal respectivo, no caso de pagamento de precatório ou requisição de pequeno valor, ou pela fonte pagadora, no caso de implantação de rubrica específica em folha, mediante a aplicação da alíquota de 14% sobre o valor pago (art. 16-A, caput, da Lei nº 10.887/2004, com a releitura tratada pelo art. 11 da EC nº 103/2019). Sobre a redação do art. 16-A, o STJ, em recente decisão, considerou que os valores adimplidos por meio de precatório ou RPV tem fato gerador no momento do pagamento ao beneficiário ou ao seu representante legal. Nesta ocasião a instituição financeira tem o encargo de proceder à retenção na fonte a contribuição do Plano de Seguridade do Servidor Público (PSS). Portanto, a dívida judicialmente reconhecida somente sofre a incidência da contribuição para o PSS no momento do pagamento do precatório/RPV. No REsp. nº 1.805.918/PE, o STJ firmou o seguinte entendimento: Os valores devidos a título de contribuição do Plano de Seguridade do Servidor Público (PSS) devem integrar a base de cálculo dos juros de mora, na hipótese de pagamento em cumprimento de decisão judicial, de modo a evitar indevida antecipação do fato gerador, bem como indevida redução da obrigação de pagar (REsp. nº 1.805.918/PE, rel. Mini. Og Fernandes, Segunda Turma, julgado em 25.05.2021, DJe 09.06.2021 – Informativo nº 698). Curso Ênfase © 2021 33 O recolhimento da contribuição deve ser efetuado nos mesmos prazos para o recolhimento de rotina, acima mencionados, de acordo com a data do pagamento (art. 16-A, parágrafo único, da Lei nº 10.887/2004). A retenção na fonte pela instituição financeira ou pelo próprio órgão pagador é uma imposição da lei e não depende de determinação específica do título judicial que reconheceu o direito ao recebimento dos valores (STJ, REsp. nº 999.444/RN, REsp. nº 1.196.777-RS, recurso repetitivo). A despeito do recebimento de valores em razão de decisão judicial, a retenção em si (imposição da lei, como dito) não é objeto da lide, logo, não está acobertada pela coisa julgada, razão pela qual o contribuinte que sofreu a exação pode, em sendo o caso, pleitear repetição de indébito ou questionar em ação própria aspectos do fato gerador dessa contribuição retida (STJ, EDcl no REsp. nº 1.196778-RS). Obra coletiva do Curso Ênfase produzida a partir da análise estatística de incidência dos temas em provas de concursos públicos. A autoria dos e-books não se atribui aos professores de videoaulas e podcasts. Todos os direitos reservados. Curso Ênfase © 2021 34 TEMAS ESPECIAIS PARA JUIZ FEDERAL DIREITO PREVIDENCIÁRIO Introdução ao Regime Próprio de Previdência Social dos Servidores 1. Contextualização, características e estrutura 2. O novo regime próprio e ECnº 103/2019 Arcabouços estruturais do RPPS Entes que criaram o novo RPPS ou RPC para seus servidores Entes que não criaram o novo RPPS ou RPC para seus servidores Datas de vigência do RPC federal FUNPRESP-Exe FUNPRESP-Leg FUNPRESP-Jud Termo final de prazo de migração para o novo RPPS Prazo inicial 1ª prorrogação 2ª prorrogação 3. Custeio 3.1. Aspectos gerais Contribuintes do RPPS 3.2. Contribuição do ente público 3.3. Contribuição dos servidores ativos ALÍQUOTA FAIXA DE RENDA 3.4. Contribuição dos aposentados e dos pensionistas RPPS e RGPS: contribuição de aposentados e pensionistas RPPS (art. 40, § 18, da CF/1988) RGPS (art. 195, inciso II, da CF/1988) 4. Retenção e recolhimento das contribuições
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