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ILMO. SR. PRESIDENTE DA COMISSÃO DE PROCESSO ADMINISTRATIVO DICIPLINAR, PREFEITURA MUNICIPAL DE CASCAVEL/PR. PROCESSO №: 119606 / 2022. LUIZ CARLOS GOMES, servidor público municipal devidamente registrado sob a matrícula n°.18762-1, ocupante do cargo de Guarda Civil Patrimonial, através de seu defensor dativo, abaixo-assinado, vem à presença de Vossa Senhoria, apresentar DEFESA PRÉVIA, tendo em vista nomeação e intimação. I – DOS FATOS Conforme o disposto no Decreto Municipal n°. 5,963/2003 e em conformidade com o Processo de Apuração Sumária protocolada no – GAB, e referente às informações repassadas pelo SESPPRO, o Servidor foi indiciado por Falta de Assiduidade no trabalho. II – DA DEFESA Conforme a portaria inaugural o servidor indiciado de abandono de cargo, conforme a legislação em vigor. No seu inciso II, do art.132, da Lei ° 8.112/90 contempla o abandono de cargo como causa de demissão, falta essa que se configura pela ausência intencional do servidor ao serviço por mais de trinta dias consecutivos, conforme preceitua o art. 138 do mesmo diploma legal. O art. 140 do referido Estatuto por sua vez, dispõe que, na apuração de abandono de cargo ou inassiduidade habitual, será adotado o procedimento sumário, previsto no art. 133 (com redação alterada pela Lei № 9.527, de 10/12/1997), que deve ser concluído no prazo de trinta dias, a contar da publicação do ato que constituiu a Comissão Processante, admitida sua prorrogação por até quinze dias, quando as circunstancias o exigirem. Vê-se, aqui, a justa preocupação da Administração em reprimir, com agilidade, a acefalia do cargo, a descontinuidade dos serviços, o desamparo administrativo, e o consequente risco de danos ao interesse público. É dever inerente ao cargo público a frequência assídua e pontual ao serviço. Tendo o servidor faltado por mais de 30 dias consecutivos ou em um período de um ano, sem justificar sua ausência aos seus superiores, é dever da Administração perscrutar, por intermédio do processo disciplinar, se há interesse ou não do mesmo na prestação do serviço público. Cabendo assim, à Administração o ônus da prova (principio da gratuidade). Portanto, à Comissão Processante, designada pela autoridade competente, impõe-se a tarefa de envidar todos os esforços, a fim de demonstrar não só a materialidade da falta ao serviço, bem como a vontade consciente do servidor em dele se ausentar, ou seja, o animus abandonandi. Em um julgamento no Superior Tribunal de Justiça, analisando o MS 8.291/DF, referente ao Processo № 2002/0041936-0, assim se manifestou sobre a questão: ¨A 3ª Seção desta Corte Superior de Justiça firmou já entendimento no sentido de que, em se tratando de ato demissionário consistente no abandono de emprego ou inassiduidade ao trabalho, impõe-se averiguar o animus especifico do servidor, a fim de avaliar o seu grau de desídia. ¨ (cf. MS № 6.952/DF, Rel. Min. Gilson Dipp, in DJ 02/10/2002. Segundo entendimento de Francisco Xavier da Silva Guimarães, em sua obra Regime Disciplinar do Servidor Público Civil da União (Ed. Forense, 1998, p. 66), não é qualquer motivo que serve para justificar a ausência do servidor, do local de trabalho, por mais de trinta dias, só sendo aceitos aqueles que remetem a motivo de força maior, entendido, como tal, o obstáculo intransponível, de origem estranha, liberatório da responsabilidade. É necessário, segundo o autor, para ilidir o abandono de cargo, uma efetiva dirimente de responsabilidade, com ausência de culpa, diante da inevitabilidade do evento. A sujeição do servidor a constrangimento eficiente sobre ele exercido, com o fim de lhe tolher a resistência ou cercear a manifestação da vontade, caso de transtornos mentais e síndromes de dependências químicas, também constituem excludente de responsabilidades por provocar estado psíquico que anula, inteiramente, o livre arbítrio. Sendo assim, as cópias das folhas de frequência, juntadas aos autos pelo setor de recursos humanos, limitam-se a demonstrar a materialidade do período faltoso, dado exigido à aferição completa da conduta, mas nada esclarece a respeito dos motivos pelos quais o servidor faltou ou foi forçado a faltar ao serviço. Vê-se que esta Comissão, deve-se pautar na busca da certeza jurídica, sendo obrigada a perquirir sobre a vida funcional e pessoal deste servidor, no esforço de fazer prevalecer, com respaldo na ampla defesa e contraditório, a verdade real dos fatos. Não se tratando, como alguns pensam equivocadamente, de ato de condescendência para com o indiciado, mas de aplicar a lei dentro da realidade da natureza humana. Esta Comissão de Processo Administrativo Disciplinar não representa, tão-somente, a Administração Pública: representa, acima de tudo, o compromisso desta instituição com o Direito, com a verdade e com a justiça. Outro indicativo, nos mostra José Armando Costa, em sua obra Teoria e Prática do Processo Administrativo Disciplinar (Ed. Brasília Jurídica, 3ª ed., 1999, p. 107), afirma que: Em qualquer quadra ou momento da vida, o ato de defesa não é apenas um direito natural ou constitucional, é bem mais que isto, revelando-se, insofismavelmente, como um esforço humano que enobrece o indivíduo e o reconhece como digno de integrar o processo que a humanidade lhe conferiu, além de configurar o traço mais proeminente e característico de toda uma civilização. Neste sentido, que o conhecimento afasta vetustos preconceitos e viabiliza o justo entendimento da questão objeto de investigação, propiciando, ao final do procedimento, um julgamento firme e eficiente, que somente uma visão ampla e sistêmica, alicerçada não só no conjunto de normas, mas também sensível, numa interação orgânica e dialética, poderá detectar doença em uma conduta ao invés de desídia, dilucidando, com muito mais proficiência, o caso concreto sob apuração. No caso de dúvida quando à saúde mental do servidor, a Comissão Processante, poderá propor à autoridade competente que o servidor indiciado seja submetido a exame por uma junta médica oficial composta por pelo menos um médico psiquiatra. Este servidor vem sendo acompanhado pelo Departamento da Medicina do trabalho desde 2005. III – DO DIREITO Sem parâmetros no Direito Administrativo para da imputabilidade no caso em questão, buscamos no Direito Penal que, segundo o Prof. Francisco de Assis de Toledo (in Princípios Básicos de Direito Penal, Saraiva 2002) é a parte do ordenamento jurídico que, estabelecendo e definindo o fato punível, dispõe sobre quem por ele deva responder, fixando a pena ou medida de segurança cabível. Tal ramo do Direito traz como um de seus princípios, que aponta o homem como fim (e não como meio) das relações jurídicas, postulando a racionalidade (sentido humano) e a proporcionalidade da pena. J á o Direito Processual Penal, também analisado de forma análoga para o caso em questão, aponta os princípios: - da verdade real, segundo o qual o julgador não deve se contentar com as provas levadas aos autos para formar seu convencimento, devendo buscar as peças que retratam a verdade com fidelidade; - do favor do rei, que determina que se deva interpretar o benefício sempre em favor do réu (in dubio pro réu); Ambos os princípios serão violados no presente caso se por ventura forem desprezadas as provas de boa fé, conduta ilibada e presteza no atendimento ás normas regulamentar dentro da Guarda Civil Patrimonial por parte do servidor, Luiz Carlos Gomes 20 anos de trabalho. Luiz Regis Prado (in Curso de Direito Penal brasileiro, RT, 2001), sobre o Principio da Culpabilidade, nos ensina que ¨a culpabilidade deve ser entendida como fundamento e limite de toda a pena¨. Esse princípio diz respeito ao caráter inviolável do respeito à dignidade do ser humano. O conteúdo do principio é a ideia de que não é possível atribuir a alguém a responsabilidade por uma ação ou omissão, sem que esse alguém tenha atuado com dolo ou culpa, o que não restou configurado no presente caso. Para que se configure uma conduta ilícita e, consequentemente, punir o agente é preciso identificar com clarezaa intenção na obtenção do resultado, o que inexiste no casso em questão. IV- DA APLICAÇÃO DO PRINCIPIO DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE Caso Ilustríssimos Senhores, entendam pela ilegalidade da conduta praticada pelo indiciado, mesmo após a demonstrada falta de provas, requer sejam aplicados os princípios da Razoabilidade e da Proporcionalidade, o que se admite em razão do Princípio da Eventualidade. Desta forma, caso seja o indiciado, pelos fatos imputados a ele, requer, seja aplicada penalidade de acordo com o disposto no art. 208 da lei 2215/91, vejamos: Art. 208 São penas disciplinares, na ordem crescente de gravidade: I – Advertência; II – Repreensão; III – Multa; IV – Suspensão Disciplinar; V – Destituição do Cargo; VI – Demissão; VII – Cassação de aposentadoria e de disponibilidade. § 1° As penas previstas nos itens II a VII, serão sempre registradas no prontuário do servidor. § 2° As anistias não implicam o cancelamento do registro de qualquer penalidade, que servirá para apreciação da conduta do servidor, mas nele se averbará que, em virtude da anistia, a pena deixou de produzir os efeitos legais. Requer, desta Ilustre Comissão Julgadora que seja aplicada a Atenuantes previstas no art. 216, § 1°; Art. 216 Para efeito de graduação das penas disciplinares, serão sempre tomadas em conta todas as circunstâncias em que a infração tiver sido cometida e as responsabilidade do cargo pelo infrator. § 1° São circunstâncias atenuantes da infração disciplinar, em especial: I – O bom desempenho anterior dos deveres profissionais; II – A confissão espontânea da infração; III – A prestação de serviços considerados relevantes por lei. V – DOS PEDIDOS Diante de todo o exposto, REQUER: a) Seja recebida a presente Defesa Prévia, para que surta seus jurídicos e legais efeitos; b) Sejam aplicados os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, levando-se em conta a culpabilidade individual, para fins de aplicação de Punição, de acordo com as Leis Municipais 2.215/91 e 6.532/2015. Nestes Termos, Pede Deferimento. Cascavel, 07 de Dezembro de 2022. Osvaldo Cezar Gonçalves de Andrade Defensor Dativo