Buscar

Violência, conflito e sociedade

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 46 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 46 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 46 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DESCRIÇÃO
A violência na sociedade brasileira, as políticas públicas referentes às populações menorizadas e o
combate à impunidade na perspectiva de diminuição da violência cotidiana.
PROPÓSITO
Apresentar de que modo a violência e o conflito atravessam a vida em sociedade, tema fundamental
para o pensamento crítico de qualquer profissional e cidadão.
PREPARAÇÃO
Levando-se em conta a riqueza e as múltiplas possibilidades de análise do tema, seria importante ter à
mão um bom dicionário de Teoria Política ou de Ciências Sociais. Sugerimos o Dicionário de Política, de
Norberto Bobbio, e o Dicionário de Sociologia, da UFSC/Repositório, ambos disponíveis em formato
virtual.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Definir como a violência se tornou uma marca constitutiva da sociedade brasileira
MÓDULO 2
Reconhecer a relação entre políticas públicas e as populações menorizadas
MÓDULO 3
Identificar a impunidade no âmbito social e a busca pela diminuição da violência cotidiana
INTRODUÇÃO
A violência é um fenômeno presente em diversas sociedades e períodos históricos. Segundo a
Organização Mundial da Saúde (OMS), ela é definida como o uso de força física ou poder, em
ameaça ou na prática, contra si próprio, outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade que
resulte ou possa resultar em sofrimento, morte, dano psicológico, desenvolvimento prejudicado
ou privação (DAHLBERG e KRUG, 2007). Essa definição ampla já aponta a complexidade do tema.
Para identificar suas causas e criar políticas públicas adequadas para resolver a questão, as diferentes
formas de violência devem ser compreendidas caso a caso, de acordo com sua especificidade.
Esse fenômeno é tão presente em nossa sociedade que as autoridades de saúde pública definiram a
violência no Brasil como uma epidemia, ou seja, como uma doença que se alastra coletivamente e
cresce de forma descontrolada. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA,
2020) ocorreram 57.956 homicídios no Brasil em 2018. Embora todos os cidadãos convivam com o
medo da violência, ela toma contornos mais cruéis de acordo com critérios como a cor, a classe social e
o gênero. Mais de 90% dos assassinados no Brasil em 2018 foram homens e 75% deles eram negros.
Fonte: EnsineMe
A desigualdade racial cria situações bem distintas para brancos e negros. De 2008 a 2018, por exemplo,
as taxas de homicídios entre brancos foram reduzidas em 12% enquanto entre negros aumentou em
11%. Mas a violência não se restringe aos homicídios e os números da violência contra mulheres e
crianças são ainda mais acentuados. Foram registrados 66.041 casos de violência sexual em 2018 e
mais de 200 mil ocorrências de violência doméstica. Esses dados podem ser conferidos no Atlas da
Violência (IPEA 2020).
A seguir, investigaremos as causas que tornam o Brasil um dos países mais violentos do mundo, quais
os mecanismos para compreender esse fenômeno e como é possível combatê-lo.
MÓDULO 1
 Definir como a violência se tornou uma marca constitutiva da sociedade brasileira
VIOLÊNCIA COLONIAL E GENOCÍDIO
O Brasil é frequentemente descrito como o país do Carnaval, marcado pela cordialidade de seu povo
hospitaleiro e pela riqueza de sua cultura. Por muito tempo, afirmou-se que viveríamos uma espécie de
“democracia racial”, onde negros, brancos e indígenas seriam tratados como iguais. Esse imaginário,
infelizmente, não condiz com a história real da construção do Brasil como Estado-nação.
A colonização portuguesa e o processo histórico que resultou no país como o conhecemos foram
caracterizados pela violência contra os povos indígenas que aqui habitavam, bem como pelo tráfico e a
escravização de povos africanos. Neste módulo, veremos como a violência tornou-se parte constitutiva
da identidade nacional e qual o seu papel no desenvolvimento do Estado brasileiro.
VIOLÊNCIA COMO FORMA DE DOMINAÇÃO
De acordo com Weber (2008), o Estado é aquele que detém o monopólio legítimo da violência física
dentro de um território e que constitui, em última instância, uma forma de dominação de homens sobre
outros homens. Nessa perspectiva, a relação de dominação pode se legitimar de três formas:
Poder tradicional, que remete a costumes antigos

Poder carismático de um líder que angarie alguma forma de admiração por parte dos dominados

Poder racional legal que se baseie na aceitação de um conjunto de leis de competência positiva e
racionalmente determinadas
Weber (2008) afirmava que toda dominação organizada necessita de um “Estado-maior administrativo” e
de meios materiais de gestão. A política seria a disputa entre diferentes grupos pelo poder de assumir o
Estado e assim exercer o monopólio da violência legítima.
O que é, então, um país?
 ATENÇÃO
A ideia de que todos somos brasileiros, diferentes de espanhóis, argentinos, ou angolanos, é de certa
forma uma abstração. Podemos apontar o Brasil no mapa, ou justificar a unidade de nosso território pelo
fato de que falamos português. Mas as fronteiras de um território são demarcações arbitrárias, fruto de
disputas, conflitos e guerras. O português também não é a única língua falada no Brasil, uma vez que
povos de diferentes etnias indígenas se comunicam em mais de 200 línguas diferentes de acordo com o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010).
VIOLÊNCIA CONTRA COMUNIDADES
INDÍGENAS
Até meados do século XVIII, a língua mais falada em muitos estados brasileiros era o nheengatu, uma
mistura do dialeto tupinambá com outras línguas indígenas. Muitos elementos que atualmente
compreendemos como características da identidade nacional foram construídos através de séculos de
conflitos e violência ao longo dos quais um “Estado” brasileiro foi se consolidando.
De acordo com a Fundação Nacional do Índio (FUNAI, 2010), estima-se que, em 1500, quando os
portugueses chegaram ao litoral de Porto Seguro, na Bahia, três milhões de indígenas habitavam o
território que atualmente conhecemos como Brasil. Em 1650, esse número caiu para 650 mil e, em
1957, chegou a ser estimado em apenas 70 mil indivíduos. Tais índices estarrecedores refletem séculos
de violência brutal contra os povos originários. Aqueles habitantes chamados genericamente de “índios”
pelos colonizadores eram, na verdade, povos diversos com línguas, culturas, hábitos e costumes
variados.
Fonte: EnsineMe
Ao contrário dos portugueses e outros europeus, as culturas indígenas não consideravam a mata, os
rios, o solo e os animais como recursos que deveriam ser explorados exaustivamente. Suas culturas e
seus conhecimentos prezavam pela harmonia com a natureza, que era vista como um lar do qual eles
faziam parte. Isso não significa que os indígenas não travassem guerras e batalhas entre si, mas essas
guerras ocorriam por razões próprias de suas culturas e não eram motivadas pela exploração da terra e
pelo comércio.
EXPLORAÇÃO DA TERRA
Como forma de aprofundarmos essa visão, bastante corriqueira em toda nossa formação escolar,
vale comparar a ótica apresentada por Thomas Woods (Historiador de Harvard) em seu artigo Os
índios americanos realmente eram ambientalistas?.
Se para os indígenas a ideia de que a terra podia ser propriedade de alguém era um absurdo, os
europeus, por outro lado, rapidamente demarcaram fronteiras imaginárias e se autointitularam os
proprietários de áreas imensas. Para fazer valer o seu domínio sobre o território, os recém-chegados
utilizaram a força bruta em guerras que dizimaram populações inteiras. Essa violência capaz de dizimar
uma população é atualmente definida como genocídio.
Fonte: José Rosael/Hélio Nobre/Museu Paulista da USP/Wikimedia Commons, Domínio público.
 Bandeirantes e a caça aos índios, José Rosael/Hélio Nobre/Museu Paulista da USP, 1925.
No Brasil, a Lei n. 2.889, promulgada no ano de 1956, que define e pune o crime de genocídio, afirma a
imputabilidade de:
ART. 1. QUEM, COM A INTENÇÃO DE DESTRUIR, NO TODO
OU EM PARTE, GRUPO NACIONAL, ÉTNICO, RACIAL OU
RELIGIOSO, COMO TAL: A) MATAR MEMBROSDO GRUPO;
B) CAUSAR LESÃO GRAVE À INTEGRIDADE FÍSICA OU
MENTAL DE MEMBROS DO GRUPO; C) SUBMETER
INTENCIONALMENTE O GRUPO A CONDIÇÕES DE
EXISTÊNCIA CAPAZES DE OCASIONAR-LHE A
DESTRUIÇÃO FÍSICA TOTAL OU PARCIAL; D) ADOTAR
MEDIDAS DESTINADAS A IMPEDIR OS NASCIMENTOS NO
SEIO DO GRUPO; E) EFETUAR A TRANSFERÊNCIA
FORÇADA DE CRIANÇAS DO GRUPO PARA OUTRO GRUPO.
(LEI 2.889/1956)
Como veremos nos módulos seguintes, a existência dessa lei infelizmente não evita que a violência em
patamares semelhantes continue acontecendo.
ESCRAVISMO NEGRO
A colonização do Brasil também foi feita a partir da maior migração forçada da história. Embora a
escravidão já ocorresse na África, a demanda dos europeus por escravos gerou um aumento jamais
visto no tráfico de seres humanos.
 VOCÊ SABIA
Ao longo de mais de 300 anos, cerca de 4,9 milhões de africanos foram trazidos para o Brasil, o país
que recebeu quatro em cada dez africanos escravizados no mundo. A título de comparação, os Estados
Unidos respondem por 489 mil (ROSSI, 2018), um número dez vezes menor. Aqueles que sobreviviam à
travessia eram obrigados a realizar trabalhos forçados e submetidos à tortura e outras formas de
violência. Em busca de uma vida digna, homens e mulheres africanos fugiam das plantações e se
organizavam em quilombos.
No decorrer de todo o período escravista, inúmeras batalhas foram travadas entre africanos nos
quilombos e aqueles dedicados a recapturá-los, como os bandeirantes e capatazes pagos pelos
senhores de engenho e pelos governadores das capitanias hereditárias.
O quilombo mais famoso foi Palmares, liderado por Zumbi, contra quem holandeses e depois
portugueses travaram batalhas por anos. Estima-se que, em 1670, cerca de 20 mil africanos fugidos dos
engenhos chegaram a viver em Palmares. A título de comparação (MOURA, 1981), cerca de sete mil
pessoas moravam no Rio de Janeiro naquele mesmo período.
Fonte: Antônio Parreiras – ARTExplorer/Wikimedia Commons, Domínio público.
 Zumbi dos Palmares, Antônio Parreiras – ARTExplorer, sem data.
ZUMBI
Zumbi dos Palmares é, sem dúvida, uma figura emblemática e que, exatamente por isso, está sob
os holofotes de quem busca santificá-lo ou condená-lo.
Para derrotar o poderoso Quilombo dos Palmares, o governador de Pernambuco contratou os serviços
do bandeirante Domingos Jorge Velho, que reuniu um contingente de seis mil homens armados a fim de
combater os quilombolas liderados por Zumbi.
javascript:void(0)
Fonte: Shutterstock.com
 Região quilombola, Leonardo Mercon, sem data.
Palmares não foi o primeiro nem o último quilombo do Brasil. Milhares de escravos fugiram dos domínios
de senhores de engenho ao longo dos séculos e ainda existem no Brasil comunidades remanescentes
de quilombos. Essas comunidades são habitadas por descendentes de africanos que fugiram da
escravidão e passaram a viver em terras livres.
PATRIARCALISMO
O período colonial foi profundamente marcado por conflitos, guerras e batalhas que por diferentes
motivos contestaram a ordem vigente e o domínio da coroa portuguesa. A repressão por parte dos
colonizadores foi fundamental para que os senhores de engenho e a coroa portuguesa mantivessem o
seu domínio ao longo dos séculos.
De acordo com a historiadora Eulália Lobo (1970), um dos mais marcantes traços da história brasileira é
o seu elemento de continuidade. Em suas pesquisas, a autora observou que certas características como
a distribuição de terras pautada no sistema latifundiário sofreram poucas alterações do período colonial
até o século XX. Esse sistema, em um contexto em que a terra representava o centro da produção de
riquezas, permitiu que o senhor rural angariasse grande poder na sociedade colonial – poder esse que
se manteve até a primeira metade do século XX. No auge de sua dominação, o senhor rural controlava
a terra, a mão de obra e as finanças, e representava o principal elemento de continuidade do
poder no Brasil (LOBO, 1970).
Fonte: Frans Post – Itamaraty Safra catalogue | Wikimedia Commons, Domínio público.
 Engenho colonial, Frans Post – Itamaraty Safra catalogue, 1993.
O TERMO PATER FAMILIS, ORIUNDO DA ESTRUTURA SOCIAL DA
ROMA CLÁSSICA (IDADE ANTIGA), PODE TAMBÉM NOS AJUDAR A
ENTENDER O SENHOR RURAL, QUE, DE ACORDO COM FREYRE
(2002), EXERCIA O PODER DESPÓTICO SOBRE MULHER, FILHA,
ESCRAVOS E CLIENTELA NO COMPLEXO CASA GRANDE-SENZALA.
Os senhores de engenho tinham grande influência política do Período Colonial ao Império. Essa forma
de dominação tradicional exercida sobre uma comunidade e determinada pelo pertencimento a uma
família – o patriarcalismo – contribuiu para o desenvolvimento do clã familiar como um núcleo de
extrema importância para a compreensão da vida política brasileira.
A violência contra as mulheres era fundamental para o domínio patriarcal do senhor de engenho. Além
de ter total autoridade sobre suas esposas, geralmente mulheres brancas de origem europeia, os
senhores de engenho violentavam mulheres negras e indígenas escravizadas.
 SAIBA MAIS
Segundo Carneiro (2018), pode-se inferir que o estupro colonial perpetrado pelos senhores brancos
portugueses sobre negras e indígenas origina todas as construções de identidades brasileiras e as
hierarquias de gênero e raça existentes em nossa sociedade. É a partir das relações do “estupro
colonial” cometido por senhores brancos contra mulheres escravizadas negras e indígenas que se
constrói a nossa massa de população mestiça.
Esse tipo de violência sexual era tão disseminado que deixou marcas profundas na população brasileira
que podem ser sentidas até os dias atuais. Pesquisadores do Instituto de Biociências da Universidade
de São Paulo (USP) sequenciaram em 2019 o genoma de brasileiros e brasileiras em diferentes regiões
do país (ESCOBAR, 2020). A descoberta feita por eles é que 70% das mães que deram origem à nossa
população têm ascendência africana ou indígena, mas 75% dos pais foram europeus.
Outra percepção sobre o período pode nos chegar também pela Arte. As contradições internas dos
escravismos e das complexas relações sociais – e mesmo pessoais – que eram geradas é bem explícita
na letra da música Morro Velho, de Milton Nascimento:
Filho do branco e do preto, correndo pela estrada atrás de passarinho
Pela plantação adentro, crescendo os dois meninos, sempre pequeninos (...)
Filho do senhor vai embora, tempo de estudos na cidade grande
Parte, tem os olhos tristes, deixando o companheiro na estação distante (...)
Quando volta já é outro, trouxe até sinhá mocinha prá apresentar
Linda como a luz da lua que em lugar nenhum rebrilha como lá
Já tem nome de doutor, e agora na fazenda é quem vai mandar
E seu velho camarada, já não brinca, mas trabalha.
(NASCIMENTO, 1967)
 RESUMINDO
O desenvolvimento da sociedade brasileira não ocorreu a partir da ideia de que os cidadãos deveriam
ser tratados da mesma forma. Da colonização, a partir do século XVI até meados do século XX, eram os
senhores de engenho e grandes proprietários rurais que detinham toda a riqueza e poder.
De acordo com Hollanda (2002), a formação da sociedade brasileira se deu a partir do patrimonialismo,
uma forma de dominação concentrada nas opiniões e valores do senhor de engenho e não com base
em critérios de igualdade entre toda a população. A união entre uma burocracia em expansão e a cultura
patrimonialista gera um Estado ineficiente em diversos sentidos. Aqueles que detinham o poder
econômico podiam usar o Estado para seus próprios interesses e não para o bem comum, ou seja, o
interesse privado ganha espaço em detrimento do público, gerando práticas corruptas e clientelistas.
HEGEMONIA
O processo histórico que formou o Brasil como o conhecemos é profundamente marcado pela
dominação de alguns grupos políticos sobre outros menos favorecidos. Essa correlação de forças é o
pilar dos fenômenos políticos (GRAMSCI, 1984). Na argumentação desse ponto de vista, para analisar
as forças que atuam na história de um período, é preciso compreendera relação entre estrutura e
superestrutura e procurar as relações de forças sociais intrínsecas à estrutura.
Aqui se está baseando em um aparato dialético:
A sociedade civil, cuja dominação seria fundamentada na hegemonia. Nesta categoria, inserem-se as
instituições capazes de difundir os valores da classe dirigente por toda a sociedade: a Igreja, a mídia
corporativa, a escola etc.

A sociedade política, baseada na dominação coercitiva. Esta categoria seria composta pelo aparelho
jurídico-coercitivo responsável por manter, pela força, a ordem estabelecida.
NOS MOMENTOS DE CRISE ORGÂNICA, A CLASSE
DIRIGENTE PERDE O CONTROLE DA SOCIEDADE CIVIL E
APOIA-SE NA SOCIEDADE POLÍTICA PARA MANTER SUA
DOMINAÇÃO.
(CYMROT, 2013)
Deve-se também avaliar o grau de homogeneidade e de consciência de classe atingidos pelos vários
grupos sociais e compreender a relação das forças militares, que podem ter um grau técnico-militar, ou
político-militar.
Os conflitos entre grupos que disputam o aparato do Estado muitas vezes se manifestaram de forma
violenta ao longo da história. Quando ouvimos falar de violência, a primeira coisa que pensamos é nos
assaltos à mão armada e nos altos índices de homicídio que caracterizam o Brasil contemporâneo.
Muitas vezes escutamos de nossos pais e avós que, no tempo deles, “não era assim”. Embora seja
verdade que há algumas décadas a violência armada não era tão presente no cotidiano, a violência e o
conflito sempre fizeram parte da própria constituição da sociedade brasileira.
Fonte: Shutterstock.com
 Assalto à mão armada, Apiwan Borrikonratchata, sem data.
O processo histórico que levou à construção do Brasil como o conhecemos foi marcado por séculos de
violência colonial, de modo que esse fenômeno sempre esteve presente em nosso país. Como veremos
nos próximos módulos, as sequelas deixadas por séculos de escravidão e pelo patriarcalismo
atravessam de várias formas a violência que vivemos atualmente.
 ATENÇÃO
A repressão e a violência não são a única forma de construir um país democrático. Ao refletirmos sobre
as formas de organização e ação coletiva da sociedade civil, podemos entender que tanto a busca por
cooperação entre indivíduos a fim de atingirem um resultado ótimo a todos quanto a deserção em
situações em que haveria a possibilidade de associação constituem soluções racionais que trazem
potencial estabilidade aos grupos sociais que as adotam (PUTMAN, 1999).
A solução óbvia encontrada em um contexto no qual os indivíduos não conseguem associar-se entre si
nem contar com o cumprimento de acordos por parte dos outros é recorrer a um poder coercitivo,
baseado na repressão, que garanta certa estabilidade à sociedade.
Segundo Putman (1999), a partir do conceito de capital social – cujo pilar principal é a confiança –, os
indivíduos se associam com o cumprimento de acordos por parte uns dos outros, por meio de normas,
regras e sistemas. Essa situação aumenta a eficiência da sociedade, pois nesse caso busca-se um
resultado ótimo a todos sem recorrer à repressão. A verdadeira democracia, para Robert Putman (1999),
seria um sistema baseado na confiança mútua e na cooperação, aumentando a eficiência da sociedade
e ao mesmo tempo fazendo com que o Estado não se baseie apenas na coerção e na violência.
javascript:void(0)
A construção de uma sociedade mais justa e menos violenta depende de que todos os cidadãos se
comprometam com o reconhecimento dos conflitos sociais e busquem formas de reparar coletivamente
as bases da violência.
CONCEITO DE CAPITAL SOCIAL
Capital social diz respeito a características da organização social, como confiança, normas e
sistemas, que contribuam para aumentar a eficiência da sociedade (PUTMAN, 1999).
No vídeo a seguir, o especialista Dennis Novaes comenta sobre fatores históricos, como o escravismo e
patriarcalismo, que contribuíram para uma sociedade marcadamente violenta. Vamos assistir!
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. SOBRE A VIOLÊNCIA NO BRASIL, PODEMOS AFIRMAR QUE:
A) É um fenômeno recente que teve início nas grandes cidades a partir da segunda metade do século
XX.
B) Trata-se de uma violência limitada às periferias urbanas, onde facções criminosas comandam o
tráfico de drogas.
C) A violência fez parte da própria constituição do Estado-nação brasileiro de uma forma que moldou o
país como atualmente o conhecemos.
D) Os povos indígenas exterminaram grandes massas de colonizadores, por isso a maior parte da
população brasileira atual tem origem indígena.
E) Os africanos escravizados exterminaram indígenas e portugueses, por isso a maior parte da
população brasileira atual tem origem negra.
2. DE ACORDO COM AS REFLEXÕES DO CIENTISTA POLÍTICO ROBERT
PUTMAN (1999), A DEMOCRACIA IDEAL DEVE SER UM REGIME:
A) No qual alguns grupos políticos disputam o controle do aparelho estatal e a dominação hegemônica.
B) Baseado na confiança e na cooperação entre os cidadãos, de modo que o Estado não recorra à
repressão e à coerção.
C) No qual poucos homens de bem tenham controle sobre o aparelho burocrático do Estado.
D) Baseado no controle da classe operária sobre os meios de produção das mercadorias.
E) Em que todos tenham direitos iguais, contanto que sigam as mesmas crenças religiosas, tenham as
mesmas orientações sexuais e ideologias políticas.
GABARITO
1. Sobre a violência no Brasil, podemos afirmar que:
A alternativa "C " está correta.
A constituição da sociedade brasileira foi moldada por séculos de violência colonial, o que definiu as
características linguísticas e socioculturais do Brasil contemporâneo.
2. De acordo com as reflexões do cientista político Robert Putman (1999), a democracia ideal
deve ser um regime:
A alternativa "B " está correta.
O cientista político Robert Putman (1999) defende que tanto a busca por cooperação entre indivíduos a
fim de atingirem um resultado ótimo a todos quanto a deserção em situações em que haveria a
possibilidade de associação constituem soluções racionais que trazem potencial estabilidade aos grupos
sociais que as adotam.
MÓDULO 2
 Reconhecer a relação entre políticas públicas e as populações menorizadas
MINORIAS POLÍTICAS E PROCESSOS DE
ESTEREOTIPIA
Em 1960, a escritora Carolina Maria de Jesus lançava a sua obra mais famosa. O livro Quarto de
Despejo: diário de uma favelada reunia trechos do diário escrito pela autora sobre a dura condição de
uma mulher negra e moradora da favela do Canindé, em São Paulo. Em uma das passagens mais
marcantes de seu livro, ela afirmou:
O BRASIL PRECISA SER DIRIGIDO POR UMA PESSOA QUE
JÁ PASSOU FOME. A FOME TAMBÉM É PROFESSORA.
QUEM PASSA FOME APRENDE A PENSAR NO PRÓXIMO E
NAS CRIANÇAS.
(JESUS, 1963)
Pobre, negra e escritora, Carolina Maria de Jesus era uma exceção, tendo em vista que a maioria dos
moradores de favelas e periferias daquela época eram analfabetos.
MINORIAS POLÍTICAS
No ano de 1960, foi publicada uma grande pesquisa sobre as favelas do Rio de Janeiro que nos ajuda a
compreender a dimensão do problema. O relatório da Sociedade de Análises Gráficas e Mecanográficas
Aplicadas aos Complexos Sociais (SAGMACS) foi a iniciativa mais robusta, até aquele momento, de
análise da conjuntura em que viviam os moradores de favelas.
O levantamento (SAGMACS apud MELLO et al, 2012), cuja direção técnica ficou sob a responsabilidade
de José Arthur Rios, foi realizado em 58 favelas e apontava um cenário que ainda nos soa familiar:
praticamente 80% da população era composta de pretos e pardos e quase metade era analfabeta. Os
estudos sobre o acesso à educação apresentados no relatório deixavam claro que esse cenário não
estava perto de ser transformado.
O Brasil ainda estava longe de ser governado por alguém que passou fome, como queria Carolina de
Jesus. Naquela época, analfabetos ainda eram proibidos de votar e, portanto, uma enorme parcela da
população não podia escolher os seus representantes. O direito ao voto foi por muito tempo restrito em
nosso país. As mulheres, por exemplo, sóvotaram pela primeira vez em 1934. Mas ainda assim não
eram todas as mulheres, apenas aquelas com certo grau de instrução e condições financeiras.
Foi só a partir da constituição de 1988, também conhecida como a “Constituição Cidadã”, que o direito
universal ao voto foi consolidado no Brasil. Mesmo que isso represente um avanço para a nossa
democracia, aprofundando os direitos da população, trata-se de pouco mais de trinta anos de voto
universal comparados a séculos em que os direitos políticos eram reservados para um restrito grupo de
homens brancos e ricos.
Fonte: Shutterstock.com
ESSA CONJUNTURA NA QUAL ALGUNS GRUPOS TÊM MAIS
DIREITOS EM RELAÇÃO A OUTROS É O QUE GERA AS MINORIAS
POLÍTICAS, TAMBÉM CHAMADAS DE MINORIAS SOCIAIS. A NOÇÃO
SOCIOLÓGICA DE MINORIA NÃO É A MESMA DA MATEMÁTICA. UM
GRUPO NUMERICAMENTE MAIOR PODE SER SISTEMATICAMENTE
EXCLUÍDO DOS PRINCIPAIS ESPAÇOS DE PODER NA SOCIEDADE.
Embora cerca de 54% da população brasileira seja composta por negros, eles ocupam apenas 20% das
cadeiras no Congresso Nacional (GONÇALVES, 2018). Algo semelhante ocorre com as mulheres, que
compõem 51% da nossa população, mas ocupam apenas 15% das vagas na Câmara dos Deputados
(HAJE; BECKER, 2018).
Fonte: EnsineMe
 VOCÊ SABIA
O Brasil é um dos países mais atrasados do mundo em relação à participação das mulheres na política,
ocupando a 154ª posição no ranking de participação elaborado pela ONU, que compara 174 países.
Esses exemplos demonstram que uma minoria política não é necessariamente a que está em
desvantagem numérica na população, mas aquela que está distante das principais instâncias
coletivas de poder e decisão. Antes, trata-se de grupos que são sistematicamente marginalizados em
função de aspectos econômicos, sociais, culturais, físicos ou religiosos.
AS MINORIAS SOCIAIS SÃO AS COLETIVIDADES QUE
SOFREM PROCESSOS DE ESTIGMATIZAÇÃO E
DISCRIMINAÇÃO, RESULTANDO EM DIVERSAS FORMAS DE
DESIGUALDADE OU EXCLUSÃO SOCIAIS. SÃO EXEMPLOS
DE MINORIAS SOCIAIS, ATUALMENTE, NEGROS,
INDÍGENAS, IMIGRANTES, MULHERES, HOMOSSEXUAIS,
IDOSOS, MORADORES DE FAVELAS, PORTADORES DE
DEFICIÊNCIAS E MORADORES DE RUA.
(NOVO, 2019)
A desigualdade manifesta-se para além dos quadros políticos, como o Congresso Nacional, as
prefeituras, as assembleias ou os governos estaduais, em todos os âmbitos da sociedade.
PROCESSOS DE ESTEREOTIPIA
Essa imagem trata de uma propaganda de calças masculinas veiculada nos Estados Unidos nos anos
1960. Na peça publicitária, uma mulher é feita de tapete por um homem que pisa sobre sua cabeça e na
legenda se lê: “É bom ter uma mulher na casa”.
A imagem em questão reforça uma série de estereótipos sobre as relações entre homens e mulheres em
que os primeiros são retratados como superiores e as segundas como submissas. Esse imaginário é
ainda difundido por diversos setores da sociedade, e sua perpetuação faz com que a desigualdade entre
homens e mulheres seja tida como algo natural na sociedade. Chamamos isso de “naturalização”,
que é a inculcação de valores culturais dos quais perdemos o distanciamento crítico em função
da sua recorrência.
Fonte: propagandashistoricas.com.br
 Calças Dracon (machista) – Anos 1960.
O mesmo se pode dizer de estereótipos de cunho racista, homofóbico, xenófobo etc., que são
perpetuados por propagandas, novelas, programas televisivos, ou na mídia em geral. Há aí um reforço
sistemático de certas imagens estereotipadas que representam os grupos minoritários e que
retroalimentam a cultura da exclusão e estigmatização desses mesmos grupos.
O processo de estereotipia de populações memorizadas passa, então:
Pela ausência dessas figuras em espaços de poder, como os ambientes decisórios da política
institucional

Pelas representações midiáticas, que fazem circular certas imagens em detrimento de outras
A recorrente exibição de certos aspectos visuais, como imagens estereotipadas de mulheres, negros,
homossexuais, indígenas etc., significa também a invisibilidade de outros aspectos que poderiam
contribuir com a desconstrução dos estereótipos. Mas por que as grandes emissoras de televisão, as
revistas que mais vendem seus conteúdos e as empresas publicitárias arriscariam investir em imagens
cuja boa repercussão/circulação/aceitação não seria garantida, uma vez que esteja instituída uma
cultura de exclusão dessas minorias e repetição de estereótipos relacionados a essa lógica? Voltaremos
a essa questão mais adiante. Por hora, o que importa é reconhecer as dinâmicas de desigualdade
estabelecidas.
O PROCESSO DE ESTEREOTIPIA DE POPULAÇÕES MENORIZADAS
TAMBÉM PASSA PELA AUSÊNCIA DAS MINORIAS SOCIAIS NOS
ESPAÇOS DE PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO, COMO AS
UNIVERSIDADES, POR EXEMPLO, O QUE IMPEDE QUE OS
INTERESSES DESSES GRUPOS SE MANIFESTEM NAQUILO QUE É
DADO COMO VERDADES CIENTÍFICAS, ARTÍSTICAS E TÉCNICAS.
Voltemos à pergunta sobre por que a grande mídia investiria em imagens que vão contra os estereótipos
estabelecidos. Uma leitura atenta e crítica desse texto coloca a dúvida sobre se o que a mídia tem feito
atualmente é, de fato, a reprodução dos estereótipos tão alardeada pelos movimentos sociais. E
podemos pensar, nesse caso, nas campanhas publicitárias da Natura, por exemplo, grande empresa de
cosméticos brasileira.
 EXEMPLO
Uma busca rápida sobre o assunto na internet nos mostra as polêmicas dos últimos anos envolvendo as
campanhas publicitárias da Natura, grande empresa de cosméticos brasileira, como as campanhas de
Dia dos Namorados, que mostram casais gays presenteando-se com cosméticos da marca, além de
casais inter-raciais, pessoas negras, velhas ou gordas.
A marca tem assumido como estratégia de divulgação de seus produtos a quebra de estereótipos
relacionados a padrões de beleza como a campanha “sou mais que um rótulo”, que exibe mulheres
descolando de suas peles adesivos onde se pode ler “brava”, “histérica”, “mal resolvida”, “irritada” e
“chorona”, como metáfora para os estereótipos sociais normalmente usados para definir mulheres. A
modelo protagonista da campanha é uma mulher negra de cabelos crespos e volumosos, e a fotografia
de divulgação a mostra entre outras mulheres; com diversos biótipos, inclusive uma modelo de perna
amputada usando prótese mecânica.
Como a Natura, diversas outras marcas têm feito o mesmo, uma vez que o problema das minorias
políticas, pelas reivindicações dos movimentos sociais ao longo dos anos, vem ganhando notoriedade e,
portanto, contornos de um nicho de mercado inexplorado pelos mais diversos setores da economia.
Utilizar imagens de propaganda na contramão dos estereótipos passa a ser viável, em termos do risco
que isso implica para as empresas.
Enquanto os ciclos culturais de manutenção de desigualdades se sustentarem, a opressão de certos
grupos por outros, organizados em relações de poder estabelecidas na sociedade, tendem a se manter.
E com a opressão, a violência, em sua dimensão simbólica.
VIOLÊNCIA SIMBÓLICA E POLÍTICAS PÚBLICAS
Essa forma de dominação inculcada no imaginário social é definida por Bourdieu (2018) como “violência
simbólica”. Em suas palavras:
O QUE DENOMINO DE VIOLÊNCIA SIMBÓLICA OU
DOMINAÇÃO SIMBÓLICA, OU SEJA, FORMAS DE COERÇÃO
QUE SE BASEIAM EM ACORDOS NÃO CONSCIENTES
ENTRE AS ESTRUTURAS OBJETIVAS E AS ESTRUTURAS
MENTAIS.
(BOURDIEU, 2018)
Trata-se de uma forma de violência que pode ser reproduzida por todos os indivíduos, reforçando a
dominação de alguns grupos sobre os outros. A violência simbólica permeia as mentes dos
indivíduos que violentam ou são violentados, fazendo com que fenômenos como o racismo, o
machismo, a homofobia, entre outros, sejam reproduzidos cotidianamente.
Fonte: Shutterstock.com
Um bom exemplo seria o caso do homem que retém, escondidos, os documentos da própria
mulher/esposa com objetivo de impedir seu afastamento (ou mesmo fuga) da realidade imposta por ele.
Embora legalmente reconhecida como violência patrimonial, não deixa de ser uma violência simbólica
a partir do momento que um indivíduo(homem) se considera no direito de tomar decisões sobre outro
indivíduo (mulher) por entendê-lo inferior ou submisso.
Fonte: Shutterstock.com
Também podemos pensar nas interações das crianças na escola. Em como os indivíduos, em uma idade
em que estão descobrindo a si mesmos e aos outros, e ainda não têm condições socioemocionais para
a elaboração de críticas autônomas aos sistemas de dominação e relações de poder em que estão
inseridos, tanto reproduzem quanto se fragilizam diante desses jogos relacionais. Repetem os
preconceitos dos familiares, das gerações anteriores, que são os porta-vozes do que consideram “o
certo” e podem se mostrar tanto violentos quanto vulneráveis aos esquemas de opressão raciais, de
classe e aos estereótipos de maneira geral.
 ATENÇÃO
A escola seria um dos principais espaços onde a violência simbólica é exercida. Ao valorizar tipos
específicos de conhecimento em detrimento de outros, a instituição escolar muitas vezes contribui para
que minorias políticas sejam inferiorizadas simbolicamente.
Um exemplo é o fato de que, embora o Brasil seja o país com a maior população de origem africana do
mundo, até pouco tempo a história da África e de seus povos não era ensinada nas escolas. Isso mudou
com a Lei n. 10.639/2003, que entre outras coisas determinou o ensino obrigatório da história da África.
É muito recente que negros passaram a ter maior conhecimento sobre suas origens e as culturas
ancestrais dos povos africanos. Os efeitos desse tipo de apagamento são muito profundos e contribuem
enormemente para a manutenção dos preconceitos contra minorias políticas.
De volta à escritora Carolina Maria de Jesus, podemos citar outro trecho de sua obra em que ela reflete
sobre a invisibilização das mulheres, outro grupo que tem sua história apagada na sociedade brasileira.
Em uma passagem de Quarto de Despejo, a autora relata:
QUANDO EU ERA MENINA, O MEU SONHO ERA SER
HOMEM PARA DEFENDER O BRASIL, PORQUE EU LIA A
HISTÓRIA DO BRASIL E FICAVA SABENDO QUE EXISTIA
GUERRA, SÓ LIA OS NOMES MASCULINOS COMO
DEFENSORES DA PÁTRIA ENTÃO EU DIZIA PARA MINHA
MÃE: – POR QUE A SENHORA NÃO FAZ EU VIRAR HOMEM?
(JESUS, 1963)
A reflexão de Carolina Maria de Jesus demonstra de que forma a violência simbólica – nesse caso o
apagamento da contribuição das mulheres na história do Brasil – é inculcada no imaginário dos
indivíduos. Para combater essas formas de violência simbólica, que impedem que a sociedade se
desenvolva de forma mais justa e igualitária, é preciso criar políticas públicas, a exemplo da Lei n.
10.639/2003.
UMA SOCIEDADE REALMENTE DEMOCRÁTICA É AQUELA ONDE OS
INDIVÍDUOS NÃO SÃO DISCRIMINADOS POR ORIGEM, COR, RAÇA,
GÊNERO, CLASSE SOCIAL OU RELIGIÃO. PARA ISSO, É PRECISO
QUE AS INSTITUIÇÕES ESTATAIS GARANTAM QUE AS DIFERENÇAS
E AS INDIVIDUALIDADES DAS PESSOAS SEJAM RESPEITADAS,
DESDE QUE NÃO FIRAM OS DIREITOS UMAS DAS OUTRAS.
DE QUE FORMAS O ESTADO DEVERIA ATUAR, NA
PRÁTICA, NO ESTABELECIMENTO DESSAS
GARANTIAS?
RESPOSTA
O Estado Nacional Moderno já assumiu diversas formas ao longo do tempo. No Brasil, a forma atual do
Estado é reconhecida como sendo a de um Estado Democrático de Direito, o que significa que o seu
funcionamento acontece a partir de uma tripartição do poder do Estado: Executivo, Legislativo e Judiciário.
Para que haja uma coordenação harmoniosa das garantias dos direitos de grupos minoritários e dos direitos
individuais por parte do Estado, é necessário, inicialmente, que o equilíbrio de forças pactuado seja
respeitado.
javascript:void(0)
A relação entre democracia e direitos individuais foi o principal objeto de investigação do filósofo e
economista britânico John Stuart Mill, considerado um dos pais do liberalismo político. Em seu livro
Sobre a Liberdade, publicado originalmente em 1859, ele observou como a sociedade britânica escolhia
seus representantes e criava suas leis.
JOHN STUART MILL
John Stuart Mill (1806-1873) foi um filósofo inglês, um dos mais influentes pensadores do século
XIX, responsável por lançar as bases da revisão do utilitarismo como ideologia suprema e dedicou-
se ao estudo de numerosas questões sociais de seu tempo.
Fonte: ebiografia.com
Para Stuart Mill, o estabelecimento de cargos eletivos ocupados por representantes do povo criou a
impressão de que não havia mais por que temer a tirania, já que o povo não devia temer sua própria
vontade. Acontece que o povo pode desejar reprimir uma parte de si mesmo, ou seja, grupos numérica
ou politicamente minoritários.
Contra essa repressão, Stuart Mill observava que as leis devem definir mecanismos de proteção aos
grupos minoritários. A sociedade deveria respeitar a esfera individual, restringindo-se apenas à definição
de penalidades civis, estando proibida de envolver-se em assuntos referentes à alma e à conduta
individual.
O homem comum é movido por preferências individuais no que tange aos seus gostos, costumes e
moralidade; mas quando essas preferências individuais são transplantadas a nível público por homens
detentores da autoridade secular – transformando-se em leis –, o que há é incompreensão, abuso de
poder e o despertar do ódio.
O PODER QUE RESTRINGE O COMPORTAMENTO DOS INDIVÍDUOS
NA ESFERA PÚBLICA NÃO SE FUNDAMENTA EM SUAS
PREFERÊNCIAS, NO QUE É BOM PARA ELES, MAS NO QUE PODE
CAUSAR DANO A OUTREM. OU SEJA, A LIBERDADE INDIVIDUAL
ENCONTRA SEU LIMITE QUANDO PASSA A PREJUDICAR O OUTRO
E NESSES TERMOS É QUE DEVEM SER RESTRINGIDOS OU
DETERMINADOS OS CAMPOS DE ATUAÇÃO DO ESTADO. AS
POLÍTICAS PÚBLICAS DEVEM GARANTIR AS LIBERDADES
javascript:void(0)
INDIVIDUAIS DE MODO QUE A VONTADE DA MAIORIA NÃO IMPEÇA
A LIBERDADE DAS MINORIAS.
No vídeo a seguir, o especialista Dennis Novaes aprofunda o conceito de violência simbólica. Vamos
assistir!
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A RESPEITO DA DISCUSSÃO SOBRE MINORIAS POLÍTICAS, MARQUE A
ALTERNATIVA INCORRETA:
A) Minorias políticas são apenas aqueles grupos numericamente inferiores na sociedade. Os
descendentes de asiáticos no Brasil, por exemplo, são uma minoria porque representam 1,09% da
população.
B) As minorias são grupos sub-representados em espaços de poder na sociedade.
C) O conceito de minoria política não se restringe à ordem numérica da Matemática. Trata-se, na
verdade, de um conceito usado para falar da representatividade política.
D) Uma minoria política pode ser a maioria numérica em uma sociedade.
E) As minorias políticas geralmente sofrem com a violência simbólica.
2. TENDO ESTUDADO SOBRE O CONCEITO DE "VIOLÊNCIA SIMBÓLICA" DE
BOURDIEU, QUAL DAS ALTERNATIVAS ABAIXO REPRESENTA UM EXEMPLO DO
FENÔMENO DESCRITO PELO AUTOR?
A) Relações entre alunos e professores em que os alunos são agressivos, de maneira inadequada à
hierarquia estabelecida nas instituições de ensino.
B) Violência familiar e doméstica em que os abusos são entendidos como parte natural da dinâmica de
poder da casa.
C) O crime comum violento, como o caso dos assaltos na rua, em que as vítimas são surpreendidas
pelos meliantes que lhes subtraem seus bens.
D) Violência policial, em que as vítimas são mortas ao serem confundidas com criminosos gerando
revolta e comoção entre seus familiares e redes de vizinhança.
E) Nos casos em que pessoas sistematicamente aviltadas pela ordem social conseguem se rebelar e
procuram fazer valer seus direitos por meio da força.
GABARITO
1. A respeito da discussão sobre minorias políticas, marque a alternativa incorreta:
A alternativa "A " está correta.
A noção sociológica de minoria não é a mesma da Matemática. Um grupo numericamente maior pode
ser sistematicamente excluído dos principais espaços de poder na sociedade.
2. Tendo estudado sobre o conceito de "violência simbólica" de Bourdieu, qual das alternativas
abaixo representa um exemplo do fenômeno descrito pelo autor?
A alternativa "B " está correta.
Violência abrigada na hierarquia familiar (seja de homens sobre mulheres ou de pais sobre filhos) e
naturalizada porque entendida como parte do sistema de manutençãoda ordem naquele grupo pode ser
considerada como violência simbólica devido a estar entranhada na cultura de tal forma que leve ao não
reconhecimento da violência pela própria vítima.
MÓDULO 3
 Identificar a impunidade no âmbito social e a busca pela diminuição da violência cotidiana
PUNIÇÃO E TIPOS DE PENA
As perspectivas sobre a impunidade possuem uma variação disciplinar. E as Ciências Sociais podem
contribuir para uma apreciação histórica da “punição”, problematizando o seu lugar nas sociedades
contemporâneas, sobretudo no Brasil. Por exemplo, é possível em clássica abordagem sociológica
estabelecer um contraste entre as penas punitivas e as restitutivas (DURKHEIM, 1999). Quando um
crime é cometido, sua forma de reparação pode se processar de duas maneiras:
Reparação do dano causado

Punição àquele que comete o crime (quando a reparação do dano causado não for possível)
Pensemos, a título de exemplo, no crime de difamação, previsto pelo nosso Código Penal.
ART. 139. DIFAMAR ALGUÉM, IMPUTANDO-LHE FATO
OFENSIVO À SUA REPUTAÇÃO: PENA – DETENÇÃO, DE
TRÊS MESES A UM ANO, E MULTA.
(DECRETO-LEI 2.848/1940)
Fonte: Shutterstock
Quando aquele que causou o dano é condenado à pena de multa, entende-se que o valor pago restitui o
dano causado, restabelecendo a ordem das coisas, a “justiça”. Assim, se um indivíduo processa uma
empresa que lhe prestou um mau serviço, a empresa pode ser condenada a indenizá-lo, pagando um
valor que funciona, em sentido filosófico e material, como compensação por aquele mau serviço. Trata-
se de uma pena restitutiva, sob esse ponto de vista de entendimento da sociedade e suas formas de
regulação e ordem.
Fonte: Shutterstock
javascript:void(0)
javascript:void(0)
No caso da pena de detenção, reclusão (que são penas restritivas da liberdade do sujeito condenado) e,
no caso de ordenamentos jurídicos de outros Estados-nação que não o Brasil, da pena de morte, o que
está em jogo não é a reparação do dano causado via restituição material ou pagamento. Nesses casos,
aplicados como penas de maior severidade, a “restituição” acontece em um nível mais sutil, filosófico, e
que no limite passa por infligir sofrimento àquele que cometeu o crime.
 VOCÊ SABIA
Em muitos ordenamentos jurídicos antigos como o código de Hamurabi, por exemplo, havia a chamada
Lei de Talião. Talião vem do latim talio, talis e significa “tal qual”, “idêntico”. “Olho por olho, dente por
dente”. Assim, se um indivíduo batesse em seu pai, o que era considerado um ato contra o valor da
honra, sua mão deveria ser cortada; se matou, deveria ser morto. Essa lei é a antecessora dos
ordenamentos jurídicos atuais no sentido de estabelecimento de uma proporcionalidade da pena em
relação à lesão.
CÓDIGO DE HAMURABI
Khammu-rabi, rei da Babilônia no 18º século A.C., estendeu grandemente o seu império e
governou uma confederação de cidades-Estado. Erigiu, no fim do seu reinado, uma enorme
"estela" em diorito, na qual ele é retratado recebendo a insígnia do reinado e da justiça do rei
Marduk. Abaixo mandou escrever 21 colunas, 282 cláusulas que ficaram conhecidas como Código
de Hamurabi (embora abrangesse também antigas leis).
Fonte: dhnet.org.br
Historicamente, tratou-se de vulgarização da pena de morte, uma vez que o ofendido, especialmente se
provinha de camadas mais abastadas da sociedade, precisava sentir-se vingado.
Algumas leis do código de Hamurabi mostram a amplificação do escopo da pena de morte:
javascript:void(0)
SE ALGUÉM ROUBAR A PROPRIEDADE DE UM TEMPLO OU
CORTE, DEVE SER CONDENADO À MORTE, E AQUELE QUE
RECEBER O PRODUTO DO ROUBO DO LADRÃO DEVE SER
IGUALMENTE CONDENADO À MORTE. SE ALGUÉM
RECEBER EM SUA CASA UM ESCRAVO FUGITIVO DA
CORTE, HOMEM OU MULHER, E NÃO O TROUXER À
PROCLAMAÇÃO PÚBLICA NA CASA DO GOVERNANTE
LOCAL OU DE UM HOMEM LIVRE, O MESTRE DA CASA
DEVE SER CONDENADO À MORTE. SE ALGUÉM
ARROMBAR UMA CASA, ELE DEVERÁ SER CONDENADO À
MORTE NA FRENTE DO LOCAL DO ARROMBAMENTO E
SER ENTERRADO. SE UM CONSTRUTOR CONSTRUIR UMA
CASA PARA OUTREM, E NÃO A FIZER BEM FEITA, E SE A
CASA CAIR E MATAR SEU DONO, ENTÃO O CONSTRUTOR
DEVERÁ SER CONDENADO À MORTE. SE MORRER O
FILHO DO DONO DA CASA, O FILHO DO CONSTRUTOR
DEVERÁ SER CONDENADO À MORTE.
(QUEIROZ, 2019)
Esse tipo de penalidade que segue, quando em uma cultura religiosa mais primitiva, a lógica do
sacrifício, trata-se de uma restituição no sentido de estabelecimento da justiça, entendendo-se justiça
como um tipo de equilíbrio mágico que, se corrompido, pode ser cruel, pode trazer morte e dor, sendo
essa crueldade entendida como parte indelével de um bem maior.
Trata-se de uma austeridade que institui o sentido de importância e de valor da ordem e da própria vida,
abrigada nessa ordem social. Esse pensamento estaria na origem do próprio sentido da vingança, sendo
uma espécie de impulso pouco refinado que os indivíduos experimentam quando lesados por outrem.
 COMENTÁRIO
Neste caso, Cunha (2019) afirma podermos dizer que a pena é entendida como suplício e expiação,
aplicada passional e difusamente, muitas vezes associada à vergonha pública. Na abordagem
sociológica aqui adotada, é importante perceber que ela identifica uma genealogia das penas quanto a
esses dois tipos, ligada às sociedades primitivas ou complexas.
Para o autor, o direito punitivo faz muito mais sentido nas sociedades primitivas, como sociedades da
Idade Média e de períodos históricos anteriores, ou nas sociedades tribais onde exista uma comunidade
de valores considerados sacros e que deveriam ser incorruptíveis, enquanto as penas restitutivas teriam
surgido em momentos históricos subsequentes e seriam características das sociedades mais
contemporâneas e complexas, onde a divisão do trabalho é estratificada e existe uma pluralidade de
valores em disputa, possibilitada pelo multiculturalismo.
Nas sociedades complexas, como é o caso da nossa, temos assim um dispositivo jurídico que combina:
Penas restitutivas

Penas punitivas
As penas punitivas, expiatórias, são aplicadas quando o bem jurídico tutelado pelo Estado está
relacionado a um valor de importância central na nossa sociedade. Assim, atentados contra a “vida”, a
“infância”, a “propriedade privada”, por exemplo, são punidos com prisão e, em outros países, até
mesmo com a morte do criminoso.
Devemos acrescentar que a prisão, assim como a condenação à morte, possui um caráter prático,
entendido como a retirada daquele indivíduo do convívio social, uma vez que se considera que o
crime cometido possui enorme potencial ofensivo dos valores tutelados pelo Estado. Isso não exclui,
contudo, o sentido de expiação desse tipo de pena, basta observar o clamor público, a comoção social
em torno de crimes que ofendam nossos valores mais caros como crimes hediondos cometidos contra
crianças ou pessoas incapazes, por exemplo.
Fonte: Bain News Service – Divisão de Gravuras e Fotografias da Biblioteca do Congresso dos Estados
Unidos/Wikimedia Commons, Domínio público.
Podemos refletir sobre a gana social, feroz, por justiça quando se ofende gravemente a ordem social
mediante algumas práticas tradicionais do folclore nacional como a “malhação do Judas”, ou nas
iniciativas populares de “fazer justiça com as próprias mãos”, como os linchamentos de estupradores.
Fonte: Shutterstock.com
Podemos ainda pensar em instâncias medianas entre a iniciativa solitária ou espontânea dos que se
vingam de um crime brutal e as respostas do Estado a esses crimes pela aplicação das penalidades
previstas em lei. Entre uma coisa e outra, há os tribunais do tráfico e as tropas de milícias em grandes
cidades brasileiras. Esses grupos armados se estabelecem no vácuo do poder público e atendem,
muitas vezes, a uma demanda de ordem que o Estado não é capaz de suprir. Aplicam pena de morte em
casos como o de estupro e centralizam a aplicação da violência nas regiões onde atuam.
O PROBLEMA DO ESTABELECIMENTO DA
VERDADE
Curiosamente, o suplício do criminoso tem em si um valor social. É comose mediante aquele suplício
tivéssemos uma extirpação do próprio crime. Ao longo da história, a extirpação do crime pela expiação
do criminoso assumiu muitas formas no Ocidente, as quais flertavam com as cosmologias cristãs muitas
vezes, dada a importância cultural do cristianismo ao estabelecer os entendimentos do que seria justiça
e sua relação com a transcendência. É o caso da pena de morte na fogueira para mulheres acusadas de
bruxaria pelos tribunais do Santo Ofício.
Acreditava-se que o fogo pudesse “queimar a praga” espiritual e salvar a alma da mulher acometida
pelas tentações demoníacas. É o mesmo princípio dos sacrifícios rituais, em que se abre mão, oferece-
se ou se descarta algo importante em prol de um bem maior.
Fonte: Jan Luyken – Cl Roger-Viollet/Wikimedia Commons, Domínio público.
 Representação, feita por Jan Luyken (1685), da execução na fogueira de Anneken Hendriks
(Amsterdã, 1571), durante as Guerras Religiosas (Reforma e Contrarreforma), Jan Luyken – Cl Roger-
Viollet, 1685.
javascript:void(0)
SANTO OFÍCIO
A temática da Inquisição e do Santo Ofício também é bastante controversa. Embora não seja o
objetivo deste estudo aprofundar tais questões, vale destacar que, entre 1998 e 2004, um grupo de
30 renomados historiadores, especialistas no tema, realizaram o Simpósio Internacional sobre
as Inquisições. Por ter acontecido na Cidade do Vaticano (que abriu sua biblioteca para esses
profissionais), era de se esperar que o resultado fosse também controverso (BORROMEO, 2003).
 ATENÇÃO
As penas têm, nesses casos, sempre algum castigo que envolva o corpo do criminoso e sua aflição.
Essa relação com o corpo esteve presente, nos séculos passados, não apenas na pena, mas no
estabelecimento da verdade. Experimentos sociojurídicos envolvendo o corpo mostravam resultados
espirituais que eram interpretados pelos juristas numa fase do processo que era anterior à da aplicação
da pena.
Como era predominante a visão de que o suplício físico (desde jejuns a dores infligidas), aplicado de
forma voluntária ou imposta, purificaria a alma – e, consequentemente, a relação com Deus –, era
comum entender a importância do juramento ou confissão nesse processo (FOUCAULT, 2005). As
palavras ditas pelo acusado recebiam uma gama de interpretações, que implicaria pena.
Pode-se destacar ainda, nesse contexto, os chamados ordálios (provas físicas), que consistiam em
submeter uma pessoa a uma espécie de jogo, de luta com seu próprio corpo, para constatar se venceria
ou fracassaria.
Por exemplo, na época do Império Carolíngio, havia uma prova célebre imposta a quem fosse acusado
de assassinato em certas regiões do norte da França. O acusado devia andar sobre ferro em brasa e,
dois dias depois, se ainda tivesse cicatrizes, perdia o processo.
Havia ainda outras provas como o ordálio da água, que consistia em amarrar a mão direita ao pé
esquerdo de uma pessoa e atirá-la na água. Se ela não se afogasse, perdia o processo, porque a
própria água não a recebia bem e, se ela se afogasse, teria ganho o processo, visto que a água não a
teria rejeitado.
Todos esses afrontamentos do indivíduo ou de seu corpo com os elementos naturais são uma
transposição simbólica, cuja semântica deveria ser estudada, da própria luta dos indivíduos entre si. No
fundo, trata-se sempre de uma batalha, trata-se sempre de saber quem é o mais forte. No velho Direito
germânico, o processo é apenas a continuação regulamentada, ritualizada da guerra (FOUCAULT,
2005).
Ao longo das Idades Média e Moderna, diversos procedimentos de inquérito foram experimentados na
medida em que as resoluções dos litígios entre indivíduos foram sendo centralizadas pelo Estado. Com
isso, os métodos de depuração da verdade se formaram e se modificaram culturalmente.
IMPUNIDADE X PUNITIVISMO
O estabelecimento da verdade, das penas cabíveis aos crimes, a aplicação dessas penas e a garantia
de seu cumprimento pelo Estado Moderno concorrem para o estabelecimento do princípio da
“segurança jurídica”, que rege o entendimento de que ao Estado cabe prover às relações humanas o
maior grau de previsibilidade e estabilidade possível. A questão é que nossa cultura penal, que é
herdeira da Lei de Talião, desenvolveu-se historicamente fundamentada na importância da
extirpação do crime através da expiação do criminoso.
Temos, na verdade, toda uma cultura da punição que atravessa os séculos. Corrompê-la gera um
sentimento de insegurança nas pessoas, um temor de que se estabeleça a desordem social. Desde a
Inglaterra do séc. XVII já era chamado de “luta de todos contra todos” a um estado de natureza em que
os indivíduos, sem a regulação do Estado, estariam livres para exercer os seus impulsos uns sobre os
outros, como animais, fazendo valer, no final das contas, a lei do mais forte, sem nenhuma racionalidade
que organizasse o convívio humano em função de um princípio abstrato de justiça (HOBBES, 2003).
Fonte: Shutterstock.com
 Manifestação não pacífica, Hayk_Shalunts, 2020.
O CRIME É REVERSO DA LEI. ESTA, DE CERTA FORMA, CRIA O
CRIME, AO PREVER, TIPIFICAR DETERMINADA CONDUTA COMO
ILEGAL. ASSIM, UM ESTADO EFICIENTE DEVERIA REGULAR O
CONJUNTO DE LEIS QUE REGE O CONVÍVIO, PUNINDO
ADEQUADAMENTE OS INFRATORES E A RADICALIZAÇÃO DESSA
LÓGICA QUE CRIA E SUSTENTA UMA CULTURA DAS PUNIÇÕES,
ESTABELECENDO A APLICAÇÃO DA PENA COMO CONDIÇÃO
FUNDAMENTAL PARA A PAZ SOCIAL.
O sociólogo Loïc Wacquant fez um amplo estudo sobre a cultura punitivista na Europa e no continente
americano, mostrando a inserção dessa cultura no sistema capitalista de produção. Ele conclui sobre o
viés de classe social que recorta a aplicação de penalidades pelos Estados nos dois continentes.
Segundo o autor, o Estado mínimo preconizado pelo neoliberalismo – a “mão invisível” (SMITH, 2013) –
possui um revés: a mão de ferro do punitivismo que se abate preferencialmente sobre as classes
pobres.
LOÏC WACQUANT
Eu nasci e cresci no sul da França. Fiz meus estudos na França, inicialmente em Economia
Industrial e depois em Sociologia. Fui para os EUA em 1985 para fazer meu doutorado na
Universidade de Chicago. Trabalhei inicialmente sobre as desigualdades urbanas e a
marginalidade social na cidade.
Foi meu trabalho sobre a marginalidade urbana que me levou a encontrar a prisão, porque, para
fazer um estudo sobre a transformação do gueto negro de Chicago, inscrevi-me em um clube de
boxe do gueto como forma de fazer uma observação participante e descobri que todos os meus
colegas de boxe haviam passado pela prisão. Fiz esse trabalho de campo para me aproximar da
realidade cotidiana, em particular, da juventude negra e pobre do gueto de Chicago. (WACQUANT
apud BOCCO et al, 2008)
POLICIAMENTO PERMANENTE
O estabelecimento de políticas de segurança pública que passa pelo policiamento permanente de áreas
socioeconomicamente degradadas, como é o caso das citès na França, dos guetos norte-americanos e
das favelas brasileiras, com suas relativamente recentes Unidades de Polícia Pacificadora.
javascript:void(0)
javascript:void(0)
PRIVATIZAÇÃO DOS PRESÍDIOS
O processo de privatização dos presídios norte-americanos, que indica a transformação das penalidades
em um lucrativo negócio, uma vez que a reclusão penal é um sistema que muito onera o Estado e que
as prisões tendem a ser mal administradas pelo poder público, que não consegue, de fato, com esse
sistema, ressocializar o criminoso.
No fim das contas, é como se o encarceramento em massa fosse uma forma eficaz, na
contemporaneidade, de gerir o enorme contingente de mão de obra que não encontra lugar no
mercado de trabalho. E numa perspectiva ainda mais atual, a questão racial pode ser percebida,
presente na dinâmica cultural do encarceramento:
O QUE PODERÍAMOS CHAMAR DE GERME DO SISTEMA
CRIMINAL BRASILEIRO JÁ SE INICIOU PUNITIVISTA. DE
1500 A 1822, O QUE SERIA UM CÓDIGO PENAL ERAM AS
ORDENAÇÕES FILIPINAS, NOTADAMENTE O LIVRO V,
ONDE PREDOMINAVA A ESFERA PRIVADA E DA RELAÇÃO
SENHOR/PROPRIETÁRIO-ESCRAVIZADO/PROPRIEDADE.COM ISSO, A LÓGICA DO DIREITO PRIVADO IMPERAVA JÁ
NO NASCEDOURO DO NOSSO SISTEMA E, DADO O
CARÁTER VIOLENTO DO ESCRAVISMO, JÁ TINHA EM SEU
CERNE AS PRÁTICAS DE TORTURA, FOSSEM
PSICOLÓGICAS, FOSSEM FÍSICAS, POR MUTILAÇÕES E
ABUSOS SOFRIDOS PELOS ESCRAVIZADOS. HAVIA, COM
ISSO, DIFERENCIAÇÃO DAS PENAS ENTRE
ESCRAVIZADOS E LIVRES. UM EXEMPLO É A EXECUÇÃO
DA PENA CAPITAL EM QUE OS “BEM-NASCIDOS” ERAM
EXECUTADOS PELO MACHADO, CONSIDERADA UMA
MORTE DIGNA, E AOS DEMAIS ERA UTILIZADA A CORDA,
CONSIDERADA UMA MORTE DESONROSA.
POSTERIORMENTE ESSA DIFERENCIAÇÃO NÃO
́
javascript:void(0)
APARECERÁ NA LETRA DA LEI, MAS SERÁ́ EXERCIDA E
SENTIDA NA APLICAÇÃO DA PUNIÇÃO AOS RÉUS.
(BORGES, 2019)
A população carcerária, no Brasil atual, caracteriza bem isso, por ter uma cor de pele específica. Não
será porque pessoas negras delinquem mais que brancas, nem porque pessoas pobres (em sua maioria
negras) delinquem mais que as ricas. Há, talvez, um recorte social do tipo de crime cometido pelos
indivíduos e um direcionamento do aparato punitivista do Estado para esses crimes, que passam a ser
considerados de maior poder ofensivo, seja porque o racismo é estrutural e pode orientar
subliminarmente os próprios julgamentos e sistemas de acusações, seja porque pessoas pobres (em
sua maioria negras) não possuem os recursos necessários para custear profissionais com maior
formação e experiência.
Essa situação não nasceu em nossos dias:
COM RELAÇÃO AOS PADRÕES DE DETENÇÃO, AS
PESQUISAS DE 1810 A 1821 DEMONSTRAM O CRITÉRIO DE
COR. SÃO POUQUÍSSIMOS OS BRANCOS PRESOS. NO RIO
DE JANEIRO DA ÉPOCA (QUASE METADE DA POPULAÇÃO
ERA NEGRA), 80% DOS JULGADOS ERAM ESCRAVOS, 95%
NASCIDOS NA ÁFRICA, 19% EX-ESCRAVOS E APENAS 1%
LIVRES. NO SISTEMA PENAL DIRIGIDO À ESCRAVIDÃO, OS
PRINCIPAIS MOTIVOS PARA A PRISÃO DE ESCRAVOS
ERAM FUGA OU PRÁTICA DE CAPOEIRA.
(BATISTA, 2003)
Resta-nos, portanto, não somente aprofundar o conteúdo aqui apresentado, mas, principalmente,
compreender nosso papel nesse processo, buscando formas, cada vez mais eficientes, institucionais e
pessoais, de combatermos a violência.
No vídeo a seguir, o especialista Dennis Novaes apresenta a relação entre os conceitos de impunidade
e violência no contexto do tema estudado. Vamos assistir!
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. SOBRE A RELAÇÃO ABORDADA ENTRE PUNITIVISMO E IMPUNIDADE,
PODEMOS AFIRMAR QUE:
A) A impunidade pode ser pensada como uma propaganda de uma cultura punitivista.
B) A impunidade e o punitivismo são, na verdade, o mesmo processo social.
C) O punitivismo é um dispositivo cultural superado pelas sociedades contemporâneas após o
surgimento do que Durkheim chamou de penas restitutivas.
D) O punitivismo possui estreita relação com a igualdade de direitos na nossa sociedade.
E) A impunidade é o maior motivo da proliferação da violência no Brasil e no mundo.
2. PARA DURKHEIM, AS PENAS PUNITIVAS ESTÃO PRESENTES:
A) Exclusivamente nas sociedades complexas, uma vez que as sociedades primitivas possuem maior
habilidade política para a resolução de conflitos.
B) Exclusivamente nas sociedades contemporâneas tribais, em que os líderes políticos precisam de
fortes exemplos daquilo que não pode ser feito.
C) Exclusivamente em sociedades simples ou primitivas, como é o caso de tribos e das grandes
sociedades da Idade Média.
D) Principalmente em sociedades cujos valores sociais mais fundamentais e compartilhados por todos
possam sofrer atentados na forma de ilegalismos.
E) Tanto em sociedades simples quanto em sociedades complexas, tendo sido o fruto do
desenvolvimento das penas restitutivas.
GABARITO
1. Sobre a relação abordada entre punitivismo e impunidade, podemos afirmar que:
A alternativa "A " está correta.
A impunidade, vista através das lentes da desnaturalização, é um dispositivo cultural, uma imagem que
a sociedade pode ter a respeito de si mesma. De acordo com os exemplos históricos em que isso se dá,
tem a ver com o estabelecimento de uma demanda de justiça atrás do anseio da população por uma
mais ampla aplicação das punições legais e de um reforço cultural da importância da
punição/condenação.
2. Para Durkheim, as penas punitivas estão presentes:
A alternativa "D " está correta.
As penas punitivas são aquelas mais primitivas em termos de surgimento histórico, originadas em
sociedades nas quais a violação de valores importantes tinha um grande efeito emocional na população,
o que gerava a demanda por expiação/suplício do criminoso.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer dos três módulos, vimos como a violência é um fenômeno complexo com implicações
variadas para a vida em sociedade.
Em primeiro lugar, analisamos de que forma a violência esteve presente na constituição da identidade
nacional. O processo histórico que deu origem ao Brasil enquanto Estado-nação foi permeado por
conflitos e disputas violentas pelo domínio sobre um território.

Em seguida, refletimos sobre as populações menorizadas e como as políticas públicas podem fomentar
uma sociedade verdadeiramente democrática. Para isso, é necessário que os grupos alijados dos
espaços de poder tenham voz e sejam representados, mas também que as minorias tenham seus
direitos preservados.

Por fim, apresentamos como a punição e os tipos de pena se constituíram em diferentes períodos
históricos e sociedades. A relação entre impunidade e violência é mais complexa do que o senso comum
muitas vezes faz parecer e, por esse motivo, uma abordagem socioantropológica sobre esse fenômeno
é fundamental para a criação de políticas públicas eficazes.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BATISTA, V. M. O medo na cidade do Rio de Janeiro: dois tempos de uma história. Rio de Janeiro:
Revan, 2003
BOCCO, F.; NASCIMENTO, M. L.; COIMBRA, C. A segurança criminal como espetáculo para ocultar
a insegurança social: entrevista com Loïc Wacquant. In: Fractal, Rev. Psicol., Rio de Janeiro, v. 20, n.
1, p. 319-329, jun. 2008.
BORGES, J. O que é encarceramento em massa? São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.
BORROMEO, A. L'inquisizione: atti del Simposio internazionale, Città del Vaticano, 29-31 ottobre 1998.
Roma: Biblioteca apostólica vaticana, 2003. 788 páginas.
BOURDIEU, P. Sobre o Estado. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
BRASIL. Casa Civil. Decreto-lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Brasília, 1940.
BRASIL. Casa Civil. Lei n. 2.889, de 1 de outubro de 1956. Define e pune o crime de genocídio. Brasília,
1940.
CARNEIRO, A. S. Escritos de uma vida. São Paulo: Pólen Livros, 2018.
CUNHA, W. Três conceitos jurídico-sociológicos para a compreensão do caso da tatuagem na
testa. In: Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 24, n. 5726, 6 mar. 2019.
CYMROT, D. “Proibidão” de Colarinho-Branco. In: BATISTA, C. B. (org.). Tamborzão: olhares sobre a
criminalização do funk. Rio de Janeiro: Revan, 2013
DAHLBERG, L. L.; KRUG, E. G. Violência: um problema global de saúde pública. In: Ciência & Saúde
Coletiva, 11 (Sup.): 1163-1178, 2007.
DURKHEIM, E. Da divisão do trabalho social. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
ESCOBAR, H. DNA preserva história de populações escravizadas no genoma dos brasileiros. In:
Jornal da USP. São Paulo, USP, Caderno Ciências Biológicas, 4 nov. 2020.
FOUCAULT, M. A Verdade e as Formas Jurídicas. Rio de Janeiro: Nau, 2005.
FREYRE, G. Casa Grande e Senzala. Coleção Intérpretes do Brasil, v. II. Rio de Janeiro: Nova Aguiar,
2002.
FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO. FUNAI. Índios no Brasil / Quem são? [online] 2010. Consultado
em: 27 nov. 2020.
GONÇALVES, C. Número de negros na Câmara cresce, mas não chega a um quarto do total. In:
Agência Brasil de Comunicação. Publicado em: 9 out. 2018.
GRAMSCI, A. Maquiavel, a Política e o Estado Moderno. Tradução: Luiz Mário Gazzaneo. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1984.
HAJE, L.; BECKER, M. Bancada feminina na câmara sobre de 51 para 77 deputadas. In: Agência
Câmara de Notícias. Câmara dos Deputados, 8 out. 2018.
HOBBES, T. Leviatã, ou matéria, forma e poder de um Estadoeclesiástico e civil. (Tradução: João
Paulo Monteiro, Maria Beatriz Nizza da Silva e Cláudia Berliner. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
HOLLANDA, S. B. Raízes do Brasil. Coleção Intérpretes do Brasil, v. III. Rio de Janeiro: Nova Aguiar,
2002.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. IBGE. Brasil indígena. [online] 2010.
Consultado em: 27 nov. 2020.
INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. IPEA. Atlas da Violência. [online] 2020.
Consultado em: 27 nov. 2020.
JESUS, C. M. Quarto de Despejo. São Paulo: Edição Popular, 1963.
LÔBO, E. M. L. Conflito e continuidade na história brasileira. In: KEITH, H. H.; EDWARDS, S. F.
Conflito e continuidade na sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1970.
MELLO, M. A. S. et al. (org.). Favelas Cariocas Ontem e Hoje. Rio de Janeiro: Garamond, 2012.
MILL, J. S. Sobre a liberdade. Tradução: Pedro Madeira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.
MOURA, C. Os quilombos e a rebelião negra. São Paulo: Brasiliense, 1981
NASCIMENTO, M. Morro Velho. Álbum Milton Nascimento. Belo Horizonte: Codil, 1967.
NOVO, B. N. Direito das minorias. In: Revista Jus Navigandi, jul. 2019.
PUTMAN, R. Comunidade e Democracia: a experiência da Itália Moderna. Rio de Janeiro: FGV, 1999.
QUEIROZ, C. A. M. Comentários ao Código de Hamurabi. São Paulo: Pontes, 2019.
ROSSI, A. Navios portugueses e brasileiros fizeram mais de 9 mil viagens com africanos
escravizados. In: BBC News Brasil. São Paulo, 7 ago. 2018.
SMITH, A. A Mão Invisível. Rio de Janeiro: Cia das Letras, 2013.
WACQUANT, L. Punir os Pobres – a nova gestão da miséria nos Estados Unidos. A onda Punitiva.
Rio de Janeiro: Revan, 2001.
WEBER, M. A política como vocação. Tradução: Jean Melville. São Paulo: Martin Claret, 2008.
EXPLORE+
A obra de Michel Foucault é uma referência que atravessa diversas áreas disciplinares a respeito
do tema da punição. Para se aprofundar na discussão, leia o livro Vigiar e Punir, obra clássica do
autor.
Veja a dissertação de mestrado em Antropologia Social de Andréa Regina Moura Mendes sobre
o ritual popular de “malhação do Judas” na Semana Santa. O trabalho se chama: A Malhação do
Judas: rito e identidade.
Para conhecer a instigante reflexão de Eliane Tânia Martins de Freitas sobre a relação entre
crimes violentos e santificação nas crenças populares sobre cangaceiros famosos no Nordeste,
leia o artigo Violência e Sagrado, o que no criminoso anuncia o santo?
O livro O que é encarceramento em massa?, escrito por Juliana Borges, apresenta de forma
didática a situação dramática do sistema carcerário no Brasil. Somos um dos países que mais
prendem no mundo, mas isso não tem se refletido na redução dos índices de violência, pelo
contrário. A autora traz reflexões fundamentais para quem deseja compreender o encarceramento
e a violência no Brasil contemporâneo.
Para conhecer uma das polêmicas em torno da figura de Zumbi dos Palmares, leia a breve
reportagem da revista Veja (21 nov. 2015), assinada por Leandro Narloch e intitulada Zumbi tinha
escravos. E daí?.
Como forma de aprofundarmos a visão da relação dos indígenas com a terra, vale a leitura
apresentada por Thomas Woods (Historiador de Harvard) em seu artigo Os índios americanos
realmente eram ambientalistas?.
CONTEUDISTA
Dennis Novaes
 CURRÍCULO LATTES
Natânia Lopes
 CURRÍCULO LATTES
javascript:void(0);
javascript:void(0);

Outros materiais