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DESCRIÇÃO As atribuições do biomédico no banco de sangue e o estágio supervisionado obrigatório nessa área. PROPÓSITO Compreender as diferentes atribuições profissionais do biomédico no banco de sangue e as legislações que regulamentam o bom funcionamento desse serviço, incluindo os procedimentos técnicos que facilitam a atuação do graduando em Biomedicina no estágio supervisionado. ORIENTAÇÕES SOBRE UNIDADES DE MEDIDA Em nosso material, unidades de medida e números são escritos juntos (ex.: 25km) por questões de tecnologia e didáticas. No entanto, o Inmetro estabelece que deve existir um espaço entre o número e a unidade (ex.: 25 km). Logo, os relatórios técnicos e demais materiais escritos por você devem seguir o padrão internacional de separação dos números e das unidades. OBJETIVOS MÓDULO 1 Reconhecer as atribuições do biomédico habilitado em banco de sangue e o estágio nesta área MÓDULO 2 Identificar os requisitos de biossegurança e a estrutura física dos bancos de sangue MÓDULO 3 Descrever a rotina do biomédico habilitado em banco de sangue durante a realização dos procedimentos técnicos no serviço de hemoterapia INTRODUÇÃO Neste conteúdo, vamos aprender quais são as atribuições do biomédico no banco de sangue e o que é necessário para que o graduando termine o curso de Biomedicina e adquira a habilitação em hemoterapia, uma área que ao longo dos anos busca profissionais qualificados para garantir a qualidade e a segurança dos componentes derivados do sangue. Além disso, entenderemos quais procedimentos podem ser realizados pelo biomédico no serviço de hemoterapia e as normas de biossegurança que devem ser respeitadas nesse ambiente. Você terá a oportunidade de acompanhar tudo que o profissional biomédico habilitado pode realizar, bem como verá as diversas atividades geralmente realizadas durante o estágio, visto que o biomédico pode contribuir em várias etapas do ciclo do sangue, incluindo triagem clínica, coleta, processamento, realização de exames pré-transfusionais, armazenamento e distribuição dos hemocomponentes obtidos pelo fracionamento do sangue total. Abordaremos o que é realizado em cada etapa e adicionaremos conceitos fundamentais que vão facilitar a atuação do futuro biomédico no ambiente de estágio, com vistas a favorecer sua inclusão no mercado de trabalho. AVISO: orientações sobre unidades de medida. MÓDULO 1 Reconhecer as atribuições do biomédico habilitado em banco de sangue e o estágio nessa área ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL BIOMÉDICO: UM HISTÓRICO DE LUTA A Biomedicina é uma área científica que tem como base a Medicina e a Biologia. Ela proporciona o suporte que a saúde pública necessita para trabalhar com mais segurança e eficácia no campo da descoberta e prevenção, do tratamento e diagnóstico de determinadas doenças. Essa conquista é resultado de um histórico de luta dos biomédicos em favor do bem-estar das pessoas e a serviço da Saúde e da Ciência, contribuindo para uma melhor expectativa e qualidade de vida da população. Apesar do aumento da visibilidade do biomédico ao longo do tempo, pairam dúvidas com relação às atividades realizadas por este profissional e ainda o associam às funções exercidas pelo médico. Qual a função do biomédico na sociedade? O profissional biomédico desempenha um papel de grande importância na saúde pública do Brasil. Ele é normalmente conhecido como responsável por pesquisas associadas a doenças e diagnósticos. Foto: Shutterstock.com javascript:void(0) Atuação do biomédico no diagnóstico laboratorial. Na verdade, o profissional biomédico pode atuar em diversas áreas: Até o momento são mais de 30 habilitações profissionais disponíveis. Após estar habilitado na área escolhida, ele está capacitado a realizar procedimentos de apoio diagnóstico e atuar em pesquisa e investigação. Outras capacitações menos conhecidas incluem atividades de coordenação, direção, chefia, auditoria, supervisão e ensino. Ou seja, o biomédico, em geral, encontra-se nos bastidores atuantes em saúde pública. O crescimento profissional dos biomédicos foi acompanhado pelo aumento de cargos em hospitais, laboratórios, órgãos públicos de saúde, institutos de pesquisa e indústrias. Todas as conquistas atualmente documentadas são frutos das últimas décadas marcadas por longos períodos de luta para a regulamentação da profissão. Ao longo do tempo, a Biomedicina passou por diversas modificações curriculares, o que possibilitou a ampliação das suas habilitações e permitiu o aumento do mercado de trabalho. Nos últimos anos, a atuação de biomédicos em serviços de hemoterapia tem sido bastante requisitada, contando até com a possibilidade de residência após a graduação. HEMOTERAPIA E O PAPEL DO BIOMÉDICO O QUE É A HEMOTERAPIA? QUAL O PERFIL DOS PACIENTES BENEFICIADOS PELO ATENDIMENTO DOS BIOMÉDICOS QUE ATUAM NA ÁREA DE HEMOTERAPIA? A hemoterapia consiste no uso do sangue humano para o tratamento de condições clínicas em pacientes com doenças hematológicas ou não, em que a terapêutica transfusional é indicada como estratégia de manutenção ou restabelecimento das condições fisiológicas. Foto: Shutterstock Paciente recebendo transfusão sanguínea. Trabalhando no banco de sangue, o biomédico procura garantir a segurança e a qualidade do material a ser utilizado no tratamento de pacientes oncológicos ou por indivíduos que possuem determinados tipos de anemia, que foram expostos a cirurgias ou sofreram hemorragias causadas por traumas. ATENÇÃO A indicação de transfusão sanguínea deve ser atestada por prescrição médica. É necessária a avaliação do quadro clínico específico do paciente, sem a possibilidade de generalizações na indicação do tratamento transfusional. O biomédico não é habilitado para indicar a realização de transfusão, tampouco realizá-la. Esse profissional participa das atividades que normalmente antecedem a distribuição do sangue para uso. A HISTÓRIA DA HEMOTERAPIA E O PAPEL DO BIOMÉDICO NESSA ÁREA No Brasil, a hemoterapia buscou durante décadas por padronização e gerenciamento de qualidade nos locais que ofereciam esse tipo de serviço. Foram necessários muitos anos de árduo trabalho para atualmente termos hemocentros de qualidade e serviços de hemoterapia de excelência na maioria dos hospitais. Sabemos que, em 1920, surgiram os primeiros serviços de hemoterapia e, ao longo do tempo, houve expressivo crescimento de serviços especializados nessa área, entretanto realizados em locais simples e na presença de um médico transfusionista. Com o crescimento dos atendimentos, os problemas também aumentaram. Foram documentadas a falta de padronização nos serviços oferecidos, a estrutura precária nos estabelecimentos, somadas à falta de planejamento e à atuação de profissionais não qualificados. Muitos dos problemas relatados ocorriam em razão da ausência de regulamentação e normas legais, principalmente associados à triagem dos doadores de sangue – até a década de 1980 os doadores eram remunerados pelo ato. A partir da década de 1980, houve uma melhora nos serviços de hemoterapia prestados à população graças à criação do Programa Nacional de Sangue e Hemoderivados, que estabelecia uma ordenação do Sistema Hemoterápico no Brasil. Foram criados hemocentros nas principais cidades do país, tendo como diretrizes a doação voluntária não remunerada de sangue e medidas para segurança de doadores e receptores. No Brasil, a hemoterapia tem sido conduzida pela edição de resoluções e portarias de cunho sanitário e técnico a fim de dar suporte às atividades hemoterápicas. Atualmente, está vigente a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 31, de 28 de maio de 2009, que normatizou e padronizou os procedimentos hemoterápicos, incluindo procedimentos de coleta, processamento, testagem, armazenamento, transporte e utilização, com o objetivo de garantir a qualidade do sangue. Além da RDC nº 31, destacam-se a Portaria de Consolidação nº 5, de 28 de setembrode 2017, que consolidou as normas sobre as ações e os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (a hemoterapia é contemplada da página 222 à 353). Em 2016, foi publicada a RDC nº 75, alterando a RDC nº 34, de 11 de junho de 2014, e dispondo sobre as boas práticas no ciclo do sangue, tornando obrigatório o teste de hepatite B também pela metodologia de biologia molecular nos doadores de sangue. Imagem: Shutterstock.com QUANDO O BIOMÉDICO COMEÇOU A ATUAR NESSA ÁREA? No início da década de 1980, o Decreto 88.394/83 regulamentou a profissão e a atuação do Conselho Federal e Regional de Biomedicina. O biomédico pôde então iniciar suas atividades nos serviços de hemoterapia. Após duas décadas, ganhou ainda mais destaque na área com a publicação da Resolução CNE/CES 2, do Conselho Nacional de Educação, de 18 de fevereiro de 2003, que também atribuiu ao profissional biomédico a atuação na atividade de análises hematológicas. Dessa forma, o biomédico passou a se apresentar como profissional fundamental em estabelecimentos que realizassem técnicas baseadas na hemoterapia. Em 2010, foi publicada a Resolução de Diretoria Colegiada nº 57, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que ampliou ainda mais as atividades do biomédico no serviço de hemoterapia. A resolução determinou que o profissional biomédico pode realizar todos os procedimentos técnicos de banco de sangue, incluindo coleta, processamento do sangue total, realização dos exames hematológicos e imunológicos, manuseio de equipamentos de autotransfusão e, do mesmo modo, assumir direção, chefias técnicas e assessorias nas atividades independentemente de seu nível de complexidade. No entanto, essas funções devem ser atribuídas depois de sua habilitação na área. Foto: Shutterstock.com A coleta de sangue no serviço de hemoterapia ATENÇÃO A responsabilidade técnica pelo banco de sangue é atribuída somente a um profissional médico, especialista em hemoterapia ou hematologia. O profissional biomédico legalmente habilitado em banco de sangue poderá exercer todas as atividades inerentes a esse campo, com exceção do ato transfusional, da solicitação de pedidos de transfusão e da decisão de transfusões de emergências e com provas cruzadas incompatíveis. Vejamos dois exemplos que podem esclarecer, na prática, o papel do biomédico em relação às solicitações e decisões de transfusão: Uma solicitação médica de transfusão de concentrado de hemácias para um paciente com hematócrito de 25% e Hb: 8,9g/dL, indicação de anemia ferropriva. ou Um pedido de transfusão de concentrado de plaquetas para um paciente com púrpura trombocitopênica idiopática (PTI) sem sangramento, mas com contagem de plaquetas igual a 5000/mm3. O papel do biomédico é receber os pedidos e as amostras, verificar se ambos estão em conformidade pedido com localização do paciente no hospital (emergência, CTI etc.), indicação, exames laboratoriais, nome do paciente, prontuário, tipos de hemocomponentes solicitados, amostras com identificação do paciente, assinatura de quem coletou e data da coleta e, em seguida, realizar os testes pré- transfusionais e preparar os hemocomponentes a serem transfundidos. Esses dois casos não teriam indicação de transfusão. O biomédico, ao receber o pedido, deve saber que geralmente não são indicações transfusionais e comunicar ao médico responsável, ou ao médico hemoterapeuta. Quem faz essa avaliação e decide sobre a necessidade de transfusão são o médico hemoterapeuta e o médico assistente. Mas por que os dois casos citados não indicam transfusão? A anemia ferropriva é a anemia por deficiência de ferro, e a queda da hemoglobina e do hematócrito deve ser revertida a partir da utilização de medicamentos, como a suplementação de ferro. A causa dessa anemia também deve ser investigada com exames laboratoriais. Já a púrpura trombocitopênica idiopática (PTI) é uma doença autoimune, com etiologia desconhecida, que apresenta anticorpos anti-IgG contra a membrana plasmática plaquetária. O reconhecimento do anticorpo aderido à sua membrana pelos macrófagos localizados no baço e em outras áreas de tecido reticuloendotelial leva à sua destruição e, consequentemente, um menor tempo de vida médio plaquetário e menores contagens de plaquetas. Nesse paciente, não há indicação de transfusão profilática, a qual seria indicada apenas se o paciente estivesse com sangramento ativo. ESTÁGIO SUPERVISIONADO OBRIGATÓRIO NO BANCO DE SANGUE Os serviços de hemoterapia prestados no Brasil continuam evoluindo e a formação de profissionais qualificados para atuar nesse serviço é fundamental. Os profissionais biomédicos devem ser preparados e capacitados durante o curso de graduação, realizar estágio supervisionado na área, para ao final do curso obterem, junto ao Conselho Regional de Biomedicina (CRBM), a habilitação que permite a sua atuação nos serviços de hemoterapia. Como já sabemos, o estágio supervisionado obrigatório é uma atividade prática, realizada pelo aluno no final do curso, que proporciona maior conhecimento e segurança para o início da atuação profissional. Foto: Shutterstock.com Estagiário registrando as amostras dos doadores. Para realizar o estágio supervisionado no banco de sangue, é necessário que o estudante já tenha sido aprovado nas disciplinas que apresentam o conteúdo correlato à área de hemoterapia e esteja matriculado na disciplina de estágio. Esse estágio conta sempre com a supervisão de um professor da universidade e de um profissional habilitado no local da realização do estágio, que pode ser um biomédico registrado no CRBM ou um profissional graduado em outra categoria profissional, devidamente registrado em seu conselho, que possua especialidade compatível (Médico, farmacêutico ou biólogo) com a área a ser supervisionada no estágio. ONDE PROCURAR ESTÁGIO? O estudante deve buscar estágio em estabelecimentos que oferecem os serviços de hemoterapia, um serviço de saúde com a função de prestar assistência hemoterápica e/ou hematológica que pode coletar e processar o sangue, realizar testes de triagem laboratorial, armazenar e distribuir hemocomponentes e realizar transfusões sanguíneas. Essas instituições devem obrigatoriamente seguir alguns requisitos: instituições públicas ou privadas conveniadas com as Instituições de Ensino Superior (IES); organizações governamentais ou não governamentais que possam ofertar instalações e ambiente adequados capazes de proporcionar todas as condições necessárias para o desenvolvimento técnico e intelectual do aluno. AS VANTAGENS DE UM ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO BANCO DE SANGUE Durante o estágio, o aluno terá a oportunidade de atuar em diversos setores do banco de sangue, participando de todas as etapas do ciclo do sangue Desde a triagem do doador Até os exames pré e pós-transfusionais Deverá seguir todos os protocolos de biossegurança estabelecidos pelas normas vigentes durante a realização dos procedimentos hemoterápicos. O ESTÁGIO SUPERVISIONADO PERMITIRÁ A VIVÊNCIA DE SITUAÇÕES REAIS. 1 Imagem: Shutterstock.com O estagiário vai presenciar discussões e tomadas de decisão importantes, como a de um médico hemoterapeuta que decide não transfundir um paciente ou uma situação em que se opta por transfusão de emergência ou a transfusão de um hemocomponente (concentrado de hemácias) em que a prova cruzada foi incompatível. Além disso, o estagiário poderá entender como e o que fazer para garantir a segurança transfusional do paciente, entendendo, assim, por que existem vários critérios que tornam um doador inapto à doação, mesmo com a enorme demanda de transfusão de hemocomponentes. Normalmente, a quantidade de doação de sangue não supre a necessidade transfusional! Imagem: Shutterstock.com 2 3 Imagem: Shutterstock.com O estagiário também vai conhecer, na prática, as legislações, as etapas, as técnicas em hemoterapia e por que elas devem ser bem documentadas e reguladas, aimportância dos controles de qualidade dos reagentes e dos hemocomponentes e da rastreabilidade dos processos, visando sempre à saúde e à segurança dos pacientes que receberão a doação. E o aprendizado não para por aí. No estágio, são desenvolvidas habilidades de comunicação, postura profissional, atenção à saúde, liderança, práticas administrativas, gerenciamento, educação permanente, responsabilidade na execução das técnicas e processos em hemoterapia e, principalmente, o cuidado com o paciente e com o candidato à doação. Imagem: Shutterstock.com 4 O banco de sangue é uma área multidisciplinar que permite a troca de informações e experiências com outros profissionais, o que contribui também para o amadurecimento profissional e a ampliação dos conhecimentos na área de hemoterapia e hematologia. Mas não se esqueça: o estudo deve acompanhá-lo durante o estágio. Unir a prática ao estudo é fundamental para consolidar o conhecimento. Muitos estudantes de biomedicina têm dúvida se podem trabalhar futuramente no setor de hemoterapia sem a habilitação em banco de sangue. A resposta é sim! Os profissionais habilitados em patologia clínica (Análises clínicas) que trabalham em bancos de sangue podem realizar análises e emitir laudos, ou seja, assumir e executar o processamento de sangue, suas sorologias e os exames pré e pós- transfusionais. Já o profissional habilitado em banco de sangue tem a permissão para atuar em outros setores como a captação e a triagem de doadores Durante o estágio, você, aluno de graduação do curso de Biomedicina, pode acompanhar e aprender passo a passo os procedimentos realizados rotineiramente pelo profissional biomédico. ATENÇÃO Dedique-se durante o período de estágio. Seu empenho pode contribuir para sua efetivação no local após o término da graduação. A INSCRIÇÃO DO PROFISSIONAL NO CRBM Para solicitar a habilitação no Conselho Regional de Biomedicina (CRBM) para exercer as atividades na área de banco de sangue, o biomédico deve apresentar cópias e originais dos documentos de identificação individual, foto, e preencher um requerimento em que constará a especialização profissional. Também deve incluir o histórico escolar com a área do estágio supervisionado (mínimo de 500 horas para habilitação) e o certificado de conclusão do curso. Para exercer a atividade biomédica, é indispensável a prévia inscrição do profissional no CRBM. VEM QUE EU TE EXPLICO! A participação do biomédico na produção de hemocomponentes de qualidade. A especialista Mariele Souza apresenta os componentes necessários para obtenção de qualidade total no banco de sangue e como o biomédico pode contribuir para esse processo. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. VIMOS QUE O BIOMÉDICO PODE TRABALHAR EM DIVERSOS SETORES DO BANCO DE SANGUE, DE ACORDO COM O POSICIONAMENTO DAS NORMAS VIGENTES. EM RELAÇÃO AOS LOCAIS EM QUE UM BIOMÉDICO PODE ATUAR, ANALISE AS ALTERNATIVAS A SEGUIR: I. EXAMES IMUNOLÓGICOS E HEMATOLÓGICOS II. PROCESSAMENTO DO SANGUE TOTAL III. ATO TRANSFUSIONAL IV. ASSUMIR CHEFIAS TÉCNICAS, ASSESSORIAS E DIREÇÃO DE UNIDADES É CORRETO O QUE SE AFIRMA EM: A) I, II e III B) I, II e IV C) I e II D) I e III E) I e IV 2. ATUALMENTE, O CFBM PERMITE QUE O PROFISSIONAL BIOMÉDICO EXECUTE O PROCESSAMENTO DE SANGUE, SOROLOGIAS E EXAMES PRÉ- TRANSFUSIONAIS NO SERVIÇO DE HEMOTERAPIA. PARA A REALIZAÇÃO DAS PRÁTICAS MENCIONADAS, ASSINALE QUAIS HABILITAÇÕES O BIOMÉDICO DEVE TER: A) Banco de sangue e/ou bioquímica. B) Microbiologia e/ou imunologia. C) Banco de sangue e/ou patologia clínica (análise clínica). D) Banco de sangue e/ou imunologia. E) Microbiologia e/ou banco de sangue. GABARITO 1. Vimos que o biomédico pode trabalhar em diversos setores do banco de sangue, de acordo com o posicionamento das normas vigentes. Em relação aos locais em que um biomédico pode atuar, analise as alternativas a seguir: I. Exames imunológicos e hematológicos II. Processamento do sangue total III. Ato transfusional IV. Assumir chefias técnicas, assessorias e direção de unidades É correto o que se afirma em: A alternativa "B " está correta. De acordo com as normas vigentes, fica estabelecido que o biomédico pode executar a coleta de sangue, processamento da amostra, realizar exames pré-transfusionais, assumir chefias técnicas, assessorias e direção de unidades, manusear equipamentos de autotransfusão, com exceção do ato transfusional. 2. Atualmente, o CFBM permite que o profissional biomédico execute o processamento de sangue, sorologias e exames pré-transfusionais no serviço de hemoterapia. Para a realização das práticas mencionadas, assinale quais habilitações o biomédico deve ter: A alternativa "C " está correta. Os profissionais habilitados tanto em banco de sangue como em patologia clínica podem realizar análises e emitir laudos nas áreas de banco de sangue, ou seja, assumir e executar o processamento de sangue, sorologias e exames pré e pós-transfusionais. No entanto, apenas podem participar da coleta e triagem de doadores aqueles habilitados no banco de sangue. MÓDULO 2 Identificar os requisitos de biossegurança e a estrutura física dos bancos de sangue BIOSSEGURANÇA E OS RISCOS DO BANCO DE SANGUE Para manter a qualidade dos hemocomponentes produzidos no banco de sangue e proporcionar segurança aos profissionais biomédicos e aos que também participam das etapas do ciclo do sangue é necessário compreender e seguir as normas de biossegurança. BIOSEGURANÇA A biossegurança é constituída por um conjunto de ações que têm o objetivo de prevenir a ocorrência de acidentes e proteger o trabalhador. Visa à saúde do homem e dos animais, à preservação do meio ambiente e à qualidade dos resultados. Para isso, é necessário que o serviço de hemoterapia desenvolva programas e treinamentos para reduzir os riscos existentes, garantindo a segurança dos receptores, doadores e funcionários. A QUAIS TIPOS DE RISCOS OS ESTAGIÁRIOS E OS PROFISSIONAIS DEVEM ESTAR ATENTOS? Toda atividade apresenta riscos à integridade física do profissional, entretanto é possível minimizá-los. Os riscos ocupacionais que podem gerar efeitos à saúde a curto, médio e longo prazos são classificados a seguir, clique e conheça cada um. Foto: Shutterstock.com Material perfurocortante utilizado no banco de sangue. RISCO BIOLÓGICO Existe a possibilidade do contato direto com o sangue do doador ou do receptor de sangue, que pode conter microrganismo patogênico. Lembre-se de que as bolsas de sangue são coletadas antes da realização dos testes sorológicos e que nem todos os receptores de sangue tem sorologia conhecida. RISCO QUÍMICO Exposição a substâncias com características tóxicas ou corrosivas durante a rotina laboratorial como, por exemplo, os tampões e reagentes utilizados nos exames sorológicos. RISCO ERGONÔMICO Profissionais com carga horária de trabalho excessiva e aqueles que trabalham mantendo uma postura corporal inadequada. RISCO FÍSICO Os riscos físicos (que incluem ruído, calor e radiações) existem em menor proporção quando comparados aos tipos mencionados anteriormente. RISCO DE ACIDENTE Os biomédicos devem sempre trabalhar com atenção para minimizar os riscos! Ainda mais porque os bancos de sangue têm laboratórios equipados com diferentes vidrarias e a coleta expõe os envolvidos a material perfurocortante. COMO MINIMIZAR RISCOS NO BANCO DE SANGUE O profissional que atua no serviço de hemoterapia pode minimizar os riscos de contrair infecção em decorrência da manipulação de material biológico. Vejamos os cuidados básicos indicados aos biomédicos. LAVAGEM DE MÃOS A lavagem correta das mãos é fundamental antes e após a manipulação de agentes de risco, bem como antes de sair dos laboratórios. Foto: Shutterstock.com A lavagem correta das mãos minimiza riscos de infecção. EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL Os profissionais atuantes no banco de sangue devem estar atentos ao uso de equipamentos de proteção individual(EPI) e de equipamentos de proteção coletiva. Os EPIs, descartáveis ou não, devem ser oferecidos pelo serviço de hemoterapia em número adequado e armazenados em locais de fácil acesso Os biomédicos que trabalham na área técnica devem utilizar luvas descartáveis, máscaras, toucas, óculos de proteção, jalecos de manga longas, evitar a utilização de adornos como brincos, maquiagem, unhas de porcelana; estar sempre com o cabelo preso, sapato fechado e calças compridas. Foto: Shutterstock.com EPIs utilizados na área de hemoterapia. Para minimizar a infecção por vírus e bactérias, é necessário que todos os profissionais estejam vacinados contra doenças como rubéola, tétano, gripe, covid, hepatites, entre outras e seguir os procedimentos operacionais padrão de forma organizada é outra prática que contribui para reduzir os riscos biológicos. É fundamental a existência do mapa de risco em local de fácil visualização. Esse mapa consiste na representação gráfica do reconhecimento dos riscos existentes no ambiente de trabalho por meio de círculos de diferentes tamanhos e cores Imagem: Evelynferreira / Wikimedia Commons / CC BY-SA 4.0 Mapa de risco ocupacional setorial. DESCARTE DE RESÍDUOS O descarte correto dos resíduos de saúde produzidos pelo banco de sangue também contribui para a redução da ocorrência de acidentes e infecções. Todos os resíduos devem ser descartados segundo as normas da Resolução de nº 222, de 28 de março de 2018. Com base nesse documento, os estabelecimentos devem apresentar um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde que contemple os seguintes aspectos: geração, segregação, acondicionamento, coleta, armazenamento, transporte, tratamento e disposição final dos resíduos gerados, ações de proteção de saúde pública e meio ambiente. A RDC nº 222/2018 classifica os resíduos de saúde em cinco grupos: A, B, C, D e E. Em um banco de sangue os resíduos são do grupo A, B, D e E. GRUPO A Foto: Shutterstock.com Saco de acondicionamento de resíduos grupo A. As bolsas de sangue são classificadas como resíduos do grupo A, ou seja, resíduos com a possível presença de agentes biológicos que, por suas características, podem apresentar riscos de infecção. Os resíduos do tipo A são divididos ainda em cinco subgrupos (de A1 a A5). As bolsas vazias ou que apresentam volume residual pós-transfusão devem ser acondicionadas em saco branco leitoso e encaminhadas para a disposição final ambientalmente adequada. Elas se enquadram no subgrupo A4. Foto: Shutterstock.com Bolsa de sangue com volume residual. Os hemocomponentes de doadores não aptos pelos exames sorológicos ou aqueles que perderam o prazo de validade, bem como as bolsas de sangue total destinadas a descarte pela coleta insuficiente (porque extrapolaram o volume de coleta ou porque o sistema ou a bolsa abriu, com possível contaminação) devem ser armazenados em sacos vermelhos até 2/3 da sua capacidade e submetidos a tratamento prévio (utilizando processos físicos ou químicos previamente validados para a redução ou eliminação da carga microbiana) antes da disposição final. Nesses casos, tais resíduos são classificados como A1. As amostras de sangue do doador e do receptor destinadas aos exames laboratoriais também se enquadram nesse subgrupo. Foto: Shutterstock.com Bolsas de sangue com volume residual são resíduos A1. GRUPO B Os resíduos do grupo B, incluem sobras de diluentes, tampão de lavagem; conservantes (fenol e azida), efluentes de equipamentos – gerados durante os exames sorológicos; Sobra de reagentes de imuno- hematologia e ainda sobra de fator de coagulação ou fator de coagulação vencido e sobras de medicamentos e medicamentos vencidos. Como esses resíduos são descartados de diferentes maneiras, você deve consultar a legislação antes de realizar o descarte. Por exemplo, efluentes de equipamentos devem ser descartados diretamente no esgoto, mas os medicamentos precisam passar por incineração e depois ser encaminhados a um aterro sanitário ou aterro classe I (a depender do risco das cinzas da incineração). GRUPO D Imagem: Shutterstock.com Resíduos do grupo D Os resíduos do grupo D, incluem os resíduos comuns, que não apresentam riscos, podendo ser equivalentes a resíduos domésticos. Exemplos de resíduos: restos de comida, papel, materiais de áreas administrativas. Esses resíduos devem ser descartados em sacos de lixo comum. GRUPO E Foto: Shutterstock.com Descarte de resíduos do grupo E Os resíduos perfurocortantes e vidrarias quebradas devem ser descartados de forma cuidadosa, com o auxílio de pá de lixo ou pinças, em recipientes identificados, rígidos, providos de tampa, resistentes à punctura, ruptura e vazamento. SAIBA MAIS Segundo a RDC nº 34, de 11 de junho de 2014, o sangue e os componentes obtidos nos serviços de hemoterapia são produtos biológicos para uso terapêutico, sob regime de vigilância sanitária, dispensados de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). ESTRUTURA DO BANCO DE SANGUE Outro aspecto que contribui para a manutenção da integridade física e mental dos profissionais são as instalações físicas do ambiente de trabalho, que devem ser feitas visando à saúde ocupacional dos funcionários e minimizando riscos. Para isso, as estruturas devem seguir a legislação, mantendo, por exemplo, as distâncias preconizadas dentro de um laboratório de apoio transfusional, com locais de descarte e armazenamento de resíduos segregados, minimizando o risco de contaminação biológica dos funcionários. Imagem: Shutterstock.com Antes do início da construção ou durante a reestruturação do banco de sangue, o projeto arquitetônico precisa ser aprovado pelo órgão de vigilância sanitária competente. No Brasil, os serviços de saúde devem obedecer às normas preconizadas na RDC Nº 50, de 21 de fevereiro de 2002. Essa resolução estabelece o regulamento técnico sobre o planejamento, programação, elaboração, avaliação e aprovação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde em todo o território nacional, na área pública e privada, compreendendo: As construções novas de estabelecimentos assistenciais de saúde de todo o país. As áreas a serem ampliadas de estabelecimentos assistenciais de saúde já existentes. As reformas de estabelecimentos assistenciais de saúde já existentes e os anteriormente não destinados a estabelecimentos de saúde. Além disso, os serviços de hemoterapia devem seguir as normas específicas da área. O projeto deve deixar claro que os ambientes serão separados de acordo com as atividades desenvolvidas no local, já que algumas necessitam de áreas ou salas exclusivas, incluindo o ambiente de triagem clínica. As instalações laboratoriais devem ser adequadamente projetadas para oferecer condições seguras de trabalho. Vamos detalhar alguns pontos importantes. Segundo a RDC nº 34, de 11 de junho de 2014, A ESTRUTURA FÍSICA DO SERVIÇO DE HEMOTERAPIA DEVE SER PROJETADA, CONSTRUÍDA E MANTIDA DE MODO A GARANTIR SUA INTEGRIDADE DIANTE DOS EFEITOS DO TEMPO, VARIAÇÕES CLIMÁTICAS, UTILIZAÇÃO DE AGENTES DE LIMPEZA, POSSÍVEIS INFILTRAÇÕES, BEM COMO DISPOR DE PROCESSOS DEFINIDOS PARA CONTROLE DE PRAGAS, INCLUINDO DISPOSITIVOS CONTRA ENTRADA DE ANIMAIS. Além disso, o fornecimento de energia elétrica, a iluminação e a climatização devem estar garantidos para permitir o desenvolvimento das atividades do ciclo do sangue, a conservação de materiais, insumos, produtos, o funcionamento dos equipamentos e o bem-estar das pessoas envolvidas. Os processos devem estar validados (para a garantia da qualidade dos hemocomponentes gerados) e documentados; e os procedimentos operacionais padrão estabelecidos, bem como as normas de biossegurança e um plano de contingência para situações de falhas operacionais. ATENÇÃO Todos os registros precisam ter sua integridade garantida e permanecer arquivados pelo período mínimo de 20 (vinte) anos, de forma tal que sejamdisponibilizados e recuperados sempre que necessário. Os laboratórios onde são realizados os testes hematológicos e imunológicos devem apresentar os seguintes aspectos: Espaço amplo para permitir o trabalho com segurança e facilitar a limpeza e manutenção. Piso impermeável e resistente aos produtos químicos utilizados na limpeza. A parede e o teto devem seguir as mesmas características. Tubulação exposta afastada das paredes. Bancadas impermeáveis a líquidos e resistentes aos produtos químicos. Espaço entre os equipamentos para permitir a limpeza de toda a área. Materiais de uso diário podem ser armazenados dentro do laboratório, entretanto nunca sobre as bancadas. Portas sempre fechadas. Área destinada para guardar objetos pessoais e armazenar alimentos para consumo fora do laboratório. Geradores que se ligam automaticamente em setores que dispõem de freezer, câmaras frias e cabines de segurança biológica. Para garantir um serviço de excelência, antes de iniciar as atividades no banco de sangue, os profissionais envolvidos devem passar por um programa de capacitação. Esse programa precisa ser oferecido de forma constante também para os que já atuam há algum tempo no estabelecimento. Além disso, devem ser realizados treinamentos periódicos que permitam o conhecimento e a identificação das práticas associadas ao cumprimento da biossegurança, o que contribui para a minimização da ocorrência de acidentes durante a realização dos procedimentos hemoterápicos e, por fim, um atendimento de qualidade. ESTRUTURA DE UM SERVIÇO DE HEMOTERAPIA O especialista Thiago Vianna de Carvalho entrevista Cirley Santos da Silva sobre os pontos importantes da estrutura de uma agência transfusional. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. VIMOS QUE O DESCARTE DE RESÍDUOS EM UM SERVIÇO DE HEMOTERAPIA (BANCO DE SANGUE) DEVE SER FEITO SEGUNDO AS NORMAS DA RDC Nº 222, DE 28 DE MARÇO DE 2018. SOBRE OS DESCARTES DE RESÍDUOS, ANALISE AS AFIRMATIVAS A SEGUIR: I. OS MATERIAIS PERFUROCORTANTES UTILIZADOS PARA A COLETA DE AMOSTRAS SÃO RESÍDUOS DA CLASSE E. II. TODAS AS BOLSAS DE SANGUE DESTINADAS A DESCARTE SÃO CLASSIFICADAS COM RESÍDUOS DO TIPO A4. III. AS BOLSAS DE SANGUE VAZIAS SÃO CLASSIFICADAS COMO A1 E PRECISAM DE TRATAMENTO PRÉVIO ANTES DA DISPOSIÇÃO FINAL. É CORRETO O QUE SE AFIRMA EM: A) I B) II C) III D) I e II E) I e III 2. A ESTRUTURA FÍSICA DOS BANCOS DE SANGUE DEVE SEGUIR NORMAS E PADRÕES ESTABELECIDOS POR LEI PARA GARANTIR SUA INTEGRIDADE DIANTE DOS EFEITOS DO TEMPO, DAS VARIAÇÕES CLIMÁTICAS, DA UTILIZAÇÃO DE AGENTES DE LIMPEZA E DAS POSSÍVEIS INFILTRAÇÕES. SOBRE ESSE ASSUNTO, ANALISE AS AFIRMATIVAS A SEGUIR E ASSINALE A CORRETA. A) As bancadas devem ser permeáveis a líquidos e resistentes aos produtos químicos. B) O chão deve ser permeável e resistente a produtos químicos utilizados na limpeza. C) Todos os registros devem ter sua integridade garantida e permanecer arquivados pelo período mínimo de dez anos. D) O ambiente deve ser amplo para permitir o trabalho com segurança e facilitar a limpeza e manutenção. E) A área destinada a guardar objetos pessoais e a armazenar alimentos para consumo pode estar dentro do laboratório. GABARITO 1. Vimos que o descarte de resíduos em um serviço de hemoterapia (banco de sangue) deve ser feito segundo as normas da RDC nº 222, de 28 de março de 2018. Sobre os descartes de resíduos, analise as afirmativas a seguir: I. Os materiais perfurocortantes utilizados para a coleta de amostras são resíduos da classe E. II. Todas as bolsas de sangue destinadas a descarte são classificadas com resíduos do tipo A4. III. As bolsas de sangue vazias são classificadas como A1 e precisam de tratamento prévio antes da disposição final. É correto o que se afirma em: A alternativa "A " está correta. Segundo a RDC nº 222/2018, as bolsas de sangue destinadas ao descarte são classificadas como resíduos do grupo A, que apresenta cinco subclassificações. De acordo com a realidade de um banco de sangue, teremos bolsas classificadas como resíduos A1 e A4. As bolsas de sangue com grande volume que foram descartadas pela sorologia ou pela inaptidão do doador e que devem ser tratadas antes da deposição final são classificadas como A1. As bolsas classificadas como A4 são bolsas vazias ou com volume residual que apenas devem ser acondicionadas em sacos leitosos, não precisam de tratamento prévio. Os materiais perfurocortantes são resíduos do tipo E. 2. A estrutura física dos bancos de sangue deve seguir normas e padrões estabelecidos por lei para garantir sua integridade diante dos efeitos do tempo, das variações climáticas, da utilização de agentes de limpeza e das possíveis infiltrações. Sobre esse assunto, analise as afirmativas a seguir e assinale a correta. A alternativa "D " está correta. Além de amplo, o ambiente deve ter as bancadas e o chão impermeáveis a líquidos e resistentes aos produtos químicos. Todos os registros devem ter sua integridade garantida e permanecer arquivados pelo período mínimo de 20 anos. Os objetos pessoais e de consumo pessoal não podem estar dentro do laboratório. MÓDULO 3 Descrever a rotina do biomédico habilitado em banco de sangue durante a realização dos procedimentos técnicos no serviço de hemoterapia CAPTAÇÃO E TRIAGEM DOS DOADORES DE SANGUE Apesar de todos os avanços tecnológicos e científicos na área da saúde, o sangue utilizado para doação em humanos é um material único, obtido apenas a partir da coleta em humanos. Com a centrifugação do sangue total, é possível obter os hemocomponentes que são utilizados de forma constante em intervenções médicas. Imagem: Shutterstock.com A separação dos componentes sanguíneos na bolsa de sangue total é feita após a centrifugação e acontece da mesma forma do que nas amostras de sangue coletadas em tubos. Após a centrifugação, a disposição das células é a mesma do que observado nos tubos de sangue centrifugados. SAIBA MAIS Você sabe a diferença entre sangue total e hemocomponente? O sangue total é o sangue humano obtido a partir da doação de sangue, já os hemocomponentes são os produtos derivados do sangue total ou do plasma, obtidos por meio de técnicas de centrifugação. Os bancos de sangue públicos ou privados apresentam um processo sistemático que abrange as atividades de: Imagem: Gian Corapi Esse processo é denominado ciclo do sangue. Todas essas etapas precisam ser realizadas por profissionais capacitados e seguir as normas da RDC nº 34/2014 e da RDC nº 75/2016, que dispõem sobre as boas práticas no ciclo do sangue. Essas normas têm como objetivo não apenas garantir a qualidade do material que será distribuído, mas também a segurança do profissional. Agora vamos entender o papel do Biomédico no ciclo do sangue. CAPTAÇÃO Os bancos de sangue têm dificuldades em manter o estoque de hemocomponentes para atender às necessidades específicas e emergenciais da população. Para reduzir esse problema, é necessário um setor responsável pela captação de doadores. Os profissionais biomédicos podem participar ativamente na captação. Assim como outros profissionais da área da saúde. O profissional da captação deve se comunicar com a comunidade e com os doadores de sangue já cadastrados a fim de conscientizá-los e educá-los para a doação voluntária e contínua. A comunicação pode ocorrer de forma interpessoal, a partir de mensagens enviadas por e-mail e até mesmo por telefonemas para um candidato. O processo de captação também pode atingir grupos por meio da distribuição de panfletos ou pela divulgação em redes sociais e mídia televisiva. Esta etapa de comunicação é fundamental, porque a ausência de candidato à doação impede a concretização do ciclo do sangue, gerando baixos estoques de material para a transfusão. Por isso, o profissional precisa usar diferentes formas de orientação e sensibilização que atraiam os candidatos em potencial. Fique claro que a doação de sangue deve servoluntária, anônima e altruísta, não devendo o doador receber qualquer remuneração ou benefício. COMO O CAPTADOR PODE CONVENCER A POPULAÇÃO A REALIZAR A DOAÇÃO DE SANGUE? O profissional deve apresentar boa capacidade de comunicação, ser cordial e confiável. Deve utilizar mensagens que motivem a população, baseadas no desejo de ajudar o próximo. Mitos e inverdades devem ser esclarecidos à população. Veja alguns exemplos: 1. Doar sangue não afina e nem engrossa o sangue. 2. Doar sangue não cria dependência. 3. Doar sangue não emagrece e nem engorda. 4. Doar sangue não causa doença. Imagem: Shutterstock.com A doação de sangue é voluntária, anônima e altruísta. Durante a captação de doadores, é necessário informar as condições básicas e necessárias para o candidato ser considerado apto a doar sangue. Durante esse processo, o candidato deve ficar ciente de que: LEIA AS SEGUINTES CONDIÇÕES 1. A doação é possível apenas para indivíduos entre 16 anos completos e 69 anos, 11 meses e 29 dias. Os doadores menores de idade precisam da autorização por escrito do responsável legal. Os indivíduos que têm interesse em realizar sua primeira doação de sangue devem ter, no máximo, 60 anos, 11 meses e 29 dias. 2. O candidato deve ter mais de 50kg. 3. Não será coletado o sangue de candidatos que tenham feito refeição rica em substâncias gordurosas há menos de 3 horas da coleta ou que estejam em jejum. E em caso de ingestão de bebidas alcoólicas, é contraindicada a doação por um período de 12 horas. 4. Grávidas e lactantes não podem doar sangue. 5. Mulheres podem realizar a doação durante o período menstrual. 6. O candidato deve estar se sentindo bem e ter dormido bem na noite anterior à doação. 7. Exige-se um documento de identificação para realizar a doação. Após a captação, o candidato passa por uma triagem clínica. TRIAGEM CLÍNICA Consiste na avaliação da história clínica e epidemiológica do candidato à doação, seu estado atual de saúde, hábitos e comportamentos que determinam se ele está em condições de doar sangue sem que haja prejuízo à sua saúde e à do receptor. Essa também é uma etapa do ciclo do sangue que pode ser realizada pelos biomédicos. Esta fase da triagem tem como objetivo reduzir os riscos relacionados à transfusão de sangue, principalmente no que se refere à transmissão de doenças. Lembre-se de que a triagem aborda critérios que não podem ser avaliados pelos exames laboratoriais. Foto: Shutterstock.com Triagem clínica. Após a triagem clínica, o doador pode ser considerado: APTO Pode doar sangue. INAPTO DEFINITIVO Nunca poderá doar sangue. INAPTO TEMPORÁRIO Será impedido de doar sangue até que as contraindicações (como baixos níveis de hemoglobina, uso de determinados medicamentos e vacinação) sejam resolvidas. DE QUE FORMA A TRIAGEM CONTRIBUI PARA DIMINUIR A TRANSMISSÃO DE DOENÇAS INFECCIOSAS? Durante a entrevista, algumas perguntas investigam comportamentos de riscos recentes. Candidatos infectados recentemente podem ter um resultado sorológico falso negativo, já que é necessário um mínimo de tempo para produzir anticorpos que possam ser detectados por exames de sangue. Os exames moleculares também investigam possíveis infecções, entretanto também podem ter um resultado falso negativo se a infecção for muito recente. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) IMPORTANTE O triagista deve informar a causa de o candidato não poder doar sangue naquele momento, caso ele seja considerado inapto temporário, e quanto tempo ele deve aguardar para retornar ao banco de sangue. Vários estudos mostram que doadores têm menos probabilidade de voltar a doar sangue após um adiamento temporário. É possível que alguns doadores interpretem mal o adiamento temporário e entendam que são inaptos definitivos. Também por isso a entrevista é tão importante! CONSENTIMENTO POR ESCRITO DOS RESPONSÁVEIS LEGAIS. Normalmente, esse documento está disponível no site do próprio banco de sangue. COMO É REALIZADA A TRIAGEM CLÍNICA NO SERVIÇO DE HEMOTERAPIA? A entrevista com o candidato deve se dar em um ambiente confortável, em que serão realizadas perguntas para avaliar se ele poderá ou não doar sangue. As condições já informadas durante a captação, incluindo idade, peso e alimentação, também serão confirmadas. Em alguns casos, um candidato com menos de 16 anos ou mais 70 anos é aceito, mas somente após análise pelo médico do serviço de hemoterapia, que sempre levará em consideração os riscos e os benefícios, além da apresentação de relatório que justifique a necessidade da doação. Como vimos, os menores de idade devem ter o consentimento por escrito dos responsáveis legais. Os profissionais que trabalham na triagem precisam primeiramente realizar a punção digital para dosar a hemoglobina capilar. O valor aceito para mulheres é acima de 12,5g/dL e para homens acima de 13g/dL. Além disso, a pressão, temperatura axilar e a frequência cardíaca do candidato são avaliadas. Veja que o graduando em Biomedicina que estagiar nesse ambiente terá a oportunidade de aprender como são executados esses procedimentos. javascript:void(0) Foto: Shutterstock.com Punção digital para avaliar os níveis de hemoglobina. COM RELAÇÃO AO COMPORTAMENTO DE RISCO, QUAIS PERGUNTAS SÃO FEITAS PELO BIOMÉDICO QUE REALIZA A TRIAGEM CLÍNICA? O biomédico fará perguntas relacionadas ao comportamento sexual do candidato, ao histórico do uso de drogas e à presença de tatuagens e piercings. Candidatos que mantiveram prática sexual em troca de dinheiro ou de droga, ou com parceiros ocasionais ou desconhecidos, vítimas de violência sexual, portadores de infecção de transmissão sexual ou sanguínea serão considerados inaptos temporários durante 12 meses após o último contato sexual. Dessa forma, é possível garantir segurança transfusional. Com relação às drogas ilícitas, incluindo cocaína e crack, candidatos que têm histórico de uso de drogas injetáveis serão impedidos de doar sangue pelo resto da vida. O uso de drogas por inalação impede a doação pelo período de 12 meses a partir da data da última utilização. O uso de anabolizantes injetáveis sem prescrição médica impede o candidato de doar sangue pelo período de 12 meses. Os candidatos que fazem uso de maconha precisam aguardar 12 horas após a última utilização para fazer a doação. Candidatos que apresentam piercings na região genital ou oral não poderão realizar a doação. Para se tornar um doador apto, devem retirar o objeto e aguardar 12 meses. Já os candidatos que apresentam piercing em outras regiões do corpo, podem doar 12 meses após o procedimento. Esse mesmo período deve ser respeitado pelos candidatos que fizeram tatuagem ou maquiagem definitiva. Foto: Shutterstock.com HÁ OUTROS CASOS DE CANDIDATOS CLASSIFICADOS COMO INAPTOS DEFINITIVOS? Sim. Podemos citar outros inaptos definitivos, como pessoas que testam positivo para HIV, que já tiveram hepatite após 10 anos de idade, que sofreram algum tipo de câncer ou choque anafilático. Em algumas situações específicas, aprovadas pelo médico responsável, o doador inapto definitivo pode fazer a doação autóloga, que abrange a coleta prévia de uma bolsa de sangue de uma pessoa para uso próprio em procedimentos transfusionais programados. Foto: Shutterstock.com Doador inapto definitivo infectado com HIV. Estudo de caso: como deve atuar o biomédico triagista na seguinte situação 1. UMA CANDIDATA DE 30 ANOS CHEGOU AO SERVIÇO DE HEMOTERAPIA PARA DOAR SANGUE E, DURANTE A TRIAGEM, INFORMOU QUE TEM UM PIERCING NO UMBIGO, COLOCADO NA ADOLESCÊNCIA, E FEZ TATUAGEM HÁ 5 MESES. ALÉM DISSO, A CANDIDATA SE ENCONTRAVA MENSTRUADA. NÃO FOI RELATADO O USO DE DROGAS OU ÁLCOOL PELA CANDIDATA OU PRÁTICA SEXUAL DE RISCO. VOCÊ ACHA QUE O BIOMÉDICO TRIAGISTA APROVOU A DOAÇÃO DE SANGUE DESSA CANDIDATA? RESPOSTA A resposta é não. Após a realização de tatuagem, é necessário aguardar 12 meses para a doação de sangue. A candidata pode esperar mais7 meses e retornar para fazer o procedimento. As outras questões javascript:void(0) abordadas durante a entrevista não impossibilitavam a doação: já havia passado mais de 12 meses desde a colocação do piercing do umbigo e a menstruação não é considerada um impedimento. Lembre-se de que você deve deixar bem claro a condição da inaptidão temporária. O QUE ACONTECE COM OS APROVADOS NA TRIAGEM CLÍNICA? Os candidatos aprovados na triagem clínica são classificados como doadores aptos. No final do processo, eles assinam um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Mas, antes da assinatura, devem ser explicadas algumas questões ao candidato à doação com linguagem compreensível: As características do processo de doação. O destino do sangue doado. Os riscos associados à doação. Os testes que serão realizados em seu sangue para detectar infecções. A possibilidade da ocorrência de resultados falsos-reagentes nos testes de triagem laboratorial. A assinatura do Termo de Consentimento confirma que o candidato compreendeu as informações previamente fornecidas e aponta concordância e compromisso com a veracidade das respostas do questionário. Esse doador será encaminhado para a triagem hematológica e, em seguida, para a doação de sangue. Os registros das entrevistas são mantidos arquivados, conforme a legislação específica. Se, por acaso, o candidato não foi sincero durante a triagem ou esqueceu de fornecer alguma informação de situações de risco que possam ter levado a contrair doenças transmissíveis pelo sangue, é possível que esse candidato informe posteriormente de forma confidencial e sigilosa ao banco de sangue que seu material não é seguro para ser usado em transfusões. Após a entrevista será solicitado o preenchimento, que não é obrigatório, de um formulário denominado Voto de Autoexclusão, em que o candidato poderá votar pela exclusão ou não da utilização do seu sangue pelo banco de sangue (o sangue será descartado após a coleta, caso a resposta seja positiva à exclusão). No salão de doação, há uma urna destinada a receber esse documento. QUANTAS VEZES O DOADOR PODE IR AO BANCO DE SANGUE PARA REALIZAR A DOAÇÃO? Imagem: Shutterstock.com As mulheres podem doar até três vezes em um período de 12 meses, com intervalo mínimo de 90 dias entre as doações. Imagem: Shutterstock.com O homem pode doar até quatro vezes em um período de 12 meses, com intervalo mínimo de 60 dias entre as doações. COLETA, PROCESSAMENTO, ARMAZENAMENTO E DISTRIBUIÇÃO DO SANGUE COLETA DE SANGUE A coleta de sangue deve ser executada por profissionais treinados e capacitados, incluindo o biomédico. Ela exige condições assépticas, sob a supervisão do médico ou enfermeiro, e se dá a partir de uma única punção venosa. É importante ressaltar que os materiais e as substâncias que entram diretamente em contato com o sangue ou componentes a serem transfundidos em humanos devem ser estéreis, apirogênicos e descartáveis. Além disso, precisam satisfazer as normas vigentes e estarem registrados ou autorizados para uso pela autoridade sanitária competente. Foto: Shutterstock.com Punção venosa. Para iniciar a coleta, é necessário ter o material separado e organizado, incluindo as bolsas, agulha, tubos de coleta de amostras, antisséptico, garrote. As bolsas utilizadas para a coleta de sangue devem ser, obrigatoriamente, translúcidas, flexíveis e permeáveis aos gases. ATENÇÃO Antes de iniciar o procedimento de coleta, você deve avaliar a integridade e a validade dos materiais, pois isso evita que a bolsa preenchida com sangue total ou hemocomponentes seja descartada futuramente, causando prejuízos ao banco de sangue e aos receptores que aguardam pela transfusão. As bolsas utilizadas na coleta de sangue contêm um volume de aditivos de acordo com as recomendações dos fabricantes e em função do volume de sangue a ser coletado. A quantidade habitual de aditivos, incluindo o anticoagulante, em uma bolsa de coleta é de 60-65mL. E a quantidade ideal para armazenar é de 450mL ± 45mL de sangue total. O concentrado de hemácias, obtido após o fracionamento de bolsas com 300mL a 404mL de sangue total, pode ser usado para transfusão, desde que seja aplicado um rótulo que indique “unidade de baixo volume de concentrado de hemácias”. Imagem: Shutterstock.com Bolsa utilizada na coleta de sangue ATENÇÃO Coletas de bolsas com volume total inferior a 300mL serão desprezadas. Bolsas com volume acima de 495mL também devem ser desprezadas, já que a quantidade de anticoagulante presente nas bolsas é sempre proporcional para o volume total de 450mL ± 45mL de sangue total. Atente para a conduta do biomédico responsável durante a coleta de sangue. Alguns aspectos da coleta não podem ser desconsiderados: 1 Inspecione e palpe a fossa antecubital do braço do doador para a escolha da veia a ser puncionada e dê preferência à veia cubital mediana. A área escolhida para a punção venosa deve ser higienizada em duas etapas de antissepsia; este procedimento garantirá a segurança do doador e do processo de doação. 2 3 Evite a punção em locais com lesões dermatológicas ou cicatriciais, incluindo as relacionadas com punções anteriores. Durante a coleta, não dê “tapinhas” nas veias para melhorar a visualização e não assopre ou apalpe o local da punção após a antissepsia. 4 5 Após a coleta, não solicite que o doador dobre o braço. O tempo de coleta não pode ser superior a 15 minutos. O tempo ideal é de até 12 minutos. 6 7 Durante a coleta, mantenha a bolsa em um equipamento que deixe o material em movimento constante. A sala deve ter a temperatura controlada, entre 20°C e 24°C, com os respectivos registros de monitoramento e controle. 8 Foto: Shutterstock.com Antissepsia do local antes da coleta E SE FOR NECESSÁRIO REALIZAR UM NOVO ACESSO VENOSO? No caso de necessidade de um novo acesso venoso, o biomédico deve descartar a bolsa de sangue utilizada e providenciar outra para fazer uma nova punção venosa. Além disso, deve ser levado em consideração o volume máximo de sangue total que pode ser coletado: 9mL/Kg para homens e 8mL/Kg para mulheres. O profissional nunca deve ultrapassar essa proporção. Pergunte ao doador se ele aceita uma nova punção. Muitos candidatos que passam pela triagem clínica acabam não doando sangue por não terem um acesso bom. Imagem: Shutterstock.com Se o doador perder o acesso uma nova punção deve ser realizada, depois do consentimento do doador e respeitando o volume já coletado. QUAIS OS PROCEDIMENTOS DO BIOMÉDICO APÓS A DOAÇÃO? Após a doação, o doador deve receber alguns cuidados do serviço de hemoterapia. Deve-se oferecer hidratação oral e é aconselhável a oferta de alimentação antes que ele se retire do estabelecimento. Recomenda-se a permanência no local por mais 15 minutos antes da liberação. Caso haja reações à coleta, o evento deve ser informado ao banco de sangue em até 7 dias. O doador deve esperar pelo menos 12 horas para realizar esforços físicos, incluindo exercícios. Caso o doador seja fumante, recomenda-se que ele aguarde 1 hora até o próximo cigarro. E não é aconselhável o consumo de bebidas alcoólicas após a doação. O serviço de hemoterapia que realiza coleta de sangue deve estar preparado para o atendimento às reações adversas do doador. Durante ou após a transfusão, o doador pode apresentar tontura, desmaio, mal-estar, náuseas, vômitos, hematoma ou dor no local da punção venosa. O biomédico deve estar atento! PROCESSAMENTO DE SANGUE Logo após a coleta de sangue, a bolsa é recebida, registrada e o material é pesado. As bolsas ficam descansando por duas horas e posteriormente são centrifugadas. O processo de centrifugação permite a separação dos diferentes componentes do sangue total, como hemácias, plaquetas e plasma. Esses componentes separados permitem que três pacientes ou mais sejam atendidos. Foto: Shutterstock.com Centrifugação das bolsas de sangue total. CIRCUITOFECHADO Transferência de hemocomponente para outra bolsa sem alteração da esterilidade. A abertura desse circuito em câmara de fluxo laminar preserva essa característica. A esterilidade dos componentes deve ser mantida durante o fracionamento dos materiais, portanto, a transferência de componente de uma bolsa-satélite para outra deve realizar-se em circuito fechado. Se durante o processamento o circuito for aberto, os componentes precisam ser descartados. Posteriores manipulações dos hemocomponentes que exijam a abertura do circuito deverão ser feitas sob câmara de fluxo laminar para a manutenção da validade do hemocomponente. Entretanto, no caso da abertura do sistema sem o fluxo laminar, o hemocomponente fica com a validade de 24 horas. Após a centrifugação, as bolsas são transportadas de dentro de caçapas até o equipamento que efetua a extração dos hemocomponentes. Esta etapa deve ser executada com muito cuidado, para que não ocorra a mistura dos componentes fracionados. javascript:void(0) O biomédico pode realizar a extração dos hemocomponentes de forma manual com o auxílio de um equipamento, que funciona como uma prensa: uma mola pressiona a superfície móvel contra a outra, possibilitando a transferência do material – normalmente o plasma rico em plaquetas, da bolsa matriz para as satélites. Já o extrator automático é um equipamento eletrônico que possui várias funções além de extração dos hemocomponentes, ele também realiza selagens e possui balanças. Foto: Shutterstock.com Profissional realizando a extração do plasma no equipamento manual ARMAZENAMENTO DE SANGUE O armazenamento do sangue total e o trabalho dos bancos de sangue só foram possíveis com o desenvolvimento dos anticoagulantes e das soluções nutritivas para a preservação sanguínea. Tais soluções foram desenvolvidas e aprimoradas para manter o metabolismo energético das hemácias através da glicólise e para assegurar a viabilidade celular durante a armazenamento do material. Foto: Shutterstock.com Sangue armazenado na bolsa com aditivos Durante e após a coleta, o sangue fica armazenado em uma bolsa. O profissional deve levar em consideração os seguintes aspectos em relação à temperatura: 1 Para a produção de concentrado de hemácias e plasma fresco congelado, as bolsas de sangue total devem ser acondicionadas o mais brevemente possível, após a coleta, a 4°C ± 2°C. Se a produção de concentrado de plaquetas também for programada, as bolsas de sangue devem ser acondicionadas a temperaturas entre 20°C e 24°C (22°C ± 2°C), nunca inferior a 20°C, preferencialmente nas primeiras 8 horas e não excedendo 24 horas, até que as plaquetas sejam separadas. 2 As câmaras de conservação em que se armazenam o sangue e os hemocomponentes são apropriadas para essa finalidade e de uso exclusivo. É necessário que elas tenham um sistema de alarme sonoro e visual que seja ativado na temperatura determinada para evitar que o sangue e os componentes sofram danos devido a temperaturas incorretas. Imagem: Shutterstock.com O monitoramento das câmaras de conservação pode ser realizado de forma manual pelo profissional biomédico, com o auxílio de um termômetro que deve ser checado a cada 4 horas. Se comprovado que os equipamentos se mantêm fechados por longos períodos, a verificação pode ser realizada a cada 12 horas. No entanto, é fundamental a instalação de um termômetro de registro de temperaturas máxima e mínima. Durante o armazenamento temporário, são realizados os exames imuno-hematológicos que investigam o sistema ABO, RhD e a busca por anticorpos antieritrocitários irregulares. Ademais, serão realizados testes para identificar doenças infecciosas que podem ser transmitidas pela transfusão de sangue: hepatites B e C, sífilis, HIV, HTLV, doença de Chagas. EXAMES LABORATORIAIS REALIZADOS NO BANCO DE SANGUE A especialista Mariele Souza explica os tipos de exames laboratoriais que podem ser realizados pelo biomédico no banco de sangue. Após realização dos testes imuno-hematológicos e sorológicos, as bolsas são rotuladas. É obrigatória a fixação de rótulos e etiquetas em cada unidade de sangue, que ficarão firmemente aderidos à bolsa plástica. A identificação das bolsas na coleta permite a rastreabilidade desde a sua obtenção até o término do ato transfusional, permitindo a investigação de eventos adversos que possam ocorrer durante ou após o ato transfusional. A rotulagem é realizada por dois profissionais diferentes, a menos que seja utilizada a tecnologia de rotulagem automatizada com código de barras. Vejamos o que deve constar no rótulo da bolsa plástica: DISTRIBUIÇÃO DE SANGUE As instituições de assistência à saúde que utilizam hemocomponentes sanguíneos devem ter um contrato ou documento similar com o serviço de hemoterapia para poder oferecer a terapêutica transfusional. Esse documento deve descrever os requisitos necessários para o fornecimento e incluir o compartilhamento de responsabilidades relacionadas aos procedimentos de transporte, conservação, armazenamento, uso de hemocomponentes e descarte dos resíduos. O transporte destinado à área de distribuição deve ser realizado de maneira segura e organizada, levando em consideração a temperatura de acondicionamento durante o percurso e a capacidade da embalagem de armazenamento. O controle da temperatura também deve ser validado a fim de garantir a integridade do produto. Imagem: Shutterstock.com Transporte de componentes sanguíneos Após o transporte adequado, os hemocomponentes poderão ser utilizados em intervenções médicas e cirúrgicas. Assim, o banco de sangue cumpre seu papel salvando anualmente milhares de vidas. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. O DOADOR DE SANGUE TEM VÁRIAS CLASSIFICAÇÕES, QUE MUDAM CONFORME O VÍNCULO ESTABELECIDO COM O SERVIÇO DE HEMOTERAPIA E A MANEIRA COMO FOI REALIZADA SUA CAPTAÇÃO. IMAGINE A SEGUINTE SITUAÇÃO: DURANTE UMA TRIAGEM, O BIOMÉDICO AVALIA QUE O PACIENTE DE 61 ANOS FOI DOAR SANGUE PELA PRIMEIRA VEZ. QUAL DEVE SER A POSTURA DESSE PROFISSIONAL? A) Torna o doador apto e continua a triagem, pois a idade está dentro do preconizado. B) Torna o doador inapto, pois a idade não está dentro do preconizado. C) Torna o doador apto e continua a triagem, mas ele deve passar pela triagem médica. D) Torna o doador inapto e continua a triagem, pois ele é um doador “de primeira vez”. E) Torna o doador inapto, mas ele deve passar pela triagem médica para realização dos exames médicos. 2. VIMOS QUE OS PROCEDIMENTOS DE COLETA E ARMAZENAMENTO DE SANGUE TOTAL E HEMOCOMPONENTES DEVEM SER RIGOROSAMENTE CONTROLADOS. SOBRE ESSES PROCESSOS, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) A separação dos componentes sanguíneos é realizada pelo método de filtração. B) A presença de lesões dermatológicas no local da punção não impede a realização da punção venosa. C) As bolsas com volume acima de 495mL também devem ser desprezadas. D) O profissional biomédico não pode realizar a extração dos componentes sanguíneos após a centrifugação do sangue total. E) Não é necessário o uso de agentes antissépticos para a higienização do local na hora da coleta de sangue. GABARITO 1. O doador de sangue tem várias classificações, que mudam conforme o vínculo estabelecido com o serviço de hemoterapia e a maneira como foi realizada sua captação. Imagine a seguinte situação: durante uma triagem, o biomédico avalia que o paciente de 61 anos foi doar sangue pela primeira vez. Qual deve ser a postura desse profissional? A alternativa "B " está correta. Os indivíduos interessados em realizar sua primeira doação de sangue devem ter, no máximo, 60 anos, 11 meses e 29 dias. 2. Vimos que os procedimentos de coleta e armazenamento de sangue total e hemocomponentes devem ser rigorosamente controlados. Sobre esses processos, assinale a alternativa correta: A alternativa "C " está correta. A quantidade de anticoagulante presente na bolsa é proporcional ao volume total de 450 ± 45mL de sangue total, portanto,a bolsa com volume acima de 495mL deve ser descartada. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Como vimos, o biomédico é um profissional da área da saúde que está em destaque no mercado de trabalho e um de seus segmentos de atuação é o banco de sangue. Abordamos aqui os procedimentos realizados pelo biomédico no banco de sangue e o que é necessário para que o graduando em Biomedicina adquira sua habilitação. Tratamos das principais normas de biossegurança aplicadas ao serviço de hemoterapia e apresentamos como deve ser a estrutura local. Além disso, entendemos algumas etapas que constituem o ciclo do sangue, incluindo captação e triagem clínica dos doadores de sangue, coleta, processamento, armazenamento e distribuição do material. A compreensão dessas etapas no estágio em banco de sangue é fundamental para o futuro profissional, assim como entender a concretização do ciclo de sangue com respeito às normas vigentes, pois elas garantem a qualidade dos hemocomponentes produzidos e proporcionam segurança ao doador e ao receptor no momento da transfusão. REFERÊNCIAS BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Resolução RDC n° 31, de 28 de maio de 2009. Consultado eletronicamente em: 10 abr. 2021. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Resolução RDC n° 34, de 11 de junho de 2014. Consultado eletronicamente em: 10 abr. 2021. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Resolução RDC n° 50, de 21 de fevereiro de 2002. Consultado eletronicamente em: 21 abr. 2021. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Resolução RDC n° 222, de 28 de março de 2018. Consultado eletronicamente em: 21 abr. 2021. BRASIL. Conselho Federal de Biomedicina. Normativas. Consultado eletronicamente em: 3 abr. 2021. BRASIL. Conselho Federal de Biomedicina. Resoluções. Consultado eletronicamente em: 3 abr. 2021. BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CNE/CES nº 2, de 18 de fevereiro de 2003. Consultado eletronicamente em: 3 abr. 2021. BRASIL. Ministério da saúde. Portaria n° 158, de 4 de fevereiro de 2016. Consultado eletronicamente em: 10 abr. 2021. CONSELHOS Regionais de Biomedicina e Conselho Federal de Biomedicina. Biomedicina: um painel sobre o profissional e a profissão. 2009. Consultado eletronicamente em: 10 abr. 2021. CORREIA, E. A. et al . Exposição ocupacional em trabalhadores de um banco de sangue: um estudo transversal. Lecturas: Educación física y deportes, nº 195, p. 2, 2014. DA SILVA, A. R. et al . O papel do biomédico na saúde pública. Revista Interfaces: Saúde, Humanas e Tecnologia, v. 2, nº 4, 2014. HILLGROVE, T. L.; DOHERTY, K. V.; MOORE, V. M. 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O Manual de vigilância sanitária para o transporte de sangue e componentes no âmbito da hemoterapia (2016), disponível no site oficial da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O artigo Custo financeiro dos descartes de sangue total e hemocomponentes em um hemocentro coordenador brasileiro , de Magali Zimmermann Covo et al., publicado na Revista Gaúcha de Enfermagem, n. 40, 2019, para entender melhor a importância do planejamento referente às ações realizadas no banco de sangue. O artigo Custos da obtenção da bolsa de plaquetas por aférese em um hemocentro do interior de São Paulo , de Duelene Ludimila Nogueira et al ., publicado na Revista Saúde – UNG-Ser, dez. 2019, para entender outro método de coleta denominado aférese, suas vantagens e desvantagens. O manual da ANVISA sobre a segurança do paciente: Higienização das mãos. Além dessas leituras, visite o site oficial do Conselho Federal de Biomedicina (CFBM) para informações sobre mercado de trabalho, bases salariais, eventos, artigos, entre outros assuntos da área. CONTEUDISTA Mariele de Jesus Souza CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);