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Geovana Sanches, TXXIV ACESSO CIRÚRGICO ÀS VIAS AÉREAS INTUBAÇÃO OROTRAQUEAL A intubação orotraqueal é um procedimento não cirúrgico que garante a permeabilidade das vias aéreas quando não há grande distorção anatômica. No contexto de via aérea complicada, é a principal e primeira escolha. ANATOMIA CRICOSTOMIA OU CRICOTIREOIDOSTOMIA A cricotireoidostomia é um procedimento de emergência realizado em pacientes com severo desconforto respiratório e naqueles cuja intubação orotraqueal ou nasotraqueal falhou. O procedimento envolve a realização de uma incisão vertical na membrana cricotireoideia, a qual se localiza entre as cartilagens cricoide e tireoide. Após incisão, insere-se um tubo de traquepostomia, permitindo a ventilação do paciente. Ela não pode ser realizada em crianças, pois os anéis traqueais não são totalmente fechados e a cricoide consiste em um anel completo e fino. Nesse grupo, há risco muito grande de passar o tubo e formar-se fibrose rapidamente, com evolução para estenose de cricoide e necessidade posterior de traqueostomia permanente. O procedimento está autorizado apenas em maiores de 12 anos. Por esse mesmo motivo, a cricostomia deve ser mantida por no máximo 72h, sendo revertida em uma traqueostomia se necessário. Indicações A cricostomia pode ser realizada na urgência, mesmo na ausência de consentimento informado. • Pacientes com desconforto respiratório e falha na IOT ou intubação nasotraqueal • Paciente com anatomia difícil • Excesso de sangue na boca ou nariz • Trauma facial • Obstrução de via aérea por angioedema, trauma, queimaduras ou corpo estranho Contra-indicações • Trauma massivo da laringe ou da cartilagem cricoide o É possível identificar essas condições através da palpação da região. Caso identifiquemos alguma estrutura corrompida, não se pode fazer a cricostomia • IOT ou nasotraqueal viáveis e não foram tentadas Procedimento Existem duas opções para a realização da cricostomia: cirúrgico e via punção. Por punção • É o procedimento realizado em filmes, nos quais os indivíduos furam a membrana com uma caneta bic o Na realidade, não é possível realizá- lo dessa forma, tendo em vista que a incisão da pele não é fácil. Geovana Sanches, TXXIV • Na vida real, é realizada através de uma punção da membrana com o gelco mais grosso disponível no serviço. Retira-se a agulha e deixa apenas o gelco, colocando e retirando o oxigênio no acesso o Para ser efetivo, é necessário que o paciente apresente movimentos respiratórios o Menor eficiência para oxigenação adequada, tendo em vista o pequeno diâmetro do gelco • Não dura por muito tempo, sendo apenas uma ponte para realização da cricostomia cirúrgica Cirúrgico (aberta) • Consiste na incisão da membrana cricotireoidea no sentido vertical e inserção do tubo de traqueostomia, permitindo a ventilação do paciente Cricostomia cirúrgica Materiais • Esterilização e anestesia local o Luvas, avental, óculos de proteção e face shield o Clorexidina o Gaze o Lidocaína 1% ou 2% com epinefrina o Seringa de 6 mL com agulha 25G • Procedimento o Tubo de traqueostomia § 6mm de diâmetro interno § Na ausência, pode-se usar tubo de IOT o Bisturi lâmina 10 ou 11 o Pinça hemostática curva o Dilatador Trousseau o Gancho traqueal o Seringa de 10 mL o Material de sutura ou fixação Procedimento • Paciente com colar cervical à será necessário abrí-lo e estabilizar o pescoço antes de iniciar o procedimento • Colocar o paciente em posição supina o Coloca-se coxim abaixo dos ombros • Aplicar clorexidina (se o tempo permitir) • Anestesia local (se o paciente estiver acordado) • Posicionar-se ao lado direito do paciente • Estabilizar a laringe com os dedos polegar e médio e usar o indicador para palpar a cartilagem tireóide o A laringe é móvel, sendo essencial sua fixação • Mover o indicador para baixo até palpar a cartilagem cricóide • O espaço entre as cartilagens tireóide e a cricóide é a membrana cricotireoidea o Local no qual é feita a incisão • Usar o bisturi para fazer incisão vertical de 2,5 cm através da pele e tecido subcutâneo o O corte da pele preferencialmente é feito na vertical, mesmo que não faça sentido segundo as linhas. Isso pois, na incisão horizontal, caso façamos um corte muito pequeno ou na região incorreta (muito para cima ou para baixo) será complicado chegar ao local adequado. Com o corte vertical é possível continuar com a incisão até encontrarmos o local correto. o Incisão inicial vertical evita lesão do n. laríngeo recorrente • Usar a pinça hemostática para divulsionar o tecido subcutâneo • Usar o bisturi para fazer uma incisão horizontal na membrana cricotireóidea • Estender a incisão lateralmente e virar a lâmina para estender na direção oposta • Não entrar mais do que 1,3 cm o Para não perfurar o esôfago o Para evitar uma incisão no esôfago, deve-se segurar o bisturi entre os dedos indicador e médio e manter o dedo médio estendido ao longo do bisturi • Após penetrar a traqueia, deve-se manter a lâmina dentro da incisão para que a comunicação com a traqueia não seja perdida • Inserir o gancho traqueal e tracionar para cima o ângulo distal da incisão, elevando a laringe • Retirar a lâmina do bisturi • Inserir o dilatador Trousseau e abrir a membrana verticalmente • Inserir o tubo da traqueostomia • Segurar a cânula no lugar, remover o mandril e conectar o adaptador • Insuflar o cuff com a seringa de 10 mL • Conectar uma bolsa-válvula e ventilar o paciente Geovana Sanches, TXXIV • Observar se há elevação simétrica do tórax e se o murmúrio vesicular está simétrico • Amarrar ou suturar para fixar o tubo de traqueostomia no lugar • Descartar perfurocortantes no local adequado Complicações • Perfuração do esôfago • Enfisema subcutâneo o Se a incisão for muito grande, o tubo passa e sobra espaço, permitindo passagem e permanência do ar no espaço subcutâneo o Em geral, reabsorve espontanea- mente, mas quando é muito extenso pode infectar • Sangramento excessivo ou hemorragia o Extremamente incomum, tendo em vista que os grandes vasos estão distantes na região de incisão o Podemos nos separar com o lobo piramidal da tireoide em alguns pacientes e, se incisiornarmos-no poderá haver sangramento Cuidados pós-procedimento • Solicitar RX para avaliar se o local está correto • Solicitar suporte respiratório para que o paciente seja ventilado mecanicamente • Solicitar interconsulta para realização de traqueostomia definitiva TRAQUEOSTOMIA A traqueostomia é uma via aérea criada cirurgicamente e mantida aberta por meio de um tubo. É um procedimento mais complexo do que a cricostomia, não sendo possível realizar no pronto-socorro (requer centro cirúrgico). Pode ser realizada com técnica de cirurgia aberta ou dilatação percutânea. A primeira é feita através da dissecção do tecido pré-traqueal anterior e inserção do tubo de traqueostomia sob visualização direta da traqueia. Indicações • Pacientes com insuficiência respiratória aguda que necessitam de ventilação mecânica prolongada o A IOT não pode permanecer por mais de 7 a 14 dias devido ao risco de estenose laríngea. Nesses casos, faz-se conversão para a traqueostomia. Nesses casos, solicitamos que o anestesista desinsufle o cuff e puxe o tubo lentamente, deixando-o um pouco acima da região em que vamos inserir o tubo da traqueostomia. Após estabilização do paciente e ventilação adequada, retira-se o tubo por completo o Isso é importante pois, caso o procedimento não de certo por algum motivo, o paciente terá a via aérea garantida • Obstrução das vias aéreas superiores o Incluindo paralisia de cordas vocais• Necessidade de proteção da via aérea em pacientes com doenças neurológicas ou TCE • Necessidade de higiene pulmonar mais eficaz Contra-indicações Absolutas • Instabilidade cervical • Coagulopatia não controlada • Infecção do sítio de inserção Relativas • Anatomia difícil, com incapacidade de identificar pontos de referência • Insuficiência respiratória grave que impede períodos de apneia ou perda da pressão positiva Observação • Cirurgia prévia no pescoço ou traqueostomia prévia não são contraindicações Procedimento • Nos casos de trauma cervical, não é permitido o uso de coxin. Caso o procedimento seja eletivo, utilizamo-nos para retificação da via aérea • Abertura em T entre o 2° e 3 ° anel traqueal Geovana Sanches, TXXIV o Procedimento variável, mas em geral os cirurgiões de cabeça e pescoço cortam ambos os anéis e passam um ponto cirúrgico em cada, puxando as duas laterais • Após a incisão, identificaremos o espaço subcutâneo e o músculo platisma • Deve-se seccionar o m. platisma e afastar a musculatura anterior do pescoço • Afastar o istmo da tireóide ou seccionar (se necessário) • Realizar incisão entre os anéis da cartilagem traqueal para inserção da cânula • Fixar a cânula o É importante o uso de pontos de reparo pois, caso haja mobilização do tubo em menos de 1 semana, é possível não encontrarmos a abertura e o paciente ventilará o espaço subcutâneo – evolui com enfisema Tempo de permanência A traqueostomia pode permanecer por toda a vida do paciente, mas eventualmente faz- se necessária a troca do tubo. Esses pacientes apresentam queda na qualidade de vida, tendo em vista o maior risco de infecção, cuidados para que não entre água no tubo (não pode entrar na piscina ou no mar por exemplo), presença de secreção, além do fato de ter que “tampar” a incisão para conseguir falar. PREFERÊNCIA DE ACESSO PARA VIA AÉREA A primeira opção sempre será a intubação orotraqueal. Caso esta não seja possível, realizaremos a cricostomia. Por última, se nada dar certo, realizaremos a traqueostomia (exceto nos casos das crianças < 12 anos ou na presença de trauma laríngeo, condições nas quais a cricostomia está contraindicada e é necessário realizar diretamente a traqueostomia).