Buscar

Paradigma Linguístico Semiótico

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 604 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 604 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 604 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DESCRIÇÃO
Apresentação do conceito de estruturalismo proposto por Ferdinand de Saussure e de suas principais ideias para o campo da Linguística.
PROPÓSITO
Conhecer as principais ideias defendidas por Ferdinand de Saussure no início da Linguística como ciência, permitindo ao estudante progredir nos estudos da linguagem.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Descrever conceitos gerais do estruturalismo linguístico e suas características
MÓDULO 2
Definir as dicotomias saussureanas
MÓDULO 3
Identificar características do signo linguístico
INTRODUÇÃO
A Linguística é uma ciência relativamente nova em comparação a outras ciências humanas. Os estudos linguísticos passaram a ter status de ciência no início do século XX com Ferdinand de Saussure (1857-1913) e os fundamentos teóricos por ele apresentados em seu Curso de Linguística Geral, ministrado em Genebra.
Com o início da Linguística como ciência e disciplina autônoma, surgiram elaborações teóricas que permitiram caracterizar a língua como uma estrutura. Os estudos de Saussure deram base a uma corrente teórica denominada estruturalismo, embora o linguista suíço usasse o termo sistema em vez de estrutura para definir a língua como um todo em que as partes estão relacionadas para sua organização num sistema coerente, conforme você aprenderá mais adiante.
Saussure apresentava as partes do sistema como um conjunto de unidades em que acontecem correlações e oposições. Um exemplo das relações entres as partes do sistema da língua seriam as combinações de formas mínimas que resultam em unidades linguísticas superiores, como ocorre com as sílabas formando uma palavra ou, ainda, no exemplo da composição da palavra aguardente, em que ardente determina o termo água, resultando em uma palavra composta.
Fonte: Shutterstock
No Brasil, o estruturalismo impactou fortemente os estudos linguísticos, a começar pelo reconhecimento da Linguística como ciência autônoma nos anos 1960. Naquela época, muitos pesquisadores experientes foram atraídos por essa área de conhecimento, entre eles Joaquim Mattoso Câmara Júnior, o primeiro doutor em Linguística do país. Tais estudiosos usavam a Linguística como uma disciplina auxiliar para os estudos literários.
O estruturalismo venceu a resistência de outras escolas de análise, mas foi superado por novas tendências nos estudos linguísticos, ainda que tenha continuado a se desenvolver e seja muito importante para a compreensão da constituição da Linguística.
FERDINAND DE SAUSSURE
Nasceu em Genebra, Suíça. Na Alemanha, estudou química, física, grego, latim, sânscrito, celta e indiano. Com apenas 24 anos, começou a ensinar linguística histórica em uma universidade francesa. Seus cursos ficaram famosos e, em 1891, voltou para Genebra, onde ministrou aulas até o ano de seu falecimento.
MÓDULO 1
Descrever conceitos gerais do estruturalismo linguístico e suas características
CONCEITO DE ESTRUTURALISMO LINGUÍSTICO
Não se pode falar de um estruturalismo apenas, já que o termo é utilizado em diversas áreas das ciências humanas, como a Antropologia, a Sociologia, a Psicologia e a Linguística. O surgimento do estruturalismo foi um dos acontecimentos de maior destaque para o pensamento científico do século XX. Sem ele é impossível entender inúmeros progressos das ciências humanas a partir de pesquisas ligadas à linguagem.
Fonte: Shutterstock
Fonte: Imagem de ImprovingWiki/Wikimedia Commons adaptada por Thiago Lopes.
Capa original do livro Curso de Linguística Geral, 1916.
O estruturalismo linguístico se consolidou com a publicação do livro Curso de Linguística Geral, considerado uma obra póstuma de Saussure em função de ter sido escrito por alguns de seus alunos da Universidade de Genebra, utilizando anotações de aulas entre os anos de 1907 e 1911.
Segundo essa corrente teórica, a língua apresenta-se como o conjunto de estruturas, possibilidades e oposições funcionais. Assim, tudo o que pode ser dito, enquanto for compreensível pelos usuários, admite múltiplas realizações sem que a inteligibilidade seja atingida, estando em constante mudança para satisfazer as necessidades da comunidade.
Segundo Costa (2011), o estruturalismo entende que a língua é formada por elementos coesos, que estão inter-relacionados e funcionam a partir de um conjunto de regras, constituindo uma organização, um sistema ou uma estrutura. Desse modo, o próprio sistema tem leis internas que estruturam a organização dos seus elementos. Vejamos a definição do linguista Mattoso Câmara Júnior para estruturalismo:
ESTRUTURALISMO [É A] PROPRIEDADE QUE TÊM OS FATOS DE UMA LÍNGUA DE SE CONCATENAREM POR MEIO DE CORRELAÇÕES E OPOSIÇÕES, CONSTITUINDO EM NOSSO ESPÍRITO UMA REDE DE ASSOCIAÇÕES OU ESTRUTURA. É POR ISSO QUE SE DIZ SER A LÍNGUA UM SISTEMA. TRATA-SE, ENTRETANTO, DE UMA ESTRUTURA DINÂMICA, PARA SERVIR ÀS MAIS VARIADAS E INESPERADAS NECESSIDADES DA COMUNICAÇÃO, E QUE NUNCA É CABAL, MAS SEMPRE ESTÁ EM ELABORAÇÃO. O CARÁTER INCOMPLETO DA ESTRUTURA LINGUÍSTICA EXPLICA NÃO SÓ A IRREGULARIDADE E A EXCEÇÃO NO PLANO DA SINCRONIA, MAS TAMBÉM AS MUDANÇAS LINGUÍSTICAS.
(CÂMARA Jr., 1996)
Conforme a definição de Câmara Júnior, a estrutura ou o sistema linguístico são mais amplos do que a norma gramatical, porque contêm tudo o que é possível e vão além do que é realizado. Assim, a estrutura é também um sistema de possibilidades, pois uma língua não é apenas aquilo que já foi feito por meio de determinado procedimento, mas é também o que, mediante tal recurso, pode-se fazer. Ou seja, não é somente passado e presente, uma vez que possui uma dimensão de futuro, sempre criando possibilidades novas.
Veja o exemplo seguinte, extraído do livro de contos Tutameia: terceiras estórias, do escritor brasileiro Guimarães Rosa:
“DESISTINDO DO ELEVADOR,
EMBRIAGATINHAVA ESCADA ACIMA”.
(ROSA, 1969)
Embora o dicionário não traga o verbo embriagatinhar, o leitor é capaz de entender, sem muita dificuldade, que a personagem estava tão embriagada que subia as escadas engatinhando. Essa é a dimensão de futuro do sistema linguístico, que usa elementos da própria língua para criar novas possibilidades. Logo, é tarefa do linguista analisar a organização e o funcionamento dos elementos que constituem a língua.
Fonte: Shutterstock
ATENÇÃO
Ainda no exemplo anterior, podemos notar a aproximação e a organização de determinadas unidades linguísticas para formar uma palavra nova, fenômeno que ocorre constantemente na língua em todos os níveis estruturais por possuírem características semelhantes e obedecerem a princípios de funcionamento.
Para entender o conceito de sistema, Saussure usa várias vezes a analogia de um jogo de xadrez. No jogo, o material de que as peças são constituídas não é relevante, pois importa como elas se relacionam entre si, as regras e a função de cada uma em relação à outra. Vale lembrar que não é o conhecimento das regras normativas encontradas nos livros de gramática que determinará o funcionamento do jogo. Se assim fosse, aqueles que tiveram pouco acesso aos estudos não conseguiriam se comunicar.
PARA O ESTRUTURALISMO, A LÍNGUA DEVE SER ESTUDADA EM SI MESMA E POR SI MESMA. TUDO AQUILO QUE NÃO PERTENCE AO CAMPO LINGUÍSTICO DEVE SER DEIXADO DE FORA DA ANÁLISE, JÁ QUE A PREOCUPAÇÃO É COM A ESTRUTURA A PARTIR DE RELAÇÕES/REGRAS INTERNAS, DEIXANDO DE LADO RELAÇÕES DA LÍNGUA COM A SOCIEDADE, COM A CULTURA OU MESMO COM A GEOGRAFIA OU QUALQUER OUTRO TIPO DE RELAÇÃO QUE NÃO SEJA EXCLUSIVAMENTE LIGADA AO SISTEMA LINGUÍSTICO.
(COSTA, 2011)
PANORAMA DO ESTRUTURALISMO NORTE-AMERICANO
Neste vídeo, o linguista e professor Nataniel Gomes nos apresenta o estruturalismo norte-americano e faz um comparativo entre as duas teorias. Vamos lá!
O estruturalismo norte-americano é apresentado de maneira independente da proposta europeia de Saussure. De acordo com o professor e linguista Marcos Antônio Costa (2011), a corrente estruturalista norte-americana tem as seguintes suposições:
• As línguas apresentam uma estrutura específica;
• A estrutura é dividida em três subsistemas: fonológico, morfológico e sintático;
• Cada subsistemaé formado por unidades: para a fonologia, o fonema; para a morfologia, o morfema; e para a sintaxe, o sintagma;
• A descrição linguística deve começar pelas unidades mais simples;
• As unidades devem ser definidas a partir de sua posição estrutural;
• A semântica é excluída, já que a descrição usa da objetividade absoluta.
Fonte: Shutterstock
ATENÇÃO
O estruturalismo norte-americano, na visão do professor Marcos Antônio Costa (2011), estabelece que, para estudar a língua, são necessárias as seguintes condições:
• A formação de um conjunto variado de sentenças produzidas pelos usuários da língua em determinado momento histórico;
• A criação de um inventário, a partir do conjunto levantado anteriormente, que possa determinar as unidades mínimas em cada nível, tais como fonemas, morfemas e sintagmas, bem como as classes que podem agrupar as unidades;
• A averiguação das regras de combinação dos elementos de classes diferentes;
• A análise apenas de elementos que estão no conjunto de dados levantados.
Para a vertente norte-americana do estruturalismo, as partes da língua se organizam em posições específicas que se relacionam entre si. Trata-se de um método exclusivamente descritivo e indutivo que explica por que as frases não são simples sequências de elementos, mas constituintes formados por unidades inferiores. Portanto, uma frase é o resultado de diversas camadas de constituintes.
DESCRITIVO
Para a linguística estruturalista, o que importa é a descrição da estrutura e do funcionamento da língua tal como ela se apresenta em determinado momento em vez de normatizar ou prescrever como deve ser seu funcionamento. Por isso, o método adotado é o descritivo.
INDUTIVO
O método indutivo, no estruturalismo, é caracterizado pelo estudo formal da língua, partindo das unidades mais simples para as maiores, já que as frases são formadas por combinações de construções.
EXEMPLO
Exemplo da aplicação do método indutivo, a frase “o menino comeu a maçã” é composta pelos sintagmas “o menino” e “comeu a maçã”. Esses sintagmas, por sua vez, são compostos pelas palavras “o”, “menino”, “comeu”, “a”, “maçã”; e ainda pelos morfemas “o”, “menin”, “o”, “com”, “eu”, “a”, “maçã”; e por fim pelos fonemas /o/ /m/e/n/in/u/ /k/u/m/e/u/ /a/ /m/a/s/ã/.
Os sintagmas, as palavras, os morfemas e os fonemas são considerados unidades ou camadas que relacionadas entre si resultam na frase do nosso exemplo: “O menino comeu a maçã”.
O modo de análise do estruturalismo norte-americano é bastante formal e restringe sua abordagem à classificação dos elementos que aparecem nos dados coletados e à identificação das leis que regem tais combinações.
SINTAGMAS
Sintagmas são formas mínimas que se combinam para resultar em uma unidade linguística. As formas combinadas entre si apresentam um elemento que é determinante em relação ao outro, criando uma relação de subordinação.
MORFEMAS
Morfemas são a menor unidade de funcionamento na composição (estrutura) da palavra, sendo, portanto, a unidade linguística mínima que possui significado.
FONEMAS
Fonemas são o segmento mínimo ou a menor unidade no campo fônico (som), destituída de sentido, ou seja, não apresenta isoladamente um significado, um conceito ou uma ideia. O fonema não corresponde necessariamente às letras da grafia usual e são representados por letras entre barras. O fonema pode ser, também, considerado uma subdivisão da sílaba.
MAS VOCÊ PODE SE PERGUNTAR:
QUAL É A UTILIDADE DE TAIS CONCEITOS?
A resposta será dada a partir das principais ideias defendidas por Saussure, no próximo módulo. Mas antes, verifique se você entendeu as noções básicas do estruturalismo linguístico, seja na escola europeia ou na norte-americana, fazendo as atividades seguintes.
Fonte: Shutterstock
VERIFICANDO O APRENDIZADO
ATENÇÃO!
Para desbloquear o próximo módulo, é necessário que responda corretamente a uma das seguintes questões.
1. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE DESCREVE CORRETAMENTE O ESTRUTURALISMO LINGUÍSTICO PROPOSTO POR FERDINAND DE SAUSSURE.
O entendimento da língua como um sistema pode recorrer à analogia com o jogo de xadrez, porque o mais importante na língua é como os elementos internamente se relacionam entre si, quais as regras e o modo de funcionamento deles.
A língua é um sistema ou uma estrutura, por isso o mais importante são as regras normativas das gramáticas escolares, que sustentam essa estrutura, e não o funcionamento interno dos elementos da língua, que o desequilibram.
A língua, apesar de ser um sistema, deve ser estudada priorizando as relações sociais de seus falantes ou usuários, além de considerar questões referentes à cultura, à história, à geografia e ao nível educacional, entre outros.
O estudo da língua como um sistema, e que, portanto, dá-se por meio de regras e procedimentos, permite confirmar que os falantes ou usuários com pouco acesso aos estudos não conseguem se comunicar.
O sistema da língua é formado pelas relações internas entre morfemas e fonemas, e deve ser entendido a partir de regras gramaticais normativas, afinal, elas regem tais combinações.
2. A CORRENTE ESTRUTURALISTA NORTE-AMERICANA PODE SER ADEQUADAMENTE DESCRITA POR MEIO DE QUAL CARACTERÍSTICA?
O estruturalismo norte-americano entende que as partes da língua, sejam elas radicais ou afixos, são organizadas em posições indefinidas e aleatórias, possuindo autonomia entre si. Daí a necessidade organizadora da gramática.
O método dedutivo e exclusivamente interpretativo caracteriza o estudo da língua e da estrutura das frases no estruturalismo norte-americano.
Uma frase deve ser entendida como a sobreposição de elementos isolados que se constituem em sequências simples. Ao descrever tais sequência fixas, o estruturalismo norte-americano é descritivo.
As unidades ou camadas da língua são consideradas a partir das relações que estabelecem entre si, como pode ser descrito na análise das diversas combinações entre os sintagmas, as palavras, os morfemas e os fonemas encontrados na frase “O menino comeu a maçã”.
O estruturalismo norte-americano é mais pragmático do que teórico, partindo da sequencialidade de elementos fixos, como morfema, que auxiliaram indígenas a aprenderem o inglês.
GABARITO
1. Assinale a alternativa que descreve corretamente o estruturalismo linguístico proposto por Ferdinand de Saussure.
A alternativa "A " está correta.
O estruturalismo de Ferdinand de Saussure deve ser descrito a partir do entendimento da língua como um sistema ou uma estrutura, na qual os elementos internos se relacionam a partir de regras e formas de funcionamento próprias, como em um jogo de xadrez. As demais opções estão incorretas porque Saussure não valorizava as regras da gramática normativa, não priorizava as relações sociais no estudo da língua, nem defendia a ideia de que os falantes sem escolaridade não conseguem se comunicar.
2. A corrente estruturalista norte-americana pode ser adequadamente descrita por meio de qual característica?
A alternativa "D " está correta.
O estruturalismo norte-americano apresenta como característica o entendimento de que a língua se organiza por meio de combinações de diversos elementos. Assim, unidades menores vão se combinando para formar uma unidade superior, como se verifica na combinação de fonemas e morfemas para formar uma palavra, e na combinação de palavras e sintagmas para formar uma frase. As demais alternativas estão incorretas porque a organização dos elementos da língua não se dá de forma aleatória, nem com sobreposição de elementos isolados. Além disso, o método usado no estruturalismo é indutivo e descritivo.
O CONTEÚDO AINDA NÃO ACABOU.
Clique aqui e retorne para saber como desbloquear.
VOCÊ CONSEGUIU DESBLOQUEAR O MÓDULO 2!
E, com isso, você:
 Descreveu conceitos gerais do estruturalismo linguístico e suas características
 Retornar para o início do módulo 1
MÓDULO 2
Definir as dicotomias saussureanas
AS DICOTOMIAS SAUSSUREANAS
VOCÊ SABE O QUE É
UMA DICOTOMIA?
O termo se refere à divisão de um conceito em duas partes, formando um par opositivo.
Ao estudarmos Saussure, encontramosas chamadas dicotomias. Algumas das principais dualidades propostas por Saussure são: língua e fala, sincronia e diacronia, sintagma e paradigma.
Fonte: Shutterstock
LÍNGUA E FALA
Comecemos com a dicotomia língua e fala, ou langue e parole, se fôssemos utilizar os termos franceses originalmente empregados por Saussure. Para explicar o conceito de língua, é importante relembrar que ela faz parte da linguagem. Para Saussure (1996), a linguagem é um objeto duplo, pois um fenômeno linguístico apresenta perpetuamente duas faces que se correspondem e das quais uma não vale senão pela outra.
Fonte: Shutterstock
A linguagem é multiforme e heteróclita, enquanto a língua é o aspecto social, coletivo, compartilhada entre os falantes como uma herança recebida de seus antepassados.
EXEMPLO
Saussure (1996) dá o seguinte exemplo: “Dizemos homem e cachorro porque antes de nós se disse homem e cachorro”. O exemplo mostra que não ocorrem mudanças repentinas ou mesmo individuais na língua, sendo ela, portanto, resistente à mudança. Por outro lado, Saussure afirma que, para haver mudança na língua, as alterações deverão ocorrer nos atos da fala, que se constituem numa manifestação individual da língua.
Para Saussure (1996), a língua constitui um sistema de valores puros que nada determina fora do estado momentâneo de seus termos, ou seja, a pureza tem a ver com os valores que se dão no ato da fala.
A LÍNGUA É NECESSÁRIA PARA QUE A FALA SEJA INTELIGÍVEL E PRODUZA TODOS OS SEUS EFEITOS; MAS ESTA É NECESSÁRIA PARA QUE A LÍNGUA SE ESTABELEÇA.
(SAUSSURE, 1996)
Logo, a língua funciona como um princípio de ordenação, que se configura fala e promove a modernização do sistema linguístico. O falante pega as peças, como no jogo de xadrez, seguindo princípios e organizando o sistema linguístico.
A linguagem tem um lado social (coletivo), que é a língua, e um lado individual, que é a fala. Para Saussure, não é possível conceber um sem o outro. A língua, portanto, é um sistema coletivo utilizado para a comunicação dos indivíduos na sociedade, sendo parte essencial da linguagem.
O autor também afirma que a língua é um tesouro depositado no cérebro dos usuários de uma mesma comunidade linguística e declara que ela decorre de um contrato feito entre os falantes, justificando o seu caráter social. Ninguém, de forma individual, pode criar nem modificar a língua.
Quando Saussure (1996) se refere à fala, afirma que ela constitui o uso individual do sistema linguístico, sendo um ato individual de vontade e de inteligência. O usuário combina as unidades disponíveis no sistema linguístico para expressar seu pensamento, sendo um mecanismo psicofísico que exterioriza tais combinações, ou seja, torna-se uma manifestação prática e concreta da língua por determinado falante.
Por isso, afirma-se que a fala é individual e está submetida às regras da língua, que podem ser modificadas, desde que outro usuário a quem a informação é endereçada aceite a mudança. Nesse sentido, a mudança começa pela fala até chegar à língua.
Há uma comparação da língua com o dicionário que pode ajudar a compreender melhor o conceito de fala. O linguista brasileiro Edward Lopes explica essa analogia da língua com o dicionário:
SAUSSURE COMPARA A LÍNGUA A UM DICIONÁRIO, CUJOS EXEMPLARES TIVESSEM SIDO DISTRIBUÍDOS ENTRE TODOS OS MEMBROS DE UMA SOCIEDADE. DESSE DICIONÁRIO (AO QUAL DEVERÍAMOS ACRESCENTAR, PARA SERMOS MAIS PRECISOS, UMA GRAMÁTICA), QUE É A LANGUE, CADA INDIVÍDUO ESCOLHE AQUILO QUE SERVE AOS SEUS PROPÓSITOS IMEDIATOS DE COMUNICAÇÃO. ESSA PARCELA CONCRETA E INDIVIDUAL DA LANGUE, POSTA EM AÇÃO POR UM FALANTE EM CADA UMA DE SUAS SITUAÇÕES COMUNICATIVAS CONCRETAS, CHAMOU-A SAUSSURE PAROLE (EM PORTUGUÊS “FALA” OU “DISCURSO”).
(LOPES, 2005)
Diante do conceito e da distinção de língua e fala, Saussure estabelece que o objeto de estudo da Linguística é a língua e não a fala, que é vista como secundária.
A língua é comum a todos, sendo essencial na atividade de comunicação e não uma manifestação específica de cada um, como é o caso da fala. Por isso, toda a preocupação extralinguística é abandonada e a estrutura linguística é estudada a partir de relações internas da língua.
ATENÇÃO
Lembre-se de que para Saussure não se pode estudar as relações internas da língua de forma isolada. A língua é essencial para que a fala seja entendida e o usuário possa se comunicar. Além disso, ela se forma a partir de sua manifestação individual, a fala, que é uma forma concreta de uso.
Veja a imagem a seguir:
Imagem 1 – Circuito da comunicação para Saussure (1996)
A imagem 1 mostra como Saussure entendia o processo de comunicação. O termo comunicação vem do verbo latino comunicare, que significa tornar comum, ou seja, são necessários alguns elementos comuns para que haja comunicação. São necessários dois indivíduos que falem a mesma língua e usem signos comuns aos dois.
Refletindo sobre a questão, responda:
EM UMA PALESTRA, É POSSÍVEL
HAVER COMUNICAÇÃO?
SIM NÃO
Os indivíduos envolvidos na comunicação precisam falar a mesma língua, caso contrário, não haverá comunicação entre eles. Por exemplo, os dois devem ser falantes da língua portuguesa e usar elementos comuns aos dois. É relativamente comum encontrar pessoas que falam a mesma língua que nós, mas usam um vocabulário muito específico que impede a comunicação. Elas falam, mas não estabelecem comunicação.
Se todos os requisitos são acompanhados, cada um dos usuários da imagem apresenta uma fala característica, individual, pertencente a determinada língua, o que não prejudica a comunicação entre eles.
DIFERENÇA ENTRE LÍNGUA E FALA
Vamos conhecer um pouco mais sobre a diferença entre língua e fala!
Neste vídeo, o professor Luís Dallier comenta as diferenças entre langue e parole. Vamos assistir!
Antes de conhecer a próxima dicotomia de Saussure, confira uma síntese da distinção entre língua e fala:
	LANGUE
	PAROLE
	Língua
	Fala
	Sistema global de regularidades
	Constituída por expressões reais em si
	Caráter coletivo
	Caráter individual
	Social, exterior ao indivíduo
	Atividade linguística concreta, momen­tânea e individual
	Convencional
	Exprime pensamento pessoal
	Homogênea
	Heterogênea
	Interesse prioritário do linguista; pode ser estudada separadamente
	Considerada acessória e acidental
(DALLIER, 2015)
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
SINCRONIA E DIACRONIA
Para entender a dicotomia sincronia e diacronia, vamos conhecer os fatos a seguir:
No início do século XIX, os pesquisadores notaram muitas semelhanças entre determinadas línguas. Assim, buscou-se reunir as línguas em grupos ou famílias, método que ficou conhecido como histórico-comparativo.
A partir de 1870, os chamados neogramáticos criticaram o método histórico-comparativo, demonstrando que as mudanças linguísticas seguiam certa regularidade, independentemente da vontade dos falantes e, por isso, afastaram-se das especulações pouco científicas e subjetivas para seguirem o rigor científico no entendimento das mudanças ocorridas nas línguas ao longo do tempo.
Saussure se diferencia ao estabelecer que o estudo da língua pode se dar em um eixo diacrônico, relacionado aos fatos que se sucedem com uma língua no decorrer do tempo, ou em um eixo sincrônico, relacionado ao que é simultâneo ou coexistente em uma língua.
Vamos entender melhor cada um desses conceitos, começando pela sincronia.
"A SINCRONIA ERA O TERMO USADO POR SAUSSURE PARA DESIGNAR A CONCATENAÇÃO DOS FATOS DE UMA LÍNGUA NUM MOMENTO DE SUA HISTÓRIA. ELES SE APRESENTAM NUM CONJUNTO DE CORRELAÇÕES E OPOSIÇÕES QUE CONSTITUI UM ESTADO LINGUÍSTICO, ONDE É APREENSÍVEL UMA ESTRUTURA” (CÂMARA JR., 1996).
A sincronia pode ser associada à linguística estática. Usando uma analogia, é uma fotografia que recorta determinado momento da língua. Ainda poderia ser comparada a um texto descritivo que foca em transmitir as impressões da língua em certo período histórico. Por isso, Saussure (1996) afirma que é sincrônico tudo quanto se relacione com o aspecto estático da nossaciência.
Enquanto a sincronia estuda a língua em um momento histórico para fazer a sua descrição, a diacronia busca fazer uma comparação entre dois momentos da mudança de uma língua.
Agora vamos compreender esse segundo elemento da dicotomia sincronia/diacronia.
"A DIACRONIA É UM TERMO ADOTADO POR SAUSSURE PARA DESIGNAR A TRANSMISSÃO DE UMA LÍNGUA, DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO, ATRAVÉS DO TEMPO, SOFRENDO ELA NESSE TRANSCURSO MUDANÇAS EM TODOS OS NÍVEIS, CUJO CONJUNTO CONSTITUI A EVOLUÇÃO LINGUÍSTICA.” (CÂMARA JR., 1996).
É preciso deixar claro que estudar a língua de forma diacrônica não é sinônimo de estudar o passado de uma língua, mas de compreender as mudanças na língua ao longo de determinado período.
EXEMPLO
Veja no gráfico a seguir um exemplo da diferença entre diacronia e sincronia:
Gráfico 1 – diacronia x sincronia
Nas linhas horizontais, vemos o estudo sincrônico, enquanto na linha vertical, a abordagem diacrônica.
Ao estudar a forma verbal ponere no latim, temos um estudo sincrônico (linhas horizontais), da mesma forma ao estudar o verbo poer no português antigo e pôr e suas variantes atuais no nosso português. Porém, ao estudar as mudanças do latim até o português atual, do português antigo ao atual ou do latim ao português antigo, tem-se o estudo diacrônico (linha vertical), ou seja, são abordadas as mudanças ocorridas durante um espaço de tempo.
 
Se a sincronia pode ser comparada a uma fotografia, a diacronia se assemelha a um filme, que antigamente era realizado a partir da sucessão de imagens passadas rapidamente para dar ilusão de movimento. Se a sincronia é como um texto descritivo, a diacronia é uma narrativa, uma sucessão de eventos.
A METÁFORA DO JOGO DE XADREZ
Usando a ilustração do xadrez, Saussure identifica no tabuleiro do jogo comparações com os enfoques sincrônico e diacrônico. Vamos conhecer melhor essa analogia!
Depois de apontar a diferença entre as duas formas de investigação linguística, Saussure defende que a prioridade está sobre o olhar sincrônico da língua, ou seja, o estruturalismo deve privilegiar o sistema da língua, que se configura a partir de suas relações internas em determinado momento.
Fonte: Shutterstock
SINTAGMA E PARADIGMA
Saussure identifica na língua dois tipos de relação: as sintagmáticas e as paradigmáticas. Essas relações evidenciam como as unidades que constituem o sistema relacionam-se umas com as outras, organizando a estrutura da língua.
Para Saussure, as relações entre os sintagmas estão baseadas na linearidade da língua, ou seja, a noção é que a língua é constituída de elementos que se sucedem um após o outro na cadeia da fala. Essa relação entre os elementos é chamada de sintagma. Assim, um termo terá valor quando contrastado com o anterior, o posterior ou ambos, porque um sintagma não pode aparecer ao mesmo tempo que o outro. Por isso, Saussure afirma:
O SINTAGMA SE COMPÕE SEMPRE DE DUAS OU MAIS UNIDADES CONSECUTIVAS (POR EXEMPLO: RE-LER, CONTRA TODOS; A VIDA HUMANA, DEUS É BOM; SE FIZER BOM TEMPO, SAIREMOS ETC.).
(SAUSSURE, 1996)
AS RELAÇÕES SINTAGMÁTICAS SE ORIGINAM DAS DIVERSAS COMBINAÇÕES ENTRE ESSES ELEMENTOS.
Lembre-se das aulas de análise sintática na escola. Era pedido que os termos das orações fossem classificados como sujeito, predicado, objeto direto, complemento nominal, adjunto adverbial, entre outros. O que o professor estava pedindo era que aquele sintagma fosse classificado de acordo com a gramática normativa. Além disso, em nossa fala, organizamos as frases a partir de sintagmas, e não de palavras soltas. Nós fazemos isso a todo instante, como você pode ver no exemplo a seguir:
EXEMPLO
Daniel comprou um pão na padaria no domingo.
Temos os seguintes sintagmas na frase: “Daniel”, “comprou”, “um pão”, “na padaria” e “no domingo”. Tais sintagmas podem ser colocados em diversas posições da sentença, como em:
(1) Daniel comprou, no domingo, um pão na padaria.
(2) No domingo, Daniel comprou um pão na padaria.
(3) Daniel comprou na padaria, no domingo, um pão.
Mas o sintagma não pode ser quebrado ou invertido, como em:
(1) * Daniel comprou pão um na padaria no domingo.
(2) * na Daniel comprou um pão padaria no domingo.
(3) * Daniel comprou um pão na padaria domingo no.
Lembre-se de que o asterisco (*) indica que a frase é agramatical, ou seja, não é possível na língua.
Agora veja a definição de sintagma dada por Câmara Jr.:
TERMO ESTABELECIDO POR SAUSSURE PARA DESIGNAR A COMBINAÇÃO DAS FORMAS MÍNIMAS NUMA UNIDADE LINGUÍSTICA SUPERIOR. DE ACORDO COM O ESPÍRITO DA DEFINIÇÃO IMPLÍCITA EM SAUSSURE, ENTENDE-SE ATUALMENTE POR SINTAGMA APENAS UM CONJUNTO BINÁRIO (DUAS FORMAS COMBINADAS) EM QUE UM ELEMENTO DETERMINANTE CRIA UM ELO DE SUBORDINAÇÃO COM OUTRO ELEMENTO, QUE É O DETERMINADO. QUANDO A COMBINAÇÃO CRIA UMA MERA COORDENAÇÃO ENTRE OS ELEMENTOS, TEM-SE, AO CONTRÁRIO, UMA SEQUÊNCIA.
(CÂMARA Jr., 1996)
Quando o falante une duas ou mais unidades, como nos exemplos anteriores, ele está combinando sintagmas e são criadas diversas relações que se articulam entre si, com várias possibilidades de associação entre essas unidades.
Nessa dicotomia, encontramos também as relações paradigmáticas. Os paradigmas são manifestados por relações de associação mental entre a unidade linguística que está em determinada posição na frase e todas as outras que estão ausentes, mas que pertencem à mesma classe daquela e que poderiam substituí-la naquele contexto.
Por exemplo, a palavra sapateiro está associada a sapato e à sapataria, com base no radical sapat. Da mesma forma, o sufixo -eiro pode nos levar a outra série de paradigmas, como violeiro, cabelereiro, livreiro e outros. Assim, o funcionamento da língua ocorre porque ela é um sistema formado por associações, combinações e exclusões.
Câmara Júnior define paradigma da seguinte forma:
CONJUNTO DE FORMAS LINGUÍSTICAS QUE SE ASSOCIAM POR UM TRAÇO LINGUÍSTICO PERMANENTE, QUE É O DENOMINADOR COMUM DE TODAS ELAS. NA BASE DESSE TRAÇO, ESTABELECEM-SE CORRELAÇÕES E AS OPOSIÇÕES ENTRE OS MEMBROS DO PARADIGMA.
(CÂMARA Jr., 1996)
Para Joaquim Mattoso Câmara Júnior, o paradigma trabalha com relações inspiradas em combinações, ou seja, é o material que está na mente do falante para que possa ser escolhido, dentro de uma lista de possibilidades.
ATENÇÃO
Vale lembrar que, no paradigma, elementos podem ser associados, mesmo que o sentido seja outro. Trata-se de um repositório ou memória em que estão inúmeras possibilidades retiradas da língua. Por isso, a relação sintagmática se dá pela ausência, já que a escolha de um elemento automaticamente exclui os outros e um elemento se discerne do outro na relação.
Antes de avançar para o último módulo, que trata do signo linguístico, é preciso verificar se você entendeu as noções das dicotomias propostas por Saussure, fazendo as atividades a seguir.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
ATENÇÃO!
Para desbloquear o próximo módulo, é necessário que responda corretamente a uma das seguintes questões.
1. AO ESTUDARMOS SAUSSURE, DEPARAMO-NOS COM AS DICOTOMIAS LÍNGUA/FALA E SINCRONIA/DIACRONIA, APRESENTADAS EM SEU CURSO DE LINGUÍSTICA GERAL. DEFINIR ESSAS DICOTOMIAS IMPLICA AFIRMAR CORRETAMENTE QUE:
A língua (langue) tem caráter individual em oposição ao caráter coletivo da fala (parole). Seu estudo é denominado sincrônico quando o enfoque são as mudanças ocorridas ao longo do tempo.
A língua tem caráter individual, concreto e não sistêmico. Além disso, seu estudo é denominado diacrônico quando o enfoque é simplesmente o passado da língua.
A língua pode ser caracterizada como coletiva e social. Seu estudo é denominado diacrônico quando o enfoque são as mudanças ocorridas ao longo de determinado período de tempo.
A linguagem tem um lado social ou coletivo, que corresponde à fala.
A língua é individual, enquanto a linguagem é coletiva. No estudo histórico da Sociolinguística, entende-se como uma linguagem se torna uma língua.
2. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE APRESENTA UMA DEFINIÇÃO CORRETA DAS RELAÇÕES SINTAGMÁTICA E PARADIGMÁTICA:
O sintagma é baseado na noção de que os elementos da línguase sobrepõem, sem linearidade, enquanto o paradigma é uma relação criada a partir de fatores históricos e em que os elementos são combinados apenas quando o sentido de cada um é o mesmo.
O sintagma é baseado na noção de que a língua é um sistema em que os elementos se sucedem um após o outro na cadeia da fala, tendo valor quando contrastado com outro elemento, enquanto o paradigma é uma relação que se manifesta como um eixo de possibilidades de elementos estabelecidos na memória do usuário da língua.
Quando os elementos linguísticos estão isolados ou são analisados isoladamente na língua, tem-se um paradigma; e quando acontecem combinações ou associações a partir da memória ou repertório linguístico, tem-se o sintagma.
A relação sintagmática é aquela em que um elemento pode aparecer ao mesmo tempo que o outro, ou seja, a escolha de um elemento não exclui automaticamente os outros. A relação paradigmática, por sua vez, é única e original e exclui outros elementos quando um deles está em foco.
O sintagma está para o fonema (que não apresenta isoladamente um significado) assim como o paradigma para o morfema (que possui significado). Assim sendo, as relações paradigmáticas são semânticas, enquanto as sintagmáticas são sintáticas.
GABARITO
1. Ao estudarmos Saussure, deparamo-nos com as dicotomias língua/fala e sincronia/diacronia, apresentadas em seu Curso de Linguística Geral. Definir essas dicotomias implica afirmar corretamente que:
A alternativa "C " está correta.
Na definição da dicotomia língua/fala, a língua deve ser caracterizada como a parte social e coletiva da linguagem, diferentemente da fala, que é a parte individual. Em relação à dicotomia sincronia/diacronia, o estudo da língua a partir das mudanças ocorridas ao longo do tempo é denominado diacrônico, enquanto o estudo da língua em um momento específico é denominado sincrônico.
2. Assinale a alternativa que apresenta uma definição correta das relações sintagmática e paradigmática:
A alternativa "B " está correta.
A relação sintagmática é definida em função da sucessão dos elementos na cadeia da fala, ou seja, cada elemento da língua se relaciona com o outro linearmente por meio de contrastes ou oposições. Já as relações paradigmáticas se definem pelas possibilidades de combinações ou associações a partir de um repertório ou de uma memória linguística dos usuários ou falantes.
O CONTEÚDO AINDA NÃO ACABOU.
Clique aqui e retorne para saber como desbloquear.
VOCÊ CONSEGUIU DESBLOQUEAR O MÓDULO 3!
E, com isso, você:
 Definiu as dicotomias saussureanas
 Retornar para o início do módulo 2
MÓDULO 3
Identificar as características do signo linguístico
O SIGNO LINGUÍSTICO
Ao afirmar que a língua é um sistema de signos, Saussure define o signo linguístico a partir da união psíquica entre um significado e um significante, que são partes absolutamente inseparáveis, o que torna impossível um sem o outro.
O significado seria equivalente a um conceito, ou seja, é uma contraparte inteligível. Já o significante se aproxima da noção de imagem acústica, mas não é o som material, e sim a impressão do som, a parte sensível do signo.
Veja a imagem a seguir:
Imagem 2 – A natureza do signo linguístico (SAUSSURE, 1996)
No exemplo anterior, Saussure demonstra o funcionamento do signo linguístico a partir de um conceito manifestado pelo desenho do cavalo e da árvore. Esse conceito é imediatamente associado à imagem acústica de cavalo e árvore.
ATENÇÃO
Note que Saussure usa as palavras em latim para que ninguém acredite que a relação entre o significado e o significante tem alguma aproximação com a realidade que não seja a imposição. O “signo linguístico une não uma coisa e uma palavra, mas um conceito e uma imagem acústica.” (SAUSSURE, 1996)
Imagem 3 – O signo linguístico (SAUSSURE, 1996)
O signo só existe se tiver o conceito e a imagem acústica reunidos por esse vínculo indissociável. Normalmente, confunde-se palavra escrita ou falada com o signo, mas ela é apenas uma parte visível do signo. O conceito também não deve ser associado a uma coisa, o que seria uma simplificação muito grande, afinal, podemos nos referir a conceitos abstratos, como amor, alegria, entre outros, que não coisas. Por isso, mais adiante, Saussure passa a empregar os termos significado e significante para definir o signo.
Veja a próxima imagem, que ilustra o pensamento de saussureano:
Imagem 4 – O signo linguístico (SAUSSURE, 1996)
Ao ouvir o significante árvore, virá à mente do usuário da língua o conceito do que está sendo denominado árvore, e não o conceito ou sentido de uma caneta ou de um carro.
É interessante notar que um mesmo significante pode ter mais de um significado, como acontece com a polissemia (a palavra adquire um novo sentido). O significante cabra possui significados distintos nas frases a seguir:
A CABRA INVADIU O TERRENO.
ELE ERA UM CABRA DA PESTE.
NÃO ACHEI O PÉ DE CABRA.
Também é possível encontrarmos significantes distintos com um mesmo significado, como ocorre no exemplo a seguir:
ABÓBORA E JERIMUM
(PALAVRAS QUE DESIGNAM O MESMO FRUTO)
SIGNO LINGUÍSTICO
Vamos saber mais sobre o conceito de signo linguístico a seguir. Neste vídeo, o linguista Antônio Suarez Abreu trata do conceito de signo linguístico a partir de Saussure e de outros linguistas que vieram depois dele. Vamos assistir!
Assim como a língua é imposta como uma herança, o signo também é recebido de períodos anteriores e apresenta duas características essenciais: a arbitrariedade e a linearidade.
ARBITRARIEDADE E LINEARIDADE DO SIGNO LINGUÍSTICO
Saussure explica a arbitrariedade do signo linguístico da seguinte forma:
O LAÇO QUE UNE O SIGNIFICANTE AO SIGNIFICADO É ARBITRÁRIO OU ENTÃO, VISTO QUE ENTENDEMOS POR SIGNO O TOTAL RESULTANTE DA ASSOCIAÇÃO DE UM SIGNIFICANTE COM UM SIGNIFICADO, PODEMOS DIZER MAIS SIMPLESMENTE: O SIGNO LINGUÍSTICO É ARBITRÁRIO.
(SAUSSURE, 1996)
A união entre um significado e um significante é imposta, não existe nenhum tipo de vínculo causal entre os dois.
QUAL É A RELAÇÃO EXISTENTE ENTRE
UMA PALAVRA COMO CADEIRA E SEU CONCEITO?
Nenhuma. Apenas a imposição ou algo convencional, não motivado naturalmente. Por isso que em outras línguas o conceito de cadeira será representado por outras formas.
Fonte: Shutterstock
ATENÇÃO
A ideia de “mar” não está ligada por relação alguma interior à sequência de sons m-a-r que lhe serve de significante; poderia ser representada igualmente bem por outra sequência, não importa qual; como prova, temos as diferenças entre as línguas e a própria existência de línguas diferentes: o significado da palavra francesa boeuf (“boi”) tem por significante b-o-f de um lado da fronteira franco-germânica, e o-k-s ( Ochs) do outro. (SAUSSURE, 1996)
Desse modo, para Saussure, o significado ou conceito atrelado a um significante não depende da livre escolha de quem fala, já que o usuário da língua não tem ao alcance a possibilidade de “trocar alguma coisa num signo, uma vez que esteja ele estabelecido num grupo linguístico”. A conclusão, portanto, é “que o significante é imotivado, isto é, arbitrário em relação ao significado, com o qual não tem nenhum laço natural na realidade.” (SAUSSURE, 1996)
Se a relação entre o significado e o significante não pode ser alterada, o usuário, para transmitir suas ideias, precisa utilizar o sistema linguístico conforme os outros falantes pertencentes à mesma comunidade linguística. E se por um lado o signo linguístico é arbitrário, Saussure lembra que pode haver relativa motivação entre o significado e o significante em alguns casos.
O PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA ARBITRARIEDADE DO SIGNO NÃO IMPEDE DISTINGUIR, EM CADA LÍNGUA, O QUE É RADICALMENTE ARBITRÁRIO, VALE DIZER, IMOTIVADO, DAQUILO QUE SÓ O É RELATIVAMENTE. APENAS UMA PARTE DOS SIGNOS É ABSOLUTAMENTE ARBITRÁRIA; EM OUTRA, INTERVÉM UM FENÔMENO QUE PERMITE RECONHECER GRAUS NO ARBITRÁRIO SEM SUPRIMI-LO: O SIGNO PODE SER RELATIVAMENTE MOTIVADO.
(SAUSSURE, 1996)
Seguindo ainda a lógica das dicotomias para explicar o sistema da língua, Saussure apresenta dois tipos de arbitrariedade:ABSOLUTA
RELATIVA
A arbitrariedade absoluta pode ser exemplificada pelos números dez e nove, que isolados são totalmente arbitrários, manifestando uma relação imotivada. Ao combinar os dois números para formar dezenove, tem-se uma atenuação da arbitrariedade, pois dezenove originou-se dos signos ou palavras anteriores (dez e nove). Os significados anteriores servem para o entendimento do terceiro signo, portanto, temos a arbitrariedade relativa.
EXEMPLO
Outro exemplo para arbitrariedade absoluta é a palavra livro, enquanto livreiro é exemplo de arbitrariedade relativa, pois se trata de uma derivação.
A arbitrariedade do signo linguístico pode se contrapor à associação com a realidade encontrada no símbolo. O símbolo é motivado, ou seja, de alguma forma tem uma relação de causalidade ou proximidade com o mundo. Para explicar essa diferença, Saussure apresenta o símbolo da justiça, a deusa grega Têmis, com os olhos vendados, segurando a balança em uma mão e a espada na outra. Ao olhar para o símbolo da justiça, entende-se o seu papel de ser imparcial e de pesar os fatos. Por outro lado, o signo ou a palavra justiça tem uma relação arbitrária, imposta convencionalmente, com o conceito de justiça.
Outra característica defendida por Saussure sobre o signo linguístico é sua linearidade. Nas palavras dele:
Fonte: Shutterstock
O SIGNIFICANTE, SENDO DE NATUREZA AUDITIVA, DESENVOLVE-SE NO TEMPO: A) REPRESENTA UMA EXTENSÃO, E B) ESSA EXTENSÃO É MENSURÁVEL NUMA SÓ DIMENSÃO: É UMA LINHA.
(SAUSSURE, 1996)
A parte material do signo, ou seja, o significante, é linear. Isso se concretiza nas formas fônicas, nos significantes acústicos que se manifestam um após outro, gerando uma cadeia. Segundo Saussure (1996), esse caráter aparece imediatamente quando os representamos pela escrita e substituímos a sucessão do tempo pela linha espacial dos signos gráficos.
Se tomarmos a palavra cavalo e a segmentarmos em c-a-v-a-lo ou ca-va-lo, temos uma manifestação da linearidade no fato de identificarmos uma sequencialidade ou ordem que não pode ser rompida ou subvertida sob pena de dissolvermos o significante e o desprovermos de seu significado. (DALLIER, 2015)
O SIGNO NÃO TEM NECESSARIAMENTE ASSOCIAÇÃO COM A ESCRITA, MAS SERVE PARA ILUSTRAR A RELAÇÃO DA LINEARIDADE DO SIGNIFICANTE, UMA LETRA DE CADA VEZ, ASSIM COMO OCORRE NA SEQUÊNCIA FÔNICA.
Se o signo mantém o aspecto da imutabilidade para que a língua seja preservada e compreendida pelos usuários, é na arbitrariedade que surgem as mudanças linguísticas. Para que a mudança ocorra, é preciso que outros membros da coletividade concordem, processo que se dá por meio do tempo, da língua e dos falantes.
A mudança linguística não surge da noite para o dia. É um processo gradativo que começa com a variação. Por exemplo, a forma “Vossa Mercê” não foi simplesmente substituída por “você” em um instante. “Vossa Mercê” era amplamente utilizada, até que algumas pessoas passaram a produzir a forma “vosmecê”, que foi substituindo a forma anterior e alcançou uma nova variação: “você”. Atualmente, encontramos também a forma oral “cê”. Em outras palavras, a mudança linguística começa pela variação e, com o tempo, acontece o abandono da forma mais antiga.
ATENÇÃO
Não se deve confundir mudança linguística com atualização ortográfica. A ortografia é a forma estabelecida como correta para se escrever. Se cada indivíduo escrevesse da forma como se fala, em um espaço curto de tempo haveria tantas possibilidades de escrita que seria difícil ler um texto e, por isso, são estabelecidos certos padrões.
Um exemplo de atualização ortográfica foi a mudança de escrita da palavra “pharmácia” para farmácia ou as alterações ocorridas recentemente em palavras como “idéia” e “vôo”, que perderam o acento gráfico. Nesses casos, não houve alteração de som, de morfologia ou mesmo de sentido, apenas modificou-se a grafia. Essas transformações acontecem para suprir as necessidades da sociedade, mas não podem ser vistas como mudança linguística.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
ATENÇÃO!
Para desbloquear o próximo módulo, é necessário que responda corretamente a uma das seguintes questões.
1. DEVEMOS IDENTIFICAR COMO CARACTERÍSTICA DO SIGNO LINGUÍSTICO, DE ACORDO COM SAUSSURE, A RELAÇÃO SIGNIFICANTE/SIGNIFICADO. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE IDENTIFICA CORRETAMENTE ASPECTOS DO CONCEITO DE SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO.
Significante e significado referem-se ao referente. O significante é o signo em si, e o significado, a mensagem passada pelo signo.
O significante e o significado são partes do signo linguístico que podem ser separadas, podendo uma existir sem a outra.
O significante é equivalente a um conceito e o significado corresponde a uma imagem acústica, a parte sensível do signo.
O significado é equivalente a um conceito e o significante corresponde a uma imagem acústica, a parte sensível do signo.
O significante é o som material ou a forma da palavra escrita, enquanto o significado é a coisa de que falamos.
2. CONSIDERANDO QUE AIPIM, MANDIOCA E MACAXEIRA SÃO TERMOS DIFERENTES PARA DESIGNAR O MESMO TIPO DE PLANTA E QUE MANGA PODE DESIGNAR TANTO UMA FRUTA QUANTO UMA PARTE DA CAMISA OU DA BLUSA, IDENTIFIQUE A ALTERNATIVA QUE CORRETAMENTE APRESENTA UMA AFIRMATIVA SOBRE A RELAÇÃO SIGNIFICANTE/SIGNIFICADO.
Aipim, mandioca e macaxeira exemplificam significados regionais distintos correspondentes a três significados, enquanto manga é exemplo de um significante diretamente relacionado a um significado.
O significante manga possui um único significado.
Os significantes aipim, mandioca e macaxeira possuem significados diferentes.
Manga é exemplo de que um mesmo significante pode ter mais de um significado, enquanto aipim, mandioca e macaxeira exemplificam significantes distintos com um mesmo significado.
Significantes diferentes nunca podem ter um mesmo significado e um único significante não pode ter significados diferentes.
GABARITO
1. Devemos identificar como característica do signo linguístico, de acordo com Saussure, a relação significante/significado. Assinale a alternativa que identifica corretamente aspectos do conceito de significante e significado.
A alternativa "D " está correta.
O conceito de significante deve ser identificado como a parte sensível ou material do signo linguístico, também chamada de imagem acústica. O significante, no entanto, não se confunde com a palavra escrita. O significado deve ser identificado como o sentido, o conceito, não se confundido com a coisa ou a realidade de que falamos. Significante e significado são inseparáveis.
2. Considerando que aipim, mandioca e macaxeira são termos diferentes para designar o mesmo tipo de planta e que manga pode designar tanto uma fruta quanto uma parte da camisa ou da blusa, identifique a alternativa que corretamente apresenta uma afirmativa sobre a relação significante/significado.
A alternativa "D " está correta.
A existência de palavras diferentes para um mesmo tipo de planta mostra que o mesmo sentido ou conceito pode ser expresso por significantes diferentes. Por sua vez, a mesma palavra com sentidos distintos, como ocorre com o termo manga, ilustra o fato de que um mesmo significante pode ter mais de um significado, ou seja, sentidos ou conceitos diferentes.
O CONTEÚDO AINDA NÃO ACABOU.
Clique aqui e retorne para saber como desbloquear.
VOCÊ CHEGOU AO FINAL DA EXPERIÊNCIA!
E, com isso, você:
 Identificou as características do signo linguístico
 Retornar para o início do módulo 3
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo de dicotomias como língua/fala e diacronia/sincronia, além dos conceitos de arbitrariedade e linearidade, evidenciam que, para Saussure, a língua é um sistema, ou seja, uma estrutura.
Ao estudar a língua como sistema, sob o enfoque sincrônico, destacando as relações sintagmáticas, você deve ter percebido que a língua é uma rede de elementos interligados com regras próprias que determinam e controlam o uso da própria língua (BORBA, 1998). Sob o enfoque diacrônico, por sua vez, nota-se que ao longo do tempo podem ocorrer mudanças no sistemada língua. A perspectiva estruturalista, no entanto, vê as mudanças linguísticas como um todo orgânico que se move, e não as partes isoladamente (BORBA, 1998).
É bom lembrar, ao final deste tema, que o foco dos estudos estruturalistas não foram as mudanças ocorridas na língua ao longo do tempo, mas o estudo da língua como um sistema ou estrutura em determinado momento. Outras correntes e teorias linguísticas posteriores ao estruturalismo de Saussure acabaram resgatando a dimensão diacrônica e até mesmo os aspectos sociais e culturais no estudo da língua.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BORBA, F. S. Introdução aos estudos linguísticos. 12. ed. Campinas: Pontes, 1998.
CÂMARA JR., J. M. Dicionário de linguística e gramática. Petrópolis: Vozes, 1996.
COSTA, M. A. Estruturalismo. In: MARTELOTTA, M. E. (org). Manual de linguística. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2011, pp. 113-126.
DALLIER, L. C. Linguística. Rio de Janeiro: SESES, 2015.
LOPES, E. Fundamentos da linguística contemporânea. 19. ed. São Paulo: Cultrix, 2005.
RIBEIRO, M. P. Gramática aplicada da língua portuguesa. 22. ed. Rio de Janeiro: Metáfora, 2013.
ROSA, J. G. Tutameia. 2. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968.
SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. 20. ed. São Paulo: Cultrix, 1996.
EXPLORE+
· Você pode aprofundar seus conhecimentos sobre o estruturalismo proposto por Saussure lendo o artigo Saussure e o estruturalismo: retomando alguns pontos fundamentais da teoria saussuriana, das professoras Alessandra da Silveira Bez e Carla de Aquino.
· Outro texto que ajuda a aprofundar os estudos sobre o estruturalismo, partindo de Saussure e chegando até outros linguistas que vieram depois dele, é o artigo O Estruturalismo, do linguista Mattoso Câmara Jr.
CONTEUDISTA
Nataniel dos Santos Gomes
CURRÍCULO LATTES
DESCRIÇÃO
Consolidação da Semiótica como disciplina acadêmica, com seus principais conceitos e categorias, a partir das contribuições teóricas do pensador americano Charles S. Peirce.
PROPÓSITO
A Semiótica é uma ciência ampla e diversificada, que oferece importantes ferramentas para o estudo dos processos comunicativos. Seus métodos de análise ajudam a observar de forma mais sistemática e crítica a produção de sentidos e a construção dos significados e do conhecimento humano. Trata-se de um arcabouço teórico ainda atual e de extrema relevância para compreender como nos relacionamos por meio das múltiplas formas de linguagem existentes na cultura e na natureza.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Reconhecer as origens da Semiótica moderna e sua consolidação como disciplina acadêmica, a partir dos fundamentos iniciais propostos por Charles S. Peirce
MÓDULO 2
Identificar os principais conceitos, categorias e métodos da Semiótica americana, bem como suas possíveis aplicações
INTRODUÇÃO
Neste conteúdo, estudaremos a Semiótica, compreendendo as origens da ciência e identificando suas principais características, a partir das contribuições do cientista americano Charles Peirce. Discutiremos o sistema de tricotomias proposto pelo autor, analisando suas categoriais e compreendendo como diversos tipos de signo – palavras, sons e imagens, por exemplo – são acionados e se relacionam na construção de significados.
A temática pode parecer ampla e complexa, mas quando nos aventurarmos nessas discussões, refletiremos sobre nossa própria mente e a realidade que nos cerca, e nos tornaremos aptos a pensar essas interações de maneira mais analítica e aprofundada.
MÓDULO 1
Reconhecer as origens da Semiótica moderna e sua consolidação como disciplina acadêmica, a partir dos fundamentos iniciais propostos por Charles S. Peirce
A JOVEM CIÊNCIA DAS LINGUAGENS
O homem só conhece o mundo porque, de alguma forma, o representa e só interpreta essa representação numa outra representação.
(Lucia Santaella)
Charles Sanders Peirce (1839 – 1914).
O cientista estadunidense Charles Sanders Peirce (1839-1914) é considerado um dos maiores pensadores americanos de todos os tempos. Filho de um importante matemático e professor da Universidade de Harvard, ele cresceu entre artistas, acadêmicos e cientistas, formando-se um intelectual multifacetado. Graduado em química e formado pela mesma instituição na qual o pai lecionava, também era matemático, físico e astrônomo. Além de tudo, Peirce era um entusiasta da filosofia e se entendia principalmente como um lógico, sendo reconhecido como inventor do pragmatismo, um método baseado em análises empíricas e na percepção da realidade por meio da experimentação.
Mas o que de fato tornou o pesquisador mundialmente conhecido foi a criação de uma teoria ampla e diversificada, a Semiótica – termo que vem do grego semeîon (signo) e sema (sinal).
semeîon (signo) + sema (sinal)
 
Semiótica
Trata-se de uma ciência que estuda os signos e a produção de significados (semiose) na natureza e na cultura (NÖTH, 1995). A Semiótica tem como principal objetivo investigar todas as linguagens existentes, sejam elas:
VERBAIS
MATEMÁTICAS
BIOLÓGICAS
ARTÍSTICAS
COMUNICACIONAIS
A partir da sistematização dessa teoria, Peirce buscou realizar seu desejo de identificar uma linguagem comum às diversas ciências. Até os dias atuais, os métodos por ele propostos são amplamente utilizados em pesquisas de distintos campos científicos.
Peirce iniciou suas investigações sobre as linguagens, as representações e a cognição humana, a partir do estudo da fenomenologia, observando a produção do conhecimento e as diversas interpretações da realidade a partir da consciência. Por meio desses caminhos iniciais, o teórico elaborou e propôs uma nova doutrina, capaz de abarcar diversas linguagens e de analisar os diferentes tipos de signos em suas funcionalidades práticas e em suas potencialidades.
FENOMENOLOGIA
É uma corrente filosófica que pensa a relação entre sujeito (sua consciência) e o objeto, defendendo que o único conhecimento possível passa pela consciência, por como se percebe um fenômeno.
É POSSÍVEL AFIRMAR QUE O MODELO SEMIÓTICO DE COMUNICAÇÃO TEM COMO FOCO A CRIAÇÃO DE MENSAGENS A SEREM TRANSMITIDAS E A PRODUÇÃO DE SEUS SENTIDOS POR MEIO DO PENSAMENTO HUMANO. EM OUTRAS PALAVRAS, ANALISA COMO OS SIGNIFICADOS SÃO CONSTRUÍDOS POR MEIO DO USO DE DIFERENTES CÓDIGOS.
A princípio, esses termos e suas definições conceituais podem parecer muito abstratos e difíceis de compreender. Mas os processos analisados pela Semiótica fazem parte do nosso dia a dia e dos nossos esforços para compreender a realidade que nos cerca. São ainda mais necessários em tempos de intenso compartilhamento de informações e diante do surgimento de novas linguagens e formas de expressão.
EXEMPLO
Sempre que queremos comunicar algo a alguém, utilizamos sinais, códigos ou símbolos que se apresentam para nos expressarmos, garantindo, assim, que o conteúdo transmitido seja de fato compreendido por nosso interlocutor. Palavras, sons, imagens, gestos e até mesmo ações são exemplos de recursos aos quais podemos recorrer para atingir esse objetivo.
Mas, para que a mensagem seja efetivamente entendida pelos demais, é fundamental que os outros percebam e conheçam os sinais que utilizamos e produzam suas próprias representações mentais para processar os sentidos possíveis. É por isso que precisamos falar um mesmo idioma para conversar ou conhecer os mesmos símbolos religiosos para participar de uma liturgia, por exemplo.
Os signos, que são os elementos que utilizamos para formular as mensagens, representam algo a alguém. Quando erguemos nossa mão e a balançamos de um lado para o outro estamos representando uma saudação por meio de um gesto. Isso só acontece porque culturalmente aprendemos que o aceno significa “olá” ou “tchau”.
Dessa maneira, é possível afirmar que as mensagens e os processos de interação entre os signos e as pessoas se condicionam mutuamente.
OS SIGNOS NÃO TÊM UM SIGNIFICADO INTRÍNSECO, EM SI MESMOS, MAS DEPENDEM DO CONTEXTO NO QUAL ESTÃO INSERIDOS E DOS REPERTÓRIOS QUE OS SUJEITOS DA INTERAÇÃO POSSUEM E ACIONAM PARA QUE A PRODUÇÃO DE SIGNIFICADO OCORRA.
Apesar de a Semiótica ser uma ciência ainda jovem,a discussão sobre os signos e os processos de significação é tão antiga quanto o pensamento filosófico. Desde a Antiguidade Clássica, passando pela Idade Média e por pensadores modernos, o estudo das diversas formas de linguagem permeou muitos momentos da história do pensamento ocidental. Entender os múltiplos processos de interação entre os seres humanos, a natureza ou as máquinas têm sido uma curiosidade constante ao longo da história.
PANORAMA HISTÓRICO GERAL
A Semiótica moderna e sua formulação como uma disciplina acadêmica data da segunda metade do século XX. E não por acaso. O período é marcado pelo apogeu dos meios de comunicação de massa – como jornais, cinema, rádio e TV –, que passaram a levar informação e entretenimento para uma audiência de proporções nunca antes vistas.
A multiplicidade de linguagens que despontam nesse período impactou não apenas os comportamentos de consumo de conteúdo, mas toda a cultura do seu tempo. A consolidação dessas mídias trouxe consigo novos hábitos, modismos, visões de mundo. A comunicação deixou de ser prioritariamente verbal e restrita a públicos reduzidos.
Esses impactos não foram sentidos apenas no cotidiano, mas despertaram também a curiosidade de cientistas e intelectuais de diversas áreas, que perceberam a importância do fenômeno em todo mundo. Nesse contexto, surgiram os primeiros esforços intelectuais para propor um estudo sistemático dos signos e seus significados.
 SAIBA MAIS
Um importante marco histórico é a publicação da obra Curso de Linguística Geral, um compilado de anotações de aulas ministradas pelo linguista e filósofo suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913) na Universidade de Genebra. O material, organizado por seus alunos após sua morte, tornou-se ponto de partida para a consolidação de uma ciência geral dos signos, a Semiologia. Os semiologistas se interessavam especificamente por linguagens humanas.
Como já colocado, o campo da Semiótica não contempla apenas as expressões verbais, mas também outras linguagens, de imagens e elementos da natureza a sinais matemáticos, e o primeiro autor a utilizar o termo, também como proposta de consolidação da disciplina foi o cientista estadunidense Charles S. Peirce.
O teórico estipulou um modelo de análise baseado em três categorias universais, que explicam o processo de compreensão da realidade por meio de signos:
PRIMEIRIDADE
Corresponde às impressões puras e imediatas da realidade, sentidas, mas ainda não analisadas racionalmente.
SECUNDIDADE
É referente aos processos de reflexão, comparação e análise das sensações mais instintivas e automáticas.
TERCEIRIDADE
Está associada ao processo de produção de significado a partir do pensamento (semiose), sendo, portanto, a conexão entre as duas categorias anteriores.
Adiante, entenderemos melhor cada uma delas.
SEMIÓTICA SOVIÉTICA E SEMIÓTICA NO BRASIL
A Semiótica soviética surge a partir da relação entre o Partido Comunista e distintas correntes teóricas da época, na primeira década após a Revolução de 1917. É nesse contexto que os estudos da área começam a se desenvolver de forma mais sistemática.
Yuri Lótman com a primeira edição do seu livro
Curso de poética estrutural, de 1964
O período histórico foi marcado por diversos estudos sobre a produção artística, como o cinema e a literatura de vanguarda – vertente que ficou conhecida como Semiótica da Cultura. Mas a produção oriunda da extinta União Soviética só ganhou espaço internacional na década de 1950, sobretudo, a partir das contribuições de teóricos como Yuri Lotman e Boris Uspênski e dos estudos da Universidade de Tartu, na Estônia. Um dos maiores méritos dessa escola da Semiótica foi ampliar as delimitações do campo da pesquisa comunicacional, incluindo a produção cultural como objeto de estudo.
No Brasil, os estudos semióticos se iniciam na década de 1960, sobretudo, a partir da influência do professor e poeta concretista Décio Pignatari, que lecionava na Escola Superior de Desenho Industrial no Rio de Janeiro. O docente foi pioneiro na proposição de uma teoria Semiótica peirceana voltada para o Design, a Arquitetura e a Comunicação. Na década seguinte, passou a integrar o programa de pós-graduação da Universidade Católica de São Paulo, que se tornaria um curso de Comunicação e Semiótica. Por fim, é importante destacar a criação do Centro Internacional de Estudos Peirce (CIEP), na Universidade Católica de São Paulo, em 1996. O espaço foi inaugurado por Lucia Santaella, uma das pesquisadoras mais influentes do campo da Semiótica no Brasil até os dias atuais.
Beba Coca-Cola, Décio Pignatari, 1957.
SEMIÓTICA AMERICANA
A Semiótica americana – que, como vimos, tem em Charles Peirce seu maior expoente – busca estudar o aspecto relacional dos signos, adotando uma abordagem mais ampla sobre as múltiplas linguagens. Trata-se, portanto, de uma corrente mais interessada nos significados produzidos, a partir das interações do que no estudo isolado dos signos, por si só.
PEIRCE PROPÔS O CONCEITO DE RELAÇÃO SÍGNICA, QUE ENVOLVE O SIGNO PROPRIAMENTE DITO, O OBJETO QUE ESTÁ SENDO REPRESENTADO POR ELE E SEU INTERPRETANTE (A IMAGEM MENTAL À QUAL O INTERLOCUTOR RECORRE PARA LHE ATRIBUIR SENTIDO). OU SEJA, QUANDO NOS DEPARAMOS COM UM SIGNO E ACIONAMOS ALGUM REPERTÓRIO PARA COMPREENDÊ-LO, PRODUZIMOS OUTROS SIGNOS EM NOSSO PENSAMENTO PARA COMPLETAR O PROCESSO DE SIGNIFICAÇÃO. DESSE MODO, O SIGNIFICADO DAQUELE SIGNO INICIAL SE CONCLUI POR MEIO DE OUTRO SIGNO PRODUZIDO EM NOSSO PENSAMENTO.
Outro aspecto original da vertente proposta pelo autor norte-americano é a noção triádica do signo, um modelo dinâmico e contextualizado, cuja proposta é pensar a produção dos sentidos para além de dicotomias simplistas de análise. Além disso, nessa corrente de pensamento, os signos não devem ser pensados a partir de uma perspectiva abstrata ou metafísica, mas observados em seus usos práticos, no cotidiano.
E isso não é por acaso. Como mencionamos anteriormente, o cientista é considerado o pai do pragmatismo, uma escola teórica norte-americana que partia do princípio de que o conhecimento humano e o desenvolvimento das faculdades mentais ocorrem a partir da aprendizagem na experiência concreta, empírica. O termo vem do grego pragma, que significa ação. Os teóricos ligados ao pragmatismo são céticos em relação à metafísica, defendendo, portanto, um método de análise pautado apenas nos sentidos. Em outras palavras, só atestam o que pode ser comprovado por meio da experimentação sensível do mundo real.
Martino (2014) apresenta um exemplo bastante ilustrativo sobre o olhar pragmático acerca dos signos: a arquitetura das igrejas católicas:
Igreja de Nossa Senhora da Candelária, no Rio de Janeiro
Foto: Paulo Arquiteco / Wikimedia commons / CC-BY-SA-4.0.
Como o autor comenta, esses templos religiosos cristãos apresentam algumas similaridades estéticas, como vitrais, imagens de santos, pias batismais, torres, crucifixos, pinturas que ilustram passagens bíblicas etc. Assim, qualquer pessoa familiarizada com os códigos da cultura ocidental não terá dificuldades em perceber que esse tipo de construção é uma igreja. No entanto, todos esses signos foram escolhidos e convencionados socialmente de forma arbitrária.
Discoteca e casa noturna Paradiso, cujo prédio era originalmente uma igreja construída no século XIX, em Amsterdã, Holanda. Foto: Andreas Praefcke / Wikimedia commons / CC BY 3.0.
O pesquisador ressalta que na Europa há muitos prédios de antigas igrejas que atualmente são utilizados com outras finalidades, sem qualquer relação com o universo místico. São centros culturais ou salões de exposições, por exemplo. Em suma, todos os sinais religiosos permanecem nesses locais, mas não necessariamente serão considerados religiosos para quem os ocupa agora. Essa simples constatação, nos leva à conclusão de que “o signo pode virtualmente ser qualquer coisa no momento que é usado como tal. As três partes dessa relação – signo, significante e significado – não existem de maneira separada” (MARTINO, 2014, p.118).
RAMOS DA SEMIÓTICA
Desde suaorigem como campo científico, a Semiótica é apresentada a partir de diferentes vertentes. O mais correto seria falarmos em semióticas, no plural, para dar conta das diferentes correntes que existem no âmbito dessa ciência.
O ESTUDO DA SEMIÓTICA ABARCA DIVERSOS ASPECTOS RELATIVOS AOS SIGNOS, COMO SUA REPRESENTAÇÃO DA REALIDADE E AS DIVERSAS FORMAS DE INTERPRETÁ-LOS E APREENDÊ-LOS. ANALISA, PORTANTO, AS CARACTERÍSTICAS DESSES SINAIS, OS POTENCIAIS SENTIDOS QUE PODEM INCITAR E AS MÚLTIPLAS FORMAS DE COMPREENSÃO DE UMA MENSAGEM.
A vertente teórica proposta por Peirce, mais especificamente, propõe três ramos que abarcam o campo da Semiótica: a gramática especulativa, a lógica crítica e a metodêutica ou retórica especulativa.
GRAMÁTICA ESPECULATIVA
LÓGICA CRÍTICA
METODÊUTICA
GRAMÁTICA ESPECULATIVA
É o ramo de estudos que analisa os diversos tipos de signo, suas múltiplas formas de representação e seus potenciais significados. De acordo com Santaella (2008), esse segmento trabalha com conceitos abstratos, que permitem que determinados comportamentos possam ser considerados signos; e analisa os elementos determinantes para a compreensão dos signos e suas propriedades, ou seja, o que um signo deve ter para que possa incorporar qualquer significado.
LÓGICA CRÍTICA
Leva em conta os diferentes tipos de raciocínio. Analisa pensamentos, deduções e imagens que surgem na mente dos receptores de determinada mensagem. Corresponde à “teoria das condições gerais da referência dos Símbolos e outros Signos aos seus Objetos manifestos, ou seja, é a teoria das condições da verdade” (PEIRCE, 2000, p. 29). Os argumentos estudados pela lógica crítica são denominados inferências.
METODÊUTICA
Ramo abordado com menos frequência nos estudos de Semiótica, analisa as condições por meio das quais um signo dá origem a outro e, principalmente, busca compreender como um pensamento gera outro pensamento. Ou seja, debruça-se sobre a relação entre os tipos de raciocínio que são analisados pela lógica crítica (SANTAELLA, 1996, 2008).
RESUMINDO
Nessa perspectiva, a gramática especulativa é o ramo da Semiótica que estuda a forma dos signos, a lógica crítica é aquela que cuida dos sentidos da representação e, por fim, a metodêutica analisa os métodos originados pelos diversos tipos de raciocínio, observando os outros ramos no contexto cultural no qual estão inseridos.
CATEGORIAS UNIVERSAIS DO PENSAMENTO
Analisemos um exemplo, a partir de uma situação cotidiana. Imagine que você está em casa e alguém toca a campainha. O que veríamos se pudéssemos observar o pensamento em câmera lenta?
Em um primeiro momento, ouve-se um som. Na sequência, há um esforço para racionalizar aquele estímulo sonoro, diferenciando-o de outros barulhos, como o áudio da televisão ou o apito do micro-ondas. Por fim, é possível compreender o que aquela impressão inicial significa: há uma pessoa do lado de fora da casa querendo falar com você. Na prática, todas essas etapas ocorreriam em milésimos de segundos e sequer seriam perceptíveis. Não nos damos conta da complexidade do nosso próprio raciocínio diante dos estímulos que recebemos o tempo todo.
Essa situação simples é um exemplo de semiose, ou seja, corresponde a um processo de interpretação da realidade a partir de determinados signos.
PEIRCE COMPREENDE O SIGNO COMO ALGO QUE ESTÁ NO LUGAR DE OUTRA COISA PARA ALGUÉM.
O que está em jogo nessa premissa é uma relação construída a partir de três partes interligadas:
O SIGNO
A REPRESENTAÇÃO MENTAL
A CONSTRUÇÃO DO SIGNIFICADO
Quando algo se apresenta para nós e, ao se projetar em nossa mente, transforma-se em um signo, o resultado desse movimento forma o objeto de estudo da fenomenologia, ciência que cuida da investigação dos elementos que estão em nossa mente ou consciência. A representação mental ou referência é o que permite compreender o signo, é a ponte para a construção do significado.
Na perspectiva da Semiótica americana, mais especificamente, todo o processo envolvendo a produção de sentido – da percepção inicial de um signo à construção de seu significado por meio do pensamento –, pode ser pensado a partir de três categorias propostas por Peirce:
PRIMEIRIDADE
Corresponde ao contato inicial com determinado signo, que pode ser uma palavra, um som, uma imagem, um objeto. Trata-se da impressão imediata. Essa experiência está relacionada à percepção de um estímulo novo, original, espontâneo, que antecede qualquer distinção ou análise mais aprofundada. Ocorre antes da plena tomada de consciência sobre sua própria existência. É o que Santaella (1996) chama de “estado-quase”, uma forma de percepção rudimentar, imprecisa e indeterminada. Corresponde ao mundo dos sentidos, independente da racionalidade. No caso do exemplo que apresentamos anteriormente, a primeiridade corresponde ao momento do toque da campainha, quando se ouve o som.
SECUNDIDADE
Refere-se à etapa de racionalização das sensações iniciais da experiência da primeiridade, na qual o signo é distinguido, diferenciado e racionalmente processado. A primeira parte do processo restringe-se à qualidade do signo, às sensações despertadas, enquanto a segunda etapa materializa o estímulo em um pensamento. Em nossa situação hipotética, a secundidade corresponde ao rápido momento em que processamos o som que vem da porta, diferenciando-o de outros ruídos à nossa volta e decifrando-o.
TERCEIRIDADE
Síntese racional das duas etapas anteriores. Fase da compreensão, da criação do significado por meio do pensamento. É quando o indivíduo conecta o sinal recebido à sua experiência de vida, contextualizando-o a partir dos repertórios que conhece e detém. Em nossa história, a categoria estaria associada ao momento em que se percebe que o barulho que ouvimos (o signo) refere-se à campainha e, portanto, significa que há alguém à porta esperando para ser atendido. Aprendemos desde cedo a fazer a associação entre o som e o ritual que se repete toda vez que alguém vai a nossa casa para falar conosco. Esse ensinamento reflete uma convenção social, um conhecimento compartilhado coletivamente.
Agora vamos ver se você compreendeu o processo de produção de sentido por meio dos signos proposto Peirce.
A PRODUÇÃO DE INTELIGIBILIDADE E O SURGIMENTO DO PENSAMENTO EM SIGNOS FAZEM PARTE DE QUAL CATEGORIA?
· Primeiridade
· Secundidade
· Terceiridade
SENSAÇÕES E IMPRESSÕES ESTÃO EM QUAL CATEGORIA?
· Primeiridade
· Secundidade
· Terceiridade
O ESFORÇO INTELECTUAL DE PERCEPÇÃO INICIAL SE ENQUADRA EM QUAL CATEGORIA?
· Primeiridade
· Secundidade
· Terceiridade
A Semiótica peirceana trabalha com três tricotomias (divisão em três categorias):
1
A primeira tricotomia trata da relação entre os signos.
2
A segunda, corresponde à relação entre os signos e os objetos da realidade concreta por eles representados.
3
A terceira tricotomia se debruça sobre a relação entre os signos e as imagens mentais formadas no pensamento humano para compreender seus significados.
No próximo módulo, detalharemos cada uma dessas categorias e apresentaremos um resumo do método de análise peirceano, que constitui o cerne da Semiótica americana.
No vídeo a seguir, a professora Júlia Silveira fala sobre o signo e as categorias universais do pensamento. Vamos assistir!
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A ORIGEM DA SEMIÓTICA MODERNA COMO DISCIPLINA ACADÊMICA DATA DO SÉCULO XX, A PARTIR DE DIVERSOS ESTUDOS REALIZADOS NOS ESTADOS UNIDOS, NA EUROPA ORIENTAL E NA EXTINTA UNIÃO SOVIÉTICA. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE CORRESPONDE A UMA DAS ESPECIFICIDADES DA SEMIÓTICA AMERICANA EM COMPARAÇÃO COM AS DEMAIS CORRENTES DE ESTUDO DOS SIGNOS, QUE DESPONTARAM NA MESMA ÉPOCA.
Análise restrita às linguagens e formas de expressão verbais.
Método baseado em três categorias de ações mentais, acionadas nos processos de produção de sentido.
Fundação a partir dos estudos da Semiologia, capitaneados por Ferdinand de Saussure.
Estudo exclusivo dos signos e significados que fazem parte da cultura anglófona.
Corrente teórica considerada arcaica e que tende a cair em desuso.
2. AS CATEGORIAS UNIVERSAISDO PENSAMENTO, PROPOSTAS POR CHARLES PEIRCE, SÃO: PRIMEIRIDADE (IMPRESSÕES INICIAIS E ESPONTÂNEAS); SECUNDIDADE (PERCEPÇÃO POR MEIO DE COMPARAÇÕES) E TERCEIRIDADE (SÍNTESE RACIONAL DAS DUAS ETAPAS ANTERIORES). A PARTIR DESSA PERSPECTIVA, ASSINALE A DEFINIÇÃO CORRETA ACERCA DA CATEGORIA TERCEIRIDADE.
Análise restrita às emoções e sensações viscerais.
Conclusão obtida por meio da análise de três argumentos distintos.
Produção de sentido a partir de signos acionados pelo pensamento.
Tradução dos estímulos sensoriais para uma linguagem matemática e, portanto, objetiva.
Ato de descartar a percepção do signo da memória para se dedicar a outros pensamentos.
GABARITO
1. A origem da Semiótica moderna como disciplina acadêmica data do século XX, a partir de diversos estudos realizados nos Estados Unidos, na Europa Oriental e na extinta União Soviética. Assinale a alternativa que corresponde a uma das especificidades da Semiótica americana em comparação com as demais correntes de estudo dos signos, que despontaram na mesma época.
A alternativa "B " está correta.
Ao contrário dos estudos do campo da Semiologia, a Semiótica não trabalha com modelos dicotômicos, partindo sempre de tríades de categorias para analisar os signos e as suas relações com os objetos e os significados.
2. As categorias universais do pensamento, propostas por Charles Peirce, são: primeiridade (impressões iniciais e espontâneas); secundidade (percepção por meio de comparações) e terceiridade (síntese racional das duas etapas anteriores). A partir dessa perspectiva, assinale a definição correta acerca da categoria terceiridade.
A alternativa "C " está correta.
A categoria peirciana da terceiridade corresponde ao processo de produção de sentido que ocorre na mente humana, por meio de signos acionados mentalmente. Essa categoria de pensamento é a síntese das duas outras: primeiridade e secundidade.
MÓDULO 2
Identificar os principais conceitos, categorias e métodos da Semiótica americana, bem como suas possíveis aplicações
A INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE
Imagine um soldado em combate, observando seus adversários em uma trincheira à sua frente. Vamos supor que, após o confronto, ele consiga avistar um borrão branco em meio aos seus inimigos. A princípio, tudo o que pode enxergar é uma mancha, não sendo possível chegar a nenhuma conclusão precisa a respeito do que vê. Aproximando-se, o homem consegue identificar que se trata de um pano sendo balançado de um lado para o outro. O soldado estabelece, portanto, uma relação entre o branco e o pano e compreende que se trata de um objeto conhecido. Chegando ainda mais perto, o mistério se revela: alguém está agitando uma bandeira branca. Nesse exato momento, ele tem a total compreensão da situação: um pedido de paz, uma declaração de redenção.
Esse exercício imaginativo ilustra a maneira como interpretamos a realidade e ajuda a compreender os princípios básicos da Semiótica na perspectiva de Peirce:
 
Em um primeiro momento, os objetos da realidade concreta simplesmente aparecem diante de nós e são percebidos pela nossa mente.
 
Posteriormente, procuramos estabelecer uma relação de identificação para entender o que estamos vendo, ouvindo ou sentindo.
 
Por fim, conseguimos interpretar aquela imagem e, por meio do repertório que temos, compreendemos o seu significado naquele contexto.
É importante ressaltar também a importância do conhecimento dos códigos e dos repertórios que cada indivíduo possui para elaborar um significado inteligível por meio do pensamento. No caso do exemplo anterior, o soldado só conseguiu compreender que o signo “bandeira branca em movimento” significava um pedido de trégua porque, em algum momento ao longo da história, essa associação foi criada e o simbolismo coletivamente foi transformado em uma convenção social. Para processar a mensagem do seu adversário, o combatente de nossa história teve que acionar em sua mente uma imagem mental capaz de fornecer o significado daquele signo avistado no meio do confronto. Foi necessário acionar as informações apreendidas e produzir um novo signo em seu pensamento para que o objeto “bandeira branca” fosse assimilado e associado a um pedido de paz.
A Semiótica peirceana, portanto, é baseada em uma tríade:
A percepção dos objetos que existem no mundo concreto, na realidade prática.
As representações desses objetos por meio de signos diversos.
A elaboração mental do significado desses signos, por meio de novos signos que acionamos em nossa mente, com o repertório que possuímos.
O esquema proposto por Peirce envolve basicamente:
O SIGNO
O OBJETO POR ELE REPRESENTADO
O CHAMADO INTERPRETANTE
INTERPRETANTE
A imagem mental à qual o interlocutor recorre para atribuir sentido ao signo – e que também é, ela mesma, um signo.
Confira, no esquema a seguir, um resumo das categorias Peirceanas associadas ao interpretante:
A seguir, discutiremos cada um desses elementos e as relações que estabelecem entre si, a partir da perspectiva da Semiótica.
SIGNO
Comecemos por uma definição de dicionário. De acordo com o dicionário Michaelis, signo é um “sinal indicativo de algo; indício, símbolo, vestígio”.
EM UMA DEFINIÇÃO SIMPLES E RESUMIDA, TRATA-SE, PORTANTO, DE ALGO QUE ESTÁ NO LUGAR DE OUTRA COISA (OBJETO), PARA REPRESENTÁ-LA PARA ALGUÉM. TUDO O QUE REMETE OU FAZ REFERÊNCIA A ALGO ALÉM DE SI MESMO PODE SER CONSIDERADO UM SIGNO.
O signo, também chamado de representamen, é qualquer coisa que faz referência a um objeto concreto ou fenômeno da realidade. Substitui o objeto, representando-o, mas não é o objeto em si. Também não dá conta de fazer referência a todos os aspectos daquilo que substitui, mas sim a um tipo de ideia sobre o elemento ou fenômeno referenciado (PEIRCE, 2000).
Vejamos dois exemplos:
Foto: Shutterstock.com
É o caso de um sinal de trânsito, com suas diferentes cores, que indica regras a serem seguidas. Em tese, não é necessário um texto explicativo ou um guarda de trânsito para que motoristas e pedestres saibam quando podem seguir em frente e quando devem parar e aguardar.
Foto: Shutterstock.com
É também o caso de um crucifixo, objeto que ilustra e aciona a lembrança religiosa do sacrifício de Cristo para os fiéis católicos.
Os signos são, portanto, um meio de interação entre os seres, as linguagens e as representações.
Pensemos em nosso idioma, por exemplo. Cada palavra associada à língua portuguesa é um signo, sendo formada por um conjunto de letras (no caso da linguagem escrita) ou fonemas (na linguagem oral). São caracteres e sons que, ao se unirem, passam a representar alguma coisa e a comunicar determinada mensagem. Mas apenas quem sabe falar português vai entender o que esses signos representam nas distintas situações.
EXEMPLO
Quando escrevemos a palavra árvore (um conjunto de seis letras e um acento), esperamos que o leitor compreenda que estamos fazendo referência ao objeto concreto árvore, com seu tronco, folhas e galhos. Mas esse entendimento só acontecerá se houver conhecimento dos códigos do idioma, historicamente convencionados.
Para quem fala inglês, por exemplo, o objeto árvore em si é simbolizado pela sequência de caracteres tree. Ou seja, um signo só acionará a produção de sentidos na mente se entendermos o sistema de códigos no qual este está inserido. Nem árvore, nem tree são uma árvore propriamente dita ou fazem referência a todas as suas características, mas são signos que representam esse objeto por meio da linguagem.
O signo corresponde à unidade básica de entendimento de determinado código e pode ser desmembrado em dois níveis de compreensão:
SIGNIFICANTE
Corresponde ao elemento seu elemento material, tangível.
SIGNIFICADO
É a sua esfera abstrata e conceitual.
Desse modo, para dar conta de sua função mediadora e representativa, o signo precisa estar materializado em um veículo sensível ou em uma forma expressiva.
A partir da relação do signo consigo mesmo (a chamada primeira tricotomia de Peirce), o representamen pode ser classificado em três categoriais que indicam o tipo de interpretação que ocorre na mente

Continue navegando