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INSTRUMENTAÇÃO BIOMÉDICA Laura Reck Cechinel Introdução ao laboratório clínico e o laboratorista Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Descrever os objetivos associados às análises laboratoriais e o papel do laboratório clínico no auxílio ao diagnóstico. � Caracterizar os setores de laboratórios clínicos. � Identificar o regulamento técnico para o funcionamento de labora- tórios de análises clínicas. Introdução O papel da medicina laboratorial e do laboratório clínico é essencial, uma vez que as análises laboratoriais compõem parte fundamental na prática médica. O diagnóstico correto de uma doença é obtido a partir das contribuições das informações procedentes do laboratório clínico, as quais compõem um dos elementos de apoio ao diagnóstico, em conjunto com informações obtidas de exame físico e anamnese, além de outros recursos diagnósticos. Em combinação com os elementos citados, os exames clínicos se tornam um meio para o médico elaborar suas hipóteses. A facilidade cada vez maior com que as análises laboratoriais podem ser fornecidas e a crescente diversidade das medidas obtidas com ensaios contribuem para a supervisão clínica desde a gestação de uma criança até a idade avançada de uma pessoa. Como consequência dos avanços tecnológicos da atualidade, o profissional da área deve estar sempre atualizado, e espera-se que os futuros profissionais bem- -sucedidos estejam preparados para buscar avanços na informática, em métodos analíticos básicos, por meio de troca de informações e de experiências com colegas da clínica, participando de esforços conjuntos para padronizações de novas tecnologias. Neste capítulo, você vai aprender sobre o papel e os objetivos do laboratório no diagnóstico laboratorial. Para isso, vai identificar a estrutura de um laboratório para obter o conhecimento básico nesse assunto e construir novos aprendizados. Além disso, você vai estudar as normas téc- nicas que um laboratório deve seguir para que seus resultados respeitem o padrão de qualidade e sejam padronizados, evitando erros diagnósticos. Análises laboratoriais e o papel do laboratório clínico no auxílio ao diagnóstico O laboratório de análises clínicas desempenha um papel essencial no serviço de saúde. De acordo com estudos, os testes laboratoriais apoiam, aproxima- damente, 70% das decisões médicas (SILVERSTEIN, 2003). A indústria de análise laboratorial é responsável pela movimentação de 30 a 35 bilhões de dólares, embora esse valor represente apenas 3,5% do total direcionado aos serviços de saúde. Um laboratório é caracterizado por ser a instalação destinada à realização de exames biológicos com o objetivo de dar informações para diagnóstico, prevenção ou tratamento de qualquer doença. Os exames biológicos reali- zados em laboratórios são os seguintes: � microbiológicos; � sorológicos; � químicos; � imuno-hematológicos; � biofísicos; � citológicos; � patológicos; � outros exames de material ou amostra de paciente. Os serviços prestados pelos laboratórios clínicos são diversos e disponibi- lizados de muitos modos, desde os testes rápidos, os quais dão respostas ime- diatas, até os testes mais sofisticados, realizados por laboratórios de referência, que podem levar dias e/ou semanas para se obter o resultado (MCPHERSON; PINCUS, 2008). Introdução ao laboratório clínico e o laboratorista2 Para obter um diagnóstico laboratorial é necessário realizar um conjunto de exames, que pode ser realizado por meio do estudo de material biológico colhido do paciente, como, por exemplo, sangue, urina, saliva, fezes, esperma, fragmentos de tecido, líquido sinovial, pleural, líquido cefalorraquidiano, entre outros. O laboratório pode ser responsável pela coleta, mas ela também pode ser realizada em outros locais como hospital, clínica ou até mesmo no domi- cílio e no local de trabalho do paciente (XAVIER; DORA; BARROS, 2016). A rotina de um laboratório pode ser muito complexa, considerando a multiplicidade de processos diferentes e correlacionados e ainda dependentes da variedade de amostras analisadas. Assim, a interpretação correta dos re- sultados, que leva em consideração o significado e a importância do resultado do teste no contexto da necessidade médica que gerou a solicitação, é uma etapa crítica em uma série de eventos que pode ser caracterizada como “ciclo do exame”, e está ilustrada na Figura 1. Figura 1. Eventos que envolvem o ciclo do exame. Fonte: Xavier, Dora e Barros (2016, p. 39). 3Introdução ao laboratório clínico e o laboratorista Para que um laboratório contorne os possíveis erros em cada etapa e garanta padronização e qualidade, é fundamental que seja realizado o controle total e absoluto sobre todo processo. Esse processo pode ser dividido em três etapas (MCPHERSON; PINCUS, 2008): � Etapa pré-analítica — nessa etapa, os pontos cruciais estão associa- dos à qualidade da amostra do paciente, portanto dependem do seu preparo prévio, do método de coleta realizado e do acondicionamento das amostras e seu transporte. � Etapa analítica — nessa fase, os produtos, os materiais e os servi- ços empregados, bem como o controle e o processamento da amostra biológica por profissionais habilitados é considerado. Além disso, a realização dos exames em equipamentos com manutenção e que utilizam tecnologia da informação moderna também são essenciais. � Etapa pós-analítica — o controle não se limita apenas à parte técnica e aos equipamentos, mas também à emissão de laudos, em que se leve em consideração a correlação clínica-laboratorial e a interpretação clínica dos resultados. O resultado laboratorial tem grande confiabilidade e essa característica pode ser atribuída a um conjunto de fatores, desde a evolução dos métodos até o desenvolvimento de novas tecnologias associado à capacidade desses métodos em aferir uma amostra correta (CHAVES, 2010). O reconhecimento e a análise da variação nos exames laboratoriais são fundamentais na prestação de serviços de diagnóstico. Por esse motivo, para se adequar às mudanças que o mercado de medicina laboratorial vem sofrendo, cada vez mais os laboratórios estão buscando aperfeiçoamento para garantir um resultado mais preciso e em menor tempo possível. Com isso, vem crescendo a busca por inovações tecnológicas e por fornecedores com uma maior variedade de produtos. Os métodos de análises estão evoluindo de forma exponencial nos últimos anos, e esses avanços são observados de forma muito clara, basta analisar o volume de exames solicitados pelos médicos especialistas em suas consultas (HEIN; CARDOSO, 2008). Surgem, então, a intervenção de máquinas, a automação e as novas tecnologias. Esses avanços tecnológicos nos laboratórios implicam maior custo na contratação e treinamento de novos profissionais. Considerando esses dados referentes à ampla utilização dos laboratórios Introdução ao laboratório clínico e o laboratorista4 nos serviços de assistência à saúde, é necessário identificar os objetivos do laboratório de análises clínicas. Nesse contexto, o objetivo mais importante da medicina diagnóstica é fornecer aos médicos e aos demais profissionais da saúde informações para realizar as seguintes ações: 1. Detectar doenças ou predisposição a doenças e propiciar a prevenção adequada. 2. Confirmar ou rejeitar diagnósticos e possibilitar tratamento eficiente. 3. Estabelecer prognósticos e contribuir para a escolha da melhor conduta terapêutica. 4. Promover o diagnóstico diferencial entre possíveis doenças e oportunizar tratamento específico. 5. Estimar atividade e/ou recorrência de doença preexistente. 6. Possibilitar o aconselhamento genético. 7. Esclarecer questões médico-legais. 8. Orientar a supervisão do paciente. 9. Monitorar a eficácia da terapia. O laboratório ainda tem como objetivo garantir aos médicos e aos pacientes um atendimento eficiente e seguro, e fornecer laudos com resultados rápidose confiáveis para posterior tomada de decisão dos médicos em relação à conduta clínica dos seus pacientes (GUIMARÃES et al., 2011). Além disso, o laboratório também tem papel de liderança na educação e na pesquisa, no planejamento e na implementação de tecnologia da informação, e no aprimo- ramento da qualidade. Setorização em laboratórios clínicos O laboratório de análises clínicas é um empreendimento que apresenta di- versas particularidades e, em razão disso, sua estrutura demanda a presença de elementos diferenciados. Os equipamentos necessários para a realização de procedimentos específicos até a estrutura física do ambiente devem ser projetados de forma cautelosa não apenas para bem atender os pacientes/ clientes, mas para cumprir inúmeras regulamentações técnicas específicas para a atividade. 5Introdução ao laboratório clínico e o laboratorista A estrutura física de um laboratório é, sem dúvidas, um dos elementos mais importantes para que o laboratório tenha sucesso e deve respeitar normas técnicas. Segundo a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº. 50, de 21 de fevereiro de 2002, da Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA), são neces- sárias algumas áreas mínimas para atendimento de apoio ao diagnóstico. Um laboratório de porte médio deve ter, aproximadamente, 140 m2, que devem ser distribuídos em ambientes para execução de procedimentos técnicos e também ambientes de apoio, alguns estão listados a seguir (BRASIL, 2002): � sala para coleta de material (3,6 m2); � área para classificação e distribuição de amostras (3 m2); � sala de preparo de reagentes (3 m2) e de soluções (9 m2); � laboratório de hematologia, parasitologia, urinálise, entre outros (14 m2); � sala de extração de ácidos nucléicos (8,5 m2); � sala de reação em cadeia da polimerase (PCR) (6,0 m2); � sala de revelação de géis (4 m2); � área para registro de pacientes, incluindo sala de espera (24 m2); � sala de esterilização de material (4 m2); � sanitários para pacientes e acompanhantes e funcionários (10 m2); � sala da administração (15 m2). O laboratório de análises clínicas tem um fluxo de atividades muito com- plexo, em razão da gama de amostras biológicas que recebe e dos diferentes destinos que ela pode seguir a partir da sua coleta. Desse modo, esses labora- tórios são divididos em setores que estudam cada uma das amostras biológicas colhidas de forma específica. A seguir, você irá identificar os setores essenciais de um laboratório de análises clínicas e compreender quais são as atividades realizadas em cada um deles (ALMEIDA; BORGERT; BORBA, 2003). Bioquímica No setor de bioquímica, são realizados os testes para mensuração de diversas moléculas associadas a distúrbios, bem como avaliação da função de sistemas biológicos. Pode-se dizer que esse setor compreende os mais variados tipos de exames e avaliações do laboratório clínico. São alguns objetivos da análise bioquímica no laboratório: Introdução ao laboratório clínico e o laboratorista6 � avaliar função renal, da água, dos eletrólitos, do equilíbrio acidobásico. � avaliar função cardíaca, hepática, endócrina. � avaliar distúrbios no metabolismo de carboidratos, de lipídeos, de pro- teínas e de enzimas. � avaliar distúrbios endócrinos, gastrintestinais e pancreáticos. � dosar os marcadores bioquímicos do metabolismo ósseo. � dosar vitaminas e oligoelementos. � realizar avaliações toxicológicas e monitoramento de fármacos. � avaliar a função reprodutiva e a gravidez. Os testes laboratoriais para avaliação dos distúrbios citados, tomados em conjunto, são utilizados para se emitir o laudo para o paciente. A interpreta- ção adequada desses testes laboratoriais requer uma compreensão acerca da fisiologia e da patofisiologia dos sistemas do organismo. Hematologia O setor de hematologia é responsável pela análise das funções das células sanguíneas e avaliação da coagulação. Engloba os exames de concentração, estrutura e função das células presentes no sangue, de seus precursores na medula óssea, além disso, a função de plaquetas e proteínas associadas ao processo de coagulação também é examinada em testes realizados nesse setor. Alterações (mutações) genéticas subjacentes a alterações estruturais e funcionais de células e proteínas responsáveis por doenças hematológicas também são analisadas nessa parte do laboratório, em decorrência do avanço de técnicas de biologia molecular e do aumento da utilização na hematologia. Imunologia As medidas laboratoriais que são realizadas nesse setor estão relacionadas ao sistema imune. Essas medidas envolvem técnicas relativamente simples para contagem de linfócitos e seus respectivos subgrupos, bem como para quantificar as concentrações totais de imunoglobulinas e proteínas do com- plemento. Além disso, também são realizados exames para diagnóstico de patologias que utilizam a reação antígeno-anticorpo; o teste veneral disease research laboratory (VDRL) é um exemplo. Com esse teste é possível de- tectar os anticorpos inespecíficos ou reaginas encontrados em amostras de pacientes com sífilis por meio da floculação do antígeno. No entanto, para alguns distúrbios do sistema imune são necessários exames mais complexos, 7Introdução ao laboratório clínico e o laboratorista como a detecção de rearranjos genéticos, caraterização de autoanticorpos e reatividade da IgE a alérgenos. Microbiologia As funções do setor de microbiologia compreendem: � isolamento de microorganismos relevantes para a clínica; � determinação do perfil de sensibilidade aos antimicrobianos para uso racional dos antibióticos, abrangendo secreções, urina, fezes, sangue e líquidos corporais; � auxílio ao diagnóstico e cura de infecções; � detecção de surtos de doenças transmitidas por alimentos contaminados, por exemplo; � suporte ao programa de controle de infecção hospitalar dentro de uma instituição; � fornecimento de informações ao serviço de vigilância epidemiológica. O uso de equipamentos automatizados proporciona resultados mais rápidos e precisos, de acordo com as normas internacionais do Normativ Control Clinical Laboratory Standartization (NCCLS). Parasitologia O setor de parasitologia é responsável pela recuperação e identificação de parasitas em amostras biológicas. Para isso, existem diversos métodos des- critos, alguns dos quais são úteis para a detecção de várias espécies, enquanto outros detectam apenas uma determinada espécie. Em razão dessa variedade de parasitas e testes, é esperado que o laboratório e os profissionais estejam preparados para executar de maneira correta e eficaz os testes solicitados pelos médicos. A análise de amostras de fezes e sangue representa a maior parte das solicitações médicas para avaliação parasitológica. Várias amostras adicionais são enviadas aos laboratórios com menos frequência, incluindo amostras urogenitais, de escarro, de aspirados e de biópsia. Ao longo dos últimos anos, novos parasitas foram considerados relevantes para identificação laboratorial. Para acompanhar esses avanços, o laboratório deve se atualizar e utilizar métodos altamente específicos ou deve encontrar laboratórios de referência para atender a demanda dos pacientes. Introdução ao laboratório clínico e o laboratorista8 O diagnóstico correto de infecções parasitárias depende do exame macro e microscópico de amostras coletadas e preservadas de modo adequado. Para esse diagnóstico correto, também é desejável o conhecimento do ciclo de vida do parasita, que também auxilia na determinação do tipo, do número e da frequência de amostras necessárias para o diagnóstico. Uroanálise O exame de urina pode fornecer uma quantidade significativa de informações. Pode apresentar muitas anormalidades que são reflexo de doenças, por exemplo, anomalias endócrinas ou metabólicas podem ser identificadas se quantidade anormais de metabólitos estão presentes na urina; por isso o exame de urina recebe muita atenção na construção de um diagnóstico.É um exame relati- vamente simples, que avalia as características fisicoquímicas e microscópicas da urina. A análise fisicoquímica é feita utilizando-se tiras reagentes que são compostas por almofadas impregnadas com reagentes para a análise qualitativa ou semiquantitiva de diversos analitos (glicose, corpos cetônicos, bilirrubina, nitritos, etc), enquanto a análise microscópica envolve a observação de células (leucócitos, hemácias, células epiteliais), bactérias, cristais, cilindros e outros elementos eventualmente presentes. Os dados obtidos pela tira reagente de análise físico-química da urina podem ser lidos de forma manual ou, então, com auxílio de equipamento. O exame cuidadoso permite a detecção de processos patológicos intrínsecos ao sistema urinário, sejam funcionais (fisiológicos) ou estruturais (anatômicos), além da detecção de elementos que podem indicar a presença de patologias hepáticas ou biliares, metabólicas (diabetes, erros inatos do metabolismo) e outras mais. É possível realizar o monitoramento de algumas patologias, causando o mínimo de perturbações possíveis ao paciente, visto a facilidade da colheita da amostra e a metodologia relativamente simplificada para rea- lização do exame. 9Introdução ao laboratório clínico e o laboratorista Automação na medicina diagnóstica A medicina diagnóstica brasileira sofreu avanços consideráveis há, aproximadamente, 40 anos, com a chegada da automação laboratorial, no final da década de 1960. Esses avanços possibilitaram a ampliação do número e dos tipos de análises e, com isso, a importância do laboratório na decisão médica e na tomada de condutas terapêuticas. Automação origina-se do latim automatus e significa “mover-se por si”. De forma resumida, automação é a aplicação de técnicas computadorizadas ou mecânicas com o objetivo de tornar um processo mais eficiente, maximizando a produção com menor gasto de energia e gerando maior segurança. Os avanços tecnológicos nos sistemas automatizados e a evolução dos reagentes permitiram redução da imprecisão e aumentaram a confiabilidade nos resultados. A maioria dos laboratórios utiliza processos automatizados e o uso de etiquetas com códigos de barra para identificação das amostras contribui para aumentar a produtividade e melhora a qualidade do serviço. A informatização dos serviços no laboratório clínico facilitam e agilizam o acesso direto do médico aos resultados. A implementação de processos automatizados em laboratórios clínicos é uma tendência que só deve crescer, visto que os benefícios, como maior segurança para o paciente, maior velocidade de entrega de resultados, menor quantidade de novas coletas em razão de erros analíticos e pós-analíticos, além de redução de custos operacionais, superam as dificuldades de implementação das tecnologias (CAMPANA; OPLUSTIL, 2011). Regulamento técnico para funcionamento do laboratório de análises clínicas Os regulamentos e as normas técnicas exercem um papel fundamental no desenvolvimento de todas as atividades técnicas do Brasil. O objetivo dessas regulamentações é reduzir a crescente variedade de procedimentos, eliminar o desperdício e o retrabalho, facilitar a troca de informações entre fornecedor e consumidor e especificar critérios de aferição; além disso, fixam os padrões de qualidade e segurança que normatizam a produtividade e o desenvolvimento tecnológico. As características que a sociedade procura em um serviço e/ou produto (por exemplo, qualidade, eficiência, confiabilidade e segurança) são asseguradas pelos regulamentos e normas técnicas. Em geral, quando os servi- ços atendem a essas expectativas é porque eles respeitam essa regulamentação. No caso do setor de medicina diagnóstica, os laboratórios brasileiros estão sujeitos a alguns regulamentos, o quais: Introdução ao laboratório clínico e o laboratorista10 � Lei Federal nº. 6.437, de 20 de agosto de 1977, conhecida como Lei das infrações sanitárias; � Código de Defesa do Consumidor (Lei nº. 8.078, de 11 de setembro de 1990); � leis estaduais e municipais; � Regulamentações do Ministério da Saúde, da ANVISA, da Agência Nacional de Saúde, dos estados e municípios (decretos, portarias, re- soluções, instruções normativas); � Regulamentos dos conselhos de classe profissional. A ANVISA publicou, em 2005, uma legislação sanitária específica, a RDC nº. 302, de 13 de outubro de 2005, que regulamenta o funcionamento do laboratório clínico no que diz respeito às condições gerais de organização, recursos humanos, infraestrutura, equipamentos e instrumentos laboratoriais, produtos para diagnóstico de uso in vitro, gerenciamento de resíduos e biosse- gurança, procedimentos operacionais, rastreabilidade e controle de qualidade (LESCOWICZ et al., 2018). A RDC nº. 302/2005 foi elaborada em um trabalho conjunto de diferentes profissionais formados por meio da Portaria nº. 864, de 30 de setembro 2003. Esse grupo de trabalho era composto por técnicos da ANVISA, da Secretaria de Vigilância a Saúde (SVS/MS), das Vigilâncias Sanitárias Estaduais, do Laboratório de Saúde Pública, da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial, da Sociedade Brasileira de Aná- lises Clínicas, dos Provedores de Ensaio de Proficiência e por um Consultor Técnico com experiência na área. O grupo de trabalho elaborou uma proposta de Regulamento Técnico que foi publicada como Consulta Pública nº. 50, em 6 de agosto de 2004. As sugestões pertinentes foram incluídas no documento que normatiza as atividades laboratoriais nas áreas de análises clínicas, de patologia clínica e de citologia. Essa resolução foi publicada em 30 de outubro de 2005, e os laboratórios clínicos e postos de coleta laboratorial deveriam, dentro do prazo de 180 dias (abril de 2006), se adequar ao estabelecido no documento. Essa resolução teve alguns requisitos esclarecidos por meio da Nota Técnica nº. 39, de 10 de setembro de 2014, da Gerência de Regulação e Controle Sanitário em Serviços de Saúde (GRECS), da Gerência Geral de Tecnologia em Serviços de Saúde (GGTES) e da ANVISA e da RDC nº 30, de 24 de julho de 2015 (LABTEST, 2016). 11Introdução ao laboratório clínico e o laboratorista No Brasil, existem cerca de 18 mil laboratórios clínicos e a RDC nº. 302/2005 tem como intuito garantir a qualidade dos exames realizados nesses laboratórios. Após a publicação da regulamentação, o controle de qualidade, que já era indispensável para esse serviço, passou a ser obrigatório, de modo que a qualidade dos resultados que apoiam os diagnósticos, os prognósticos e os tratamentos do paciente seja assegurada. É por meio dessa resolução que os agentes sanitários podem conferir se os laboratórios clínicos possuem as condições consideradas mínimas para seu funcionamento e a prestação de serviços a que se propõem. Ao entregar um resultado seguro, o laboratório atende às exigências da legislação vigente e ainda cumpre sua responsabili- dade social. De acordo com o art. 4º do regulamento, o descumprimento das determinações previstas constitui infração de natureza sanitária. A RDC nº. 302/2005 dispõe sobre os processos operacionais das fases analítica, pré e pós-analítica e sobre a garantia e o controle da qualidade e dos registros para rastreabilidade laboratorial. Os processos e as respectivas fases são as seguintes: � etapa pré-analítica — são abordados os processos de instruções aos pacientes, as formas de identificação da amostra biológica, os métodos de rastreamento dessa amostra em todas as etapas. � etapa analítica — os processos regulamentados incluem a formulação de procedimentos operacionais padrão (POP), que abrangem as rotinas de trabalho executadas pelo laboratório; a descrição dos exames realiza- dos e aqueles terceirizados; a implementação de controle de qualidade interno e externo; as coletas de HIV e, ainda, os processos associados à suspeita de Doença de Notificação Compulsória. � etapa pós-analítica — a emissão de laudosé regulamentada. A RDC nº. 302/2005 também regulamenta os registros, no que diz respeito à rastreabilidade dos procedimentos; à manutenção da qualidade e aos pontos de aplicação dos controles de qualidade. Introdução ao laboratório clínico e o laboratorista12 Laboratório de análises clínicas: outras regulamentações Além da RDC nº. 302/2005, o laboratório precisa atender outras regulamen- tações e normas técnicas da ANVISA e da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), com destaque para as seguintes: � RDC nº. 50/2002 — dispõe sobre o regulamento técnico destinado ao planejamento, à programação, à elaboração, à avaliação e à aprovação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde. � RDC nº. 306, de 7 de dezembro de 2004 — dispõe sobre o regulamento técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. � RDC nº. 63, de 25 de novembro de 2011 — dispõe sobre os requisitos de boas práticas de funcionamento (BPF) para os serviços de saúde. � RDC nº. 30/2015 — dispõe sobre requisitos de boas práticas para o processamento de produtos para saúde e dá outras providências. � RDC ANVISA nº. 2, de 25 de janeiro de 2010 — dispõe sobre o ge- renciamento de tecnologias em saúde em estabelecimentos de saúde. � NBR ISO 15.189:2015 — Laboratórios clínicos — Requisitos de qua- lidade e competência — essa norma tem como objetivo estabelecer as especificações para segurança aplicáveis no laboratório clínico. O seu conteúdo abrange a realização de exames, o desenvolvimento e a implantação de novos métodos, bem como oferece orientação sobre os procedimentos de segurança de todos os envolvidos: pacientes ou clientes, colaboradores e meio ambiente. � Lei nº. 6.360, de 23 de setembro de 1976 — dispõe sobre a vigilância sanitária a que ficam sujeitos os medicamentos, as drogas, os insumos farmacêuticos e correlatos, cosméticos, saneantes e outros produtos, e dá outras providências. � Lei nº. 8.080, de 18 de setembro de 1990 — dispõe sobre as condições para a promoção, a proteção e a recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. 13Introdução ao laboratório clínico e o laboratorista O serviço de saúde deve desenvolver ações para o estabelecimento de uma política de qualidade que envolva estrutura, processo e resultado na sua gestão dos servi- ços. O serviço de saúde deve utilizar a garantia da qualidade como ferramenta de gerenciamento. As BPF são os componentes da garantia da qualidade que asseguram a oferta dos serviços dentro de padrões de qualidade adequados. São determinações da BPF (BRASIL, 2011): I. O serviço de saúde deve ser capaz de ofertar serviços dentro dos padrões de qua- lidade exigidos, atendendo aos requisitos das legislações e regulamentos vigentes. II. O serviço de saúde deve fornecer todos os recursos necessários, incluindo quadro de pessoal qualificado, devidamente treinado e identificado; ambientes identifi- cados; equipamentos, materiais e suporte logístico; e procedimentos e instruções aprovados e vigentes. III. As reclamações sobre os serviços oferecidos devem ser examinadas, registradas e as causas dos desvios da qualidade investigadas e documentadas, devendo ser tomadas medidas com relação aos serviços com desvio da qualidade e adotadas as providências para prevenir reincidências. ALMEIDA, A. G.; BORGERT, A.; BORBA, J. A. Gestão de custos na saúde pública: Custos e resultado em um laboratório municipal de análises clínicas. In: ANAIS DO CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS-ABC, 10., 2003, Vitória. Anais eletrônicos... Disponível em: https:// anaiscbc.emnuvens.com.br/anais/article/view/2548/2548. Acesso em: 6 set. 2019. BRASIL. Programa Nacional de Controle de Qualidade. RDC 302:2005: Regulamento técnico para funcionamento de Laboratórios Clínicos. Rio de Janeiro, 2013. Disponível em: http://www.pncq.org.br/uploads/rdc_302_web.pdf. Acesso em: 6 set. 2019. BRASIL. Resolução RDC nº 50, de 21 de fevereiro de 2002. Dispõe sobre o Regulamento Técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde. Brasília, DF, 2002. Disponível em: http:// bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2002/res0050_21_02_2002.html. Acesso em: 6 set. 2019. BRASIL. Resolução RDC nº 63, de 25 de novembro de 2011. Dispõe sobre os Requisitos de Boas Práticas de Funcionamento para os Serviços de Saúde. Brasília, DF, 2011. Disponí- vel em: http://portal.anvisa.gov.br/documents/33880/2568070/rdc0063_25_11_2011. pdf/94c25b42-4a66-4162-ae9b-bf2b71337664. Acesso em: 6 set. 2019. Introdução ao laboratório clínico e o laboratorista14 CAMPANA, G. A.; OPLUSTIL, C. P. Conceitos de automação na medicina laboratorial: revisão de literatura. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, v. 47, n. 2, p. 119−127, 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jbpml/v47n2/v47n2a05.pdf. Acesso em: 6 set. 2019. CHAVES, C. D. Controle de qualidade no laboratório de análises clínicas. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, v. 46, n. 5, p. 352−352, 2010. Disponível em: http:// www.scielo.br/pdf/jbpml/v46n5/02.pdf. Acesso em: 6 set. 2019. GUIMARÃES, A. C. et al. O laboratório clínico e os erros pré-analíticos. Revista HCPA, v. 31, n. 1, p. 66−72, 2011. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/hcpa/article/view/13899/11507. Acesso em: 6 set. 2019. HEIN, N.; CARDOSO, N. J. Utilização em laboratórios de análises clínicas do custeio baseado em atividade e tempo (TDABC). In: ANAIS DO CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS-ABC, 15., 2008, Vitória. Anais eletrônicos... Disponível em: https://anaiscbc. emnuvens.com.br/anais/article/view/1411/1411. Acesso em: 6 set. 2019. LABTEST. RDC 302:2005: edição comentada compreendendo o regulamento. Minas Gerais, 2016. Disponível em: https://labtest.com.br/wp-content/uploads/2016/09/ RDC__302___EdiA%C2%A7A%C2%A3o_Comentada_Labtest.pdf. Acesso em: 6 set. 2019. LESCOWICZ, G. H. et al. Dez anos da RDC 302/2005: avaliação da implantação em la- boratórios de análises clínicas do estado de Santa Catarina. Revista Brasileira de Análises Clínicas, v. 50, n. 2, p. 161−170, 2018. Disponível em: http://www.rbac.org.br/artigos/ dez-anos-da-rdc-3022005-avaliacao-da-implantacao-em-laboratorios-de-analises- -clinicas-do-estado-de-santa-catarina/. Acesso em: 6 set. 2019. MCPHERSON, R. A.; PINCUS, M. R. (ed.). Diagnósticos clínicos e tratamento por métodos laboratoriais de Henry. 20. ed. Barueri, SP: Manole, 2008. SILVERSTEIN, M. D. An approach to medical errors and patient safety in laboratory services. Atlanta, 2003. Disponível em: http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10. 1.1.597.741&rep=rep1&type=pdf. Acesso em: 6 set. 2019. XAVIER, R. M.; DORA, J. M.; BARROS, E. (org.). Laboratório na prática clínica: consulta rápida. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. 15Introdução ao laboratório clínico e o laboratorista
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