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Aleitamento Materno e Nutrição da Nutriz: Aspectos Epidemiológicos e a Importância do Aleitamento Materno: A Organização Mundial da Saúde e o Ministério da Saúde recomendam o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida da criança e complementar por dois anos ou mais (BRASIL, 2015). Ainda, o Fundo das Nações Unidas para a infância (UNICEF, 2008) também defende a livre oferta do leite materno sempre que o bebê apresentar sinais de fome. Os benefícios dessa estratégia são: · Atender às necessidades da criança · Promover o ganho de peso adequado · Menor risco de icterícia neonatal · Menos choro · Maior estímulo da mama · Prevenção de complicações relacionadas ao aleitamento materno Categorias de Classificação do Aleitamento Materno: Aleitamento Materno Exclusivo (AME): Quando a criança recebe somente o leite materno direto da mama ou ordenhado, ou leite humano de outra mulher, sem a oferta de outros líquidos ou sólidos, com exceção de medicamentos ou suplementos vitamínicos ou sais de reidratação oral. Aleitamento Materno Predominante: Quando a criança recebe além do leite materno, água ou bebidas à base de água, como chá e sucos de frutas. Aleitamento Materno AM: Quando a criança recebe leite materno direto da mama ou ordenhado, independente de receber ou não outros alimentos ou bebidas. Aleitamento Materno Complementado: Quando a criança recebe, além do leite materno, qualquer alimento sólido ou semissólido com a finalidade de complementar e não o substituir. Aleitamento Materno Misto ou Parcial: Quando a criança recebe leite materno e outros tipos de leite. O AME representa um impacto significativo na saúde pública mundial, pois é capaz de evitar a morte de 823 mil crianças menores de 5 anos e de 20 mil mulheres anualmente. O AM imediato também é visto como um desafio pelas baixas taxas de amamentação nas primeiras horas de vida em todo o mundo. O início precoce da amamentação representa fator fundamental para a sua continuidade exclusiva e prolongada, não apenas pela oferta de colostro e seus benefícios nos primeiros dias pós-parto, mas também pela necessidade de adaptação da criança e da mãe ao processo. Após os seis meses, é importante manter o aleitamento materno e introduzir alimentos variados in natura ou minimamente processados conforme a orientação do novo Guia alimentar para crianças menores de 2 anos do Ministério da Saúde (2019). A introdução alimentar tem a função de complementar a energia e outros nutrientes necessários para o crescimento saudável e pleno desenvolvimento das crianças. Após o segundo ano de vida, o leite materno continua sendo uma importante fonte de nutrientes. Alguns estudos sugerem que a amamentação na espécie humana dura, em média, de dois a três anos, idade na qual costuma ser realizado o desmame naturalmente. · Estima-se que dois copos (500 mL) de leite materno no segundo ano de vida fornecem 95% das necessidades de vitamina C, 45% das de vitamina A, 38% das de proteína e 31% do total de energia. Além disso, o leite materno continua protegendo contra doenças infecciosas. Uma análise de estudos realizados em três continentes concluiu que, quando as crianças não eram amamentadas no segundo ano de vida, tinham uma chance quase duas vezes maior de morrer por doença infecciosa quando comparadas com aquelas que amamentaram A partir dessa percepção, o Ministério da Saúde (MS) instituiu agosto como o mês do aleitamento materno no Brasil pela Lei nº 13.435/2017, que também determina a intensificação de ações intersetoriais de conscientização e esclarecimento sobre a importância do aleitamento materno através da realização de palestras, eventos, reuniões com a comunidade e ações de divulgação em espaços públicos e mídias. O mês é conhecido como “agosto dourado” por simbolizar a luta pela promoção do aleitamento materno, sendo a cor dourada uma alusão ao padrão-ouro de qualidade do leite materno. Vantagens do Aleitamento Materno: O leite materno é o alimento ideal para a criança, pois atende especificamente a todas as suas necessidades nos primeiros anos de vida. Não há outro alimento que contenha as características imunológicas do leite humano, que fornece fatores imunológicos ao bebê, cujo sistema de defesa está amadurecendo. Além de garantir a oferta adequada de água, macronutrientes, vitaminas e minerais, o leite materno supre necessidades psicológicas e emocionais, igualmente importantes às necessidades fisiológicas. O aleitamento materno ainda fornece proteção contra microrganismos infecciosos e doenças crônicas, contribui para o estabelecimento de uma forte relação mãe-filho e reduz o risco de alergias, sendo considerado a estratégia mais efetiva para redução de doenças na infância. Dados da OMS (2000) mostram que a mortalidade por doenças infecciosas é seis vezes maior em crianças menores de 2 meses não amamentadas. No segundo ano de vida, a mortalidade das crianças não amamentadas é o dobro em comparação àquelas que estão em AM. Principais Benefícios do Aleitamento Materno para o Bebê: · Oferece todos os nutrientes em quantidades ideais para o crescimento e desenvolvimento saudável do bebê. · Menor risco de contaminação microbiológica do que as fórmulas infantis e leite de vaca. · É de fácil digestão. · Regula o apetite da criança. · Diminui o risco de infecções, especialmente respiratórias e diarreias. · Protege contra alergias, doenças crônicas e morte súbita. · Promove bom desenvolvimento da mandíbula. · Favorece a aceitação dos alimentos complementares. · Reduz a taxa de morbimortalidade infantil. · Maior estabilidade emocional e comportamental. Benefícios do Aleitamento Materno para a Mãe: · Ajuda na perda de peso materna. · Auxilia na involução uterina pós-parto mais rapidamente. · Reduz o risco de hemorragia e anemia após o parto. · Protege contra o câncer de mama, ovário e útero. · Inibe a ovulação (método anticoncepcional). Cabe aos profissionais de saúde, desde o pré-natal e principalmente após o parto, reforçar a importância do aleitamento materno e ensinar as posições para amamentar e a pega correta. O apoio à gestante e nutriz minimiza a insegurança e as possíveis intercorrências que podem ocorrer durante a amamentação. Por outro lado, contribuem para o desmame precoce a falta de conhecimento sobre o manejo da amamentação e seus benefícios associado à idade inferior a 20 anos e a rotina de uso de fórmulas infantis e chupetas em maternidades, realizada principalmente em hospitais privados. É comum que, depois de experimentar a mamadeira, a criança rejeite a mama devido à diferença marcante entre a maneira de sugar na mama e na mamadeira, levando à chamada “confusão de bicos”. Nesses casos, é comum o bebê começar a mamar no peito e, após alguns segundos, largar o mamilo e chorar. Como o leite na mamadeira flui facilmente desde a primeira sucção, a criança passa a estranhar a demora do fluxo de leite no peito no início da mamada, pois o reflexo de descida do leite leva geralmente um minuto para ser desencadeado, e alguns bebês podem não tolerar essa espera. Crianças que usam chupetas são amamentadas com menos frequência, o que pode diminuir a produção de leite. Além disso, o uso prolongado da chupeta está associado a uma maior ocorrência de candidíase oral (sapinho), de otite média e de alterações do palato duro, levando ao desenvolvimento de uma respiração bucal, que pode prejudicar a postura e o sono. 10 Passos para o Sucesso da Prática do Aleitamento Materno: 1. Ter uma política de aleitamento materno escrita que seja comunicada aos pais e a toda equipe de cuidados de saúde. 2. Capacitar toda a equipe de cuidados de saúde nas práticas necessárias para implementar essa política. 3. Discutir a importância e o manejo da amamentação com mulheres grávidas e seus familiares. 4. Facilitar o contato pele a pele imediato e ininterrupto e com suporte para que as mães iniciem a amamentação na primeira meia hora após o nascimento. 5. Dar suporte para que as mães iniciem e mantenham a amamentação, fazendo o manejo de possíveis dificuldades. 6.Não dar alimentos ou líquidos ao recém-nascido, fora o leite materno, a não ser que seja indicação do médico. 7. Praticar o alojamento conjunto, ou seja, permitir que mães e RN permaneçam juntos 24 horas por dia. 8. Dar suporte para que as mães reconheçam e respondam às demonstrações de fome do filho. 9. Aconselhar as mães sobre o uso e os riscos de mamadeiras, bicos e chupetas. 10. Coordenar a alta para que os pais e seus filhos tenham acesso ao apoio e cuidado contínuos. A promoção do aleitamento materno tem sido uma prioridade no Brasil desde 1981, quando foi criado o Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno. Nos anos seguintes, mais ações de promoção e apoio ao aleitamento materno foram criadas e reforçadas pelos programas nacionais de saúde, como a Rede Cegonha, a iniciativa Hospital Amigo da Criança e o Programa de Saúde da Família. Desde 2015, essas ações foram ampliadas pelo segundo eixo estratégico da Política Nacional de Saúde Integral da Criança que visa à promoção e ao apoio ao aleitamento materno e à alimentação complementar. Alguns direitos da mulher que, direta ou indiretamente, protegem o aleitamento materno: Licença Maternidade: É direito da gestante empregada à licença de 120 dias consecutivos, sem prejuízo do emprego e da remuneração, podendo ter início no primeiro dia do nono mês de gestação, salvo antecipação por prescrição médica (Constituição Brasileira, 1988, art. 7, inc. XVIII). Direito á garantia no Emprego: É vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa da mulher trabalhadora durante o período de gestação e lactação, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto (Ato das Disposições Constitucionais Transitórias – artigo 10, inciso II, letra b). Direito á creche: Os estabelecimentos que empregam mais de 30 mulheres com idade superior a 16 anos devem ter um local apropriado onde seja permitido às empregadas guardar sob vigilância e assistência os seus filhos no período de amamentação. Essa exigência pode ser suprida por meio de creches distritais, mantidas diretamente ou mediante convênios com outras entidades públicas ou privadas, como SESI, SESC, LBA, ou entidades sindicais (Consolidação das Leis do Trabalho, artigo 389, parágrafos 1º e 2º); Pausas para Amamentar: É direito da mulher que trabalha amamentar o próprio filho até que ele complete seis meses de idade, desse modo, durante a jornada de trabalho, ela tem direito a dois descansos, de meia hora cada (Consolidação das Leis do Trabalho, artigo 396, parágrafo único). Alojamento Conjunto: A Portaria MS/GM nº 1.016/2003 obriga hospitais e maternidades vinculados ao SUS, próprios e conveniados, a implantarem alojamento conjunto (mãe e filho juntos no mesmo quarto, 24 horas por dia). NORMA BRASILEIRA DE COMERCIALIZAÇÃO DE ALIMENTOS PARA LACTENTES E CRIANÇAS DE PRIMEIRA INFÂNCIA, BICOS, CHUPETAS E MAMADEIRAS – NBCAL: Esta norma regulamenta a comercialização de alimentos para lactentes e crianças de primeira infância (até os 3 anos de idade) e produtos de puericultura correlatos. A legislação traz regras como a proibição de propagandas de fórmulas infantis, o uso de termos que lembrem o leite materno em rótulos de alimentos preparados para bebês e fotos ou desenhos que não sejam necessários para ilustrar métodos de preparação do produto. Além disso, torna obrigatório que as embalagens dos leites destinados às crianças tragam inscrição advertindo que o produto deve ser incluído na alimentação de menores de um ano apenas com indicação expressa de médico, assim como os riscos do preparo inadequado do produto. Verificando o Aprendizado 1. A iniciativa Hospital Amigo da Criança tem a finalidade de promover, proteger e apoiar o aleitamento materno do recém-nato, por meio dos "Dez passos para o incentivo do aleitamento materno". Assinale a afirmativa que apresenta um desses passos: R: Mostrar às mães as posições para amamentar e a pega correta. · O quinto passo consiste em estimular o aleitamento materno nas lactantes, ensinando as técnicas corretas de amamentação e a pega correta do bebê para garantir a manutenção do aleitamento materno e o adequado ganho de peso. 2. (Petrobras, 2010) O aleitamento materno é a melhor forma de garantir o crescimento e o desenvolvimento saudável do lactente. Para isso, entre outros cuidados, o bebê deve ser estimulado a mamar: R: Ofertar em livre demanda, sempre que o bebê quiser. · De acordo com a recomendação da OMS e do MS, a amamentação deve ser realizada em livre demanda, visto que o bebê tem uma capacidade gástrica reduzida nos primeiros dias e precisa ser amamentado de acordo com frequência para seu adequado ganho de peso.