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1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 2 O QUE SIGNIFICA “GRAMÁTICA” E QUAIS SÃO OS SEUS TIPOS? ...... 4 3 O PERCURSO DA GRAMÁTICA DA LÍNGUA ESPANHOLA ..................... 8 4 O SÉCULO XXI E A NUEVA GRAMÁTICA DE LA LENGUA ESPAÑOLA: UMA GRAMÁTICA CONTEMPORÂNEA .................................................................. 10 4.1 Fonologia/fonética .............................................................................. 12 4.2 Morfologia ........................................................................................... 12 4.3 Sintaxe ............................................................................................... 13 5 CARACTERIZAÇÃO DA SINTAXE DA LÍNGUA ESPANHOLA ................ 15 5.1 Classes gramaticais e seu estudo sintático ........................................ 16 5.2 Unidades sintáticas: as classes de palavras ...................................... 17 6 OS CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO ..................................................... 18 6.1 Propriedades morfológicas. ................................................................ 18 6.2 Propriedades de flexão....................................................................... 18 6.3 Propriedades de derivação ................................................................. 19 7 RELAÇÕES SINTÁTICAS: DISTRIBUIÇÃO, COMBINAÇÕES POSSÍVEIS, RESTRIÇÕES SINTÁTICAS, FUNÇÕES SINTÁTICAS ........................................... 19 8 A CLASSIFICAÇÃO E O SEU CARÁTER RELATIVO .............................. 20 9 A ORAÇÃO E AS SUAS PECULIARIDADES ........................................... 24 10 A ORAÇÃO E O DISCURSO ................................................................. 27 10.1 Classificação das orações .................................................................. 27 10.2 Funções sintáticas: uma relação básica ............................................. 28 10.3 Predicados e argumentos ................................................................... 28 11 AS FUNÇÕES SINTÁTICAS E AS SUAS MARCAS ............................. 29 2 11.1 Sujeito ................................................................................................ 29 11.2 Complementos direto e indireto .......................................................... 31 11.3 Predicativo .......................................................................................... 32 11.4 Complementos preposicionais ........................................................... 33 11.5 Complemento de régimen .................................................................. 33 11.6 Complemento agente ......................................................................... 33 11.7 Os adjuntos ou complementos circunstanciais ................................... 34 12 CONCORDÂNCIA VERBAL: OS CASOS DOS SUJEITOS EXPRESSO E TÁCITO 34 13 COMPLEMENTOS: DIRETO, INDIRETO, DE RÉGIMEN VERBAL E CIRCUNSTANCIAL ................................................................................................... 39 13.1 Complementos direto e indireto .......................................................... 39 14 COMPLEMENTO DE RÉGIMEN PREPOSICIONAL E CIRCUNSTANCIAL ................................................................................................... 42 15 ORAÇÕES EM LÍNGUA ESPANHOLA: IMPERATIVAS, INTERROGATIVAS, EXCLAMATIVAS E DE NEGAÇÃO ......................................... 43 15.1 Orações declarativas: afirmativas e negativas ................................... 44 15.2 Orações interrogativas ....................................................................... 45 15.3 Orações exclamativas ........................................................................ 46 15.4 Orações imperativas........................................................................... 46 16 O USO DA VÍRGULA NA LÍNGUA ESPANHOLA ................................. 48 16.1 Ponto, ponto e vírgula e dois-pontos .................................................. 51 17 PONTUAÇÃO NAS EXCLAMAÇÕES E NAS INTERROGAÇÕES ....... 53 18 ESTRATÉGIAS LÚDICAS NO ENSINO DA SINTAXE .......................... 54 19 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 58 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma per- gunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a res- posta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser se- guida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 O QUE SIGNIFICA “GRAMÁTICA” E QUAIS SÃO OS SEUS TIPOS? O termo gramática é polissêmico: ele pode se referir: 1) à ciência que se dedica ao estudo da língua, suas características, possibili- dades e componentes; 2) à arte de colocar a língua em prática, do ponto de vista da fala ou da escrita, de modo correto e adequado, demonstrando domínio desta; 3) ao conjunto de normas, regras e princípios que caracterizam determinada língua e o seu funcionamento. Embora essas acepções se diferenciem, podemos en- contrar um denominador comum entre elas: a gramática tem como base uma língua, as combinações que lhe são típicas e os preceitos que definem o seu uso. O espanhol não foge à regra, sendo objeto da gramática desde o século XV, com o trabalho do mestre Antonio de Nebrija. Em 1492, ele publicou a primeira gra- mática dedicada à língua espanhola (e a primeira dedicada às línguas de origem ro- mânica), a Gramática de la lengua castellana, a qual tem um papel fundamental na história, uma vez que serviu de modelo para o desenvolvimento de inúmeros traba- lhos, nas mais diversas línguas. De 1492 até hoje, o caminho percorrido pelos gramáticos de língua espanhola levou — e segue levando — a uma produção muito variada, com a qual estudantes, professores e demais interessados nessa língua podem contar. Assim, distinguem-se muitos tipos de gramáticas do espanhol, as quais, ainda que tenham objetivos dife- rentes, apresentam um caráter pedagógico, isto é, caracterizam-se por um compo- nente didático e têm o objetivo de ensinar algum aspecto específico relacionado à gramática. Veja os tipos mais comuns e discutidos de gramáticas de língua espanhola: 5 „ Gramática tradicional: com foco na classificação e na terminologia que classifica os conceitos gramaticais das línguas, exibe regras concretas e nor- mas internas, que objetivam apresentar a língua em questão, em termos de sintaxe (indicando as possibilidades de estruturas das orações) morfologia (apontando as possibilidades de formas e variações das palavras) e análise de orações. Apesar de suas limitações, é a mais comumente utilizada no en- sino de línguas em escolas, para crianças e aprendizes de língua estrangeira. „ Gramática funcional: baseia-se na linguagem enquanto instrumento social e no estudo de seus elementos a partir do contexto, das situações co- municativas e de interações sociais em que é empregada e organizada. O focodessa gramática está nas relações funcionais entre os constituintes de uma língua, que se constatam em três níveis — o semântico, o sintático e o pragmático. „ Gramática gerativa: descreve as línguas a partir de sua análise sintá- tica e da sua capacidade de gerar construções com base na recursividade, isto é, sustentadas por regras e unidades abstratas. As sequências sintáticas analisadas são decompostas no que se denomina constituintes sintáticos — combinações que são compostas por um núcleo. „ Gramática formal: dedica-se ao estudo das línguas a partir de uma perspectiva matemática, definindo as regras (de acordo com a sintaxe da lín- gua em questão) pelas quais é possível produzir cadeias de caracteres que compõem — e geram — uma linguagem formal. Também tem a função de permitir o reconhecimento de uma cadeia como pertencente ou não a uma linguagem, bem como analisar a sua correção e incorreção. 6 Cabe destacar, no entanto, dois tipos de gramáticas frequentemente colocados em oposição no estudo da língua espanhola: a normativa (também denominada prescritiva) e a descritiva (Figura 1). A gramática normativa, como o próprio nome indica, baseia-se na apresentação de normas, regras e determinações a respeito da língua, geralmente ignorando variantes geográficas ou de classe social, por exemplo. Assim, busca padronizar a norma culta do idioma, impondo regras de uso, recomendações ou até mesmo, dependendo da A gramática espanhola: abordagem escolhida, obrigações para o falante. Em geral, privilegia alguma variedade linguística e o modo escrito da língua, e é produzida por uma instituição oficial reguladora do idioma. Por outro lado, a gramática descritiva toma como base o uso da língua, a partir do qual, sem juízo de valor (diferentemente da prescritiva), descreve a utilização em contextos reais de um idioma, analisando de modo mais global e democrático os diversos aspectos que esse idioma pode apresentar, com base na observação de comunidades linguísticas. Em espanhol, é muito comum encontrar obras que misturam as duas perspectivas, produzindo descrições da língua, mas oferecendo versões de construções linguísticas ou de formas de pronúncia, por exemplo, mais “corretas” e “adequadas”, em comparação com outras. Por outro lado, também há obras que claramente expressam o seu objetivo e ponto de vista sobre a língua, como é o caso de Hablar y escribir correctamente: gramática normativa del español actual, de Leonardo Gómez Torrego, publicada em 2006. Como fica claro pelo próprio título, a sua proposta é apresentar uma versão, segundo o autor, “correta” da língua espanhola contemporânea em suas formas falada e escrita. Além disso, a obra é descrita como: “[...] una herramienta utilísima para profesores y estudiantes de español, que tienen la obligación de conocer las actuales normas de corrección gramatical y los cambios normativos que se han producido ultimamente [...]” (GÓMEZ TORREGO, 2006). 7 Desse modo, fica clara a característica de imposição em sua abordagem, já que, ainda que reconheça as mudanças sofridas pela língua espanhola, propõe nor- matizá-las e as apresenta como regras. Embora possa parecer fácil questionar essa perspectiva gramatical, podemos entender o seu valor na resolução de dúvidas e in- seguranças que surjam naqueles que se interessam pelo espanhol na sua modalidade culta. Em contrapartida, contamos com o exemplo da Gramática descriptiva de la len- gua española, de Ignacio Bosque e Violeta Demonte, que coordenaram uma equipe de mais de setenta linguistas de diferentes lugares para a organização da obra, publi- cada em 1999. Afastando-se da perspectiva normativa, os autores se propõem a des- crever a língua espanhola no que se refere aos seus aspectos morfológicos e sintáti- cos. Trata-se de uma obra abrangente, que busca representar variedades linguísticas e que, embora não dê o mesmo espaço às variantes americanas que dá à espanhola, considera a sua importância e reconhece a existência de alternativas e possibilidades expressivas dentro de um mesmo sistema — o da língua espanhola. Figura 1. Gramáticas opostas: descritiva x normativa. Fonte: GÓMEZ TORREGO (2006). Ainda que a Real Academia Española (RAE) simplifique, definindo gramática como “[...] parte de la lingüística que estudia los elementos de una lengua, así como 8 la forma en que estos se organizan y se combinan [...]”,vimos que são diversas as possibilidades de realizar esse estudo. Com base em uma visão de língua e em um recorte que se queira apresentar aos interessados nela, diversas abordagens podem ser selecionadas e, do mesmo modo, diferentes obras podem servir como objeto de consulta. 3 O PERCURSO DA GRAMÁTICA DA LÍNGUA ESPANHOLA Falar da história da gramática da língua espanhola é voltar, impreterivelmente, ao ano de 1492, não porque foi o ano em que Cristóvão Colombo chegou às Américas, mas porque foi quando o sevilhano humanista Elio Antonio de Nebrija (1441-1522), considerado por muitos como o pai da língua espanhola, publicou a Gramática de la lengua castellana (Figura 2). Essa obra marca o nascimento da gramática e da lin- guística espanhola. Mas por que voltar tanto no tempo? Porque, ainda que a distância entre Nebrija e o estudos linguísticos atuais, em termos de cronologia e metodologia, seja muito grande, a base do que se produz hoje e do que se produzirá no futuro está justamente nessa data, quando o sevilhano elaborou do zero — mas tomando como referência a produção teórica latina — a obra base da gramática da língua espanhola e das línguas românicas de modo geral. Foi somente a partir desse trabalho que Portugal, Itália e França, por exemplo, começaram a pensar e organizar sistematicamente as suas res- pectivas línguas, décadas depois da publicação da obra de Nebrija. Três objetivos específicos basearam a “Gramática: 1) contribuir para a consolidação e fixação da língua espanhola, de modo a garantir a sua sobrevivência; 2) facilitar o acesso ao latim, já que, conhecendo com precisão o espanhol, os falantes teriam acesso mais fácil à língua latina; 3) ensinar o espanhol a falantes de outros idiomas. Apesar de seus méritos, Nebrija foi muito criticado, principalmente porque era andaluz, ou seja, falante de um espanhol não padrão, segundo os castelhanos. Não obstante, seu trabalho inaugurou o que seria um longo caminho na história da gramática da língua espanhola, até então sem precedentes. Assim, com total independência do latim, a “Gramática” focava completamente no espanhol e era 9 dividida em uma parte destinada à metodologia, composta por regras e princípios que regiam a língua (o que confere à obra um caráter normativo), e em uma parte histórica, que retomava poetas e autores cujas obras foram produzidas em língua espanhola, como testemunhos do seu uso adequado e correto. Figura 2. Capa da gramática de Nebrija. Fonte: Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes (c2018?). Com a publicação do trabalho de Nebrija, estabeleceu-se então um marco nos estudos gramaticais: a partir da “Gramática”, foi fundada a área — ciência, arte ou disciplina — que colaboraria para o estabelecimento da linguística. Assim, nos séculos posteriores (XVI a XVIII), passaram a se multiplicar o estudo, o trabalho e a produção de gramáticas, entre as quais se destacam a Gramática castellana (VILLALÓN, 1558), a Instituciones de la gramática española (JIMÉNEZ PATÓN, 1614), a Gramática de la lengua castellana (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 1796), entre outras. No século XIX, período em que ainda conviviam duas abordagens gramaticais distintas (a tradicional, baseada na teoria grecolatina, e a racionalista, influência dos franceses), merece destaque especial o trabalho de Bello (2002), Gramática: gramática de la lengua castellana destinadaal uso de los americanos, que teve o mérito de unir abordagens distintas e produzir um sistema gramatical que viria a servir de referência para a elaboração de autores posteriores. 10 O século XX, por sua vez, é reconhecido como a época em que passaram a se desenvolver e se aplicar diversas correntes linguísticas, em diferentes momentos. Nesse cenário, começaram a ser empregados métodos científicos e sistemáticos para a produção de obras e estudos científicos, tomando a linguagem como objeto. Esse movimento levou à publicação de trabalhos consagrados e renomados, como os Estudios de gramática funcional del español (ALARCOS, 1970). Para entender o percurso realizado pelos estudos gramaticais em língua espanhola, é fundamental olhar para o passado, para os precursores e iniciadores de uma tradição tão rica. No entanto, cabe destacar também a importância do passado para o que se faz hoje: conhecer a tradição gramatical nos oferece tanto a possibilidade de entendê-la para poder criticá-la, quanto a possibilidade de aproveitá-la, tirando dela ensinamentos que contribuam para a produção atual. É nesse sentido que se manifesta Peñalver Castillo (1992), que, analisando o caráter normativo da obra de Nebrija, sugere que se evite negar totalmente o trabalho do pai da gramática espanhola. Peñalver Castillo (1992) propõe o contrário: que se possa utilizar o caráter normativo, aliando-o ao descritivo, considerando objetivos pedagógicos que levem em conta a importância de apresentar para os estudantes e interessados na língua espanhola, entre outras coisas, as regras, já que “[...] uma síntese fundamentada e científica entre as duas concepções pode contribuir decisivamente para abrir novos caminhos no ensino do espanhol como língua materna e a melhorar sua didática [...]” (PEÑALVER CASTILLO, 1992, p. 226). 4 O SÉCULO XXI E A NUEVA GRAMÁTICA DE LA LENGUA ESPAÑOLA: UMA GRAMÁTICA CONTEMPORÂNEA A gramática do espanhol, como vimos, percorreu um longo e rico caminho até os dias de hoje. Analisada, pensada e produzida a partir de muitas perspectivas, acompanhou a evolução dos tempos, o desenvolvimento dos mais de 20 países que têm o espanhol como língua oficial e a configuração, estruturação e afirmação do pen- samento científico. Atualmente, os idiomas podem ser analisados sob o ponto de vista de diferentes tipos de gramática, com os mais variados objetivos: observar as regras 11 de formação das palavras, descobrir suas possibilidades combinatórias, inteirar-se dos usos padrão, etc. Sem entrar no mérito de qual estudo gramatical é mais ou menos eficiente ou relevante, e sem classificá-lo como melhor ou pior, é importante que o estudante, o professor ou qualquer interessado na língua espanhola tenha um conhecimento dos elementos base da gramática dessa língua. Assim, cabe destacar que, muito resumi- damente, uma gramática representa ou é composta por um estudo das palavras, a partir de dois aspectos que lhe são fundamentais: a sua formação e as suas combi- nações. Nesse contexto, estamos nos situando nas áreas linguísticas que se denomi- nam morfologia (área que se centra na estrutura das palavras) e sintaxe (cujo foco está nas relações e nos grupos que as palavras podem formar). Além disso, costumam integrar a gramática de língua espanhola as análises fonológicas (sobre os sons da língua) e fonética (centrada na organização dos sons em termos linguísticos). A Real Academia Española, instituição fundada em 1713 por Juan Manuel Fer- nández Pacheco, é reconhecida por seu trabalho de fomento da língua espanhola, por meio de pesquisa e elaboração de obras que têm papel fundamental na organização e difusão da língua. A Nueva gramática de la lengua española (2009-2011) é um marco nos estudos gramaticais em espanhol, ao ser introduzida, no século XXI, como uma obra de enorme valor didático. Ela se propõe, ao mesmo tempo, a uma aborda- gem descritiva e normativa, já que apresenta a língua padrão e seus registros formais, mas também descreve a variação linguística de acordo com questões geográficas, sociais e de estilo. Ainda, trata-se de uma obra sincrônica, uma vez que se centra na língua atual e em uso corrente, mas também apresenta referências históricas, oferece explicações etimológicas e cita autores e acepções de outras épocas da língua espanhola. Além disso, embora não negue a tradição iniciada por Antonio de Nebrija, séculos antes, está formulada e sustentada em princípios metodológicos e científicos da gramática contemporânea. A seguir, com base no reconhecido trabalho da RAE, apresentaremos as prin- cipais características tomadas como base de análise e produção gramatical em língua espanhola, apontando elementos linguísticos fundamentais, divididos nas três gran- des áreas objeto de atenção da gramática: fonologia/ fonética, morfologia e sintaxe. 12 4.1 Fonologia/fonética Assim como no português, os sons do espanhol se dividem em vocálicos e consoantes; unidos, eles formam cadeias que compõem as sílabas, consideradas o menor grupo que apresenta estrutura interna. É nesse sentido que a RAE, em sua gramática, apresenta a oposição entre unidades do espanhol, como em dado e dato: essas palavras se diferenciam em função de unidades da língua que são abstratas, como os fonemas /t/ e /d/. As unidades fonológicas, em língua espanhola, interferem fortemente nos pro- cessos morfológicos. Assim, por exemplo, alterações de vogais geram processos de ditongação, como pensar ~ pienso, llover ~ llueve, as quais são extremamente fre- quentes em espanhol. De forma similar, alterações de consoantes afetam unidades como sueco ~ Suecia (alteração entre os fonemas /k/ e /s/) ou filólogo ~ filología (al- teração entre os fonemas /g/ e /x/). 4.2 Morfologia A área da morfologia se dedica à análise da estrutura e da formação das pala- vras, suas possibilidades de variação e a função gramatical que apresentam em rela- ção umas às outras. Na gramática de língua espanhola, esse estudo se dá em duas abordagens: a morfologia flexiva e a morfologia léxica. A morfologia flexiva analisa as flexões às quais se submetem as unidades que formam as palavras (morfemas), em sua relação umas com as outras, as quais produzem alterações de sentido gramatical e têm consequências para a sintaxe. Para tal, são analisados os elementos que influenciam a estrutura das palavras por meio de flexões (que indicam alguma informação sobre as palavras). No caso da lín- gua espanhola, essas flexões são número (ciudad/ciudades), gênero (escocês/esco- cesa), pessoa (él/ella), caso (yo – caso nominativo; me – caso acusativo), tempo (es- tuvimos, están), aspecto (estoy comiendo, comimos) e modo (quiero que vengas – modo subjuntivo; ¡ven! – Modo imperativo). Já a morfologia léxica se dedica ao estudo da formação das palavras em dois processos básicos, que afetam a base léxica: a composição e a derivação. No pro- cesso de composição, duas bases léxicas se juntam e formam uma palavra, como lavamanos. Na derivação, a partir de uma base léxica que carrega o significado, 13 acrescenta-se um afixo (que contribui com informação nova), formando uma nova unidade: cohabitar. O afixo acrescentado nesse processo pode ser um prefixo — an- teposto à base (reponer) — ou um sufixo — posposto a ela (rojizo). Por fim, há ca- sos em que ambos os processos (composição e derivação), unidos, formam uma nova unidade. Esse processo duplo é denominado parassíntese, como cuentacor- rentista (composição de cuenta com corriente e sufixação com –ista). 4.3 Sintaxe Em espanhol, considera-se que existem nove classes de palavras, as quais podem se combinar umas com as outras, em relações que são objeto de estudo da sintaxe: substantivo, pronome, artigo, adjetivo, advérbio, verbo, preposição conjun- ção e interjeição. Os artigos, pronomes e alguns casos de advérbios, preposições,conjunções e verbos contêm informação apenas gramatical, de modo que são abs- tratos e desempenham função de referenciar, indicar plural ou colaborar com a orga- nização sintática das orações. Por outro lado, há classes de palavras que se carac- terizam pelo conteúdo léxico que carregam, como os substantivos, os adjetivos e quase todos os verbos e advérbios. 14 Além disso, na sintaxe da língua espanhola, entende-se que as palavras, en- quanto unidades sintáticas, podem, a partir de um núcleo, formar grupos, frases ou sintagmas que desempenham funções sintáticas. Assim, podem ser identificados gru- pos nominais (Comimos la manzana verde), grupos adjetivais (Esta revista no es fácil de comprar), grupos verbais (Se fueron a pasear ahora), grupos adverbiais (Estamos muy lejos), grupos pronominais (¿Quién de ustedes vendrá mañana?), e grupos pre- posicionais (No ganó por imprudente). Todos esses grupos são constituídos a partir da base que lhes dá nome (por exemplo, grupos adverbiais se estruturam em torno de um advérbio). Esses grupos são compreendidos como constituídos por um grau de liberdade, em oposição às locuções, que são grupos sintáticos mais fixos e lexicalizados, os quais funcionam como uma só unidade. Uma locução verbal (llevar a cabo), por exem- plo, equivale a um verbo (realizar); uma locução conjuntiva (a pesar de), a uma con- junção (aunque); uma locução adjetiva (sano y salvo), a um adjetivo (bien). Vale destacar também as funções sintáticas que se identificam na língua espa- nhola e que cumprem um papel fundamental na sua gramática, já que “[...] represen- tam as formas pelas quais se manifestam as relações que expressam os argumentos [...]” (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2009, p. 15), sendo reconhecidas por marcas que as indicam. As mais conhecidas em espanhol (assim como em português) são as de sujeito e predicado. Por exemplo, na frase Juan se compró unos libros, Juan tem a função de sujeito, e unos libros, de predicado. Finalmente, a noção de orações tem grande importância para a gramática. Trata-se de unidades que são compostas por sujeito e predicado e que, em espanhol, têm a particularidade bastante comum da omissão do sujeito. Em outras palavras, a informação referente ao sujeito está na oração, mas não é necessariamente explici- tada: em Dormiremos mañana, sabemos que o sujeito é nosotros pela conjugação verbal. Há alguns critérios que permitem classificar as orações em língua espanhola. O primeiro deles — a atitude do falante (ou modalidade) — divide as orações em declarativas (Está nevando), interrogativas (Qué pasa?), exclamativas (No me digas!), e imperativas (Se prohíbe fumar). De acordo com o predicado (ou as exigências que o verbo em questão tem), distinguem-se orações transitivas (o verbo exige comple- mento — Coge la pelota, por favor), intransitivas (o verbo não exige complemento — 15 Ayer llovía) e copulativas (formadas por um verbo copulativo, como ser, estar, parecer — Lo que importa es ser feliz.). Por fim, segundo a dependência/independência que a oração apresenta em relação a outras, podem ser identificadas orações simples (que não dependem e não se relacionam com outra que a modifique — La fiesta está llena), subordinadas (que se inserem em uma oração principal, a qual modificam — La ropa que me compré está muy larga) e compostas (identificadas porque contêm pelo menos uma oração subordinada — Los niños juegan y luego comen.). Além disso, uma gramática contemporânea do espanhol que corresponda à língua que encontramos hoje, espalhada em mais de 20 países, deve ter um caráter democrático e considerar as nacionalidades que têm como o espanhol língua oficial. As diferenças e as particularidades de uso da língua dessas nacionalidades se mani- festam em todos os níveis gramaticais (morfológico, sintático, fonológico) e, por isso, são fundamentais para que se possa ter a devida compreensão da amplitude tão ca- racterística desse idioma. É importante reconhecer, por fim, que a “Nueva gramática de la lengua espa- ñola” é um excelente referencial para qualquer interessado em conhecer as palavras da língua, no que se refere à sua formação, às possibilidades combinatórias e aos sons e às unidades que a caracterizam. No entanto, para a sua publicação, em 2009, foi imprescindível que, cinco séculos antes, Antonio de Nebrija nos tivesse brindado com o início dos estudos gramaticais. Foi a partir deles que toda a tradição gramatical da língua se desenvolveu e, principalmente, que estudos contemporâneos como o da RAE puderam cimentar-se, desenvolvendo os seus próprios pressupostos teóricos. A discussão sobre os trabalhos de seus antecessores serviu tanto para mostrar as fa- lhas destes, quanto para promover e divulgar os seus próprios princípios científicos. 5 CARACTERIZAÇÃO DA SINTAXE DA LÍNGUA ESPANHOLA Sabe-se que a língua é um código composto de unidades, e que seus falantes concretizam os seus atos de fala exercendo a sua competência comunicativa com base nessas unidades. No entanto, para que as construções da língua sejam “bem formadas”, elas devem obedecer às leis constitutivas da gramática em questão. O dicionário da Real Academia Española (2010) apresenta a sintaxe como “[...] parte da 16 gramática que estuda a maneira pela qual palavras e grupos se combinam para ex- pressar significados, assim como as relações que são estabelecidas entre todas essas unidades”. Em essência, a sintaxe é o estudo da organização das palavras em unidades maiores e a organização dessas unidades em frases. A organização das orações não obedece apenas a relações de linearidade. As palavras, por exemplo, são organiza- das de acordo com certas regras, que dizem respeito à ordem, às conexões explícitas e implícitas e à seleção que algumas palavras exercem umas sobre as outras. Essas relações atribuem à sentença uma estrutura interna. Como o gramático não tem acesso direto a essa estrutura interna, ele formula uma hipótese sobre isso: a sua descrição estrutural. Para designar os elementos de uma sentença, segundo Di Tullio (2005), preci- samos de duas noções: construção e constituinte. A oração é uma construção que não é constituinte de uma construção maior; portanto, é a unidade máxima da sintaxe. Palavras, por outro lado, são constituintes que não são construções (embora possam ser construções morfológicas, a sintaxe não manipula a estrutura interna das pala- vras). As unidades intermediárias, por outro lado, são constituintes (das maiores cons- truções em hierarquia) e construções (em relação aos elementos que a compõem). 5.1 Classes gramaticais e seu estudo sintático As palavras que usamos para nos expressarmos oralmente e por escrito têm características diferentes. Saber distinguir os tipos de palavras (categorias gramati- cais) é muito importante para entender o funcionamento da linguagem. O termo cate- goria indica uma classe de entidades que compartilham algumas características rele- vantes. Assim, quando falamos em categoria sintática, estamos nos referindo a uma classe de unidades linguísticas (palavras ou sintagmas), que apresentam semelhan- ças em nível morfológico, sintático e semântico. Quando estabelecemos que certa unidade lexical pertence a uma categoria, estamos inscrevendo-a numa classe pree- xistente, cujas propriedades já estão definidas e cujos membros se comportam de forma regular e previsível. 17 Uma das tarefas mais básicas de uma gramática é atribuir às palavras as várias classes reconhecidas. Essa classificação é um requisito indispensável para a formu- lação de regras, uma vez que elas não dizem respeito a palavras individuais, mas a classes. Para que essa classificação seja adequada, deve basear-se no comporta- mento gramatical das palavras: suas características morfológicas e seu funciona- mento sintático. O Manual da Gramática da Real AcademiaEspañola (RAE) de 2010 divide o seu índice em questões gerais, morfologia e sintaxe. Na morfologia, estuda-se apenas o nível dos morfemas, enquanto na sintaxe estuda-se o nível do período, da oração, dos sintagmas e dos vocábulos. A prova disso é que a sintaxe se divide em três sub- grupos: o primeiro chama-se “classe de palavras e seus grupos sintáticos”; o segundo, “as funções”; e o terceiro, “as construções sintáticas fundamentais”. A morfologia e a sintaxe, segundo Di Tullio (2005), compartilham a palavra como uma unidade. Na primeira, a análise se detém apenas à palavra e a sua estru- tura interna; a segunda inicia na palavra. Em convergência a essa análise, a RAE afirma que “[...] a palavra constitui a unidade máxima de morfologia e a unidade mí- nima de sintaxe” (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2010, p. 4). As palavras, pertencen- tes a determinada categoria ou classe, de acordo com as suas propriedades morfoló- gicas e sintáticas, formam grupos sintáticos: mi casa, por exemplo, é um grupo nomi- nal e bebe leche, um grupo verbal. A morfologia trata da palavra como entidade única, formada por morfemas, e não analisa a relação que as palavras mantêm umas com as outras. Portanto, ao ana- lisar as categorias gramaticais do espanhol, estaremos estudando a sintaxe da língua espanhola, e não a morfologia. Assim, ao fazer uma análise sintática na língua espa- nhola, deve-se perceber que qualquer relação sintagmática que possa existir entre os seus vocábulos, seja ela de classes de palavras ou de complemento verbal, será uma análise sintática. 5.2 Unidades sintáticas: as classes de palavras As classes de palavras são paradigmas formados em função das suas proprie- dades combinatórias e das informações morfológicas que elas aceitam. As classes de 18 palavras do espanhol são artigo, substantivo, adjetivo, pronome, verbo, advérbio, pre- posição, conjunção e interjeição. Segundo a RAE (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2010, p. 11), enquanto há classes de palavras que carregam informações gramaticais no seu léxico, há outras que têm seu signifi cado defi nido pela gramática, ou seja, pela relação sintática da oração em questão. A RAE (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2010) chama de clases transversales palavras que apresentam muita semelhança, mas com particularidades específicas, as quais classificam-se em diferentes grupos e, com isso, explicam vários aspectos de seu funcionamento e de seu significado. Por exemplo, os indefinidos, os numerais e os demonstrativos, quando modificam os substantivos, são analisados como uma classe de adjetivos; entretanto, quando substituem os substantivos e executam as suas funções sintáticas, assumem o papel de pronomes. Portanto, cabe salientar que as classes de palavras são caracterizadas por assumir um papel sintático nas suas unidades. 6 OS CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO 6.1 Propriedades morfológicas. As características morfológicas de cada classe constituem um critério ade- quado para classificação. Devemos reconhecer dois tipos de propriedades morfológi- cas: a) os preservadores da categoria, isto é, as propriedades de flexão; b) os modificadores de categoria, ou a derivação. 6.2 Propriedades de flexão As classes são divididas em variáveis, ou seja, as que admitem algum tipo de flexão, e invariáveis, isto é, não permitem flexão. Os artigos, os adjetivos, os prono- mes, os substantivos e os verbos são variáveis. As preposições, as conjunções, as interjeições e os advérbios são invariáveis. 1) A flexão nominal: os adjetivos sofrem flexão de gênero e número; os substantivos, de número (na maioria dos substantivos, o gênero é uma 19 propriedade inerente). A flexão dos pronomes depende da subclasse, ou seja, os pessoais flexionam em caso, número e pessoa; os outros, em número e gênero — incluindo o neutro. 2) A flexão verbal: as características flexionais são divididas em dois gru- pos, que são os de concordância (número e pessoa) e aqueles que ca- racterizam a cláusula inteira (tempo e modo). Deve-se notar que, em qualquer caso, embora essas propriedades de flexão caracterizem a categoria como um todo, elas não são necessariamente verificadas em todos os seus membros. Alguns adjetivos são invariáveis em gênero. Há ainda pronomes que dependem da subclasse, como os pessoais, que têm número e pessoa, enquanto outros podem ser neutros, como nadie (ninguém). Da mesma forma, exis- tem as formas não flexionadas do verbo (infinitivo, particípio e gerúndio). Esse é o motivo pelo qual temos de confiar principalmente em critérios sintáticos e incluí-los na categoria. 6.3 Propriedades de derivação A derivação fornece marcas para diferenciar as classes. Alguns afi xos deriva- dos são transcategoritivos: o prefi xo super pode ser adicionado a bases substantivas (superhombre), às adjetivas (superintendente) ou às verbais (superponer); o mesmo ocorre no caso de sufi xos apreciativos: substantivos, adjetivos e advérbios podem receber sufi xos diminutivos. Outros afi xos, por sua vez, são especializados: o prefi xo negativo in é adicionado apenas às bases adjetivas (in + feliz); o sufi xo ción permite formar substantivos de bases verbais, como intuir > intuición e deducir > dedución, e os sufi xos ez ou eza formam bases adjetivas (bello > belleza). 7 RELAÇÕES SINTÁTICAS: DISTRIBUIÇÃO, COMBINAÇÕES POSSÍVEIS, RESTRIÇÕES SINTÁTICAS, FUNÇÕES SINTÁTICAS Cada classe pode ser caracterizada pela estrutura interna do núcleo do seu sintagma e pelo seu potencial funcional, isto é, pelas funções que pode desempenhar na oração. Assim, o especificador de um substantivo é um determinante (que pode ser um adjetivo ou um artigo), enquanto o do adjetivo ou do advérbio é um advérbio 20 de grau, e os pronomes assumem o papel de substituidores. Para as palavras invari- áveis, é necessário recorrer a critérios sintáticos, fundamentalmente aos critérios dis- tributivos, isto é, ao conjunto de posições em que podem aparecer. Os advérbios, as preposições e conjunções são diferenciados pela posição que ocupam, em relação aos constituintes que modificam ou aos que governam. Assim, as preposições distin- guem-se das conjunções pela categoria do termo governado: geralmente, um nome no primeiro, uma oração no segundo. Além disso, as preposições também são carac- terizadas por governarem o sintagma preposicional, quando o termo é um pronome pessoal: para mí, en sí mismo, por ti. Levando esses pontos em consideração, podemos estabelecer corretamente o valor das definições conceituais. O critério semântico não pode ser a base da classi- ficação, quando se trata de atribuir as palavras de uma língua particular a classes específicas, uma vez que não há correspondência entre as classes de entidades ex- tralinguísticas e as palavras. No entanto, em combinação com os critérios formais, a semântica pode ajudar a delimitar uma classe e estabelecer correspondências entre classes reconhecidas em diferentes idiomas que não compartilham as características formais. Da mesma forma, pode ser útil em função de seu valor pedagógico e heurís- tico. Por exemplo, embora não seja verdade que todos os substantivos denotem pessoas, coisas e lugares, já que existem substantivos que designam propriedades (decencia, belleza, blancura) e outras ações (lavado, rastrillaje, resolución), a verdade é que as palavras que designam pessoas, coisas e lugares são substantivos. 8 A CLASSIFICAÇÃO E O SEU CARÁTER RELATIVO Em relação à quantidade de classes de palavras, segundo Lenz (1920), ela depende da língua em questão e do ponto de vista que se toma para classificar as palavras. Com efeito, embora a classificação tradicional forneça um valioso ponto de apoio, são os interesses do gramático e a sua concepção teórica que determinarão quais classes serão estabelecidas. As classes de palavras não são classes naturais, mas construções teóricas do gramático.O que distingue basicamente a posição atual em relação às anteriores, de 21 acordo com Bosque (1991), é que a gramática é concebida não como um produto que já está acabado, mas como um sistema a ser descoberto e elaborado explicitamente, nos termos mais apropriados. Isso significa que, na medida em que for necessário, as classes antigas serão deixadas para propor outras, ou serão redefinidas para explicar os comportamentos que são significativos. Assim, por exemplo, a unidade da classe tradicional de adjetivos é atualmente questionada. A RAE (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2010), como visto anteriormente, divide os adjetivos em duas subclasses: os adjetivos determinativos (demonstrativo, posses- sivo, indefinido, quantitativo) e os qualificadores. Ainda que todos modifiquem o subs- tantivo, as diferenças entre os dois grupos são enormes, tanto do ponto de vista sin- tático, quanto do semântico. Por todas essas razões, os gramáticos mais atuais pre- ferem atribuir cada grupo a uma classe diferente: a dos determinantes (juntamente com o artigo) e a dos adjetivos, em que os qualificadores constituem o grupo focal. De fato, é o gramático que decide, de acordo com a posição teórica que ele adotou e com a coerência de sua proposta, se divide a classe ou a preserva, com as subclassifica- ções que julga mais convenientes. Por exemplo, segundo a RAE (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2010), a língua espanhola possui nove classes de palavras, as quais podem ser variáveis e invariáveis. As variáveis são definidas da seguinte forma (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2010): 22 1. Artículos (artigos): o artigo é um determinante que permite delimitar a denota- ção do grupo nominal do qual faz parte, assim como informa a sua referência. O artigo, portanto, especifica se o que foi designado por ele carrega consigo uma in- formação prévia ou não. Exemplos de artigos em espanhol: la (a), el (o), las (as), los (os), una (uma), unas (umas), un (um), unos (uns) e lo (artigo neutro). 2. Sustantivos (substantivos): o nome (ou substantivo) tem a característica de ad- mitir gênero ou número. Ele denota entidades materiais ou imateriais, de toda natu- reza ou condição: pessoas, animais, coisas reais ou imaginárias, grupos, lugares, etc. Pode vir acompanhado de artigo ou de adjetivo. Exemplos de substantivos em espanhol: La mujer inteligente; El cantar de los pájaros. 3. Adjetivos (adjetivos): o adjetivo é uma classe de palavras que acompanha o substantivo destacando uma propriedade ou limitando a sua extensão. Existem dois grupos de adjetivos: os qualificativos, que expressam propriedades ou circunstân- cias dos seres ou objetos nomeados pelo substantivo (día soleado, pareja feliz); e os determinativos, que limitam a extensão do substantivo (este año, varios amigos). Exemplos de adjetivos em espanhol: mi hermano mayor (mi – adjetivo determina- tivo, mayor – adjetivo qualificativo); esta calle ancha (esta – adjetivo determinativo, ancha – adjetivo qualificativo). 4. Pronombres (pronomes): o pronome tem como principal função a substituição, seja ela de um substantivo, de um fato ou de uma das pessoas do discurso. Exem- plos de pronomes em espanhol: Yo vi una ropa linda, la voy a comprar (yo substitui quem fala; La substitui una ropa linda). 5. Verbos: os verbos expressam ação, estado ou fenômenos da natureza. Existem formas simples, compostas, pessoais e impessoais. Exemplos de verbos em es- panhol: tengo que cantar bien. 23 As classes de palavras invariáveis, segundo a RAE (REAL ACADEMIA ESPA- ÑOLA, 2010), são as seguintes: 6. Adverbios (advérbios): o advérbio é uma classe invariável que se caracteriza por dois fatores, um morfológico (pela ausência de flexão) e outro sintático (pela capa- cidade de estabelecer uma relação com grupos sintáticos correspondentes de dife- rentes categorias). Trata-se de termos circunstanciais que indicam tempo, modo, lugar, afirmação, negação, dúvida e quantidade. Além disso, modifica três classes gramaticais, como o verbo (Juan canta bien), o adjetivo (Ana es muy inteligente) e o próprio advérbio (Vivo muy lejos de acá). Exemplos de advérbios: muy (muito), bien (bem), lejos (longe). 7. Preposición (preposição): as preposições são palavras que se caracterizam por introduzir um complemento. Elas não possuem autonomia sintática, mas a sua fun- ção consiste em relacionar palavras dentro da oração. Exemplos de preposições: a, ante, bajo, con, contra, de, desde, durante, en, entre, hacia, hasta, mediante, por, para, según, sin, sobre, cabe, versus, vía, tras. 8. Conjunción (conjunção): as conjunções constituem uma classe de palavras que relacionam entre si palavras, grupos sintáticos ou orações; algumas vezes os equi- param, outras os hierarquizam e fazem com que uns dependam de outros. Exem- plos de conjunções: Queremos estudiar y hacer gimnasia. Ana es inteligente, pero no estudia lo suficiente. Apenas termine la clase, nos vamos para casa. El piso está mojado, porque ha llovido hace poco. 9. Interjección (interjeição): trata-se de uma classe que se especializa na formação de enunciados exclamativos. Com a interjeição se expressam sentimentos e impres- sões. Exemplos de interjeições: a. Enunciados exclamativos: ¡ay! ¡vaya! ¡uff!. b. Onomatopeias: Bang, jejejejeje, muac, guauguau, pío. c. Grupos e orações excla- mativas: ¡Cuánto esfuerzo! ¡Mal asunto! ¡Muy bueno! 24 9 A ORAÇÃO E AS SUAS PECULIARIDADES A sintaxe lida com as relações entre as palavras que formam uma frase. As palavras são organizadas de acordo com certas regras, que dizem respeito à ordem, a conexões explícitas e implícitas, à escolha que algumas palavras exercem sobre uma ou outra. Cada frase tem uma estrutura interna, de modo que a sintaxe estuda essa estrutura das orações, isto é, a combinação das palavras que a compõem. As- sim, o campo de atuação da sintaxe representa o estudo das leis ou das regras que constituem as relações que podem ocorrer no eixo sintagmático da língua, ou seja, no eixo das combinações possíveis na cadeia horizontal de uma língua. Essas relações podem se formar entre palavras, gerando os sintagmas, e entre as relações que se realizam entre os sintagmas, gerando as frases. Segundo Mattoso Câmara Junior (1972, p. 162–166), no discurso, porém, não são as palavras — e muito menos os morfemas — as unidades verdadeiras. Comunicamo-nos uns com os outros por meio de frases, isto é, de segmentos de extensão variável, que encerram um pro- pósito comunicativo definido. Será frase, portanto, qualquer palavra ou grupo de pa- lavras suficiente para atender o objetivo do falante: estabelecer a comunicação. Por exemplo: a. El día está lindo. ¿Vamos a la playa? b. ¡Ay! ¡Por supuesto Caso ¡Ay! e ¡Por supuesto! estivessem isoladas, não seriam consideradas fra- ses; no entanto, nesse contexto, as duas são consideradas frases. Inclusive, a frase pode ter ou não ter verbo: quando não tem, chama-se frase nominal; quando tem verbo, chama-se oração. A oração é a unidade máxima a ser estudada na sintaxe; logo, é necessária uma definição geral dessa noção fundamental. De fato, a gramática tradicional, que não ofereceu uma definição geral de palavra, dedicou atenção considerável à defini- ção da oração. Centenas de definições são acumuladas, com base em critérios vari- ados e, como esperado, a semântica predomina, seja lógica, psicológica ou comuni- cativa. Por exemplo, segundo a Real Academia Española (1973), “[...] a oração é a menor unidade de sentido completo em si mesmo em que o discurso real é dividido”. 25 Tais definições receberam numerosas críticas, visando à vinculação da gramá- tica tradicional a noções intuitivas, e não estritamente gramaticais. A que contou com mais seguidores é a de “sentido completo”. Embora seja correto destacar o fator intui-tivamente mais relevante, é bastante complexo especificar o seu escopo. Como definir o que é o “sentido completo”? Segundo Alonso e Henríquez Ureña (1938, p. 10), “[...] ter sentido em si mesmo ou sentido completo quer dizer declarar, desejar, perguntar ou mandar algo”. Assim concebido, o significado completo está relacionado aos atos de fala que podem ser realizados por meio de orações. A partir dessa perspectiva, a oração seria uma unidade comunicativa, um ponto de vista compartilhado pela terceira definição. O problema é que os limites de um ato de fala nem sempre coincidem com os da oração. A segunda definição apela, por sua vez, a um critério lógico. Embora ora- ções declarativas usualmente expressem um julgamento, esse critério é inaplicável a orações interrogativas, imperativas e exclamativas, às quais, no entanto, não se po- deria negar o caráter de oração. Como outras noções, Bloomfield (1964[1933]) propôs uma definição da oração em termos distributivos: “[...] uma oração é uma forma linguística independente, não incluída em virtude de qualquer construção gramatical, em qualquer forma linguística mais ampla”. O que caracteriza as orações é sua autonomia gramatical. Logo, todas as orações independentes serão orações. Praticamente qualquer sequência, desde que acompanhada por um traço de entonação, resultaria em uma oração. Nesse caso, o problema é que, se a gramática as incluir, ela deverá dar regras para construções que pouco compartilham, do ponto de vista de sua estrutura interna. De fato, Bloom- field (1964[1933]) precisava estabelecer uma distinção adicional entre orações com- pletas e orações menores, como as expostas anteriormente; do contrário, seria im- possível abarcar a enorme diversidade estrutural existente entre elas nas regras da gramática. Quais marcas estruturais nos permitem reconhecer essa independência? A marca mais óbvia é a entonação, isto é, as variações no tom de voz do falante, com padrões prosódicos com significado do tipo ofensivo, irônico, de decepção, que ex- pressem alegria, entre outros. Dada a função delimitativa da entonação, cada oração corresponde a um próprio traço entonacional, que corresponde ao tom que o falante dá a determinada oração. 26 No entanto, como o próprio Bloomfield (1964[1933]) observa, quando produzi- mos duas orações consecutivas, elas nem sempre são marcadas por suas respectivas figuras tonais, ou marcas na fala. Muitas vezes, elas englobam apenas uma, na qual se omite uma pausa intermediária; então, deveríamos reconhecer uma única oração em uma sequência como a do exemplo (b). O que todas as definições examinadas têm em comum é considerar a oração como uma unidade de comunicação, isto é, como a unidade na qual um texto pode ser dividido. Como tal, é definida em termos extragramaticais: semântico, pragmático e fonológico. Nesse sentido, a oração é uma unidade que corresponde à análise do discurso, e não à própria gramática. Assim consideradas, as sequências de (b) podem ser perfeitamente compreensíveis e efetivas como partes de um texto (uma conversa- ção, uma canção ou uma letra), mas não permitem avançar em uma definição, em termos dos componentes necessários da oração em seu sentido gramatical. Se a oração é concebida, porém, como uma unidade estritamente gramatical, o que é necessário é que ela seja caracterizada como uma unidade de construção, para a qual corresponde defini-la a partir de sua estrutura interna. Nesse segundo sentido, precisaremos identificar os constituintes que a compõem. Trata-se de uma construção predicativa: consiste em um sujeito e um predicado. Em seu caso típico, o núcleo do predicado é um verbo conjugado, isto é, apresenta a flexão de pessoa e número, de acordo com o sujeito, e de tempo e modo. Para diferenciar os dois senti- dos, aplicamos ao último a denominação cláusula. De acordo com Di Tullio (2005), em termos funcionais, significa que toda cláusula é formada por um sujeito e um pre- dicado. De fato, nossos gramáticos perceberam essa dualidade subjacente no con- ceito de oração. Por essa razão, muitas vezes ofereciam, além das definições basea- das em critérios semânticos, uma definição estritamente gramatical. Bello (1970[1847]) já reconhecia dois tipos de unidades: a proposição, definida por seus constituintes, ou o sujeito e o predicado (que ele chamou de atributo), e a oração. Dessa forma, cabe ressaltar que a definição de proposição — correspondente à nossa noção de cláusula — é baseada exclusivamente em sua estrutura interna, enquanto na oração se impõe um critério extragramatical. 27 10 A ORAÇÃO E O DISCURSO A gramática e a análise do discurso não se opõem, mas se complementam. Existem aspectos do discurso que dependem da organização de frases e elementos que transcendem os limites das orações. No entanto, é importante não esquecer que a oração (em seu significado gramatical) e o discurso são objetos inerentemente dife- rentes. Somente dentro da estrutura da oração podem ser formuladas regras que di- ferenciem claramente as sequências bem formadas das não gramaticais. No discurso existem regularidades de natureza estatística, dependentes, em geral, de fatores pragmáticos. A presença de mecanismos formais coesos não garante a coerência de um discurso. Isso pode ser coerente mesmo quando nenhum desses recursos formais aparece; inversamente, mesmo quando todos eles são usados, o texto resultante pode ser incoerente. Já em relação à gramática, para que uma oração seja gramatical, basta cumprir as regras da gramática. Assim, por exemplo, a concordância entre sujeito e verbo em número e pessoa é uma condição necessária para que uma oração seja gramatical; se a regra for violada, a sequência inevitavelmente será malformada. Dessa forma, é importante perceber que, para que o discurso ocorra, a oração deve estar bem for- mada. Assim, a sintaxe está em um nível mais profundo que a análise do discurso 10.1 Classificação das orações De acordo com a RAE (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2010), tradicionalmente as orações são divididas de acordo com três critérios: atitude do falante, natureza de seu predicado e dependência ou independência em relação a outras unidades. a) A atitude do falante: a expressão da atitude do falante (modus) é chamada de modalidade em relação ao conteúdo das mensagens. Geralmente ocorrem dois tipos de modalidade: a da enunciação e a do enunciado. A enunciação representa as diferentes maneiras como os atos de fala são realizados, ou seja, analisa a intenção do falante. Com esse critério, diferenciam-se as orações declarativas, como “está ne- vando”, das orações interrogativas, como ¿Qué pasa?. 28 b) A natureza do seu predicado: de acordo com a natureza do predicado, po- demos dividir as orações em transitivas (Llamé a Carlos), intransitivas (Mi primo salió temprano) e copulativas (El día está lindo). c) A dependência ou independência em relação a outras unidades: orações simples não contêm outras que ocupem seus argumentos ou modifiquem seus com- ponentes; por outro lado, as orações subordinadas dependem de alguma outra cate- goria, a qual elas complementam ou modificam. A oração subordinada é inserida ou incorporada à principal. A oração principal em Carlos dijo [que no quería ir a la fiesta], por exemplo, não é o segmento Carlos dijo (que não constitui uma oração por si só, já que é incompleta), mas toda a sequência em itálico. O que está entre colchetes é a oração subordinada, que é interpretada como parte da oração principal. Chama-se oração composta aquela que contém uma ou mais orações subordinadas. 10.2 Funções sintáticas: uma relação básica As classes de palavras e as funções sintáticas mantêm relações que auxiliam a interpretação semântica de determinada oração. Segundo a RAE (REAL ACADE- MIA ESPAÑOLA, 2010, p. 15), por mais que as funções dependam da posição queas palavras ocupam, é importante também analisar outras marcas ou expoentes sintáti- cos. Portanto, a frase Saldrá el martes admite mais de uma interpretação. Por exem- plo, se el martes designar a entidade que se diz estar saindo, será o sujeito do verbo saldrá; no entanto, se a oração informar que determinada pessoa não especificada chegará naquele dia, el martes será um complemento circunstancial. 10.3 Predicados e argumentos Semanticamente, cada oração contém uma expressão predicativa e um ou mais argumentos. Os argumentos são, em geral, expressões referenciais que permi- tem identificar entidades do mundo extralinguístico. O predicado atribui uma proprie- dade a um argumento ou descreve o relacionamento entre os argumentos, isto é, ele determina quantos e quais argumentos são necessários. O conceito de predicado, retirado da lógica, designa a expressão gramatical cujo conteúdo é atribuído ao refe- rente do sujeito, por exemplo: 29 El maestro explicaba la lección a los alumnos. (predicado) Segundo Gómez Torrego (2005, p. 272–273), costumam-se distinguir dois tipos de predicado: o verbal e o nominal. Os predicados nominais são representados pelos verbos copulativos, que em português são conhecidos como verbos de ligação: os verbos ser e estar. Por exemplo: Está frío. Es invierno. Os predicados verbais são todos aqueles que não possuem verbos copulativos, e sim verbos com carga semântica plena, os quais podem aparecer sozinhos ou com complementos. Por exemplo: Juan ha salido. María compró cinco libros. 11 AS FUNÇÕES SINTÁTICAS E AS SUAS MARCAS De acordo com a RAE (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2010, p. 16): [...] as funções sintáticas representam as formas pelas quais as relações que expressam os argumentos são manifestadas. Cada função sintática é carac- terizada pela presença de diferentes marcas ou expoentes gramaticais, tais como concordância, posição, presença de preposições e, por vezes, entona- ção. Marcas de função são os índices formais que permitem que sejam reco- nhecidos. Na sequência, veremos as principais funções sintáticas da língua espanhola 11.1 Sujeito Toda oração ou cláusula possui dois componentes fundamentais: o sujeito e o predicado. Segundo Gómez Torrego (2005), ambos estão no mesmo nível sintático e têm uma relação de interdependência. O sujeito assume o seu papel sintático em função do predicado, e o predicado se justifi ca porque há um sujeito — embora em algumas ocasiões o sujeito possa ser nulo ou estar oculto. Para a RAE (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 1973, p. 350), a noção de sujeito assume outra definição. 30 Como já exposto, para classificarmos o sujeito, é necessário que saibamos identificá-lo. Dessa forma, segundo Di Tullio (2005), o sujeito pode ser classificado de acordo com as marcas apresentadas a seguir.bastante repetida em nossa tradição gramatical: “[...] o sujeito é a pessoa ou coisa da qual falamos algo”. Ponto de vista categorial- O sujeito é um sintagma nominal (SN), cujo núcleo pode ser um substantivo comum, nome próprio ou pronome. Em alguns casos, pode ser também uma cláusula ou oração subordinada. La mujer rubia salió temprano. (substantivo comum) Neymar Jr. está más conocido que Pelé. (nome próprio) ¿Ella ha llegado retrasada? (pronome) Quien dijo eso es un torpe. (oração subordinada) Ponto de vista verba- A marca estrutural que permite identifi car mais claramente o assunto gramatical é a concordância com o verbo nas características fl exionais do número e da pessoa. Qualquer variação nessas propriedades fl exionais afetará necessariamente o verbo e defi nirá, automaticamente, o sujeito. A Roberta se le ocurrió una idea. (sujeito: una idea) A nosotros se nos ocurrió una idea. (sujeito: una idea) A Roberta se le ocurrieron varias ideas. (sujeito: varias ideas) A rica flexão do verbo espanhol possibilita que o sujeito não seja explícito, isto é, que ele seja oculto. Desse modo, é possível identificar o sujeito, apesar de ele não ser expresso, em função das propriedades flexionais do verbo. Saliste temprano. (sujeito não explícito). Ao contrário do inglês ou do francês, que requerem um sujeito explícito, o es- panhol é uma língua que, em alguns casos, aceita sujeito nulo. Logo, é possível iden- tificar a inexistência de sujeito, em função das propriedades flexionais do verbo. Salió temprano. (sujeito inexistente) 31 11.2 Complementos direto e indireto O objeto direto — ou complemento direto — é defi nido pela RAE (REAL ACA- DEMIA ESPAÑOLA, 1973, p. 371) como: [...] a palavra que define o significado do verbo transitivo, e denota ao mesmo tempo o objeto (pessoa, animal ou coisa) no qual representa uma ação ex- pressa pelo próprio verbo. Este complemento é chamado de direto porque nele a ação do verbo é cumprida e terminada, e ambos formam uma unidade sintática “verbo + objeto direto”. Já para a RAE de versão mais recente (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2010, p. 565): [...] o objeto direto ou objeto direto é uma função sintática que corresponde a um argumento dependente de verbo. Forma com ele (e às vezes com outras unidades) um grupo verbal e fornece a informação necessária para conformar a unidade de pregação que o verbo constitui. Nessa definição, o objeto direto é identificado pelo papel temático do paciente afetado. O objeto direto também pode ser um objeto criado pela ação do verbo (objeto efetuado: María pintó un cuadro), que não tem existência prévia (como o paciente ou objeto afetado: María pintó la pared) ou um estímulo ligado a uma percepção ou um estado psicológico (Luisa oyó el disparo; Manuel adora la música rock). Em contraste, o objeto direto nunca pode ser um agente. Como o sujeito, segundo Di Tullio (2005), o objeto direto pode ser classificado de acordo com as seguintes marcas: a) O objeto direto é um SN determinado por um SV. b) Quando o objeto direto é uma pessoa, ele vem precedido da preposição a. Vi a Juan. c) Pode ser substituído pelos clíticos acusativos: me, te, lo, la, nos, os, los, las. Ayer vi a Juan y lo invité a cenar Segundo a RAE (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2010, p. 672), o complemento indireto ou objeto indireto é chamado de função sintática realizada por pronomes áto- nos dativos, bem como grupos preposicionais liderados por uma preposição que pode 32 ser substituída por um pronome dativo. Enquanto o clítico acusativo de 3º pessoa (la, los, las) substitui o objeto direto, o dativo (le, les), por outro lado, cumpre funções mais variadas. Por exemplo, existem as chamadas construcciones de doblado (literalmente, construções dobradas) ou duplicación (duplicação) do pronome átono, como em Al Rey le han gustado las capillas que ha visto (caso de duplicação). Cabe esclarecer que não se compreende que o verbo tenha dois complementos indiretos, mas que um reproduz o outro, ou que ambos formam um segmento descon- tínuo. Do ponto de vista semântico, os complementos indiretos designam o receptor, o experienciador, o beneficiário e outros participantes em uma ação, um processo ou uma situação. 11.3 Predicativo Como vimos anteriormente, os predicados semânticos pertencem a diferentes categorias, podendo ser verbais ou nominais. Caso a referência se dê a predicados nominais, com os verbos ser, estar ou outros similares, teremos a presença de predi- cativos subjetivos obrigatórios. Se eles aparecem com outros verbos, que têm seu próprio conteúdo semântico, eles serão predicados secundários que modificam o prin- cipal — predicados subjetivos que não são obrigatórios. Os verbos copulativos (de ligação) vão acompanhados por predicativos obriga- tórios, como em: Juan es celoso. María parece cansada. Mis hijas están de buen humor. Juan es un médico prestigioso. Todas essas as cláusulas/orações consistem em um elemento predicativo, pois possuem verboscopulativos. Nos exemplos seguintes, por outro lado, existem dois precedentes: um primário (aquele do verbo conjugado) e um secundário (aquele do predicado não obrigatório), que é orientado para o sujeito da cláusula/oração. Juan llegó cansado. María lo miraba impasible O predicativo não necessariamente se refere apenas ao sujeito. Ele também pode se referir ao objeto direto, como nos seguintes exemplos: 33 Considero interesante tu propuesta. Nombraron a Pedro director de orquesta. Te veo muy bien. 11.4 Complementos preposicionais Há complementos na sintaxe da língua espanhola que não são complementos de transitividade direta ou indireta, mas que são importantes para o entendimento total da oração. 11.5 Complemento de régimen Os complementos de régimen não podem ser substituídos ou duplicados por pronomes, nem concordar com o sujeito ou com o objeto. Nenhum dos dois pode ser substituído por advérbios, como uma grande parte dos circunstanciais. Nós os distin- guimos porque a preposição que os encabeça é selecionada pelo verbo — é gover- nada por ele. Eles correspondem a argumentos selecionados pelo verbo, mesmo quando, do ponto de vista semântico, cobrem noções bastante diferentes: El disertante abusó de la paciencia del público. El Ministro siempre insiste en sus supuestos logros. El argumento de la defensa se basa en la falta de seguridad de los ciudada- nos. 11.6 Complemento agente Um complemento especial é o do agente, que aparece em frases passivas, encabeçadas pela preposição por, e corresponde ao sujeito das orações ativas. Ele pode ser omitido, apesar de ser considerado complemento, em função de sua relação sistemática com um dos argumentos selecionados pelo verbo. La noticia fue difundida por la agencia EFE. El libro aún no fue devuelto por el profesor. Los delincuentes fueron identificados por algunos vecinos. 34 11.7 Os adjuntos ou complementos circunstanciais Existem complementos que especificam circunstâncias — tempo, lugar, em- presa, instrumento, quantidade, modo, propósito e causa — que acompanham os ver- bos. Esses complementos são conhecidos como adjuntos, ou complementos circuns- tanciais. Salir por las mañanas. Construir una casa en el campo. Estudiar con mis hermanas. Cantar con voluntad. Ahorrar para viajar. 12 CONCORDÂNCIA VERBAL: OS CASOS DOS SUJEITOS EXPRESSO E TÁ- CITO Você sabe o que é sujeito? Em uma oração, sujeito é o elemento (pessoa, ani- mal, coisa) que realiza, causa ou sofre a ação do verbo. De maneira mais simplificada, podemos dizer que é o elemento sobre o qual se diz alguma coisa na oração. Assim, a partir de uma perspectiva gramatical, podemos entender o sujeito como um sintagma (palavra ou conjunto de palavras que têm alguma função sintática) que mantém uma relação de concordância com o verbo. Esse sintagma pode estar formado por um núcleo, um determinante e um complemento (Figura 1) 35 Geralmente, é possível reconhecer o sujeito em uma oração perguntando ao verbo ¿quién? Veja o exemplo no Quadro 1 a seguir: É importante destacar que, embora seja muito útil, em grande parte dos casos, nem sempre essa pergunta nos leva ao sujeito. No caso de Me gusta mucho el frío, o sujeito não é agente da ação, mas paciente (é quem a sofre). Por isso, a pergunta que nos leva a ele deveria ser ¿qué me gusta?, e a resposta nos levaria ao sujeito: el frío. De todos os modos, o verbo, sem dúvida, tem uma relação fundamental com o sujeito, já que é a partir dele que identificamos o elemento da oração que tem essa função. Antes de analisar essa relação, você vai ver quais os tipos de sujeitos que existem em espanhol. Os critérios para definir a tipologia variam de acordo com a perspectiva. Aqui, veremos o critério gramatical denominado fonético, que classifica o sujeito de acordo 36 com a sua existência explícita ou implícita em uma oração. Assim, distinguem-se os tipos a seguir: Sujeito expresso/explícito: é o que aparece e se destaca na oração de forma explícita. Las clases de español son muy interesantes. María y Sabrina no quieren ir a la fiesta de Felipe. Mañana Pedro viene a visitarnos. ¡Eso es una barbaridad! Sujeito tácito/implícito: é o que está subentendido na oração, embora não esteja representado explicitamente. Tenemos cinco días de vacaciones. (sujeito: nosotros) Fui a la playa dos veces el año pasado. (sujeito: yo) Jugaste al fútbol durante dos años en el centro deportivo, ¿no? (sujeito: tú) Quiero ver dos películas en el cine. (sujeito: yo) O sujeito tácito também pode ser indeterminado, ou seja, embora saibamos a pessoa, não temos informação sobre outros traços, como número e gênero, a partir dos elementos e das informações que constam na oração: Es una persona muy tranquila, pero a veces se enfada. (sujeito: él ou ella). Robaron el centro comercial anoche. (sujeito: ellos ou ellas). Com base nesses dois tipos de sujeitos, podemos analisar a relação que eles desenvolvem com os verbos na oração — a denominada concordância verbal. Costuma haver consenso entre os gramáticos a respeito de alguns dos critérios que definem a concordância verbal: é entendida como a harmonia entre verbo e su- jeito, no que se refere a número e pessoa. Veja os exemplos a seguir: Rodolfo me dijo que tiene hambre. Las tijeras que me compré están sobre la mesa. 37 A concordância do sujeito expresso com o verbo, em grande parte dos casos, é simples: se o número ou a pessoa do verbo muda, o sujeito também terá de mudar, e vice-versa. Em outras palavras, sujeito e verbo devem estar em harmonia no que se refere à pessoa e ao número. La oficina está cerrada. Las oficinas está cerrada. (construção equivocada) Las oficinas están cerradas. No entanto, há alguns casos especiais de concordância com sujeito explícito que você deve conhecer: Sujeito composto por mais de um elemento, com uma conjunção copu- lativa – se os elementos se referem a objetos distintos, o verbo fica no plural: María y Juan tienen dos hijos. Se os elementos formam uma só unidade, o verbo fica no singular: El hambre en el mundo y su consecu- encia desigualdad es lo que me entristece. Se os elementos se referem à mesma pessoa, o verbo se mantém no singular: El jugador de fútbol y héroe nacional es un hombre especial. Sujeito composto por dois elementos coordenados que têm papel gra- matical neutro, como verbos no infinitivo – o verbo deve ficar no singular: Me parece que cantar y bailar es lo que más le gusta a Camila. Se, no A variação linguística é enorme em espanhol e afeta muitas das suas características gramaticais — uma delas é a concordância verbal. Na Espanha, o pronome de tratamento utilizado em contextos informais, para dirigir-se a mais de uma pessoa (vocês, em português), é vosotros; portanto, o verbo deverá ser conjugado nessa pessoa: Tú y Carlos tenéis que ir a la escuela mañana. Nos países hispano-americanos, o pronome vosotros é reservado para contextos muito formais e, por isso, utiliza-se muito mais amplamente ustedes, de modo que o verbo deve ser conjugado na terceira pessoa do plural: Tú y Carlos tienen que ir a la escuela mañana. 38 entanto, esses verbos representam realidades distintas, o verbo é con- jugado no plural: Las mejores cosas de la vida son ir al cine y jugar al baloncesto. Sujeito composto por dois elementos que se unem com tanto…como – o verbo é conjugado no plural: Tanto Julia como Verónica llegaron a las ocho de la mañana. Sujeito formado por um substantivo coletivo – o verbo é conjugado no singular: El clero es un grupo muy respetado./La manada destruyó todo. Com o sujeito tácito, a questão da concordância verbal é imprescindível — emesmo inerente à sua existência. Como o sujeito, nesse caso, não é representado nem por um pronome, nem por um substantivo ou sintagma nominal, só é possível inferir quem ele é a partir do verbo presente na oração e de sua desinência. Em outras palavras, se o verbo está conjugado na primeira pessoa do plural (nosotros), sabemos que o sujeito também é essa pessoa: Fuimos a la fiesta de nuestros amigos. (sujeito: nosotros) Comieron nuestra comida con mucho gusto. (sujeito: ellos/ellas) Fui a París el año pasado. (sujeito: yo) ¡Estáis lindos! (sujeito: vosotros) Me contaste esta historia ayer. (sujeito: tú) Esse tipo de estrutura é muito recorrente em língua espanhola, a qual — assim como o árabe e o latim, por exemplo — não requer um sujeito obrigatoriamente ex- presso. É comum, portanto, que as orações se constituam com o sujeito tácito, oculto ou elíptico, de modo que é apenas por meio da análise do contexto e da conjugação do verbo presente que podemos constatar a quem se refere o predicado da oração. Em espanhol, existe uma estrutura chamada sujeito inclusivo, que é utilizada quando quem fala se inclui no sujeito. Nesse caso, o verbo é conjugado na primeira pessoa do plural (nosotros), embora o sintagma do sujeito se mantenha em terceira pessoa do plural (ellos, ellas). Los brasileños somos muy animados. 39 Línguas como o inglês, por outro lado, não admitem essa estrutura e precisam ex- pressar explicitamente o sujeito em suas orações. 13 COMPLEMENTOS: DIRETO, INDIRETO, DE RÉGIMEN VERBAL E CIRCUNS- TANCIAL A língua espanhola é muito rica. Uma prova disso são as possibilidades de complemento que os verbos comportam. Nos estudos gramaticais, também no que se refere à análise sintática, tem grande importância e destaque a noção de comple- mento — elementos que se relacionam com os verbos em uma oração, tanto em um vínculo obrigatório como em um vínculo opcional e contextual. Você vai aprender agora sobre quatro tipos de estruturas que podem complementar os verbos: os com- plementos direto e indireto, que se relacionam com a transitividade dos verbos; o de “régimen preposicional”, com sintagma preposicional obrigatório; e o circunstancial, que destaca alguma característica da ação em questão. 13.1 Complementos direto e indireto Em língua espanhola, distinguem-se dois tipos de estruturas que complemen- tam verbos transitivos: os complementos diretos e os indiretos. Verbos transitivos são aqueles que precisam de um elemento que os oriente ou determine, isto é, que exigem um complemento para que seu significado seja completo. El celular manda mensajes de texto. El celular manda seria uma oração incompleta e, portanto, incorreta. La película muestra la vida en Colombia. La película muestra seria uma oração sem sentido. Los chicos quieren volver, no te preocupes. Los chicos quieren seria uma oração incompreensível. O complemento direto pode ter a forma de substantivos ou sintagmas nominais, pronomes e orações subor- dinadas substantivas. Amparo envió mensajes ayer. (sustantivo) Amparo envió un mensaje ayer. (sintagma nominal) 40 Amparo lo envió ayer. (pronome) Amparo me dijo que me enviaría la carta ayer. (oração subordinada). Quando o complemento direto se refere a pessoas ou a seres de modo geral, é acompanhado pela preposição “a”. Se é relativo a objetos inanimados, geralmente, não se usa a preposição: Vimos la película en la tele. Vimos a tu hermana en el cine Um recurso muito comum utilizado pelos falantes de espanhol é a duplicação do complemento direto nas orações, com a sua forma explícita e a pronominal em coocorrência: Los libros de español los compré con el dinero que me sobró. Para reconhecer o complemento direto em uma oração, veja algumas dicas que podem lhe ajudar — embora não se apliquem a todos os casos, a grande maioria pode lhe ser útil. A primeira delas é trocar a unidade ou a estrutura por seu pronome pessoal átono correspondente: la, las, lo, los. Compramos la corbata roja./ La compramos. Compramos las mochilas nuevas para el comienzo de las clases./ Las com- pramos para el comienzo de las clases. Compramos el libro que pidió la profesora./Lo compramos. Compramos los billetes con la tarjeta de crédito./ Los compramos con la tarjeta de crédito. Outra opção é transformar a oração de ativa para passiva: se o complemento, nessa transformação, tiver a sua função alterada para sujeito paciente (que sofre/re- cebe a ação), o complemento é, de fato, direto. Pedro adquirió el departamento con mucho esfuerzo. El departamento fue adquirido por Pedro con mucho esfuerzo. Existe um fenômeno comum em regiões da Espanha, conhecido como leísmo. Nesse tipo de construção, em vez de usar a forma lo ou la como complemento direto, usa-se a forma le, como em Perdió el celular y no le encontró. 41 O complemento indireto, embora também se relacione com um verbo transitivo, geralmente é opcional (diferentemente do complemento direto) e indica o receptor da ação do verbo, isto é, o complemento indireto indica a quem ou a que se dirige a ação do verbo. Llevamos un regalo a Esmeralda. Julieta nos dio las llaves de la casa. Es el cumple de María. Le compramos el bolso que quería. A mí no pueden decir que no. Ainda que comumente se refira a pessoas ou seres, também pode ser representado por um objeto inanimado: Echamos sal a la comida. Em espanhol, quando o complemento indireto tem a forma de um sintagma nominal, ele é introduzido pela preposição “a”. A outra possiblidade é que ele seja um pronome átono (me, te, le, nos, os, les), sem preposição, ou tônico/ oblíquo, quando a preposição também é obrigatória (a mí, a ti, a él/ella/usted, a nosotros(as), a voso- tros(as), a ellos/ellas/ustedes). Carlos compró el libro a Esteban. Carlos le compró el libro. Carlos compró el libro a él. Com o objetivo de dar ênfase a uma oração, é possível inserir um complemento indireto não obrigatório, cuja função é apenas destacar o que se diz: ¡No me comas las manzanas, están podridas! O pronome, nesse caso, apesar de funcionar como um complemento indireto, é totalmente dispensável para a compreensão da oração, e sua ausência apenas lhe tiraria a força emocional. Outro recurso comumente utilizado para deixar ainda mais claro o complemento indireto é o uso de sua repetição, como colocar um pronome átono e um sintagma nominal, ambos com a função de complemento indireto: Le enviamos la carta a Fernando. 42 14 COMPLEMENTO DE RÉGIMEN PREPOSICIONAL E CIRCUNSTANCIAL Para uma efetiva compreensão das orações em língua espanhola, é importante conhecer e distinguir outros dois tipos de complemento, os quais se relacionam com os verbos e são fundamentais para o domínio de sua sintaxe. O complemento de régimen preposicional (regência, em português) é extre- mamente importante, já que é exigido pelo verbo para complementá-lo, e não pode ser deslocado, nem eliminado. Sempre é introduzido por uma preposição, a qual nunca varia, de modo que se configura como um sintagma preposicional. Assim, por exemplo, as gramáticas costumam apresentar listas com verbos e a preposição pela qual devem ser, obrigatoriamente, acompanhados, como os casos a seguir: Mesmo que a preposição nunca possa ser eliminada nesses casos, o outro elemento do sintagma pode ser substituído por um pronome tônico (él, ella, ellos, el- las, eso...), desde que seja mantida a preposição. Nos acordamos de la historia de Pilar ayer. Nos acordamos de eso ayer. Los españoles confían mucho en la justicia. Los españoles confían mucho en ella. Outro tipo de complemento que tem características muito diversas das do de régimen preposicional é o circunstancial. Trata-se de um sintagma que
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