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Indaial – 2022 Brasileira Prof.ª Thamirez Lutaif Lopes 1a Edição antropologia Elaboração: Prof.ª Thamirez Lutaif Lopes Copyright © UNIASSELVI 2022 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Impresso por: C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI. Núcleo de Educação a Distância. LOPES, Thamirez Lutaif. Antropologia Brasileira. Thamirez Lutaif Lopes. Indaial - SC: UNIASSELVI, 2022. 173p. ISBN 978-85-515-0621-9 ISBN Digital 978-85-515-0617-2 “Graduação - EaD”. 1. Antropologia 2. Brasil 3. Etnia CDD 306 Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 Olá, acadêmico! Bem-vindo ao livro da disciplina de Antropologia Brasileira. Essa disciplina tem por objetivo introduzir esse campo de conhecimento no contexto do Brasil. Vamos abordar diversos importantes para aqueles que querem entender desde os debates tradicionais até os debates atuais da antropologia brasileira. Na Unidade 1, abordaremos o desenvolvimento da antropologia no Brasil, analisando suas especificidades e tendências. Vamos refletir sobre os principais temas e preocupações teóricas e metodológicas encontrados na antropologia produzida no Brasil. Em primeiro lugar será apresentado o desenvolvimento do campo da Antropologia no Brasil para entendermos o que é a disciplina da antropologia, por que a antropologia é considerada uma ciência social e um panorama histórico da antropologia brasileira. Em segundo lugar serão abordados obras e autores clássicos da antropologia brasileira, percorrendo o contexto dos principais debates nas áreas de etnologia indígena, dos estudos sobre o negro e dos estudos sobre feminismo. Em terceiro lugar, serão levantadas questões a respeito da cultura brasileira, como o próprio conceito de cultura brasileira, temas de cultura popular e folclore brasileiro e o contexto dos estudos pós- coloniais. Em seguida, na Unidade 2, estudaremos mais alguns dos autores e obras clássicas da antropologia brasileira, tendo em vista as discussões sobre identidade, raça, etnia e gênero. Para isso, apresentaremos o conceito de cultura, diferenciaremos os conceitos de raça e etnia e abordaremos as questões de gênero no contexto brasileiro. Em seguida, as discussões étnicas e raciais serão aprofundadas, pormenorizando a discussão sobre o racismo no Brasil, entendendo a noção de sincretismo religioso e apresentando a ideia de racismo religioso. Depois, resumiremos alguns dos principais temas sobre antropologia rural, antropologia urbana e antropologia nas mídias digitais. Por fim, na Unidade 3, aprenderemos o desenvolvimento do campo institucional e acadêmico da antropologia no Brasil, analisando temas contemporâneos da antropologia brasileira. Primeiro, apresentaremos um panorama geral da graduação e da pós-graduação em antropologia no Brasil, percorrendo a formação do antropólogo, o trabalho do chamado antropólogo de “gabinete” e o trabalho do antropólogo de campo. Depois, abordaremos temas contemporâneos de antropologia brasileira, como a globalização cultural, entendendo o seu conceito e outros conceitos como modernidade, pós-modernidade e multiculturalismo. Em último lugar, trataremos da questão do antropoceno e sua relação com o Brasil pós-pandemia, analisando o conceito de antropoceno, tratando da questão da antropologia multiespécie e trazendo um debate atual sobre as doenças infecciosas e sua relação com o agronegócio no Brasil. Bons estudos! Prof.ª Thamirez Lutaif APRESENTAÇÃO Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO QR CODE Olá, eu sou a Gio! No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confi ra, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! SUMÁRIO UNIDADE 1 - PANORAMA INICIAL DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA ................................. 1 TÓPICO 1 - O DESENVOLVIMENTO DO CAMPO DA ANTROPOLOGIA NO BRASIL ...............3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3 2 O QUE É A ANTROPOLOGIA? ..............................................................................................3 3 A ANTROPOLOGIA COMO CIÊNCIA SOCIAL NO BRASIL ...................................................8 4 UM BREVE HISTÓRICO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA ............................................. 12 RESUMO DO TÓPICO 1 ......................................................................................................... 16 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................. 17 TÓPICO 2 - OBRAS E AUTORES CLÁSSICOS NA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA ............. 19 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 19 2 CLÁSSICOS DOS ESTUDOS SOBRE INDÍGENAS .............................................................19 3 CLÁSSICOS DOS ESTUDOS SOBRE NEGROS ................................................................. 28 4 CLÁSSICOS DOS ESTUDOS SOBRE MULHERES ............................................................. 31 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 35 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 36 TÓPICO 3 - ENTENDENDO A CULTURA BRASILEIRA ........................................................ 39 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 39 2 CONCEITO DE CULTURA BRASILEIRA ............................................................................ 39 3 CULTURA POPULAR E FOLCLORE .................................................................................. 43 4 ESTUDOS PÓS-COLONIAIS ..............................................................................................47 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 52 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................................ 58 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................59 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 61 UNIDADE 2 — ANTROPOLOGIA BRASILEIRA ..................................................................... 65 TÓPICO 1 — ANTROPOLOGIA BRASILEIRA E A QUESTÃO DA CULTURA NACIONAL ........67 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................67 2 CULTURA ...........................................................................................................................67 3 RAÇA E ETNIA ................................................................................................................... 71 4 GÊNERO .............................................................................................................................75 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 80 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................81 TÓPICO 2 - ANTROPOLOGIA BRASILEIRA E AS DISCUSSÕES ÉTNICO-RACIAIS .......... 83 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 83 2 RACISMO .......................................................................................................................... 83 3 SINCRETISMO RELIGIOSO ...............................................................................................87 4 RACISMO RELIGIOSO ...................................................................................................... 92 RESUMO DO TÓPICO 2 .........................................................................................................95 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................96 TÓPICO 3 - ANTROPOLOGIA BRASILEIRA: ESTUDOS RURAIS E URBANOS ....................99 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................99 2 ANTROPOLOGIA RURAL ...................................................................................................99 3 ANTROPOLOGIA URBANA ..............................................................................................103 4 ANTROPOLOGIA DA MÍDIA .............................................................................................106 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................108 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................... 114 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 115 REFERÊNCIAS .....................................................................................................................117 UNIDADE 3 - O CAMPO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA .............................................. 119 TÓPICO 1 - PANORAMA DA GRADUAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA NO BRASIL .......................................................................... 121 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 121 2 FORMAÇÃO EM ANTROPOLOGIA NO BRASIL ................................................................ 121 3 O TRABALHO DO ANTROPÓLOGO EM CAMPO ..............................................................126 4 O TRABALHO DO ANTROPÓLOGO NO GABINETE .........................................................128 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................... 131 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................132 TÓPICO 2 - TEMAS CONTEMPORÂNEOS DE ANTROPOLOGIA NO BRASIL I: GLOBALIZAÇÃO CULTURAL ...........................................................................135 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................135 2 O QUE É GLOBALIZAÇÃO CULTURAL? ..........................................................................135 3 MODERNIDADE E PÓS-MODERNIDADE ........................................................................ 140 4 MULTICULTURALISMO .................................................................................................. 144 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................148 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................149 TÓPICO 3 - TEMAS CONTEMPORÂNEOS DE ANTROPOLOGIA NO BRASIL II: ANTROPOCENO E BRASIL PÓS-PANDEMIA ................................................. 151 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 151 2 O QUE É ANTROPOCENO? .............................................................................................. 151 3 ABORDAGENS DA ANTROPOLOGIA MULTIESPÉCIE .....................................................156 4 DOENÇAS INFECCIOSAS, AGRONEGÓCIO E BRASIL PÓS-PANDEMIA .......................159 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................164 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................169 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................170 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 172 1 UNIDADE 1 - PANORAMA INICIAL DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • entender o conceito geral de antropologia; • perceber a antropologia enquanto ciência social no Brasil; • conhecer um panorama histórico da antropologia brasileira; • compreender o contexto dos debates em etnologia indígena no Brasil; • analisar o contexto dos debates em estudos sobre questões raciais no Brasil; • explicar o contexto dos debates emestudos sobre feminismo no Brasil; • assimilar o conceito de cultura brasileira; • apreender alguns temas de cultura popular e folclore brasileiro. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – O DESENVOLVIMENTO DO CAMPO DA ANTROPOLOGIA NO BRASIL TÓPICO 2 – OBRAS E AUTORES CLÁSSICOS NA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA TÓPICO 3 – ENTENDENDO A CULTURA BRASILEIRA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 O DESENVOLVIMENTO DO CAMPO DA ANTROPOLOGIA NO BRASIL 1 INTRODUÇÃO No Tópico 1, abordaremos a definição de antropologia, como se deu o desenvolvimento no Brasil e um panorama histórico da antropologia brasileira. Antes de avançarmos nossos estudos, é importante que você entenda o conceito geral de antropologia e qual é a diferença entre essa disciplina e as outras ciências sociais e humanas. Do mesmo modo, é importante que entenda qual é o objeto de estudo da antropologia e o que fazem antropólogos do mundo. Em seguida, vamos refletir sobre os avanços da antropologia no nosso país. Depois de aprender o objeto de estudo geral da antropologia mundial, vamos compreender quais os principais objetos de estudo dos antropólogos brasileiros, pensando na diversidade étnica do nosso país. Por fim, conheceremos datas e períodos importantes da história da antropologia brasileira desde o século XIX até os dias atuais. Ainda que a formalização da disciplina no país tenha acontecido na década de 1960, repassaremos alguns fatores importantes que permitiram a consolidação dessa disciplina no Brasil. 2 O QUE É A ANTROPOLOGIA? Afinal, o que é a antropologia? Você já pode ter ouvido falar sobre esta disciplina, mas vamos aprofundar o seu conceito ao longo da nossa disciplina, refletindo juntos sobre o seu desenvolvimento no nosso país. A palavra “antropologia” possui uma origem grega, sendo que anthropos significa homem e logos, estudo. Assim, podemos assumir que a antropologia versa sobre o estudo do homem, ou, melhor ainda, sobre o estudo dos seres humanos. TÓPICO 1 - UNIDADE 1 Nos livros de ciências humanas é comum que a palavra “homem” seja utilizada como um sinônimo de seres humanos. Contudo, é importante lembrar que o termo “seres humanos” é mais adequado porque não exclui as mulheres. IMPORTANTE 4 Outras disciplinas, como a fi losofi a e a biologia, também versam sobre o estudo dos seres humanos. Mas o que a antropologia tem de diferente em relação às outras disciplinas? Podemos dizer que a antropologia foi baseada no estudo comparativo entre diversas sociedades das mais variadas regiões do mundo. Enquanto disciplinas como a biologia e a fi losofi a estavam baseadas principalmente nas sociedades consideradas “civilizadas”, a antropologia se voltou para as sociedades consideradas “primitivas” (LAPLANTINE, 1987). O movimento da antropologia partiu de regiões da civilização europeia e norte- americana em direção a regiões distantes tidas como inexploradas. Em resumo, o trabalho dos primeiros antropólogos estava voltado para o estudo de sociedades com uma localização bem defi nida, que não tiveram muito contato com outras sociedades próximas e que não tinham uma tecnologia considerada desenvolvida. Para simplifi car, podemos dizer que o objeto de estudo inicial da antropologia foi o estudo das sociedades não ocidentais pelos antropólogos vindos de sociedades ocidentais (LAPLANTINE, 1987). Vale lembrar que os termos “civilizado” e “primitivo” devem ser usados com cuidado, pois se corre o risco de soar etnocêntrico. Em outras palavras, dizer que uma sociedade é civilizada e outra primitiva pode dar a entender que tal sociedade civilizada é melhor que a sociedade primitiva, o que é um grande erro. Um dos maiores desafi os dos antropólogos é fazer com que as sociedades mais afastadas tenham sua importância reconhecida, validando suas próprias culturas e modos de viver. O termo “etnocêntrico” é muito usado no campo da antropologia e deriva da palavra “etnocentrismo”. O etnocentrismo está relacionado ao pensamento de quem entende que a sua etnia é mais importante que as outras, lembrando que devemos tomar cuidado para não pensar dessa maneira, pois cada grupo tem a sua importância. IMPORTANTE NOTA 5 Em resumo, a antropologia foi tida como a disciplina que estuda as sociedades humanas a partir de diversidades culturais, geográficas e históricas. Existem vários setores de estudos especializados dentro da antropologia, como antropologia biológica, arqueologia, antropologia linguística, antropologia psicológica e antropologia social e cultural (LAPLANTINE, 1987). A antropologia biológica também ficou conhecida como antropologia física e está direcionada ao estudo do ser humano enquanto um animal social. Ela estuda o ser humano a partir da relação entre o meio ambiente e o seu modo de viver (LAPLANTINE, 1987). FONTE: <https://bit.ly/3BypRIM>. Acesso em: 16 jun. 2022. Hoje em dia, não podemos mais dizer que os objetos de estudo da antropologia são as sociedades não ocidentais por parte dos antropólogos de sociedades ocidentais. Existem novas áreas na antropologia, como a antropologia urbana, que possui como objeto de estudo as relações sociais da cidade. Por isso, podemos dizer que o trabalho do antropólogo está mais no modo de analisar as sociedades a partir de teorias antropológicas que no movimento do ocidental para o não ocidental. Aqui vale nos atentarmos para uma questão importante sobre a ideia de tecnologia. Podemos pensar que tecnologia tem a ver somente com equipamentos da cidade como grandes máquinas e produtos que dependem de eletricidade, mas esse pensamento é equivocado. Antes de qualquer coisa, a tecnologia diz respeito a um conjunto de métodos e técnicas que também fazem parte daquelas sociedades não ocidentais. Por exemplo, o uso de ferramentas, como o arco e flecha, para caçar animais, por parte de sociedades indígenas, é uma grande tecnologia. IMPORTANTE FIGURA 1 – INDÍGENA BRASILEIRO DA ETNIA KAYAPÓ 6 A arqueologia está baseada no estudo do ser humano considerando a pré- história, ou seja, aquele período anterior à invenção da escrita. A partir de vestígios materiais, como fósseis, a arqueologia busca presumir qual eram os modos de organização social de sociedades humanas que não mais existem (LAPLANTINE, 1987). FIGURA 2 – ARQUEOLOGIA FONTE: <https://bit.ly/3SjYmZv>. Acesso em: 16 jun. 2022. A antropologia linguística, por sua vez, tem a ver com o estudo das sociedades humanas a partir da linguagem, tanto oral como escrita. Devemos ter em mente que a linguagem não diz respeito somente a palavras faladas, mas também a outras formas de comunicação não verbal, como o conjunto de gestos presente em performances e danças (LAPLANTINE, 1987). A antropologia psicológica está voltada para a compreensão dos processos psicológicos do ser humano em sua individualidade. Antes de analisar determinada sociedade em seu conjunto de pessoas, o antropólogo entra em contato com indivíduos particulares, e é isso que a antropologia psicológica leva em consideração. Por fim, a antropologia social e cultural pode ser considerada a área mais abrangente da antropologia. Ela estuda os diversos segmentos das sociedades humanas, considerando elementos como o casamento, organização social, o parentesco, a família, a divisão social do trabalho, a educação, a religião, entre outros. 7 Outro ponto fundamental para entendermos o que é a antropologia tem a ver com a questão da alteridade. Ora, o que é a alteridade? Em poucas palavras, a alteridade é uma qualidade de quem é distinto de nós, ou seja, de quem é outro! Quando os primeiros antropólogos pesquisaram sociedades distantes, eles se deparavam com grupos de pessoas muito diferentes das sociedades das quaisvinham. Isso os fez perceber que aquilo que achavam que era natural nos seus modos de viver não era algo natural, mas sim cultural. A partir do contato com grupos de pessoas que vivem de um modo diferente do nosso, passamos a refletir mais sobre nós mesmos e sobre a nossa sociedade. Além disso, apenas a distância em relação a nossa sociedade (mas uma distância que faz com que nos tornemos extremamente próximos daquilo que é longínquo) nos permite fazer esta descoberta: aquilo que tomávamos por natural em nós mesmos é, de fato, cultural; aquilo que era evidente é infinitamente problemático. Disso decorre a necessidade, na formação antropológica, daquilo que não hesitarei em chamar de “estranhamento” (depaysement), a perplexidade provocada pelo encontro das culturas que são para nós as mais distantes, e cujo encontro vai levar a uma modificação do olhar que se tinha sobre si mesmo. De fato, presos a uma única cultura, somos não apenas cegos a dos outros, mas míopes quando se trata da nossa. A experiência da alteridade (e a elaboração dessa experiência) leva-nos a ver aquilo que nem teríamos conseguido imaginar, dada a nossa dificuldade em fixar nossa atenção no que nos ́e habitual, familiar, cotidiano, e que consideramos ”evidente”. Aos poucos, notamos que o menor dos nossos comportamentos (gestos, mímicas, posturas, reações afetivas) não tem realmente nada de “natural”. Começamos, então, a nos surpreender com aquilo que diz respeito a no ́s mesmos, a nos espiar. O conhecimento (antropológico) da nossa cultura passa inevitavelmente pelo conhecimento das outras culturas; e devemos especialmente reconhecer que somos uma cultura possível entre tantas outras, mas não a única (LAPLANTINE, 1987, p. 14). Vamos entender isso melhor? Por exemplo, quem vive nas cidades, está acostumado a dormir na cama, acordar, acender as luzes da casa, tomar água do filtro ou da torneira da cozinha, tomar banho com a água quente que vem do chuveiro, fazer comida no fogão e colocar roupas e sapatos para sair de casa. Fazem isso todos os dias, o que os faz pensar que é algo natural. Hoje em dia, não podemos mais dizer que os objetos de estudo da antropologia são apenas as sociedades humanas. Como herança da antropologia biológica, surgiu a chamada antropologia multiespécie, que vem sendo muito discutida nos cursos de pós-graduação em antropologia. O objeto da antropologia multiespécie é a análise das relações entre seres humanos e não humanos ou mesmo das relações entre os não humanos entre si a partir de teorias antropológicas. INTERESSANTE 8 Agora, vamos supor que você decide fazer uma pesquisa de campo em antropologia e vai a uma sociedade indígena afastada da cidade e experimenta viver como aquelas pessoas. Você chega na aldeia, que não possui luz elétrica, dorme na rede, precisa buscar água no rio para beber, toma banho na água gelada do rio, busca lenha para fazer comida na fogueira, não precisa colocar tantas roupas ou mesmo sapatos. Isso causaria uma sensação de estranhamento, certo? Essa sensação de estranhamento é o ponto chave da alteridade! A partir dela, entendemos que o que pensávamos que era algo natural, porque fazia parte dos nossos hábitos cotidianos, não é tão natural assim, mas sim cultural. Do mesmo modo, para as pessoas dessa suposta sociedade indígena, nossos hábitos cotidianos soariam muito estranho! Se você conversasse com uma criança, ela provavelmente iria perguntar se na sua cidade tem um rio e, se você respondesse que não, em seguida ela logo perguntaria: mas como você faz para tomar água e tomar banho? Assim, voltamos para a base de todo o pensamento antropológico: os nossos modos de viver não são naturais, mas sim culturais! 3 A ANTROPOLOGIA COMO CIÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Depois de entendermos o que é a disciplina da antropologia em linhas gerais no item anterior, agora podemos pensar sobre a antropologia no nosso país. A antropologia começou a ser difundida como uma ciência social no Brasil a partir da década de 1960, como um desdobramento de outra disciplina que era a sociologia. Levando em consideração a pluralidade étnica do país, marcada pela relação entre os brancos e as diversas etnias indígenas e os negros, surgiu a necessidade de ser consolidada uma disciplina que soubesse refl etir sobre essa relação: a antropologia (PEIRANO, 2000). O estudo voltado para os povos indígenas, bem como para os afrodescendentes, já era um dos objetos dos sociólogos em atividade no país antes da década de 1960. No entanto, a relação entre esses povos e o restante da população brasileira gerava uma série de confl itos que não poderiam ser resolvidos apenas pelos conceitos próprios da sociologia e foi preciso ir além (PEIRANO, 2000). Para não gerar dúvidas, podemos entender que a principal diferença entre a antropologia e a sociologia é que a antropologia busca entender as relações humanas a partir de elementos culturais em nível micro e a sociologia, a partir de instituições sociais a nível macro. NOTA 9 Depois, a própria Constituição Federal de 1988, em seu artigo 231, reconheceu aos indígenas suas próprias organizações sociais, costumes, línguas nativas e tradições, o que foi uma grande conquista para o movimento a favor do reconhecimento dos direitos das populações tradicionais. Se tiver curiosidade a respeito dos confl itos que nasceram da tentativa de homogeneizar as diversas etnias indígenas do Brasil e o resto da sociedade envolvente em um único Estado soberano que representasse a todos, leia o artigo Nações dentro da nação: um desencontro de ideologias, da antropóloga Alcida Rita Ramos da Universidade de Brasília. INTERESSANTE DICA De um lado, havia a sociedade envolvente que era regida pela legislação brasileira e suas grandes instituições e, de outro, havia uma série de sociedades espalhadas pelo país que eram regidas por seus próprios elementos culturais. O principal confl ito se ateve ao fato de que a sociedade nacional estava carregada pelo processo de expansionismo e integração, enquanto as outras sociedades tidas como tradicionais tentavam manter seus próprios modos de viver desvinculados do desenvolvimento capitalista (PEIRANO, 2000). Podemos dizer que a principal contribuição da antropologia enquanto ciência social no Brasil foi a de unir os ideais de integração, próprios da sociedade nacional, e os ideais de diversidade, próprios das sociedades tradicionais. Em outras palavras, a antropologia foi importante na medida em que foi capaz de permitir um diálogo entre o povo brasileiro e os povos das mais variadas etnias que habitavam o país. Os antropólogos fi zeram um mapeamento da diversidade étnica no Brasil, de modo que essas etnias pudessem ser organizadas fazendo parte da população brasileira, mas ainda assim com suas diferenças culturais e sociais marcadas (VELHO, 2008). Em suma, existe uma relação direta entre a antropologia como ciência social no Brasil e a própria construção da nação brasileira, fazendo o casamento da unidade e da diversidade. Enquanto a antropologia ao redor do mundo estava preocupada em estudar os “outros” de regiões mais afastadas, a antropologia brasileira passou a se preocupar com as relações entre as diversas etnias e a sociedade envolvente que ora compunham a população brasileira (VELHO, 2008). 10 Um dos maiores desafi os dos antropólogos brasileiros foi, e ainda é, trabalhar com as pessoas dessas etnias, não como se fossem simples informantes para os escritos de antropologia, mas verdadeiros interlocutores e aliados políticos. Por isso, antropólogos brasileiros possuem o dever ético de lutar pelos direitos dessas etnias em conjunto com elas, e não as tratar como se fi zessem parte apenas daqueles “outros” distantes (VELHO, 2008). Nesse contexto, nasceram as maiores vertentes da antropologia brasileira: a Etnologia e a Antropologia da Sociedade Nacional. De um lado, o campo da Etnologia costumava ser defi nido pelo estudo de grupos minoritários:indígenas, negros ou brancos colocados à margem da sociedade, como os favelados ou trabalhadores rurais. De outro lado, o campo da Antropologia da Sociedade Nacional seguiu os passos da sociologia (CARDOSO DE OLIVEIRA, 1998). A Etnologia, embora também concentrasse os estudos de negros, favelados ou trabalhadores rurais, acabou fi cando mais conhecida pela Etnologia Indígena. Conforme comenta o importante antropólogo brasileiro Roberto Cardoso de Oliveira, a Etnologia Indígena possuía algumas áreas de pesquisa mais signifi cativas, como Organização Social, Religião e Cosmologia, Relações Interétnicas e Etnicidade, Indigenismo (CARDOSO DE OLIVEIRA, 1998). Assim, a preocupação da Etnologia Indígena girava em torno da noção de cultura e de todas essas áreas mencionadas por Cardoso de Oliveira. Sugerimos que assistam aos fi lmes Ex-Pajé e A última fl oresta, dirigidos por Luiz Bolognesi, que foram premiados internacionalmente e podem ser considerados novos clássicos dos fi lmes da antropologia brasileira. Esses fi lmes são importantes, sobretudo, porque os roteiros foram escritos em conjunto com os próprios indígenas das etnias Suruí Paiter e Yanomami, respectivamente. Vale lembrar que o termo “favelados” não deve ser usado de maneira pejorativa ou preconceituosa, mas diz respeito a uma pessoa que vive em uma favela – um conjunto de habitação popular urbana que normalmente é construída em torno de morros. DICA NOTA 11 Se quiser saber mais sobre essa etnia, sugerimos que leiam o livro “A queda do céu: palavras de um xamã Yanomami”, escrito pelo Yanomami Davi Kopenawa e pelo antropólogo francês Bruce. Esse livro é um clássico importante da antropologia produzida no Brasil, que ficou muito famoso ao redor do mundo. Como comentamos, era comum que antropólogos europeus buscassem sociedades mais afastadas em outras regiões do mundo para se pesquisar e por isso Bruce Albert veio ao Brasil. Ele passou anos de sua vida morando junto com os Yanomami em Roraima, produzindo escritos etnográficos e lutando pelos direitos desse povo. Isso nos mostra como é interessante que o antropólogo construa uma relação duradoura com seus interlocutores. DICA Já a Antropologia da Sociedade Nacional tinha outras áreas de pesquisa, como “a Sociedade Agrária e Campesinato, a Antropologia Urbana, as Minorias Sociais e Étnicas, a Família, os Movimentos Sociais, as Religiões Populares e a Cultura Nacional” (CARDOSO DE OLIVEIRA, 1998). Logo, a preocupação da Antropologia da Sociedade Nacional estava mais baseada na questão da estrutura e da organização da sociedade e por isso estava um pouco mais próxima da sociologia. Para refletirmos mais sobre a Etnologia Indígena, vamos pensar em um exemplo e ver as figuras a seguir que retratam a etnia Yanomami que fica localizada na maior terra indígena do Brasil nos estados do Amazonas e de Roraima, a Terra Indígena Yanomami (TIY). Essa etnia é uma das mais famosas e provocou interesse de antropólogos estrangeiros e brasileiros. A primeira foto retrata um indígena da etnia Yanomami, e a segunda a casa coletiva em que as pessoas dessa etnia costumam viver. FIGURA 3 – INDÍGENAS DA ETNIA YANOMAMI FONTE: <https://bit.ly/3BB3yC8>. Acesso em: 16 jun. 2022. 12 FIGURA 4 – CASA COLETIVA YANOMAMI FONTE: <https://bit.ly/3vuJfl Z>. Acesso em: 16 jun. 2022. 4 UM BREVE HISTÓRICO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA Conforme comentamos no item anterior, a antropologia passou a ser consolidada no Brasil a partir da década de 1960. Nessa década, surgiram os primeiros programas de pós-graduação em antropologia nas universidades federais brasileiras, o que foi um marco importante para a formalização dessa disciplina no nosso país. Até a década de 1960, os estudos próximos da antropologia estavam concentrados em outras áreas, como a arqueologia, a paleontologia e a própria sociologia. Depois da década de 1960, surgiu uma nova antropologia que passou a ser mais independente das outras áreas (PEIRANO, 2000). Como também comentamos, os primeiros antropólogos do mundo vieram de sociedades ocidentais e buscavam estudar sociedades não ocidentais mais afastadas. Podemos afi rmar que a antropologia sempre esteve baseada na questão da alteridade, ou seja, no estudo dos “outros”. Entretanto, no Brasil, isso aconteceu de um jeito diferente! Os primeiros antropólogos brasileiros não precisaram ir a outros países em busca de sociedades afastadas para se pesquisar, mas começaram a pesquisar as diversas sociedades das mais variadas etnias no nosso próprio país. Em linhas gerais, a antropologia brasileira é uma antropologia feita no Brasil com sociedades do Brasil (PEIRANO, 2000). Hoje em dia, não podemos mais dizer que são somente os antropólogos brancos vindos da sociedade envolvente que estudam as sociedades mais afastadas do Brasil. Já existem muitos antropólogos de sociedades tradicionais, como quilombolas e indígenas, que pensam suas próprias culturas e mesmo a cultura dos brancos a partir de noções da antropologia. IMPORTANTE 13 Conforme nos ensina o pesquisador Francisco Salzano (2009), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a história da antropologia brasileira pode ser dividida em três períodos: (1) os pioneiros; (2) período formativo; e (3) fase contemporânea. Vamos entender melhor esses períodos! De acordo com o autor, o primeiro período foi datado entre os anos de 1835 e 1933. O ano de 1835 foi importante, pois marcou a descoberta de um material arqueológico na Lagoa Santa em Minas Gerais, por Peter Lund. Já o ano de 1933 marcou o fim do período, considerando que a fundação da Universidade de São Paulo (USP) aconteceu em 1934. A tabela, a seguir, nos traz alguns dos principais antropólogos da época e seus focos de estudos (SALZANO, 2009). TABELA 1 – OS PIONEIROS FONTE: <https://bit.ly/3zQVVq5>. Acesso em: 16 jan. 2022. O segundo período, portanto, começou em 1934, justamente por causa da criação da USP. A tabela, a seguir, por sua vez, revela algumas pessoas que foram fundamentais para o campo da antropologia na época. O termo sociedade diz respeito à sociedade nacional brasileira em seu sentido amplo em contraposição às sociedades tradicionais, como as indígenas e quilombolas. NOTA 14 TABELA 2 – PERÍODO FORMATIVO FONTE: <https://bit.ly/3zQVVq5>. Acesso em: 16 jan. 2022. Por fim, o terceiro período começou em 1955 de se estendeu até os dias atuais, tendo em vista a criação da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) naquele ano. A tabela, a seguir, revela duas fases da ABA, sendo que a primeira era conhecida por ser uma instituição mais elitista, com dificuldades para o ingresso, e a segunda, por ser uma instituição que os estudantes de graduação e pós-graduação poderiam participar com mais facilidade. TABELA 3 – FASE CONTEMPORÂNEA 15 FONTE: <https://bit.ly/3zQVVq5>. Acesso em: 16 jan. 2022. A organização desses três períodos da história da antropologia brasileira nos permite visualizar melhor como essa disciplina progrediu ao longo do tempo no contexto do nosso país. A partir das tabelas, você pode conferir de referência para a área da antropologia e pesquisar mais sobre seus trabalhos! 16 Neste tópico, você aprendeu: • A antropologia tem a ver com o estudo dos seres humanos a partir da comparação entre várias sociedades de diferentes regiões do mundo. • Os primeiros antropólogos vieram da civilização europeia e norte-americana e foram em busca de regiões afastadas e pouco exploradas. • Existem diversas áreas da antropologia, como a antropologia biológica, arqueologia, antropologia linguística, antropologia psicológica, antropologia social e antropologia cultural. • Os conceitos de alteridade e estranhamento são pontos-chave para a antropologia e os modos de viver dos seres humanos não são naturais, mais sim culturais. • A antropologia brasileira concentrou sua atenção nos estudos sobre indígenas, negros e brancos colocados à margem da sociedade. • A diversidade étnica do Brasilgerou uma série de conflitos, os quais tentaram ser compreendidos pelas antropólogas e antropólogos brasileiros. • Enquanto os primeiros antropólogos do mundo buscavam pesquisar sociedades afastadas em outros países, os antropólogos brasileiros começaram a pesquisar temas e sociedades do nosso próprio país. RESUMO DO TÓPICO 1 17 AUTOATIVIDADE 1 Enquanto estudiosos de outras disciplinas, como a Biologia e a Filosofia, estavam voltados para o estudo das sociedades que consideravam civilizadas, os estudiosos da antropologia estavam voltados para as sociedades que consideravam primitivas. Sobre as noções de “civilizado” e “primitivo”, que são fundamentais para o saber antropológico, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O termo “civilizado” tem a ver com as sociedades europeias, e o termo “primitivo” tem a ver com as sociedades indígenas, sendo que as sociedades civilizadas são melhores que as sociedades primitivas. b) ( ) Desde o início do desenvolvimento da antropologia até os dias atuais, os objetos de estudo dos antropólogos ocidentais são as sociedades não ocidentais primitivas. c) ( ) É importante tomar cuidado ao utilizar os termos “civilizado” e “primitivo” porque, ainda que algumas sociedades fossem consideradas civilizadas e outras primitivas no tempo dos primeiros antropólogos, corremos o risco de sermos etnocêntricos. d) ( ) É importante saber o que significam os termos “civilizado” e “primitivos” porque as sociedades civilizadas são mais desenvolvidas e mais tecnológicas que as sociedades primitivas. 2 A antropologia é a disciplina que tem como objeto principal o estudo dos seres hu- manos, considerando diversidades culturais, geográficas e históricas. Existem diver- sas áreas de estudos especializados dentro do campo da antropologia: antropologia biológica, arqueologia, antropologia linguística, antropologia psicológica, antropolo- gia social e antropologia cultural. Sobre essas áreas, analise as sentenças a seguir: I- A antropologia biológica estuda os seres humanos tendo em vista somente o meio ambiente e não considera seu modo de viver nem elementos culturais. II- A arqueologia considera vestígios materiais para estudar sociedades que não existem mais. III- A antropologia linguística estuda as sociedades humanas a partir da linguagem oral, desconsiderando a escrita. IV- A antropologia psicológica entende os grupos de pessoas levando em consideração os indivíduos particulares. V- A antropologia social e a antropologia cultural fazem parte das áreas mais abrangentes da antropologia e compreendem os mais diversos setores das sociedades humanas, como organização social e divisão social do trabalho. 18 Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças II, IV e V estão corretas. d) ( ) As sentenças I e V estão corretas. 3 A história da antropologia brasileira pode ser dividida em três grandes fases: a fase dos pioneiros, a fase do período formativo e a fase contemporânea. Sobre essas fases, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas. ( ) A fase dos pioneiros data dos anos 1835 a 1933. ( ) O ano de 1835 foi importante devido à descoberta do material arqueológico na Lagoa Santa em Minas Gerais. ( ) O antropólogo Nina Rodrigues faz parte da fase do período formativo. ( ) O antropólogo Florestan Fernandes faz parte do período dos pioneiros. ( ) O antropólogo Darcy Ribeiro faz parte do período formativo. ( ) A criação da ABA aconteceu na fase contemporânea. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F – V – F – F. b) ( ) V – V – F – F – V – V. c) ( ) F – V – V – F – F – V. d) ( ) F – F – V – V – V – F. 4 A história da antropologia mundial está relacionada ao princípio alteridade, tendo em vista o estudo de sociedades distantes. Porém, no Brasil, a alteridade na antropologia pode ser entendida de uma maneira diferente já que nosso país abriga uma grande diversidade étnica. Disserte sobre a questão da alteridade e na sensação de estranhamento que ela implica, considerando as particularidades do Brasil. 5 O estudo relacionado aos povos indígenas e afrodescendentes também era um objeto de estudo dos sociólogos que trabalhavam no Brasil antes da década de 1960. Contudo, a década de 1960 marcou a consolidação de fato dessa disciplina no nosso país. Nesse contexto, disserte sobre como a antropologia surgiu no Brasil e qual foi sua importância na época. 19 OBRAS E AUTORES CLÁSSICOS NA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA 1 INTRODUÇÃO No Tópico 2, abordaremos as principais obras e autores clássicos da antropologia brasileira. Partiremos de um dos mais importantes campos da antropologia que é a Etnologia Indígena. Os estudos voltados para os povos indígenas, suas culturas e seu modo de viver é um ponto fundamental da antropologia mundial e, em particular, da antropologia brasileira. Assim, conheceremos alguns dos pesquisadores que realizaram importantes trabalhos entre as mais de 300 etnias presentes no Brasil. Depois, voltaremos nossa atenção para os estudos sobre os negros no nosso país, ou seja, para os africanos e afrodescendentes. Vamos passar por algumas figuras importantes que iniciaram os estudos sobre os negros no Brasil e que são uma importante referência até os dias atuais. Em seguida, vamos entender os estudos de gênero no nosso país, tendo em vista o enquadramento social das mulheres. Entenderemos como se deu o surgimento dos primeiros debates de feminismo no Brasil, seu contexto histórico e quem foram seus protagonistas. 2 CLÁSSICOS DOS ESTUDOS SOBRE INDÍGENAS Os estudos sobre indígenas na antropologia brasileira estão diretamente relacionados ao campo da Etnologia Indígena. A Etnologia, como aprendemos no tópico anterior, foi fortalecida com os primeiros programas de pós-graduação em antropologia no país. As primeiras pesquisas em antropologia brasileira voltadas para os povos indígenas foram feitas por estudiosos estrangeiros, mas em seguida as antropólogas e antropólogos brasileiros também começaram a avançar nessa área (MELATTI, 2018). Conforme aponta o antropólogo brasileiro Julio Cezar Melatti, a fundação do primeiro curso de pós-graduação em antropologia coincidiu com a criação da Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Desde então, os conflitos que envolviam a sociedade nacional e as populações indígenas começaram a ser mais divulgados na imprensa. Nesse sentido, o autor também comenta que: Sem dúvida, essa atenção da imprensa contribuiu para a formação de um público mais alerta para os temas referentes aos índios, culminando com a criação de entidades não governamentais de UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 20 apoio aos índios – hoje em número de, pelo menos dezesseis em todo o Brasil – e com a mobilização dos próprios indígenas e ainda com o interesse pelo estudo de grupos indígenas por parte de pesquisadores ligados a disciplinas não antropológicas (MELATTI, 2018, p. 254). O setor de Divisão de Estudos e Pesquisas da FUNAI era quem autorizava as pesquisas sobre etnologia no país. Entre os anos de 1974 e 1980, foram feitos 86 projetos de pesquisa por brasileiros e 17 por estrangeiros, o que nos confi rma que a temática nacional era de fato um interesse para estudiosos vindos de outros países em busca da alteridade e dos próprios estudiosos brasileiros. No entanto, naquela época, esses poucos projetos eram feitos por um grupo de antropólogos mais restrito em que a maioria deles se conhecia. Hoje em dia, isso mudou! Existem incontáveis pesquisadores na área da etnologia, envolvidos ou não com entidades não governamentais e cursos de pós-graduação (MELATTI, 2018). Tendo em vista os estudos clássicos sobre indígenas no país, Melatti (2018) organizou um compilado dos principais autores desse campo, das quais destacaremos cinco temáticas: (1) organização social e política; (2) mitologia e ritual; (3) relações com o meioambiente; (4) arte, artesanato e tecnologia; e (5) contato interétnico. Para que você conheça esses autores, confi ra as tabelas a seguir! Sobre os estudos em organização social e políticas, os principais pesquisadores se voltaram para as regiões do Centro-Oeste e do Sudoeste Amazônico e alto rio Xingu. Essa era de pesquisas foi iniciada pelo antropólogo inglês David Maybury-Lewis da Universidade de Oxford, que realizou um estudo entre a etnia Xavante no Brasil. Tal estudo foi fundamental na medida em que abriu espaço para que esse antropólogo, que era professor na Universidade de Harvard nos EUA, criar um convênio com o Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro voltado para o estudo dos indígenas do Brasil Central. Vamos conhecer no quadro, a seguir, mais alguns dos pesquisadores que pesquisaram esse tema depois do impulso dado por Maybury-Lewis! Existem mais de 300 etnias indígenas no Brasil! Caso tenha interesse e deseje se aprofundar nos estudos de alguma etnia indígena em particular, sugerimos que use os quadros a seguir para tomar como base os autores que também estudaram essa etnia para que assim comece suas pesquisas. Em qualquer pesquisa, é importante recorrermos às primeiras pessoas que estudaram aquela etnia, ou seja, aos clássicos! NOTA 21 QUADRO 1 – CLÁSSICOS DOS ESTUDOS EM ORGANIZAÇÃO SOCIAL E POLÍTICA FONTE: Adaptado de Melatti (2018) Etnias indígenas pesquisadas Pesquisadores Apinayé Roberto da Matta Asuriní Roque de Barros Laraia Awetí George de Cerqueira Leite Zarur Borôro Jon Christopher Crocker; Zarco Levak; Renate Brigitte Viertler; César Albisetti; Angelo Jaime Venturelli Cinta Larga Carmen Junqueira; Betty Lafer Juruna Adélia Engracia de Oliveira Kaapór Roque Laraia Kalapalo Ellen Basso Kamayurá Carmen Junqueira, Roque Laraia Kayapó Terence Sheldon Turner; Donald Hunderfund; Simone Dreyfus, Gustaaf Verswijver Krahô Julio Cezar Melatti; Manuela Carneiro da Cunha; Gilberto Azanha Kreen Akarôre Etephan Schwartzman Krinkatí Jean Elisabeth Carter Lave Makú Peter Silverwood-Cope; Howard Reid Marúbo Julio Ceezar Melatti; Delvair Montagner Melatti Meináku Thomas Gregor Munduruku Robert Murphy; Steve Brian Burkalter Múra Pirahân Adélia Engrácia de Oliveira Pakaá Nóva Alan Wilfrid Mason Parintintín Waud Kracke Suruí Carmen Junqueira; Roque Laraia Suyá Anthony Seeger Tenetehara Laís Cardia Txikâo Patrick Menget Waiwái Niels Fock Wayâna Jean Lapointe Xavante David Maybury-Lewis; Maria Aracy Lopes da Silva Ribeiro; Bartolomeu Giaccaria; Adalberto Heide; Helena Fanny Ricardo Xikrin Luz Boelitz Vidal Xokleng Gregory Urban Yanomami Hans Becher; Alcida Ramos; Judit Shapiro; Bruce Albert; Ettore Biocca Yawalapití Eduardo Viveiros de Castro 22 Os principais pesquisadores na temática de mitologia e ritual, por sua vez, partiam dos estudos gerais sobre organização política e ritual, com a ressalva de que faziam a pesquisa de campo buscando, sobretudo, colecionar os mitos e histórias daqueles povos. De acordo com Melatti (2018, p. 259): Esta linha temática está intimamente relacionada com a anterior, uma vez que, dificilmente, um etnólogo se dirige ao campo com o fim exclusivo de observar ritos ou colecionar mitos. Geralmente o pesquisador utiliza os mitos e os ritos como janelas por onde pode obter novos ângulos de observação do sistema social. O início dos estudos sobre os mitos no contexto brasileiro foi marcado pelo trabalho do antropólogo brasileiro Egon Schaden, que realizou um trabalho sobre a mitologia entre algumas indígenas no Brasil em 1945. Em seguida, trabalhos marcantes foram os do antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro entre os Kadiweu, em 1950, e do antropólogo francês Claude Lévi-Strauss entre diversas etnias, a partir de 1964. Em seguida, inúmeras outras pesquisas entre as etnias indígenas brasileiras foram desenvolvidas, como podemos conferir no quadro a seguir. QUADRO 2 – CLÁSSICOS DOS ESTUDOS EM MITOLOGIA E RITUAL Etnias indígenas pesquisadas Pesquisadores Asuriní Anton Lukesck; Carlos Kukesch Borôro César Albisetti; Angelo Jaime Venturelli; Renate Vietler; Neusa Maria Bloemer Desâna Umusin Panlon Kumu; Tolaman Kenhiri Diversas etnias Claude Lévi-Strauss Erikpátsa Adalberto Holanda Pereira Irântxe Adalberto Holanda Pereira Kadiwéu Darcy Ribeiro Kamayurá Pedro Agostinho da Silva; Roque de Barros Laraia; Orlando Villas Boas; Cláudi Villas Boas; Etienne Samain Karajá Odilon de Sousa Filho Kayabí Miguel Pedro Alves Cardoso Kayapó Turner; Lukesch Kayapó Lux Boelitz Vidal; Gustaaf Verswijver Krahô Manuela Carneiro da Cunha; Julio Cezar Melatti Makú Peter Silverwood-Cope Marúbio Delvair Montagner Melatti Mundurukú Yolanda Murphy; Robert Murphy Nambiquaras Adalberto Holanda Pereira 23 FONTE: Adaptado de Melatti (2018) Já os principais pesquisadores na temática ambiental podem ser divididos em dois. Os primeiros foram aqueles que pesquisaram as sociedades indígenas a partir das modificações culturais depois do contato com os brancos e suas implicações ambientais. Os segundos, aqueles que fizeram uma classificação dos elementos ambientais na cultura desses povos, como no caso de plantas medicinais. Nesse tema, Melatti (2018, p. 260) destaca dois trabalhos principais: Sem dúvida, o trabalho mais popular sobre este tema é o da arqueóloga Betty MEGGERS (1977) sobre a Amazônia, devido à sua tradução para o português e ao interesse político-econômico que essa região inspira no momento. Mas se trata de um trabalho, em parte, apoiado numa bibliografia muito antiquada. Uma pesquisa mais cuidadosa, com dados colhidos especialmente para o projeto, segundo técnicas previamente selecionadas para serem aplicadas por todos os seus participantes, é aquele dirigido por Daniel GROSS (and.) e desenvolvido por orientandos seus na City University of New York, e uma brasileira, além de um biólogo da Universidade de Brasília, em grupos Jê e nos Borôro. Além de Betty Meggers e Daniel Gross, outros pesquisadores também passaram a pensar nas relações com o meio ambiente a partir da antropologia, como vamos conhecer a seguir: QUADRO 3 – CLÁSSICOS DOS ESTUDOS EM RELAÇÕES COM O MEIO AMBIENTE Timbíra Roberto da Matta; Julio Cezar Melatti Trumaí Aurore Monod-Becquelin Xavante Bartolomeu Giaccaria; Maria Aracy da Silva Ribeiro Yanomami Bruce Albert Etnias indígenas pesquisadas Pesquisadores Apalaí Fernando da Costa Novaes Bakairí Debra Picchi Borôro Daniel Gross; Theka Hartmann Diversas etnias Claude Dumenil Diversas etnias amazônicas Betty Meggers Etnias do Cerrado e de Roraima Edileusa Sette Silva Etnias do Xingu Margareth Emmerich Guajajara Anthony Hennman Kaingang Anthony Hennman Kaiwá Wilson Garcia; Maria Fátima Roberto; Joana Silva 24 Kayapó Parrel Addison Posey; Eric Cravero; Joan Bamarger Turner Mawé Anthony Hennman Nambiquaras Eloene Setz Paresí Eloene Setz Suruí Carlos Coimbra; Everaldo Alvarez Uaupés Janet Chernela Yanomami Kenneth Taylor FONTE: Adaptado de Melatti (2018) Os estudos voltados para arte, artesanato e tecnologia, são um desdobramento das relações com o meio ambiente, bem como da organização social e política das sociedades indígenas. No geral, as regiões pesquisadas foram o Centro-Oeste, o alto Rio Xingu e Rondônia. Alguns projetos são bastante extensos, como o realizado sob os auspícios do CNRC (George ZARUR, and.), tendo como objeto o artesanato dos indígenas da região Centro-Oeste e desenvolvido com o auxílio de vários colaboradores. Outro projeto que abrange uma ampla área é o referente ao artesanato do rio Negro, do Xingu, dos Karajá e dos Canelas, por pesquisadores da Universidade de Morón, na Argentina (Ana Biró STERN & Martha Teresita MANARINI, and.). Extenso, também, é o projeto sobre o emprego social da tecnologia, que sc realiza no Xingu e entre os Tukúna e os Karajá (Maria Heloisa FÉNELON COSTA, João Pacheco de OLIVEIRA FILHO, and.), também com a ajuda de vários colaboradores. Outros, aindaque se refiram ao artesanato em geral, têm por objeto apenasum grupo tribal ou uma área mais restrita. É o caso das pesquisas sobre os Tiriyó (FRIKEL, 1973), Wayâna e Apalai (Lucia Hussak van VELTHEM, and.), grupos da região do Tumucumaque e estudados por sucessivos pesquisadores do Museu Goeldi; dos Timbira e Guajajára, grupos vizinhos estudados por uma mesma pesquisadora (NEWTON, 1971 e and.), que participou do projeto Harvard-Museu Nacional; dos Xikrín (Irmeli Mar jata SUVÍOLA, and.), dos Borôro (Teófilo TORRONTEGUI & Arieta TORRONTEGUI, andã) e Maxakalí (Neli Ferreira NASCIMENTO, and.), sendo que, pelo menos as duas últimas, estão sendo realizadas por alunos de pós-graduação da USP (MELATTI, 2018, p. 262). Vamos conferir o quadro, a seguir, tendo em vista esses trabalhos mencionados. TABELA 4 – CLÁSSICOS DOS ESTUDOS EM ARTE, ARTESANATO E TECNOLOGIA Etnias indígenas pesquisadas Pesquisadores Apalaí Lucia Hussak van Velthem Arara Paulo Barbosa Magalhães Borôro Teófilo Torrontegui; Arieta Torrontegui; Ferraro Dorta Canelas Ana Biró Stern; Martha Teresita Manarini 25 FONTE: Adaptado de Melatti (2018) No caso dos clássicos dos estudos voltados para o contato interétnico entre os povos indígenas e o restante da sociedade brasileira, é interessante notar que a maioria dos pesquisadores foram os próprios brasileiros e não tanto os estrangeiros como nas outras áreas de estudo. Esses pesquisadores se voltaram tanto para as políticas indigenistas como para a atuação dos missionários no país. O período em questão se inicia com uma reorientação das pesquisas sobre aculturação, marcada pela publicação de importantes trabalhos de Darcy Ribeiro (1957, 1962), posteriormente refundidos no volume Os índios e a civilização (RIBEIRO, 1970). Mas foi nos cursos de especialização oferecidos no Museu Nacional, nos inícios da década Cinta Larga Paulo Barbosa Magalhães Etnias do Centro-Oeste George Zarur Guajajara Dolores Newton Kadiwéu Sandra Wellington Kamayurá Rafael Batos Karajá Ana Biró Stern; Martha Teresita Manarini; Maria Heloisa Fenelon Costa; João Pacheco de Oliveira Filho; Edna de Melo; Günther Hartmann; Karitiana Paulo Barbosa Magalhães Kayabí Elisabeth Lins Maxakalí Neli Ferreira Nascimento Nambiquaras Thomas Avery; Kristen Avery; Desidério Aytai Pakaá Nóva Paulo Barbosa Magalhães; Omar Landi Santos Rio Negro Ana Biró Stern; Martha Teresita Manarini Suruí Paulo Barbosa Magalhães Suyá Anthony Seeger Timbira Dolores Newton Tiriyó Protásio Frikel Tukuna Maria Heloisa Fenelon Costa; João Pacheco de Oliveira Filho Wayâna Lucia Hussak van Velthem; Daniel Schoepf Xavante Regina Müller; Virgínia Valadão; Desidério Aytai Xikrín Irmeli Marjata Suvíola Xingu Ana Biró Stern; Martha Teresita Manarini; Maria Helena Heloisa Fenelon Costa; João Pacheco de Oliveira Filho; Cristina Sá; Berta Ribeiro Yawalapití Sandra Wellington 26 dos Sessenta, que se forma um grupo em torno do proieto “Estudo de Áreas de Fricção Interétnica no Brasil”, de Roberto Cardoso de Oliveira, gerando trabalhos sobre os Tukúna (CARDOSO DE OLIVEIRA, 1972), os Suruí, Akuáwa e Gaviões (LARAIA & MATTA, 1978), os Krahó (MELATTI, 1967 e 1972). Posteriormente, novos alunos do Museu Nacional se engajaram em pesquisas, de certo modo, ligadas a este projeto, produzindo trabalhos sobre os Xokleng e demais indígenas de Santa Catarina (Sílvio Coelho dos SANTOS, 1960 e 1973), sobre os Kaingâng e Guarani do Paraná (HELM, 1974 e 1977) (MELATTI, 2018, p. 264). Tendo em vista o amplo trabalho dos antropólogos brasileiros e alguns antropólogos estrangeiros, vamos conferir o quadro a seguir. TABELA 5 – CLÁSSICOS DOS ESTUDOS EM CONTATO INTERÉTNICO Etnias indígenas pesquisadas Pesquisadores Akuáwa Roque de Barros Laraia; Roberto da Matta Aparaí Dominique Gallois Apinayê José Reginaldo Santos Gonçalves Apurinan Marcos Lazarin Diversas etnias Darcy Ribeiro Erikpátsa Sonia Coqueiro Garcez Etnias de Minas Gerais Sonia Marcato Etnias de Rondônia Bernand von Graeve Etnias de Santa Catarina Sílvio Coelho dos Santos Etnias do Acre Anthony Gross Etnias do Nordeste Paulo Marcos Pires de Amorim Etnias do Rio Negro Ana Gita de Oliveira; Eduardo Galvão Etnias do Xingu Ellen Fischer; Eduardo Galvão; Nobue Myazaki Galibí Eneida de Assis Gaviões Roque de Barros Laraia; Roberto da Matta Guajajara Mércio Pereira Gomes Guarani Cecília Maria Vieira Helm; Maria Ligia Moura Pires; Peter Silverwood-Cope; Ana Gita de Oliveira Irântxé Sonia Coqueiro Garcez Kaapór Virginia Valadão Kaingang Cecília Maria Vieira Helm; Maria Ligia Moura Pires; Ligia Simonian; Peter Silverwood-Cope; Ana Gita de Oliveira Karajá Nancy Antunes Tsupal Karipuna Eneida de Assis Kawahib Miguel Menezes 27 FONTE: Adaptado de Melatti (2018) Kaxinawá Terri Valle de Aquino Kayabí Miguel Cardoso Krahô Julio Cezar Melatti Makú Alcida Ramos Mawé Jorge Romano Mayongong Alcida Ramos; João Koch Mundurukú José Sálvio Leopoldi Nambiquara Paul Leslie Aspelin Oyampí Dominique Gallois Paresí Sonia Coqueiro Garcez Pataxó Maria Rosário de Carvalho Pukobyê Maria Helena Barata Suruí Roque de Barros Laraia; Roberto da Matta Terena Beatriz Buschinelli Terênia Edgard de Assis Carvalho Tukano Leonardo Figoli Tukano Alcida Ramos Tukuna Roberto Cardoso de Oliveira; João Pacheco de Oliveira Filho Tumucumaque Roberto Maria Cortez de Souza Tuxuá Nássara Antônio de Souza Nasser Txukahamâi Vanessa Lea Waurá Marco Antonio Melo Wayâna Dominique Gallois Xavante Tsupal; Clarice da Mota; Guariglia Xokleng Sílvio Coelho dos Santos Xokó Karirí Vera Cavalheiros Yanomami Luizi Ponzo; Alcida Ramos 28 3 CLÁSSICOS DOS ESTUDOS SOBRE NEGROS FIGURA 5 – MULHERES AFRODESCENDENTES FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/62/3%C2%AA_Marcha_das_Mulheres_Ne- gras_no_Centro_do_Mundo%2C_no_RJ.jpg>. Acesso em: 16 jun. 2022. Depois de aprendermos os principais temas e autores relacionados ao campo da Etnologia Indígena, agora vamos conhecer alguns dos estudos clássicos sobre os negros no nosso país. Podemos considerar que as pesquisas sobre os africanos e afrodescendentes começaram no início do século XX, contando com três autores de suma importância: Raimundo Nina Rodrigues, Arthur Ramos e Gilberto Freyre. Nina Rodrigues foi um médico legista e antropólogo nascido no Maranhão em 1862, podendo ser considerado o precursor dos estudos sobre os negros no Brasil. Os seus livros mais famosos foram: As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil (1894), O animismo fetichista dos negros na Bahia (1900) e Os africanos no Brasil (1932). No início desse último livro, Nina Rodrigues chamou atenção para o fato de que não havia estudos voltados para os negros, bem como para as línguas e religiões africanas, e que os pesquisadores deveriam começar a se movimentar para isso! Ao contrário do que vimos no tópico anterior sobre os estudos dos indígenas, os estudos sobre os negros no nosso país não foram tão carregados de autores brasileiros. IMPORTANTE 29 Já a partir da década de 1930, considerando a fundação das universidades no Brasil, esses estudos começaram a tomar mais corpo. Os anos de 1934 e 1937 foram um marco nesse sentido, quando aconteceram dois Congressos de Estudos Afro- Brasileiros, sendo o primeiro organizado por Gilberto Freyre, em Recife, e o segundo, por Arthur Ramos, em Salvador. Isso nos faz perceber a importância dessas outras duas fi guras que, de certa forma, seguiram os passos de Nina Rodrigues (SOUZA, 2013). Arthur Ramos foi um médico psiquiatra e antropólogo brasileiro, nascido em Alagoas no ano de 1903. Dentre seus principais escritos, podemos destacar O negro brasileiro (1934); O folclore negro no Brasil (1936); As culturas negras no Novo Mundo (1938) e Aculturação negra no Brasil (1942). Gilberto Freyre foi um grande sociólogo e antropólogo brasileiro, nascido em Recife, no ano de 1900. Sua obra mais conhecida é o livro Casa-Grande e Senzala (1933), no qual retratou a relação entreas casas-grandes (lugares em que viviam os senhores brancos) e as senzalas (lugares em que viviam os negros escravizados). Esse livro é um marco da antropologia brasileira e foi traduzido para diversas línguas, possuindo grande repercussão internacional. As pesquisas que percorreram a trajetória de Nina Rodrigues, Gilberto Freyre e Arthur Ramos marcaram o início das discussões raciais no brasil, ainda que cada um desses autores tenha seguido um enfoque diferente em seus escritos. Vamos conhecer mais de cada um deles! Caso você tenha interesse na trajetória de vida de Arthur Ramos, sugerimos o curto documentário intitulado Arthur Ramos – vida e obra (2016), dirigido por Almir Guilhermino. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=Espuvbj4zPQ. Sugerimos que assista ao pequeno documentário chamado Casa-Grande e Senzala (1974), dirigido por Geraldo Sarno, cuja sinopse foi inspirada no livro de Gilberto Freyre. Recomendamos também uma série de dois episódios chamada Casa-Grande e Senzala (2000), dirigida por Nelson Pereira dos Santos e igualmente inspirada no livro de Gilberto Freyre. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZGG32QVye-4. DICA DICA 30 O pensamento de Nina Rodrigues, considerando que era um médico legista, estava voltado para o direito penal e sua implicação nas questões raciais e na formação da nação brasileira. Naquela época, uma das preocupações da medicina legal era a relação entre raça e criminalidade. Em outras palavras, os estudiosos dessa área se perguntavam se existia alguma característica biológica em certas pessoas que poderia fazer com que elas fossem mais propensas a cometer crimes que outras (SILVA, 2013). Nina Rodrigues entendia que os problemas sociais do Brasil, enquadrados em questões criminais, eram fruto de patologias presentes em pessoas negras e mestiças, ou seja, consideradas essas pessoas como de raças inferiores. De acordo com esse autor, a evolução de um povo seria medida por sua homogeneidade e por isso considerava a mestiçagem um problema. Em suma, Nina Rodrigues buscava compreender as raças presentes no Brasil a partir de uma perspectiva biológica ou física. Arthur Ramos, por sua vez, deu continuidade aos estudos de Nina Rodrigues, mas tomou outro rumo em seus pensamentos sobre os negros brasileiros. Em seus primeiros escritos sobre o negro brasileiro, Arthur Ramos já passa a criticar a visão de Nina Rodrigues, dizendo que teria um falso ângulo científico. Portanto, esse autor foi contra a ideia de inferioridade de algumas raças e dos supostos problemas que seriam fruto da mestiçagem (LIMA, 2013). O pensamento de Arthur Ramos era diferente de Nina Rodrigues, sobretudo por não concordar com a inferioridade biológica dos negros, ainda que o autor pudesse apontar para uma suposta inferioridade cultural nas entrelinhas de seus escritos. Os estudos de Arthur Ramos estavam voltados principalmente para as religiões africanas existentes no Brasil na época, por consideram que a pesquisa das religiões eram o melhor caminho para se conhecer um povo (LIMA, 2013). Ainda que o pensamento de Nina Rodrigues fosse avançado para sua época, o seu pensamento pode ser considerado racista e por isso precisamos tomar cuidado ao citar esse autor que, ainda assim, não pode passar desapercebido no que diz respeito às questões raciais no Brasil. As questões raciais e alguns termos muito usados em antropologia, como raça, racismo, serão abordados na Unidade 2 do nosso curso. IMPORTANTE ESTUDOS FUTUROS 31 Embora para alguns críticos da antropologia o pensamento de Arthur Ramos seja considerado tão perigoso quanto o de Nina Rodrigues, por questões relativas ao racismo, em 1949 o autor recebeu o convite para liderar o Departamento de Ciências Sociais da UNESCO devido ao seu importante trabalho sobre questões raciais. Conforme os estudos feministas, a teoria do patriarcado diz respeito a uma organização sociopolítica que coloca os homens em uma situação de privilégio, ou seja, em uma situação que eles detêm poder sobre as mulheres e subjugam as mesmas. NOTA NOTA Arthur Ramos analisava a cultura dos negros como se fosse primitiva na medida em que os fenômenos eram explicados não por causas naturais de cunho científi co, mas sim por causas míticas. Os mitos e narrativas da cultura africana traziam explicações para acontecimentos como nascimento, doença e morte, o que era visto pelo autor como uma característica de primitividade (LIMA, 2013). 4 CLÁSSICOS DOS ESTUDOS SOBRE MULHERES Depois de conhecermos os estudos clássicos envolvendo os povos indígenas e afrodescendentes, vamos abordar os estudos sobre as mulheres no Brasil. Esse estudo perpassa necessariamente as relações de gênero e, por isso, faremos um breve apanhado dos precursores dessa análise no nosso país. De acordo com a pesquisadora Maria Izilda Santos de Matos (2013), o livro intitulado A mulher na sociedade de classes: mito e realidade, escrito por Heleieth Saffi oti, em 1969, foi um marco para os estudos de gênero no Brasil. O livro tinha por objetivo analisar a sociedade brasileira a partir da teoria do patriarcado se voltando para a opressão masculina e capitalista em relação às mulheres. É importante associarmos o momento em que surgem os estudos feministas no Brasil ao contexto histórico da época. O período de vinte anos de governo militar, entre os anos de 1964 e 1984, coincidiu com o início das análises de gênero no Brasil, ainda que isso difi cultasse a vida das mulheres. Elas começaram a se envolver mais com questões sociais e políticas no movimento contra a anistia (MATOS, 2013). 32 Podemos dizer que os movimentos feministas no Brasil surgiram de fato a partir da década de 1970, assim como em outros lugares do mundo. Contudo, esses movimentos fi caram mais fortalecidos somente a partir das décadas de 1980 e 1990. A ditadura foi um período de turbulência política no Brasil, trazendo à tona diversos debates sobre o governo e a forma de organização da sociedade, o que contribuiu para a emergência dos debates de gênero (SILVA, 2000). Esse período marcou um novo movimento das mulheres brasileiras, que passaram a reivindicar mais pelos seus direitos declarando as suas desigualdades. Nas palavras da pesquisadora Susana Veleda da Silva: Principalmente em São Paulo, mulheres de periferia, através das comunidades da Igreja Católica reivindicam ao Estado o atendimento das necessidades básicas como creches, melhores salários, reclamam do custo de vida e unem-se contra a carestia. A reivindicação pelas creches era apontada como um dos principais problemas, pois as mulheres precisavam trabalhar fora, para manter a família (Teles,1993). É claro que estas reivindicações propiciaram não só mudanças de mentalidades como também mudanças no espaço urbano. No fi nal da década de setenta as pesquisas voltam- se para as relações de produção. Mulher e trabalho, no espaço urbano ou rural, marcam o início da pesquisa acadêmica, com destaque para os trabalhos das sociólogas Heleieth Saffi oti (1978/ 1979/ 1981) e Eva Altermann Blay (1978). Nesse período, algumas mulheres militavam clandestinamente em grupos de esquerda contra a ditadura, propiciando, segundo Soares (1994) a emergência do feminismo dentro dos partidos de esquerda. Mas são as mulheres dos bairros populares que aparecem no espaço público construindo uma “dinâmica política própria” (Soares,1994:16) e transformando o seu espaço cotidiano (SILVA, 2000, s.p.). É interessante notarmos que a época das primeiras manifestações das mulheres no Brasil na década de 1970 coincide com a época de ingresso delas no mercado de trabalho brasileiro. Ao lado das reivindicações trabalhistas e da crise do desemprego, as mulheres também passaram a exigir seus direitos voltados para saúde, reprodução, proteção contra violência, cultura, entre outros. Já a partir da década de 1990, essas reivindicações passaram a ser institucionalizadas e houve um crescimento das ONGs(Organizações Não Governamentais) feministas no Brasil (SILVA, 2000). Desde aquela época até os dias atuais, as reivindicações trabalhistas costumam explicitar as desigualdades de gênero, sobretudo no caso de salários inferiores para as mulheres com relação aos homens. IMPORTANTE 33 Ao contrário do que vimos a respeito dos estudos sobre os indígenas e sobre os negros, os estudos sobre as mulheres no Brasil não possuem tanta linearidade e são mais dispersos. Logo, é mais difícil sistematizar as obras, as pesquisadoras e os pesquisadores dessa área, conforme foram feitos nos itens anteriores. Portanto, o que é mais importante entendermos aqui é o contexto histórico em que esses debates sobre gênero, mulheres e feminismo surgiram no nosso país. Nas palavras da pesquisadora Mariza Corrêa (2001, p. 15): É difícil traçar um perfil mais específico das feministas daquela época, já que elas eram atrizes de teatro – lembrar a atriz portuguesa radicada no Brasil, Ruth Escobar, por exemplo, que transformou seu teatro num importante local de discussão sobre a situação da mulher –, professoras universitárias, estudantes, sindicalistas, ativistas vindas de movimentos populares, jornalistas etc. Creio que havia um traço comum à todas, pelo menos em São Paulo e no Rio, que foi onde circulei mais durante aqueles anos: eram mulheres de esquerda e eram mulheres profissionais ou em vias de se tornarem profissionais. FIGURA 6 – MANIFESTAÇÃO DE MULHERES FONTE: <https://bit.ly/3Si9juy>. Acesso em: 16 jun. 2022. Também é importante entendermos que os movimentos feministas de hoje possuem uma participação e reivindicações mais abrangentes. A prática feminista não é mais exercida exclusivamente por mulheres e abarcam questões sociais mais amplas como as próprias questões ambientais (SILVA, 2000). Para finalizar nossa abordagem sobre os estudos sobre gênero no país, há uma pesquisadora estrangeira que não pode passar desapercebida, chamada Margareth Mead. Sua obra intitulada Sexo e temperamento em três sociedades primitivas, escrita em 1935, é um grande clássico no que diz respeito às pesquisas de gênero em antropologia no Brasil e no mundo. A autora foi uma pioneira nos estudos de relações de gênero e muitas das pesquisas atuais recorrem a esse clássico para análises mais aprofundadas (FELIPPE; OLIVEIRA-MACEDO, 2018). 34 Ao lado de seu marido, que também era antropólogo, Mead realizou uma pesquisa de campo na Nova Guiné, focalizada em três povos: os Arapesh, os Mundugumor e os Tchambuli. A pesquisadora teve como principal objetivo analisar as personalidades dos homens e mulheres desses povos e uma de suas conclusões foi que as inclinações psicológicas femininas e masculinas são padrões culturais. Em suma, o comportamento de homens e mulheres não seria natural a cada um, mas sim transmitido de uma geração a outra. A grande importância desse escrito se dá pela ideia de que a cultura é quem adapta a forma de ser de cada gênero e, por isso, grande parte dos pesquisadores em gênero recorrem a esse clássico (FELIPPE; OLIVEIRA-MACEDO, 2018). Atualmente, as pesquisas sobre gênero em antropologia brasileira perpassam diversos âmbitos da vida da mulher brasileira. Um trabalho importante nesse sentido é o da antropóloga brasileira Mirian Goldenberg. A autora realizou uma pesquisa de campo na classe média urbana carioca tendo em vista os papeis de gênero, ou seja, os papeis das mulheres e dos homens nesse contexto (VAVASSORI, 2006). O ponto alto do trabalho foi pensar na representação dos corpos das pessoas e como isso é construído socialmente. Identifi cando a tão exaltada valorização do corpo magro da mulher e a importância da altura, virilidade e potência para os homens, Goldenberg cita Pierre Bourdieu para afi rmar que não só as mulheres estão presas ao seu corpo real que é diferente do ideal, mas também os homens vistos como dominantes sofrem, pois as exigências a respeito de um determinado modelo de corpo recaem também sobre eles, que se preocupam com a força física, virilidade, potência, altura e com o tamanho do pênis (VAVASSORI, 2006, s.p.). Se quiser saber mais sobre o trabalho da autora, sugerimos que leia na íntegra o texto De perto ninguém é normal: estudos sobre corpo, sexualidade, gênero e desvio na cultura brasileira. Disponível em: https://bit.ly/3JEVUZP. DICA 35 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu: • Os estudos sobre os povos indígenas no Brasil começaram com antropólogos estrangeiros e depois surgiram também os antropólogos brasileiros. • Ao contrário dos antropólogos estrangeiros, que iam em busca da alteridade em outros países, os antropólogos brasileiros encontravam essa alteridade no próprio Brasil. • Existem mais de 300 etnias indígenas no Brasil. • Existem muitos antropólogos que pesquisam as diversas etnias existentes no Brasil, já que a Etnologia Indígena é uma das áreas mais difundidas da antropologia brasileira. • Dentre os autores mais conhecidos nos estudos sobre os negros no Brasil, estão: Raimundo Nina Rodrigues, Arthur Ramos e Gilberto Freyre. • Antes dos principais autores citados, os estudos sobre os negros não eram difundidos no Brasil. • O debate sobre os negros no Brasil envolveu questões como religiões, a relação entre senhores e escravizados e os debates raciais. • Os estudos sobre as mulheres no Brasil, bem como os debates sobre gênero e feminismo, começaram junto com o ingresso das mulheres no mercado de trabalho. • Na época da ditadura, as mulheres passaram a se envolver mais com questões sociais e políticas. • Os primeiros estudos e práticas sobre mulheres, gênero e feminismo no Brasil contaram principalmente om a participação de mulheres trabalhadoras e de esquerda. • Margareth Mead é uma antropóloga clássica que serve de base para pesquisas de gênero no Brasil e no mundo. 36 AUTOATIVIDADE 1 Os estudos sobre as mulheres no Brasil começaram a partir da década de 1970. Esse período foi marcado por diversos acontecimentos políticos, como o governo da ditadura militar e diversas manifestações por direitos trabalhistas. Considerando o surgimento do ativismo político feminista na época, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A luta pelos direitos das mulheres era uma reivindicação tanto de homens como de mulheres. b) ( ) O estudo sobre as mulheres estava voltado para debates como patriarcado e opressão masculina em relação às mulheres. c) ( ) Desde o início do movimento feminista no país, estava presente a atuação de ONGs. d) ( ) Naquela época, tanto homens como mulheres recebiam salários iguais e, por isso, essa não era uma das reivindicações feministas. 2 Apesar dos primeiros estudos voltados para os povos indígenas terem sido feito por pesquisadores estrangeiros, os pesquisadores brasileiros também tomaram as rédeas do assunto. Considerando os pesquisadores da área da etnologia indígena, analise as sentenças a seguir: I- Nas décadas de 1970 e 1980, foram feitos mais projetos de pesquisa em Etnologia Indígena que atualmente. II- Existem mais de 300 etnias indígenas no Brasil, o que gera interesse de pesquisadores brasileiros e estrangeiros. III- Roberto da Matta foi um pesquisador sobre estudos em organização social e política da etnia Apinayé no Brasil. IV- A maioria dos pesquisadores sobre contato interétnico foram estrangeiros. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças II e III estão corretas. d) ( ) As sentenças II, III e IV estão corretas. 3 Os estudos sobre os negros no Brasil contam com três autores clássicos: Raimundo Nina Rodrigues, Arthur Ramos e Gilberto Freyre. Sobre a trajetória de vida e o pensamento desses três autores, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: 37 ( ) Nina Rodrigues, Arthur Ramos e Gilberto Freyre foram antropólogos e médicos. ( ) Nina Rodrigues pode ser considerado o pioneiro dos
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