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Antropologia Brasileira: História e Temas

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Indaial – 2022
Brasileira
Prof.ª Thamirez Lutaif Lopes
1a Edição
antropologia
Elaboração:
Prof.ª Thamirez Lutaif Lopes
Copyright © UNIASSELVI 2022
 Revisão, Diagramação e Produção: 
Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI
Impresso por:
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI.
Núcleo de Educação a Distância. LOPES, Thamirez Lutaif.
Antropologia Brasileira. Thamirez Lutaif Lopes. Indaial - SC: UNIASSELVI, 
2022.
173p.
ISBN 978-85-515-0621-9
ISBN Digital 978-85-515-0617-2
“Graduação - EaD”.
1. Antropologia 2. Brasil 3. Etnia 
CDD 306
Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679
Olá, acadêmico! Bem-vindo ao livro da disciplina de Antropologia Brasileira. 
Essa disciplina tem por objetivo introduzir esse campo de conhecimento no contexto do 
Brasil. Vamos abordar diversos importantes para aqueles que querem entender desde 
os debates tradicionais até os debates atuais da antropologia brasileira. 
Na Unidade 1, abordaremos o desenvolvimento da antropologia no Brasil, 
analisando suas especificidades e tendências. Vamos refletir sobre os principais temas 
e preocupações teóricas e metodológicas encontrados na antropologia produzida no 
Brasil. Em primeiro lugar será apresentado o desenvolvimento do campo da Antropologia 
no Brasil para entendermos o que é a disciplina da antropologia, por que a antropologia 
é considerada uma ciência social e um panorama histórico da antropologia brasileira. 
Em segundo lugar serão abordados obras e autores clássicos da antropologia brasileira, 
percorrendo o contexto dos principais debates nas áreas de etnologia indígena, 
dos estudos sobre o negro e dos estudos sobre feminismo. Em terceiro lugar, serão 
levantadas questões a respeito da cultura brasileira, como o próprio conceito de cultura 
brasileira, temas de cultura popular e folclore brasileiro e o contexto dos estudos pós-
coloniais.
Em seguida, na Unidade 2, estudaremos mais alguns dos autores e obras 
clássicas da antropologia brasileira, tendo em vista as discussões sobre identidade, raça, 
etnia e gênero. Para isso, apresentaremos o conceito de cultura, diferenciaremos os 
conceitos de raça e etnia e abordaremos as questões de gênero no contexto brasileiro. 
Em seguida, as discussões étnicas e raciais serão aprofundadas, pormenorizando a 
discussão sobre o racismo no Brasil, entendendo a noção de sincretismo religioso e 
apresentando a ideia de racismo religioso. Depois, resumiremos alguns dos principais 
temas sobre antropologia rural, antropologia urbana e antropologia nas mídias digitais.
Por fim, na Unidade 3, aprenderemos o desenvolvimento do campo institucional 
e acadêmico da antropologia no Brasil, analisando temas contemporâneos da 
antropologia brasileira. Primeiro, apresentaremos um panorama geral da graduação e 
da pós-graduação em antropologia no Brasil, percorrendo a formação do antropólogo, 
o trabalho do chamado antropólogo de “gabinete” e o trabalho do antropólogo de 
campo. Depois, abordaremos temas contemporâneos de antropologia brasileira, como a 
globalização cultural, entendendo o seu conceito e outros conceitos como modernidade, 
pós-modernidade e multiculturalismo. Em último lugar, trataremos da questão do 
antropoceno e sua relação com o Brasil pós-pandemia, analisando o conceito de 
antropoceno, tratando da questão da antropologia multiespécie e trazendo um debate 
atual sobre as doenças infecciosas e sua relação com o agronegócio no Brasil.
Bons estudos!
Prof.ª Thamirez Lutaif
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e 
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes 
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você 
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar 
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só 
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
GIO
QR CODE
Olá, eu sou a Gio!
No livro didático, você encontrará blocos com informações 
adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento 
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender 
melhor o que são essas informações adicionais e por que você 
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações 
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais 
e outras fontes de conhecimento que complementam o 
assunto estudado em questão.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos 
os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. 
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um 
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na 
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada 
também digital, em que você pode acompanhar os recursos 
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo 
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura 
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no 
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que 
também contribui para diminuir a extração de árvores para 
produção de folhas de papel, por exemplo.
Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, 
apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, 
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com 
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
Preparamos também um novo layout. Diante disso, você 
verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses 
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos 
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, 
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os 
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.
ENADE
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma 
disciplina e com ela um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conheci-
mento, construímos, além do livro que está em 
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, 
por meio dela você terá contato com o vídeo 
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de 
auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que 
preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um 
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de 
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar 
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem 
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo 
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confi ra, 
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
SUMÁRIO
UNIDADE 1 - PANORAMA INICIAL DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA ................................. 1
TÓPICO 1 - O DESENVOLVIMENTO DO CAMPO DA ANTROPOLOGIA NO BRASIL ...............3
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3
2 O QUE É A ANTROPOLOGIA? ..............................................................................................3
3 A ANTROPOLOGIA COMO CIÊNCIA SOCIAL NO BRASIL ...................................................8
4 UM BREVE HISTÓRICO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA ............................................. 12
RESUMO DO TÓPICO 1 ......................................................................................................... 16
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................. 17
TÓPICO 2 - OBRAS E AUTORES CLÁSSICOS NA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA ............. 19
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 19
2 CLÁSSICOS DOS ESTUDOS SOBRE INDÍGENAS .............................................................19
3 CLÁSSICOS DOS ESTUDOS SOBRE NEGROS ................................................................. 28
4 CLÁSSICOS DOS ESTUDOS SOBRE MULHERES ............................................................. 31
RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 35
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 36
TÓPICO 3 - ENTENDENDO A CULTURA BRASILEIRA ........................................................ 39
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 39
2 CONCEITO DE CULTURA BRASILEIRA ............................................................................ 39
3 CULTURA POPULAR E FOLCLORE .................................................................................. 43
4 ESTUDOS PÓS-COLONIAIS ..............................................................................................47
LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 52
RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................................ 58
AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................59
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 61
UNIDADE 2 — ANTROPOLOGIA BRASILEIRA ..................................................................... 65
TÓPICO 1 — ANTROPOLOGIA BRASILEIRA E A QUESTÃO DA CULTURA NACIONAL ........67
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................67
2 CULTURA ...........................................................................................................................67
3 RAÇA E ETNIA ................................................................................................................... 71
4 GÊNERO .............................................................................................................................75
RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 80
AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................81
TÓPICO 2 - ANTROPOLOGIA BRASILEIRA E AS DISCUSSÕES ÉTNICO-RACIAIS .......... 83
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 83
2 RACISMO .......................................................................................................................... 83
3 SINCRETISMO RELIGIOSO ...............................................................................................87
4 RACISMO RELIGIOSO ...................................................................................................... 92
RESUMO DO TÓPICO 2 .........................................................................................................95
AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................96
TÓPICO 3 - ANTROPOLOGIA BRASILEIRA: ESTUDOS RURAIS E URBANOS ....................99
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................99
2 ANTROPOLOGIA RURAL ...................................................................................................99
3 ANTROPOLOGIA URBANA ..............................................................................................103
4 ANTROPOLOGIA DA MÍDIA .............................................................................................106
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................108
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................... 114
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 115
REFERÊNCIAS .....................................................................................................................117
UNIDADE 3 - O CAMPO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA .............................................. 119
TÓPICO 1 - PANORAMA DA GRADUAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO EM
 ANTROPOLOGIA NO BRASIL .......................................................................... 121
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 121
2 FORMAÇÃO EM ANTROPOLOGIA NO BRASIL ................................................................ 121
3 O TRABALHO DO ANTROPÓLOGO EM CAMPO ..............................................................126
4 O TRABALHO DO ANTROPÓLOGO NO GABINETE .........................................................128
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................... 131
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................132
TÓPICO 2 - TEMAS CONTEMPORÂNEOS DE ANTROPOLOGIA NO BRASIL I: 
 GLOBALIZAÇÃO CULTURAL ...........................................................................135
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................135
2 O QUE É GLOBALIZAÇÃO CULTURAL? ..........................................................................135
3 MODERNIDADE E PÓS-MODERNIDADE ........................................................................ 140
4 MULTICULTURALISMO .................................................................................................. 144
RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................148
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................149
TÓPICO 3 - TEMAS CONTEMPORÂNEOS DE ANTROPOLOGIA NO BRASIL II: 
 ANTROPOCENO E BRASIL PÓS-PANDEMIA ................................................. 151
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 151
2 O QUE É ANTROPOCENO? .............................................................................................. 151
3 ABORDAGENS DA ANTROPOLOGIA MULTIESPÉCIE .....................................................156
4 DOENÇAS INFECCIOSAS, AGRONEGÓCIO E BRASIL PÓS-PANDEMIA .......................159
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................164
RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................169
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................170
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 172
1
UNIDADE 1 -
PANORAMA INICIAL DA 
ANTROPOLOGIA BRASILEIRA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• entender o conceito geral de antropologia;
• perceber a antropologia enquanto ciência social no Brasil;
• conhecer um panorama histórico da antropologia brasileira;
• compreender o contexto dos debates em etnologia indígena no Brasil;
• analisar o contexto dos debates em estudos sobre questões raciais no Brasil;
• explicar o contexto dos debates emestudos sobre feminismo no Brasil;
• assimilar o conceito de cultura brasileira;
• apreender alguns temas de cultura popular e folclore brasileiro.
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de 
reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – O DESENVOLVIMENTO DO CAMPO DA ANTROPOLOGIA NO BRASIL
TÓPICO 2 – OBRAS E AUTORES CLÁSSICOS NA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA
TÓPICO 3 – ENTENDENDO A CULTURA BRASILEIRA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
CHAMADA
2
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 1!
Acesse o 
QR Code abaixo:
3
O DESENVOLVIMENTO DO CAMPO 
DA ANTROPOLOGIA NO BRASIL
1 INTRODUÇÃO
No Tópico 1, abordaremos a definição de antropologia, como se deu o 
desenvolvimento no Brasil e um panorama histórico da antropologia brasileira. Antes 
de avançarmos nossos estudos, é importante que você entenda o conceito geral de 
antropologia e qual é a diferença entre essa disciplina e as outras ciências sociais e 
humanas. Do mesmo modo, é importante que entenda qual é o objeto de estudo da 
antropologia e o que fazem antropólogos do mundo.
Em seguida, vamos refletir sobre os avanços da antropologia no nosso 
país. Depois de aprender o objeto de estudo geral da antropologia mundial, vamos 
compreender quais os principais objetos de estudo dos antropólogos brasileiros, 
pensando na diversidade étnica do nosso país.
Por fim, conheceremos datas e períodos importantes da história da antropologia 
brasileira desde o século XIX até os dias atuais. Ainda que a formalização da disciplina 
no país tenha acontecido na década de 1960, repassaremos alguns fatores importantes 
que permitiram a consolidação dessa disciplina no Brasil.
2 O QUE É A ANTROPOLOGIA?
Afinal, o que é a antropologia? Você já pode ter ouvido falar sobre esta disciplina, 
mas vamos aprofundar o seu conceito ao longo da nossa disciplina, refletindo juntos 
sobre o seu desenvolvimento no nosso país. A palavra “antropologia” possui uma origem 
grega, sendo que anthropos significa homem e logos, estudo. Assim, podemos assumir 
que a antropologia versa sobre o estudo do homem, ou, melhor ainda, sobre o estudo 
dos seres humanos.
TÓPICO 1 - UNIDADE 1
Nos livros de ciências humanas é comum que a palavra “homem” seja utilizada 
como um sinônimo de seres humanos. Contudo, é importante lembrar que o 
termo “seres humanos” é mais adequado porque não exclui as mulheres.
IMPORTANTE
4
Outras disciplinas, como a fi losofi a e a biologia, também versam sobre o estudo 
dos seres humanos. Mas o que a antropologia tem de diferente em relação às outras 
disciplinas? Podemos dizer que a antropologia foi baseada no estudo comparativo entre 
diversas sociedades das mais variadas regiões do mundo. Enquanto disciplinas como 
a biologia e a fi losofi a estavam baseadas principalmente nas sociedades consideradas 
“civilizadas”, a antropologia se voltou para as sociedades consideradas “primitivas” 
(LAPLANTINE, 1987).
O movimento da antropologia partiu de regiões da civilização europeia e norte-
americana em direção a regiões distantes tidas como inexploradas. Em resumo, o 
trabalho dos primeiros antropólogos estava voltado para o estudo de sociedades com 
uma localização bem defi nida, que não tiveram muito contato com outras sociedades 
próximas e que não tinham uma tecnologia considerada desenvolvida. Para simplifi car, 
podemos dizer que o objeto de estudo inicial da antropologia foi o estudo das sociedades 
não ocidentais pelos antropólogos vindos de sociedades ocidentais (LAPLANTINE, 1987).
Vale lembrar que os termos “civilizado” e “primitivo” devem ser usados com 
cuidado, pois se corre o risco de soar etnocêntrico. Em outras palavras, 
dizer que uma sociedade é civilizada e outra primitiva pode dar a entender 
que tal sociedade civilizada é melhor que a sociedade primitiva, o que é um 
grande erro. Um dos maiores desafi os dos antropólogos é fazer com que as 
sociedades mais afastadas tenham sua importância reconhecida, validando 
suas próprias culturas e modos de viver.
O termo “etnocêntrico” é muito usado no campo da antropologia e deriva da 
palavra “etnocentrismo”. O etnocentrismo está relacionado ao pensamento 
de quem entende que a sua etnia é mais importante que as outras, 
lembrando que devemos tomar cuidado para não pensar dessa maneira, 
pois cada grupo tem a sua importância.
IMPORTANTE
NOTA
5
Em resumo, a antropologia foi tida como a disciplina que estuda as sociedades 
humanas a partir de diversidades culturais, geográficas e históricas. Existem vários 
setores de estudos especializados dentro da antropologia, como antropologia biológica, 
arqueologia, antropologia linguística, antropologia psicológica e antropologia social e 
cultural (LAPLANTINE, 1987). 
A antropologia biológica também ficou conhecida como antropologia física e 
está direcionada ao estudo do ser humano enquanto um animal social. Ela estuda o ser 
humano a partir da relação entre o meio ambiente e o seu modo de viver (LAPLANTINE, 
1987).
FONTE: <https://bit.ly/3BypRIM>. Acesso em: 16 jun. 2022.
Hoje em dia, não podemos mais dizer que os objetos de estudo da 
antropologia são as sociedades não ocidentais por parte dos antropólogos 
de sociedades ocidentais. Existem novas áreas na antropologia, como 
a antropologia urbana, que possui como objeto de estudo as relações 
sociais da cidade. Por isso, podemos dizer que o trabalho do antropólogo 
está mais no modo de analisar as sociedades a partir de teorias 
antropológicas que no movimento do ocidental para o não ocidental.
Aqui vale nos atentarmos para uma questão importante sobre a ideia de tecnologia. 
Podemos pensar que tecnologia tem a ver somente com equipamentos da cidade 
como grandes máquinas e produtos que dependem de eletricidade, mas esse 
pensamento é equivocado. Antes de qualquer coisa, a tecnologia diz respeito a um 
conjunto de métodos e técnicas que também fazem parte daquelas sociedades 
não ocidentais. Por exemplo, o uso de ferramentas, como o arco e flecha, para 
caçar animais, por parte de sociedades indígenas, é uma grande tecnologia.
IMPORTANTE
FIGURA 1 – INDÍGENA BRASILEIRO DA ETNIA KAYAPÓ
6
 A arqueologia está baseada no estudo do ser humano considerando a pré-
história, ou seja, aquele período anterior à invenção da escrita. A partir de vestígios 
materiais, como fósseis, a arqueologia busca presumir qual eram os modos de 
organização social de sociedades humanas que não mais existem (LAPLANTINE, 1987). 
FIGURA 2 – ARQUEOLOGIA
FONTE: <https://bit.ly/3SjYmZv>. Acesso em: 16 jun. 2022.
A antropologia linguística, por sua vez, tem a ver com o estudo das sociedades 
humanas a partir da linguagem, tanto oral como escrita. Devemos ter em mente que a 
linguagem não diz respeito somente a palavras faladas, mas também a outras formas 
de comunicação não verbal, como o conjunto de gestos presente em performances e 
danças (LAPLANTINE, 1987).
A antropologia psicológica está voltada para a compreensão dos processos 
psicológicos do ser humano em sua individualidade. Antes de analisar determinada 
sociedade em seu conjunto de pessoas, o antropólogo entra em contato com indivíduos 
particulares, e é isso que a antropologia psicológica leva em consideração. 
Por fim, a antropologia social e cultural pode ser considerada a área mais 
abrangente da antropologia. Ela estuda os diversos segmentos das sociedades humanas, 
considerando elementos como o casamento, organização social, o parentesco, a família, 
a divisão social do trabalho, a educação, a religião, entre outros.
7
Outro ponto fundamental para entendermos o que é a antropologia tem 
a ver com a questão da alteridade. Ora, o que é a alteridade? Em poucas palavras, a 
alteridade é uma qualidade de quem é distinto de nós, ou seja, de quem é outro! Quando 
os primeiros antropólogos pesquisaram sociedades distantes, eles se deparavam com 
grupos de pessoas muito diferentes das sociedades das quaisvinham. Isso os fez 
perceber que aquilo que achavam que era natural nos seus modos de viver não era algo 
natural, mas sim cultural. A partir do contato com grupos de pessoas que vivem de um 
modo diferente do nosso, passamos a refletir mais sobre nós mesmos e sobre a nossa 
sociedade.
Além disso, apenas a distância em relação a nossa sociedade 
(mas uma distância que faz com que nos tornemos extremamente 
próximos daquilo que é longínquo) nos permite fazer esta descoberta: 
aquilo que tomávamos por natural em nós mesmos é, de fato, cultural; 
aquilo que era evidente é infinitamente problemático. Disso decorre 
a necessidade, na formação antropológica, daquilo que não hesitarei 
em chamar de “estranhamento” (depaysement), a perplexidade 
provocada pelo encontro das culturas que são para nós as mais 
distantes, e cujo encontro vai levar a uma modificação do olhar que se 
tinha sobre si mesmo. De fato, presos a uma única cultura, somos não 
apenas cegos a dos outros, mas míopes quando se trata da nossa. A 
experiência da alteridade (e a elaboração dessa experiência) leva-nos 
a ver aquilo que nem teríamos conseguido imaginar, dada a nossa 
dificuldade em fixar nossa atenção no que nos ́e habitual, familiar, 
cotidiano, e que consideramos ”evidente”. Aos poucos, notamos que 
o menor dos nossos comportamentos (gestos, mímicas, posturas, 
reações afetivas) não tem realmente nada de “natural”. Começamos, 
então, a nos surpreender com aquilo que diz respeito a no ́s mesmos, 
a nos espiar. O conhecimento (antropológico) da nossa cultura passa 
inevitavelmente pelo conhecimento das outras culturas; e devemos 
especialmente reconhecer que somos uma cultura possível entre 
tantas outras, mas não a única (LAPLANTINE, 1987, p. 14).
Vamos entender isso melhor? Por exemplo, quem vive nas cidades, está 
acostumado a dormir na cama, acordar, acender as luzes da casa, tomar água do filtro 
ou da torneira da cozinha, tomar banho com a água quente que vem do chuveiro, fazer 
comida no fogão e colocar roupas e sapatos para sair de casa. Fazem isso todos os dias, 
o que os faz pensar que é algo natural. 
Hoje em dia, não podemos mais dizer que os objetos de estudo da antropologia 
são apenas as sociedades humanas. Como herança da antropologia biológica, 
surgiu a chamada antropologia multiespécie, que vem sendo muito discutida 
nos cursos de pós-graduação em antropologia. O objeto da antropologia 
multiespécie é a análise das relações entre seres humanos e não humanos 
ou mesmo das relações entre os não humanos entre si a partir de teorias 
antropológicas.
INTERESSANTE
8
Agora, vamos supor que você decide fazer uma pesquisa de campo em 
antropologia e vai a uma sociedade indígena afastada da cidade e experimenta viver 
como aquelas pessoas. Você chega na aldeia, que não possui luz elétrica, dorme na 
rede, precisa buscar água no rio para beber, toma banho na água gelada do rio, busca 
lenha para fazer comida na fogueira, não precisa colocar tantas roupas ou mesmo 
sapatos. Isso causaria uma sensação de estranhamento, certo?
Essa sensação de estranhamento é o ponto chave da alteridade! A partir dela, 
entendemos que o que pensávamos que era algo natural, porque fazia parte dos nossos 
hábitos cotidianos, não é tão natural assim, mas sim cultural. Do mesmo modo, para as 
pessoas dessa suposta sociedade indígena, nossos hábitos cotidianos soariam muito 
estranho! Se você conversasse com uma criança, ela provavelmente iria perguntar se na 
sua cidade tem um rio e, se você respondesse que não, em seguida ela logo perguntaria: 
mas como você faz para tomar água e tomar banho? Assim, voltamos para a base de 
todo o pensamento antropológico: os nossos modos de viver não são naturais, mas sim 
culturais! 
3 A ANTROPOLOGIA COMO CIÊNCIA SOCIAL NO BRASIL
Depois de entendermos o que é a disciplina da antropologia em linhas gerais no 
item anterior, agora podemos pensar sobre a antropologia no nosso país. A antropologia 
começou a ser difundida como uma ciência social no Brasil a partir da década de 
1960, como um desdobramento de outra disciplina que era a sociologia. Levando em 
consideração a pluralidade étnica do país, marcada pela relação entre os brancos e as 
diversas etnias indígenas e os negros, surgiu a necessidade de ser consolidada uma 
disciplina que soubesse refl etir sobre essa relação: a antropologia (PEIRANO, 2000).
O estudo voltado para os povos indígenas, bem como para os afrodescendentes, 
já era um dos objetos dos sociólogos em atividade no país antes da década de 1960. No 
entanto, a relação entre esses povos e o restante da população brasileira gerava uma 
série de confl itos que não poderiam ser resolvidos apenas pelos conceitos próprios da 
sociologia e foi preciso ir além (PEIRANO, 2000). 
Para não gerar dúvidas, podemos entender que a principal diferença entre a 
antropologia e a sociologia é que a antropologia busca entender as relações 
humanas a partir de elementos culturais em nível micro e a sociologia, a partir 
de instituições sociais a nível macro.
NOTA
9
Depois, a própria Constituição Federal de 1988, em seu artigo 231, reconheceu 
aos indígenas suas próprias organizações sociais, costumes, línguas nativas 
e tradições, o que foi uma grande conquista para o movimento a favor do 
reconhecimento dos direitos das populações tradicionais.
Se tiver curiosidade a respeito dos confl itos que nasceram da tentativa de 
homogeneizar as diversas etnias indígenas do Brasil e o resto da sociedade 
envolvente em um único Estado soberano que representasse a todos, leia o 
artigo Nações dentro da nação: um desencontro de ideologias, da antropóloga 
Alcida Rita Ramos da Universidade de Brasília.
INTERESSANTE
DICA
De um lado, havia a sociedade envolvente que era regida pela legislação brasileira 
e suas grandes instituições e, de outro, havia uma série de sociedades espalhadas pelo 
país que eram regidas por seus próprios elementos culturais. O principal confl ito se ateve 
ao fato de que a sociedade nacional estava carregada pelo processo de expansionismo 
e integração, enquanto as outras sociedades tidas como tradicionais tentavam manter 
seus próprios modos de viver desvinculados do desenvolvimento capitalista (PEIRANO, 
2000).
Podemos dizer que a principal contribuição da antropologia enquanto ciência 
social no Brasil foi a de unir os ideais de integração, próprios da sociedade nacional, 
e os ideais de diversidade, próprios das sociedades tradicionais. Em outras palavras, 
a antropologia foi importante na medida em que foi capaz de permitir um diálogo 
entre o povo brasileiro e os povos das mais variadas etnias que habitavam o país. Os 
antropólogos fi zeram um mapeamento da diversidade étnica no Brasil, de modo que 
essas etnias pudessem ser organizadas fazendo parte da população brasileira, mas 
ainda assim com suas diferenças culturais e sociais marcadas (VELHO, 2008).
Em suma, existe uma relação direta entre a antropologia como ciência social 
no Brasil e a própria construção da nação brasileira, fazendo o casamento da unidade 
e da diversidade. Enquanto a antropologia ao redor do mundo estava preocupada em 
estudar os “outros” de regiões mais afastadas, a antropologia brasileira passou a se 
preocupar com as relações entre as diversas etnias e a sociedade envolvente que ora 
compunham a população brasileira (VELHO, 2008). 
10
Um dos maiores desafi os dos antropólogos brasileiros foi, e ainda é, trabalhar 
com as pessoas dessas etnias, não como se fossem simples informantes para os 
escritos de antropologia, mas verdadeiros interlocutores e aliados políticos. Por isso, 
antropólogos brasileiros possuem o dever ético de lutar pelos direitos dessas etnias em 
conjunto com elas, e não as tratar como se fi zessem parte apenas daqueles “outros” 
distantes (VELHO, 2008).
Nesse contexto, nasceram as maiores vertentes da antropologia brasileira: a 
Etnologia e a Antropologia da Sociedade Nacional. De um lado, o campo da Etnologia 
costumava ser defi nido pelo estudo de grupos minoritários:indígenas, negros ou 
brancos colocados à margem da sociedade, como os favelados ou trabalhadores rurais. 
De outro lado, o campo da Antropologia da Sociedade Nacional seguiu os passos da 
sociologia (CARDOSO DE OLIVEIRA, 1998).
A Etnologia, embora também concentrasse os estudos de negros, favelados ou 
trabalhadores rurais, acabou fi cando mais conhecida pela Etnologia Indígena. Conforme 
comenta o importante antropólogo brasileiro Roberto Cardoso de Oliveira, a Etnologia 
Indígena possuía algumas áreas de pesquisa mais signifi cativas, como Organização 
Social, Religião e Cosmologia, Relações Interétnicas e Etnicidade, Indigenismo 
(CARDOSO DE OLIVEIRA, 1998). Assim, a preocupação da Etnologia Indígena girava em 
torno da noção de cultura e de todas essas áreas mencionadas por Cardoso de Oliveira.
Sugerimos que assistam aos fi lmes Ex-Pajé e A última fl oresta, dirigidos por 
Luiz Bolognesi, que foram premiados internacionalmente e podem ser 
considerados novos clássicos dos fi lmes da antropologia brasileira. Esses 
fi lmes são importantes, sobretudo, porque os roteiros foram escritos em 
conjunto com os próprios indígenas das etnias Suruí Paiter e Yanomami, 
respectivamente.
Vale lembrar que o termo “favelados” não deve ser usado de maneira 
pejorativa ou preconceituosa, mas diz respeito a uma pessoa que vive em 
uma favela – um conjunto de habitação popular urbana que normalmente 
é construída em torno de morros.
DICA
NOTA
11
Se quiser saber mais sobre essa etnia, sugerimos que leiam o livro “A 
queda do céu: palavras de um xamã Yanomami”, escrito pelo Yanomami 
Davi Kopenawa e pelo antropólogo francês Bruce. Esse livro é um clássico 
importante da antropologia produzida no Brasil, que ficou muito famoso 
ao redor do mundo. Como comentamos, era comum que antropólogos 
europeus buscassem sociedades mais afastadas em outras regiões 
do mundo para se pesquisar e por isso Bruce Albert veio ao Brasil. Ele 
passou anos de sua vida morando junto com os Yanomami em Roraima, 
produzindo escritos etnográficos e lutando pelos direitos desse povo. Isso 
nos mostra como é interessante que o antropólogo construa uma relação 
duradoura com seus interlocutores.
DICA
Já a Antropologia da Sociedade Nacional tinha outras áreas de pesquisa, como 
“a Sociedade Agrária e Campesinato, a Antropologia Urbana, as Minorias Sociais e 
Étnicas, a Família, os Movimentos Sociais, as Religiões Populares e a Cultura Nacional” 
(CARDOSO DE OLIVEIRA, 1998). Logo, a preocupação da Antropologia da Sociedade 
Nacional estava mais baseada na questão da estrutura e da organização da sociedade 
e por isso estava um pouco mais próxima da sociologia.
Para refletirmos mais sobre a Etnologia Indígena, vamos pensar em um exemplo 
e ver as figuras a seguir que retratam a etnia Yanomami que fica localizada na maior terra 
indígena do Brasil nos estados do Amazonas e de Roraima, a Terra Indígena Yanomami 
(TIY). Essa etnia é uma das mais famosas e provocou interesse de antropólogos 
estrangeiros e brasileiros. A primeira foto retrata um indígena da etnia Yanomami, e a 
segunda a casa coletiva em que as pessoas dessa etnia costumam viver.
FIGURA 3 – INDÍGENAS DA ETNIA YANOMAMI
FONTE: <https://bit.ly/3BB3yC8>. Acesso em: 16 jun. 2022.
12
FIGURA 4 – CASA COLETIVA YANOMAMI
FONTE: <https://bit.ly/3vuJfl Z>. Acesso em: 16 jun. 2022.
4 UM BREVE HISTÓRICO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA
Conforme comentamos no item anterior, a antropologia passou a ser consolidada 
no Brasil a partir da década de 1960. Nessa década, surgiram os primeiros programas 
de pós-graduação em antropologia nas universidades federais brasileiras, o que foi um 
marco importante para a formalização dessa disciplina no nosso país. Até a década 
de 1960, os estudos próximos da antropologia estavam concentrados em outras áreas, 
como a arqueologia, a paleontologia e a própria sociologia. Depois da década de 1960, 
surgiu uma nova antropologia que passou a ser mais independente das outras áreas 
(PEIRANO, 2000).
Como também comentamos, os primeiros antropólogos do mundo vieram de 
sociedades ocidentais e buscavam estudar sociedades não ocidentais mais afastadas. 
Podemos afi rmar que a antropologia sempre esteve baseada na questão da alteridade, 
ou seja, no estudo dos “outros”. Entretanto, no Brasil, isso aconteceu de um jeito 
diferente! Os primeiros antropólogos brasileiros não precisaram ir a outros países em 
busca de sociedades afastadas para se pesquisar, mas começaram a pesquisar as 
diversas sociedades das mais variadas etnias no nosso próprio país. Em linhas gerais, 
a antropologia brasileira é uma antropologia feita no Brasil com sociedades do Brasil 
(PEIRANO, 2000).
Hoje em dia, não podemos mais dizer que são somente os antropólogos 
brancos vindos da sociedade envolvente que estudam as sociedades 
mais afastadas do Brasil. Já existem muitos antropólogos de sociedades 
tradicionais, como quilombolas e indígenas, que pensam suas próprias 
culturas e mesmo a cultura dos brancos a partir de noções da antropologia.
IMPORTANTE
13
Conforme nos ensina o pesquisador Francisco Salzano (2009), da Universidade 
Federal do Rio Grande do Sul, a história da antropologia brasileira pode ser dividida em 
três períodos: (1) os pioneiros; (2) período formativo; e (3) fase contemporânea. Vamos 
entender melhor esses períodos!
De acordo com o autor, o primeiro período foi datado entre os anos de 1835 e 1933. 
O ano de 1835 foi importante, pois marcou a descoberta de um material arqueológico na 
Lagoa Santa em Minas Gerais, por Peter Lund. Já o ano de 1933 marcou o fim do período, 
considerando que a fundação da Universidade de São Paulo (USP) aconteceu em 1934. 
A tabela, a seguir, nos traz alguns dos principais antropólogos da época e seus focos de 
estudos (SALZANO, 2009).
TABELA 1 – OS PIONEIROS
FONTE: <https://bit.ly/3zQVVq5>. Acesso em: 16 jan. 2022.
O segundo período, portanto, começou em 1934, justamente por causa da 
criação da USP. A tabela, a seguir, por sua vez, revela algumas pessoas que foram 
fundamentais para o campo da antropologia na época.
O termo sociedade diz respeito à sociedade nacional brasileira em seu 
sentido amplo em contraposição às sociedades tradicionais, como as 
indígenas e quilombolas.
NOTA
14
TABELA 2 – PERÍODO FORMATIVO
FONTE: <https://bit.ly/3zQVVq5>. Acesso em: 16 jan. 2022.
Por fim, o terceiro período começou em 1955 de se estendeu até os dias atuais, 
tendo em vista a criação da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) naquele ano. A 
tabela, a seguir, revela duas fases da ABA, sendo que a primeira era conhecida por ser 
uma instituição mais elitista, com dificuldades para o ingresso, e a segunda, por ser uma 
instituição que os estudantes de graduação e pós-graduação poderiam participar com 
mais facilidade.
TABELA 3 – FASE CONTEMPORÂNEA
15
FONTE: <https://bit.ly/3zQVVq5>. Acesso em: 16 jan. 2022.
A organização desses três períodos da história da antropologia brasileira nos 
permite visualizar melhor como essa disciplina progrediu ao longo do tempo no contexto 
do nosso país. A partir das tabelas, você pode conferir de referência para a área da 
antropologia e pesquisar mais sobre seus trabalhos!
16
Neste tópico, você aprendeu:
• A antropologia tem a ver com o estudo dos seres humanos a partir da comparação 
entre várias sociedades de diferentes regiões do mundo.
• Os primeiros antropólogos vieram da civilização europeia e norte-americana e 
foram em busca de regiões afastadas e pouco exploradas.
• Existem diversas áreas da antropologia, como a antropologia biológica, 
arqueologia, antropologia linguística, antropologia psicológica, antropologia social 
e antropologia cultural.
• Os conceitos de alteridade e estranhamento são pontos-chave para a antropologia 
e os modos de viver dos seres humanos não são naturais, mais sim culturais.
• A antropologia brasileira concentrou sua atenção nos estudos sobre indígenas, 
negros e brancos colocados à margem da sociedade.
• A diversidade étnica do Brasilgerou uma série de conflitos, os quais tentaram ser 
compreendidos pelas antropólogas e antropólogos brasileiros.
• Enquanto os primeiros antropólogos do mundo buscavam pesquisar sociedades 
afastadas em outros países, os antropólogos brasileiros começaram a pesquisar 
temas e sociedades do nosso próprio país.
RESUMO DO TÓPICO 1
17
AUTOATIVIDADE
1 Enquanto estudiosos de outras disciplinas, como a Biologia e a Filosofia, estavam 
voltados para o estudo das sociedades que consideravam civilizadas, os estudiosos 
da antropologia estavam voltados para as sociedades que consideravam primitivas. 
Sobre as noções de “civilizado” e “primitivo”, que são fundamentais para o saber 
antropológico, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) O termo “civilizado” tem a ver com as sociedades europeias, e o termo “primitivo” 
tem a ver com as sociedades indígenas, sendo que as sociedades civilizadas são 
melhores que as sociedades primitivas.
b) ( ) Desde o início do desenvolvimento da antropologia até os dias atuais, os objetos 
de estudo dos antropólogos ocidentais são as sociedades não ocidentais 
primitivas.
c) ( ) É importante tomar cuidado ao utilizar os termos “civilizado” e “primitivo” 
porque, ainda que algumas sociedades fossem consideradas civilizadas e outras 
primitivas no tempo dos primeiros antropólogos, corremos o risco de sermos 
etnocêntricos.
d) ( ) É importante saber o que significam os termos “civilizado” e “primitivos” porque 
as sociedades civilizadas são mais desenvolvidas e mais tecnológicas que as 
sociedades primitivas.
2 A antropologia é a disciplina que tem como objeto principal o estudo dos seres hu-
manos, considerando diversidades culturais, geográficas e históricas. Existem diver-
sas áreas de estudos especializados dentro do campo da antropologia: antropologia 
biológica, arqueologia, antropologia linguística, antropologia psicológica, antropolo-
gia social e antropologia cultural. Sobre essas áreas, analise as sentenças a seguir:
I- A antropologia biológica estuda os seres humanos tendo em vista somente o meio 
ambiente e não considera seu modo de viver nem elementos culturais.
II- A arqueologia considera vestígios materiais para estudar sociedades que não 
existem mais.
III- A antropologia linguística estuda as sociedades humanas a partir da linguagem 
oral, desconsiderando a escrita.
IV- A antropologia psicológica entende os grupos de pessoas levando em consideração 
os indivíduos particulares.
V- A antropologia social e a antropologia cultural fazem parte das áreas mais 
abrangentes da antropologia e compreendem os mais diversos setores das 
sociedades humanas, como organização social e divisão social do trabalho.
18
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças II, IV e V estão corretas.
d) ( ) As sentenças I e V estão corretas.
3 A história da antropologia brasileira pode ser dividida em três grandes fases: a fase 
dos pioneiros, a fase do período formativo e a fase contemporânea. Sobre essas 
fases, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas.
( ) A fase dos pioneiros data dos anos 1835 a 1933.
( ) O ano de 1835 foi importante devido à descoberta do material arqueológico na 
Lagoa Santa em Minas Gerais.
( ) O antropólogo Nina Rodrigues faz parte da fase do período formativo.
( ) O antropólogo Florestan Fernandes faz parte do período dos pioneiros.
( ) O antropólogo Darcy Ribeiro faz parte do período formativo.
( ) A criação da ABA aconteceu na fase contemporânea.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – F – F – V – F – F.
b) ( ) V – V – F – F – V – V.
c) ( ) F – V – V – F – F – V.
d) ( ) F – F – V – V – V – F.
4 A história da antropologia mundial está relacionada ao princípio alteridade, tendo em 
vista o estudo de sociedades distantes. Porém, no Brasil, a alteridade na antropologia 
pode ser entendida de uma maneira diferente já que nosso país abriga uma grande 
diversidade étnica. Disserte sobre a questão da alteridade e na sensação de 
estranhamento que ela implica, considerando as particularidades do Brasil.
5 O estudo relacionado aos povos indígenas e afrodescendentes também era um 
objeto de estudo dos sociólogos que trabalhavam no Brasil antes da década de 1960. 
Contudo, a década de 1960 marcou a consolidação de fato dessa disciplina no nosso 
país. Nesse contexto, disserte sobre como a antropologia surgiu no Brasil e qual foi 
sua importância na época.
19
OBRAS E AUTORES CLÁSSICOS 
NA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA
1 INTRODUÇÃO
No Tópico 2, abordaremos as principais obras e autores clássicos da antropologia 
brasileira. Partiremos de um dos mais importantes campos da antropologia que é a 
Etnologia Indígena. Os estudos voltados para os povos indígenas, suas culturas e seu 
modo de viver é um ponto fundamental da antropologia mundial e, em particular, da 
antropologia brasileira. Assim, conheceremos alguns dos pesquisadores que realizaram 
importantes trabalhos entre as mais de 300 etnias presentes no Brasil.
Depois, voltaremos nossa atenção para os estudos sobre os negros no nosso 
país, ou seja, para os africanos e afrodescendentes. Vamos passar por algumas 
figuras importantes que iniciaram os estudos sobre os negros no Brasil e que são uma 
importante referência até os dias atuais.
Em seguida, vamos entender os estudos de gênero no nosso país, tendo em 
vista o enquadramento social das mulheres. Entenderemos como se deu o surgimento 
dos primeiros debates de feminismo no Brasil, seu contexto histórico e quem foram 
seus protagonistas.
2 CLÁSSICOS DOS ESTUDOS SOBRE INDÍGENAS
Os estudos sobre indígenas na antropologia brasileira estão diretamente 
relacionados ao campo da Etnologia Indígena. A Etnologia, como aprendemos no tópico 
anterior, foi fortalecida com os primeiros programas de pós-graduação em antropologia 
no país. As primeiras pesquisas em antropologia brasileira voltadas para os povos 
indígenas foram feitas por estudiosos estrangeiros, mas em seguida as antropólogas 
e antropólogos brasileiros também começaram a avançar nessa área (MELATTI, 2018).
Conforme aponta o antropólogo brasileiro Julio Cezar Melatti, a fundação do 
primeiro curso de pós-graduação em antropologia coincidiu com a criação da Fundação 
Nacional do Índio (FUNAI). Desde então, os conflitos que envolviam a sociedade nacional 
e as populações indígenas começaram a ser mais divulgados na imprensa. Nesse 
sentido, o autor também comenta que:
Sem dúvida, essa atenção da imprensa contribuiu para a formação 
de um público mais alerta para os temas referentes aos índios, 
culminando com a criação de entidades não governamentais de 
UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 
20
apoio aos índios – hoje em número de, pelo menos dezesseis em 
todo o Brasil – e com a mobilização dos próprios indígenas e ainda 
com o interesse pelo estudo de grupos indígenas por parte de 
pesquisadores ligados a disciplinas não antropológicas (MELATTI, 
2018, p. 254).
O setor de Divisão de Estudos e Pesquisas da FUNAI era quem autorizava 
as pesquisas sobre etnologia no país. Entre os anos de 1974 e 1980, foram feitos 86 
projetos de pesquisa por brasileiros e 17 por estrangeiros, o que nos confi rma que a 
temática nacional era de fato um interesse para estudiosos vindos de outros países em 
busca da alteridade e dos próprios estudiosos brasileiros. No entanto, naquela época, 
esses poucos projetos eram feitos por um grupo de antropólogos mais restrito em que a 
maioria deles se conhecia. Hoje em dia, isso mudou! Existem incontáveis pesquisadores 
na área da etnologia, envolvidos ou não com entidades não governamentais e cursos de 
pós-graduação (MELATTI, 2018).
Tendo em vista os estudos clássicos sobre indígenas no país, Melatti (2018) 
organizou um compilado dos principais autores desse campo, das quais destacaremos 
cinco temáticas: (1) organização social e política; (2) mitologia e ritual; (3) relações com 
o meioambiente; (4) arte, artesanato e tecnologia; e (5) contato interétnico. Para que 
você conheça esses autores, confi ra as tabelas a seguir!
Sobre os estudos em organização social e políticas, os principais pesquisadores 
se voltaram para as regiões do Centro-Oeste e do Sudoeste Amazônico e alto rio Xingu. 
Essa era de pesquisas foi iniciada pelo antropólogo inglês David Maybury-Lewis da 
Universidade de Oxford, que realizou um estudo entre a etnia Xavante no Brasil. Tal 
estudo foi fundamental na medida em que abriu espaço para que esse antropólogo, 
que era professor na Universidade de Harvard nos EUA, criar um convênio com o Museu 
Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro voltado para o estudo dos indígenas 
do Brasil Central.
Vamos conhecer no quadro, a seguir, mais alguns dos pesquisadores que 
pesquisaram esse tema depois do impulso dado por Maybury-Lewis!
Existem mais de 300 etnias indígenas no Brasil! Caso tenha interesse e 
deseje se aprofundar nos estudos de alguma etnia indígena em particular, 
sugerimos que use os quadros a seguir para tomar como base os autores 
que também estudaram essa etnia para que assim comece suas pesquisas. 
Em qualquer pesquisa, é importante recorrermos às primeiras pessoas que 
estudaram aquela etnia, ou seja, aos clássicos!
NOTA
21
QUADRO 1 – CLÁSSICOS DOS ESTUDOS EM ORGANIZAÇÃO SOCIAL E POLÍTICA
FONTE: Adaptado de Melatti (2018)
Etnias indígenas 
pesquisadas
Pesquisadores
Apinayé Roberto da Matta
Asuriní Roque de Barros Laraia
Awetí George de Cerqueira Leite Zarur
Borôro
Jon Christopher Crocker; Zarco Levak; Renate Brigitte Viertler; 
César Albisetti; Angelo Jaime Venturelli
Cinta Larga Carmen Junqueira; Betty Lafer
Juruna Adélia Engracia de Oliveira
Kaapór Roque Laraia
Kalapalo Ellen Basso
Kamayurá Carmen Junqueira, Roque Laraia
Kayapó
Terence Sheldon Turner; Donald Hunderfund; Simone Dreyfus, 
Gustaaf Verswijver
Krahô Julio Cezar Melatti; Manuela Carneiro da Cunha; Gilberto Azanha
Kreen Akarôre Etephan Schwartzman
Krinkatí Jean Elisabeth Carter Lave
Makú Peter Silverwood-Cope; Howard Reid
Marúbo Julio Ceezar Melatti; Delvair Montagner Melatti
Meináku Thomas Gregor
Munduruku Robert Murphy; Steve Brian Burkalter
Múra Pirahân Adélia Engrácia de Oliveira
Pakaá Nóva Alan Wilfrid Mason
Parintintín Waud Kracke
Suruí Carmen Junqueira; Roque Laraia
Suyá Anthony Seeger
Tenetehara Laís Cardia
Txikâo Patrick Menget
Waiwái Niels Fock
Wayâna Jean Lapointe
Xavante
David Maybury-Lewis; Maria Aracy Lopes da Silva Ribeiro; 
Bartolomeu Giaccaria; Adalberto Heide; Helena Fanny Ricardo
Xikrin Luz Boelitz Vidal
Xokleng Gregory Urban
Yanomami
Hans Becher; Alcida Ramos; Judit Shapiro; Bruce Albert; Ettore 
Biocca
Yawalapití Eduardo Viveiros de Castro
22
Os principais pesquisadores na temática de mitologia e ritual, por sua vez, 
partiam dos estudos gerais sobre organização política e ritual, com a ressalva de que 
faziam a pesquisa de campo buscando, sobretudo, colecionar os mitos e histórias 
daqueles povos. De acordo com Melatti (2018, p. 259):
Esta linha temática está intimamente relacionada com a anterior, 
uma vez que, dificilmente, um etnólogo se dirige ao campo com o 
fim exclusivo de observar ritos ou colecionar mitos. Geralmente o 
pesquisador utiliza os mitos e os ritos como janelas por onde pode 
obter novos ângulos de observação do sistema social.
O início dos estudos sobre os mitos no contexto brasileiro foi marcado pelo 
trabalho do antropólogo brasileiro Egon Schaden, que realizou um trabalho sobre a 
mitologia entre algumas indígenas no Brasil em 1945. Em seguida, trabalhos marcantes 
foram os do antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro entre os Kadiweu, em 1950, e do 
antropólogo francês Claude Lévi-Strauss entre diversas etnias, a partir de 1964. 
Em seguida, inúmeras outras pesquisas entre as etnias indígenas brasileiras foram 
desenvolvidas, como podemos conferir no quadro a seguir.
QUADRO 2 – CLÁSSICOS DOS ESTUDOS EM MITOLOGIA E RITUAL
Etnias indígenas 
pesquisadas
Pesquisadores
Asuriní Anton Lukesck; Carlos Kukesch
Borôro
César Albisetti; Angelo Jaime Venturelli; Renate Vietler; 
Neusa Maria Bloemer
Desâna Umusin Panlon Kumu; Tolaman Kenhiri
Diversas etnias Claude Lévi-Strauss
Erikpátsa Adalberto Holanda Pereira
Irântxe Adalberto Holanda Pereira
Kadiwéu Darcy Ribeiro
Kamayurá
Pedro Agostinho da Silva; Roque de Barros Laraia; Orlando 
Villas Boas; Cláudi Villas Boas; Etienne Samain
Karajá Odilon de Sousa Filho
Kayabí Miguel Pedro Alves Cardoso
Kayapó Turner; Lukesch
Kayapó Lux Boelitz Vidal; Gustaaf Verswijver
Krahô Manuela Carneiro da Cunha; Julio Cezar Melatti
Makú Peter Silverwood-Cope
Marúbio Delvair Montagner Melatti
Mundurukú Yolanda Murphy; Robert Murphy
Nambiquaras Adalberto Holanda Pereira
23
FONTE: Adaptado de Melatti (2018)
 
Já os principais pesquisadores na temática ambiental podem ser divididos em 
dois. Os primeiros foram aqueles que pesquisaram as sociedades indígenas a partir das 
modificações culturais depois do contato com os brancos e suas implicações ambientais. 
Os segundos, aqueles que fizeram uma classificação dos elementos ambientais na 
cultura desses povos, como no caso de plantas medicinais. 
Nesse tema, Melatti (2018, p. 260) destaca dois trabalhos principais:
Sem dúvida, o trabalho mais popular sobre este tema é o da 
arqueóloga Betty MEGGERS (1977) sobre a Amazônia, devido à sua 
tradução para o português e ao interesse político-econômico que 
essa região inspira no momento. Mas se trata de um trabalho, em 
parte, apoiado numa bibliografia muito antiquada. Uma pesquisa 
mais cuidadosa, com dados colhidos especialmente para o projeto, 
segundo técnicas previamente selecionadas para serem aplicadas 
por todos os seus participantes, é aquele dirigido por Daniel GROSS 
(and.) e desenvolvido por orientandos seus na City University of New 
York, e uma brasileira, além de um biólogo da Universidade de Brasília, 
em grupos Jê e nos Borôro.
Além de Betty Meggers e Daniel Gross, outros pesquisadores também passaram 
a pensar nas relações com o meio ambiente a partir da antropologia, como vamos 
conhecer a seguir:
QUADRO 3 – CLÁSSICOS DOS ESTUDOS EM RELAÇÕES COM O MEIO AMBIENTE
Timbíra Roberto da Matta; Julio Cezar Melatti
Trumaí Aurore Monod-Becquelin
Xavante Bartolomeu Giaccaria; Maria Aracy da Silva Ribeiro
Yanomami Bruce Albert
Etnias indígenas pesquisadas Pesquisadores
Apalaí Fernando da Costa Novaes
Bakairí Debra Picchi
Borôro Daniel Gross; Theka Hartmann
Diversas etnias Claude Dumenil
Diversas etnias amazônicas Betty Meggers
Etnias do Cerrado e de Roraima  Edileusa Sette Silva
Etnias do Xingu Margareth Emmerich
Guajajara Anthony Hennman
Kaingang Anthony Hennman
Kaiwá Wilson Garcia; Maria Fátima Roberto; Joana Silva
24
Kayapó Parrel Addison Posey; Eric Cravero; Joan Bamarger Turner
Mawé Anthony Hennman
Nambiquaras Eloene Setz
Paresí Eloene Setz
Suruí Carlos Coimbra; Everaldo Alvarez
Uaupés Janet Chernela
Yanomami Kenneth Taylor
FONTE: Adaptado de Melatti (2018)
Os estudos voltados para arte, artesanato e tecnologia, são um desdobramento 
das relações com o meio ambiente, bem como da organização social e política das 
sociedades indígenas. No geral, as regiões pesquisadas foram o Centro-Oeste, o alto 
Rio Xingu e Rondônia.
Alguns projetos são bastante extensos, como o realizado sob os 
auspícios do CNRC (George ZARUR, and.), tendo como objeto o 
artesanato dos indígenas da região Centro-Oeste e desenvolvido 
com o auxílio de vários colaboradores. Outro projeto que abrange uma 
ampla área é o referente ao artesanato do rio Negro, do Xingu, dos 
Karajá e dos Canelas, por pesquisadores da Universidade de Morón, 
na Argentina (Ana Biró STERN & Martha Teresita MANARINI, and.). 
Extenso, também, é o projeto sobre o emprego social da tecnologia, 
que sc realiza no Xingu e entre os Tukúna e os Karajá (Maria Heloisa 
FÉNELON COSTA, João Pacheco de OLIVEIRA FILHO, and.), também 
com a ajuda de vários colaboradores. Outros, aindaque se refiram 
ao artesanato em geral, têm por objeto apenasum grupo tribal 
ou uma área mais restrita. É o caso das pesquisas sobre os Tiriyó 
(FRIKEL, 1973), Wayâna e Apalai (Lucia Hussak van VELTHEM, and.), 
grupos da região do Tumucumaque e estudados por sucessivos 
pesquisadores do Museu Goeldi; dos Timbira e Guajajára, grupos 
vizinhos estudados por uma mesma pesquisadora (NEWTON, 1971 e 
and.), que participou do projeto Harvard-Museu Nacional; dos Xikrín 
(Irmeli Mar jata SUVÍOLA, and.), dos Borôro (Teófilo TORRONTEGUI & 
Arieta TORRONTEGUI, andã) e Maxakalí (Neli Ferreira NASCIMENTO, 
and.), sendo que, pelo menos as duas últimas, estão sendo realizadas 
por alunos de pós-graduação da USP (MELATTI, 2018, p. 262).
Vamos conferir o quadro, a seguir, tendo em vista esses trabalhos mencionados.
TABELA 4 – CLÁSSICOS DOS ESTUDOS EM ARTE, ARTESANATO E TECNOLOGIA
Etnias indígenas pesquisadas Pesquisadores
Apalaí Lucia Hussak van Velthem
Arara Paulo Barbosa Magalhães
Borôro Teófilo Torrontegui; Arieta Torrontegui; Ferraro Dorta
Canelas Ana Biró Stern; Martha Teresita Manarini
25
FONTE: Adaptado de Melatti (2018)
No caso dos clássicos dos estudos voltados para o contato interétnico entre os 
povos indígenas e o restante da sociedade brasileira, é interessante notar que a maioria 
dos pesquisadores foram os próprios brasileiros e não tanto os estrangeiros como 
nas outras áreas de estudo. Esses pesquisadores se voltaram tanto para as políticas 
indigenistas como para a atuação dos missionários no país.
O período em questão se inicia com uma reorientação das pesquisas 
sobre aculturação, marcada pela publicação de importantes trabalhos 
de Darcy Ribeiro (1957, 1962), posteriormente refundidos no volume 
Os índios e a civilização (RIBEIRO, 1970). Mas foi nos cursos de 
especialização oferecidos no Museu Nacional, nos inícios da década 
Cinta Larga Paulo Barbosa Magalhães
Etnias do Centro-Oeste George Zarur
Guajajara Dolores Newton
Kadiwéu Sandra Wellington
Kamayurá Rafael Batos
Karajá
Ana Biró Stern; Martha Teresita Manarini; 
Maria Heloisa Fenelon Costa; João Pacheco 
de Oliveira Filho; Edna de Melo; Günther 
Hartmann; 
Karitiana Paulo Barbosa Magalhães
Kayabí Elisabeth Lins
Maxakalí Neli Ferreira Nascimento
Nambiquaras Thomas Avery; Kristen Avery; Desidério Aytai
Pakaá Nóva Paulo Barbosa Magalhães; Omar Landi Santos
Rio Negro Ana Biró Stern; Martha Teresita Manarini
Suruí Paulo Barbosa Magalhães
Suyá Anthony Seeger
Timbira Dolores Newton
Tiriyó Protásio Frikel
Tukuna
Maria Heloisa Fenelon Costa; João Pacheco de 
Oliveira Filho
Wayâna Lucia Hussak van Velthem; Daniel Schoepf
Xavante Regina Müller; Virgínia Valadão; Desidério Aytai
Xikrín Irmeli Marjata Suvíola
Xingu
Ana Biró Stern; Martha Teresita Manarini; Maria 
Helena Heloisa Fenelon Costa; João Pacheco 
de Oliveira Filho; Cristina Sá; Berta Ribeiro
Yawalapití Sandra Wellington
26
dos Sessenta, que se forma um grupo em torno do proieto “Estudo 
de Áreas de Fricção Interétnica no Brasil”, de Roberto Cardoso de 
Oliveira, gerando trabalhos sobre os Tukúna (CARDOSO DE OLIVEIRA, 
1972), os Suruí, Akuáwa e Gaviões (LARAIA & MATTA, 1978), os Krahó 
(MELATTI, 1967 e 1972). Posteriormente, novos alunos do Museu 
Nacional se engajaram em pesquisas, de certo modo, ligadas a este 
projeto, produzindo trabalhos sobre os Xokleng e demais indígenas 
de Santa Catarina (Sílvio Coelho dos SANTOS, 1960 e 1973), sobre os 
Kaingâng e Guarani do Paraná (HELM, 1974 e 1977) (MELATTI, 2018, 
p. 264).
Tendo em vista o amplo trabalho dos antropólogos brasileiros e alguns 
antropólogos estrangeiros, vamos conferir o quadro a seguir.
TABELA 5 – CLÁSSICOS DOS ESTUDOS EM CONTATO INTERÉTNICO
Etnias indígenas 
pesquisadas Pesquisadores
Akuáwa Roque de Barros Laraia; Roberto da Matta
Aparaí Dominique Gallois
Apinayê José Reginaldo Santos Gonçalves
Apurinan Marcos Lazarin
Diversas etnias Darcy Ribeiro
Erikpátsa Sonia Coqueiro Garcez
Etnias de Minas Gerais Sonia Marcato
Etnias de Rondônia Bernand von Graeve
Etnias de Santa Catarina Sílvio Coelho dos Santos
Etnias do Acre Anthony Gross
Etnias do Nordeste Paulo Marcos Pires de Amorim
Etnias do Rio Negro Ana Gita de Oliveira; Eduardo Galvão
Etnias do Xingu Ellen Fischer; Eduardo Galvão; Nobue Myazaki
Galibí Eneida de Assis
Gaviões Roque de Barros Laraia; Roberto da Matta
Guajajara Mércio Pereira Gomes
Guarani Cecília Maria Vieira Helm; Maria Ligia Moura Pires; Peter Silverwood-Cope; Ana Gita de Oliveira
Irântxé Sonia Coqueiro Garcez
Kaapór Virginia Valadão
Kaingang Cecília Maria Vieira Helm; Maria Ligia Moura Pires; Ligia Simonian; Peter Silverwood-Cope; Ana Gita de Oliveira
Karajá Nancy Antunes Tsupal
Karipuna Eneida de Assis
Kawahib Miguel Menezes
27
FONTE: Adaptado de Melatti (2018)
Kaxinawá Terri Valle de Aquino
Kayabí Miguel Cardoso
Krahô Julio Cezar Melatti
Makú Alcida Ramos
Mawé Jorge Romano
Mayongong Alcida Ramos; João Koch
Mundurukú José Sálvio Leopoldi
Nambiquara Paul Leslie Aspelin
Oyampí Dominique Gallois
Paresí Sonia Coqueiro Garcez
Pataxó Maria Rosário de Carvalho
Pukobyê Maria Helena Barata
Suruí Roque de Barros Laraia; Roberto da Matta
Terena Beatriz Buschinelli
Terênia Edgard de Assis Carvalho
Tukano Leonardo Figoli
Tukano Alcida Ramos
Tukuna Roberto Cardoso de Oliveira; João Pacheco de Oliveira Filho
Tumucumaque Roberto Maria Cortez de Souza
Tuxuá Nássara Antônio de Souza Nasser
Txukahamâi Vanessa Lea
Waurá Marco Antonio Melo
Wayâna Dominique Gallois
Xavante Tsupal; Clarice da Mota; Guariglia
Xokleng Sílvio Coelho dos Santos
Xokó Karirí Vera Cavalheiros
Yanomami Luizi Ponzo; Alcida Ramos
28
3 CLÁSSICOS DOS ESTUDOS SOBRE NEGROS
FIGURA 5 – MULHERES AFRODESCENDENTES
FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/62/3%C2%AA_Marcha_das_Mulheres_Ne-
gras_no_Centro_do_Mundo%2C_no_RJ.jpg>. Acesso em: 16 jun. 2022.
Depois de aprendermos os principais temas e autores relacionados ao campo 
da Etnologia Indígena, agora vamos conhecer alguns dos estudos clássicos sobre os 
negros no nosso país. Podemos considerar que as pesquisas sobre os africanos e 
afrodescendentes começaram no início do século XX, contando com três autores de 
suma importância: Raimundo Nina Rodrigues, Arthur Ramos e Gilberto Freyre.
Nina Rodrigues foi um médico legista e antropólogo nascido no Maranhão em 
1862, podendo ser considerado o precursor dos estudos sobre os negros no Brasil. Os 
seus livros mais famosos foram: As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil 
(1894), O animismo fetichista dos negros na Bahia (1900) e Os africanos no Brasil (1932). 
No início desse último livro, Nina Rodrigues chamou atenção para o fato de que não 
havia estudos voltados para os negros, bem como para as línguas e religiões africanas, 
e que os pesquisadores deveriam começar a se movimentar para isso!
Ao contrário do que vimos no tópico anterior sobre os estudos dos 
indígenas, os estudos sobre os negros no nosso país não foram tão 
carregados de autores brasileiros.
IMPORTANTE
29
Já a partir da década de 1930, considerando a fundação das universidades no 
Brasil, esses estudos começaram a tomar mais corpo. Os anos de 1934 e 1937 foram 
um marco nesse sentido, quando aconteceram dois Congressos de Estudos Afro-
Brasileiros, sendo o primeiro organizado por Gilberto Freyre, em Recife, e o segundo, 
por Arthur Ramos, em Salvador. Isso nos faz perceber a importância dessas outras duas 
fi guras que, de certa forma, seguiram os passos de Nina Rodrigues (SOUZA, 2013).
Arthur Ramos foi um médico psiquiatra e antropólogo brasileiro, nascido em 
Alagoas no ano de 1903. Dentre seus principais escritos, podemos destacar O negro 
brasileiro (1934); O folclore negro no Brasil (1936); As culturas negras no Novo Mundo
(1938) e Aculturação negra no Brasil (1942).
Gilberto Freyre foi um grande sociólogo e antropólogo brasileiro, nascido em 
Recife, no ano de 1900. Sua obra mais conhecida é o livro Casa-Grande e Senzala (1933), 
no qual retratou a relação entreas casas-grandes (lugares em que viviam os senhores 
brancos) e as senzalas (lugares em que viviam os negros escravizados). Esse livro é um 
marco da antropologia brasileira e foi traduzido para diversas línguas, possuindo grande 
repercussão internacional.
As pesquisas que percorreram a trajetória de Nina Rodrigues, Gilberto Freyre 
e Arthur Ramos marcaram o início das discussões raciais no brasil, ainda que cada um 
desses autores tenha seguido um enfoque diferente em seus escritos. Vamos conhecer 
mais de cada um deles!
Caso você tenha interesse na trajetória de vida de Arthur Ramos, sugerimos 
o curto documentário intitulado Arthur Ramos – vida e obra (2016), 
dirigido por Almir Guilhermino. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=Espuvbj4zPQ.
Sugerimos que assista ao pequeno documentário chamado Casa-Grande e 
Senzala (1974), dirigido por Geraldo Sarno, cuja sinopse foi inspirada no livro 
de Gilberto Freyre. Recomendamos também uma série de dois episódios 
chamada Casa-Grande e Senzala (2000), dirigida por Nelson Pereira dos 
Santos e igualmente inspirada no livro de Gilberto Freyre. Disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=ZGG32QVye-4.
DICA
DICA
30
O pensamento de Nina Rodrigues, considerando que era um médico legista, 
estava voltado para o direito penal e sua implicação nas questões raciais e na formação 
da nação brasileira. Naquela época, uma das preocupações da medicina legal era a 
relação entre raça e criminalidade. Em outras palavras, os estudiosos dessa área se 
perguntavam se existia alguma característica biológica em certas pessoas que poderia 
fazer com que elas fossem mais propensas a cometer crimes que outras (SILVA, 2013).
Nina Rodrigues entendia que os problemas sociais do Brasil, enquadrados em 
questões criminais, eram fruto de patologias presentes em pessoas negras e mestiças, 
ou seja, consideradas essas pessoas como de raças inferiores. De acordo com esse autor, 
a evolução de um povo seria medida por sua homogeneidade e por isso considerava a 
mestiçagem um problema. Em suma, Nina Rodrigues buscava compreender as raças 
presentes no Brasil a partir de uma perspectiva biológica ou física.
Arthur Ramos, por sua vez, deu continuidade aos estudos de Nina Rodrigues, 
mas tomou outro rumo em seus pensamentos sobre os negros brasileiros. Em seus 
primeiros escritos sobre o negro brasileiro, Arthur Ramos já passa a criticar a visão de 
Nina Rodrigues, dizendo que teria um falso ângulo científico. Portanto, esse autor foi 
contra a ideia de inferioridade de algumas raças e dos supostos problemas que seriam 
fruto da mestiçagem (LIMA, 2013).
O pensamento de Arthur Ramos era diferente de Nina Rodrigues, sobretudo 
por não concordar com a inferioridade biológica dos negros, ainda que o autor pudesse 
apontar para uma suposta inferioridade cultural nas entrelinhas de seus escritos. Os 
estudos de Arthur Ramos estavam voltados principalmente para as religiões africanas 
existentes no Brasil na época, por consideram que a pesquisa das religiões eram o 
melhor caminho para se conhecer um povo (LIMA, 2013).
Ainda que o pensamento de Nina Rodrigues fosse avançado para sua época, 
o seu pensamento pode ser considerado racista e por isso precisamos 
tomar cuidado ao citar esse autor que, ainda assim, não pode passar 
desapercebido no que diz respeito às questões raciais no Brasil.
As questões raciais e alguns termos muito usados em antropologia, como 
raça, racismo, serão abordados na Unidade 2 do nosso curso.
IMPORTANTE
ESTUDOS FUTUROS
31
Embora para alguns críticos da antropologia o pensamento de Arthur Ramos 
seja considerado tão perigoso quanto o de Nina Rodrigues, por questões 
relativas ao racismo, em 1949 o autor recebeu o convite para liderar o 
Departamento de Ciências Sociais da UNESCO devido ao seu importante 
trabalho sobre questões raciais.
Conforme os estudos feministas, a teoria do patriarcado diz respeito a 
uma organização sociopolítica que coloca os homens em uma situação de 
privilégio, ou seja, em uma situação que eles detêm poder sobre as mulheres 
e subjugam as mesmas.
NOTA
NOTA
Arthur Ramos analisava a cultura dos negros como se fosse primitiva na medida 
em que os fenômenos eram explicados não por causas naturais de cunho científi co, mas 
sim por causas míticas. Os mitos e narrativas da cultura africana traziam explicações 
para acontecimentos como nascimento, doença e morte, o que era visto pelo autor 
como uma característica de primitividade (LIMA, 2013).
4 CLÁSSICOS DOS ESTUDOS SOBRE MULHERES
Depois de conhecermos os estudos clássicos envolvendo os povos indígenas 
e afrodescendentes, vamos abordar os estudos sobre as mulheres no Brasil. Esse 
estudo perpassa necessariamente as relações de gênero e, por isso, faremos um breve 
apanhado dos precursores dessa análise no nosso país.
De acordo com a pesquisadora Maria Izilda Santos de Matos (2013), o livro 
intitulado A mulher na sociedade de classes: mito e realidade, escrito por Heleieth 
Saffi oti, em 1969, foi um marco para os estudos de gênero no Brasil. O livro tinha por 
objetivo analisar a sociedade brasileira a partir da teoria do patriarcado se voltando para 
a opressão masculina e capitalista em relação às mulheres.
É importante associarmos o momento em que surgem os estudos feministas 
no Brasil ao contexto histórico da época. O período de vinte anos de governo militar, 
entre os anos de 1964 e 1984, coincidiu com o início das análises de gênero no Brasil, 
ainda que isso difi cultasse a vida das mulheres. Elas começaram a se envolver mais com 
questões sociais e políticas no movimento contra a anistia (MATOS, 2013).
32
Podemos dizer que os movimentos feministas no Brasil surgiram de fato a 
partir da década de 1970, assim como em outros lugares do mundo. Contudo, esses 
movimentos fi caram mais fortalecidos somente a partir das décadas de 1980 e 1990. 
A ditadura foi um período de turbulência política no Brasil, trazendo à tona diversos 
debates sobre o governo e a forma de organização da sociedade, o que contribuiu para 
a emergência dos debates de gênero (SILVA, 2000).
Esse período marcou um novo movimento das mulheres brasileiras, que 
passaram a reivindicar mais pelos seus direitos declarando as suas desigualdades. Nas 
palavras da pesquisadora Susana Veleda da Silva:
Principalmente em São Paulo, mulheres de periferia, através 
das comunidades da Igreja Católica reivindicam ao Estado o 
atendimento das necessidades básicas como creches, melhores 
salários, reclamam do custo de vida e unem-se contra a carestia. A 
reivindicação pelas creches era apontada como um dos principais 
problemas, pois as mulheres precisavam trabalhar fora, para manter 
a família (Teles,1993). É claro que estas reivindicações propiciaram 
não só mudanças de mentalidades como também  mudanças no 
espaço urbano. No fi nal da década de setenta as pesquisas voltam-
se para as relações de produção. Mulher e trabalho, no espaço 
urbano ou rural, marcam o início da pesquisa acadêmica, com 
destaque para os trabalhos das sociólogas  Heleieth Saffi oti (1978/ 
1979/ 1981) e Eva Altermann Blay (1978). Nesse período, algumas 
mulheres militavam clandestinamente em grupos de esquerda 
contra a ditadura, propiciando, segundo Soares (1994) a emergência 
do feminismo dentro dos partidos de esquerda. Mas são as mulheres 
dos bairros populares que aparecem no espaço público construindo 
uma “dinâmica política própria” (Soares,1994:16) e transformando o 
seu espaço cotidiano (SILVA, 2000, s.p.).
É interessante notarmos que a época das primeiras manifestações das mulheres 
no Brasil na década de 1970 coincide com a época de ingresso delas no mercado de 
trabalho brasileiro. Ao lado das reivindicações trabalhistas e da crise do desemprego, 
as mulheres também passaram a exigir seus direitos voltados para saúde, reprodução, 
proteção contra violência, cultura, entre outros. Já a partir da década de 1990, essas 
reivindicações passaram a ser institucionalizadas e houve um crescimento das ONGs(Organizações Não Governamentais) feministas no Brasil (SILVA, 2000).
Desde aquela época até os dias atuais, as reivindicações trabalhistas 
costumam explicitar as desigualdades de gênero, sobretudo no caso de 
salários inferiores para as mulheres com relação aos homens.
IMPORTANTE
33
Ao contrário do que vimos a respeito dos estudos sobre os indígenas e sobre 
os negros, os estudos sobre as mulheres no Brasil não possuem tanta linearidade e 
são mais dispersos. Logo, é mais difícil sistematizar as obras, as pesquisadoras e os 
pesquisadores dessa área, conforme foram feitos nos itens anteriores. Portanto, o que é 
mais importante entendermos aqui é o contexto histórico em que esses debates sobre 
gênero, mulheres e feminismo surgiram no nosso país.
Nas palavras da pesquisadora Mariza Corrêa (2001, p. 15):
É difícil traçar um perfil mais específico das feministas daquela 
época, já que elas eram atrizes de teatro – lembrar a atriz portuguesa 
radicada no Brasil, Ruth Escobar, por exemplo, que transformou seu 
teatro num importante local de discussão sobre a situação da mulher 
–, professoras universitárias, estudantes, sindicalistas, ativistas 
vindas de movimentos populares, jornalistas etc. Creio que havia um 
traço comum à todas, pelo menos em São Paulo e no Rio, que foi onde 
circulei mais durante aqueles anos: eram mulheres de esquerda e 
eram mulheres profissionais ou em vias de se tornarem profissionais. 
FIGURA 6 – MANIFESTAÇÃO DE MULHERES
FONTE: <https://bit.ly/3Si9juy>. Acesso em: 16 jun. 2022.
Também é importante entendermos que os movimentos feministas de hoje 
possuem uma participação e reivindicações mais abrangentes. A prática feminista não 
é mais exercida exclusivamente por mulheres e abarcam questões sociais mais amplas 
como as próprias questões ambientais (SILVA, 2000).
Para finalizar nossa abordagem sobre os estudos sobre gênero no país, há uma 
pesquisadora estrangeira que não pode passar desapercebida, chamada Margareth 
Mead. Sua obra intitulada Sexo e temperamento em três sociedades primitivas, 
escrita em 1935, é um grande clássico no que diz respeito às pesquisas de gênero em 
antropologia no Brasil e no mundo. A autora foi uma pioneira nos estudos de relações 
de gênero e muitas das pesquisas atuais recorrem a esse clássico para análises mais 
aprofundadas (FELIPPE; OLIVEIRA-MACEDO, 2018).
34
Ao lado de seu marido, que também era antropólogo, Mead realizou uma pesquisa 
de campo na Nova Guiné, focalizada em três povos: os Arapesh, os Mundugumor e os 
Tchambuli. A pesquisadora teve como principal objetivo analisar as personalidades dos 
homens e mulheres desses povos e uma de suas conclusões foi que as inclinações 
psicológicas femininas e masculinas são padrões culturais. Em suma, o comportamento 
de homens e mulheres não seria natural a cada um, mas sim transmitido de uma geração 
a outra. A grande importância desse escrito se dá pela ideia de que a cultura é quem 
adapta a forma de ser de cada gênero e, por isso, grande parte dos pesquisadores em 
gênero recorrem a esse clássico (FELIPPE; OLIVEIRA-MACEDO, 2018).
Atualmente, as pesquisas sobre gênero em antropologia brasileira perpassam 
diversos âmbitos da vida da mulher brasileira. Um trabalho importante nesse sentido é o 
da antropóloga brasileira Mirian Goldenberg. A autora realizou uma pesquisa de campo 
na classe média urbana carioca tendo em vista os papeis de gênero, ou seja, os papeis 
das mulheres e dos homens nesse contexto (VAVASSORI, 2006). 
O ponto alto do trabalho foi pensar na representação dos corpos das pessoas e 
como isso é construído socialmente. 
Identifi cando a tão exaltada valorização do corpo magro da mulher 
e a importância da altura, virilidade e potência para os homens, 
Goldenberg cita Pierre Bourdieu para afi rmar que não só as mulheres 
estão presas ao seu corpo real que é diferente do ideal, mas também 
os homens vistos como dominantes sofrem, pois as exigências a 
respeito de um determinado modelo de corpo recaem também sobre 
eles, que se preocupam com a força física, virilidade, potência, altura 
e com o tamanho do pênis (VAVASSORI, 2006, s.p.).
Se quiser saber mais sobre o trabalho da autora, sugerimos que leia na íntegra 
o texto De perto ninguém é normal: estudos sobre corpo, sexualidade, gênero e 
desvio na cultura brasileira. Disponível em: https://bit.ly/3JEVUZP.
DICA
35
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• Os estudos sobre os povos indígenas no Brasil começaram com antropólogos 
estrangeiros e depois surgiram também os antropólogos brasileiros.
• Ao contrário dos antropólogos estrangeiros, que iam em busca da alteridade em 
outros países, os antropólogos brasileiros encontravam essa alteridade no próprio 
Brasil.
• Existem mais de 300 etnias indígenas no Brasil.
• Existem muitos antropólogos que pesquisam as diversas etnias existentes no 
Brasil, já que a Etnologia Indígena é uma das áreas mais difundidas da antropologia 
brasileira.
• Dentre os autores mais conhecidos nos estudos sobre os negros no Brasil, estão: 
Raimundo Nina Rodrigues, Arthur Ramos e Gilberto Freyre.
• Antes dos principais autores citados, os estudos sobre os negros não eram 
difundidos no Brasil.
• O debate sobre os negros no Brasil envolveu questões como religiões, a relação 
entre senhores e escravizados e os debates raciais.
• Os estudos sobre as mulheres no Brasil, bem como os debates sobre gênero e 
feminismo, começaram junto com o ingresso das mulheres no mercado de trabalho.
• Na época da ditadura, as mulheres passaram a se envolver mais com questões 
sociais e políticas.
• Os primeiros estudos e práticas sobre mulheres, gênero e feminismo no Brasil 
contaram principalmente om a participação de mulheres trabalhadoras e de 
esquerda.
• Margareth Mead é uma antropóloga clássica que serve de base para pesquisas de 
gênero no Brasil e no mundo.
36
AUTOATIVIDADE
1 Os estudos sobre as mulheres no Brasil começaram a partir da década de 1970. 
Esse período foi marcado por diversos acontecimentos políticos, como o governo da 
ditadura militar e diversas manifestações por direitos trabalhistas. Considerando o 
surgimento do ativismo político feminista na época, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) A luta pelos direitos das mulheres era uma reivindicação tanto de homens como 
de mulheres.
b) ( ) O estudo sobre as mulheres estava voltado para debates como patriarcado e 
opressão masculina em relação às mulheres.
c) ( ) Desde o início do movimento feminista no país, estava presente a atuação de 
ONGs. 
d) ( ) Naquela época, tanto homens como mulheres recebiam salários iguais e, por 
isso, essa não era uma das reivindicações feministas.
2 Apesar dos primeiros estudos voltados para os povos indígenas terem sido feito 
por pesquisadores estrangeiros, os pesquisadores brasileiros também tomaram as 
rédeas do assunto. Considerando os pesquisadores da área da etnologia indígena, 
analise as sentenças a seguir:
I- Nas décadas de 1970 e 1980, foram feitos mais projetos de pesquisa em Etnologia 
Indígena que atualmente.
II- Existem mais de 300 etnias indígenas no Brasil, o que gera interesse de 
pesquisadores brasileiros e estrangeiros.
III- Roberto da Matta foi um pesquisador sobre estudos em organização social e política 
da etnia Apinayé no Brasil.
IV- A maioria dos pesquisadores sobre contato interétnico foram estrangeiros.
 
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
d) ( ) As sentenças II, III e IV estão corretas.
3 Os estudos sobre os negros no Brasil contam com três autores clássicos: Raimundo 
Nina Rodrigues, Arthur Ramos e Gilberto Freyre. Sobre a trajetória de vida e o 
pensamento desses três autores, classifique V para as sentenças verdadeiras e F 
para as falsas:
37
( ) Nina Rodrigues, Arthur Ramos e Gilberto Freyre foram antropólogos e médicos.
( ) Nina Rodrigues pode ser considerado o pioneiro dos

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