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Art. 323 - 327 CP

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Abandono de função
Art. 323 - Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
§ 1º - Se do fato resulta prejuízo público:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
Introdução
A leitura do art. 323 do Código Penal facilmente permite a constatação de uma contradição legislativa. O crime em análise recebeu a rubrica marginal “abandono de função”, ao passo que na redação do preceito primário consta a expressão “abandonar cargo público”. Ora se fala em função, ora em cargo público.
 Em que pese a imprecisão terminológica do legislador, o correto é falar em “abandono de cargo público”, e não em “abandono de função”, por uma simples razão. Como se sabe, esta expressão é muito mais ampla do que aquela. De fato, função pública corresponde a qualquer atividade realizada pelo Estado com a finalidade de satisfazer as necessidades de natureza pública.
Por sua vez, cargo público é “o conjunto de atribuições e responsabilidades previstas na estrutura organizacional que devem ser cometidas a um servidor” (Lei 8.112/1990, art. 3.º, caput). Além disso, “os cargos públicos, acessíveis a todos os brasileiros, são criados por lei, com denominação própria e vencimento pago pelos cofres públicos, para provimento em caráter efetivo ou em comissão” (Lei 8.112/1990, art. 3.º, p. único).
Destarte, muitas pessoas desempenham funções públicas (exemplos: jurados, mesários da Justiça Eleitoral etc.), nada obstante não ocupem cargos públicos. Conclui-se, portanto, que a caracterização do crime delineado no art. 323 do Código Penal depende do abandono do cargo público, não incidindo este tipo penal no tocante ao abandono de função pública ou mesmo de emprego público.
Não se pode fazer analogia in malam partem no Direito Penal. E, como aqui se fala em “cargo público”, e não em “funcionário público”, deve ser afastado o conteúdo abrangente do art. 327 do Código Penal.
Objetividade jurídica
O bem jurídico penalmente tutelado é a Administração Pública, especialmente no que diz respeito à normalidade e à continuidade do desempenho do cargo público.
Objeto material
É o cargo abandonado pelo funcionário público.
Núcleo do tipo
O núcleo do tipo penal é “abandonar”, ou seja, largar algo, deixando-o ao desamparo. Trata-se de crime omissivo próprio ou puro, pois o tipo penal contém uma conduta omissiva. O abandono de cargo pode verificar-se de dois modos distintos:
(a) pelo afastamento do funcionário público (exemplo: o agente viaja para outro país sem tirar férias ou licença e sem comunicar sua instituição); ou 
(b) pela não apresentação do funcionário público no momento adequado (exemplo: o agente, esgotado seu período de férias, injustificadamente deixa de se apresentar na repartição pública).
O abandono de cargo deve prolongar-se por tempo juridicamente relevante, a ser avaliado no caso concreto, pois o delito depende da comprovação do perigo de dano à Administração Pública. O afastamento há de perdurar por período suficiente para determinar a desídia do sujeito ativo perante o serviço público.
Na hipótese de abandono de cargo por tempo ínfimo (exemplo: uma telefonista do Estado deixa seu posto de trabalho para assistir a uma sessão de cinema, retornando duas horas depois às suas atividades), não se pode falar no crime em apreço, mas somente em falta disciplinar, sujeita a sanções administrativas.
Também não se configura o crime do art. 323 do Código Penal quando o
funcionário público, embora abandonando o cargo, tenha providenciado sua substituição automática por um colega de trabalho, pois nessa situação não há perigo de lesão aos interesses da Administração Pública.
Não se pode confundir o abandono de cargo indicado pelo art. 323 do Código Penal com o abandono de cargo previsto em lei específica atinente à organização da carreira do funcionário público. Exemplificativamente, a Lei 8.625/1993 – Lei Orgânica Nacional dos Ministérios Públicos Estaduais, em seu art. 38, § 1.º, inc. III, autoriza a perda de cargo de membro vitalício do Parquet na hipótese de abandono do cargo por prazo superior a 30 dias corridos. 
A concretização do delito por algum integrante do Ministério Público Estadual não depende do transcurso de prazo tão dilatado, bastando avaliar na
situação concreta se sua conduta revelou descaso com o interesse público, colocando em risco as atividades inerentes à sua instituição.
Não há crime se existir anterior pedido de licença, férias ou exoneração, deferido pela autoridade competente. No entanto, enquanto não deferido seu pleito, o funcionário público estará proibido de abandonar o cargo, ainda que legítima sua pretensão, sob pena de configuração do crime tipificado no art. 323 do Código Penal.
É importante ainda mencionar que o tipo penal contém um elemento normativo, consistente na expressão “fora dos casos permitidos em lei”. Não há crime, a título ilustrativo, quando o funcionário público não comparece ao seu cargo em razão de licença médica, licença paternidade etc. Obviamente, também não há crime quando presente uma causa de exclusão da ilicitude ou da culpabilidade.
Exemplo: Professora da rede pública de ensino que não comparece à escola pelo fato de ter sido ameaçada de morte pelos traficantes que controlam a região em que se encontra situado o estabelecimento de ensino.
Sujeito ativo
Trata-se de crime de mão própria, de atuação pessoal ou de conduta
infungível, pois somente pode ser praticado pelo funcionário público ocupante do cargo abandonado. Logo, não admite coautoria, mas apenas a participação.
Sujeito passivo
É o Estado.
Elemento subjetivo
É o dolo, independentemente de qualquer finalidade específica. Não há
espaço para a forma culposa.
Consumação
Trata-se de crime omissivo próprio ou puro, pois o tipo penal descreve uma conduta omissiva. Consuma-se com o abandono do cargo por tempo juridicamente relevante, capaz de criar uma situação de perigo à Administração Pública (crime de perigo concreto). 
Para o Supremo Tribunal Federal: “O crime de abandono de função (art. 323 CP) é punido apenas na modalidade dolosa, consumando-se com o efetivo abandono do cargo público, fora das hipóteses legais, por período de tempo juridicamente relevante”.
Em síntese, não se exige a produção de dano à Administração Pública. Entretanto, se o abandono de cargo provocar prejuízo público, incidirá a figura qualificada do § 1.º do art. 323 do Código Penal.
Tentativa
O delito tipificado no art. 323 do Código Penal é incompatível com o conatus, em face do seu caráter unissubsistente, inerente aos crimes omissivos próprios.
Ação penal
A ação penal é pública incondicionada, em todas as modalidades do delito.
Figuras qualificadas: §§ 1.º e 2.º
(§ 1º) Se do fato resulta prejuízo público:
A pena é de detenção, de três meses a um ano, e multa se do abandono do cargo resulta prejuízo público. 
O exaurimento do delito foi alçado à condição de qualificadora do abandono de função.
Prejuízo público é o ocasionado aos serviços de interesse público. A maior reprovabilidade da conduta repousa na lesão efetiva à Administração Pública. Se no caput o delito é classificado como de perigo concreto, aqui indiscutivelmente o crime é de dano, pois pressupõe lesão às atividades de natureza pública (exemplos: não arrecadação de tributos em razão do abandono do cargo por fiscais fazendários, interrupção dos serviços de água e luz à população etc.).
(§ 2º) Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira: 
A pena é de detenção, de um a três anos, e multa, quando o abandono de cargo público ocorre na faixa de fronteira.
Faixa de fronteira é a área indispensável à Segurança Nacional, compreendida como a faixa interna de 150 quilômetros de largura, paralela à linha divisória terrestre do território nacional (Lei 6.634/1979, art. 1.º).
O tratamento penal mais severo se justifica pelo risco proporcionado pelodesertor à Segurança Nacional, colocando em risco os Poderes Constituídos pelo Estado e as pessoas em geral. Exemplo: Policiais Federais lotados na fronteira com outro país que abandonam seus cargos, permitindo o ingresso em território nacional de terroristas e de armas de fogo.
Lei 9.099/1995
Na forma simples (caput) e na modalidade qualificada do § 1.º, trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo, de competência do Juizado Especial Criminal, compatível com a transação penal e com o rito sumaríssimo, nos moldes da Lei 9.099/1995.
De outro lado, na modalidade qualificada do § 2.º, ao abandono de função é cominada pena mínima de um ano. Cuida-se de crime de médio potencial ofensivo, admitindo a suspensão condicional do processo, desde que presentes os demais requisitos exigidos pelo art. 89 da Lei 9.099/1995.
Classificação doutrinária
O abandono de função é crime simples (ofende um único bem jurídico); de mão própria (somente pode ser cometido pelo funcionário público ocupante do cargo abandonado); formal (consuma-se com a prática da conduta criminosa, independentemente do prejuízo à Administração Pública; entretanto, a superveniência do resultado naturalístico enseja a aplicação da qualificadora do § 1.º); de perigo concreto (basta a comprovação da probabilidade de dano ao interesse público); de forma livre (admite qualquer meio de execução); omissivo próprio (a omissão está descrita no tipo penal); instantâneo (consuma-se em um momento determinado, sem continuidade no tempo); unissubjetivo, unilateral ou de concurso eventual (normalmente praticado por um só agente, mas admite o concurso); e unissubsistente.
Abandono de função e Código Penal Militar
Como estatui o art. 330 do Decreto-lei 1.001/1969 – Código Penal Militar: Abandonar cargo público, em repartição ou estabelecimento militar: Pena – detenção, até dois meses.
Formas qualificadas 1.º Se do fato resulta prejuízo à administração militar: Pena – detenção, de três meses a um ano. 2.º Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira: Pena – detenção, de um a três anos.
Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado
Art. 324 - Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exigências legais, ou continuar a exercê-la, sem autorização, depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou suspenso:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
Objetividade jurídica
O bem jurídico penalmente protegido é a Administração Pública, no tocante ao seu normal funcionamento, pois o exercício ilegal de função pública afeta a prestação de serviços públicos.
Objeto material
É a função pública (qualquer atividade desempenhada pelo Estado para satisfazer as necessidades de interesse público) ilegalmente exercida.
Núcleos do tipo
O tipo penal contém dois núcleos: “entrar no exercício” e “continuar a exercê-lo”.
Entrar no exercício equivale a começar a desempenhar uma determinada função pública; continuar a exercê-la, por sua vez, significa a ela dar prosseguimento. Em ambas as situações, o crime é instantâneo.
Prescinde-se da habitualidade, que surge posteriormente à entrada em exercício ou já existia antes da sua continuidade. 
Vejamos separadamente cada uma das espécies criminosas.
1.ª parte – Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exigências legais Nesse ponto, o art. 324 do Código Penal contém uma lei penal em branco homogênea, pois o preceito primário reclama complementação pela legislação específica de cada funcionário público para saber quais são as “exigências legais” a serem satisfeitas.
A regra para investidura em cargos e empregos públicos é a aprovação em concurso público de provas ou de provas e títulos (CF, art. 37, inc. II).
	
Depois de realizado o concurso público sobrevém o provimento do cargo ou emprego público com a nomeação do candidato aprovado. Superada a fase da nomeação, o provimento somente se aperfeiçoará com a posse e o exercício do cargo. 
Nos ensinamentos de Hely Lopes Meirelles:
A investidura do servidor no cargo ocorre com a posse. A posse é a conditio juris da função pública. Por ela se conferem ao servidor ou ao agente político as prerrogativas, os direitos e os deveres do cargo ou do mandato. 
Sem a posse o provimento não se completa, nem pode haver exercício da função pública.
Entretanto, não basta a posse, pois para o regular exercício da função pública outros requisitos são também exigidos, tais como a aprovação em exame médico realizado pelo Poder Público, a prova de quitação com a Justiça Eleitoral e, nos termos do art. 13 da Lei 8.429/1992 – Lei de Improbidade Administrativa –, a apresentação de declaração d e bens e valores integrantes do patrimônio do indivíduo.
Portanto, se a pessoa já aprovada e nomeada em concurso público dolosamente entra no exercício da função pública antes da posse ou sem comprovar a observância de todas as exigências legais, estará configurado o crime definido no art. 324 do Código Penal.
2.ª parte – Continuar a exercê-la, sem autorização, depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou suspenso Nota-se facilmente a presença de um elemento normativo, pois o tipo penal reclama seja a conduta praticada “sem autorização”. Destarte, o fato é atípico se o agente, mesmo depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou suspenso, continua a exercer a função pública devidamente autorizado por quem de direito.
É necessário tenha o funcionário público real e efetivo conhecimento da sua exoneração, remoção, substituição ou suspensão, ou, nas palavras do legislador, tenha tomado “oficialmente” ciência do ato administrativo. Não há falar em presunção do seu conhecimento, mesmo na hipótese de ato público e notório. Portanto, não basta a publicação da decisão na imprensa oficial, salvo se restar inequivocamente demonstrado o seu conhecimento pelo funcionário público.
Exoneração é o ato administrativo que retira o funcionário do cargo público, a seu pedido ou de ofício (exemplo: servidor não confirmado no estágio probatório). Essa elementar deve ser interpretada extensivamente para, por motivos lógicos, abranger também a demissão e a destituição.
Remoção é a alteração das funções do agente público, mediante sua iniciativa ou compulsoriamente, porém preservando o mesmo cargo.
Substituição é a colocação de um funcionário público no lugar de outro.
Muda-se a função pública, mas são mantidos o cargo e o local de trabalho.
As férias e as licenças em geral, embora não mencionadas no tipo penal, devem ser tratadas do mesmo modo que as substituições, pois, quando um agente público se encontra no período de férias ou de licença, um outro o substitui, com o escopo de assegurar a continuidade do serviço público. 
Exemplo: Um advogado público em férias será substituído por outro, pois os autos e demais providências de sua responsabilidade não podem ser abandonados até o regresso do período de descanso.
Suspensão é uma espécie de sanção disciplinar, destinada a retirar temporariamente o funcionário público do seu cargo ou das suas funções.
Também é possível a prática do delito na hipótese da aposentadoria compulsória, a qual, embora automática, depende da declaração por ato, com
vigência a partir do dia imediato àquele em que o servidor atingir a idade-limite de permanência no serviço público (Lei 8.112/1990, art. 187). Exemplo: Um escrivão de polícia continua a praticar atos em inquéritos policiais, nada obstante tenha completado a idade atinente à aposentadoria compulsória.
Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado e situação de emergência. 
Se o agente entrar no exercício da função pública antes de satisfeitas as exigências legais, ou continuar a exercê-la, sem autorização, depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou suspenso, mas para salva-guardar interesse em perigo da Administração Pública, não haverá crime, em face da incidência da causa excludente da ilicitude do estado denecessidade (CP, art. 24). Exemplo: Médico já nomeado para a função, mas ainda não empossado que se dirige ao Pronto-Socorro Municipal para ajudar a socorrer diversas vítimas de um deslizamento de um morro em época de chuvas torrenciais.
Sujeito ativo
Este crime somente pode ser praticado por funcionário público já nomeado, mas ainda sem ter cumprido todas as exigências legais (1.ª parte), ou então pelo indivíduo que era funcionário público, porém deixou de sê-lo em
razão de ter sido oficialmente exonerado, removido, substituído ou suspenso (parte final). Em ambas as hipóteses, o crime é de mão própria, de atuação pessoal ou de conduta infungível, pois sua execução é privativa do funcionário público expressamente indicado no tipo penal.
Se um particular entrar no exercício da função pública, a ele deverá ser
imputado o crime de usurpação de função pública (CP, art. 328).
Sujeito passivo
É o Estado.
Elemento subjetivo
É o dolo, independentemente de qualquer finalidade específica. Não se admite a modalidade culposa. Vale destacar que a segunda figura criminosa – “ou continuar a exercê-la, sem autorização, depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou suspenso” – somente é compatível com o dolo direto, pois a expressão “depois de saber” indica a vontade do agente em continuar a exercer a função pública, sem autorização, após ser cientificado da sua exoneração, remoção, substituição ou suspensão.
Consumação
O crime se aperfeiçoa no momento em que o sujeito ativo realiza indevidamente o primeiro ato inerente à função pública, prescindido do efetivo prejuízo à Administração Pública (crime formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado).
Tentativa
É possível, em face do caráter plurissubsistente do delito, permitindo o fracionamento do iter criminis.
Exemplo: Um Delegado de Polícia já aprovado em concurso público, mas sem ainda ter sido empossado, vai a um Distrito Policial, senta-se na mesa do Delegado plantonista, mas, antes de adotar qualquer diligência atinente a uma autoridade policial, é preso em flagrante pelo Delegado Seccional de Polícia.
Ação penal
A ação penal é pública incondicionada.
Lei 9.099/1995
A pena privativa de liberdade máxima cominada (detenção de um mês) autoriza a inserção do crime tipificado no art. 324 do Código Penal entre as infrações penais de menor potencial ofensivo, de competência do Juizado Especial Criminal, e, portanto, compatível com a transação penal e com o rito sumaríssimo, nos moldes da Lei 9.099/1995.
Classificação doutrinária: O exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado é crime simples (ofende um único bem jurídico); de mão própria (somente pode ser cometido pelo funcionário público indicado no tipo penal); formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado (consuma-se com a prática da conduta criminosa, independentemente do efetivo prejuízo à Administração Pública); de dano (ofende o regular funcionamento da Administração); de forma livre (admite qualquer meio de execução); em regra comissivo; instantâneo (consuma-se em um momento determinado, sem continuidade no tempo); unissubjetivo, unilateral ou de concurso eventual (normalmente praticado por um só agente, mas admite o concurso); e normalmente plurissubsistente.
Exercício funcional ilegal e o Código Penal Militar
O art. 329 do Decreto-lei 1.001/1969 define o crime de exercício funcional ilegal:
Entrar no exercício de posto ou função militar, ou de cargo ou função em repartição militar, antes de satisfeitas as exigências legais, ou continuar o exercício, sem autorização, depois de saber que foi exonerado, ou afastado, legal e definitivamente, qualquer que seja o ato determinante do afastamento:
Pena – detenção, até quatro meses, se o fato não constitui crime mais grave.
Violação de sigilo funcional
Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato não constitui crime mais grave.
Introdução
A maior parte da atividade funcional do Estado moderno é orientada pelo
princípio da publicidade, um dos vetores da Administração Pública, a teor do art. 37, caput, da Constituição Federal. Com efeito, em um Estado Democrático de Direito o trato da coisa pública exige transparência, pois a principal finalidade da atuação administrativa é a promoção do bem comum, pertencente a todos e, consequentemente, do conhecimento de todos os cidadãos. Entretanto, a própria Constituição Federal impõe o sigilo das informações imprescindíveis à segurança da sociedade e do Estado. É o que se extrai do seu art. 5.º, inc. XXXIII: “todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”.
Em síntese, a regra é a publicidade dos atos do Poder Público, mas existem exceções, legitimadas constitucionalmente, nas quais o funcionário público tem o dever de guardar sigilo, sob pena de responsabilização pessoal, inclusive no campo criminal. Um dos crimes que podem ser a ele imputados é o do art. 325 do Código Penal, denominado de “violação de sigilo funcional”. Como destaca Rogério Greco:
Existe uma especial relação de confiança entre a Administração Pública e o seu funcionário, ocupante de um cargo público, que não pode ser quebrada, traída. O intraneus, ou seja, aquele que está “dentro” da Administração Pública, passa a ter conhecimento sobre fatos que, não fosse pela sua especial condição, lhe seriam completamente desconhecidos.
Seu dever de lealdade para com a Administração Pública impõe que, em
muitas situações, guarde segredo sobre determinados fatos. Sua indevida revelação a terceiros não autorizados poderá importar na prática do delito de violação de sigilo funcional, tipificado no art. 325 do Código Penal.
Objetividade jurídica
O bem jurídico penalmente tutelado é a Administração Pública, relativamente à proteção de informações que devem permanecer em segredo no tocante às pessoas em geral.
Objeto material
É o segredo funcional, ou seja, a informação sigilosa obtida em razão da
função pública.
Núcleos do tipo
O tipo penal contém dois núcleos, indicativos de duas condutas criminosas distintas: 
(a) “revelar” fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo; e 
(a) “facilitar-lhe a revelação”. 
Revelar é dar conhecimento de algo a outra ou outras pessoas, verbalmente ou por escrito. Nesse caso, a conduta é comissiva. Facilitar a revelação, por sua vez, consiste em tornar mais simples a descoberta de algo por outra ou outras pessoas. A conduta, aqui, pode ser praticada por ação ou por omissão (exemplo: o funcionário público deixa de trancar o armário cujo conteúdo envolve documentos ligados a fatos sigilosos).
Cuida-se de tipo misto alternativo, crime de ação múltipla ou de conteúdo variado. Há um único crime previsto no art. 325 do Código Penal quando o agente, depois de facilitar a revelação de um fato sigiloso, efetivamente o revela a terceira pessoa.
Há, portanto, duas formas de violação do sigilo funcional: direta e indireta. Nas lições de Nélson Hungria:
A revelação (que consiste em fazer passar o fato da esfera de sigilo para a do indevido conhecimento de terceiro) pode ser direta ou indireta. No primeiro caso, o agente, ele próprio, comunica o fato a terceiro , sponte sua ou mediante determinação de outrem; no segundo, limita-se a facilitar a terceiro o conhecimento do fato.
Em qualquer dos casos, constitui pressuposto do crime tenha o funcionário público conhecimento do fato em razão do cargo, vale dizer, por força da função pública que desempenha e tendo em vista sua condição funcional.
Logo, inexiste crime quando o funcionário público não tenha acesso à informação violada, para ele sigilosa, em virtude da funçãoexercida.
Além disso, é indispensável que tal fato envolva um segredo, isto é, seja do conhecimento de um número limitado de pessoas, e exista interesse de que permaneça em sigilo. Não é necessário que se trate de segredo nunc et semper, isto é, a ser guardado para sempre, bastando que a sigilosidade deva ser preservada apenas durante certo tempo.
Mas não para por aí. O segredo deve aproveitar à Administração Pública, envolvendo fatos relevantes para o Estado.179 Deveras, se o fato apresentar-se como de interesse estritamente particular, estará caracterizado o crime de violação de segredo profissional, definido no art. 154 do Código Penal.
Evidentemente, não há crime quando a pessoa a quem o fato sigiloso é
revelado já o conhecia, bem como se o fato não mais constitui segredo.
Sujeito ativo
É o funcionário público, ainda que aposentado, afastado ou em disponibilidade, pois o tipo penal refere-se a “fato de que tem ciência em razão do cargo”. Basta, portanto, tenha o agente público tomado conhecimento da informação sigilosa em razão do cargo, ainda que no momento da sua revelação não mais o ocupe. Trata-se de crime de mão própria, de atuação pessoal ou de conduta infungível, pois somente pode ser praticado pelo funcionário público que em razão do cargo tinha o dever de guardar o segredo do Estado.
Em relação ao terceiro que recebeu a informação sigilosa, duas situações devem ser diferenciadas:
(a) se ele concorreu de qualquer modo para a revelação do fato, deverá ser tratado como partícipe do crime delineado no art. 325 do Código Penal; e 
(b) se o funcionário público agiu espontaneamente, para ele o fato será
atípico.
Sujeito passivo
É o Estado e, mediatamente, a pessoa física ou jurídica prejudicada pela conduta criminosa.
Elemento subjetivo
É o dolo, independentemente de qualquer finalidade específica. Na visão do Superior Tribunal de Justiça, não há crime quando um funcionário público, com animus defendendi (intenção de defender-se), remete informações sigilosas à autoridade superior, sem quebra do caráter de confidencialidade.
Não se admite a modalidade culposa.
Consumação
Na primeira modalidade criminosa (revelação direta), o delito se consuma com a simples revelação do segredo pelo funcionário público a uma terceira pessoa, a quem o conhecimento do fato não se destinava. Basta uma única pessoa, não se exigindo o conhecimento público e notório do fato revelado.
Na outra modalidade delituosa (revelação indireta), o crime também se consuma no momento em que se opera a revelação do segredo a terceira pessoa.
Em ambas as espécies, o crime é formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado, e também de perigo concreto, motivo pelo qual não
se reclama o efetivo dano à Administração Pública, sendo suficiente a probabilidade de lesão ao interesse coletivo.
Tentativa
Na modalidade “revelar”, o conatus somente é admissível quando a conduta for praticada por escrito. Exemplo: O funcionário público encaminha a terceiro uma carta envolvendo a revelação de informações sigilosas, mas a missiva é extraviada e não chega ao seu destinatário. Não há tentativa na revelação verbal, pois nesse caso o crime é unissubsistente: ou o funcionário público faz a revelação, consumando-se o delito, ou não o faz, e o fato é atípico.
De outro lado, na modalidade “facilitar a revelação” a tentativa é possível. Exemplo: O funcionário público dolosamente deixa aberta a tela do computador da repartição pública, contendo informações sigilosas, para que sejam vistas por terceiros.
Entretanto, a falta de energia elétrica impede o êxito da sua empreitada criminosa.
Figuras equiparadas
A Lei 9.983/2000 inseriu o § 1.º ao art. 325 do Código Penal, com a seguinte redação:
§ 1.º Nas mesmas penas deste artigo incorre quem:
I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública;
II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito.
Analisemos separadamente cada uma das figuras equiparadas.
Inciso I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública
O funcionário público dotado de livre ingresso nos sistemas de informações ou bancos de dados da Administração Pública neles permite (autoriza) ou facilita (simplifica) o acesso de pessoas não autorizadas (particulares ou outros funcionários públicos), mediante atribuição, fornecimento, empréstimo de senha ou outra forma qualquer. Exemplo: Um auditor da Receita Federal, que tem acesso às informações acerca das fontes pagadoras dos contribuintes, empresta sua senha do sistema para que uma amiga, traída pelo marido, colha dados sobre os rendimentos do adúltero.
O fato é atípico para o terceiro que, sem a colaboração do funcionário público, acessa os sistemas de informações ou bancos de dados da Administração Pública.
Inciso II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito Utilizar é usar ou valer-se de algo.
Nessa figura equiparada, o funcionário público acessa o sistema de informações ou banco de dados, mas invade área que lhe é vedada – limitada somente a determinadas pessoas integrantes dos quadros da Administração Pública –, aproveitando-se dos dados para alguma finalidade não permitida em lei. É o que se dá com um agente fazendário que, burlando o sistema de proteção da Receita Federal, entra em área restrita para obter informações fiscais e repassá-las a um advogado.
O tipo penal contém um elemento normativo, consistente na palavra “indevidamente”. Só há crime quando o funcionário público pratica a conduta sem autorização de quem direito. O fato é atípico quando ele, embora acessando área restrita, utiliza as informações devidamente autorizado por quem tenha atribuições para tanto.
Qualificadora: § 2.º
O § 2.º do art. 325 do Código Penal também foi acrescentado pela Lei 9.983/2000:
(§2º) “Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pública ou a outrem: 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa”.
A figura qualificada envolve um crime de dano, pois há lesão à Administração Pública ou a algum particular. Cuida-se, em verdade, do exaurimento do delito, utilizado pelo legislador como qualificadora em razão da maior gravidade que reveste o fato cometido pelo funcionário público.
Ação penal
A ação penal é pública incondicionada, em todas as modalidades do crime de violação de sigilo funcional.
Lei 9.099/1995
Na forma simples (caput) e nas figuras equiparadas (§ 1.º), a violação de sigilo funcional é infração penal de menor potencial ofensivo, de competência do Juizado Especial Criminal. A pena máxima (dois anos) autoriza a incidência da transação penal e a utilização do rito sumaríssimo, nos termos da Lei 9.099/1995.
Na forma qualificada (§ 2.º), a violação de sigilo funcional é crime de elevado potencial ofensivo, incompatível com os benefícios da Lei 9.099/1995.
Classificação doutrinária
A violação de sigilo funcional é crime simples (ofende um único bem jurídico); de mão própria (somente pode ser cometido pelo funcionário público que tinha o dever de guardar a informação em segredo); formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado (consuma-se com a prática da conduta criminosa, independentemente do efetivo prejuízo à Administração Pública); de perigo concreto (no caput e nas figuras equiparadas do § 1.º) ou de dano (na qualificadora do § 2.º); de forma livre (admite qualquer meio de execução); em regra comissivo; instantâneo (consuma-se em um momento determinado, sem continuidade no tempo); unissubjetivo, unilateral ou de concurso eventual (normalmente praticado por um só agente, mas admite o concurso); e unissubsistente ou plurissubsistente.
Legislação penal especial
Revelação de informação sigilosa e Código Penal Militar
Nos termos do art. 144 do Decreto-lei 1.001/1969– Código Penal Militar:
Revelar notícia, informação ou documento, cujo sigilo seja de interesse da segurança externa do Brasil:
Pena – reclusão, de três a oito anos.
Fim da espionagem militar 1.º Se o fato é cometido com o fim de espionagem militar:
Pena – reclusão, de seis a doze anos.
Resultado mais grave
2.º Se o fato compromete a preparação ou a eficiência bélica do país:
Pena – reclusão, de dez a vinte anos.
Modalidade culposa
3.º Se a revelação é culposa:
Pena – detenção, de seis meses a dois anos, no caso do artigo; ou até quatro anos, nos casos dos §§ 1.º e 2.º.
Violação de sigilo e crimes contra o sistema financeiro nacional
A violação de sigilo de operação financeira caracteriza o crime definido no art. 18 da Lei 7.492/1986:
Violar sigilo de operação ou de serviço prestado por instituição financeira ou integrante do sistema de distribuição de títulos mobiliários de que tenha conhecimento, em razão de ofício:
Pena – Reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Violação de sigilo e Lei de Falências A violação de sigilo empresarial é prevista como crime pelo art. 169 da Lei 11.101/2005 – Lei de Falências:
Violar, explorar ou divulgar, sem justa causa, sigilo empresarial ou dados
confidenciais sobre operações ou serviços, contribuindo para a condução do devedor a estado de inviabilidade econômica ou financeira:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Violação de sigilo e Lei de Segurança Nacional
Na hipótese em que o segredo relevado diz respeito a interesses atinentes à Segurança Nacional, incidem os arts. 13, 14 e 21 da Lei 7.170/1983 – Crimes contra a Segurança Nacional:
Comunicar, entregar ou permitir a comunicação ou a entrega, a governo ou grupo estrangeiro, ou a organização ou grupo de existência ilegal, de dados, documentos ou cópias de documentos, planos, códigos, cifras ou assuntos que, no interesse do Estado brasileiro, são classificados como sigilosos.
Pena: reclusão, de 3 a 15 anos.
Parágrafo único – Incorre na mesma pena quem:
I – com o objetivo de realizar os atos previstos neste artigo, mantém serviço de espionagem ou dele participa;
II – com o mesmo objetivo, realiza atividade aerofotográfica ou de sensoreamento remoto, em qualquer parte do território nacional;
III – oculta ou presta auxílio a espião, sabendo-o tal, para subtraí-lo à ação da autoridade pública;
IV – obtém ou revela, para fim de espionagem, desenhos, projetos, fotografias, notícias ou informações a respeito de técnicas, de tecnologias, de componentes, de equipamentos, de instalações ou de sistemas de processamento automatizado de dados, em uso ou em desenvolvimento no País, que, reputados essenciais para a sua defesa, segurança ou economia, devem permanecer em segredo.
Facilitar, culposamente, a prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 12 e 13, e seus parágrafos.
Pena: detenção, de 1 a 5 anos.
Revelar segredo obtido em razão de cargo, emprego ou função pública, relativamente a planos, ações ou operações militares ou policiais contra rebeldes, insurretos ou revolucionários.
Pena: reclusão, de 2 a 10 anos.
Violação de sigilo e Lei de Licitações
Se o sigilo violado diz respeito a procedimento licitatório, aplica-se o art.
94 da Lei 8.666/1993 – Lei de Licitações:
Devassar o sigilo de proposta apresentada em procedimento licitatório, ou proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo:
Pena – detenção, de 2 (dois) a 3 (três) anos, e multa.
Quebra de segredo de justiça e interceptação de comunicações telefônicas
A quebra de segredo de justiça relativo à interceptação das comunicações telefônicas configura o crime descrito no art. 10 da Lei 9.296/1996:
Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática, ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei:
Pena: reclusão, de dois a quatro anos, e multa.
Transmissão ilícita de informações sigilosas e atividades nucleares
A transmissão ilícita de informações sigilosas ligadas à energia nuclear importa na prática do crime definido no art. 23 da Lei 6.453/1977:
Transmitir ilicitamente informações sigilosas, concernentes à energia nuclear:
Pena: reclusão, de quatro a oito anos.
Violação de sigilo bancário e Banco Central do Brasil
O sigilo bancário de instituições financeiras pode ser levantado diretamente pelo Banco Central do Brasil, no desempenho das suas funções de fiscalização e apuração de irregularidades, bem como pelas autoridades e agentes fazendários da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Em todas as demais situações, exige-se autorização judicial prévia, escrita e fundamentada. É o que se extrai da análise da Lei Complementar 105/2001, especialmente dos seus arts. 2.º, § 1.º, e 6.º.
No entanto, em qualquer hipótese, as informações são sigilosas. Consequentemente, se tais agentes públicos divulgarem a terceiros as informações obtidas, incidirão no crime tipificado no art. 10 da Lei Complementar 105/2001, cuja pena é de reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Violação de sigilo pelas autoridades fiscais dos Ministérios da Economia, Fazenda e Planejamento
A violação de sigilo funcional pela autoridade fiscal dos Ministérios da Economia, Fazenda ou Planejamento que procede ao exame de documentos, livros e registros das bolsas de valores, de mercadorias, de futuros e assemelhadas acarreta a incidência da Lei 8.021/1990, e seu art. 7.º, § 3.º, impõe a aplicação do art. 325 do Código Penal ao servidor que revelar as informações obtidas.
Violação do sigilo de proposta de concorrência
Art. 326 - Devassar o sigilo de proposta de concorrência pública, ou proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo:
Pena - Detenção, de três meses a um ano, e multa.
Revogação do art. 326 do Código Penal pelo art. 94 da Lei 8.666/1993.
O art. 326 do Código Penal foi tacitamente revogado pelo art. 94 da Lei 8.666/1993 – Lei de Licitações, cuja redação é a seguinte:
Devassar o sigilo de proposta apresentada em procedimento licitatório, ou proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo:
Pena – detenção, de 2 (dois) a 3 (três) anos, e multa.
Fica nítido que a lei posterior (Lei de Licitações) regulou de modo mais abrangente a matéria então disciplinada pela lei anterior (Código Penal), substituindo “concorrência pública”, uma das espécies de licitação, por “procedimento licitatório”. 
Consequentemente, restou revogado o art. 326 do Código Penal, pois, como estatui o art. 2.º, § 1.º, do Decreto-lei 4.657/1942 – Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro: “A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior”.
Funcionário público
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público. (Incluído pela Lei nº 6.799, de 1980)

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