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Art 313 a 315

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Peculato mediante erro de outrem
Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem:
       	Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
 
Introdução
O crime tipificado pelo art. 313 do Código Penal é também conhecido como “peculato estelionato”, porque consiste na captação indevida, por parte do funcionário público, de dinheiro ou qualquer outra utilidade mediante o aproveitamento ou manutenção do erro alheio.
Como a elementar “erro” também integra a definição do estelionato (CP,
art. 171), a doutrina convencionou chamar o crime em estudo de “peculato estelionato”, pois nele não há apropriação, desvio ou subtração, mas uma conduta ilícita do funcionário público calcada na falsa percepção da realidade (erro) apresentada pela vítima.
Entretanto, antes de assemelhar-se ao estelionato, o crime delineado no art. 313 do Código Penal mais se aproxima à apropriação de coisa havida por erro (CP, art. 169, caput, 1.ª parte). Como adverte Magalhães Noronha:
Costumam os autores dizer que a espécie é peculato-estelionato. Mesmo
entre nós, é comum a denominação.
Todavia, ela se compreende apenas pela aproximação da apropriação por erro do estelionato, porque a figura, agora em exame, é antes aquela: trata-se de apropriação por erro (1.ª parte do art. 169), qualificada pela qualidade do agente. Portanto, o “peculato estelionato” nada mais é, na verdade, do que uma
modalidade especial de apropriação de coisa havida por erro, diferenciada pelo sujeito ativo, ou seja, um funcionário público prevalecendo-se das facilidades proporcionadas pelo exercício da função pública.
Objetividade jurídica
O bem jurídico tutelado é a Administração Pública, em sua dupla vertente: patrimonial (proteção do erário) e moral (lealdade e probidade dos agentes públicos).
Objeto material
É o dinheiro ou qualquer outra utilidade. Dinheiro é a moeda metálica ou o papel moeda circulante no País ou no exterior.
Entretanto, o Código Penal foi além. Ao contrário do que determinou em seu art. 312, objeto material do peculato mediante erro de outrem não é somente o dinheiro, valor ou bem móvel, mas “qualquer utilidade”. Esta expressão, em primeira análise, deixa a equivocada impressão de que toda vantagem, inclusive a de natureza moral, autoriza a caracterização do delito.
No peculato mediante erro de outrem, assim como em qualquer modalidade de peculato, a natureza patrimonial do objeto material é inafastável. A palavra “utilidade”, portanto, deve ser compreendida como “utilidade econômica”, ou seja, tudo quanto serve para uso, consumo ou proveito econômico ou avaliável em dinheiro.
Em suma, o Código Penal socorreu-se, mais uma vez, da interpretação
 proveito material ao funcionário público.
Núcleo do tipo
O núcleo do tipo é “apropriar-se”, ou seja, comportar-se em relação à coisa como se fosse seu legítimo proprietário (animus domini). O funcionário público passa a agir como dono do objeto material, praticando algum ato que somente a este competia (exemplos: alienação, retenção, disposição ou destruição do bem).
No peculato mediante erro de outrem, o funcionário público, assim como no peculato apropriação (CP, art. 312, caput, 1.ª parte), apropria-se da coisa valendo-se das facilidades proporcionadas pelo exercício do seu cargo. 
Ressalte-se, é imprescindível o recebimento do bem pelo funcionário público no exercício do cargo. Ausente esta elementar, o crime será outro, mais
especificamente o de apropriação de coisa havida por erro (CP, art. 169, caput, 1.ª parte).
Vejamos um exemplo: “A” entrega a “B”, seu vizinho e funcionário público,
uma determinada quantia em dinheiro, solicitando-lhe os préstimos no sentido de efetuar o pagamento de uma taxa municipal de igual montante na repartição pública em que trabalha. “B” procede ao pagamento do tributo, de valor inferior àquele imaginado por “A”, e apropria-se do restante. Como o dinheiro não foi recebido por “B” no exercício do cargo, a ele será imputado o crime de apropriação de coisa havida por erro, e não peculato mediante erro de outrem.
Embora os delitos de peculato apropriação e peculato mediante erro de outrem apresentam pontos em comum, visualiza-se neste último uma relevante
diferença. A posse do bem pelo funcionário público emana do erro de outrem, isto é, da falsa percepção da vítima acerca de algo. Exemplo: “A” dirige-se a uma repartição pública e entrega a “B”, funcionário municipal, uma determinada quantia em dinheiro a título de pagamento de tributos supostamente atrasados. 
Nesse instante, “B” percebe que a dívida já havia sido paga, mas silencia e apropria-se do valor.
O erro da pessoa que entrega o dinheiro ou qualquer outra utilidade (vítima) deve ser espontâneo, pouco importando qual a sua causa (desatenção, confusão etc.); se dolosamente provocado pelo funcionário público, estará configurado o crime de estelionato (CP, art. 171).
Exemplo: Um fiscal fazendário fraudulentamente diz ao contribuinte que ele tem que pagar imediatamente uma determinada quantia em dinheiro, correspondente a impostos pretéritos, sob pena de imposição de elevada multa. 
A vítima efetua o pagamento e, em seguida, o fiscal apropria-se dos valores. A ele será imputado o delito de estelionato.
O erro em que incidiu a vítima pode dizer respeito:
(a) à coisa entregue ao funcionário público (exemplo: no cumprimento da pena de prestação de serviços à comunidade, o condenado entrega uma televisão de LCD, em vez de uma televisão comum);
(b) à quantidade da coisa a entregar ao funcionário público, que se apropria do excesso (exemplo: também no cumprimento de uma pena restritiva de direitos, o condenado entrega ao hospital 100 sacas de arroz, e não 90, mas seu diretor leva para sua casa as 10 sacas remanescentes);
(c) à obrigação que originou a entrega (exemplo: a vítima acredita erroneamente encontrar-se em débito com o Fisco, razão pela qual entrega ao fiscal determinada quantia em dinheiro, que desta se apropria; e (d) aos poderes do funcionário público para receber o bem (exemplo: a vítima efetua o pagamento de uma taxa em repartição pública diversa da correta, mas o agente que lá trabalha se apropria do dinheiro).
Finalmente, pode acontecer de o próprio funcionário público incidir em erro, tal como quando acredita possuir atribuições para receber determinado pagamento em dinheiro, quando na verdade não as tem. Nesse caso, ausente o dolo, não há falar em peculato mediante erro de outrem. Entretanto, se ele posteriormente constatar seu equívoco e, nada obstante, deixar de prontamente restituir a coisa ao seu titular, estará caracterizado o crime previsto no art. 313 do Código Penal.
Sujeito ativo
O peculato mediante erro de outrem somente pode ser praticado por funcionário público (crime próprio ou especial). A lei não o menciona expressamente, pois esta referência constituiria manifesta redundância, seja porque o tipo penal fala em “exercício do cargo”, seja pelo seu nomen iuris(peculato), seja, finalmente, pelo local em que se encontra capitulado o delito
(“crimes praticados por funcionário público”). Nada impede, porém, o concurso de pessoas (coautoria ou participação) com um particular.
Vejamos o exemplo de Magalhães Noronha:
Se um funcionário, por um equívoco, recebe determinada quantia de um contribuinte e pensa restituí-la, no que, entretanto, é desaconselhado por um amigo – não funcionário –, acabando por dividirem entre si o dinheiro, há coautoria. O fato é uno e o particular foi causa também. Atente-se a que o delito
não consiste em receber, mas em apropriar-se. Não se poderia pensar em punir o particular com as suaves penas do art. 169.90
Sujeito passivo
É o Estado, bem como quem sofre a lesão patrimonial, que pode ser um funcionário público (intraneus) ou um particular (extraneus).
Elemento subjetivo
É o dolo. Fala-se, aqui, em dolo superveniente, pois surge após o bem 
se encontrar na posse do funcionário público.
Não se admite a modalidade culposa.
Consumação
O peculato mediante erro de outremé crime material ou causal: consuma-se com a apropriação, isto é, no instante que o funcionário público, depois de ter recebido ou dinheiro ou utilidade econômica mediante o erro de outrem, passa a agir em relação ao bem como se fosse seu legítimo proprietário, dele dispondo, destruindo-o, alienando-o etc.
Tentativa
É possível, em face do caráter plurissubsistente do delito, permitindo o fracionamento do iter criminis.
Exemplo: Após receber por erro, para registrar, uma carta com valor, o funcionário postal, não competente para tal registro, é surpreendido no momento
em que está violando a carta.
Ação penal
A ação penal é pública incondicionada.
Lei 9.099/1995
A pena do peculato mediante erro de outrem é de reclusão, de um a quatro anos, e multa. Trata-se, em face da pena mínima cominada, de crime de médio potencial ofensivo, compatível com a suspensão condicional do processo, desde que presentes os demais requisitos exigidos pelo art. 89 da Lei 9.099/1995.
Classificação doutrinária
O peculato mediante erro de outrem é crime simples (atinge um único bem jurídico); próprio (o sujeito ativo tem que ser funcionário público); material
(o tipo contém conduta e resultado naturalístico, exigindo este último para a consumação); de dano (reclama a efetiva lesão do bem jurídico); de forma livre (admite qualquer meio de execução); em regra comissivo; instantâneo (consuma-se em momento determinado, sem continuidade no tempo); normalmente unissubjetivo, unilateral ou de concurso eventual (praticado por uma única pessoa, mas admite concurso); e geralmente plurissubsistente (a conduta pode ser fracionada em diversos atos).
Inserção de dados falsos em sistema de informações
Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000))
        	Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 
Introdução
Este crime, conhecido como “peculato eletrônico”, foi introduzido no Código Penal pela Lei 9.983/2000. A denominação atribuída ao delito pelo Projeto de Lei encaminhado ao Congresso Nacional se deve a duas razões:
(a) cuida-se de crime funcional, cujas penas são as mesmas cominadas ao peculato em seu tipo primário (CP, art. 312); e
(b) a conduta diz respeito à atuação do funcionário público que insere dados falsos, altera ou exclui indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública, revelando a ligação deste crime com meios eletrônicos ou automatizados.
O objetivo inicial da Lei 9.983/2000era tutelar a Previdência Social. Em verdade, o citado diploma legal foi responsável pela inserção no Código Penal de diversos crimes com conteúdo previdenciário, a exemplo da apropriação indébita previdenciária (art. 168-A), de algumas modalidades de falsificação de documento particular (art. 297, § 3.º) e da sonegação de contribuição previdenciária (art. 337- A). No entanto, o tipo penal foi ampliado, de modo a estender a proteção para os bancos de dados e sistemas informatizados da Administração Pública em geral.
Objetividade jurídica
O bem jurídico tutelado pelo art. 313-A do Código Penal é a Administração Pública, no tocante à regularidade dos seus sistemas informatizados ou bancos de dados.
Objeto material
São os dados, falsos ou corretos, integrantes dos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública.
Dados são informações (verdadeiras ou falsas) relativas à representação convencional de fatos, conceitos ou instruções de forma adequada para armazenamento, processamento e comunicação por meios automáticos.
Devem compor os sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública.
Núcleos do tipo
O art. 313-A do Código Penal, delineado em um tipo misto alternativo, crime de ação múltipla ou de conteúdo variado, contém quatro núcleos: (a) inserir; (b) facilitar a inserção; (c) alterar; e (d) excluir.
Inserir é introduzir, incluir, colocar algo em determinado local. Facilitar a
inserção equivale a colaborar com alguém na atividade de inserir. Estes dois comportamentos referem-se a dados falsos, no sentido de carregar os bancos de dados ou sistemas informatizados da Administração Pública com informações incompatíveis com a realidade.
Por sua vez, alterar significa modificar ou mudar, enquanto excluir é eliminar, remover, ou, na linguagem popularizada entre os usuários de aparelhos de informática, “deletar”.
	Ambos os comportamentos dizem respeito a dados corretos atinentes aos bancos de dados ou sistemas informatizados da Administração Pública.
	Em relação aos dois últimos núcleos – “alterar” e “excluir” –, o tipo penal
reclama a presença de um elemento normativo. De fato, a alteração ou exclusão devem ser realizadas “indevidamente”, isto é, em contrariedade com lei ou ato administrativo aplicável à espécie.
	Destarte, não há crime quando a conduta é devida, ainda que cause prejuízo à Administração Pública.
	Todos os núcleos relacionam-se a sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública.
	Banco de dados é o depósito de conjuntos de dados inter-relacionados
entre si. Trata-se de compilação abrangente e organizada de informes armazenados em um meio físico, com o objetivo de evitar ou minimizar duplicidade de informação, otimizar a eficácia de seu tratamento, permitindo o acesso, por diversas formas, a uma grande variedade de informações. No contexto do art. 313-A do Código Penal, o banco de dados tem por finalidade servir de fonte de consulta acerca dos dados relacionados à Administração Pública.
	Sistemas informatizados são um conjunto de elementos materiais ou não, coordenados entre si, formando uma estrutura organizada, um sistema com o qual se armazenam e transmitem-se dados mediante a utilização de computadores. Destarte, o sistema informatizado, que é peculiar de equipamentos de informática, pode também abrigar um banco de dados de igual teor.
	A diferença entre sistema informatizado e banco de dados é que aquele sempre se relaciona aos computadores, enquanto este pode ter como base arquivos, fichas ou papéis que não estejam ligados à informática.
	Sujeito ativo
	Cuida-se de crime próprio ou especial, pois somente pode ser cometido pelo “funcionário autorizado”.
	Não basta ser funcionário público. É preciso ser também “autorizado”, ou
seja, ter acesso a uma área restrita, vedada a outros funcionários e ao público em geral, mediante a utilização de senha ou outro mecanismo de proteção análogo.
	
	Nada impede, entretanto, o concurso de pessoas entre o funcionário autorizado e outro funcionário público (sem autorização) ou um particular. Se presente a união de desígnios para a realização da conduta ilícita, todos responderão pelo crime tipificado no art. 313-A do Código Penal, como corolário da teoria unitária ou monista consagrada no art. 29, caput, do Código Penal.
	Sujeito passivo
	É o Estado e, secundariamente, a pessoa física ou jurídica prejudicada pela conduta criminosa.
	Elemento subjetivo
	É o dolo, acrescido de um especial fim de agir (elemento subjetivo específico, elemento subjetivo do tipo ou elemento subjetivo do injusto, no finalismo penal, ou dolo específico, na visão da teoria clássica) representado pela expressão “com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano”.
	Não se admite a forma culposa.
	Consumação
	A redação do art. 313-A do Código Penal autoriza a conclusão no sentido de tratar-se de crime formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado. O tipo penal contém resultados naturalísticos (vantagem indevida e dano a outrem) prescindíveis para fins de consumação.
	O delito se consuma no instante em que o sujeito ativo realiza a conduta legalmente prevista, isto é, com o ato de inserir ou facilitar a inserção de dados falsos por terceirapessoa, ou alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública, com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano. É suficiente a prática da conduta criminosa com a intenção de alcançar a
finalidade específica, ainda que esta não se concretize.
	Cuida-se de crime instantâneo. Em sintonia com a orientação do Superior Tribunal de Justiça: “O crime de inserção de dados falsos em sistema de informações possui natureza instantânea, não havendo, nem mesmo teoricamente, meios de considerá-lo permanente”.
	Não há necessidade de esgotamento de procedimento administrativo concluindo pela inserção, alteração ou exclusão dos dados.
	Tentativa
	É possível, nas situações em que o agente tenta praticar a conduta descrita em lei, não conseguindo fazê-la por circunstâncias alheias à sua vontade. O crime é plurissubsistente, razão pela qual o iter criminis pode ser fracionado durante sua execução.
	Exemplificativamente, estará caracterizado o conatus quando o funcionário público autorizado é surpreendido iniciando a alteração indevida de dados corretos em sistema informatizado da Administração Pública, sem conseguir encerrar a configuração ou formatação almejada.
	Ação penal
	A ação penal é pública incondicionada.
	Lei 9.099/1995
	Em face da pena mínima cominada ao delito em apreço (dois anos), não há espaço para incidência dos benefícios previstos na Lei 9.099/1995. Cuida-se d e crime de elevado potencial ofensivo.
	Classificação doutrinária
	O crime de inserção de dados falsos em sistema de informações é simples (atinge um único bem jurídico); próprio (o sujeito ativo tem que ser funcionário público autorizado); formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado (o tipo contém conduta e resultado naturalístico, dispensando este último – vantagem indevida ou dano a outrem – para a consumação); de dano (reclama a efetiva lesão do bem jurídico); de forma livre (admite qualquer meio de execução); em regra comissivo; instantâneo (consuma-se em momento determinado, sem continuidade no tempo); unissubjetivo, unilateral ou de concurso eventual (praticado por uma só pessoa, mas admite concurso); e normalmente plurissubsistente (a conduta pode ser fracionada em diversos atos).
	Competência
	O crime tipificado no art. 313-A do Código Penal é, em regra, de competência da Justiça Estadual, ainda que cometido por militar. Para o Superior Tribunal de Justiça:
	Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar policial militar acusado de alterar dados corretos em sistemas informatizados e bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si e para outrem (art. 313-A do CP). A competência da Justiça Militar não é firmada pela condição pessoal do infrator, mas decorre da natureza militar da infração. No caso, a ação delituosa não encontra figura correlata no Código Penal Militar e, apesar de ter sido praticada por militar, não se enquadra em nenhuma das hipóteses previstas no art. 9.º do CPM.
	Contudo, será competente a Justiça Federal quando o delito for cometido em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas (CF, art. 109, inc. IV).
	Peculato eletrônico e crime eleitoral
	O art. 72 da Lei 9.504/1997 contempla um crime especial em relação ao delito descrito no art. 313-A do Código Penal. Sua redação é a seguinte:
	Constituem crimes, puníveis com reclusão, de cinco a dez anos:
	I – obter acesso a sistema de tratamento automático de dados usado pelo serviço eleitoral, a fim de alterar a apuração ou a contagem de votos;
	II – desenvolver ou introduzir comando, instrução, ou programa de computador capaz de destruir, apagar, eliminar, alterar, gravar ou transmitir dado, instrução ou programa ou provocar qualquer outro resultado diverso do esperado em sistema de tratamento automático de dados usados pelo serviço
eleitoral;
	III – causar, propositadamente, dano físico ao equipamento usado na votação ou na totalização de votos ou a suas partes.
	Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações
	Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
	Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
	Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado. 
	Este crime, igualmente conhecido como peculato eletrônico, também foi introduzido no Código Penal pela Lei 9.983/2000.
	Objetividade jurídica
	O art. 313-B do Código Penal protege a Administração Pública, notadamente no que diz respeito à integridade dos seus sistemas de informações e programas de informática.
	Objeto material
	O tipo penal contém dois objetos materiais, a saber: 
	(a) sistema de informações; e 
	(b) programa de informática.
	Sistema de informações é o complexo de elementos físicos agrupados e estruturados destinados ao fornecimento de dados ou orientações sobre alguma pessoa ou coisa.
	Programa de informática (ou programa de computador) é o software.
	Nessa hipótese, o crime definido pelo art. 313-B do Código Penal encontra-se disciplinado em uma lei penal em branco homogênea, pois o conceito de programa de computador é fornecido pelo art. 1.º da Lei 9.609/1998:
	Programa de computador é a expressão de um conjunto organizado de instruções em linguagem natural ou codificada, contida em suporte físico de qualquer natureza, de emprego necessário em máquinas automáticas de tratamento da informação, dispositivos, instrumentos ou equipamentos periféricos, baseados em técnica digital ou análoga, para fazê-los funcionar de modo e para fins determinados.
	Núcleos do tipo
	O art. 313-B do Código Penal possui dois núcleos: “modificar” e “alterar”.
Estes verbos, embora semelhantes, possuem significados diversos no âmbito do crime em análise.
	De fato, modificar consiste em transformar alguma coisa, nela imprimindo uma nova forma. Alterar, por sua vez, equivale a decompor o estado inicial de algo.
	
 	A primeira conduta (“modificar”) importa na atribuição de estrutura diversa ao sistema de informações ou programa de informática; na conduta de “alterar”, por sua vez, é preservado o sistema de informações ou o programa de informática, operando-se uma desnaturação em sua forma original.
	Luiz Regis Prado, com propriedade, leciona: Nada obstante os dicionários apontem tais palavras como sinônimas, denotando um sentido de mudança, observa-se que, no sentido do texto, a ação de modificar expressa uma transformação radical no programa ou no sistema de informações, enquanto na alteração, embora também se concretize uma mudança no programa, ela não chega a desnaturá-lo totalmente.
	Cuida-se de tipo misto alternativo, crime de ação múltipla ou de conteúdo variado. A lei descreve dois núcleos, e a realização de ambos, no tocante ao mesmo objeto material e no mesmo contexto fático, caracteriza um único delito.
	Elemento normativo do tipo
	A modificação ou alteração do sistema de informações ou programa de informática, para caracterização do crime definido no art. 313-B do Código Penal, deve ser realizada “sem autorização ou solicitação de autoridade competente”, ou seja, do funcionário público legalmente investido das atribuições para permiti-la (“autorização”) ou pleiteá-la (“solicitação”).
	O fato é atípico, portanto, quando o funcionário público efetua a modificação ou alteração atendendo à autorização ou solicitação da autoridade
competente.
	Sujeito ativo
	Trata-se de crime próprio ou especial, pois somente pode ser cometido por funcionário público, qualquer que seja ele, pois neste delito o legislador não se valeu da mesma técnica utilizada no art. 313-A do Código Penal, no qual fala em “funcionário autorizado”. É suficiente, portanto, a condição de funcionáriopúblico, pouco importando sua categoria ou posição hierárquica no âmbito da Administração Pública.
	Sujeito passivo
	É o Estado e, secundariamente, a pessoa física ou jurídica lesada pela conduta criminosa.
	Elemento subjetivo
	É o dolo, independentemente de qualquer finalidade específica. 
Não se admite a modalidade culposa.
	Consumação
	Dá-se com a efetiva modificação ou alteração do sistema de informações ou programa de informática pelo funcionário público. O crime é formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado, haja vista seu aperfeiçoamento com a realização da conduta legalmente descrita, sem necessidade de lesão para a Administração Pública ou para qualquer outra pessoa. Esta conclusão fica ainda mais nítida com a breve leitura do parágrafo único do art. 313-B do Código Penal: “As penas são aumentadas de um terço até a metade se da modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado”.
	Tentativa
	É possível, em face do caráter plurissubsistente do delito, permitindo o fracionamento do iter criminis.
	Exemplo: “A”, funcionário público, é surpreendido por seu superior hierárquico, e preso em flagrante, no instante em que iniciava a modificação de um relevante software da repartição pública em que estava lotado.
	Ação penal
	A ação penal é pública incondicionada.
	Lei 9.099/1995
	O crime de modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações constitui-se em infração penal de menor potencial ofensivo, em
face da pena máxima cominada, qual seja dois anos. Destarte, é de competência do Juizado Especial Criminal, e compatível com a transação penal e o rito sumaríssimo, em sintonia com as disposições da Lei 9.099/1995.
	Causa de aumento de pena: 
	Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado.
O crime tipificado no art. 313-B é formal. 
Contudo, a superveniência do resultado naturalístico não é irrelevante, pois a concretização do dano em face da Administração Pública ou de outra pessoa qualquer acarreta a maior gravidade do fato praticado. Com efeito, estabelece o parágrafo único do dispositivo legal em análise que “as penas são aumentadas de um terço até metade se da modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado”.
	Esta causa de aumento de pena representa, na verdade, o exaurimento do crime. O dano à Administração Pública ou a um terceiro pode ser material ou moral, e conduz ao aumento tanto da pena privativa de liberdade como da pena pecuniária.
	Classificação doutrinária
	O crime de modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações é simples (atinge um único bem jurídico); próprio (somente pode ser cometido por funcionário público); formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado (consuma-se com a realização da conduta criminosa, mas a superveniência do resultado naturalístico – dano à Administração Pública ou ao administrado configura uma causa de aumento da pena); de dano (reclama a efetiva lesão do bem jurídico); de forma livre (admite qualquer meio de execução); em regra comissivo; instantâneo (consuma-se em momento determinado, sem continuidade no tempo); unissubjetivo, unilateral ou de concurso eventual (praticado por uma só pessoa, mas admite concurso); e normalmente plurissubsistente (a conduta pode ser fracionada em diversos atos).
	Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento
	 Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente:
	Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave.
	Objetividade jurídica
	Tutela-se a Administração Pública, nos âmbitos patrimonial e moral.
	Objeto material
	É o livro oficial ou documento.
	Livro oficial é o criado por lei para o registro de anotações pertinentes à
Administração Pública. Como esclarece Fernando Henrique Mendes de Almeida:
	Os livros oficiais de que fala a lei são: 
	(a) todos aqueles que, pelas leis e regulamentos são guardados em arquivos da Administração Pública com a nota de que assim se devem considerar; 
	(b) todos os que, embora aparentemente possam conter fatos que, a juízo do funcionário que os guarda, não apresentam a característica de oficialidade, lhe são confiados como se a tivessem.
	Documento é qualquer escrito, instrumento ou papel, público ou particular (CPP, art. 232, caput). No contexto do tipo penal, o documento também há de ser oficial. Em regra será público, mas também poderá ser particular, desde que conste de arquivo da Administração Pública, em trânsito ou definitivamente.
	Para que o livro oficial ou documento (público ou particular) seja idôneo a funcionar como objeto material do crime previsto no art. 314 do Código Penal, basta que, de qualquer modo, afete o interesse administrativo ou de qualquer serviço público, ainda que de particulares, mesmo que represente simples valor histórico ou sirva apenas a expediente burocrático.
	Sonegação de papel ou objeto de valor probatório
	Se o objeto material constituir-se em autos judiciais ou documento de valor probatório, e sua inutilização for praticada por advogado ou procurador que os receba nesta qualidade, estará caracterizado o crime de sonegação de papel ou objeto de valor probatório, nos termos do art. 356 do Código Penal.
	O citado delito diferencia-se do extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento por duas razões:
	(a) aquele é crime contra a Administração da Justiça, podendo ser cometido por advogado ou procurador, ao passo que este ingressa no rol do crimes praticados por funcionário público contra a Administração em geral, motivo pelo qual deve ter como sujeito ativo o funcionário público responsável, em razão do cargo, pela guarda do livro oficial ou documento; e
	(b) diversidade de objeto material: o crime do art. 356 é específico, referindo-se a autos, documento ou objeto de valor probatório, enquanto o do art. 314 contenta-se com livro oficial ou qualquer outro documento.
	Núcleos do tipo
	O art. 314 contém três núcleos: “extraviar”, “sonegar” e “inutilizar”.
	Extraviar é fazer com que algo não chegue ao seu real destino. Sonegar significa ocultar ou esconder. Inutilizar, por sua vez, equivale a tornar imprestável, total ou parcialmente.
	Cuida-se de tipo misto alternativo, crime de ação múltipla ou de conteúdo variado, de modo que a prática de duas ou mais condutas, no mesmo contexto fático e contra o mesmo bem jurídico, caracteriza um único crime. É o que se dá, a título ilustrativo, quando o funcionário público esconde (sonega) e posteriormente destrói (inutiliza) totalmente um livro oficial de que tinha a guarda em razão do cargo.
	Sujeito ativo
	O crime é próprio ou especial, pois somente pode ser cometido por funcionário público. Anote-se, também, a insuficiência da condição funcional.
	Com efeito, deve tratar-se do funcionário público que tem a guarda do livro oficial ou do documento “em razão do cargo” (ratione officii), isto é, entre suas atribuições há de constar este mister.
	Destarte, se a conduta de extraviar livro oficial ou documento, ou então sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente, for realizada por um particular, ou ainda por um funcionário público que não seja responsável, em razão do cargo, pela sua guarda, a ele será imputado o crime de subtração ou inutilização de livro ou documento, na forma do art. 337 do Código Penal.
	Sujeito passivo
	É o Estado e, secundariamente, a pessoa física ou jurídica prejudicada pela conduta criminosa.
	Elemento subjetivo
	É o dolo, independentemente de qualquer finalidade específica. Não se admite a modalidade culposa.
	
	Consumação
	Cuida-se de crime formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado. Consuma-se no instante em que o sujeito extravia livro oficial ou documento, de que tem a posse em razão do cargo, ou quandoos sonega ou inutiliza, total ou parcialmente, pouco importando se resulta, ou não, efetivo prejuízo à Administração Pública.
	Tentativa
	É possível, em face do caráter plurissubsistente do delito, permitindo o fracionamento do iter criminis.
	Exemplo: “A”, funcionário público responsável pela guarda de um documento público de valor histórico, coloca-o no lixo, visando seu posterior recolhimento e destruição. Entretanto, “B” percebe sua conduta e recupera o documento, entregando-o ao superior hierárquico de “A”.
	Note-se, contudo, que a simples inutilização parcial de livro oficial ou documento, por expressa disposição legal, leva à consumação do delito.
	Ação penal
	A ação penal é pública incondicionada.
	Lei 9.099/1995
	A pena mínima cominada é de um ano. Trata-se, portanto, de crime de médio potencial ofensivo, compatível com a suspensão condicional do processo, se presentes os demais requisitos exigidos pelo art. 89 da Lei 9.099/1995.
	Subsidiariedade expressa e distinção com a supressão de documento 
	O crime em análise é expressamente subsidiário, como se extrai da expressão “se o fato não constitui crime mais grave”. Exemplificativamente, o crime definido no art. 314 do Código Penal cede espaço para o delito previsto no art. 305 do Código Penal, cuja pena é mais grave, quando a conduta objetiva a supressão de um documento, atuando o agente com a finalidade de frustrar a pé pública, fazendo desaparecer, em benefício próprio ou de terceiro, a prova documental atinente a determinado fato juridicamente relevante.
	Esta subsidiariedade, é válido enfatizar, não exclui a incidência do princípio da especialidade, se constatado o conflito aparente de leis penais. Nesse sentido, a conduta de “extraviar livro oficial, processo fiscal ou qualquer documento, de que tenha a guarda em razão da função; sonegá-lo, ou inutilizá-lo, total ou parcialmente, acarretando pagamento indevido ou inexato de tributo ou contribuição social”, configura o crime previsto no art. 3.º, inc. I, da Lei 8.137/1990, afastando o crime tipificado no art. 314 do Código Penal.
	Classificação doutrinária
	O extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento é crime simples (ofende um único bem jurídico); próprio (somente pode ser cometido pelo funcionário público que tem a guarda do livro oficial ou documento em razão do cargo); formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado (consuma-se com a realização da conduta criminosa, sendo prescindível a produção do resultado naturalístico); de dano (depende da efetiva lesão do bem jurídico); de forma livre (admite qualquer meio de execução); em regra comissivo; in tempo); unissubjetivo, unilateral ou de concurso eventual (praticado por um só agente, mas admite o concurso); e normalmente plurissubsistente (a conduta pode ser fracionada em diversos atos).
	Emprego irregular de verbas ou rendas públicas
	Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei:
	Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
	Conceito
	Em uma análise apressada, o crime tipificado no art. 315 do Código Penal mostra-se semelhante ao peculato doloso, na modalidade desvio (CP, art. 312 , caput, parte final). Nos dois delitos, o funcionário público (ambos os crimes são próprios) desvia um bem móvel pertencente à Administração Pública, conferindo-lhe destinação diversa da legalmente prevista.
	Entretanto, as diferenças entre os crimes são nítidas. No peculato o funcionário público desvia o dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel em proveito próprio ou alheio, ou seja, age para satisfazer interesses particulares.
	Exemplo: O secretário estadual de obras desvia para sua conta bancária valores destinados à construção de uma creche.
	No emprego irregular de verbas ou rendas públicas, de outro lado, o funcionário público também desvia valores públicos, mas em prol da própria Administração Pública, isto é, o sujeito ativo não visa locupletar-se ou a
outrem, em detrimento do erário.
	Exemplo: O mencionado secretário utiliza os valores reservados à construção da creche na reforma de um hospital público.
	Esta é a razão pela qual o legislador cominou ao delito definido no art. 315 do Código Penal uma pena (detenção, de um a três meses, ou multa) sensivelmente inferior à sanção penal atribuída ao peculato doloso (reclusão, de dois a doze anos, e multa).
	Observe-se que, na hipótese em que os valores são desviados em benefício da Administração Pública, o delito será o de emprego irregular de verbas ou rendas públicas, ainda que o funcionário público venha a ser indiretamente favorecido pela conduta criminosa.
	Exemplo: O Governador se utiliza da verba destinada à construção de uma escola pública para aplicá-la na construção de uma praça defronte sua residência, valorizando-a. Nada impede, contudo, a responsabilização do agente público pelo ato de improbidade administrativa praticado, nos termos da Lei 8.429/1992.
	Objetividade jurídica
	O bem jurídico penalmente tutelado é a Administração Pública, no tocante à regularidade da aplicação dos recursos públicos em conformidade com a destinação legal prévia. Como destaca Julio Fabbrini Mirabete:
	Embora o fato possa não causar dano patrimonial, é inegável que o emprego irregular de verbas e rendas públicas causa dano à regularidade administrativa.
	Visa o referido preceito impedir o arbítrio administrativo no tocante à discriminação das verbas, rendas e respectivas aplicações, sem a qual haveria a anarquia nas finanças públicas, não se cogitando do prejuízo resultante do seu emprego irregular.
	Objeto material
	São as verbas públicas e as rendas públicas.
	Verbas públicas são os valores especificamente destinados pela lei orçamentária a determinado serviço público ou atividade de interesse público. Rendas públicas, por sua vez, são os valores pertencentes à Fazenda Pública ou por ela arrecadados, seja qual for sua origem legal.
	Ainda que as verbas ou rendas públicas apresentem superávit, este tem
que ser recolhido aos cofres públicos, não podendo ser empregado pelo funcionário público sem expressa previsão legal. Com efeito, em um Estado Democrático de Direito o administrador público deve integral e irrestrita obediência ao princípio da legalidade.
	Núcleo do tipo
	O núcleo do tipo está representado pelo verbo “dar” que, no contexto do crime em apreço, significa empregar ou utilizar verbas ou rendas públicas em finalidade diversa da estabelecida em lei.
	A parte final do tipo penal (“estabelecida em lei”) deixa evidente a necessidade de complementação do preceito primário do art. 315 do Código Penal por outra lei. Trata-se, portanto, de norma penal em branco homogênea o u lato sensu. É preciso analisar a lei que confere às verbas ou rendas públicas uma finalidade específica, para só então concluir pelo emprego dos valores em destinação diversa.
	A palavra “lei” há de ser interpretada em sentido estrito, abrangendo somente as leis ordinárias e complementares, além, é claro, da própria Constituição Federal, por servir de fundamento de validade para a legislação em geral. Destarte, não há crime de emprego irregular de verbas ou rendas públicas quando o funcionário público desvia, em favor da própria Administração Pública, valores com finalidade especificada em decreto.
	Como já decidido pelo Supremo Tribunal Federal:
	A norma do art. 315 do Código Penal não pune irregularidades administrativas, mas o comportamento do administrador que desvia numerário de meta especificada em lei – requisito que não se materializa nos casos em que o orçamento da pessoa de direito público é aprovado não por lei, mas por decreto do próprio Executivo.
	Sujeito ativo
	Cuida-se de crime próprio ou especial, pois somente pode ser praticado por funcionário público. E mais. É imprescindível tenha ele o poder de gestão relativamente às verbas ou rendas públicas, assumindo a responsabilidade pelo seu emprego em harmonia com as imposições legais, tal
como se dá com o Presidente da Repúblicae Ministros de Estado, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal e respectivos Secretários etc.
	No tocante aos Prefeitos, não incide o delito tipificado no art. 315 do Código Penal. Há crime específico, punido com detenção, de três meses a três anos, insculpido no art. 1.º, inc. III, do Decreto-lei 201/1967: “Art. 1.º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipais, sujeitos ao julgamento do Poder Judiciário, independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores: (…) III – desviar, ou aplicar indevidamente, rendas ou verbas públicas”.
	Os responsáveis pela administração de verbas e rendas públicas em entidades paraestatais também podem figurar como sujeitos ativos do crime em análise, com esteio no art. 327, §§ 1.º e 2.º, do Código Penal.
	Sujeito passivo
	É o Estado e, secundariamente, a pessoa física ou jurídica prejudicada pela conduta criminosa.
	Elemento subjetivo
	É o dolo, independentemente de qualquer finalidade específica. De fato, pouco importa se a finalidade que levou ao emprego irregular das verbas públicas era justa ou não, pois um dos vetores da atuação de qualquer agente público é o princípio da legalidade, a teor do art. 37, caput, da Constituição Federal. Nos ensinamentos de Fernando Henrique Mendes de Almeida:
	De notar que, no crime do art. 315, não importa dizer que o emprego irregular de verba ou renda foi “justo”, pois justiça não pode aplicar-se contra texto expresso de lei, ainda que efetivamente injusto e iníquo. Outrossim, não importa demonstrar que o emprego irregular de verba ou renda pública obedeceu a propósitos honestos e teve também fins honestos. A lei positiva por que se deve reger a ordem jurídica somente coincide com o princípio de moral, quando o legislador o encampa.
	Não se admite a modalidade culposa.
	Emprego irregular de verbas ou rendas públicas e estado de necessidade
	Embora o fato seja típico, não há crime, por ausência de ilicitude, quando presente o estado de necessidade (CP, arts. 23, inc. I, e 24). Exemplo: 
	
	O Governador de um Estado profundamente prejudicado pelas chuvas, mesmo não autorizado pelo Poder Legislativo por falta de tempo hábil para tanto, deixa de reformar um estádio de futebol, utilizando as verbas públicas respectivas no socorro às vítimas de um deslizamento de terras.
	Consumação
	O crime é material ou causal: consuma-se com a efetiva aplicação das verbas ou rendas públicas em finalidade diversa da legalmente prevista. É irrelevante, todavia, a efetiva comprovação de prejuízo aos interesses da Administração Pública, o qual se presume como consectário da violação do princípio da legalidade.
	Tentativa
	É possível, em face do caráter plurissubsistente do delito, permitindo o fracionamento do iter criminis.
	Exemplo: Um Secretário de Estado desvia as verbas reservadas à reforma de um hospital público para utilizá-las na construção de uma ponte. 
	
	Entretanto, o Tribunal de Contas percebe a manobra e impede a consumação do delito.
	Ação penal
	A ação penal é pública incondicionada.
	Lei 9.099/1995
	O emprego irregular de verbas públicas constitui-se em infração penal de menor potencial ofensivo, de competência do Juizado Especial Criminal, pois o máximo da pena privativa de liberdade cominada é inferior a dois anos. 
	
	É cabível, portanto, a transação penal, e seu processo e julgamento submetem-se ao rito sumaríssimo, nos moldes da Lei 9.099/1995.
	Classificação doutrinária
	O emprego irregular de verbas ou rendas públicas é crime simples (ofende um único bem jurídico); próprio (somente pode ser cometido pelo funcionário público que tem a gestão das verbas ou rendas públicas); material (consuma-se com a produção do resultado naturalístico, consistente no efetivo desvio, em prol da Administração Pública, das verbas ou rendas públicas); de dano (depende do prejuízo à regularidade da Administração Pública); de forma livre (admite qualquer meio de execução); em regra comissivo; instantâneo (consuma-se em momento determinado, sem continuidade no tempo); unissubjetivo, unilateral ou de concurso eventual (praticado por um só agente, mas admite o concurso); e normalmente plurissubsistente (a conduta pode ser fracionada em diversos atos).
	Competência
	O emprego irregular de verbas ou rendas públicas é, em regra, de competência da Justiça Estadual. Será competente a Justiça Federal, entretanto, quando o crime for praticado em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas (CF, art. 109, inc. IV).
	Ressalte-se que as verbas entregues pela União, mediante convênio, aos Estados e Municípios, são incorporadas ao patrimônio destes entes federativos.
	E, havendo desvio após a incorporação, a competência para processo e julgamento do delito será da Justiça Estadual.

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