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UFU - Universidade Federal de Uberlândia IPUFU - Instituto de Psicologia Psicologia da Personalidade I Um paralelo entre o Narcisismo na teoria de Freud e na teoria de Winnicott Mario Sergio dos Santos Marcelo Hayeck Thaís Ribeiro Uberlândia, dezembro de 2015 A relação entre a mãe e o bebê O trabalho desenvolvido por Winnicott em bebês e crianças se baseou na já abrangente Psicanálise de sua época, em especial o trabalho de Melanie Klein, mas sem abandonar os fundamentos psicanalíticos propostos por Freud. Winnicott desenvolveu idéias sobre o relacionamento afetivo entre mãe e bebê desde o nascimento e sua necessidade para um desenvolvimento psíquico saudável. O termo “mãe dedicada comum” utilizado por Winnicott fala sobre a mãe que se adapta as necessidades do filho, conforme este se desenvolve desde o nascimento. Winnicott não cria uma imagem de uma mãe “perfeita”, reconhece o espaço para falhas e inclusive sua necessidade para a formação de um ego estável e que saiba lidar com frustrações em uma vida adulta, além das próprias necessidades e sofrimentos maternos. Uma mãe dedicada além de adaptar as necessidades do bebê, proveria um amparo completo ao mesmo. Assim, provendo afeto ao filho, permitindo um meio interativo que seja seguro e permita uma exploração e o surgimento de vivências no bebê. Através de técnicas de holding, a mãe “seguraria” o bebê em um contexto maior, que englobe seus aspectos psíquicos e físicos/fisiológicos. Para Winnicott, a mãe dedicada seria suficientemente boa para um desenvolvimento saudável do bebê, através de um equilíbrio entre a satisfação e a frustração, sempre amparando o filho. Freud mostrou em sua ciência psicanalítica a importância da infância na construção do psíquica do sujeito, observou a relação com os pais e desenvolveu a ideia de complexo de Édipo, onde apontava a mãe como primeiro objeto de amor do bebê e sua importância em sua constituição como sujeito. Em suas observações notou a formação da personalidade com suas bases na infância, e as neuroses (apesar de não citadas, a psicose e a perversão também se incluem) advindas de algum trauma, falta ou supercompensação de “algo”. Freud aponta a primeira relação vivenciada pelo bebê com a mãe (ou quem realizar esta função) como primordial, e repleta de responsabilidades e resultados futuros. Cada vivência suportado pelo ser, tanto de dor ou prazer, geram profundas marcas no aparelho psíquico que permanecem por toda a vida. Dependendo do investimento libidinal em cada marca, que pode ser resultado da maneira como os adultos responsáveis ou do acaso, atravessam determinada atividade ou não sabem lidar com determinado período no desenvolvimento infantil, a marca criada pode se transformar em um trauma infantil. Trauma esse que pode vir a retornar em uma vida adulta. O narcisismo em Freud e o narcisismo em Winnicott Em sua teoria Freud postula que o “eu” não é inato, que o “eu” é o produto de uma ação psíquica que se realiza com um acréscimo de autoerotismo: o narcisismo. O narcisismo e o autoerotismo são diferentes entre si - uma unidade que se compare ao ego não existe desde o princípio, tal unidade precisa se desenvolver e os instintos autoeróticos se encontram desde o início. Segundo Freud, o ser humano tem dois objetos sexuais : si mesmo e a mulher cuidadora, consideração que insinua a presença de um narcisismo primário universal (podendo este se manifestar, às vezes, de forma dominante na escolha do objeto). O encanto da criança está, majoritariamente, em seu narcisismo, em seu auto-contentamento e inacessibilidade. O desenvolvimento do ego é um afastamento do narcisismo primário e, ao mesmo tempo, abre espaço para uma forte tentativa de recuperação de tal estado. O afastamento decorre do deslocamento da libido em direção a um ideal de ego imposta do lado de fora, sendo a satisfação, causada pela realização desse ideal. O narcisismo é um protetor do psiquismo e um integrador da imagem corporal, ele investe o corpo e lhe dá dimensões, proporções e possibilidade uma identidade própria, ultrapassa o autoerotismo e possibilita a integração de uma figura positiva e diferenciada do outro. Tratando do narcisismo em Winnicott, pode-se afirmar que ele considera a existência de três espaços psíquicos : o interno, o externo e o transacional, o espaço transacional é intermediário e vai do espaço primário ao julgamento da realidade. Inicialmente só há objetos que não são internos nem externos, depois é que virá a delimitação entre ambos, a mãe é quem deve “juntar os cacos” para que a criança sinta-se dentro do próprio corpo. O ambiente deve se adaptar à criança para possibilitar a formação do verdadeiro “eu”; se a mãe consegue se adequar da forma esperada, o desenvolvimento da criança segue como normal (mas não é a mãe quem molda completamente a criança - esta tem a sua autonomia, manifestada por meio das capacidades inatas do desenvolvimento, a mãe é o ponto de referência para o seguimento do processo). Para Winnicott, após a saída do narcisismo primário, o destino do indivíduo depende do fracasso ou êxito do ambiente. A constituição do ego para Freud e para Winnicott Primeiramente temos que entender o ego, que vem a ser um “sistema que estabelece o equilíbrio entre as exigências do id, as exigências da realidade e as ordens do superego, a verdadeira personalidade, que decide se acata as decisões do (Id) ou do (Superego), ou seja, o ego serve como mediador, um facilitador da interação entre o id e as circunstâncias do mundo externo. O ego representa a razão ou a racionalidade, Freud não gostava da palavra ego e raramente a usava, o ego obedece ao princípio da realidade, refreando as demandas em busca do prazer até encontrar o objeto apropriado para satisfazer a necessidade e reduzir a tensão. O ego não existe sem o id; ao contrário, o ego extrai sua força do id, o ego existe para ajudar o id e está constantemente lutando para satisfazer os instintos do id. Freud comparava a interação entre o ego e o id com o cavaleiro montando um cavalo fornece energia para mover o cavaleiro pela trilha, mas a força do animal deve ser conduzida ou refreada com as rédeas, senão acaba derrotando o ego racional, assim, Freud imaginava a constante luta dentro da personalidade quando o ego é pressionado pelas forças contrárias insistentes. O ego deve tentar retardar os ímpetos agressivos e sexuais do id, perceber e manipular a realidade para aliviar a tensão resultante, e lidar com a busca do superego pela perfeição e,, quando o ego é pressionado demais, o resultado é a condição definida por Freud como ansiedade, com isso pode-se definir o Ego como um aspecto racional da personalidade responsável pelo controle dos instintos. Na teoria de Freud ele fala das fases do desenvolvimento psicossexuais na qual contem a fase oral, anal, fálica, de latência, e genital, na qual cada uma e responsável por parte da constituição da personalidade. Provavelmente é durante a Fase Anal (que acontece no Período de 2 a 4 anos quando a criança passa a adquirir o controle dos esfíncteres podendo controlar as fezes que sai de seu interior, oferecendo-o à mãe ora como um presente, ora como algo agressivo) que a criança começa a constituir o ego, o seu eu, por começar a diferenciar ele do de outra pessoa, podendo presenteá-la ou puni-la, com isso a personalidade da criança começa a se desenvolver. Para Winnicott é nos primeiros seis meses de vida, aproximadamente, em que o bebê se acha num estado de total dependência do meio, representado, nessa época, pela mão ou por um seu substituo. O bebê depende inteiramente do que que lhe é oferecido pela mãe, porém o mais importante, e que constitui a base da teoria, é o desconhecimento de seu estado de dependência por parte do bebê. Na mente do bebê, ele e o meio são uma coisa só. Ora, idealmente, seria uma perfeita adaptação às necessidades do bebe que a mãe permitiria o livre desenrolar dos processos de manutenção. Winnicott diz que o inconsciente (Id) só pode existirdepois que houver um Eu (ego) que possa constituí-lo como reprimido, para ele nos estágios mais precoces do desenvolvimento da criança, portanto, o funcionamento do ego deve ser considerado um conceito inseparável daquele da existência da criança como pessoa, não há id antes do ego. Enfim, para Winnicott a constituição do ego acontece bem antes do que Freud escreve, pois o bebê adquire uma consciência de que ele existe antes da fase anal, constituindo assim o ego, de início ele depende da mãe e não se diferencia do meio, ele ainda não tem consciência de que existe, mas quando ele se diferencia do meio e se reconhece ele começa a se constituir como um ser humano, o que acontece antes do primeiro ano de vida completa, enquanto para Freud isso só ocorre,aproximadamente,no segundo ano de vida. Referências Freud, S. (1900).A Interpretação dos Sonhos. Rio de Janeiro: Imago. Freud, S. (1895).O Projeto de uma Psicologia para Neurólogos. Rio de Janeiro. Imago. Winnicott, D. W. (2000). Da Pediatria À Psicanálise. Rio de Janeiro. Imago.