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OFICINA 3 – LINHA DE CUIDADO DE ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO (AVE) NAS REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE 1. EPIDEMIOLOGIA, FATORES DE RISCO E SINAIS CLÍNICOS DO AVC EPIDEMIOLOGIA No ano de 2020, dados do SIM – Sistema de Informações sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde – DATASUS, mostraram 99.010 mortes por AVC no Brasil (incluindo dados de infarto cerebral, o AVC isquêmico, AVC hemorrágico, hemorragia subaracnoidea e AVC não-especificado como isquêmico ou hemorrágico De acordo com outro registro, o portal de Transparência do Registro Civil, mantido pela ARPEN Brasil (Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais), o número de óbitos por AVC no Brasil foi de 101.965, em 2019 e 102.812 em 2020, números parecidos com os dados oficiais do SUS, que podem variar um pouco de acordo com a metodologia aplicada nos critérios de busca. O AVC, de acordo com este mesmo banco de dados, já matou no ano de 2022, de 1º de janeiro até 13 de outubro, 87.518 brasileiros. O número equivale à média de 12 óbitos por hora, ou 307 vítimas fatais por dia, tornando o AVC novamente a principal causa de morte no país. No mesmo período, o infarto, por exemplo, vitimou 81.987 pessoas, e a Covid-19, 59.165 cidadãos. Portanto, o AVC, que até meados da década de 2010- 2015 era a primeira causa de morte no nosso país, passou para o segundo lugar, de forma similar ao que vemos no resto do mundo e em países mais desenvolvidos, e novamente em 2022, embora com dados menos oficiais (SIM x Registro Civil), retoma a posição de primeiro lugar em mortalidade no nosso país. Sua incidência é maior após o 65 anos, dobrando a cada década após os 55 anos de idade Apesar nos declínios das taxas de mortalidade no Brasil, o AVC continua sendo a primeira causa de morte e incapacidade no país. Dados do estudo prospectivo nacional indicaram uma incidência anual de 108 casos por 100 mil habitantes o AVC acomete principalmente indivíduos com mais de 50 anos, sendo que os homens são acometidos 19% a mais do que as mulheres. o AVC é uma doença que afeta predominantemente idosos. E no Brasil afeta principalmente mulheres idosas o AVC atinge 16 milhões de pessoas no mundo a cada ano. Dessas, seis milhões morrem A prevalência aumentou com a idade, nos menos escolarizados, residentes da zona urbana sem diferenças pela cor da pele auto-declarada. O grau de incapacidade pós-AVC não foi estatisticamente diferente segundo sexo, raça, nível de educação ou área de moradia. SINAIS CLINICOS Quadro clínico sugestivo de AVC Início súbito: • Fraqueza ou dormência em um lado do corpo • Confusão • dificuldade para falar ou entender • Dificuldade para enxergar com um ou ambos os olhos • Dificuldade para andar • tontura ou incoordenação • Cefaleia intensa e súbita sem causa aparente. Os ataques isquêmicos podem manifestar-se também com alterações na memória e na capacidade de planejar as atividades diárias, bem como a negligência. Neste caso, o paciente ignora objetos colocados no lado afetado, tendendo a desviar a atenção visual e auditiva para o lado normal, em detrimento do afetado. Aos sintomas do acidente vascular hemorrágico intracerebral podem-se acrescer náuseas, vômito, confusão mental e, até mesmo, perda de consciência. O acidente vascular hemorrágico, por sua vez, comumente é acompanhado por sonolência, alterações nos batimentos cardíacos e na freqüência respiratória e, eventualmente, convulsões. PREVENÇÕES DO AVC PREVENÇÃO PRIMARIA Fatores de risco não modificáveis: Apesar de não podermos atuar diretamente sobre os fatores de risco não modificáveis, o seu conhecimento é importante, pois eles podem agravar o risco e devem ser analisados com os fatores modificáveis na extrapolação do risco do paciente e planejamento dos cuidados a serem tomados. Os principais são: Idade: o AVC é classicamente uma doença do idoso, mas pode incidir em qualquer idade. Tanto no isquêmico como no hemorrágico, o risco aumenta progressivamente com a idade, dobrando a cada década depois dos 55 anos de idade. Sexo: o AVC acomete ambos os sexos, sendo na média mais prevalente em homens, exceto na faixa etária dos 35 aos 44 anos e acima dos 85 Raça/etnia: negros têm maior risco de todos os tipos de AVC, comparativamente aos brancos, em especial na faixa de jovens negros, quanto ao risco de hemorragia cerebral e hemorragia subaracnoidea. Genética: história familiar positiva ocorre em aproximadamente 30% dos casos; causa cardioembólica é mais prevalente quanto à hereditariedade e as mulheres são mais sensíveis do que os homens quanto ao risco genético.15,16 Rastreamento genético sistemático para a prevenção primária do AVC não é recomendado. Tratamento de determinadas doenças genéticas (exemplo: doença de Fabry) pode ser razoável, mas tem eficácia discutível e não se tem notado redução do risco de AVC. A pesquisa por métodos não invasivos de eventual aneurisma não roto em parentes com mais de dois primeiros graus de parentesco, de pacientes com hemorragia subaracnoidea aneurismática, pode ser razoável Fatores de risco modificáveis Hipertensão arterial (HA): É o principal FR para o AVC, tanto isquêmico como hemorrágico. O risco é alto, etiologicamente significante, independente, contínuo, tem relação direta com a intensidade e ocorre em todas as populações, raças e etnias. Quando confirmada, a HA deve ser imediatamente combatida, inicialmente com medidas não farmacológicas; se não houver resultado satisfatório, deve então ser introduzida medicação específica A pressão arterial (PA) sistólica deve mantida abaixo de 140 mmHg e a diastólica abaixo de 90 mmHg nos casos de pacientes com diabetes ou insuficiência renal, a PA deve ser mantida menor que 130 x 80 mmHg Os indivíduos com pré-hipertensão arterial (PA sistólica entre 120 mmHg e 139 mmHg ou PA diastólica entre 80 mmHG e 89 mmHg devem ser controlados e encorajados a mudarem o estilo de vida. Pacientes com HA que não respondem às medidas não farmacológicas devem ser tratados com fármacos até atingirem os alvos desejados. O sucesso do controle da PA é mais importante do que a escolha do fármaco, que deve ser individualizada para cada caso. Tabagismo: Aumenta o risco de isquemia cerebral e hemorragia subaracnoidea, sendo ainda inconclusivos os dados quanto a eventual risco para a hemorragia cerebral. Estudos epidemiológicos mostram redução do risco de AVC com a cessação do tabagismo. O tabagismo deve ser combatido, com cessação do hábito e deve-se evitar ambientes com fumaça de cigarro. Aconselhamento e utilização de drogas específicas (reposição de nicotina, bupropiona, vareniclina) são recomendados para casos refratários Diabetes: É um FR independente para o AVC; mais do que dobra o risco de AVC isquêmico. Aproximadamente 20% dos diabéticos irão falecer devido ao AVC; aumenta também o risco de AVC hemorrágico. O pré-diabetes e a resistência à insulina também estão associados ao AVC. Diabetes é uma doença bastante prevalente na população e aumenta com a idade. O controle da PA nos diabéticos deve ser mais rígido, o tratamento com estatinas, em adultos, especialmente aqueles com maior risco, é recomendado, o emprego associado de ácido acetil salicílico (AAS) como prevenção primária nos diabéticos não está bem estabelecido, a adição de fibratos com a estatina nesses pacientes não parece ter utilidade para a prevenção primária Dislipidemias: Muitos estudos têm comprovado que o colesterol total e a fração LDL elevados e a fração HDL reduzida são riscos para o AVC; quanto aos triglicérides, existe alguma controvérsia, mas a tendência também é de se enquadrar como FR. É recomendado o controle dos níveis dos lípides, com mudança do estilo de vida e, se necessário, o emprego de inibidores do hidroximetilglutaril coenzima redutase (HMG-CoA), as estatinas, para a prevenção primária; a niacina pode serconsiderada para pacientes com baixo colesterol do tipo lipoproteína de alta densidade (HDL) ou elevada lipoproteína a (Lpa), mas a sua eficácia na prevenção do AVC não está bem estabelecida; tratamentos com hipolipemiantes não estatinas podem ser considerados em pacientes que não toleram essa medicação. Dieta: A redução da ingestão de sódio e o aumento da ingestão de potássio são recomendados; o consumo de frutas, vegetais e alimentação pobre em gorduras também é recomendado; a dieta do Mediterrâneo suplementada com castanhas pode ser considerada Atividade física: É recomendada, pois está relacionada com redução do risco de AVC. Adultos sadios devem praticar, por ao menos 40 minutos três a quatro vezes por semana, exercícios leves a moderados Obesidade e distribuição da gordura corporal: Existem fortes evidências de que o aumento do peso está associado a aumento do risco de AVC, mas não é claro se a redução isolada do peso reduz o risco, pois normalmente nessa eventualidade, os outros principais fatores de risco são melhor controlados. Pacientes com sobrepeso (com índice de massa corpórea, IMC, de 25 kg/m2 a 29 kg/m2 ) e obesos (IMC > 30 kg/m2 ) devem ter maior controle da pressão arterial (PA) e ser estimulados a perderem peso. O perímetro da cintura deve ser mantido inferior a 102 cm para homens e 88 cm para as mulheres. Cardiopatias: Importantes FR para o AVC, principalmente as arritmias, e dentre estas, tem maior destaque a fibrilação atrial (FA). Ocasiona risco aumentado para AVC em quatro a cinco vezes, devido a cardioembolismos formados no ventrículo esquerdo por estase saguínea. Acredita-se que 10% de todos os AVC isquêmicos sejam devidos a cardioembolismo pela fibrilação atrial. Tanto a FA persistente como a paroxística têm risco elevado de desencadear AVC.45 O risco se eleva significativamente com a idade do paciente e com a associação com outros FR. A FA, prevalente nos idosos, é também um preditor de maior gravidade do AVC. As escalas CHADS2 e CHA2 DS2 -VASc são importantes para estabelecermos o risco e a decisão terapêutica. A pacientes com FA valvular e com índice do escore CHA2DS2-VASc ≥ 2 e baixo risco de hemorragia é recomendado a anticoagulação com varfarina, mantendo-se a razão normalizada internacional (RNI) entre 2 e 3. Pacientes com FA e CHA2DS2-VASc de 0 não necessitam de terapia antitrombótica; pacientes com escore 1 não necessitam de anticoagulação e o AAS pode ser uma opção.6 Outras cardiopatias também podem estar relacionadas com risco de AVC, podendo-se citar: infarto do miocárdio, miocardiopatia, doença valvular, foramen ovale patente, tumores intracardíacos, aterosclerose do arco aórtico. Em relação a essas situações, recomenda-se:6 anticoagulação em pacientes com estenose mitral e evento embólico prévio; anticoagulação é indicada em pacientes com estenose mitral e trombo no átrio esquerdo; varfarina (alvo da RNI 2,0-3,0) e baixa dose de AAS são indicadas após troca de válvula biológica , varfarina (alvo da RNI, 2,5-3,5) e baixa dose de AAS em pacientes após a troca de válvula mecânica e com outros FR; intervenção cirúrgica é indicada para os casos de fibroelastoma sintomático ou com mais de 1 cm e com mobilidade; anticoagulantes ou antiagregantes são razoáveis nos casos de insuficiência cardíaca grave sem FA ou sem antecedentes de tromboembolismo; anticoagulação pode ser considerada em pacientes com grave estenose mitral e dimensão do átrio esquerdo ≥ 55 mm pela ecocardiografia; anticoagulação pode ser considerada em pacientes com grave estenose mitral, aumento do átrio esquerdo e contraste espontâneo na ecografia; tratamento antitrombótico ou fechamento cirúrgico ou por cateter não são recomendados em pacientes com foramen ovale patente na prevenção primária do AVC Alcoolismo: O National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism define como alcoólatra pesado o homem que bebe mais de quatro doses (“drinks”) por dia ou 14 por semana, e a mulher que bebe mais do que três drinks por dia ou sete por semana. O alcoolismo pode ser um FR para todos os tipos de AVC. Muitos estudos sugerem que a curva que expressa a ingestão de álcool frente ao risco teria forma de "J", ou seja, em pequena dose seria benéfica e em alta dose, o risco se eleva progressivamente. A redução ou a eliminação do consumo de bebidas alcoólicas é recomendada para os alcoólatras pesados. Pode ser razoável, se não houver contraindicação, o consumo para homens de até duas doses ao dia e, para mulheres não grávidas, de até uma dose diária PREVENÇÃO SECUNDARIA A ação da Atenção Básica na linha de cuidado do AVC não se resume ao evento agudo. Nos pacientes com doenças crônicas cardiovasculares, deve ser realizado o tratamento, com abordagem ampliada, não restrita à prescrição de medicamentos, mas envolvendo atuação multiprofissional e atuando na promoção do autocuidado e cuidado compartilhado, bem como realizando estratificação de risco e acompanhamento próximo dos casos de mais alto risco. Dentre os temas para abordagem aos pacientes de risco, devem ser ressaltados os sinais de alerta para AVC, enfatizando para que o usuário e a família saibam da importância de procurar os serviços de saúde nos primeiros sintomas e assim possibilitar o tratamento em tempo oportuno. Ações de prevenção secundária em pacientes com AVC Antiagregação plaquetária: Todo paciente com história de AVC isquêmico deve receber AAS 100-300 mg/dia ou clopidogrel 75 mg/dia. Estatinas: Administrar estatina independente da colesterol LDL basal para pacientes com AIT ou AVC isquêmico de origem aterosclerótica. Recomenda-se atorvastatina (80 mg) ou sinvastatina (40 mg). Controle da hipertensão arterial sistêmica: Para tratamento da fase aguda/hiperaguda, evitar administrar anti-hipertensivo antes que o paciente chegue ao serviço de Emergência; considerar apenas se PAS ≥ 180 ou PAD ≥ 110. Após a fase aguda, o alvo a ser atingido é 120/80 mmHg. A primeira escolha de anti- hipertensivo pós-AVC é diurético ou a combinação de diurético e inibidor da ECA. Controle do diabetes: Alvo de hemoglobina glicosilada em torno de 7%, porém é importante evitar hipoglicemiante (tanto no evento agudo quanto após). Terapia antitrombótica na Fibrilação atrial: Devido ao risco de sangramento do tecido isquêmico, o tempo para iniciar anticoagulação após o AVC não está bem estabelecido. Em AVC de pequena extensão, pode ser iniciada imediatamente. Em AVC de extensão moderada, deve ser inicado após cinco a sete dias. Em AVC de grande extensão deve-se aguardar cerca de duas semanas. • anticoagulação com varfarina visando RNI entre 2 e 3. Lembrar que idade avançada isoladamente não deve ser contraindicação ao uso. - Pacientes com contraindicação social ou dificuldade em aderir ao controle do RNI prescrever: • Dupla antiagregação (AAS 100 mg + clopidogrel 75 mg), - Novos anticoagulantes: dabigatram 150 mg 2x ao dia ou rivaroxabam 20 mg 1x/dia (contraindicados em insuficiência renal, hepática ou doença valvar cardíaca). • Pacientes com contraindicação à anticoagulação por risco de sangramento cerebral (AVC hemorrágico prévio) prescrever: AAS 300 mg. Estenose carotídea com AVC em território arterial ipsilateral (doença carotídea sintomática) • Estenose carotídea maior ou igual a 70%: endarterectomia em todos os pacientes, em até seis meses, de preferência nas primeiras duas semanas do evento; Estenose carotídea entre 50% e 69%: indicação deve ser individualizada: - idade maior que 75 anos; - sexo masculino; - comorbidades; - gravidade dos sintomas. • Estenose menor que 50%: tratamento clínico de fatores de risco. Estenose carotídea com AVC em território arterial contralateral (doença carotídea assintomática) • Estenose entre 60% e 99%: benefício de endarterectomia discutível, apenas em casos muito selecionados. • Estenose abaixo de 60%: tratamento clínico defatores de risco PREVENÇÃO TERCIARIA A reabilitação deve começar o mais precoce possível, assim que o paciente tenha condições clínicas e preferencialmente já na internação. No domicílio, o paciente e sua família precisam ser educados para a adaptação às novas limitações e manter o máximo de funcionalidade. A mobilidade do membro parético deve ser estimulada com movimentos repetitivos e nas atividades de vida diária. Quando possível, fisioterapia motora precoce deve ser estimulada. Outras questões a serem abordadas são disfagia, incontinência urinária, hábito intestinal, depressão e lesões de pele. 2. ENTENDER A LINHA DE CUIDADO DO AVC. (PRÉ, INTRA E PÓS HOSPITALAR - REABILITAÇÃO – EQUIPE MULTIDISCIPLINAR, TRATAMENTO, DIAGNÓSTICO, SUSPEITA E TEMPO PORTA AGULHA, RECONHECIMENTO). As informações da Linha de Cuidado foram construídas partindo do ponto em que o paciente se encontra para avaliação e definição diagnóstica: Pontos de atendimento possíveis: • Domicílio, com a primeira avaliação pelo Serviço de Atendimento Móvel - SAMU (192); • Unidade de Atenção Primária; • Unidade de Pronto Atendimento; • Unidade Hospitalar. A Linha de Cuidados em AVC objetiva proporcionar cuidado integrado e continuado, promovendo a transferência deste entre os pontos de atenção à saúde, tendo como pressuposto que todos têm fundamental relevância no fluxo da linha de cuidados. Diagnósticos: AVC agudo AVC Isquêmico ↳ com menos de 4 horas de evolução; ↳ com mais de 4 horas de evolução; AVC hemorrágico ↳ hemorragia intraparenquimatosa; ↳ hemorragia subaracnoidea espontânea; DEFINIÇÃO DOS DIAGNÓSTICOS Inicialmente, é preciso determinar a data e hora do início dos sinais e sintomas. Se o início dos sintomas nas últimas 24 horas, definido como o último momento em que o paciente foi visto sem sinais e sintomas neurológicos alterados. Com isso, será possível classificar o quadro clínico em: AVC agudo - início súbito de sinais neurológicos focais sem recuperação; AIT Acidente Isquêmico Transitório - episódio único de déficit neurológico focal agudo, com recuperação completa em menos de 1 hora. Caso o paciente refira o início dos sintomas há mais de 1 mês sem apresentar progressão, ele terá seu quadro clínico classificado como: AVC crônico - início dos sintomas há mais de 1 mês, sem apresentar progressão. Abaixo, destacamos os sinais de alerta para os quais os profissionais de saúde devem estar atentos e também orientar a população sob seus cuidados: • Perda súbita de força ou formigamento de um lado do corpo – face e/ou membro superior e/ou membro inferior; • Dificuldade súbita de falar ou compreender a fala; • Perda visual súbita em um ou ambos os olhos; • Súbita tontura, perda de equilíbrio e/ou coordenação; • Cefaleia súbita intensa sem causa aparente. Durante a avaliação inicial do paciente sob nossos cuidados e para o qual tenhamos como diagnóstico diferencial a suspeita de AVC, devemos fazer o uso da Escala de Cincinatti, em que a presença de 1 dos sinais de alerta, associada ao início súbito da apresentação, nos indica de forma objetiva a suspeita de AVC. AVC AGUDO, ISQUÊMICO/ AIT OU HEMORRÁGICO No AVC isquêmico, o paciente será avaliado para a possibilidade de trombólise endovenosa dentro de 4h30min do início dos sintomas. Quanto mais rapidamente é realizada a transferência para a Emergência da Unidade Hospitalar de referência para tratamento do AVC, melhor é o prognóstico do paciente. Se o início dos sintomas for menor ou igual a 24 horas, o paciente deve ser encaminhado para a Emergência de Unidade Hospitalar com uma Unidade Móvel de atendimento, conforme regulação local. Se o início dos sintomas for maior que 24 horas e menor que um mês, sem outros sinais de gravidade clínica, deve-se também orientar o paciente a procurar Emergência de Unidade Hospitalar. UNIDADE DE ATENÇÃO PRIMÁRIA, UNIDADE DE PRONTO ATENDIMENTO (UPA) OU SAMU (192) ATENÇÃO BÁSICA: A ação da AB na linha de cuidado do AVC não se resume ao evento agudo. A equipe da UBS deve realizar ações, no âmbito individual e coletivo, para promoção de hábitos de vida saudáveis e prevenção das doenças cardiovasculares. Nos pacientes com doenças crônicas cardiovasculares, deve ser realizado o tratamento, com abordagem ampliada, não restrita à prescrição de medicamentos, mas envolvendo atuação multiprofissional e atuando na promoção do autocuidado e cuidado compartilhado, bem como realizando estratificação de risco e acompanhamento próximo dos casos de mais alto risco. Dentre os temas para abordagem aos pacientes de risco, devem ser ressaltados os sinais de alerta para AVC, enfatizando para que o usuário saiba a importância de procurar os serviços de saúde nos primeiros sintomas, possibilitando o tratamento em tempo oportuno. Manejo Inicial Definir diagnóstico de AVC agudo (isquêmico ou hemorrágico)/AIT 1. Determinar a data do início dos sinais e sintomas; 2. Se início de sintomas nas últimas 24h, determinar o horário do início. No caso de o início dos sintomas serem observados ao acordar, será considerado o último momento em que o paciente foi visto sem sintomas, antes de dormir; 3. Acionar o Serviço de Atendimento Móvel / SAMU 192 o mais rápido possível para regulação e transferência ao hospital mais apropriado para o caso. Deverá ser solicitada UTI móvel medicalizada. Quando não disponível, considerar avaliação do regulador do Serviço de Atendimento Móvel / SAMU 192. 4. Se o início dos sintomas for há mais de 24 horas e até 1 mês, sem outros sinais de gravidade clínica, orientar o paciente a procurar uma Emergência de Unidade Hospitalar. Manejo inicial até transferência para unidade hospitalar • Verificar história de diabetes, epilepsia, demência (excluir delirium*) e dependência química (álcool**); • Aplicar a escala de Cincinatti (ver Anexo A) e Glasgow (ver Anexo D); • Verificar os sinais vitais (pressão arterial, frequência cardíaca, saturação, temperatura axilar); • Checar glicemia capilar: hipoglicemia pode causar sinais focais e simular um AVC. Se glicose < 70 mg/dL, administrar glicose hipertônica 50% / 20 ml endovenosa / 1 vez, repetir hemoglicoteste em 1h; • Manter o paciente com cabeceira a 0°, (posicionar a 30° em caso de vômitos); • Acesso venoso periférico em membro superior não parético; • Manter permeabilidade de vias aéreas e ventilação adequada; • Administrar oxigênio, por cateter nasal ou máscara, se saturação de oxigênio for < 94% (atentar para pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica); • Não reduzir níveis pressóricos, exceto se pressão arterial sistólica estiver ≥ 220 mmHg ou pressão arterial diastólica estiver ≥ 120 mmHg; • Utilizar antitérmico se temperatura axilar > 37,5°C. Se o local de primeiro atendimento for na UPA ou SAMU 192 • Realizar entrevista SAMPLA (Sinais vitais, Alergias, Medicamentos em uso, Passado médico, Líquidos e alimentos, Ambiente); • Considerar intubação orotraqueal em pacientes com rebaixamento de consciência (Glasgow ≤8, Anexo D), com claro sinal clínico de insuficiência respiratória (pO2 < 60mmHg ou pCO2 > 50 mmHg), ou se houver evidente risco de aspiração; • Não administrar grande volume, de fluido a não ser em caso de hipotensão (diante dessa necessidade, utilizar solução de cloreto de sódio 0,9%); • Se o local de primeiro atendimento for no domicílio, realizado pelo SAMU 192, o manejo inicial deverá ser o mesmo, até a orientação da Regulação Médica para procedimentos e/ou transporte para a Unidade Hospitalar. Locais que não dispõem de Regulação Médica devem encaminhar para a Emergência de unidade hospitalar. UNIDADE HOSPITALAR Manejo inicial 1. Determinar a data do início dos sinais e sintomas; 2. Se início de sintomas nas últimas 24h, determinar o horário do início.No caso de o início dos sintomas serem observados ao acordar, será considerado o último momento em que o paciente foi visto sem sintomas, antes de dormir. 3. Verificar história de diabetes, epilepsia, demência (excluir delirium*) e dependência química (álcool**); 4. Aplicar a escala de Cincinatti (ver Anexo A) e Glasgow (ver Anexo D); 5. Realizar tomografia de crânio (TC) sem contraste em regime de urgência; se local de atendimento não tiver TC disponível, transferir o paciente imediatamente para a realização; 6. Se diagnosticado AVC isquêmico com 4 horas de evolução, não é necessário o manejo em hospital de referência. Cuidados gerais 7. Verificar os sinais vitais (pressão arterial, frequência cardíaca, saturação, temperatura axilar); 8. Checar glicemia capilar: hipoglicemia pode causar sinais focais e simular um AVC. Se glicose < 70 mg/dL, administrar glicose hipertônica 50% / 20 ml endovenosa / 1 vez, repetir hemoglicoteste em 1h; 9. Manter o paciente com cabeceira a 0°, (posicionar a 30° se vômitos); 10. Instalar acesso venoso periférico em membro superior não parético; 11. Manter permeabilidade de vias aéreas e ventilação adequada; 12. Administrar oxigênio por cateter nasal ou máscara se saturação de oxigênio for < 94% (atentar para pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica); 13. Não reduzir níveis pressóricos, exceto se pressão arterial sistólica estiver ≥ 220 mmHg ou pressão arterial diastólica estiver ≥ 120 mmHg ou se outra doença associada exigir a redução da pressão arterial (dissecção de aorta, infarto agudo do miocárdio, edema pulmonar); 14. Não administrar grande volume de fluidos, a não ser em caso de hipotensão (em caso de necessidade, utilizar solução de cloreto de sódio 0,9%); 15. Utilizar antitérmico se temperatura axilar for > 37,5°C; Após TC de crânio, definir diagnóstico de AVC isquêmico/AIT ou hemorrágico para tratamento. Definido diagnóstico de AIT AIT é definido como episódio único de déficit neurológico focal agudo, com recuperação completa em < 1 hora. • Aplicar Escore ABCD2 (Anexo E) – preditor de AVC após episódio de AIT; • Avaliar tomografia de crânio (TC): se TC normal, confirmado diagnóstico de AIT. Iniciar tratamento com: • AAS 100 mg/dia (se alergia ou intolerância a AAS, prescrever clopidogrel 75 mg/dia); • Clopidogrel 75 mg/dia associado a AAS nos pacientes que apresentaram AVC em uso prévio de AAS ou naqueles com evidência de doença aterosclerótica carotídea; • Sinvastatina 40mg/dia; • Pacientes hipertensos: ajustar anti- hipertensivo se pressão arterial (PA) sistólica > 140 mmHg ou iniciar medicamento anti- hipertensivo se o paciente ainda não utilizava nenhum medicamento anti-hipertensivo. Realizar os seguintes exames o mais breve possível (em, no máximo, 6 dias) • Ecografia de carótidas e vertebrais com Doppler; • Ecocardiograma com Doppler; • Eletrocardiograma; • Exames laboratoriais: hemograma, glicemia de jejum, creatinina, ureia, sódio, potássio, colesterol total, HDL, triglicerídeos. Checklist de alta para domicílio • Fornecer as medicações dos primeiros 7 dias após alta hospitalar; • Agendar consulta em ambulatório neurovascular até 7 dias da alta hospitalar; • Encaminhamento para Unidade de Atenção Primária para gerenciar cuidado e realizar a prevenção secundária; • Orientação aos pacientes e familiares para chamar o Atendimento Móvel de Urgência SAMU (192) ou procurar a Emergência de uma unidade hospitalar se novo sintoma de AVC. Definido diagnóstico de AVC agudo O AVC agudo pode ser classificado em: • AVC isquêmico » com < 4h de evolução » com > 4h de evolução • AVC hemorrágico » hemorragia intraparenquimatosa » hemorragia subaracnoidea espontânea AVC isquêmico com < 4h de evolução • Aplicar escala do National Institutes of Health (NIH): neurologista, clínico ou enfermeiro (ver Anexo B). • Avaliar a realização de trombólise endovenosa com Alteplase, considerando os critérios a seguir: Critérios de inclusão a) AVC isquêmico em qualquer território encefálico; b) Possibilidade de iniciar a infusão da Alteplase dentro de 4 horas e 30 minutos do início dos sintomas (para isso, o horário do início dos sintomas deve ser precisamente estabelecido); c) Tomografia do crânio (TC) ou Ressonância Magnética (RM) sem evidência de hemorragia; d) Idade superior a 18 anos. • Iniciar protocolo de trombólise: • Alteplase 50mg/50mL: administrar 0,9mg/kg (até dose máxima de 90mg) - 10% do volume EV em bolus e o restante em bomba de infusão em 1 hora. Para pacientes com alto risco de sangramento, utilizar dose de 0,6mg/kg (até dose máxima de 90mg) - 15% do volume EV em bolus e o restante em bomba de infusão em 1 hora. Cuidados gerais imediatos após trombólise • Monitorar o paciente (PA não invasiva, monitorização cardíaca contínua, oximetria, temperatura axilar e glicemia capilar); • Realizar Eletrocardiograma (ECG) em 12 derivações; • Coletar hemograma, glicemia, atividade de protrombina, tempo parcial de tromboplastina ativada, plaquetas, sódio, potássio, creatinina e ureia; Manejo dos parâmetros fisiológicos: a. Pressão Arterial (PA): A PA deve ser controlada com anti-hipertensivo EV e mantida < 180/105mmHg. Tentar manter PAS preferencialmente > 160 mmHg; Se o paciente apresentar PAS < 140 mmHg com o tratamento anti-hipertensivo, iniciar infusão de solução de cloreto de sódio 0,9% 500 ml em bolus e suspender o anti-hipertensivo; se a reposição volêmica não for efetiva, iniciar vasopressor; b. Manter monitorização cardíaca contínua para detecção precoce de alterações miocárdicas isquêmicas ou arritmias; c. Considerar intubação orotraqueal se Glasgow ≤ 8 ou sinal clínico de insuficiência respiratória (pO2 < 60mmHg ou pCO2 > 50 mmHg). Atenção: • Durante a internação hospitalar, seguir protocolos assistênciais validados para o AVC e iniciar atendimentos por equipe especializada de reabilitação, sendo o objetivo principal incentivar a desospitalização precoce e evitar ou minimizar possíveis complicações decorrentes do evento. • Para auxiliar o seu trabalho, consulte o site Rede Brasil AVC e as Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Acidente Vascular Cerebral. Prescrição após 24h da realização da trombólise: • Dieta suspensa até avaliação da adequada capacidade de deglutição; • Sinvastatina 40 mg/dia via oral (VO) ou por sonda nasoentérica (SNE) (ou estatina disponível no hospital em dose equivalente); • AAS 100mg/dia; • Se contraindicação ao AAS: Clopidogrel 75 mg 4 comprimidos VO no primeiro dia, seguidos de 75 mg/dia; • Profilaxia de trombose venosa profunda – (TVP): enoxaparina 40 mg SC 1x/dia ou heparina não fracionada 5.000 UI, SC, 8/8 h (conforme disponibilidade) • O paciente deve sair da internação com a investigação etiológica completa da causa do AVC - classificação de TOAST (ver Anexo C). Se não disponível na unidade hospitalar, encaminhar o paciente para realização dos seguintes procedimentos: » Todos os pacientes: ECG em repouso, ecocardiograma, ecodoppler de carótidas e rastreio para diabetes e dislipidemia. » Pacientes < 45 anos ou ≥ 45 anos que não apresentam fatores de risco e com investigação inicial negativa: a investigação pode incluir ressonância magnética de crânio, estudo de imagem dos vasos intra e extracranianos, rastreio para causas inflamatórias, trombofilias e doenças genéticas (quando história clínica compatível). » Paciente sem etiologia identificada: solicitar Holter de 24h para avaliação de fibrilação atrial paroxística. Realizar Plano de Alta Hospitalar com: • Diagnóstico e informação médica relevante; • Receita médica completa; • Indicação dos tratamentos especializados de equipe multidisciplinar de que o paciente necessitará; • Avaliar a indicação de atençãodomiciliar – Serviço de Atenção Domiciliar (SAD); • Indicação de necessidades especiais (ex. cadeira de rodas, colchão específico); • Encaminhamento à unidade de Atenção Primária de referência para coordenação do cuidado e prevenção secundária; • Objetivos a serem atendidos com a reabilitação. AVC hemorrágico - Hemorragia Intraparenquimatosa Planejamento Terapêutico Cuidados • Considerar intubação orotraqueal em pacientes com rebaixamento de consciência (Glasgow ≤ 8) e claro sinal clínico de insuficiência respiratória (pO2 < 60mmHg ou pCO2 > 50 mmHg), ou se evidente risco de aspiração; • Manter pressão arterial (PA) sistólica em torno de 140 mmHg: controle da PA é fundamental para evitar a expansão do hematoma: » PA sistólica > 200 ou PA média > 150mmHg: redução agressiva da PA com medicação endovenosa (EV) contínua e monitorização preferencialmente invasiva contínua (na impossibilidade de monitorização invasiva, monitorar de forma intermitente a cada 5 min); »PA sistólica > 180 ou PAM > 130 mmHg com possibilidade de hipertensão intracraniana (hic): monitorização da pressão intracraniana (PIC) e redução da PA usando medicações EV contínuas ou intermitentes, mantendo a PPC ≥ 60mmHg; • Controle da temperatura corporal de 2/2h, mantendo a temperatura axilar abaixo de 37,5°C com manejo agressivo, se necessário; • Evitar o uso de solução glicosada a 5%, dando preferência ao cloreto de sódio 0,9%, objetivando a euvolemia. Hemorragia Subaracnoidea Espontânea (HSAe) • Estes pacientes devem ser imediatamente transferidos para centros de alta complexidade em neurocirurgia para tratar o aneurisma em até 48h. Manejo Inicial » Realizar o mais breve possível exame dos vasos intracranianos para documentar a presença de aneurismas cerebrais ou, mais raramente, MAV. Esse exame pode ser uma angiografia (padrão ouro) ou um exame não invasivo como, preferencialmente, a angiotomografia ou, na impossibilidade desta, a angiorressonância cerebral; » Repouso absoluto no leito para diminuir o risco de ressangramento; » A pressão arterial deve ser monitorada e controlada, levando em conta o risco de ressangramento e a pressão de perfusão cerebral (PPC); » Pacientes com história pregressa de epilepsia, ou com crise convulsiva durante o atual evento, devem receber anticonvulsivante em dose de manutenção (fenitoína 100 mg 8/8h por via oral). Nos demais casos, não há indicação de profilaxia com anticonvulsivantes. Obs.: fenitoína não deve ser administrada por SNE. Cuidados gerais para ambas as condições de AVC hemorrágico: • Dieta oral suspensa até avaliação formal da deglutição (preferencialmente por fonoaudiólogo – SNE se impossibilidade de VO); • Monitoração contínua: PA invasiva, ECG, SatO2; • Diurese: 6/6 horas; • Cabeceira elevada a 30°; • Profilaxia para trombose venosa profunda (TVP) (medicamentosa a partir de 48 horas após admissão, com enoxaparina 40 mg SC 1x/dia ou heparina não fracionada 5000 UI SC 8/8 h (conforme disponibilidade) • Proteção gástrica (omeprazol 20 mg 1x/dia ou ranitidina 150 mg 2x/dia) conforme disponível na unidade hospitalar; • Manter Tax < 37,5°C; • Nimodipina 30 mg: 2 comprimidos de 4/4h (da chegada até 21 dias) Durante a internação hospitalar, seguir protocolos assistênciais validados para o AVC e iniciar atendimento por equipe especializada de reabilitação, sendo o objetivo principal incentivar a desospitalização precoce e evitar ou minimizar possíveis complicações decorrentes do evento. Para ambas as condições de AVC hemorrágico, realizar Plano de Alta Hospitalar com: • Diagnóstico e informação médica relevante; • Receita médica completa; • Indicação dos tratamentos especializados de equipe multidisciplinar de que o paciente necessitará; • Indicação de necessidades especiais (ex., cadeira de rodas, colchão específico); • Encaminhamento à unidade de Atenção Primária de referência para prevenção secundária; • Objetivos a serem atendidos com a reabilitação PÓS-HOSPITALAR Unidade Básica: Após a internação hospitalar, a equipe da UBS deve ser notificada da alta, para poder realizar o acompanhamento e seguimento desse usuário. A depender da gravidade do caso, ele pode necessitar de atendimento ambulatorial especializado (em outro serviço, por exemplo: reabilitação), mas todos devem ter seus cuidados coordenados pelas equipes de atenção básica. Caso a equipe seja apoiada por NASF, esse usuário deve ter seu caso discutido com os profissionais do NASF, para avaliar a necessidade de atendimento conjunto ou de ações específicas dos diversos núcleos profissionais. A Academia da saúde também pode ter ações para esses usuários, a depender da sua condição física. Atenção Domiciliar: Deve envolver ação conjunta da Atenção Básica e dos Serviços de Atenção Domiciliar (SAD), dando suporte clínico e monitoração domiciliar aos pacientes com maior dependência, maior dificuldade de locomoção e com maiores riscos de complicações (p.ex. usuários de sonda nasoentérica, portadores de úlcera de pressão, em regime de anticoagulação). O serviço deve dispor de médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, e pode dispor de fisioterapia respiratória e/ou motora, de terapia ocupacional e de fonoaudiologia (todos com regime de visitas adaptado às necessidades do paciente). Serviço De Reintegração Social: É um componente da Linha de Cuidados em AVC, podendo promover cadastro para busca ativa de emprego aos portadores de necessidades especiais pós-AVC, incluindo criação de grupos de convivência da melhor idade e estabelecimentos voltados aos pacientes em condições clínicas de retorno à comunidade, porém sem um mínimo suporte social e familiar. Centrais De Regulação: Regulação assistencial voltada para a disponibilização da alternativa assistencial mais adequada à necessidade do paciente, de forma equânime, ordenada, oportuna e qualificada. Ambulatório De Anticoagulação: Destinado ao controle de anticoagulação plena contínua, podendo estar na atenção básica, atenção especializada ou no Centro de Atendimento de Urgência Assistência Multiprofissional: Configura-se peça chave de toda a engrenagem da linha de cuidados, funcionando de forma integrada ao atendimento do doente com AVC (neurologia, neurocirurgia, clínica médica/geriatria/cardiologia, neuroradiologia intervencionista, cirurgia vascular, enfermagem, fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional, farmácia, psicologia, nutrição, serviço social) nos diversos níveis de assistência distribuídos de acordo com a necessidade de cada estação. REABILITAÇÃO PÓS-AVC O plano de reabilitação após o AVC deve ser personalizado, dependendo da parte do corpo e das habilidades afetadas pelo acidente vascular. Em geral, a reabilitação pode envolver o apoio de fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos, e práticas como: Exercícios de habilidade motora que ajudam a melhorar a força muscular e a coordenação Exercícios fonoaudiológicos para fortalecer a capacidade de falar e engolir Uso de suportes para apoiar a mobilidade durante a recuperação, como bengala ou cadeira de rodas Exercícios para aliviar a tensão muscular e ajudar a recuperar a amplitude de movimento Terapias para distúrbios cognitivos, para ajudar a melhorar a memória, a resolução de problemas, a consciência e as habilidades sociais Além de tratar as sequelas, o acompanhamento de um médico e um nutricionista também podem ser importantes, caso as dificuldades alimentares estejam presentes. Nesses casos, pode ocorrer a perda de peso e massa magra, o que enfraquece o corpo e prejudica a recuperação. Por fim, é importante não deixar de procurar apoio psicológico, assim como contar com a ajuda de pessoas queridas, como amigos e familiares. Neste momento sensível, a paciência e o carinho dos mais próximos é fundamentalpara recuperar tudo o que foi perdido. 3. IDENTIFICAR OS DESAFIOS ENFRENTADOS NA LINHA DE CUIDADO DO AVC O estudo apresentou ponto negativo referente à capacitação dos enfermeiros, pois todos os entrevistados responderam que não receberam capacitação para atender pacientes que apresentam AVE no setor de emergência, sobretudo afirmaram que o conhecimento que possuem se dá somente mediante suas práticas diárias e seus embasamentos teóricos adquiridos na graduação. Os profissionais de enfermagem, sobretudo os enfermeiros, que atuam nos setores de emergência são essenciais no processo de cuidar. É necessário que tenham competência, destreza, cuidado holístico, criatividade e sensibilidade [9]. Considera-se imprescindível a qualificação e atualização, específica e continuada, do Enfermeiro para atuar no processo de classificação de risco e priorização da assistência à saúde [10]. Portanto é de suma importância que o enfermeiro tenha capacitação e qualificação específica para atender pacientes que apresentam AVE, para que os mesmos possam desenvolver com habilidade todas as situações encontradas, proporcionando ao paciente uma possível diminuição das sequelas e o risco eminente de morte. Protocolo de acolhimento com classificação de risco No Brasil os serviços hospitalares, especialmente os setores de emergência têm se caracterizado cada vez mais por longas filas de espera. De acordo com essa realidade, o Ministério da Saúde tem reafirmado a Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS (Humaniza SUS), no qual faz parte o acolhimento com classificação de risco, com o objetivo de melhorar a qualidade e agilidade de atendimento do Sistema Único de Saúde [12]. Os enfermeiros entrevistados citaram que não existe protocolo de acolhimento com classificação de risco na urgência e emergência. Devido ao aumento da demanda dos atendimentos, muitos pacientes não sabem como se dirigir até a sala de emergência ou, muitas vezes, são encaminhados sem ter necessidade de atendimento imediato. A maioria dos enfermeiros considera como dificuldades a transferência do paciente para o hospital de referência, disponibilização de funcionários do hospital para acompanhamento, transporte, vagas no hospital de referência. Demora no atendimento Os primeiros procedimentos precisam ser realizados em até quatro horas e 30 minutos após os primeiros sintomas, mas o tempo médio até que o doente seja atendido nos hospitais-polos do interior é bem mais alto. Com a demora no primeiro atendimento e dependendo da gravidade do caso as chances diminuem. Além disso, a não capacitação dos profissionais da saúde para identificar os sinais de AVC é um problema. 4. DIFERENCIAR AS ETIOLOGIAS DO AVC. Pessoas que estão dentro do grupo de risco não modificáveis podem ser beneficiadas com maior atenção nos cuidados básicos de saúde. O grupo pertencente a riscos modificáveis precisa de incentivo e apoio para mudança de estilo de vida. Nos fatores de risco potenciais, o desafio é não permitir que estes se tornem um risco efetivo. A seguir, destacam-se os principais fatores de risco em três grupos: Grupo de risco não modificável • Idosos • Sexo masculino • Baixo peso ao nascimento • Negros (por associação com hipertensão arterial maligna) • História familiar de ocorrência de AVC • História pregressa de AIT • Condições genéticas como anemia falciforme Grupo de risco modificável • Hipertensão arterial sistêmica • Tabagismo • Diabetes Mellitus • Dislipidemia • Fibrilação atrial • Outras doenças cardiovasculares Grupo de risco potencial • Sedentarismo • Obesidade • Uso de contraceptivo oral • Terapia de reposição hormonal pós- menopausa • Alcoolismo • Aumento da homocisteína plasmática • Síndrome metabólica por aumento da gordura abdominal • Uso de cocaína e anfetaminas O AVC isquêmico é causado por uma obstrução súbita do fluxo arterial encefálico. Enquanto que o AVC hemorrágico é consequência de uma ruptura de estruturas vasculares cerebrais. A origem do AVCi pode ser trombótica ou embólica. Nas situações em que não é possível determinar a causa do AVC isquêmico, mesmo após a investigação correta, ele é denominado de AVC criptogênico. O que difere o AVC embólico do trombótico é a origem do trombo que ocasionou a obstrução. No AVC trombótico, o trombo é formado na própria artéria envolvida no AVC. Já no embólico ele é proveniente de outra região e se desloca pela circulação até impactar na artéria cerebral. 5. DEFINIR POLÍTICAS PUBLICAS DESTINADAS AOS PACIENTES COM AVC. Considerando a alta prevalência do Acidente Vascular Cerebral e sua importância como causa de morbidade e mortalidade no Brasil e no mundo e a necessidade de uma ação integrada no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) para reduzir a ocorrência das doenças cerebrovasculares; • Portaria nº 1.161/GM/MS, de 7 de julho de 2005, que institui a Política Nacional de Atenção ao Portador de Doença Neurológica; • Portaria n° 4.279/GM/MS, de 30 de dezembro de 2010, que prioriza a organização e implementação das Redes de Atenção à Saúde (RAS) no território nacional; • Portaria nº 1.600/GM/MS, de 7 de julho de 2011, que reformula a Política Nacional de Atenção às Urgências e a implementação da Rede de Atenção às Urgências; • Portaria nº 664/GM/MS, de 12 de abril de 2012, que aprova o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas - Trombólise no Acidente Vascular Cerebral Isquêmico Agudo; Considerando a necessidade de se estruturar as Redes de Atenção à Saúde e de se estabelecer uma Linha de Cuidados para o atendimento de doentes com Acidente Vascular Cerebral (AVC) e diretrizes nacionais para o diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos indivíduos com esta doença; Para o atendimento especializado, atualmente são 60 estabelecimentos habilitados como Centros de Atendimento de Urgência aos Pacientes com AVC. Com foco na reabilitação de pacientes com lesões neurológicas devido a doença, desde 2012, o Ministério da Saúde habilitou 203 Centros Especializados em Reabilitação (CER) em todo o país, além de 36 Oficinas Ortopédicas. Habilitação dos estabelecimentos hospitalares como centro de atendimento de urgência aos pacientes com avc no âmbito do sus ⟶ CENTRO DE ATENDIMENTO DE URGÊNCIA TIPO I, TIPO II E TIPO III AOS PACIENTES COM AVC Tipo I: Estabelecimentos hospitalares que desempenham o papel de referência para atendimento aos pacientes com AVC, que disponibilizam e realizam o procedimento com o uso de trombolítico. Tipo II: Além dos quesitos necessários para o Tipo I, deve contar com Unidade de Cuidado Agudo ao AVC (U-AVC Agudo). Necessita de área física definida, no mínimo, com 05 leitos exclusivamente destinados ao atendimento do paciente com AVC (isquêmico, hemorrágico ou acidente isquêmico transitório), durante a fase aguda (até 72 horas da internação), oferecendo, inclusive tratamento trombolítico endovenoso para o AVC isquêmico. O atendimento é feito de forma multiprofissional, com a inclusão de fisioterapia e fonoaudiologia. O tratamento de fase aguda é coordenado pelo neurologista. Tipo III: Além dos quesitos necessários para o Tipo II, deve contar com Unidade de Cuidado Integral ao AVC (U-AVC Integral). A U-AVC Integral inclui a U-AVC Agudo, podendo compartilhar ou não o mesmo espaço físico. É necessário possuir, no mínimo, 10 leitos e objetivar o atendimento da totalidade dos casos de AVC agudo admitidos na instituição (exceto aqueles que necessitarem de terapia intensiva e aqueles para os quais for optado por suporte com cuidados paliativos). Tem, também, o papel de dar continuidade ao tratamento da fase aguda, reabilitação precoce e investigação etiológica completa. Deve contar com Ambulatório especializado para dar suporte à Rede (preferencialmente próprio ou referenciado). Outro aspecto a destacar envolve asseqüelas resultantes de AVC. Essas têm duração e limitações variadas. Normalmente a recuperação é de médio e longo prazo e implicam em variações no grau de dependência dos cuidados. Por essa razão a recuperação do doente envolve esforços conjuntos dele e de sua família alem dos profissionais de saúde, tanto no âmbito hospitalar quanto fora dele. Diante dessas situações são necessárias algumas garantias para facilitar a manutenção e recuperação do equilíbrio na saúde, como a intervenção estatal nos casos de insuficiência de recursos financeiros. O direito a assistência social e à saúde da população requerem ação do Estado. A Constituição Federal nos artigos 196 a 200 explicita o direito à saúde a toda a população brasileira. Por outro lado é função do Estado o cuidado e assistência a saúde pública para as pessoas com deficiências. Também a Política Nacional de Saúde da Pessoa Portadora de Deficiência vem confirmar esse compromisso assegurando aos brasileiros o acesso aos cuidados e tratamentos disponíveis conforme as suas necessidades. Nesse aspecto as pessoas com sequelas de AVC são consideradas, para efeito de direitos, com necessidades especiais. Assim, precisam receber atenção no sentido de garantir que a elas sejam cumpridas as obrigações sociais. Outro aspecto preocupante para a pessoa que apresenta sequela de AVC e seus familiares é o financeiro. Com a reabilitação é possível retornar ao trabalho e ou ingressar em outra atividade remunerada. Nesse sentido, é proibida qualquer discriminação, seja de salário e de critérios de admissão para candidatos ou trabalhadores que apresentem sequelas de AVC. No âmbito público para contratações é dispensada a licitação quando o órgão desejar contratar associação de portadores de deficiência para prestação de serviços. Quando da realização de concursos públicos, deverão ser asseguradas as condições de facilitação para a realização das provas. Pessoas portadoras de paralisia irreversível e incapacitante terão direitos às seguintes isenções fiscais23: A. Imposto de Renda (IR) – as pessoas com deficiência que apresentam situação de rendimentos oriundos de aposentadoria, pensão ou reforma incluindo a complementação recebida por entidade privada (previdência privada) e pensão alimentícia. Note-se porem que a isenção não desobriga a entrega anual da declaração de imposto de renda. B. O portador de seqüelas de AVC tem direito a aposentadoria por invalidez, ao saque do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e do Programa de Integração Social (PIS). Nos casos em que o beneficiário necessitar de ajuda permanente de outra pessoa devido a incapacidade permanente para as atividades de vida diária, deverá receber adicional de 25%. Por outro lado submeter-se ao processo de reabilitação prescrito e isento de custo (cirurgia e transfusão) são facultativos. Outro dos seus direitos é o recebimento de um salário mínimo mensal, na ausência de condições provimento da subsistência. Tais benefícios devem ser solicitados ao INSS;
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