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Interpretação, Prova e Representação no Direito Civil

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Plano	de	Aula:	Interpretação	dos	negócios	jurídicos,	prova	e
Representação.
DIREITO	CIVIL	I	-	CCJ0006
Título
Interpretação	dos	negócios	jurídicos,	prova	e	Representação.
Número	de	Aulas	por	Semana
Número	de	Semana	de	Aula
13
Tema
Interpretação	dos	negócios	jurídicos,	prova	dos	negócios	jurídicos	e	a	figura	da
representação.
Objetivos
-	Examinar	as	regras	de	interpretação	do	negócio	jurídico
	
-	Conhecer	os	meios	de	prova	dos	negócios	jurídicos
	
-	Identificar	o	instituto	da	Representação	e	as	regras	a	ele	aplicáveis
Estrutura	do	Conteúdo
1.	Interpretação	do	negócio	jurídico
A	 parte	 geral	 do	 Código	 Civil	 dedica	 cinco	 dispositivos	 à	 interpretação	 dos
negócios	jurídicos:
	
Art.	 110.	 A	 manifestação	 de	 vontade	 subsiste	 ainda	 que	 o	 seu
autor	haja	feito	a	reserva	mental	de	não	querer	o	que	manifestou,
salvo	se	dela	o	destinatário	tinha	conhecimento.
Art.	111.	O	silêncio	importa	anuência,	quando	as	circunstâncias	ou
os	 usos	 o	 autorizarem,	 e	 não	 for	 necessária	 a	 declaração	 de
vontade	expressa.
Art.	112.	Nas	declarações	de	vontade	se	atenderá	mais	à	intenção
nelas	consubstanciada	do	que	ao	sentido	literal	da	linguagem.
Art.	113.	Os	negócios	jurídicos	devem	ser	interpretados	conforme	a
boa-fé	e	os	usos	do	lugar	de	sua	celebração.
Art.	114.	Os	negócios	jurídicos	benéficos	e	a	renúncia	interpretam-
se	estritamente.
	
A	regra	geral	é	a	de	prevalência	da	vontade	declarada.	Destaque	seja	feito	ao
art.	 113,	 CC,	 que	 integra	 um	 da	 das	 funções	 da	 cláusula	 geral	 da	 boa-fé
objetiva.	Além	dessas	normas	gerais,	 os	 livros	que	 integram	a	parte	especial
do	 Código	 Civil	 estabelecem	 regras	 específicas	 para	 as	 diversas	 espécies
negociais	(e.g.	art.	423:	interpretação	dos	contratos	por	adesão).
Enunciado	 n.	 409,	 V	 Jornada	 de	Direito	 Civil:	 os	 negócios	 jurídicos	 devem	 ser
interpretados	não	só	conforme	a	boa-fé	e	os	usos	do	lugar	de	sua	celebração,
mas	 também	 de	 acordo	 com	 as	 práticas	 habitualmente	 adotadas	 entre	 as
partes.
No	 tocante	 à	 reserva	mental,	 o	 art.	 110	 do	Código	Civil,	 seguindo	 a	 linha	 de
que	 lei	 não	 tem	 por	 função	 trazer	 definições,	 não	 conceitua	 reserva	mental,
apresentando	apenas	os	efeitos	da	 reserva	conhecida	e	não	conhecida	pela
outra	 parte.	 Trata-se	 de	 inovação	 do	 atual	 Código,	 eis	 que	 o	 Código	 Civil	 de
1916,	apesar	de	projetado	com	artigo	atinente	à	reserva	mental,	não	trouxe,
em	seu	texto	sancionado,	dispositivo	a	respeito.		
Cláudio	 Luiz	 Bueno	 de	 Godoy	 leciona	 que	 a	 reserva	mental	 é	 uma	 proposital
divergência,	uma	deliberada	disparidade	entre	a	vontade	 interna	e	a	vontade
afinal	 declarada.	 O	 sujeito	 declara	 uma	 vontade	 que	 não	 corresponde	 a	 seu
verdadeiro	querer,	o	qual	reserva	para	si.
É,	 desse	modo,	 a	 reserva	mental	 espécie	 de	 divergência	 intencional	 entre	 a
vontade	 interna	 e	 a	 vontade	 declarada	 através	 da	 qual	 o	 declarante	 emana
vontade	que	não	pretende	cumprir	no	 intuito	de	 ludibriar	o	declaratário,	que,
no	 ato	 da	 celebração	 do	 negócio,	 em	 regra	 desconhece	 a	 real	 intenção
(reservada)	da	outra	parte.
Parece	óbvia	a	conclusão	de	que	a	vontade	reservada,	quando	desconhecida
pelo	 declaratário,	 será	 irrelevante,	 de	 sorte	 que	 prevalecendo	 a	 declaração
sobre	a	vontade	interna,	deverá	o	negócio	ser	integralmente	cumprido.
Diferente	é	a	solução	dada	à	reserva	mental	conhecida	pela	outra	parte.	Aliás,
a	 diversas	 são	 as	 soluções,	 tanto	 nas	 diversas	 legislações,	 quanto	 na
doutrina.	 Todas,	 porém,	 convergem	 para	 a	 sobreposição	 da	 vontade	 interna
sobre	a	vontade	declarada,	 ao	 inverso	do	que	ocorre	na	 reserva	mental	 não
conhecida	pelo	declaratário.
	
2.	Da	prova	do	negócio	jurídico
O	 Novo	 Código	 Civil	 dedicou-se	 a	 tratar	 da	 prova	 do	 negócio	 jurídico	 nos
artigos	212	a	232	(Título	V	?	Das	provas,	do	Livro	 III	?	Dos	 fatos	 jurídicos,	do
Livro	 I	 -	Parte	geral),	 repetindo	o	que	estava	feito	no	Código	revogado	(arts.
136	a	144).
O	fato	jurídico	pode	ser	provado,	segundo	dispõe	o	art.	212	do	Código	Civil	de
2002,	mediante:
I	-	confissão;
	
II	-	documento;
	
III	-	testemunha;
	
IV	-	presunção;
	
V	-	perícia.
	
Embora	o	rol	apresentado	seja	bastante	abrangente,	essa	enumeração	não
é	 taxativa,	 desde	 que	 sua	 forma	 não	 seja	 pré-exigida	 ou	 ilegal,	 os	 mais
variados	 meios	 de	 prova	 são	 aceitos	 no	 ordenamento.	 Nesse	 sentido,
pontifica	PABLO	STOLZE.
Tal	posicionamento	é	fruto	da	atividade	profissional	de	magistrados,	de	que	a
imposição	de	 limitações	 formais	à	prova	de	determinados	 fatos	 jurídicos	em
sentido	amplo	 tem	 se	 tornado	menos	um	 instrumento	de	 segurança	e	mais
um	desvio	da	finalidade	instrumental	do	processo.
CONFISSÃO
	
A	 confissão	 é	 o	 reconhecimento	 livre	 da	 veridicidade	 do	 fato	 que	 a	 outra
parte	da	 relação	 jurídica	ou	do	próprio	negócio	pretende	provar	 (art.	212,	 I,
do	CC-2002;	art	136,	I,	do	CC-1916).	A	confissão	pode	ser	levada	a	termo	nos
autos,	 podendo	 ser	 espontânea	 ou	 provocada,	 ou	 constará	 do	 depoimento
pessoal	prestado	pela	parte.	 Indubitável	é,	asseverar	que	a	confissão	eleva-
se	 como	 o	mais	 importante	meio	 de	 prova	 de	 um	 fato	 jurídico,	 o	 que	 levou
muitos	 juristas	 antigos	 a	 denominá-la	 ?a	 rainha	 das	 provas?.	 No	 entanto,
deve-se	 interar,	que,	algumas	vezes,	a	confissão	decorre	de	coação	ou	vem
de	 pessoa	 impedida	 de	 confessar,	 o	 que	 acaba	 exigindo	 do	 juiz	 muita
atenção	 e	 cautela,	 para	 poder	 interpretá-la	 sistematicamente,	 em
comparação	com	os	outros	meios	comprobatórios	de	que	dispõe.
Documento
	
Também	é	considerado	meio	de	prova	o	documento	(art.	212,	 II,	do	CC-2002;
art	136,	III,	do	CC-1916).
	
Documento	é	a	demonstração	por	escrito	de	um	ato,	fato	ou	negócio	jurídico.
Os	 documentos	 podem	 ser	 públicos	 ou	 particulares.	 Públicos	 são	 os	 atos
escritos	 por	 autoridade	 pública,	 no	 exercício	 de	 suas	 funções,	 segundo	 as
exigências	 e	 formalidades	 legais;	 particulares	 são	 os	 documentos	 escritos
pela	própria	pessoa,	sem	intervenção	de	autoridade	pública.	Os	documentos
são	 públicos	 quando	 formados	 por	 oficial	 público,	 no	 exercício	 de	 suas
funções	 e	 na	 forma	 da	 lei;	 b)	 são	 particulares	 quando	 formados	 por
particulares	ou	por	quem	atue	nesta	qualidade.
	
O	instrumento	público	(lavrado	por	oficial)	ou	particular	(firmado	pelas	partes)
possui	 significado	 jurídico	 próprio,	 sendo	 uma	 espécie	 de	 documento,
formado	 com	 o	 propósito	 de	 servir	 de	 prova	 do	 ato	 apresentado.	 A	 prova
eficaz	do	 instrumento	é	a	nota	peculiar	desta	espécie	documental,	exemplo:
a	escritura	de	compra	e	venda	de	um	imóvel	e	o	instrumento	de	procuração,
pré-constituem	 o	 ônus	 da	 alienação	 e	 do	 contrato	 de	 mandato,
respectivamente.	 Por	 outro	 lado,	 um	 convite	 de	 casamento,	 por	 sua	 vez,	 é
apenas	 um	 mero	 documento	 particular,	 que	 não	 pode	 ser	 considerado
instrumento,	 pelo	 fato	 de	 não	 possuir	 o	 propósito	 de	 formar	 prova	 pré-
constituída	de	um	ato	jurídico.
Vale	ressaltar	também	que	a	formalização	de	um	ato	jurídico	em	instrumento
particular	 somente	 terá	 efeito	 perante	 terceiros	 após	 o	 seu	 necessário
registro	público	em	cartório.
Nesse	sentido,	dispõe	o	art.	221	do	Novo	Código	Civil:
	
?Art.	221.	O	instrumento	particular,	feito	e	assinado,	ou	somente	assinado	por
quem	 esteja	 na	 livre	 disposição	 e	 administração	 de	 seus	 bens,	 prova	 as
obrigações	 convencionais	de	qualquer	 valor;	mas	os	 seus	efeitos,	 bem	como
os	da	cessão,	não	se	operam,	a	respeito	de	terceiros,	antes	de	registrado	no
registro	 público.	 Parágrafo	 único.	 A	 prova	 do	 instrumento	 particular	 pode
suprir-se	pelas	outras	de	caráter	legal?.
Para	 efeito	 de	prova	do	 ato	 jurídico,	 a	 lei	 também	admite	 o	 valor	 de	 outros
documentos:
a)	dascertidões	textuais	de	qualquer	peça	judicial,	protocolo	das	audiências,
ou	de	qualquer	livro	a	cargo	do	escrivão,	sendo	extraídas	por	ele,	ou	sob	sua
vigilância,	e	por	ele	subscritas,	assim	como	o	traslado	de	autos,	quando	por
outro	escrivão	consertados	(art.	216	do	CC-02;	art.	137	do	CC-16);
	
b)	 dos	 traslados	 e	 das	 certidões,	 extraídas	 por	 oficial	 público,	 de
instrumentos	 ou	 documentos	 lançados	 em	 suas	 notas	 (art.	 217	 do	 CC-02;
art	 138	 do	 CC-16).	 Salienta-se	 que,	 na	 forma	 do	 art.	 218	 do	 CC-02,	 os
traslados	 e	 as	 certidões	 considerar-se-ão	 instrumentos	 públicos,	 se	 os
originais	se	houverem	produzido	em	juízo	como	ônus	de	algum	ato.
	
c)	da	cópia	fotográfica	de	documento,	conferida	por	tabelião	de	notas,	posto
que,	 em	 caso	 de	 impugnação	 de	 sua	 autenticidade,	 deva	 ser	 conferido
original.	O	título	de	crédito,	igualmente,	sob	pena	de	prejudicar	a	aferição	de
sua	 certeza,	 deve	 ser	 mostrado	 no	 original,	 sobretudo	 para	 o	 fim	 de
aparelhar	execução	judicial	(art.	223	do	CC-02);
	
d)	 das	 reproduções	 fotográficas,	 cinematográficas,	 dos	 registros
fonográficos	 e,	 em	 geral,	 quaisquer	 outras	 reproduções	 mecânicas	 ou
eletrônicas	 de	 fatos	 ou	 de	 coisas,	 se	 a	 parte,	 contra	 quem	 forem	 exibidos,
não	lhes	impugnar	a	sua	precisão	(art.	225	do	CC-02);
	
e)	dos	livros	e	fichas	dos	empresários	e	sociedades	contra	as	pessoas	a	que
pertencem,	 e,	 em	 seu	 favor,	 quando,	 escriturados	 sem	 vício	 extrínseco	 ou
intrínseco,	 forem	 confirmados	 por	 outros	 subsídios.	 Esta	 prova,	 entretanto,
não	 supre	 ausência	 de	 escritura	 pública	 ou	 escrito	 particular	 revestido	 de
requisitos	especiais,	e	pode	ser	 refutada	pela	comprovação	da	 falsidade	ou
inexatidão	dos	lançamentos	(art.	226	do	CC-02).
	
Um	 ponto	 importante	 também	 que	 deve	 ser	 destacado,	 está	 disposto	 no
art.	 224	 do	 CC-02,	 em	 que	 os	 documentos	 redigidos	 em	 língua	 estrangeira
deverão	 ser	 vertidos	 para	 a	 língua	 portuguesa,	 para	 que	 possa	 ter	 efeitos
legais	 no	 país.	 E,	 por	 medida	 de	 segurança,	 entende-se	 que	 deva	 a
tradução,	 caso	 o	 juiz	 não	 conheça	 o	 idioma	 estrangeiro,	 ser	 realizada	 por
tradutor	nomeado	e	juramentado.
	
Testemunha
	
Também	a	testemunha	poderá	provar	o	fato	jurídico	(art.	212,	III,	do	CC-2002;
art.	136,	IV	do	CC-1916).
	
A	 prova	 testemunhal	 talvez	 seja	 o	 meio	 de	 prova	 mais	 antigo	 que	 existe.
Testemunhar	é	o	ato	da	pessoa	que	presenciou	determinado	ato,	declarando
perante	 outra	 pessoa,	 a	 veracidade	do	mesmo.	 Pode	 ser	 judiciária,	 quando
depõe	 em	 juízo,	 ou	 instrumentária,	 quando	 subscreve	 o	 ato,	 por	 exemplo:
uma	escritura,	um	testamento,	um	contrato,	um	documento.
Segundo	o	eminente	CLÓVIS	BEVILÁQUA,	 com	absoluta	propriedade,	 observa
que	 a	 prova	 testemunhal	 é	 das	 mais	 perigosas,	 se	 bem	 que	 inevitável.	 De
fato,	a	testemunha,	chamada	a	depor	em	juízo,	deve	discorrer	acerca	do	que
sabe	e	lhe	for	perguntado,	impondo-se	a	ele,	por	isso	mesmo,	deixar	de	lado
caprichos	 ou	 convicções	 pessoais,	 sob	 pena	 de	 desvirtuar	 a	 verdade	 dos
fatos,	prejudicando	a	administração	da	Justiça.
O	art.	227	do	Novo	Código	Civil	dispõe	que:
	
?Art.	 227.	 Salvo	 os	 casos	 expressos,	 a	 prova	 exclusivamente	 testemunhal	 só
se	admite	nos	negócios	jurídicos	cujo	valor	não	ultrapasse	o	décuplo	do	maior
salário	mínimo	vigente	no	País	ao	tempo	em	que	foram	celebrados.
Parágrafo	 único.	 Qualquer	 que	 seja	 o	 valor	 do	 negócio	 jurídico,	 a	 prova
testemunhal	 é	 admissível	 como	 subsidiária	 ou	 complementar	 da	 prova	 por
escrito?.
Sobre	a	admissibilidade	das	testemunhas
	
Sobre	a	admissibilidade	de	testemunhas,	o	Novo	Código	Civil,	dispõe	que	não
podem	ser	admitidos	como	testemunhas:
	
I	?	os	menores	de	dezesseis	anos;
	
II	 ?	 aqueles	 que,	 por	 enfermidade	 ou	 retardamento	 mental,	 não	 tiverem
discernimento	 para	 a	 prática	 dos	 atos	 da	 vida	 civil;	 (alterado	 pela	 Lei
13.146/2015)
III	?	os	cegos	e	surdos,	quando	a	ciência	do	fato	que	se	quer	provar	dependa
dos	sentidos	que	lhes	faltam;
IV	?	o	interessado	no	litígio,	o	amigo	íntimo	ou	o	inimigo	capital	das	partes;
	
V	 ?	 os	 cônjuges,	 os	 ascendentes,	 os	 descendentes	 e	 os	 colaterais,	 até	 o
terceiro	grau	de	alguma	das	partes,	por	consanguinidade,	ou	afinidade.
	
Parágrafo	 único.	 Para	 a	 prova	 de	 fatos	 que	 só	 elas	 conheçam,	 pode	 o	 juiz
admitir	o	depoimento	das	pessoas	a	que	se	refere	este	artigo.
	
	
DAS	PESSOAS	NÃO	OBRIGADAS	A	DEPOR	COMO	TESTEMUNHAS
	
A	despeito	de	tal	importância	jurisdicional	e	social,	a	testemunha,	nos	termos
do	art.	229	no	Novo	Código	Civil	de	 2002,	 não	 é	 obrigada	 a	 depor	 sobre	 os
fatos,	in	verbis:
	
?Art.	229.	Ninguém	pode	ser	obrigado	a	depor	sobre	fato:
I	?	a	cujo	respeito,	por	estado	ou	profissão,	deva	guardar	segredo;
II	?	a	que	não	possa	responder	sem	desonra	própria,	de	seu	cônjuge,	parente
em	grau	sucessível,	ou	amigo	íntimo;
III	?	que	o	exponha,	ou	às	pessoas	referidas	no	inciso	antecedente,	a	perigo
de	vida,	de	demanda,	ou	de	dano	patrimonial	imediato?.
	
Com	 relação	 ao	 inciso	 I	 do	 referido	 artigo,	 as	 pessoas	 que	 devam	 guardar
segredo	profissional,	a	exemplo	do	médico	e	do	advogado,	incorrem,	em	caso
de	descumprimento	desse	preceito,	e	sem	prejuízo	de	eventual	apuração	em
sede	 administrativa,	 em	 sanções	 penais,	 por	 violação	 de	 segredo
profissional.
Presunções
	
Trilhando	ainda	a	diretriz	da	Lei	Civil	brasileira,	tanto	no	art.	136,	V,	do	CC-16,
como	 no	 Novo	 Código	 Civil	 de	 2002,	 as	 presunções	 também	 são	 meio	 de
provas	 do	 fato	 jurídico,	 e,	 nos	 ditos	 de	 Pablo	 Stolze	 e	 Rodolfo	 Pamplona,
pontificam	que	?a	presunção	é	a	operação	mental	pela	qual,	partindo-se	de
um	 fato	 conhecido,	 chega-se	 a	 um	 fato	 desconhecido,	 admitindo	 como
verdadeiro?.
Existem	 as	 presunções	 legais	 de	 maior	 interesse:	 a)	 absolutas	 (juris	 et	 de
jure);	 b)	 relativas	 (juris	 tantum).	 As	 primeiras	 são	 inafastáveis,	 firmando	 a
certeza	 juridical	 da	 verdade	 do	 fato	 que	 se	 pretende	 provar.	 Em	 fraudes
contra	 credores,	 por	 exemplo,	 firma-se	 a	 presunção	 de	 má-fé	 (consilium
fraudis)	 em	 caráter	 absoluto,	 exigindo-se	 para	 a	 obtenção	 da	 ineficácia	 do
ato	apenas	a	prova	do	prejuízo	causado	(eventus	dammi).	Já	os	pressupostos
de	presunções	relativas,	por	sua	vez,	são	mais	comuns.
	
Ao	 lado	das	presunções	 legais	existem	as	comuns,	 isto	é,	não	decorrem	da
lei,	 mas	 são	 extraídas	 de	 experiência	 ordinária.	 Neste	 sentido,	 na	 lei
processual	civil	corrobora	em	seu	art.	335,	que	?na	falta	de	normas	jurídicas
particulares,	o	juiz	aplicará	as	regras	da	experiência	comum	subministradas?.
Perícia
	
E,	finalmente	é	meio	de	prova	do	fato	jurídico	também,	a	perícia	(art.	212,	V,
do	 CC-02),	 vocábulo	 utilizado	 em	 substituição	 à	 expressão	 ?exames	 e
vistorias?,	 pertencente	 ao	 Código	 revogado	 de	 1916	 (art.	 136,	 VI),	 que,	 de
forma	técnica,	são	espécies	de	prova	pericial.
O	Novo	Código	Civil,	 consagrou	 duas	 importantes	 regras	 disciplinadoras,	 da
perícia	 médica	 e	 da	 consequência	 da	 recusa	 injustificada	 da	 parte	 em
submeter-se	à	sua	realização.
Assim,	estão	dispostos	os	arts.	231	e	232	do	CC-02:
	
?Art.	231.	Aquele	que	se	nega	a	submeter-se	a	exame	médico	necessário	não
poderá	aproveitar-se	de	sua	recusa.
Art.	232.	A	recusa	à	perícia	médica	ordenada	pelo	 juiz	poderá	suprir	a	prova
que	se	pretendia	obter	com	o	exame?.
	
De	sua	relevância	também	a	perícia	o	aspecto	processual.
Como	 ao	 juiz	 faltam	 conhecimentos	 técnicos	 sobre	 determinadas	 matérias,
faz-se	 necessário	 para	 a	 solução	 da	 lide	 que	 o	 magistrado	 busque	 laudo
técnico;	em	vista	disto,	se	valerá	de	um	?perito?.	O	perito	é	auxiliar	da	justiça
e	desempenha	um	múnus(cargo)	público,	 não	podendo	escusar-se	 sem	um
motivo	 justo,	 nem	 atuar	 de	 maneira	 temerosa,	 sob	 pena	 de	 ser
responsabilizado	penal,	civil	e	administrativamente.
	
Deve	 ser	 observado	 que,	 o	 juiz	 não	 fica	 sujeito	 à	 conclusão	 do	 perito,
podendo,	 sempre	 que	 julgar	 necessário,	 pedir	 nova	 perícia.	 Às	 vezes,	 o
próprio	magistrado	pode	verificar	 o	 local,	 o	 objeto	ou	a	pessoa	e	 tirar	 suas
próprias	conclusões:	trata-se	da	inspeção	judicial.
	
A	perícia	pode	ser	 feita	extrajudicialmente;	no	entanto,	ao	magistrado	cabe
valorar	 esta	 conforme	 o	 que	 por	 bem	 entender.	 Tendo	 a	 finalidade	 de	 fixar
fatos	 que	 com	 o	 tempo	 podem	 modificar-se	 ou	 perder-se,	 denomina-se
vistoria	ad-perpetuam	 rei	memoriam	 (que	 tem	 por	 finalidade	 resguardar	 um
direito	a	ser	demonstrado	oportunamente	nos	autos	da	ação),	que	serve	de
prova	para	o	futuro	pois	fixa	uma	situação.
	
	3.	Da	Representação	
Desde	 a	 aquisição	 da	 personalidade	 jurídica	 a	 pessoa	 está	 apta	 a	 adquirir
direitos	e	contrair	deveres	na	ordem	civil.	Todavia,	muito	embora	esteja	dotada
desta	aptidão	genérica,	nem	sempre	o	sujeito	pode,	pessoalmente,	praticar	os
atos	que	importem	na	criação,	extinção	ou	modificação	de	posições	jurídicas.
Tal	 impossibilidade	 de	 exercício	 pessoal	 das	 prerrogativas	 conferidas	 pela
personalidade	 jurídica	 deve	 ser	 entendida,	 aqui,	 de	 uma	 forma	 bastante
ampla,	para	abranger	não	apenas	as	hipóteses	de	 falta	de	capacidade,	mas
também	 as	 situações	 em	 que	 o	 sujeito,	 apesar	 de	 capaz,	 não	 quer	 ou	 está
impedido	de	atuar	pessoal	e	diretamente.
	 Para	 situações	 como	 essas	 existe	 a	 representação,	 que	 pode,	 em	 uma
primeira	 aproximação,	 ser	 entendida	 como	 uma	 substituição	 através	 da	 qual
uma	terceira	pessoa	(o	representante)	passa	a	agir	no	lugar	e	no	interesse	do
sujeito	 impossibilitado	 de	 atuar	 pessoalmente	 para	 a	 formação	 de	 seus
negócios.	Assim,	a	pessoa	absolutamente	 incapaz,	por	exemplo,	deverá	 ter	a
incapacidade	 suprida	 por	 um	 representante,	 que	 ficará	 encarregado	 de
manifestar	 a	 vontade	 dirigida	 à	 produção	 de	 efeitos	 jurídicos.	 Esta	 terceira
pessoa	 deve	 estar	 investida	 em	 um	 poder	 de	 representação	 conferido
diretamente	 pela	 lei	 (representação	 legal)	 ou	 por	 um	 negócio	 jurídico
celebrado	com	o	representante	(representação	voluntária).
	 No	 ponto,	 é	 interessante	 a	 reflexão	 que	 faz	 Roberto	 de	 Ruggiero	 quanto	 à
incidência	 da	 representação:	 se	 na	 vontade	 ou	 na	 declaração	 da	 vontade.
Esclarece	 o	 jurista	 italiano	 que	 a	 verdadeira	 representação	 recai	 sobre	 a
própria	construção	da	vontade,	de	modo	que	o	representante	tem	o	poder	de
decidir	 com	 autonomia	 acerca	 dos	 negócios	 jurídicos	 de	 seu	 representado,
que	 sofrerá	 os	 efeitos	 da	 escolha	 do	 representante.	 Por	 outro	 lado,	 ainda
conforme	 o	 pensamento	 de	 Ruggiero,	 se	 o	 representante	 atuar	 somente	 na
declaração	 da	 vontade,	 vontade	 essa	 já	 formada	 anteriormente	 pelo
representado,	não	se	pode	falar	em	representação,	mas	em	núncio.
Para	 José	 de	 Oliveira	 Ascensão,	 a	 representação	 está	 assentada	 em	 dois
pressupostos,	 quais	 sejam	a)	 um	poder	de	 representação	e	b)	 uma	atuação
(do	 representante)	 em	 nome	 de	 outrem	 (o	 representado).	 O	 efeito
característico	da	representação	é	que	o	ato	praticado	pelo	representante	 irá
repercutir	unicamente	na	esfera	jurídica	do	representado.
O	 poder	 de	 representação	 é	 pressuposto	 que	 deve	 ter	 a	 sua	 causa
profundamente	investigada.	Isso	porque	o	nexo	de	representação	dá	origem	a
uma	 relação	 angular,	 composta	 por	 um	 antecedente	 e	 um	 consequente:
antecedente	à	 representação	é	a	 relação	 jurídica	subjacente	existente	entre
representante	 e	 representado,	 e	 uma	 relação	 jurídica	 consequente,	 formada
pelo	representado	e	aquele	com	quem	o	negócio	jurídico	foi	celebrado.
Esta	 relação	 jurídica	 base	 pode	 ter	 por	 fonte	 imediata	 a	 lei	 ou	 um	 negócio
jurídico	 entre	 as	 partes,	 o	 que	 irá	 classificar	 as	 duas	 principais	 espécies	 de
representação	 (legal	 ou	 necessária	 e	 voluntária,	 respectivamente).	 Qualquer
que	 seja	 a	 espécie	 de	 representação,	 a	 sua	 fonte	 irá	 definir	 os	 limites	 do
poder	de	representação.
Importa	 aqui	 também	 a	 chamada	 causa	 objetiva	 da	 representação,	 que
consiste	 na	 defesa	 do	 melhor	 interesse	 do	 representado.	 Com	 efeito,	 o
instituto	 da	 representação	 existe	 para	 resguardar	 o	 interesse	 daquele	 que
não	pode,	pelo	menos	naquele	momento,	praticar	pessoalmente	o	ato.	É	esse
vetor	que	deve	direcionar	a	atuação	do	representante.
	Quanto	ao	segundo	pressuposto,	é	certo	que	deve	ficar	claro	ao	terceiro	que
celebra	 o	 negócio	 jurídico	 que	 o	 representante	 está	 a	 atuar	 em	 nome	 do
representado,	até	mesmo	por	uma	exigência	da	própria	boa-fé	objetiva,	que
deve	reger	todas	as	relações	privadas.
	Por	fim,	no	que	toca	o	efeito	da	representação,	as	consequências	jurídicas	do
ato	 praticado	 pelo	 representante	 serão	 suportadas	 pelo	 representado.	 Essa

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