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Plano de Aula: Interpretação dos negócios jurídicos, prova e Representação. DIREITO CIVIL I - CCJ0006 Título Interpretação dos negócios jurídicos, prova e Representação. Número de Aulas por Semana Número de Semana de Aula 13 Tema Interpretação dos negócios jurídicos, prova dos negócios jurídicos e a figura da representação. Objetivos - Examinar as regras de interpretação do negócio jurídico - Conhecer os meios de prova dos negócios jurídicos - Identificar o instituto da Representação e as regras a ele aplicáveis Estrutura do Conteúdo 1. Interpretação do negócio jurídico A parte geral do Código Civil dedica cinco dispositivos à interpretação dos negócios jurídicos: Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento. Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa. Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem. Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam- se estritamente. A regra geral é a de prevalência da vontade declarada. Destaque seja feito ao art. 113, CC, que integra um da das funções da cláusula geral da boa-fé objetiva. Além dessas normas gerais, os livros que integram a parte especial do Código Civil estabelecem regras específicas para as diversas espécies negociais (e.g. art. 423: interpretação dos contratos por adesão). Enunciado n. 409, V Jornada de Direito Civil: os negócios jurídicos devem ser interpretados não só conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração, mas também de acordo com as práticas habitualmente adotadas entre as partes. No tocante à reserva mental, o art. 110 do Código Civil, seguindo a linha de que lei não tem por função trazer definições, não conceitua reserva mental, apresentando apenas os efeitos da reserva conhecida e não conhecida pela outra parte. Trata-se de inovação do atual Código, eis que o Código Civil de 1916, apesar de projetado com artigo atinente à reserva mental, não trouxe, em seu texto sancionado, dispositivo a respeito. Cláudio Luiz Bueno de Godoy leciona que a reserva mental é uma proposital divergência, uma deliberada disparidade entre a vontade interna e a vontade afinal declarada. O sujeito declara uma vontade que não corresponde a seu verdadeiro querer, o qual reserva para si. É, desse modo, a reserva mental espécie de divergência intencional entre a vontade interna e a vontade declarada através da qual o declarante emana vontade que não pretende cumprir no intuito de ludibriar o declaratário, que, no ato da celebração do negócio, em regra desconhece a real intenção (reservada) da outra parte. Parece óbvia a conclusão de que a vontade reservada, quando desconhecida pelo declaratário, será irrelevante, de sorte que prevalecendo a declaração sobre a vontade interna, deverá o negócio ser integralmente cumprido. Diferente é a solução dada à reserva mental conhecida pela outra parte. Aliás, a diversas são as soluções, tanto nas diversas legislações, quanto na doutrina. Todas, porém, convergem para a sobreposição da vontade interna sobre a vontade declarada, ao inverso do que ocorre na reserva mental não conhecida pelo declaratário. 2. Da prova do negócio jurídico O Novo Código Civil dedicou-se a tratar da prova do negócio jurídico nos artigos 212 a 232 (Título V ? Das provas, do Livro III ? Dos fatos jurídicos, do Livro I - Parte geral), repetindo o que estava feito no Código revogado (arts. 136 a 144). O fato jurídico pode ser provado, segundo dispõe o art. 212 do Código Civil de 2002, mediante: I - confissão; II - documento; III - testemunha; IV - presunção; V - perícia. Embora o rol apresentado seja bastante abrangente, essa enumeração não é taxativa, desde que sua forma não seja pré-exigida ou ilegal, os mais variados meios de prova são aceitos no ordenamento. Nesse sentido, pontifica PABLO STOLZE. Tal posicionamento é fruto da atividade profissional de magistrados, de que a imposição de limitações formais à prova de determinados fatos jurídicos em sentido amplo tem se tornado menos um instrumento de segurança e mais um desvio da finalidade instrumental do processo. CONFISSÃO A confissão é o reconhecimento livre da veridicidade do fato que a outra parte da relação jurídica ou do próprio negócio pretende provar (art. 212, I, do CC-2002; art 136, I, do CC-1916). A confissão pode ser levada a termo nos autos, podendo ser espontânea ou provocada, ou constará do depoimento pessoal prestado pela parte. Indubitável é, asseverar que a confissão eleva- se como o mais importante meio de prova de um fato jurídico, o que levou muitos juristas antigos a denominá-la ?a rainha das provas?. No entanto, deve-se interar, que, algumas vezes, a confissão decorre de coação ou vem de pessoa impedida de confessar, o que acaba exigindo do juiz muita atenção e cautela, para poder interpretá-la sistematicamente, em comparação com os outros meios comprobatórios de que dispõe. Documento Também é considerado meio de prova o documento (art. 212, II, do CC-2002; art 136, III, do CC-1916). Documento é a demonstração por escrito de um ato, fato ou negócio jurídico. Os documentos podem ser públicos ou particulares. Públicos são os atos escritos por autoridade pública, no exercício de suas funções, segundo as exigências e formalidades legais; particulares são os documentos escritos pela própria pessoa, sem intervenção de autoridade pública. Os documentos são públicos quando formados por oficial público, no exercício de suas funções e na forma da lei; b) são particulares quando formados por particulares ou por quem atue nesta qualidade. O instrumento público (lavrado por oficial) ou particular (firmado pelas partes) possui significado jurídico próprio, sendo uma espécie de documento, formado com o propósito de servir de prova do ato apresentado. A prova eficaz do instrumento é a nota peculiar desta espécie documental, exemplo: a escritura de compra e venda de um imóvel e o instrumento de procuração, pré-constituem o ônus da alienação e do contrato de mandato, respectivamente. Por outro lado, um convite de casamento, por sua vez, é apenas um mero documento particular, que não pode ser considerado instrumento, pelo fato de não possuir o propósito de formar prova pré- constituída de um ato jurídico. Vale ressaltar também que a formalização de um ato jurídico em instrumento particular somente terá efeito perante terceiros após o seu necessário registro público em cartório. Nesse sentido, dispõe o art. 221 do Novo Código Civil: ?Art. 221. O instrumento particular, feito e assinado, ou somente assinado por quem esteja na livre disposição e administração de seus bens, prova as obrigações convencionais de qualquer valor; mas os seus efeitos, bem como os da cessão, não se operam, a respeito de terceiros, antes de registrado no registro público. Parágrafo único. A prova do instrumento particular pode suprir-se pelas outras de caráter legal?. Para efeito de prova do ato jurídico, a lei também admite o valor de outros documentos: a) dascertidões textuais de qualquer peça judicial, protocolo das audiências, ou de qualquer livro a cargo do escrivão, sendo extraídas por ele, ou sob sua vigilância, e por ele subscritas, assim como o traslado de autos, quando por outro escrivão consertados (art. 216 do CC-02; art. 137 do CC-16); b) dos traslados e das certidões, extraídas por oficial público, de instrumentos ou documentos lançados em suas notas (art. 217 do CC-02; art 138 do CC-16). Salienta-se que, na forma do art. 218 do CC-02, os traslados e as certidões considerar-se-ão instrumentos públicos, se os originais se houverem produzido em juízo como ônus de algum ato. c) da cópia fotográfica de documento, conferida por tabelião de notas, posto que, em caso de impugnação de sua autenticidade, deva ser conferido original. O título de crédito, igualmente, sob pena de prejudicar a aferição de sua certeza, deve ser mostrado no original, sobretudo para o fim de aparelhar execução judicial (art. 223 do CC-02); d) das reproduções fotográficas, cinematográficas, dos registros fonográficos e, em geral, quaisquer outras reproduções mecânicas ou eletrônicas de fatos ou de coisas, se a parte, contra quem forem exibidos, não lhes impugnar a sua precisão (art. 225 do CC-02); e) dos livros e fichas dos empresários e sociedades contra as pessoas a que pertencem, e, em seu favor, quando, escriturados sem vício extrínseco ou intrínseco, forem confirmados por outros subsídios. Esta prova, entretanto, não supre ausência de escritura pública ou escrito particular revestido de requisitos especiais, e pode ser refutada pela comprovação da falsidade ou inexatidão dos lançamentos (art. 226 do CC-02). Um ponto importante também que deve ser destacado, está disposto no art. 224 do CC-02, em que os documentos redigidos em língua estrangeira deverão ser vertidos para a língua portuguesa, para que possa ter efeitos legais no país. E, por medida de segurança, entende-se que deva a tradução, caso o juiz não conheça o idioma estrangeiro, ser realizada por tradutor nomeado e juramentado. Testemunha Também a testemunha poderá provar o fato jurídico (art. 212, III, do CC-2002; art. 136, IV do CC-1916). A prova testemunhal talvez seja o meio de prova mais antigo que existe. Testemunhar é o ato da pessoa que presenciou determinado ato, declarando perante outra pessoa, a veracidade do mesmo. Pode ser judiciária, quando depõe em juízo, ou instrumentária, quando subscreve o ato, por exemplo: uma escritura, um testamento, um contrato, um documento. Segundo o eminente CLÓVIS BEVILÁQUA, com absoluta propriedade, observa que a prova testemunhal é das mais perigosas, se bem que inevitável. De fato, a testemunha, chamada a depor em juízo, deve discorrer acerca do que sabe e lhe for perguntado, impondo-se a ele, por isso mesmo, deixar de lado caprichos ou convicções pessoais, sob pena de desvirtuar a verdade dos fatos, prejudicando a administração da Justiça. O art. 227 do Novo Código Civil dispõe que: ?Art. 227. Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente testemunhal só se admite nos negócios jurídicos cujo valor não ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente no País ao tempo em que foram celebrados. Parágrafo único. Qualquer que seja o valor do negócio jurídico, a prova testemunhal é admissível como subsidiária ou complementar da prova por escrito?. Sobre a admissibilidade das testemunhas Sobre a admissibilidade de testemunhas, o Novo Código Civil, dispõe que não podem ser admitidos como testemunhas: I ? os menores de dezesseis anos; II ? aqueles que, por enfermidade ou retardamento mental, não tiverem discernimento para a prática dos atos da vida civil; (alterado pela Lei 13.146/2015) III ? os cegos e surdos, quando a ciência do fato que se quer provar dependa dos sentidos que lhes faltam; IV ? o interessado no litígio, o amigo íntimo ou o inimigo capital das partes; V ? os cônjuges, os ascendentes, os descendentes e os colaterais, até o terceiro grau de alguma das partes, por consanguinidade, ou afinidade. Parágrafo único. Para a prova de fatos que só elas conheçam, pode o juiz admitir o depoimento das pessoas a que se refere este artigo. DAS PESSOAS NÃO OBRIGADAS A DEPOR COMO TESTEMUNHAS A despeito de tal importância jurisdicional e social, a testemunha, nos termos do art. 229 no Novo Código Civil de 2002, não é obrigada a depor sobre os fatos, in verbis: ?Art. 229. Ninguém pode ser obrigado a depor sobre fato: I ? a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar segredo; II ? a que não possa responder sem desonra própria, de seu cônjuge, parente em grau sucessível, ou amigo íntimo; III ? que o exponha, ou às pessoas referidas no inciso antecedente, a perigo de vida, de demanda, ou de dano patrimonial imediato?. Com relação ao inciso I do referido artigo, as pessoas que devam guardar segredo profissional, a exemplo do médico e do advogado, incorrem, em caso de descumprimento desse preceito, e sem prejuízo de eventual apuração em sede administrativa, em sanções penais, por violação de segredo profissional. Presunções Trilhando ainda a diretriz da Lei Civil brasileira, tanto no art. 136, V, do CC-16, como no Novo Código Civil de 2002, as presunções também são meio de provas do fato jurídico, e, nos ditos de Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona, pontificam que ?a presunção é a operação mental pela qual, partindo-se de um fato conhecido, chega-se a um fato desconhecido, admitindo como verdadeiro?. Existem as presunções legais de maior interesse: a) absolutas (juris et de jure); b) relativas (juris tantum). As primeiras são inafastáveis, firmando a certeza juridical da verdade do fato que se pretende provar. Em fraudes contra credores, por exemplo, firma-se a presunção de má-fé (consilium fraudis) em caráter absoluto, exigindo-se para a obtenção da ineficácia do ato apenas a prova do prejuízo causado (eventus dammi). Já os pressupostos de presunções relativas, por sua vez, são mais comuns. Ao lado das presunções legais existem as comuns, isto é, não decorrem da lei, mas são extraídas de experiência ordinária. Neste sentido, na lei processual civil corrobora em seu art. 335, que ?na falta de normas jurídicas particulares, o juiz aplicará as regras da experiência comum subministradas?. Perícia E, finalmente é meio de prova do fato jurídico também, a perícia (art. 212, V, do CC-02), vocábulo utilizado em substituição à expressão ?exames e vistorias?, pertencente ao Código revogado de 1916 (art. 136, VI), que, de forma técnica, são espécies de prova pericial. O Novo Código Civil, consagrou duas importantes regras disciplinadoras, da perícia médica e da consequência da recusa injustificada da parte em submeter-se à sua realização. Assim, estão dispostos os arts. 231 e 232 do CC-02: ?Art. 231. Aquele que se nega a submeter-se a exame médico necessário não poderá aproveitar-se de sua recusa. Art. 232. A recusa à perícia médica ordenada pelo juiz poderá suprir a prova que se pretendia obter com o exame?. De sua relevância também a perícia o aspecto processual. Como ao juiz faltam conhecimentos técnicos sobre determinadas matérias, faz-se necessário para a solução da lide que o magistrado busque laudo técnico; em vista disto, se valerá de um ?perito?. O perito é auxiliar da justiça e desempenha um múnus(cargo) público, não podendo escusar-se sem um motivo justo, nem atuar de maneira temerosa, sob pena de ser responsabilizado penal, civil e administrativamente. Deve ser observado que, o juiz não fica sujeito à conclusão do perito, podendo, sempre que julgar necessário, pedir nova perícia. Às vezes, o próprio magistrado pode verificar o local, o objeto ou a pessoa e tirar suas próprias conclusões: trata-se da inspeção judicial. A perícia pode ser feita extrajudicialmente; no entanto, ao magistrado cabe valorar esta conforme o que por bem entender. Tendo a finalidade de fixar fatos que com o tempo podem modificar-se ou perder-se, denomina-se vistoria ad-perpetuam rei memoriam (que tem por finalidade resguardar um direito a ser demonstrado oportunamente nos autos da ação), que serve de prova para o futuro pois fixa uma situação. 3. Da Representação Desde a aquisição da personalidade jurídica a pessoa está apta a adquirir direitos e contrair deveres na ordem civil. Todavia, muito embora esteja dotada desta aptidão genérica, nem sempre o sujeito pode, pessoalmente, praticar os atos que importem na criação, extinção ou modificação de posições jurídicas. Tal impossibilidade de exercício pessoal das prerrogativas conferidas pela personalidade jurídica deve ser entendida, aqui, de uma forma bastante ampla, para abranger não apenas as hipóteses de falta de capacidade, mas também as situações em que o sujeito, apesar de capaz, não quer ou está impedido de atuar pessoal e diretamente. Para situações como essas existe a representação, que pode, em uma primeira aproximação, ser entendida como uma substituição através da qual uma terceira pessoa (o representante) passa a agir no lugar e no interesse do sujeito impossibilitado de atuar pessoalmente para a formação de seus negócios. Assim, a pessoa absolutamente incapaz, por exemplo, deverá ter a incapacidade suprida por um representante, que ficará encarregado de manifestar a vontade dirigida à produção de efeitos jurídicos. Esta terceira pessoa deve estar investida em um poder de representação conferido diretamente pela lei (representação legal) ou por um negócio jurídico celebrado com o representante (representação voluntária). No ponto, é interessante a reflexão que faz Roberto de Ruggiero quanto à incidência da representação: se na vontade ou na declaração da vontade. Esclarece o jurista italiano que a verdadeira representação recai sobre a própria construção da vontade, de modo que o representante tem o poder de decidir com autonomia acerca dos negócios jurídicos de seu representado, que sofrerá os efeitos da escolha do representante. Por outro lado, ainda conforme o pensamento de Ruggiero, se o representante atuar somente na declaração da vontade, vontade essa já formada anteriormente pelo representado, não se pode falar em representação, mas em núncio. Para José de Oliveira Ascensão, a representação está assentada em dois pressupostos, quais sejam a) um poder de representação e b) uma atuação (do representante) em nome de outrem (o representado). O efeito característico da representação é que o ato praticado pelo representante irá repercutir unicamente na esfera jurídica do representado. O poder de representação é pressuposto que deve ter a sua causa profundamente investigada. Isso porque o nexo de representação dá origem a uma relação angular, composta por um antecedente e um consequente: antecedente à representação é a relação jurídica subjacente existente entre representante e representado, e uma relação jurídica consequente, formada pelo representado e aquele com quem o negócio jurídico foi celebrado. Esta relação jurídica base pode ter por fonte imediata a lei ou um negócio jurídico entre as partes, o que irá classificar as duas principais espécies de representação (legal ou necessária e voluntária, respectivamente). Qualquer que seja a espécie de representação, a sua fonte irá definir os limites do poder de representação. Importa aqui também a chamada causa objetiva da representação, que consiste na defesa do melhor interesse do representado. Com efeito, o instituto da representação existe para resguardar o interesse daquele que não pode, pelo menos naquele momento, praticar pessoalmente o ato. É esse vetor que deve direcionar a atuação do representante. Quanto ao segundo pressuposto, é certo que deve ficar claro ao terceiro que celebra o negócio jurídico que o representante está a atuar em nome do representado, até mesmo por uma exigência da própria boa-fé objetiva, que deve reger todas as relações privadas. Por fim, no que toca o efeito da representação, as consequências jurídicas do ato praticado pelo representante serão suportadas pelo representado. Essa
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