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POLÍTICAS E GESTÃO DA EDUCAÇÃO – AULA 04 Movimentos sociais urbanos ABERTURA OOlá! OO conceito de movimento social se refere à ação coletiva de um grupo organizado que tem como objetivo alcançar mudanças sociais por meio do embate político, dentro de uma determinada sociedade e de um contexto específico. Fazem parte dos movimentos sociais, os movimentos populares, sindicais e a organizações não governamentais (ONGs). OOs movimentos sociais brasileiros ganharam mais importância a partir da década de 1960,quando surgiram os primeiros movimentos de luta contra a política vigente, ou seja, a população insatisfeita com as transformações ocorridas tanto no campo econômico e social. Mas, antes, na década de 1950, os movimentos nos espaços rural e urbano adquiriram visibilidade. BONS ESTUDOS! REFERENCIAL TEÓRICO Neste capítulo, você vai estudar as dinâmicas e relações existentes entre as escolas e os contextos urbanos a partir das leituras da sociologia da educação e da sociologia dos movimentos sociais. As cidades envolvem práticas sociais que impactam não apenas a vida estudantil, mas também outras esferas da vida social e das trajetórias biográficas dos alunos. Por isso, as relações entre as cidades e as escolas oferecem desafios e pos-sibilidades de crescimento. Além disso, as escolas, nesse contexto, são determinantes para a organização social, a mobilidade e a transformação de cenários de desigualdade. Ao longo deste texto, você vai ver como identificar a presença da escola no contexto urbano. Também vai conhecer a importância histórica, social e política dessa instituição. Além disso, vai verificar que o espaço físico e a localização geográfica têm profunda importância em um contexto urbano dividido entre periferias e centros. Por fim, você vai conhecer as reflexões e os diálogos empreendidos pelos movimentos sociais voltados à educação. BOA LEITURA! Ao final desta unidade de ensino, você estará apto a: • Analisar o lugar da escola na idade; • Questionar a segregação urbana e as desigualdades sociais; • Identificar temas e dimensões dos movimentos sociais voltados à educação. CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI Educação, cidade e movimentos sociais Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: ■ Analisar o lugar da escola na cidade. ■ Questionar a segregação urbana e as desigualdades educacionais. ■ Identificar os temas e dimensões dos movimentos sociais voltados à educação. Introdução Neste capítulo, você vai estudar as dinâmicas e relações existentes entre as escolas e os contextos urbanos a partir das leituras da sociologia da educação e da sociologia dos movimentos sociais. As cidades envolvem práticas sociais que impactam não apenas a vida estudantil, mas também outras esferas da vida social e das trajetórias biográficas dos alunos. Por isso, as relações entre as cidades e as escolas oferecem desafios e pos sibilidades de crescimento. Além disso, as escolas , nesse contexto, são determinantes para a organização social, a mobilidade e a transformação de cenários de desigualdade. Ao longo deste texto, você vai ver como identificar a presença da escola no contexto urbano. Também vai conhecer a importância his tórica, social e política dessa instituição. Além disso, vai verificar que o espaço físico e a localização geográfica têm profunda importância em um contexto urbano dividido entre periferias e centros. Por fim, você vai conhecer as reflexões e os diálogos empreendidos pelos movimentos sociais voltados à educação. CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI ____ 4.,) Educação, cidade e movimentos sociais do país. Assim, como você pode notar, as escolas se configuram como espaços estratégicos fundamentais para a sociabilidade e para a difusão ou cristalização de elementos culturais nas cidades. Por isso é tão importante que a escola seja acessível a todos os cidadãos, independentemente de origem, classe social ou gênero. Quando ela não é acessível, ou quando há diferenças na qualidade dos conteúdos ofertados pelas escolas, o resultado é o desequilíbrio social, cultural e econômico. Isso causa impactos na mobilidade e na ocupação dos espaços sociais por todos os grupos, além de desigualdades e até mesmo tensões sociais. Saiba mais A relação entre a escola, a cidade e os movimentos sociais se constrói também por meio de políticas públicas. Além das políticas que já existem, outras podem surgir a partir da mobilização social. É fundamental que haja dispositivos para melhorar o contexto social e para que direitos humanos fundamentais sejam respeitados e estejam presentes nas dinâmicas escolares, como conteúdo didático e como embasamento para as relações estabelecidas nas escolas. Para aprender mais sobre esse assunto, leia o artigo disponível no link a seguir. https://goo.gl/PyZ4MM Desigualdades sociais causam desigualdades educacionais? As escolas são meios produtores do saber e difusores da educação, mas não são os únicos. As chamadas "práticas educativas não escolares" (FERNANDES, 2009) acontecem nos espaços em que ações são derivadas de laços e conexões sociais. Essas ações podem ter maior ou menor profundidade, mas impactam as formações socioculturais individuais e coletivas. Os ritos e celebrações religiosas, por exemplo, afetam e formam cultural mente determinados grupos, aqueles que partilham a religião. Normalmente, atuam de maneira intensa, moldando valores e formas de comportamento. Trata-se de um espaço em que existem também práticas educativas não es colares: quando se aprende sobre os ritos, quando se aprende sobre a história por meio de livros sagrados ou orações antigas. CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI PORTFÓLIO LEITURA DE ARTIGO - RESENHA - REFLEXÃO ARTIGO Os novos movimentos sociais e a educação em direitos humanos nas ações e políticas públicas no Brasil contemporâneo. AUTOR Ana Carolina Reis Pereira. Universidade Estadual de Campinas. RESUMO Os movimentos sociais vêm desempenhando um papel fundamental na articulação entre o Estado e a sociedade civil, através da luta por direitos. O tema que este artigo desenvolve parte da exposição dos princípios gerais reivindicados pelos movimentos sociais em cada contexto histórico, com destaque ao momento atual, com o objetivo de identificar sua contribuição na construção das políticas públicas e os seus desdobramentos no âmbito da Educação Básica. RESENHA Produza uma resenha de 20 a 35 linhas sobre o artigo. REFLEXÃO Finalize com suas reflexões sobre o envolvimento dos movimentos sociais nas politicas publicas, seja de educação ou moradia, na sua cidade... ou no Brasil. BOM TRABALHO! ACESSE - ARTIGO 01 - 016 - AULA 04 CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI OBS: Para redigir sua resposta, use uma linguagem acadêmica. Faça um texto com no mínimo 20 linhas e máximo 35 linhas. Lembre-se de não escrever em primeira pessoa do singular, não usar gírias, usar as normas da ABNT: texto com fonte tamanho 12, fonte arial ou times, espaçamento 1,5 entre linhas, texto justificado. PESQUISA AUTO ESTUDO Você participando na construção do seu conhecimento. Pesquisa Procure informações sobre a atuação de entidades e movimentos sociais no Brasil. As ações coletivas mais conhecidas no Brasil são o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MSTS) e os movimentos em defesa dos índios, negros e das mulheres. CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 38 agosto 2013 Capa/Urbanismo 38 agosto 2013 © M a ria E u ge n ia B a rb o sa A escolA e A cIDADe 38 agos to 2013 CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 392013 agosto Mobilidade, segurança, infraestrutura. Os temas da pauta nacional estão diretamente relacionadoscom a interseção entre a escola e o seu impacto nos grandes centros urbanos Frederico Guimarães 392013 agosto o bonde avança pela ave- nida Paulista repleto de trabalhadores e estu- dantes. Entre a catraca e a porta, do lado esquerdo do coletivo, se levanta um rapaz franzino, cujo rosto desfi gurado ninguém reco- nhece na foto. O personagem per- dido no tempo está em um arqui- vo raro de 146 anos do Colégio São Luís, um dos mais tradicionais da cidade de São Paulo. Localizada no bairro da Consolação, na região da Paulista, a escola particular está hoje imersa entre bancos, cinemas e 3,8 milhões de automóveis, que segundo a Companhia de Enge- nharia de Tráfego (CET) circulam todos os dias no maior centro em- presarial do país. A falta de integração entre a vi- são de quem constrói a escola e a de quem administra o espaço pú- blico da cidade é o principal im- passe na hora de desenvolver pro- jetos urbanísticos voltados para a educação, defendem especialistas. Cada vez mais, o tema tem sido discutido por arquitetos, professo- res e gestores que se deparam com o alto número de estudantes e a falta de espaço físico para a cons- trução de novos prédios. Além disso, a questão da mobilidade se torna cada vez mais urgente nos principais centros urbanos do país, como se constatou na série de manifestações que durante quase todo o último mês de junho levaram estudantes, professores e trabalhadores às ruas para reivin- dicar mudanças nas políticas pú- blicas e culminaram com a redu- ção da passagem de ônibus em mais de 100 munícipios. Desde a década de 1990, a esco- la é considerada ator prioritário nesse debate, quando foi concebi- da, em Barcelona, na Espanha, a ideia das “Cidades Educadoras”. A proposta, adotada em mais de 30 países em quatro continentes, é a de que a cidade desenvolva a edu- cação como prioridade e a partir daí pense a questão das ruas, habi- tação, mobilidade, transporte e infraestrutura. Seja nos centros ur- banos ou na periferia, em muitos locais a educação tem sido respon- sável por remodelar cidades, con- ceitos e novas perspectivas que podem infl uenciar também no de- senvolvimento do ensino, apesar dos claros desafi os que ainda en- frenta no caso brasileiro. PONTO DE PARTIDA “A escola é o elemento aglutina- dor da população. Às vezes, é o único onde as famílias podem se relacionar para resolver problemas da vida das crianças. Na capilari- dade de todos os equipamentos e serviços prestados pela população, o único local que é um local fi xo é a escola”, ressalta a urbanista e professora doutora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU- -USP), Rosana Helena Miranda, que foi com os fi lhos para as ruas de São Paulo durante as manifes- tações de junho. Quando visitou a Holanda, no ano 2000, Rosana fi cou impressio- nada com a relação que uma esco- la de Roterdã estabelecia com a cidade. Pais, alunos e professores montaram uma mesa com mora- dores para celebrar um jantar a céu aberto no meio da rua. A via- gem, que durou cerca de quatro meses, serviu como ponto de par- tida para pensar a questão da edu- cação e do espaço urbano, temas que sempre estiveram presentes em sua carreira. Depois de 27 anos trabalhando para a prefeitura de São Paulo, atualmente a professora estuda mapas que revelam as mo- difi cações sofridas nos bairros a partir da implantação das escolas, ainda sem conclusões defi nitivas. Seus anos de experiência, po- rém, mostram as difi culdades em estabalecer projetos urbanísticos que tomem a escola como ponto de partida. “A visão de que todo espaço é pedagógico ainda está muito marginal dentro da visão de política pública. O projeto educa- cional está num caminho, mas o projeto urbanístico está em parale- lo”, ressalta. Bia Goulart, arquiteta e pesqui- sadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), concorda. CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 40 agosto 2013 Capa/Urbanismo Fluminense, o governo municipal quis articular a proposta do “bair- ro-escola” para um município com altos índices de violência e com mais de 700 mil habitantes. Bia Goulart, da UFRJ, fez parte da equipe da prefeitura que coorde- nou os trabalhos na região entre os anos de 2004 e 2010. Segundo ela, existe um confl ito estabeleci- do. “Quem está dentro da escola costuma falar mal da cidade e do mundo lá fora e quem está lá fora critica a escola.” Para ela, um pro- blema grave é a escola se construir isolada do mundo. “Quando os meninos de Nova Iguaçu saem para estudar o lixo e alertam o pre- feito de que esse lixo pode ser útil para uma praça, a escola passa a ser responsável. Acho que essa in- tervenção urbana que a escola faz e deixa a cidade mais bonita é a grande sacada.” SUPERLOTAÇÃO Além de serem cidades ou bair- ros educadores, é preciso chegar a essas escolas. Na maioria dos cen- tros urbanos brasileiros, da perife- ria ao centro, uma viagem não bas- ta. É preciso pegar ônibus, trem - ou metrô lotado e a preços altos. Em São Paulo, uma pesquisa do metrô mostra que a maior parte da população metropolitana precisa se deslocar todos os dias para a ci- dade por causa da oferta de trabalho “Ás vezes, o profi ssional até tem vontade, mas há difi culdade de trabalhar coletivamente uma polí- tica intersetorial. É cada um no seu quadrado. Um secretário quer aparecer mais que o outro. É uma pressa de construir”, revela. BAIRROS EDUCADORES Algumas experiências, porém, têm tentado dar conta desses desa- fi os. No Brasil, a ONG Aprendiz aderiu ao modelo da Cidade Edu- cadora para tentar disseminar jun- to à comunidade a ideia do “bair- ro-escola” na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo. A socióloga Helena Singer e a psicóloga Nata- cha Costa estão à frente do proje- to. Nos becos das ruas e nas vielas abandonadas, elas resolveram apoiar intervenções artísticas de estudantes de escolas da região. “Com as ações de ressignifi car os muros houve uma retomada dos becos pela comunidade e a Vila Madalena passou a ser uma refe- rência do grafi te para a cidade”, diz Helena. Ela acredita que as ati- vidades são uma forma de levar os alunos para fora das salas de aula e ao mesmo tempo dar uma outra cara ao bairro. O sonho de um “bairro educador” ainda está longe de virar realidade, mas a iniciativa serviu para infl uenciar outros pro- jetos pelo país. Em Nova Iguaçu, na Baixada “A ESCOLA É O ELEMENTO AGLUTINADOR DA POPULAÇÃO. NA CAPILARIDADE DE TODOS OS EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS PRESTADOS PELA POPULAÇÃO, O ÚNICO LOCAL QUE É UM LOCAL FIXO É A ESCOLA” Rosana Helena Miranda, FAU-USP © G u st a vo M o rit a CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 412013 agosto e de educação. O estudo, que traça o perfi l dos usuários e seus hábitos de viagem entre 2010 e 2012, ainda diz que a maior parte dos passa- geiros se locomove com outra con- dução integrada, principalmente ônibus e micro-ônibus. Uma das principais consequências é óbvia: o comércio borbulha, a região cen- tral está repleta de cursinhos, cam- pi universitários e colégios de en- sino fundamental e médio. Para diminuir a superlotação de Entrada da EE Rodrigues Alves: a maioria dos alunos utiliza o transporte público para ir estudar © G u st a vo M o rit a Fragilizada pelo tráfico de drogas, a comunidade de Heliópolis, na zona sul de São Paulo, começou a se fortalecer pela educação há 13 anos, quando uma aluna de 15 anos morreu após ser alvejada no rosto perto da Escola Municipal Presiden- te Campos Salles. Até hoje ninguém foi incriminado. A partir disso, o diretor da escola, Braz Rodrigues Nogueira, estreitou laços com lideranças políticas, o poder público e outros parceiros, como o arquiteto Ruy Ohtake, responsável por dese- nhar o Polo Educacional de Heliópolis. O projeto pedagógico tem como referência a Escola da Ponte e os alunos têm aulas em espaços abertos, mas muitas vezes esbarram em obstáculos. “É complicado disseminara ideia de que a educação pode emancipar o indivíduo e a comunidade quando eles trabalham juntos. Outro dia foi muito difícil mobilizar alunos para uma simples caminhada por aqui. Foi preciso autorização do governo do Estado e três viaturas da polícia. Agora dou risada, mas na hora ficamos tristes”, relembra a gestora Arlete Persoli. Em busca da comunidade CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 42 agosto 2013 Capa/Urbanismo A dificuldade em se locomover nas grandes cidades e a fragilidade do sis- tema de transportes no país levantam outra discussão pertinente, além das reivindicações dos manifestantes. Desde a década de 90, o debate sobre a “inversão de prioridades” aponta a necessidade de investir em políticas públicas na periferia e descentralizar a busca por saúde, educação e infraes- trutura de qualidade nos centros urbanos. Em 2006, a cidade de Guarulhos, na Grande São Paulo, decidiu construir um campus da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) no bairro dos Pimentas, localizado na periferia do município. A invasão foi evidente: 70% dos alunos da instituição não moram na cidade, segundo um estudo da pró-reitoria de Assuntos Estudantis. Com três mil alunos, a Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas quase foi parar no centro de São Paulo, depois que um dossiê feito por professores pedia a mudança do campus de lugar. Os docentes alegaram que o local era de difícil acesso, com alunos demorando mais de uma hora dentro do ônibus para chegar até a Universidade. Uma minoria discorda. O estudante Roberto de Sousa Silva, um dos poucos moradores do bairro dos Pimentas, acredita que a região se desenvolveu a partir da construção do campus. “Eu vi esse prédio sendo construído. A Universidade veio junto com o crescimento de Guarulhos, a região se expandiu e trouxe cultura para cá”, conta o estudante, que se formou em filosofia e agora cursa mestrado. Para o arquiteto Anderson Kazuo Nakano, do Instituto Polis, o morador do bairro periférico que todos os dias vai trabalhar e estudar no centro expan- dido enfrenta uma série de dificuldades. Mas o inverso também acontece. “Estamos acostumados a pensar os projetos urbanos na escala macro. Daí a importância de um grande investimento em transporte de massa e sobre trilhos, mas também devemos pensar na escala micro. Nós nos esquece- mos de como esses grandes investimentos vão se relacionar com a escala de vizinhança. O projeto urbano tem de ter sustentabilidade no tempo, tem de ter uma fonte de financiamento permanente para gerar resultado.” Segunda cidade mais populosa do Estado, com cerca de 1,2 milhão de habitantes, Guarulhos deve ganhar uma linha de trem com a zona leste de São Paulo a partir do ano que vem para transportar 120 mil pessoas por dia. Inversão de prioridades Campus da Unifesp em Guarulhos: curso da EFLCH corre o risco de sair da cidade estudantes no centro da capital paulista, a pesquisadora Bia Gou- lart (UFRJ) defende que as políti- cas públicas, inclusive a educação, sejam fortalecidas na periferia. “Se você se instala num lugar mais tranquilo é possível produzir mais, mas a escola continua com um de- senho fabril, de não poder olhar pela janela, de não poder se me- xer, de separar por turma, por ida- de. Todo esse sistema produtivo está ligado à especulação imobiliá- ria. A produção do espaço conti- nua sendo determinada pelo dono do capital, que está pouco se li- xando para a educação”, contesta. Já a arquiteta Rosana Miranda (FAU-USP) vê de outra forma a re- lação do estudante com a região central. “Estamos tendo um cresci- mento educacional altíssimo. É uma movimentação dessa juven- tude querendo estudar, e uma ju- ventude trabalhadora; não é uma juventude da classe média, cujos pais bancam a educação”, afi rma. “O que temos de entender é que cada investimento feito num equi- pamento público signifi ca que esse ambiente tem de devolver coisas para a cidade, ir melhoran- do gradativamente o espaço públi- co do entorno”, defende. TRÁFEGO E ENTORNO Para tentar diminuir o impacto do trânsito no entorno dos colé- gios de São Paulo, desde janeiro deste ano, a CET atua nas proxi- midades de 146 escolas públicas e particulares da capital paulista. Segundo a Companhia, são 286 operadores de trânsito, além de funcionários das próprias escolas que foram treinados para discipli- nar o embarque e desembarque de estudantes. É o caso do Colégio São Luís. A instituição construiu na década de 70 uma rua interna que liga as ruas Haddock Lobo e © F re d er ic o G u im a rã es CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 432013 agosto e metrô para ir estudar. De acordo com ele, um terço dos alunos mo- ram nas redondezas e não precisam utilizar nenhum tipo de transporte. O VALOR DO TRANSPORTE Em uma comparação com o Rio de Janeiro, segundo maior muni- cípio do país, São Paulo tem 20% a mais dos estudantes da sua cida- de circulando pelos ônibus da ca- pital. A política de transporte que atende a maior parte dos estudan- tes da capital paulista é o Bilhete Único, que pode ser utilizado no trem e no metrô com a passagem sendo cobrada pela metade do preço. Segundo a SPTrans, são cer- ca de 820 mil alunos cadastrados no serviço e a meta é chegar a um milhão até o fi m deste ano. Para quem sai da região metropolitana, também é preciso se cadastrar no serviço da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo. Segundo a EMTU, cerca de 440 mil estudantes possuem o car- tão BOM, utilizado nas linhas inter- municipais da Grande São Paulo. O alto custo das passagens – até R$ 7 em algumas linhas - foi um dos motivos que fez com que o es- tudante Gustavo Zanollo, de 22 anos, aderisse ao Movimento Pas- se Livre no ABC Paulista. “Existem políticas voltadas para os estudan- tes, como meia passagem, mas são políticas de subsídios. Ou seja, quem paga são outras pessoas”, diz o estudante de direito da Fa- culdade Municipal de São Bernar- do do Campo. Bela Cintra, nas imediações da Paulista. Mais tarde, veio a neces- sidade da parceria com a CET para desafogar o trânsito no entorno. Câmeras, faixas de pedestre, mo- nitoramento ostensivo estão lá para garantir a segurança dos 2.500 alunos. Enquanto os funcionários da escola trabalham para organi- zar o fl uxo de veículos, a CET pro- grama os semáforos da Paulista de acordo com o horário da entrada e saída dos estudantes. Somente na avenida Paulista, nas imediações do colégio, quase sete mil veículos circulam nos horários de pico. “A rua interna contribui para diminuir o trânsito na redon- deza”, avalia o diretor administra- tivo do São Luís, Jairo Cardoso. Mesmo assim, um levantamento feito em 2012 pela CET indica que as escolas ajudam a piorar o trânsi- to na cidade. Durante as férias esco- lares de julho, o congestionamento na capital paulista caiu, naquele ano, até 20% em comparação com os meses do ano letivo. A difi cul- dade em enfrentar o trânsito na porta das escolas todos os dias tem feito com que a Secretaria Estadual da Educação repense o tempo gas- to pelos alunos na hora de estudar. A alguns quarteirões do Colégio São Luís, também nas imediações da Paulista, utilizar o carro para ir à escola é uma exceção. Segundo Hernandes Leme, diretor da Esco- la Estadual Rodrigues Alves, boa parte dos alunos da escola, tam- bém na avenida Paulista, utilizam o transporte público como ônibus VIATURAS DA PM - 1.150 2 VIATURAS PARA 5 ESCOLAS 2 VIATURAS PARA 9 ESCOLAS ESCOLAS – 8.028 MUNICIPAIS - 2.728 ESTADUAIS - 5.300 RONDA ESCOLAR NOS COLÉGIOS DE SP As reduções das tarifas de ônibus abriram brecha para uma série de discussões no país. Enquanto a Prefeitura de São Paulo decidiu criar um Conselho Municipal de Transportes, o Senado estuda aprovar o Projeto de Lei 248/2013, que institui o “Programa Passe-Livre Estudantil” em todas as cidades do Brasil. A proposta do senador Renan Calheiros, do PMDB-Alagoas, prometeassegurar a gratuidade no sistema de transporte público coletivo local para os estudantes do ensino fundamental, médio e superior, mas tem sido alvo de críticas. As promessas também partem do Executivo. A presidente Dilma Rousseff anunciou um Plano Nacional de Mobilidade Urbana que busca garantir o transporte de qualidade para a população. No ano passado, a Lei 12.587/2012 já havia sido aprovada para viabilizar uma Política Nacional de Mobilidade Ur- bana. No entanto, a pesquisa “Perfil dos Municípios Brasileiros”, feita em 2012 e divulgada pelo IBGE em julho deste ano, revela que apenas 3,8% dos municípios brasileiros possuem algum plano para transporte. Transporte gratuito © F re d er ic o G u im a rã es CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 44 agosto 2013 Capa/Urbanismo Há sete anos, um grupo de jo- vens idealistas procurou o enge- nheiro Lúcio Gregori para discutir o passe livre para estudantes no transporte público de São Paulo. O ex-secretário municipal de Transportes da gestão da prefeita Luiza Erundina, entre 1989 e 1992, aconselhou os alunos a dar um passo à frente. Gregori propôs ao grupo que defendesse a tarifa zero para toda população e indi- cou um caminho para a bandeira do Movimento Passe Livre. “Há 11 anos a cidade de Agudos, no inte- rior de São Paulo, tem tarifa zero. E segundo o prefeito, a economia da cidade melhorou. Com as pes- soas circulando mais e andando mais de transporte, elas chegam mais aos comércios locais.” Os dados do Censo da Educação Básica 2012 revelam que apenas 8,7 milhões de alunos brasileiros têm acesso ao transporte escolar gratuito para se locomover até o colégio. A maioria dos estudantes do país - 6,59 milhões - que usam esse tipo de transporte vão de ôni- bus ou de micro-ônibus para a es- cola. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacio- nais (Inep), o número representa 13% dos estudantes matriculados na Educação Básica, incluindo a educação especial ou de jovens e adultos no ano de 2012. Outro dado chama a atenção: 545.968 estudantes usam barcos ou embar- cações para frequentarem a escola. Desses, 165,2 mil moram no Esta- do do Pará e outros 100,4 mil es- tão no Amazonas. QUESTÃO DE SEGURANÇA Mas um problema que atinge a todos é a segurança. Com trans- porte no entorno, essa é a maior preocupação do casal de irmãos Fábio, 15, e Isabela, 12, alunos do São Luís. “Procuramos não nos aproximar da rua Augusta. Vários amigos meus já foram assaltados lá”, conta o aluno do 1º ano do ensino médio do Colégio São Luís.. Dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP) revelam que a Con- solação, bairro tradicional do centro de São Paulo, está entre as três re- giões com mais roubos e furtos na cidade. Segundo a SSP, foram mais de cinco mil furtos e quase dois mil roubos na área em todo o ano de 2012. Entre janeiro e abril deste ano, foram 736 roubos. O aumento foi de 72% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram registrados 428 casos. Garantir a segurança nas escolas e nos bairros em que elas estão lo- calizadas não é tarefa fácil. Há pouco mais de um ano, o professor de por- tuguês Audísio Batista Venâncio se tornou um Professor Mediador na Escola Estadual Reverendo Urbano de Oliveira Pinto, na periferia de Itaquera, zona leste de São Paulo. Há nove anos dando aulas no co- légio, Audísio aproveitou a relação que tinha com os alunos e os mo- Dados indicam também o au- mento da demanda por transporte por causa do ensino superior. A cidade de São Paulo conta hoje com 631.126 alunos matriculados em cursos de graduação. São 141 instituições de ensino superior, sendo 133 privadas. A quantidade de estudantes na região próxima à estação São Joaquim do metrô cresceu tanto nos últimos anos que, em 2012, a estação, localizada na avenida Liberdade, no centro da ci- dade, teve de instalar mais catracas para dar conta do volume de alunos que passam por ali nos horários de pico. Ainda assim, a medida parece paliativa. Vitor Fernandes, que está fazendo cursinho no Etapa, confessa que nem consegue embarcar de volta para casa à noite. “O jeito é ir andando até uma estação mais vazia.” A movimen- tação de estudantes dos cursos de graduação também tem feito com que o policiamento aumente em regiões como a Liberdade. Dados da Secretaria de Segurança Pública revelam que o bairro é o nono com mais roubos e furtos da cidade de São Paulo. Em 2012, foram mais de 4 mil furtos, e 1,5 mil roubosr. Mais catracas Dados: SPTRANS/SMTR/ INEP/ IBGE 15.000 2.902.884 820.000 11.376.685 28,3% 8.000 1.514.317 113.413 6.323.037 7,5% FROTA DE ÔNIBUS TOTAL DE ESTUDANTES (ENSINOS SUPERIOR E BÁSICO) TOTAL DE ESTUDANTES QUE UTILIZAM O ÔNIBUS POPULAÇÃO % DE ESTUDANTES CIRCULANDO NOS ÔNIBUS MUNICÍPIO RJSP © F re d er ic o G u im a rã es CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 452013 agosto radores da região e se candidatou ao projeto criado pela Secretaria Estadual da Educação em 2011. A ação faz parte do Sistema de Prote- ção Escolar, programa cujo objeti- vo é levar a proteção integral para as pessoas envolvidas no processo educacional da comunidade. Na prática, o Professor Mediador precisa acompanhar o aluno na convivência com toda a rede esco- lar. Além da direção da escola, as famílias dos alunos, e a Diretoria de Ensino Regional, Audísio também precisa ter uma boa relação com li- deranças locais e com a Polícia Mi- litar. Tudo isso para garantir a se- gurança do aluno, que nem sempre é a prioridade dos policiais, dizem os envolvidos. “A Ronda Escolar é completa- mente inefi ciente. Esses dias nós fi camos com dois alunos aqui que estavam quebrando a escola, mas não eram da unidade. A viatura da Ronda só veio nos atender depois de duas horas e meia”, reclama o diretor da Reverendo Urbano, Ál- varo José Algatão. Ele reconhece que o trabalho do Professor Me- diador melhorou o dia a dia dos estudantes, mas reclama da falta de acompanhamento da polícia em ocorrências mais graves. Para tentar amenizar as difi cul- dades, o coordenador do Sistema de Proteção Escolar, Felippe Ange- li, diz que a Secretaria Estadual da Educação vai reavaliar os progra- mas aplicados nas escolas. “Todas essas ações estão em um momento de revisão, pois já acumulamos uma massa crítica e temos uma sé- rie de fatores para melhorar esses sistemas. Até o fi m deste ano, de- vemos lançar novas versões de to- dos esses materiais para atender a rede”, garante. Para a gestora regional do Siste- ma de Proteção Escolar da Direto- ria de Ensino de Itaquera, Gisele Kemp Galdino Dantas, a falta de comunicação entre os setores pú- blicos e a morosidade das relações difi culta o andamento do trabalho. “A educação está no caminho certo, mas faltam outras instâncias faze- rem sua lição de casa”, afi rma. No interior de São Paulo, a pe- quena cidade de São José da Bela Vista resolveu apostar em uma nova forma de transporte escolar. Há cerca de dois anos, todos os 700 alunos da rede municipal do ensino fundamental I começaram a ir para a escola de bicicleta. “Ninguém imaginava que os alunos iam aderir assim às bicicletas. Espero que aos poucos isso se espalhe por toda a cidade. O uso do transporte tem colaborado para um ambiente mais saudável e incentivado a atividade física”, diz Elisabete Balan Isaac, diretora da Escola Municipal José Renato Nogueira Ambrósio. Um projeto de ciclovia para a população está sendo traçado e deve sair do papel até o fim deste ano. “Por enquanto, as crianças andam no meio dos carros mesmo, mas é uma cidade pequena, sem perigo algum”, garante a diretora Elisabete. Para a escola, de bicicleta © G u st a vo M o rit a CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 46 agosto 2013 necessidade de articular o espaço da cidade com o setor da educação en- contra eco na voz de diversos in- telectuais brasileiros. Infl uenciadopor ideias pragmáticas do fi lósofo e pedagogo norte-americano John Dewey (1859-1952) – como as de que os alunos aprendiam melhor realizando tarefas associadas aos conteúdos ensinados -, o educa- dor baiano Anísio Teixeira (1900- 1971) foi um dos primeiros inte- lectuais que se preocuparam com os prédios escolares no Brasil. Em 1931, durante sua gestão como diretor da Instrução Pública do Distrito Federal, no Rio de Janeiro, ele criou dois modelos para as escolas: as “escolas-classe”, onde seria oferecido o ensino regular, e as “escolas-parque”, onde teriam lugar as atividades do turno com- plementar. “Os arquitetos da então re- cém-criada Faculdade de Arquite- tura e Urbanismo da USP que co- Na década de 50, a intelectualidade brasileira começou a pensar a relação entre os prédios escolares e o seu uso pelos alunos e a comunidade A sua maneira de apropriar-se do es- paço. Em 1990, quando trabalhou na Prefeitura de São Paulo duran- te a gestão de Luíza Erundina, ela criou o Centro de Desenvolvi- mento de Equipamentos Urbanos e Comunitários com o objetivo de pesquisar soluções projetuais e construtivas para melhorar a qua- lidade dos equipamentos públicos na cidade, entre eles a escola. Em seu livro Espaços educativos: uso e construção, escreveu que a produ- ção do arquiteto nunca é neutra e depende do meio em que ele vai atuar. “O espaço é elemento cheio de signifi cado, que refl ete sempre a história e a cultura de um povo; que revela, no seu uso e na sua disposição, a relação efetiva que está estabelecida entre pessoas que nele convivem. Enfi m, o es- paço é um espelho no qual se faz a leitura de uma sociedade, seus valores, seu sistema social e polí- tico, seu desenvolvimento tecno- lógico”, relatou Mayumi. (F.G.) meçaram a trabalhar na Prefeitura de São Paulo por volta de 1950 foram diretamente infl uenciados por essa intelectualidade brasileira da década de 1930. Há quem diga que os projetos criados por esses profi ssionais ajudaram a dissemi- nar a arquitetura moderna na ci- dade. Isso porque as escolas busca- ram um novo conceito de espaço mais adequado para as áreas livres, áreas esportivas, a preocupação com a iluminação, saindo daquela visão do prédio tradicional”, ex- plica a urbanista e professora Ro- sana Miranda (FAU-USP). A arquiteta e educadora Mayu- mi Watanabe Souza Lima (1934- 1994) se destacou no estudo da relação entre educação e espaço urbano no Brasil. Nascida em Tó- quio, no Japão, Mayumi imigrou para a América do Sul no fi m da década de 1930 e mais tarde se dedicou ao planejamento de espa- ços para a educação de crianças e jovens, cujo foco era o usuário e Capa/Urbanismo Um novoconceito de espaço © A rq ui vo In ep As escolas parque foram idealizadas por Anísio Teixeira para permitir atividades no turno complementar CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI Fichário3.pdf V7 - 013 - 03 - 19486 - Educação, cidade e movimentos sociais.pdf máscara pronta.pdf a escola e a cidade.pdf
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