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Fundamentos de Direito Processual - aula 01 Fase Sincrética ou Praxista O processo civil que conhecemos atualmente resulta de paciente evolução que se desenvolveu a partir de um demorado e estático período em que o sistema processual era visto como simples fração do direito privado, desprovido de qualquer autonomia. Mencionado período ficou conhecido como sincretismo processual. Nessa fase não havia uma verdadeira ciência do processo civil, pois os conhecimentos eram puramente empíricos, sem qualquer consciência de princípios, conceitos próprios ou método. O processo era vista apenas em sua realidade física exterior e perceptível aos sentidos, chegando a ser confundido com o mero procedimento ao ser definido como “sucessão de atos” ou “modo de exercício de direitos”. Não havia sequer percepção da relação jurídica existente entre os sujeitos (relação jurídica processual), nem sobre a necessidade de se permitir a participação dos litigantes (contraditório). Assim, no período que se deu a partir da Antiguidade clássica greco-romana, o direito processual civil iniciou uma desvinculação dos conceitos religiosos existentes (culto aos antepassados e pater famílias). O processo civil romano, durante sua fase primitiva, concebia o juiz como um árbitro cuja função era buscar uma solução para aqueles casos os quais a lei não havia previsto. Assim, o sistema jurídico romano foi se desenvolvendo e sofrendo profundas transformações e evoluções durante os doze séculos que vigorou, sucedendo-se três sistemas de processo: o das "legis actiones", o formular e o da "extraordinaria cognicio". a) Legis Actiones. O sistema das ações da lei ("legis actiones") representa o ponto inicial do lento, mas contínuo desenvolvimento histórico do processo romano, cujos traços mais remotos se encontram na Lei das XII Tábuas1. É, sem dúvida, o mais antigo 1 A Lei das Doze Tábuas constitui a origem do direito romano. As leis eram aplicadas na República Romana pelos pontífices e representantes da classe dos patrícios que as guardavam em segredo. Em especial, eram majoritariamente aplicadas contra os plebeus. Por esse motivo, um plebeu de nome Terentílio propôs no ano de 462 a.C. que houvesse uma compilação e publicação de um código legal oficial. A iniciativa visava permitir que os plebeus também conhecessem as leis e impedir o abuso que era feito delas pelos pontífices e patrícios. A ideia de se criar uma lei oficial publicada foi recusada pelos patrícios durante muito tempo, já que tentaram manter por mais tempo possível o privilégio no controle jurídico sobre a população romana. Essa condição dava aos patrícios enormes poderes de manipulação e repressão aos plebeus. Somente dos sistemas de processo civil romano, tendo vigorado do século VIII ao século V A.C. Julga-se que a denominação de ações da lei decorreu do fato de as "legis actiones" se originarem da lei, ou então, da circunstância de elas se conformarem de forma estrita com as palavras da lei. O processo das ações da lei é marcado por um extremo formalismo, uma vez que segue a rituais imutáveis e a palavras solenes, pré-determinadas. Os litigantes não podem expor suas pretensões, empregando palavras próprias. Devem empregar verba certa, pronunciando oralmente os termos já definidos pela lei. Uma troca de palavras neste sistema pode implicar na perda do processo. Daí a denominação "legis actiones". Assim, as ações são marcadas pela tipicidade, conformando-se às palavras das próprias leis. Em decorrência deste rigor formal, as "legis actiones" eram extremamente escassas. O procedimento, como dito, era excessivamente formal e solene, ocorrendo de forma oral nas fases in iure, que se desenvolvia perante o magistrado, que é órgão público (fase no Tribunal, com a concessão ou não da ação, e a in iudicio, que se dava diante de um árbitro - não funcionário do Estado, tratando- se de um juiz popular, sendo este um particular indicado pelas partes ou pelo magistrado, ou de jurados, por meio da produção de provas e do proferimento da sentença. Na primeira fase, o magistrado, órgão estatal, tem como papel fiscalizador do procedimento, determinando qual é o direito que deve se aplicar na espécie, cabendo, exclusivamente ao juiz popular. Importante ressaltar que a fase "in iure", perante o órgão estatal, só se realizava na presença das duas partes litigantes. Assim, cabia ao demandante citar o demandado, levando-o à presença do magistrado, inclusive por meio da força. Era um ato essencialmente privado, sendo certo que aquele que em 451 a.C. que um grupo formado por dez homens foi reunido para preparar o projeto oficial. É possível que uma equipe tenha ido à Grécia estudar as leis utilizadas por Sólon. No ano em que o grupo se formou para elaborar as leis, foram publicados dez códigos. No ano seguinte, foram incluídos mais dois. Assim se formaram as Doze Tábuas, nome utilizado justamente porque as leis foram publicadas em doze tabletes de madeira, os quais foram afixados no Fórum Romano para que todos pudessem ler. Sabe-se que a Lei das Doze Tábuas versava sobre organização e procedimento judicial, normas para os inadimplentes, poder pátrio, sucessão e tutela, propriedade, servidões, delitos, direito público e direito sagrado, além de alguns assuntos complementares. Assim como as leis que existiam anteriormente, o código oficial publicado combinava penas rigorosas com procedimentos severos. A Lei das Doze Tábuas diz muito sobre a sociedade e os métodos judiciais dos romanos, mas sua implicância vai muito além disso. Os tabletes representaram o primeiro documento legal a oficializar o Direito Romano, de onde se estruturam todos os corpos jurídicos do Ocidente. pretendia fazer valer o seu direito em juízo devia assegurar pelos seus próprios meios a presença do demandado, sob pena da não instauração do processo. Feita a referida citação, as partes compareciam perante o magistrado (fase "in iure") e debatiam formalmente e oralmente a causa, conforme os rigores das "legis actiones" já referidos anteriormente. Se o réu negasse as afirmações do autor, procedia-se a escolha do juiz popular, privado (o"iudex"). Na segunda fase, analisavam-se as provas trazidas pelas partes respeitando os limites jurídicos fixados anteriormente pelo magistrado. A sentença final, portanto, será proferida por um particular, não possuindo sequer motivação e poder de comando. Com a fixação do litígio e instauração do contraditório, as partes tomavam como testemunhas os assistentes da audiência com o magistrado (fase "in iure") ou as pessoas que eventualmente lhes acompanharam até ali, firmando o ato solene denominado de "litis contestatio". A "litis contestatio" fixava a lide que seria objeto de decisão pelo juiz popular ("iudex") na segunda fase do procedimento - há de se observar que os romanos também se preocupavam com a estabilização e pacificação dos litígios, não podendo admitir a repetição de determinada "legis actio" já proposta pelas mesmas partes. Com efeito, no processo das legis actiones, os juristas romanos fixaram na "litis contestatio" o momento processual de exaurimento do exercício de determinada "legis actio", asseverando que um direito não mais podia ser submetido a novo juízo desde que já deduzido em processo anterior, mesmo que ainda não julgado pelo juiz privado escolhido pelas partes. A "litis contestatio" de um processo anterior se apresentava, assim, com efeito consumptivo, possibilitando que o Estado, por meio do magistrado (órgão estatal), indeferisse a nova "legis actio" cujo direito fosse idêntico a outro já fixado por aquela. É neste ponto que se vislumbra a presença histórica dos traços característicosda coisa julgada, sendo certo que já desde os romanos a res iudicata está relacionada com a autoridade estatal. Ou seja, se não há atividade do Estado, não há coisa julgada para os romanos.
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