Buscar

IMPACTO DO DIVORCIO NOS FILHOS

Prévia do material em texto

IMPACTO DO DIVORCIO NOS FILHOS
Durante o processo de divórcio, é importante que a criança não tenha contato com brigas e discussões. Quando o(a) filho(a) participa desses momentos, ele(a) tende a tomar partido de um dos pais e fica com raiva do outro responsável.
Esse conflito não é saudável, gera estresse e dificulta a convivência entre as partes. Independentemente de qual seja o motivo do término, a criança não pode tomar as dores do mais afetado. Afinal, aquelas pessoas sempre serão os pais dela, mesmo que tenham errado como parceiros.
Os responsáveis e familiares também não devem falar mal dos ex-companheiros na frente da criança. Por exemplo, se o pai não está pagando pensão ou fazendo visitas regulares ao(à) filho(a), não divida isso com ele(a), pois, certamente, já sofrerá com a ausência e não precisa de mais motivos que dificultem a convivência.
O medo é comum na vida dos filhos de pais separados, pois eles acreditam que estão perdendo seu amor. De fato, a separação abala a vida da criança, pois ela precisará criar outra rotina para compartilhar momentos com os responsáveis. Se antes as refeições, os passeios e as viagens eram com toda a família, agora uma divisão será estabelecida.
Contudo, é muito importante que os pais tenham maturidade e respeito com os filhos e não extrapolem essa divisão. Durante os aniversários, os eventos na escola e outros momentos importantes, é fundamental comparecerem em conjunto e dar todo suporte emocional e apoio às crianças.
As rivalidades pessoais não devem se estender aos valores ensinados aos filhos. Quando há conflitos nessa prática, criando dúvidas do que pode ou não pode, do que é certo ou errado, a criança fica confusa e se sente instável frente a outras relações. Nesse caso, os responsáveis devem alinhar regras quanto à alimentação, uso de tecnologia, horário de dormir e bons hábitos.
Em um grau mais sério, essa rivalidade pode ocasionar a alienação parental, que é quando um dos responsáveis ou familiares induzem a criança a repudiar a outra parte ou impede o(a) filho(a) de se relacionar e ter contato com esse indivíduo. Diante disso, deve haver a intervenção da justiça, pois é direito da criança conviver com os pais, independentemente das rivalidades pessoais.
Outro ponto prejudicial e comum na vida de filhos de pais separados é quando um responsável cede demais para agradar o(a) filho(a). Normalmente, aquele(a) que não mora mais com a criança tende a não estabelecer limites, visando a ganhar a preferência dela.
É uma tentativa de suprir a presença por meio de presentes e benefícios que satisfaçam o(a) filho(a) naquele momento. Contudo, em longo prazo, a criança pode se tornar mimada e sem limites. A fim de evitar isso, tente aumentar o contato com a ajuda da tecnologia, conversas por vídeo ou uma fugidinha do trabalho para levar ou buscar o(a) filho(a) na aula.
É importante que os pais dialoguem com os filhos para eles entenderem o que está acontecendo. Falar sobre o divórcio não deve ser um tabu ou um assunto proibido, por isso, conforme a idade da criança, converse com ela e a faça entender aquilo como um processo difícil, mas natural.
Fale sobre a mudança do responsável, explique de que maneira será a nova rotina, dê espaço para a criança opinar quando ela quer dormir na casa do outro responsável e o que a deixa triste. Afinal, ela é a maior interessada nisso. Também informe à escola sobre a separação e peça ajuda aos professores para avaliar como o(a) seu(sua) filho(a) está passando por essa transição.
Além disso, nunca esqueça de demonstrar amor à criança e falar o quão importante ela é para vocês, porque, mesmo com o divórcio, isso é algo que nunca vai mudar. 
Cada criança reage de maneira única à separação entre seus responsáveis, no entanto, é possível perceber um comportamento padrão dependendo da faixa-etária em que a criança se encontra. Timidez, rejeição, sentimento de culpa e tristeza são alguns dos sentimentos que podem acabar aflorando nos pequenos durante todo processo de divórcio.
Quais são os possíveis sintomas sentimentais de cada criança, as separando por faixa-etária?
• Divórcio na gravidez: se a separação ocorre durante a gravidez ou durante os primeiros meses de vida, é provável que a criança se veja afetada pelo estado de ânimo da mãe, e portanto possa nascer com pouco peso ou com atraso no desenvolvimento cognitivo e emotivo.
• Divórcio com filhos entre 1 e 3 anos: na época da separação, é provável, que a criança torne-se muito tímida, comporte-se como uma criança menor que sua idade afetiva, requeira muito mais atenção e tenha pesadelos noturnos.
• Divórcio com filhos entre 2 e 6 anos: a criança não entende ainda o que é um divórcio, mas ao notar que um dos membros do casal não dorme em casa, é provável que pense que é por sua culpa, e reaja de formas opostas: ou fique muito obediente (pensando se for bom, o papai voltará), ou também muito mais agressivo ou rebelde, como era de se esperar quanto ao seu caráter. Nesta idade, alguns dos pequenos negam a separação tanto a si mesmos quanto aos demais (mentem aos parentes ou amigos, dizendo que seus pais ainda dormem juntos à noite, e continuam brincando de bonecas durante meses, simulando sua própria família e fazendo que seus pais durmam um ao lado do outro).
• Divórcio com filhos até 6 anos: as crianças sofrem um grande temor de serem abandonadas, junto com uma profunda sensação de perda e de tristeza. Podem sofrer transtornos do sono, de alimentação, e adotar condutas regressivas.
• Divórcio com filhos entre 6 e 9 anos: aparecem sentimentos de rejeição, fantasias de reconciliação e os problemas de atitude. É possível que as crianças experimentem raiva, tristeza e nostalgia pelo pai que se foi. Nos casos em que os cônjuges tenham tido conflitos graves, alguns filhos podem viver uma luta entre seus afetos pelos pais e pela mãe. Outras vezes, se descuidam no aspecto material, obrigando-os a prepararem a comida, a vigiar os irmãos menores e assumam responsabilidades muito pesadas para sua idade.
• Divórcio com filhos entre 9 e 12 anos: os filhos podem manifestar sentimentos de vergonha pelo comportamento dos seus pais, e cólera ou raiva pelo que tomou a decisão de se separar. Além disso, aparecem as tentativas de reconciliar os pais, o descontrole dos hábitos adquiridos e problemas somáticos (dores de cabeça, estômago, etc.).
• Divórcio com filhos adolescentes: dos 13 aos 18 anos, a separação dos pais causará problemas éticos, e provocará, portanto, fortes conflitos entre a necessidade de amar o pai e a mãe e a desaprovação de sua conduta. Geralmente as reações mais comuns nesta etapa envolvem o amadurecimento acelerado, ou seja, o adolescente adota o pai progenitor ausente, aceitando suas responsabilidades ou poderá adotar uma conduta antissocial (não acata nem aceita normas, desobediência, condutas de roubo, consumo de álcool, drogas, etc.);
Nos encontros com a criança, as possibilidades de trabalho são: ajudá-la a compreender a situação que está passando e aprender novas formas de interagir com os pensamentos e os sentimentos relacionados, buscando se adaptar à nova realidade com o apoio emocional de seus cuidadores, o que inclui o terapeuta; se for o caso, esclarecer que não é a criança que escolhe se os pais vão ou não se separar, que o amor entre os membros familiares com ela não irá mudar, e que ela não é a razão da separação de seus pais, que a mudança faz parte da vida, assim como a plantinha muda, a gente mesmo e os períodos do dia; identificar pontos de dificuldade do divórcio, bem como os obstáculos, para refletirem diferentes soluções de lidar com a mudança; refletir o que é casamento e o divórcio e por quais razões podem ocorrer de forma geral; avaliar a atribuição da culpa da criança pelo momento que está passando, se há pensamentos discrepantes; aprender sobre os sentimentos que o divórcio gera: identificar e nomear sentimentos, esclarecer que eles fazem sentido e são naturais os sentirmos quando perdemos algo, que não existem sentimentos errados; criar contextopara identificar medos e preocupações diante da situação do divórcio e outras situações; reconhecer os sentimentos dos pais nesse momento; ter conhecimento de sua rede de apoio, como os demais familiares e colegas.
Os conflitos da criança com seu mundo interno e/ou externo podem ser resolvidos e sua autoestima aumentada quando as habilidades de manejo diante da situação de separação dos pais são desenvolvidas (Heegaard, 1998). Assim, é fundamental o terapeuta se preparar para atendimentos com esse tipo de demanda tão delicada.
Um recurso que pode funcionar como um veículo de comunicação entre o terapeuta e a criança para o trabalho de separação de pais. O recurso é um compilado de atividades para serem realizadas após a leitura da obra literária “Lá e Aqui”, de Carolina Moreyra. O livro diz respeito ao processo de separação dos pais e que, ao olhar do filho, pode ser experienciado de uma forma salutar, sem diminuir o sofrimento.
A primeira atividade tem como intuito iniciar o contato com seus eventos privados sobre o tema e verificar a compreensão do enredo, assim, se deve solicitar à criança que realize um desenho livre relacionado ao livro e posteriormente comentar aspectos clinicamente relevantes sobre ele. Por exemplo, se o desenho representar o sofrimento inicial do processo de separação, este pode ser um contexto para o terapeuta investigar e avaliar o impacto na vida da criança do que foi desenhado, bem como direcionar o planejamento e intervenções necessárias, se apoiando ou não na obra utilizada.
A segunda atividade diz respeito a realizar movimentos semelhantes aos do personagem da obra lida, no que tange identificar e relatar as diferentes e diversas atividades reforçadoras presentes tanto na casa da mãe quanto do pai. O relato pode ser diálogo, desenho ou fantasia (por exemplo, por meio do uso de fantoches). O objetivo é deixar a criança sensível às contingências de reforçamento implicadas no processo de separação de seus pais. Caso não sejam identificadas, esse pode ser um contexto para terapeuta planejar e instalar as atividades na rotina da criança, trabalho que pode ser realizado tanto com ela quanto com os cuidadores.
A terceira e última atividade é dialogar com a criança sobre o que ela diria para a criança do livro e que ajuda poderia ser oferecida. O propósito dessa dinâmica é ajudar a criança a formular autorregras que, como estímulos discriminativos verbais, podem a auxiliar a se relacionar de forma salutar com o (novo) ambiente em momentos que sentir dificuldade.

Continue navegando