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TOXOPLASMA GONDII

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I Tosop asma gondii 
Urara Ka wazoe 
Toxoplasma gondii (Nicolle e Manceaux, 1909) é um 
protozoário de distribuição geográfica mundial, com alta pre- 
valência sorológica, podendo atingir mais de 60% da popu- 
lação em determinados países. No entanto, os casos de 
doença clínica são menos freqüentes. Nestes, a forma mais 
grave é encontrada em crianças recém-nascidas, sendo ca- 
racterizada por encefalite, icterícia, urticária e hepatomega- 
lia, geralmente associada a coriorretinete, hidrocefalia e 
microcefalia, com altas taxas de morbidade e mortalidade. A 
toxoplasmose vem apresentando quadro grave de evolução 
em indivíduos com o sistema imune gravemente comprome- 
tido causando encefalite, retinite ou doença disseminativa. 
Entre o grupo de risco incluem-se os receptores de órgãos, 
indivíduos em tratamento quimioterápico e aqueles infecta- 
dos com HIV. 
A toxoplasmose é uma zoonose e a infecção é muito fre- 
quente em várias espécies de animais: mamíferos (principal- 
mente carneiro, cabra e porco) e aves. O gato e alguns ou- 
tros felídeos são os hospedeiros definitivos ou completos 
e o homem e os outros animais são os hospedeiros interme- 
diários ou incompletos. 
Um aspecto interessante desse parasito é ter sido en- 
contrado no mesmo ano - 1908 - em dois países: na 
Tunísia, por Nicolle e Manceaux, de formas oriundas do 
roedor Ctenodatylus gondi e no Brasil, por Splendore, por 
meio de formas evolutivas encontradas em coelhos doen- 
tes ou mortos "naturalmente", em laboratório. Em 1909, 
Nicolle e Manceaux descreveram o parasito e criaram o gê- 
nero Toxoplasma e a espécie 7: gondii. Durante alguns 
anos após sua descrição o i? gondii não foi objeto de mui- 
tas pesquisas. Somente a partir da década de 70, com o co- 
nhecimento de sua ampla distribuição geográfica por meio 
de testes sorológicos e do grande número de mamíferos 
(inclusive o homem) e aves adngidos, é que seu estudo foi 
aprofundado. Foram, então, descritas as várias formas que 
possui, os hospedeiros definitivos (felinos) e intermediá- 
rios (demais animais), os ciclos biológico e epidemiológico, 
melhores métodos para diagnóstico e as tentativas tera- 
pêuticas. 
MORFOLOGIA E HÁBITAT 
7: gondii pode ser encontrado em vários tecidos e cé- 
lulas (exceto hemácias) e líquidos orgânicos. Nos felídeos 
não-imunes podem ser encontradas as formas do ciclo 
sexuado nas células do epitélio intestinal, formas do ciclo 
assexuado em outros locais do hospedeiro e também for- 
mas de resistência no meio exterior junto com as fezes des- 
ses animais, após completar a fase intestinal. Assim sen- 
do, o parasito apresenta uma morfologia múltipla, depen- 
dendo do hábitat e do estágio evolutivo. As formas 
infectantes que o parasito apresenta durante o ciclo bio- 
lógico são: taquizoítos, bradizoítos e esporozoítos. Essas 
três formas apresentam organelas citoplasmáticas caracte- 
rísticas do filo Api-complexa (visíveis apenas em nível de 
microscopia eletrônica de transmissão) que constituem o 
complexo apical: conóide, anel polar (em número de dois), 
microtúbulos subpeliculares, roptrias, micronemas e grânu- 
los densos (Fig. 18.1). A invasão dessas formas na célula 
hospedeira é um processo ativo que requer a motilidade e 
a liberação controlada de proteínas e l ipídeos das 
organelas do complexo apical do parasito. O parasito en- 
tra na célula hospedeira inicialmente pela adesão da sua 
parte apical na membrana da célula hospedeira e na se- 
qüência, secreta proteínas de micronemas, roptrias e grâ- 
nulos densos, conforme sua entrada na célula hospedeira, 
formando em seguida o vacúolo parasitóforo. Durante a 
penetração, há uma visível constrição em volta do parasi- 
to representando um movimento de junção entre a célula 
hospedeira e as membranas plasmáticas do parasito. Uma 
vez o parasito estando dentro da célula, a membrana do 
hospedeiro é selada. O vacúolo parasitóforo é derivado da 
membrana celular do hospedeiro invaginado. A membrana 
é permeável a moléculas pequenas, tomando a composição 
iônica intravacuolar grosseiramente equivalente ao do 
citoplasma da célula hospedeira. Posteriormente, o parasito 
modifica o vacúolo parasitóforo, secretando proteínas den- 
tro do espaço vacuolar, tomando esse compartimento me- 
tabolicamente ativo para o crescimento do parasito. 
Recentemente, foi descrita mais uma organela denomina- 
da apicoplasto, localizada no citoplasma dos zoítos, próxi- 
duda_
Realce
ma ao núcleo, caracterizada pela presença de quatro mem- 
branas. Sua origem parece ter ocorrido através da endossim- 
biose secundária de algas verdes. Essa organela parece es- 
sencial à sobrevivência intracelular do parasito e há evidên- 
cias de exercer função de biossíntese de aminoácidos e de 
ácidos graxos (Fig. 18.1). 
A seguir serão descritas as formas infectantes do 7: 
gondii: 
Taquizoito: é a forma encontrada durante a fase agu- 
da da infecção, sendo também denominada forma pro- 
liferativa, forma livre ou trofozoíto (Fig. 18.2A e B). Foi 
a primeira forma descrita e o seu aspecto morfológico, 
em forma de arco (toxon = arco) deu o nome ao gêne- 
ro. Apresenta-se com a forma grosseira de banana ou 
meia-lua, com uma das extremidades mais afilada e a 
outra arredondada, medindo cerca de 2 x 6ym, com o 
núcleo em posição mais ou menos central. Quando 
corado pelo método de Giemsa apresenta o citoplasma 
azulado e o núcleo vermelho. É uma forma móvel, de 
multiplicação rápida (tachos = rápido), por um processo 
Fig. 18.1 - Representação esquematica ultra-ertrutural do filo Apicomplexa: 
forma infectante (taquizoíto) de Toxoplasrna gondii caracterizado poc anel 
polar (AP), condide (C), micronemas (M), roptrias (R), grânulos densos (GD), 
apicoplasto (A), microporo (Mp), membrana plasmática (MP), complexo da 
membrana interna (CMI), retículo~endoplasmático (R€), complexo de Golgi 
(CG), núcleo (N) e mitocôndria (Mi). 
denominado endodiogenia (Figs. 18.3D e 1 8.4), en- 
contrada dentro do vacúolo parasitoforo de várias cé- 
lulas, como nos líquidos orgânicos, excreções, células 
do SMF, células hepáticas, pulmonares, nervosas, 
submucosas e musculares. Os taquizoitos são pouco 
resistentes à ação do suco gástrico no qual são 
destruídos em pouco tempo. 
Bradizoíto: é a forma encontrada em vários tecidos 
(musculares esqueléticos e cardíacos, nervoso, retina), 
geralmente durante a fase crônica da infecção, sendo 
também denominada cistozoíto. Os bradizoítos são 
encontrados dentro do vacúolo parasitóforo de uma 
célula, cuja membrana forma a cápsula do cisto teci- 
dual. Os bradizoítos se multiplica^ lentamente (hrady 
= lento) dentro do cisto, por endodiogenia ou 
endopoligenia. A parede do cisto é resistente e elás- 
tica, que isola os bradizoítos da ação dos mecanismos 
imunológicos do hospedeiro. O tamanho do cisto é 
variável dependendo da célula parasitada e do núme- 
ro de bradizoitos no seu interior, podendo atingir até 
200um. Os bradizoitos são muito mais resistentes a 
tripSina e à pepsina do que os taquizoítos e podem 
permanecer viáveis nos tecidos por vários anos. Ape- 
sar de serem mais frequentemente encontrados na fase 
crônica, em algumas cepas os bradizoítos podem ser 
encontrados na fase aguda da infecção toxoplásmica 
(Figs. 18.2C e 18.3A). 
Oocistos: e a forma de resistência que possui uma pa- 
rede dupla bastante resistente às condições do meio 
ambiente. Os oocistos são produzidos nas células in- 
testinais de felídeos não-imunes e eliminados imaturos 
junto com as fezes. Os oocistos são esféricos, medin- 
do cerca de 12,5 x 1 1 ,Oym e após esporulação no meio 
ambiente contêm dois esporocistos, com quatro espo- 
rozoítos cada (Figs. 18.3B e 18.3A). 
BIOLOGIA 
O ciclo biológico do 7: gondii desenvolve-se em duas 
fases distintas: 
Fase Assexuada: nos linfonodos e nos tecidos de vá- 
rios hospedeiros (inclusive gatos e outros felideos) 
Fase Coccidiana ou Sexuada: nas células do epitélio in- 
testinal de gatos jovens (e outros felídeos) não-imu- 
nes. 
Desta forma, 7: gondiiapresenta um ciclo heteroxeno, no 
qual os gatos são considerados hospedeiros completos ou 
definitivos por possuírem um ciclo coccidiano, apresentan- 
do uma fase sexuada dentro do vacúolo parasitóforo do ci- 
toplasma, nas células epiteliais do intestino e um ciclo 
assexuado ocorrendo em outros tecidos. O homem e outros 
mamíferos, com as aves, são considerados os hospedeiros 
incompletos ou intermediários, pois possuem apenas o ci- 
clo assexuado. 
Fase Assexuada 
Um hospedeiro suscetível (homem, por exemplo), inge- 
rindo oocistos maduros contendo esporozoítos, encontra- 
dos em alimentos ou água contaminada, cistos contendo 
1 64 Capitulo 18 
duda_
Realce
Fig. 18.2 - Toxoplasma gondii. A) taquizoíto (T) extracelular (liquido peritoneal. por exemplo) e macrófagos (Ma); B) taquizoitos (T) dentro do vacúolo 
parasitóforo (VP) em um macrófago, destacando-se o núcleo (Nm) do macrófago (fase aguda); C) cisto com bradizoitos (Bra) em tecido muscular (fase 
crónica). 
bradizoítos encontrados na carne crua, ou, mais raramente, 
taquizoítos eliminados no leite, podera adquirir o parasito e 
desenvolver a fase assexuada. As formas de taquizoítos que 
chegam ao estômago serão destruídas, mas as que pene- 
tram na mucosa oral ou inaladas poderão evoluir do mesmo 
modo que os cistos e oocistos, como se segue: 
Cada esporozoíto, bradizoíto ou taquizoíto, liberado no 
tubo digestivo, sofrerá intensa multiplicação intracelular, 
como taquizoítos, após rápida passagem pelo epitélio intes- 
tinal e invadirá vários tipos de célula do organismo forman- 
do um vacúolo parasitóforo onde sofrerão divisões suces- 
sivas por endodiogenia, formando novos taquizoítos (fase 
proliferativa) que irão romper a célula parasitada, liberando 
novos taquizoítos que invadirão novas células. Essa disse- 
minação do parasito no organismo ocorre através de 
taquizoítos livres na linfa ou no sangue circulante, que po- 
derão provocar um quadro polissintomático, cuja gravidade 
dependera da quantidade de formas infectantes adquiridas, 
cepa do parasito (virulenta ou avirulenta) e da susce- 
tibilidade do hospedeiro. Essa fase inicial da infecção - fase 
proliferativa - caracteriza a fase aguda da doença. Neste 
ponto, a evolução podera ir até a morte do hospedeiro, o que 
podera ocorrer em fetos ou em indivíduos com comprome- 
timento imunológico, ou diminuir e cessar pelo aparecimento 
de resposta imune específica. Com o aparecimento da imu- 
nidade, os parasitos extracelulares desaparecem do sangue, 
da linfa e dos órgãos viscerais, ocorrendo uma diminuição 
de parasitismo. Alguns parasitos evoluem para a formação 
de cistos. Essa fase cística, com a diminuição da sintomato- 
logia, caracteriza a fase crônica. Essa fase pode permanecer 
por longo período ou por mecanismos ainda não esclareci- 
dos inteiramente (diminuição da imunidade ou da resistên- 
cia, alteração hormonal etc.) poderá haver reagudização, 
com sintomatologia semelhante a primoinfecção (Fig. 
18.4A). Os processos da reprodução assexuada são: 
Endodiogenia: representa uma forma especializada de 
divisão assexuada na qual duas células-filhas são for- 
madas dentro da célula-mãe. 
Endopoligenia: representa o mesmo processo anterior- 
mente descrito, mais rápido e com maior formação de 
taquizoítos. Seria uma endodiogenia múltipla. 
Fase Coccidiana 
O ciclo coccidiano ocorre somente nas células epiteliais, 
principalmente do intestino delgado de gato e de outros 
felídeos jovens. Durante o desenvolvimento desse ciclo 
ocorre uma fase assexuada (merogonia) e outra sexuada 
(garnogonia) do parasito. Por esse motivo, esses animais são 
considerados hospedeiros definitivos. Deste modo, um gato 
jovem e não-imune, infectando-se oralmente por oocistos, 
cistos ou taquizoítos, desenvolverá o ciclo sexuado. 
Os esporozoítos, bradizoítos ou taquizoítos ao pene- 
trarem nas células do epitélio intestinal do gato sofrerão um 
processo de multiplicação por endodiogenia e merogonia 
(esquizogonia), dando origem a vários merozoítos. O con- 
junto desses merozoítos formados dentro do vacúolo 
parasitóforo da célula é denominado meronte ou esquizon- 
te maduro. O rompimento da célula parasitada libera os me- 
rozoítos que penetrarão em novas células epiteliais e se 
transformarão nas formas sexuadas masculinas ou femini- 
nas: os gametófitos ou gamontes, que após um processo 
de maturação formarão os gametas masculinos móveis - 
microgametas (com dois flagelos) e femininos imóveis - 
macrogametas. O macrogameta permanecerá dentro de uma 
célula epitelial, enquanto os microgametas móveis sairão 
de sua célula e irão fecundar o macro-gameta, formando o 
ovo ou zigoto. Este evoluirá dentro do epitélio, forman- 
do uma parede externa dupla, dando origem ao oocisto. 
A célula epitelial sofrerá rompimento em alguns dias, li- 
berando o oocisto ainda imaturo (Fig. 18.4B). Esta forma 
alcançará o meio exterior com as fezes. A sua maturação 
no meio exterior ocorrerá por um processo denominado 
esporogonia, após um período de cerca de quatro dias, e 
apresentará dois esporocistos contendo quatro esporo- 
zoítos cada. O gato jovem é capaz de eliminar oocistos 
durante um mês, aproximadamente. O oocisto, em condi- 
ções de umidade, temperatura e local sombreado favorá- 
vel, é capaz de se manter infectante por cerca de 12 a 18 
meses (Fig. 18.4C). 
O tempo decorrido entre a infecção e o aparecimento de 
novos oocistos nas fezes dos felídeos (período pré-paten- 
te) dependerá da forma ingerida. Este período será de três 
Capitulo 18 165 
Fig. 18.3 - T. gondii, formas típicas: A) cisto em cérebro de camundongo; B) oocisto imaturo com esporonte (fezes recentes de gato); C) oocisto maduro 
(solo) com esporozoítos (segundo Current WL e cols. In: Coccidiosis of Mand and Domestic Animals. CRC Press, Boca Raton, 1990); D) endodiogenia 
(duas células filhas dentro de uma célula-mãe) (segundo Vivier e cols., J. Cell Biol. 43:337, 1968). 
dias, quando a infecção ocorrer por cistos, 19 dias ou mais, 
por taquizoitos e 20 ou mais dias, por oocistos. 
A infecção pelo 7: gondii constitui uma das zoonoses 
mais difundidas no mundo. Em todos os países, grande parte 
da população humana e animal (mais de 300 espécies de ani- 
mais entre mamíferos e aves - domésticos ou silvestres) 
apresenta parasitismo pelo 7: gondii. Em algumas regiões, 
40 a 70 % dos adultos aparentemente sãos apresentam-se 
positivos para toxoplasmose, em testes sorológicos. Essa 
variação da prevalência parece ser devida a fatores ge- 
ográficos, climáticos, hábitos alimentares, tipo de traba- 
lho etc., indicando que os mecanismos de transmissão 
devem ocorrer através de várias formas do parasito: 
oocistos em fezes de gato jovem infectado, cistos pre- 
sentes em carnes e taquizoítos no sangue atingindo a 
placenta. 
O ser humano adquire a infecção por três vias principais: 
1 ) Ingestão de oocistos presentes em alimento ou 
água contaminadas, jardins, caixas de areia, latas de lixo 
ou disseminados mecanicamente por moscas, baratas, 
minhocas etc. 
Capitulo 18 ' I 
1 
Flg. 18.4 - Ciclo biológico de Toxoplasma gondii: A) O ser humano (homem e mulher), outros mamíferos e aves, funcionando como hospedeiros interme- 
diários, podem adquirir toxoplasmose ao se infectac ingerindo oocisto maduro (1) encontrado no solo, verdura, água; carne malcozida contendo cisto com 
bradizoítos (2) ou taquizoítos (3) livres encontrados nos líquidos somáticos. Durante a fase aguda são encontradas formas proliferativas (taquizoítos) den- 
tro dos macrófagos (4) ou nas circulações linfática ou sanguínea e na fase crônica, cistos com bradizoítos nos tecidos (5). A mulher gestante poderá transmitir 
formas de taquizoítos (6) ao feto, através da circulação placentária. B) Um gato jovem ou outros felídeos podem se infectar ao ingerir um animal albergan- 
do cistos teciduais com bradizoítos, oocistos maduros do solo ou macrófagos com taquizoítos, iniciando a fase coccidiana do ciclo que se processa nas 
c~lulas epiteliais do intestinodelgado: B,J inicialmente ocorre a liberação da forma infectante bradizoíto, esporozoíto ou taquizoito (8) que penetra na cblula 
epitelial, onde se inicia a fase assexuada do ciclo, denominada merogonia, com a formação inicial de um trofozoíto (9), a divisão nuclear e a formação dos 
merozoítos (10) e a sua liberação para a luz intestinal (11). BJ os merozoítos liberados penetram em novas células epiteliais e iniciam a fase sexuada do 
processo denominada gamogonia, dividida em duas partes: o merozoíto, transformado em macrogametócito jovem, tem o desenvolvimento do seu citoplasma 
atb a sua maturação em macrogameta (12) gameta feminino) e o outro merozoíto se transforma em microgametócito jovem, inicia a divisão nuclear e após 
o amadurecimento formam os microgametas flagelados (13). A fusão de um microgameta com o macrogameta origina o zigoto (14) e após a elaboraçao da 
membrana cística transforma-se em oocisto imaturo (15). Esse oocisto, liberado na luz intestinal, é eliminado ao meio exterior juntamente com as fezes. 
C) No solo, o oocisto, por um processo de esporogonia origina os esporozoítos, dentro do oocisto (I), tornando-se infectante aos hospedeiros suscetíveis. 
2) Ingestão de cistos encontrados em carne crua ou mo trimestre da gestação. É interessante esclarecer que as 
mal cozida, especialmente do' porco e do carneiro. Os cis- mulheres que apresentam sorologia positiva antes da gravi- 
tos resistem por semanas ao frio, mas o congelamento a dez têm menos chance de infectar seus fetos do que aque- 
12°C ou o aquecimento acima de 67°C os mata. las que apresentarem a primoinfecção durante a gestação. 
3) Congênita ou transplacentária: o risco da transmis- Mais raramente pode ocorrer ingestão de taquizoítos em 
são uterina cresce de 14% no primeiro trimestre da ges- leite contaminado ou saliva, acidente de laboratório, trans- 
tação após a infecção materna primária, até 59% no últi- missão por transplante de órgãos infectados' etc. 
Capitulo 18 167 
Conforme será mostrado na Patogenia, as manifestações 
da toxoplasmose podem ser bastante variadas. Entretanto, 
em vista das possíveis anomalias que podem ocorrer no 
feto, a transmissão congênita é a mais grave. As vias de in- 
fecção mais prováveis para o feto são: 
Transplacentária: quando a gestante adquire a toxo- 
plasmose durante a gravidez apresentando a fase 
aguda da doença, poderá transmitir T gondii ao 
feto, tendo os taquizoitos como forma responsável. 
Rompimento de cistos no endométrio: apesar da 
gestante apresentar a doença na fase crônica, al- 
guns cistos localizados no endométrio poderiam, 
em raras situações, se romper (distensão mecânica 
ou ação lítica das vilosidades coriônicas da pla- 
centa), liberando os bradizoítos que penetrariam 
no feto. 
IMUNIDADE 
As respostas imunes de um hospedeiro a toxoplasmo- 
se são complexas e envolvem mecanismos humoral e celu- 
lar. Embora os mecanismos imunes detalhados envolven- 
do proteção contra toxoplasmose não sejam conhecidos, 
tem sido mostrado que "mecanismos imunes mediados por 
células" desempenham um papel de destaque na resistên- 
cia a doença. 
Quando um hospedeiro se infecta com o parasito, ocor- 
re a multiplicação na porta de entrada e logo em seguida 
ocorre a sua disseminação por todo o organismo através 
das vias linfática e sangiiínea. Durante este período, inicia- 
se a formação de anticorpos específicos e o desenvolvimen- 
to de mecanismos imunes celulares que são responsáveis 
pela destruição dos taquizoitos extracelulares. Como conse- 
qüência, durante a fase crônica da toxoplasmose, somente 
os bradizoítos persistem e são responsáveis pela manuten- 
ção de títulos sorológicos que podem durar toda a vida do 
hospedeiro. 
A produção de imunoglobulinas da classe IgM apa- 
rece inicialmente seguida de IgG, após a infecção do hos- 
pedeiro. As imunoglobulinas da classe IgG podem ser de- 
tectadas pelas reações sorológicas dentro de oito a 
12dias após a infecção pelo T gondii. A produção de 
IgM geralmente é de curta duração. A pesquisa de IgM 
em recém-nascidos é utilizada para o diagnóstico de 
toxoplasmose congênita, pois, não atravessa a placenta 
e quando presente no soro indica a produção pelo pró- 
prio feto, em resposta a uma infecção pelo 7: gondii. A 
infecção, via oral, em alguns hospedeiros pode induzir 
formação de anticorpos IgA. Apesar dos altos títulos de 
anticorpos verificados em infecções humanas e animais, 
os mesmos, nem sempre conferem imunidade protetora ao 
hospedeiro. 
Quando se inicia a infecção de 7: gondii, os taquizoítos 
atingem o interior de células onde se multiplicam. A multi- 
plicação do parasito em macrófagos é inibida quando ocor- 
re a fusão entre fagossomos e lisossomos. Os taquizoítos 
estimulam os macrófagos a produzir interleucina (IL- 12) que 
por sua vez ativa as células natural killer (NK) e células T 
para a produção do interferon - y (IFN-y) que são essen- 
ciais para a resistência. IFNy e fator de necrose tumoral 
(TNF) agem sinergisticamente para mediar a morte dos 
taquizoítos pelos macrófagos. A combinação dessas duas 
citocinas resulta numa grande produção de óxido nítrico 
(NO), os quais podem efetuar a morte dos parasitos. Entre 
as populações de células T, CD8+ são consideradas as cé- 
lulas efetoras maiores, responsáveis pela proteção contra Z 
gondii, com as células CD4+ atuando em sinergismo. 
Macrófagos e IFN-y são componentes importantes na imu- 
nidade contra 7: gondii. 
PATOGENLA 
Segundo os especialistas, o número de pesssoas com 
sorologia positiva para 7: gondii é enorme, sendo talvez 
o protozoário mais difundido entre a população huma- 
na e animal (incluindo as aves e excetuando-se os ani- 
mais de sangue frio). A patogenia na espécie humana 
parece estar ligada a alguns fatores importantes, como 
cepa do parasito, resistência da pessoa e o modo pelo 
qual ela se infecta. Entretanto, a transmissão congênita 
é frequentemente a mais grave, e a toxoplasmose adqui- 
rida após o nascimento pode apresentar uma evolução 
variável. Conforme salientado, a patogenicidade da to- 
xoplasmose humana depende muito da virulência da 
cepa. Alguns experimentos realizados com T gondii 
oriundos de casos humanos e inoculados em animais de 
laboratório comprovam este fato: há cepas que matam 
os animais (camundongos, hamsters, ratos, coelhos, co- 
baias) em poucos dias; outras apenas provocam ema- 
grecimento, anemia, queda de pêlo com posterior esta- 
belecimento do animal. 
Com o uso de quimioterapia para transplante de órgãos 
e da medula óssea e, com o surgimento de sindrome da imu- 
nodeficiência adquirida (AIDS), a incidência de infecção 
oportunística por 7: gondii tem aumentado, principalmen- 
te nas duas últimas décadas, apresentando quadros mui- 
to graves desta doença, especialmente no sistema nervo- 
so central. 
Para que se instale uma toxoplasmose congênita é necessá- 
rio que a mãe esteja na fase aguda da doença ou tenha havido 
uma reagudiqão da mesma durante a gravidez. As conseqüên- 
cias da toxoplasmose matema para o feto dependerão do grau 
de exposição do feto aos toxoplasmas, da virulência da cepa, da 
capacidade dos anticorpos matemos protegerem o feto e do pe 
nodo da gestação. Assim sendo, as gestantes na fase aguda (ou 
reagudizada) da doença podem abortar o feto, produzir partos 
precoces ou a termo, dando origem a crianças sadias ou apresen- 
tando anomalias graves e até mesmo levar a morte. Cerca de 10% 
de infecção pré-natal resulta em aborto ou morte. Outros 10% a 
23% de fetos infectados durante a gravidez podem mostrar si- 
nais de toxoplasmose clínica ao nascimento. 
As alterações ou lesões fetais mais comuns devido à 
toxoplasmose na gravidez variam conforme o período da 
gestação: 
Capitulo 18 
1 
Primeiro trimestre da gestação: aborto (dados estatís- 
ticos indicam que a frequência de aborto é dez vezes 
maior em gestantes com sorologia positiva do que nas 
normais). 
Segundo trimestre da gestação: aborto ou nascimen- 
to prematuro, podendo a criançaapresentar-se normal 
ou já com anomalias graves, típicas (descritas por 
Sabin e citadas a seguir). 
Terceiro trimestre da gestação: a criança pode nascer 
normal e apresentar evidências da doença alguns dias, 
semanas ou meses após o parto. Nesta situação, a to- 
xoplasmose pode ser multiforme, mas em geral há um 
comprometimento ganglionar generalizado, hepatoes- 
plenomegalia, edema, miocardite, anemia, trombocito- 
penia e lesões oculares, as quais são patognomônicas. 
Taquizoítos atingem a coróide e a retina (uni ou bila- 
teralmente), provocam inflamação e degeneração em 
graus variáveis que, ao exame oftalmológico, recebe o 
nome de "foco em roseta". Algumas vezes, essa infec- 
ção congênita da retina não provocará alterações no 
recém-nascido, uma vez que mecanismos imunes de- 
terminam o encistamento das formas. Posteriormente, 
já na idade adulta, poderá haver uma eventual reagu- 
dização das formas latentes, levando a uma toxoplas- 
mose ocular (de origem intra-uterina). Outras altera- 
@es oculares que também podem ocorrer são: microf- 
talmia, nistagmo, estrabismo, catarata e irite. 
Portanto, a to~oplasmose congênita é uma das formas 
mais graves da doença, em geral provocando sintomas va- 
riados, mas comumente enquadrados dentro da "síndrome 
ou tétrade de Sabin", assim caracterizada: coriorretinite 
(90% dos casos), calcificações cerebrais (69%), perturba- 
ções neurológicas - retardamento psicomotor (60%) e al- 
terações do volume craniano - micro ou macrocefalia 
(50% dos casos). 
TOXOPLASMOSE Pós -NATAL 
Dependendo da virulência da cepa, estado de imunidade da 
pessoa etc., a toxoplasmose pós-natal pode apresentar desde 
casos benignos ou assintomáticos (a grande maioria) até casos 
de morte. Entre esses dois extremos, há uma variada gama de 
situa@es, dependendo da localização do parasito: 
Glanglionar ou Febril Aguda 
6 a forma mais frequente, encontrada tanto em crianças 
como em adultos. Há um comprometimento ganglionar, ge- 
neralizado ou não, com febre alta. Geralmente é de curso crô- 
nico e benigno, podendo as vezes levar a complicações de 
outros orgãos, inclusive a ocular (uveíte, coriorretinite). 
Ocular 
A retinocoroidite é a lesão mais frequentemente associa- 
da B toxoplasmose, uma vez que 30% a 60% dos casos se 
devem ao T gondii. É conseqiíência de uma infecção agu- 
da com a presença de taquizoítos ou crônica com a presen- 
ça de cistos contendo bradizoítos localizados na retina. A 
toxoplasmose ocular ativa consiste em um foco coagulativo 
e necrótico bem definido da retina. Além disso, pode estar 
presente uma inflamação difusa da retina e da coróide. An- 
tígenos de T gondii são frequentemente detectados em áre- 
as de necrose por meio da imuno-histoquímica. Em pacien- 
tes com AIDS, somados a lesões discretas ou multifocais 
pode estar presente uma necrose difusa da retina associa- 
da a leve inflamação e grande número de parasitos. As le- 
sões podem evoluir para uma cegueira parcial ou total ou 
podem se curar por cicatrização. As bordas da cicatrização 
são frequentemente hiperpigmentadas como resultado da 
ruptura do pigmento retina1 do epitélio. Cistos teciduais po- 
dem estar presentes na borda da cicatriz. Parece que T. 
gondii alcança a retina através da corrente sanguínea na 
forma de taquizoítos livres ou taquizoítos residindo dentro 
de macrófagos circulantes, temporariamente sequestrados 
para dentro dos capilares da retina. Esses taquizoítos são li- 
berados quando as células infectadas são lisadas e podem 
invadir a retina adjacente 
Cutânea ou Exantemática 
Forma lesões generalizadas na pele. Raramente encontra- 
da. Os casos conhecidos foram de evolução rápida e fatal. 
Encontro pouco frequente em indivíduos imunocompe- 
tentes, porém, com o surgimento da AIDS, a freqüência au- 
mentou consideravelmente, em decorrência da reativação de 
formas císticas encontradas em indivíduos com infecções 
latentes. Este risco, para indivíduos imunodeficientes com 
sorologia positiva para toxoplasmose, é estimado em cerca 
de 25% a 26% (1992), dependendo da região geográfica 
onde habitam. Os parasitos, atacando as células nervosas, 
provocarão lesões focais múltiplas, principalmente no hemis- 
fério cerebral (área frontoparietal) ou no gânglio basal e ce- 
rebelo. Como conseqüência, podem causar cefaléia, febre, 
anomalias focais manifestando hemiparesia (paralisia) leve 
até perda da capacidade de coordenação muscular, confu- 
são mental, convulsões, letargia, que pode progredir para 
estupor, coma, até a morte do paciente. Em alguns doentes, 
foram encontradas manifestações de delírio e alucinação vi- 
sual. Atualmente a incidência da toxoplasmose cerebral as- 
sociada a AIDS tem diminuído em países que utilizam a te- 
rapia anti-retroviral (HAART) com a conseqüente reconsti- 
tuição da imunidade do paciente. 
Generalizada 
É uma forma rara, mas de evolução mortal em indivíduos 
com resposta imune normal. Em imunodeficientes, têm sido 
registrados alguns casos de toxoplasmose sistêmica, com 
comprometimento meningoencefálico, miocárdico, pulmonar, 
ocular, digestivo e até testicular. 
O diagnóstico da toxoplasmose pode ser clínico ou la- 
boratorial. O diagnóstico clínico não é fácil de se realizar, 
pois os casos agudos podem levar a morte ou evoluir para 
a forma crônica. Esta pode se manifestar assintomaticamen- 
te ou então se assemelhar a outras doenças (mononucleo- 
se, por exemplo). Portanto, a suspeita clínica deverá ser con- 
firmada por meio de diagnóstico laboratorial. 
Capitulo 18 
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Realce
Em geral, é obtida durante a fase aguda, em líquido arn- 
niótico, sangue etc. A forma encontrada é o taquizoíto, mais 
bem evidenciado após a centrifugação. Faz-se então um es- 
fregaço do material centrifugado e cora-se pelo método de 
Giemsa. Pode-se também fazer inoculação intraperitoneal da 
amostra obtida em camundongos albinos jovens ou pesqui- 
sa de DNA do parasito pela reação em cadeia da polimerase 
(PCR). Na fase crônica, a biópsia de diversos tecidos pode- 
rá acusar a presença de cistos. Este material poderá ser ino- 
culado em camundongos ou usado para o diagnóstico 
histopatológico. Este método, raramente utilizado, quando 
realizado pode apresentar dificuldades frequentes para a di- 
ferenciação com outros parasitos formadores de cistos, se- 
melhantes aos do T gondii (Sarcocystis, Histoplasma, 
Cryptococcus, T cruzi e Encephalitozoon, este último em 
tecidos de roedores). 
Como foi descrito, a demonstração do parasito não é de 
fácil execução. O diagnóstico rotineiro da toxoplasmose tem, 
portanto, como base em testes imunológicos que indicam o 
título (diluição do soro sangiiíneo) de anticorpos circulan- 
tes correspondentes a fase da doença. 
Existem diversos testes imunológicos. Alguns não são 
mais utilizados ou são empregados apenas em casos espe- 
cíficos, conforme indicação a seguir: 
Teste do corante ou reação de Sabin Feldman (RSF): 
é um excelente método para diagnóstico individual na 
fase aguda ou crônica da doença. É muito sensível, 
detectando anticorpos no soro com diluições de até 
1: 16.000. A negativação ocorre somente alguns anos 
após a cura do paciente. É espécie-específica e não 
cruza com outras doenças. Atualmente, esse método 
está em desuso em vista da necessidade de se manter 
o toxoplasma vivo (em camundongo) para a prepara- 
ção dos antígenos, grande consumo de tempo, bem 
como pela sensibilidade de outros testes sorológicos 
de mais fácil execução, em especial a imunofluorescên- 
cia indireta. 
Reação de imunofluorescência indireta (RIF): é um dos 
melhores métodos, sensível e seguro para o diagnós- 
tico da toxoplasmose, podendo ser usada tanto na fase 
aguda (pesquisa de IgM) como na fase crônica (pesqui- 
sa de IgG). Esfregaços de toxoplasmas formalizados são 
usados como antígeno, em lâmina. Oito a dez dias após 
o início da infecção humana, o anticorpo pode ser de- 
tectável e um titulo de 1 : 1.000 já indica toxoplasmose 
aguda. Títulos baixos, persistentes, entre 1: 10 e1500 
indicam infecção crônica. A sensibilidade do método 
chega a acusar positividade em titulos de 1: 16.000. In- 
divíduos que receberam transfusão de sangue contami- 
nado com T gondii podem apresentar títulos positivos, 
indicando erroneamente urna infecção. 
Hemaglutinação indireta (HA): excelente método de 
diagnóstico, devido a sua alta sensibilidade e simpli- 
cidade de execução. Entretanto, é inadequado para o 
diagnóstico precoce e frequentemente não,detecta to- 
xoplasmose congênita em recém-nascidos. E um méto- 
do adequado para levantamento epidemiológico. 
Imunoensaio enzimático ou teste ELISA: tem se toma- 
do um dos testes mais usados atualmente, principal- 
mente para o screening inicial de toxoplasmose em se- 
res humanos. Tem a vantagem sobre RIF pela objeti- 
vidade, automação e quantificação. Apresenta maior 
sensibilidade sobre os testes RIF e RSF, porém pode 
apresentar resultados falso-positivos. É capaz de de- 
tectar anticorpos IgM e IgA, além de IgG de baixa avi- 
dez. O uso do ELISA com antígenos recombinantes 
tem se mostrado útil para detecção de fase aguda da 
infecção. 
Imunoblot: é realizada a eletroforese dos antígenos, 
em gel de poliacrilamida, para a separação dos com- 
ponentes protéicos, os quais são transferidos para 
um papel de nitrocelulose e posteriormente proces- 
sados contra o soro a ser testado e visualizado atra- 
vés de uma reação específica. Este teste tem se mos- 
trado útil para detectar antígenos de baixo peso mo- 
lecular, indicando uma reativação da toxoplasmose 
como resultado da liberação de bradizoítos após a 
ruptura dos cistos teciduais. Este teste não é usado 
rotineiramente. 
Dos métodos citados, os mais usados atualmente são 
RIF e ELISA. Há certa controvérsia na interpretação dos re- 
sultados, mas recomenda-se associar o título da reação com 
o quadro clínico, apesar de essa afirmação não poder "ser 
tomada literalmente, uma vez que títulos elevados podem 
não estar acompanhados de qualquer manifestação clínica 
patológica" (SESSA, 1977). A seguir, serão fornecidas algu- 
mas indicações básicas para a interpretação dos resultados: 
O método de escolha é a pesquisa dos anticorpos do 
tipo IgM no soro do recém-nascido. Esse anticorpo é inca- 
paz de atravessar a placenta materna. Os anticorpos do tipo 
IgG são capazes de atravessar passivamente a placenta de 
uma mãe com sorologia positiva. Para comprovar a infecção 
no recém-nascido utilizando a pesquisa de IgG pelas rea- 
ções de RSF, RIF ou ELISA, os recursos são: 
Título do recém nascido ser maior que o título da mãe 
em duas diluições. 
Elevação dos títulos do recém-nascido em testes su- 
cessivas. 
Persistência da reação positiva no lactente, até cinco 
meses após o nascimento. Sabe-se que, quando há 
transferência passiva de anticorpos matemos para o 
filho, o título desses anticorpos no lactente diminuirá 
dez diluições a cada 90 dias. 
Devem ser realizados testes sorológicos, a intervalos de 
duas a três semanas, verificando-se as alterações dos títu- 
los das reações. Recomenda-se usar dois métodos, prefe- 
rencialmente a RIF e ELISA ou HA. Nos casos de uma as- 
censão constante, indicará doença. Em gestantes, é frequen- 
te uma ligeira elevação do título sem haver a doença. Quan- 
do essa elevação for quatro vezes maior que a dosagem an- 
terior, haverá indicação de toxoplasmose ativa. Anticorpos 
IgM, IgA ou IgG de baixa avidez também podem indicar in- 
fecção aguda. 
Capitulo 18 
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Realce
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Realce
Até recentemente, o diagnóstico da toxoplasmose ocu- 
lar consistia basicamente nos dados clínicos e exame de 
fundo de olho para se observar as lesões na retina (uveíte). 
Atualmente, o diagnóstico imunológico pode ser feito com 
segurança pela seguinte técnica: 
Através de uma parecentese (com seringa e agulha 
tipo insulina 10/3), colhem-se 150 a 250ml do humor 
aquoso. 
Com o humor aquoso obtido faz-se, por meio de imu- 
nodifusão, o teste sorológico para toxoplasmose (pes- 
quisa de IgG). 
Faz-se a reação de imunofluorescência ou hemagluti- 
nação para toxoplasmose com o soro sanguíneo do 
mesmo paciente. 
Compara-se o título e a concentração de imunoglobu- 
lina no humor e no soro sanguíneo, por meio de uma 
fórmula própria. 
Se a alteração ocular for causada por 7: gondii há mais 
de 30 dias, a concentração relativa de anticorpos es- 
pecíficos deverá ser maior no humor ocular. 
Estudos recentes têm mostrado que a detecção de anti- 
corpos do tipo IgA intra-ocular, além dos anticorpos IgG, 
pode ser útil na determinação da toxoplasmose ocular, au- 
mentando de 77% para 91% a sensibilidade do diagnóstico. 
Pelo fato de a doença envolver reativação da primoinfec- 
ção, recomenda-se que sejam realizados testes sorológicos 
anti-IgG em pacientes de risco, no início da evolução da 
AIDS. É importante a verificação da soropositividade no 
paciente, mas não o aumento do título, pois em alguns pa- 
cientes com toxoplasmose os títulos de IgG podem ser muito 
baixos (títulos = 1 : 16). 
Em pacientes imunodeficientes com suspeita de toxo- 
plasmose, além de teste sorológico, recomenda-se fortemen- 
te a utilização da tomografia computadorizada para a locali- 
zação de lesões cerebrais. A realização de biópsia no cére- 
bro, para confirmação da presença do parasito, será reco- 
mendada somente em casos duvidosos, com quadro clínico 
atípico. 
EPIDEMIOLOGIA 
A epidemiologia da toxoplasmose está muito estudada 
e relativamente bem esclarecida, atualmente. Sabe-se que 
tanto os gatos domésticos, como os selvagens (ocelotes, 
jaguar, jaguatirica etc.) são os únicos animais que podem 
realizam o ciclo sexuado, eliminando após a primoinfecção 
milhões de oocistos imaturos nas fezes. Além disso, o 
carnivorismo (ingestão de carne contendo taquizoítos ou 
bradizoitos) e a disseminação de oocistos na água, alimen- 
tos por insetos etc. interferem na ampla distribuição desse 
protozoário. Os seguintes pontos são destacados: 
É encontrada em quase todos os países, nos mais va- 
riados climas e condições sociais, com porcentagem de 
positividade variável de acordo com a população pes- 
quisada. Na década de 90, a prevalência sorológica 
nos países da Europa Central (Áustria, Bélgica, Fran- 
ça, Alemanha e Suíça) variou de 37% a 58% em mulhe- 
res em idade reprodutiva. Comparativamente, a preva- 
lência em mulheres nos países da América Latina (Ar- 
gentina, Brasil, Cuba, Jamaica e Venezuela) foi maior 
(5 1% a 72%). Prevalências menores foram verificadas 
no Sudeste Asiático, China e Coréia (4% a 39%) e em 
mulheres de países escandinavos (1 1% a 28%). Em in- 
quéritos sorológicos registrados no passado, nas di- 
versas regiões do Brasil, como Região Amazônica, Alto 
Xingu, Baixo e Médio São Francisco, Rio de Janeiro e 
São Paulo, os índices de positividade variaram de 37% 
a 91%. Prevalências registradas recentemente em dois 
inquéritos realizados em grupo de gestantes de Porto 
Alegre (RS) apresentaram índices de positividade de 
cerca de 60% e 743% (2003), ao passo que em inqué- 
rito realizado em pacientes com problemas oculares, 
houve soropositividade em cerca de 83%, na zona ru- 
ral do Paraná (1 999). 
Estudos recentes de epidemiologia molecular por 
PCR-RFLP têm evidenciado que existem duas linha- 
gens clonais do 7: gondii, uma compreendendo cepas 
que são virulentas para camundongos (cepas do tipo 
I) e outra compreendendo cepas pouco virulentas para 
camundongos (cepas dos tipos I1 e 111). 
Praticamente todos os mamíferos e aves são suscetí- 
veis, tendo sido assinalados no Brasil os seguintes ín- 
dices de infecção: 19% em gatos de diferentes idades, 
23% em suínos, 32% em bovinos, 35% em ovinos, 20% 
em equinos e 40% a 56% em caprinos. 
Os gatos têm importância fundamental na toxoplasmo- 
se. Quando a doença ocorre em gatos jovens não-imu- 
nes (primoinfecção), pode haver a produção de cerca 
de 100 milhões de oocistos eliminados nas fezes. 
O maior surto mundial de toxoplasmose devido a conta- 
minação hídrica por oocistos de 7: gondii eliminados porum 
gato jovem com toxoplasmose ocorreu entre novembro de 
2001 e janeiro de 2002, no Município de Santa Isabel do Ivaí 
(Paraná). De uma população de cerca de 9.000 habitantes, 
462 pessoas apresentaram soropositividade sugestiva para 
anticorpo IgM, significando infecção aguda. O estudo epi- 
demiológico detectou como fonte de infecção o reservató- 
rio d'água que abastece parte da cidade, contaminada por 
oocistos de 7: gondii. O estudo realizado com 156 pessoas 
apresentando sintomas da doença demonstrou que os prin- 
cipais sinais clínicos foram: cefaléia, febre, cansaço, mialgia, 
adenomegalia (cervical, axilar, inguinal), perda de apetite. 
Sete casos de gestantes apresentaram seis filhos infectados, 
um com anomalia congênita grave e um com aborto espon- 
tâneo. Foram observadas alterações oftalmológicas em 8% 
dos casos examinados (Funasa, 2002). 
Não se conhece nenhum artrópode transmissor, mas 
moscas e baratas podem, eventualmente, veicular al- 
guns oocistos nas patas. 
Animais silvestres também têm apresentado soroposi- 
tividade para toxoplasmose: 75% em felídeos, 64% em 
marsupiais, 63% em primatas, 61% em roedores (Ma- 
naus, AM, 1980); 5% em marsupiais (Botucatu, SP). 
A transmissão para os seres humanos parece ocorrer 
principalmente por três vias: 
Capitulo 18 
1) Ingestão de oocistos presentes na água, alimentos, 
solo, areia, jardins, latas de lixo ou qualquer lugar contami- 
nado com fezes de gato ou cujos oocistos foram dissemina- 
dos por artrópodes etc. Os oocistos maduros têm grande 
importância epidemiológica, pois já foi comprovado que po- 
dem permanecer viáveis no solo úmido sombreado, duran- 
te 12 a 18 meses. Os oocistos podem permanecer viáveis a 
4OC por até 54 meses, a -lO°C por 106 dias, mas morrem após 
um a dois minutos a 55-60°C. 
2) Ingestão de cistos presentes em carnes de aves, suí- 
nos, ovinos, caprinos ou bovinos, quando servidas cruas ou 
malcozidas. Os cistos em carcaças ou carne moída pemane- 
cem viáveis a 4OC por mais de três meses, sobrevivem no 
congelador (- 1 a -8OC) mais de uma semana, mas morrem a 
temperatura de 67OC. 
3) Transplacentária por taquizoítos durante a fase agu- 
da ou, mais raramente, pela reativação da infecção nas mu- 
lheres grávidas. 
PROFILAXIA 
"Vivendo o homem num mar de toxoplasma" torna-se di- 
ficil a aplicação de medidas profiláticas, porém com base na 
epidemiologia, podem ser inferidos alguns procedimentos: 
Não se alimentar de carne crua ou malcozida de qual- 
quer animal ou leite cru. 
Controlar a população de gatos nas cidades e em 
fazendas. 
Os criadores de gatos devem manter os animais den- 
tro de casa e alimentá-los com carne cozida ou seca, 
ou com ração de boa qualidade. 
Incinerar todas as fezes dos gatos. 
Proteger as caixas de areia para evitar que os gatos de- 
fequem nesse local. 
Recomenda-se o exame pré-natal para toxoplasmose 
em todas as gestantes, com ou sem histórico de 
enfartamento ganglionar ou aborto. 
Tratamento com espiramicina das grávidas em fase 
aguda (IgM ou IgA positivas). 
Desenvolvimento de vacinas: vacinas com subunidades 
do parasito, adequadas para combater a toxoplasmose 
nos seres humanos têm sido desenvolvidas, porém sem 
nenhum resultado preventivo concreto até o momento. 
TRATAMENTO 
Ainda não existe um medicamento eficaz contra a toxo- 
plasmose, na fase crônica da infecção. As drogas utilizadas 
atuam contra taquizoítos, mas não contra os cistos. Como 
a maioria das pessoas com sorologia positiva não apresen- 
ta a doença, e pelo fato de as drogas empregadas serem tó- 
xicas em usos prolongados, recomenda-se o tratamento ape- 
nas dos casos agudos, da toxoplasmose ocular e dos indi- 
víduos imunodeficientes com toxoplasmose de qualquer 
tipo ou fase. 
Os medicamentos usados são: 1 
Associação de pirimetamina (Daraprim) com a sulfa- 
diazina ou a sulfadoxina (Fansidar). Esta última asso- 
ciação é a mais usada, mas como a pirimetamina em d e 
sagens prolongadas torna-se tóxica, recomenda-se 
adicionar ácido fólico ou levedo de cerveja a dieta do 
paciente. 
Toxoplasmose ocular: sabe-se que a lesão da retina 
pode se disseminar ou ampliar após o rompimento dos 
cistos ali presentes, provocando uma reação inflama- 
tória que poderá agravar a uveíte instalada. Desta for- 
ma, a terapêutica é baseada principalmente na adminis- 
tração de um antiinflamatório (Meticorten) e antipara- 
sitários. As associações mais usadas são: a) Cloridrato 
de clindamicina, sulfadiazina e meticorten (alcança 
93% de cura, porém a clindamicina altera profunda- 
mente a flora intestinal causando colites). b) Pirimeta- 
mina (Daraprim), sulfadiazina e meticorten (alcança 
85% de cura, sendo a associação mais usada, exceto 
durante a gravidez, pois a pirimetamina é teratogênica). 
c) Espiramicina, sulfadiazina e meticorten (alcança 
65% de cura), sendo usada quando não se pode usar 
as associações anteriores. d) Azitromicina apresenta 
um bom resultado sem causar efeitos colaterais, uma 
alternativa para aqueles que não toleram terapêutica 
convencional. 
Encefalite em aidéticos: associação de pirimetamina e 
sulfadiazina ou pirimetamina e clindamicina. Esta última 
associação parece ser uma alternativa aceitável em pa- 
cientes que não toleram a primeira associação. A 
reativação de infecções latentes pode ser prevenida 
com o uso profilático de Trirnetoprirn e suldametoxazol. 
Capítulo 18 
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