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REPRODUÇÃO INDUZIDA, ONTOGENIA INICIAL, ETOLOGIA LARVAL E ALEVINAGEM DA PIABANHA (Brycon insignis, STEINDACHNER, 1877) GUILHERME DE SOUZA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE - UENF CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ JULHO – 2004 REPRODUÇÃO INDUZIDA, ONTOGENIA INICIAL, ETOLOGIA LARVAL E ALEVINAGEM DA PIABANHA (Brycon insignis, STEINDACHNER, 1877) GUILHERME DE SOUZA Dissertação apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Produção Animal Orientador: Prof. Dálcio Ricardo de Andrade CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ JULHO - 2004 3 REPRODUÇÃO INDUZIDA, ONTOGENIA INICIAL, ETOLOGIA LARVAL E ALEVINAGEM DA PIABANHA (Brycon insignis, STEINDACHNER, 1877) GUILHERME DE SOUZA Dissertação apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Produção Animal Aprovada em 18 de junho de 2004 Comissão Examinadora _____________________________________________ Prof. Manuel Vasquez Vidal Júnior _____________________________________________ Prof. Ronaldo Novelli _____________________________________________ Prof. Hugo Pereira Godinho _____________________________________________ Prof. Dalcio Ricardo de Andrade Orientador 4 Aos meus pais, avó, sogro e sogra, pela enorme dedicação e apoio aos meus sonhos que, aos poucos, estão se concretizando. A minha esposa, Cátia, e aos meus queridos filhos, Pablo, Mariana e Camila que, com os seus incessantes beijos e sorrisos, me conduziram para o término desta dissertação. A Deus, por eu estar vivo e com muita saúde. DEDICO 5 AGRADECIMENTO À FAPERJ, pela bolsa de estudos concedida; Ao professor Dalcio Ricardo de Andrade, pela orientação, amizade e, o mais importante, pela forma serena de me mostrar o caminho da pesquisa científica; Ao professor Manuel Vazquez Vidal Júnior, pela amizade e co-orientação, ambas indispensáveis para o término deste trabalho; Ao professor Alexandre, pela compreensão e clareza em suas aulas de Estatística; Ao professor Ronaldo Novelli, pelos seus ensinamentos zoológicos, além da grande amizade construída; Aos professores do Curso de Pós Graduação em Produção Animal (CCTA/UENF) e do Laboratório de Ciências Ambientais (CBB/UENF), pela contribuição a minha formação profissional; À Ana Paula Ribeiro Costa,a Denilson Buckert, George Shigueki Yasui, Eduardo Shimoda e Marcelo Cordeiro Pereira, pela ajuda e convívio durante este momento estudantil; Aos Técnicos de laboratório (CCTA/CBB), funcionários da biblioteca e da secretaria do CCTA, que me auxiliaram e contribuíram para a realização deste trabalho; Ao Presidente da Associação dos Pescadores e Amigos do Rio Paraíba do Sul (APARPS), Benígno Bairral Júnior, pelo apoio irrestrito aos meus sonhos. Ao diretor de Captação de Recursos do Projeto Piabanha, Luíz Felipe Daudt, pelo apoio crucial em importantes momentos; A todos os integrantes da Associação dos Pescadores e Amigos do Rio Paraíba do Sul (APARPS), Itaocara - RJ. 6 Aos funcionários do Projeto Piabanha, Evódio e Calisto, pelo acompanhamento em todas as reproduções induzidas de piabanha; Ã Ashoka Empreendedores Sociais que, apesar de não estar envolvida diretamente neste trabalho científico, será sempre lembrada por ser parte da minha vida; Àqueles que, embora não tenham sido nominalmente citados, estiveram presentes de alguma forma na minha vida acadêmica e que me possibilitaram, aos 37 anos, fazer parte de um reduzido grupo de brasileiros que consegue chegar a um curso de pós-graduação. 7 BIOGRAFIA GUILHERME SOUZA, filho de Divaldo Souza e Alcidea Souza, nasceu em 27 de dezembro de 1967, na cidade do Rio de Janeiro – RJ. Em junho de 1994, concluiu o curso de Ciências Biológicas na Universidade Santa Úrsula – RJ. Neste mesmo ano, foi convidado a trabalhar em uma estação de piscicultura, no setor de reprodução induzida, as margens do rio Paraíba do Sul, em Itaocara – RJ. Com o passar dos anos, com o irrestrito apoio de sua esposa, Cátia Medeiros Souza, passou a se dedicar às causas ambientais dando ênfase aos estudos relacionados à ictiofauna do rio Paraíba do Sul quando, em 1998, participou da fundação da Associação dos Pescadores e Amigos do Rio Paraíba do Sul, entidade sem fins lucrativos gestora do Projeto Piabanha. Com o intuito de aprofundar os conhecimentos a respeito da reprodução induzida da piabanha, espécie ameaçada de extinção do rio Paraíba do Sul, em 2001, ingressou no Curso de Pós-graduação em Produção Animal, Mestrado, Reprodução de Peixes de Água Doce, da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), em Campos dos Goytacazes – RJ, submetendo-se a defesa de tese para a conclusão do curso em junho de 2004. Atualmente ocupa o cargo de Diretor Geral da ONG Projeto Piabanha. 8 CONTEÚDO RESUMO................................................................................................................ xii ABSTRACT............................................................................................................ xiv 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1 2. OBJETIVOS .......................................................................................................... 3 3. REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................ 4 3.1. O gênero Brycon ........................................................................................ 4 3.2. O gênero Brycon na produção de pescado ................................................ 5 3.3. A piabanha (Brycon insignis) ...................................................................... 6 3.4. Aspectos reprodutivos ............................................................................... 6 3.5. Hábito alimentar no gênero Brycon ............................................................ 9 3.6. Aspectos etológicos e ontogênicos da fase larvar...................................... 11 3.7.A alimentação das pós-larvas de peixes ..................................................... 13 3.8.Larvicultura.................................................................................................. 15 4. MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 16 4.1. Local e época de trabalho................................................................................ 16 4.2. Plantel de reprodutores.................................................................................... 18 4.3. Seleção e preparo dos reprodutores para o processo de indução .................. 18 4.4.Indução hormonal ............................................................................................. 20 4.5. Comportamento dos reprodutores durante o processo de indução de desova ........................................................................................................ 22 4.6. Extrusão dos gametas ..................................................................................... 22 4.6.1. Avaliação do ovo durante o processo de hidratação............................... 25 4.7. Incubação dos ovos.........................................................................................25 4.7.1. Estimativa da taxa de fecundação e desenvolvimento embrionário ........ 26 9 4.7.2. Eclosão, desenvolvimento e etologia das larvas e pós-larvas................. 27 4.7.3. Fase de canibalismo pós-larval intra e interespecífico ............................ 29 4.8. Crescimento das pós-larvas em tanques externos .......................................... 29 4.9. Análise estatística............................................................................................ 30 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 31 5.1. Indução Hormonal ........................................................................................... 31 5.2. Comportamento dos reprodutores durante a indução ..................................... 33 5.3. Extrusão, caracterização, quantificação e medição dos ovócitos .................... 38 5.4. Desenvolvimento do ovo e do embrião até o momento da eclosão................. 40 5.5. Comportamento alimentar da pós-larva na fase de canibalismo ..................... 54 5.6. Desenvolvimento das pós-larvas e alevinos em tanque de alevinagem.......... 56 6. CONCLUSÕES ..................................................................................................... 57 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 59 10 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Tabela 1 - Média, desvio padrão e coeficiente de variação do peso total das fêmeas (g), temperatura média da água (°C), horas-grau (°C), peso total de ovócitos extruídos (g), ovócitos em um grama, horas-grau ao fechamento do blastóporo (°C) e percentagem de ovos fecundados ......................................................................... 33 Tabela 2 - Descrição estágios embrionários de Brycon insignis nos diferentes intervalos de horas- grau............................................................................................................................ 41 Tabela 3 – Média, desvio padrão e coeficiente de variação do tempo eclosão necessário para a eclosão dos ovos referente a 36 diferentes desovas de piabanha, em diferentes temperaturas, com suas respectivas horas-grau ............................................................................................. 43 Tabela 4 – Valores da biometria das larvas de piabanha em diferentes horas-grau, média do comprimento da larva (mm), média do comprimento do vitelo (mm) e média da altura do vitelo (mm) ....................................................... 46 11 Tabela 5 - Descrição dos eventos morfológicos mais marcantes entre o momento da eclosão e o momento do canibalismo entre larvas de piabanha, em horas e horas-grau .............................................................................................. 49 Tabela 6 - Média, desvio padrão e coeficiente de variação do número de horas, temperatura média e número de horas-grau para o início da alimentação exógena, para larvas de piabanha ............................................................................ 53 12 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Exemplar juvenil da piabanha ................................................... ................06 Figura 2 - Exemplar adulto da piabanha.................................................... ................06 Figura 3 - Fêmea de piabanha apresentando abdome avolumado e papila genital hiperemiada. ................................... ................19 Figura 4 - Fêmea de Brycon insignis recebendo a aplicação da primeira dose de extrato de hipófise na base da nadadeira pélvica......................................................................... ................21 Figura 5 - Fêmea de Brycon insignis recebendo a aplicação da segunda dose de extrato de hipófise, na base da nadadeira pélvica. Notar o ventre abaulado e papila genital hiperemiada... ................................................... ................21 Figura 6 - Extrusão dos ovócitos de piabanha. ......................................... ................24 Figura 7 - Extrusão do sêmen de piabanha............................................... ...............24 Figura 8 - Desenho esquemático de uma larva de piabanha mostrando as variáveis morfométricas mensuradas. ............................................................................................. ...............28 13 Figura 9 - Lesões cutâneas no pedúnculo caudal do macho de piabanha provocadas pela fêmea logo após a primeira dosagem hormonal. ......................................................... ...............35 Figura 10 - Reprodutor de piabanha do sexo masculino, morto antes mesmo da finalização do processo reprodutivo. ............................................................................... ...............35 Figura 11 A - Larva com uma hora após a eclosão................................................ .48 Figura 11 B - Larva com oito horas após a eclosão ................................. ...............48 Figura 11 C - Zoom da glândula de aderência, oito horas após a eclosão ................................................................................ ...............48 Figura 11 D - Larva na décima hora, após a eclosão............................... ...............48 Figura 11 E - Larva na vigésima primeira hora, após a eclosão ................................................................................................... ...............48 Figura 11 F - Larva na vigésima sétima hora, após a eclosão...................................................................................................... ...............48 Figura 11 G - Larva na trigésima segunda hora, após a eclosão ................................................................................................... ...............48 Figura 11 H - Zoom do canibalismo, trigésima segunda hora, após a eclosão .................................................................. ...............48 14 RESUMO Foram utilizados reprodutores da espécie piabanha (Brycon insignis) pertencentes ao plantel do Projeto Piabanha, localizado no município de Itaocara – RJ, no período de dezembro de 1999 a março de 2003, com o objetivo de determinar aspectos reprodutivos desta espécie, incluindo a descrição morfológica da ontogenia inicial e o acompanhamento do desenvolvimento das larvas, pós-larvas e alevinos. Foram induzidas 43 fêmeas utilizando-se extrato bruto hipofisário. A quantidade de horas-grau médias (HG) necessárias para a extrusão dos ovócitos foi de 159,01 ± 8,56 HG, a uma temperatura média de 26,19 ± 1,19 °C. Os ovócitos recém extrusados apresentaram-se esféricos, não aderentes, de coloração azul acinzentada em sua grande maioria e possuíam diâmetro de 1,35 ± 0,02 mm, sendo que um grama continha 762,81 ± 92,35 ovócitos. Após a fertilização e hidratação, os ovos demoraram em média 16,00 ± 1,00 minutos para o endurecimento do córion. O diâmetro médio do ovo hidratado passou para 2,40 ± 0,08 mm, atingindo um peso médio de 14,06 ± 0,66 miligramas. Verificou-se uma alta correlação (p > 0,05) entre a temperatura da água do tanque de reprodutores e a taxa de fecundação. Uma hora após a fertilização houve a formação do blastodisco. O fechamento do blastóporo ocorreu 5 horas após a fertilização, na temperatura média de 25,5 ± 1°C, o que equivale a 170,55 ± 14,01 HG, a partir da segunda dose hormonal. Nove horas e meia após a fecundação, observou-se a flexão da notocorda seguida pela expansão da região posterior do embrião e a visualização de 26 pares de somitos. A média geral de horas necessárias parao processo de eclosão da larva foi de 18,29 ± 2,32 horas, equivalente a 477,39 ± 35,08 HG. Observou-se a ocorrência de canibalismo intraespecífico em média com 29,67 ± 1,57 horas após a eclosão, a uma temperatura de 26,41 ± 0,80 °C. A eficácia na captura de larvas forrageiras pelas pós-larvas de Brycon insignis esteve relacionada ao local de inserção da mordida. Ao final do período experimental, no vigésimo quinto dia de vida, os peixes possuíam o formato típico dos juvenis desta espécie e apresentaram a 15 seguinte biometria: peso total de 0,94 ± 0,12 g, comprimento total de 51,60 ± 1,82 mm e altura total de 10,1 ± 0,22 mm. 16 ABSTRACT In this experiment, broods of piabanha (Brycon insignis) from Projeto Piabanha, located in the city of Itaocara - Rio de Janeiro State - Brazil was studied, in the period of December 1999 to March of 2003, objectifying to determine the reproductive aspects of this specie, including morphologic description of initial ontogenesis, and the accompaniment of fry, post-fry and fingerlings development. For that, 43 females had been induced to spawn, using common carp pituitary gland. The average of hour-degree (hd) necessary for stripping was 159,01 ± 8,56 hd, at 26,19 ± 1,19 °C. The stripped oocytes presented spherical aspect, was not adherent, with gray/blue coloration in its great majority and 1,35 ± 0,02 mm diameter with 762,81 ± 92,35 oocytes per gram. After fertilization and hydratation, eggs spent 16,00 ± 1,00 minutes for corion hardening. The average diameter of hydratated eggs was above 2,40 ± 0,08 mm, reaching an average weight of 14,06 ± 0,66 milligrams. A high correlation (p > 0,05) among temperature of brood’s tank and fecundity rate was found. One hour after fertilization, blastodisc was formed. The blastopore closure occurred approximately 5 hours after fertilization, at an average temperature of 25,5 ± 1 °C, corresponding to 170,55 ± 14,01 dh, from 2nd hormonal inducing. Nine hours and a half after the fertilization, flexion of notochord was observed followed by the expansion of posterior region of the embryo and visualization of 26 pairs of somits. The general average of the larvae’s eclosion process was 18,29 ± 2,32 hours, equivalent to 477,39 ± 35,08 dh. It was observed the occurrence of intra-specific cannibalism, 29,67 ± 1,57 hours after the eclosion, at 26,41 ± 0,80 °C. The 17 effectiveness capture of forragery larvae by Brycon insignis post-fry was related to the place of bite. At the end of the experimental period, in the 25th day of life, fishes had the typical format of juveniles of this specie, and presented the following measurements: total weight of 0,94 ± 0,12 g, total length of 51,60 ± 1,82 mm and total height of 10,1 ± 0,22 mm. 18 1. INTRODUÇÃO O aumento da população global e o conseqüente aumento da demanda mundial por alimentos vêm elevando a pressão de captura sobre os recursos pesqueiros, gerando déficit acentuado em seus estoques. A intensa exploração, sem estudos populacionais prévios, não respeita a capacidade de suporte das espécies e assim a utilização de técnicas pesqueiras impactantes causa grande prejuízo à ictiofauna e aos ecossistemas. O resultado da elevada e intensa degradação dos ecossistemas tem promovido a extinção de muitas espécies, sendo que a maioria sequer foi estudada. Se para qualquer país a perda deste patrimônio natural constitui elevado prejuízo, ela se maximiza para um país como o Brasil, em cujas fronteiras encontra-se um dos maiores valores em biodiversidade do planeta (BERGALHO et al., 2000). Estudos exploratórios da ictiofauna da costa brasileira constataram a inexistência dos estoques capazes de gerar ou sustentar um aumento significativo na produção pesqueira (CARVALHO FILHO, 2003). Como alternativa de produção do pescado destaca-se a piscicultura por sua capacidade de produzir alimento rico e saudável. O Brasil possui a maior biodiversidade de peixes do mundo, sendo algumas espécies com grande potencial para a piscicultura. Entre as espécies 19 nativas, a pirapitinga, o tambaqui e o híbrido tambacu são os mais populares entre os piscicultores do Noroeste Fluminense (Observação pessoal). Seja pela abordagem ecológica, seja pela econômica, a necessidade de se aprimorar o conhecimento sobre os peixes nativos brasileiros é primordial. Inserida no gênero Brycon, a piabanha Brycon insignis (STEINDACHNER, 1876), outrora a 4ª espécie mais pescada na década de 50, no rio Paraíba do Sul (MACHADO & ABREU, 1952), atualmente está com sua população reduzida. Segundo MAZZONI et al. (2000), esta espécie é considerada, na lista oficial de peixes do Estado do Rio de Janeiro, como insuficientemente conhecida e ameaçada de extinção. Atualmente o gênero Brycon possui inúmeras espécies que já estão sendo utilizadas nas pisciculturas da América do Sul, atingindo bons resultados zootécnicos e econômicos, podendo-se, neste caso, citar a matrinxã (Brycon cephalus) e a piracanjuba (Brycon orbignyanus). A piabanha possui potencial para ser utilizada na piscicultura regional por possuir excelente aceitação no mercado das cidades próximas a seus locais de ocorrência natural; em razão da sua carne saborosa e esportividade que atrai os amantes da pesca esportiva. A piabanha é uma espécie reofílica (migradora), o que maximiza a necessidade de adequado conhecimento sobre seu processo reprodutivo bem como do processo de indução hormonal em cativeiro, pois isso possibilitará o incremento da produção de alevinos, contribuindo para a preservação dessa espécie e sua possível inclusão na piscicultura regional. Entretanto, nos estudos realizados com esse peixe, os aspectos reprodutivos assim como a larvicultura dessa espécie ainda não estão bem definidos. O canibalismo na fase de pós-larva é freqüente em espécies do gênero Brycon, inclusive na piabanha (observação pessoal). Tal fato é responsável pela elevada mortalidade durante a larvicultura, o que em alguns casos inviabiliza a produção comercial desse peixe. Um melhor entendimento da reprodução induzida e larvicultura desta espécie, possivelmente, resultará em aumento na disponibilidade de alevinos, o que impulsionará a piscicultura regional, minimizando, assim, o esforço de captura nos estoques naturais remanescentes. Outro aspecto importante do domínio sobre a produção de alevinos de piabanha em cativeiro é a possibilidade de 20 garantir um estoque dessa espécie para a formação de banco genético em vista da diminuição de sua população outrora abundante na bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul. 21 2. OBJETIVOS Os objetivos propostos para os experimentos ora descritos foram: a) Determinação das variáveis relativas à indução da desova e ao desenvolvimento dos ovócitos de piabanhas, submetidas à indução hormonal. b) Descrição da ontogenia inicial e monitoramento biométrico da piabanha até a fase de alevino. c) Descrição do acompanhamento etológico da larva, pós-larva e alevinos da piabanha. 22 3. REVISÃO DE LITERATURA 3.1. O Gênero Brycon O gênero Brycon (Characiformes, Characidae, Bryconinae) possui espécies economicamente relevantes tanto para a atividade pesqueira comercial (CECCARELLI e SENHORINI, 1996) quanto para a pesca esportiva e de subsistência (CONTE et al., 1995; BIZERRIL, 1998). Os estoques de várias espécies desse gênero têm sido afetados pela sobrepesca (PAIVA, 1982; CONTE et al.,1995), um indicativo disto é a escassez da oferta destas espécies no mercado (CECCARELLI & SENHORINI, 1996). PAIVA (1982)estudando a piracanjuba (Brycon orbignyanus), relata que as populações dessa espécie encontram-se muito reduzidas devido ao grande número de barragens hidrelétricas, que impedem sua migração reprodutiva. O desmatamento das matas ciliares, reduzindo a disponibilidade de alimento natural, e a poluição ambiental também concorrem para a redução das populações desses peixes. O gênero Brycon distribui-se pelas principais bacias hidrográficas brasileiras. Na região Amazônica ocorre o matrinxã (Brycon cephalus); na bacia Paraná-Uruguai a piracanjuba (Brycon orbignyanus), na do São Francisco o matrinxã (Brycon lundii); na do Pantanal-Paraguai a piraputanga (Brycon sp.); e na bacia do Leste, a piabanha (Brycon insignis) (MENDONÇA, 1996). Segundo FOWLER (1950), a piabanha Brycon insignis, é uma espécie 23 nativa e endêmica do rio Paraíba do Sul. Contudo, estudos recentes, realizados pela ONG Projeto Piabanha e pela Universidade de Mogi das Cruzes (dados não publicados), permitem afirmar que esta espécie, também, ocorre em algumas bacias localizadas no entorno da bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, como por exemplo, a bacia hidrográfica do rio São João (RJ). 3.2. O Gênero Brycon na produção de pescado Alguns estudos para a viabilização do cultivo em cativeiro de espécies do gênero Brycon foram conduzidos no Brasil. WERDER e SAINT PAUL (1981) e GRAEF et al. (1986) estudaram o crescimento e produção do matrinxã (Brycon sp.), em viveiros e pequenas represas. CONTE et al. (1995) avaliaram sistemas de alimentação para a piracanjuba, Brycon orbignyanus, em gaiolas flutuantes. No mesmo sistema de cultivo, CARVALHO et al. (1997) determinaram o efeito da densidade de estocagem no desempenho do matrinchã, Brycon cephalus, no período do inverno. Para esta última espécie, GOMES et al. (2000) determinaram a densidade de cultivo na larvicultura. REIMER (1982) estudou a influência das enzimas digestivas na dieta do matrinxã e CYRINO et al. (1986) determinaram a digestibilidade da proteína de origem animal e vegetal pelo matrinxã (Brycon cephalus, 1869). MENDONÇA et al. (1993) determinaram influência da origem da proteína no crescimento do matrinxã, Brycon cephalus e PEREIRA-FILHO et al. (1995) determinaram a exigência de proteína e fibra para a mesma espécie. BORGHETTI et al. (1991) estudaram a influência da proteína no crescimento do matrinxã (Brycon orbignyanus) criado em tanques-rede. MATEUS et al. (2002) avaliaram o estoque pesqueiro da piraputanga Brycon microlepis na bacia do rio Cuiabá, Pantanal Mato-grossense. 3.3. A piabanha (Brycon insignis) 24 A piabanha esteve relacionada entre os peixes que apresentavam maior freqüência nas capturas em todos os domínios geoambientais da bacia do rio Paraíba do Sul, segundo levantamento realizado por BIZERRIL (1998), que relatou, também, que esta espécie habita as margens vegetadas, próximas às corredeiras, ou pontos de conexão fluvial. Essa espécie atinge aproximadamente 8,0 a 10,0 Kg de peso e é bastante apreciada na região Noroeste Fluminense assim como em outras regiões da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul por apresentar carne fina e saborosa (MACHADO e ABREU, 1952; NOMURA, 1984; SANTOS, 1987; PEREIRA, 1986). Figura 1 – Exemplar juvenil de piabanha Figura 2 – Exemplar adulto de piabanha 3.4. Aspectos reprodutivos O período reprodutivo da piabanha, no município de Paraibuna (SP), estende-se de dezembro a fevereiro. Os machos estão aptos à reprodução a partir do segundo ano de vida, quando alcançam cerca de 20 cm de comprimento total, e as fêmeas a partir do terceiro ano de vida, quando, em geral, atingem 25,0 cm de comprimento total (GIRARDI et al. 1993). A fecundação é externa e as desovas ocorrem quando o nível das águas 25 está em ascensão, durante as chuvas de verão. A desova e o desenvolvimento dos embriões ocorrem nas áreas inundadas ou remansos, nestes locais os alevinos encontram alimento e refúgio para o seu desenvolvimento (SALGADO et al., 1997). MACHADO-ALLISON (1990) refere-se à três evidências que suportam a hipótese de sazonalidade reprodutiva em peixes tropicais: (1) migrações reprodutivas geralmente ocorrem durante o período da estação chuvosa ou no período de subida da água; (2) a maturação gonadal final ocorre imediatamente antes da estação chuvosa, de modo que as fêmeas estejam prontas para a desova no início da enchente; (3) o aparecimento de larvas e juvenis acontece imediatamente depois da subida da água. WOOTTON (1990) cita que dentre outros gatilhos usados pelos peixes para assegurar um momento correto para sua propagação, está incluída a percepção de variações sutis na temperatura e no fotoperíodo. HURTADO e USECHE (1986) descrevem que a yamú (Brycon siebenthalae), no ambiente natural, necessita migrar culminando com a desova. Ainda em relação a esta espécie, LUGO (1989) relata que a fecundidade é elevada e que não existe cuidado parental. NAKATANI et al. (1997) citam que espécies migradoras geralmente desovam no canal principal do rio ou dos tributários, apresentando ovos e larvas pelágicas que são carreadas para áreas inundadas e lagoas marginais, onde iniciam seu desenvolvimento. Segundo os mesmos autores, existem espécies que desenvolvem todas as fases do ciclo de vida nas áreas inundadas (espécies sedentárias), enquanto que outras utilizam essas áreas apenas em parte do seu ciclo de vida (espécies migradoras). O sincronismo entre o período reprodutivo e as cheias visa assegurar quali-quantitativamente a máxima disponibilidade de alimento às fases iniciais de desenvolvimento, propiciando um rápido crescimento e ultrapassando os estágios vulneráveis à predação mais intensa (WELCOMME, 1979). Ensaios experimentais relacionados à reprodução induzida da piabanha foram realizados por GIRARDI et al. (1993) com uso de extratos de hipófise de salmão e de carpa comum, associados ou não com hCG. ANDRADE-TALMELLI 26 (1997), estudando diferentes indutores hormonais para a reprodução da mesma espécie, obteve melhores resultados quando utilizou hCG em uma única dose de 5 UI/g de peso. PARRA (1995), no momento da segunda aplicação do indutor, testou diferentes dosagens de extrato de hipófise de carpa comum - 2,2; 3,3; 4,4 e 5,5mg, em yamú (Brycon siebenthalae). Este autor obteve melhores resultados quando utilizou as concentrações de 4,4 e 5,5 mg/kg. CECCARELLI e SENHORINI (1996), reproduzindo piracanjuba (Brycon orbignyanus) e matrinxã (Brycon lundii), obtiveram resultados positivos utilizando extrato hipofisário de carpa. As fêmeas receberam duas dosagens hormonais através de injeção intraperitonial, atrás da nadadeira peitoral. Na primeira dosagem cada fêmea recebeu de 0,4 a 0,5 mg/kg e após um intervalo de 8 a 12 horas, as mesmas fêmeas receberam de 4,0 a 5,0 mg/Kg. Nos machos foi aplicada dose única de 0,5 mg/Kg simultaneamente à aplicação da segunda dose nas fêmeas. Após a segunda dosagem hormonal, tanto para a piracanjuba quanto para a matrinxã, a desova ocorreu entre 150 e 220 horas-grau, numa temperatura de 27 a 30 °C. Segundo ainda CECCARELLI e SENHORINI (1996), a quantidade de ovócitos de piracanjuba e matrinxã varia entre 10 e 15% de peso vivo das fêmeas e a quantidade de esperma dos machos é grande se comparada com o pacu e tambaqui. A incubação das larvas de piracanjuba e matrinxã foi feita, pelos autores acima citados, em uma densidade de 1000 a 1500 larvas por litro resultando em uma sobrevivência média de 75 a 95% totalizando um tempo de incubação entre 10 e 14 horas com temperatura entre 26 a 29 ºC. Para Brycon lundii, a quantidade de horas-grau médias para a obtenção das reproduções utilizando dose única de extrato bruto de hipófise de carpa foi de 216 ± 5, entretanto ao se usar duas dosagensesse período foi reduzido para 144 ± 3 horas-grau (SATO, 1999). COSTA et al. (2001), induzindo a piabanha (Brycon insignis), obtiveram as extrusões entre 161-184 horas-grau (23 °C). Ainda no mesmo experimento, os autores encontraram os seguintes resultados: 495 óvulos não hidratados/g de ova, com ovócito apresentando 1,7 ± 0,1 mm de diâmetro e alcançando 4,6 ± 0,3 mm de diâmetro após a hidratação. A fertilização foi realizada “a seco” e, após a hidratação, os ovos foram incubados em incubadoras cilíndrico-cônicas com 27 capacidade de 60 a 200 litros. A taxa média de fertilização foi de 87% para os óvulos extrusados, sendo maior que a obtida pelos mesmos autores para desova natural, após indução hormonal, dentro do tanque do laboratório (52%). BRANCO (1972) relata que por se tratarem de animais ectotérmicos, o metabolismo e as atividades biológicas dos peixes, em geral, são alterados com a variação da temperatura, podendo ser acelerados ou retardados em função dela. LOPES (1995), estudando a morfologia externa e a duração média dos estágios larvais de Brycon cephalus, observou que a eclosão, a uma temperatura média de 30 °C, ocorreu após 10 horas e 30 minutos da fecundação (315 horas- grau). Outros autores encontraram temperaturas distintas para o desenvolvimento embrionário em outras espécies. KAMLER (1992), observou que a temperatura ótima para o desenvolvimento embrionário da carpa comum (Cyprinus carpio) varia de 14 a 24 °C. Para o Tinca tinca este valor varia de 19 a 24 °C (KOKUREWICZ, 1970). Para o bagre africano (Clarias garipinus), os melhores resultados no desenvolvimento embrionário foram à temperatura de 20 a 35 °C (KAMLER et al. 1994). Blaxter (1969), Naesje e Jonson (1988) (citados por MACIEL JÚNIOR, 1996), acrescentaram que temperaturas elevadas podem acelerar o metabolismo e intensificar os movimentos do embrião e que, associados ao aumento da atividade das enzimas de eclosão, facilitam o rompimento do córion. 3.5. Hábito alimentar no gênero Brycon Na natureza, os peixes dispõem de grande variedade de alimentos, incluindo também nutrientes dissolvidos na água, os quais são ingeridos e absorvidos em parte, suprindo as necessidades nutricionais para seu desenvolvimento. De acordo com NUNES (1998) pode-se considerar alimento todo material tomado intencionalmente pelo indivíduo para atender suas funções vitais. Entretanto para Harris (1970) (citado por NUNES, 1998), alimento significa todo material comestível consumido e capaz de fornecer energia ou nutrientes para 28 sua dieta. Esta definição, embora mais completa, não leva em conta a alimentação via saco vitelínico e nem o aspecto da ingestão voluntária, que distingue a preferência alimentar de determinadas espécies (NUNES, 1998). O gênero Brycon apresenta hábito alimentar onívoro (Goulding, 1980)(citado por MENDONÇA et al. 1993; CONTE et al. 1995; BIZERRIL, 1998, MENIN et al. 1992), alimentando-se preferencialmente de frutos e sementes (MENDONÇA, 1996), o que levou Menezes (1969)(citado por PEREIRA-FILHO et al. 1995) a considerar o gênero como tendo hábito alimentar preferencialmente herbívoro. O hábito alimentar das diferentes espécies de peixes está relacionado à disponibilidade dos alimentos consumidos com mais freqüência pelos peixes no ambiente em que vivem, satisfazendo as necessidades dos nutrientes essenciais e de energia. Geralmente nos ecossistemas florestais, a matéria orgânica está concentrada nos primeiros centímetros de solos que normalmente possuem baixa capacidade de retenção de nutrientes. Perdas de nutrientes são ocasionadas por carreamento e lixiviação. Estes nutrientes podem chegar até os corpos d’água sob várias formas: seja totalmente descaracterizados sob a forma de compostos orgânicos e inorgânicos ou até mesmo intactos oriunda da queda das flores, frutos e sementes, originários das matas ciliares. Estudos desenvolvidos em rios de regiões tropicais têm demonstrado que algumas espécies de peixes dependem de recursos alimentares alóctones (SABINO e CASTRO, 1990). PIZANGO-PAIMA et al. (2001), após a análise do conteúdo estomacal de 205 exemplares da espécie matrinxã (Brycon cephalus), coletados em ambiente natural durante um período de um ano, encontraram diferentes itens alimentares. Os itens de origem vegetal foram: sementes (51,4%), flores (26%) e frutos (9,5%). Segundo estes autores, a oferta alimentar está relacionada às oscilações do nível da água, existindo uma sazonalidade na dieta. A maior disponibilidade de proteína na dieta do matrinxã ocorre no período da seca, estando relacionada ao consumo de alimento de origem animal. Entretanto, no período da enchente e da cheia a alimentação é composta de frutos e sementes, o que refletiu no aumento da quantidade de energia consumida. No ambiente natural, durante a fase juvenil, a piabanha é ictiófaga e insetívora e eventualmente frugívora (frutas e sementes). Quando adulta come frutos, sementes, insetos e eventualmente pequenos peixes (GIRARDI et al. 29 1993). ZANIBONI-FILHO (2002) relata que a dinâmica alimentar pode influenciar nos resultados das reproduções. O consumo contínuo de alimentos e o aumento dos depósitos lipídicos podem resultar em um menor desenvolvimento gonadal e por sua vez, em uma menor fecundidade devido à falta de espaço na cavidade abdominal para o desenvolvimento ovariano. 3.6. Aspectos etológicos e ontogênicos da fase larvar NAKATANI et al. (1997) constataram que as larvas de alguns grupos de peixes da planície de inundação do alto rio Paraná, que possuem comportamento essencialmente pelágico, são pouco pigmentadas. Ainda segundo os mesmos autores, mudanças no padrão de pigmentação ocorriam em larvas que passavam a explorar zonas litorâneas intensamente cobertas por macrófitas aquáticas e estas mudanças consistiam no desenvolvimento de máculas na região da e do corpo. SANTOS (1992) e MACIEL JÚNIOR (1996) estudando Prochilodus marggravii observaram que logo após a eclosão, as larvas apresentaram-se completamente despigmentadas. MACIEL JÚNIOR (1996) constatou que as larvas recém-eclodidas de Prochilodus marggravii apresentam em média as seguintes medidas biométricas: 3,922 mm (distância entre a extremidade anterior da cabeça e a extremidade posterior da notocorda), 2,977 mm (altura do corpo), 1,484 mm (comprimento do vitelo) e 0,735 mm (altura do vitelo). ANDRADE-TALMELLI (1997) observou que, na primeira hora após a eclosão, as larvas de piabanha (Brycon insignis) possuem 6,0 mm ± 0,22. Para outras espécies, SANTOS e GODINHO (1992) encontraram os seguintes comprimentos totais após a eclosão: 3,7 mm para o dourado (Salminus brasiliensis), 3,4 mm para o pacu (Piaractus mesopotamicus), 2,6 mm para o piau (Leporinus elongatus), 3,1 mm para o curimba (Prochilodus affinis), 3,2 mm para o curimatã-pacu (Prochilodus marggravii) e 3,3 mm para o pintado (Pseudoplatystoma coruscans). 30 REYNALTE-TATAJE et al. (2002), mensurando larvas de Steindachneridion scripta, encontraram os seguintes valores: comprimento total de 6,32 ± 0,16 mm, comprimento do vitelo de 1,62 ± 0,16 mm e altura do vitelo de 1,26 ± 0,13 mm. Alguns autores observaram a ocorrência do órgão de aderência em larvas de espécies brasileiras. SANTOS e GODINHO (1992) verificaram que o dourado Salminus brasiliensis utiliza o órgão de aderência e SATO (1999) verificou que esta estrutura também ocorre para Brycon lundii e Salminus hilarii. SANTOS e GODINHO (1992) observaram que o deslocamento das larvas de Salminus brasiliensis, Piaractus mesopotamicus, Leporinus elongatus, Prochilodus affinis, Prochilodus marggravii e Pseudoplatystoma coruscans, no sentido horizontal, iniciou no momento em que as nadadeiras peitorais e a bexiga gasosa estavam desenvolvidas e funcionais. BARAS et al. (2000), acompanhando a ontogênesede Brycon moorei, constataram que, após a primeira hora da eclosão, tal espécie apresentava a seguinte medida biométrica: 3,7 mm (comprimento total) e 0,4 mg (peso total). Ainda em relação à Brycon moorei, os mesmos autores, acompanhando a ontogenia inicial, fizeram as seguintes observações: a abertura do ânus deu-se na quinta hora após a eclosão, enquanto a abertura da boca iniciou-se na sexta hora sendo que, na nona hora, a boca estava completamente aberta. Vinte e quatro horas após a eclosão, as larvas de Brycon moorei possuíam em média 6,00 mm e 1,2 mg, e suas nadadeiras peitorais já se encontravam diferenciadas. 3.7. A alimentação das pós-larvas de peixes Segundo WOYNAROVICH e HORVÁTH (1983), o estágio de larva inicia- se após a eclosão do embrião e termina quando a bexiga natatória enche-se de 31 ar, quando os movimentos natatórios são evidenciados e ocorre a alimentação exógena; neste momento, o animal passa a ser denominado pós-larva. A alimentação das larvas é considerada um dos fatores críticos da larvicultura e deve ocorrer logo após a diminuição das reservas lipídicas oriundas do saco vitelínico. Segundo Rosa Júnior e Schubart (1945), citados por MACIEL JÚNIOR (1996), a quantidade de vitelo das larvas de Prochilodus é suficiente para os três primeiros dias de vida; no quarto dia as larvas iniciam a alimentação exógena. A sobrevivência e o crescimento das pós-larvas dependem da quantidade e qualidade do alimento (zooplâncton) produzido no viveiro de criação. Estas variáveis serão mais elevadas quanto maior for a disponibilidade do alimento mais adequado (GEIGER, 1983). Após o enchimento da bexiga natatória, a larva necessita de alimento exógeno, o qual nem sempre está disponível, tornando crítica esta fase, uma vez que na falta de alimento adequado pode ocorrer elevada mortalidade (CECCARELLI e SENHORINI, 1996). Em larvas ictiófagas, a necessidade de alimento exógeno pode levar ao processo de canibalismo intraespecífico logo nas primeiras horas da alimentação exógena, provocando, neste caso, também, elevado índice de mortalidade, como ocorre com a larvicultura de Brycon lundii (WOYNÁROVITCH e WOYNÁROVITCH, 1991) e Brycon moorei (BARAS et al. 2000). CECCARELLI e SENHORINI (1996) citam que, na fase de procura de alimento das pós-larvas de piracanjuba e matrinxã, ocorre alta incidência de canibalismo entre 30 e 36 horas após a eclosão, quando não se adiciona alimento nas incubadoras. Estes autores preconizam de 5 a 7 larvas de peixe forrageiro para cada pós-larva de matrinxã, nesta fase. WOYNAROVICH e SATO, (1989), visando diminuir o canibalismo entre as pós-larvas de matrinxã (Brycon cephalus), forneceram larvas de curimbatá (Prochilodus scrofa) 34 horas após a eclosão dos ovos da matrinxã. LOPES et al. (1995), verificaram que o início do canibalismo entre larvas de Brycon cephalus ocorre 36 horas após a eclosão, a uma temperatura média de 30 °C. As pós-larvas de matrinxã e piracanjuba apresentam preferência alimentar por crustáceos zooplanctônicos e larvas de insetos aquáticos (CECCARELLI e SENHORINI, 1996). 32 BARAS et al. (2000) observaram que a predação de pequenas presas, como náuplios de artêmia, iniciou-se após a décima oitava hora a partir da eclosão, enquanto o canibalismo só ocorreu após a vigésima primeira hora após a eclosão quando os dentes das pós-larvas de dorada (Brycon moorei) já estão formados. A maior parte do canibalismo entre as pós-larvas de Brycon moorei aconteceu após a vigésima quarta hora após o início da alimentação exógena. O mesmo autor inoculando náuplios de artêmia para a alimentação das pós-larvas de dorada, antes de a dentição estar formada, reduziu o canibalismo de 41 para 15 % promovendo um crescimento mais homogêneo e uma maior sobrevivência. O tamanho e habilidade de escape das presas são considerados como os principais fatores que influenciam a seleção alimentar das larvas de peixes (FREGADOLLI, 1993). O mesmo autor estudando a seleção alimentar das larvas de pacu e tambaqui, identificou quatro principais unidades de comportamento envolvidas na captura de uma presa com a seguinte seqüência de ocorrência: fixação, aproximação, ataque e captura. Ainda em relação ao trabalho de seleção alimentar, FREGADOLLI (1983), observou que com o crescimento e o desenvolvimento ontogenético da pós-larva predadora, ocorre um aumento na capacidade de capturar e ingerir as presas maiores e mais evasivas. As pós- larvas de pacu e tambaqui, com 13,0 a 17,0 mm de comprimento padrão, selecionaram preferencialmente a larva de mosquito quando esta foi fornecida junto com cladóceros. Mesmo as pós-larvas que estavam habituadas apenas com presas zooplanctônicas e capturando preferencialmente cladóceros preferiram a larva de mosquito. BARAS et al. (2000), observando o canibalismo entre Brycon moorei, e baseados em 47 observações, constataram que as presas são atacadas primeiramente pela cabeça ou pela cauda, em uma proporção de 12 a 7% e de 4 a 2% respectivamente. Porém, para estes autores, as capturas mais freqüentes (80 a 89%) ocorrem por ataques laterais com o predador agarrando o pedúnculo caudal da presa, girando-a progressivamente até o momento de ingestão, no caso pela região caudal. Como dado ecológico, BARAS et al. (2000) afirmam que a espécie bocachico (Prochilodus magdalena) é o maior componente da assembléia de peixes do rio Magdalena e sua desova ocorre simultaneamente à desova da dorada (Brycon moorei). O bocachico, por possuir alta fecundidade e larvas com 33 um menor comprimento total (de 5 a 8 mm), é utilizado como larva forrageira para a alimentação da pós-larva da dorada. 3.8. Larvicultura PEDREIRA (2001) observou que a administração de ração comercial, três dias após a eclosão, aumentou a sobrevivência da piracanjuba na larvicultura, entretanto, quando as pós-larvas foram alimentadas exclusivamente com ração na primeira semana de vida, a sobrevivência foi baixa (≤ 1.0%). BARAS et al. (2000) citaram que as pós-larvas de dorada (Brycon moorei) foram criadas extensivamente em viveiros com baixa densidade de estocagem (≤ 100 pós-larvas/m²). GOMES et al. (2000), estudando o efeito da densidade de estocagem para a matrinxã (Brycon cephalus), obtiveram o melhor resultado utilizando 120 larvas/m². PEDREIRA (2003) comparou o efeito de três tipos de cultivo (aeração com pedras porosas, air-lift e recirculação em sistema fechado) na sobrevivência e desenvolvimento das larvas de piracanjuba (Brycon orbignyanus) visando avaliar a qualidade da água após cada sistema. Senhorini (1999) citado por PEDREIRA (2003), estocando pós-larvas de Brycon orbigyanus com sessenta e duas horas de vida em uma densidade de estocagem de 0,02 a 0,03 pós-larva/litro em tanques de 350 m² obteve 40,1 ± 7,0% de sobrevivência. ANDRADE-TALMELLI et al. (2001) acompanhando a larvicultura da piabanha (Brycon insignis), em tanques de 200 m², previamente preparados, contendo uma produção planctônica composta de rotíferos, cladóceros além de larvas forrageiras de curimba, observaram que, após o quinto dia de alevinagem, as pós-larvas atingiram um comprimento total médio de 1,2 cm ± 0,24. Prosseguindo a biometria, os mesmos autores, após o décimo quinto dia, constataram um comprimento total médio de 3,4 cm ± 0,39. 34 4. MATERIAL E MÉTODOS 35 4.1. Local e época de trabalho O experimento foi realizado no período de dezembro de 1999 a março de 2003. As reproduções induzidas, incubações e acompanhamento do crescimento de piabanhas foram conduzidos nas instalações do centro de produção de alevinos da ONG “Projeto Piabanha”, localizada no município de Itaocara (RJ), latitude 21° 41’ 15” S e longitude42° 03’ 45” W. O clima da região é quente e úmido no verão e frio e seco no inverno. No verão, a temperatura máxima da água chega a 33 °C. No inverno, durante dois meses, a temperatura mínima chega a atingir 18 °C. As primeiras chuvas ocorrem na primavera, no início do mês de novembro. As análises experimentais assim como as medições de larvas e alevinos foram feitas no Setor de Aqüicultura do Laboratório de Zootecnia e Nutrição Animal do Centro de Ciências Tecnológicas Agropecuárias, localizado na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, em Campos dos Goytacazes - RJ. 4.2. Plantel de reprodutores Os reprodutores utilizados foram oriundos dos lotes de Brycon insignis que compõem o plantel do Projeto Piabanha/Associação de Pescadores e Amigos do Rio Paraíba do Sul - (APARPS). Estes lotes foram compostos por peixes capturados em diversos pontos da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul (estoque fundador) e por peixes pertencentes a gerações F1 que estavam estocados, separadamente, em tanques de terra de 1.300 m², segundo os 36 critérios genéticos utilizados por TOLEDO FILHO (1992). Ao todo foram utilizados 43 fêmeas e 60 machos de piabanha. Durante o período pré-experimental a densidade de estocagem dos reprodutores foi de um peixe para cada três m². Os reprodutores eram alimentados com ração comercial extrusada. O nível de proteína e a quantidade ofertada variaram conforme o período do ano. Nos quatro meses que antecediam a desova (fase de pré desova), era ministrada ração contendo 36% de proteína bruta (PB), duas vezes ao dia, a 3% da biomassa. Nos oito meses seguintes após a fase de pós desova, foi ministrada ração contendo 32% de PB, uma vez ao dia, a 2% da biomassa. Tal procedimento visou evitar o acúmulo excessivo de gordura na época da desova. 4.3. Seleção e preparo dos reprodutores para o processo de indução Três meses antes do início do período reprodutivo, foram feitas amostragens mensais nos tanques de estocagem de reprodutores, utilizando rede de arrasto, visando observar a evolução dos sinais externos de maturação gonadal nas fêmeas e nos machos. Para as fêmeas, os critérios utilizados para a escolha dos reprodutores foram a presença de abdome avolumado e flácido e a de papila urogenital hiperemiada e saliente. Para os machos os critérios foram a ocorrência de fluidez de sêmen após massagem abdominal, e a de aspereza acentuada nos raios da nadadeira anal. Os peixes selecionados foram conduzidos ao laboratório de reprodução em recipientes apropriados, com capacidade volumétrica de 50 litros. A distância dos tanques de estocagem de reprodutores ao laboratório de reprodução era inferior a 100 m, o que permitiu o transporte sem o uso de aeração ou anestésico. No laboratório de reprodução os peixes foram alojados em tanques de concreto de três m3 (2 m de comprimento x 1,5 m de largura x 1 m de altura). Em seguida, um peixe por vez foi anestesiado utilizando-se solução de benzocaína na proporção de 10 mL de anestésico/50litros de água em recipiente similar ao utilizado para o transporte. Oito minutos após a imersão nesta solução, o peixe 37 encontrava-se sedado, sendo, então, pesado para a obtenção do peso total, o que possibilitou determinar a dose individual de hormônio. A pesagem foi feita com auxílio de dinamômetro, com precisão de 50g. Logo após, os peixes foram novamente alojados nos tanques de concreto do laboratório de reprodução na proporção de um ou dois casais para cada tanque. A renovação de água foi constante na proporção de três litros por minuto. Na figura 3 pode-se observar os sinais externos de maturação gonadal da fêmea de piabanha Brycon insignis. Figura 3 – Fêmea de piabanha apresentando abdome avolumado e papila genital hiperemiada. 4.4. Indução hormonal O indutor utilizado para maturação gonadal foi a hipófise desidratada de carpa comum, na forma de extrato bruto, injetado na base da nadadeira pélvica ou da nadadeira peitoral. As fêmeas receberam duas dosagens, sendo a primeira de 0,5 mg de hipófise/kg de peso vivo e a segunda de 5,0 mg de hipófise/kg de peso vivo, com intervalo de doses de 08 a 14 horas. Os machos receberam uma única dose, na concentração de 2,5 mg de hipófise/Kg de peso vivo, simultaneamente à segunda dose das fêmeas. Esta metodologia foi uma adaptação da técnica descrita por WOYNAROVICH e HORVÁTH (1983). 38 Nas figuras 4 e 5, pode-se observar a aplicação do extrato de hipófise em uma fêmea de piabanha. Para a obtenção do extrato hipofisário, as hipófises foram maceradas utilizando pistilo e cadinho de porcelana e, a seguir, foi adicionado soro fisiológico na proporção de 1 mL /kg peixe. Uma fração deste preparado foi imediatamente aplicada nas fêmeas, sendo o restante acondicionado em seringas de 3 a 5 mL e armazenado em geladeira a 5 °C para ser aplicado na segunda dose das fêmeas e na dose única dos machos, respeitando-se as doses anteriormente citadas. O tempo de armazenamento foi de 8 a 14 horas. 39 Figura 4 – Fêmea de Brycon insignis recebendo a aplicação da primeira dose de extrato de hipófise na base da nadadeira pélvica. Figura 5 – Fêmea de Brycon insignis recebendo a aplicação da segunda dose de extrato de hipófise na base da nadadeira pélvica. Notar o ventre abaulado e papila genital hiperemiada. Após a segunda dosagem, a temperatura foi monitorada a cada hora visando à obtenção do valor de horas-grau (HG), que é o somatório das temperaturas a cada intervalo de uma hora. Foram feitas correlações entre o valor de HG e a ocorrência de desova, entre a temperatura do tanque de reprodução e as horas-grau para extrusão dos ovócitos (desova), entre o peso do reprodutor e HG para a desova, entre o peso do reprodutor e o peso da massa de ovócitos extrusados e entre a massa de ovócitos extrusados e o número de ovócitos por grama de desova. O oxigênio dissolvido, o pH e a condutividade foram monitorados no momento da aplicação da primeira dose de hipófise e no momento da desova, utilizando-se, respectivamente, oxímetro eletrônico com precisão de 0,01 mg /L de água, peagâmetro eletrônico com precisão de duas casas decimais e condutivímetro eletrônico com precisão de 1µS. 40 4.5. Comportamento dos reprodutores durante o processo de indução de desova Durante o processo de hipofisação, foi realizada a observação visual e constante dos reprodutores nos tanques onde estavam alojados, visando descrever à possível ocorrência de comportamento agressivo, comportamento de corte e de sinais indicadores do momento da ovulação. 4.6. Extrusão dos gametas A extrusão dos gametas foi a seco; para tal, os reprodutores tiveram suas papilas genitais e regiões adjacentes enxugadas, com auxílio de tolhas de algodão, antes da coleta dos gametas extrusados mediante a massagem abdominal no sentido crânio-caudal. Coletou-se os ovócitos em uma bacia plástica, previamente seca, procedeu-se à pesagem dos mesmos e, a seguir, o sêmen foi adicionado sobre os ovócitos. O peso da massa dos ovócitos extrusados foi obtido com auxílio de balança eletrônica digital com precisão de 0,01 g. Este dado foi correlacionado com o peso total da fêmea e fertilidade. Para a estimativa do número total de ovócitos em cada desova, foram coletadas três amostras de 1 g para posterior contagem. Os gametas masculinos e femininos foram misturados com auxílio de uma colher de plástico em movimentos suaves e circulares. Apenas após a homogeneização, foi adicionada a água, possibilitando assim a movimentação dos espermatozóides e a fertilização dos ovócitos. Nas figuras 6 e 7, pode-se observar a extrusão de ovócitos e sêmen de reprodutores depiabanha. 41 Figura 6 – Extrusão dos ovócitos de piabanha. 42 Figura 7 - Extrusão do sêmen de piabanha. 4.6.1. Avaliação do ovo durante o processo de hidratação Antes e após a fertilização, alíquotas de ovócitos e ovos respectivamente, foram separadas para posterior caracterização da conformação, coloração e adesividade. A conformação e a coloração foram avaliadas visualmente, já a adesividade foi avaliada indiretamente pela ocorrência ou não de ovócitos e ovos aderidos às paredes da incubadora. Ovócitos e ovos foram medidos individualmente utilizando-se ocular micrométrica acoplada a um microscópio estereoscópio, com aumento de 40X, obtendo-se o diâmetro médio do ovo não hidratado, o diâmetro médio do ovo hidratado e o peso pós-hidratação de um grama de ovócitos. Para mensurar o tempo necessário para o endurecimento do córion, foram coletados ovos fertilizados a cada um minuto, e estes foram, a cada dois minutos, submetidos a uma leve pressão entre os dedos para determinar o momento em que a resistência do córion fosse estabilizada. 4.7. Incubação dos ovos Os ovos foram incubados em incubadoras cilíndrico-cônicas de 60, 160 e 200 litros, em densidade de 0,5 grama de ovos/litro. Com o objetivo de promover aporte de oxigênio para ovos e larvas e a retirada de metabólitos, foi mantida uma vazão de água de valor constante. Esta vazão variou em função do tamanho da incubadora e seu valor era avaliado indiretamente pela posição dos ovócitos, os quais eram mantidos circulando no terço inferior da incubadora. 43 4.7.1. Estimativa da taxa de fecundação, desenvolvimento embrionário A taxa de fecundação foi obtida no Laboratório de Reprodução Induzida do Projeto Piabanha, por meio de microscópio esteroscópio, com aumento de 20X. Desovas provenientes de trinta e duas fêmeas foram incubadas e acompanhadas visando à determinação exata, em horas-grau, do momento do fechamento do blastóporo. O acompanhamento do desenvolvimento embrionário foi feito no mesmo local, porém, os ovos utilizados foram oriundos de uma única reprodução, coletados em intervalos de meia hora. Após a hidratação, tomou-se uma alíquota de 30 ovos. Esta foi separada e acondicionada em uma peneira plástica flutuante, localizada dentro da incubadora de origem. A cada momento de observação, a alíquota foi levada ao microscópio estereoscópio, e neste momento, procedeu-se à mensuração da temperatura da água com auxílio de um termômetro digital, com precisão de 0,01 °C, para a obtenção do valor em horas-grau. Foram feitas observações acerca das seguintes fases de desenvolvimento embrionário: formação do blastodisco, blástula, gástrula, fechamento do blastóporo, conformação do embrião, surgimento da vesícula óptica, da vesícula de Kupffer, da vesícula auditiva, início da flexão da notocorda, início do batimento cardíaco e eclosão. Para cada fase, foi obtido o tempo durante o qual o evento ocorreu e o valor equivalente em horas-grau. Para determinação da taxa de fecundação de cada desova foram coletadas, das incubadoras três amostras de ovos logo após o fechamento do blastóporo, as amostras foram observadas em microscópio estereoscópio com aumento de 20X. Cada amostra possuía em torno de 100 ovos. O cálculo da taxa de fecundação foi realizado conforme a fórmula a seguir. Taxa de Fecundação = n° de ovos fertilizados na amostra x 100 n° total de ovos na amostra 4.7.2. Eclosão, desenvolvimento e etologia de larvas e pós-larvas 44 Imediatamente após a eclosão, iniciou-se a coleta de larvas e, posteriormente ,de pós-larvas nas incubadoras visando descrever a ontogenia da piabanha. Inicialmente a coleta foi a cada uma hora e, a partir da décima quinta hora, a coleta foi a cada duas horas, perdurando assim até a vigésima quinta hora, quando voltou a ser a cada hora até o início da observação do canibalismo intraespecífico. As larvas e pós-larvas coletadas foram fixadas em formol 4% e, após 24 horas, transferidas para álcool 70%. As análises morfométricas foram realizadas no Setor de Aqüicultura do Laboratório de Zootecnia e Nutrição Animal, do Centro de Ciências Tecnológicas Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), por meio de microscópio estereoscópio equipado com ocular micrométrica (40X). Na figura 8, pode-se observar as definições das variáveis morfométricas mensuradas. As descrições morfológicas foram complementadas com fotomicrografias feitas com o auxílio de microscópio estereoscópio STEMI SV 11 – ZEISS equipado com câmera fotográfica, interligado a um temporizador eletrônico marca ZEISS, no Laboratório de Ciências Ambientais do Centro de Biociências e Biotecnologia da mesma universidade. As variáveis morfométricas, mensuradas em micrômetros, foram: 45 CT – Distância entre a extremidade anterior da cabeça e a extremidade posterior da nadadeira caudal; AV – Altura do vitelo; CV – Comprimento do vitelo; Figura 8 – Desenho esquemático de uma larva de piabanha, mostrando as variáveis morfométricas mensuradas. Além das mensurações, foi realizada a verificação, com auxílio de microscópio, das seguintes características: pigmentação, nadadeira ventral, otólitos, arcos branquiais, nadadeiras peitorais, tubo digestivo, glândula de aderência, fendas branquiais, raios na nadadeira caudal, orifício bucal, estômago, mandíbula, miómeros, orifício olfativo, bexiga natatória, dentição, opérculo, linha lateral, musculatura do estômago e intestino. Durante o processo de incubação, o comportamento das larvas e pós- larvas de piabanha foi observado e descrito. Os eventos mais importantes foram correlacionados com as horas-grau e com os estágios de desenvolvimento morfológico. 4.7.3. Fase de canibalismo pós-larval intra e interespecífico CT AV CV 46 Próximo ao momento da alimentação exógena das pós-larvas de piabanha, larvas de curimatã (Prochilodus lineatus) foram ministradas nas incubadoras, como alimento vivo para as pós-larvas de piabanha. A densidade utilizada foi de 6 a 7 larvas de curimatã para cada pós-larva de piabanha. Vinte quatro horas após a constatação do início da fase de canibalismo (cinqüenta e seis horas após a eclosão), finalizou-se a etapa de larvicultura nas incubadoras, e as pós-larvas foram coletadas e conduzidas, em recipientes plásticos de 10 litros, ao tanque de alevinagem. Visando conhecer e descrever a estratégia da pós-larva de piabanha na captura das presas, durante a fase de canibalismo, 30 pós-larvas de piabanha foram acondicionadas em seis recipientes plásticos transparentes, com capacidade para 1.000 mL, juntamente com larvas de curimatã (Prochilodus lineatus) na proporção de 6 a 7 larvas de curimatã por pós-larva de piabanha. 4.8. Crescimento das pós-larvas em tanques externos As pós-larvas de piabanha, 56 horas após a eclosão, foram transferidas a um tanque externo escavado e de fundo de terra compactada, com 1600 m2 (80 m de comprimento x 20 m de largura x 0,80 m de profundidade), situado na área contígua ao Laboratório de Reprodução do Projeto Piabanha. A renovação da água foi realizada apenas para a manutenção da altura da coluna d’água, resultante das perdas por evaporação e infiltração. Sete dias antes de receber as pós-larvas de piabanha, o tanque foi adubado com 35 g de esterco bovino curtido/m², 1,5 g de superfosfato simples/m² e 1 g de uréia/m². A partir do segundo dia de estocagem, os peixes foram alimentados ad libtum com farinha de carne e ração comercialfarelada (40% de PB). Após o oitavo dia de estocagem, passou-se a usar ração extrusada (36% PB) com grânulo de 2,8 mm de diâmetro. 47 Durante os 23 dias seguintes ao povoamento, foram realizadas 14 biometrias e, de cada uma, foram coletados aleatoriamente exemplares de pós- larva de piabanha. As amostras foram acondicionadas em frascos plásticos etiquetados e fixadas em formol 4%. Após 24 horas, o fixador foi substituído por álcool 70%. Nos 10 primeiros dias, as pós-larvas e alevinos foram capturados com rede de arrasto de 1 mm entre nós e, nas amostragens seguintes, passou-se a adotar rede de 5 mm entre nós. Foram realizadas biometrias de cada exemplar capturado mensurando-se o comprimento total, a altura e o peso total, utilizando-se paquímetro com precisão de 0,1 mm e balança com precisão de 0,0001 g. As descrições morfológicas foram complementadas com ilustrações feitas com o auxílio de microscópio estereoscópio STEMI SV 11 – ZEISS equipado com câmara fotográfica, marca ZEISS, no Laboratório de Ciências Ambientais do Centro de Biociências e Biotecnologia – UENF. A concentração de oxigênio dissolvido, o pH e a condutividade da água do tanque de alevinagem foram monitorados semanalmente utilizando-se os mesmos equipamentos anteriormente descritos. 4.9. Análise estatística Foi realizada análise estatística descritiva para todas as variáveis observadas. Os dados obtidos foram analisados com auxílio do Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas (SAEG). Procedeu-se análise de correlação de Pearson para as variáveis estudadas. 48 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Indução Hormonal Nos três anos deste experimento em que foram coletados dados, os sinais externos de maturação gonadal dos reprodutores foram perceptíveis a partir da segunda quinzena de outubro. Paralelamente verificou-se que, no ambiente natural, na região médio inferior do rio Paraíba do Sul, já era possível encontrar reprodutores em estágio de maturação avançada. As estações reprodutivas, período propício à indução hormonal em cativeiro, tiveram inicio em outubro e término no mês de março, nos três anos deste período experimental. O período reprodutivo, observado no experimento ora descrito, foi superior ao verificado por GIRARDI (1993) para a piabanha na região de Paraibuna (SP), também em condições de cultivo. Segundo este autor, tal período é de dezembro a fevereiro. Cabe ressaltar que o referido autor não informou o tamanho dos reprodutores. Esta diferença pode estar relacionada à variação da localização geográfica ou ao manejo utilizado com os reprodutores no período pré-desova. Das 43 fêmeas hipofisadas, do presente trabalho, 37 fêmeas (86,05%) desovaram. Sobre esse aspecto reprodutivo, supõe-se que o manejo alimentar adotado para os reprodutores pode ter influenciado na alta porcentagem de desovas obtidas neste experimento. ZANIBONI-FILHO (2002) relata que a dinâmica alimentar pode influenciar os resultados das reproduções tendo em vista que, caso haja um consumo 49 contínuo de alimentos na fase de maturação gonadal e a conseqüente não redução dos depósitos lipídicos, ocorrerá um menor desenvolvimento gonadal, o que terá como reflexo uma menor fecundidade devido à falta de espaço na cavidade abdominal. Considerando a percentagem de fêmeas que responderam positivamente à indução, pode-se inferir que o uso de extrato de hipófise como indutor foi efetivo e a seleção de reprodutores aptos à hipofisação, baseada na observação das características externas, mostrou-se uma técnica eficiente que pode ser adotada por facilitar o manejo reprodutivo da piabanha. Em estações de produção de alevinos com maiores recursos tecnológicos pode-se utilizar a metodologia descrita por ANDRADE-TALMELLI (1997), que além das características externas descritas anteriormente, utilizou também as características ovocitárias como: homogeneidade dos ovócitos, coloração e a posição da vesícula germinativa, visando o melhor momento para a aplicação dos hormônios indutores. O mesmo autor obteve apenas 27,9% de sucesso na ovulação utilizando extrato de hipófise, e 77,1% utilizando hCG. SATO (1999) reproduzindo matrinxã (Brycon lundii), também obteve resultados positivos ao utilizar o extrato hipofisário de carpa, obtendo taxa de fecundação média de 55,83% ± 9,09. Este autor também utilizou somente as características externas de maturação gonadal como critério de seleção dos reprodutores aptos à indução. PARRA (1995), na segunda dosagem testou diferentes dosagens de extrato de hipófise de carpa comum - 2,2; 3,3; 4,4 e 5,5mg, em yamú (Brycon siebenthalae). Este autor obteve melhores resultados quando utilizou as concentrações de 4,4 e 5,5 mg/Kg. Estes resultados ficaram próximos aos encontrados por CECCARELLI e SENHORINI (1996) que, reproduzindo a piracanjuba (Brycon orbignyanus) e matrinxã (Brycon lundii), obtiveram melhores resultados quando foi utilizado, na segunda dose, extrato hipofisário de carpa na concentração de 4,0 a 5,0 mg/Kg. No experimento ora descrito, durante o período reprodutivo, as fêmeas de piabanha pesavam entre 227,60 e 2792,00 gramas, (média de 590,31 ± 495,16 g), e os machos, que pesavam entre 150,0 e 280,0 gramas apresentaram sêmen com coloração branca e consistência densa. 50 Tabela 1 - Média, desvio padrão e coeficiente de variação do peso total das fêmeas (g), temperatura média da água (°C), horas-grau (°C), peso total de ovócitos extruídos (g), ovócitos em um grama, horas-grau ao fechamento do blastóporo (°C) e percentagem de ovos fecundados Peso total das fêmeas (g) Temperatura média da água (C°) Horas-grau à extrusão (C°) Peso total de ovócitos extruídos (g) Ovócitos em um grama (N°) Horas-grau ao fechamento do blastóporo (C°) Ovos fecundados (%) Média 590,31 26,19 159,01 58,2 762,81 171,32 52,97 Desvio Padrão 495,16 1,19 8,56 46,27 92,35 14,28 27,82 Coeficiente de Variação 83,88 4,53 5,38 79,48 12,1 8,33 52,52 A piabanha segue os padrões de dimorfismo sexual de outras espécies da família Characidae, como encontrados nos gêneros Astyanax e Salminus (SATO, 1999). Os machos de piabanha, durante o período reprodutivo apresentaram aspereza acentuada na nadadeira anal, e apenas nela. A aspereza é causada pelo elevado número de espículas nos raios desta nadadeira. ANDRADE-TALMELLI (1997) afirma que a aspereza na nadadeira anal da piabanha ocorre apenas em machos, entretanto, neste experimento foi possível observar também aspereza na nadadeira anal de fêmeas ainda que raramente e de forma menos acentuada que nos machos. . 5.2. Comportamento dos reprodutores durante a indução Após a primeira dosagem hormonal, foi observado um maior deslocamento natatório dos machos, enquanto as fêmeas ficaram praticamente imóveis. Quando ocorria o deslocamento da fêmea, dentro dos tanques de reprodução, esta geralmente visava o ataque ao macho, ferindo-o na região do pedúnculo caudal. Tais ataques provocaram múltiplas lesões, caracterizadas pela perda de tecidos, como pode ser observado na figura 9. Além de agredirem os machos, as fêmeas se agrediam mutuamente; em geral as fêmeas maiores atacavam as menores. Entre os machos também foi 51 observado comportamento agressivo. Nas quatro primeiras horas após a segunda dosagem hormonal, as fêmeas praticamente não se movimentaram nos tanques de reprodução. Todos os machos apresentavam movimentação constante, nadando por toda a periferia do tanque, inclusive aqueles que apresentavam lesões. Nas reproduções, no referido experimento, em que foram utilizados até dois casais de piabanha por tanque de reprodução, foi observada agressividade. Em alguns casos houve óbito antes da finalização do processo reprodutivo. Na figura 10, pode-se observar reprodutor de piabanhalevado a óbito em decorrência da agressividade sofrida durante a reprodução. Nas reproduções em que foram utilizados dois machos por fêmea, em um mesmo tanque de reprodução, a agressividade foi sempre superior à observada nos tanques onde apenas um casal fora alojado. Não pôde ser verificada correlação entre o comportamento agressivo e o tamanho do reprodutor, uma vez que a maior parte do plantel utilizado possuía tamanho semelhante. Para Brycon lundii, SATO (1999) observou que quando duas ou mais fêmeas são mantidas juntas, no momento da desova, tornam-se agitadas e agressivas, sendo as menores atacadas pelas maiores, ocorrendo ferimentos e perda de escamas. O mesmo autor cita que representantes das famílias Bryconinae e Salmininae, quando colocados em ambientes restritos, semelhantes ao proporcionado pelos tanques de reprodução induzida, passam a apresentar comportamento agressivo. 52 Figura 9 - Lesões cutâneas no pedúnculo caudal do macho de piabanha, provocadas pela fêmea logo após a primeira dosagem hormonal. Figura 10 - Reprodutor de piabanha, do sexo masculino, morto antes mesmo da finalização do processo reprodutivo. Nas quatro primeiras horas após a segunda dosagem hormonal, as fêmeas praticamente não se movimentaram nos tanques de reprodução. Todos os machos apresentaram movimentação constante, nadando por toda a periferia do tanque, inclusive aqueles que apresentavam lesões. Nas duas últimas horas que antecederam a ovulação, as fêmeas passaram a apresentar natação constante e deslocavam-se lenta e paralelamente aos machos. Com a intensificação deste comportamento natatório, os casais passaram a nadar em uma pequena e única trajetória circular, abrangendo um diâmetro máximo de 70 cm. Pode-se inferir que este comportamento é um indicador da proximidade do momento da ovulação. Logo a seguir a fêmea retornou ao ponto de origem, na porção mais profunda do tanque. O macho continuou nadando na periferia do tanque de 53 reprodução, aguardando a fêmea para uma nova e igual trajetória. Neste momento não foi observado, comportamento agressivo entre os reprodutores. Trinta minutos antes da ovulação, tanto os machos quanto as fêmeas apresentaram um novo comportamento natatório. As natações circulares ficaram mais rápidas e freqüentes. Ao invés de um único e lento trajeto circular, os reprodutores passaram a apresentar natação circular rápida, com no mínimo quatro voltas curtas. Nestes movimentos, a extremidade anterior do crânio da fêmea encostava na extremidade posterior da nadadeira caudal do macho e vice- versa, apresentando natação tipo “carrossel”. Simultaneamente à intensificação destes movimentos circulares, observou-se a presença de alguns ovócitos na água, indicando que a ovulação estaria ocorrendo, ou seja, que o ovócito estava solto no lúmen do ovário e pronto para ser liberado. SATO (1999) estudou quinze espécies da ordem Characiformes, na bacia do São Francisco. Em apenas uma espécie (Hoplerythrinus unitaeniatus) não foi verificado sinalização no momento da desova. Segundo o mesmo autor, a sinalização do Brycon lundii tornou-se mais evidente quando no tanque de reprodução, era mantido apenas um casal. Neste experimento, em uma única reprodução, em que o processo reprodutivo natural não foi interrompido pela extrusão após o tradicional carrossel reprodutivo, o casal seguiu em natação linear, rápida e paralela chegando a bater contra as paredes do tanque, roçando mutuamente as laterais dos corpos e culminando com a liberação dos gametas próxima à superfície da água. Este comportamento repetiu-se quatro vezes, totalizando seis minutos. Após a quarta liberação natural de ovócitos, a fêmea passou a apresentar natação mais lenta. Neste momento, a reprodutora foi capturada e, mesmo mediante a tentativa de extrusão não se obteve mais ovócitos, indicando não haver mais ovócitos no lúmen dos ovários. Tal comportamento foi semelhante ao observado por pescadores, ligados ao Projeto Piabanha, em ambiente natural, nas áreas marginais inundadas (informação pessoal). Os ovos coletados no tanque, oriundos da reprodução induzida com desova natura,l apresentaram taxa de fecundação de 55%. Esta alternativa de manejo para indução reprodutiva, se melhor estudada, poderá vir a apresentar 54 taxa de fecundação mais elevada e, também, reduzir o estresse e a morte dos reprodutores, uma vez que a manipulação dos animais é menos intensa, minimizando o estresse que tanto prejudica os peixes de uma forma geral. Na maioria das extrusões realizadas, tanto os machos quanto as fêmeas perderam escamas, isto, somado às inúmeras lesões derivadas do comportamento agressivo da espécie, contribuiu para a mortalidade observada. Durante o experimento ora descrito, 12 fêmeas (27,90%) e 20 machos (33,33%) acabaram morrendo ao longo do processo reprodutivo ou logo após este. Nos machos, a mortalidade pode ser atribuída às lesões causadas tanto pelas fêmeas quanto por outros machos que estavam confinados no mesmo tanque de reprodução. Observações de campo, feitas por pescadores artesanais que presenciaram o comportamento reprodutivo da piabanha em ambiente natural (informação pessoal), não relataram o comportamento agressivo observado neste experimento. A mortalidade em fêmeas pode ser atribuída ao estresse, ou a lesões internas causadas pelo processo de extrusão manual e a lesões externas fruto das agressões promovidas por outras fêmeas, quando estas permaneceram juntas durante o processo de reprodução. 5.3. Extrusão, caracterização, quantificação e medição dos ovócitos A quantidade de horas-grau (HG) médias entre a segunda dose hormonal e a extrusão dos ovócitos de Brycon insignis foi de 159,01 ± 8,56 HG, a uma temperatura média de 26,19 ± 1,19 °C, conforme pode ser observadas na tabela 1. SATO (1999), estudando a reprodução de várias espécies de peixes do rio São Francisco, agrupou-as em três grupos usando como critério o valor de horas-grau para o intervalo da aplicação da dose decisiva à ovulação. Grupo I 196-216 HG (1 dose) e 132-144 HG (2 doses), são representantes deste grupo espécies dos gêneros Brycon e Salminus. Grupo II, 283-350 HG (1 dose) e 203- 233 HG (2 doses) com espécies dos gêneros Astyanax, Tetragonopterus, Leporinus, Shizodon, Curimatella, Prochilodus, Conorhynchus, Lophiosilurus, Pimelodus, Pseudopimelodus, Pseudoplatystoma, Rhamdia e Rhinelepis; e o 55 grupo III, 418-442 HG (1 dose) e 279-296 HG (2 doses), constituído por espécies dos gêneros Hoplerythrinus e Franciscodoras. Para o piauçu Leporinus macrocephalus, a extrusão dos ovócitos ocorre com 170 HG (25 °C) após a aplicação da dose decisiva (REIDEL et al. 2002). CECCARELLI E SENHORINI (1996), reproduzindo a piracanjuba (Brycon orbignyanus) e matrinxã (Brycon lundii), obtiveram extrusões ocorrendo entre 150 e 220 horas-grau, numa temperatura de 27 a 30 °C, a partir da 2ª dosagem hormonal. Sendo assim os valores encontrados por diversos autores, para espécies da ordem Characiformes, estão próximos aos encontrados no experimento aqui descrito, em que a correlação entre a temperatura da água e a quantidade de horas-grau, após a segunda dose hormonal aplicada para que ocorresse a ovulação, foi significativa (p < 0,01) e de 41%. Para as 37 fêmeas que desovaram, a análise de correlação permitiu verificar a existência (p > 0,08) de uma baixa correlação (24%) positiva entre o peso da matriz e a quantidade de horas-grau entre a aplicação da segunda dose de extrato hipofisário e a ovulação, evidenciando que o valor determinado em horas-grau pode ser aplicado a matrizes com pesos distintos, ao menos na faixa estudada. Observou-se uma alta (77%) correlação (p > 0,01) entre o peso da matriz e o peso da massa de ovócitos, indicando que fêmeas maiores são mais prolíficas.