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Universidade Tiradentes - Medicina P3 Medidas paliativa, DPOC e síndrome da imobilidade TUTORIA 1. INTRODUÇÃO: ● A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é definida como uma “doença evitável e tratável, caracterizada por limitação crônica e progressiva ao fluxo aéreo, associada a uma resposta inflamatória crônica e exacerbada nas vias respiratórias a partículas e gases” ● Geralmente é diagnosticada em indivíduos de meia-idade ou idosos com história de tabagismo prévio, cuja sintomatologia não pode ser atribuída a outras patologias, como bronquiectasias ou asma brônquica. ● É uma patologia comum, afetando mais de 5% da população e levando a grande morbimortalidade. ● É a 3ª causa de morte nos EUA, sendo responsável por cerca de 120 mil óbitos por ano nesse país, com índices de mortalidade crescentes nos últimos 30 anos, e a 5ª causa de incapacidade. ● O correto diagnóstico e tratamento pode reduzir os sintomas, a frequência e a gravidade das exacerbações, melhorar o status clínico, a qualidade de vida e a capacidade de exercício e prolongar a sobrevida. 2. EPIDEMIOLOGIA: ● A DPOC representa um problema crescente de saúde pública, cuja prevalência varia conforme a definição utilizada. ● O principal fator de risco é o tabagismo, tornando-a uma enfermidade prevenível e tratável, com tempo de latência de 20 a 30 anos. ● Embora o hábito do tabagismo tenha diminuído, a prevalência persiste aumentando com o envelhecimento da população outrora exposta. ● O consumo de cigarros leva a declínio da função pulmonar maior que aquele esperado pelo envelhecimento. ● A magnitude do declínio é proporcional à duração e à intensidade da exposição ao tabagismo. ● Na espirometria, é observado o volume expirado forçado no 1º segundo (VEF1), havendo uma perda média de 40 mℓ no valor do VEF1 nos pacientes com DPOC, ao contraponto ao valor normal esperado após os 30 anos de idade, de 25 mℓ/ano. 1 Entender a fisiopatologia e consequências da DPOC no idoso. ● Outras exposições, como aquelas observadas em trabalhadores de minas, moinhos de algodão, manuseio de grãos, poluição ambiental acentuada e combustão de biomassa também induzem a tosse crônica, obstrução das vias respiratórias e perda de função pulmonar. 3. DESEQUILÍBRIO PROTEASE- ANTIPROTEASE ● O enfisema resulta de um desequilíbrio entre elastases e antielastases (proteinase 3, catepsina G e metaloproteinase MMP-12) no pulmão, por excesso das primeiras ou deficiência destas últimas. ● O pulmão abriga uma rede de fibras contendo elastina e outras proteínas da matriz, que conferem integridade estrutural e elasticidade às paredes alveolares. ● A inflamação crônica induzida pela fumaça do cigarro aumenta a concentração de proteinases derivadas das células inflamatórias no parênquima pulmonar, e consequentemente, induz à destruição da sua estrutura pela degradação da elastase e outros componentes da matriz extracelular, como colágeno, proteoglicanas e fibronectina. ● Na inflamação das vias respiratórias distais, material particulado e gases tóxicos presentes na fumaça induzem uma resposta inflamatória composta principalmente de neutrófilos e macrófagos. ● Na doença mais avançada, há um componente humoral e celular, com infiltração da parede da via respiratória com linfócitos B, CD4+ e CD8+, e a resposta inflamatória persiste mesmo após a cessação do hábito do tabagismo. ● A mais importante antiproteinase pulmonar é a alfa-1-antitripsina (alfa-1-antiprotease), uma inibidora potente da elastase neutrofílica e de outras proteinases implicadas na destruição do parênquima pulmonar. ● A deficiência grave de α-1- antitripsina é o único fator de risco genético implicado até o momento no desenvolvimento da DPOC. ● Indivíduos heterozigotos, que têm valores de alfa-1-antitripsina mais baixos que o normal, apresentam risco aumentado para DPOC. 4. PATOLOGIA: ● No passado, a terminologia “bronquite crônica” e “enfisema” era aplicada. ● Embora esta divisão didática seja utilizada, ambos os aspectos clínicos e patológicos são encontrados nos pacientes com DPOC. ● As alterações patológicas da DPOC estão presentes nas vias respiratórias, parênquima e na vasculatura pulmonares. ● Enfisema é caracterizado pela destruição das paredes dos alvéolos, levando ao aumento anormal dos espaços aéreos distais ao bronquíolo terminal e perda da elasticidade pulmonar. ● Existem 3 subtipos de enfisema, o centrolobular, o pan-acinar e parasseptal. 2 ● O enfisema centrolobular acomete o bronquíolo respiratório distal ao bronquíolo terminal, a porção central do ácino. Geralmente é mais proeminente nos lobos superiores. ● No enfisema pan-acinar, há alargamento e destruição de todas as porções do ácino, sendo o subtipo característico da deficiência de α-1-antitripsina, mas observado também na DPOC por exposição ao tabaco. ● No enfisema parasseptal, os ductos alveolares são predominantemente afetados, estando difusamente alargados. ● A bronquite crônica é definida pela presença de tosse produtiva persistente, por 3 meses em 2 anos consecutivos, em que outras causas de tosse crônica foram excluídas. ● É caracterizada por inflamação crônica (presença de linfócitos T CD8+, neutrófilos e macrófagos- monócitos CD68+ nas vias respiratórias), hiperplasia das glândulas produtoras de muco localizadas entre a membrana basal e a placa cartilaginosa das vias respiratórias centrais e aumento do número de células caliciformes presentes no epitélio das vias respiratórias. ● São observadas alterações vasculares como hiperplasia da íntima e hipertrofia e hiperplasia da musculatura lisa das artérias pulmonares de pequeno calibre, secundárias à vasoconstrição hipóxica crônica. ● A destruição dos alvéolos observada no enfisema leva a perda do leito capilar relacionado a estas áreas. Estas alterações resultam em aumento da resistência vascular pulmonar, remodelamento vascular e hipertensão arterial pulmonar irreversível. 5. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: ● A DPOC deve ser suspeitada nos pacientes que se queixam de sintomas respiratórios crônicos, que limitam as atividades diárias, particularmente a dispneia. ● Os achados clínicos que levam à suspeição de DPOC são idade avançada, hábito do tabagismo atual ou passado, início insidioso 3 de dispneia com progressão lenta, sibilância, tosse crônica, produção de expectoração. ● A tosse com expectoração mucoide pode preceder a dispneia na DPOC em vários anos, sendo geralmente matinal nas fases iniciais da doença. ● O principal fator de risco para DPOC é o tabagismo, e a quantidade e a duração do hábito do tabagismo contribuem para a gravidade da doença. ● Na avaliação do paciente com suspeita de DPOC, deve-se determinar o número de maços-ano. ● Embora exista variação individual, na ausência de fatores genéticos, ambientais e ocupacionais, um índice menor que 10 a 15 maços-ano geralmente não leva ao desenvolvimento de DPOC. ● Valores maiores que 40 maços- ano resultam em limitação ao fluxo aéreo na espirometria na maioria dos pacientes. ● A história ocupacional e ambiental também pode detectar outros fatores de risco para DPOC, o que pode explicar um pequeno percentual de pacientes com diagnóstico de DPOC não tabagista. ● O exame físico nos estágios iniciais da doença pode ser normal ou pode apenas revelar um tempo expiratório prolongado ou sibilância às manobras de expiração forçada. ● Os achados na doença avançada são: ○ Aumento do diâmetro anteroposterior do tórax (tórax em tonel) ○ Rebaixamento do diafragma e hipersonoridade,manifestados pela percussão, evidenciando hiperinsuflação dinâmica, ○ Aumento do tempo expiratório ○ Uso da musculatura acessória da respiração. ○ As bulhas cardíacas podem estar hipofonéticas. ○ A ausculta do tórax pode revelar diminuição do murmúrio vesicular, roncos, sibilos e estertores. ○ A cianose pode aparecer na presença de hipoxemia. ○ Edema dos membros inferiores, turgência jugular patológica e congestão hepática podem surgir no cor pulmonale. ○ Os pacientes com doença avançada podem adotar posturas que aliviam a dispneia, como a posição sentada levemente inclinada para frente (tripé). ○ Pode-se verificar ainda a respiração por lábios cerrados. ○ Retração paradoxal dos espaços intercostais inferiores durante a inspiração (sinal de Hoover) e ○ Asterixe secundário a hipercapnia acentuada. 6. COMORBIDADES ● DPOC está frequentemente associada a várias manifestações sistêmicas. ● Osteoporose, síndromes neuropsiquiátricas, doença cardiovascular, disfunções musculoesqueléticas e baixo IMC são comorbidades frequentemente encontradas nos pacientes com DPOC. 7. INDICADORES DO PROGNÓSTICO 4 ● Além do VEF1, o grau de hiper- reatividade brônquica, tabagismo, baixo IMC, infecção pelo HIV, colonização bacteriana da via respiratória, baixa capacidade de exercício, o VO2 (consumo máximo de O2) durante a ergoespirometria, aumento da proteína C reativa (PCR-T), comorbidades, sexo masculino e enfisema à tomografia de tórax. 8. CUIDADOS NO FINAL DA VIDA ● Pacientes com DPOC podem necessitar de suporte ventilatório não invasivo ou invasivo com a evolução da doença. ● As questões relacionadas aos cuidados no fim de vida devem envolver o paciente e seus familiares ou responsáveis. ● Nos pacientes em que esta modalidade não é aceita, estratégias farmacológicas para diminuir a sensação de dispneia podem ser utilizadas. ● Opiáceos, como a morfina e benzodiazepínicos de curta ação (p. ex., lorazepam) podem ser utilizados para proporcionar conforto até o momento da morte. ● Para reduzir o volume da secreção brônquica, anticolinérgicos podem ser prescritos. 9. EXACERBAÇÕES DA DOENÇA PULMONAR CRÔNICA ● A exacerbação na DPOC representa um importante fator prognóstico. ● O risco de desenvolvimento de exacerbação correlaciona-se com idade avançada, presença de tosse produtiva, tempo de doença, história de antibioticoterapia prévia, hospitalizações no último ano relacionadas à doença, hipersecreção de muco, uso de teofilina, pior função pulmonar, presença de marcadores inflamatórios séricos em níveis elevados, presença de refluxo gastresofágico e comorbidades. ● É definida como piora aguda dos sintomas respiratórios, como dispneia, tosse ou aumento do volume da expectoração, em maior proporção que o habitualmente observado. ● As exacerbações podem ser acompanhadas de rinorreia, odinalgia, febre e opressão torácica. ● Pacientes com DPOC apresentam, em média, 1 exacerbação importante por ano, que pode levar a deterioração permanente da função pulmonar, e algumas exacerbações de menor magnitude, que não requerem intervenção terapêutica. ● As hospitalizações pelas exacerbações consomem mais de metade dos recursos dispensados com a DPOC. ● As infecções respiratórias são consideradas as principais causas de exacerbações (aproximadamente 70%), embora os microrganismos comumente implicados possam ser identificados no escarro mesmo durante os períodos de estabilidade clínica. ● Os vírus rinovirus, influenza, parainfluenza e vírus sincicial respiratório, e bactérias como Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae e Moraxella catarrhalis são comumente implicados nas exacerbações. ● Poluição atmosférica por partículas de diesel, dióxido de enxofre, ozônio e dióxido de nitrogênio, embolia pulmonar, isquemia miocárdica, insuficiência cardíaca e broncoaspiração estão associados com maior incidência de hospitalizações. ● A indicação de hospitalização deve considerar a intensidade da 5 dispneia, o uso de musculatura acessória da respiração, a estabilidade hemodinâmica, a gasometria do sangue arterial e o nível de consciência. ● Antibioticoterapia é geralmente iniciada nas exacerbações moderada a graves, em pacientes que necessitam hospitalização. ● A corticoterapia sistêmica pode melhorar a função pulmonar, reduzir a permanência hospitalar e prevenir a recaída. ● O uso de broncodilatadores de curta ação (beta-agonistas ou anticolinérgicos) é recomendado a estes pacientes durante a exacerbação. ● A aplicação da ventilação não invasiva através de máscara nasal ou facial em pacientes com insuficiência respiratória aguda está associada a menor taxa de intubação, menor tempo de hospitalização e menor taxa de mortalidade nestes pacientes. ● A ventilação mecânica está indicada nos pacientes que não respondem adequadamente, apresentam contraindicação ou não toleram a VNI. 1. INTRODUÇÃO: ● A subfração do idoso muito idoso (mais de 75 anos) é a que mais se destaca e que, ao mesmo tempo, traz consigo alterações crônico- degenerativas, apresenta um acentuado declínio funcional e torna-se idoso fragilizados. ● Estudos com idosos com idade superior a 75 anos mostram que, após essa idade, a perda funcional ocorre, de forma corriqueira, em maior velocidade. ● O pós 75 anos é, então, um divisor de águas depois da qual incapacidade, imobilidade e mortalidade crescem rapidamente. ● Para um idoso com expectativa de vida de 10 anos, apenas 4 anos estarão livres de complicações graves. ● É justamente esse grupo, geneticamente seleto e que superou por décadas as intempéries de sua existência, que vai passar grande proporção de sua expectativa de vida confinado ao leito, representando um enorme sofrimento existencial. ● Os idosos fragilizados podem ser definidos como indivíduos que têm mais de 75 anos, dependem de terceiros para atividades da vida diária (AVD), vivem geralmente em instituições, são incapazes de movimentar-se, usam múltiplos fármacos, são desnutridos e apresentam alterações nos exames laboratoriais. São geralmente mantidos confinados no leito e, devido a essa imobilidade, adquirem ou evoluem para outras complicações, que chamamos de síndrome de imobilização (SI). ● SI deriva principalmente do fato de que todos os órgãos e aparelhos podem ressentir-se, gravemente, da própria imobilidade e de suas consequências, a começar pela: ○ Deterioração intelectual e comportamental; ○ Estados depressivos; ○ Distúrbios cardiovasculares; ○ Distúrbios respiratórios; ○ Distúrbios digestivos e metabólicos; ○ Constipação intestinal; ○ Hipotonia muscular; ○ Osteoporose; ○ Desnutrição; ○ Contratura e negativação do balanço nitrogenado. ● Trata-se, portanto, de todo um complexo de alterações que repercutem negativamente sobre 6 2. Compreender a síndrome da imobilidade (fatores de risco, critérios diagnóstico e repercussões) o organismo, tendo origem na imobilidade. ● Semelhante a outras doenças prolongadas em fase terminal, tais como neoplasias e síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), a SI representa a derradeira fase da vida para muitos idosos. ● Contraturado, disfágico, usando sonda para alimentação, duplamente incontinente, caquético, demente grave e com úlceras necrosadas exalando odor fétido, essa é a apresentação do idoso com a SI. ● Resta aos cuidadores um único recurso possível: a internação asilar ou hospitalar para esses pacientes, onde, geralmente, eles vêm a falecer. ● Cabe ao geriatra e à equipe multidisciplinar cuidar deles, já que, apesar de não haver cura, precisamter seu sofrimento aliviado até o momento da morte. 2. DEFINIÇÃO: ● A SI é, na realidade, pouco conhecida e entendida por médicos de outras especialidades. ● Podem ser encontradas referências tais como imobilidade, repouso prolongado no leito (bed rest) e síndrome do desuso – definida como deterioração dos sistemas corporais secundários à inatividade musculoesquelética. ● O pouco que se sabe da SI é proveniente do conhecimento da medicina espacial, na qual se estuda o efeito da falta de gravidade sobre o corpo humano e a influência dessa ausência em várias funções orgânicas. ● Na posição supina prolongada, a força da gravidade sobre nosso corpo é menor e daí surgem a perda óssea, muscular etc. ● Percebe-se que a SI, apesar de muito citada e estar presente em muitos idosos, parece não estar definida com clareza na literatura, o que torna difícil avaliar sua prevalência em asilos, hospitais ou na comunidade. ● Tornam-se necessárias algumas definições para estabelecimento da síndrome especificando seus critérios para depois apontar suas causas e características: ■Síndrome: conjunto ou complexo de sinais e sintomas que ocorrem ao mesmo tempo, que individualizam uma entidade mórbida e podem ter mais de uma etiologia ■Imobilidade: ato ou efeito resultante da supressão de todos os movimentos de uma ou mais articulações em decorrência da diminuição das funções motoras, impedindo a mudança de posição ou translocação corporal ■Síndrome de imobilização: complexo de sinais e sintomas resultantes da supressão de todos os movimentos articulares, que, por conseguinte, prejudica a mudança postural, compromete a independência, leva à incapacidade, à fragilidade e à morte. 3. FATORES QUE PREDISPÕE O PACIENTE A FICAR CAMADO: ● Envelhecimento ● Doenças crônicas ● Internações hospitalares e reabilitações mais lentas ● Insuficiência cardíaca ● Doenças cerebrovasculares ● Doenças respiratórias ● Hipertensão arterial ● Artrite ● Repouso prolongado no leito ● Depressão e demência ● Pneumonias crônicas ● Desnutrição grave 7 ● Iatrogenia ● Zelo excessivo por parte dos cuidadores ● Diabetes mellitus 4. CRITÉRIOS PARA IDENTIFICAÇÃO: ● Não podemos dizer que todo paciente confinado no leito tenha SI. ● Existe uma classificação temporal que denomina de: ○ “repouso” a permanência no leito de 7 a 10 dias; ○ “imobilização” de 10 a 15 dias ○ “decúbito” de longa duração – mais de 15 dias. ● O critério maior seria déficit cognitivo médio a grave e múltiplas contraturas. ● No critério menor consideramos sinais de sofrimento cutâneo ou úlcera de decúbito, disfagia leve a grave, dupla incontinência e afasia. ● Define-se um paciente com SI quando ele tem as características do critério maior e pelo menos duas do critério menor. 5. CAUSAS DA IMOBILIDADE: ● Diversas são as patologias que levam o idoso à imobilidade, as quais podem evoluir para a SI. É necessário conhecê-las para estabelecer o tratamento adequado e prevenção. ● O resultado de todos esses problemas seria, em última instância, equilíbrio precário, quedas, limitação da marcha, perda da independência, imobilidade no leito e, finalmente, suas complicações – a SI. ● Independentemente da causa e do tempo, a imobilização resulta em modificações para pior dos sistemas cardiovascular, osteomuscular, respiratório e do metabolismo. ● O estado psíquico também pode se ressentir do imobilismo, sendo frequentes depressão, apatia, déficit cognitivo e ansiedade. ● Na prática, não se observa uma linha divisória nítida entre imobilidade e SI, mas sim um largo espectro que iria de casos leves até os mais graves. 6. CONSEQUÊNCIAS DA IMOBILIDADE E CARACTERÍSTICAS DA SÍNDROME DE IMOBILIZAÇÃO IMOBILIZAÇÃO: ● O repouso no leito foi reconhecido como modalidade terapêutica a partir do século 19 a fim de poupar os “humores ou energia” para restabelecimento da doença. ● A partir disso, esse procedimento passou a ser adotado de modo abusivo para todos os processos mórbidos. ● Tal conduta tem sofrido mudanças, tais como mobilização precoce no pós-operatório, reabilitação para doenças cardiorrespiratórias etc. ● Não ter atividade física, seja por falta de iniciativa ou desejo, por imposição dos cuidadores, por monotonia do ambiente ou por doenças físicas ou psiquiátricas, induz o indivíduo a um descondicionamento global, levando ao agravo de sua condição física, cognitiva e emocional. ● Priorizar e valorizar atividades regulares e orientadas produziria ganho de força e resistência, melhor condicionamento cardiorrespiratório e bem-estar psíquico. ● Como o envelhecimento, infelizmente para os idosos, é uma fase de maior fragilidade e dependência, o repouso ou confinamento passou a ser uma prática ou conduta universal que prevalece ainda hoje. 8 ● Muitas vezes, os cuidadores impedem que o paciente permaneça útil e ativo, induzindo- o ao repouso prolongado. Após essa fase, tirá-los do leito torna- se difícil. ● Síndrome de desadaptação psicomotora (PDS): se caracteriza por desequilíbrio para trás (backward), seja na posição sentada ou de pé, hipertonia reacional, alterações na reação postural, modificação na marcha e medo de cair. A PDS pode ser resultado da perda de mecanismo de reserva postural, atingindo um limiar que impede o indivíduo de manter um nível funcional adequado. ● A PDS pode ser desencadeada por vários fatores, tais como demências, quedas e imobilidade prolongada no leito. ● A imobilidade prolongada leva à deterioração funcional progressiva dos vários sistemas, muito além da senescência normal, chegando-se mais tarde à síndrome de imobilização. ● Sistemas atingidos pela síndrome e quais as modificações por eles sofridas: CONSEQUÊNCIAS DE CADA SISTEMA 1. INTRODUÇÃO: ● Com o envelhecimento, a pele apresenta: ○ Alentecimento da renovação epidérmica; ○ Adelgaçamento da junção dermoepidérmica; ○ Diminuição da produção do colágeno e da elasticidade; ○ Diminuição das glândulas sudoríparas e sebáceas; ○ Redistribuição da gordura subcutânea para regiões mais profundas, ocorrendo maior exposição das proeminências ósseas; ○ Diminuição da capacidade do tecido de distribuir pressão, com redução da vascularização. ● Essas alterações aumentam o risco de úlcera por pressão (UP), assim como um alentecimento da sua cicatrização. ● A idade avançada, associada a doenças crônico-degenerativas e a outros fatores, como incontinência urinária/fecal, umidade, desnutrição, quedas e fraturas com imobilização por período prolongado, predispõem ao aparecimento de UP. ● Apesar de não haver estatísticos, as úlceras por pressão são consideradas um problema de saúde pública, devido ao aumento do tempo de internação, à carga de trabalho da equipe interdisciplinar, à mortalidade e aos custos do tratamento. 2. DEFINIÇÃO: ● A úlcera por pressão é definida como uma lesão localizada na pele e/ou no tecido subjacente, normalmente sobre uma proeminência óssea, em resultado da pressão ou de uma combinação entre esta e forças de cisalhamento e fricção. ● As localizações mais frequentes são: isquiática (24%), 9 3. Entender a lesão por pressão e seus tipos (prevenção, etiologia e classificação) sacrococcígea (23%), trocantérica (15%) e calcânea 8(%). ● Outras localizações incluem maléolos laterais (7%), cotovelos (3%), região occipital (1%) e região escapular. 3. ETIOLOGIA: ● Por ser a pressão o principal agente para a formação de UP, recomenda-se a adoção da expressão úlcera por pressão na documentação do agravo. ● As UP podem desenvolver-se em 24 h ou levar até 5 dias para se manifestar. ● Todos os profissionaisde saúde responsáveis pela prevenção do agravo devem estar familiarizados com os principais fatores de risco para formação de UP. ● A observação das condutas profiláticas para a eliminação de pressão contínua, cisalhamento ou fricção é essencial para evitar a formação de UP. ■ Fatores extrínsecos ● Estão relacionados ao mecanismo de lesão, influenciando a tolerância tissular pela obstrução da circulação sobre a superfície da pele; ● Refletem o grau em que a pele é exposta. ▼Pressão (intensidade e duração): A pressão do fechamento capilar é de aproximadamente 32 mmHg para as arteríolas e 12 mmHg para as vênulas. Quando a pressão aplicada externamente excede 32 mmHg prejudica o fluxo sanguíneo para área e, com a pressão não aliviada, a isquemia tecidual ocorre e resíduos metabólicos acumulam-se, levando à anoxia tissular e à morte celular. É importante correlacionar a intensidade da pressão com a duração da pressão. ▼Fricção. Originada pela força de duas superfícies, esfregando-se uma na outra. Sua capacidade de danos está restrita à epiderme e à derme, resultando em abrasão e aparecimento de bolhas. Geralmente ocorre em pacientes agitados. A umidade piora o efeito da fricção. ▼Cisalhamento. Resultante da combinação da gravidade e fricção. Exerce uma força paralela à pele; a gravidade empurra o corpo para baixo, mas a pele resiste ao movimento devido à fricção entre o paciente e a superfície de suporte, provocando danos aos tecidos mais profundos. A força gerada é suficiente para obstruir, lacerar ou estirar os vasos sanguíneos. Isto ocorre em consequência da movimentação ou posicionamento incorreto. ▼Umidade. A umidade altera a resistência da epiderme para forças externas, tornando os efeitos da fricção mais significativos. É o resultado da incontinência urinária e/ou fecal, sudorese, banho e drenagem de feridas. ■Fatores intrínsecos ● São correlacionados com a vulnerabilidade do estado físico do paciente, que influencia tanto a constituição e integridade da pele, as estruturas de suporte ou os sistemas vascular e linfático que servem à pele e às estruturas internas, quanto o tempo de cicatrização. ▼Idade avançada. Muitas alterações ocorrem com o envelhecimento, como: achatamento da junção entre derme e epiderme, menor troca de nutrientes, menor resistência à força de cisalhamento, diminuição da capacidade de redistribuir a carga mecânica da pressão. ▼Hipotensão/perfusão sanguínea. 10 Está associada a isquemia tecidual; com baixa pressão arterial o corpo desvia o sangue do sistema vascular periférico em direção aos órgãos vitais. Nível de pressão diastólica abaixo ou igual a 60 mmHg. ▼Imobilidade/procedimentos cirúrgicos. A mobilidade diminuída compromete a capacidade do paciente de se mover em resposta à pressão, predispondo ao cisalhamento e à fricção no momento da transferência. Outro fator importante são as cirurgias prolongadas nas quais o paciente permanece um grande período imóvel em superfície rígida. ▼Peso. A diminuição da massa corporal expõe as proeminências ósseas, deixando-as vulneráveis à pressão. Por outro lado, os pacientes obesos são mais difíceis de mobilizar, o que aumenta os riscos das forças de cisalhamento e de fricção. Outro fator importante é que o tecido adiposo é pouco vascularizado e não é elástico, tornando-se mais frágil à pressão e propenso a romper. ▼Fármacos. Sedativos, hipnóticos, ansiolíticos, antidepressivos, analgésicos opiáceos e anti-histamínicos podem causar sonolência excessiva, diminuindo a mobilidade e a percepção sensorial. Alguns medicamentos, como esteroides e quimioterápicos, reduzem a capacidade do organismo de promover a resposta inflamatória adequada. ▼Nutrição. A deficiência nutricional está intimamente ligada ao desenvolvimento de UP. ● As vitaminas A, C e E têm papel importante, pois atuam na síntese do colágeno, na imunidade e na integridade epitelial. ● O zinco, o cobre e o selênio são benéficos no processo cicatricial por apresentarem propriedades antioxidantes. ● A hipoalbuminemia altera a pressão oncótica, desencadeando formação de edema, comprometendo a difusão tissular de oxigênio e de nutrientes, o que predispõe à hipoxia e à morte celular. ● A anemia também afeta o transporte de oxigênio para os fibroblastos, diminuindo a formação do colágeno. ● A deficiência de proteínas interfere no processo cicatricial, por ser responsável pela revascularização, formação de tecidos e síntese de colágeno. ▼Temperatura elevada. Pode estar relacionada com o aumento da demanda de oxigênio. A pele pode ficar exposta à maceração devido à sudorese. 4. CONDIÇÕES PREDISPONENTES: ● Insuficiência cardíaca; ● Doença vascular periférica; ● Diabetes; ● Demência; ● Neoplasias; ● Depressão; ● Doença terminal; ● Contraturas; ● Doença da tireoide; ● Insuficiência renal; ● Desidratação; ● Doença pulmonar obstrutiva crônica; ● Alterações neurológicas; ● Dor; ● Tabagismo. 5. CLASSIFICAÇÃO DAS ÚLCERAS POR PRESSÃO NPUAP/EPUAP/PPPIA: ● A classificação das úlceras por pressão é utilizado para ajudar a descrever a extensão dos danos na pele e nos tecidos que se 11 apresentam sob a forma de úlcera por pressão. ● Verificar se o eritema branqueia ou não é por vezes difícil de observar. Pode ser difícil distinguir o eritema branqueável do não branqueável, particularmente se o tempo de enchimento vascular é curto. Categoria/grau I – eritema não branqueável em pele intacta ● Pele intacta com eritema não branqueável de uma área localizada. ● Normalmente sobre uma proeminência óssea; descoloração da pele, calor, edema, tumefação ou dor podem também estar presentes. ● Em pele escura pigmentada pode não ser visível o branqueamento. ● A área pode ser dolorosa, firme, suave, mais quente ou mais fria comparativamente com o tecido adjacente. ● Pode ser indicativo de pessoas “em risco”. Categoria/grau II – perda parcial da espessura da pele ● Perda parcial da espessura da derme que se apresenta como uma ferida superficial (rasa) com leito vermelho-rosado sem crosta. ● Pode também apresentar-se como flictema fechado ou aberto preenchido por líquido seroso ou sero-hemático. ● Apresenta-se como uma úlcera brilhante ou seca, sem crosta ou equimose. ● Esta categoria não deve ser usada para descrever fissuras da pele, queimaduras por fita adesiva, dermatite associada a incontinência, maceração ou escoriação. Categoria/grau III – perda total da espessura da pele ● Perda total da espessura tecidual. ● Pode ser visível o tecido adiposo subcutâneo, mas não estão expostos os ossos, tendões ou músculos. ● Pode estar presente algum tecido desvitalizado (esfacelo). ● Pode incluir descolamento e túneis. ● A profundidade de uma úlcera de categoria III varia com a localização anatômica. ● A asa do nariz, as orelhas, a região occipital e os maléolos não têm tecido subcutâneo (adiposo), e uma úlcera de categoria III pode ser superficial. 12 ● Em contrapartida, em zonas com tecido adiposo abundante podem se desenvolver úlceras de pressão de categoria III extremamente profundas. Categoria/grau IV – perda total da espessura dos tecidos ● Perda total da espessura dos tecidos com exposição óssea dos tendões ou músculos. ● Pode estar presente tecido desvitalizado (esfacelo) e/ou necrótico. ● Frequentemente inclui descolamento e túneis. ● A profundidade de uma úlcera de pressão de categoria IV varia com a localização anatômica. Não graduáveis/inclassificáveis – profundidade indeterminada ● Perda total da espessura dos tecidos na qual a profundidade base da úlcera está coberta por tecido necrótico (amarelo, acastanhado,cinza, esverdeado ou castanho) e/ou escara (acastanhado, castanho ou preto) no leito da ferida. ● Até que seja removido tecido necrótico suficiente para expor a base da ferida, a verdadeira profundidade não pode ser determinada, mas é, no entanto, uma úlcera de categoria III ou IV. ● Nos calcâneos, uma escara estável (seca, aderente, intacta e sem eritema ou flutuação) serve como cobertura natural (biológica) corporal e não deve ser removida. Suspeita de lesão tissular nos tecidos profundos | Profundidade indeterminada ● Área localizada de pele intacta de coloração púrpura ou castanha, ou flictema, preenchida com sangue, devido a dano no tecido mole, decorrente de pressão e/ou cisalhamento. ● A área pode apresentar um tecido mais doloroso, endurecido, amolecido, esponjoso e mais quente ou frio comparativamente ao tecido adjacente. ● Pode ser de difícil detecção em indivíduos com a pele de tonalidades mais escuras. ● A lesão pode evoluir, ficando coberta por uma fina camada de tecido necrótico (escara). 13 Estadiamento reverso ● Conforme ocorre a cicatrização da úlcera por pressão de espessura total, o músculo, a gordura e a pele perdidos não são substituídos no organismo. ● Essa cicatrização é preenchida com tecido de granulação e tecido composto, principalmente, de células endoteliais, fibroblastos, colágeno e da matriz extracelular. ● Portanto, uma úlcera de pressão de grau IV não pode progredir para os graus III e II e, consequentemente, para uma úlcera de grau I. 6. PREVENÇÃO DE LESÕES POR PRESSÃO: Cuidados com a pele ● Evitar posicionar o indivíduo em uma superfície corporal que ainda se encontre ruborizada ● Não massagear a pele e não esfregar vigorosamente ● Usar emolientes para hidratar a pele seca, a fim de reduzir o risco de dano na pele. ● Proteger a pele da exposição à umidade excessiva por meio do uso de produtos barreira de forma a reduzir o risco de lesão por pressão. Nutrição ● Rastrear e avaliar o estado nutricional dos indivíduos em risco. ● Encaminhar todos os indivíduos em risco nutricional e de úlcera por pressão para nutricionista. ● Avaliar a necessidade de oferecer suplementos nutricionais, orais ou por terapia nutricional ou parenteral. Reposicionamento para prevenção das úlceras por pressão ● Alternância de decúbitos/posicionamentos: A mudança de decúbitos deve ser realizada para reduzir a duração e a pressão exercida. A frequência será influenciada por variáveis relacionadas às características do paciente e pelas superfícies de apoio em uso. É importante registrar o posicionamento e a frequência. ● Técnicas de reposicionamento: Reposicionar o paciente de tal forma que a pressão seja aliviada ou redistribuída. ○ Evitar sujeitar a pele a pressão ou forças de cisalhamento. ○ Evitar posicionar o paciente diretamente sobre sondas e drenos e sobre proeminências ósseas com hiperemia não reativa. ○ O reposicionamento deve ser feito usando 30° na posição de semi-Fowler, e uma inclinação de 30° para posições laterais. ○ Quando sentado, evitar a elevação da cabeceira de tal forma que centre a pressão no nível do sacro e do cóccix. ● Reposicionamento do indivíduo sentado: Quando sentado, se os pés do paciente 14 não chegam ao chão, coloque-os sobre um apoio. Quando os pés não se apoiam, o corpo desliza para fora da cadeira. Quando sentado, o peso do corpo faz com que as tuberosidades isquiáticas fiquem sujeitas a um aumento de pressão. ● Superfícies de apoio: ○ Usar colchões de espuma altamente específica que redistribui a pressão em pacientes com risco. ○ Usar superfície de apoio dinâmico em indivíduos com alto risco, quando não for possível reposicionamento frequente. ○ Os calcâneos devem ser mantidos livres de pressão, com o auxílio de um travesseiro na região posterior da perna. ○ Usar almofada de assento de redistribuição de pressão em indivíduos sentados em uma cadeira. ○ Evitar o uso de pele de carneiro sintética; dispositivos recortados em forma de anel ou donut; e luvas cheias de água ○ Pele de carneiro natural poderá ajudar prevenir as úlceras por pressão. Educação para a prevenção da úlcera por pressão: ● Desenvolver programas educacionais direcionados aos pacientes, cuidadores e equipe de saúde, que incluam: etiologia e fatores de risco para úlcera de pressão; instrumentos de avaliação de risco e sua aplicação. ● Avaliação da pele: ○ Seleção e uso de superfícies de suporte ○ Programas individualizados de cuidados com a pele ○ Demonstração do posicionamento para diminuir o risco de perda da integridade dos tecidos. 1. INTRODUÇÃO: 15 4. Elucidar os cuidados paliativos ● A sociedade contemporânea vive um processo de envelhecimento significativo da sua população. ● Nesse cenário, surgem novas condições clínicas, específicas de pessoas mais velhas, e, por consequência, novas maneiras de morrer. ● Ao envelhecer, as pessoas são marcadas pela vulnerabilidade, tornando o organismo mais suscetível a doenças. ● As profundas mudanças na organização familiar, em uma aceleração de tempo inescapável, transformam o modo como os seus membros vivem e trabalham, tendendo a deixar os idosos vulneráveis e afetados. ● A maioria das pessoas que envelhecem sofrem de doenças crônico-degenerativas, incapacitantes, percorrendo um longo processo de adoecimento e mal-estar, expresso em uma condição crescente de fragilidade e dependência, até a morte. ● Mesmo que se disponha de todos os recursos, a pessoa doente inicia o inevitável processo de morrer. ● Esse fato revela a morte não como um inimigo a ser temido e combatido, mas como um evento previsível. ● O foco da intervenção da equipe de saúde deverá se direcionar, então, para o alívio do sofrimento do paciente, envolvendo os seus familiares. ● Cabe à equipe permanecer junto ao paciente, no trabalho de cuidar e protegê-lo, assegurando sua higiene, seu conforto e o controle da dor e de qualquer outro sintoma que lhe cause desconforto. ● Existe um limite para o tratamento e a cura, mas não há limite para os cuidados. 2. CONCEITO: ● Cuidados paliativos são conceituados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como: “Uma abordagem voltada para a qualidade de vida tanto dos pacientes quanto de seus familiares frente a problemas associados a doenças que põem em risco a vida. A atuação busca a prevenção e o alívio do sofrimento, através do reconhecimento precoce, de uma avaliação precisa e criteriosa e do tratamento da dor e de outros sintomas, e das demandas quer física, quer psicossocial ou espiritual.” ● Digna de nota é a inclusão dos familiares de pacientes como também beneficiários dos cuidados. ● Os cuidados paliativos apresentam ampla dimensão, iniciada a partir do diagnóstico de uma doença incurável e estendendo-se até depois da morte do paciente, no suporte ao luto da família. ● Os cuidados paliativos são uma modalidade de assistência cujo foco principal é a pessoa e não a doença ou o órgão comprometido. ● Buscam o alívio do sofrimento e a melhora da qualidade de vida e de morte. ● Deve-se ter em mente que os sintomas precisam ser priorizados e só se intervém naqueles que realmente causam desconforto ou angústia. ● É importante ressaltar que os cuidados paliativos não rejeitam a biotecnologia atual. 16 ● Por qualidade de vida entende-se uma sensação de satisfação subjetiva, ligada a todos os aspectos inerentes ao ser humano, sejam físicos, psicológicos, sociais e espirituais. ● A melhoria da qualidade de vida, no âmbito dos cuidados paliativos, consiste em reduzir ao máximo o hiato entre o ideal e o possível.● “Cuidados paliativos” e “cuidados ao fim da vida” não são sinônimos. ● Cuidados paliativos devem ser aplicados ao paciente em um continuum, pari passu com outros tratamentos pertinentes ao seu caso, desde a definição de uma doença incurável e progressiva. ● Os cuidados ao fim da vida são uma parte importante dos cuidados paliativos, referindo-se à assistência que um paciente deve receber durante a última etapa de sua vida, a partir do momento em que se torna claro o seu estado de declínio progressivo e inexorável, aproximando-se da morte. ● É de se lamentar que pessoas com indicação precisa de paliação ainda sejam encaminhadas tardiamente para essa intervenção. ● As questões em torno da morte – que interessam a todos – constituem ainda hoje um tema pouco falado. 3. REFLEXO DA MODERNIDADE / DOENÇAS CRÔNICO- DEGENERATIVAS: ● Entende-se por doenças crônico- degenerativas aquelas de curso evolutivo e incapacitante, que não são passíveis de cura. ● As doenças crônico-degenerativas podem acometer pessoas de todas as faixas etárias, porém o envelhecimento é o maior fator de risco para sua ocorrência. ● As doenças crônicas que progridem com intenso sofrimento até a morte da pessoa constituem um dos maiores desafios para os profissionais. ● Os pacientes com doenças crônicas em fase terminal são frágeis, estão com as funções declinando, e um dia a melhora não será possível. ● Esses “3 F” (fragilidade, declínio funcional e falência orgânica) caracterizam os pacientes que necessitam de uma postura paliativista dos profissionais da saúde que os acompanham. ● O início dos cuidados paliativos não deve ser retardado nas doenças incuráveis, cujos sintomas devem ser identificados para poderem ser aliviados de maneira sistemática e adequada. ● Quanto maior o número de sintomas e quanto mais intensos, mais difícil para o paciente suportá-los, e a terapêutica se torna mais complexa. 17 ● A paliação é indicada para qualquer pessoa que tenha ou esteja em risco de desenvolver uma doença que ameace a vida, seja qual for o diagnóstico, o prognóstico ou a idade, podendo complementar e até melhorar o tratamento. ● Os cuidados paliativos devem ser iniciados quando a necessidade se apresenta e, preferencialmente, antes que os problemas se tornem incontroláveis. ● Precisam ser parte integral da assistência básica e praticados em quaisquer ambientes, tanto hospitalar quanto domiciliar, bem como nas instituições de longa permanência. 4. EQUIPE: ● É indicada a constituição de equipe multiprofissional com dinâmica de atuação interdisciplinar. ● Todos os seus componentes devem ter sólida formação nos princípios do tratamento paliativo. ● Os cuidados paliativos devem ser prestados por uma equipe bem articulada, com conhecimento do controle de sintomas. ● Capacidade de compreensão, empatia e bom humor são características adicionais que complementam a boa prática da paliação. ● Os integrantes de uma equipe podem ser: médico, enfermeiro, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, nutricionista, psicólogo, terapeuta ocupacional, assistente social, musicoterapeuta, assistente espiritual, farmacêutico e odontólogo. ● Todos precisam trabalhar em sintonia e desenvolver uma linguagem comum, para atingir objetivos de cuidado e proteção, ou seja, identificar e tratar as intercorrências, otimizar o uso de fármacos, manter o estado nutricional e a mobilidade enquanto possível, oferecer apoio psicológico ao paciente e à família, providenciar apoio espiritual se for desejado e maximizar o funcionamento do paciente nas suas atividades habituais. 5. PRINCIPAIS SINTOMAS: ● Pessoas com doenças em fase avançada podem apresentar sintomas de grande desconforto físico e psíquico. ● Fadiga ● Dor de forte intensidade ● Anorexia ● Dispneia ● Constipação intestinal ● Náuseas e vômito ● Tosse ● Confusão mental ● Tristeza – depressão ● Ansiedade ● Agitação – insônia ● Disfagia ● Hemorragia ● Emagrecimento ● Diarreia ● Feridas. ● Após identificação, existem medidas de tratamento farmacológico e não farmacológico apropriadas para tentar controlá-los. ● A postura paliativista exige do profissional médico uma intervenção rápida, intensiva, dinâmica e resolutiva no uso dos fármacos e das técnicas específicas de paliação. 6. PACIENTE GERIÁTRICO AO FIM DA VIDA: ● O bom cuidado aos idosos no fim da vida significa mais do que suspender certas medidas de tratamento. 18 ● Inclui o desenvolvimento de um plano de cuidados individualizados, que contemple as demandas particulares da pessoa como um ser biográfico e único e atenda aos limites impostos pela doença. ● Nas doenças crônicas, o processo final pode ocorrer lentamente, com uma sucessão de eventos levando a múltiplas falências orgânicas. ● Frequentemente, os problemas que muitos idosos experimentam no último ano de vida são decorrentes das consequências naturais do envelhecimento. ■ Câncer: A doença é mais comum com o envelhecimento. As pessoas têm necessidades psicológicas e precisam de informação e apoio desde o momento do diagnóstico. ■ Demência: A doença de Alzheimer é a principal causa de demência e tem progressão lenta, declinante e involutiva. Cada fase (inicial, moderada, avançada e final) é marcada por sinais e sintomas específicos. Em casos finais, a pessoa deve receber todos os cuidados ao fim da vida, baseados em um primoroso alívio de qualquer desconforto, com envolvimento dos familiares no plano de cuidados sempre que possível. 7. AVALIAÇÃO E CONTROLE DOS SINTOMAS: ● Para facilitar a avaliação sistemática dos sintomas em cuidados paliativos, foi desenvolvida a Escala de Avaliação de Sintomas de Edmonton. ● Trata-se de um questionário com nove itens objetivos e subjetivos, para os quais o paciente deve atribuir uma nota, classificando sua intensidade. ● No caso de pacientes que não consigam se comunicar (p. ex., aqueles com demência), apenas os itens objetivos são preenchidos pelo cuidador. ● O controle dos sintomas e a presença da equipe de saúde são fatores que promovem a confiança necessária para aquele que vive seus momentos finais. ● O sintoma mais discutido é a dor. A eficácia dos métodos de controle da dor foi estabelecida há décadas, e existem inúmeros fármacos para controlá-la, independentemente da sua causa. ● Um número elevado de pacientes com câncer ainda morre com dor de forte intensidade. ● A dor intensa é menos frequente na fase final quando abordada e aliviada nas fases anteriores. ● O tratamento ideal é individualizado, pois as pessoas percebem a dor de maneira diferente. ● Opta-se pela via de administração menos invasiva, ou seja, a oral, seguida da subcutânea e por fim a via venosa. ● A escolha do analgésico vai depender do tipo da dor e da sua intensidade. ● Dor constante exige tratamento regular. 19 ● Medidas de relaxamento, meditação, suporte espiritual, hipnose, bloqueios de terminações nervosas e procedimentos neurocirúrgicos podem ser boas condutas adjuvantes. ● A morfina, por ser um fármaco bastante conhecido, é de administração segura mesmo nos muito idosos. O risco de morte prematura pelo uso da morfina não tem qualquer base científica. ● Sabe-se que a morfina pode ser usada com sucesso por anos, e que o risco de dependência não é relevante na população geriátrica e nos pacientes com câncer metastático em fase avançada. ● Deve-se lembrar que os opioides induzem constipação intestinal e por isso precisam sempre ser associados ao uso de laxativos. ● Dispneia é um dos sintomas mais presentes no fim da vida e causa angústia a paciente,família e equipe. Sempre se deve tentar descobrir a causa e intervir na ansiedade gerada por essa condição. ● A utilização de oxigênio suplementar tem um papel mais psicológico do que efetivo. ● O uso de opioides (p. ex., morfina parenteral, preferencialmente pela via subcutânea, se a via oral não for viável) reduz a frequência respiratória e confere uma sensação de alívio ao paciente. ● A anorexia é muito frequente no fim da vida e uma causa de inquietação familiar. Algumas sugestões são interessantes, como fracionar a dieta em pequenas quantidades a cada 2 h e preparar refeições com aroma e aspecto convidativos. ● A indicação de alimentação artificial deve ser bem avaliada ao fim da vida, pois sondas e cateteres nasoentéricos ou gástricos causam desconforto. ● Muitos pacientes apresentam náuseas até o momento final, sem ter vômito. A causa mais frequente de náuseas no fim da vida é a constipação intestinal crônica. ● A constipação intestinal costuma ser ignorada na fase final, e a impactação fecal deve ser prevenida e tratada. O imobilismo, a inatividade, o pouco alimento, a desidratação e o uso de opioides e anticolinérgicos são causas frequentes. ● Delirium é frequente nos idosos em fase final e causa angústia à família. As etiologias mais comuns são: iatrogenia, hipoxia, distúrbio hidreletrolítico ou metabólico, infecção e doença primária do sistema nervoso central (SNC). Se o paciente está confuso, mas sereno, deve-se orientar a família e utilizar medidas não farmacológicas e ambientais, como a presença constante de um familiar ou cuidador. ● A privação de sono pode ser tratada com estratégias para redução de ruídos ambientais e por meio da adoção de horários de medicação que não interrompam o descanso noturno do paciente. ● Em cuidados paliativos, é particularmente difícil distinguir depressão da tristeza decorrente da doença e da proximidade da morte. Os antidepressivos devem ser utilizados com cautela, após avaliação criteriosa. ● A ansiedade e a agitação podem ser resultantes de dor não tratada ou, em pessoas com demência, de algum desconforto que elas não consigam verbalizar. ● A insônia é um sintoma que costuma estar associado a depressão e ansiedade. Ambiente ruidoso, dor física, distúrbios metabólicos, inatividade e efeito 20 colateral de fármacos também podem provocar insônia. 8. O PROCESSO DE MORRER: ● A inevitabilidade da morte não livra o ser humano da angústia diante do seu próprio fim, angústia que se espraia e alcança todos os implicados em uma cena de final de vida. ● De acordo com a Aliança Mundial de Cuidados Paliativos (AMCP), mais de 100 milhões de pessoas se beneficiariam com os cuidados paliativos e os hospices, por ano, incluindo familiares e cuidadores que precisam de ajuda e orientação. Entretanto, menos de 8% têm acesso a esses cuidados. ● Nos idosos, a trajetória para a morte costuma ser lenta e com sofrimento físico, emocional, social e espiritual, configurando a “dor total”. ● O avanço da tecnologia propicia as tentativas obstinadas de medicalização da morte, ocultando a realidade da morte como parte do processo natural da vida. ● Morrer passa a ser vista como uma falha técnico-profissional. ● Nas mudanças inevitáveis que ocorrem no fim da vida, alguns tratamentos acabam por se tornar absolutamente irrelevantes. O uso de anti- hipertensivos, hipoglicemiantes e quimioterápicos, por exemplo, deve ser reavaliado, pois esses fármacos podem não ter mais indicação alguma para uma pessoa idosa que está em sua fase final. ● O reconhecimento da morte iminente é feito por meio da observação da mudança do sensório, da ocorrência recente de confusão mental, de fadiga intensa, da flutuação dos sinais vitais sem uma causa aparente, da descompensação hemodinâmica e da não aceitação de alimentos por via oral. 9. PROTOCOLO SPIKES: 21
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