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AnAílisesobreoprocessoeducativo-Azevedo-2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ 
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO 
PEDAGOGIA – LICENCIATURA 
 
 
 
 
 
 
MIKAELA GOMES DE ARAÚJO AZEVEDO 
 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE SOBRE O PROCESSO EDUCATIVO DAS MULHERES NA 
PENITENCIÁRIA ESTADUAL DO SERIDÓ – “O PEREIRÃO” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Caicó/ RN 
2018 
 
 
MIKAELA GOMES DE ARAÚJO AZEVEDO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE SOBRE O PROCESSO EDUCATIVO DAS MULHERES NA 
PENITENCIÁRIA ESTADUAL DO SERIDÓ –“O PEREIRÃO” 
 
 
Monografia apresentada ao Departamento 
de Educação do Centro de Ensino Superior 
do Seridó da Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte, como requisito parcial para 
obtenção do título de Licenciatura em 
Pedagogia. 
 
Orientador: Prof. Me. Djanní Martinho dos 
Santos Sobrinho 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAICÓ/ RN 
2018 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
Sistema de Bibliotecas - SISBI 
Catalogação de Publicação na Fonte. Catalogação de Publicação na Fonte. - - CERES--Caicó 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE SOBRE O PROCESSO EDUCATIVO DAS MULHERES NA 
PENITENCIÁRIA ESTADUAL DO SERIDÓ – ―O PEREIRÃO‖ 
 
 
 
Monografia apresentada ao Departamento de Educação do Centro de Ensino 
Superior do Seridó da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito 
parcial para obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia. 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
________________________________________________________ 
Professor Me. Djanní Martinho dos Santos Sobrinho – Orientador 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN 
 
 
________________________________________________________ 
Professora Dra. Tânia Cristina Meira Garcia – Examinadora 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN 
 
 
________________________________________________________ 
Prof.ª Ma. Suenyra Nóbrega Soares – Examinadora 
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN 
 
 
 
Caicó /RN 
2018 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho a meus pais, por 
acreditarem em mim até mais do que eu 
mesma. Pelo apoio, incentivo e dedicação 
de uma vida. Esta vitória também é de 
vocês. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Agradeço, primeiramente, a Deus pela vida, por todo conhecimento, por 
ter me presenteado com pessoas especiais que não mediram esforços para me 
ajudar, pelas conquistas alcançadas ao longo de minha trajetória acadêmica e pelas 
realizações pessoais. 
À minha mãe, Aucileide Gomes, por seu amor incondicional, por todos os 
ensinamentos, pelas palavras doces, mas também repreensivas quando era preciso. 
Por ser meu maior exemplo de mulher, de força e de coragem. A você, que esteve 
sempre ao meu lado e me ensinou a persistir por meus sonhos. 
Ao meu pai, Zemilton Germano, por investir em minha educação, por 
acreditar em mim, na minha capacidade, pelo apoio, dedicação e incentivo. 
Ao meu irmão, Mikael Gomes, por seu amor, por seu companheirismo, 
por ser o melhor presente que eu poderia ganhar aos seis anos de idade. 
Ao meu esposo, Samuel Souto, por ter me acompanhado nesta jornada, 
durante esses últimos 4 anos, ajudando-me no que precisasse, inclusive a produzir 
material para os estágios. Por ter sido um companheiro maravilhoso e um marido 
excepcional. Você é mais do que eu pedi em minhas orações. 
Aos meus avós, por terem auxiliado em minha educação, por todo o 
amor, por todos os abraços e cafunés. Vocês são muito importantes para mim. 
À Mônica Rolim, minha professora da 3ª série, por ter sido a melhor e por 
me inspirar a ser a professora que eu quero ser. 
Aos meus colegas de curso que, de alguma forma, contribuíram para 
minha formação, em especial, ao grupo ―Eu sei que é para Sempre‖, vocês são 
especiais para mim. 
À minha colega e amiga, Gabriela Dantas, pelo apoio, pela amizade, por 
ter sido a melhor colega de trabalho. 
À Milena Fernandes, a primeira professora com quem trabalhei como 
auxiliar, pelos ensinamentos e profissionalismo. 
À Escola Sesc Seridó, em especial à pessoa de Tânia Cunha, diretora da 
instituição escolar, por ter me proporcionado o melhor estágio escolar de minha vida, 
bem como, momentos maravilhosos. 
 
 
Às professoras da Escola Sesc Seridó, Maurana Brito e Tamíris 
Fernandes, pelo exemplo de profissionais que são, pelo apoio, pelos ensinamentos 
e pela amizade. 
À Direção da Penitenciária Estadual do Seridó, representada por 
Ubirajara Araújo, pela recepção e permissão para a realização das visitas in lócus 
para o desenvolvimento deste trabalho. 
À Francisca Gomes e à Eliene Medeiros, agentes penitenciárias, por toda 
a ajuda, disposição e atenção. O auxílio de vocês foi de suma importância para a 
construção deste estudo. 
A todos os professores que contribuíram para minha formação. 
À Tânia Cristina, pelo profissionalismo e por ter sido um referencial de 
docente para mim. À Suenyra Nóbrega, pelos ensinamentos que perpassaram os 
conteúdos acadêmicos e que irei levar para a vida. 
Às mulheres encarceradas da Penitenciária Estadual do Seridó, que 
atenciosamente e generosamente me concederam as entrevistas, sem as quais esta 
pesquisa não teria sentido. 
Aos professores do Sistema Prisional de Caicó/RN, pelo tempo e 
paciência, por terem contribuído para a construção deste estudo. 
À Djanni Martinho, meu orientador. Tenho por você grande admiração, 
pelo excelente profissional e ser humano que é, sendo um exemplo de professor 
para mim. Agradeço imensamente pela paciência, apoio e incentivo para a 
construção deste trabalho. A você meu muito obrigada! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Quando a tranca bate de um modo 
ensurdecedor, há um mundo que se mostra 
dentro do presídio feminino. Desalento e 
esperança caminham juntos, uma vez que as 
mulheres que ali vivem estão privadas de um 
bem que elas próprias julgam ser o maior de 
todos: a liberdade.” 
(Ana Arlinda de Oliveira) 
 
 
RESUMO 
 
 
A violência exacerbada, as taxas crescentes de criminalidade, as falhas na 
segurança pública, os problemas dentro e fora das prisões que atingem não só o 
preso, mas toda a sociedade. As prisões lotadas, a total precariedade nas condições 
de subsistência nestes espaços, o regime opressor que busca estabelecer o controle 
da população carcerária, que tenta manter sob obediência os delituosos, no entanto, 
apesar da vigilância marcada, as rebeliões e fugas são noticiadas, apontando a 
ineficiência dos Estados. Isso denota o verdadeiro fracasso do Sistema Penitenciário 
no Brasil, no que tange à ressocialização do preso, fazendo com que os problemas 
de reincidência sejam cada vez maiores. A Educação de Jovens e Adultos no 
Espaço Prisional, além de ser um dos campos de atuação do pedagogo, é uma 
educação voltada para um público diferenciado: pessoas privadas de liberdade. 
Diante disso, esta investigação busca analisar o processo educativo das mulheres 
encarceradas na Penitenciária Estadual do Seridó Desembargador Francisco 
Pereira da Nóbrega, a fim de compreender que tipo de educação é oferecida para 
estas mulheres e como esta educação contribui para a ressocialização das mesmas. 
Metodologicamente, a pesquisa consistiu em pesquisa bibliográfica a autores como: 
Santos (2017), Carvalho e Guimarães (2013), Onofre (2015), Julião (2011), Aguiar 
(2009), Bizatto (2005), Helpes (2013), Ronchi (2017), Soares e Ilgenfritz (2002), 
dentre outros que discorrem sobre o sistema prisional, educação nas prisões, 
mulheres presidiárias e ressocialização; bem como, pesquisa documental, a partir de 
análises de relatórios e projetos sobre o Sistema Prisional Brasileiro, também sobre 
a Penitenciária Estadual do Seridó, entre outros; e de Campo, consistindo em 
observaçõese entrevistas com presidiárias, professores e agentes penitenciárias. 
Nesta investigação, pode-se constatar que a Penitenciária Estadual do Seridó 
oferece Educação de caráter formal e profissional às mulheres encarceradas, mas 
que esta passa por uma série de desafios para se manter no espaço prisional e, 
mesmo com as ações e projetos desenvolvidos, a prisão possui características 
contrárias à visão emancipatória da Educação, sendo que a ―opressão‖ e a 
precariedade nas condições de oferta de uma Educação de qualidade tendem a não 
fazer da prisão um espaço ressocializador. 
 
Palavras-chave: Sistema Prisional. Educação de mulheres. Ressocialização. 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
The exacerbated violence, the rising crime rates, public security failures, the 
problems in and out of prisons affect not only the inmates, but the whole society. The 
crowded prisons, total precarious subsistence conditions in these spaces, the 
oppressive regime that seeks to establish the prison population control, and tries to 
keep criminals willing to obey, however, despite the close marking vigilance, 
uprisings and fugues are reported, disclosing out the States' inefficiency. This denote 
the Penitentiary System real failure in Brazil, regarding the inmates re-socialization, 
making the recidivism problems each time being bigger. The Youth and Adult 
Education in Prison Space, besides being one of the pedagogue action area, it is an 
education for a differentiated public: persons privated of their liberty. Thus, this 
investigation seeks to analyze the imprisoned women's educational process at 
Penitenciária Estadual of Seridó Desembargador Francisco Pereira da Nóbrega, in 
order to understand what kind of education is offered to these women and how this 
education contributes to the their resocialization. Methodologically the research 
consisted of bibliographical research to authors as: Santos (2017), Carvalho and 
Guimarães (2013), Onofre (2015), Julião (2011), Aguiar (2009), Bizatto (2005), 
Helpes (2013), Ronchi (2017), Soares and Ilgenfritz (2002), among others that deal 
with the prison system, prison education, inmate women and resocialization, as well 
as documentary research, based on report analyzes and projecs about Brazilian 
Prison System and the Penitenciaria Estadual do Seridó, among others; and field, 
consisting in observations and inmate interviews, teachers and penitentiary agents. 
In this investigation, it could be seen that the Penitenciária Estadual of Seridó offers 
formal and professional education to incarcerated women, but it goes through a 
challenge series to keep at the prison space even with the actions and developed 
projects, the prison has the contradicted characteristics about an emancipatory 
Education view, the "oppression" and the precariousness in offer condition a quality 
Education does not tend to make prison a resocializing space. 
 
Keywords: Prison System. Women's Education. Resocialization. 
 
 
 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
 
Figura 1 - Tiaras e prendedores de cabelo em crochê .............................................. 56 
Figura 2- Short em crochê ......................................................................................... 57 
Figura 3 - Blusa em crochê ....................................................................................... 57 
Figura 4 - Bico de crochê em panos .......................................................................... 58 
Figura 5 - Macacão em crochê .................................................................................. 58 
 
 
LISTA DE QUADROS 
 
 
Quadro 1 - Perfil Socioeconômico das Mulheres Encarceradas ............................... 38 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
 
 
Gráfico 1 - Dados sobre a autodeclaração de Cor/Raça das internas ...................... 39 
Gráfico 2 - Motivações para a Desistência da Escola ............................................... 40 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
 
PES – Penitenciária Estadual do Seridó 
EJA – Educação de Jovens e Adultos 
LEP – Lei de Execução Penal 
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
SESU – Secretaria de Ensino Superior 
SEEC – Secretaria de Estado da Educação e da Cultura 
SUEJA – Subcoordenadoria de Educação de Jovens e Adultos 
MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização 
LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
CNE – Conselho Nacional de Educação 
CBE – Câmara de Educação Básica 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12 
2 CONTEXTUALIZAÇÃO DAS PRISÕES BRASILEIRAS – UM ESTUDO 
SOBRE AS MULHERES E AS PRISÕES FEMININAS NO BRASIL. ...................... 16 
2.1 CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA PRISIONAL NO BRASIL ............................ 16 
2.2 AS PENITENCIÁRIAS FEMININAS E AS MULHERES PRESAS NO 
BRASIL – BREVE HISTÓRICO ................................................................................. 20 
2.3 ASPECTOS GERAIS DA PENITENCIÁRIA ESTADUAL DO SERIDÓ – O 
PEREIRÃO ................................................................................................................ 26 
3 A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: NO BRASIL, NAS PRISÕES E 
NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE ........................................................... 29 
3.1 REFLEXOS DA EJA NO ESPAÇO PRISIONAL – CONTEXTO E 
DESAFIOS NA OFERTA/GARANTIA DA APRENDIZAGEM .................................... 29 
3.2 A EJA NO RN: ASPECTOS GERAIS .................................................................. 33 
3.3 CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL SOCIOECONÔMICO DAS INTERNAS ......... 37 
3.4 CONTEXTUALIZANDO A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NA 
PENITENCIÁRIA ESTADUAL DO SERIDÓ - O ―PEREIRÃO‖ .................................. 41 
3.4.1 Organização da Estrutura Escolar Dentro da Penitenciária ............................. 42 
3.4.2 A Sala de Aula, os Sujeitos e a Aprendizagem ................................................ 44 
4 O PAPEL DA EDUCAÇÃO PARA A RESSOCIALIZAÇÃO DO SUJEITO NO 
CÁRCERE. ................................................................................................................ 49 
4.1 REFLEXÕES SOBRE A EDUCAÇÃO E A RESSOCIALIZAÇÃO NA 
PENITENCIÁRIA ESTADUAL DO SERIDÓ .............................................................. 49 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 64 
6 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 67 
 
 
 
12 
1 INTRODUÇÃO 
A mulher, no âmbito prisional, ainda aparece timidamente, ou seja, 
existem poucas mulheres presas no Brasil, se compararmos ao total de homens. No 
entanto, no decorrer dos anos, a taxa de presidiárias tem aumentado 
gradativamente, o que revela uma falha no processo de reintegração do indivíduo na 
sociedade. 
Levando em consideração a importância da educação para a formação do 
sujeito em todas as suas dimensões (ética, cultural, cognitiva, social, política), é 
plausível apontar a mesma como via para a ressocialização do encarcerado. É por 
meio da educação formal e também profissional do preso que se torna possível o 
reingresso do mesmo na sociedade. 
Dessa forma, o interesse por esta temática, ―Educação da mulher 
presidiária‖, surge pela importância social do papel da mulher e por ser um tema não 
muito discutido por estudiosos da área prisional, visto que grande parte dos 
trabalhos nesta área é realizada em presídios masculinos. 
Outro fator que justifica a escolha é que, durante minha jornada de 
formação, pude constatar no curso de Pedagogia, especificamente na disciplina 
Educação de Jovens e Adultos, a ausência da EJA no espaço prisional nos cenários 
de discussões. O curso apresenta todos os níveis e modalidades de ensino em que 
o pedagogo pode trabalhar, no entanto, acaba por ―segregar‖ a educação nas 
prisões, ainda que seja um campo deatuação do docente. Isso também fica 
evidente nos trabalhos de conclusão de curso, em que poucos retratam esta 
temática. 
A Penitenciária Estadual do Seridó, base empírica escolhida para a 
realização da pesquisa, fica situada no município de Caicó-RN, sendo a única 
penitenciária da cidade, que agrega também detentos oriundos de outros municípios 
do Rio Grande do Norte e de outros Estados. Dessa forma, a prisão se caracteriza 
como um espaço ―misto‖, pela ausência de um estabelecimento prisional feminino. 
Assim, a presente investigação busca responder ao questionamento: Que 
tipo de educação é oferecida para a mulher na Penitenciária Estadual do Seridó, na 
cidade de Caicó-RN e de que forma esta educação contribui para a ressocialização 
das mulheres presidiárias? 
 
13 
O objetivo geral desta pesquisa é analisar o processo educativo das 
mulheres presidiárias da Penitenciária Desembargador Francisco Pereira da 
Nóbrega, e como esta educação contribui para a ressocialização do sujeito. Ainda 
tem como objetivos específicos: caracterizar o perfil socioeconômico e cultural das 
mulheres presidiárias; avaliar se o sistema prisional oferece condições que 
favoreçam a aprendizagem; e identificar os meios pelos quais a educação ofertada 
às mulheres presidiárias da Penitenciária Estadual do Seridó viabiliza a 
ressocialização e a inclusão na sociedade. 
Para realização deste estudo, fez-se necessária a utilização de pesquisa 
bibliográfica, documental e de campo. A pesquisa bibliográfica consistiu no estudo 
de autores como Santos (2017), Carvalho e Guimarães (2013), Onofre (2015), Julião 
(2011), Aguiar (2009), Bizatto (2005), dentre outros, que discutem questões acerca 
do Sistema Prisional Brasileiro, bem como sobre a educação no espaço prisional e a 
ressocialização do sujeito. Ainda, alguns que abordam a ―mulher nas prisões‖, 
destacamos autores como, Helpes (2013), Ronchi (2017), Soares e Ilgenfritz (2002). 
A pesquisa documental, também necessária para esta investigação, 
pautou-se na coleta de informações por meio de alguns documentos. Dentre os 
quais o relatório do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias -Infopen 
(2017), relatório da Coordenadoria Pedagógica da Penitenciária Estadual do Seridó 
– PES (2017), dentre outros, que trazem dados relevantes para o desenvolvimento 
deste estudo. 
A pesquisa de Campo possibilita ao investigador estar em contato direto 
com o objeto de pesquisa, tornando viável a obtenção e a apuração de dados 
relevantes ao desenvolvimento do problema estudado. 
Dessa forma, a pesquisa de campo pode ser caracterizada pelo contato 
direto com a realidade. Trata-se de um processo de observação, coleta de dados, 
análise qualitativa dos resultados obtidos e, por fim, as conclusões estabelecidas por 
meio das respostas alcançadas através dos dados recolhidos. O estudo de campo 
surge nesta pesquisa com caráter exploratório, através de observação e entrevistas. 
A ação de observar significa olhar atentamente, averiguar, examinar, 
constatar. É uma estratégia utilizada para investigar e coletar informações. Nesse 
contexto, a observação se fez importante para melhor compreender o cenário do 
local de pesquisa e como se relacionam os atores do processo educacional 
(professores, alunas e agentes educacionais). 
 
14 
Outro recurso utilizado para a elaboração deste trabalho científico foi a 
entrevista, que se trata de um mecanismo usado para conseguir informações por 
meio de conversa, onde um indivíduo faz questionamentos a outro, obtendo 
respostas para os problemas gerados. A entrevista é uma técnica flexível que 
permite ao pesquisador extrair dados do entrevistado com maior eficácia e fluidez. 
As entrevistas ocorreram no período de 17 a 22 de maio de 2018, 
quando, de acordo com as observações feitas no local de pesquisa e em conversas 
informais com uma das agentes penitenciárias responsáveis pelo andamento do 
processo educativo na penitenciária, foi possível chegar à conclusão da quantidade 
de entrevistas a serem aplicadas para cada público. Assim sendo, foram aplicadas 
entrevistas com as 10 alunas, matriculadas na escola do presídio; com 4 professores 
(1 do turno vespertino e 3 do turno matutino) e com 4 agentes penitenciárias (2 
destas responsáveis pela educação dos internos na penitenciária). 
Portanto, tratando-se este trabalho de estabelecer uma análise à luz do 
processo educacional das presidiárias da Penitenciária Estadual do Seridó, faz-se 
necessário compreender este processo sob a ótica dos principais atores para o seu 
desenvolvimento: as agentes educacionais, os professores e as internas. 
Durante o desenvolvimento da pesquisa, por meio das visitas in lócus e 
das informações obtidas nas entrevistas feitas, conseguiu-se constatar que a 
ressocialização das internas no presídio de Caicó enfrenta muitos dilemas, dentre os 
quais, a difícil tarefa de manter qualquer atividade educativa, visto que as condições 
não são favoráveis, o que dificulta as ações e as práticas que visam à reintegração 
do preso na sociedade. 
Esta monografia está divida em três capítulos. O primeiro é subdividido 
em três tópicos, que discorrem sobre contexto atual do Sistema Prisional Brasileiro, 
posteriormente, um breve contexto histórico das penitenciárias femininas no Brasil e, 
por último, sobre a fundação da Penitenciária Estadual do Seridó. 
No segundo capítulo, é discutida brevemente a Educação de Jovens e 
Adultos no Brasil e suas implicações quanto à garantia de ensino, bem como a EJA 
nas prisões, as leis que a regulamentam enquanto direito ao interno e a EJA no Rio 
Grande do Norte. Do mesmo modo, é apresentada no segundo capítulo a análise 
dos dados obtidos durante o estudo. 
O terceiro capítulo desta pesquisa busca refletir sobre a educação e a 
ressocialização na Penitenciária Estadual do Seridó; é contextualizada a Educação 
 
15 
enquanto prática ressocializadora e a ressocialização do sujeito no cárcere, assim 
como o processo socioeducativo, enquanto viés para a reintegração da mulher 
encarcerada na Penitenciária Estadual do Seridó, bem como perceber se a 
penitenciária em si tem caráter ressocializador. 
Espera-se, com esta pesquisa, obter informações relevantes quanto ao 
processo educativo das presidiárias e como isso, de alguma forma, influencia no 
retorno das mulheres privadas de liberdade ao convívio social, a fim de propagar os 
dados adquiridos para que sejam acessíveis ao público em geral, para que tenham 
conhecimento do que é feito no presídio da cidade de Caicó/RN, para garantir, 
oportunizar a ressocialização de encarceradas na Penitenciária Estadual do Seridó. 
 
 
16 
2 CONTEXTUALIZAÇÃO DAS PRISÕES BRASILEIRAS – UM ESTUDO SOBRE 
AS MULHERES E AS PRISÕES FEMININAS NO BRASIL. 
O presente capítulo está subdividido em três tópicos. O primeiro faz uma 
breve apresentação da conjuntura atual do sistema prisional brasileiro, apontando os 
principais dados sobre as prisões no Brasil, além de informações gerais, apresenta 
dados relativos às prisões no Estado do Rio Grande do Norte e sobre as mulheres 
encarceradas no país. O segundo tópico aborda sucintamente o histórico das 
prisões femininas no Brasil, além de como se configuravam os primeiros espaços 
prisionais para mulheres no país. O último tópico apresenta os aspectos históricos 
da fundação da Penitenciária Estadual do Seridó, local da referida pesquisa. 
2.1 CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA PRISIONAL NO BRASIL 
O sistema prisional brasileiro tem enfrentado diversos problemas ao longo 
dos anos. Ora, o cenário é crítico: motins, rebeliões, mortes, doenças. Os noticiários 
apontam para um verdadeiro cenário de guerra: facções, Estado, sociedade. A 
população carcerária no país só tem aumentado, a criminalidade tem crescido e o 
clima de insegurança pública se perpetua. 
Nesse contexto, 
O Sistema prisional brasileiro passa por uma crise sem precedentes.Por todo o país espalham-se evidências de um acelerado e perigoso 
processo de deterioração. As prisões são uma bomba-relógio que a 
sociedade resiste a enxergar, apesar da freqüência e da selvageria 
das rebeliões. (BRASIL, 2007, p. 3). 
A sociedade se mostra inerte, indiferente a toda esta situação, Thompson 
(2002), ao se referir sobre a questão penitenciária, aponta o muro existente na 
prisão, que é não apenas físico, mas simbólico e separa duas ―populações‖, a dos 
indivíduos livres e a dos sujeitos que foram rejeitados por estes. O muro, as medidas 
de segurança, a estrutura dos presídios tendem a demonstrar que o contato entre a 
sociedade livre e os enclausurados não deve ocorrer ou que deve ser estritamente 
limitado. 
Os problemas sociais, políticos e econômicos afetam diretamente, e por 
que não dizer, agressivamente, na forma como são organizadas as penitenciárias 
brasileiras. As cadeias estão, em sua avassaladora maioria, lotadas, o número de 
 
17 
presos excede o quantitativo máximo de pessoas por cela. E os problemas citados 
anteriormente são fatores agravantes para esta superlotação nas prisões, assim 
como para as questões de má alimentação, ambientes insalubres, rebeliões, entre 
tantos outros. É uma verdadeira reação em cadeia. 
Nesse contexto, 
O Sistema Penitenciário Brasileiro não consegue atingir o seu 
principal objetivo que é a ressocialização dos seus internos. A 
superlotação das prisões, as precárias e insalubres instalações 
físicas, a falta de treinamento dos funcionários responsáveis pela 
reeducação da população carcerária e própria condição social dos 
que ali habitam, são sem sombra de dúvidas, alguns dos principais 
fatores que contribuem para o fracasso do sistema penitenciário 
brasileiro no tocante à recuperação social dos seus internos. 
(SANTOS, 2011, p.03). 
É notável que uma grande falha do Sistema Penitenciário no Brasil é a 
ressocialização do preso. Muitos são os fatores que impedem a reintegração do 
indivíduo condenado na sociedade, como já explicitado anteriormente, fazendo com 
que o processo de reincidência dos presos ocorra de forma gradual. Os direitos 
previstos na Lei de Execução Penal, em seu artigo 411, precisam ser garantidos aos 
indivíduos apenados, o que em suma não ocorre, haja vista as condições precárias 
no sistema carcerário. Dessa forma, é necessário investimento governamental para 
que as mudanças possam acontecer no cenário prisional. 
O Conselho Nacional do Ministério Público (2016), no livro ―A visão do 
Ministério Público sobre o sistema prisional brasileiro – 2016‖ salienta que o 
desdém2 com o sistema penitenciário não é definido tendo como finalidade o sexo, 
mas ele evidencia que o contexto das mulheres encarceradas é ainda mais frágil, 
mais precário. Além do abandono Estatal, sofre o abandono de ―caráter social‖. Isto 
pode ser revelado no número ínfero de mulheres que recebem visitas frequentes, 
com relação aos homens presos. Ainda mais que os companheiros, na maioria dos 
casos, acabam por romper o relacionamento, e as mulheres presidiárias tendem a 
ser ―esquecidas‖. 
 
1 Vide: Lei de Execução Penal. Presidência da República Casa Civil/ Subchefia para 
Assuntos Jurídicos. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm> Acesso em: 28 de abril de 2018. 
2 Essa indiferença estatal e social denota a necessidade de maior atenção em relação às 
especificidades da criminalização feminina, principalmente quanto à abordagem não só 
relativa a direitos básicos, mas também à saúde mental daquelas que acabam por receber 
dupla retribuição por seus atos. (BRASIL, 2016, P.33). 
 
18 
Segundo dados disponibilizados no último relatório do levantamento 
Nacional de Informações Penitenciárias - Infopen, em junho de 2016, a população 
carcerária no Brasil chegou a 726.712 pessoas presas, esta é a primeira vez na 
história que isto acontece; deste total, 5,8% é formado por mulheres. Os perfis dos 
detentos apresentados no relatório mostram que 55% têm entre 18 e 29 anos de 
idade, 64% desta população são negros e 75% possuem até o Ensino Fundamental 
completo. No ano de 2014, conforme dados do mesmo relatório, o Brasil possuía a 
quarta maior população penitenciária do mundo, já no ano de 2016 passou a ocupar 
o terceiro lugar, ficando atrás dos Estados Unidos (que ocupa o primeiro lugar) e da 
China (que ocupa o segundo lugar). 
Os dados apresentados anteriormente expressam a difícil situação do 
sistema penitenciário brasileiro, que comporta em suas prisões mais de 700 mil 
pessoas, sendo a maioria dos detentos jovens, negros e que não prosseguiram com 
os estudos, cursando até o Ensino Fundamental. Estas informações refletem a 
desigualdade social existente em nosso país e apontam problemas que vão além de 
um elevado número de indivíduos presos. 
Levando em conta que a idade mínima para alguém ser sentenciado à 
pena de prisão no Brasil é de 18 anos, é possível compreender quão preocupante e 
grave é a situação atual das prisões brasileiras. Os dados do Relatório do 
Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias são esclarecedores ao 
destacar que: 
Entre 2000 e 2016, a taxa de aprisionamento aumentou em 157% no 
Brasil. Em 2000 existiam 137 pessoas presas para cada grupo de 
100 mil habitantes. Em junho de 2016, eram 352,6 pessoas presas 
para cada 100 mil habitantes [...] (BRASIL, p. 2017, p.12). 
É visível a crise no cenário prisional, os índices alarmantes de 
encarceramento no Brasil são deveras preocupantes e expõem a dificuldade do país 
em reduzir estas taxas. A população carcerária brasileira cresce em um ritmo 
acelerado e as prisões prosseguem em condições cada vez mais precárias. 
No entanto, os dados revelam que, mesmo com um percentual 
relativamente inferior ao de homens, o índice de mulheres presas no Brasil tem 
aumentado. O relatório da Infopen (2014) aponta que, de 2005 a 2014, a taxa 
cresceu em média de 10,7%, ou seja, a população de mulheres presas foi de 12.925 
no ano de 2005, para 33.793 em 2014, saltando para quase 45 mil em 2016. 
 
19 
A maior parte dos estabelecimentos prisionais foi planejada e construída 
para homens3. Conforme os dados disponibilizados no último Relatório Nacional de 
Informações Penitenciárias, 74% dos estabelecimentos prisionais são destinados 
aos homens, 7% às mulheres e outros 17% são qualificados como mistos, isto é, 
podem dispor de alas/celas próprias para o encarceramento feminino dentro de uma 
unidade inicialmente masculina.4 
No Rio Grande do Norte, de acordo com os dados disponibilizados no 
relatório do INFOPEN (2016), 50% da população carcerária possui o Ensino 
Fundamental incompleto, 13% são analfabetos, outros 13% são apenas 
alfabetizados, 10% possuem o Ensino Fundamental completo, 8% o Ensino Médio 
incompleto, 5% Ensino Médio completo e 1% Ensino Superior incompleto. Sendo, 
ainda, 72% da população carcerária no Estado composta de pessoas negras e 27% 
de pessoas declaradas brancas. 
Segundo os dados do relatório da Infopen, de junho de 2016, a população 
carcerária do Rio Grande do Norte era de 8.809 pessoas privadas de liberdade. 
Deste total, 7.920 são homens e 776 mulheres. No ano de 2014, o número de 
presidiárias no Estado do RN era de 438. É notável o crescimento progressivo nos 
índices de encarceramento feminino. 
Com base no relatório disponibilizado pelo Infopen, que apresenta dados 
que comprovam que no Brasil existem mais pessoas do gênero masculino privadas 
de liberdade, é possível perceber que, devido ao percentual relativamente inferior de 
mulheres presidiárias em comparação ao de homens, ―a criminalidade de mulheres‖ 
e ―mulher presidiaria‖ são questões pouco abordadas por estudiosos e 
pesquisadores da área criminal em nosso país, que, em sua maioria, realizam 
pesquisas em presídios masculinos.3
 Historicamente, a ótica masculina tem se potencializado no contexto prisional, com 
reprodução de serviços penais direcionados para homens, deixando em segundo plano as 
diversidades que compõem o universo das mulheres, que se relacionam com sua raça e 
etnia, idade, deficiência, orientação sexual, identidade de gênero, nacionalidade, situação de 
gestação e maternidade, entre tantas outras nuances. (BRASIL, 2014, p. 5). 
4 A separação de estabelecimentos prisionais em masculinos e femininos é prevista pela Lei 
de Execução Penal (lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984). A destinação dos 
estabelecimentos segundo o gênero, portanto, é um dever estatal, e representa aspecto 
fundamental para a implementação de políticas públicas específicas, voltadas a esse 
segmento. (BRASIL, 2014, p. 15). 
 
20 
2.2 AS PENITENCIÁRIAS FEMININAS E AS MULHERES PRESAS NO BRASIL – 
BREVE HISTÓRICO 
Para compreender a conjuntura atual das mulheres nas prisões 
brasileiras, faz-se necessário um breve resumo do surgimento dos presídios 
femininos no Brasil, bem como da condição à qual as mulheres eram submetidas, 
anterior à construção das primeiras prisões destinadas a elas e os motivos que 
levaram o Estado a pensar em estabelecimentos penitenciários destinados 
exclusivamente para o sexo feminino. 
Durante o período colonial no Brasil, as mulheres eram trancafiadas em 
ambientes juntamente com homens, sendo a esmagadora maioria de prisioneiros do 
sexo masculino. Não existia nenhum aparato legal que definisse a separação por 
sexo no âmbito penal. O que permite supor a insegurança e a instabilidade que 
permeavam o cotidiano das mulheres nestes lugares, sendo que as mesmas não 
tinham proteção nenhuma do Estado. 
Conforme destaca Helpes (2013), as primeiras mulheres presas no Brasil 
foram escravas5; no ano de 1870, durante o Brasil Império, na Casa de Correção da 
Corte, existia um calabouço destinado aos escravos, onde foram aprisionadas 187 
mulheres. Como já citado, nesta época, não existiam penitenciárias exclusivamente 
para mulheres, estas, quando presas, ficavam no mesmo lugar que homens. 
Vários penitenciaristas passaram a demonstrar preocupação com a 
situação dos presídios brasileiros e, concomitantemente, com o problema das 
mulheres privadas de liberdade. Dentre os quais, destaca-se Lemos de Brito, que 
era, segundo Helpes (2013), um funcionário da Corte no Brasil, o qual foi um grande 
influenciador para a construção dos primeiros espaços prisionais destinados às 
mulheres. Em 1923, Lemos de Brito foi incumbido de criar um projeto de reforma 
prisional, sendo assim, ele visitou várias prisões no país para, em 1924, apresentar 
um plano geral, no qual, como Soares e Ilgenfritz (2002) apontam, não se baseava 
no modelo de prisões masculinas. Em contrapartida, ele sugere um novo modelo, 
destacando a premência de um espaço prisional destinado a atender 
especificamente as mulheres. 
 
5 Este fato, segundo Soares e Ilgenfritz (2002), é destacado no Relatório do Conselho 
Penitenciário do Distrito Federal. 
 
21 
Nessa época, as mulheres eram detidas por motivos como: furto, aborto e 
―vadiagem‖.6 A maioria das presidiárias eram prostitutas enquadradas por crime de 
―vadiagem‖. Sendo que, segundo pensamento da época, as mulheres presas por 
outros crimes não deveriam ser colocadas no mesmo lugar que as prostitutas, como 
ressaltam Soares e Ilgenfritz (2002, p. 54): 
[...] Havia um juízo moral subjacente no discurso dos que elaboravam 
esses relatórios, que os levava a discriminar e proteger as presas 
comuns condenadas por infanticídio, aborto, furto, etc., 
diferenciando-as daquelas detidas pela polícia e enquadradas nas 
contravenções de vadiagem ou embriaguez. Ocorre que a maioria 
das mulheres que a polícia de costumes prendia e enviava para a 
prisão era de prostitutas, detidas sob o qualificativo de vadias ou 
desocupadas (―sem officio‖) ou que proviam ―a subsistência por meio 
de ocupação prohibida por lei, ou manifestadamente ofensiva da 
moral e dos bons costumes‖ 
É possível observar que tudo aquilo que fugia dos ―padrões‖, que afetava 
a ―moral‖, era perigoso e precisava ser combatido. A prostituição feminina era um 
exemplo explícito disso. O julgamento social pesava muito para as ocorrências de 
prostituição, enquadradas como crime de ―vadiagem‖ por ser uma prática proibida 
por lei e por ser uma ofensa aos princípios morais e aos bons costumes.7. 
A partir da década de 1930, várias mudanças passam a acontecer no 
Estado Brasileiro, ainda que sutis, voltadas para o Sistema prisional e Penitenciárias 
Femininas, de que Lemos de Brito foi grande incentivador. 
A partir de 1930, com o Estado Novo, temos uma série de mudanças 
substanciais no Estado Brasileiro, o que inclui, em 1940, uma 
reforma penal, com o objetivo de centralizar o Sistema Penitenciário. 
Fora criada uma comissão, presidida por Lemos de Brito, que 
apresenta um projeto de criação da Penitenciária de Mulheres, da 
Penitenciária Agroindustrial e do Sanatório Penal. (HELPES, 2013, p. 
171) 
 
6 Conforme Garzoni (2007), vadiagem era uma contravenção estabelecida no Código Penal 
da República, onde, de acordo com o artigo 399, estavam enquadrados todos aqueles 
considerados desocupados, sem ofício, sem residência certa e que desempenhassem 
ocupação proibida por lei, como também que afetasse a moral e os bons costumes. 
7 Assim, notamos que o próprio Conselho Penitenciário discriminava as ―mais sujas‖ dentre 
as ―mais sujas‖ da sociedade. E quem são elas? São justamente as que não cumprem seu 
papel de mulher, que não possuem sua sexualidade voltada para a satisfação do marido e 
para a procriação dos filhos. As prostitutas eram, dessa forma, as piores criminosas aos 
olhos da sociedade, sem, contudo, terem cometido crime algum. Helpes (2013, p. 170). 
 
22 
O projeto elaborado por Lemos de Brito e outros membros de comissão, 
dentre os quais Heitor Carrilho8 e Roberto Lira9, para criação da Penitenciária Agro-
Industrial, da Penitenciária de Mulheres e do Sanatório Penal, desencadearam as 
demais reformas penais e processuais. Este projeto foi elaborado e aprovado, 
especificamente por homens, estando Lemos de Brito a frente, como Soares & 
Ilgenfritz (2002, p. 56) ressaltam, que o mesmo ―dedicou longo tempo de sua vida a 
tecer uma rede de proteção e repressão ao redor das mulheres presas.‖. 
Vale salientar que Lemos de Brito e todos demais que apoiavam seus 
ideais e também contribuíram para impulsionar a construção das instituições 
prisionais para o público feminino queriam, sim, chamar atenção dos órgãos 
governamentais para a situação das mulheres nos presídios, bem como melhorar as 
condições das mesmas, criando espaços destinados especialmente para elas, em 
contrapartida, também garantir o sossego, o bem-estar dos homens encarcerados, 
pois, como ressaltam Soares & Ilgenfritz (2002, p. 57) ao referenciar a Lemos de 
Brito: 
[...] ele enfatiza a necessidade de separar as mulheres dos homens e 
de colocá-las longe dos presídios masculinos, para assim evitar a 
influência perniciosa que elas poderiam causar. O autor justifica seus 
pontos de vista mencionando que ―a ciência penitenciária tem 
sustentado sempre que as prisões de mulheres devem ser 
inteiramente separadas das destinadas a homens. É que a presença 
das mulheres exacerba o sentimento genésico dos sentenciados, 
aumentando- lhes o martírio da forçada abstinência‖. 
O trecho acima é revelador ao contrapor o discurso de ―proteção à mulher 
e sua dignidade‖ de tornar as instalações dos presídios mais cômodas, antes disso, 
era necessário garantir paz e tranquilidade para os homens encarcerados. 
Estudos sobre a mulher e sua relação com a criminalidade não foram 
muitos e demoraram a emergir. Isso se dá ao fato do papel social que a mulher tinha 
e ao espaço limitado que lhe era concedido, dessa forma,os crimes cometidos por 
mulheres eram, em questão de números, insignificantes. Mas, como destaca Ronchi 
(2017, p.02): ―com o passar do tempo e uma maior inclusão da mulher, 
reconhecendo igualdade nos direitos e deveres, surgiu a necessidade de estudar a 
 
8 Médico psiquiatra e professor brasileiro. 
9 Advogado, promotor de justiça, jurista, professor e político brasileiro. 
 
23 
criminalidade feminina com suas peculiaridades, além de pensar o espaço da prisão 
para mulheres.‖. 
Ainda segundo Ronchi (2017), os primeiros estudos científicos 
relacionados ao crime e ao criminoso, que trouxeram avanços, ainda que 
insuficientes, mas significantes para o estudo da criminalidade feminina, foram os do 
psiquiatra Cesare Lombroso, do jurista Raffaele Garofalo e do criminologista Enrico 
Ferri. 
Cesar Lombroso escreveu, junto com Guglielmo Ferrero (importante 
historiador, sociólogo), a obra ―La Donna Delinquente, La Prostituta e La Donna 
Normale‖, que se tratava de um estudo feito sobre a mulher criminosa, em que, de 
acordo com Ronchi (2017), ele buscou descrever o perfil da mulher considerada 
―normal‖ para os padrões impostos à época, a prostituta e a mulher criminosa. Cesar 
Lombroso tinha o pensamento de que as mulheres eram ―inferiores‖ aos homens, 
por este motivo que o índice de mulheres que cometiam crimes era menor; para 
Lombroso, o desvio de conduta de uma mulher era uma questão de problema 
mental, prostituição ou o fato de ser delinquente. 
Contudo, com o crescimento da população carcerária feminina e a partir 
dos estudos voltados para esta questão, foram construídos os primeiros espaços 
prisionais específicos para mulheres entre 1930 e 1940. 
No entanto, estabelecer uma divisão por sexos não era o suficiente. Era 
preciso estipular o regimento pedagógico que prevaleceria nos presídios femininos a 
partir de então. Era primordial que aquelas mulheres criminosas, de alma 
―pecaminosa‖, fossem transformadas em mulheres ideais, conforme os padrões 
estabelecidos na época. Donas do lar, educadas, obedientes, talentosas nos 
afazeres domésticos, excelentes esposas, mães e religiosas. 
Sendo assim, as primeiras iniciativas voltadas para as mulheres 
presidiárias passaram a ser de responsabilidade das Freiras, especificamente as 
Irmãs do Bom Pastor10, como se estas tivessem como missão reeducar as 
encarceradas, pois o fato de a mulher estar presa era mais que um desvio de 
 
10Ao longo de quase dois séculos de história, a Congregação administrou diversos tipos de 
instituições voltadas sempre para meninas e mulheres em situação de risco ou abandono. 
Dirigiu desde escolas primárias e secundárias, orfanatos, reformatórios, até instituições 
carcerárias, sendo a última o foco central do trabalho das Irmãs durante boa parte do século 
XX no Brasil. (KARPOWICZ, 2016, p.8) 
 
24 
conduta, era uma questão moral, e a mulher precisava ter os valores morais 
resgatados. 
Após a leitura dos fatos supracitados, podemos observar a forma 
através da qual o Estado Brasileiro lidava com as presidiárias. Como 
passar para as mãos de religiosas uma questão que deveria ser 
tratada como segurança pública? Porque, nos casos das prisões 
masculinas, o órgão estatal já era o responsável pela administração 
penitenciária, enquanto no caso da prisão feminina, tal atribuição era 
relegada às freiras? Isso nos leva a crer, que, de acordo com o 
entendimento do Estado Brasileiro naquele período, o problema das 
mulheres criminosas era, antes de ser uma questão social, que deve 
ser resolvida pelo Estado, era, na verdade, uma questão religiosa, 
uma catequização que, se não fora realizada em liberdade, seria na 
prisão. Tal catequização deveria ser capaz de educar a mulher 
infratora para o seu derradeiro papel, de esposa, mãe ou religiosa. 
(HELPES, 2013, p. 172-173). 
Isso mostra que o Estado entendia que mulher praticar um ato ilícito fugia 
de sua conduta ética, ou melhor, fugia de sua ação natural, afinal, praticar crimes 
não era ―coisa‖ de mulher decente. Desse modo, a mulher infratora tinha 
abandonado sua feminilidade e precisava urgentemente voltar a ser mulher, ser 
reeducada aos valores morais, religiosos e familiares. Buscava-se, nesses 
ambientes, o resgate da feminilidade, da dignidade e dos valores, que a detida fosse 
preparada para exercer diversas atividades tidas como ―destinadas para a mulher‖. 
No dia 9 de novembro de 1942, surge, segundo Soares & Ilgenfritz 
(2002), a primeira Penitenciária Feminina, criada pelo Decreto nº3971, de 2/10/1941. 
A prisão foi idealizada e passou a ser construída em 1941, mas só foi inaugurada 
em 1942. Anteriormente à fundação da Penitenciária, outros locais já funcionavam 
como ―prisão‖, recebendo apenas mulheres, como já mencionado o Instituto de 
Readaptação Social, em Porto Alegre. Fundada em Bangu, a prisão era 
administrada pelas freiras, que eram responsáveis por manter a ordem, a disciplina 
e a educação das internas. As demais atribuições, como: transporte, alimentação, 
guarda, dentre outros, ficavam a cargo da Penitenciária Central do Distrito Federal 
(FCDF). 
[...] Pelo regulamento interno da prisão, formulado e aplicado pelas 
religiosas, chamado Guia das Internas, as presas só tinham dois 
caminhos para remirem as suas culpas, e ambos supunham que elas 
se transformassem nas perfeitas mulheres piedosas, recatadas, 
discretas, dóceis e pacíficas vislumbradas por Lemos de Brito. 
Dedicadas às prendas domésticas de todo tipo (bordado, costura, 
 
25 
cozinha, cuidado da casa e dos filhos e marido), elas estariam aptas 
a retornar ao convívio social e da família, ou, caso fossem solteiras, 
idosas ou sem vocação para o casamento, estariam preparadas para 
a vida religiosa. Segundo a expectativa das freiras, quando as portas 
da penitenciária se abrissem, a egressa estaria definitivamente 
transformada em um novo ser. [...] (SOARES & ILGENFRITZ, 2002 
p. 58). 
Vale ressaltar que as freiras ficavam responsáveis pela administração 
interna, ou seja, elas tinham autonomia para desenvolver o trabalho de readaptação 
ao convívio social com as internas, fazendo uso das metodologias que lhe 
convinham, no entanto, ainda assim eram subordinadas ao Estado, que era o 
responsável legal da instituição. 
Todavia, apesar de todo o esforço, o projeto na penitenciária de purificar 
as internas, realizado pelas freiras do Bom Pastor, não ocorreu como o idealizado e 
os resultados não foram os almejados. Soares & Ilgenfritz (2002) apontam que os 
relatórios da época falam sobre a evasão das irmãs em decorrência da indisciplina, 
violência e resistência por parte das presas. 
Em 1955, a Penitenciária de mulheres saía, portanto, das mãos das 
religiosas do Bom Pastor e voltava a ser diretamente administrada 
pela direção da PCDF. Em 1966, adquiriu autonomia administrativa e 
recebeu o nome de Instituto Penal Talavera Bruce, sendo 
denominada, atualmente, de Penitenciária Talavera Bruce. Trata-se 
da única penitenciária de segurança máxima do estado do Rio de 
Janeiro destinada às mulheres condenadas a penas altas. Quando 
foi inaugurada, sua capacidade de lotação era de 60 presas, estando 
hoje apta a receber 330 apenadas. (SOARES & ILGENFRITZ, 2002 
p. 62 e 63). 
As transformações ao longo da história da mulher e das penitenciárias 
voltadas para o público feminino são evidentes, hoje existem muitas prisões para 
atender as mulheres no Brasil, no entanto, se nos detivermos a Penitenciárias 
exclusivas para mulheres, o número é reduzido, se comparado ao crescimento da 
população carcerária feminina no Brasil e também à quantidade de presídios 
masculinos (a maioria dos presídios no Brasil são masculinos), como destaca Helpes 
(2013, p.173): 
[...] a maior parte dos estabelecimentos penais que abrigam as 
mulheres criminosas são, na verdade, espaços mistos, ou seja, 
convivem homens e mulheresna mesma unidade, porém em 
ambientes distintos, divididos no interior destes estabelecimentos. 
[...]. 
 
26 
Assim, observamos que muitos presídios são, na verdade, masculinos, 
que, em virtude do aumento de crimes cometidos por mulheres, foram adaptados 
para que pudessem atendê-las. A PES11 de Caicó, assim como a maioria das 
penitenciárias, possui este modelo: é dividida em presídio feminino e masculino, mas 
dentro de uma mesma unidade. 
2.3 ASPECTOS GERAIS DA PENITENCIÁRIA ESTADUAL DO SERIDÓ – O 
PEREIRÃO 
A Penitenciária Estadual do Seridó Desembargador Francisco Pereira da 
Nóbrega, mais conhecida como ―PEREIRÃO‖, está localizada no Bairro Salviano 
Santos, às margens da RN 228, que estabelece ligação entre o município de Caicó e 
São José do Seridó, na Rua da Liberdade, s/n, na cidade de Caicó/RN12. Na época 
de sua construção, o prefeito em vigência era o atual deputado estadual Vivaldo 
Costa. 
Foi inaugurada no ano de 1998, sendo uma obra do Governo do Rio 
Grande do Norte. O governador era o atual senador Garibaldi Alves Filho, o 
Secretário de Interior e Justiça era o atual prefeito da cidade de Natal/RN, Carlos 
Eduardo Alves. O presídio foi construído, na época, com capacidade para 240 
apenados. 
A instituição prisional recebeu o nome de Desembargador Francisco 
Pereira da Nóbrega, como uma homenagem póstuma feita pelo suplente do senador 
Manoel Torres. Segundo Araújo (2015), a construção do presídio custou aos cofres 
públicos cerca de R$ 1.126.424,84. Esta verba fora adquirida por meio de uma 
parceria com a Secretaria de Interior, Cidadania e Justiça. Ainda sobre a construção 
da penitenciária, Araújo (2015 p.50) diz sobre: 
Idealizado e projetado sob a ótica de um discurso moderno e 
humanizado, a Penitenciária Estadual do Seridó – ―Pereirão‖ passou 
a ser uma instituição falha em diversos setores ou em vários serviços 
que poderia dispor aos presos e também aos egressos, dificultando, 
dessa forma, a ressocialização dos mesmos em sua volta ao âmbito 
social. 
 
11 Penitenciária Estadual do Seridó 
12 Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania. Disponível em: < 
http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/sejuc/Conteudo.asp?TRAN=ITEM&TARG=89237&ACT=&P
AGE=& PARM=&LBL=UNIDADES%20PRISIONAIS> 
 
27 
Não fugindo do protótipo que permeia os presídios brasileiros em sua 
maioria, a penitenciária afixada no município de Caicó/RN possui problemas que 
prejudicam o processo de ressocialização dos encarcerados. A tarefa não é simples, 
o Estado precisa reconhecer que é necessário investimento em educação, estrutura, 
trabalho, qualificação e saúde dos reclusos. Primeiramente, é por meio da educação 
que os presos passam a ter conhecimento sobre os seus direitos e deveres, 
reconhecendo que possuem o direito a uma boa alimentação, assistência médica, 
dentre outros. 
O Pereirão foi criado originalmente como um presídio especificamente 
masculino, para apenados em regime fechado, com capacidade máxima para 240 
presos. Em se tratando de sua estrutura física, está dividido em quatro pavilhões, 
como destaca Araújo: 
[...] pavilhão A (triagem)57, composto por 18 celas individuais, 
destinadas aos presos condenados com pena transitado em julgado 
ao regime fechado recém-ingressos e/ou os internos que 
cometessem alguma falta disciplinar; pavilhões B e C (coletivos), 
ambos dispunham de 15 celas cada, todas com capacidade para oito 
internos e, por fim, o pavilhão D (provisório), localizava-se numa área 
de nível de segurança média, composta por cinco celas individuais e 
quatro coletivas com capacidade para três pessoas cada, destinada 
aos presos provisórios, ou seja, aos que ainda não tiveram sua pena 
transitado em julgado. [...] (ARAÚJO, 2015, págs. 49/50). 
Como já citado, o presídio de Caicó-RN foi projetado para recolher 
apenas indivíduos do sexo masculino, no entanto, após a sua inauguração, para 
atender a demanda, viu-se a necessidade de se fazer algo com relação às mulheres 
presas. Sendo assim, o pavilhão D, que, anteriormente, servia como detenção para 
os presos provisórios, passou a funcionar como ―presídio feminino‖. 
A Penitenciária Estadual do Seridó é um presídio nos moldes dos demais 
existentes no Brasil: o rigor, as grades, os portões, o castigo, o caráter punitivo. 
Segue o ―modelo padrão‖ de como se portam e são os presídios brasileiros, salvo 
suas peculiaridades. Com relação à Penitenciária localizada no município de Caicó-
RN: 
[...] podemos observar que sua estrutura física, enquanto uma 
instituição social, mostra-se como que uma fortaleza de muros e 
portões altos com fechamento rigoroso, capaz de receber apenados, 
e controlá-los disciplinarmente, além disso, existe uma guarda 
interna formada por agentes penitenciários, e uma segurança externa 
 
28 
nas guaritas compostas por policiais militares, implementando uma 
vigilância segura e contínua. (NETO, 2003, p.36). 
Toda a estrutura das cadeias, de modo geral, é configurada de modo a 
assegurar à sociedade a vigilância contínua dos apenados. A austeridade de regras 
e normas tende a garantir que os sujeitos que outrora infringiram a lei serão 
monitorados constantemente a fim de não ocasionar perigo à segurança coletiva. É 
evidente que o caráter punitivo da maioria das prisões não tem surtido bons 
resultados, punitivo no sentido de apenas privar o indivíduo de exercer sua 
liberdade. 
A prisão deve ser de caráter ressocializador, ou seja, tornar viável o 
retorno do indivíduo preso à sociedade, sem que o mesmo ofereça riscos de 
convivência no meio social. Assim sendo, Thompson (2002, p.10) destaca: ―E à 
pergunta: alguém já conseguiu fazer prisão punitiva ser reformativa? A experiência 
penitenciária, de mais de cento e cinquenta anos, responde: não, em nenhuma 
época e em nenhum lugar.‖. Portanto, as prisões devem oferecer meios que 
possibilitem ao apenado a oportunidade de se reeducar socialmente. 
Assim, neste cenário de restrição de liberdade, a educação surge como 
uma ponte que liga o sujeito em cárcere à ressocialização. Se o Sistema Prisional 
oferece aos presidiários, formação escolar e profissional de qualidade estará 
consequentemente proporcionando aos internos, mais possibilidades de reinserção 
social, de conseguir um trabalho, corroborando para que os índices de reincidência 
diminuam. 
 
29 
3 A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: NO BRASIL, NAS PRISÕES E NO 
ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE 
O presente capítulo busca discutir sobre os marcos legais da Educação 
de Jovens e Adultos no Brasil, apresentando as leis que a regem, enquanto 
modalidade de ensino, garantindo sua oferta. Neste ponto de vista, é apresentada a 
EJA no espaço prisional, demonstrando as leis que a tornam garantia dentro dos 
espaços de privação de liberdade no país, indo adiante, temos uma breve reflexão, 
sintetizada, da EJA no RN. 
Também pretende apresentar os dados obtidos na pesquisa por meio das 
visitas in lócus, expondo como é sistematizado o processo educacional, além de 
como se relacionam e interagem os principais sujeitos deste processo, relatando 
suas dificuldades para com a aprendizagem e com a busca pela ressocialização. 
3.1 REFLEXOS DA EJA NO ESPAÇO PRISIONAL – CONTEXTO E DESAFIOS NA 
OFERTA/GARANTIA DA APRENDIZAGEM 
Todos os movimentos sociais, projetos e ações voltadas para a Educação 
de Jovens e Adultos no Brasil, partindo, seja de iniciativas do poder público, ou de 
instituições privadas, bem como de pesquisadores na área, tinham por premência, 
ainda que com objetivos e pontos de vista distintos, combater a difícil situação de um 
grande contingente de pessoas que, por qualquer circunstância, não puderam 
frequentar a escola regular em idade adequada ou se evadiram da mesma, não 
prosseguindo com os estudos. De acordo com o Referencial Curricular da Secretaria 
de Estado da Educação do Estado de Rondônia (2013, p.13), 
A Educação de Jovens eAdultos – EJA é uma modalidade da 
Educação Básica nas etapas do Ensino Fundamental e Médio, que 
visa oferecer oportunidade de estudos às pessoas que não tiveram 
acesso ou continuidade desse ensino na idade própria, assim como, 
prepará-los para o mercado de trabalho e o pleno exercício da 
cidadania. A oferta de cursos aos jovens e adultos proporciona 
oportunidade educacional apropriada, considerando as 
características do aluno, seus interesses, condição de vida e 
trabalho. 
Na atual conjuntura social, econômica e política do nosso país, ser 
alfabetizado e letrado é uma necessidade imprescindível, visto que as disparidades 
sociais, bem como culturais se tornam, a cada dia, mais notórias e preocupantes. A 
 
30 
EJA, enquanto modalidade de ensino, busca mostrar que é possível transformar os 
alunos em sujeitos críticos e autônomos sobre o seu próprio processo de 
aprendizagem e frente aos desafios da sociedade contemporânea; a educação, 
todavia, não deve ser tida como ―salvadora‖, no entanto, é um princípio para que as 
mudanças no cenário social aconteçam. Dessa forma, proporcionando ao sujeito 
imerso neste processo a liberdade para transformar a si mesmo e isto implica refletir 
suas mudanças para o campo social. 
Trata-se de um público heterogêneo que, de forma geral, sente a 
necessidade urgente de se inserir no mercado de trabalho ou até mesmo já trabalha. 
A EJA surge neste cenário para oportunizar que este público consiga concluir os 
estudos, oferecendo meios cabíveis que possibilitam o aluno conciliar a 
educação/escolarização com o trabalho. 
A Educação de Jovens e Adultos neste país é amparada por lei e garante 
o direito de escolarização para todos que não tiveram acesso ou não conseguiram 
concluir a educação básica. 
A Constituição Federal de 1988 não dispõe nada especificamente voltado 
para a Educação de Jovens e Adultos, mas, ao se referir aos direitos legais do 
acesso à educação no país, em seu artigo 205, diz que ―A educação, direito de 
todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a 
colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu 
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho‖. (BRASIL, 
2018, p. 160). 
O artigo citado é expressivo e inteligível, à medida que afirma de forma 
pontual que a educação é um direito de todos, sem qualquer discriminação ou 
exclusão. Deve ser garantida pelo Estado e pela família, ou seja, havendo, entre 
ambos, responsabilidade mútua, afirmando ainda a relevância do papel da 
sociedade, sendo de promovedora e incentivadora. Ainda destaca o principal 
objetivo da educação para a formação do sujeito, que é o alcance do 
desenvolvimento pleno, do preparo para que possa exercer sua cidadania e 
qualificá-lo para o trabalho. 
A Carta Magna de 1988 contempla ainda, em seu artigo 208 e incisos I, II 
e VI, disposições que compreendem, ainda que não nomeadamente na constituição, 
mas, que remetem a EJA, partindo da premissa de que a oferta da educação básica, 
 
31 
enquanto dever do Estado, deve ser também garantida aos que a ela não tiveram 
acesso na idade certa. 
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado 
mediante a garantia de: 
I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 
(dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita 
para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; 
(Redação dada pela EC n. 59/2009) 
II – progressiva universalização do ensino médio gratuito; (Redação 
dada pela EC n. 14/1996) 
VI – oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do 
educando; (BRASIL, 2018, p. 160/161). 
Assim sendo, o ensino para Jovens e Adultos, ainda que não apareça 
explícito na Constituição, é compreendido por ela, podendo ser facilmente 
encorpado pelos incisos apresentados no art. 208, que apontam para a 
universalização do ensino médio gratuito e também para a oferta de ensino noturno. 
A Educação de Jovens e Adultos no Brasil está assegurada na LDB 9.394 
de 20 de dezembro de 1996, cujo aparato legal apresenta, de acordo com BRASIL 
(2005), as diretrizes e bases da educação nacional. O artigo 37º § 1º e § 2º, da LDB 
9394/96, dizem: 
Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que 
não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino 
fundamental e médio na idade própria. 
§ 1o Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e 
aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, 
oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as 
características do alunado, seus interesses, condições de vida e de 
trabalho, mediante cursos e exames. 
§ 2o O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a 
permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e 
complementares entre si. 
Na LBD 9394/96, é possível perceber que a EJA é abordada com clareza 
e são estruturadas as diretrizes para a mesma, referentes ao âmbito educacional. É 
enfatizada no § 1º a garantia da EJA, enquanto modalidade de ensino gratuita, 
indicando que as especificidades do aluno ingressante na EJA devem ser 
 
32 
consideradas no processo. O §2º mostra que o Poder Público deve possibilitar e 
estimular não somente o acesso do trabalhador na instituição escolar, mas sua 
permanência. 
No marco destes progressos, destacamos ainda o Parecer CNE/CBE13 Nº 
11/2000, que apresenta diretrizes para Educação de Jovens e Adultos. O parecer 
identifica que o atendimento à EJA se trata de um público específico, deve-se, 
portanto, no processo educativo, considerar tais especificidades. Para Aguiar (2009 
p. 105), a Educação para Jovens e Adultos ―[...] se pautará pelos princípios de 
equidade, diferença e proporcionalidade na apropriação e contextualização das 
diretrizes curriculares nacionais e na proposição de um modelo pedagógico próprio.‖. 
O parecer realça que a educação para esta população formada por jovens 
e adultos deve amparar, necessariamente, aos trabalhadores, bem como indivíduos 
que se encaixam neste contexto de educação, como Aguiar (2009) cita, as donas de 
casa, os aposentados, os imigrantes e os presidiários. Portanto, a EJA não 
compreende, exclusivamente, a classe trabalhadora, mas todos os que estão 
inseridos neste contexto de segregação, de evasão, que não conseguiram ir avante 
à jornada escolar. 
[...] Essas diretrizes contribuem para eliminar o caráter 
compensatório dessa modalidade e para que ela seja vista como um 
direito inalienável de todo cidadão, além de caminho para enfrentar 
uma imensa dívida social no sentido de reverter uma realidade de 
profundas desigualdades sociais. (AGUIAR, 2009, p. 105). 
Assim, por meio de todas as leis e diretrizes que regem a Educação de 
Jovens e Adultos, podemos conceber que a educação nas prisões surge dentro 
deste processo, integrado ao fator ressocializador. Ora, se a EJA é garantida por lei 
enquanto modalidade de ensino, para oportunizar que todos que da 
educação/escolarização foram afastados, por qualquer motivo que seja, a ela 
retornem, compreendemos que os encarcerados devem estar contemplados nesta 
categoria. 
Portanto, no tocante a leis que regulamentam a Educação para Jovens e 
Adultos no espaço prisional no Brasil, temos a Lei de Execução Penal/LEP que 
organiza o sistema prisional brasileiro, a lei nº 7.210, de 1984. A LEP tem por 
 
13 Conselho Nacional de Educação/ Câmara de Educação Básica 
 
33 
finalidade não apenas validar a determinação judicial, mas também de promover a 
reintegração social dos indivíduos encarcerados. 
Em seu Art. 10., a LEP diz que a ―assistência ao preso e ao internado é 
dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em 
sociedade‖. Desse modo, a lei nos orienta que, além da responsabilidade do Estado 
de garantir assistência ao preso14, o objetivo desta assistênciadeve ser reintegrar o 
preso ao convívio social. Já no Art. 11, a lei desmembra a ―assistência‖ em seis 
vertentes, sendo: ―I – material; II – à saúde; III – jurídica; IV – educacional; V – 
social; VI – religiosa‖. 
A sessão V, da Lei 7.210/84, destina-se às normatizações sobre a 
assistência educacional que deve ser ofertada ao apenado do sistema prisional. Em 
seu Art. 17., a lei dispõe que a ―assistência educacional compreenderá a instrução 
escolar e a formação profissional do preso e do internado‖. Dessa forma, a 
assistência educacional a ser prestada pelas penitenciárias ao interno deve ser de 
escolarização e profissionalização. 
Em 11 de março de 2009, foi lançada a resolução nº 315, pelo Conselho 
Nacional de Política Criminal e Penitenciária/CNPCP, que estabelece as Diretrizes 
Nacionais para a oferta de educação nas prisões brasileiras. Segundo Aguiar (2009), 
esta resolução é resultado de um processo de ―escuta‖ de todos os personagens 
envolvidos com a educação dentro dos estabelecimentos penais. 
3.2 A EJA NO RN: ASPECTOS GERAIS 
De acordo com Araújo (2018), os dados sobre a história da SUEJA, que 
datam do período entre os anos 1970 a 1980, mostram em documentos da SEEC 
que outras ―denominações‖ qualificavam a esfera antecessora à SUEJA, de: 
―Departamento de Ensino Supletivo (DESU) e Subcoordenadoria do Ensino 
Supletivo (SESU).‖. Assim, as políticas responsáveis pela educação e pela 
certificação ficavam a cargo do projeto Minerva16. 
 
14 A lei de execuções penais descreve, detalhadamente, todas as assistências que devem 
ser garantidas ao preso. Vide: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l7210.htm> 
15 Resolução disponível em: 
<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=10028-
resolucao-3-2009-secadi&Itemid=30192 >. 
16 Projeto criado em 1970 para atender os objetivos do governo militar brasileiro que, desde 
1964, propunha mudança radical no processo educativo com a utilização do rádio e da 
televisão. 2001. Disponível em: < http://www.educabrasil.com.br/projeto-minerva/> 
 
34 
Segundo o depoimento de Telma Celena, coordenadora da 
Comissão Permanente de Exames, ainda conhecidos como exames 
supletivos ou banca permanente, o RN, através desse setor que 
antecedeu a SUEJA, passa uma década inteira tendo como política 
de acesso à EJA apenas os exames supletivos de 1º grau, depois 
expandidos com o 2º grau na Escola Estadual Lia Campos (1984). 
[...] (ARAÚJO, 2018, p. 48) 
Araújo (2018) apresenta que, entre os anos 1970 e 1990, organizavam-se 
em uma residência alugada, cujas instalações eram deveras precárias. No entanto, 
no ano 2000, a SEEC divulga o Decreto nº15.035, no qual são criadas as 
subcoordenadorias de ensino, bem como a Subcoordenadoria de Jovens e Adultos – 
SUEJA. 
No mesmo ano, o governo do Rio Grande do Norte também estabeleceu 
convênio com o MOBRAL17, aspirando alfabetizar adultos, como Araújo (2018, p. 51) 
salienta, ―[...] dando prosseguimento ao programa de educação integrada, cujo curso 
correspondia às quatro primeiras séries do ensino de 1º grau, para alunos 
alfabetizados no MOBRAL. [...]‖. 
Foi criado, como afirma Araújo (2018), em 1976, por meio do decreto nº 
6.845, o Centro de Ensino Supletivo Felipe Guerra, na cidade de Natal/RN, estando 
interligado à Subcoordenadoria de Ensino Supletivo, visando receber jovens e 
adultos, para escolarização, no ensino de 1º grau. O atendimento se expandiu no 
ano de 1988, com o parecer 003 de 24 de fevereiro de 1988, para o atendimento de 
jovens e adultos que buscavam se certificar também no ensino do 2º grau. 
Naquele momento, foi demarcada uma política própria do Setor que 
coordenava e articulava a EJA no Estado, antecedendo a 
denominação SUEJA, para ampliação do acesso de pessoas que 
desejavam estudar, fato que, até então não era permitido pelas 
difíceis condições de acesso e de locomoção, e que se tornou viável 
com a realização dos exames supletivos de 2º grau no Centro de 
Ensino Supletivo Felipe Guerra. As normas que regulamentavam 
esse atendimento era o já referido parecer de 1988, e o material 
instrucional vinha do Centro de Estudos Supletivo Lia Campos, que, 
desde 1980, fazia a certificação dos alunos do ensino do 2º grau 
através dos módulos e dos exames supletivos. (ARAÚJO, 2018, 
p.52) 
A datar de 1980, no Rio Grande do Norte, de acordo com Araújo (2018), 
existiam 75 postos de destinação de rádio, ou seja, centros onde ficavam situados o 
 
17 Movimento Brasileiro de Alfabetização, criado pela lei 5.379 de 15 de dezembro de 1967. 
(BRASIL, 1973) 
 
35 
rádio e o aparelho televisor para as aulas. Devido à péssima qualidade no sinal do 
rádio, a SESU acabou por aumentar o ensino presencial. O setor do SESU, após o 
decreto nº 15.035, criado no ano 2000, passa a ser SUEJA, atuando no prédio da 
SEEC, na prefeitura de Natal/RN. Araújo (2018, p.49) assegura que: 
Em meados de 1988, os Exames supletivos passam a ter a 
modalidade profissionalizante, para profissionais com experiências 
nas áreas de Transações Imobiliárias, (corretor de imóveis), Auxiliar 
de Computador, Segurança no Trabalho e Técnico de Enfermagem 
[...]. 
Araújo (2018) destaca que os exames supletivos na época eram ofertados 
apenas àqueles que afirmassem (comprovadamente) possuir dois ou mais anos de 
experiência no setor procurado. No entanto, esta modalidade de cunho 
profissionalizante teve seu término no ano de 1995. Em 1996, a EJA começa a se 
orientar pelo que é estabelecido nos artigos 37 e 38 da LDB nº9394/96. 
Atualmente, permanece o atendimento por meio de provas que 
certificam a conclusão do ensino fundamental e do ensino médio na 
Comissão Permanente de Exames, com idade regulamentada pelos 
referidos artigos da LDB, que é de 15 anos para o ensino 
fundamental e 18 anos para o ensino médio. De forma peculiar, 
como política de acesso, a SUEJA passa a ser certificadora do 
ENEM a partir de 2009, de acordo com a proficiência atribuída pelo 
MEC. Até o ano de 2016, mais de quinhentos estudantes no RN já 
haviam sido certificados pela SUEJA pela condição da nota 
alcançada no ENEM. (ARAÚJO, 2018, p.49) 
Ainda, em conformidade com o que diz Araújo (2018), o objetivo 
primordial da Comissão Permanente de exames, regida pelo parecer 02/2016, é o 
de assegurar a certificação de jovens e adultos que, por consequência do trabalho 
ou situações adversas, não podem comparecer às aulas presenciais. Mas o 
surgimento do ENEM acabou por ganhar outro sentido, ao invés de certificar os 
jovens e adultos em condição de difícil acesso à escolarização pelas questões 
citadas anteriormente, como sugere a lei, passou a certificar jovens com idade 
inferior aos 18 anos de idade, matriculados na rede regular de ensino, que desejam 
concluir os estudos precocemente, visando ingressar no ensino superior por meio de 
uma liminar judicial. 
Araújo (2018, p. 50) ressalta que até que a lei 9.394/96, da nova LDB, 
fosse publicada, o desenvolvimento formal da educação era regido pela lei ordinária 
de Educação nº 5.692/71, os ensinos eram intitulados de 1º e 2º graus, sendo que 
 
36 
para jovens e adultos que se encontravam fora da escola, não a frequentando na 
infância e também na adolescência, o ensino era semipresencial, distribuído em 
módulos e com exames supletivos. 
Para Araújo (2018), os anos 2000, que foram marcados como sendo a 
época de ampliação dos programas de cunho social, bem como o acesso à escola 
em toda a educação básica e ensino superior, também beneficiaram a expansão dos 
meios de suporte à EJA. 
No entanto, Araújo (2018) supõe que, mesmo com a expansão do acesso 
à EJA, por meio dos programas, no Rio Grande do Norte, não se conseguiu firmar 
um protótipo de educação escolar capaz de dar assistência ao público jovem e 
adulto, suprindo suas necessidades de aprendizagem, compreendendo suas 
especificidades.No tocante à EJA nas prisões, a educação para sujeitos privados de 
liberdade no RN teve diversas fases e, conforme Araújo (2018), ―depende da política 
de acesso estabelecida pela SUEJA/SEEC, como também do financiamento que 
mantém programas para esse atendimento [...]‖. Araújo (2018) ainda ressalta que, 
no ano de 2010, a comissão de Direitos Humanos, sob representação do advogado 
já falecido, Marcos Dionísio, estabeleceu uma conexão entre o SEJUC e SUEJA, 
para a concretização do programa Educando para a Liberdade. 
O programa Educando para a Liberdade está baseado em duas 
convicções: (i) a educação é um direito de todos; e (ii) a concepção e 
implementação de políticas públicas visando ao atendimento especial 
de segmentos da população estrutural e historicamente fragilizados 
constituem um modo significativo pelo qual o Estado e a Sociedade 
podem renovar o compromisso com a realização desse direito 
fundamental e com a democratização de toda a sociedade. Tal 
programa é resultado de um importante acúmulo de ações que 
fundamentam políticas públicas de integração e cooperação que vêm 
sendo desenvolvidas entre setores do Ministério da Educação (por 
meio do Departamento de Educação de Jovens e Adultos da 
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade), 
do Ministério da Justiça (Departamento Penitenciário Nacional e 
Secretarias Estaduais de Justiça) e da representação da UNESCO 
no Brasil. (LINHARES & TEODORO, 2010, p. 60). 
No entanto, anterior ao Projeto Educando para a Liberdade (2010), outras 
iniciativas voltadas para o processo educacional nos presídios já existiam, a 
exemplo, o Projeto Fênix, elaborado em colaboração com UFRN na Penitenciária 
 
37 
Estadual do Seridó, no município de Caicó, bem como outras experiências no 
município de Mossoró/RN. 
O programa Educando para a Liberdade/2010/MEC/MJ teve, 
especificamente, quatro ações: criar salas de aulas em presídios do 
Estado em parceria com a SUEJA e o SEJUC; realizar três 
seminários de sensibilização e mobilização da comunidade na 
questão do direito à educação para todos; montar bibliotecas com 
acervos literários que vinham do programa Biblioteca para Todos, e 
formar, em nível de especialização, educadores e agentes que 
atuavam na EJA em meio à privação de liberdade. (ARAÚJO, 2018, 
p.65). 
A experiência do Programa teve saldos positivos, à medida que foi 
aumentando a quantidade de presídios estaduais e Centros de Detenção Provisória 
que aderiram ao Programa. Dessa forma, assim como a EJA no Brasil, em especial 
no Rio Grande do Norte, teve um longo caminho a ser percorrido para atualmente 
ser considerada modalidade de ensino, a Educação para pessoas privadas de 
liberdade enfrenta muitos desafios para continuar subsistindo. 
3.3 CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL SOCIOECONÔMICO DAS INTERNAS 
Nesta costura, para tecer a caracterização do desenvolvimento 
educacional das/e paras as mulheres da Penitenciária Estadual do Seridó, cabe 
tentar construir o perfil socioeconômico destas mulheres, a fim de compreender 
questões acerca de como a educação se entrelaçou ou se desentrelaçou de suas 
vidas e o que as remete à volta para o que foi perdido. 
Segundo dados disponibilizados pelas agentes penitenciárias, em 
entrevista, a Penitenciária Estadual do Seridó possui 54 internas, destas, apenas 10 
estão frequentando as aulas do Ensino Fundamental (séries finais) no presídio. O 
motivo se dá pela falta de profissionais para formar outras turmas. 
Visando desenvolver o perfil socioeconômico das mulheres encarceradas 
na Penitenciária Estadual do Seridó, foram aplicadas entrevistas, com treze 
questões para que fosse possível formular este perfil geral das mulheres 
matriculadas na escola da penitenciária. Os dados gerais que se referem à idade, 
cor, estado civil, naturalidade, profissão e curso profissionalizante estão esmiuçados 
no quadro a seguir. 
 
 
38 
Quadro 1 - Perfil Socioeconômico das Mulheres Encarceradas 
Internas Idade Naturalidade 
Cor/ 
Raça 
Escolaridade 
(anterior ao 
ingresso na 
PES) 
Estado 
Civil 
Profissão Curso profissionalizante 
1 27 anos Natal Negra 6ª série Casada Saladeira Costureira 
2 22 anos 
Jardim do 
Seridó 
Branca 8º ano Solteira Costureira Costureira 
3 21 anos Santa Cruz Parda 6º ano Solteira Agricultora - 
4 19 anos Caicó Parda 8º ano Solteira Pizzaiolo 
Informática e 
empreendedorismo 
5 21 anos 
Marcelino 
Vieira 
Negra 7º ano Solteira Agricultora Curso de pintura 
6 29 anos Natal Parda 7º ano Solteira - - 
7 52 anos 
Currais 
Novos 
Branca 4ª série Casada 
Lavadeira e 
engomadeira 
- 
8 40 anos 
Currais 
Novos 
Branca 6ª série Solteira Artesã 
Curso de doces e 
conservas 
9 24 anos - Parda 4ª série Solteira - - 
10 42 anos 
Currais 
Novos 
Parda 6ª série 
União 
estável 
Diarista Doces e enlatados 
Fonte: Elaborado pela autora, com base em dados coletados por meio de entrevista com as internas na PES, 2018 
 
39 
No que se refere à idade das mulheres presidiárias, é possível 
analisarmos, por meio dos dados dispostos no quadro 1, que 70% das internas se 
encontram na faixa etária de 19 a 29 anos de idade, estando 30% deste contingente 
entre 40 e 52 anos de idade. Comparando os dados do quadro com o relatório do 
INFOPEN, apresentados em capítulo anterior, pode-se inferir que a população 
carcerária é formada basicamente por jovens, pessoas em plena idade produtiva da 
vida, ou seja, aptas a desenvolverem inúmeras atividades laborais e de 
aperfeiçoamento, no entanto, por motivos diversos, acabaram por ingressar no 
sistema prisional. 
Os dados disponibilizados no relatório do INFOPEN, relacionados à idade 
dos presos no Brasil, também refletem como fator preponderante em termos de 
população carcerária jovem, das mulheres inclusas no processo de escolarização da 
penitenciária de Caicó, cuja turma entrevistada é formada basicamente por mulheres 
jovens. 
No tocante à naturalidade das mulheres entrevistadas, podemos 
averiguar que apenas uma interna declarou ser natural da cidade de Caicó, as 
demais são oriundas de cidades distintas do Estado do Rio Grande do Norte, como: 
Jardim do Seridó, Santa Cruz, Marcelino Vieira, Natal e Currais Novos. Apenas uma 
interna optou por não declarar sua naturalidade. A maioria das presidiárias que 
revelaram seu local de origem é da cidade de Currais Novos-RN. 
O gráfico 1 a seguir, demonstra como se autodeclararam as mulheres 
privadas de liberdade na Penitenciária Estadual do Seridó com relação à cor/raça. 
Gráfico 1 - Dados sobre a autodeclaração de Cor/Raça das internas 
 
Fonte: Elaborado pela autora, com base em dados coletados por meio de entrevista com as internas 
na PES, 2018 
20% 
30% 
50% 
NEGRA BRANCA PARDA AMARELA INDÍGENA
 
40 
Logo, podemos avaliar que a maior quantidade de mulheres declarou ser 
de cor parda (50%), seguido pelo segundo maior percentual (30%) que afirmaram 
ser de cor branca, apenas 20% alegaram ser de cor negra. A diversidade é 
perceptível, no entanto, se levarmos em questão a quantidade de mulheres pardas e 
negras, vemos que o número excede demasiadamente ao de mulheres 
autodeclaradas brancas. 
Os dados apresentados no quadro 1 também destacam o grau de 
escolaridade das internas, anterior à condenação, ou seja, a última série que 
cursaram antes de ingressarem no sistema prisional. Como é manifesto no quadro 1, 
todas as internas, antes de ingressarem na prisão, não possuíam sequer o Ensino 
Fundamental completo. Assim, pode-se concluir que, por algum motivo, evadiram-se 
da escola. Dessa forma, por meio de entrevista, conseguimos elencar os motivos 
que conduziram a desistência escolar das mesmas. Foi possível dividir os motivos 
apresentados pelas internas em 4 categorias: Filhos/Gravidez precoce; Trabalho; 
Casamento; e Desmotivação Pessoal, como mostra o gráfico 2, a seguir: 
Gráfico 2 - Motivações para a Desistência da Escola 
 
Fonte: Elaborado pela autora, com base

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