Buscar

AmandaSP-Monografia

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS 
DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL 
 
 
 
 
 
AMANDA SANTOS DE PAIVA 
 
 
 
 
SAÚDE AMBIENTAL E SERVIÇO SOCIAL: uma análise das 
condições socioambientais da população como constituinte da 
garantia do direito à saúde na concepção ampliada do SUS. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL/ RN 
2013. 2 
 
AMANDA SANTOS DE PAIVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SAÚDE AMBIENTAL E SERVIÇO SOCIAL: uma análise das 
condições socioambientais da população como constituinte da 
garantia do direito à saúde na concepção ampliada do SUS. 
 
 
Monografia apresentada ao curso de Serviço Social da 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte como 
requisito parcial à obtenção do título de bacharel em 
Serviço Social. 
 
Orientadora: Profª MS. Juliana Maria do Nascimento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL/ RN 
2013.2 
 
AMANDA SANTOS DE PAIVA 
 
 
 
 
 
 
SAÚDE AMBIENTAL E SERVIÇO SOCIAL: uma análise das 
condições socioambientais da população como constituinte da 
garantia do direito à saúde na concepção ampliada do SUS. 
 
 
Monografia apresentada ao curso de Serviço 
Social da Universidade Federal do Rio Grande do 
Norte como requisito parcial à obtenção do título 
de bacharel em Serviço Social. 
 
Orientadora: Profª MS. Juliana Maria do 
Nascimento. 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
_________________________________________________ 
Profª MS. Juliana Maria do Nascimento - UFRN 
(Orientadora) 
_________ __________________________ 
Profª Dra. Edla Hoffmann – UFRN 
 (Membro Titular Interno) 
________________________________________________ 
Profª Dra. Andréa Lima da Silva– UFRN 
 (Membro Titular Interno) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Catalogação da Publicação na Fonte. 
UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Paiva, Amanda Santos de. 
 
Saúde ambiental e serviço social: uma análise das condições socioambientais 
da população como constituinte da garantia do direito à saúde na concepção 
ampliada do SUS/ Amanda Santos de Paiva - Natal, RN, 2013. 
112f. 
 
Orientadora: Prof.ª M. Sc. Juliana Maria do Nascimento. 
Monografia (Graduação em Serviço social) - Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de 
Serviço social. 
 
 
1. Serviço social - Monografia. 2. Saúde ambiental - Monografia. 3. Meio 
ambiente - Monografia. 4. Capitalismo - Monografia. I. Nascimento, Juliana 
Maria do. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. 
 
RN/BS/CCSA CDU 364.2:61 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho a minha família e aos 
sonhadores. 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço à Deus por me fortalecer nos momentos difíceis. 
À minha mãe Goretti por acreditar nos meus sonhos e por ser meu alicerce. Amo-te 
muito! 
Ao meu pai Arlindo pelo seu apoio incondicional e por seus conselhos. 
À minha irmã Anallicy por ser minha confidente, amiga e companheira. Sinto-me 
grata por ser sua irmã. 
À Ágatha, Romeu, Pérola, Francisco, Arthur, House e Tunico pelos momentos de 
diversão e amor genuíno. 
 
À minha orientadora Juliana por me ajudar na construção do meu caminho 
investigativo. 
À assistente social Brenda Lee por sua disponibilidade e por demonstrar que é sim 
possível uma prática competente seguindo o projeto ético político. 
Às minhas amigas de curso Dalva, Thaysa, Sheyla, Luiza, Geilza, Ana Claudia, 
Patrícia e as demais pelos momentos de felicidades compartilhados. 
Aos docentes por compartilhar seus conhecimentos e por terem contribuído no meu 
processo de metamorfose de uma menina cheia de dúvidas para uma mulher 
completamente apaixonada pela profissão e pelo ideário de um mundo mais justo a 
partir de outra sociabilidade mais justa. 
À minha avó Maria das Dores por ser amor eterno! 
A todos meus familiares pelo apoio, mesmo que o dia-a-dia não deixe tanto tempo 
para desfrutar com vocês momentos de alegrias, saibam que adoro todos vocês! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"Os poderosos podem matar uma, duas ou até 
três rosas, mas jamais poderão deter a 
primavera." (Che Guevara) 
 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho discute aspectos acerca da política pública de saúde a partir da 
mudança paradigmática do conceito da saúde que permitiu ultrapassar seu 
entendimento como ausência de uma enfermidade, assumindo uma ampla 
dimensão. Em seu conceito ampliado, a saúde é resultante das condições de vida 
da população e por tal, engloba a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o 
meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, entre outros 
condicionantes contidos no conceito ampliado de saúde, elencado pelo projeto 
sanitarista nos anos 1980 e legitimada na legislação brasileira em vigor. Nesta 
perspectiva, este trabalho tem como objetivo fomentar a discussão sobre a saúde 
ambiental, prevista pelo SUS, a qual considera a interferência das condições 
socioambientais no processo saúde/doença da população. Esta investigação 
evidencia a atuação do assistente social como um profissional estratégico para a 
luta da efetivação dos ideários da reforma sanitária nos serviços de saúde em que a 
educação popular é uma prerrogativa para o fortalecimento da saúde ambiental. O 
trabalho foi desenvolvido a partir de uma pesquisa bibliográfica, de natureza 
qualitativa para a análise da garantia da saúde a qual para sua efetivação implica 
genuinamente na defesa do meio ambiente e, portanto, questiona o modelo de 
sociedade capitalista. Isto porque a lógica do capital é predatória em relação aos 
recursos naturais, e intensificada em um panorama de crise estrutural do capital. 
Destaca-se a gravidade desta situação como limite ao sistema vigente por a 
devastação ao meio ambiente provocar um desequilíbrio ecológico que atinge todos 
os seres vivos. Todavia, pela própria lógica do capitalismo, os impactos desta crise 
atingem com maior gravidade a população pauperizada ferindo determinantemente a 
garantia do direito à saúde. Por fim, revela a saúde ambiental como estratégica para 
a garantia ao direito à saúde em que se impõe mudanças estruturais seja para o fim 
da crise socioambiental como para a garantia plena da democracia. 
 
Palavras-chaves: Saúde ambiental, meio ambiente, serviço social, capitalismo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
The present work discusses aspects concerning the public politics of health starting 
from the change paradigmatic of the concept of the health that allowed to cross 
his/her understanding as absence of an illness, assuming a wide dimension. In 
his/her enlarged concept, the health is resulting from the conditions of life of the 
population and for such, it includes the feeding, the home, the basic sanitation, the 
environment, the work, the income, the education, the transport, among other 
conditions contained in the enlarged concept of health, part listed for the project 
hygienist in the years 1980 and legitimated in the Brazilian legislation in energy. In 
this perspective, this work has as objective foments the discussion about the 
environmental health, foreseen by SUS, which considers the interference of the 
conditions socioenvironmental in the process health/disease of the population. This 
investigation evidences the social worker's performance as a strategic professional 
for the fight of the effectuation of the ideals of the sanitary reform in the services of 
health in that the popular education is a prerogative for the invigoration of the 
environmental health. The work was developed starting from a bibliographical 
research, of qualitative nature forthe analysis of the warranty of the health which 
implicates genuinely in the defense of the environment for his/her effectuation and, 
therefore, it questions the model of capitalist society. This because the logic of the 
capital is predatory in relation to the natural resources, and intensified in a panorama 
of structural crisis of the capital. He/she stands out the gravity of this situation as limit 
to the effective system for the devastation to the environment to provoke an 
ecological unbalance that it reaches all the alive beings. Though, for the own logic of 
the capitalism, the impacts of this crisis reach with larger gravity the population 
impoverished hurting determinedly the warranty of the right to the health. Finally, 
he/she reveals the environmental health as strategic for the warranty to the right to 
the health in that it is imposed structural changes is for the end of the crisis 
socioenvironmental as for the full warranty of the democracy. 
 
Keywords: Environmental health, environment, social service, capitalism. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. INRODUÇÃO ....................................................................................................................... 9 
2. EFETIVAÇÃO DA SAÚDE NO SEU CONCEITO AMPLIADO NOS SERVIÇOS 
PÚBLICOS DE SAÚDE: UM DESAFIO EM UM PANORAMA NEOLIBERAL .......... 14 
2.1.Movimento da reforma sanitária e a construção do SUS: projetos em disputa ... 20 
2.2. O SUS e seus desafios: entre texto e contexto .................................................. 26 
3.SAÚDE AMBIENTAL E A QUESTÃO SOCIOAMBIENTAL .................................. 33 
3.1.Capitalismo, questão social e crise ambiental ..................................................... 40 
3.1.1.Condições socioambientais da população brasileira ........................................ 49 
3.2. Saúde, meio ambiente e saúde ambiental ......................................................... 57 
3.2.1. Saúde ambiental e SUS: aproximações ................................................................. 61 
3.2.2.Saúde ambiental: um balanço analítico. ........................................................... 72 
4. SERVIÇO SOCIAL NA ÁREA DA SAÚDE E A SAÚDE AMBIENTAL: QUAL É A 
LIGAÇÃO? ................................................................................................................ 79 
4.1. Assistente social na área da saúde: o que se faz? ............................................ 80 
4.2. Saúde ambiental, serviço social e a educação popular: conexões possíveis .... 85 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 94 
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 97 
9 
 
1.INTRODUÇÃO 
 
A garantia da saúde como direito impõe ao Estado a materialização de 
políticas públicas que viabilizem esta conquista na realidade cotidiana da população 
brasileira. A Constituição Federal de 1988 consolidou o conceito ampliado da saúde 
que entende esta como resultante das condições de vida dos cidadãos, ou seja, a 
garantia do direito à saúde envolve em atuações diretas do Estado nas diversas 
dimensões que constituem o ser social: o trabalho, o transporte, a moradia, o meio 
ambiente entre outras. 
 Essa mudança paradigmática do conceito de saúde deferida na legislação 
brasileira em vigor foi resultado dos esforços organizativos de segmentos da 
sociedade, notadamente os profissionais de saúde no que tange a luta pela saúde 
como direito de todos. Essa organização das massas ficou conhecida como o 
Movimento da Reforma Sanitária o qual permitiu a apreensão da saúde como 
consequência da organização social capitalista em que os anseios do capital sempre 
estão acima dos anseios da classe trabalhadora. Por este cenário de tensão e 
interesses divergentes, essa conquista legal que resultou o SUS foi barrada pelo 
interesse do capital na sua implementação. Em que o neoliberalismo fere 
determinantemente os ideários da reforma sanitária ao abrir espaço para o privado, 
ao desresponsabilizar o Estado, renegando, assim, o direito a saúde ao inviabilizar o 
SUS. Apesar destes esclarecimentos, por meio deste avanço legal, infere-se que a 
garantia da saúde implica também na defesa e na proteção do meio ambiente. Isto 
porque a devastação da natureza provoca um desequilíbrio ecológico que não atinge 
somente a vida natural, mas, os impactos vêm sendo sentidos pelos seres humanos, 
atingindo com maior gravidade a população pauperizada. (SCHONS, 2012). 
 Na contemporaneidade, a crise estrutural do capital apresenta-se com 
expressões multifacetadas como a radicalização da questão ambiental em que uma 
serie de desastres naturais estão colocando em xeque a lógica da exploração 
desenfreada da natureza para obtenção de lucro. Desta forma, a crise ambiental é 
temática alicerce para pesquisas que buscam pensar as condições de vida das 
gerações futuras. Apesar da apropriação da questão ambiental pelas mídias com 
ênfase nos impactos do aquecimento global e de uma apreensão equivocada desta 
problemática, pode-se realizar uma prospecção de que a real busca pelo equilíbrio 
10 
 
entre o meio ambiente e o homem estará entre os principais horizontes da 
humanidade para século XXI. 
 E por este panorama de crise ambiental e crise econômica, a defesa do meio 
ambiente está presente e ganha consistência no discurso ideológico apesar da 
própria natureza do sistema capitalista ser exploratório e mercantilizar os recursos 
naturais colocando em risco as condições de sobrevivência para as gerações atuais 
e futuras. Por esse motivo, é que se abre espaço para a discussão da temática seja 
de cunho conservador ou crítico. E é neste cenário que emerge a concepção de 
saúde ambiental que busca promover o entendimento da interferência das condições 
socioambientais no processo saúde/ doença da população. 
 Para a discussão da questão socioambiental e saúde ambiental, pondera-se a 
atuação do assistente social. Destaca-se que a atuação do assistente social nos 
serviços de saúde deve-se efetivar pela garantia dos direitos dos usuários a partir da 
apreensão da interferência dos determinantes socioambientais no processo saúde-
doença. Desta maneira, o debate sobre saúde ambiental é importante como viés 
estratégico para a atuação do assistente social por este trabalhar na área da saúde 
objetivando correlacionar as políticas sociais que se envolvem na garantia do direito 
à saúde em seu conceito ampliado. 
 A partir de seu direcionamento ideopolítico a favor da classe trabalhadora e 
tendo como horizonte a busca por uma ordem social mais justa, este profissional 
deve suscitar a reflexão crítica dos usuários para a discussão de como a garantia da 
saúde está relacionada com suas condições de vida. Assim, em prol da saúde 
ambiental nos serviços de saúde, deve-se ocorrer a problematização da relação 
mercantilista do capital com os recursos naturais impondo o meio ambiente como 
resultado da organização social vigente. Na dimensão pedagógica de sua atuação, o 
assistente social deve instigar a criticidade da população em relação ao processo de 
desigualdade, além de democratizar informações como caminho para concretização 
de direitos. 
 Por tal já exposto, esta análise apresenta como objetivo geral apreender a 
tríade saúde-meio ambiente- indivíduo em um cenário de crise do capital para um 
esforço investigativo de se aprofundar na questão da saúde ambiental com ênfase 
no profissional assistente social neste contexto. Sendo assim, tem-se como objetivos 
específicos: traçar caminhos analíticos que promova a apreensão do obstáculo 
neoliberal para a prática de serviços de saúde públicos no conceito ampliado e nos 
11 
 
ideários da reforma sanitária em que partes foram elencadas pelo SUS; discutir o 
conceito ampliado da saúde a partir da atribuiçãoda vigilância sanitária e ambiental 
do SUS, estas vistas como ações de promoção, proteção, prevenção e controle em 
saúde as quais abrem espaço para as práticas de saúde ambiental nos serviços de 
saúde; investigar a organização social do modelo capitalista a partir da apreensão 
que os riscos ambientais recaem em maior escala sobre a população de baixa renda 
ao trazer dados das condições socioambientais dos brasileiros; e, desvelar a 
importância do assistente social como profissional que estimula a consciência 
sanitária dos usuários a partir da educação popular. 
 A relevância social desta pesquisa é que esta produção de conhecimento 
discute a garantia do direito à saúde dos usuários do SUS- Sistema Único de Saúde 
a partir do conjunto das relações sociais na sociedade capitalista em um cenário de 
crise. E por tal, enaltece-se a defesa da saúde ambiental como estratégica para a 
garantia do direito a saúde, esta só tem sentido por realizar uma crítica a 
predominância irracional do interesse do capital impondo para a concretude plena de 
projetos a favor da classe trabalhadora o horizonte de transformações estruturais.
 Este estudo busca investigar a atuação do assistente social e sua 
contribuição para a consolidação do direito à saúde e da saúde ambiental para 
efetivar realmente o que a Constituição Federal de 1988 propõe em seu artigo 196: 
 
A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante 
políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de 
doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às 
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. 
 
Propõe-se uma análise do fazer profissional do assistente social, para 
subsidiar estratégias e como motor a luta para a superação do capitalismo. Destaca-
se que as condições macrosocietárias impõem limites para o serviço social e, por 
isso, o assistente social deve procurar entender a realidade social em uma 
perspectiva de totalidade. 
 A escolha deste objeto é resultado de experiências acadêmicas na área da 
saúde pública a partir do estágio curricular obrigatório em Serviço Social no 
Programa de Transplante Renal do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL)1 a 
 
1
 A assistente social no programa de transplante renal do HUOL apresenta-se como uma figura 
necessária dentro da equipe multidisciplinar por intervir e orientar os usuários para que seus direitos 
12 
 
qual se pode identificar a importância das condições de vida (as condições sanitárias 
da residência- água, coleta de lixo, esgoto, por exemplo) do usuário para o processo 
pós-transplante para que o transplantado não “perca” o rim doado. Esta experiência 
permitiu a apreensão que as condições sanitárias estabelecem uma relação 
intrínseca com a garantia do direito a saúde. De tal maneira que fomentou a 
intenção de estudo acerca da saúde ambiental visto que saneamento é uma das 
dimensões de proteção ao meio ambiente e promoção a saúde. E também por 
vivências acadêmicas no curso técnico de controle ambiental da IFRN que 
possibilitou uma aproximação com a questão ambiental a partir da realização de um 
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sobre o tema de educação ambiental no 
ambiente escolar. 
 Desta maneira, o recorte social que é objeto desta pesquisa permite conciliar 
duas áreas importantes a partir do estudo crítico da saúde ambiental. A temática 
escolhida busca desvelar uma possível interação da luta da preservação ao meio 
ambiente com a luta para a garantia do direito a saúde, sendo assim, possibilita uma 
necessária articulação de bandeiras de lutas em uma realidade contemporânea em 
que se observa a fragmentação dos movimentos sociais, logicamente respeitando as 
particularidades de cada questão. 
 Em relação a metodologia, a teoria social crítica da tradição marxista foi 
escolhida para orientar e iluminar as análises acerca da saúde ambiental. A opção 
se deu a partir do acúmulo teórico nesta visão de mundo por entendê-la como 
alicerce para apreensão das manifestações e expressões da questão social genuína 
da sociedade capitalista. O procedimento metodológico escolhido é a pesquisa 
bibliográfica qualitativa que permite a análise ao objeto de estudo a partir de uma 
produção de conhecimento já socializado, principalmente, em livros e artigos 
científicos. A principal vantagem e o motivo da escolha é possibilitar ao pesquisador 
uma aproximação a fenômenos mais amplos do que seria capaz realizar 
diretamente, logicamente, que este processo impõe ao discente uma seleção 
rigorosa dos materiais de análise (GIL, 2002). Destaca-se que a pesquisa também 
será documental, esta: “[...] vale-se de materiais que não recebem ainda um 
 
sejam efetivados. A atuação do serviço social no programa desenvolve-se por atendimentos pré-
transplante e pós-transplante. O primeiro envolve o atendimento de pacientes externos os quais estão 
em processo de preparação para um futuro transplante. Esta fase é feita pela realização da avaliação 
social a qual consiste na realização da entrevista social. Esta aponta aspectos centrais das condições 
de vida do paciente. Já, o pós-transplante é o acompanhamento de pacientes os quais se encontram 
internados nas enfermarias depois da realização do transplante. 
13 
 
tratamento analítico.” (GIL, 2002, p.45). Sua vantagem revela-se em fontes ricas de 
dados. Analisam-se neste trabalho, documentos como o da Construção de 
indicadores da saúde ambiental, do Relatório Final da 1º Conferência Nacional de 
Saúde Ambiental e documentos do IBGE, além de investigações do conteúdo da 
Constituição federal de 1988, da lei orgânica da saúde entre outras legislações. 
 A intenção e a importância da realização dessa pesquisa é promover a 
emersão da saúde ambiental como central nos serviços de saúde, inserir o 
assistente social nesta discussão na prática sempre relacionada a uma teoria crítica 
e entender que para consolidar o direito à saúde no sentido ampliado é 
indiscutivelmente investir nas demais políticas sociais e nas condições de vida da 
população e por tal, envolve a defesa de uma ordem social mais justa. Elabora-se, 
então, um percurso analítico que busca analisar a defesa da emersão/fortalecimento 
da saúde ambiental como um dos rumos para a consolidação do SUS em um 
cenário de avance do neoliberalismo. 
 Por fim, a sistematização deste trabalho está dividida em cinco grandes 
seções. A primeira é a exposição de elementos introdutórios da pesquisa. A 
segunda aponta a discussão sobre a política pública de saúde em um panorama 
neoliberal no qual ocorre a intensificação das expressões da questão social com 
precarização dos direitos sociais conquistados em processos de lutas, além da 
realização de um balanceamento do percurso histórico do direito a saúde em que as 
iniciativas em saúde, indiscutivelmente, atendiam (e ainda atendem) demandas para 
avanços econômicos a partir do descaso estatal com a dimensão social. A outra 
seção expõe o debate crítico sobre a questão socioambiental em um cenário de 
crise do capital no qual os limites deste modo de produção se evidenciam, todavia, 
são incorporados ao projeto conservador. Nesta perspectiva, busca-se debater o 
verdadeiro horizonte do desenvolvimento sustentável, apropriar-se da emergente 
conexão da unidade saúde- meio ambiente pelas condições socioambientais da 
população e desvelar a saúde ambiental no SUS. Já, na quarta seção, ocorre 
ponderações sobre a atuação do assistente social na área da saúde e sua 
contribuição para a consolidação da saúde ambiental ao traçar conexões com a 
educação popular. E na última seção, há asconsiderações finais em que se reafirma 
o nó indissociável do direito à saúde e a defesa ao meio ambiente. 
 
 
14 
 
2. EFETIVAÇÃO DA SAÚDE NO SEU CONCEITO AMPLIADO NOS SERVIÇOS 
PÚBLICOS DE SAÚDE: UM DESAFIO EM UM PANORAMA NEOLIBERAL 
 
"Lutam melhor os que têm belos sonhos." 
(Che Guevara) 
 
Traçar um percurso analítico que busca desenhar estratégias para a 
efetivação do Sistema Único de Saúde – SUS é uma situação desafiadora por esta 
investigação apresentar compromisso científico e político de averiguar a raiz da 
problemática à luz da teoria social crítica. Por tal, o processo reflexivo construído 
buscou superar uma discussão meramente focalizada nas consequencias da não 
implementação dos ideários da reforma sanitária no cenário brasileiro, mas sim, 
apreender o “porquê” de um Estado voltado aos interesses do capital em prejuízo 
orçamentário para as políticas sociais públicas. 
 No cenário contemporâneo, a garantia legal da saúde no Brasil está segurada 
pela Constituição Federal (CF) de 1988 e por outras legislações complementares 
como a lei nº 8142/1990 e a lei nº 8080/1990, esta última determina que a saúde não 
é uma situação simplesmente de ausência de doença, já a lei nº 8142/1990 é 
complementar e discorre sobre participação popular e financiamento do SUS. Visto 
que se seguíssemos a visão biomédica no campo legal, os serviços de saúde 
deveriam direcionar-se para um atendimento puramente de assistência médica. 
Mas, o conceito defendido na CF o qual foi da reforma sanitária, propõe a saúde 
como resultado direto das condições de vida da população. 
 Desta forma, existem perspectivas que abordam de forma diferenciada o 
conceito e a concepção de saúde, isso é compreensível, mesmo que pensar em 
conceituar a complexidade da realidade social não é uma tarefa fácil, mas, este é o 
primeiro passo para fomentar uma reflexão e prática mais próxima da vida social. 
Vale salientar que qualquer análise/ teoria/ conceito deve buscar uma proximidade 
com a verdade de seu objeto, mas, não ser entendida como definitiva ou absoluta. 
Neste âmbito, identificar uma explicação coerente com a realidade sociohistórica 
para desvelar a problemática da questão é elementar para entender que saúde não 
pode ser limitada a garantia de tratamento das doenças em um espaço hospitalar, 
centrado na figura do heróico médico. (BATISTELLA, 2007). 
 As práticas, os serviços e a política pública de saúde modificaram-se ao longo 
15 
 
dos séculos a partir do próprio entendimento dos determinantes que interferem no 
processo saúde-doença. Destaca-se que não há um objetivo audacioso de fazer um 
balanceamento das iniciativas públicas em um averiguar aprofundado no horizonte 
da historicidade, no entanto, é um equivoco abordar a conquista do SUS sem 
realizar um pequeno percurso da relação do Estado com a saúde até que esta seja 
tomada como uma de suas responsabilidades. 
 Segundo Bertolli Filho (2002), no período de colonização do Brasil por 
Portugal, no século XVI, houve a busca de soluções para o problema da proliferação 
de doenças trazidas pelos europeus ao grande país- colônia a partir da ameaça do 
projeto de exploração econômica no Brasil fracassar, então, promoveu-se medidas 
para atender os problemas de saúde da população. A medida adotada, todavia, era 
bastante pontual por atentar na assistência curativa promovidas por médicos vindo 
da Europa e não nas condições de vida da população, por tal essa investida foi 
insatisfatória e não possibilitou o impacto esperado. Além disso, teve-se problemas 
na implementação como poucos médicos para o dimensionamento continental do 
país, por ser um serviço pago e pelo medo da população dos processos medicinais 
(através de purgantes e sangrias) inibiram a adesão das massas ao tratamento.
 Desde dessa época, observa-se adesões de medidas verticalizadas 
entendendo a população como meras “máquinas” que precisam de um “concerto” só 
que se olvidaram de ações que buscavam informar a população sobre suas 
condições de saúde e sobre os métodos de tratamentos disponíveis, além da falta 
de intervenções diretas nas suas condições de vida. Por utilizar a faceta de um 
Estado repressor e autoritário, o povo via essas medidas com estranhamento e 
negação. Outro exemplo disso seria a epidemia de varíola a qual tinha a prevenção 
feita a partir da mesma lógica das vacinas, pelo desconhecimento, a população 
recusava-se a tomá-la. 
 No século XIX, a partir da vinda da corte portuguesa, houve a construção de 
centros de formação de médicos e sobre a higiene pública. Nesse período, o retrato 
da saúde no cenário brasileiro ainda era marcado pelas epidemias de varíola, febre 
amarela e cólera. Pela falta de investimentos em medidas sanitárias, além da 
fragilidade do entendimento das causas das doenças promovia a continuidade dos 
surtos epidêmicos. (BERTOLLI FILHO, 2002). 
16 
 
É importante destacar que a população enferma poderia contar com a 
assistência médica das instituições privadas para aqueles com dinheiro 
(a minoria da população) e para os pobres doentes tinham-se os serviços dos 
curandeiros negros ou poderiam se “aventurar” nas santas casas de misericórdia ou 
nos poucos hospitais públicos existentes. Salienta-se que população apresentava 
um grande receio de buscar tratamentos nesses lugares por sua falta de higiene de 
tal forma que eram conhecidos como um lugar de morte (possibilitar o último 
sacramento) e não de vida, por fim, em uma dimensão assistencialista, era uma 
forma de possibilitar uma “morte digna” a população de baixa renda. (BERTOLLI 
FILHO, 2002). 
Uma ação contínua e significativa do Estado na área da saúde só emerge a 
partir da compreensão que as doenças reduziam a vida produtiva da população e 
por conseqüente, impedia o progresso do país. No final do século XIX e início do 
século XX, em uma economia cafeeira exportadora, intensificou-se a intervenção 
estatal na área da saúde. (BRAVO, 2007a; JUNIOR e NOGUEIRA, 2002). Então, na 
fase republicana, houve investimentos em medidas sanitárias nas áreas centrais da 
economia. Isolando das melhorias, a população rural a qual sofria com a pobreza e 
com uma vida insalubre: 
A saúde emergiu como efetiva prioridade de governo no Brasil no 
começo do século XX, com a implantação da economia exportadora 
de café, na região Sudeste. A melhoria das condições sanitárias, 
entendida então como dependente basicamente do controle das 
endemias e do saneamento dos portos e do meio urbano, tornou-se 
uma efetiva política de Estado, embora essas ações estivessem 
bastante concentradas no eixo agrário-exportador e administrativo 
formado pelos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. (JUNIOR e 
NOGUEIRA, 2002, p. 119). 
 
O Brasil ao lançar-se na busca da modernização elaborou as reformas 
urbanistas e sanitárias nas cidades chaves da economia para o crescimento da 
indústria e do comércio, além do mais, observa-se que os investimentos em 
saneamento básico fundiram-se basicamente nas localidades de moradia das elites 
econômicas. (BERTOLLI FILHO, 2002). Para entender que os investimentos em 
saúde pública atendiam os interesses econômicos é só averiguar o braço coercitivo 
do Estado para a questão do avanço sanitário que expulsaram a população pobre de 
17 
 
suas moradias em prol do fim das doenças, sem menores satisfações junto a esta 
população a qual sofria forte vigilância policial para evitar qualquer foco de 
resistência (protestos, passeatas). Todavia, houve, sim, resistências para essas 
ações do Estado, um exemplo seria a Revolta da vacina em 19042. 
 Em rumo ao progresso e pelo equívoco de aderir a um desenvolvimento 
voltado para a satisfação das elites, o cenário brasileiro ficou descompensado. 
Houve a intensificação das desigualdades sociais pela vinda de um contingente de 
trabalhadores imigrantes, pelo desamparo a população negra com ofim da 
escravidão, por um rápido investimento na urbanização e por medidas sanitárias 
excludentes que determinaram o aumento da construção de favelas e cortiços. 
(JUNIOR e NOGUEIRA, 2002). 
 Nesse período de início do século XX, destaca-se a assistência médica aos 
trabalhadores a partir da Lei Elói Chaves de 1923 que constitui a Caixa de 
Aposentadorias e Pensões para os empregados das empresas ferroviárias a qual 
garante a aposentadoria por invalidez, o tratamento médico e a medicamentos entre 
outros benefícios aos contribuintes: 
 
Neste período, também foram colocadas as questões de higiene e 
saúde do trabalhador, sendo tomadas algumas medidas que se 
constituíram no embrião do esquema previdenciário brasileiro, sendo 
a mais importante a criação das Caixas de Aposentadoria e Pensões 
(CAPs) em 1923, conhecida como Lei Elói Chaves. As CAPs eram 
financiadas pela União, pelas empresas empregadoras e pelos 
empregados. Elas eram organizadas por empresas, de modo que só 
os grandes estabelecimentos tinham condições de mantê-las. O 
presidente das mesmas era nomeado pelo presidente da República e 
os patrões e empregados participavam paritariamente da 
administração. Os benefícios eram proporcionais às contribuições e 
foram previstos: assistência médica-curativa e fornecimento de 
medicamentos; aposentadoria por tempo de serviço, velhice e 
 
2
 “A Revolta da Vacina (1904) fazem parte de um processo de apropriação do corpo pela ciência, 
processo este iniciado desde o período de Descartes e que teve sua consolidação no Brasil 
exatamente no início do século XX. Com isto, as pessoas que se rebelaram naqueles dez dias da 
Revolta estavam fazendo-o não só pelo acúmulo de ações autoritárias, ou por estarem perdendo 
suas moradias; era mais que isto estavam, também, perdendo o controle sobre seus próprios corpos. 
Sendo assim a Revolta da Vacina (1904) tem também este aspecto, a luta dos amotinados para 
manter os corpos livres da disciplina e da apropriação.” (MATTOS, 2005, p.8). 
 
18 
 
invalidez, pensão para os dependentes e auxílio funeral. (BRAVO, 
2007a, p. 3) 
 
Em 1926, esta lei é estendida para empresas de outras categorias como os 
marítimos e os portuários. A crise mundial de 1929 afetou a economia cafeeira do 
Brasil que buscou investir na sua industrialização. Na década de 1930, constata-se 
um avanço na legislação trabalhista a partir de adesão de medidas populistas para o 
controle da população: 
 
A necessidade de obter apoio social e político e conferir alguma 
legitimidade ao Estado ditatorial exigiu uma legislação social que 
garantisse maiores direitos aos trabalhadores urbanos. Afinal, já não 
era possível que o governo tratasse a chamada questão social, na 
qual se incluíram os reclamos populares referentes à saúde, como 
uma simples questão de policia, como aconteceu no decorrer de toda 
a Republica Velha. (BERTOLLI FILHO, 2002, p. 32). 
 
Esse impulso pela industrialização constrói um cenário de acelerada 
urbanização e da continuidade do crescimento da massa trabalhadora sem o 
acompanhamento de medidas sanitárias. Aponta que na década de 1930 até antes a 
ditadura militar, a política de saúde brasileira caracterizava-se, principalmente, por 
duas vias de ações: saúde pública e medicina previdenciária. Enquanto, setor de 
saúde pública voltava-se por ações em investimentos nas condições sanitárias da 
população, a medicina previdenciária seriam os benefícios oferecidos pelas IAP- 
Instituto de Aposentadoria e Pensões (BRAVO, 2007ª; REIS, 2010). Esclarece-se 
que as CAPs são substituídas pelos IAPs que são organizadas por categorias e não 
por empresas: 
Surgem, então, em 1933, o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos 
Marítimos (IAPM) e, em 1934, o Instituto de Aposentadoria e 
Pensões dos Comerciários (IAPC) e o Instituto de Aposentadoria e 
Pensões dos Bancários (IAPB). Em 1936 é criado o Instituto dos 
Industriários (IAPI), e em 1938 são reorganizadas algumas caixas 
que dão origem ao Instituto de Aposentadoria e Pensões dos 
Estivadores (IAPE) e ao Instituto de Aposentadoria e Pensões dos 
Trabalhadores em Transportes e Cargas (IAPTEC). (REIS, 2010, p. 
123-124). 
19 
 
 
Apesar da assistência médica ser um dos benefícios, nota-se que este 
sistema fragmentado apresentava disparidade normativa entre os IAPs que afetava, 
principalmente, como o beneficio a assistência médica era fornecido para cada 
categoria profissional. Enquanto o da categoria marítima, a internação médica só era 
coberta até 30 dias, por outro lado, para os trabalhadores da indústria, só a atenção 
médica poderia implicar em uma cobrança adicional. Essas diferenças na oferta de 
benefícios e os serviços serem de baixa qualidade como dificuldades em 
internamentos sendo uma constante em todas as categorias fomentaram a 
discussão para a elaboração de um sistema unificado. Uma medida paliativa para 
atender este anseio veio através da Lei orgânica da previdência social, a lei nº 3807 
de 26/8/1960 a qual manteve o sistema fragmentado mais uniformalizou as regras. 
Todavia, continuou a disparidade de investimentos para a assistência médica em 
cada IAP, por exemplo, 33% dos investimentos dos bancários eram para a 
assistência médica e apenas 8,5% dos industriários eram para estes fins. 
(MERCADANTE, 2002). 
 Em relação ao setor de saúde pública, durante este recorte temporal da 
década de 1940 até meados a ditadura militar, destaca-se o Serviço Especial de 
Saúde Pública (SESP) – anos de 1940- que foi uma iniciativa do governo americano 
como um esforço estratégico da segunda guerra mundial. Esta caracterizou-se por 
adotar medidas sanitária para a região da Amazônia e do Vale do Rio Doce. O 
cenário desse período era formado pela pressão dos interesses da medicina privada 
em frente a passividade do Estado o qual o seu papel cabia oferecer empréstimos a 
juros baixos para a construção de hospitais privados e esses hospitais vendiam seus 
serviços aos IAPs, além da falta de investimentos em saneamento básico, pelo alto 
índice de mortalidade infantil e pela baixa expectativa de vida. (BRAVO, 2001; 
BERTOLLI FILHO, 2002; MERCADANTE, 2002). 
 Apesar de um panorama social o qual demandava um maior investimento 
para a política de saúde pública a partir das péssimas condições de vida da 
população as quais fomentavam o quadro crítico descrito acima, a direção estatal 
prosseguiu enfatizando na medicina previdenciária. Focalizando em uma dimensão 
curativa da saúde e não na promoção e prevenção da saúde. Na ditadura militar, em 
1966, os institutos são substituídos ou unificados pelo Instituto Nacional da 
20 
 
Previdência Social –INPS que uniformaliza os beneficiose em 1974, pelo 
desmembramento do INPS cria-se os Instituto Nacional de Assistência Médica da 
Previdência Social-INAMPS. (BRAVO, 2001). 
 Nesse período de ditadura militar, o desenvolvimento da medicina 
previdenciária aderiu ao privilégio do produtor privado. Houve a construção de 
hospitais a partir da concessão de verbas e juros baixos a empresários que visam o 
lucro e não o beneficio ao povo. Neste cenário via-se a medicalização da vida pela 
consolidação do interesse do capital direcionada a lucratividade ao setor de saúde: 
uma medicina curativa e individual, adesão do Estado aos conformes internacionais 
via a indústria farmacêutica e expansão da mercantilização dos remédios. 
(BRAVO,2007a). 
 O processo ditatorial no cenário brasileiro começa a desinflar pelo 
agravamento da crise socioeconômica (aumento da taxa de desemprego, 
crescimento da mortalidade infantil, péssimas condições de vida, aprofundamento da 
dívida externa entre outros) evidenciada a partir do fim do “milagre econômico”, além 
do descontentamento da população com os serviços de saúde, com crise da 
previdência e com mercantilização da saúdeque desperta grupos e forças sociais 
adormecidos: 
Na conjuntura de crise de legitimação do regime autoritário, 
caracterizada por alguns autores como distensão política, a 
ascensão do movimento operário e popular e de outros movimentos 
e organizações políticas de oposição [...] contribui para o 
fortalecimento da sociedade civil e para a ampliação do processo de 
negociação dos movimentos com o Estado, na defesa dos direitos 
mínimos a cidadania. (BRAVO,2007b, p.51). 
 
Nesta efervescência sociopolítica através da luta pela redemocratização do 
país e pela conquistas de direitos que se discute a seguir o movimento de reforma 
sanitária e o redimensionamento da política pública brasileira de saúde a partir da 
conquista legal do Sistema Único de Saúde o qual foi o ponto culminante no âmbito 
de conquista legal da representação dos interesses populares na Constituição 
Federal de 1988. 
 
2.1.Movimento da reforma sanitária e a construção do SUS: projetos em disputa 
21 
 
O movimento denominado de Reforma Sanitária apresenta sua base 
organizativa em terras brasileiras em meados da década de 1970 a partir de 
pesquisas e estudos que constatavam que as péssimas condições de vida da 
população determinavam a elaboração de um povo doente, este era promovido pela 
adesão do país a um desenvolvimento capitalista em prol aos interesses privados 
em que ocorria a concentração de renda nas mãos da burguesia, deixando a 
população que não estava incluída no sistema previdenciário em situação de 
indigente ou carente. (NETO, 1998). 
 A base teórica para o embasamento dos ideários da reforma sanitária vem de 
conjunto de esforços populares e de produção de conhecimentos que além de 
alertas representaram propostas construtivas para a Constituição Federal de 1988. 
Essa mobilização pode ser vista em diversos segmentos e sujeitos políticos. 
Destaca-se no segmento estudantil, a Semana de Estudo de Saúde Comunitária 
(SESAC) que sustentaram idéias vanguardas sobre a saúde. No lado intelectual, 
tem-se o desenvolvimento de experiências universitárias e de serviços de saúde 
com ênfase na apreensão das causas sociais no processo saúde doença e na 
participação popular. Já, em 1976, o CEBES (Centro Brasileiro de Estudos de 
Saúde) foi responsável pela realização de debates sobre a democratização da 
saúde os quais fomentaram a idéia da reforma sanitária inspirada na tradição 
marxista com a preposição de unificação de serviços, participação da população e 
ampliação qualitativa dos serviços. Tem-se também a criação da ABRASCO 
(Associação Brasileira de Pós graduação em Saúde Coletiva) com seus estudos 
relatavos a importância dos determinantes da saúde que subsidiaram a 8a 
conferencia nacional de saúde como a concepção ampliada de saúde entendendo 
esta como resultante das condições de vida da população em um país de 
desenvolvimento desigual. (PAIM, 2007). Por este caminho, “O movimento foi-se 
ampliando, incorporando parlamentares, lideranças políticos, sindicais e populares, 
promovendo debates e divulgando suas idéias.” (NETO, 1998, p.9). 
Nesse ponto da análise, é importante demarcar a importância do avanço 
teórico para melhorias nos serviços de saúde no Brasil. A partir da adesão de uma 
concepção “popular” de saúde haveria um direcionamento de práticas 
comprometidas com interesse das massas. Dessa forma, com a apropriação do 
conceito ampliado de saúde deixa-se para trás a visão negativa da saúde. Nesta a 
22 
 
saúde é entendida como uma situação oposta a um cenário de doença, respaldada 
na concepção biomédica a qual é mais difundida no senso comum. Este fato pode 
ser entendido, pois durante um grande período, os esforços do saber científico 
estavam direcionados a investigação da doença, como se estivesse claro que este 
estudo também era sobre saúde, visto que esta era a ausência de doença. A própria 
nomeação do modelo biomédico permite perceber a exclusão da dimensão social, 
cultural, psicológica como determinantes no processo saúde-doença. (BATISTELLA, 
2007). 
 Destaca-se que esse processo de busca a um redimensionamento 
paradigmático na concepção de saúde foi legitimizada pela 8a Conferencia Nacional 
de Saúde( 1986) que buscou discutir a situação de saúde no Brasil e apresentar 
propostas de democratização da saúde embasadas na reforma sanitária para a 
Assembléia Nacional Constituinte em 1987. Pontua-se que a reforma sanitária tinha 
como bandeiras: a democratização da saúde a partir da ativa participação popular, a 
democratização do Estado fomentando a veia crítica a ditadura e a democratização 
da sociedade e da cultura, estas buscam entender que a saúde por ser resultante da 
organização social, é preciso a promoção um conjunto de mudanças mais 
estruturais. (PAIM, 2007). Revela-se que o próprio conceito ampliado de saúde é 
resultado dos esforços do movimento de reforma sanitária. Destaca-se a definição 
formal para o conceito ampliado registrada no relatório final da 8a Conferência 
Nacional de Saúde: 
 
Em seu sentido mais abrangente, a saúde é a resultante das 
condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio 
ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e 
posse da terra e acesso aos serviços de saúde. Sendo assim, é 
principalmente resultado das formas de organização social, de 
produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis 
de vida. (BRASIL, 1986, p. 4) 
 
Desta forma, a garantia do direito a saúde envolve um ambiente de trabalho 
digno, acesso a alimentação de qualidade e a moradia, direito a educação, defesa 
ao meio ambiente, acesso de um transporte seguro, lazer e liberdade. Neste mesmo 
documento, pauta-se pela primeira vez na história do Brasil, a saúde como direito de 
todos os cidadãos e dever do Estado. Esta concepção possibilita a não 
23 
 
culpabilização do indivíduo pelo seu processo saúde- doença. Mesmo considerando 
importante o cuidado e o estilo de vida da população, ainda impera no discurso 
midiático e na formação do senso comum das massas que a promoção em saúde é 
resultado de hábitos saudáveis de cada pessoa, menosprezando a estrutura 
capitalista e a função do Estado na área da saúde e sua responsabilidade na saúde. 
O conceito ampliado de saúde impõe aos serviços de saúde uma ação 
necessariamente intersetorial que integre diversos direitos sociais para que no fim, o 
direito a saúde seja garantido. Como já demonstrava o projeto da Reforma Sanitária, 
a política de saúde deve ser integrada as políticas sociais e econômicas. Por 
exemplo, as políticas de as.neamento e de proteção ao meio ambiente são 
essencialmente uma ação de saúde: 
 
A Reforma Sanitária e o SUS expressam uma ação resultante da 
sociedade em sua relação com o setor Saúde. No entanto, o conceito 
amplo de saúde, que fundamenta esse processo, não permeou 
outras áreas de interesse público, o que dificulta a interação com os 
órgãos que realizam as políticas de proteção ambiental e de 
saneamento. (BRASIL, 2003, p.28). 
 
 Nesse cenário, a reforma sanitária define como proposta, o Sistema Único de 
Saúde, para a aplicação do conceito ampliado de saúde era necessário colocar um 
ponto final na medicina previdenciária que excluía uma grande parcela da 
população, mas afirmando a saúde como um dever do Estado e direito de todos os 
cidadãos. Primeiramente, o alicerce do pensar em saúde no SUS, é investir na 
existência de infra- estruturas que permitam garantir condições básicas de vida, ou 
seja, a elaboração de ambientes saudáveis para a população em geral. A saúde 
seria resultado de uma série de determinantes que precisam ser trabalhados pelo 
SUS. Todavia, estas ações não devem minimizar os serviços de assistenciais 
médicas. Por tal, a saúde não pode ser algo restrito, deve ser direito de todos. 
 Logicamente que a consolidação da garantia legal deste projeto do SUS não 
foi umaconquista fácil por ser um projeto contra-hegemônico ao interesse mercantil 
nos serviços de saúde. Todavia, fruto de esforços populares,em 1987, ocorre o 
Decreto nº 94.657 que elabora o Programa de Desenvolvimento dos Sistemas 
Unificados e Descentralizados de Saúde – SUDS o qual afirmava a 
24 
 
descentralização, princípio da participação popular e a criação de conselhos de 
saúde. (SOUZA, 2002). 
 A Constituição Federal de 1988, no que tange a garantia do direito à saúde 
seguiu os principais princípios da reforma sanitária. A saúde é incluída no art. 194 
capítulo da seguridade social a qual é formada pelo tripé saúde, previdência social e 
assistência social: 
 A concepção de seguridade social representa um dos maiores 
avanços da constituição federal de 1988, no que se refere à proteção 
social e no atendimento as históricas reivindicações da classe 
trabalhadora. [...] Representa a promessa de afirmação e extensão 
de direitos sociais em nosso país, em consonância com as 
transformações sociopolíticas que se processam. (CFESS, 2009, 
p.15). 
 
Na discussão da seguridade social, destaca-se o modelo bismarckiano o qual 
sustenta a centralidade do trabalho na construção do ser social e busca assegurar 
uma renda ao cidadão em caso de ausência de trabalho, somente se este contribuiu 
com o sistema anteriormente. Esta lógica orientou a política de previdência social. 
Todavia, outro modelo, o beveridgiano que embasou a garantia da saúde e da 
assistência social na carta magna de 1988. Este busca garantir direitos universais e 
proporcionar mínimos sociais para toda a população independente se é contribuinte 
ou não. (BOSCHETTI e SALVADOR, 2006). 
 Os artigos 196 a 200 da Constituição Federal de 1988 apresentam como 
temática o direito a saúde, expõem as diretrizes de atuação dos serviços de saúde 
(descentralização, atenção integral e participação da comunidade), afirmam a saúde 
como livre a iniciativa privada e por último, definem as atribuições do SUS. No ano 
de 1990, tem-se a lei no 8080 a qual busca esclarecer como será a construção do 
SUS através do detalhamento da competência de cada esfera do governo, além de 
afirmar os objetivos do SUS. Também se destaca a lei no 8142/ 1990 que dispõe 
sobre a participação popular na gestão do SUS e sobre seu financiamento. 
 Desta forma e a partir desse arcabouço legal, o SUS apresenta como 
princípios éticos e doutrinários: integralidade, equidade e universalidade. A 
universalidade quer dizer que o SUS é de todos e para todos, tendo em vista a 
saúde como direito elementar de qualquer cidadão. O acesso universal a serviços de 
saúde deve ser fornecido com qualidade a todos que necessitam, enfatizando em 
25 
 
ações preventivas e na diminuição de agravos. O princípio de integralidade envolve 
o atendimento voltado para satisfação do usuário, respeitando a diversidade e para 
tal, é necessário a articulação dos diferentes níveis de atenção à saúde. O último 
princípio é o da equidade a qual busca reduzir as diferenças regionais, sociais e 
individuais existente no Brasil. Por entender que a saúde é fruto da própria qualidade 
de vida da população e das contradições genuínas de uma sociedade capitalista. 
(BRASIL, 2000). 
 O SUS é construído por instituições da União, Estados e Municípios e pelo 
setor privado de forma complementar. Este sistema deve ser descentralizado, pois 
as decisões devem ser tomadas por aqueles responsáveis pela execução, tendo 
como base a regionalização e hierarquizado dos serviços a qual deve ser entendida 
como um planejamento integrado. E para dimensionar este sistema, têm-se as 
modalidades de atenção à saúde: atenção básica (atenção primária), atenção de 
média complexidade (atenção secundária) e atenção em alta complexidade (atenção 
terciária). A atenção básica é a responsável pela proteção e promoção à saúde, 
representada institucionalmente pela unidade básica de saúde. A atenção de média 
complexidade envolve a maioria dos procedimentos necessários para o diagnóstico, 
tratamento e reabilitação. E a atenção de alta complexidade caracteriza-se por 
procedimentos os quais utilizam tecnologia mais avançada e de maior custo. 
(BRASIL, 2000). 
 Logicamente que esta conquista legal não foi um processo sem 
tensionamentos entre os projetos societários antagônicos típicos de uma sociedade 
capitalista em que os anseios populares estão em conflito aos interesses do capital 
que é de expandir sua obtenção de lucro. Desta forma, o capital busca mercantilizar 
também a dimensão social, construindo uma sociedade não para todos, mas para 
aqueles que têm dinheiro. Contudo, mesmo aqueles com posses materiais não terão 
seus desejos contemplando, pois, o horizonte é aumentar o lucro e não atender as 
necessidades sociais. Exemplo disso são as reclamações acerca dos serviços 
oferecidos pelos planos de saúde. Além do mais para pensar na garantia do direito à 
saúde em seu conceito ampliado só o Estado pode e é seu dever prover a 
efetivação de tal. Pois, a partir do instante que os brasileiros migram para os planos 
de saúde, estes entendem erroneamente que estão conseguindo garantir acesso a 
serviços de saúde, só que estão apenas pagando para receber uma assistência 
essencialmente curativa. Sendo assim, fica óbvio que a consolidação do SUS é o 
26 
 
principal caminho para a real garantia do direito à saúde. 
 Durante a construção do arcabouço legal que consolida o direito da saúde, 
nota-se a existência de dois projetos em disputa: o primeiro, a favor da privatização 
da saúde e o segundo, que defendia os ideários a reforma sanitária. A saúde como 
serviço privado era defendida pela Federação Brasileira de Hospitais (FBH) e pela 
Associação das indústrias farmacêuticas. A vitória da Reforma sanitária, enfatiza-se 
no campo legal, deu-se a partir da mobilização social que pressionou os 
constituintes. (BRAVO e MATOS, 2007). 
 Todavia, mesmo com este triunfo, atualmente, nota-se a ofensiva do 
neoliberalismo ao SUS, por isso, na prática, ainda há uma disputa desses dois 
projetos (o privatista e o da reforma sanitária). Em que: “O Projeto de Reforma 
Sanitária, construído a partir de meados dos anos 1970, está perdendo a disputa 
para o Projeto voltado para o mercado ou privatista, hegemônico a partir da década 
de 1990.” (CFESS, 2010, p.11). 
 
2.2. O SUS e seus desafios: entre texto e contexto 
 
 Para apreender a disparidade do SUS legal com o SUS real, é necessário 
aproximar-se analiticamente do mais novo ofensivo inimigo para a implementação 
dos ideários da reforma sanitária em frente a um direcionamento de um Estado que 
busca atender o interesse do grande capital em detrimento aos interesses da 
população brasileira: o neoliberalismo. 
 
A implementação do conceito de seguridade social, previsto no artigo 
194 da CF, já seria um enorme desafio em condições mais 
favoráveis aos movimentos dos trabalhadores. Mas, as condições se 
tornam ainda mais desfavoráveis aos defensores dos direitos sociais 
a partir da década de 1990, com uma nova hegemonia burguesa, de 
cunho neoliberal[...]. (BOSCHETTI e SALVADOR, 2005, p.29). 
 
Por tal, trilha-se um caminho investigativo que busque entender a 
problemática culminante da elaboração de um cenário contemporâneo de 
27 
 
sucateamento e precária infraestrutura dos hospitais, de profissionais da área de 
saúde insuficientes, do aumento da terceirização, da falta de articulação das 
políticas sociais setoriais brasileiras, tais examinados aqui como conseqüências do 
projeto neoliberal o qual é um reflexo dos mecanismos de manutenção do sistema 
capitalista. 
 Segundo Anderson (1995), o nascimento do neoliberalismo data-se no tempo 
posterior da 2o Guerra Mundial e expandia-se em experienciais neoliberais em 
territórios da Europa e da América ao longo da década de 1970 consolidando-secomo hegemônico em parâmetros mundiais nos anos de 1980. O neoliberalismo 
teve suas principais ideias elaborados pelo Friedrich Hayek em 1944 que apresentou 
um ataque enamorado ao Estado de bem- estar social que no período pós-guerra 
respondeu o anseio no capital de barrar o fantasma do comunismo e atender a 
pressão dos movimentos das massas ao trazer por meio de Estado interventista, a 
ampliação dos direitos trabalhistas o qual se conciliou, temporariamente, com o 
crescimento econômico. O Welfare State foi uma “fase de expansão do capitalismo, 
caracterizada por altas taxas de crescimento econômico, ampliação de empregos e 
salários e uma forte intervenção do Estado.”. (MOTA, 2009, p.6). Nesse cenário de 
euforia econômica e até mesmo social, as ideais neoliberais não tiveram sucesso.
 Essa tentativa de conciliar o inconciliável (capital X trabalho) no capitalismo 
teve sem fim em meados da década de 1970 a qual colocou um ponto final no “Anos 
dourados” do capitalismo e no Estado de bem-estar social, abrindo espaço para o 
projeto neoliberal. Para os grupos que defendiam a adesão ao neoliberalismo esta 
crise foi provocada pelo Estado que ao promover garantias sociais possibilitando a 
organização e o fortalecimento dos trabalhadores pelos sindicatos que 
pressionavam o Estado a investir em maiores gastos na dimensão social. 
(ANDERSON, 1995). 
 E desta forma, o neoliberalismo poderia ser a solução “perfeita” para esta 
crise e por tal, defendia que era necessário: “[...] manter um Estado forte, sim, em 
sua capacidade de romper o poder dos sindicatos e no controle do dinheiro, mas 
parco em todos os gastos sociais e nas intervenções econômicas.” (ANDERSON, 
1995, p.14). Por fim, as reformas neoliberais determinam ajustes econômicos, a 
privatização e a defesa que as garantias sociais pelo Estado é um atraso para o 
capitalismo moderno. (SIMIONATTO, 2009). 
 Como se observa os argumentos neoliberais promoveram fortes rebatimentos 
28 
 
para as conquistas de direitos da classe trabalhadora. Por ter como uma de suas 
ideias que a desigualdade é essencial para o avanço do capitalismo houve-se duros 
impactos para os segmentos subalternos os quais sofreram com a maior 
precarização de suas condições de vida através do aumento do desemprego, 
redução dos salários a partir da elaboração de um exército de reserva, destruição de 
trabalhos não-qualificados e a restrição de gastos com as políticas sociais: 
 
O século XXI se inicia com transformações profundas nas políticas 
sociais nos países capitalistas centrais. Se não se pode falar em 
desmantelamento, é inegável que as reestruturações em curso 
seguem em direção de sua restrição, seletividade e focalização; 
(BEHRING e BOSCHETTI, 2010, p.134) 
 
Destaca-se que pensar na hegemonia do Estado neoliberal3, é ver o desafio 
de sua superação pelo seu impacto social, econômico, cultural na vida dos 
brasileiros e nos agravamentos das expressões da questão social4 em vista a 
passividade do Estado. O neoliberalismo “[...] passou afetar tão amplamente os 
modos de pensamento que se incorporou às maneiras cotidiana de muitas pessoas 
interpretarem, viverem e compreenderem o mundo.” ( HARVEY,2008, p.2). 
 Tonet (2009) em sua discussão apresenta que a crise do capital e suas atuais 
respostas, o neoliberalismo e a reestruturação produtiva, atingem todas as 
dimensões da vida do ser social. Visto que as soluções encontradas para o aumento 
da taxa de lucro veio pela maior exploração da classe trabalhadora seja pela 
precarização do trabalho, terceirização, privatização e desmonte dos direitos sociais. 
Algumas das expressões socioculturais discutidas é o caráter manipulatório da 
cientificidade a favor da manutenção da ordem social vigente, a disparidade do valor 
ético com a prática, a mercantilização da atividade artística, a efemeridade e a 
perenidade que paradoxalmente “caminham” juntas: 
 
3
 “ [...] tipo particular de aparelho de Estado cuja missão fundamental foi criar condições favoráveis à 
acumulação lucrativa de capital pelos capitalistas domésticos e estrangeiros.” (HARVEY, p. 7, 2008). 
Contrapondo-se ao Estado de bem-estar social o qual buscava investir no pleno emprego, no 
desenvolvimento econômico e no bem-estar dos cidadãos. 
4
 “A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da 
classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento 
como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, 
da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção 
mais além da caridade e repressão”. (CARVALHO e IAMAMOTO, 1983, p.77) 
29 
 
 
Tudo muda, mas, ao mesmo tempo, nada do que é essencial muda. 
De um lado, os fenômenos imediatos, em todas as dimensões da 
vida, parecem indicar que nada existe de estável. De outro lado, esse 
sistema social parece ter atingido um patamar absolutamente 
insuperável. A sempre proclamada vitória do capitalismo sobre o 
socialismo- uma forma de sociabilidade que, de fato,nunca existiu, é 
exatamente a expressão desse modo de pensar. O capitalismo se 
tornou invencível. (TONET ,2009, p. 14-15). 
 
Entende-se que a partir de uma sociedade imediatista e deste contexto 
sociocultural, ocorre o fortalecimento do individualismo o qual inibe, com outros 
elementos obviamente como o conformismo e o fatalismo, a integração, a união e a 
organização dos trabalhadores impondo a “sensação” que o capitalismo é o fim da 
história... Em que sonhar torna-se cada vez mais difícil. 
 Já, Simionatto (2009) apresenta a crise do capital no que tange a sua 
repercussão ideocultural, esta vem através do fortalecimento do pós-modernismo 
que lança uma ferrenha crítica as grandes teorias sociais como esta sendo incapaz 
de captar as diversidades das realidades impostas pela globalização e seus 
impactos na vida cotidiana dos indivíduos. Deixa-se de lado a totalidade, a 
historicidade e a essência para dar ênfase ao singular, ao micro e ao pontual: “[...] as 
interpretações do pensamento pós-moderno detêm-se na visão distorcida do real, 
apanhado apenas em sua manifestação imediata” (SIMIONATTO, p. 7, 2009). 
Compreende-se que esta discussão é relevante por entender que o projeto 
neoliberal só apresenta êxito pela conquista do consenso da classe trabalhadora 
seja estas conscientes ou não. Além do mais, o pós- modernismo e o neoliberalismo 
repercutem nas políticas sociais que estão cada vez mais focalizadas ao ver o 
problema social na superficialidade e por tal, propõe soluções pontuais que não 
atacam a raiz da questão. 
 Em relação ao cenário brasileiro, este adere ao neoliberalismo em 1990 e 
destaca a particularidade socioeconômica e histórica do Brasil o qual passou por 
desenfreado avanço econômico sem distribuição disto para as grandes massas e se 
a Constituição Federal de 1988 trouxe grandes avanços na perspectivas da garantia 
de direitos, a adesão do neoliberalismo em terras nacionais colocou em xeque todos 
os avanços consolidados na Carta Magma. No Brasil observou-se um ajuste 
30 
 
econômico para as políticas sociais, desmonte/enfraquecimentos dos movimentos 
sociais5 e o aumento do desemprego (MOTA, 2009). 
 Um dos principais componentes ideológicos da reforma neoliberal é a entrega 
da coisa pública para as mãos do setor privado. A partir do entendimento que o setor 
público era atrasado e ineficiente enquanto o privado era capaz de levar ao 
desenvolvimento econômico, então, a privatização era o melhor caminho para o 
crescimento do Brasil. Essa lógica também alcançou a área social. Outro ideário 
neoliberal relevante é o do “Estado mínimo” que foi difundido no Consenso de 
Washington em que o Estado deve tomar medidas básicas na área de educaçãoprimária, saúde pública e de infraestruturas mínimas para a garantia do avanço 
econômico. (SOARES, 2001). Na saúde, “o projeto público de atenção à saúde no 
país – um benefício que o Estado deve promover apenas em certas condições, com 
foco nos grupos mais vulneráveis, ou seja, os pobres sem condição de comprar 
nenhum tipo de serviço privado.”. (ALVES e SILVA, 2011, p.51). 
 Dessa forma, a efetivação do SUS esbarra-se na adesão do Brasil ao 
neoliberalismo que possibilitou a construção de dois “subsistemas” no que tange os 
serviços de saúde no país na contemporaneidade. O primeiro subsistema seria o de 
atendimento básico e o segundo seria de referência ambulatorial o qual é interesse 
do setor privado. (CFESS, 2010). Este contexto restringe o SUS para os pobres e 
enfraquece a luta pela garantia do direito a saúde quando os que têm condições de 
“comprar” a saúde buscam uma solução imediata, atendendo o interesse do capital: 
 
A tarefa do Estado, nesse projeto, consiste em garantir um mínimo 
aos que não podem pagar, ficando para o setor privado o 
atendimento aos que têm acesso ao mercado. Suas principais 
propostas são: caráter focalizado para atender às populações 
vulneráveis através do pacote básico para a saúde, ampliação da 
privatização, estímulo ao seguro privado, descentralização dos 
serviços ao nível local e eliminação da vinculação de fonte com 
relação ao financiamento. (CFESS, p. 11, 2010). 
 
5
 Na contemporaneidade, notam-se as ofensivas do neoliberalismo aos ideários das lutas sociais da 
década de 1970/1980 que naquele período apresentavam um inimigo claro o qual era Estado 
autoritário representado pela ditadura militar. Todavia, a partir do processo de redemocratização do 
Brasil, o Estado brasileiro pela constituição garantiu legalmente uma série de reinvindicações desses 
movimentos e constitui espaços para negociações. Este processo confundiu as bandeiras de lutas 
destes movimentos causando a crise dos movimentos sociais. Este cenário é preocupante ao 
entender que as mobilizações e os movimentos sociais permitem a elaboração de um processo de 
identidade de classe e impõe o questionamento ao sistema capitalista. (GOHN, 2010). 
31 
 
 
O neoliberalismo impõe um ritmo descompensado para a efetivação do SUS 
visto que o Estado se desreponsabiliza para a dimensão social provocando a não 
materialização da garantia do direito a saúde em seu conceito ampliado. Após a 
discussão da conquista legal do SUS em frente ao avance do neoliberalismo, é 
preciso buscar estratégias que fomentem a concretude do projeto da reforma 
sanitária nas práticas dos serviços públicos de saúde. Essa pesquisa debruça-se no 
desafio da garantia do direito a saúde na concepção ampla em um contexto enfático 
nos serviços de assistência médica curativa em detrimento a promoção em saúde a 
partir da emersão e consolidação da saúde ambiental. Ao entender que “[...] os 
Estados neoliberais tipicamente favorecem a integridade do sistema financeiro e a 
solvência das instituições financeiras e não o bem-estar da população ou a 
qualidade ambiental.” (HARVEY, 2008, p.81). 
 Nessa perspectiva, a promoção em saúde deve ganhar destaque nos serviços 
de saúde a partir de investimentos para melhoria das condições de vida da 
população brasileira. É preciso superar a apreensão enfatizada pelo âmbito pós-
moderno e conservador que promoção em saúde é somente mudanças individuais 
de atitude em que o cidadão é o principal responsável por operar tais 
transformações. A promoção da saúde é necessariamente uma política 
necessariamente intersetorial, pois, promover a saúde envolve a garantia a 
habitação, a educação, a alimentação, a renda, ao meio ambiente, a justiça social e 
a equidade. Por fim, a promoção a saúde é entender que a saúde envolve os 
determinantes sociais, ambientais e sociais. (SÍCOLI e NASCIMENTO, 2012). 
 Nesta lógica de compreensão, emerge a Política Nacional de Promoção de 
Saúde de 2006 a qual apresenta como objetivo proporcionar uma melhor qualidade 
de vida a população através da garantia à saúde por intermédio de ações nos seus 
condicionantes como “modos de viver, condições de trabalho, habitação, ambiente, 
educação, lazer, cultura, acesso a bens e serviços essenciais.” (BRASIL, 2006b). 
 Apesar desta garantia, pelo próprio freio neoliberal em ações estruturais, a 
promoção ainda desenvolve-se em ações pontuais como na obesidade, no incentivo 
a uma alimentação adequada, no sedentarismo, no consumo de álcool, no 
tabagismo. Nota-se, então, a disparidade do campo legal que propõe uma promoção 
mais abrangente, todavia, na prática do SUS, restringe-se, majoritariamente, a uma 
32 
 
promoção a saúde pontual, este fato é visto na análise de SÍCOLI e NASCIMENTO 
(2003, p.102): 
Apesar de os princípios estarem razoavelmente desenvolvidos, 
permanece a dificuldade de traduzi-los em práticas coerentes, a 
ponto de as raras práticas que privilegiam a “nova promoção de 
saúde” se encontrarem ainda dispersas e desarticuladas. 
 
Segundo estes autores, a nova promoção em saúde deve apresentar seus 
enfoques nos problemas socioambientais a partir da apreensão dos determinantes 
sociais no processo saúde-doença e para isso, é investir em mudanças das 
condições sociopolíticas e econômicas de tal forma que não se restringem nas 
atuações dos profissionais de saúde: 
 
A “nova promoção de saúde” se propõe a enfocar os determinantes 
gerais, isto é, os socioambientais e econômicos, atuando sobre as 
condições de vida cotidianas e sendo direcionada ao coletivo e à 
defesa dos direitos sociais. Trata-se, portanto, de um processo de 
fomento ao compromisso político (dos gestores e sociedade civil) e 
de impulsão às mudanças sociais. (SÍCOLI e NASCIMENTO, 
2003,p.119). 
 
 Assim, a promoção em saúde deve apresentar uma direção política a favor 
das transformações sociais tendo como um dos seus princípios a participação social 
nos processos de decisão para promover a equidade de condições de uma vida 
saudável para todos que perpassa no fortalecimento da luta por outra sociedade. 
Neste cenário, é preciso a construção de ações de saúde que tenham um horizonte 
além de uma saúde meramente curativa, mas, na dimensão da promoção por 
condições dignas de vida e não somente pela socialização de informações que 
buscam elucidar a população para questões de uma vida saudável só que não 
elabora ambientes saudáveis, estes só serão plenamente construídos em outra 
sociedade. 
 
 
33 
 
3.SAÚDE AMBIENTAL E A QUESTÃO SOCIOAMBIENTAL 
 
 
"Se o capitalismo é incapaz de satisfazer as 
reivindicações que surgem infalivelmente dos 
males que ele mesmo engendrou, então que 
morra!"(Leon Trotsky). 
 
 
 Depois de debruçar-se sobre a concepção de saúde entendendo esta como 
um determinante sociopolítico e também as suas resignificações ao proceder 
histórico a partir da incorporação e do avanço legal da saúde como resultante das 
condições de vida da população, parte-se para a apreensão do debate 
contemporâneo da relação homem, meio ambiente e sociedade capitalista a qual se 
torna elementar para a discussão da saúde ambiental. Esta só pode ser considerada 
dentro desta tríade e encarada, nesta análise, como ponto estratégico para a 
consolidação do SUS. 
 Neste traçar investigativo é imprescindível entender e atestar como a questão 
ambiental antes massiçamente renegada pelo capital, vem nas últimas décadas 
ganhando espaço no debate das “preocupações” do capitalismo e da sociedade. 
Não se pode negar que o “zelo” ao meio ambiente está na “moda”, ou seja, não está 
presente somente nos discursos ambientalistas ou de sanitaristas, mas também, 
vem consolidando-se como uma problemática que precisa ser alvo de ações dos 
governos mundiais e de toda sociedade. Esta preocupação também é vista na 
própria população brasileira.Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), 
em uma pesquisa feita no ano de 2011, 94 % dos entrevistados estão preocupados 
com o meio ambiente e 44% afirmaram que a problemática ambiental deve estar 
acima dos interesses econômicos, além do que 40% acreditam que o crescimento 
econômico e a proteção ao meio ambiente são conciliáveis. Esta cobrança da 
população por ações sobre o meio ambiente também é um dos pontos chaves para 
este direcionamento do capitalismo para tal questão. Entende-se também que esta 
preocupação da população é oriunda pelo aumento das expressões da questão 
ambiental, mas também pelo próprio “bombardeio” midiático sobre o assunto. 
 Destaca-se aqui a mídia como aparelho privado de hegemonia a qual pode 
elucidar o consenso para manutenção da dominação (interesse da classe 
34 
 
hegemônica) ou apresentar pressupostos para sua superação (concepções das 
classes subalternas), ao elencar a própria concepção gramsciana de Estado 
ampliado6. Este não representa unicamente o capital, mas é formulado por tensão 
social, interesses opostos e contrários. Só que os meios de comunicação, por a 
classe burguesa ter a ideologia hegemônica, propagam majoritariamente os ideários 
da classe dominante: “Os veículos ocupam posição distintiva no âmbito das relações 
sociais, visto que fixam os contornos ideológicos da ordem hegemônica, elevando o 
mercado e o consumo a instâncias máximas de representação de interesses.” 
(MORAES, 2010, p.61). É preciso apreender que os meios de comunicação buscam 
manipular as grandes massas para atender as prerrogativas do desenvolvimento do 
capital. (MOREAS, 2010). Ou seja, a questão ambiental a qual se tornou 
emergencial pelos seus impactos é capturada e repassada pela mídia de forma 
equivocada. Estes focalizam que ações individuais a partir de um adestramento 
ambiental e pela propagação da “imagem verde” nas empresas são a melhor forma 
de enfrentamento para a questão. (GAVARD, 2009). Enfim, as pesquisas que 
apontam os impactos ambientais são socializadas para a população nos grandes 
veículos de forma manipulada em que a discussão espraia-se na importância de 
mudanças de hábitos destas sem mencionar que a devastação é fomentada pelo 
modelo de produção vigente. 
 Em vista disso, a propagação do “pensamento verde”7 no senso comum das 
populações e a imagem verde das empresas podem ser entendidas como umas das 
expressões socioculturais da crise do capital ou como outra forma encontrada pelo 
capital de capturar os possíveis alvos de sua contestação para a elaboração de 
respostas que permitam sua manutenção. Se os movimentos ambientalistas 
reivindicavam/ reivindicam a conservação ao meio ambiente, o capital “atende” suas 
pautas ao consolidar a temática ambiental na agenda internacional, todavia, a 
solução encontrada- desenvolvimento sustentável- almeja a regulação do sistema. 
Ocorre a exposição de soluções que culpabilizam o indivíduo pela destruição da 
 
6 O Estado Ampliado incorpora as lutas de classes, os conflitos e os confrontos de projetos societários 
divergentes e antagônicos em que o Estado não é meramente um bloco monolítico e coercitivo. 
(MONTAÑO e DURIGUETTO, 2010). 
7 O pensamento verde seria a preocupação com a proteção ao meio ambiente em vista a 
radicalização da questão ambiental. 
 
35 
 
natureza e que por sua vez, as empresas façam sua parte ao elencar a 
responsabilidade socioambiental que apesar de um discurso ideologicamente 
correto, esta se torna uma estratégia de marketing para as grandes empresas, 
demonstrando assim, o seu real caráter. Por tal, a imagem verde é uma estratégia 
ideológica por parte do modelo de produção vigente que busca mascarar que o 
capitalismo e a preservação ao meio ambiente são inconciliáveis (GAVARD, 2009).
 A partir de informações socializadas pela ONU (Organização das Nações 
Unidas) busca-se realizar uma aproximação com as preocupações ambientais que 
permitiram o percurso de discussão sobre o meio ambiente pelos órgãos 
internacionais. Este fato colocou a temática ambiental em evidência tendo como 
prerrogativa a necessidade de um âmbito interventivo para tal questão seja em 
âmbito de tratados ou documentos. Bem, os primeiros sinais para esta discussão se 
dão como resposta ao processo de industrialização do século XIX. Já, em meados 
da metade do século XX, o coro sobre a defesa ao meio ambiente torna-se mais 
evidente pelo risco da utilização da energia nuclear na segunda guerra mundial e 
dos pesticidas químicos para a qualidade de vida, além dos próprios impactos 
destes ao meio ambiente. 
 Neste panorama de efervescência no cenário socioambiental fomentados 
pelos impactos do avanço tecnológico sem precedentes que atendia o interesse do 
capital, a ONU, em 1972, organiza a Conferência das Nações Unidas sobre o 
Ambiente Humano (CNUMAH), em Estocolmo, na Suécia. Esta conferência foi o 
primeiro marco internacional para com a questão ambiental. Como conseqüência 
teve a Declaração do Meio ambiente a qual consolidou a compreensão que defender 
o meio ambiente é uma meta fundante para a garantia da continuidade da 
humanidade, desta forma, a garantia do direito ao meio ambiente é um dever ético, 
político e moral. Outro avanço foi a instituição da PNUMA (Programa das Nações 
Unidas para o meio ambiente) que tem como objetivos: “ [...] manter o estado do 
meio ambiente global sob contínuo monitoramento; alertar povos e nações sobre 
problemas e ameaças ao meio ambiente e recomendar medidas para melhorar a 
qualidade de vida.”(Site da ONU, 2013). 
 Destaca-se a posição do Brasil ao longo da Conferência de Estocolmo ao 
declarar as diferenças dos problemas ambientais existentes nos países 
desenvolvidos e nos países em processo de desenvolvimento. Para os delegados 
do Brasil, os países periféricos tinham problemas ambientais relativos aos níveis de 
36 
 
pobreza existente, já nos países centrais, a problemática foi vista a partir dos altos 
padrões de consumo. A posição do governo brasileiro era clara, entendia a 
relevância da questão ambiental, todavia, não estava disposto a adotar medidas 
ecológicas que prejudicassem o seu processo de desenvolvimento econômico: “[...] 
o Brasil se opunha ao estabelecimento de imposições globais sobre o meio 
ambiente nacional e defendia com veemência o direito de uma nação explorar seus 
recursos naturais de acordo com as suas prioridades.” (NEVES e DALAQUA, 2012, 
p.15). Por meio disto, a declaração de Estocolmo atendeu as reivindicações do 
Brasil ao defender responsabilidades diferentes para contextos socioeconômicos 
distintos em que os países periféricos se esforçassem em seu desenvolvimento, 
além da garantia da soberania dos Estados na exploração de seus recursos 
naturais.(NEVES e DALAQUA, 2012). 
 Em 1983, teve a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e 
Desenvolvimento ou como ficou popularmente conhecida a Comissão de Brundlant 
que resultou no documento Our common future (Nosso Futuro em Comum). Este 
documento sistematizou os conjuntos de análises e estudos feitos por esta comissão 
como atos preparatórios para Eco 92. O relatório apresentava a discussão sobre o 
uso e ocupação da terra, a questão da água e propriamente os impactos 
socioambientais afirmando que a pobreza é uma das expressões da problemática 
ambiental. E por seu direcionamento conservador, formulou o desenvolvimento 
sustentável o qual será melhor discutido posteriormente. (BARBOSA, 2008). 
 No ano de 1992, tem-se a II Conferência das Nações Unidas sobre Meio 
Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como Eco-92 ou Rio- 92 que se orientou 
pela “[...] convicção de que, com recursos financeiros e tecnologias adequadas, será 
possível reorientar a atividade humana e não ultrapassar os limites que nos 
ameaçam.”(NOVAES, 1992, p.90). Desta forma, não houve formulação

Continue navegando