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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS - BACHARELADO FLÁVIA CAMYLLA DE LIMA COSTA ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS DURANTE O AMADURECIMENTO DOS FRUTOS DE Eugenia astringens E E. uniflora, MYRTACEAE NATIVAS DA FLORESTA ATLÂNTICA Natal - RN Dezembro de 2022 FLÁVIA CAMYLLA DE LIMA COSTA ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS DURANTE O AMADURECIMENTO DOS FRUTOS DE Eugenia astringens E E. uniflora, MYRTACEAE NATIVAS DA FLORESTA ATLÂNTICA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Ciências Biológicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a Obtenção do grau de Bacharel em Ciências Biológicas. Orientador: Prof. Dr. Eduardo Luiz Voigt Coorientador: MSc. Maryelle Campos Silva Natal - RN Dezembro de 2022 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson - -Centro de Biociências - CB Costa, Flavia Camylla de Lima. Alterações bioquímicas durante o amadurecimento dos frutos de eugenia astringens e e. uniflora, myrtaceae nativas da Floresta Atlântica / Flavia Camylla de Lima Costa. - 2022. 24 f.: il. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Biociências, Graduação em Ciências Biológicas. Natal/RN, 2022. Orientador: Prof. Dr. Eduardo Luiz Voigt. Coorientador: Ma. Maryelle Campos Silva. 1. Floresta Atlântica - Monografia. 2. Amadurecimento de frutos - Monografia. 3. Coloração do fruto - Monografia. 4. Conteúdo nutricional - Monografia. 5. Dispersão - Monografia. I. Voigt, Eduardo Luiz. II. Silva, Maryelle Campos. III. Título. RN/UF/BSCB CDU 502/504 Elaborado por KATIA REJANE DA SILVA - CRB-15/351 FLÁVIA CAMYLLA DE LIMA COSTA ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS DURANTE O AMADURECIMENTO DOS FRUTOS DE Eugenia astringens E E. uniflora, MYRTACEAE NATIVAS DA FLORESTA ATLÂNTICA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Ciências Biológicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a Obtenção do grau de Bacharel em Ciências Biológicas. Aprovada em: ______/______/______ BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Eduardo Luiz Voigt Orientador UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE Prof. Dr. Sidney Carlos Praxedes Membro interno UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE Prof. Dr. Leonardo de Melo Versieux Membro interno UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE AGRADECIMENTOS A Universidade Federal do Rio Grande do Norte e todos os funcionários e professores que a compõe; Ao CNPq e à CAPES por contribuir para a realização deste trabalho; Ao Professor Dr. Eduardo Luiz Voigt, por ter me dado a oportunidade de integrar a equipe do Laboratório de Estudos em Biotecnologia Vegetal e pelo excelente conhecimento que adquiri durante esse período. Pela orientação, dedicação e apoio e por ser um profissional admirável que desempenha seu trabalho com maestria; À mestre Maryelle Campos Silva, por ter assumido a missão de me coorientar, pela paciência, dedicação e contribuição durante as análises, que foram imprescindíveis durante esta jornada. À mestranda Hercília Cunha e a Professora Dr. Vanessa Staggemeier, por terem cedido o material coletado para o estudo e contribuído para a produção deste projeto; A todos os companheiros de laboratório, em especial Thomaz, Danilo e Priscila, que me auxiliaram durante a realização dos experimentos e proporcionaram momentos memoráveis de descontração e celebração; Ao meu amigo Willame Marinho, pela dedicação à nossa amizade, por transformar os dias difíceis em risadas, por compartilhar momentos incríveis e estar sempre presente na minha vida independente da situação; Aos meus amigos por terem me dado todo apoio, em especial Hugo, que esteve presente durante toda a graduação, ajudando e tornando tudo mais leve; A minha família por ser meu suporte e me dar apoio e conselhos imprescindíveis nas minhas decisões. RESUMO Espécies de Myrtaceae nativas da Floresta Atlântica potiguar produzem frutos carnosos que podem apresentar variações cromáticas durante o seu amadurecimento. Considerando que ainda não se sabe se estas variações cromáticas são indicativos de maior disponibilidade de nutrientes para os dispersores de sementes, este trabalho teve como objetivo verificar se há alterações nos conteúdos de água, massa seca, amido, açúcares solúveis, proteínas solúveis, aminoácidos livres e compostos fenólicos em frutos de Eugenia astringens e Eugenia uniflora relacionadas com as mudanças de coloração durante o amadurecimento. Para tanto, frutos de E. astringens e E. uniflora foram coletados após completar a fase de expansão; para E. astringens, foram coletados os estágios amarelo, bordô e negro e, para E. uniflora, foram coletados os estágios verde, laranja e vermelho. Nos frutos de E. astringens, não houve alteração no conteúdo de massa seca ao longo do amadurecimento, mas os frutos negros apresentam maiores conteúdos de açúcares solúveis e compostos fenólicos solúveis. Em contraponto, os frutos laranjas e vermelhos de E. uniflora apresentam maior conteúdo de massa seca que os frutos verdes, devido à desidratação. Apesar disso, as alterações cromáticas não estão associadas à acumulação de amido, açúcares solúveis, proteínas solúveis, aminoácidos livres e compostos fenólicos solúveis. Palavras-chave: floresta atlântica; amadurecimento de frutos; coloração do fruto; conteúdo nutricional; dispersão. ABSTRACT Myrtaceae species native to the Atlantic Forest in the North-eastern Brazil produce fleshy fruit that are able to display chromatic variations during ripening. Considering that it is still unknown if these multichromatic displays are markers of nutrient availability to seed dispersers, the aim of this work is to verify if changes in water content, dry weight, soluble sugars, starch, soluble proteins, free amino acids, and soluble phenolics during fruit ripening in Eugenia astringens and E. uniflora are related to colour changes. Thus, fruit of E. astringens and E. uniflora were harvested after the expansion phase; for E. astringens, fruits were collected at the yellow, red, and black stage, while for E. uniflora fruit were obtained in stages green, orange, and red. In E. astringens fruit, no changes in the dry weight were verified along ripening, but black fruit presented higher contents of soluble sugars and soluble phenolics than yellow and red fruits. Conversely, orange and red fruits of E. uniflora showed higher dry weight than the green ones, due to dehydration. However, this multicolour display was not associated to the accumulation of soluble sugars, starch, soluble proteins, free amino acids, and soluble phenolics. Keywords: Atlantic Forest; fruit ripening; fruit colour; nutritional content; dispersion. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Conteúdos de água (A) e teores de massa seca (B) em frutos de E. astringens e E. uniflora em diferentes estágios de amadurecimento.........................................................................................................14 Figura 2 - Conteúdos de amido (A) e açúcares solúveis totais (B) em frutos de E. astringens e E. uniflora em diferentes estágios de amadurecimento.........................................................................................................15 Figura 3 - Conteúdos de proteínas solúveis (A) e aminoácidos livres totais (B) de E. astringens e E.uniflora em diferentes estágios de amadurecimento.........................................................................................................16 Figura 4 - Conteúdo de compostos fenólicos de E. astringens e E. uniflora em diferentes estágios de amadurecimento.........................................................................................................17 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS MF - Massa fresca MS - Massa seca AST - Açúcares solúveis totais AALT - Aminoácidos Livres Totais CFS – Compostos Fenólicos Solúveis SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................9 2 OBJETIVOS...........................................................................................................11 2.1 OBJETIVOS GERAIS..........................................................................................11 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS...............................................................................11 3 MATERIAIS E MÉTODOS.....................................................................................11 3.1 DESCRIÇÃO DO MATERIAL VEGETAL............................................................11 3.2 CONTEÚDO DE ÁGUA E MASSA SECA...........................................................11 3.3 METABÓLITOS SOLÚVEIS................................................................................12 3.4 AMIDO ................................................................................................................13 3.5 PROTEÍNAS SOLÚVEIS.....................................................................................13 3.6 DESENHO EXPERIMENTAL E ANÁLISE ESTATÍSTICA...................................13 4 RESULTADOS........................................................................................................14 5 DISCUSSÃO ..........................................................................................................17 6 CONCLUSÃO ........................................................................................................20 7 REFERÊNCIAS......................................................................................................21 9 1 INTRODUÇÃO A palavra angiosperma, do grego, angio ‘vaso, urna’ e sperma, ´semente´ significa “recipiente da semente” e corresponde ao fruto, o qual é a característica distintiva deste amplo grupo de plantas (ROTH, 1977; MELIKIAN 1981; BOBROV; ROMANOV, 2019). O fruto consiste no produto do desenvolvimento do ovário, que ocorre paralelamente ao desenvolvimento da semente a partir da dupla fecundação (BALAGUERA-LÓPEZ et al., 2020). Essa estrutura é fundamental para a proteção e o desenvolvimento da semente, por regular condições como teor de umidade, temperatura interna e nutrição, assegurando o sucesso da dispersão (ROTH, 1977; MELIKIAN 1981; BOBROV; ROMANOV, 2019). Dentre as várias funções do fruto, destacam-se a proteção e a dispersão da semente. As síndromes de dispersão existentes são divididas nas categorias: anemocoria, dispersão pelo vento, que ocorre através de adaptações estruturais, as quais permitem que a semente seja carregada para longe da planta mãe; hidrocoria, grande responsável pela difusão global de plantas no meio aquático e zoocoria, dispersão por via de animais que ocorre por fixação ao corpo de um animal (epizoocoria), por animais que ingerem e quebram a dormência da semente (endozoocoria) ou através de humanos (antropocoria) (RIDLEY,1930). De acordo com o seu teor de umidade, sua composição e seu modo de dispersão, os frutos podem ser classificados em secos ou carnosos (GOMÉZ et al., 2014; WANG, 2022). Os frutos secos auxiliam na dispersão das sementes de diferentes formas, como a liberação explosiva em frutos deiscentes, o transporte pelo vento por frutos alados e o deslocamento via animais por frutos aderentes (RIDLEY,1930). Os frutos carnosos, por sua vez, têm um maior investimento em adaptações que intensifiquem sua palatabilidade, consequentemente os tornando mais atrativos para dispersores frugívoros. Durante o amadurecimento, ocorrem mudanças na estrutura das paredes celulares, no uso de reservas, na liberação de compostos voláteis e na coloração dos frutos, de forma a torná-los mais macios, adocicados e menos ácidos. (GOMÉZ et al., 2014; ROCH et al., 2019; FENN, 2020). Assim sendo, tais modificações favorecem uma grande variedade de morfologias e disponibilidade de nutrientes, incluindo carboidratos, lipídios e proteínas, além de 10 água, vitaminas, minerais e antioxidantes (HOWE; ESTABROOK, 1977; HERRERA, 1984; CONTRERAS‐CALDERÓN et al., 2011). Além do conteúdo nutricional, outras características, como a coloração do fruto, podem ter evoluído como pistas visuais que auxiliam os animais na identificação e na seleção de frutos (LOMÁSCOLO, 2010; VALENTA et al., 2018). Ainda não é completamente esclarecido se a cor está diretamente relacionada à quantidade de nutrientes presentes no fruto (ALBRECHTET et al., 2018). De acordo com Cazetta et al. (2012), que analisou 105 espécies de plantas dispersas por vertebrados, dentre elas árvores, arbustos, trepadeiras, ervas e hemiparasitas, as propriedades de brilho e saturação da cor dos frutos de algumas das espécies estão correlacionadas com o seu conteúdo nutricional. Por exemplo, conteúdos elevados de açúcares solúveis no fruto podem estar vinculados a uma cor escura de baixa saturação. Tendo em vista que é durante o amadurecimento do fruto que são estabelecidas as suas características sensoriais, é importante compreender as alterações bioquímicas que ocorrem durante esse processo e que favorecem a sua dispersão (KOU, 2021). Dentre as famílias de angiospermas que produzem frutos comestíveis, destaca- se a família Myrtaceae, a qual apresenta alta riqueza de espécies na Floresta Atlântica brasileira (LOURENÇO; BARBOSA, 2012). Na Floresta Atlântica do Nordeste podem ser encontradas 307 espécies de 14 gêneros (FORZZA et al., 2022), dentre as quais destacam-se espécies frutíferas exploradas comercialmente e espécies menos conhecidas. Gêneros como Eugenia possuem uma alta variação de cores de frutos, mas não se tem conhecimento se há correlação da coloração com o seu conteúdo nutricional (GRESSLER et al., 2006). Portanto, a família Myrtaceae possui relevância econômica, já que é utilizada como matéria-prima para produção de alimentos comercializados na forma de geleias, doces, licores e sucos (NAPOLI et al., 2013; GOMES et al., 2020) e também grande importância ecológica, sendo algumas vezes o grupo dominante em áreas de mata atlântica. 11 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Verificar se ocorrem alterações no conteúdo de nutrientes em frutos de Eugenia astringens e Eugenia uniflora em paralelo com as alterações de coloração durante o amadurecimento. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Determinar o conteúdo de água, massa seca, açúcares solúveis, aminoácidos livres, compostos fenólicos solúveis, amido e proteínas solúveis em frutos com diferentes colorações. Verificar relações entre as alterações bioquímicas e a coloração dos frutos. 3 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 MATERIAL VEGETAL Os frutos de Eugenia uniflora foram coletados em árvores localizadas na Floresta Nacional de Nísia Floresta (WR67+8W Nísia Floresta, Rio Grande do Norte) e na Escola Agrícola de Jundiaí (4J8M+2Q Macaíba, Rio Grande do Norte). Os frutos de Eugenia astringens foram coletados em árvores localizadas no Parque Estadual Dunas do Natal (5R85+WXC Natal, RN) e no Santuário Ecológico de Pipa (QWFM+FQ Tibau do Sul, Rio Grande do Norte). Para a seleção dos frutos coletados, foram considerados aspectos fisiológicos como a cor e o estágio de maturação. Após a coleta, osfrutos foram despolpados manualmente e acondicionados em embalagens plásticas do tipo ziplock separados por cor e mantidos a -20 °C. 3.2 MASSA SECA E CONTEÚDO DE ÁGUA Amostras contendo cerca de 200 mg de frutos em três diferentes estágios foram pesadas para a determinação da massa fresca (MF). Estas amostras foram mantidas em estufa a 60º C e pesadas após 72 h para se obter a massa seca (MS). A partir dos dados obtidos, o conteúdo de água foi calculado pela expressão U% = [(MF-MS)/MF] 12 x 100 e expresso em porcentagem. O conteúdo de MS foi determinado pela diferença MS = [100 - % H2O] e expresso em porcentagem. 3.3 METABÓLITOS SOLÚVEIS Para a quantificação dos metabólitos solúveis (açúcares solúveis totais, aminoácidos livres totais e compostos fenólicos solúveis), foram separadas amostras de aproximadamente 200 mg, as quais foram fracionados em pequenos fragmentos e transferidas para tubos com tampa rosqueável. A extração foi feita utilizando 4 mL de etanol 80% (v/v) em banho-maria a 60°C por 30 min. O procedimento foi repetido por mais duas vezes com um volume de 3 mL de etanol 80% (v/v), totalizando 10 mL de extrato. Os extratos foram transferidos para tubos do tipo Falcon de 15 mL e foram armazenados a -20 °C. A quantificação dos açúcares solúveis totais (AST) foi realizada pelo método do fenol-sulfúrico (DUBOIS et al., 1956). Em cada quantificação, foram adicionados 500 μL de amostra, 500 μL de fenol 5% (m/v) e 2,5 mL de ácido sulfúrico P.A. A leitura foi realizada a 490 nm e o conteúdo de AST foi calculado com base em uma curva padrão de D-glicose e expresso em mg.g-1 MS. Para a quantificação dos aminoácidos livres totais (AALT) foi utilizado o método da ninhidrina (PEOPLES et al., 1989). Foram adicionados 1 mL de amostra, 250 μL de tampão citrato 200 mM pH 5,0 e 250 μL do reagente de ninhidrina. Os tubos foram vedados e incubados em banho-maria a 100 °C por 15 min. Após esse procedimento, as amostras foram resfriadas, diluídas com etanol 50% (v/v) e lidas a 570 nm. O conteúdo de AALT foi calculado com base em uma curva padrão de L-glutamina e expresso em mg.g-1 MS. Para estimar o conteúdo de compostos fenólicos solúveis (CFS), foi utilizado o reagente de Folin-Denis (PHILLIPS; HENSHOW, 1977). Em cada determinação, foram adicionados 500 μL de extrato, 500 μL do reagente de Folin-Denis e 1 mL de solução saturada de Na2CO3. O volume da solução foi completado para 10 mL com água destilada, mantido em repouso por 45 min sob baixa luminosidade e lido a 725 nm. O conteúdo de compostos fenólicos solúveis foi calculado com base em uma curva padrão de ácido tânico e os resultados foram expressos em mg.g-1 MS. 13 3.4 AMIDO A extração do amido foi feita a partir dos precipitados da extração dos metabólitos solúveis. Os precipitados foram macerados com 1,5 mL de ácido perclórico 30% (v/v) e centrifugados em Eppendorfs de 2 mL a 10.000 x g por 10 min a 4° C. Os sobrenadantes foram coletados e os precitados foram utilizados em mais duas extrações com 1 mL de ácido perclórico 30% (v/v). No total, foram transferidos 3,5 mL de cada extrato para tubos do tipo Eppendorf de 5 mL. A quantificação do amido foi realizada pelo método da antrona (MORRIS, 1948; YEMM; MILLIS, 1954). Em cada repetição, foi utilizado 1 mL de amostra e 2,5 mL do reagente de antrona. A leitura foi realizada a 620 nm e o conteúdo de amido foi calculado com base em uma curva padrão de D-glicose. Os resultados obtidos foram multiplicados por 0,9 para conversão em amido (McCREADY et al., 1950) e foram expressos em mg.g-1 MS. 3.5 PROTEÍNAS SOLÚVEIS As proteínas solúveis foram obtidas a partir da maceração de amostras com aproximadamente 200 mg em 1,5 mL de tampão Tris-HCl 100 mM pH 7,0. Os macerados foram centrifugados a 10.000 x g por 10 min a 4° C e os sobrenadantes foram coletados e armazenados. Os precipitados passaram por mais duas extrações utilizando 1 mL do tampão, obtendo-se um total de 3,5 mL de extrato por amostra. O conteúdo de proteínas solúveis foi determinado com o corante azul brilhante de Coomassie (BRADFORD, 1976). Em cada quantificação, utilizou-se 500 μL de amostra e 2,5 mL do reagente de Bradford. A leitura foi realizada a 595 nm e a quantidade de proteínas foi calculada com base em uma curva padrão de albumina sérica bovina, obtendo resultados expressos em mg.g-1 MS. 3.7 DESENHO EXPERIMENTAL E ANÁLISE ESTATÍSTICA Amostras de frutos em diferentes estágios de amadurecimento foram tomadas ao acaso para a realização das diferentes quantificações. Em cada quantificação, foram utilizadas cinco repetições por estágio e por espécie. Os resultados foram submetidos à análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de confiança. 14 4 RESULTADOS Os frutos de Eugenia astringens não apresentaram alterações significativas do conteúdo de água (Figura 1A) e MS (Figura 1B) no decorrer do amadurecimento. Em contraponto, nos frutos de Eugenia uniflora, houve diminuição do conteúdo de água (Figura 1A) em paralelo com o aumento do conteúdo de MS (Figura 1B) ao longo do amadurecimento. Tendo em vista a diminuição da turgidez do fruto, especialmente naqueles com cor vermelha, esta alteração se deve à desidratação. Figura 1 - Conteúdos de água (A) e teores de massa seca (B) em frutos de E. astringens e E. uniflora em diferentes estágios de amadurecimento Fonte: elaborado pela autora (2022) Os frutos das duas espécies apresentaram padrões inversos de acumulação de amido e açúcares solúveis no decorrer do processo de amadurecimento. Os frutos de Eugenia astringens apresentam um conteúdo de amido (Figura 2A) superior àquele encontrado nos frutos de Eugenia uniflora. Mesmo assim, em ambas as espécies houve degradação de amido no decorrer do processo de amadurecimento. Em E. astringens, houve uma diminuição de 31,6% do estágio amarelo para o bordô e 63,5% do estágio bordô para o negro (Figura 2A). Além disso, em E. uniflora, ocorreu um decréscimo de 61,3% do estágio verde para o laranja e de 31,6% do estágio laranja para o vermelho (Figura 2A). 15 Nos frutos verdes de E. uniflora, foi verificado um conteúdo de AST (Figura 2B) seis vezes mais elevado que aquele nos frutos amarelos de E. astringens. No entanto, o conteúdo de AST nos frutos negros de E. astringens aumentou nove vezes em relação aos frutos amarelos (Figura 2B). De forma oposta, os frutos laranjas e vermelhos de E. uniflora apresentaram uma diminuição de cerca de 40% no conteúdo de AST em comparação com os frutos verdes (Figura 2B). Figura 2 - Conteúdos de amido (A) e açúcares solúveis totais (B) em frutos de E. astringens e E. uniflora em diferentes estágios de amadurecimento Fonte: elaborado pela autora (2022) No decorrer do amadurecimento dos frutos de E. uniflora, não foram observadas mudanças significativas no conteúdo de proteínas solúveis (Figura 3A). Curiosamente, nos frutos de E. astringens, o conteúdo de proteínas solúveis no estágio bordô é 41,5% inferior ao daquele verificado no estágio amarelo, embora o conteúdo destes compostos não tenha variado entre frutos amarelos e negros (Figura 3A). É notável que o conteúdo de AALT (Figura 3B) nos frutos amarelos de E. astringens e verdes de E. uniflora é 740 e 68 mil vezes mais baixo, respectivamente, que o conteúdo de AST (Figura 2B) nos mesmos estágios. Ainda assim, houve uma diminuição de aproximadamente 97% no conteúdo de AALT do estágio amarelo para os estágios bordô e negro em E. astringens (Figura 3B). No entanto, o conteúdo de 16 AALT se manteve inalterado ao longo do amadurecimento dos frutos de E. uniflora (Figura 3B). Figura 3 - Conteúdos de proteínas solúveis (A) e aminoácidos livres totais (B) de E. astringens e E.uniflora em diferentes estágios de amadurecimento Fonte: elaborado pela autora (2022) Os frutosde E. astringens e E. uniflora apresentaram padrões inversos de acumulação de CFS (Figura 4) no decorrer do amadurecimento. Em E. astringens, houve um aumento de cerca de 27% no conteúdo destes compostos dos estágios amarelo e bordô para o estágio negro (Figura 4). Em contrapartida, em E. uniflora, ocorreu um decréscimo de aproximadamente 36% no conteúdo de CFS do estágio verde para os estágios laranja e vermelho (Figura 4). 17 Figura 2 - Conteúdo de compostos fenólicos de E. astringens e E. uniflora em diferentes estágios de amadurecimento Fonte: elaborado pela autora (2022) 5 DISCUSSÃO Embora tanto E. astringens quanto E. uniflora apresentem mudanças nas cores do fruto durante o amadurecimento, é notável que essas espécies exibam diferenças quanto à hidratação e às alterações bioquímicas acessadas. Por exemplo, há acumulação de açúcares solúveis e compostos fenólicos solúveis durante o amadurecimento dos frutos de E. astringens, mas não há alterações similares nos frutos de E. uniflora. O mesmo padrão de acumulação de açúcares solúveis foi constatado em frutos maduros da espécie de Myrtaceae guabiroba-gigante (Campomanesia lineatifolia Ruiz & Pav.) (BALAGUERA-LÓPEZ; ARÉVALO, 2012). Ao longo do amadurecimento, os frutos de E. uniflora apresentam redução do conteúdo de água e, consequentemente, aumento do conteúdo de MS, mas alterações similares não são encontradas nos frutos de E. astringens. Considerando que os frutos foram coletados quando já haviam completado a fase de expansão, provavelmente estas alterações verificadas nos frutos de E. uniflora se devem a sua desidratação, verificada visualmente como uma redução da turgescência. Além disso, não há acumulação de amido (Figura 2A), AST (Figura 2B), proteínas solúveis (Figura 3A), AALT (Figura 3B) e CFS (Figura 4) nos frutos vermelhos em comparação com os frutos verdes. 18 Considerando o conteúdo de amido somado ao de AST, os frutos negros de E. astringens (533,6 mg.g-1 MS) são recursos mais ricos em carboidratos não estruturais que os frutos vermelhos de E. uniflora (208,6 mg.g-1 MS). Por acumular mais açúcares solúveis que amido (Figura 2A e B), os frutos negros de E. astringens são mais doces que os frutos vermelhos de E. uniflora, o que os caracteriza como uma importante fonte de carbono e energia (WESTON, 2010). Frutos de Campomanesia rufa (O. Berg.) Nied., espécie frutífera da família Myrtaceae, também mostram um aumento no teor total de açúcares do estágio imaturo (1.22 g 100 g-1) para o maduro (6.88 g 100 g-1) (ABREU et al., 2020). Estes resultados podem estar atrelados a uma diferenciação de nichos entre as espécies estudadas, pois a palatabilidade dos frutos pode ter um papel na distinção das populações de dispersores (VAN DER PIJL, 1982; JACOB 2003). Os açúcares solúveis acumulados quando o fruto de E. astringens se torna negro são parcialmente explicados pela degradação do amido (Figura 2A e B), como previamente notificado por Seraglio et al., (2018) nos frutos de outras Myrtaceae, como jabuticaba (Myrciaria cauliflora (Mart.) O. Berg.), guabiju (Myrcianthes pungens (O.Berg) D. Legrand) e jambolão (Syzygium cumini (L.) Skeels) em estágio maduro. Porém, como o conteúdo de açúcares solúveis no fruto negro é muito superior àquele de amido nos frutos amarelos (Figura 2A e B), deve haver um aporte de açúcares por parte da planta-mãe ao longo do amadurecimento (BUCHANAN et al., 2015). Conteúdos altos de açúcares também são observados em frutos de Psidium cattleyanum Sabine (22.74 g/100 g MS), Campomanesia xanthocarpa (Mart.) O.Berg (34.45 g/100 g MS) e Eugenia pyriformis Cambess. (36.72 g/100 g MS) (PEREIRA et al., 2022). A redução nos níveis de AST e amido ao longo do amadurecimento do fruto de E. uniflora não está atrelada à acumulação de proteínas solúveis (Figura 3A), AALT (Figura 3B) e CFS (Figura 4), quando os frutos vermelhos são comparados com os frutos verdes. Mesmo que haja mudanças no conteúdo de amido e açúcares solúveis, esta diminuição está associada com a manutenção do conteúdo de proteínas (Figura 3A). Essa manutenção da quantidade de proteínas também foi observada nos frutos imaturos e maduros de Campomanesia rufa apresentando um total de 0.72 e 0.81. g 100 g-1, respectivamente (ABREU et. al., 2020). Embora não tenha havido mudanças no conteúdo de proteínas solúveis presentes nos frutos de E. uniflora e E. astringens 19 em diferentes estágios, possivelmente as populações de proteínas foram modificadas no decorrer do amadurecimento devido aos diferentes processos metabólicos que estão relacionados com as alterações de qualidade dos frutos, como, por exemplo, a respiração e a produção de compostos voláteis (FREITAS et al., 2020). Alternativamente, pode ter ocorrido uma redistribuição de carboidratos não estruturais via floema para outras partes da planta mãe. Quando comparado ao conteúdo de proteínas solúveis de outros frutos maduros de Myrtaceae, como Araçá amarelo (P. cattleyanum Sabine) (4,24 g/100 g MS), guabiroba (C. xanthocarpa O. Berg) (5,53 g/100 g MS) e uvaia (15,82 g/100 g MS) (E. pyriformis Cambess) (PEREIRA et al., 2022), os frutos maduros de E. astringens e E. uniflora demonstram um menor teor de proteínas. Em comparação com o conteúdo de AST (Figura 2B), o conteúdo de AALT (Figura 3B) dos frutos de E. astringens e E. uniflora se mostra bem mais baixo. Ainda assim, há diminuição do conteúdo de AALT nos frutos de E. astringens do estágio amarelo para o bordô (Figura 3B). Uma vez que o conteúdo de proteínas solúveis é reduzido nessa transição (Figura 3A), não é possível atribuir a diminuição do conteúdo de AALT ao seu uso na síntese proteica. Neste sentido, os esqueletos carbônicos derivados de aminoácidos podem ter sido utilizados como substratos respiratórios durante o amadurecimento do fruto (BUCHANAN et al., 2015). Em frutos de E. astringens, a diminuição do conteúdo dos aminoácidos livres também pode estar relacionada com o aumento do conteúdo de CFS. Os conteúdos de fenólicos em frutos maduros de Eugenia aggregata (25.3 mg GAE/g MS), E. brasiliensis (24.8 mg GAE/g MS), E. luschnathiana (22.0 mg GAE/g MS) e E. reinwardtiana (9.25 mg GAE/g MS) (REYNERTSON et. al., 2008) se mostraram similares aos encontrados nos frutos de E. astringens e E. uniflora. Os CFS presentes em frutos em amadurecimento podem se apresentar sob a forma de flavonóides atrelados à coloração, como constatado por Reynertson et al. (2008). Esses autores analisaram frutos de 14 espécies de Myrtaceae e verificaram que o conteúdo de antocianinas mostrou grande abundância dentre os CFS quantificados, as quais são responsáveis pelas cores vivas destes frutos. Além desta função, relacionada com a atração de dispersores, estes compostos também cumprem outros papéis, gerando aromas, atuando como antioxidantes e protetores contra a radiação ultravioleta. Além disso, há evidências de que estes metabólitos secundários atuem na defesa de frutos 20 e sementes contra predadores de sementes, insetos e fungos (WHITEHEAD; BOWERS, 2014). Devido ao avanço antrópico e a expansão agrícola, a Floresta Atlântica foi reduzida a pequenos fragmentos onde são mantidas diversas espécies ameaçadas. Apesar das poucas matérias-primas nativas utilizadas e comercializadas, há uma variedade de sementes, frutas e fibras nativas com valor regional que são utilizadas pelas comunidades locais, reforçando a necessidade de pesquisas a respeito da conservação dessas espécies (MITTERMEIER et al., 1999; SOUZA et al., 2018). Em razão disso, entender a composição dos frutos de diferentes espécies da família Myrtaceae pode permitir a prospecção de novas fontes de alimentação e atividades comerciais. Ademais, sabe-se que além do crescente interesse comercial em espécies nativas de Myrtaceae,sua notória aptidão para domesticação, melhoramento genético e adaptabilidade às características ambientais locais são fatores relevantes que justificam o estabelecimento de planos de manejo sustentáveis de extração de alimentos e matéria-prima, podendo gerar benefícios econômicos e sociais às comunidades circunvizinhas (SOUZA et al., 2018). 6 CONCLUSÃO Nos frutos de E. uniflora, a mudança de coloração está relacionada com um aumento do conteúdo de MS devido à desidratação, o qual não está atrelado à acumulação de amido, açúcares solúveis, proteínas solúveis, aminoácidos livres e compostos fenólicos solúveis. Em comparação, nos frutos de E. astringens, embora não haja alteração no conteúdo de MS ao longo do amadurecimento, os frutos negros apresentam maiores conteúdos de açúcares solúveis e compostos fenólicos solúveis. Assim, frutos multicoloridos do mesmo gênero não apresentam exatamente as mesmas alterações bioquímicas e estas podem estar relacionadas não apenas com padrões diferenciados de atratividade, mas também com uma diferenciação de nicho relativa a estratégias reprodutivas destas espécies. 21 REFERÊNCIAS ABREU, Letícia et al. Antioxidant activity and physico-chemical analysis of Campomanesia rufa (O.Berg) Nied. fruits. Ciência e Agrotecnologia, v. 44, p. 1-11, 2020. ALBRECHT, Jörg et al. Reward regulation in plant–frugivore networks requires only weak cues. Nature Communication, v. 9, n. 4838, p. 1-11, 2018. BOBROV, Alexey; ROMANOV, Mikhail. Morphogenesis of fruits and types of fruit of angiosperms. Botany Letters, v. 166, n. 3, p. 366-399, 2019. 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