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XXXI CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN - eCICT 2020 ANAIS Ciências da Vida EXPEDIENTE APRESENTAÇÃO O Congresso de Iniciação Científica e Tecnológica (eCICT) é um evento aberto à comunidade no qual todos os aproximadamente 1.500 alunos de Iniciação Científica e Tecnológica da UFRN (bolsistas e voluntários) apresentam os resultados de suas pesquisas desenvolvidas ao longo de um ano, como cumprimento de um plano de trabalho elaborado e orientado por um professor/pesquisador do quadro permanente da Instituição. O eCICT está entre as ações inseridas no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica e Tecnológica da UFRN, que possui entre seus objetivos: a) Contribuir para a formação e engajamento de recursos humanos em atividades de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação; b) Contribuir para a formação científica de recursos humanos que se dedicarão a qualquer atividade profissional; e c) Contribuir para a formação de recursos humanos que se dedicarão ao fortalecimento da capacidade inovadora das empresas no País. Em 2020, a Pró-reitora de Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte realizou a 31a edição do Congresso em formato totalmente virtual. A 31a edição do Congresso teve como tema “Inteligência Artificial: expandindo as fronteiras da ciência”, estando alinhada aos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU. Ao submeter os trabalhos ao Congresso, os alunos indicaram os objetivos da Agenda 2030 aos quais suas pesquisas estavam relacionadas. Essa iniciativa visa estimular a pesquisa cientifica e tecnológica voltada para a busca por soluções para os desafios sociais contemporâneos. Em uma etapa inicial, denominada de Mostra de Trabalhos e Vídeos de Ciência, Tecnologia e Inovação, foram realizadas as apresentações dos trabalhos submetidos pelos participantes do evento. As apresentações ocorreram de forma assíncrona, por meio de arquivos digitais (trabalho completo e vídeo), sendo disponibilizadas não só aos avaliadores do congresso pelos Sistemas da UFRN, mas também ao público em geral através do site do evento (www.cic.propesq.ufrn.br). Após essa etapa inicial, uma serie de vídeos sobre inteligência artificial e sobre a trajetória de sucesso dos pesquisadores destaques da UFRN no ano de 2020 foi disponibilizada (on demand) a todos os participantes, complementando as atividades remotas do evento. Os pesquisadores destaques da UFRN no ano de 2020 foram selecionados a partir do Prêmio Pesquisador Destaque da UFRN, certame instituído em 2019 por meio da Pró-reitora de Pesquisa e que e concedido anualmente aos pesquisadores da instituição que tenham apresentado relevantes contribuições para o desenvolvimento da ciência em cada uma das três grandes áreas do conhecimento: Ciências da Vida; Ciências Exatas, da Terra e Engenharias; e Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes. Foram escolhidos 03 pesquisadores, um em cada grande área do conhecimento. Além de troféu e certificado, todos os premiados receberam auxílio no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) para custear despesas especificas, discriminadas em edital. Ainda no XXXI evicta, os alunos concorreram ao 4a Prêmio Destaque na Iniciação Cientifica e Tecnológica da UFRN, que foi instituído pela Pró-reitora de Pesquisa em 2017 para reforçar as ações dos programas institucionais de iniciação cientifica e tecnológica. O prêmio contemplou duas categorias: Trabalho Destaque de Iniciação Cientifica e Tecnológica e Vídeo Destaque de Divulgação Cientifica. Os premiados foram agraciados com bolsas mensais de até R$ 800,00 (oitocentos reais) durante o período de um ano. Os orientadores dos alunos premiados adquiriram precedência em relação aos demais para efeitos de concorrência no Edital de Bolsas de Pesquisa da UFRN em 2021. O evento cumpriu três funções valiosas para o desenvolvimento da ciência na instituição: inserção dos discentes em um ambiente acadêmico de publicação e apresentação dos resultados da pesquisa; divulgação cientifica por meio dos vídeos que utilizam uma linguagem cientifica, porém acessível a todos; e, por fim, a popularização da ciência. SUMÁRIO PROGRAMAÇÃO 6 CENTRO DE BIOCIÊNCIAS 7 ESCOLA DE SAÚDE 1266 ESCOLA MULTICAMPI DE CIÊNCIAS MÉDICAS DO RIO GRANDE DO NORTE 1483 FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DO TRAIRI 1721 INSTITUTO DO CÉREBRO 2470 PROGRAMAÇÃO OUTUBRO 21 a 23/10 Mostra de Trabalhos e Vídeos de Ciência, Tecnologia e Inovação do eCICT 2020 NOVEMBRO 06 a 30/11 eCICT 2020 Virtual com conteúdos on demand 30/11 Solenidade Virtual de Encerramento e Premiação XXXI CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2020 CIÊNCIAS DA VIDA 7 CENTRO DE BIOCIÊNCIAS XXXI CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2020 CIÊNCIAS DA VIDA 8 CÓDIGO: HS0662 AUTOR: AUREA ESTELLA DE ARAUJO SILVA COAUTOR: DÉBORA LOUISE DA CRUZ SILVA ORIENTADOR: ARRILTON ARAUJO DE SOUZA TÍTULO: COMUNICAÇÃO DURANTE ALIMENTAÇÃO: A INFLUÊNCIA DA IDENTIDADE SOCIAL DOS SAGUIS NA EMISSÃO DE CHAMADOS ALIMENTARES Resumo A produção de chamados associados a alimentos em grupos de animais sociais pode garantir a sobrevivência e aptidão de um grupo. Dentre os primatas o comportamento cooperativo, por exemplo, o cuidado compartilhado de infantes entre os pais e ajudantes, é observado em humanos e calitriquídeos, e acarreta uma série de benefícios e custos. Para observar se existe algum mecanismo que possa reduzir os custos associados a esse sistema social, esse trabalho teve como objetivo verificar como e se os chamados alimentares mudam em função da qualidade do alimento e do status social e reprodutivo dos indivíduos. Assim, realizamos o estudo com dois grupos de saguis selvagens (Callithrix jacchus) na Floresta Nacional de Açu - ICMBio - RN, utilizando equipamento de gravação de imagem e som para registro experimental, que garantiram posterior análise de um total de 24 vídeos. Nossas hipóteses foram de que (1) a realização de chamadas e a (2) latência de início de vocalização sofreriam influência da qualidade do alimento e do status reprodutivo e social dos indivíduos. Embora essas hipóteses não tenham sido corroboradas, encontramos um dado interessante quanto a vocalização de saguis machos ajudantes e o tempo de início de latência, por isso sugerimos futuros estudos para maior compreensão ecológica e comportamental dessa espécie. Palavras-chave: Chamada associada a alimento; Saguis comuns; Reprodução cooperativa. TITLE: FOOD-CONTEXT COMMUNICATION:THE INFLUENCE OF SOCIAL IDENTITY AND RESOURCE QUALITY ON COMMON MARMOSET VOCALIZATIONS Abstract The production of food associated calls in social animals can guarantee the fitness and survival of a group. Among primates, cooperative behavior, that is, the combined care of infants between parents and helpers, is observed in humans and callitrichids, and entails a series of benefits and costs. To observe if there is any mechanism to overcome the costs associated with this social system, our aim was to verify if food associated calls changes in relation to the quality of the food and the social and reproductive status of individuals. Our hypothesis were that (1) making callsand (2) latency to start vocalizations would be influenced by food quality and reproductive status of ours. Thus, we used two groups of wild common marmosets (Callithrix jacchus). The study and its food-context experiments took place at the National Forest of Açu - ICMBio - RN, using image and sound recording equipment for experimental recording that ensured a subsequent analysis of 24 videos. Although our hypothesis have not been confirmed, we found an interesting finding regarding the vocalization of male helpers and the elapsed XXXI CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2020 CIÊNCIAS DA VIDA 9 time until the emission of the first call, therefore we suggest future studies to improve the understanding of socioecological gaps of this species. Keywords: Food-call; Common marmosets; Cooperative breading. Introdução O sistema de reprodução cooperativa é caracterizado pelo cuidado aloparental, ou seja, quando indivíduos não reprodutores auxiliam na criação da prole. Esse sistema ocorre em diversas espécies, desde aves até primatas (TARDIF, 1994). Dentre os benefícios e custos desse sistema estão, respectivamente, a tolerância de um indivíduo em um grupo e aumento de gasto energético que contribui para perda de peso corporal dos indivíduos ajudantes (HEINSOHN R. e LEGGE S., 1999). Nos primatas, apenas os humanos e a família Callitrichidae apresentam esse sistema de cuidado extensivo à prole, estando relacionado com a proatividade e motivação para compartilhamento de informações (BURKART, 2018). A comunicação animal pode se dar por via visual, táctil, olfativa e acústica. Sendo esta última o maior foco dos estudos de comunicação em primatas. A vocalização permite que a informação presente nos chamados percorra longas distâncias, sendo um importante mecanismo para animais arborícolas (FRÖHLICH e VAN SCHAIK, 2018). Além de promover a coordenação do grupo em situações de predação, e durante o forrageio, neste caso atraindo outros membros para a fonte alimentar, podendo informar sobre a quantidade e qualidade do alimento (CLAY et al., 2012). Além disso, alguns primatas podem realizar o ajuste voluntário do comportamento vocal quando em presença de espectadores, conhecido por efeito da audiência (EVANS, 1994), já observado em estudos com macacos-prego (Sapajus libidinosus) onde, indivíduos que informavam sobre a presença de alimento, reduziam as chances de agressão por indivíduos dominantes (FERREIRA, 2016). Estudos similares realizados com Macaca mulatta observaram que fêmeas adultas vocalizavam mais ao encontrar alimentos, e indivíduos que não realizavam chamados, quando pegos com alimento, eram punidos (SANTOS, NISSEN e FERRUGIA, 2006). Nos calitriquídeos, há poucas evidências de tais ajustes nas vocalizações associadas a alimentos, o que pode ser devido ao sistema de reprodução cooperativa, que promove altos índices de tolerância social, refletindo em baixas taxas de agressão entre indivíduos (DE OLIVEIRA TERCEIRO et al., 2019; BURKART et al., 2014). Entretanto, devido aos custos associados ao cuidado da prole, indivíduos subordinados podem se utilizar de estratégias compensatórias para obter mais alimento e evitar a competição com os demais (SCHRADIN e ANZENBERGER, 2001). Tais estratégias podem se dar na mudança do comportamento vocal dos indivíduos ao encontrarem alimentos, como já demonstrado para as espécies previamente mencionadas. A espécie Callithrix jacchus (Callitrichidae), primatas do Novo Mundo, vive em grupos de 3 a 17 indivíduos (ARAÚJO, 1996) composto por um par reprodutor, proles de gêmeos e ajudantes aparentados ou não, segundo Araújo (1996). Embora alguns calitriquídeos modulem seus chamados alimentares a depender de espectadores (CAINE et al., 1995), não há evidências de que nossa espécie de estudo altera seu comportamento vocal em função de seu status social ou da qualidade do recurso durante alimentação, de forma a atenuar os custos do cuidado cooperativo. XXXI CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2020 CIÊNCIAS DA VIDA 10 Sendo assim, objetiva-se verificar a influência da qualidade do alimento e do status social e reprodutivo dos indivíduos no comportamento vocal da espécie Callitrhix jacchus. Nossas hipóteses e predições são de que (1) a realização de chamados alimentares sofre influência da qualidade do alimento e do status reprodutivo dos indivíduos, onde a presença ou ausência de chamados dependerá do status reprodutivo do emissor e da qualidade do alimento; (2) o tempo para início do chamado (período de latência) será influenciado pelo status social do emissor e pela qualidade do alimento encontrado, onde fêmeas ajudantes terão uma latência maior e o tempo para início do chamado quando os recursos alimentares forem de alta qualidade, também será maior, independente do status social do emissor. Metodologia Local e espécie de estudo O estudo foi realizado na Floresta Nacional de Açu (FLONA) Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (5º34'37 "S, 36º54'32" O), localizado no município de Açu, no estado do Rio Grande do Norte, Brasil (Fig. 1). A área possui 432 hectares e é caracterizada como um fragmento de Caatinga semiárido, a qual apresenta uma vegetação arbórea-arbustiva. Os períodos chuvosos ocorrem de fevereiro a maio, com índice pluviométrico de aproximadamente 699 mm por ano (EMPARN, 2015), e temperaturas máximas de até 35ºC. A coleta de dados ocorreu entre agosto de 2019 a março de 2020. Foram seguidos dois grupos de Callithrix jacchus selvagens, já habituados à presença dos pesquisadores. Os indivíduos foram capturados para identificação e marcação. Após capturados, os indivíduos foram sedados através da administração de cetamina, 0,2 ml para juvenis e 0,3 ml para subadultos e adultos. Com os indivíduos devidamente sedados, realizou-se as medições, pesagem e identificação do sexo, bem como a classificação etária de todos os indivíduos, com base em Yamamoto (1995): (0-5 meses), juvenil (6-10 meses), subadulto (11-18 meses) e adulto (acima de 18 meses). Para identificação visual dos indivíduos, cada animal teve sua pelagem pintada em diferentes regiões do corpo com ácido pícrico. Com todo o procedimento de identificação e marcação realizado, os animais foram devolvidos as suas gaiolas até que o efeito do sedativo cessasse, e logo em seguida foram levados de volta ao local de onde haviam sido capturados para serem libertados. Nenhuma coleta de dados foi realizada no dia da captura para que não existisse interferências nos registros comportamentais. Aspectos éticos Este projeto foi licenciado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio (licença nº 70537) e teve sua execução aprovada pela Comissão de Ética no Uso de Animais – CEUA (certificado nº 219.008/2020). Experimento de contexto alimentar Para realização dos experimentos foram selecionadas duas fontes de alimentos conhecidas pelos saguis, sendo elas a banana e maçã, alimentos de alta e baixa XXXI CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2020 CIÊNCIAS DA VIDA 11 qualidade, respectivamente, apresentados aos saguis em diferentes quantidades (Tabela 1). Ao todo foram realizadas seis condições experimentais, com relação a quantidade e qualidade dos alimentos. As condições eram randomizadas previamente a cada experimento, para evitar um viés de resposta. Os alimentos foram disponibilizados em uma plataforma suspensa de 1m2 de livre acesso (figura 2), previamente montada próxima das árvores de descanso, e em horários em que os grupos começam o forrageio - pela manhã e no meio da tarde, após o descanso - evitando que os animais já estejam saciados após forrageamento natural. O experimento iniciava com a entrada do primeiro indivíduo na arena e era encerrado após o consumo de todos os pedaços da arenaou quando o grupo já havia se retirado da área. Registro comportamental Todos os experimentos foram registrados em vídeo utilizando uma câmera Sony HDR- AS15, para posterior análise dos comportamentos e da identidade dos indivíduos. realizamos também o registro vocal através de um gravador Zoom H4n Pro acoplado a dois microfones posicionados em ângulos diferentes, um microfone direcional Sennheiser ME67, manipulado pelo observador, a fim de capturar as vocalizações dos indivíduos focais e um microfone condensador AKG C1000 S, para capturar uma faixa mais ampla ao redor da arena. Os registros de áudio foram utilizados para diferenciar se as vocalizações emitidas durante o experimento eram de fato chamados alimentares. Analisamos um total de 24 vídeos para obtenção dos dados, e tanto os grupos quanto as condições experimentais foram representadas em proporções iguais nas análises, sendo 12 testes para cada grupo e para cada alimento testado. Para cada vídeo foram registrados: (1) identidade do primeiro indivíduo (focal) a chegar na arena, (2) tempo de chegada, (3) ausência ou presença de vocalização, (4) o tempo e (5) latência até a realização da vocalização e (6) chegada de outros indivíduos do grupo . Análise estatística Realizou-se o teste Sahpiro-Wilk para verificação da normalidade dos dados, que não apresentaram distribuição normal, sendo assim, optou-se por testes não-paramétricos. Utilizamos o teste Qui-quadrado de Pearson para verificar se a presença ou ausência de chamadas no contexto alimentar era influenciada pela qualidade dos itens alimentares ou pelo status social dos indivíduos (macho e fêmea, reprodutores ou subordinados). O teste de U de Mann-Whitney foi utilizado para verificar se o tempo para início da vocalização variava com a qualidade do alimento. Por fim, utilizamos o teste Kruskal Wallis para testar se o tempo para início do chamado variava em função do status social dos indivíduos, com pós-teste de Games-Howell para verificar quais grupos diferiam dos demais. Todos os testes consideraram o nível de significância de 5% bicaudal. As análises foram realizadas através do software R Studio (Versão 1.3.959). Resultados e Discussões Nossos resultados mostraram que a presença de vocalizações em contexto alimentar para a espécie Callithrix jacchus, parece não estar sendo alterada em função da XXXI CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2020 CIÊNCIAS DA VIDA 12 qualidade dos itens alimentares (X² = 0.08, df = 1, p = 0.8). Outros estudos realizados com saguis-de-tufo-branco demonstram que há uma relação entre o aumento da taxa de emissão de chamados em presença de alimentos preferíveis, em comparação com alimentos de baixa preferência, onde há pouca ou nenhuma vocalização (VITALE et al., 2003), entretanto em nosso trabalho, não contabilizamos o número de vocalizações emitidos para cada teste, devido ao tempo hábil para a realização dessa etapa, o que se faz necessário para a comparação de resultados. A emissão de chamados não se mostrou dependente da função reprodutiva dos indivíduos (X² = 2.01, Df = 3, p = 0.6). De forma mais pontual, indivíduos dominantes, e mais especificamente as fêmeas reprodutoras, são mais agressivas com os demais integrantes do grupo, de forma a garantir acesso prioritário ao alimento (ARAÚJO, 1996), então para eles o chamado alimentar pode representar pequenos custos. Ainda, a presença de chamadas alimentares para indivíduos reprodutores pode significar uma forma de atenuar os custos do cuidado a prole e incentivar a permanência dos indivíduos ajudantes no grupo (ZAHAVI e ZAHAVI, 1997). No entanto, para indivíduos subordinados, a presença dessas chamadas associadas a alimentos é relacionado com o aumento de competição por recursos. Mesmo assim, esses chamados podem apresentar um efeito significativo para a sobrevivência do grupo (FLEAGLE, 1988), de forma que os custos do cuidado dos infantes podem ser atenuados, o que pode superar os custos da competição alimentar. Ao verificarmos a variação do período de latência para emissão dos chamados, isto é, o tempo que o animal demora entre encontrar o alimento e emitir a primeira vocalização informando a oportunidade alimentar em função da qualidade do item alimentar, foi observado que há uma diferença significativa (N = 49, U = 0.8, p < 0.001). O período de latência foi menor quando o alimento era de alta qualidade e tardia quando a qualidade do alimento era baixa (figura 3), o que está de acordo com a literatura (VITALE et al., 2003), e ainda pode sugerir que indivíduos possam estar abdicando de seus interesses individuais para cooperar, como proposto por Burkart e Van Schaik (2020). Esse resultado pode ser analisado levando em consideração tanto as condições do ambiente onde a pesquisa foi realizada, quanto as características fisiológicas e sociais da espécie. A Caatinga é caracterizada por longos períodos de seca, e alimentos de alta qualidade nutricional são raros e de limitado acesso entre as populações que ali habitam. Para os primatas, a atividade de forrageio, ou seja, a procura por alimento, tem influência sobre as outras atividades deles (MILTON e MAY, 1976). Então, para os saguis, primatas de pequeno tamanho, o custo energético é alto (GARBER, 1987), principalmente quando o grupo está se empenhando no cuidado de filhotes. Dessa forma, sugerimos que esse contexto de difícil acesso a recursos (MARTINS, 2007) pode ter contribuído para que os indivíduos da região se tornassem mais tolerantes para comunicar a presença de recursos mais valiosos, de forma a garantir a sobrevivência e aptidão do grupo, bem como postergar a procura por alimento, uma vez que o tipo de dieta influência o investimento de energia no forrageio (FLEAGLE, 1988). Quanto a influência do status social dos indivíduos no período de latência para emissão dos chamados, verificou-se uma diferença significativa (X²= 10.5, p < 0.001), na qual os machos ajudantes se mostraram diferentes apenas das fêmeas reprodutoras (Tabela 2). Para as fêmeas reprodutoras (FR) obtivemos um N amostral muito baixo, o que explica a representação gráfica do resultado (fig. 3). No entanto, devido ao acesso privilegiado aos recursos alimentares e a falta de competição com outros membros do grupo que o par reprodutor possui, principalmente a fêmea, esperava-se que o tempo para emissão dos chamados alimentares fosse curto ou quase imediato. O período de XXXI CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2020 CIÊNCIAS DA VIDA 13 latência das fêmeas e machos ajudantes mostrou-se, maior. Entretanto, nossa previsão de que as fêmeas ajudantes teriam período de latência maior - devido à alta competição com as fêmeas reprodutoras, a significativa taxa de infanticídio, e ao difícil acesso que esses indivíduos tem a alimentos (YAMAMOTO et al., 2009) - não diferiram significativamente dos demais membros do grupo, não corroborando nossa predição. Nossos resultados sugerem que, indivíduos ajudantes podem estar adiando a emissão de chamados alimentares, para garantir o máximo de recursos antes da chegada de outros indivíduos do grupo, evitando tanto o aumento da competição, quanto de agressão (DE LA FUENTE, 2019). Essa estratégia já foi verificada em outros primatas, como por exemplo para espécie Macaca mulatta, onde as fêmeas do grupo realizavam a maior parte das chamadas alimentares, e ausência desses chamados estava relacionada com agressões (SANTOS, NISSEN e FERRUGIA, 2006; HAUSER e MARLER, 1993) Para primatas reprodutores cooperativos como os saguis, a garantia de recursos por parte dos indivíduos ajudantes é, uma provável forma de compensar os custos associados ao cuidado constante dos infantes. Como dito, apenas os machos ajudantes (MA) apresentaram resultados significativamente diferente dos demais membros do grupo quando comparado a latência parainício de vocalização (figura 4). Por isso, supomos que devido aos custos do cuidado cooperativo, já citados nesse trabalho, e a participação mais ativa dos machos ajudantes no cuidado de indivíduos infantes (GUERREIRO MARTINS, 2019) - em comparação as fêmeas ajudantes, devido à taxa de infanticídio causado por elas (YAMAMOTO et al., 2009) – esses machos ajudantes podem estar apresentando o comportamento de chamadas alimentares mais tardiamente. Como esses indivíduos subordinados, quando estão ajudando, apresentam uma redução significativa das horas destinada ao forrageio (HEINSOHN e LEGGE, 1999), encontrar alimentos e não realizar o chamado imediatamente pode lhe garantir um acesso por mais tempo a alimentação. Tornando então importante esse acréscimo de tempo que o indivíduo passa se alimentando antes que o restante do grupo chegue até o recurso. Conclusão Dessa forma, esse trabalho demonstra que a realização de chamadas alimentares de Callithrix jacchus não foram influenciadas pela qualidade do alimento nem pelo status reprodutivo dos indivíduos. Ainda, a latência de início das vocalizações desses primatas teve relação significativa com a qualidade dos itens alimentares e com o status social dos indivíduos, porém os machos ajudantes diferenciaram-se significativamente das fêmeas reprodutoras. Embora nossas hipóteses não tenham sido corroboradas, esses dados podem significar que o comportamento de latência vocal apresenta influência dessas variáveis. Por isso, com intuito de verificar os potenciais resultados referentes a variável do status reprodutivo dos indivíduos e a presença de chamados, futuros estudos serão realizados, de forma a testar com dados mais robustos a influência do papel social e reprodutivo dos indivíduos no comportamento vocal durante alimentação. Além de acrescentar outras variáveis para observação, como a presença de comportamentos agonísticos e evasivos durante a alimentação. Assim, pretendemos contribuir para compreensão da ecologia e comportamento dessa espécie. XXXI CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2020 CIÊNCIAS DA VIDA 14 Referências ARAÚJO, Arrilton. Influence des facteurs écologiques, comportementaux et démographiques sur la dispersion de Callithrix jacchus. 1996. Tese de Doutorado. Paris 13. BURKART, Judith et al. From sharing food to sharing information: cooperative breeding and language evolution. Interaction Studies, v. 19, n. 1-2, p. 136-150, 2018. BURKART, Judith M.; VAN SCHAIK, Carel P. Marmoset prosociality is intentional. Animal Cognition, p. 1-14, 2020. CAINE, Nancy G.; ADDINGTON, Rebecca L.; WINDFELDER, Tammy L. Factors affecting the rates of food calls given by red-bellied tamarins. Animal behaviour, v. 50, n. 1, p. 53-60, 1995. 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XXXI CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2020 CIÊNCIAS DA VIDA 17 CÓDIGO: HS0754 AUTOR: ANNA GABRIELY BARROSO DE SA COAUTOR: DÉBORA LOUISE DA CRUZ SILVA ORIENTADOR: ARRILTON ARAUJO DE SOUZA TÍTULO: INFLUÊNCIA DA PRESENÇA DE INFANTES NO COMPORTAMENTO VOCAL EM CONTEXTO ALIMENTAR EM Callithrix jacchus (Callitrichidae, Primates) Resumo A comunicação ocorre de várias formas, como os sinais sonoros, que são essenciais em ambientes em que outras modalidades são difíceis. Nos saguis, a comunicação vocal é importante para o grupo, inclusive durante o forrageio. Dessa forma, o objetivo do estudo foi verificar se há influência da presença de infantes nos chamados alimentares. Sendo as nossas hipóteses as de que a emissão desses chamados iria ser influenciados pela presença dos infantes no grupo e que esses iriam depender do status social do emissor. O estudo foi realizado com dois grupos de Callithrix jacchus na FLONA de Açu, RN - ICMBio, que foram submetidos à experimentos de contexto alimentar. Dois tipos de alimentos foram disponibilizados em uma plataforma de livre acesso e realizávamos o registro em vídeo e áudio, iniciado quando o primeiro indivíduo visualizava a plataforma e encerrado quando todosos pedaços de alimentos eram consumidos ou quando todos indivíduos iam embora. Os resultados indicaram que não houve influência da presença de infantes na emissão dos chamados alimentares. Apesar de nossas hipóteses não terem sido corroboradas, observarmos que machos ajudantes alteram seu comportamento vocal quando há infantes, com uma menor latência para vocalizar. Com outros estudos que mostram mudanças comportamentais na presença de infantes em primatas, supomos que há uma influência deles na emissão de chamados. Por isso, concluímos que há necessidade de dar continuidade a esse estudo dando robustez aos dado Palavras-chave: Calitriquídeos; cuidado parental; vocalização; alimentação. TITLE: VOCAL BEHAVIOR DURING FOOD-CONTEXT AND THE INFLUENCE OF INFANTS PRESENCE IN Callithrix jacchus (Callitrichidae, Primates) Abstract Communication takes place in the most diverse ways in primates, including acoustical signals, which are extremely important in environments were other modalities are not effective. In marmosets, cooperative breeding primates, vocal communication is important for adults and immatures, especially during foraging. Therefore, our aim was to verify if the emission of food-associated calls were being influenced by the presence of infants. Our hypothesis is that the food-calling behavior would be influenced by the presence of infants in the group and it would change according to the social and reproductive status of the first caller. The study was conducted with two groups of Callithrix jacchus at the FLONA of Açu - ICMBio - RN. Both groups were submitted to food-context experiments, in which two types of food were presented on a platform. Trials were registered both by audio and video for further analysis. Our results indicated that there was no influence of infants presence on food calling. However, although our XXXI CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2020 CIÊNCIAS DA VIDA 18 hypotheses have not been confirmed, we observed an indicative that male helpers alter their vocal behavior when infants are present, presenting less time to vocalize after encountering food. For these reasons coupled with several evidence of behavioral changes in presence of infants among primates, we suggest that food calls emission could vary in presence of offspring in C. jacchus. Requiring the continuity of data collection for more accurate and conclusive results. Keywords: Callitrichids; parental care; vocalization; feeding. Introdução A comunicação é fundamental para a sobrevivência e reprodução de espécies sociais, que utilizam diversos meios para a troca de informações intraespecíficas, como os sinais acústicos (BRADBURY & VEHRENCAMP, 1998). Ela ocorre quando um emissor, produz um sinal vocal, e um receptor, ao recebe-lo e interpretá-lo pode a partir dele, modificar o seu comportamento (BRADBURY & VEHRANCAMP, 1998; MAYNARD SMITH & HARPER, 2003). Nos primatas, a comunicação vocal é importante, uma vez que em ausência de contato visual, o som tem um grande potencial de percorrer longas distâncias (MÁRQUEZ et al., 2011; NAPIER & NAPIER, 1996). Tal comunicação também ocorre durante o forrageio, na descoberta de recurso alimentar, há emissão de chamados alimentares (daqui em diante CA) (CLAY et al. 2012). Como visto por Kitzmann e Caine (2009), indivíduos aumentaram seus comportamentos de forrageio após ouvirem os CA de seus coespecíficos. Esses CA são fundamentais para o recrutamento social, coesão do grupo e diminuição das chances de predação durante o forrageio, pela presença de outros membros do grupo aumentar a probabilidade de detecção de predadores (CLAY et al., 2012). No caso das espécies reprodutoras cooperativas, nas quais indivíduos, que não os progenitores, cuidam dos filhotes (DE OLIVEIRA TERCEIRO & BURKART, 2019), como a espécie Callitrhix jacchus, essa troca de informações é essencial à sobrevivência dos filhotes, informando sobre fontes de alimentos e predadores (CLAY et al., 2012). A presença dos auxiliares não-reprodutivos no grupo é benéfica tanto para os infantes quanto para eles, por aumentarem sua aptidão inclusiva (YAMAMOTO & BOX, 1997). Em espécies não cooperativas, como macacos rhesus e bugios, as taxas de sobrevivência dos filhotes são menores, já que o cuidado é realizado majoritariamente pela mãe, sendo raro o cuidado por outros indivíduos (BREUGGEMAN, 1973; CRISTÓBAL-AZKARATE et al., 2005). O cuidado parental é realizado em diferentes proporções pelos ajudantes. Estudos mostram que machos adultos e subadultos carregam mais os filhotes do que as fêmeas da mesma idade, em contrapartida, as fêmeas ajudantes realizam mais partilha com os infantes (YAMAMOTO & BOX, 1997; GUERREIRO MARTINS et al., 2019). Sendo assim, esses indivíduos têm um papel essencial na diluição dos custos da criação da prole, aumentando assim probabilidade de sobrevivência desta (YAMAMOTO & BOX, 1997). Outro fator para a sobrevivência dos filhotes, é o compartilhamento de alimentos até que consigam nutrientes independentemente, auxiliando no aprendizado sobre a dieta e técnicas de busca de alimento (BROWN et al. 2004). Parece haver uma relação entre a presença de infantes e a emissão de CA, como visto em alguns calitriquídeos (C. jacchus: GUERREIRO MARTIN et al., 2019; Leontopithecus rosalisa: TROISI et al., 2018). Entretanto, há poucos estudos de XXXI CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2020 CIÊNCIAS DA VIDA 19 campo relacionado o comportamento vocal na presença de infantes para a nossa espécie de estudo. O sagui-do-tufo-branco (C. jacchus), é um primata do novo mundo, nativo do Brasil que vive em grupos de 9 a 17 indivíduos (ARAUJO, 1996; GHAZANFAR et al., 2019), habitando da Caatinga à Mata Atlântica (PONTE & CRUZ, 1995). Geralmente, os grupos possuem apenas um par reprodutor, com prole gemelar duas vezes ao ano, e os indivíduos subordinados auxiliam no cuidado, carregando e compartilhando comida (GHAZANFAR et al., 2019). O objetivo do estudo é verificar a influência da presença de infantes nas chamadas de alimentação na espécie C. jacchus. Nossa primeira hipótese é de que o tempo para a emissão dos chamados será influenciado pela presença de infantes, sendo nossa predição a de quando há infantes no grupo, o período de latência, tempo entre a descoberta do alimento e a primeira vocalização, será menor. Nossa segunda hipótese é a de que o comportamento vocal do emissor vai depender de seu status social e da presença de infantes no grupo, sendo a nossa predição a de que os machos ajudantes terão uma menor latência. Metodologia Local de estudo O estudo foi realizado na Floresta Nacional de Açu do ICMBio (5º34'37” S, 36º54'32” O), no município de Açu no Rio Grande do Norte, Brasil. O local é um fragmento semiárido de caatinga de 432 hectares com uma vegetação característica arbórea arbustiva (MIRANDA et al., 2007) e com períodos chuvosos de fevereiro a maio, tendo índice pluviométrico de 699 mm por ano (EMPARN, 2015) e temperaturas de até 35°C. A coleta ocorreu de agosto de 2019 a março de 2020. Sujeito de estudo Dois grupos de saguis (Callitrhix jacchus), já habituados a presença dos pesquisadores, foram capturados por armadilhas acionadas à distância, para a realização das marcações individuais, identificação do sexo e idade dos animais. Após a captura, realizou-se a sedação dos indivíduos com cetamina, com dosagem de 0,2 mL para infantes e 0,3 mL para subadultos e adultos. A classificação de idade teve como base Yamamoto (1995), infante (0-5 meses), juvenil (6-10 meses), subadulto (11-18 meses) e adulto (acima de 18 meses). Enquanto sedados, eles foram pesados, medidos, tiveram o sexo identificado. Para a identificação, cada indivíduo teve sua pelagem marcada em partes distintas do corpo com ácido pícrico. Após a captura, os indivíduos foram devolvidos às gaiolas até queo efeito do sedativo acabasse e só então eles foram levados de volta ao ambiente para serem liberados. O grupo foi acompanhado pelo resto do dia para garantir a sua segurança e nenhum dado foi coletado no dia da captura para evitar interferência no registro comportamental. Aspectos éticos XXXI CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2020 CIÊNCIAS DA VIDA 20 O estudo teve autorização concedida pelos Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade – ICMBio (licença n° 70537) e Comitê de Ética o Uso de Animais (CEUA) (certificado nº 219.008/2020). Registro das respostas vocais e comportamentais aos alimentos Para testar nossas hipóteses, foi realizado um experimento que consistia no provisionamento de alimentos de alta e de baixa qualidade nutricional, respectivamente banana e maçã, em diferentes quantidades (Tabela 1). Os pedaços de fruta eram distribuídos uniformemente em uma plataforma (Figura 1) suspensa de 1m2, que permitia o livre acesso dos indivíduos para o consumo dos itens alimentares. Os itens alimentares foram pesados para que houvesse proporcionalidade entre os diferentes tipos. O experimento tinha início quando o primeiro indivíduo visualizava e se locomovia em direção a plataforma e se encerrava quando todos os pedaços de alimento eram consumidos ou com a saída dos indivíduos do local. As condições de cada teste foram aleatorizadas e ocorreram duas vezes ao dia, um de manhã e outra de tarde, com intervalos de um dia entre elas. O experimento foi gravado em vídeo com uma câmera Sony HDR-AS15 para registro comportamental e identificação posterior dos indivíduos. Os registros vocais foram realizados através de um gravador Zoom H4n Pro conectado a dois microfones. Um microfone direcional (Sennheiser ME67), manuseado pelo observador para acompanhar o primeiro indivíduo a vocalizar, e um microfone condensador (AKG C1000 S) posicionado acima da arena, registrando os sons do entorno. A plataforma foi instalada próxima a locais de forrageio ou de descanso dos grupos e os experimentos foram realizados nos horários do dia que o grupo começa a forragear, no início da manhã e no fim do descanso da tarde, para evitar que os animais fiquem saciados com o forrageio natural e pouco motivados a participarem do experimento. Análise comportamental As variáveis a serem analisadas em cada grupo são: (1) sexo, status social e reprodutivo do primeiro indivíduo a chegar na plataforma; (2) presença de infantes no grupo, (3) presença de vocalização por parte do animal focal; (4) o período de latência entre a descoberta do alimento e a primeira vocalização. Análise estatística Realizou-se o teste Shapiro-Wilk para verificação da normalidade dos dados, que não apresentaram distribuição normal, portanto, realizamos testes não-paramétricos e descritivos. Para testar a influência da presença de infantes no tempo para o início da vocalização, foi realizado o teste U de Mann-Whitney. As análises foram realizadas no RStudio (Versão 1.3.959). Para testar se o comportamento vocal estava sendo alterado em função do status social dos indivíduos e da presença de infantes no grupo, realizamos uma análise descritiva dos dados, devido ao baixo número amostral obtido. A coleta de dados foi interrompida em março de 2020 devido a pandemia a SARS-CoV- 2 que fechou as FLONAS, por determinação do ICMBio - Ministério do Meio Ambiente. XXXI CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2020 CIÊNCIAS DA VIDA 21 Resultados e Discussões Para verificar nossas hipóteses e predições foram realizados 24 testes, nos quais apenas metade deles apresentaram vocalizações previamente à chegada de outros indivíduos na plataforma de alimentação (Tabela 2). Ao verificar se havia diferença no tempo de início das vocalizações em função da presença de infantes (Figura 2) não foi observado diferença significativa (w = 19,5; p = 0,8726). Dessa forma, é possível perceber que a latência entre a descoberta do alimento e as primeiras vocalizações parece não sofrer influência da presença de infantes no grupo. No entanto, alguns estudos demonstraram que vários comportamentos são influenciados pela presença dos infantes, em Callithrix jacchus. Em Yamamoto e Box (1997) foi observado que tanto os pais, como os ajudantes mostram interesse nos infantes e até chegam a competir para fornecer cuidados à prole. Já em Barbosa, Mota e Barbosa (2017) foi visto que a vocalização dos infantes influenciou respostas comportamentais dos outros indivíduos do grupo, como aumento na frequência de abordagem, aumento do tempo em proximidade com os infantes e locomoção após o estímulo infantil. Esses fatos, demonstram que talvez haja uma influência da presença dos imaturos e que apenas os dados foram insuficientes pelo pequeno número amostral. Ao verificar se o comportamento vocal dos indivíduos estava sendo alterado em relação ao status social e reprodutivo e a presença e infantes no grupo, não foi possível chegar a conclusões significativas devido ao baixo número amostral. No entanto, ao avaliarmos os dados obtidos (Tabela 3), foi possível observar uma maior taxa do comportamento vocal por parte dos ajudantes na presença de infantes. Além disso, com esses dados foi possível verificar uma menor latência para vocalização tanto dos reprodutores quanto dos ajudantes na presença de infantes (Figura 3), bem como a diminuição no tempo decorrido entre a descoberta do alimento e a primeira vocalização nos machos ajudantes (Figura 4). Na literatura foi possível observar uma fêmea ajudante que raramente tinha acesso aos infantes fazendo repetidos chamados alimentares, mesmo quando não tinha alimentos, na tentativa de ter acesso aos imaturos (GUERREIRO MARTIN et al., 2019). Além disso, já se sabe que os calitriquídeos não seguem o padrão geral dos primatas, por exibirem altas taxas de chamados alimentares e de compartilhamento de alimento, tanto com os imaturos, quanto com os adultos, ainda que em menor quantidade, uma vez que isso faz parte do sistema de reprodução cooperativa deles (BROWN et al., 2004). Esses fatos aliados, parecem convergir com nossos resultados preliminares, no qual os indivíduos podem estar modificando o comportamento vocal frente aos alimentos quando há infantes no grupo. Outros estudos sugerem que o compartilhamento de comida ocorre mais por parte dos machos do que das fêmeas, além de que os chamados alimentares ocorrem com maior frequência nas primeiras semanas de vida dos infantes com altas taxas de compartilhamento e facilitação social (GUERREIRO MARTIN et al., 2019). Tais achados podem ajudar a explicar o menor tempo de latência para emissão de chamados em machos ajudantes, em comparação com as fêmeas. Ademais, as taxas de compartilhamento revelam de fato um cuidado aloparental, uma vez que os infantes são menores e mais fracos que os adultos, isso reflete a motivação do ajudante adulto em compartilhar sem uma obrigação (GUERREIRO MARTIN et al., 2019). XXXI CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2020 CIÊNCIAS DA VIDA 22 As menores taxas de emissão de chamados alimentares e uma maior resistência para partilha alimentar por parte das fêmeas, principalmente as reprodutoras, podem ser resultantes da alta demanda energética para a gravidez e amamentação (GUERREIRO MARTIN et al., 2019; TARDIF, 1994). Outras pesquisas demonstram que há fêmeas ajudantes que apresentam cuidados com a prole tanto quanto os machos de mesmo status social, mas também há fêmeas que estão constantemente em busca de oportunidades reprodutivas como fêmeas dominantes (BURKART, 2015; YAMAMOTO et al., 2014). Em consequência dessa possibilidade de competição, essas fêmeas até são privadas do cuidado a prole, uma vez que há o risco de infanticídio por parte delas (FINKENWIRTH et al., 2016; YAMAMOTO et al., 2009). Aliado a essas informações, é possívelsupor que por isso as fêmeas ajudantes tenham um maior tempo de latência para a vocalização do que os machos do mesmo status na presença de infantes no grupo, como foi demonstrado parcialmente no nosso estudo. Conclusão Diante dos resultados obtidos nesse estudo, não foi possível concluir com base em resultados estatísticos, se a emissão de chamadas foi influenciada pela presença de imaturos. No entanto, foi possível observar a partir dos poucos registros que fizemos e da revisão bibliográfica que nossas hipóteses, de que o comportamento seria alterado na presença de infantes e que essa alteração iria depender do status social, possivelmente seriam corroboradas. Dessa forma, se faz necessária a continuidade desse estudo, de modo a aumentar a robustez dos dados e chegar a resultados mais conclusivos. Referências Alencar, A. I., Yamamoto, M. E., Oliveira, M. S., Lopes, F. A., Sousa, M. B., & Silva, N. G. (1995). Behavior and progesterone levels in Callithrix jacchus females. Revista brasileira de pesquisas medicas e biológicas, 28(5), 591. Araújo, A. (1996). Influence des facteurs écologiques comportementaux et démographiques sur la dispersion de Callithrix jacchus. Université de Paris-Nord, Paris, France. Barbosa, M. N., Mota, M. T. D. S., & Barbosa, M. N. (2017). The effect of infant vocalization in alloparental responsiveness of common marmosets (Callithrix jacchus). American Journal of Primatology, 79(9), e22682. Bradbury J. W. & Vehrencamp S. L. (1998). Principles of Animal Communication. Sinauer Associates, Sunderland/MA. Breuggeman, J. A. (1973). Parental care in a group of free-ranging rhesus monkey (Macaca mulatta). 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Figura 4: Latência para vocalização em função do status social. (FM) fêmea reprodutora;(MR) macho reprodutor; (FA) fêmea ajudante; (MA) macho ajudante. XXXI CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2020 CIÊNCIAS DA VIDA 26 CÓDIGO: HS0913 AUTOR: RAYANE STEPHANE ROCHA DE SENA SILVA COAUTOR: SABINNE DANIELLE GALINA COAUTOR: MARIA LUIZA CRUZ DE OLIVEIRA COAUTOR: HUDSON GUILHERME SILVA DA COSTA ORIENTADOR: CAROLINA VIRGINIA MACEDO DE AZEVEDO TÍTULO: Relação entre exposição à luz no trajeto de casa para a escola pela manhã, irregularidade no ciclo sono e vigília e componentes da atenção em adolescentes Resumo A adolescência é uma fase de transição entre a infância e a vida adulta, com mudanças nas áreas biológica, psicológica e social, dentre as quais, um atraso na fase de sono. Nos adolescentes do turno matutino, há privação de sono, aumento na irregularidade do sono e sonolência no início da manhã, impactando o desempenho escolar. Neste estudo, avaliamos a relação entre a exposição à luz pela manhã no trajeto de casa à escola, irregularidade no ciclo sono-vigília, hábitos de sono, sonolência ao acordar, e componentes da atenção em adolescentes do turno matutino. Participaram 101 adolescentes de ambos os sexos do 1º e 2ºanos do ensino médio de escolas privadas (Natal/RN), que preencheram o diário de sono associado à actimetria por 10 dias para registrar a intensidade de luz, padrões de sono e sonolência ao acordar. Os componentes da atenção (atenção seletiva e sustentada, alerta tônico e fásico) foram avaliados pela Tarefa de Execução Contínua. Houve uma tendência a correlação positiva fraca entre a média semanal de intensidade de luz pela manhã no trajeto de casa à escola e o percentual de respostas corretas na atenção seletiva (r=0,19; p=0,06), e a correlação negativa fraca entre a média de intensidade de luz e o percentual de omissões no alerta tônico (r=-0,18; p=0,07). Sugere-se que há uma relação entre maiores intensidade de luz pela manhã no trajeto de casa à escola e melhor desempenho atencional, porém é necessário um aumento da amostra para avaliar esta relação. Palavras-chave: Adolescentes. Luz pela manhã. Irregularidade do sono. Sono. Atenção. TITLE: Relationship Between Exposure to Light on The Itinerary from Home to School in the Morning, Irregularity in the Sleep-Wake Cycle and Components of Attention in Adolescents Abstract Adolescence is a transition between infancy and adulthood with changes in biological, psychological, and social areas, among them, a delay in sleep phase. Adolescents of morning shift show sleep deprivation and irregularity, and sleepiness in early morning, impacting school performance. In this study, we evaluated the relationship between exposure to morning light on commuting to school, sleep-wake cycle irregularity, sleep habits, sleepiness upon awaking, and attention components in adolescents in the morning shift. Participated 101 teens of both sexes from freshman and sophomore years on private high schools (Natal/RN), who filled a sleep diary in association with actimetry XXXI CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2020 CIÊNCIAS DA VIDA 27 for 10 days to record light intensity, sleep patterns and sleepiness upon awaking. The attention components (selective and sustained attention, tonic and phasic alertness) were evaluated by a Continuous Performance Task. There was a tendency towards a weak positive correlation between the weekly mean of morning light intensity during commuting and the percentage of correct responses for selective attention (r=0.19; p=0.06), besides a weak negative correlation between the mean of light intensity and the percentage of omissions for tonic alertness (r=-0.18; p=0.07). It is suggested that there is a relationship between the exposition to higher intensity of light on commuting to school in the morning and better attention performance, however an increase in the sample is necessary to assess this relationship. Keywords: Adolescents. Morning light. Sleep irregularity. Sleep. Attention. Introdução A adolescência é uma fase em que ocorre maturação puberal, que está relacionada à ação de hormônios sexuais. Há também modificações fisiológicas que podem manter relação com o desenvolvimento de padrões de sono, com maior duração da fase do sono quando comparado com adultos, atraso no horário de dormir e acordar, além de haver diferença entre os padrões de sono na semana - dias de escola - e fim de semana, decorrente de um conflito entre o atraso nos horários de sono e o horário escolar do turno da manhã (Millman, 2005). Essas modificações fisiológicas decorrentes da fase puberal promovem uma prorrogação no estado de vigília avançando pela noite, o que leva a um aumento na exposição à luz à noite, que de forma natural e coordenada leva a um atraso em algumas funções fisiológicas (Andrade et al., 1993; Anders et al., 1980). Segundo a Associação Brasileira do Sono (2018), o sono se modifica em diferentes faixas etárias, e para adolescentes que estudam pela manhã é provável que ocorra uma restrição do sono devido à dificuldade natural que os adolescentes possuem em acordar mais cedo. Uma análise de dados, coletados em várias regiões do Brasil durante a Semana do Sono em 2018, comprovou a ocorrência da privação do sono durante a semana e uma tendência à compensação dessa privação nos fins de semana, caracterizando uma irregularidade dos ritmos circadianos (Associação Brasileira do Sono, 2018). O padrão de irregularidade de sono entre semana e fim de semana em adolescentes é bem marcado e mantém relação com a manutenção dos níveis de atenção na sala de aula. A atenção é um processo cognitivo bastante estudado, porém de difícil conceituação. Para Valdez (2019), a atenção é a relação do indivíduo com o meio ambiente e implica em processar e selecionar a informação que chega ou responder estímulos e sustentar respostas por algum intervalo de tempo. Baseado no modelo proposto por Posner e Rafal (1987), Valdez (2019) sugere quatro componentes para o processo cognitivo da atenção. Esses componentes serão descritos a seguir: (1) alerta tônico, o qual é a capacidade de responder a qualquer evento do meio ambiente; (2) alerta fásico, é a capacidade de responder a um evento após um sinal de alerta; (3) atenção seletiva, se refere a capacidade de produzir uma resposta específica para cada estímulo; (4) atenção sustentada, tem a ver com continuar respondendo ao estímulo por um determinado tempo. A luz natural do dia pode atingir iluminâncias de até 10.000 lux, enquanto a luz artificial em ambientes fechados, com a sugerida no Brasil para salas de aula é de no mínimo 500 lux e, mais comumente, atinge valores ainda menores, como 300 lux (Galina, 2017; NBR ISO/CIE 8995-1. 2013). A retina possui receptores de imagem, cones e bastonetes, assim como as células ganglionares intrinsecamente fotossensíveis, ipRGCs, as quais integram informações e as enviam ao cérebro através do nervo óptico, além de mediar a maioria dos efeitos da luz no ritmo circadiano. De modo geral, se expor à luz pela XXXI CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2020 CIÊNCIAS DA VIDA 28 manhã possui efeito de avançar o ritmo, enquanto a exposição à luz à noite possui efeito de atrasar o ritmo circadiano (Blume; Garbazza; Spitschan, 2019). Nesse contexto, a luz tem um papel regulador nos ritmos biológicos e a privação do sono dificulta ainda mais os níveis dos componentes da atenção pela manhã em adolescentes, resultando em impactos não apenas na atenção, mas no humor. Portanto, nosso objetivo neste trabalho é avaliar a relação entre a exposição à luz pela manhã no trajeto de casa até a escola, quanto ao seu impacto sobre os componentes da atenção, assim como os hábitos de sono e sonolência ao acordar, em adolescentes que estudam no turno matutino no município de Natal/RN. Espera-se que uma maior exposição à luz pela manhã esteja relacionada a maiores níveis de atenção, menores níveis de sonolência ao acordar, assim como de irregularidade nos horários de sono entre semana e fim de semana em adolescentes que estudam no turno matutino. Metodologia Participantes e procedimento experimental Foram recrutados 127 adolescentes do 1º e 2º anos do ensino médio, do turno da manhã, de ambos os sexos (16 ± 0,6 anos), matriculados em escolas privadas da cidade de Natal/RN. Foram excluídos adolescentes que relataram: 1) uso regular de psicofármacos; 2) distúrbios de sono e de saúde; 3) diagnóstico de distúrbios neurológicos (p.ex. epilepsia) atuais ou no passado, deficiências sensoriais e/ou motoras sérias, e déficits cognitivos; 4) diagnóstico de uma das seguintes doenças psiquiátricas: Depressão Maior, Transtorno do Humor Bipolar, Transtorno Psicótico, Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH); e 5) que não preencheram os questionários por completo. Os padrões temporais de sono foram registrados por meio do preenchimento do diário de sono, o qual descreve comportamentos feitos antes e depois do sono. A sonolência ao despertar foi avaliada por meio da Escala de sonolência de Maldonado (2004) adaptadapor Belísio (2014). A intensidade de luz à qual os participantes foram expostos foi registrada por meio de actímetros, com ênfase para o intervalo entre os horários de acordar e de início das aulas. Estes registros foram feitos durante 10 dias consecutivos, incluindo dias de semana e fim de semana. Dentro desses 10 dias, os participantes foram submetidos à realização da tarefa de execução contínua (TEC), proposta por Valdez et al. (2005), em que foram coletados dados referentes à atenção sustentada e seletiva, alerta tônico e fásico. A tarefa foi aplicada entre terças- feiras e sextas-feiras no horário de 7h30min e 9h30min. Descrição dos instrumentos utilizados O diário de sono utilizado foi com base nas adaptações feitas por Andrade (1997) e Louzada (2000), as quais propõem questões a respeito do horário de deitar e levantar, além do motivo para acontecerem, despertares noturnos, horários e frequência de cochilos durante o dia, e sonolência do indivíduo ao acordar, medida pela Escala de sonolência de Maldonado. Os actímetros do modelo ActTrust da Condor foram utilizados no punho não dominante do indivíduo, pois é um equipamento semelhante a um relógio de pulso. Ele mede a movimentação do indivíduo e a duração, intensidade e horário a que o usuário está exposto à luz. Os dados obtidos foram utilizados para verificar o perfil de exposição à luz dos adolescentes participantes da pesquisa do caminho de casa para a escola até o momento em que se encontram em sala de aula para observar o padrão de exposição à luz durante a semana. Análise de dados XXXI CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2020 CIÊNCIAS DA VIDA 29 Dos 127 estudantes recrutados, apenas 101 concluíram as etapas do estudo. A exposição à luz no percurso de casa até a escola foi avaliada por meio da média da intensidade de luz registrada por meio dos actímetros durante 5 dias de coleta de dados nos dias de aula, entre o horário de acordar até o início das aulas pela manhã. As associações entre a intensidade média de luz no trajeto de casa à escola, padrões temporais de sono, sonolência diurna, e as variáveis dos testes de atenção foram analisadas por meio de testes de correlação de Spearman, com um nível de significância de 5%, através do programa Statistica 8 (TIBCO Statistica). Resultados e Discussões Verificou-se uma tendência a uma correlação positiva fraca entre a média semanal de intensidade de luz pela manhã e o percentual de respostas corretas para a atenção seletiva (r= 0,19; p<0,05 - Tabela 1; Figura 1), e a uma correlação negativa fraca entre a média semanal de intensidade de luz e o percentual de omissões para o alerta tônico (r= -0,18; p<0,067 - Tabela 1; Figura 2). Não houve correlação significativa entre a média semanal de intensidade de luz e as variáveis referentes aos outros componentes da atenção, alerta fásico e atenção sustentada, dentro dos critérios analisados, sendo eles: tempo de reação médio, percentual de respostas corretas e percentual de omissões. Assim como, não houve correlações significativas entre a média de intensidade de luz semanal e o índice de sonolência de Maldonado, horários de deitar, levantar e irregularidade nos horários de sono (Tabela 2). De acordo com uma das hipóteses propostas, os estudantes que se expuseram mais a luz pela manhã tenderam um maior percentual de respostas corretas na TEC para o componente de atenção seletiva. Também foi observada uma tendência a que quanto maior a exposição à luz pela manhã menor a omissão das respostas para o alerta tônico. Essas tendências estão de acordo com o efeito que a exposição à luz pela manhã tem em melhorar os componentes da atenção, aumentando os níveis de alerta dos adolescentes e, a depender do horário, duração e intensidade dessa exposição, pode avançar os ritmos biológicos (Sharkey et al., 2011; Gooley, 2017). Choi e colaboradores (2019) mostraram que a exposição a luz artificial pela manhã com uma iluminância de 500 lux possui efeito de aumentar os níveis de alerta nos indivíduos de faixa etária entre 23 anos. Além disso, os participantes da pesquisa foram expostos a luz branca e luz enriquecida com azul e se observou que a luz azul possui maior influência sobre os níveis de alerta. Gabel e colaboradores (2013) confirmam que a exposição à luz matinal em indivíduos de faixa etária entre 20 e 33 anos, melhora os parâmetros subjetivos de bem estar, sonolência, tensão e desempenho cognitivo de modo que o indivíduo se sinta mais apto para cumprir as tarefas que exijam um esforço intelectual. Crowley e Eastman (2015) propuseram que a exposição à luz artificial pela manhã combinada com a não exposição a noite pode avançar o ritmo de adolescentes. Apesar dessas descobertas não manterem total relação com os achados do presente estudo, reafirmam que a exposição à luz pela manhã, mesmo sendo artificial, pode diminuir a irregularidade do sono e a restrição do sono, além de contribuir para aumentar os níveis de alerta. Para as outras variáveis analisadas: alerta fásico, atenção sustentada, irregularidade do sono, sonolência ao acordar e sonolência de Maldonado, não houve correlação significativa, provavelmente devido a limitação do tamanho da amostra analisada e/ou a diferenças individuais. A exposição à luz pela manhã possui um papel importante para o desempenho escolar dos adolescentes que estudam pela manhã frente ao horário de início das aulas e às condições fisiológicas naturais dos ritmos biológicos dos adolescentes. Sugere-se para os próximos estudos um tamanho amostral maior para XXXI CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2020 CIÊNCIAS DA VIDA 30 avaliar a relação entre intensidade de luz pela manhã, irregularidade do ciclo sono e vigília e os componentes da atenção em adolescentes do turno matutino. Conclusão Com o presente trabalho, sugerimos que níveis mais elevados de exposição à luz matinal estão relacionados a maiores os níveis de alerta tônico e atenção seletiva em adolescentes que estudam pela manhã. Porém, não observamos relações entre essa exposição e a irregularidade do sono na semana e a sonolência ao acordar, assim como com os outros componentes da atenção, provavelmente devido ao baixo número de participantes no estudo. Para novos estudos, propomos aumentar o tamanho da amostra para avaliar a relação entre a exposição à luz pela manhã no trajeto de casa até a escola, irregularidade do ciclo sono e vigília e os componentes da atenção em adolescentes do turno matutino. Não obstante, sugerimos que os adolescentes se exponham à luz natural pela manhã e que as escolas melhorem a qualidade da luz em sala de aula, respeitando as recomendações previstas e promovendo um ambiente mais propício para melhores níveis de atenção e alerta, principalmente nos primeiros horários das aulas matutinas. Referências Anders, T. F., Carskadon, M. A., & Dement, W. C. (1980). Sleep and sleepiness in children and adolescents. Pediatric Clinics of North America, 27(1), 29-43. Andrade, M. M., Benedito-Silva, A. A., Domenice, S., Arnhold, I. J., & Menna-Barreto, L. (1993). Sleep characteristics of adolescents: a longitudinal study. The Journal of Adolescent Health: Official Publication of the Society for Adolescent Medicine, 14(5), 401-406. Associação Brasileira de Sono. Dossiê: Horários Escolares e Implicações no Sono de Adolescentes, nov. 2018. Belísio, A. S.; Azevedo, C. V. M.; Valdez, P. (2014) Padrões temporais de sono, sonolência diurna e os componentes da atenção em crianças que estudam nos turnos da manhã e da tarde na educação infantil. Blume, C., C. Garbazza, and M. Spitschan. Effects of light on human circadian rhythms, sleep and mood. Somnologie, 2019. Choi K., Shin C., Kim T., Chung H.J., Suk H.J. Awakening effects of blue-enriched morning light exposure on university students' physiological and subjective responses. Sci Rep.2019;9(1):345. Published 2019 Jan 23. doi:10.1038/s41598-018-36791-5 Crowley, S. J., Eastman, C. I. Phase advancing human circadian rhythms with morning bright light, afternoon melatonin, and gradually shifted sleep: can we reduce morning bright-light duration?. Sleep Med. 2015;16(2):288-297. doi:10.1016/j.sleep.2014.12.004 Gabel V., Maire M., Reichert C.F., et al. Effects of artificial dawn and morning blue light on daytime cognitive performance, well-being, cortisol and melatonin levels. 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Anexos Tabela 1 – Correlações entre a média da intensidade de luz no trajeto de casa até a escola na semana e os componentes da atenção (Spearman, p<0,05). Figura 1 - Correlação entre a média da intensidade de luz no trajeto de casa até a escola na semana e percentual de respostas corretas para a atenção seletiva (Spearman, p<0,05). XXXI CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2020 CIÊNCIAS DA VIDA 32 Tabela 2 – Correlações entre a média da intensidade de luz no trajeto de casa até a escola na semana e a irregularidade do sono, horários de sono e sonolência ao acordar na semana (Spearman, p<0,05). Figura 2 - Correlação entre a média da intensidade de luz no trajeto de casa até a escola na semana e percentual de omissões nas respostas para o alerta tônico (Spearman, p<0,05). XXXI CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2020 CIÊNCIAS DA VIDA 33 CÓDIGO: HS0966 AUTOR: FRANCISCO ALISSON DE MOURA ALVES COAUTOR: ADRIELLY MARCELA DE CASTRO DO NASCIMENTO ORIENTADOR: FIVIA DE ARAUJO LOPES TÍTULO: Market Simulator: escolha de parceiro em um speed-dating Resumo Ao longo de anos de estudos acerca da compreensão da dinâmica de parceiros, novos modelos acabaram surgindo. Nesse processo, o speed-dating surgiu e consiste em encontros rápidos entre indivíduos, de modo a simular a dinâmica do mercado de acasalamento e tentar compreender o processo de escolha de parceiros. Assim, o speed-dating já vem sendo utilizado em estudos da área ao redor do mundo, mas é uma metodologia a ser consolidada no Brasil. Nesse sentido, este estudo tem como objetivo investigar a relação entre personalidade, autoavaliação e valor de mercado dos indivíduos a partir do uso do speed-dating como metodologia. Nossa amostra contou com 54 indivíduos, 29 homens e 25 mulheres, todos heterossexuais e solteiros. Esses compareceram ao Centro de Biociências (UFRN) e responderam também a um conjunto de questionários. Para a análise dos dados foram feitas correlações de Pearson e Spearman. Foram observadas correlações entre traços de personalidade e as dimensões da autoavaliação para cada sexo. Quanto à autoavaliação e o valor de mercado do parceiro escolhido no speed-dating, não foram encontradas correlações significativas. Assim, o speed-dating demonstrou potencial para investigar as características associadas ao valor de mercado de indivíduos de acordo com sua personalidade. Entretanto, são necessários mais estudos para o entendimento da dinâmica de valor de mercado como também para a consolidação do speed-dating como metodologia científica. Palavras-chave: Diferenças sexuais. Personalidade. Valor de mercado. TITLE: Market Simulator: choosing a speed-dating partner Abstract Over years of studies on understanding the dynamics of partners, new models have emerged. In this process, speed-dating emerged and consists of quick meetings between individuals, in order to simulate the dynamics of the mating market and try to understand the process of choosing partners. Thus, speed-dating has already been used in studies of the area around the world, but it is a methodology to be consolidated in Brazil. In this sense, this study aims to investigate the relationship between personality, self-assessment and market value of individuals from the use of speed-dating as a methodology. Our sample included 54 individuals, 29 men and 25 women, all heterosexual and single. These attended the Center for Biosciences (UFRN) and also XXXI CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2020 CIÊNCIAS DA VIDA 34 answered a set of questionnaires. Pearson and Spearman correlations were used to analyze the data. Correlations were observed between personality traits and the dimensions of self-assessment for each sex. Regarding the self-assessment and the market value of the partner chosen in speed-dating, no significant correlations were found. Thus, speed-dating has demonstrated the potential to investigate the characteristics associated with the market value of individuals according to their personality. However, further studies are needed to understand the market value dynamics as well as to consolidate speed-dating as a scientific methodology. Keywords: Sexual differences. Personality. Market value. Introdução No mercado de acasalamento humano, os indivíduos possuem um valor de mercado que pode ser um indicativo de suas qualidades como parceiro em potencial (Pawlowski, 2000). Dentro desse mercado, os indivíduos também possuem preferências traços como características físicas e mesmo inteligência e bom-humor (Hattori et al., 2013). As preferências são diferentes entre os sexos (Pawlowski, 2000), e também podem sofrer influência de variáveis sociais e culturais (Lopes et al., 2018). O Valor de mercado dos indivíduos é uma importante característica no mercado de acasalamento, sendo traçado a partir da autoavaliação dos indivíduos unindo suas representações cognitivas, características e habilidades (Valentova & Veloso, 2018). Indivíduos com uma maior autopercepção do valor de mercado podem acabar sendo mais exigentes nas características presentes em um parceiro, de modo que suas características acabam por refletir uma maior cobrança na busca por um parceiro em potencial (Edlund & Sagarin, 2010) seja por características físicas ou de personalidade. Carere e Locurto (2011) abordam a personalidade
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