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FILOSOFIA DO DIREITO CONTEÚDO (5)

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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO PRIVADO DO UÍJE
ISPPU
APONTAMENTOS DE FILOSOFIA DO DIREITO E DE ESTADO
(Uso exclusivo para os estudantes do ISPPU)
 (
Elaborados pela coordenação de filosofia
)
 Uíje, 2021
DISCIPLINA: Filosofia do Direito e de Estado
CURSO: Direito
PERIODO: Diurno 
NÍVEL: Primeiro Ano
HORAS SEMANAIS: 3 horas
TIPOS DE AULAS: Teóricas e Práticas 
REGIME: Semestral
DOCENTE DA CADEIRA: António Afonso Canzau
PLANO DE ENSINO
1. Conceituação
Sendo reflexão filosófica sobre o direito, a filosofia do direito é filosofia e, como tal, não é reconduzível ou assimilável à ciência jurídica. Pois, porque é filosofia, o modo como a filosofia do direito considera o Direito é muito diverso daquele pelo qual estas ciências ou formas de conhecimento do jurídico o consideram. 
2. Objectivos da disciplina
2.1. Objectivos gerais:
- Desenvolver uma visão crítica do Direito, com base nos postulados da Filosofia apreendidos nas diferentes posições jus-filosóficas.
- Actuar como profissionais na construção de uma consciência cidadã;
2.2. Objectivos específicos:
- Explicitar as dimensões éticas e políticas do direito positivo;
- Determinar o valor e o sentido do direito no contexto dos problemas da sociedade contemporânea.
3. Metodologia de ensino
Todas as aulas serão expositivas e discutidas. 
4. Modo de avaliação
A nota final será a média aritmética atribuída, resultante das avaliações parciais e à participação nos debates durante as aulas. Haverá duas provas escritas e uma avaliação contínua que primará na presença e participação activa de cada estudante na sala de aulas. E por último o exame final.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 
INTRODUÇÃO
TEMA 1 – NOÇÃO DE FILOSOFIA DO DIREITO
1.1 Natureza, objecto e método da filosofia do direito
1.2 Problema ontológico do direito
1.3 Problema epistemológico do direito
1.4 Problema axiológico do direito
1.5 Direito como um problema cultural
1.6 Direito como ordem normativa
TEMA 2 – PRINCIPAIS ETAPAS DA FILOSOFIA DO DIREITO
2.1 Filosofia do direito na idade antiga
2.2 Filosofia do direito na idade Média 
2.3 Filosofia do direito na idade Moderna
2.4 Filosofia do direito na idade Contemporânea
TEMA 3 – PROBLEMAS ACTUAIS DA FILOSOFIA DO DIREITO
3.1 ‘Humanidade’ como conceito jurídico
3.2 Direito social
3.3 Ideia de democracia
3.4 Direito universal
3.5 Direito supralegal
	
TEMA 4 – FORMAS DO DIREITO
4.1 Direito natural
4.2 Direito positivo
4.3 Positivismo jurídico
4.4 Teoria tridimensional do direito
4.5 Direito subjectivo e objectivo
4.6 Direito justo e injusto
4.7 Direito público e privado
4.8 Direito material e formal
TEMA 5 – DIREITO E OUTRAS FORMAS CULTURAIS
5.1 Direito e Moral
5.2 Direito e Costume
5.3 Direito e Religião
5.4 Direito e Justiça
Conclusão
Bibliografia
 Introdução
A filosofia do direito não é uma disciplina jurídica ao lado das outras; não é sequer, rigorosamente uma disciplina jurídica. É uma actividade mental ou ramo da filosofia que se ocupa do direito; é uma parte, um capítulo particular da filosofia. A filosofia como disciplina e forma de actividade mental do homem teorético é talvez a única que não possui, em todo o rigor, um objecto próprio e exclusivamente seu, um objecto específico, como o possuem as outras ciências e os outros saberes aplicados só a certos sectores limitados da realidade. A filosofia do direito não é também mais que uma certa visão ou contemplação das coisas do direito, ou, numa palavra, do ‘jurídico’. 
Pois, essa visão ou contemplação é precisamente a filosofia. Trata-se de uma aplicação do prisma próprio da visão filosófica as coisas do direito e do Estado como realidades com as quais o homem também se preocupa e não pode deixar de se preocupar. É uma transposição para o mundo das nossas habituais preocupações de juristas, daquelas mesmas interrogações fundamentais que se nos impõem a respeito de tudo o que pode ser objectivo de pensamento, quer no domínio da fria especulação, quer no da acção, se formos filósofos. 
  
TEMA 1 – NOÇÃO DE FILOSOFIA DO DIREITO
1.2 Natureza, objecto, Objectivo e método da filosofia do direito
- Natureza da Filosofia do Direito
Filosofia do direito é o campo de investigação filosófica que tem por objecto o direito. Trata-se da filosofia aplicada a ciência do direito, com o intuito de obter decisões mais justas. É análise crítica e reflexiva sobre o direito.
É preciso não confundir a “Filosofia do Direito” a Teoria do Direito. Nesse sentido, caberia à “Filosofia do Direito” apenas questões relacionadas à essência do fenómeno jurídico, enquanto que a análise da substância do direito, isto é, as questões relativas à definição, as funções, fontes, critérios de validade do direito e etc., caberia à teoria do direito.
A filosofia do direito é a meditação mais profunda a respeito do direito, que investiga sua essência, sua justificação e sua finalidade. Examina as primeiras causas e os supremos princípios do fenómeno jurídico, envolvendo sua natureza, o porquê, para quê, donde e para onde de sua existência.
A filosofia do direito, tem sido abordada tanto de um prisma filosófico, por filósofos de formação, quanto de um prisma jurídico, por juristas de formação.
É importante, para um claro entendimento da filosofia do direito, que se procure fixar a distinção inicial entre as duas ordens de conhecimento: o estudo do sistema normativo verificável no processo de convivência humana e o estudo dos sistemas ideológicos que se constituíram para explicar aquele processo. Isto quer dizer, a distinção entre o exame do fenómeno do direito como conjunto de normas, e o exame dos sistemas lógicos que foram elaborados no curso do pensamento especulativo por filósofos e juristas[footnoteRef:2]. [2: REALE, M., Filosofia do direito, 1ª Edição, São Paulo, p. 24.] 
Assim, em relação ao primeiro ponto de vista, cabe ainda considerar o facto normativo, direito efectivo que disciplina a conduta humana individual ou social, pois, constituído pela formulação mediante a técnica legiferante. Entretanto, os diferentes graus de diferenciação normativa, na sua evolução temporal, evidenciaram-se nos enunciados jurídicos, religiosos e éticos. O estudo sistematizado do facto normativo é objecto da ciência do direito. Por isso, se pode afirmar que a plenitude de uma visão do processo jurídico só é alcançada na filosofia do direito[footnoteRef:3]. [3: IDEM.] 
Ora bem, a área da ciência do direito é parte da realidade onde vivem as normatividades. As interactividades individuais e de grupos, socialmente estruturados, constituem todo o mundo da praxis histórica cujo sentido se evidencia no mundo de valores. A filosofia do direito, esclareça-se desde logo, não é disciplina jurídica, mas é a própria filosofia enquanto voltada para uma ordem de realidade, que é a ‘realidade jurídica’. Nem mesmo se pode afirmar que seja filosofia especial, porque é a Filosofia, na sua totalidade, na medida em que se preocupa com algo que possui valor universal, a experiência histórica e social do direito[footnoteRef:4]. [4: REALE, M., Filosofia do direito, 1ª Edição, São Paulo 2002, p. 40.] 
O direito é realidade universal, pois, onde quer que exista o homem, aí existe o direito como expressão de vida e de convivência. É exactamente por ser o direito fenómeno universal que é ele susceptível de indagação filosófica. A filosofia não pode cuidar senão daquilo que tenha sentido de universalidade. Ora bem, esta a razão pela qual se faz filosofia da vida, filosofia do direito. Filosofia da história ou Filosofia da arte. Falar em vida humana é falar também em direito, daí se evidenciando os títulos existenciais de uma filosofia jurídica.
Pois, na filosofia do direito deve reflectir-se, pois, a mesma necessidade de especulação do problema jurídico em suas raízes, independentemente de preocupações imediatas de ordem prática[footnoteRef:5]. [5: IBIDEM, P. 41.] 
- Objecto
A ciência do direito faz parte da filosofia. Como parte da filosofia, tem um ponto de partidadefinido que é o resultado e a verdade do que precede e do qual constitui aquilo a que se chama prova[footnoteRef:6]. [6: HEGEL, G., W., F., Princípios da filosofia do direito, 1ª Edição, tradução portuguesa de ORLANDO VITORINO, São Paulo1997, p. 1.] 
Assim sendo, do ponto de vista material a Filosofia do Direito se ocupa do Direito. Mas o Direito não é estudado apenas pela Filosofia. Desta forma, para não confundir a Filosofia do Direito, com outros campos do saber que têm o mesmo objecto material, é preciso recorrer ao objecto formal. Neste quesito, a Filosofia do Direito deverá ocupar-se do justo e do injusto, e é esse o seu objecto formal. Trata-se da contemplação valorativa do direito, a teoria do direito justo.
- Objectivo
Filosofar sobre o direito seguirá os mesmos objectivos da filosofia, que é o preocupar-se com as causas primeiras e últimas. Por meio de reflexões e questionamentos, busca a verdade real e processual visando aplicá-las no mundo jurídico. Essa ciência possui o objectivo de conhecer e contemplar a verdade, bem como se preocupa em chegar às causas das coisas por meio da razão.
Em busca da verdade os magistrados exercem seu papel, analisando e reflectindo sobre cada demanda judicial de forma racional, imparcial e desinteressada, com o auxílio da Filosofia, vislumbrando um único objectivo, qual seja, alcançar a justiça e fazer valer o direito positivado, mediante uma decisão crítica e avaliativa.
Na aplicação da ordem jurídica aos casos concretos, dada a abstractividade das normas e ao fato de que, ao julgar, cumpre-lhe considerar a ordem jurídica como um todo e não as leis isoladamente, os juízes dispõe, quase sempre do poder de solucionar as questões em conformidade com os imperativos de justiça e estes se apresentam sempre com o conteúdo moral"
A Filosofia do Direito implica indagar-se a respeito dos elementos que constituem o que há de fundamental para a compreensão do fenómeno jurídico, que nada mais é que o "nexo transubjectivo estabelecendo um âmbito de acções possíveis entre dois ou mais sujeitos."
A missão da filosofia do direito está ligada ao fenómeno jurídico e seu procedimento. Para tal, será necessário atingir a verdade da justiça justa á luz da razão. Criticar a experiência jurídica, no sentido de determinar as suas condições transcendentais, ou seja, aquelas condições que servem de fundamento à experiência, tornando-a possível.
- Método
A filosofia é sempre uma teoria do englobante, a filosofia do direito, ao estudar o direito como um todo, não há de se contentar com nenhum método isolado. Os métodos, que os grandes filósofos do direito têm utilizado nos seus estudos e investigações, variam no decorrer da história.
Ora, a filosofia do direito faz uso de uma verdadeira combinação de métodos, um pluralismo metodológico. A filosofia do direito sendo, como já se observou, a aplicação de uma filosofia ao direito, emprega tantos métodos quantas forem as filosofias eleitas pelos juristas. Daí decorre o facto de não haver acordo acerca do método a ser empregue na reflexão filosófica no campo jurídico. Para alguns autores, fora do método científico incompatível com o filosofar, todos os métodos são lícitos para tratar filosoficamente do Direito.[footnoteRef:7] [7: OLIVEIRA, M., C., Noções Básicas de Filosofia do Direito, São Paulo 2001, P. 14.] 
O problema dos métodos da filosofia do direito para a captação melhor do fenómeno jurídico é realmente difícil, devendo ser colocado sob o aspecto material e sob o aspecto formal. O direito é um só, é um objecto cultural que, entretanto, se manifesta sob vários aspectos. 
Assim, cada um de seus ângulos vai condicionar um método especial que pode ser indutivo, dedutivo ou intuitivo. Cada um desses métodos vai ser mais compatível com a natureza do ângulo apresentado, pelo que se infere que todos os métodos estudados pela filosofia podem ser transpostos para a filosofia do direito, na captação do fenómeno jurídico, tudo dependendo do momento da experiência jurídica que se pretende apreender.
1.3 Problema ontológico do direito ou ontologia jurídica 
Por ontologia jurídica entende-se a parte da filosofia do direito que tem, entre outras funções, a de determinar o conteúdo do direito, fazendo conhecer seu objecto e por fim possibilitando a determinação de seu conceito. 
É preciso notar, antes de tudo, que isso a que genericamente chama-se direito não se deixa de situar numa camada, região ou esferas únicas do ser. Situa-se, por assim dizer, antes, ao mesmo tempo ou sucessivamente, em várias dessas esferas ou regiões. 
Assim, trata-se aqui de um ser que, como alguns outros, percorre ou atravessa, as diversas esferas e regiões ônticas do ideal, do real, do não-sensível e até mesmo do sensível, projectando-se em cada uma delas de modo e com determinações gerais muito diferentes. Este pensamento tornar-se-á mais claro se disser, que o direito, partindo do ser ideal como valor e ideia, torna-se real como ser não-sensível na forma de direito histórico.
1.4 Problema epistemológico do direito
Epistemologia jurídica, examina os factores que condicionam a origem do direito, e tem como um dos seus objectivos tentar definir o seu objecto. A epistemologia jurídica está ligada a reflexão, que leva a um entendimento das várias formas de compreender o conceito de direito. Ou seja, é o seguimento da Filosofia do Direito voltado ao estudo das fontes jurídicas. Visa entender e delimitar o seu objecto, e o seu método de estudo. 
A questão da cientificidade do conhecimento jurídico continua como um dos problemas basilares que enfrenta a comunidade jurídica internacional. 
Concordar com a ideia de que o Direito pode ser concebido como uma ciência e que, portanto, podemos submeter a testes científicos seus enunciados é aceitar a existência de um objecto, de uma finalidade, de uma terminologia, de princípios e de métodos específicos e próprios dessa ciência. Acreditar na cientificidade do conhecimento jurídico é ter como verdadeiro o seu carácter sistemático, é aceitar que existe um fundamento (uma base) sobre a qual se organiza tal conhecimento.
Neste contexto, a primeira grande tarefa atribuída a filosofia jurídica é a de esclarecer em seus aspectos universais e necessários, a noção do direito, pelo facto do Direito ser uma ciência social aplicada, com forte aspecto pragmático.
No entanto, uma reflexão segura sobre temas jurídicos requer uma ampla noção de direito. Tal estudo envolve exame de numerosas questões, sendo que a posição a ser assumida pelo jurisfilósofo fica na dependência de suas inclinações ideológicas.
A elaboração de um conceito de direito é acto complexo, que impõe opções doutrinárias de longo alcance na problemática jurídica. Daí por que o exercício dessa liberdade cultural pressupõe a expressão jurídica e o conhecimento das alternativas filosóficas.
1.4 Problema axiológico do direito
Axiologia é parte da filosofia que estuda a problemática dos valores, como o bem e o mal, o verdadeiro, o justo. Nesta linha de pensamento, por axiologia do direito ou jurídica, é o estudo dos valores jurídicos, na base dos quais está a justiça. Pois o valor é o eixo em torno do qual toda ordem jurídica gira.
Se o direito é essencialmente uma ciência “normativa” e a estrutura lógica de toda proposição jurídica é um dever ser, coloca-se naturalmente a pergunta: qual a direcção ou o ideal visado pela norma? Qual o valor fundamental que orienta esse dever ser?
Basicamente, a sentença deve ser “justa”, a lei deve ser “justa” a obrigação e a indemnização devem ser “justas”, o salário e o preço devem ser “justos”. Com razão escreveu Del Vecchio: “a noção de justo é a pedra angular de todo o edifício jurídico”.
Além disso, a noção de “princípios gerais do direito”- a que devem, a cada momento, recorrer o juiz e os demais aplicadores da lei, corresponde fundamentalmente aos princípios de “justiça”. Mas, que é justiça? Quais as suas características, sua natureza, suas espécies, seu fundamento? E os demais valores jurídicos - a segurança, o interesse social,a ordem, o bem comum?
É esse um antigo e complexo tema. Seu estudo recebe modernamente os nomes de axiologia jurídica, teoria dos valores jurídicos, deontologia jurídica, estimativa jurídica.
1.5 Direito como um problema cultural
Como realidade cultural, o direito não pertence ao mundo físico nem biológico, em que imperam a necessidade, a causalidade e o determinismo, nem ao domínio psíquico das emoções e dos sentimentos, nem sequer ao dos seres ideais, em que se situam as realidades lógicas e matemáticas, pois enquanto estas são intemporais e abstractas, o direito é concreto, variável no tempo e no espaço, e, como realidade humana, é profundamente marcado pela temporalidade e pela historicidade essenciais ao próprio homem. 
Ora, como criação cultural não é um dado, uma realidade preexistente que o homem encontre no mundo ou na natureza, nem uma realidade estática, mas sim espírito objectivado, projecção espiritual do homem. Algo que está aí para ser pensado, conhecido e vivido e cuja existência depende, por isso, da relação cognitiva e vivencial que o homem como ele estabelece e mantém, a qual lhe dá vida e contendo e actualiza, dinâmica e criadora, o sentido que nele está latente e lhe é conferido pela referência a valores, princípios ou ideais[footnoteRef:8]. [8: ARRUDA, J., filosofia do direito, 3ª edição, São Paulo 1942, p. 33.] 
O direito caracteriza-se por ser uma criação humana que se objectiva em normas, constituindo uma ordem reguladora da conduta ou do agir humano na sua interferência intersubjectiva, na sua convivência ou na sua vida social. 
No domínio da cultura, o direito individualizando-se, assim, por se referir à actividade prática do homem e não à sua actividade teorética, por dizer respeito à acção e à conduta e não ao saber, ao conhecimento ou à verdade, por ter como domínio específico o dos conflitos de interesses surgidos na vida social, que visa resolver ou decidir de acordo com determinados princípios, valores ou ideias. 
Sendo realidade humana e criação cultural, o direito define-se também pela sua temporalidade e historicidade, dado que não só a visão dos princípios, valores ou ideias a que se refere e procura tornar efectivos é sempre imperfeita e precária, porque obtida a partir de uma determinada situação concreta, historicamente definida, como ainda o direito só enquanto vivido e aplicado verdadeiramente é. No entanto, a temporalidade e a historicidade são, evidentemente, a própria condição essencial de tudo o que é humano. Nada relativo à existência empírica do homem, indivíduo ou comunidade, pode pensar-se fora do quadro temporal[footnoteRef:9]. [9: Cf. Ibidem, p. 34.] 
Toda a realidade sensível ou não-sensível é dada no tempo. Só estão fora dele os seres e objectos ideais, como a ideias e conceitos gerais, que jamais deve-se confundir com a sua projecção temporal no campo da realidade, sensível ou não. E o mesmo diga-se da outra determinação fundamental da existência humana: a sua historicidade. A duas determinações são, de resto, convertíveis uma na outra. A historicidade é, pode dizer-se, a efectivação mais concreta e repleta de conteúdo da temporalidade, com a nota particular de se referir só ao homem. 
Esta particularidade do direito e o ponto de vista de que considera a conduta humana revelam o seu carácter de realidade social e a sua bilateralidade, pois envolve sempre relações entre pessoas, implicando direitos e deveres de uns perante os outros[footnoteRef:10]. [10: IDEM.] 
Por outro lado, o direito é uma realidade social heterónima, uma vez que a regulamentação ou a ordenação da conduta que se propõe estabelecer é imposta do exterior dos sujeitos, por um outro sujeito dotado de poder de definir e impor critérios, regras ou normas de conduta ou de comportamento. 
1.6 Direito como ordem normativa
Uma das determinações fundamentais do direito positivo, evidenciada pela experiência, é a que consiste na sua imperatividade e normatividade. Todos os preceitos jurídicos se deixam reduzir a um imperativo ou ordem dada a alguém, sendo a designação dessa ordem, sobretudo quando referida a uma generalidade de homens e igualdade de condições, o mesmo que norma ou normatividade e imperativo, sendo esta determinação aliás uma determinação que pertence ao próprio conceito de direito. 
São ainda determinações fundamentais ou características do direito positivo a sua obrigatoriedade e coercibilidade. Pela primeira, entende-se uma obrigatoriedade de consciência. O homem obedece às normas do direito, desde que o faça conscientemente, tem de o fazer no sentimento de quem presta uma homenagem a certas ideias de valor, mesmo que isso lhe custe. 
A obrigatoriedade do direito em consciência só pode ser uma obrigatoriedade moral, ou então não será coisa alguma; será tão só coacção, medo, conveniência ou despotismo. Esta consideração coloca, porém, diante de uma derradeira determinação ou característica essencial do direito positivo: a sua coercibilidade[footnoteRef:11]. [11: ARRUDA, J., filosofia do direito, 3ª edição, São Paulo 1942, p. 39.] 
Costuma-se dizer que o direito é norma coactivamente imposta pelo Estado aos homens na vida social. À primeira vista, pode ser contraditório falar em coercibilidade do direito, justamente depois de se ter acabado de dizer que ele se funda só numa obrigatoriedade toda moral de adesão aos seus preceitos, fora de qualquer coacção. Todavia a contradição é meramente aparente. Ela só existirá se disser, ser todo o direito só coacção, mas direito só se torna coactivo eventualmente; torna-se coactivo, ainda em homenagem a um dever-ser moral, só na medida em que o não acatamento dos seus preceitos por parte de alguns homens arraste necessariamente consigo: ou a ofensa dos direitos dos outros, ou a ruína da ordem social estabelecida. 
As normas em que se objectiva o direito constituem uma ordem, num amplo sentido: por um lado, formam um conjunto ordenado a partir dos princípios, valores ou ideias de cuja visualização ou interpretação são objectivada expressão; por outro lado, procuram ordenar, reflectir ou tornar direita ou recta a vida social, a convivência entre os homens, as suas relações, substituindo por uma ordem, caos a que a desordenada conduta individual inevitavelmente conduziria, no seu jogo de egoísmos e na luta em que o mais fraco sucederia ao arbítrio do mais forte[footnoteRef:12]. [12: Cf. NADAR, P., Apontamentos de filosofia do direito, p. 28.] 
A ordem que o direito visa instituir, porque referida a valores, princípios ou ideias, não é uma ordem neutra ou indiferente, mas sim uma ordem justa, uma ordem concreta, definida a partir do princípio ou valor justiça, que é precisamente, aquele que dá sentido e conteúdo ao direito na sua essencial dimensão axiológico-cultural. 
Partindo da justiça como princípio, valor ou ideal, o direito é, pois, o meio de que o homem se serve para alcançar uma adequada ordenação da sua conduta social, com o fim de coordenar o exercício da liberdade de cada um com a liberdade dos restantes, realizando deste modo, o bem comum da sociedade política.
TEMA 2 – PRINCIPAIS ETAPAS DAFILOSOFIA DO DIREITO
2.1 Filosofia do direito na idade antiga
A importância do conhecimento dos factos que se passaram em outras épocas assume papel considerável nas disciplinas filosóficas, visto que as cogitações filosóficas de hoje quase sempre são as mesmas do passado, diferindo somente, na maior parte dos casos, o processo interpretativo. Do mesmo modo, os temas de filosofia do direito revelam que sempre se meditou sobre o fenómeno jurídico, que é facto natural, correspondente a um constante anseio do homem. 
Nas sociedades do antigo oriente, o fenómeno jurídico, mesclado com elementos éticos, teológicos, políticos, ainda não se estremara a ponto de erigir-se como objecto definido de cogitação autónoma por parte dos especialistas. Tratado por sacerdotes das várias religiões, posto a serviço da política, o direito trazia a marca dos deuses e dos monarcas, sendo considerado como facto meta-humano[footnoteRef:13].[13: Cf. ADELCIO, M., S., filosofia do direito, (art), Rio de Janeiro 2013, p.15.] 
Como o fenómeno jurídico não constituía objecto singular, típico, com maior razão a Filosofia do Direito inexistia naquela época, por falta de objecto, o que não significa afirmar, em absoluto, que, aqui e ali, de forma assistemática, não tinha sido o direito discutido e pensado, faltando apenas entre esses povos da antiguidade, uma cogitação autónoma a respeito do fenómeno jurídico. 
A Filosofia do Direito tem sua origem propriamente dita na Grécia. De acordo com Cretella Júnior, é raro o pensador grego que não tenha voltado a atenção para o fenómeno jurídico: as contribuições pitagóricas, sofista, aristotélica, platónica, socrática, estóica e epicureia assinalam os momentos altos do pensamento jusfilosófico helénico, numa sequência e encadeamento notáveis, contrapondo-se, dessa forma, o mundo grego ao mundo oriental, este, girando em torno do elemento teológico; aquele, ao contrário, preocupado com os elementos filosóficos[footnoteRef:14]. [14: Cf. Ibidem. p. 16.] 
Em Roma, diferentemente do que ocorre na Grécia, a filosofia não encontra campo fecundo para grandes desenvolvimentos e, muito menos, para a criação. Prático, objectivo, imediatista, concretista, administrador, por excelência, o romano não se deixa arrastar para a especulação filosófica. 
O imediatismo da vida quotidiana conduz o romano para as extraordinárias realizações na prática, para a conquista de outras terras, para a imposição de suas leis ao mundo, ao mesmo tempo em que o impele à estruturação ordenada, sistemática, de imponente monumento jurídico de cunho casuísta, desvinculado da desejável fundamentação filosófica.
Nesse sentido, Nader sustenta que o génio especulativo dos gregos corresponde, na Antiguidade, à vocação romana nos domínios da ciência do direito. Enquanto os primeiros foram originais na filosofia, os segundos foram extraordinários na elaboração de seu jus positum. 
Pois, os romanos não disporiam de recursos intelectuais para a construção de seu sistema jurídico, apreciado e estudado ainda hoje em todas as partes, caso não fundassem seu pensamento em princípios sólidos, somente alcançáveis pela via filosófica. 
- Alguns expoentes deste período 
Pitágoras (550 – 500 a. C.)
Nasceu em Samos, na Grécia, a doutrina fundamental da sua escola era os números, que são a essência e princípio dos seres. Deus é o número perfeito e dele tudo emana. 
 Para o direito, a filosofia dos números teve importância ao enxergar a Justiça como uma equação aritmética, ou seja, só há justiça quando há proporção, igualdade. Só há justiça quando há uma relação aritmética de igualdade entre dano e reparação, prestação e contraprestação.
	Diante disso os pitagóricos representavam a Justiça por um quadrado (pensando na exacta igualdade dos quatro lados). Portanto, para eles, a Justiça exige, antes de qualquer coisa, a igualdade. 
Tal conceito influenciou Aristóteles na criação dos conceitos de Justiça Distributiva, Correctiva e Comutativa. Influenciou Dante Alighieri na definição de direito baseada na proporção. Também influenciou Beccaria quando este definiu que há necessidade de proporcionalidade entre o delito e a pena. 
Sofistas
Inicialmente os filósofos gregos estudavam a natureza e seus fenómenos, o surgimento da vida, o elemento vital. Eram conhecidos como filósofos da natureza ou pré-socráticos. 
Por volta de 450 a.C., Atenas se transformou no centro cultural do mundo grego. A partir dessa época, a filosofia tomou um novo rumo. 
 O centro dos estudos se deslocou para o homem e para sua posição na sociedade ‘antropocentrismo’. Nessa época desenvolveu-se a democracia e, portanto, a retórica (a arte de bem falar) era muito importante para as discussões em assembleias e tribunais, e necessitava estudo e conhecimento para ser bem desempenhada. Com isso, um grupo de mestres e filósofos se concentrou em Atenas. Eram os sofistas: pessoas estudadas que ganhavam a vida ensinando aos cidadãos (homens de alto nível social).
Os sofistas eram pessoas muito viajadas, conheciam diversos sistemas de governo, diversas culturas, com isso começaram a discutir o que seria natural e o que seria criado pela sociedade. Foi o início da crítica social.
Eles demonstraram que não existia um sentimento natural de pudor, pois as pessoas não nasciam com o sentimento de vergonha, não era algo inato, pois se assim fosse, em todos os lugares as pessoas achariam as mesmas coisas como certas. Com isso percebemos que nossa moral é determinada pela sociedade.
Os sofistas afirmaram que não havia regras absolutas, com isso os governantes ficaram muito irritados, pois eles faziam as regras e diziam que os deuses queriam dessa forma, pois era a Justiça Absoluta.
O principal necessário para  que se entenda os Sofistas é a ideia de Relativização do pensamento dos pré-socráticos. A participação dos sofistas é fundamental para questionar a filosofia (Nos dias actuais popularmente se traduz diariamente como: “depende do  ponto de vista”). A habilidade de oratória e retórica é característica principal dos sofistas. Para a retórica: vence a discussão quem tem razão (filósofos) ou tem razão quem vence a discussão (sofistas)?
Os sofistas apregoam que tudo é relativo, que na verdade para se chegar a verdade resta fundamental a argumentação, pois através dela será demonstrado a melhor aplicação da teoria à realidade, e assim se chegará a verdade.
Creditava-se a verdade como um consenso, uma convenção entre os homens, em que da persuasão extraia-se a verdade. A verdade não nasce com a natureza, mas é fruto da  apreciação e julgamento dos homens. E daí inclusive que venha a famosa frase de Protágoras: “o Homem é a medida de todas as coisas”.
Assim sendo, a retórica é algo de grande importância para os Sofistas, é ela que define a relação de poder e superioridade, uma vez que para eles não vence a discussão quem tem razão, mas tem razão quem vence a discussão, sendo que subentende-se ainda que por se tratar de discurso e uso de técnicas dramatúrgicas a retórica não trabalha na razão, mas na emoção.
Divisão das leis feita pelos sofistas: Subdividem-se as leis em:
a) Physis: é a natureza (direito natural), enseja a uma lei que existe naturalmente e é involuntariamente conhecida e interna em todos indivíduos. Physis é também o caos natural, é a natureza que coloca a ordem nas coisas.
b) Nomos: Leis convencionadas (direito positivo), que são de criação do homem, segundo a persuasão e concordância, isto é, o direito positivo. Nomos são as leis convencionadas.
Por  fim, é importante ressaltar que os sofistas contribuíram para a atribuição da experiência democrática como ruim, haja vista que eles acreditavam que as atribuições feitas pela humanidade são meros predicados vazios, em vista de que tudo é relativo.
Protágoras (487-420 a.C.) “o homem é a medida de todas as coisas”. Com isso ele quis dizer que o certo e o errado, o bem e o mal sempre tinham de ser avaliados em relação às necessidades do homem. Aí está o mérito da sofística: libertar o homem dos conceitos mitológicos, colocando-o no centro do pensamento. 
 Por esta forma de raciocínio, os sofistas passaram a entender os valores como relativos e não mais absolutos (de definição divina). Assim, a Justiça passou a ser vista como um valor relativo, a serviço dos interesses humanos. 
Ao analisar as leis, os sofistas perceberam que o homem era o princípio e a causa de si mesmo e não a natureza: quem define as leis são os homens, não as divindades. 
Caso fosse a natureza que definisse as leis, elas seriam iguais em todos os lugares do mundo, portanto, é possível concluir que o homem define, conforme seus interesses, o certo e o errado. As leis são actos humanos e racionais que se constituem no centro da sociedade, por causa das necessidades sociais e através da discussão comum. 
Trasímaco disse que a justiça é vantagem para quem domina e não para quem é dominado. Com isso os sofistas relativizaram o conceito de justiça, igualando-o ao de lei: éjusto o que está na lei. Com a relativização da justiça cria-se um debate para toda a história do Direito: a Justiça é relativa ou absoluta, muda ou não com o tempo e espaço?
Sócrates (469-399)
Sócrates foi um divisor de águas sobre o tema. Se observarmos tanto a sua vida, bem como a teoria que elaborou, revelam uma coerência espantosa. Esse filósofo partia de uma premissa fundamental: “O homem é o Ser Moral, ou o Ser ético”. Isto significa que o homem é o ser capaz de agir racionalmente, actuando dentro de parâmetros éticos.
Vale lembrar que, ao contrário dos Sofistas, Sócrates não se preocupou com o Homem em seu aspecto individual, não propôs uma relativização. Assim, quando Sócrates analisou o homem, buscou centralizá-lo.
	Quem sabe o que é certo acaba fazendo o que é certo: Só os ignorantes praticam o mal. Sócrates recusa uma atitude simplesmente teórica perante o saber (atitude característica dos sofistas). Parte do princípio que quem verdadeiramente procura o Bem, só pode viver segundo o Bem. 
Diferentemente dos sofistas, Sócrates entendia que a razão definia o certo e o errado e não a sociedade. Para ele quem sabe o que é bom acaba fazendo o bem. Sócrates achava impossível alguém ser feliz se agisse contra suas próprias convicções, e sendo assim, quem sabe como ser feliz certamente tentará fazê-lo.
A virtude identifica-se com o conhecimento, ou dito de outro modo: Saber e Moralidade são o mesmo, e estão indissociavelmente ligados. O único que comete o mal é o ignorante, aquele que conhece o bem só pode praticar o bem.
O meio único de alcançar a felicidade ou semelhança com Deus, fim supremo do homem, é a prática da virtude. Sócrates reconhece também, acima das leis mutáveis e escritas, a existência de uma lei natural independente do arbítrio humano, universal, fonte primordial de todo direito positivo, expressão da vontade divina promulgada pela voz interna da consciência.
Sócrates pregava a obediência às leis. Via no racionalismo sofista (recusar cumprimento às leis dado o cepticismo de seu pensamento e sua negação às leis de ‘carácter’ divino) um perigo, pois este levava ao cepticismo, que desorientava a noção que se deveria ter de moral e de bem. 
Em um diálogo que manteve com Hípias, o qual encontra-se no Capítulo IV do Livro IV de Memoráveis, escrito por Xenofonte. Sócrates fora questionado sobre sua concepção de justiça e respondeu que julgava desnecessário dizer com palavras o que demonstrava com o seu comportamento. 
Como não estivesse satisfeito com a resposta, Hípias pergunta a Sócrates o que seria justo e este responde: «eu digo que o que é legal é justo». A priori, essa resposta parece ter um cunho altamente positivista, mas se analisarmos as concepções socráticas acerca das leis veremos em Sócrates um gérmen do jusnaturalismo, posto que ele acreditava que havia, além das leis escritas (humanas), leis que valiam para todos os homens e que eram de origem divina. 
 Ao ser condenado injustamente, Sócrates manteve-se fiel a seus ensinamentos, posto que entendia que "era preciso que os homens bons cumpram as leis más para que os homens maus cumpram as leis boas". Em conclusão, a ordem e paz social dependem das atitudes humanas em respeitar ou não as leis do Estado. 
Platão (427-347 a.C.)
Os interesses de Platão estavam em tudo aquilo que é eterno e imutável (como Sócrates) e em tudo aquilo que flui (como os pré-socráticos, os sofistas). 
Platão se interessava pelo eterno e imutável na natureza (como os filósofos da natureza) e também na moral e na sociedade (como Sócrates e os sofistas). Assim como outros filósofos Platão queria estabelecer certas verdades imutáveis: o que é eternamente verdadeiro, eternamente belo, eternamente bom. 
Diante disso, Platão idealizou que o que era eterno e imutável não era um elemento físico básico, mas sim os modelos espirituais ou abstractos, a partir dos quais todos os fenómenos são formados. Dessa maneira, Platão percebeu que para todas as coisas existia uma ‘forma’, ou seja, uma ideia perfeita.
Platão, como discípulo de Sócrates, seguiu a mesma linha de pensamento de seu mestre e em seus diálogos tentou alcançar a justiça verdadeira, uma vez que a definição da época era meramente convencional. Podemos dizer, analisando alguns dos diálogos de Platão, que é da essência da Justiça não prejudicar ninguém, ou seja, o homem que age e prejudica alguém, mesmo que seja um inimigo, é injusto. A palavra ‘prejuízo’ é sinónima de ‘diminuição de valor’, quando prejudicamos alguém, esse alguém se torna menos perfeito, perde valor. Perfeição é objectivo indissociável de Justiça, a Justiça não pode ser imperfeita.
A justiça não prejudica, deve sempre actuar com perfeição, ou seja, sempre ser correcta. O homem justo deve agir sempre com razão, controlando sua cólera e seu desejo, respeitando o saber do mundo das ideias.
Pois, o homem justo estabelece uma ordem verdadeira no seu interior, harmoniza as três partes (razão, cólera, desejo) de sua alma absolutamente como os três termos da escala musical.
Aristóteles (384-322 a.C.)
Considerado um dos maiores e mais influentes pensadores da cultura ocidental. Aristóteles foi provavelmente o mais erudito dos filósofos gregos clássicos ou antigos. Familiarizou-se com todo o desenvolvimento do pensamento grego anterior a ele.
Considerado o pai do Direito Natural, Aristóteles foi o primeiro a dividir os poderes em três: executivo, legislativo e judiciário.
Distinguiu, ainda, três tipos de constituição política: monarquia, aristocracia e política, bem como seus respectivos defeitos: tirania, oligarquia e democracia (cujo sentido corresponde hoje ao de demagogia).
Por outro, Aristóteles distingue dois tipos de justo: o justo natural e o justo político, mas não os separa.
Por Justo natural, entendia o filósofo como aquela que expressa uma justiça objectiva imutável e que não sofre a interferência humana. 
Enquanto que o Justo político é a lei positiva que tem sua origem na vontade do legislador e que sofre variação espaço-temporal. 
No tange a noção de justiça: para Aristóteles, é a virtude ética mais importante, pois é a única que se relaciona com o próximo e com o bem do próximo.
Aristóteles classificou a justiça em: distributiva e comutativa.
A justiça distributiva ou proporcional é aquela que visa a distribuição proporcional ao mérito de cada um, de bens ou honras.
A justiça comutativa voluntária compreende as relações de troca (mercantis), de forma que os objectos trocados sejam equivalentes, enquanto que a justiça comutativa involuntária é decorrente das infracções.
Quanto à origem do direito: na sua opinião, a génese do direito não está em Deus e muito menos nas leis. Segundo Aristóteles, a origem do direito está na própria natureza. O direito positivo tem como função complementar o Direito Natural, por isso, as leis são boas quando estiverem em conformidade com o Direito Natural. A realização da Justiça depende da obtenção da igualdade e da proporcionalidade. 
Relativamente a justiça e legislação: O homem virtuoso procura o bem comum. Por esta razão, o legislador deve ser virtuoso, isto é, cria leis que objectivam o bem comum.
Nesse sentido, seguir as leis é o mesmo que ser justo. Tal raciocínio levou o filósofo a seguinte máxima: “justo total” (leis justas e acções humanas justas). 
2.2 Filosofia do direito na idade média
A idade média se caracteriza pela volta do teocentrismo. A denominação média se refere ao fato de que esta idade medeia a ligação entre o antropocentrismo da Idade Antiga e o antropocentrismo do Renascimento. Com Deus no centro de todas as aspirações filosóficas, políticas e culturais a Igreja Católica passa a acumular o poder divino e temporal. Com o fortalecimento da Igreja Católica, a Idade Média tem a jusfilosofia pautada no estudo do direito sob foco religioso.
Desse modo, no plano do pensamento em geral, bem como no plano da Filosofia do Direito a época medieval foi dominada pelo cristianismo, sendo influenciada pela doutrina de Paulo de Tarso, que, muitos séculos antes, admitira a existênciado Direito Natural, inscrito nos corações humanos. O pensamento jurídico desenvolvido na Idade Média teve por base as ideias de Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino, Santo Anselmo, Alberto Magno e Duns Scoto. 
Porém, nosso enfoque, cingirá apenas nas ideias filosófico-jurídicas de Agostinho e Tomás de Aquino.
Santo Agostinho (354-430)
Sendo neo-platónico, a teoria de Agostinho divide a justiça em dois planos: 
Justiça transitória: realizada pelos homens e por isso é imperfeita corruptível pelos falsos juízos humanos (justiça humana).
Justiça eterna: perfeita e isolada da corrupção dos actos humanos (justiça divina). 
O principal motivo da justiça humana ser corrupta é o pecado original. As leis humanas muito se baseiam nas orientações divinas, mas o homem possui uma natureza corrupta, pois se desgarrou de sua origem ao cometer o pecado original. 
Portanto, um homem corrupto produz, um Estado corrupto, com leis corruptas. As leis divinas buscam apenas aproximar as almas de Deus. As leis humanas ou leis temporais muitas vezes pretendem favorecer certas classes ou pessoas, não buscam sempre o bem comum. 
De acordo com Miguel Reale, Agostinho quando se refere Lei eterna e Lei divina, há uma separação. Para o autor, Lei eterna é a lei que expressa a razão divina e é inseparável dela. Lei divina é a expressão da primeira, a lei revelada, a possibilidade mais próxima de conhecimento da lei eterna, como por exemplo os Dez Mandamentos.
Certo também que as leis temporais, por melhor que sejam, somente se preocupam com a ordem e progresso social, deixando de lado as finalidades divinas. Assim sendo, regram apenas o indispensável para a paz social, não prescrevendo orientações para a melhoria da humanidade.
Importa ressaltar ainda, na ideia de Santo Agostinho, a sociedade humana sem regramento e punições, se tornaria um local de profunda violência. O homem sem lei age sem limites. Isso demonstra que a natureza humana é corrupta e distante da lei divina. 
Agostinho pensa, assim como os romanos, que «Justiça é dar a cada um o que é seu». 
Para existir uma república é necessário a ordem, mas é preciso não perder de vista que, não há ordem sem direito e não há direito sem justiça. Em resumo: a ordem deve promover a distribuição do que é de cada um.
São Tomás de Aquino (1225-1274)
Contrariamente ao Santo Agostinho, Tomás foi neo-aristotélico.
Aquino cuidou detalhadamente do estudo da Justiça e seus conceitos, principalmente no texto Summa Theologica. No entanto, o estudo do Direito e da Justiça utilizam o prisma humano e não divino.
Aquino se preocupou muito com o Direito Romano e Aristóteles, se importando profundamente com o dar a cada um o que é seu. A moral para Aquino é muito próxima do conceito de ética para Aristóteles. Ao reflectir sobre Justiça acaba por distinguir: 
a) Justiça distributiva: a que reparte honras, riquezas e dignidades segundo as qualidades de cada um. 
b) Justiça comutativa: a que regula trocas económicas segundo o princípio da igualdade de proporção. 
Partindo de conceito aristotélico (Justiça é ser ético) e do conceito romano de justiça suum cuique tribuere (dar a cada um o que é seu), São Tomás conclui que a Justiça é uma virtude. Através da razão e da experiência se faz Justiça, dando a cada um o que é seu. Como razão prática, deve-se distinguir o seu do meu e o meu do seu. Isto quer dizer, a acção justa não pode envolver paixões.
No que se refere ao Direito e Justiça, Tomás afirma que o direito não é justiça, a maior das virtudes, mas busca a realização da justiça. - Certo também que o direito não se resume a lex, no sentido de lei positiva. Abrange o que está posto (positivado) e também todo o sistema legal e jurídico, que advém da razão divina e da razão natural. 
Quanto ao regime das leis, São Tomás, admite que uma sociedade ampla é necessária a presença de vário para que todos os casos sejam analisados. É mais fácil encontrar poucos legisladores bons do que muitos juízes bons. O legislador deve prever os casos antes que aconteçam. O juiz analisa os casos já ocorridos. Se o juiz estiver submisso à lei deverá executá-la. 
O juiz, diante do facto, pode envolver-se subjectivamente, ficando cego diante das emoções. A objectividade é fundamental a segurança da sentença. O legislador produz o corpo legal em abstracto, não olhando directamente os casos fácticos e, portanto, sem uso das emoções. 
O acto de justiça é o acto de julgar. Assim sendo, o julgamento deve ser justo e pautado em leis abstractas e isentas de emoções.
2.3 Filosofia do direito na idade moderna
Ao contrário, o renascimento abre um nítido momento da história da humanidade, caracterizado pela rebeldia, pela insubmissão, pela revolta contra a autoridade. 
Nesse período, no qual o espírito crítico se coloca em primeiro plano, perdendo-se, por exemplo, a confiança nos fundamentos em que repousa o homem medieval, ao mesmo tempo, de maneira paradoxal, se verifica a exacerbação acentuada da fé e do misticismo, lado a lado com pronunciada tendência para o cepticismo. 
Assim, acredita-se misticamente e nega-se friamente. Esse conjunto de traços contraditórios revela, de imediato, a dificuldade que vai encontrar o estudioso do pensamento filosófico, situado diante de problemas resolvidos de modos os mais diversos, presente, em todo caso, nítida mentalidade reservada e crítica que permite falar-se numa filosofia renascentista. 
Cabe destacar, no período renascentista na Idade Moderna, o movimento humanístico que compreende uma colocação filosófica que tem por elemento fundamental o homem, o humano. Em sentido amplo, o humanismo é a preocupação do homem relativamente ao homem, o estudo universal dos valores humanos, a procura profunda e constante do que há de melhor, de mais humano, para um posterior aproveitamento e reafirmação do ser máximo da criação. Destacam-se os seguintes pensadores e suas teorias relacionadas ao direito: Maquiavel, Jean Bodin, Tomas Morus, Erasmo de Rotterdan, Tomas Campanela, Hugo Grócio, Hobbes, Spinosa, Pufendorf, Locke, Vico, Rousseau, Kant e Hegel. 
Com base no pensamento desses filósofos, de acordo com Mascaro, a filosofia do direito moderno, valendo-se das perspectivas do individualismo e do contractualismo que eram próprias da filosofia política de então, e, tendo ainda por base teórica, os métodos do conhecimento próprios do período, racionalistas ou empiristas, desenvolveu, como seu principal objecto de reflexão, a postulação de certo direito natural. 
Em torno do jusnaturalismo, tomado como jusracionalismo, estabeleceu-se a reflexão jusfilosófica mais alta do período. Os modernos, atribuindo a si mesmos o encargo da razão, construíram um método de direitonatural, no qual a lei considerada natural compreendia um preceito ou regra geral estabelecido pela razão. 
Pode-se resumir, sustenta Mascaro, os princípios filosóficos jusnaturais modernos nos seguintes pontos que formaram um corpo comum de pensamento entre os diferentes pensadores: 
a) A ideia de um direito saído da razão, e não da fé, nem do costume ou da natureza das coisas, rejeitando com isso desde a tradição aristotélica até o tomismo; 
b) A ideia de uma base individual, que é a origem e fim desse direito natural, visto que esta é a característica marcante da filosofia política da época que atendia à dinâmica política e económica burguesa;
 c) A ideia de que o direito natural tem carácter universal e eterno, na imperiosidade de sua ordenação posterior pelos Estados racionais. 
Esses princípios do direito natural constituíram a base a partir da qual a burguesia, ao ascender ao poder por meio das revoluções liberais, criou condições de direito privado. 
O individualismo do direito natural moderno revela-se em sua absoluta medida individual, em sua inscrição numa razão que é subjectiva, e em sua independência de laços sociais, o direito natural, ao contrário das virtudes antigas, não é uma resultante social, mas um interesse pessoal que deve ser legitimado. Toda a estrutura do direito natural moderno aproveita-se, a benefíciodos interesses individuais, burgueses, do exercício das possibilidades do comércio e lucro. 
Por isso, ao afirmarem, por exemplo, a propriedade privada como um dos direitos naturais e fundamentais do homem, dirão os modernos que esse é um direito do indivíduo, não um uso social, e como direito natural moderno, é ser individual, contra o Estado e contra a sociedade, e não resultante desses. 
Desse modo, a ideia moderna dos direitos naturais não é originada de uma vontade social, de uma participação comum da sociedade em seus produtos, benefícios, esforços e necessidades, como era o caso na filosofia aristotélica, na qual direito natural atendia à natureza mesma do homem, sendo essa natureza política. Para os modernos, os direitos naturais são direitos do indivíduo, portanto dados antes da sociedade civil e do Estado, e não necessariamente dependentes destes. 
Não obstante, tampouco o direito natural moderno compreende-se filosoficamente como resultante social, tendo em vista que na sociedade se exercitam e se respeitam tais direitos, porém não é ela a origem ou a medida desses direitos. Se assim ocorresse, os modernos abririam margem à contestação do próprio capitalismo, cujos princípios estavam buscando consolidar sob a denominação de direitos naturais. Assim, o direito moderno quererá ser produto da razão individual, e não medida social, nem lei positiva dos Estados. 
Contudo, os impasses dessa forma de jusnaturalismo logo se demonstram. Afirmar a universalidade do conhecimento racional desses direitos remete à insolúvel questão dos métodos do conhecimento, que não necessariamente provariam que a experiência ou o inatismo das ideias conduziriam a conceitos universais.
Ao mesmo tempo, a necessidade de construir uma noção de direitos absolutos, e não relativos, é muito clara para a filosofia do direito moderna: se os direitos fossem relativos ou variáveis de acordo com a cultura, as normas absolutistas também poderiam arrogar-se certa legitimidade, ainda que povos, nações e a razão iluminista com elas contrastassem. 
Caso se admitisse a existência de uma pluralidade de legislações legítimas, haveria pluralidade de razões, e nenhum critério pelo qual se pudesse dizer que as normas do absolutismo devessem ser abolidas. No entanto, o movimento histórico da burguesia, na Idade Moderna, busca exactamente o oposto: é necessário dizer da existência racional de um só direito, o denominado direito natural, consoante o qual se possa julgar o Absolutismo e dele se dizer injusto, porque irracional. 
Para tanto, segundo Mascaro, a busca moderna é a de certeza racional de certos direitos. A liberdade, alavanca das possibilidades negociais burguesas, deverá ser dita um direito natural do homem, sendo que as normas absolutistas que a cerceiam devem ser proscritas. A igualdade perante a lei, fundamento do comércio burguês, deverá ser elevada à condição de direito natural, e o privilégio, posto à margem da história jurídica moderna. A propriedade privada e a segurança das relações jurídicas devem ser declaradas como direitos universais. 
Todo o movimento social burguês, na Idade Moderna, objectivou a estabilidade e universalidade das leis como formas de escapar às vontades absolutistas. Por isso, é necessário insistir numa razão universal que declare os direitos naturais. O apelo dos direitos naturais foi maior que sua legitimação filosófica. A declaração de direitos universais que se explicitariam por meio do exercício racional de todas as pessoas, não alcançou uma justificativa filosófica plena por parte da Idade Moderna. 
No entendimento de Nader, a filosofia actual não abandonou os subsídios da razão nas tarefas de determinação do direito Natural. Nem poderia fazê-lo, pois não há como se induzirem princípios sem as operações do intelecto. A experiência observa fenómenos, mas a constatação e o enunciado de leis é algo afecto à razão. O Direito natural, em si, não pressupõe senão a vida humana em sociedade. A sua compreensão pelo homem requer, sim, experiência e raciocínio. O seu existir coincide com a vida cultural; o seu conhecimento, porém, é fato cultural que não aflora na consciência humana de modo espontâneo. É certo que a natureza do homem possui instituições do justo que se revelam, todavia, sem a plena consciência de sua dimensão. 
Alguns expoentes deste período 
Thomas Hobbes (1588-1679) 
Associado da teoria contratualista. Na visão do filósofo, o homem vive inicialmente em estado de natureza: pois, não há repressão às acções. Neste caso, esse estado ameaça a existência humana, pois não há ordem. Para Hobbes, os homens em estado de natureza são egoístas, luxuriosos e inclinados à agressão aos outros, para alcançar poder e protegerem-se dos demais. É a chamada guerra de todos contra todos. 
Ora bem, com a interferência da razão humana, celebra-se o contracto social. É um artifício humano para superação do estado de natureza. 
Assim, são formuladas duas leis fundamentais: 
a) Cada homem deve esforçar-se pela paz, se não for possível por bem que seja então pela guerra; 
b) A liberdade de todos os homens deve ser cerceada de forma homogénea, para que haja respeito idêntico entre todos. 
O contracto então é a mútua transferência de direitos que são conferidos ao Estado. Por uma vontade humana os homens restringem sua liberdade em benefício da paz. Isto quer dizer, os poderes conferidos ao governo devem ser absolutos, pois melhor um governo ruim do que o estado de natureza.
 Assim, obedecer às leis do governo é sempre correcto, pois é preferível a ditadura de uma só pessoa ao estado de violência natural, assim devemos alienar de modo irrestrito todos os direitos e liberdades ao Estado, portanto, Hobbes defende um jusnaturalismo que corresponde a obedecer as leis civis emanadas do poder soberano. 
 
John Locke (1632-1704) 
Diversamente de Hobbes, Locke tem uma visão optimista da natureza humana e entende que os conflitos sociais ocorrem pela falta de um juiz imparcial que intermedeie a solução dos problemas por meio da razão. Contudo, caso o magistrado exceda sua autoridade e resolva de forma irracional, pode o súbdito resistir à decisão.
Na visão de Locke, não existem leis naturais inatas ou conhecimento inato (tábula rasa). Contudo, pode o homem, por meio de sua razão, encontrar e conhecer as leis naturais. Assim, é pela razão humana que se definem as leis da natureza (tábula rasa). 
Tanto acreditava nisso que escreveu uma obra (Tratados sobre o magistrado civil) na qual apresenta as regras para o cidadão viver num estado de paz na sociedade. 
Na perspectiva liberal, torna-se necessária a criação do Estado Civil, que é construído para garantir vigência e protecção aos direitos naturais, opondo-se ao absolutismo do Estado Leviatã de Hobbes. 
Pois, o soberano dirige o Estado por mandato popular. Caso surjam conflitos entre interesses dos governados e do governante, deve prevalecer a vontade do grupo social. 
JEAN-JACQUES ROUSSEAU (1712-1778) 
Para Rousseau as leis positivadas são legítimas porque advém da vontade do grupo social que se une para criar o Estado Civil. Assim sendo, tal teoria é descrita na obra ‘O contrato social’.
Na visão do filósofo o homem é bom por natureza (mito do bom selvagem). No entanto, os obstáculos que se impõem à conservação do homem em estado natural são muito grandes para serem superados pelos homens individualmente. 
Assim sendo, o homem precisa de um aumento de força para sobreviver. Ora, este aumento vem exactamente da união com outros seres humanos, isto quer dizer, a união com outros homens promove limitações no maior bem humano, neste caso a liberdade. 
Ora bem, é necessário assim que haja uma combinação correcta entre força e liberdade, que são os instrumentos fundamentais da conservação humana. 
Pois, o contrato social resolve tal questão: os homens alienam todos seus direitos em favor da comunidade, produzindo o Estado, que é o executor das vontades colectivas. No entanto, o poder do Estado é a síntese das vontades dos associados, assim o poder soberano pertence aosassociados e é exercido em seu benefício. 
Assim, diante disso tudo, a igualdade natural que antes era falha, pois os mais fortes dominavam os mais fracos, passa por uma correcção, isto é, todos são iguais perante o Estado; pois a razão de ser de dois princípios liberdade e igualdade. Neste caso, estes princípios fundamentam a democracia e obrigatoriamente devem ser seguidos pelo Estado Civil, pois somente assim este se justifica. 
 	Rousseau distingue dois tipos de Direitos: Direitos Naturais e Direitos Civis. Para o filósofo a sociedade é artificial, criada pelo engenho humano. No entanto, desse artifício da civilização surgem regras, os chamados direitos civis. Contudo, não se pode olvidar que antes dos direitos civis existem os direitos naturais. 
Assim, rompe-se do estado de natureza para o estado cívico por meio do contrato social. Alienam-se ao Estado os direitos naturais e este impõe os direitos civis, que por sua vez devem garantir a liberdade humana. Isto quer dizer que, não há liberdade fora do pacto social, pois dentro dele é o Estado que gere o poder e a força, por sua vez, externamente ao pacto os homens exercem, individualmente, a lei do mais forte e aí a liberdade está prejudicada. 
Para que os direitos civis sejam legítimos e válidos, necessário então se faz que sejam respeitados os direitos naturais, pois o homem jamais se livra de seus caracteres naturais. Outrossim, o Estado surge para garantir os direitos naturais do homem e assim deve pautar-se. 
Ora, os direitos civis então estão limitados pelo direito natural. Entretanto, apesar do pacto social ser a alternativa viável, Rousseau vê nele o surgimento de problemas como leis, usurpação, propriedade privada e desigualdade.
 Portanto, deveria para o mestre iluminista, o homem ter permanecido em seu estado natural solitário, pois assim viveria bucolicamente a vida. 
 
 	Emanuel Kant (1724-1804 ou 1808) 
Nasceu em Könisberg, Prússia Oriental (actual Polónia). Para o filósofo, qualquer ser humano (criminoso, psicopata, etc) sabe distinguir quando algo errado lhes é feito, ou seja, jamais aceitará receber tratamento brutal. No entanto, Kant e muitos outros aceitam que não se pode exigir certas condutas dessas pessoas.
Assim, somente os seres racionais podem entender as razões para fazer ou deixar de fazer algo, pois, somente essas criaturas podem ter o comportamento moralmente avaliado. Ex: Uma cobra venenosa não pode ser condenada por imoralidade por ter matado um homem. No entanto, a razão para entender o certo e o errado é inata ao homem, não é obtida pelos sentidos. 
Assim sendo, razão define certo e errado, não os sentidos. Ora, o certo é que a validade das razões não pode ser meramente individual. Podemos debater entre o certo e errado, pois buscamos o correcto para nós, mas devemos agir conforme uma razão válida universal. O facto de debatermos entre certo e errado comprova que queremos um valor universalmente aceito. 
Ora bem, é injustificável que exista algo certo para que eu faça numa determinada situação e para outra pessoa, na mesma situação, haja outra forma de escolha. Neste sentido, aquilo que é certo para mim tem que ser certo para todos na mesma situação. 
Pois, a ética é governada por leis universais e se funda na razão. Assim, a Ética é doutrina dos costumes que não se submetem às leis exteriores. 
No que tange ao Imperativo moral, Kant salienta que, cumpre teu dever se nele satisfazes teu interesse (carácter deontológico, ou seja, fundamentos morais para a acção). O Imperativo categórico de Kant: “Age só, segundo uma máxima tal, que possas querer ao mesmo tempo que se torne lei universal”.
Quanto ao Como agir, Kant salienta que, cumpre teu dever incondicionalmente. No entanto, age sempre de tal maneira que a máxima de tua acção possa ser erigida em regra universal; Age sempre de maneira a tratares a humanidade em ti e nos outros sempre ao mesmo tempo como um fim e jamais como um simples meio; age como se fosses ao mesmo tempo legislador e súbdito na república das vontades.
 No entanto, o mérito moral é medido precisamente pelo esforço que fazemos para submeter nossa natureza às exigências do dever. Assim, o homem que age moralmente deverá fazê-lo não porque visa à realização de qualquer outro objectivo (ex: prazer, felicidade), mas pelo simples facto de colocar-se de acordo com a máxima do imperativo categórico. 
 O agir livre é o agir moral e o agir moral é agir de acordo com o dever do imperativo categórico. Isto quer dizer que, o homem é livre e existe como um fim em si mesmo, ou seja, não existe com o objectivo de realizações outras que não a si mesmo. A vontade livre é a mesma coisa que a vontade submetida a leis morais. A ética define como agir. A moral é a escolha livre do agir. A preocupação ética é regra apriorística, racional e universal. A moral depende de valoração. 
No que se refere ao Direito e Moral, salienta que são duas partes de um mesmo todo unitário, relacionadas à exterioridade e à interioridade, à liberdade exterior e à liberdade interior. Neste caso, Direito e Moral são distintos. 
Assim, Direito refere-se ao regulamenta a conduta externa, enquanto a Moral como regulamenta a conduta interna, isto é, o agir jurídico pressupõe outros fins, outras necessidades interiores e exteriores para que se realize. Em outras palavras: não se realiza uma acção conforme a determinação da lei simplesmente porque ela está positivada no ordenamento. 
No entanto, as acções conforme à lei positiva podem se basear no temor da sanção, desejo de manter-se afastado de repressões, medo de escândalo, etc. 
A grande diferença entre Direito e Moral está no fato de que a moralidade pressupõe autonomia, liberdade, dever e auto-convencimento. A juridicidade pressupõe coercitividade. 
Kant inicia a doutrina da coercitividade do Direito, pela qual não há Direito sem coerção. Neste caso, “A moral é, pois, a relação das acções com autonomia da vontade, isto é, com a possível legislação universal, por meio de máximas da mesma.” 
As pretensões jurídicas são menores que as pretensões morais. A função do Estado é simplesmente de limitar as liberdades em carácter geral, possibilitando a coexistência de liberdades diferenciadas, mas com tratamento homogéneo. O Estado deve somente tutelar o direito; quando assegura a liberdade cumpre sua função. Não deve, portanto, interferir ou cuidar de interesses individuais, para que as pessoas tenham liberdade e autonomia para viver de acordo com seus fins pessoais e próprios. 
Para Kant o direito natural ou racional é o conjunto de leis jurídicas cuja obrigatoriedade pode ser estabelecida a priori (sem experimentação). O direito positivo estatuído é o que emana da vontade do legislador.
 	Por seu turno Norberto Bobbio, reflectindo sobre Kant, esclarece Direito e estado no pensamento de Emmanuel Kant: O direito pertence ao mundo das relações exteriores. 
Assim sendo, o direito se constitui na relação de dois ou mais arbítrios. Neste caso, a função do direito não é de prescrever este ou aquele dever substancial com relação aos sujeitos dos vários arbítrios, mas prescrever a coexistência, ou seja, delimitar como um arbítrio pode coexistir com outros. 
Ora bem, o direito é a forma universal de coexistência dos arbítrios simples (individuais). O direito limita a liberdade de cada um, de forma que todos convivam sob a égide de uma lei universal. No entanto, somente quando a liberdade é limitada é que a liberdade de um não se transforma numa não-liberdade para os outros, e assim todos podem usufruir a liberdade comum que é concedida para todos, ou seja, uma liberdade homogénea. 
Portanto, o direito é liberdade, mas é liberdade limitada pela presença dos outros.
Karl Marx (1818-1883)
 	Marx entende o Direito Como Superestrutura parte do pressuposto que as relações jurídicas não podem ser entendidas de modo formal, separadas de factores sociais e económicos. Assim, toda relação jurídica possui fundo económico e retrata determinados interesses socioeconómicos dominantes. 
No entanto, para libertar osdominados dessa situação é que Marx pretende a ditadura do proletariado, para exactamente romper o status quo. 
A força da revolução não é originária, apresenta-se apenas como uma reacção à dominação implementada pelo capitalismo. 
Ora, o Estado se apresenta no capitalismo como uma superestrutura rodeada de inúmeros órgãos burocráticos de controlo social. Diante disso, o Estado é um mecanismo de dominação da classe dominante sobre o proletariado. 
Assim, o Estado e consequentemente o Direito, são superestruturas que ratificam a dominação da burguesia, projectada de maneira política. Há uma estrutura básica que é a económica, que dá sustentação à superestrutura do Direito para garantir a perpetuação da ideologia da classe dominante. 
O Direito não é, pois, um instrumento para realização da justiça, ou mesmo da vontade do povo, o Direito realiza apenas a legitimação da dominação. O Direito garante a prevalência da ideologia da classe dominante, do capitalismo. Deste modo, o Direito permite a perpetuação de desigualdades socioeconómicas, permite a exploração do trabalhador. 
No entanto, com a revolução do proletariado, Marx projecta a extinção gradativa do Direito, uma vez que com a implementação do comunismo, da comunhão de todos os bens, com a igualdade entre todos prevalecendo, não se faz mais necessária a ordem jurídica. 
A propriedade privada precisa ser abolida com a revolução do proletariado, uma vez que é ela quem permite a exploração dos despossuídos pelos detentores dos instrumentos de produção. 
Pois, diminuída a dominação com o comunismo de bens, ausente as classes sociais desiguais, ausente o Estado dominador, ausente a burocracia, o homem passará a viver num estado natural de comunidade, tornando então o Direito desnecessário. No entanto, Marx estabelece que suprimida a exploração do homem pelo homem, suprimir-se-á a exploração de uma nação por outra.
2.4 Filosofia do direito na idade contemporânea 
Na Idade Contemporânea, a filosofia do direito é a obra dos fundadores e cultores dessa disciplina. Envolve, antes de tudo, a contribuição de especialistas, que são os sistematizadores do pensamento filosófico, no âmbito específico do fenómeno jurídico. Publicam, eles, tratados, cursos, compêndios, manuais, lições, ensaios, dissertações e teses acerca do conteúdo da Filosofia do Direito. 
Cabe ainda fazer breve referência ao positivismo jurídico, doutrina que se opõe às correntes idealistas, especialmente às que sustentam a existência do direito Natural. Enquanto que essas se ocupam dos fundamentos e legitimação do Direito Positivo, apoiando a sua validade na harmonia com princípios e valores absolutos, o positivismo procede à averiguação dos pressupostos lógico-formais da vigência. 
De um lado, os adeptos da filosofia positiva se limitam à ordem do ser, ao ordenamento jurídico e emitem juízos da realidade, de outro, os idealistas que, sem desprezar o sistema de legalidade, reflectem na instância ética sobre a ordem suprapositiva e elaboram juízos de valor. 
O positivismo jurídico opera com o método empírico, considerando a experiência, o real, como a fonte do conhecimento. A pesquisa deve limitar-se ao dado e ao demonstrável. Tanto quanto possível, devem-se trasladar para a investigação jurídica os critérios adoptados nas ciências naturais, a reacção positivista se manifesta contra a especulação ética, metafísica ou sociológica no momento da interpretação ou na etapa de preenchimento de lacunas. Diante do texto legal, não compete ao jurista emitir juízos de valor, apenas de realidade. Não importa a estimativa do plano da lei, nem a substância fáctica.
Alguns expoentes deste período 
Hans Kelsen (1881-1973)
 Nasceu no dia 11 de Outubro em Praga, região da Checoslováquia, então pertencente ao Império Austro-Húngaro. 
Encarado como um dos grandes investigadores do século XX, teórico do direito, filósofo e sociólogo, teórico do Estado e pioneiro da lógica jurídica. Assim, deixou uma vasta obra, uma delas é a ‘Teoria Pura do Direito’. 
Kelsen, é tido como defensor da neutralidade científica aplicada à ciência jurídica, por isso recusava o jusnaturalismo (dificuldade de conceituar Justiça) e o realismo (influência do tempo-espaço). Assim sendo, insistiu na separação entre o ponto de vista moral e político, isto quer dizer, à ciência do Direito não caberia fazer julgamentos morais nem avaliações políticas sobre o direito vigente.
	No entanto, a ciência não está em condições de pronunciar juízos de valor e, pois, não está autorizada a isto. O que também se aplica à ciência do direito, ainda que esta seja considerada como uma ciência de valores. A exemplo de toda a ciência de valores, ela consiste no conhecimento dos valores, mas não pode produzir esses valores; ela pode compreender as normas, mas não pode criá-las.
	Ora bem, com o objectivo de discutir e propor os princípios e métodos à teoria jurídica, até então inexistentes, aliado à necessidade de dar ao Direito uma autonomia científica própria capaz de superar as confusões metodológicas da livre interpretação do direito, uma tendência a um retorno aos parâmetros do direito natural ou mesmo a aplicação de critérios de livre valoração, Kelsen propõe o que denominou princípio da pureza. 
Assim, o princípio da pureza: aplica-se tanto ao método como ao objecto do estudo, ou seja, é instituto instrumental e delimitador da ciência jurídica, significando que a premissa básica desta é o enfoque normativo. O direito para o jurista deveria ser encarado como norma (e não como fato social ou como resultado da experiência). Quer dizer, o direito deve ser visto como objecto puro, não ligado aos factos ou experiências sociais (preconceitos-ética do cientista). 
Na visão de Kelsen, deve-se se pensar o direito de forma pura (como ensinava Kant) aproveitar-se da sensibilidade para conseguir o conteúdo (sentidos – experiências) e aplica-se sobre isso o entendimento, a razão, evitando-se assim dar conotação de facto ou pura experiência social ao objecto de estudo. 
Pois, Kelsen conforme Roque Antonio Carrazza (in Curso de Direito Constitucional Tributário): “A ciência do direito para Kelsen objectiva conhecer as normas jurídicas, e não prescrevê-las ou explicá-las. Ela estuda o Direito como ele é, e não como deveria ou poderia ser.
 Assim, o Direito deve ser estudado isoladamente, pois a ciência do Direito só deve ter o mesmo como objecto (Pureza). No entanto, segundo quer Kelsen, devemos criar uma “redoma” para que o Direito não receba outras influências na interpretação ou estudo, não seja contaminado. Nesse sentido, Kelsen consegue estabelecer que sua teoria é aplicável para qualquer Direito existente, porque não há interpretação de normas jurídicas particulares. Kelsen chega a criticar a Jurisprudência que se preocupa com a psicologia, sociologia e outros factores para interpretar o Direito.
	Quanto à teoria do ordenamento jurídico; para o estudo introdutório do ordenamento Jurídico é fundamental, segundo Kelsen, a distinção entre norma jurídica e proposição jurídica. No início de sua obra Kelsen utilizava os conceitos como sinónimos, posteriormente os entendia da seguinte forma:
Norma jurídica: tem carácter prescritivo e é emanada da autoridade legisladora; resulta de acto de vontade (a autoridade competente quer as coisas de certo modo, dever ser); prescreve a sanção que se deve aplicar contra os agentes de condutas ilícitas; as normas jurídicas têm a estrutura de uma proibição, por descreverem a conduta tida por ilícita como antecedente e a punição como consequente; pois, a norma jurídica, editada pela autoridade, tem carácter prescritivo e resulta de acto de vontade com objectivo de coagir ao dever-ser.
Proposição jurídica: Juízo hipotético, afirma que conforme a conduta descrita na lei, deve ser aplicada a sanção também estipulada na lei; a forma de exteriorização do enunciado, entretanto, não é essencial; o que importa, realmente, é o seu sentido; é emanada da doutrina, tendo natureza descritiva; decorre de ato de conhecimento (da lei: é verdadeque a autoridade com competência quer as coisas de um certo modo); a proposição jurídica descreve a norma jurídica; pois a proposição jurídica, emanada da doutrina, tem natureza descritiva e decorre de acto de conhecimento. 
No que toca a sanção, a abordagem de Kelsen nos leva a duas perspectivas: a primeira reza que o direito só pode ser entendido como uma ordem social coactiva, impositiva de sanções; a segunda o Direito é o que faz diferenciar a moral por si só do direito que é justamente a punibilidade pela desobediência da norma escrita. 
No entanto, Para Kelsen, o homem é naturalmente inclinado a perseguir apenas a satisfação de interesses egoístas. Assim, é necessário que as consequências, normativamente estabelecidas para as condutas indesejadas, levem o homem a considerar menos vantajoso, sob o seu ponto de vista, a transgressão da norma. Em razão disso, o direito só pode ser entendido como uma ordem social coactiva, impositiva de sanções. Pois, para prescrever certa conduta, a norma jurídica estabelece o sancionamento da conduta oposta. O dever não é senão o comportar-se segundo a conduta oposta àquela sancionada pela norma. 
Portanto, ao cientista do direito cabe se ocupar, exclusivamente, da norma posta. Assim, todos os outros factores que podem, de alguma forma, interferir na produção da norma são estranhos ao objecto da ciência jurídica. No entanto, não se quer dizer com isso que haja, ou deva haver, um distanciamento entre a ordem jurídica positiva e a moral. Apenas a preocupação com tal relação não deve ser objecto do conhecimento jurídico-científico.
Miguel Reale (1910-2006)
Mundialmente conhecido por sua Teoria Tridimensional do Direito.
Quanto à teoria tridimensional do direito, o Direito deve regular as relações de uma sociedade (regular juris). Assim, a justiça e o Direito se tornam inseparáveis. Isto quer dizer, a significação da palavra Direito se delineia segundo três aspectos fundamentais, onde quer que se encontre a experiência jurídica: aspecto normativo: o Direito como ordenamento; aspecto fáctico: o Direito como facto, como efectividade social e histórica e o aspecto axiológico: Direito como valor de Justiça.
No que toca as dimensões do Direito, sublinhamos o seguinte:
 	Facto: O Direito como facto social e histórico, objecto da História, da Sociologia, da Etnologia do Direito (estudo histórico da cultura jurídica); uma dimensão do Direito. É o acontecimento social referido pelo Direito objectivo. 
 	Valor: O Direito como valor do justo, estudado pela Filosofia do Direito, na parte denominada Deontologia jurídica (estudo dos princípios, fundamentos e sistemas de moral.). Pois, Direito visto como valor de Justiça. 
 	Norma: O Direito como norma ordenadora da conduta, objecto da Ciência do Direito ou Jurisprudência; e da Filosofia do Direito, no plano epistemológico (conhecimento científico que visa sistematizar as relações jurídicas). Pois, consiste no padrão de comportamento social, que o Estado dita aos seus indivíduos, dever-ser. 
No que se refere a justiça, Reale frisa que a constante coordenação racional das relações intersubjectivas, para que cada homem possa realizar, livremente seus valores potenciais visando a atingir a plenitude de seu ser pessoal, em sintonia com o da colectividade. 
Assim, Reale, em artigo de dezembro de 2004, denominado “Variações sobre a Justiça”, descreve que “a conclusão implícita dessa antiga afirmação é a de que ‘cada tempo histórico tem o seu conceito de justiça’
Ora, para melhor explicar sua própria conclusão discorre: Isso não quer dizer que a nossa noção de justiça surja de repente, pois o ser humano é, antes de um ser histórico, um ser cultural, jamais se livrando de seu passado. 
No entanto, a história da justiça é fruto das carências humanas, daquilo que falta ao indivíduo e à colectividade para que ambos se realizem na plenitude de seus valores éticos e existenciais. A justiça reflecte um sentimento de carência, que será ou não efectivado conforme a consciência dessa necessidade, dessa falta. Exemplo: se o homem hoje percebe que o meio ambiente lhe fará falta em breve (carência) a justiça se amolda para proteger tal carência. 
 Contudo, com o neoliberalismo presente e a busca infinita de lucro, os valores fundamentais ao homem somente serão incluídos na pauta do conceito de justo, quando a caridade dos governantes e dos mercados indicar que se trata de um imperativo social de medidas urgentes e inadiáveis.
 Portanto, as carências sociais só são tratadas quando há interesses económicos nisso, ou seja, a grande parte pobre da população (que tem grandes carências) não consegue efectivar a justiça que lhe é necessária. 
 
TEMA 3 – PROBLEMAS ACTUAIS DA FILOSOFIA DO DIREITO
3.1 ‘Humanidade’ como conceito jurídico
	A ideia de humanidade adquiriu significado dominante com Kant, que utilizou com especial destaque o significado de dignidade humana; a ideia segundo a qual cada homem deve ser considerado um fim em si mesmo e nenhum deles pode ser utilizado como meio a serviço de outros fins, revela isso mesmo.
	As ideias relativas à humanidade seguem três direcções: Amor ao homem, contra toda crueldade desumana; dignidade do homem, contra toda humilhação do homem; formação do homem, contra todo aniquilamento humano da cultura. Assim sendo, o conceito de humanidade tornou-se um conceito jurídico, sob três aspectos relativos a ordem jurídica:
	1º No que diz respeito aos direitos do homem, à sua dignidade, como garantia da liberdade exterior, indispensável ao cumprimento das obrigações;
	2º Em relação aos ‘crimes contra a humanidade’, definidos no Estatuto do Tribunal Militar de Nurnberg e na lei nº 10 do Conselho aliado;
	3º Também no que se refere ao Direito Penal de cada país a ideia de humanidade assume grande importância. De acordo com Franz, opondo-se a ideia do homem como fim em Kant, admite que o direito penal não tem por objectivo exclusivo proteger a sociedade contra o criminoso mas também proteger o cidadão face ao risco de penas arbitrárias, o que significa levar em conta ideia de humanidade. Deve-se respeitar o criminoso como ser humano independentemente da gravidade do crime. Por isso, ele nega a pena de morte.
3.2 Direito social
	A ideia do direito social é um novo estilo do direito, porque, é claro que uma ordem jurídica não pode ser ajustada com precisão a cada indivíduo real ou a cada personalidade. Por isso, quando se parte da individualidade concreta de cada um desemboca-se na negação de ordem jurídica, no anarquismo. A ordem jurídica necessita levar em conta, acima de tudo, a generalidade a imagem média dos homens.
	O homem colectivo é o fundamento do direito social. Ou seja, a ideia do direito social abrange todos os direitos a colectividade (o direitos humanos).
O direito social é extremamente contra a visão jurídica individualista orientada pela figura de um ser humano egoísta isolado sem vínculos sociais.
3.3 Ideia de democracia
	A democracia consiste em confiar em soberania estatal a vontade da maioria, sem preocupação com conteúdo da sua orientação política. A essência da democracia consiste no facto de que a autoridade do estado emana do povo, isto é, mediante a eleição popular.
A democracia surgiu em substituição ao estado autoritário, quer sobre uma forma do absolutismo, quer sob forma do estado constitucional, no qual o poder não emergia do povo, não dependia da confiança do parlamento nem dos eleitores, mas somente do chefe de estado.
	Sobre esta perspectiva é possível classificar as diversas formas de democracias sob três critérios fundamentais:
a) Democracia direita e representativa: A direita, somente é possível em pequenos estados onde o próprio povo não delega alguém para reapresentá-lo. Isto é, o poder é exercido pelo próprio povo de forma direita; enquanto, a representativa é possível adoptar como formas de decisão democrática direita o plebiscito e eleição.
b) Democracia fundamentada na divisão do poder ou parlamentar: Nesta o governo depende da confiança do parlamento. O

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