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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO LARYSSA GUERRA ARAÚJO CUMBUCO HOTEL – ESCOLA ESTUDO PRELIMINAR DE UM HOTEL-ESCOLA A LUZ DA ARQUITETURA BIOCLIMÁTICA PARA A PRAIA DO CUMBUCO/CE Natal, RN 2020.2 LARYSSA GUERRA ARAÚJO CUMBUCO HOTEL - ESCOLA ESTUDO PRELIMINAR DE UM HOTEL-ESCOLA A LUZ DA ARQUITETURA BIOCLIMÁTICA PARA A PRAIA DO CUMBUCO/CE Trabalho Final de Graduação apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da UFRN, como requisito para obtenção do grau de Arquiteta e Urbanista. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Clara Ovídio de Medeiros Rodrigues Natal, RN 2020.2 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - DARQ - -CT Araujo, Laryssa Guerra. Cumbuco hotel-escola: estudo preliminar de um hotel-escola a luz da arquitetura bioclimática para a praia do Cumbuco/CE / Laryssa Guerra Araujo. - Natal, RN, 2021. 130f.: il. Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: Clara Ovídio de Medeiros Rodrigues. 1. Hotel-escola - Monografia. 2. Arquitetura hoteleira - Monografia. 3. Arquitetura bioclimática - Monografia. 4. Estratégias passivas de conforto - Monografia. I. Rodrigues, Clara Ovídio de Medeiros. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/BSE15 CDU 728.51 Elaborado por Ericka Luana Gomes da Costa Cortez - CRB-15/344 LARYSSA GUERRA ARAÚJO CUMBUCO HOTEL - ESCOLA ESTUDO PRELIMINAR DE UM HOTEL-ESCOLA A LUZ DA ARQUITETURA BIOCLIMÁTICA PARA A PRAIA DO CUMBUCO/CE Trabalho Final de Graduação apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da UFRN, como requisito para a obtenção do grau de Arquiteta e Urbanista. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Clara Ovídio de Medeiros Rodrigues Data: 26 de Abril de 2021 _____________________________________________________________________________ Profª. Drª. Clara Ovídio de Medeiros Rodrigues (Orientadora) ____________________________________________________________________________ Profª Drª Luciana de Medeiros (Convidado Interno) ____________________________________________________________________________ Arq. MSc. Carla Varela de Albuquerque Araújo (Convidado Externo) AGRADECIMENTOS Primeiramente gostaria de agradecer a Deus por me abençoar tanto, que foi capaz de me tirar da minha zona de conforto e me levar para uma nova cidade, onde hoje posso chamar de segunda casa. Aos meus pais, Rosanni e Marcos, e as minhas irmãs, Nair, Thays e Lays, que sempre me encorajaram nessa nova jornada de estudar fora e tanto me apoiaram e acreditaram no meu potencial. Sou eternamente grata aos meus tios Zé Carlos e Claudinha, que acolheram, apoiaram, aconselharam e me receberam verdadeiramente como filha em Natal. Grata, também, ao meu noivo, Caio, que sempre esteve comigo em todos os momentos da minha trajetória desde o colégio até o tão sonhado curso de arquitetura me dando forças e sendo meu suporte todas as horas. Não poderia deixar de agradecer também ao meu tão querido “quartinho”, Letícia (Lelê), Mara (Marinha) e Juliana (Big), que estiveram comigo em todos os momentos desse duro mas tão amado curso, desde os desentendimentos, entregas de projeto, conselhos e até aos dias de skincare na minha casa. Muito obrigada por tudo meninas, precisei ir até Natal para encontrar as minhas melhores amigas, amo vocês. Á Renata (Renarinha) essa amiga tão companheira, parceira e cheia de vida (e fome também...), obrigada por ser você na minha vida, você é incrível!! Agradeço, também, aos meus amigos e companheiros de curso, Layse, Laís, Lino, Júlia e Anne pela cumplicidade e amizade que hoje eu posso dizer que encontrei amigos verdadeiros que levarei para a vida inteira. Grata, também, a todos que conheci durante a graduação, obrigado, vocês fazem parte da minha história e formação acadêmica. Por fim, quero deixar o meu agradecimento a todos os professores do departamento que contribuíram durante a minha trajetória na UFRN, em especial a minha orientadora, Clara Ovídio, que tanto me auxiliou e apoiou na trajetória acadêmica e me guiou durante esta reta final do curso. À todos o meu muito obrigada. UM AVISO IMPORTANTE!! Opa, oi leitor! Antes de você seguir com a sua leitura, deixa eu te dar um aviso? Eu não sei em que ano você está lendo este documento, se você está num futuro recente, provavelmente se lembrará da situação em que nos encontramos agora, mas se você é um universitário de 2045 (ou depois disso) é preciso que tome conhecimento de como anda o mundo aqui entre 2020 e 2021. Primeiro: estamos vivendo uma pandemia de Sars-Cov-19, trabalhando, estudando e socializando virtualmente desde março de 2020. A esta altura, em abril de 2021 – enquanto escrevo este aviso – somente no Brasil mais de 350 mil pessoas perderam suas vidas devido à esta doença. Segundo: como você pode imaginar, se estamos estudando virtualmente, deve saber que todas as atividades necessárias para a execução dos trabalhos finais de graduação até agora têm se dado de maneira virtual, o que implica em limitações de acesso à bibliografia, aos nossos orientadores, à um espaço adequado ao estudo e pouquíssima ou nenhuma oportunidade de levantamento in loco. Os trabalhos que você encontrará de autoria dos graduandos da turma 2020.2 podem não ser o que alguns de nós havíamos sonhado quando matutamos as primeiras ideias sobre nossos trabalhos, o que não implica em menos qualidade, mas em um desafio ainda maior. O conteúdo que está por vir é fruto de muita persistência, acredite leitor, são tempos difíceis por aqui. Dito isto, espero que aí no futuro o mundo seja um pouco mais tranquilo. Desejo a você uma boa leitura! Texto de autoria de Mara Raquel e Letícia Azevedo RESUMO O processo de desenvolvimento do setor turístico na Praia do Cumbuco/CE estimulou o crescimento do mercado hoteleiro na região, e, consequentemente, a demanda por mão de obra qualificada. No entanto, a ausência de cursos direcionados a hospitalidade na região provocou um déficit de disponibilidade profissional na área. A expansão da área também se deu sem a valorização das condições bioclimáticas locais. Esta proposta tem como áreas de estudo o projeto de arquitetura e o conforto ambiental, tendo como principal objetivo desenvolver um projeto de um Hotel-Escola com enfoque nos princípios da arquitetura bioclimática. Com os objetivos específicos de compreender quais os principais elementos que norteiam o planejamento e projeto de um hotel-escola, de refletir acerca das diretrizes para a zona bioclimática 08 considerando suas particularidades para a praia do Cumbuco e de aplicar em projeto as estratégias passivas de conforto térmico mais apropriadas para a região. Assim, propõe- se, a nível de estudo preliminar, o projeto de um Hotel-escola, tendo como recortes os edifícios da escola e das unidades habitacionais, que aplique as diretrizes e estratégias bioclimáticas mais adequadas, possibilitando um edifício termicamente confortável e adaptado ao clima da região. Palavras-Chave: Hotel-Escola; Arquitetura Hoteleira; Arquitetura bioclimática; Estratégias passivas de conforto. ABSTRACT The development process of the tourism sector in Praia do Cumbuco / CE stimulated the growth of the hotel market in the region, and, consequently, the demand for qualifiedlabor. However, the absence of courses aimed at hospitality in the region caused a deficit of professional availability in the area. The expansion of the area also took place without the appreciation of local bioclimatic conditions. This proposal has as areas of study the architecture project and the environmental comfort, having as main objective to develop a project of a Hotel-School with a focus on the principles of bioclimatic architecture. The specific objectives are to understand the main elements that guide the planning and design of a school hotel, to reflect on the guidelines for the bioclimatic zone 08 considering its particularities for Cumbuco beach and to apply the most appropriate passive thermal comfort strategies in design for the region. Thus, it is proposed, at the level of preliminary study, the project of a Hotel-school, having as cutouts the buildings of the school and housing units, which apply the most appropriate bioclimatic guidelines and strategies, enabling a building that is thermally comfortable and adapted to the environment region's climate. Keywords: School Hotel; Hotel Architecture; Bioclimatic Architecture; Passive Comfort Strategies. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Classificação dos meios de hospedagem .................................................................... 22 Figura 2 - Nova Matriz de Classificação dos meios de Hospedagem .......................................... 23 Figura 3 - Recorte Matriz de Classificação de Meios de Hospedagem - Hotel............................ 24 Figura 4 - Planta Baixa - Suíte Hotel Taj Mahal - Manaus/AM .................................................... 26 Figura 5 - Planta Baixa – Suíte Hotel Holiday Inn - Fortaleza/CE................................................. 26 Figura 6 - Diagrama Funcional - Setor Alimentos e Bebidas ....................................................... 30 Figura 7 - Diagrama Funcional - Lavanderia e Governança ......................................................... 31 Figura 8 - Localização de Hotéis-Escola no Brasil ........................................................................ 35 Figura 9 - Diagrama: Setores Funcionais de uma Instituição de Ensino ..................................... 37 Figura 10 - Diagrama Funcional - Setor Administrativo .............................................................. 38 Figura 11 - Diagrama Funcional - Setor Aprendizagem ............................................................... 39 Figura 12 - Laboratório de Recepção e Governança ................................................................... 40 Figura 13 - Laboratório de Cozinha e Restaurante e Bar ............................................................ 41 Figura 14 - Fluxograma - Setor Convivência ................................................................................ 42 Figura 15 - Carta Bioclimática do Brasil ....................................................................................... 44 Figura 16 - Zoneamento - Ceará .................................................................................................. 47 Figura 17 - Carta Psicométrica de Fortaleza/CE .......................................................................... 49 Figura 18 - Frequência de cada hora em conforto considerando a temperatura externa de Fortaleza ...................................................................................................................................... 50 Figura 19 - Modelos de Brises ..................................................................................................... 51 Figura 20 - Cobogó cerâmico ....................................................................................................... 52 Figura 21 - Formas de aberturas para ventilação cruzada .......................................................... 53 Figura 22 - Ventilação cruzada - planta aberta ........................................................................... 53 Figura 23 - Efeito chaminé .......................................................................................................... 53 Figura 24 - Captação com uso da vegetação ............................................................................... 53 Figura 25 - Peitoril Ventilado ....................................................................................................... 54 Figura 26 - Cobertura Ventilada .................................................................................................. 54 Figura 27 - Localização Senac São Miguel Paulista ..................................................................... 57 Figura 28 - Planta baixa térreo - disposição dos blocos .............................................................. 58 Figura 29 - Planta baixa 1° Pavimento - disposição de ambientes .............................................. 59 Figura 30 - Recepção e armários guarda volumes ...................................................................... 60 Figura 31 - Acervo e pesquisa ..................................................................................................... 60 Figura 32 - Acervo e salas de estudo ........................................................................................... 60 Figura 33 - Planta baixa 5º Pav - cursos de hospitalidade........................................................... 61 Figura 34 - Vista aérea Kûara Hotel ............................................................................................. 62 Figura 35 – Zoneamento: Implantação Kûara Hotel ................................................................... 62 Figura 36 - Restaurante e Piscina ................................................................................................ 63 Figura 37 - Zoneamento - Restaurante e Piscina ........................................................................ 64 Figura 38 – Fluxo interno da Cozinha .......................................................................................... 65 Figura 39 - Tipologia de suíte reversível...................................................................................... 66 Figura 40 - Venezianas fixas ........................................................................................................ 67 Figura 41 - Paredes recuadas e elemento de proteção .............................................................. 67 Figura 42 - Integração por meio de esquadrias móveis .............................................................. 67 Figura 43 - Materiais e elementos decorativos em madeira e fibras naturais ........................... 67 Figura 44 - Implantação - hotel Jungle Keva ............................................................................... 68 Figura 45 - Fachada Bangalô ....................................................................................................... 69 Figura 46 - Tipologias habitacionais ............................................................................................ 69 Figura 47 - Venezianas Fixas ........................................................................................................ 70 Figura 48 - Aberturas laterais ...................................................................................................... 70 Figura 49 - Abertura superior e jardim interno ........................................................................... 70 Figura 50 - Elementos Vazados ................................................................................................... 70 Figura 51 - Implantação Grande hotel Campos do Jordão .......................................................... 71 Figura 52 - Laboratório de Governança ...................................................................................... 72 Figura 53 - Cozinha Pedagógica ...................................................................................................72 Figura 54 - Síntese do conceito para o projeto ........................................................................... 75 Figura 55 - Fluxograma Hotel Escola ........................................................................................... 78 Figura 56 - Fluxograma Escola ..................................................................................................... 79 Figura 57 - Fluxograma Hotel ...................................................................................................... 80 Figura 58 - Fluxograma detalhado da Cozinha ............................................................................ 80 Figura 59 - Localização do terreno .............................................................................................. 85 Figura 60 - Entorno do terreno ................................................................................................... 86 Figura 61 - Gabarito do entorno ................................................................................................. 87 Figura 62 - Vegetação do entorno ............................................................................................... 88 Figura 63 - Localização do terreno .............................................................................................. 89 Figura 64 - Vegetação presente no terreno ................................................................................ 89 Figura 65 - Gráfico Rosa dos Ventos ........................................................................................... 90 Figura 66 - Frequência de ocorrências de ventos ....................................................................... 90 Figura 67 - Carta Solar solstício de verão .................................................................................... 91 Figura 68 - Carta solar solstício de inverno ................................................................................. 91 Figura 69 - Esquema ilustrativo dos condicionantes ambientais ................................................ 92 Figura 70 - Indicadores urbanos de ocupação do solo ................................................................ 94 Figura 71 - Medidas mínimas para sanitário acessível ................................................................ 98 Figura 72 - Dormitório acessível - dimensões mínimas .............................................................. 99 Figura 73 - Zoneamento inicial .................................................................................................. 101 Figura 74 - Zoneamento Final ................................................................................................... 102 Figura 75 – Setores: Pavimento térreo ..................................................................................... 103 Figura 76 - Setores: Pavimento Superior .................................................................................. 104 Figura 77 - Sombreamento da fachada frontal da Escola ......................................................... 105 Figura 78 - Sombreamento Fachada Posterior Escola .............................................................. 105 Figura 79 - Corte esquemático Escola ....................................................................................... 106 Figura 80 – Ambientes: Pavimento Térreo ............................................................................... 107 Figura 81 - Ambientes: Pavimento Superior ............................................................................. 108 Figura 82 - Corte esquemático com estratégias utilizadas ....................................................... 109 Figura 83 – Sombreamento fachada frontal - Suíte .................................................................. 110 Figura 84 - Sombreamento fachada lateral - Suíte ................................................................... 110 Figura 85 - Ambientes Bangalô ................................................................................................. 111 Figura 86 - Ambientes Bangalô acessível .................................................................................. 111 Figura 87 - Corte esquemático com estratégias utilizadas ....................................................... 112 Figura 88 - Sombreamento fachada frontal - Bangalô .............................................................. 113 Figura 89 - Sombreamento fachada lateral - Bangalô............................................................... 113 Figura 90 - Setores bloco de serviços ........................................................................................ 115 Figura 91 - Setores: recepção .................................................................................................... 117 Figura 92 - Setores: Restaurante ............................................................................................... 118 Figura 93 - Ambientes da cozinha do restaurante .................................................................... 119 Figura 94 - Perspectiva fachada frontal da Escola..................................................................... 121 Figura 95 - Perspectiva fachada lateral Escola .......................................................................... 121 Figura 96 - Perspectiva rampa de acesso pavimento superior ................................................. 122 Figura 97 - Perspectiva fachada frontal: bloco de suítes .......................................................... 122 Figura 98 - Perspectiva fachada frontal: bangalôs .................................................................... 123 Figura 99 - Perspectiva área da piscina ..................................................................................... 123 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Meios de hospedagem de Turismo e suas diferentes características ........................ 21 Tabela 2 - Elementos obrigatórios para medidas de segurança contra incêndios ..................... 97 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Requisitos de infraestrutura para o grupo de Unidades Habitacionais .................... 25 Quadro 2 - Requisitos de infraestrutura para o grupo de Alimentos e Bebidas ......................... 27 Quadro 3 - Requisitos de infraestrutura para o grupo de Áreas Comuns................................... 27 Quadro 4 - Requisitos de Sustentabilidade ................................................................................. 28 Quadro 5 - Áreas e Instalações - Hotel ........................................................................................ 29 Quadro 6 - Infraestrutura Básica dos cursos técnicos - Laboratórios ......................................... 33 Quadro 7 - Quadro Resumo - Estudo de Referência ................................................................... 73 Quadro 8 - Programa Arquitetônico ........................................................................................... 77 Quadro 9 - Prescrições urbanísticas - Hotel-Escola ................................................................... 120 LISTA DE SIGLAS CNCT Catálogo Nacional de Cursos técnicos CNCST Catálogo Nacional de Cursos Superiores de Tecnologia EMBRATUR Instituto Brasileiro de Turismo FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia MTUR Ministério do Turismo SBCLASS Sistema Brasileiro de Classificação SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial UH Unidade Habitacional SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 16 2 HOTEL-ESCOLA ........................................................................................................19 2.1 Hotel ................................................................................................................. 19 2.1.1 Meios de Hospedagem ............................................................................. 19 2.1.2 Matriz de Classificação ............................................................................. 22 2.1.3 Hotel – categoria 3 estrelas ...................................................................... 24 2.2 Instituição de Ensino Técnico .......................................................................... 31 2.2.1 O Ensino Técnico de hospitalidade ........................................................... 32 2.2.2 Hotel-escola .............................................................................................. 34 2.3 Considerações sobre hotel-escola ................................................................... 42 3 ARQUITETURA BIOCLIMÁTICA ............................................................................... 44 3.1 O Ceará no zoneamento bioclimático brasileiro ............................................. 46 3.1.1 Bioclima da praia do Cumbuco/Ce ........................................................... 48 3.1.2 Diretrizes projetuais para a praia do Cumbuco/CE .................................. 50 3.2 Considerações sobre arquitetura bioclimática para a praia do Cumbuco ...... 54 4 ESTUDOS DE REFERÊNCIA ....................................................................................... 56 4.1 Estudos de referência indiretos ....................................................................... 56 4.1.1 Senac São Miguel Paulista ........................................................................ 56 4.1.2 Kûara Hotel ............................................................................................... 61 4.1.3 Hotel Jungle Keva ..................................................................................... 67 4.1.4 Grande Hotel Campos do Jordão.............................................................. 70 4.2 Quadro resumo de referências projetuais....................................................... 73 5 DESENVOLVIMENTO DO PROJETO ......................................................................... 74 5.1 Coleta e Análises das informações básicas ...................................................... 75 5.1.1 Aspectos conceituais ................................................................................ 75 5.1.2 Aspectos Físicos ........................................................................................ 84 5.2 Adoção do partido arquitetônico .................................................................... 99 5.2.1 Partido Arquitetônico ............................................................................... 99 5.2.2 Evolução da proposta e zoneamento geral ............................................ 100 5.2.3 Solução Arquitetônica ............................................................................ 102 5.2.4 Prescrições Urbanísticas e Índices Alcançados ...................................... 119 5.2.5 Proposta final – Perspectivas volumétricas ............................................ 120 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 124 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 125 16 1 INTRODUÇÃO Sabe-se que no Brasil, o turismo é uma peça importante para o desenvolvimento econômico do país, tanto que no ano de 2018 representou cerca de 8,1% no Produto Interno Bruto gerando emprego para cerca de 7 milhões de Brasileiros (MTUR, 2019). Isso é justificado, principalmente, em virtude das diferentes belezas e paisagens presentes no território e das diversas ações de incentivo do governo brasileiro. É nesse contexto que, o distrito de Cumbuco, localizado na região litorânea do município de Caucaia/CE, ao longo dos últimos anos, passou por um processo de desenvolvimento e valorização da área, principalmente, ligado ao setor de turismo. Inicialmente, esse distrito era apenas uma pequena vila de pescadores que “se consubstancia como residência de parte dos pescadores artesanais marítimos da localidade, que tiram da labuta pesqueira, em meio ao sol e ao mar, o sustento diário de suas famílias” (CAVALCANTE; SILVA, 2015). Contudo, a pequena vila começou a sofrer um processo de desenvolvimento turístico e territorial em virtude de diversos fatores atrativos na região, como as belezas naturais, a localização próxima a capital cearense, o ambiente propício a prática de esportes e a proximidade do Complexo Portuário do Pecém. Esses fatores estimularam o amadurecimento do mercado hoteleiro na região com a chegada de grandes franquias hoteleiras, pousadas e resorts. Diante disso, surge uma demanda profissional para as áreas ligadas à hospitalidade, estimulando, assim, o mercado de trabalho local. No entanto, devido a mão de obra residente estar originalmente ligada a pesca e ao artesanato, encontrou-se déficit na oferta de mão de obra capacitada. Essa carência está diretamente ligada a baixa oferta de cursos técnicos na área de hospitalidade, na região, que alinham o ensino com a prática profissional, o que poderia ser ofertado em equipamentos como um hotel-escola. Em se tratando, especificamente, da arquitetura hoteleira presente na praia do Cumbuco, os projetos existentes se caracterizam, em grande parte, por empreendimentos padronizados, descaracterizados, arquitetonicamente, de elementos e soluções projetuais da arquitetura bioclimática. Dessa forma, apresentam-se abrasivos ao meio ambiente e, muitas vezes, não condizem ou valorizam as condições climáticas da região. 17 Em virtude do contexto apresentado da área, é válido destacar a escolha projetual da implantação do meio de hospedagem caracterizado como hotel 3 estrelas. Essa tipologia é pertinente, devido suas principais características serem compatíveis, a nível organizacional, com outros meios de hospedagem, posto que esse equipamento tem como princípio capacitar profissionais para o mercado de trabalho de hospitalidade. Dessa forma, a inserção de um equipamento que capacite e proporcione experiência profissional para a população local, como um hotel-escola, possibilita amenizar a demanda profissional na região e priorizar, valorizar e potencializar as condições bioclimáticas locais. Sendo assim, o objeto a ser estudado neste trabalho é o projeto arquitetônico de um Hotel-Escola a luz da influência das estratégias passivas de conforto térmico. Deste modo, como principal objetivo, têm-se o estudo preliminar de um hotel- escola para a praia do Cumbuco/CE com enfoque nos princípios da arquitetura bioclimática. Para isso, procurou-se compreender quais os principais elementos que norteiam o planejamento e projeto de um hotel-escola, refletir acerca das diretrizes projetuais para a zona bioclimática 08, considerando suas particularidades para a praia do Cumbuco e aplicar em projeto as estratégias passivas de conforto térmico mais apropriadas para o litoral cearense. Para desenvolver da proposta e alcançar os objetivos apontados, utilizou-se a estratégia projetual apresentada por Andrade, Brito e Jorge (2014) a qual aborda e destrincha a setorização e fluxos existentes nos meios de hospedagem, e os princípios projetuais de conforto apresentados na obra de Lamberts, Dutra e Pereira (2014). Além disso, utilizou-se a metodologia projetual de Laerte Neves (1989) para definição do partido arquitetônico e o Brainstorm (tempestade de ideias) de Osborn (1987) para a concepção do conceito do projeto. Em virtude da atual situação que o mundo está vivendo, por conta da pandemia do SARS-COV2, foi precisoadaptar o trabalho para ser desenvolvido de maneira remota. Dessa forma, com relação ao tema central desta pesquisa, foram realizados estudos bibliográficos e documentais disponibilizados na internet, estudos de referência projetuais indiretos e os estudos morfológicos foram elaborados à distância. Assim, o presente trabalho está dividido em 6 capítulos, o primeiro apresenta um panorama geral sobre o que será abordado no trabalho. O segundo discorre acerca dos principais conceitos referentes as duas áreas que envolvem um hotel-escola. No 18 terceiro capítulo, aborda-se uma discussão sobre a zona bioclimática 08, suas particularidades e quais as estratégias bioclimáticas mais adequadas de conforto térmico para a área estudada. O quarto capítulo diz respeito aos estudos de referência indiretos. O quinto trata sobre o processo, os procedimentos e as decisões de projeto. O último capítulo reflete acerca do que foi proposto e alcançado no trabalho. 19 2 HOTEL-ESCOLA Hotel-escola é uma instituição de uso misto, a qual alinha o ensino técnico juntamente com a prática profissional, podendo ser definido como "um centro educacional de referência que desenvolve pessoas e organizações para o segmento de hospitalidade, atuando por meio da integração de modelo pedagógico e hotéis próprios com operação comercial de excelência" (GRANDE HOTEL, s.d). Esse equipamento possui um nível de complexidade alta, devido a presença de duas áreas distintas que se complementam. Sendo assim, para melhor compreensão acerca do planejamento de um hotel-escola é necessário se debruçar separadamente sobre cada campo presente: o meio de hospedagem hotel e a instituição de ensino técnico. 2.1 Hotel O hotel pode ser definido, basicamente, por um estabelecimento especializado em acolher pessoas em viagens por meio do fornecimento mínimo das condições básicas pessoais proporcionando conforto e descanso. No entanto, com o passar das décadas, apareceram novos e diferentes públicos e, com eles, novas demandas de hospedagem. Assim existem diferentes tipos, caracterizados como meios de hospedagem que se classificam de diversas formas quanto a estrutura e serviços. 2.1.1 Meios de Hospedagem Com a crescente multiplicação dos meios de hospedagem, o governo percebeu a necessidade de desenvolver instrumentos que coordenassem e regulamentassem a atividade turística. É nesse contexto que foi criada a matriz de classificação hoteleira, que regulamentava e dividia em tipologias os estabelecimentos de hospedagem. Dessa forma, a classificação foi desenvolvida a “partir da necessidade de se estabelecer um padrão para os meios de hospedagem e [...] estabelecer limites aos empreendedores com relação aos aspectos naturais [...]” (PERREIRA, ROIM; 2012). O Conselho Nacional de Turismo (CNTUR), o Fundo Geral de Turismo (FUNGETUR) e o Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR) foram os responsáveis por criar a primeira matriz classificatória. Como principais objetivos dessa ordenação estão a melhoria, a transparência e a garantia que os serviços fossem prestados e cobrados de forma justa (PEREIRA, ROIM; 2012). 20 Recentemente, o Ministério do Turismo aprovou, em 2011, a Portaria N° 100 de 16 de junho1, tendo em vista a baixa adesão ao sistema de classificação dos estabelecimentos de hotelaria que estava em vigor desde 2002. Nela “institui o Sistema Brasileiro de Classificação de Meios de Hospedagem (SBClass)” e “[..] estabelece os critérios de classificação [...]” (MTur, 2011). Dessa forma, os chamados meios de hospedagem, são definidos como: [...] empreendimentos ou estabelecimentos, independentemente de sua forma de constituição, destinados a prestar serviços de alojamento temporário, ofertados em unidades de frequência individual e de uso exclusivo do hóspede, bem como outros serviços necessários aos usuários, denominados de serviços de hospedagem, mediante adoção de instrumento contratual, tácito ou expresso, e cobrança de diária. (BRASIL, 2008, p.1) De acordo com a Portaria N° 100/2011 – Art. 7, em que define as novas categorias para os meios de hospedagem, são estabelecidas 7 tipologias: Hotel, Hotel Histórico, Resort, Hotel Fazenda, Apart Hotel/Flat, Pousada e Cama e Café (Figura 1). Dessa forma, a nova classificação “considera que cada tipo de meio de hospedagem reflete as diferentes práticas de mercado” (FERREIRA et al; 2016), bem como as novas demandas, os novos padrões de ocupação e os diferentes perfis de hóspedes. É válido destacar, que essa nova matriz classificatória teve como base a primeira matriz, desenvolvida pela EMBRATUR, que classificava em apenas 4 os tipos de estabelecimentos, sendo; Hotel – H, Hotel de Lazer – HL, Hotel Histórico – HH e Pousada – P. Em sua obra Andrade, Brito e Jorge (2014) apresentam, à luz da matriz primária, as características levadas em consideração para a catalogação e definição dos meios de hospedagem, os quais são: tipo, localização, natureza da edificação, infraestrutura e clientela preferencial. Dessa forma, é possível identificar (Tabela 1) as mudanças de cunho sociocultural e organizacional para a proposta atual. 1 São datadas outras duas tentativas anteriores, de instituição de um sistema classificatório, uma em 1998 e outra em 2002, no entanto não foram muito populares. 21 Tabela 1 - Meios de hospedagem de Turismo e suas diferentes características Fonte: Andrade, Brito e Jorge (2014) 22 Figura 1 - Classificação dos meios de hospedagem Fonte: Cartilha de Orientação Básica – Hotéis, p. 06 e 07, 2010. 2.1.2 Matriz de Classificação Com a implementação da classificação dos meios de hospedagem, verificou-se a necessidade de regulamentar as premissas e requisitos que determinavam os diferentes padrões de serviços e infraestrutura de uma mesma tipologia. Dessa forma, foi criada a matriz de classificação. Atualmente, de acordo com o Ministério do Turismo (2015), cada tipologia pôde ser classificada em categorias específicas variando quanto ao número de estrelas, de 1 (mínima) a 5 (máxima), como ilustrado na Figura 2. Esse novo agrupamento tem por “objetivo aperfeiçoar a qualidade dos serviços oferecidos por meios de hospedagem e incentivar a avaliação de equipamentos turísticos e profissionais aptos” (ROIM; PEREIRA, 2012). 23 Figura 2 - Nova Matriz de Classificação dos meios de Hospedagem Fonte: Ministério do Turismo (2010, p. 9) As novas simbologias da matriz de classificação são garantidas por meio do cumprimento dos requisitos mandatórios (M) ou eletivos (EL) abordados na nova regulamentação (MTUR, 2015). Esses quesitos estão especificados em 3 diferentes eixos: Infraestrutura (Instalações e Equipamentos), Serviços e Sustentabilidade (Aspectos relacionados com meio ambiente, sociedade e satisfação do hóspede). De acordo com o Sistema Brasileiro de Classificação (SBClass), o Hotel possui simbologia de estrelas de 1 a 5, enquanto o Hotel Histórico e o Flat/Apart Hotel possuem somente a partir de 3 até 5 estrelas. Dessa forma, para que um estabelecimento atinja a categoria desejada e seja aprovado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO) é necessário provar o atendimento de cerca de 100% dos requisitos mandatórios (M) e 30% dos requisitos eletivos (EL) constituintes nas Matrizes de Classificação (MTur, 2011). No que se refere a constituição organizacional dos meios de hospedagem, o estabelecimento possui determinados requisitos para cada categoria. Em todo requisito, são encontrados itens necessários para um planejamento primário, nomeados pela SBClass de Matrizes de Classificação. Dessa forma, para cada tipo de estabelecimento escolhido existe um padrão de quesitos a cumprir. Ela está dividida em três setores: a infraestrutura, serviços e sustentabilidade (Figura 3). 24 Figura 3 - Recorte Matriz de Classificaçãode Meios de Hospedagem - Hotel Fonte: Portaria Ministerial N° 100, p. 10. 2011 Assim, serão aprofundadas as características pertinentes ao trabalho que regem o desenvolvimento do meio de hospedagem da tipologia Hotel de categoria 3 estrelas. 2.1.3 Hotel – categoria 3 estrelas Na nova matriz de classificação, Hotel é definido com um “estabelecimento com serviço de recepção, alojamento temporário, com ou sem alimentação, ofertados em unidades individuais e de uso exclusivo dos hóspedes, mediante cobrança de diária” (MTUR, 2015). Como destacado, cada requisito está dividido em eixos. Nesse caso, em cada um deles há diferentes grupos. Dessa forma, o quesito Infraestrutura está subdividido em três grupos: Áreas Comuns, Unidades Habitacionais (UH) e Alimentos e Bebidas (A e B). Para o nível de categoria três estrelas, de caráter projetual, destacam- se, para UH, os requisitos de nº 39 e 44, os quais se referem diretamente as áreas úteis obrigatórias (M) das unidades habitacionais e dos banheiros, respectivamente. Os 25 demais requisitos estão relacionados diretamente com a especificação de mobiliário e tipo de climatização presentes na UH como abordado no Quadro 1. Quadro 1 - Requisitos de infraestrutura para o grupo de Unidades Habitacionais Fonte: Matriz Classificatória (2011), adaptado pela autora (2020) Diante disso, é possível compreender quais os elementos obrigatórios que constam no programa de necessidades da unidade habitacional de um hotel 3 estrelas. Na obra de Andrade, Brito e Jorge (2014) são apresentados alguns exemplos de plantas de UH, como a dos hotéis Taj Mahal (Figura 4 ), em Manaus/AM, e Holiday Inn (Figura 5), em Fortaleza/CE. Eles ilustram a diversidade de modelos de layout de suítes apresentando o mesmo programa obrigatório. 26 Figura 4 - Planta Baixa - Suíte Hotel Taj Mahal - Manaus/AM Fonte: Andrade, Brito e Jorge, 2014, p. 112 Figura 5 - Planta Baixa – Suíte Hotel Holiday Inn - Fortaleza/CE Fonte: Andrade, Brito e Jorge, 2014, p. 113 No referente ao grupo de alimentos e Bebidas (Quadro 2), destacam-se os quesitos de nº 111 e 112 em que citam a presença de bar e restaurante como elementos eletivo (EL) e mandatório (M), respectivamente. Além disso, para o grupo de áreas comuns são destacados 17 requisitos, os quais estão descritos no Quadro 3. 27 Quadro 2 - Requisitos de infraestrutura para o grupo de Alimentos e Bebidas Fonte: Matriz Classificatória (2011), adaptado pela autora (2020) Quadro 3 - Requisitos de infraestrutura para o grupo de Áreas Comuns. Fonte: Matriz Classificatória (2011), adaptado pela autora (2020) Em relação ao requisito sustentabilidade (Quadro 4) destacam-se os itens que tratam das medidas permanentes em relação a redução dos impactos do 28 empreendimento na natureza, ou seja, os itens nº 1, 2, 3, 12 e 13. A matriz também apresenta o requisito Serviços, no entanto, eles não serão aprofundados tendo em vista, que o objetivo deste tópico é destacar as medidas de cunho projetual, ou seja, que serão rebatidas diretamente em projeto. Quadro 4 - Requisitos de Sustentabilidade Fonte: Matriz Classificatória (2011), adaptado pela autora (2020) Nas obras de Andrade, Brito e Jorge (2014) e Popp et al. (2007) são abordadas as áreas básicas e os respectivos ambientes necessários para a organização e funcionamento de um hotel. Nelas são evidenciadas e descritas sete áreas diferentes: hospedagem, alimentos e bebidas, administrativo, equipamentos, áreas públicas e sociais, recreativas e serviço (Quadro 5). 29 Quadro 5 - Áreas e Instalações - Hotel Fonte: Andrade; Brito e Jorge (2014, p. 91) Nota: Adaptado pela autora (2020) Dentro de cada grupo são apontadas diversas instalações e ambientes que “contribuem de maneira significativa para o desempenho do hotel, embora variem os respectivos graus de importância” (ANDRADE; BRITO; JORGE, 2014, p. 91). O setor de Alimentos e Bebidas, por exemplo, é o de maior complexidade organizacional e funcional de um hotel (POPP et al, 2007, p.46). Isso se deve ao fato das normas e procedimentos sanitários obrigatórios que setorizam diversas etapas necessárias para o funcionamento de uma cozinha a nível industrial. Os fluxos presentes nesse setor (Figura 6) são divididos em restrito a funcionários, em sua maioria, e circulação de público externo. Na área limitada à funcionários são encontrados ambientes como cozinha, pré- preparo, câmara frigorífica, almoxarifado, triagem de alimentos, balança e descarte, enquanto, na área pública, estando restrita a carga e descarga (ANDRADE; BRITO E JORGE 2014). 30 Figura 6 - Diagrama Funcional - Setor Alimentos e Bebidas Fonte: ANDRADE; BRITO; JORGE, 2014, p.151 Em relação ao setor de serviços, é destacável citar as instalações da lavanderia. Por possuírem, geralmente, porte industrial necessitam de atenção maior durante o planejamento e projeto. Andrade; Brito e Jorge (2014) ressaltam que nesse ambiente há uma divisão em 4 subsetores operacionais que estão restritos apenas a circulação de funcionários (Figura 7): roupas do hotel, roupas dos hóspedes, costura e abastecimento e montagem dos carrinhos das camareiras. Por demandar uma grande quantidade de equipamentos, como calandras, secadoras e lavadoras extratoras, a lavanderia requer um espaço maior e que proporcione condições especiais de ventilação e exaustão. Além disso, por estar diretamente ligado ao setor de governança, recomenda-se nas suas proximidades os ambientes como: manutenção, depósito de roupa limpa e de roupa suja. 31 Figura 7 - Diagrama Funcional - Lavanderia e Governança Fonte: ANDRADE; BRITO; JORGE, 2014, p.161 2.2 Instituição de Ensino Técnico A instituição de ensino técnico é uma entidade voltada para a educação profissional técnica de nível médio e superior tecnológico, em que são ofertados cursos de formação tecnológica. Diante disso, eles “promovem o desenvolvimento da capacidade de aprender e empregar novas técnicas e tecnologias no trabalho e compreender os processos de melhoria contínua nos setores de produção e serviços” (MEC, sd), ou seja, qualificam para exercício profissional a atuação direta no mercado de trabalho. O Ministério da Educação, define os ensinos profissionalizantes de nível médio e superior em: “A educação profissional técnica de nível médio inclui os denominados Cursos Técnicos destinados a proporcionar ao estudante conhecimentos, saberes e competências profissionais necessários ao exercício profissional e da cidadania, com base nos fundamentos científico-tecnológicos, sócio- históricos e culturais” (MEC, s.d) “A educação profissional de nível tecnológico, integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, objetiva garantir aos cidadãos o direito à aquisição de competências profissionais que os tornem aptos para a inserção em setores profissionais nos quais haja utilização de tecnologias.” (CNE, 2002, Art 1°) 32 Os cursos técnicos são norteados pelo Catálogo Nacional de Cursos Técnicos (CNCT) e pelo Catálogo Nacional de Cursos Superiores de Tecnologia (CNCST)2, instituídos pelas Portarias MEC nº 870, de 16 de julho de 2008 e n° 1024, de 11 de maio de 2006, respectivamente, os quais visam: “aprimorar e fortalecer a oferta da educação profissional e tecnológica e para orientar instituições, estudantes, educadores, sistemas e redes de ensino e sociedade em geral a respeito das aprendizagens a serem garantidas a todos os concluintes de cada um dos cursos.” (MEC, 2006) Esses instrumentos são regidos pela Lei nº 11.741, de 16 de julho de 20083, “que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para redimensionar, institucionalizar e integrar as ações da educação profissional técnica de nível médio [...] e da educação profissional e tecnológica” (BRASIL,2008). Dessa forma, cada tipo de ensino técnico possui uma diretriz curricular específica que direcionam a organização dos sistemas de ensino. Para o ensino profissionalizante de nível médio, a resolução n° 6, de 20 de setembro de 2012, define as diretrizes curriculares nacionais para a educação profissional Técnica de Nível Médio, enquanto a resolução CNE/CP 3, de 18 de dezembro de 2002, “institui as diretrizes curriculares nacionais gerais para a organização e o funcionamento dos cursos superiores de tecnologia” (CNE, 2002). Com isso, os instrumentos destacados atuam como norteadores para implantação da grade curricular de cursos técnicos. Diante disso, cada instituição de ensino pode organizar sua própria grade desde que obedeça aos elementos obrigatórios de cada curso. Sendo assim, no que tange os cursos de hospitalidade, tema central desta pesquisa, é necessário compreender o que é o ensino técnico de hospitalidade e como ele é organizado. 2.2.1 O Ensino Técnico de hospitalidade Em relação ao ensino profissionalizante de hospitalidade, são encontrados cursos técnicos tanto para nível médio quanto para superior tecnológico. Nesse caso, cada Catálogo está dividido em eixos tecnológicos, sendo assim, para a área de hospitalidade são denominados eixo de Hospitalidade, Turismo e Lazer. 2 Recentemente, os catálogos passaram por uma atualização, 15 de dezembro de 2020, entretanto foram utilizados os dados referentes à 3ª edição, que estava vigente desde 2014. 3 A Lei nº 11.741, de 16 de julho de 2008 altera a lei n 9.394 de 20 de dezembro de 1996 que estabelecia as diretrizes e bases da educação profissional. 33 De acordo com o CNCT (2014), são encontrados 7 cursos técnicos4: agenciamento de viagem, cozinha, eventos, turismo, hospedagem, lazer e restaurante e bar. Todos os cursos destacados anteriormente, possuem carga horária máxima de 800 horas e necessitam de uma infraestrutura básica com biblioteca de acervo específico, laboratório didático e de informática. Entretanto, alguns dos cursos requerem laboratórios específicos como: o laboratório de governança e recepção (Técnico em Hospedagem), laboratório de restaurante e bar (Técnico em Restaurante e Bar), Laboratório de eventos (Técnico em Eventos) e Laboratório de produção de alimentos e cozinha didática (Técnico em Cozinha). Em relação aos cursos superiores tecnológicos, para o mesmo eixo tecnológico são reconhecidos 5 cursos: eventos, gastronomia, gestão de turismo, gestão desportiva e de lazer e hotelaria. Os cursos apresentam carga horária obrigatória de 1600 horas e apresentam as mesmas demandas para infraestrutura básica dos cursos de nível médio. No entanto, possuem uma demanda maior de laboratórios, em que são desenvolvidas as atividades práticas, como: restaurante didático, laboratório de panificação e confeitaria, laboratório de análise sensorial de alimentos, cozinha fria e quente (Gastronomia) e laboratório de alimentos e bebidas (Hotelaria), como destacados no Quadro 6. Quadro 6 - Infraestrutura Básica dos cursos técnicos - Laboratórios Fonte: CNCT e CNST (2014), adaptado pela autora (2020) A metodologia de ensino dos cursos técnicos, voltados para a área de hospitalidade, em algumas instituições, passou por adaptações e atualizações. Isso se deve a uma “maior consciência dos projetos pedagógicos sobre a necessidade de 4 Existia uma maior diversidade de tipos de cursos, porém passaram por um agrupamento, datado pelo catálogo de tabela de convergência, o que resultou em apenas 7 cursos por meio da (Resolução CNE/CEB nº 01/2014). 34 estabelecer um vínculo entre teoria e prática acadêmica ...” (CHIATTONE, 2015, p.56) e ao mercado de trabalho que tem cobrado, como um dos principais requisitos, experiências profissionais, ou seja, a vivência prática da profissão. Dessa forma, uma nova metodologia de ensino tem se difundido no país, uma vez que alinha o ensino técnico juntamente com a prática profissional, por meio de um estabelecimento de um hotel pertencente a instituição de ensino. Essa nova modalidade ficou conhecida por Hotel-Escola. 2.2.2 Hotel-escola Hotel-escola é um centro educacional de referência, que visa proporcionar oportunidades aos “[...] futuros profissionais desenvolverem plenamente as habilidades e competências necessárias ao exercício de sua profissão” (CHIATTONE, 2015, p.57) por meio de vivências diárias, reais, das atividades para funcionamento de um hotel. Esse tipo de instituição de ensino tem como base as diretrizes curriculares dos cursos técnicos voltados para a área de hospitalidade. Dessa forma, o diferencial desse modelo para os cursos técnicos tradicionais de hospedagem é a sua metodologia, que aplica o ensino a prática do exercício profissional. Isso se deve a existência de um hotel, em pleno funcionamento, vinculado a instituição. Sendo assim, as práticas de laboratório se desenvolvem no próprio hotel em meio aos seus diversos setores se aproximando da realidade profissional. A Universidade de Cornell, nos Estados Unidos da América, de acordo com Silveira (2019), em meados da década de 1940, foi uma das pioneiras na metodologia que alinhava ensino a prática, por meio da implantação de um hotel-escola ligado à instituição. No Brasil, esse tipo estabelecimento teve sua primeira aparição em meados dos anos 1968 com o Hotel Grogotó, no estado de Minas Gerais, vinculado ao SENAC (Serviço de Aprendizagem Comercial) em que firmou parcerias com instituições internacionais do ramo da hospedagem e possibilitando intercâmbios para seus alunos (SENAC, 2007). O Ministério da Educação (MEC) classifica o Hotel-Escola na categoria de Centro de Educação Tecnológica. Ela foi criada a partir da Lei nº 8.948/94 e regulamentado pelo Decreto nº 2.406, de 27 de novembro de 1997, em que define no Art. 2º: Os Centros de Educação Tecnológica, públicos ou privados, têm por finalidade formar e qualificar profissionais, nos vários níveis e modalidades de ensino, para os diversos setores da economia e 35 realizar pesquisa e desenvolvimento tecnológico de novos processos, produtos e serviços, em estreita articulação com os setores produtivos e a sociedade [...] (BRASIL, 1997). No Brasil, existem cerca de 12 hotéis-escola5 (Figura 8), sendo 1 caracterizado como pousada-escola. Eles estão localizados apenas nas regiões nordeste e sudeste. Na região nordeste, encontram-se apenas três hotéis-escola, um vinculado ao SENAC (Hotel-Escola Senac Barreira Roxa), de caráter privado, e dois do Instituto Federal (IFCE Hotel-Escola Guaramiranga e o IFPB Hotel-Escola Bruxaxá) de viés público. Já no sudeste do país, encontram-se a maioria dos hotéis-escola, todos vinculados a instituições particulares, a destacar o SENAC com um total de 7 escolas em toda região. Nesses estabelecimentos são ofertados, em sua maioria, cursos profissionalizantes e de graduação voltados para hotelaria, lazer, eventos e gastronomia, a exemplo do Grande Hotel Campos do Jordão (SENAC, 2007). Figura 8 - Localização de Hotéis-Escola no Brasil Fonte: Base Chiattone (2015). Adaptado pela autora (2020) Esse tipo de instituição possui características comuns organizacionais a outros centros de educação tecnológica, uma vez que necessitam de uma infraestrutura básica 5 Valor atualizado em 2020 pela autora, utilizando como base os dados disponibilizados por Chiattone (2015). 36 obrigatória de ensino. De acordo com o Senac (2007), nos hotéis-escola do Senac, a exemplo do Grogotó, Campos do Jordão e Águas de São Pedro, em sua infraestrutura possuem ambientes como salas de aula, laboratórios de cozinha, informática, recepção e governança, biblioteca e restaurante pedagógicos. Eles estão, em muitos casos, localizados em prédios anexos ao hotel, conhecidos como prédio-escola. Sendo assim, serão apresentadas características de planejamentoe projeto ligadas ao setor da instituição de ensino profissionalizante, do tipo Hotel-Escola. O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) em parceria com o Ministério da Educação (MEC), desenvolveu o caderno de especificações técnicas para escolas técnicas - padrão (MEC, 2018) e o manual de orientações técnicas para elaboração de projetos de edificações escolares6 (FNDE, 2019), em que caracterizam os setores funcionais essenciais constituintes a uma instituição de ensino. Neles foram encontrados 4 grupos de ambientes funcionais em comum: administrativos, aprendizagem, serviços e vivência. Para o setor administrativo são destacados ambientes como: coordenação pedagógica, diretoria, sala de professores/sala de reunião, secretaria, depósito e almoxarifado. É válido destacar, por se tratar de um hotel-escola se faz necessário a existência da coordenação de estágio. No setor de aprendizagem, onde se encontram os espaços diretamente ligados ao aprendizado estão: as salas de aulas, os laboratórios, a biblioteca e as salas de estudos. No setor de serviços se destacam: depósitos de material de limpeza, vestiários e sanitários para funcionários, copa, estacionamento, 6 Não foram encontradas referências voltadas exclusivamente para o ensino superior, tomou-se como base a estrutura organizacional de ensino fundamental, médio e médio - técnico. 37 área de carga e descarga, depósito de lixo e gás. Já para o setor de vivência, são encontrados ambientes como: cantina, espaços de convivência e refeitório. Figura 9 - Diagrama: Setores Funcionais de uma Instituição de Ensino Fonte: Base FNDE (2019). Adaptado pela autora (2020). Em se tratando, especificamente, do setor administrativo, compreende-se que os ambientes que o compõe são tanto de acesso público como restrito. Isso é justificado uma vez que esse setor está tanto ligado a questões restritas ao corpo docente e discente, quanto aos assuntos relacionados com o público externo a instituição. Dessa forma, de acordo com FNDE (2019), esses ambientes devem estar localizados nas proximidades da entrada do prédio (acesso principal) tendo como ponto central a recepção, que fará a função de interligar os demais ambientes (Figura 10). É válido destacar, que os ambientes de almoxarifado, depósito, sala de reunião e professores e a coordenação (pedagógica, estágio e de curso) estão diretamente vinculados ao corpo docente, discente e funcionários da instituição, sendo, uma área, prioritariamente, restrita. Em relação a diretoria e a secretaria, desenvolvem-se assuntos relacionados a coordenação das atividades pedagógicas, realização de pequenas reuniões e 38 atendimento específico aos alunos, professores e público externo (FNDE, 2019). Sendo assim, essa área é destinada ao público externo e interno da instituição. Figura 10 - Diagrama Funcional - Setor Administrativo Fonte: FNDE (2019) adaptado pela autora (2020) Para o setor de aprendizagem, estão destinados os ambientes das salas de aula, salas de informática, sala de estudos e biblioteca. Ademais, como já descrito nos Catálogos Nacional de Cursos Técnicos (CNCT, 2014) e no de Superior Tecnológico (CNCST, 2014), são necessários infraestruturas básicas obrigatórias, nesse caso laboratórios específicos para cada curso. Para a oferta de cursos profissionalizantes na área de hospedagem são essenciais os laboratórios. Dessa forma, o ideal é que esses ambientes estejam localizados em uma mesma área e próximos aos demais, como a biblioteca e salas de estudos, uma vez que esses ambientes são os mais utilizados pelo corpo discente. 39 Figura 11 - Diagrama Funcional - Setor Aprendizagem Fonte: FNDE (2019) adaptado pela autora (2020) É válido destacar, também, a organização interna e o fluxo necessário para os laboratórios. A partir do documento fornecido pelo Instituto Federal do Ceará (IFCE, 2017), foi possível compreender como é feita a distribuição dos laboratórios de recepção e governança (técnico em hospedagem e hotelaria) e da cozinha e sala bar (técnico em cozinha). Recepção e governança são “[...] espaços que reproduzem os futuros ambientes de trabalho” por meio do “[..] conhecimento de técnicas e procedimentos de atendimento ao hóspede, como também de higienização e arrumação dos quartos” (SENAC/SP, 2020). Dessa forma, é um ambiente que requer um modelo da suíte do hotel com todos os elementos base, um espaço de recepção e área para os alunos, como ilustrado na Figura 12. 40 Figura 12 - Laboratório de Recepção e Governança Fonte: IFCE, 2017. No laboratório de cozinha, os alunos “[...] aprendem os cortes de legumes, de carnes, aves e frutos do mar, conhecem as técnicas de cocção e desenvolvem deliciosas receitas” (SENAC/SP, 2020). De acordo com Somavilla e Lopes (2013), a estrutura básica são ambientes, como recepção e armazenamento, câmara frigorífica, pré-preparo, preparo e higienização de alimentos (Figura 13). No restaurante - bar, são desenvolvidas atividades “[...] como preparar e decorar mesas, montar coquetéis, organizar eventos, dentre outras atividades” (SENAC/SP, 2020). Sendo assim é necessário que tenha um balcão para preparo de bebidas, mesas e cadeiras (Figura 13). 41 Figura 13 - Laboratório de Cozinha e Restaurante e Bar Fonte: Projeto pedagógico do curso de hotelaria, IFCE, 2017. Em relação ao setor de serviços, o FNDE (2019) e o IFCE (2017) relatam a necessidade dos ambientes estejam próximos entre si e fazendo ligação com outras áreas, exemplo da recepção (setor administrativo). Ele é uma zona majoritariamente restrita aos funcionários da instituição, entretanto ainda há certo fluxo do público externo em virtude do estacionamento e da área de carga e descarga. Para o setor de vivência, não há bem um padrão quanto a localização da área de convivência, mas recomenda-se que ela esteja como ponto central do edifício (FNDE, 2019, p.54), uma vez que é um ponto de junção dos demais setores (Figura 14). Em relação a cantina e refeitório, o melhor é que estejam próximas tanto entre si, quanto dos demais setores, uma vez que são espaços de uso público e restrito aos funcionários, professores e alunos da instituição. 42 Figura 14 - Fluxograma - Setor Convivência Fonte: FNDE (2019) adaptado pela autora (2020) 2.3 Considerações sobre hotel-escola Diante do exposto, percebe-se que o hotel-escola é um centro educacional de referência ligado ao ensino técnico. Ele alinha a metodologia de ensino juntamente com a experiência profissional, por meio da existência de um hotel em pleno funcionamento. Esta instituição possui um nível de complexidade alto, uma vez que apresenta dois eixos distintos em um mesmo projeto - o meio de hospedagem e a instituição de ensino. Juntos, eles compõem um sistema unificado em relação ao seu funcionamento e planejamento. Isso é justificado, uma vez que possuem atividades e setores interdependentes. Sendo assim, apresentam fluxos que se articulam, em virtude da metodologia adotada pela instituição - a qual alinha o ensino com a prática profissional -, a exemplo da interação dos alunos dos cursos técnicos por meio das vivências no ambiente do hotel, bem como os hóspedes. Mediante do discutido neste capítulo foi possível compreender quais são os componentes de planejamento e projeto de um equipamento como o hotel-escola. Viabilizando, assim, a concepção e entendimento, inicial, de um programa de necessidades primário e delimitar os setores e fluxos existentes para um hotel-escola. Além disso, por mais que a bibliografia específica sobre hotel-escola seja reduzida, foi possível compreender o equipamento analisando cada eixo separadamente. Assim, a partir dos autores e entidades citados no capítulo, tanto em relação ao hotel quanto a instituição de ensino técnico, depreendeu-se quais os componentes básicose obrigatórios, divididos por setores, para constituição desse tipo de edificação. 43 Dessa forma, devido as características analisadas, propõe-se que o hotel-escola atenda a categoria classificatória de 3 estrelas. Isso se deve ao seu nível de complexidade e requerimentos que proporcionam um número relevante de elementos obrigatórios voltados para a infraestrutura, serviços e sustentabilidade. Além disso, permite, o maior contato dos alunos com a realidade dos diferentes meios de hospedagem preparando- os para as diferentes exigências do mercado hoteleiro. Para o eixo educacional, serão ofertados cursos técnicos de nível médio de cozinha, restaurante e bar e hospedagem, tendo em vista a crescente demanda por parte do mercado de hospitalidade na região do Cumbuco. 44 3 ARQUITETURA BIOCLIMÁTICA A arquitetura bioclimática consiste na junção harmônica da arquitetura - por meio do edifício - com o meio ambiente, através da valorização e otimização dos recursos naturais disponíveis. Esse termo foi desenvolvido pelos irmãos Olgyay (1973, apud LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2004), que aplicaram a bioclimatologia (estudo do clima relacionado aos seres vivos) com a arquitetura, tendo como objetivo a promoção de conforto térmico para o usuário. Baseado no diagrama bioclimático desenvolvido7, Givoni (1992, apud LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2004) propôs um novo diagrama que, sustentado pela carta psicométrica tradicional, considera os valores relativos às temperaturas internas da edificação, empregando “informações mensais de temperatura e umidade do ar” (BAGNATI, 2013, p.45). Para dispor das estratégias projetuais para adequar a arquitetura ao clima, foram determinadas diferentes zonas, destacadas na obra de Lamberts, Dutra e Pereira (2004) como zona de: aquecimento artificial, aquecimento solar, inércia térmica para aquecimento, resfriamento evaporativo, umidificação, inércia térmica para resfriamento, ar-condicionado, ventilação natural e de conforto (Figura 15). Figura 15 - Carta Bioclimática do Brasil Fonte: LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA (2004, p.86) O desenvolvimento do projeto arquitetônico tem como principal fator, o local em que será inserido o projeto, ou seja, a edificação é pensada de acordo com as 7 Conhecido como Carta Bioclimática de Olgyay, que recomendava estratégias para adaptação do edifício ao clima. 45 características do ambiente, possibilitando, assim, uma maior integração do homem com o meio. A análise das variáveis radiação solar, latitude, altitude, ventos e massas de água e terra, que atuam em conjunto e seus comportamentos entre si, são essenciais para a caracterização climática do local (ROMERO, 2000, p.02). Segundo Corbella e Yannas (2003) a arquitetura bioclimática é a “(...) arquitetura preocupada na sua integração com clima local, visando à habitação centrada sobre o conforto ambiental do ser humano e sua repercussão no planeta” (CORBELLA; YANNAS, 2003, p.19). Romero (2000) também conceitua: “arquitetura bioclimática é o próprio ambiente construído que atua como mecanismo de controle das variáveis do meio através de sua envoltura (paredes, pisos, coberturas), seu entorno (água, vegetação, sombras, terra) e, ainda, através do aproveitamento dos elementos e fatores do clima para melhor controle do vento e do sol” (ROMERO, 2000, p.48) Além disso, o bioclimatismo ligado à arquitetura “trata do equilíbrio da edificação com os condicionantes ambientais locais” (FERNANDES, 2009, p.25) ou seja, é uma área que está diretamente ligada à natureza. Dessa forma, as soluções e ações aplicadas no projeto visam o melhor aproveitamento dos recursos naturais. Assim, a arquitetura bioclimática envolve, também, “(...) o desenvolvimento de técnicas e equipamentos necessários à melhoria da eficiência energética nas edificações” (PROJETEEE, 2020) possibilitando a redução do impacto da edificação no meio ambiente, contribuindo para a sustentabilidade. Outro fator relevante que está associado a arquitetura bioclimática, são as estratégias de condicionamento térmico passivo, que utilizam e otimizam os recursos naturais aplicando-os, de forma harmônica, por meio de elementos construtivos propiciando conforto ao usuário. Para Fernandes (2009), os princípios bioclimáticos devem ser premissa para o desenvolvimento do projeto e suas soluções construtivas. É comum verificar a aplicação de soluções da arquitetura vernacular em projetos bioclimáticos. Visto que, ela se utiliza dos recursos naturais existentes e de técnicas tradicionais locais culminando na adequação com meio ambiente. Borges (2015) define a arquitetura vernacular ligada a arquitetura bioclimática como: “(...) arquitetura vernacular como aquela em que se empregam materiais e recursos do próprio ambiente em que a edificação é construída, caracterizando uma tipologia arquitetônica com caráter local ou regional. Não se trate apenas de uma arquitetura bioclimática, 46 feita com técnicas construtivas e materiais, mas também de uma arquitetura com identidade local ou regional conferida por suas expressões ou linguagens culturais” (BORGES, 2015, p.66) A partir dos apontamentos sobre fatores que integram a arquitetura bioclimática, como os dados climáticos, diagramas bioclimáticos e estratégias de conforto térmico passivo somado ao conforto térmico humano, é possível identificar e dividir em bioclimas específicos. Dessa forma, para compreender melhor como é caracterizado e divido os tipos de climas no brasil é necessário se aprofundar acerca do zoneamento bioclimático. Assim, serão abordados brevemente as diferentes zonas existentes no Brasil e no estado do Ceará e suas particularidades. 3.1 O Ceará no zoneamento bioclimático brasileiro O zoneamento bioclimático é “o resultado geográfico do cruzamento de três tipos diferentes de dados: zonas de conforto térmico humano, dados climáticos e estratégias de projeto e construção para atingir conforto térmico” (INMETRO et al, 2010). Dessa forma, os dados climáticos de diferentes cidades brasileiras foram disponibilizados e utilizados como base, a exemplo dos valores de temperatura máxima, temperatura mínima e umidade relativa do ar, que combinados, resultaram em zonas com características “onde há uma relativa homogeneidade climática” (BAGNATI, 2013). A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), por meio da norma técnica NBR 15220-3, “estabelece as recomendações e diretrizes construtivas, sem caráter normativo, para adequação climática de habitações unifamiliares de interesse social” (ABNT, 2003). É importante salientar, que a metodologia aplicada para mapeamento das zonas bioclimáticas brasileiras, pela NBR 15220-3, baseou-se nos conceitos analisados e desenvolvidos por Givoni (apud BOGO et al, 1994. p.8) por meio da Carta Bioclimática8. Assim, o território foi subdividido em 08 zonas bioclimáticas9 (Figura 16). Dispõe- se que a zona 01 está caracterizada como a mais fria e zona 08 a mais quente. Para cada zona bioclimática são indicadas as diretrizes projetuais mais adequadas para gerar conforto térmico, baseadas em quatro parâmetros: dimensões das aberturas para ventilação, proteção das aberturas, vedações externas e estratégias de condicionamento térmico passivo. 8 Considera os valores mensais de temperatura máxima, temperatura mínima e umidade relativa do ar para analisar o clima e propor as estratégias bioclimáticas. 9 É válido destacar que esses setores não obedecem a divisão de estados ou regiões econômicas. 47 Percebe-se que, ao analisar o zoneamento bioclimático no país, a zona bioclimática 8 (ZB8) apresenta maior predominância geográfica, 53,7% de abrangência no território nacional. O estado do Ceará, de acordo com a NBR 15220-3 (ABNT, 2003, p.11), apresenta três zonas bioclimáticas: a 05, 07 e 08 (Figura16), sendo a 07 com maior predominância territorial, cerca de 69,2% 10. Destaca-se, também, a presença da ZB8 em cerca de 23,07% das cidades mapeadas, a qual está, diretamente, ligada as de região litorânea, como o município de Caucaia. Figura 16 - Zoneamento - Ceará Fonte: NBR 15220-3 (2003) Adaptado pela autora (2021) A ZB 8 dispõe de características predominantemente de clima quente e úmido e, manifestando-se, principalmente nas regiões norte e litoral do nordeste do país. Dessa forma, na obra de Lamberts, Dutra e Pereira (2004) descreve a ZB8 e suas principais diretrizes e estratégias como: “A Zona Bioclimática 08 inclui as cidades de Belém, Corumbá, Fernando de Noronha, Fortaleza, João Pessoa, Maceió, Manaus, Natal, Recife, Rio Branco, Rio de Janeiro, Santarém, Salvador, São Luiz e Vitória. Suas principais diretrizes construtivas são o uso de aberturas grandes e totalmente sombreadas, o uso de paredes e coberturas leves e refletoras e o uso de ventilação cruzada permanente durante o ano todo.” (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2004, p.99) 10 Dados baseados nas cidades cearenses destacadas na NBR 15220-3 na relação de municípios com valores climáticos catalogados. 48 As regiões caracterizadas como ZB08, apresentam baixa amplitude térmica com necessidade de ventilação cruzada para circulação dos ventos. Sendo assim, na obra de Lamberts, Dutra e Pereira (2004) são aconselhadas estratégias projetuais como: grandes aberturas de esquadrias (maior que 40%), grandes áreas sombreadas e utilizar cores claras nas paredes e coberturas (a fim de aumentar a reflexão dos raios solares). Assim, em virtude deste trabalho ser desenvolvido no litoral cearense, onde está inserido na zona bioclimática 08, serão aprofundados assuntos relativos à ZB8 no distrito de Cumbuco/CE. 3.1.1 Bioclima da praia do Cumbuco/Ce A praia do Cumbuco está localizada no município de Caucaia, com Latitude: - 3.73454 e Longitude: -38.6563. A Norma Técnica 15220-3 (2003) não apresenta a cidade de Caucaia na relação das 330 catalogadas. Sendo assim, a norma aconselha que as cidades distantes menos de 100 quilômetros de outra que não possua informações climáticas, utilizem os dados da cidade que possui. Dessa forma, serão empregados os dados climáticos referentes a cidade de Fortaleza11, bem como sua carta bioclimática12, devido sua distância de apenas 30 quilômetros do distrito de Cumbuco. Para analisar o clima e determinar as diretrizes e estratégias mais adequadas para essa localidade, é importante a observação da carta psicométrica e dos dados climatológicos. Na carta psicométrica (Figura 17) para a cidade de fortaleza, fornecida pelo programa Climate Consultant (2020), percebe-se que, em boa parte do ano, há conforto térmico (62,5%), considerando o índice de conforto adaptativo, e cerca de 37,5% das horas há desconforto ao calor para os usuários. Além disso, as temperaturas se situam, normalmente, entre 20 °C e 32 °C e a umidade relativa é sempre acima de 50%. Ao analisar a Figura 17, é possível perceber que, a região de conforto está contida na faixa de temperatura de 24°C a 28 °C, e a zona de desconforto ao calor está relacionado com os altos níveis de umidade relativa em conjunto com as temperaturas (acima de 30°C e abaixo de 24°C). 11Referente aos dados climáticos de um ano completo disponibilizados com base nos dados de Roriz Engenharia Bioclimática e dados disponibilizados pelo Laboratório de Eficiência Energética em Edificações (LabEEE). 12 Conhecida, também, por carta psicométrica, baseada na metodologia de Givoni (apud BOGO et al, 1994). 49 Figura 17 - Carta Psicométrica de Fortaleza/CE Fonte: Climate Consultant (2020) Nota: Elaborado pela autora Na dissertação de Farias (2019), o autor aborda o comportamento do clima de Fortaleza, considerando a temperatura externa juntamente com o conforto em cada hora do ano (Figura 18). Compreende-se que, na maior parte das horas, há conforto térmico entre às 17 horas até às 7 da manhã, enquanto entre às 8 e às 16 horas há conforto proporcionado em conjunto com a movimentação de ar. Destaca, também, que a “baixa latitude 3° 4’ sul de contribui para as altas taxas de radiação solar direta ao longo do ano” (FARIAS, 2019, p.31) e baixas amplitudes térmicas diárias. 50 Figura 18 - Frequência de cada hora em conforto considerando a temperatura externa de Fortaleza Fonte: FARIAS (2019) Assim, é possível compreender que na região, que está localizada na ZB8, apresenta característica de clima quente e úmido e índices de conforto térmico na maior parte do ano. Em relação aos momentos de desconforto, que ocorrem nos horários de maior incidência de radiação solar, podem ser amenizados com a ventilação, proporcionando conforto. O projeto bioclimático, tem objetivo de satisfazer as exigências mínimas de conforto térmico do ser humano por meio dos elementos arquitetônicos. Diante disso, serão aprofundadas e elencadas as diretrizes e estratégias bioclimáticas apropriadas para o distrito de Cumbuco, baseado nos dados analisados. 3.1.2 Diretrizes projetuais para a praia do Cumbuco/CE O clima da praia do cumbuco como já discutido, está caracterizado como quente e úmido, apresentando altos índices de radiação solar direta, baixa amplitude térmica e umidade relativa maior que 50%. Dessa forma, foi possível identificar diretrizes projetuais para promoção de conforto térmico, como ventilação natural e sombreamento das aberturas (ABNT, 2003; CORBELLAS, YANNAS, 2003; HOLANDA, 1976; LAMBERTS, DUTRA, PEREIRA, 2004; PROJETEEE, 2020). É válido acrescentar, também, a recomendação de utilizar vedações leves, como paredes, pisos e coberturas, para evitar o ganho de calor (CORBELLAS, YANNAS, 2003; HOLANDA, 1976; ABNT,2003; FARIAS, 2019). Assim, sabendo da importância prévia da análise das características 51 bioclimáticas do local e, consequentemente, das diretrizes projetuais serão aprofundadas as estratégias referentes as diretrizes indicadas. 3.1.2.1 Sombreamento das aberturas O sombreamento das aberturas é caracterizado por ser uma das principais diretrizes para o Brasil, e principalmente para regiões em que o índice de radiação solar direta é alto ao longo de todo ano, como o caso da praia de Cumbuco-CE. Dessa forma, a proteção das aberturas é fundamental para amenizar a insolação, evitando, também, o aumento de carga térmica interna, e, como decorrência, o acréscimo da temperatura interna, sendo superior à externa (LAMBERTS, DUTRA, PEREIRA; 2004). Assim, são estratégias empregadas para essa diretriz, a aplicação de elementos de sombreamento como brises verticais e horizontais e elementos vazados a exemplo do cobogó (LAMBERTS, DUTRA, PEREIRA; 2004; HOLANDA, 1976). Brises são elementos, que podem ser verticais ou horizontais de diferentes materiais, espessuras e angulações. Eles estão diretamente relacionados com o controle da incidência de luz, funcionando como elementos de proteção dos raios solares diretos, evitando o aumento de temperatura nos ambientes. As posições (vertical ou horizontal) estão diretamente relacionadas com as orientações (norte, sul, leste e oeste) e o ângulo de incidência na face da abertura (Figura 19). Figura 19 - Modelos de Brises Fonte: SUSTENTARQUI (2017) 52 O cobogó é um elemento vazado, comumente presente nas aberturas de construções da arquitetura vernacular, em destaque as do nordeste do Brasil (HOLANDA, 1976, p.25). Dessa forma, permite que a ventilação natural flua por meio de aberturas, enquanto serve de filtro para os raios solares, possibilitando sombreamento. Além disso, ele pode apresentar diversas formas, desenhos, padrões, dimensões e espessuras, bem como em materiais a exemplo do cobogó cerâmico. Figura 20 - Cobogó cerâmico Fonte: Pinterest (2021) 3.1.2.2 Ventilação Natural A ventilação natural é outra
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