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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN REDE NORDESTE DE BIOTECNOLOGIA (PPG - RENORBIO) PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOTECNOLOGIA TESE DE DOUTORADO Contribuição das vias de reparo por excisão de bases e nucleotídeos no desenvolvimento de fenótipos neurodegenerativos nos modelos transgênicos de Caenorhabditis elegans CESAR ORLANDO MUNOZ CADAVID Orientadora: Profª. Drª Riva de Paula Oliveira Natal - RN 2021 CESAR ORLANDO MUNOZ CADAVID Contribuição das vias de reparo por excisão de bases e nucleotídeos no desenvolvimento de fenótipos neurodegenerativos nos modelos transgênicos de Caenorhabditis elegans Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós - Graduação em Biotecnologia - RENORBIO da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como um dos requisitos para a obtenção do título de doutor em Biotecnologia, área de concentração: Biotecnologia em Saúde. Orientadora: Profª. Drª Riva de Paula Oliveira Natal - RN 2021 DEDICATÓRIA À minha mãe, Maria Guillermina Cadavid Londono À minha esposa Sandra Milena Gallego Betancur e aos meus filhos Juanita Munoz Gallego e Emiliano Munoz Gallegos. À minha irmã Patricia E. Munoz. Sinceramente à minha orientadora professora Drª Riva de Paula Oliveira. A todos os meus familiares e amigos. AGRADECIMENTOS INSTITUCIONAIS À minha orientadora professora Riva de Paula Oliveira inicialmente por ter tido a coragem de dar oportunidade. Professora Riva, muito obrigado pelos vários ensinamentos, pelas oportunidades de crescimento acadêmico e profissional, pela amizade e confiança que fomos construindo ao longo do doutorado e por ter me motivado a sempre buscar excelência e alto padrão de qualidade em tudo. A professora Dra Lucymara Fassarella Agnez Lima por toda ajuda e o acompanhamento na realização deste trabalho, suas importantes indicações e sua co-orientação. A Universidade Federal do Rio Grande do Norte, ao Programa de Pós – Graduação em Biotecnologia/ Coordenação do Renorbio ponto focal RN, ao Centro de Biociências, ao Laboratório de Biologia Molecular e Genética – LBMG, Laboratório de Mutagênese Ambiental – LAMA. A Capes e ao CNPq pelo orçamento para realização do projeto e minha bolsa de doutorado. Aos amigos do Laboratório de Genética Bioquímica - LGB da UFRN, Ricardo Basílio de Oliveira Calad, Giovanna Melo Martins Silva, Iolanda Raquel Ferreira Paulo, José Felipe da Costa, pela parceria, companheirismo e troca de conhecimentos. Agradeço em especial ao Ricardo e Giovanna que foram mais que amigos, verdadeiros irmãos, estiveram comigo em todos os momentos do doutorado, me ajudaram profissional e pessoalmente. Aos professores da UFRN: Silvia Regina Batistuzzo de Medeiros, Julliane Tamara Araújo de Melo, Viviane Amaral e Raquel Theodoro. Aos professores externos à UFRN que aceitaram o convite para participar da banca de defesa: Carlos Renato Machado (Universidade Federal de Minas Gerais), Fernanda Marques da Cunha (UNIFESP) e Daiana da Silva Ávila (Universidade Federal do Pampa). Aos técnicos administrativos da UFRN: Paula Peroba, Diogo, Mayara, Fran e Eliene. AGRADECIMENTOS PESSOAIS À Deus e a Nossa Senhora por estarem sempre comigo. À minha mãe Maria Guillermina Cadavid Londono por todo o amor, carinho, pelas orações e por ser meu porto seguro, fonte dos meus conhecimentos familiares e religiosos. À minha esposa Sandra Milena Gallego pelo amor, companheirismo e paciência ao longo dos anos. Aos meus filhos Juanita Munoz Gallego e Emiliano Munoz Gallego pelo amor, carinho e pela compreensão de que era necessário fazer este sacrifício. Vocês são minha vida. Às minhas irmãs Patricia Munoz e Maria Eugenia Munoz pelo amor, incentivo e orações. Especial agradecimento à família de minha esposa, especialmentea Juan Jose Gallego, Maria Nelly Betancur e seus filhos Marcela Gallego e Victor Gallego, muito obrigado por sua ajuda e por ficar junto de minha família na Colômbia durante o tempo que fiquei afastado deles. A meu amigo Edwar Franco pelos bons conselhos e amizade. Finalmente quero agradecer ao pessoal do Brasil que me acolheu como amigo, especialmente ao Sr. Luis Freire e Vinicius Morais, eternamente agradecidos com vocês. RESUMO As doenças neurodegenerativas (DN) são caracterizadas por uma perda neuronal progressiva que leva ao comprometimento motor ou cognitivo. Embora ainda não sejam completamente compreendidas, as DN compartilham muitos mecanismos moleculares, como: estresse oxidativo, agregação de proteínas, deficiência do sistema ubiquitina-proteassoma-autofagia, disfunção mitocondrial, bioenergética prejudicada, disfunção de neurotrofinas e processos neuroinflamatórios. As observações clínicas de que as deficiências nas vias de reparo por excisão de nucleotídeos (NER) e reparo por excisão de base (BER) causam patologias humanas associadas a sintomas neurológicos sugerem que NER e BER também podem desempenhar um papel crítico em DNs crônicas. Neste estudo, avaliamos a deficiência das vias de BER e NER, especialmente EXO-3 e XPA-1, respectivamente, no desenvolvimento de fenótipos neurodegenerativos em Caenorhabditis elegans. A inibição de EXO-3 e XPA-1 afetou o status redox aumentando os níveis de ERO e regulando positivamente a expressão de genes relacionados à resistência ao estresse de uma maneira dependente de SKN-1. Resultados semelhantes foram encontrados quando as proteínas APN1, XPC1 e CSB1 foram avaliadas. A deficiência de EXO-3 e XPA-1 também ativou o retículo endoplasmático e a resposta da proteína não dobrada mitocondrial (UPR) e interferiu na proteostase, conforme indicado pela atividade reduzida do proteassoma e expressão das subunidades do proteassoma. Essas alterações foram associadas à neurodegeneração de neurônios marcados com pan e colinérgico. A neurodegeneração induzida pela deficiência de EXO-3 e XPA-1 parece ser desencadeada pela hiperativação do sensor de danos ao DNA PARP- 1, uma vez que este fenótipo é resgatado pela inibição de PARP-1. A inibição dos genes apn-1, xpc-1 e csb-1 nos animais transgênicos para Mal de Alzheimer e Doença de Hungtinton acelerou os fenótipos neurodegenerativos, sendo o efeito mais marcado nos animais tratados com csb-1(RNAi). Juntos, esses resultados suportam um modelo em que a deficiência das vias BER e NER desempenha um papel ativo, gerando uma rede de sinais de estresse suficientemente forte para desencadear a neurodegeneração. Palavras chaves: BER; NER; estresse oxidativo; proteostase; Mal de Alzheimer; Doença de Huntington. ABSTRACT Neurodegenerative diseases (NDs) are characterized by a progressive neuronal loss leading to motor or cognitive impairment. Although it is still not completely understood, NDs share many molecular mechanisms such as: oxidative stress, protein aggregation, deficiency of the ubiquitin–proteasome–autophagy system, mitochondrial dysfunction, impaired bioenergetics, dysfunction of neurotrophins and neuroinflammatory processes. The clinical observations that deficiencies in the nucleotide excision repair (NER) and base excision repair (BER) pathways cause human pathologies associated with neurological symptoms suggest that NER and BER might also play a critical role in chronic NDs. Here, we evaluated the deficiency of BERand NER pathways, especially EXO-3 and XPA-1, respectively, on the development of neurodegenerative phenotypes in Caenorhabditis elegans. EXO-3 and XPA-1 inhibition affected redox status by increasing ROS levels and up-regulating the expression of stress resistance related genes in a SKN-1 dependent manner. Similar results were found when APN1, XPC1 and CSB1 proteins were evaluated. EXO-3 and XPA-1 deficiency also activated the endoplasmic reticulum and mitochondrial unfolded protein response (UPR) and interfered in proteostasis as indicated by the reduced proteasome activity and proteasome subunits expression. Thesee alterations were associated with neurodegeneration of pan- and cholinergic-marked neurons. The neurodegeneration induced by EXO-3 and XPA-1 deficiency appears to be triggered by hyperactivation of the DNA damage sensor PARP-1 since this phenotype is rescued by PARP-1 inhibition. Inhibition of the apn-1, xpc-1 and csb- 1 genes in transgenic animals for Mal de Alzheimer and Hungtinton's disease accelerated neurodegenerative phenotypes, the most marked affect were in animals treted with csb-1(RNAi). Together, these results support a model where deficiency of NER and BER pathways plays an active role generating a network of stress signals sufficiently strong to trigger neurodegeneration. Key words: BER; NER; oxidative stress; proteostasis; Alzheimer's disease; Huntington's disease SUMÁRIO RESUMO ABSTRACT LISTA DE FIGURAS LISTA DE TABELAS LISTA DE ABREVIATURAS 1. INTRODUÇÃO 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Doenças neurodegenerativas 2.1.1 Mal de Alzheimer 2.1.2 Doença de Huntington 2.2 Estresse oxidativo em doenças neurodegenerativas 2.3 Espécies reativas, fontes e equilíbrio celular pro/antioxidante 2.3.1 Via de sinalização Nfr2-ARE 2.4 Disfunção mitocondrial e neurodegeneração 2.4.1 Toxicidade de proteínas na mitocôndria 2.5 Sistema de proteassoma ubiquitina (UPS) 2.5.1 Agregação e Proteotoxicidade 2.5.2 Disfunção de proteassoma desencadeia ativação de SKN-1 2.6 Dano no DNA: O papel dos mecanismos de reparo de DNA nas lesões induzidas por estresse oxidativo 2.6.1 Reparo por excisão de bases (BER). 2.6.2 Reparo por excisão de nucleotídecaos (NER). 2.6.3 Interações entre proteínas de sistemas BER e NER 2.6.4 BER e NER no desenvolvimento de doenças neurodegenerativas 2.6.5 Outras funções do XPA fora do reparo de DNA por excisão de nucleotídeos 2.7 O C. elegans como um organismo modelo de estudo 2.7.1 Vias de sinalização celular envolvidas na resposta ao estresse em C. elegans 2.8. 2.81 C. elegans como modelo para estudo das doenças neurodegenerativas Modelos C. elegans para o Mal de Alzheimer 2.8.2 Modelos C. elegans para a Doença de Huntington 2.9 3 3.1 Justificação OBJETIVOS Objetivo geral 3.2 Objetivos específicos 4. MATERIAIS E MÉTODOS 4.1 Reagentes 4.2 Cepas e manutenção do Caenorhabditis elegans 4.3 Sincronização cronológica do Caenorhabditis elegans 4.4 Culturas com RNAi 4.5 Quantificação da Progênie 4.6 Ensaio de sensibilidade a UV 4.7 4.8 Quantificação de ERO intracelular Análise da expressão gênica por qPCR 4.8.1 Extração de RNA 4.8.2 Síntese do DNA complementar (cDNA) 4.8.3 PCR quantitativa em tempo real (qPCR) 4.8.4 Curvas padrão para determinação da eficiência dos iniciadores 4.8.5 Escolha do gene de referência endógena 4.9 Análise de genes repórteres 4.10 Quantificação da atividade do proteossoma 4.11 Ensaio de paralisia induzida pelo peptídeo β-amiloide 4.12 Quantificação de agregados poliglutaminicos em C. elegans 4.13 Ensaio de sobrevivência neuronal 4.14. Potencial de membrana mitocondrial ∆Ψm 4.15 Conteúdo Mitocondrial 4.16 Análise Estatística 5 RESULTADOS 5.1 A inibição dos genes exo-3 e xpa-1 afetam o status redox em C. elegans de maneira dependente de SKN-1. 5.2 A inibição de EXO-3 e XPA-1 está associada à ativação de UPRer e UPRmt 5.3 A inibição de EXO-3 e XPA-1 diminui a expressão de genes da subunidade do proteassoma e a atividade UPS 5.4 A inibição de XPA-1 e EXO-3 agrava os fenótipos associados à agregação de proteínas tóxicas em modelos de C. elegans para MA e HD. 5.5 A inibição de EXO-3 e XPA-1 ativa PARP1 e causa disfunção mitocondrial 5.6 A inibição de XPA-1 e EXO-3 desencadeia neurodegeneração em C. elegans por meio da ativação de PARP1 5.7 A Efeito da inibição de PARP1 na integridade neuronal, status redox, a função mitocondrial e o fenótipos de paralisia. 5.8 Alteração do estado redox e ativação de SKN-1 parece ser um evento comum na situação de deficiência de BER e NER. 5.9 Efeito da inibição de outras proteínas do sistema BER e NER nos fenótipos associados à agregação de proteínas tóxicas em modelos de C. elegans para MA e HD 6 DISCUSSÃO 7 CONCLUSÃO 8 PERSPECTIVAS 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 10 ANEXOS LISTA DE FIGURAS Figura 1: Geração de espécies reativas Figura 2: Reparo por excisão de Bases. Figura 3: Reparo de excisão de nucleotídeos. Figura 4: Ciclo de vida de C. elegans a 20°C. Figura 5: Modelo de ativação de SKN-1 durante estresse oxidativo em C. elegans. Figura 6: Efeito da inibição de EXO-3 e/ou XPA-1 na expressão de genes antioxidantes e o status redox em C. elegans. Figura 7: Efeito da inibição de EXO-3 e / ou XPA-1 nos níveis de ERO intracelulares e na expressão gst-4::GFP em mutantes de C. elegans. Figura 8: Efeito da inibição de EXO-3 e/ou XPA-1 na expressão do gene UPR em C. elegans.. Figura 9: Efeito da inibição de EXO-3 e/ou XPA-1 na degradação de proteínas em C. elegans. Figura 10: Efeito da inibição de EXO-3 e/ou XPA-1 no fenótipo neurodegenerativo em linhagens transgênicas para MA e DH em C. elegans. Figura 11: Efeito da inibição de EXO-3 e/ou XPA-1 nas porcetagens de variações média dos fenótipos neurodegenerativos em linhagens transgênicas para MA e DH em C. elegans. Figura 12: Efeito da inibição de EXO-3 e/ou XPA-1 na expressão de PARP1, potencial de membrana mitocondrial e conteúdo mitocondrial em C. elegans. Figura 13: Efeito da inibição de EXO-3 e/ou XPA-1 na integridade neuronal pan- e colinérgica em linha transgênica em C. elegans. Figura 14: Efeito do inibidor de PARP1 na neurodegeneração induzida por deficiência de EXO-3- e XPA-1 em C. elegans. Figura 15: Efeito do inibidor PARP1 no progresso da paralisia da cepa CL2006 submetida a RNAi contra exo-3 e / ou xpa-1. Figura 16: Fifura 17: Figura 18: Figura 19: Figura 20: Efeito do tratamento com RNAi para os genes BER e NER no acúmulo intracelular de ERO e na expressão de GST4 no modelo C. elegans. Efeito do tratamento com RNAi na paralisia induzida pelo β-amiloide no modelo transgênico de C. elegans para o Mal de Alzheimer. Efeito do tratamento com RNAi simples ou duplo no número de agregados poliglutamínicos no modelo transgênico de C. elegans para a doença de Huntington utlizando a cepa AM141. Efeito do tratamento com RNAi simples ou duplo na sobrevivência dos neurônios ASH no modelo transgênico de C. elegans da doença de Huntington utlizando a cepa HA759. Modelo de trabalho. LISTA DE TABELAS Tabela 1: Cepas de C. elegans utilizadas no estudo Tabela 2: Lista de iniciadores utilizados na qPCR Tabela 3: Efeito da inibição do EXO-3 e XPA nos fenotipos neurodegenerativos Tabela 4: Efeito do inibidor PARP1 no progresso da paralisia de CL2006 Tabela 5: Efeito da inibição dos genes BER e NER nos fenótipos neurodegenerativos LISTA DE ABREVIATURAS Aβ - β-amiloide AGE-1 – (Ortógolo fosfatdil inositol 3 quinase, PI3-quinase) APE1 - AP endonuclease 1 APL-1 - Proteína precursora amiloide em C. elegans APP – Proteina precursora amiloide ARE – Elemento de resposta ao estresseATP - Trifosfato de adenosina BER - Reparo de excisão de base CAT – Catalase cDNA - Ácido Desoxirribonucleico complementar CNC - cap'n'collar CS – Síndrome de cockayne CSA – Síndrome de cockayne A CSB – Síndrome de cockayne B CYP - Citocromo P450 DAF-16 - Ortólogo de FOXO em C. elegans DDR – Resposta a danos no DNA (do inglês: DNA Damage response) DEPC - Dietilpirocarbonato DH – Doença de Huntington DNA - Ácido Desoxirribonucleico DP – Doença de Parkinson DSB - Quebras de fita dupla (DSBs do inglês: double strand breaks) DSBR - Reparo de quebra de fita dupla DsND – Donças neurodegenerativas dsRNA - Ácido ribonucleico de fita dupla ELA – Esclerose lateral amiotrófica EO – Estresse oxidativo ERCC1/XPF – Complexo endonuclease específico da estrutura ERN – Espécies reativas de nitrogênio ERO – Espécies reativas de oxigênio ETC - Cadeias de transporte de elétrons microssomais (ETC do inglês: electron transport chains) FEN1 - Endonuclease tipo 1 específica da estrutura Flap (do inglês: Flap structure-specific endonuclease 1) g – Gramas GAPDH – Gliceraldeído 3- fosfato desidrogenase GCS-1 - Glutamil cisteína sintetase 1 GFP – Proteína verde fluorescente GG-NER – Global genome reparo de excisão de nucleotídeo GPx – Glutationa peroxidase GR - Glutationa redutase GSH - Glutationa reduzida GSK-3 - Glicogênio sintetase quinase GSSG - Glutationa dissulfeto GST4 – Glutationa-S-transferase 4 GT - Glutationa transferase H2DCFDA - diacetato de 2',7'-diclorodihidrofluoresceina HNE – 4-Hidroxinonenal HSF-1 – Fator de transcrição de choque térmico HSP - Proteínas de choque térmico Htt – Huntingtina ICL – Interligação cruzada IL-1 – Interleucina 1 IL6 – Interleucina 6 ILS - Via de sinalização da insulina IPTG - Isopropil β-D -1-thiogalactopyranoside LB – Luria-Baertani M - Molar MA – Mal de Alzheimer mL - Mililitros MAPK – Proteína quinase ativada por mitógeno MDA - Malondialdeído mg – Miligramas MMR - Reparo de desemparelhamento MPG – DNA - N-metilpurina glicosilase mtDNA - Ácido Desoxirribonucleico mitocondrial NAD(H) - Nicotinamida adenina dinucleotídeo NAD(P)H - Nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato nDNA - Ácido Desoxirribonucleico nuclear NEIL1 – DNA glicosilase tipo Nei (NEIL1 do inglês: Nei like DNA glycosylase 1) NER - Reparo de excisão de nucleotídeo NFTs - Emaranhados neurofibrilares (NFTs do inglês: neurofibrillary tangles) NGM – Meio de crescimento de nematoide NHEJ - Junção endêmica não-homóloga Nrf2–ARE - Fator nuclear 2 relacionado ao eritróide fator 2-elemento de resposta antioxidante O2 - - Radical superóxido OD – Densidade óptica OGG1 - DNA glicosilase 8-oxoguanina (do inglês: 8-oxoguanine DNA glycosylase), OH-- Radical hidroxila ON – Óxido nítrico PARP1 - Poli(ADP-ribose) polimerase 1 PCNA - Antígeno nuclear de proliferação celular (do inglês: Proliferating cell nuclear antigen) PCR – Reação em cadeia da polimerase PI3K – Fosfatidilinositol-3-quinase PMK-1 - Ortóloga à p38 de humanos PQE-1 – Proteína aumentadora de poliQ PSEN1 - Presenilinas 1 PSEN2 - Presenilinas 2 qPCR – PCR quantitativa em tempo real RA – Ácido retinóico RH – Recombinação homóloga RNA – Ácido Ribonucleico RNAi - RNA de interferência RNAP2 – RNA polimerase II RPA – Proteína de replicação A SEK-1 - MAP2K da via da p38 em C. elegans SKN-1 – SkiNhead Ortólogo de Nrf em C. elegans SNC – Sistema nervoso central SSBs - Quebras de fita simples (SSBs do inglês: single-strand breaks) SOD – Superóxido dismutase TC-NER – Transcrição acoplada a reparo de excisão de nucleotídeo TFIIH – Fator de transcrição geral IIH sub-unidade 1 TNF-α - Fator de necrose tumoral alfa Trx – tiorredoxina UCP – Uncopling protein UNC-54 - Codificação de proteínas, gene presente em C. elegans não coordenados UNG – DNA uracil glisosilase UPS - Sistema de proteassoma ubiquitina (UPS do inglês: ubiquitin proteasome system) UV – Ultravioleta VMTP - Variação média do tempo de paralisia VMNA - Variação média de números de agregados VMSN – Variação média da sobrevivência neuronal WT – Tipo selvagem XP - Xeroderma pigmentosum XPA – Xeroderma pigmentosum grupo A XPC - Xeroderma pigmentosum grupo C XPD - Xeroderma pigmentosum grupo D XPF - Xeroderma pigmentosum grupo F XPG - Xeroderma pigmentosum grupo G XRCC1 - Reparo de raios X com complemento cruzado 1 (XRCC1 do inglês: X-ray repair cross complementing 1) YFP- Proteína fluorescente amarela. 18 1 INTRODUÇÃO A identificação de fatores que contribuem para processos neurodegenerativos no cérebro é um dos principais objetivos da medicina moderna. Atualmente, existem várias hipóteses sobre os mecanismos que levam ao dano e morte de células cerebrais nas doenças neurodegenerativas (DN), tais como efeitos excitotóxicos por aminoácidos excitatórios, metabolismo celular alterado, e estresse oxidativo (EO), causado por radicais livres ou outras moléculas reativas. A produção excessiva de espécies reativas, a insuficiente atividade dos mecanismos de defesa tais como genes antioxidantes e detoxificantes, o sistema de proteassoma ubiquitina e os sistemas de reparo ao DNA têm sido implicados na patogênese de muitas doenças neurodegenerativas, incluindo a esclerose lateral amiotrófica (ELA), Doença de Parkinson (DP), Mal de Alzheimer (MA) e Doença de Huntington (DH) (Li et al., 2013). O estresse oxidativo desempenha um papel importante no desenvolvimento de várias doenças, tais como artrite, câncer, distúrbios autoimunes, envelhecimento, doenças cardiovasculares e (DN). Com a idade, algumas características genéticas e fatores ambientais, tornam o sistema oxidativo-redox desequilibrado e os níveis de espécies reativas de oxigênio (ERO) e de nitrogênio (ERN) são aumentados. Nesse contexto, mitocôndrias utilizando oxigênio para a produção de energia são consideradas as principais fontes de estresse oxidativo. O NAD(P)H e a cadeia transportadora de elétrons após uma estimulação excessiva levam a uma superprodução de ERO. Embora as ERO/ERN em concentrações moderadas desempenhem papéis importantes em processos fisiológicos tais como vias de sinalização, indução de resposta mitogênica, defesa contra patógenos infecciosos, uma superprodução ou uma deficiência de defesas antioxidantes endógenas levam a danos oxidativos, como modificações pós-traducionais e oxidação de proteínas, oxidação de lipídios e DNA / RNA, que são as características comuns de muitas DN, pois o cérebro é a parte mais suscetível do corpo às espécies reativas (Bhat et al., 2015; Gan e Jhonson, 2014). 19 O fator nuclear de resposta relacionado ao eritróide 2 (Nrf2) – elemento de resposta antioxidante (ERA) (Nrf2-ARE do inglês: The nuclear factor erythroid 2- related factor 2 (Nrf2)-antioxidant response element (ARE)) é um sensor primário e o principal regulador em resposta ao estresse oxidativo através de sua capacidade de modular a expressão de centenas de genes antioxidantes e desintoxicantes (Johnson et al., 2008; Lee et al., 2003; Shih et al., 2003). A ativação da via de sinalização Nrf2-ARE mostrou benefícios em modelos animais de muitos distúrbios neurodegenerativos, o que apóia o conceito de desenvolvimento de produtos biofarmacêuticos para ativar a via Nrf2-ARE no cérebro. O reparo do DNA é essencial para a sobrevivência celular e manutenção da homeostase no tecido. Os organismos celulares precisam combater constantemente com danos endógenos ao DNA e desenvolver vários sistemas de reparo de DNA para lidar com essas agressões. Nesse sentido, uma rede de mecanismos de resposta a danos no DNA (DDR do inglês: DNA damage response) protegem organismos contra o contínuo estresse genotóxico induzido por metabólitos reativos e outros agentes genotóxicos, tais como contaminantesambientais e radiação ultravioleta (UV) do sol (Hoeijmakers, 2001). A rede DDR consiste em vários mecanismos de reparo de DNA, pontos de verificação do ciclo celular e senescência celular e cascatas de sinalização apoptótica. Em geral, os sistemas de reparo de DNA podem discriminar entre bases regulares e modificadas. De fato, bases de DNA oxidadas são especificamente reconhecidas entre a grande maioria por glicosilases de DNA e endonucleases apurinérgicas/apirimidínicas (AP) nas vias de reparo de excisão de base (BER) e reparo de excisão de nucleotídeos (NER). Adicionalmente, NER é um mecanismo de reparo de DNA que é capaz de remover uma ampla variedade de lesões desestabilizadoras da hélice de DNA, incluindo aquelas induzidas pela luz UV (Krokan e Bjoras, 2013; Yasui, 2013). Apesar de haver trabalhos que indicam o envolvimento do reparo nas DN, ainda faltam evidências que contribuam no esclarecimento de como eles causam neurodegeneração, e quais são os mecanismos envolvidos no processo. Neste trabalho a gente pretende avaliar o papel das vias BER e NER no 20 desenvolvimento dos fenótipos neurodegenerativos nos modelos transgênicos de C. elegans e como a inibição destes afeta a homeostase redox, mitocondrial e proteossomal. Nós mostramos que o knockdown de exo-3 e/ou xpa-1 causou neurodegeneração e agravou os fenótipos neurodegenerativos em linhagens transgênicas para MA e DH em C. elegans. Nossos dados sugerem que a combinação de aumento do estresse oxidativo, deficiência de UPS, hiperativação de PARP e disfunção mitocondrial são o mecanismo subjacente da neurodegeneração induzida pela deficiência de XPA-1 e EXO-3. 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Doenças neurodegenerativas Os efeitos deletérios e cumulativos de espécies reativas sobre a integridade celular podem eventualmente conduzir ou participar no desenvolvimento de doenças ou processos patológicos tais como doenças cardiovasculares, processos inflamatórios crônicos, câncer, diabetes, aterosclerose, além de várias DsND em humanos e animais (Finkel e Holbrook, 2000). Embora o EO não seja o agente etiológico ou a causa direta responsável pelas neuropatologias, ele participa da cascata de eventos patológicos envolvidos nessas doenças (Finkel e Holbrook, 2000). 2.1.1 Mal de Alzheimer Estima-se que 10% da população mundial possam estar atualmente afetados pelo MA (Meraz-Rios et al., 2014). O MA é caracterizado por demência e é a DND mais comum que ocorre em idosos (principalmente> 60 anos de idade), ainda que existam alguns casos precoces associados à hereditariedade e a mutações principalmente nos genes da Proteína Precursora do Amiloide (APP) e das Presenilinas 1 e 2 (PSEN1 e PSEN2) (Paula et al., 2009; Revett et al., 2013). Entre vários eventos moleculares complicados, a presença de emaranhados neurofibrilares (NFTs), placas senis e perda neuronal são os mais notáveis. A disfunção mitocondrial e um acúmulo de espécies reativas promovem desequilíbrio redox e neurotoxicidade induzida por β-amiloide (βA) ou tau. Geralmente, uma produção aumentada e agregação de βA facilita a polimerização e a fosforilação da tau e, portanto, a sucessão do MA (Zhao et al., 21 2013). Os níveis aumentados de ERO estimulam a transcrição gênica pró-inflamatória e a liberação de citocinas, como a interleucina (IL) -1 e 6, o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), as quais levam a processos neuroinflamatórios. A neuroinflamação crônica é responsável pela perda de neurônios, bem como pela sensibilidade imunológica (McGeer et al., 1988). Caso contrário, as reações inflamatórias ativam ainda a micróglia e os astrócitos para gerar grandes quantidades de ERO, que é uma das principais causas de EO crônico. Os efeitos combinados de estresse oxidativo e neuroinflamação levam à geração de β- amilóide (Aβ). Assim, a geração de uma cascata de eventos patológicos, incluindo a formação de NFTs, reações inflamatórias, estresse no retículo endoplasmático, alterada neurotransmissão acetililinférgica, aumento do estresse oxidativo e disfunção mitocondrial levam à morte celular e demência (Benilova et al., 2012; Sochocka et al., 2013). A morte progressiva de neurônios em regiões específicas do cérebro, especialmente o neocórtex (Markaki e Tavernarakis, 2010) leva ao aparecimento dos sintomas cognitivos, sendo o mais impactante deles a perda de memória. Também são observados distúrbios comportamentais, mudanças de personalidade e depressão (Paula et al., 2009). Na atualidade, ainda não existem tratamentos capazes de curar o Mal de Alzheimer. De acordo com o protocolo clínico e as diretrizes terapêuticas para o MA (Brasil, 2013), o tratamento atual é constituído da administração dos fármacos Donepezil e Rivastigmina tendo como objetivo apenas a melhora da memória e atenção e a redução da velocidade de progressão da doença. Ainda que os mecanismos envolvidos na gênese e na progressão da doença não tenham sido totalmente esclarecidos, três características fisiopatológicas podem ser observadas em todos os pacientes: os emaranhados neurofibrilares compostos pela proteína TAU, placas senis compostas pelo peptídeo β-amiloide e um quadro progressivo de neurodegeneração (Trushina e Mielke, 2014; Paula et al., 2009). A proteína TAU é intracelular e, dentre outras funções, está envolvida na composição do citoesqueleto através da interação intermitente com a tubulina, interagindo com o microtúbulo. A temporariedade dessa interação é mediada pela 22 fosforilação da proteína TAU (Revett et al., 2013). Nos indivíduos acometidos pela doença, a proteína TAU se encontra constantemente hiperfosforilada, o que impede sua ligação com a tubulina e provoca sua agregação em emaranhados que se depositam dentro da célula (Paula et al., 2009). Ainda que não tenha sido estabelecida uma relação causa-efeito entre os emaranhados neurofibrilares e os sintomas observados nos pacientes, estes são um dos principais achados no cérebro acometido pelo Mal de Alzheimer (Mi e Johson, 2006). A presença das diferentes formas de acúmulo do peptídeo β-amiloide (βA), entretanto, já foi associada à grande parte dos eventos e sintomas observados na progressão do MA, gerando a hipótese de que o βA poderia ser um fator causal na doença (Teoria da Cascata Amiloide) (Korczyn, 2008). O peptídeo βA consiste em uma cadeia peptídica de 39 a 42 aminoácidos provenientes da clivagem sucessiva da proteína precursora amiloide (APP) (Revett et al., 2013). Em indivíduos normais, a APP é clivada preferencialmente pela α-secretase, gerando peptídeos sem importância patológica, cujas funções ainda não são bem conhecidas. Em indivíduos acometidos pelo Alzheimer, a APP é clivada preferencialmente pela β-secretase e, em seguida, pelas subunidades da γ- secretase (as presinilinas), gerando os peptídeos tóxicos (Paula et al., 2009). Os monômeros de βA formam oligômeros intracelulares, que podem ser exportados para fora da célula e se depositar no meio extracelular, formando placas senis nos neurônios. Segundo a literatura, os oligômeros βA inibem o funcionamento normal do sistema de degradação protéica da célula (Munoz-Lobato et al., 2014), interagem com neurônios e células da glia induzindo a produção de ERO, desregulam o metabolismo do cálcio e induzem a morte neuronal por apoptose (Paula et al., 2009). Ainda que controversa, a teoria da cascata amiloide é uma das hipóteses mais discutidas da literatura e norteia o desenvolvimento de inúmeros ensaios clínicos com candidatos terapêuticos (Trushina et al., 2014). 2.1.2 Doença de Huntington A DH é uma doença poliglutamínica, que constitui um grupo de desordens neurodegenerativas caracterizadas por repetições do trinucleotídeo CAG (codifica o aminoácido glutamina) em regiões codificantes de determinados genes (Shao e Diamond, 2007). Essa doença apresenta um início dependenteda idade, 23 vulnerabilidade neuronal seletiva e evolução clínica progressiva geralmente fatal (Hammond et al., 2014; Rubinsztein et al., 2003). Quanto maior a expansão poliglutamínica, maior é a tendência de tais proteínas a se agregarem, mais graves serão os sintomas e mais cedo começam a surgir os sintomas da neurodegeneração. No caso da DH, uma doença neurodegenerativa autossômica dominante, essa repetição ocorre na região codificante do gene da Huntingtina (htt) que é um polipeptídeo citoplasmático ubiquamente expresso (Gil-Mohapel e Rego, 2011; Goehler et al., 2004). Esta localização de huntingtina tornou difícil definir uma função primária da proteína, mas sugeriu que esta era um andaime grande e móvel com muitos complexos dinâmicos, com localização e conformação sensíveis a eventos de estresse celular (Maiuri et al., 2019). A doença é progressiva e fatal, sendo caracterizada pela disfunção motora, cognitiva, comportamental e psicológica (Borgs et al., 2012). Os sintomas se iniciam, geralmente, por volta dos 40 a 50 anos de idade, mas existem alguns casos em jovens que representam aproximadamente 6% devido a antecipação por mutações instáveis (Borgs et al., 2012; Cendes, 2004; Myers et al., 1993). Segundo Shao e Diamond (2007) a patogênese da doença de Huntington está associada não à disfunção da huntingtina, mas à sua clivagem proteolítica, formando fragmentos poliglutamínicos (poliQ). Estes fragmentos, pela presença das repetições poliglutamínicas, tendem a sofrer alterações conformacionais que favorecem a formação de oligômeros, agregados e inclusões proteicas, que possuem efeitos tóxicos por promoverem desregulação transcricional, remodelamento da cromatina, disfunção metabólica, alteração da homeostase do cálcio, excitotoxicidade e ativação de caspases, podendo levar à morte neuronal (Borgs et al., 2012). Os fragmentos poliglutamínicos também já foram associados ao bloqueio da atividade normal do proteassoma e ao sequestro de chaperonas moleculares, interferindo assim na atividade dos sistemas de controle de qualidade proteica da célula (Shao e Diamond, 2007). 2.2 Estresse oxidativo em doenças neurodegenerativas As doenças neurodegenerativas (DN) são caracterizadas por progressivos danos nas células neurais e perda neuronal, que podem levar ao comprometimento da função motora e ou da função cognitiva. Doenças 24 neurodegenerativas comumente incluem ao Mal de Alzheimer (MA), Doença de Parkinson (DP), doença de Huntington (DH), amiotrófica esclerose lateral (ALS) e ataxia espinocerebelar (SCA) (Alzheimer´s Association, 2016; Albers e Beal, 2000). Essas doenças representam um problema primário de saúde, especialmente na população idosa (Albers e Beal, 2000; Hamer e Chida, 2009). Por exemplo, o MA está classificado como a sexta causa de morte nos Estados Unidos. A DP, a segunda doença neurodegenerativa mais prevalente, afeta 1 a 2% da população acima de 65 anos (Bekris et al., 2010; Farrer, 2006). A complexa patogênese das DN permanece amplamente desconhecida. No entanto, evidências crescentes sugerem que espécies reativas de oxigênio (ERO) podem desempenhar um papel crítico, pois altos níveis são comumente observadas no cérebro de pacientes com condições neurodegenerativas (Albers e Beal, 2000; Dias et al., 2013). Numerosos estudos foram realizados para investigar o papel de ERO na progressão neurodegenerativa (St-Pierre et al., 2006; Hensley et al., 2006). Embora ERO não possa ser o fator desencadeador de doenças neurodegenerativas, elas podem exacerbar a progressão da doença por meio de danos oxidativos e interação com mitocôndrias (Dias et al., 2013). Importante lembrar que as células neuronais são particularmente vulneráveis a danos oxidativos devido ao seu alto teor de ácidos de gordura poli-insaturada nas membranas, alto consumo de oxigênio e defesa antioxidante fraca (Rego e Oliveira, 2003). A patogênese de várias doenças neurodegenerativas, como MA e A DP, está associada ao acúmulo de proteínas mal dobradas. A agregação dessas proteínas modificadas pode por sua vez desencadear uma resposta inflamatória no cérebro, o que induz ERO e subsequentemente o EO (Zuo et al., 2015). A disfunção mitocondrial, que muitas vezes acompanha a produção exacerbada de ERO, está intimamente ligada aos distúrbios neurodegenerativos (Albers e Beal, 2000; Wallace, 1999). Por exemplo, em DH, a huntingtina mutante (mHTT) pode interagir diretamente com as mitocôndrias, levando ao comprometimento do fornecimento de energia e a níveis aumentados de ERO (Ross e Tabrizi, 2011). 25 2.3 Espécies reativas, fontes e equilíbrio celular pro/antioxidante Sabe-se que os oxidantes biológicos que causam dano oxidativo compreendem os produtos de processos endógenos e exógenos que envolvem oxigênio e nitrogênio. As espécies reativas que contêm oxigênio são produzidas durante a respiração aeróbica, metabolismo celular e defesa contra patógenos (Falkowski e Godfrey, 2008). O potencial químico da molécula de oxigênio depende de sua estrutura eletrônica (dois elétrons desemparelhados em seu estado tripleto básico). Isto promove reações de um elétron que formam a base na respiração (redução de moléculas de oxigênio em quatro reações de elétrons simples), cadeias de transporte de elétrons microssomais (ETC do inglês: electron transport chains) (via citocromo P-450 (CYP 450)) e atividade de explosão oxidativa em macrófagos (Paiva e Bozza, 2014). A alta dinâmica dos processos químicos que são alcançados em reações elementares de um único elétron é a fonte de moléculas reativas, os quais são produtos secundários indesejáveis gerados na respiração, metabolismo ou processo de defesa. Essas moléculas reativas são conhecidas como espécies reativas de oxigênio (ERO) e espécies reativas de nitrogênio (ERN). Entre eles, os mais conhecidos são singleto de oxigênio (1O2), radicais ânion superóxido (O2− •), radicais hidroxila (HO•), peróxido de hidrogênio (H2O2), óxido nítrico (ON) e ânions peroxinitrito (ONOO−) (Metodiewa e Koska, 2000; Popa-Wagner et al., 2013). As espécies reativas de oxigênio (ERO) são moléculas quimicamente reativas que têm sido implicadas na patogênese de DN. Elas são geradas naturalmente dentro do sistema biológico, desempenhando papéis importantes na mediação de atividades celulares, como inflamação, sobrevivência celular e respostas estressantes, bem como muitas doenças, incluindo distúrbios cardiovasculares, disfunção muscular, alergia e cânceres (Zuo et al., 2014; Zuo et al., 2015; He e Zuo, 2015). Devido à sua reatividade, altas concentrações de ERO podem levar à morte celular ou estresse oxidativo (EO), que é definido como a ruptura do equilíbrio entre os níveis pró-oxidantes e antioxidantes (Zuo et al., 2015). Um aumento descontrolado dessas concentrações leva a uma cadeia de reações que aumenta o risco de danos às moléculas biológicas em um organismo vivo. Isso é 26 causado pela alta reatividade de ERO e ERN com lipídios, proteínas, carboidratos e ácidos nucléicos. Portanto, é necessário estabelecer uma barreira antioxidante para limitar os níveis de ERO/ERN a uma quantidade que não ameace a integridade dos sistemas biológicos. A formação excessiva de ERO/ERN que excede a capacidade máxima da barreira antioxidante leva a uma perturbação no equilíbrio pró/antioxidante e, finalmente, ao desenvolvimento do estado conhecido como estresse oxidativo (EO) (Pisoschi e Pop, 2015). O EO pode ser desencadeado por radicais produzidos por processos exógenos (por exemplo, xenobióticos, frio, infecções por vírus e bactérias, radiação ionizante, ultrassom ou foto-oxidação, dieta inadequada, consumo de álcool e fumo) ou processos endógenos, que são reações bioquímicas básicas no corpo (Figura 1) (Luu et al., 2015). Figura 1: Geração de espécies reativas Principais reações bioquímicasbásicas como fonte de ERO e atuação dos mecanismos de defesa antioxidante na detoxificação dessas moléculas. CAT: Catalase; GPX: Glutationa peroxidase; GR: Glutationa redutase; SOD: Superóxido dismutase; GSSG: Glutationa dissulfeto. Fonte: Adaptada de Niedzielska et al. (2016) 27 Sabe-se que compostos altamente reativos induzem mudanças na estrutura e função das membranas celulares, proteínas, lipoproteínas, enzimas, hormônios e material genético. Em particular, as membranas são o alvo primário para ERO. Os produtos de conversão da peroxidação lipídica levam à decomposição de ácidos graxos poli-insaturados e à formação dos produtos finais, ou seja, os aldeídos reativos, como malondialdeído (MDA) e 4-hidroxinonenal (HNE). Estes compostos reagem com DNA ou moléculas de proteína e modificam sua estrutura e funções (Albarracin et al., 2012; Fritz e Petersen, 2013). Existem alguns mecanismos que protegem o organismo contra os efeitos nocivos das ERO e ERN. A quantidade final de ERO/ERN está sob o estrito controle do corpo como resultado de mecanismos de defesa enzimáticos e não enzimáticos. A produção de danos induzidos por ERO e ERN (o efeito final de EO) no tecido pode ser confirmada pela presença de biomarcadores específicos e não específicos para tecidos (Ho et al., 2013; Miller et al., 2014; Zitka et al., 2013). O sistema antioxidante celular, que prevê danos ao tecido, é composto de enzimas antioxidantes e outros compostos não enzimáticos que têm a capacidade de reduzir diferentes estruturas químicas (Kadiiska et al., 2013). Esses compostos são responsáveis por manter o equilíbrio entre os agentes pró e antioxidantes diminuindo o EO. Os antioxidantes enzimáticos são produzidos endogenamente e fazem parte de um sistema de detoxificação de três fases, altamente conservadas entre eucariotos. As proteínas de detoxificação envolvidas neste processo são classificadas em fase I, II e III (Sarkadi et al., 2006). Os componentes essenciais da defesa antioxidante enzimática são superóxido dismutase (SOD), catalase (CAT), glutationa peroxidase (GPx) e glutationa redutase (GR), enquanto os antioxidantes não enzimáticos incluem glutationa (GSH), tiorredoxina (Trx), vitaminas A, E e C, flavonóides, oligoelementos e proteínas, por exemplo, albumina, ceruloplasmina e metalotioneína (Figura 1). A enzima citocromo P450 monooxigenase (CYP) é a principal envolvida na fase I do metabolismo xenobiótico, e as enzimas CYPs oxidam os xenobióticos por hidroxilação. Uma rede de enzimas detoxificadoras, tais como SOD, CAT, 28 GPx e glutationa transferase (GT) fazem parte da fase II. A SOD age transformando dois ânions radicais superóxidos em um peróxido de hidrogênio, podendo ocorrer de três formas, dependendo do metal associado a ela, sendo cobre (Cu) e zinco (Zn) no citoplasma e manganês (Mn) na matriz mitocondrial de eucariotos e ferro (Fe) em bactérias (Perez et al., 2010). A CAT tem função de proteger as células catalisando a decomposição do peróxido de hidrogênio em oxigênio molecular e água sem produção de radicais livres (Ratnam et al., 2006; Sies, 1993). A GPx é uma enzima localizada no citosol e na matriz mitocondrial, que reduz peróxido de hidrogênio e hidropeptídeos orgânicos utilizando a glutationa (GSH). A GSH atua como co-substrato da GPx, com propriedade doadora de elétrons, podendo ser regenerada através da glutationa redutase (GR) com transferência de hidrogênio do NADPH. Neste processo, são transferidos dois hidrogênios dos grupamentos sulfidrila para os peróxidos, transformando-os em álcool e/ou água, resultando em glutationa dissulfeto (GSSG). Na fase III de detoxificação, os conjugados tóxicos são bombeados para fora da célula por transportadores cassetes de ligação de ATP (Transpotador ABC) ou outros transportadores (Figura 1) (Sarkadi et al., 2006). 2.3.1 Via de sinalização Nfr2-ARE O fator nuclear de resposta relacionado ao eritróide 2 (Nrf2) – elemento de resposta antioxidante (ERA) é o fator de transcrição responsável por ativar a defesa entioxidante (Moi et al., 1994). Nrf2 é ubiquamente expresso em todos os tecidos humanos, incluindo o cérebro, e é um dos fatores de transcrição cap'n'collar (CNC) (Moi et al., 1994). As proteínas do CNC são uma família de fatores de transcrição básicos de zíper de leucina que são conservados em vertebrados. Eles são definidos pela presença de um motivo conservado do CNC de 43 aminoácidos, que está localizado na região N-terminal do domínio de ligação ao DNA (Alam, 2006). Este fator de transcrição se liga ao elemento de resposta antioxidante (ARE). O ARE é um elemento potenciador com uma sequência consenso de RTGACnnnGC, localizada na região flanqueadora 5´ de muitos genes desintoxicantes e antioxidantes da fase II (Rushmore et al., 1991; Rushmore e Pickett, 1990). O Nrf2 se liga ao ARE através do seu domínio de ligação ao DNA para regular esta via (Moi et al., 1994). Em condições basais, 29 Nrf2 é regulado negativamente no citoplasma por uma proteína associada actina chamada Keap1. O Keap1 previne a translocação nuclear de Nrf2 e funciona como uma proteína adaptadora à ligase E3 para promover a degradação de Nrf2 através do sistema de proteassoma ubiquitina (UPS) (Cullinan et al., 2004; Itoh et al., 1999, 2003; McMahon et al., 2003; Zhang et al., 2003, 2004). Após a ruptura da ligação Keap1-Nrf2, o Nrf2 se transloca para o núcleo e se liga a pequenas proteínas Marf. O heterodímero formado se liga à ARE e coordena a transcrição de genes envolvidos na fase II de desintoxicação e defesa antioxidante (Itoh et al., 1997). As proteínas expressas por esses genes desintoxicantes e antioxidantes de fase II são responsáveis pela manutenção do equilíbrio redox. Alguns exemplos incluem superóxido dismutase 1 (SOD1), catalase, sulforedoxina, tiorredoxina e peroxirredoxina. Outras proteínas envolvidas na síntese e no metabolismo da glutationa incluem glutationa peroxidase, glutationa redutase, gama glutamina cisteína ligase e gama glutamina cisteína sintase. Além disso, há proteínas que impedem a reciclagem de quinonas e preservam a homeostase do ferro com base na análise de microarranjos após a ativação do Nrf2 (Johnson et al., 2008; Lee et al., 2003). 2.4 Disfunção mitocondrial e neurodegeneração A produção de ERO como efeito colateral da respiração aeróbica ocorre na membrana interna da mitocôndria (Venditti et al., 2013). A cadeia respiratória consiste em uma série de 5 complexos ligados à membrana: complexo I forma reduzida de nicotinamida adenina dinucleotídeo (NADH)/ubiquinona redutase), complexo II (succinato ubiquinona redutase), complexo III (citocromo ubiquinol c redutase), complexo IV (citocromo c oxidase) e complexo V (trifosfato de adenosina (ATP) sintase) (Li et al., 2013). O receptor final de elétrons e prótons, uma molécula de oxigênio, sofre redução de quatro elétrons, o que pode levar à produção de moléculas de água. Durante a ETC, vazamentos de elétrons individuais reduzem o oxigênio molecular e formam O2- • e, mais tarde, H2O2 e HO• (Figura 1) (Mailloux et al., 2013). Sabe-se que a mitocôndria é a principal fonte de ERO na porção intracelular, pois produz 1-5% de ERO em condições fisiológicas normais (Wei et al., 2001). A produção de O·−2 e OH, juntamente com os outros danos oxidativos causa um 30 dano não reparado ao DNA mitocondrial (mtDNA), o que leva ao defeito no complexo I ou III. Isso pode aumentar a redução de elétrons de O2 para formar O·−2 (Castro et al., 2012). O nível aumentado de O·−2 é responsável pelas lesões de mtDNA, estresse oxidativo metabólico, lesão celular e instabilidade genômica (Hollensworth et al., 2000). Além disso, a regulação negativa da função da cadeia de transporte de elétrons e a apoptose mediada por ERO também são evidentes (Van Houten et al., 2016). Assim mesmo, as mitocôndrias também sãosuscetíveis a efeitos nitrosativos induzidos por ON e ONOO- (Sas et al., 2007). Este último efeito modifica de maneira prejudicial a atividade de enzimas como a desidrogenase do NAD e a citocinas oxidase Cyt-C (Andreazza et al., 2010). As espécies reativas são formadas no cérebro principalmente pela produção de ATP através de fosforilação oxidativa. Tendo maiores taxas metabólicas e as demandas de energia, o cérebro (principalmente o SNC) depende muito da função mitocondrial. A esse respeito, em DN relacionadas à idade, como o MA, a DH, a ELA e DP as mitocôndrias desempenham um papel importante (Federico et al., 2012). As mitocôndrias são as únicas organelas nas células eucarióticas que possuem seu próprio DNA (mtDNA) distinto do DNA nuclear (nDNA); portanto, são suscetíveis a mutações. Particularmente, o genoma mitocondrial que não é protegido pelas histonas e sua taxa de mutação é maior do que o nDNA (Filosto et al., 2011). De fato, o estresse oxidativo no mtDNA, juntamente com um desequilíbrio na cadeia respiratória mitocondrial, homeostase de Ca2+, excitotoxicidade, apoptose, permeabilidade da membrana e sistemas de defesa mitocondrial são as causas notáveis do desenvolvimento de DN, ou amplificam a disfunção neuronal e desencadeiam a neurodegeneração (Guo et al., 2013). Vale a pena notar que a função prejudicada da cadeia de transporte de elétrons mitocondrial é uma fonte primária de EO. Defeitos nesta via resultam em aumento de radicais livres e níveis diminuídos de ATP; ambos foram observados em doenças neurodegenerativas. O aumento da produção de radicais livres pode prejudicar ainda mais a mitocôndria, formando assim um ciclo de feedback positivo. Além disso, os níveis de radicais livres são aumentados devido a um desequilíbrio entre a taxa de geração de oxidante e a capacidade antioxidante 31 endógena. Os sistemas antioxidantes, muitos dos quais são regulados pela via Nrf2-ARE, são responsáveis pela remoção de radicais livres. A falha dos sistemas de defesa antioxidante também foi examinada em cérebros de pacientes com DN após a morte. Por exemplo, de acordo com o aumento da carga de espécies reativas na doença, os pacientes com DP apresentam níveis reduzidos de glutationa nos neurônios do SNC (Sian et al., 1994; Sofic et al., 1992) e neurônios dopaminérgicos (Pearce et al., 1997) do que nos controles pareados por idade. 2.4.1 Toxicidade de proteínas na mitocôndria Disfunção mitocondrial é uma das principais características d as doenças neurodegenerativas. A disfunção mitocondrial pode ser causa primária e secundária da neurodegeneração. Em alguns casos a disfunção mitocondrial é claramente uma consequência primária direta da toxicidade da proteína na mitocôndria. O acúmulo extracelular de beta amiloide é um dos principais características patológicas do MA, em que a disfunção mitocondrial é freqüentemente observada (Spuch et al., 2012). Lustbader et al. mostrou em 2004 que amiloide beta pode se localizar na mitocôndria e se ligar diretamente a álcool desidrogenase de ligação beta-amiloide (ABAD) para induzir toxicidade mitocondrial (Lustbader et al., 2004). Beta amilóide também demonstrou interagir com a ciclofilina D (CypD), uma componente da transição da permeabilidade do poro mitocondrial (mPTP), que sensibiliza a abertura do mPTP em ambos pacientes com MA e cérebros de camundongos mAPP (Du et al., 2008). A disfunção mitocondrial não é exclusiva do MA. Na DH, a disfunção mitocondrial relacionada a um déficit de energia foi observada pela primeira vez há mais de duas décadas (Browne et al., 1997). O mecanismo pelos quais os mutantes de proteínas htt induzem disfunção mitocondrial tem se mostrado tão diverso como no MA. As mutantes htt apresentam uma transcrição perturbadora de genes relacionados à biogênese mitocondrial e função no núcleo (Cui et al., 2006; Farshbaf e Ghaedi, 2017), e podem também diretamente interagir com proteínas mitocondriais (Kim et al., 2016). O fragmento N terminal de mutante htt localiza-se na mitocôndria (Choo et al., 2004; Orr et al., 2008) tanto in vivo quanto in vitro, e interage com o complexo TIM23, obstruindo assim o processo de 32 importação do sistema mitocondrial (Yano et al., 2014). Essas interações tóxicas de mutantes Htt com proteínas mitocondriais pertubam a regulação do cálcio, sensibilizam a abertura de mPTP, despolarizam a potencial de membrana mitocondrial e, por utimo, levam à morte neuronal (Choo et al., 2004; Orr et al., 2008; Yano et al., 2014). 2.5 Sistema de proteassoma ubiquitina (UPS) O proteassoma é um complexo proteinase de múltiplas subunidades, responsável pela degradação da maioria das proteínas intracelulares. Além da quebra de proteínas obsoletas e danificadas, os proteassomas regulam muitos processos celulares importantes via degradação controlada dos fatores de transcrição, reguladores do ciclo celular, enzimas, etc. O proteassoma eucariótico contém três subunidades catalíticas: β1, β2 e β5, cada uma tendo sua própria especificidade de substrato. Além disso, vários tipos de células contêm variantes de proteassomas com diferentes perfis de atividade e especificidade; as funções desses proteassomas ainda não foram totalmente compreendidas. Muitos inibidores da atividade proteolítica proteossômica são atualmente usados como drogas no tratamento da má formação hematológica; A aplicação potencial de inibidores do proteassoma no tratamento de outras doenças, incluindo doenças neurodegenerativas, está sendo ativamente estudado (Papaevgeniou e Chondrogianni, 2014). 2.5.1 Agregação e Proteotoxicidade Proteínas deformadas e a subsequente formação de agregados/inclusões são importantes contribuintes para a patologia em muitas doenças neurodegenerativas. A maioria das doenças tem agregados de proteínas com propriedades incorretas, tais como αSyn na PD, placas beta-amilóides (βA) e emaranhados de neurofilamentos de tau (NFTs) no MA e Huntingtina (Htt) na DH. O estresse oxidativo é a principal fonte de modificações proteicas e afeta sua síntese, dobramento e função. Embora os agregados de proteínas sejam uma característica patológica das proteopatias, não é conhecido se elas são tóxicas ou neuroprotetoras. Postulou- se que a coleta de proteína mal formada em agregados representa um 33 mecanismo de defesa celular para combater a proteotoxicidade e manter a proteostase (Cheng et al., 2007). Essas inclusões, no entanto, têm sido consideradas proteotóxicas, seja pela perda de função, onde as proteínas agregadas são incapazes de desempenhar sua função fisiológica normal e/ou pelo incremento de funções, adquirindo novas funções que contribuem para a morte celular (Winklhofer et al., 2008). 2.5.2 Disfunção de proteassoma desencadeia ativação de SKN-1 A ativação de Nrf1 em resposta à disfunção do proteassoma é complexa. Análises in vitro em humanos e células de camundongo indicam que Nrf1 é uma glicoproteína associada à membrana do retículo endoplasmático (RE) que é constitutivamente direcionado para via de degradação proteassomal associada a RE (ERAD). Após a inibição do proteassoma, Nrf1 é estabilizado, sofre desglicosilação e clivagem proteolítica e localiza-se no núcleo (Radhakrishnan et al., 2014; Sha e Goldberg, 2014; Wang et al., 2006; Zhang e Hayes, 2013; Zhang et al., 2007, 2014, 2015). Como o processamento de Nrf1 é orquestrado, e sua importância nas respostas à interrupção do proteassoma in vivo não é entendido. Após a interrupção do proteassoma, C. elegans induz a transcrição da subunidade do proteassoma, genes de resposta imune e desintoxicação, e os animais alteram seu comportamento para evitar sua fonte alimentação bacteriana (Li et al., 2011; Melo e Ruvkun, 2012). A resposta transcricional após interrupção do proteassoma envolve o fator de transcrição skn-1, que codifica várias isoformas com semelhançasentre ambos Nrf1 e Nrf2 (Blackwell et al., 2015; Li et al., 2011). SKN-1 foi originalmente identificado por seu papel essencial no desenvolvimento embrionário (Bowerman et al., 1992), mas também é necessário nos estágios iniciais para respostas ao estresse de uma maneira análoga ao Nrf1/2 de mamíferos (An e Blackwell, 2003; Oliveira et al., 2009; Paek et al., 2012). SKN-1 se liga aos promotores dos genes da subunidade do proteassoma e medeia sua regulação positiva em resposta à interrupção do proteassoma, e é necessário para a sobrevivência de um mutante com função proteassoma atenuada (Keith et al., 2016; Li et al., 2011; Niu et al., 2011). O mecanismo molecular que liga a ativação do SKN-1 à detecção da disfunção do proteassoma não foi estabelecido. 34 2.6 Dano no DNA: O papel dos mecanismos de reparo de DNA nas lesões induzidas por estresse oxidativo Ácidos nucléicos, proteínas e lipídios são continuamente danificados por agentes físicos e químicos. Fontes exógenas de danos no DNA incluem radiação, dieta e produtos químicos ambientais. Fontes endógenas de danos no DNA incluem instabilidade química, como depurinação, erros espontâneos durante a replicação e reparo do DNA, e ERO, como subprodutos do metabolismo normal. Acredita-se que as ERO geram até 50.000 lesões de DNA por célula humana por dia (Lindahl 1993), incluindo modificações de base, quebras de fita simples (SSBs), quebras de fita dupla (DSBs) e reparo de interligação cruzada (ICL). Danos no DNA não reparados podem causar instabilidade genômica e induzir cascatas de sinalização que levam à senescência celular ou morte celular, os quais são fenótipos celulares associados ao envelhecimento (Rodier et al., 2009). De fato, é esperado que a capacidade de reparar danos no DNA diminua à medida que as células envelhecem (Moriwaki et al., 1996). Considerando os danos que as ERO podem causar ao DNA em condições de EO, existem vários sistemas relacionados ao reconhecimento (proteínas sensoras que reconhecem a própria lesão ou até mesmo alterações na conformação do DNA devido ao dano) e reparo desses danos (proteínas transdutoras são ativadas e dão início a um mecanismo de ativação de proteínas efetoras que formam complexos de reparo nos sítios de dano) em diversos organismos (Barzilai e Yamamoto, 2004; Whitaker et al., 2017). Para preservar e transmitir fielmente o DNA para a próxima geração, as células são equipadas com uma variedade de vias de reparo do DNA e respostas de danos ao DNA associadas, coletivamente referidas como a resposta ao dano ao DNA (DDR) (do inglês: DNA damage response). O DNA é continuamente danificado por agentes genotóxicos ambientais e derivados do metabolismo. É vital que as células e organismos lidem adequadamente com os danos ao DNA, porque danos não reparados podem causar mutação e morte celular. A importância do DDR é ilustrada por várias doenças hereditárias humanas 35 propensas ao câncer e/ou progeróides, que são baseadas em defeitos no DDR. Nos últimos tempos, uma riqueza de informações sobre o mecanismo molecular de diferentes vias de reparo foi obtida a partir de dados detalhados in vitro e in vivo. Atualmente, esse conhecimento adquirido está sendo usado para desenvolver estratégias terapêuticas para tratar pacientes que sofrem as consequências de danos não reparados no DNA, como câncer e envelhecimento (Boss et al., 2010). O dano é reparado por diferentes vias de reparo do DNA, dependendo do tipo de lesão do DNA, localização genômica e fase do ciclo celular (Essers et al., 2006; Giglia-Mari et al., 2011; Jackson e Bartek, 2009). As principais vias de reparo de DNA em células de mamíferos são reparo de excisão de base (BER) (do inglês: Base Excision Repair), reparo de excisão de nucleotídeo (NER) (do inglês: Nucleotide Excision Repair), reparo de desemparelhamento (MMR) e reparo de quebra de fita dupla (DSBR). O foco deste trabalho é NER e BER que serão descritas a seguir. 2.6.1 Reparo por excisão de bases (BER). Pequenas modificações de base, tais como lesões oxidativas que não distorcem substancialmente a dupla hélice, são reparadas pelo sistema BER. O BER remove uma ou várias bases e repara a lacuna por síntese de DNA. O sistema de reparo BER compreende duas subvias: A curta e a longa. A subvia curta tem início com a ação das glicosilases monofuncionais UNG (do inglês: uracil-DNA glycosylase) e MPG (do inglês: N-methylpurine-DNA glycosylase), que removem o dano e a extremidade 5' e permitem a ação da AP endonuclease 1 (APE1) que, por sua vez, hidrolisa o esqueleto fosfodiéster gerando sítios AP pela incisão do DNA na ligação fosfodiéster na extremidade 5’ ao sítio AP, que resulta em uma quebra de fita contendo uma extremidade 3’OH (3’ hidroxila) e uma extremidade 5’dRP (5’ desoxirribose fosfato). Esses grupamentos acionam a ação da Polimerase β que possui atividade 5’dRP ligase e promove a adição de nucleotídeos e, por fim, permite a ação da Ligase3α juntamente com XRCC1 que promove a ligação da fita e o fim do reparo (Figura 2) (Whitaker et al., 2017). A subvia longa tem início através das glicosilases bifuncionais NEIL1 (do 36 inglês: Nei like DNA glycosylase 1) e OGG1 (do inglês: 8-oxoguanine DNA glycosylase), que removem o dano e apresentam atividade ligase (ou β-ligase), clivando o sítio AP na extremidade 3’. O sítio AP apresenta grupamento 3’OH, que é removido pela ação de APE1 gerando 3’OH e 5’P. Com isso, o complexo Polimerase δ/ε, PCNA (do inglês: Proliferating cell nuclear antigen) e FEN1 (do inglês: Flap structure-specific endonuclease 1) adicionam o nucleotídeo e leva a ativação da DNA Ligase 1, que promove a ligação da nova fita de DNA, finalizando assim o reparo (Whitaker et al., 2017). (Figura 2). Figura 2: Reparo por excisão de Bases. Via de reparo de excisão de base de DNA (BER) pode começar com o reconhecimento de uma base danificada por uma glicosilase de DNA, um local de AP por APE1 ou uma quebra de fita simples por proteínas de processamento final. BER pode proceder através da incorporação de um único nucleotídeo (remendo curto, RC), ou pela incorporação de dois ou vários nucleotídeos (remendo longo, RL). Fonte: Adaptada de Akbari et al. (2015). 37 Uma proteína de reparo envolvida na sinalização e recrutamento de outras proteínas de reparo é a poli (ADP-ribose) polimerase 1 (PARP-1). Em condições de EO, a PARP-1 se liga a regiões danificadas no DNA ou outros tipos de lesão estimulando a adição de unidades repetidas de ADP-riboses ou "PAR". PARP1 é dependente de NAD, utilizando-o como substrato para a síntese do grupamento ADP. A maioria das cadeias PAR ocorrem no próprio DNA, porém cerca de 10% das modificações PAR são colocadas em histonas e proteínas associadas à cromatina, alterando a estrutura do DNA e permitindo a melhor acessibilidade das enzimas BER ao DNA. PARP-1 também estimula a atividade de APE1. O acúmulo do grupamento PAR promove o recrutamento de outras proteínas, como: XRCC1 (do inglês: X-ray repair cross complementing 1), APE1, pol β e DNA ligase III (Whitaker et al., 2017). A XRCC1 também é uma proteína essencial para o funcionamento da via BER. Inicialmente, XRCC1 foi tida como dependente do recrutamento de PARP-1 para reparar danos de bases como a 8 oxo-G. Porém, XRCC1 também interage com ela mesma e se acumula em sítio de DNA danificado. Esta proteína também é responsável por interagir, estabilizar e estimular a atividade de BER através da interação com seu domínio N-terminal, que costuma se ligar a pol β com elevada afinidade e dois domínios BRCT (BRCA1 C-terminal). Alguns estudos também mostram que a forma oxidada de XRCC1-NTD exibe alta afinidade com pol β, e sugere-se que a formação de uma ponte dissulfeto pode estar relacionada com a regulação de vias que envolvem o complexo XRCC1/pol β. Ainda, foi demonstradoque XRCC1 forma um complexo com a DNA ligase III (Whitaker et al., 2017). 2.6.2 Reparo por excisão de nucleotídeos (NER). Lesões maiores em uma fita do DNA que distorcem substancialmente a hélice do DNA são reparadas por NER. O NER repara as lesões cortando um pedaço da fita de DNA danificada e preenchendo a lacuna por síntese de DNA. Em outro sentido, a via NER, de forma canônica, é responsável por corrigir danos na dupla fita do DNA. Porém, a literatura vem mostrando que esta via também apresenta importante papel no reparo de danos oxidados no DNA juntamente com a via BER (D’errico et al., 2006; Mellis et al., 2008). 38 A via NER pode ser classificada em duas subvias: o reparo acoplado à transcrição (do ingles: transcription-coupled repair-TC-NER) repara apenas a região transcricional do DNA, e o reparo do genoma global (do inglês: Global genomic repair - GG-NER) remove lesões encontradas em qualquer região do genoma (Rapin, 2013). A via NER envolve a interação de mais de 30 proteínas responsáveis pelo reparo do DNA. Mutações nos genes que codificam esses fatores são responsáveis pelos fenótipos associados a algumas doenças raras como Xeroderma pigmentosum (XP), Síndrome de Cockayne (CS) e Tricotiodistrofia, estando, provavelmente, envolvidas com fenótipo dessas síndromes (Kalia e Lang, 2015; Noyce et al., 2012). Além disso, é conhecido que pacientes deficientes em Xeroderma pigmentosum grupo A (XPA) apresentam atividade redox alterada, como a maior propensão ao acúmulo de ERO, e consequente instabilidade genômica. Nesse contexto, estudar os mecanismos moleculares associados às manifestações observadas em pacientes com Xeroderma pigmentosum e Síndrome de Cockayne são fundamentais para o desenvolvimento de terapias gênicas que visem à melhoria da qualidade de vida desses pacientes (Parlanti et al., 2012). A subvia TC-NER tem início a partir do bloqueio da atividade da RNA polimerase II (RNA-Pol II) sobre a fita de DNA danificada na região da lesão. Por conseguinte, CSB (do inglês: Cockayne syndrome B) apresenta a importância de recrutar CSA (do inglês: Cockayne syndrome A), remodeladores da cromatina, como p300 (E1A Binding Protein P300), para o local da RNA-Pol II, exigindo a função de XPA e RPA, que, por sua vez, recrutam as proteínas que formam o complexo multi-proteína TFIIH e as proteínas Xeroderma pigmentasum grupo G (XPG) e ERCC1-XP (Figura 3) (Iyama e Wilson, 2016; May et al., 2010; Rapin, 2013). TFIIH é um complexo transcricional formado por cerca de 10 proteínas, dentre elas XPD (Xeroderma pigmentosum grupo de complementação D) e XPB (Xeroderma pigmentosum grupo de complementação B), que apresentam atividade helicase dependente de trifosfato de adenosina (ATP). Dentre as proteínas que formam este complexo, p52 (keratin 18 pseudogene 52) estimula a função de XPB e p44 (ribosomal protein L21 pseudogene 44) e estimula a função 39 de XPD, que são extremamente importantes para a abertura da dupla hélice e a ligação do complexo pré-incisão. Apenas a atividade de ATPase de XPB é necessária para que NER aconteça e, por conseguinte, XPD deve apresentar a atividade de ATPase e helicase e atua na detecção da lesão quando seu movimento sofre algum impedimento. Dentre todas as proteínas que formam este complexo, XPD e XPB promovem a abertura do DNA para a formação de uma bolha de 30 nucleotídeos em média (Figura 3) (Spivak, 2015). No GG-NER, o complexo XPC-hHR23B é responsável pelo reconhecimento do dano. A partir daí, as subvias passam a compartilhar a mesma etapa, quando a fita de DNA sofre uma abertura pela ação das XPD e XPB, presentes no complexo de reparo/transcricional TFIIH, juntamente com XPA e RPA, que promovem a estabilização da fita simples, permitindo a ação das endonucleases específicas: XPG (Xeroderma pigmentosum grupo de complementação G) e ERCC1-XPF (Xeroderma pigmentosum grupo de complementação F) (Figura 3). XPG é recrutada por meio de sua interação com TFIIH no lado 3’ da fita e seu posicionamento na região em que a incisão deve ser feita depende do auxílio de RPA. A interação entre ERCC1 e XPA estimula o recrutamento de ERCC1-XPF na região 5’ da lesão. A lacuna, gerada pela retirada do oligonucleotídeo é preenchida pelos DNA polimerases replicativas δ e ε ou pelo DNA polimerase de síntese translesão k, na presença de PCNA, RFC e RPA (May et al., 2010; Spivak, 2015). Por fim, a última ligação fosfodiéster entre o novo nucleotídeo inserido e o DNA já existente é realizada pela Lig1 ou pela Lig3α juntamente com XRCC1 (May et al., 2010). Alterações na integridade genômica e na via NER podem causar algumas síndromes, como é o caso das doenças: Síndrome de Cockayne (CS) e Xeroderma Pigmentosum (XP). A primeira é caracterizada por hipersensibilidade a luz UV, defeitos na síntese de RNA após exposição à radiação, anomalias graves no neurodesenvolvimento, envelhecimento precoce, catarata, alterações na glicemia, comprometimento hepático e renal e alterações na locomoção (Nance e Berry, 1992; Ozdirim et al., 1996). Entretanto, XP é uma das doenças mais estudadas que afetam NER, tendo em vista sua gama de mutações e classificações. Essa doença é classificada como Xeroderma Pigmentosum grupo 40 Figura 3: Reparo de excisão de nucleotídeos. Lesões de DNA volumosas que desestabilizam a hélice dupla de DNA são alvo de NER. O reconhecimento de danos é realizado por transcrição acoplada a NER (TC-NER) e global genome NER (GG-NER). Sugere-se que, antes do reconhecimento de danos, a cromatina tenha que ser modificada. As lesões na cadeia transcrita de genes ativos são detectadas pela RNA polimerase II (RNAP2) e estabilizam a interação com CSB (etapa 1b). Dentro de GG-NER, as lesões são reconhecidas pelos complexos UV-DDB e XPC (etapa 1a). Estes intermediários carregam o fator de transcrição TFIIH juntamente com a endonuclease XPG (etapas 2a e 2b). No TC-NER, o CSA também é recrutado para modificar e reposicionar o RNAP2 lesionada (etapa 2b). Após os dois modos de detecção da lesão, os dois processos se fundem numa via comum de montagem do fator NER recrutando o XPA e a proteína de replicação A (RPA) (etapa 3). Este intermediário NER carrega e orienta adequadamente o complexo endonuclease específico da estrutura ERCC1/XPF (etapa 4). Após a incisão dupla por XPG (3´ da lesão) e ERCC1/XPF (5´ da lesão), uma cadeia única de 25-29 nucleotídeos é criada (etapa 5). A XPG está provavelmente envolvida no recrutamento do grampo deslizante PCNA, que é carregado por RFC e forma a plataforma para os enchimentos da DNA polimerases ϐ, ɛ ou k (etapa 6). Descobriu-se que cada uma destas polimerases participa no preenchimento de lacunas dependente de NER. PCNA ou RFC estão também provavelmente envolvidos no recrutamento das ligases (isto é, Ligase I e III/XRCC1, dependendo da capacidade de proliferação da célula) para selar o nick (etapa 7). O PCNA também desempenha um papel na atração da histona chaperona CAF1 (etapa 8) para restaurar a estrutura da cromatina após o reparo (etapa 9). Fonte: Adaptada de Giglia-Mari et al. (2011). 41 de complementação de A a G e ainda apresenta um grupo variante, o XP-V, cujos indivíduos não apresentam defeitos no NER, mas sim no mecanismo de reparo por síntese translesão. Dentre os fenótipos clássicos de indivíduos com XP, essa doença também apresenta sensibilidade à radiação UV, provocando diversas alterações cutâneas como atrofia, hiperpigmentação da pele, angioma, sardas e fotofobia (Tang et al., 2000). Em alguns pacientes XPA, de forma pontual, as células do gânglio da raiz dorsal morrem seletivamente, provocando neuropatia axonal sensitivo-motora com perda de propriocepção, fraqueza e atrofia muscular (Mantha et al., 2014). 2.6.3 Interações entre proteínas de sistemas BER e NER Recentes achados na literatura mostram que as proteínas da viaBER e NER, apresentam diversas interações com outras proteínas. Como citado anteriormente, vários estudos sugerem que o NER também atua no reparo de danos oxidados, seja estimulando a atividade de enzimas da via BER ou até mesmo de forma direta (Rybanska e Persel, 2003). Nesse cenário, já foi relatado que APE1, enzima essencial para a via BER, ajuda a regular a via NER no reparo de danos provocados pela cisplatina, que promove a formação de adultos de platina em neurônios sensoriais (Kim et al., 2015). Outro resultado interessante foi que a superexpressão de APE1 conferiu uma proteção aos neurônios expostos à cisplatina mesmo após a inibição da sua função redox, demonstrando que a atividade de reparo de APE1 pode estar relacionada com o reparo de danos que são preferencialmente associados a NER (Kelley et al., 2016). Adicionalmente, De Melo et al. (2016) demonstrou a ligação dessas vias ao observar interação física entre APE1 e XPC, indicando assim inter-relação das atividades dessas proteínas inicialmente descritas por atuar na via BER e NER, respectivamente (De Melo et al., 2016). Um outro fato interessante é que essa interação aumenta na presença de EO, sugerindo sua importância para a manutenção da integridade genômica. Além disso, foi observado que CSB estimula a atividade de APE1 in vitro (Iyama e Wilson, 2016; Muftuoglu et al., 2009; Wong et al., 2007). 42 Estudos in vitro com células deficientes em XPA e CSB indicaram que essas células apresentam um defeito no processamento de 8-oxoGua e Tg, o que sugere o envolvimento do NER no reparo dessas lesões (Lipinski et al., 1999; Parlanti et al., 2012; Reardon et al., 1997; Stevnsner et al., 2002). Além disso, associações entre a proteína XPC e a glicosilase OGG1 já foram descritas, de forma que XPC aumenta o reparo de danos oxidados (D'Errico et al., 2006). Experimentos realizados em modelos de fibroblasto e ratos xpc-/- indicaram que essas células apresentam sensibilidade ao EO e elevada taxa de mutagênese em decorrência do acúmulo de danos oxidados (Melis et al., 2013). A associação entre as atividades de XPA e PARP1 também já foi relatada, visto que células deficientes em XPA apresentaram hiperativação de PARP1, indicando o papel de XPA na regulação da atividade do BER (Fang et al., 2014). 2.6.4 BER e NER no desenvolvimento de doenças neurodegenerativas Como a BER é considerada a principal via de reparo de DNA em neurônios (Wei e Englander, 2008), as deficiências de BER têm sido destacadas como um fator importante nos distúrbios neurodegenerativos. Uma diminuição no reparo de DNA foi observada em tecido de camundongos de 24 meses (50-75%) em comparação com camundongos jovens (4 meses) medindo a atividade de BER in vitro (Cabelof et al., 2002). Além disso, o declínio observado na atividade de BER correlaciona-se com uma diminuição nos níveis de atividade enzimática de Pol β, bem como uma diminuição nos níveis de transcrição e de proteína desta DNA polimerase (Cabelof et al., 2002). Uma diminuição na atividade de reparo do DNA também foi observada em extratos de neurônios obtidos de ratos velhos (Rao et al., 2000; 2001). Além disso, a capacidade de reparar danos no DNA foi também medida em ratos jovens (3 meses) em comparação com os de idade maiores (30 meses) quando são expostos a hiperoxia isobárica, uma condição que eleva os níveis de ERO no cérebro e aumenta a apoptose. Seis horas após a exposição, uma indução de APE1 foi observada no hipocampo e prosencéfalo basal de camundongos jovens, mas não velhos (Edwards et al., 1998). A importância das proteínas BER também é notada nos resultados de estudos knock-out. O knock-out de muitos genes BER centrais resultam em defeitos graves no desenvolvimento embrionário, resultando 43 em letalidade gestacional precoce em camundongos. Mutações humanas em duas proteínas periféricas de SSBR ataxia-oculomotora apraxia-1 (AOA1) e tirosil-DNA fosfodiesterase 1 (TDP-1) mostram claramente a importância da BER na manutenção neuronal humana. Finalmente, em um estudo feito em 100 pessoas diagnosticadas com MA e 110 indivíduos saudáveis, os genes APE1, hOGG1, MUTYH, PARP1 e NEIL1 foram regulados negativamente nos linfócitos de pacientes, em comparação com voluntários saudáveis. A expressão de XRCC1 não foi significativamente diferente entre os dois grupos (Sliwinska et al., 2017). Como esperado, o TC-NER é importante para o funcionamento adequado do sistema nervoso, como destacado pelos fenótipos neurológicos associados a distúrbios TC-NER em humanos (Jaarsma et al., 2011; Mellon, 2005). O papel do TC-NER na neurodegeneração ainda é turvo e altamente rudimentar, e os trabalhos não fornecem evidências conclusivas definitivas. A complexidade da via NER, que envolve vários atores, complica o cenário e, dentro da mesma patologia, mutações em diferentes genes resultam em diversos problemas neurológicos (Rapin et al., 2006; Saxena e Caroni, 2011). Dois estudos fornecem evidências que defendem a importância do Ercc1 na função cerebral. Um estudo enfocou o córtex e o hipocampo e, portanto, é mais relevante para a patogênese do MA e demonstra que mutantes de Ercc1 expressando apenas um alelo truncado com atividade reduzida (Weeda et al., 1997) exibem neurodegeneração leve, mas progressiva (Borgesius et al., 2001). Aos 4 meses de idade, estes modelos apresentam sinais neuropatológicos, tais como perfis neuronais argirofílicos, indicando morte celular. Esses modelos também exibem gliose robusta, mais um sinal de neuropatologia associada também com ND crônica (Halliday e Stevens, 2011; Papura et al., 2012). A patogênese do ND, de fato, causa alterações não apenas nos neurônios, mas também nas células gliais. Se essas perturbações são tóxicas ou não, ainda é objeto de debate; A ativação microglial é vista geralmente como um evento prejudicial, pelo menos em estágios avançados. Evidências mais recentes, no entanto, sugerem que também existem microglia “boas”, provavelmente desempenhando um papel nos estágios iniciais da doença (Aguzzi et al., 2013). 44 Em outro estudo demonstra-se que os fibroblastos dérmicos de pacientes com TP exibem capacidade de reparo de excisão de nucleotídeo (NER) falho, e que camundongos mutantes de Ercc1 com NER levemente comprometida exibem alterações patológicas típicas de DP, incluindo defeitos na respiração mitocondrial (Sepes et al., 2016). Finalmente, qPCR em tempo real e espectrometria de massa foram empregados para determinar os níveis de expressão das proteínas NER. Os níveis de mRNA dos genes que codificam as proteínas NER: RAD23B, RPA1, ERCC1, PCNA e LIG3, bem como a proteína MPG. Os níveis de mRNA foram significativamente maiores no tecido cerebral do que no sangue. Além disso, os níveis de mRNA de LIG3 no córtex frontal foram maiores na MA comparados com os controles, enquanto os níveis de mRNA de MPG e LIG3 no córtex entorrinal e RPA1 no cerebelo foram menores na MA versus os controles. No sangue, os níveis de mRNA de RPA1 e ERCC1 foram menores nos pacientes com MA do que nos controles. Os dados sugerem que alterações na expressão gênica de componentes NER entre regiões cerebrais foram associadas à MA, conectando o reparo do DNA à patogênese da MA e sugerindo um papel distinto para a NER no cérebro (Jelsen et al., 2018). Mesmo assim, estudos através de análises de microarray em amostras de pacientes com DN têm demonstrado uma expressão alterada de XPA (DiGiovanna e Kraemer, 2012; Fang et al., 2014; Guthrie, 2015; Kobayashi et al., 2014; Melis et al., 2008). 2.6.5 Outras funções do XPA fora do reparo de DNA por excisão de nucleotídeos Nos últimos anos, o papel do XPA como regulador transcricional baseado na análise do transcriptoma tem sido descrito. Lee May et al., 2010 indicaram que a depleção de XPA afeta a transcrição ativada pelo ácido retinóico
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