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Reitor José Daniel Diniz Melo Vice-Reitor Henio Ferreira de Miranda Diretoria Administrativa da EDUFRN Maria da Penha Casado Alves (Diretora) Helton Rubiano de Macedo (Diretor Adjunto) Bruno Francisco Xavier (Secretário) Conselho Editorial Maria da Penha Casado Alves (Presidente) Judithe da Costa Leite Albuquerque (Secretária) Adriana Rosa Carvalho Alexandro Teixeira Gomes Elaine Cristina Gavioli Everton Rodrigues Barbosa Fabrício Germano Alves Francisco Wildson Confessor Gilberto Corso Gleydson Pinheiro Albano Gustavo Zampier dos Santos Lima Izabel Souza do Nascimento Josenildo Soares Bezerra Ligia Rejane Siqueira Garcia Lucélio Dantas de Aquino Marcelo de Sousa da Silva Márcia Maria de Cruz Castro Márcio Dias Pereira Martin Pablo Cammarota Nereida Soares Martins Roberval Edson Pinheiro de Lima Tatyana Mabel Nobre Barbosa Tercia Maria Souza de Moura Marques Editor Helton Rubiano de Macedo Editoração eletrônica Infinita Imagem Capa Fabrício Ribeiro Pré-impressão Jimmy Free Supervisão editorial Alva Medeiros da Costa Supervisão Gráfica Francisco Guilherme de Santana DESENVOLVIMENTO DA METALURGIA DO PÓ GILBERTO AUGUSTO DE MORAIS Natal, 2022 Morais, Gilberto Augusto de. Desenvolvimento da metalurgia do pó [recurso eletrônico] / Gilberto Augusto de Morais. – Dados eletrônicos (1 arquivo : 20.925 KB). – Natal, RN : EDUFRN, 2022. Modo de acesso: World Wide Web <http://repositorio.ufrn.br>. Título fornecido pelo criador do recurso ISBN 978-65-5569-253-2 1. Metalurgia do pó. 2. Pós metálicos - Características. 3. Sinterização. I. Título. CDD 669 RN/UF/BCZM 2022/18 CDU 621.762 Fundada em 1962, a Editora da UFRN (EDUFRN) permanece até hoje dedicada à sua principal missão: produzir livros com o fim de divulgar o conhecimento técnico-científico produzido na Universidade, além de promover expressões culturais do Rio Grande do Norte. Com esse objetivo, a EDUFRN demonstra o desafio de aliar uma tradição de seis décadas ao espírito renovador que guia suas ações rumo ao futuro. Coordenadoria de Processos Técnicos Catalogação da Publicação na Fonte.UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede Esta obra foi originalmente publicada em 2012 no suporte impresso pela EDUFRN. Elaborado por Vânia Juçara da Silva – CRB-15/805 Todos os direitos desta edição reservados à EDUFRN – Editora da UFRN Av. Senador Salgado Filho, 3000 | Campus Universitário Lagoa Nova | 59.078-970 | Natal/RN | Brasil e-mail: contato@editora.ufrn.br | www.editora.ufrn.br Telefone: 84 3342 2221 Pó é um sólido ínfimo finamente dividido. Gilberto Augusto de Morais Memento homo, quia pulvis es, et in pulverem reverteris. Lembra-te homem, que és pó, em pó te hás de converter. Gênesis, 3, 19 Pontos de consideração: Quanto tenho vivido? Como vivi? Quanto posso viver? Como é bem que viva? Memento homo! Pe. Antonio Vieira, Sermão, Roma, 1670. APRESENTAÇÃO Neste livro que com satisfação trazemos a público, apresentamos os prin- cipais conceitos teóricos e práticos sobre o processo de fabricação de peças metálicas pela metalurgia do pó, acentuando a influência preponderante das matérias-primas, os pós metálicos, sobre as características físicas e mecânicas das peças. Para isso, iniciamos descrevendo os principais processos de fabricação de pós metálicos, suas aplicações, seguido de alguns conceitos sobre as características físicas, químicas e tecnológicas dos pós metálicos e suas influências no processo de fabricação e nas qualidades das peças. Além disso, fornecemos fundamentos teóricos sobre os fenômenos de com- pactação e a influência de pressão e do calor na densidade do compactado. Finalizamos com o conceito da sinterização de peças compactadas, a cons- trução e o emprego de ferramentas, punções e matrizes, as propriedades mecânicas e o controle dimensional das peças fabricadas pela metalurgia do pó. Gilberto Augusto de Morais SIMBOLOGIA α = coeficiente de permeabilidade Q = vazão = porosidade υ = velocidade final da partícula de pó dentro de um fluido µ = viscosidade do fluido L= distância percorrida pelo pó B2= alargamento produzido, alargamento do aparelho pelas partículas finas λ = comprimento de onda D = diâmetros de partículas dv = diâmetro do volume médio das partículas ds = diâmetro da superfície média das partículas S = área superficial específica k = fator de forma ρa P = pressão parcial do gás adsorvido Po = pressão de saturação de adsorção X = massa do gás adsorvida à pressão P (ou volume) Xm = massa de uma monocamada de gás adsorvido (ou volume de uma monocamada) C = constante relacionada com a entalpia de adsorção Xm = massa de uma monocamada (M / N0)= massa de uma molécula (Xm)/(M/N0)= número de moléculas adsorvidas W= peso da amostra A = número de moléculas adsorvidas * A0 A0 = área ocupada por uma molécula V= volume esférico equivalente Ds = diâmetro da superfície esférica equivalente P(D) = probabilidade de achar uma partícula com diâmetro D v = velocidade ρm = densidade do pó ρf = densidade do fluido Ρ = densidade teórica ρ tap = densidade empacotada ρa= densidade aparente do pó ρp= densidade da peça compactada ρs= densidade de sinterização ρx= densidade do material na perfeita célula unitária w = massa do pó Sw = superfície específica R = fator dependente da rugosidade A = área do orifício k = constante de proporcionalidade c = constante representando o tamanho e a forma do orifício H = altura das matrizes HBp = dureza Brinell do compactado HB = dureza Brinell do metal fundido U = expansão radial exterior da matriz a = diâmetro interno b = diâmetro externo E = módulo de elasticidade 1 = comprimento do cilindro R = raio exterior da matriz r = raio interno da matriz ts = tempo de sinterização p = pressão interna na matriz psi P = esforço radial (força tangencial) e = espessura da parede da matriz D = diâmetro exterior da matriz S = tensão permissível υ = razão de Poisson K = resistência ao esmagamento (N/mm2) F = força em que o anel rompe (N) d2= diâmetro externo do anel (mm) d1 = diâmetro interno do anel (mm) b1 = espessura do anel (mm) X = tamanho do “pescoço” estável G = tamanho de grão ϕ = ângulo diedro θ = ângulo de contato γss= tensão superficial ou energia interfacial sólido-sólido J/m2 ∆L/ L0 = contração γsv= energia superficial sólido-vapor J/m 2 r = raio do poro PG = pressão do gás no poro Sumário 1. MÉTODOS E PROCESSOS DA METALURGIA DO PÓ ..... 23 1.1 Processos de produção dos pós metálicos ......................................25 1.2 Tratamento dos pós .............................................................................26 1.3 Teste dos pós ........................................................................................26 1.4 Processo de produção dos compactos .............................................26 1.5 Emprego industrial ...............................................................................28 1.6 O mercado da metalurgia do pó no Brasil .........................................29 1.7 Vantagem do processo ........................................................................32 1.8 Limitações do processo ......................................................................35 1.9 Avanços da metalurgia do pó .............................................................35 1.10 Matérias-primas ....................................................................................37 1.11 Instalação ..............................................................................................37 1.12 Ferramentas ..........................................................................................39 1.13 Método da produção dos pós metálicos ...........................................39 1.13.1 Processos mecânicos ..................................................................40 1.13.2 Processos físico-químicos e químicos .........................................47 2. CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DOS PÓS METÁLICOS ...............................................................................61 2.1 Técnicas para caracterizar pós metálicos .........................................61 2.1.1 Tamanho e distribuição de tamanho das partículas ....................62 2.1.2 Forma da partícula e sua variação com o tamanho .....................72 2.1.3 Área superficial .............................................................................81 2.1.4 Atrito entre as partículas ..............................................................86 2.1.5 Enchimento e empacotamento .....................................................87 2.1.6 Estrutura interna das partículas ...................................................97 2.2 Princípios empíricos para emprego do pó ........................................98 2.3 Compactação das partículas ............................................................102 2.4 Conformação do pó ............................................................................103 2.5 Características tecnológicas dos pós metálicos ............................109 2.6 Características químicas dos pós metálicos .................................. 113 2.7 Impurezas gasosas ............................................................................ 115 3. COMPORTAMENTO DOS PÓS SOB PRESSÃO ..............119 3.1 Mecanismo de ligação entre as partículas ...................................... 119 3.1.1 Efeito da plasticidade .................................................................120 3.1.2 Efeito das condições superficiais das partículas e gases dissolvidos ...............................................................121 3.1.3 Outros conceitos das forças de ligação .....................................122 3.1.4 Tensão superficial ......................................................................122 4. MOLDAGEM DOS PÓS METÁLICOS ............................... 125 4.1 Caracterização e processamento .....................................................125 4.2 Fatores que influem na variação da densidade de um compactado.................................................................130 4.3 Métodos de aplicação de pressão ....................................................130 4.4 Razão de compressão .......................................................................132 4.5 Magnitude das pressões ...................................................................134 4.6 Pressão máxima .................................................................................136 5. Sinterização ........................................................................141 5.1 Introdução ...........................................................................................141 5.2 Categorias e tipos de sinterização ...................................................142 5.3 Sinterização no estado sólido ...........................................................144 5.3.1 Termodinâmica das interfaces curvas: atividade do átomo e capilaridade .........................................................144 5.3.2 Tensão interfacial e microestrutura ............................................149 5.3.3 Ângulo de molhagem .................................................................149 5.3.4 Ângulo de diedro ........................................................................150 5.3.5 Modelos da sinterização do estado sólido e densificação ......... 151 5.3.6 Modelo de duas partículas .........................................................152 5.3.7 Força motriz e mecanismos da sinterização no modelo de duas partículas ...............................................................155 5.3.8 Difusão no limite de grão ............................................................158 5.3.9 Fluxo viscoso ..............................................................................159 5.3.10 Difusão na superfície da partícula..............................................160 5.3.11 Difusão na estrutura das superfícies da partícula .....................160 5.3.12 Evaporação/condensação ..........................................................161 5.3.13 Modelo do estágio intermediário da sinterização ......................163 5.3.14 Modelo do estágio final de sinterização .....................................165 5.4 Sinterização em presença de fase líquida .......................................166 5.4.1 Capilaridade na sinterização em presença de fase líquida .......167 5.5 Práticas de sinterização ....................................................................171 5.5.1 Sinterização por aquecimento indireto ....................................... 171 5.5.2 Sinterização por aquecimento indireto .......................................172 5.5.3 Tratamento em banho de sal ......................................................172 5.5.4 Tratamento em banhos de metais líquidos ................................173 5.5.5 Sinterização em moldes ............................................................. 174 5.5.6 Sinterização em atmosfera controlada .......................................175 5.5.7 Sinterização contínua .................................................................175 5.5.8 Sinterização sob diferentes condições de pressão ...................177 5.5.9 Sinterização à pressão acima da pressão atmosférica .............178 5.5.10 Aquecimento indireto em forma da indução...............................178 5.6 Estudo de caso: ferrita cerâmica MnZn (Mn, Zn ) Fe 2 O 4 .............179 6. PROJETOS DE PEÇAS FABRICADAS PELO PROCESSO DA METALURGIA DO PÓ ........................ 187 6.1 Considerações de engenharia: regras práticas ..............................187 7. PUNÇÕES E MATRIZES .................................................... 199 7.1 Introdução ...........................................................................................199 7.2 Condição para construção das matrizes .........................................200 7.3 Elementos para construção das matrizes .......................................200 7.4 Material de construção das matrizes ...............................................201 7.5 Resistência da matriz .........................................................................202 7.6 Folgas e conicidades das matrizes ..................................................208 7.7 Acabamento da matriz .......................................................................209 7.8 Matrizes experimentais ......................................................................209 7.9 Construção das matrizes típicas ......................................................209 8. PROPRIEDADES DOS METAIS SINTERIZADOS ............ 217 8.1 Introdução ...........................................................................................217 8.2 Preparação de amostras para ensaios mecânicos: Höganäs .......219 8.3 Comparação entre processos de fabricação ..................................222 8.4 Técnicas alternativas: compressão e sinterização ........................224 8.5 Operações complementares .............................................................226 8.6 Graus de complexidade das peças ..................................................227 8.7 Sistemas de classificação de peças fabricadas pela metalurgia do pó ............................................................230 8.8 Limitações, desvantagens e por que do processo da metalurgia do pó .................................................................233 9. PRODUTOS DA METALURGIA DO PÓ ............................ 237 9.1 Introdução ...........................................................................................237 9.2 Produtos da metalurgia do pó ..........................................................237 9.2.1 Fabricação de componente sede de válvula de admissão de motores ...........................................................238 9.2.2 Produtos da metalurgia do pó ....................................................243 10. PROBLEMAS Metalurgia do pó e sinterização ............................................. 255 Gilbertoaugusto de morais - 15 HISTÓRICO Pós são largamente utilizados na indústria como corantes, abrasivos, lu- brificantes, explosivos, catalisadores etc. Nos casos citados, os pós são empregados em sua forma natural, ou seja, como um conjunto de partículas. É possível também utilizar pós para a obtenção de materiais rígidos, com formas e propriedades especí- ficas e reprodutíveis. Na verdade, a obtenção de produtos rígidos a partir de pós, cerâmicos ou metálicos, foi uma das primeiras tecnologias dominadas pela raça humana, que de- pois veio a ser parcialmente substituída, para o caso dos metais, pela tecnologia de fusão. Blocos cerâmicos para construção, por exemplo, podem ser facilmente produ- zidos a partir da argila misturada à água para a obtenção de uma massa plástica. As conformações dessa massa em uma forma adequada é seguida, preferencialmente, por sua queima em forno. Apesar de a sinterização dos pós metálicos apresentar certa analogia com os processos usados na cerâmica, a metalurgia do pó teve início no princípio do século XIX, embora seu uso em larga escala só tenha ocorrido no século XX. Os pós metálicos, especialmente o ouro, cobre, bronze e muitos óxidos, como óxido de ferro, foram usados em tintas para decoração de peças de cerâmica e em cosméticos, em épocas já muito antigas. O ouro em pó foi usado para ador- nar os velhos manuscritos e pouco se conhece a respeito de como esses pós eram produzidos; admite-se, entretanto, que eles eram manufaturados para granulação, partindo do estado líquido. O ponto de fusão pouco elevado e a resistência à oxida- ção favoreciam esse processo, especialmente no caso da fabricação do pó de ouro. O uso desses pós em tintas e na decoração de objetos de arte não deve ser considerado dentre os objetivos da metalurgia do pó, que tem como finalidade a produção de pós e sua consolidação em peças de formas definidas e de resistência elevada, pela aplicação da pressão e do calor, a uma temperatura abaixo do ponto de fusão de, pelo menos, um dos constituintes. 16 - Desenvolvimento da Metalurgia do Pó Os princípios da metalurgia do pó foram empregados, entretanto, há mais de 5 000 anos, na fabricação de objetos de ferro, muito antes da invenção dos fornos de fusão. Há 3 000 anos a.C., os egípcios empregavam um processo semelhante. O óxido de ferro era aquecido numa forja a carvão, onde o ar era introduzido por meio de um fole, sendo reduzido a ferro esponjoso. O formato, a compacidade e a resistên- cia das peças eram obtidos por forjamento. A estrutura metálica não era uniforme, em certos pontos apresentava-se porosa e com inclusões, noutros, compacta. Parece que a redução do ferro sem fusão teve um grande desenvolvimento na Índia, há 300 anos a.C. (Figura 1), quando foi construída não só a Torre de Delhi, pesando seis toneladas, como outros monumentos ainda maiores. Pilar de Ferro: com 7 metros de altura, en- contra-se no pátio da mesquita de Qutab Mi- nar. Construção bastante antiga, com inscri- ção de seis linhas em sânscrito indicando que foi inicialmente erguida fora de um templo de Vishnu, construído em memória do Rei Chandragupta Vikramaditya, que governou de 375 até 413. O pilar é feito de puro aço, o que ainda hoje intriga os pesquisadores, pois, mesmo depois de 2 000 anos, ele se mantém sem ferrugem. Figura 1 – Torre de Delhi na Índia há 300 anos a.C. Disponível em: <www.ciaecoturismo.com.br/destinos/conteudo.asp?Destino=106&m enu=atracoes&idioma=pt&type=0>. Acesso em: 1º jul. 2009. Na América, os predecessores dos Incas, e mais tarde os próprios Incas, produziram platina, partindo do pó desse metal, em virtude da impossibilidade de ser fundido. A técnica usada se baseava na ação aglomerante de um material de baixo ponto de fusão, à semelhança do processo usado na produção de carburetos. O processo consistia na aglutinação dos grãos de platina, separados do mi- nério por lavagem e seleção, por um metal de baixo ponto de fusão. A prensagem dos grãos aglomerados pela tensão superficial do aglutinante permitia a fabricação de um compacto que deveria ser trabalhado posteriormente. O aglomerante era uma liga de ouro e prata de ponto de fusão relativa- mente baixo e com grande resistência à oxidação, que envolvia os grãos de platina rapidamente e dispensava o uso de escória e de atmosfera protetora. A mudança de cor do amarelo, do material sintetizado, para o cinza, de platina, era causada pela difusão durante o aquecimento que precedia o trabalho de deformação. Gilberto augusto de morais - 17 Bongsoe estudou esse problema em pequenos exemplares encontrados, acreditando que o aquecimento era feito em forjas de carvão. A composição dessas ligas é muito variável, conforme se depreende dos valores percentuais abaixo: Pt (26 a 72%); Au (16 a 64%); Ag (3 a 15%); Cu (até 4 %). Esses métodos antigos de produção direta do ferro metálico pela redução do óxido no estado sólido e a compactação do material pelo forjamento a quente e da produção de platina metálica pela cuidadosa escolha dos grãos do material nativo, seguido de um tratamento de consolidação por meio de um metal ou liga de baixo ponto de fusão, foi substituído no século XVII pelo processo de fusão, o que impul- sionou o estudo de novas fontes de calor, produtoras de temperaturas elevadas. O ferro forjável foi então obtido pelo processo indireto de oxidação do ferro fundido, tendo sido a seguir substituído pelo aço de baixo carbono fundido. Mais tarde, os métodos de aquecimento tomaram tal desenvolvimento que foi possível fundir até a platina (ponto de fusão 1750°C). O processo da produção de pós e de sua aglomeração por um aglutinante líquido ou pela pressão a quente caiu em desuso quase completo, até 1813, quando o inglês Wollaston lançou os fundamentos técnicos da moderna metalurgia do pó na produção e compactação de pós de platina. O processo de Wollaston consistia no seguinte: 1. Precipitação do cloreto de amônio e platina de soluções diluídas. 2. Decomposição lenta do cloreto lavado e reduzido a pó muito fino em temperaturas não muito elevadas, dando um pó de platina esponjoso. 3. Moagem do pó de platina em almofariz de madeira, com baixa pressão, para evitar o polimento da superfície das partículas e a parte de sua energia superficial. 4. Peneiramento do pó para remoção de materiais. 5. Lavagem do pó de platina esponjoso com água e eliminação cuidadosa das matérias voláteis retidas durante a operação da precipitação. 6. Separação das partículas finas das grosseiras por sedimentação. 7. Prensagem das partículas finas de platina, que haviam ficado suspensas na água, empregando um cilindro ligeiramente cônico. 8. Aquecimento lento para eliminação da unidade, óleo, gases, sem provo- car fendas ou bolhas na massa do material. A seguir, o material era aque- cido em temperaturas mais elevadas, quando se processava a sinterização 9. Forjamento do material a quente. 18 - Desenvolvimento da Metalurgia do Pó Finalmente, em 1908, Coolidge patenteou o processo de produção de tun- gstênio em pó para filamento de lâmpadas, partindo da redução do óxido de tungstê- nio, em pó, pelo hidrogênio. Esse processo, que ainda é usado atualmente, será objeto de estudo posterior. O Quadro 1 apresenta resumo da história da metalurgia do pó. Quadro 1 – Desenvolvimentos e marcos históricos da metalurgia do pó Época Desenvolvimento e origem 3 000 a.C. Ferro-esponja para ferramentas – Egito, África e Índia 1 200 d.C. Grãos de platina cementados – América do Sul (Incas) 1781 Liga platina-arsênio – França, Alemanha 1790 Produção comercial de recipientes químicos de platina-arsênio – França 1822 Produção de pó de platina conformado em lingotes – França 1826 Sinterização a alta temperatura de compactados de pó de platina – Rússia 1829 Método Wollaston de fabricação de compactados de platina, a partir de platina esponjosa (base da moderna metalurgia do pó) – Grã-Bretanha 1830 Sinterização de compactados de vários pós metálicos – Europa1870 Patente para materiais de mancais produzidos a partir de pós metálicos (precursores das buchas autolubrificantes) – EUA Início do século XX Coolidge desenvolve processo para produção de filamentos de lâmpadas incandescentes – EUA Início do século XX Metais compostos – EUA Decênio 1920 Mancais autolubrificantes e filtros metálicos – EUA Decênio 1920 Escovas coletoras cobre-grafita – EUA Decênio 1920 Contatos elétricos – EUA 1920-decênio 1930 Materiais de fricção – EUA 1920-decênio 1930 Metal duro (carboneto de tungstênio sinterizado) – Alemanha Decênio 1930 Modernos cermets – EUA Decênio 1940 Tecnologia do pó de ferro – EUA 1960 em diante Materiais metálicos de alta densidade via forjamento do pó – EUA 1970 em diante Ligas especiais, compactação isostática a quente, aços para ferramentas sinterizados etc. – EUA 1980 em diante Técnicas de solidificação rápida e tecnologia de moldagem por injeção – EUA Fonte: NUNES, Raul A. Metalurgia do pó. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica, 2003. Disponível em: <http://www.dcmm.pucrio. br/~ranunes/org/Caracterizacao1.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2007. Gilberto augusto de morais - 19 Os desenvolvimentos iniciais basearam-se na exclusividade da metalurgia do pó para a fabricação de certos produtos, porém o próximo passo foi concorrer diretamente com a tecnologia de fusão, produzindo peças de aço até então fabrica- das somente por fusão. A vantagem competitiva está no fato de a metalurgia do pó conseguir produzir as peças quase/ou em seu formato final, sem a necessidade de acabamento, que em muitos casos corresponde a uma significativa fração dos custos totais. Além dessa importante característica, deve-se acrescentar que a metalurgia do pó pode obter estruturas de grande homogeneidade e altamente reprodutíveis, prin- cipalmente em se tratando de ligas. Essa é uma enorme vantagem sobre a técnica de fusão, em especial quando se trabalha com ligas de elementos com grande diferença de ponto de fusão, pressão de vapor e densidade. Hoje, a metalurgia do pó conquistou alguns nichos do mercado antes do- minados pela tecnologia de fusão. Por exemplo, a fabricação de peças de aço e outras a base de ferro é responsável pela maior produção em termos de peso entre todas as áreas de atuação da metalurgia do pó. Muitos desenvolvimentos foram feitos e novos produtos e processos exis- tem no mercado ou em laboratórios: a fabricação de pós com características muito mais controladas com respeito à distribuição de tamanho e forma, nanopartículas, whiskers, platelets, fibras, referentes à conformação, moldagem por injeção, spray forming, e a sinterização a laser para prototipagem rápida. Estas, entre muitas outras novidades, algumas delas não tão recentes, expandem as possibilidades da metalur- gia do pó e a coloca em posição de destaque como forma de produzir peças de alto desempenho, com alto valor agregado. CAPÍTULO 1 Gilberto augusto de morais - 23 1. MÉTODOS E PROCESSOS DA METALURGIA DO PÓ A metalurgia do pó é definida como uma técnica que permite a obtenção de produtos a partir dos pós de suas substâncias constituintes. Geralmente, esses pro- dutos são peças rígidas densas, mas podem também ser peças porosas, maleáveis ou apenas camadas de recobrimento de outro produto obtido por alguma outra técnica. A técnica tem se destacado nas últimas décadas por ser um processo al- tamente competitivo. A evolução do processo tem sido constante, proporcionando numerosas soluções criativas para muitos dos problemas naturais de uma técnica relativamente nova. É um processo constituído por uma série de etapas que podem cobrir desde a produção do pó até um eventual pós-processamento da peça. No caso mais simples, as etapas que constituem o processo são: obtenção do pó, processamento do pó, con- formação do pó, sinterização e acabamento. Entretanto, devido a muitos outros de- senvolvimentos, em casos particulares, algumas dessas etapas podem se fundir ou es- tar ausentes, bem como outra não mencionada pode ser usada. Por exemplo, a técnica de prensagem isostática a quente consiste em compactar e sinterizar ao mesmo tempo. Atualmente, têm-se os processos convencionais de compactação e sinteri- zação e muitos outros processos que foram criados para atender necessidades especí- ficas de competitividade e mercado. Como exemplos, podem-se citar o processo de conformação de sinterizados para componentes que necessitam de maiores proprie- dades mecânicas, o processo de injeção de pós metálicos para peças complexas, pro- cessos de obtenção de ligas (mechanical alloying, solidificação rápida etc.), processos de sinterização (ativada, fase líquida etc.). Todos esses novos desenvolvimentos estão tornando o processo de metalurgia do pó quase que insuperável na arte de confecção de peças para uma grande variedade de aplicações. Nessa técnica, pós metálicos são compactados a frio em matrizes de aço ou metal duro, com pressões que variam entre 400 e 600 MPa. Os compactados verdes 24 - Desenvolvimento da Metalurgia do Pó são então aquecidos em fornos com atmosfera controlada, onde a temperatura, no caso dos aços, é cerca de três quarto da temperatura de fusão do metal. Essa etapa do processo, conhecido como sinterização, promove a união metalúrgica entre as partículas do pó, proporcionando resistência mecânica adequada ao componente, de acordo com a sua aplicação. As peças sinterizadas podem ser submetidas a tratamentos posteriores, tais como: • Têmpera e revenimento; • Cementação, nitretação ou carbonitretação; • Fosfatização ou bicromatização. Também podem ser trabalhadas por processos de usinagem ou forjamento. As peças sinterizadas de aço são fáceis de usinar. O processo de forjamento pode ser realizado a frio, já que as pré-formas sinterizadas possuem plasticidade considerável. Dessa forma, a metalurgia do pó estuda os processos de transformação dos metais em pós e seu emprego na fabricação de determinados produtos. A experiência mostrou que existe uma interdependência entre as caracte- rísticas do objeto produzido e as propriedades dos pós empregados como matérias- -primas. As características dos pós, abstraindo a natureza dos metais, decorrem dos processos empregados em sua fabricação. O êxito da metalurgia do pó depende essencialmente das qualidades dos pós empregados e da maneira escolhida para compactá-los em formas sólidas. As teorias relativas aos processos de produção de pós metálicos e seu emprego na in- dústria metalúrgica, suas vantagens e limitações, descritas neste capítulo, têm por finalidade principal a apresentação de um roteiro sobre o assunto a ser estudado nos capítulos seguintes. O processo de metalurgia do pó consiste na obtenção de pó metálico e na sua transformação através de etapas importantes como compactação e tratamento de sinterização em temperaturas abaixo do ponto de fusão do metal base, resultando em produtos de alta precisão e propriedades desejadas. A técnica de metalurgia do pó vem sendo utilizada pelo homem há mi- lênios (Tabela 1), porém, sob o ponto de vista industrial, a obtenção de peças sinterizadas é recente, se comparada com outros processos metalúrgicos. Os prin- cipais avanços ocorreram no início do século XX, com o domínio dos processos de fabricação de pós por redução e eletrólise e a busca de uma técnica que permitisse a fabricação de peças de metais refratários de alto ponto de fusão, como o tungstênio e o molibdênio, até então limitados pelos processos existentes. Assim, os primeiros produtos que marcaram o desenvolvimento da metalurgia do pó tinham o tun- Gilberto augusto de morais - 25 gstênio como metal de base, tais como o metal duro, os filamentos de lâmpadas elétricas e os contatos elétricos. O desenvolvimento experimentado pela metalurgia do pó nos anos 1970 permitiu um aumento na sua performance, oferecendo um melhor controle da mi- croestrutura, homogeneidade composicional e materiais com propriedades mecâni- cas em níveis iguaisou, frequentemente, melhores do que aos produtos obtidos por fundição ou conformação mecânica. Os metais fundidos apresentam falhas resultantes das diferentes capacida- des dos constituintes de se solidificarem a partir da fase líquida. No caso de produtos sinterizados, a adequada mistura de pós e a sinterização com transformações na fase sólida permitem um alto grau de uniformidade do material, com homogeneidade de microestrutura e consequentemente melhores propriedades mecânicas. Alguns fatores econômicos contribuem para que atualmente a metalurgia do pó venha sendo utilizada em larga escala, como o número reduzido de operações na produção da peça acabada, em relação a outros processos, e o aproveitamento quase total da matéria-prima. 1.1 Processos de produção dos pós metálicos Como não existem normas definidas para uma classificação sistemática dos processos de produção de pós-metálicos, serão aqui consideradas as matérias-primas e as operações ou grupos de operações a que elas são submetidas. De um modo geral, as matérias-primas empregadas podem ser classificadas em quatro grandes grupos: a) Metais, seus compostos, suas ligas e elementos não metálicos; b) Metais sólidos – fragmentação, usinagem, moagem, turbilhamento e eletrodecomposição; c) Metais líquidos − temperatura acima do ponto de fusão – granulagem, atomização, evaporação e condensação; d) Ligas – fragmentação, usinagem, moagem, turbilhamento, desintegra- ção, corrosão intergranular e eletrodecomposição térmica; e) Compostos – redução no estado sólido, precipitação, deslocamento quí- mico, decomposição e decomposição térmica. Dentre esses métodos, a eletrodecomposição e a redução dos óxidos e de outros compostos no estado sólido são os mais empregados. 26 - Desenvolvimento da Metalurgia do Pó 1.2 Tratamento dos pós Uma vez terminada a fase de fabricação, antes de serem empregados, os pós são submetidos a determinados tratamentos, que constam, em geral, de lavagem e secagem em atmosfera controlada. A seguir são estocados, livres do contato com o ar e a umidade. Quando empregados na fabricação de ligas ou de estruturas compostas, são misturados previamente em determinadas proporções, metais entre si, metais com aditivos, para facilitar a prensagem ou metais com elementos não metálicos. 1.3 Teste dos pós As principais características físicas dos pós, que, aliadas à pureza e à com- posição química, concorrem de modo decisivo para que peças fabricadas satisfaçam às especificações exigidas pelo uso, são: • Tamanho da partícula; • Forma da partícula; • Porosidade da partícula; • Microestrutura da partícula. Além dessas, existem outras, quais sejam, densidade aparente, densidade do cone, fator de escoamento, superfície específica, compressibilidade, deformação plás- tica, encruamento, que dependem inteiramente das primeiras e também têm grande influência nas propriedades das peças. Essas características são todas determinadas por meio de testes. 1.4 Processo de produção dos compactos O processo de compactação consiste em transformar os pós metálicos em peças acabadas ou semiacabadas, com determinadas características físicas e mecâni- cas pela ação da pressão e do calor, utilizando: matéria-prima (pós), máquinas, fonte de calor, ferramentas. Poderão ser realizados uma ou mais das operações seguintes: 1. Prensagem seguida de aquecimento (sinterização); 2. Prensagem e aquecimento simultâneos; 3. Prensagem, aquecimento seguido de nova prensagem e aquecimento; 4. Operações intermediárias; Gilberto augusto de morais - 27 5. Deformações plásticas (laminação, extrusão, trefilação, forjamento etc.); 6. Tratamentos térmicos; 7. Acabamento das peças. A experiência, aliada a teoria, orientará na escolha dos meios e das opera- ções a serem empregadas na fabricação de determinados produtos. A Figura 1.1 mostra esquema da metalurgia do pó. Figura 1.1 − Esquema geral do processo da metalurgia do pó. Fonte: CHIAVERINI, V. Metalurgia do pó: técnica e produtos. São Paulo: ABM, 2004. 28 - Desenvolvimento da Metalurgia do Pó 1.5 Emprego industrial São os seguintes alguns do emprego industrial da metalurgia do pó: • Fabricação de produto com metais de alto ponto de fusão, impossível de serem fundidos. • Obtenção de ligas com metais de pontos muito diferentes. • Fabricação de peças porosas. • Produção econômica de peças com formatos complicados, difíceis de se obter por outros processos. • Produção de compactos, constituídos de dois metais, devendo cada um deles manter determinadas propriedades. • Produção de estruturas formadas de um ou mais elementos metálicos e um elemento não metálico. • Emprego de pós metálicos aglutinados por plásticos. • Fabricação de materiais abrasivos e de fricção. • Produção de materiais de dureza muito elevada e de difícil acabamento. • Obtenção de ligas de metais insolúveis no estado líquido ou sólido; • Produção de peças em que as características dependem em grande parte da pureza dos metais. O Quadro 1.1 apresenta produtos sinterizados, aplicações e propriedades. Quadro 1.1 – Produtos sinterizados, aplicações e propriedades. PRODUTOS APLICAÇÕES MATERIAL PROPRIEDADES Pe ça s e st ru tu ra is • veículos motorizados; • veículos ferroviários; • eletrodomésticos; • máquinas agrícolas; • mecânica fina – máquina de escrever e de calcular, fotocopiadoras e computadores. • Ligas de Fe puro • Fe-Cu-Ni • Fe-Cu-Ni-Mo e Fe-Cu-P • boa resistência mecânica. Pe ça s p or os as • filtros metálicos; • mancais e buchas autolubrificantes; • condensadores; • próteses para uso medicinal; • eletrodomésticos. • Ligas de Cu e Ni • Ligas ferrosas inoxidáveis • alta tensão de capilaridade. Gilberto augusto de morais - 29 M at er ia is re fr at ár io s • indústrias bélicas e nucleares; • filamentos de lâmpadas; • resistência de fornos; • proteções contra radiação; • ferramentas antivibratórias; • lâminas para turbinas a vapor. • Ligas de W-Mo, Nb e Ta • Ligas de W com adições de Cu, Ni e Fe • alta resistência mecânica em temperaturas elevadas e à corrosão; • alto ponto de fusão; • capacidade de adsorver radiações. M at er ia is de fr ic çã o • freios e embreagens para veículos automotivos e aviões; • peças para barcos, guindastes, locomotivas, máquinas industriais e motores elétricos. • Ligas de Cu e Fe-Cu com adições de SiC, SiO2 e Al2O3. • alto coeficiente de fricção; • boa resistência mecânica e ao desgaste; • boa condutividade térmica. C on ta to s el ét ric os • reguladores de voltagem; • interruptores de ignição; • relés, disjuntores e contatores elétricos; • peças para indústria automobilística. • Ligas de Ag e W puros • Ligas Ag-W, Ag-WC • Ag-Ni, Cu-W e Cu-WC • boa resistência mecânica; • boa condutividade elétrica e térmica. M et al d ur o • ferramentas para mineração e perfuração; • ferramentas para laminação, trefilação e extrusão; • matrizes e punções para forja, estampagem, corte e compactação de pós; • insertos para fresa. • Liga WC-Co • elevada dureza e resistência ao desgaste; • boa resistência mecânica; • alto ponto de fusão. Fonte: NUNES, Raul A. Metalurgia do pó. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica, 2003. Disponível em: <http://www.dcmm.pucrio. br/~ranunes/org/Caracterizacao1.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2007. 1.6 O mercado da metalurgia do pó no Brasil Devido à restrita utilização de produtos sinterizados no Brasil, em relação a outros países, o potencial de crescimento da metalurgia do pó é bastante grande tanto em nível de pesquisa como em nível industrial, principalmente pela demanda por produtos de alta tecnologia em diversos setores como mecânica fina, indústrias de defesa e aeroespacial. A expectativa em relação à utilização de produtos sinterizados no país é de que aumente consideravelmente nos próximos anos em função dos planos de expan- são das principais indústrias do setor, motivadas pela maior demanda no mercadointerno, pois a cada ano os novos projetos de automóveis, bem como as indústrias elétricas e mecânicas, incorporam maior número de peças sinterizadas. 30 - Desenvolvimento da Metalurgia do Pó A produção de sinterizados no país situava-se próxima de 7 000 t/ ano (dado de 1986), sendo pequena se comparada com países desenvolvidos, pois só em 1985 a produção dos EUA foi de 269 000 t/ano, e a do Japão 147 000 t/ano. Na década de 1990, a indústria automobilística dos EUA utilizava 20 a 30 kg de peças sinterizadas por veículo, enquanto que o Brasil passava de 1 kg de peças em 1984 para 3,5 kg em alguns modelos de 1986. Em relação ao metal duro, a produção estimada do Brasil é de 400 a 450 t/ano, já nos EUA existem empresas que sozinhas produzem 1 500 t/ano. Quanto às ligas de alumínio, enquanto em vários países a metalurgia do pó é utilizada para obtenção de ligas com propriedades especiais para aplicações de tecnologia de ponta, no Brasil ainda não se fabricam produtos sinterizados dessas ligas, Quadro 1.2. Quadro 1.2 – Mercado da metalurgia do pó. Mercado 1986 EUA 1 bilhão US$ 1991 1,4 bilhões US$ Produção (1986) Brasil 9K t/ano EUA 270K t/ano Japão 150K t/ano Carro (1986) EUA 20 a 30 kg Brasil 3 a 4 kg Fonte: NUNES, Raul A. Metalurgia do pó. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica, 2003. Disponível em: <http://www.dcmm.pucrio. br/~ranunes/org/Caracterizacao1.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2007. Um dos principais problemas enfrentados atualmente pelo setor industrial está relacionado com a produção de pós. Atualmente, o mercado possui apenas dois fabricantes que produzem basicamente pó de ferro, que em grande parte possui baixa qualidade, e, em pequena escala, pós de outros materiais. Quanto aos pós de ligas especiais, são restritos para o desenvolvimento de peças desses materiais. Em regra, as indústrias nacionais compram tecnologia no exterior ou man- têm contrato de assistência tecnológica com empresas estrangeiras, sendo a pesquisa Gilberto augusto de morais - 31 que realizam voltada apenas para resolução de problemas de produção e adaptação de técnicas do país de origem às condições locais. Entretanto, algumas indústrias já desenvolveram pesquisas de pequeno porte em cooperação com o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas). Diante dos dados apresentados, observa-se que a capacitação tecnológica na área de metalurgia do pó é insuficiente para atender as necessidades de merca- do. Existe uma série de lacunas, principalmente pelo fato de o país não dispor de tecnologia para fabricação de pós de materiais com propriedades especiais como, por exemplo, aços inoxidáveis, aços de alta resistência, superligas de níquel, ligas de titânio e materiais compostos. Com esses materiais, é possível produzir componentes de alta tecnologia, e se espera que as instituições de pesquisa concentrem esforços de pesquisa e desenvolvimento em estreita cooperação com a indústria. Existe atual- mente um número reduzido de instituições de ensino e pesquisa no país que atuam na área de metalurgia do pó. As indústrias do setor, bem como as suas principais linhas de produção e materiais utilizados, são apresentadas no Quadro 1.3. Quadro 1.3 – Indústria, linhas de produção e materiais utilizados. INDÚSTRIA (LOCALIZAÇÃO) LINHA DE PRODUTOS PRINCIPAIS MATERIAIS AUSBRAND (SP) • Metal duro TiC, TaC, Co BRASSINTER S.A. (SP) • Buchas autolubrificantes • Contatos elétricos • Metal pesado • Metal duro • Materiais de fricção Ligas ferrosas Ligas de Cu Ligas WC-Co, W-Au, WC-Ag, WC-Cu, W-Ni-Cu-Fe BELGO BRASILEIRA (SP) • Pó de ferro • Pó de alumínio Fe, Cu, Ni, Al CERVIN S.A. (SP) • Metal duro WC, TiC, TaC, Co COFAP (SP) • Peças estruturais Ligas ferrosas COMPANHIA RESENDENSE (RJ) • Pós de ferro • Pós de liga não ferrosas Ligas ferrosas Ligas de Cu DEGUSSA (SP) • Contatos elétricos Ligas Ag-W, Ag-Ni, Cu-WC, Ag-CdO e Ag-SnO HUGHES TOOLS (BA) • Metal duro WC, Co METAL LEVE (SP) • Peças estruturais Ligas ferrosas 32 - Desenvolvimento da Metalurgia do Pó METAL PÓ (SP) • Pós de ligas de Cu, Sn e Pb • Buchas autolubrificantes • Peças estruturais Ligas ferrosas Ligas de Cu MOLDMIX (SP) • Pós de liga de Fe, Cu, Sn e Pb • Buchas autolubrificantes • Materiais de fricção Ligas ferrosas, bronze SANDVIK (SP) • Metal duro WC, Co SECO TOOLS (SP) • Metal duro WC, TiC, TaC, Co SHUNK E EBE (SP) • Eletrografites • Peças estruturais • Filtros Ligas ferrosas, bronze, grafites SINGER (SP) • Peças estruturais Ligas ferrosas VALENITE MODCO (SP) • Metal duro WC, TiC, TaC, Co Fonte: NUNES, Raul A. Metalurgia do pó. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica, 2003. Disponível em: <http://www.dcmm.pucrio. br/~ranunes/org/Caracterizacao1.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2007. 1.7 Vantagem do processo A análise cuidadosa de fatores técnicos e econômicos, relativos às matérias- -primas, mão de obra, maquinário, ferramentas, consumo de energias térmicas ou elétricas e das características do material produzido, conduz à escolha de um deter- minado processo de fabricação. Casos há que comportam uma solução única. Assim, os metais de lato ponto de fusão e os carburetos são normalmente trabalhados pelo processo da metalurgia do pó. Analogamente, estruturas porosas, peças metálicas com características fora do comum, ligas de metais insolúveis no estado sólido en- contram nesse processo a única solução aconselhável. O processo apresenta vanta- gens, sobre a fusão, na fabricação de peças de formato complicado, com dimensões sujeitas a tolerâncias rigorosas ou feito de ligas muito duras, de difícil acabamento, sendo apreciáveis a economia de tempo de fabricação, a mão de obra especializada e o consumo de energia térmica. A seguir, são citadas as vantagens e as desvantagens do processo. Vantagens As temperaturas de sinterização utilizadas são baixas em relação a outros pro- cessos, com utilização de fornos de concepção simples com menor consumo de energia. Gilberto augusto de morais - 33 O produto final possui estreita tolerância dimensional e excelente acaba- mento superficial, não precisando na maioria dos casos de operações finais. É possível produzir componentes com formas complexas, muitas vezes ina- cessíveis a outros processos de fabricação. Há perfeito controle da composição química do material, podendo ser pro- duzidos componentes de alta pureza. Existe a possibilidade de obtenção de materiais com propriedades físicas e/ ou químicas para os quais a metalurgia do pó é a única técnica viável de fabricação. Ex. materiais porosos, metal duro, materiais refratários. O processo é de alta produtividade, proporcionando a fabricação de grande quantidade de bens de consumo em menor tempo, além de facilitar a automação, minimizando o custo de inspeções para controle de qualidade. Peças para protótipos podem ser atualmente produzidas a um custo mais baixo devido ao desenvolvimento de processo de moldagem com laser. Desvantagens A forma geométrica da peça é limitada, devendo possibilitar que seja extra- ída de uma matriz de compactação. Nos processos convencionais de compactação e sinterização, o tamanho da peça é limitado, uma vez que as potências requeridas para compactação são propor- cionais à sua área transversal. Algumas técnicas avançadas da metalurgia do pó em desenvolvimento já superam esse problema. O processo produz uma porosidade residual que deve ser eliminada, no caso de aplicações que requerem altas solicitações mecânicas. Os produtos obtidos pela metalurgia do pó podem ser divididos em dois grandes grupos: (i) o daqueles que, por suas características próprias ou pelas propriedades finais desejadas, só pode ser obtido pela técnica de compactação e sin- terização, a partir de pós; (ii) o dos produtos que, embora possam ser fabricados pelos processos me- talúrgicos convencionais, tem na metalurgia do pó uma produção com mais eficiência, facilidade de automação e economia (extrusão de tubos sem costura). No primeiro grupo incluem-se:a) Os metais refratários (W, Mo, Ta, Nb). 34 - Desenvolvimento da Metalurgia do Pó b) Os metais duros (carbonatos de W, Ti, Ta e Nb, associados a um metal aglomerante, do grupo do Fe, no caso o Co) são duros à temperatura ambiente e mantêm-se duros às altas temperaturas. c) Materiais porosos para aplicação em filtros, buchas autolubrificantes para mancais e placas de baterias alcalinas. d) Materiais de fricção constituídos por um metal base (Cu ou Fe), um ou mais pós abrasivos (Al2O3-Ox. Al; SiC-carboneto de Si; SiO2-Sílica; silicato de Fe) e um ou mais pós lubrificantes (grafita, Pb e MoS). e) Materiais para contato elétrico do tipo metalgrafita e materiais compostos. A grafita se presta a contatos elétricos de baixa densidade de corrente com baixa perda mecânica. Para aumentar a capacidade de transporte de corrente e dis- sipação de calor se adicionam Cu e Ag, que possuem alta conductibilidade, mas possuem alto coeficiente de atrito. f) Os materiais compostos: procura-se combinar as propriedades do Cu e Ag com as características de alta resistência ao calor, ao desgaste e à for- mação de arcos de metais refratários como o tungstênio e o molibdênio. g) As ligas pesadas (W-Cu, W-Ni-Cu, W-Ni-Fe). O Quadro 1.4 mostra a densidade teórica ρ e temperatura de fusão Tfusão de alguns metais. Quadro 1.4 – Densidade ρ e temperatura de fusão T fusão Metais ρ(g/cm³) T fusão °C Pt 21,5 1769 Au 19,3 1063 W 19,3 3410 U-γ 18,7 1132 Ta 16,6 2996 Hg 13,5 -39 Pb 11,4 328 Mo 10,2 2610 Cu 8,9 1083 Ni 8,9 1453 Nb 8,4 2468 Fe-α 7,9 1536 Fonte: NUNES, Raul A. Metalurgia do pó. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica, 2003. Disponível em: <http://www.dcmm.pucrio. br/~ranunes/org/Caracterizacao1.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2007. Gilberto augusto de morais - 35 A liga pesada de W-Ni-Cu com composição em peso de 93-5-2 pode apre- sentar uma densidade variando entre 12,8 g/cm³ a 17,8 g/cm³. Essa variação está relacionada com a temperatura de sinterização TS (1.300 °C, 1.400 °C) e o tempo de sinterização ts(0,5h, 6h). Dessa forma, produz-se uma liga com excelente usinabilida- de, que pode então ser facilmente trabalhada ou conformada mecanicamente. O W puro apresenta uma densidade limite em torno de 96% da densidade teórica ρ =19,3 g/cm³; na prática, a densidade do W é em torno de 16,5 g/cm³. O W puro é duro, quebradiço e de difícil ou impossível usinagem. Observa-se que, apesar de a Pt e de o Au serem densos, são ao mesmo tempo caros; o U também não é utilizado devido à natureza radioativa do material; o Pb possui baixa densidade, baixa resistência mecânica e baixa temperatura de fusão. No segundo grupo, incluem-se: a) Os materiais estruturais nos quais o processo só se torna vantajoso, economicamente, no caso da produção seriada em grande número de peças, devido ao alto custo da matriz de compactação. O Quadro 1 fornece uma visão geral das principais aplicações desses pro- dutos, bem como os materiais utilizados e suas propriedades específicas. Com ex- ceção das peças estruturais, todos os produtos listados só podem ser obtidos através dessa técnica. O setor de metalurgia do pó vem experimentando desenvolvimento tecno- lógico significativo no sentido de aperfeiçoar as propriedades dos materiais e a sua performance em serviço, a fim de atender indústrias altamente sofisticadas como as aeroespacial, eletrônica e nuclear. Os principais avanços incluem desde os novos pro- cessos de consolidação, as recentes técnicas para produção de pós e as superligas com propriedades superiores àquelas fabricadas pelos processos metalúrgicos tradicionais. 1.8 Limitações do processo Apesar do grande desenvolvimento da metalurgia do pó em nossos dias, o processo ainda sofre severas limitações em relação a matérias-primas, os pós, instala- ções, maquinário, ferramentas, aparelhagem de aquecimento e pessoal. 1.9 Avanços da metalurgia do pó Algumas das técnicas que apresentam maior possibilidade de desenvolvi- mento e aplicação nos próximos anos são descritas a seguir. 36 - Desenvolvimento da Metalurgia do Pó Compactação Isostática a Quente (HIP − Hot Isostatic Pressing). Esse pro- cesso atingiu desenvolvimento industrial na última década, sendo considerado no momento uma área especial da metalurgia do pó para produção de materiais avança- dos. O método consiste em submeter os pós ou peças sinterizadas aquecidos em alta temperatura, a pressões isostáticas de compressão exercidas por um gás. O produto final se caracteriza pela ausência total de poros e segregações, homogeneidade, micro- estrutura e excelentes propriedades mecânicas. Devido às limitações de custo do equi- pamento e à produção de pequenas séries, o processo não compete com a sinterização convencional, sendo geralmente utilizado para materiais com propriedades especiais como aços ferramenta, aços inoxidáveis, metal duro, superligas e materiais compostos. Processos de conformação a quente, forjamento e extrusão. Esses processos vêm sendo utilizados em metalurgia do pó a fim de se obter propriedades mecânicas equivalentes aos produtos conformados convencionais, através do aumento de densi- dade, e propriedades físicas típicas de produtos sinterizados, tais como alta precisão e excelente acabamento superficial. Apesar do alto custo de investimento envolvido, os processos de conformação a quente permitem a produção de componentes sub- metidos a altas solicitações dinâmicas, apresentando elevada resistência mecânica e tenacidade à fratura. As peças forjadas são geralmente confeccionadas a partir de ligas ferrosas e utilizadas principalmente em peças para indústria automotiva e em matrizes e punções para conformação de metais. Já o processo de extrusão é utiliza- do basicamente em ligas de níquel, alumínio, aços rápidos e metais refratários para perfis, barras e tubos sem costura. Produção de pós pela Técnica de Solidificação Rápida (RST − Rapid Soli- dification Technique). O desenvolvimento dessa técnica foi um grande avanço para a metalurgia do pó pela possibilidade de obtenção de ligas metálicas vítreas, ina- cessíveis até então aos processos de fusão. A técnica consiste em resfriar o pó, na fase final do processamento, a velocidades extremamente rápidas (ultrassônicas), for- mando partículas de pós ultrafinas. A partir desses pós, é possível formar ligas com microestrutura amorfa, composições uniformes, tamanho de grão muito pequeno, e ótimas propriedades, como resistência mecânica, resistência à corrosão, tenacidade e estabilidade microestrutural a altas temperaturas. O processo vem sendo utilizado principalmente para produção de superligas de titânio, níquel e alumínio em aplica- ções aeroespaciais. Produção de pós pré-ligados com dispersão de óxidos (ODS − Oxide Dis- persion Strengthening). O processo consiste em introduzir pós metálicos dos constituintes da liga desejada em um moinho de bolas de alta energia, resultando em partículas de pós com dispersão fina e uniforme de óxidos e carbetos na matriz. O produto final, obtido após consolidação dos pós através de sinterização, extrusão ou prensagem isostática a quente, possui excelentes propriedades mecânicas a altas temperaturas, Gilberto augusto de morais - 37 além de manter as propriedades específicas de cada tipo de liga, como, por exemplo, à resistência à oxidação de ligas de alumínio. As principais aplicações nas quais essa técnica vem sendo utilizada são componentes de ligas de Ni, Al ou Ti, submetidos a altas temperaturas, para equipa- mentos dos setores aeroespaciais, automobilístico e nuclear. Além do potencial individual de cada técnica, novas perspectivas estão sur- gindo com a elaboração de materiais através da combinação dos diversos processos da metalurgia do pó. Por exemplo, a tecnologia de produção de pós, pelas técnicas RST e ODS, combinado com consolidação através de extrusão, prensagem isostática a quente e forjamento, está apresentando oportunidades para criação de novas ligas e formas de materiais com as propriedadesdesejadas, fechando o crescente vazio entre requisitos de alta performance de projetos e a precisa adequabilidade do material para componentes de grande conteúdo tecnológico. 1.10 Matérias-primas Industrialmente, não é fácil a obtenção de pós, em quantidades suficientes para atender à demanda crescente, com propriedades adequadas e por preços razoáveis. A experiência mostrou que compactados muito densos, fabricados com pós de elevada pureza, têm características iguais ou mesmo superiores ao material fun- dido. A alta densidade dos compactados exige maiores compressões, máquinas mais potentes, maior aquecimento, maior resistência ao desgaste das matrizes. Os pós de elevada pureza são mais caros. Influem relativamente pouco no custo das peças pequenas e exageradamente no custo das peças grandes. Outra limitação decorre dos pós não se submeterem às leis hidrodinâmicas, o que dificulta a fabricação de peças com reentrâncias, saliências, peças cônicas e outras, cujo formato dificulte a distribuição da pressão. 1.11 Instalação A indústria de metalurgia do pó é complexa e muito especializada, exige instalações dispendiosas para fabricação, preparo, condicionamento, armazenamen- to dos pós, livres do ar e da umidade. A consistência dada aos compactos é consequência da ação da pressão e do calor. A pressão é exercida por meio de prensas mecânicas ou hidráulicas, automáti- cas, semiautomáticas ou manuais, de efeito simples ou duplo. O custo da prensa, a taxa de compressão, o cumprimento e o número de cursos por minuto, o modo de funcionamento constituem sérias limitações ao processo (Figura 1.2). 38 - Desenvolvimento da Metalurgia do Pó Figura 1.2 − Maquinário empregado na metalurgia do pó. Inovadora, potência controlada por circuito fechado de TPA preconiza a produção de peças complexas por metalurgia do pó de alta qualidade que utiliza a última tecnologia de fabricação. Disponível numa escala de 500 kN até 20 000 kN. Disponível em: <http://www.dorst.de/dorst_seite/ HTML/PRODUKTE/INFOLINES/TPA160_3hp-eng.htm>. Acesso em: 04 jul. 2009. Gilberto augusto de morais - 39 1.12 Ferramentas O projeto das peças e das ferramentas usadas em sua fabricação tem impor- tância fundamental na aplicação do método. É possível melhorar as características de uma peça utilizando um projeto adequado. As limitações das ferramentas decorrem de sua resistência à compressão a quente e a frio, do formato e do tamanho das peças. Aparelhagem de aquecimento A temperatura dos fornos empregados na sinterização é um dos fatores que limitam o emprego do processo. Em caso de grande produção, empregam-se esteiras transportadoras, que circulam através dos fornos. Esse material não pode trabalhar com temperaturas superiores a 1 100°C, além disso, é muito sujeito a panes e para- das para manutenção. Quando se precisa de temperaturas superiores a 1 100°C, e o equipamento na permite essas temperaturas, aumenta-se o tempo de sinterização, obtendo-se resultados equivalentes. Em caso de prensagem a quente, há problema da resistência das matrizes em temperaturas elevadas e do tempo de aquecimento dos pós, que acarreta atraso na produção. 1.13 Método da produção dos pós metálicos Ge ralmente, os pós são adquiridos de fornecedores especializados, de modo que a produção do pó a ser utilizado para a obtenção do produto não é responsabilidade de quem faz o produto. Entretanto, em alguns casos, o pó precisa ser fabricado também pelo metalurgista do pó. De qualquer modo, o pó a ser utilizado nas etapas posteriores deve ter propriedades adequadas, pois as propriedades finais da peça produzida depen- dem de cada uma das etapas do processo, incluindo as características do pó. Muitos metais e ligas metálicas são naturalmente obtidos, por técnicas ex- trativas, na forma de pó. A técnica apenas deve ser ajustada para que produza pós com características adequadas e reprodutíveis. Em outros casos, o pó deve ser produ- zido a partir de outra forma do material. Como exemplo do primeiro caso, podem-se citar os pós de tungstênio e de carbeto de tungstênio. A partir da schelita ou da wolframita, pode-se obter o paratungstato de amônia ou ainda o óxido tungstico, ambos na forma de pó. Através de uma calci- nação, obtém-se o trióxido de tungstênio ou o chamado óxido azul de tungstênio, também em forma de pó. Podem-se reduzir esses óxidos facilmente com hidrogênio em temperaturas na faixa de 700-950 0C. O produto obtido é o pó de tungstênio. Controlando-se os parâmetros de redução, como a temperatura, a quantidade de 40 - Desenvolvimento da Metalurgia do Pó óxido, a umidade da atmosfera, as características do pó de tungstênio produzido também podem ser controladas. O pó de carbeto de tungstênio é produzido de uma mistura entre os pós de tungstênio e o negro de fumo, em proporção estequiométrica, com um ligeiro excesso de carbono. A mistura é colocada num forno com atmosfera de hidrogênio a temperaturas entre 1 500 0C a 1 800 0C por algumas horas. A reação se dá em estado sólido através da difusão de carbono pela rede do tungstênio. Controlando-se prin- cipalmente o tamanho de partícula do pó de tungstênio mas também a temperatura de reação, é possível controlar o tamanho de partícula do pó de carbeto. Pós de alumínio, aço, ferro, cobre, bronze, além de outros, podem ser feitos através de atomização. Essa técnica consiste em fundir o material com o qual se pretende preparar o pó em um recipiente com um orifício. Um filete do líquido escorre do orifício e é bombardeado por um feixe de líquido ou gás. O filete é então subdividido em finíssimas gotículas que caem em um líquido e são imediatamente resfriadas. Através desse método, podem-se produzir pós com partículas quase esféricas e com distribuição de tamanho muito estreito. Com li- geiras modificações, esse método pode ser usado para produzir pós com partículas aciculadas, quase na forma de fibras. A técnica de produção dos pós metálicos constitui parte integral de seu emprego. De um modo geral, os pós são fabricados para fins específicos. O produ- tor de pós tem de atender sempre às especificações de fabricantes de compactados. Em certos casos, é possível obter-se um pó com determinadas propriedades por processos diferentes. Os pós de cobre para metais podem ser fabricados por eletrólise e redução. Os processos de fabricação de pós metálicos podem ser agrupados, arbitrariamente, em duas classes gerais: • Processos mecânicos • Processos físico-químicos e químicos 1.13.1 Processos mecânicos Os metais e suas ligas podem ser reduzidos a pó pelos seguintes métodos mecânicos: usinagem, britagem, moagem, turbilhamento, granulagem, arremesso e atomização. Os quatro primeiros métodos são aplicados aos metais sólidos a tempe- raturas ambientes e os três últimos exigem temperaturas acima do ponto de fusão e metais líquidos. Gilberto augusto de morais - 41 1.13.1.1 Usinagem O processo por usinagem não apresenta grande interesse ao fabricante dos pós para a indústria dos compactos, porque é caro e produz pós grosseiros. É possível melhorar a qualidade desses pós por moagem e recozimento. Os pós de magnésio para fins pirotécnicos são produzidos por usinagem. A moagem de pós finos de me- tais sujeitos a explosões é realizada em atmosfera neutra. Terminada a moagem, o pó deve ser progressivamente posto em contato com o ar, isto é, o gás neutro deve ser aos poucos substituído pelo ar, a fim de que haja uma oxidação superficial das partículas e maior tempo de dissipação do calor desprendido na oxidação, evitando-se assim a possibilidade de explosão. Pode-se em- pregar, também, uma atmosfera mista, de gás neutro e de ar, necessária para a oxida- ção superficial das partículas, mas insuficiente para provocar explosões. Alguns pós de prata para solda, de ligas para obturações dentárias, de ferro empregado como redutor na química, ou como endurecedor de concreto, também podem ser produzidos por usinagem. 1.13.1.2 Fragmentação por britagemÉ uma operação semelhante à moagem, consistindo na redução de massa metálica a fragmentos cada vez menores dos metais. Em certos casos, os metais são encruados e moídos. Há vários tipos de bri- tadores, como martelos de queda para britagem de minérios e sucata, britadores de mandíbulas, britadores giratórios e outros. 1.13.1.3 Moagem Os metais, suas ligas e compostos, quando quebradiços e friáveis, podem ser facilmente reduzidos a pó de diversos graus de finura, mas são difíceis de ser pul- verizados quando maleáveis (Figura 1.3). 42 - Desenvolvimento da Metalurgia do Pó Figura 1.3 – Moinho de bolas. Fonte: TELECURSO 2000. Processos de fabricação: tendências e perspectivas. Apostila do Curso Técnico em Mecânica. Disponível em: <http://www.bibvirt.futuro.usp.br>. Acesso em: 25 abr. 2007. A escolha do processo de moagem deve levar em consideração a dureza, a fragilidade e a maleabilidade dos metais. O tungstênio, o antimônio, várias ligas e compostos, principalmente os carbonetos refratários, são quebradiços, podem ser reduzidos a pó, e constituídos de partículas de finura e distribuição controladas para muitas aplicações. As partículas duras de forma irregular, normalmente, não são aplicadas na fabricação de compactado. Os carbonetos, na maioria das vezes, são misturados com aglomerantes de baixo ponto de fusão, prensados e sinterizados. Durante a moagem, se não forem tomadas certas precauções, os pós são contaminados por óxidos e impurezas que prejudicam as características do compac- tado. As partes dos moinhos que ficam em contado com as partículas devem ser fa- bricadas com ligas duras, para evitar a contaminação daquelas partículas refrigeradas e a ductilidade dos pós, pelo aquecimento excessivo, pois algumas ligas são frágeis. As ligas de alumínio e magnésio permitem produzir um pó friável, cuja composição para posterior emprego poderá ser ajustada pela adição de mais metal. Gilberto augusto de morais - 43 As ligas de ferro-níquel têm baixa resistência intercristalina, o que permite sua redução a pó, cuja finura dependerá do tamanho do grão de liga. Essas ligas podem ser tornadas mais frágeis evitando-se a desoxidação ou adicionando-se óxido ou sulfeto de ferro, ou então pela laminação, partindo de 1 300°C, até chegar à fragmentação pelo encruamento. A seguir, o material é moído em moinho de bolas. A moagem de metais maleáveis produz pós lamelares em forma de disco, que não têm emprego na fabricação de compactados. Os pós de alumínio e bronze feitos por moagem são empregados em tintas e os pós de cobre, na fabricação de escovas para coletores. O emprego de lubrificante evita que a partícula se solde umas às outras, facilitando o aumento superficial das plaquetas. 1.13.1.4 Turbilhamento O processo HAMETEG, considerado o mais eficiente para redução de metais maleáveis a pó, é empregado na Alemanha. A fragmentação das partículas se processa por choque entre as elas. O aparelho, mostrado na Figura 1.4, é constituído de uma câmera onde trabalham duas hélices, frente a frente, rodando a alta velocidade em sentido contrá- rio, o que provoca turbilhamento e colisões das partículas de pó que são injetadas por correntes gasosas de sentidos contrários. Figura 1.4 − Processo HAMETEG. Fonte: MORAIS, G. A. Processos de fabricação II. UFRN, 2009. 44 - Desenvolvimento da Metalurgia do Pó Em geral, quando o pó metálico é sujeito a explosões, usa-se uma atmos- fera de gás neutro. O processo permite produzir uma série de tipos de partículas de acordo com a finalidade que se tem em vista. Os pós são constituídos de partículas lamelares, com uma depressão, em forma de pires. Em certos casos, pode-se aumen- tar a depressão, obtendo-se partícula oca, a qual tem grande aplicação na fabricação de compactos porosos. Os pós HAMETEG têm excepcionais propriedades de compactação, ten- do em consequência numerosas aplicações na metalurgia do pó. São empregados principalmente na fabricação de núcleos magnéticos maciços de Fe-Ni, em peças de ferro para máquinas e de carbono metalográfico. 1.13.1.5 Processo do micronizador O princípio é o mesmo do anterior, a pulverização se realiza pela colisão das partículas de pó, provocada pela injeção de ar ou de vapor superaquecido, com uma pressão de 7 (Kgf/cm²) a 35 (Kgf/cm²), tangencialmente às paredes de uma câmara anelar. Esse processo tem sido empregado na fabricação de pós para pigmentos, mas não tem alcançado grande sucesso industrial na pulverização de metais para compactados. 1.13.1.6 Processo de micropulverizador Consiste num disco em que estão presos martelos acionados pelo movi- mento de rotação do disco. Esse processo tem sido empregado na pulverização de metais duros ou de massas esponjosas de metais maleáveis, para fabricação de com- pactados sinterizados. O processo não produz grande encruamento, nem modifica substancialmente a forma equiaxial das partículas. 1.13.1.7 Pulverização de metais fundidos O processo de produção de pós por granulagem, partindo de metais fundi- dos, é muito barato, mas não apresenta grande interesse na fabricação desse material para compactados. A granulagem pode ser obtida em água ou por agitação do metal líquido a uma temperatura próxima do seu ponto de solidificação. A granulagem em água é um processo antigo usado na fabricação de pós grosseiros de alumínio, cádmio, estanho e zinco. De um modo geral, as partículas são envolvidas por uma camada de óxido, o que torna desaconselhável o seu emprego em compactados. Têm-se fabricado pós de metais de baixo ponto de fusão, como chumbo e ligas de estanho, empregando um pulverizador rotativo em temperaturas pouco abaixo da solidificação. Gilberto augusto de morais - 45 1.13.1.8 Arremesso Esse processo consiste em vazar o metal líquido no ar ou na atmosfera neutra, obtendo-se partículas metálicas, cujos tamanhos dependem do modo de con- duzir a operação. O material produzido varia de grãos muito grosseiros a pós muito finos semelhantes aos obtidos por outros processos. Em certos casos, o arremesso constitui uma operação intermediária na pro- dução de pós. A temperatura ótima é pouco acima do ponto de fusão e a uniformi- dade do pó depende de se usar um jato contínuo de metal. A natureza da partícula depende do meio refrigerante, da temperatura, do modo de vazamento, livre ou forçado, e da distância dos cadinhos às superfícies do refrigerante. Assim, colocando-se o cadinho próximo à superfície da água fria, obtém-se partícula fina, alongada em forma de pena. Situando o cadinho muito acima do nível da água quente, conseguem-se partículas esféricas. Para obtenção de pós finos, emprega-se um jato de ar ou vapor, como refrige- rante, em vez de água. Usa-se também arremessar o metal sobre uma superfície metá- lica junto ao nível d’água ou sobre um disco rotativo que projete as partículas na água. Figura 1.5 – Desintegrador líquido do tipo DEGUSSA. Fonte: MORAIS, G. A. Processos de fabricação II. UFRN, 2009. O exemplo típico desse caso é o desin- tegrador líquido do tipo DEGUSSA (Figura 1.5), em que o metal líquido é acelerado e res- friado por um jato de água de alta pressão, e a desintegração se processa pelo impacto desse jato sobre as palhetas existentes num disco, que gira a 10 000 rotações por minuto. O desintegrador foi modificado porque o metal se solidificava e se acumulava junto às palhetas, o que ocasionava constante parada do aparelho para limpeza. O disco foi substituído por uma cortina rotativa de água com melhores resultados. O processo é usado na produção de pós de ligas de metais insolúveis no esta- do sólido como cobre-ferro, cobre-chumbo, prata-chumbo, e na pulverização de chumbo, zinco, alumínio, prata, ouro e de muitas ligas, principalmente ferro fundido. A operação é conduzida de acordo com o metal ou a liga utilizados e com as propriedades que se deseja obter dos respectivos pós. 46 - Desenvolvimento da Metalurgia do Pó 1.13.1.9 Atomização O método de atomizaçãoé frequentemente empregado na pulverização de metais de baixo ponto de fusão. Experiências realizadas mostraram que se pode che- gar até 900°C para operações industriais. Pós de cobre e prata têm sido produzidos em escala industrial, e de ferro e níquel, em laboratórios, tendo apresentado boas características. Esse processo tem relação estreita com o processo de arremesso. Consiste em fazer passar o metal líquido, sob pressão, através de um peque- no orifício e dispersá-lo por um jato de gás comprimido. As pequenas gotas metálicas se solidificam em forma de pó muito fino. Normalmente, o gás é posto em contato com o metal líquido através de um injetor parcialmente submerso neste, de modo a conduzir o metal até o ponto de saída. A solidificação ocorre logo que o metal entra em contato com o gás. O pó é recolhido por um processo de sucção e recolhido em aspiradores ou em ciclones coletores de pós (Figura 1.6). (a) Fonte: MORAIS, G. A. Processos de fabricação II. UFRN, 2009. (b) Figura 1.6 – Processo de atomização a gás: (a) vertical e horizontal; (b) princípio, a velocidade elevada do fluxo do gás que corre através do bocal expansor, extraindo o metal fundido debaixo do sifão e pulverizando-o na câmara de coleta. Fonte: GROOVER, M. P. Fundamentals of Modern Manufacturing Publisher. 2. ed. New York: John Wiley & Sons, Inc., 2002. Gilberto augusto de morais - 47 O grau de finura e a distribuição das partículas, por tamanho, variam em função: • Do desenho do injetor de gás, do orifício de saída, de sua altura em rela- ção à superfície líquida. • Da temperatura, viscosidade e fluxo do metal através do orifício. • Da temperatura e pressão do gás. Estudos realizados mostraram que a natureza do pó é influenciada mais preponderantemente pela altura do orifício de saída, pressão do gás, temperatura do metal e área do orifício, quando esses fatores são considerados separadamente. Essas variáveis são interdependentes, tornando-se os resultados mais difíceis de serem apreciados quando se envolvem dois ou mais fatores simultaneamente. O desenho do injetor de gás parece não ter grande influência. O jato de metal através do orifício deve ser constante para se obter um pó fino. O ar, o vapor ou gás neutro muitas vezes é preaquecido a uma temperatura acima do ponto de fusão do metal para evitar a solidificação das gotículas metálicas junto ao orifício. Emprega-se um gás neutro quando se quer evitar a oxidação das partícu- las. Nesse caso, o ar só deve ser admitido lentamente depois que o pó tenha esfria- do, principalmente quando há perigo de explosões. A oxidação de pós de alumínio, chumbo, estanho, zinco e cádmio varia de 0,2 a 0,3% quando se usa ar, o que não é considerado prejudicial. Os pós apresentam formas variáveis, irregulares ou esféricas. Os metais de baixo ponto de fusão podem ser compactados, mesmo com pressões baixas. A ha- bilidade dos pós de alumínio para compactação depende da técnica de atomização, que é determinada por certos fatores, quais sejam, camada de óxido envolvendo a partícula, tamanho e distribuição das partículas etc. Os pós de metais e ligas de alto ponto de fusão, como cobre, latão, bronze, têm apresentado qualidades inferiores aos fabricados por outros processos, e, em consequência, os compactados apresentam características mecânicas inferiores. Esse método é indicado na produção de pós de ferro para núcleos, apesar da oxidação superficial e das deficiências da compactação. 1.13.2 Processos físico-químicos e químicos Físicos Condensação Decomposição térmica 48 - Desenvolvimento da Metalurgia do Pó Químicos Redução Precipitação e deslocamento Carbonetação e descarbonetação Eletroquímicos Eletrodeposição Dispersão elétrica Outros processos Difusão de ligas (sinterização) Desintegração de ligas e corrosão intergranular 1.13.2.1 Métodos físicos Condensação – método empregado na produção de pós de metais que têm baixo ponto de ebulição como zinco. Consiste em reduzir o óxido de zinco pelo CO, segundo a reação ZnO + CO Zn + CO2 (1.1), e em condensar ao vapores de Zn provenientes dessa reação em atmosfera oxidante. As gotículas de zinco envolvidas por uma camada de óxido solidificam em forma de pó. Decomposição térmica – um grande número de metais reage com o monó- xido de carbono segundo a reação M + x (CO) M (CO)x (1.2) dentro de certas condições de temperaturas e pressão, dando um composto chamado carbonila; Fe + 5(CO) Fe (CO)5 (pentacarbonila de ferro) Ni + 4(CO) Ni (CO)4 (tetracarbonila de níquel) Gilberto augusto de morais - 49 Esses compostos são líquidos à temperatura ambiente e fervem a 103°C e a 43°C respectivamente. Acima das temperaturas de ebulição e sob pressão de uma atmosfera, as reações se processam em sentido contrário, resultando em metal em pó e monóxido, que é recirculado no processo. A carbonila de ferro é obtida passando uma corrente de CO através do ferro esponja a 200°C e 140 (Kgf/cm²) de pressão. O ferro esponja é resultante da redução do óxido de ferro em pó pelo hidrogênio, gás natural ou monóxido de car- bono. Quando se emprega o último composto, a reação de formação de carbonila segue imediatamente a redução. A velocidade da corrente gasosa através da câmara de pressão deve ser tal que dê uma concentração de 6% de carbonila de ferro no gás. Durante a decomposição da carbonila, a temperatura deve ser 200°C. Tem- peratura inferior provoca decomposição incompleta e temperatura acima de 400°C provoca oxidação das partículas de ferro na atmosfera de monóxido de carbono. Quando se pretende obter pós finos e muito puros, devem-se providenciar câmaras suficientemente grandes para que a decomposição se efetue nas paredes ou na refrigeração interior dessas paredes. Pode-se misturar a carbonila com a corrente quente de um gás para se obter um precipitado fino. Os pós obtidos por esse processo podem ser reduzidos a granu- lações menores por moagem em atmosferas neutras para evitar inflamações espon- tâneas do pó. Apesar das ótimas características dos pós, seu uso tem sido restringido pelo elevado custo de fabricação. Uma das principais características dos pós é a desinterização que compen- sa largamente a fraca compressibilidade das partículas esféricas e certas impurezas como carbono, e em menor grau o oxigênio. Contatou-se que pequena percentagem de ferro proveniente da carbonila, adicionada a ferro esponja reduzido pelo hidrogê- nio, melhora bastante suas características sem alterar muito seu custo. Os pós de ferro obtidos por esse processo são empregados, com excelen- tes resultados, na fabricação de núcleos de bobinas. O pó de níquel produzido pela decomposição de sua carbonila é muito fino e de elevada pureza, mas o preço de produção tem limitado muito seu emprego. A carbonila é produzida através de uma câmara, onde o níquel se deposita em partículas microscópicas em torno de 0,01 mícrons. Essas partículas servem de núcleos para decomposições sucessivas, obtendo-se depois de meses de precipitação, granulados de 6 mm a 13 mm de diâmetro, formados de camadas à semelhança de uma cebola. Em menor escala, esse processo tem sido usado na produção de pós de cobalto, molibdênio e outros metais. 50 - Desenvolvimento da Metalurgia do Pó 1.13.2.2 Processos químicos Redução – grande número de metais é obtido de seus óxidos pela ação de um elemento redutor sólido ou gasoso. Assim, ferro, cobre, chumbo, zinco, estanho e outros são reduzidos, de seus óxidos, pelo carbono, em temperaturas acima do ponto de fusão desses metais, metalurgia clássica, ou abaixo desse ponto, metalurgia do pó. O tratamento dos óxidos metálicos, reduzidos a pó, em temperaturas ele- vadas e abaixo do ponto de fusão, e em atmosferas redutoras, tornou-se uma das grandes fontes de produção de pós metálicos, porque permite obter esses pós com propriedades controladas pela variação do processo de redução e da velocidade de redução. A finura do pó a que o óxido