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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA - CERES THIAGO DOUGLAS SILVA DE MEDEIROS DINÂMICA GEOMORFOLÓGICA E SUSCETIBILIDADE EROSIVA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO BARRA NOVA, REGIÃO DO SERIDÓ, NORDESTE DO BRASIL CAICÓ 2021 THIAGO DOUGLAS SILVA DE MEDEIROS DINÂMICA GEOMORFOLÓGICA E SUSCETIBILIDADE EROSIVA NA BACIA DO RIO BARRA NOVA, REGIÃO DO SERIDÓ, NORDESTE DO BRASIL Dissertação apresentada como trabalho de conclusão do curso de Pós-graduação em Geografia - CERES, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/ CAMPUS Caicó, como requisito à obtenção do título de Mestre em Geografia. Orientador: Prof. Dr. Saulo Roberto de Oliveira Vital. Coorientador: Prof. Dr. José Yure Gomes dos Santos. CAICÓ 2021 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Profª. Maria Lúcia da Costa Bezerra - -CERES- - Caicó Medeiros, Thiago Douglas Silva de. Dinâmica Geomorfológica e Suscetibilidade Erosiva na Bacia Hidrográfica do Rio Barra Nova, Região do Seridó, Nordeste do Brasil / Thiago Douglas Silva de Medeiros. - Caicó, 2021. 97f.: il. color. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ensino Superior do Seridó. Programa de Pós-Graduação em Geografia - GEOCERES. Orientador: Prof. Dr. Saulo Roberto de Oliveira Vital. Coorientador: Prof. Dr. José Yure Gomes dos Santos. 1. Erosão. 2. Suscetibilidade à erosão. 3. Relevo. 4. Uso da terra. 5. Equação Universal de Perdas de Solo (USLE). I. Vital, Saulo Roberto de Oliveira. II. Santos, José Yure Gomes dos. III. Título. RN/UF/BS-Caicó CDU 911.2:554.1(81) Elaborado por MARTINA LUCIANA SOUZA BRIZOLARA - CRB-15/844 AGRADECIMENTOS Este trabalho tem a colaboração, contribuição, ajuda, e outros mais sinônimos, de muitas amigas e amigos. Logo, quero deixar aqui meus agradecimentos a todas e todos que participaram dessa minha trajetória e citar algumas pessoas que se fizeram mais presentes ao longo desses dois anos. Em primeiro lugar, obrigado, Deus. Foram muitos dias de orações e pedidos de orientações e discernimentos, paciência e força, para continuar a jornada. Muito obrigado por toda ajuda dada ou enviada. Realmente, tudo acontece em seu tempo, ficando assim ao nosso livre arbítrio o entendimento de aguardar ou sofrer tentando mudar isso. Quero agradecer também, a toda ajuda prestada pelos meus familiares. Em especial aos meus pais; Ailson Medeiros e Vilanira Silva de Medeiros. A vocês, minha gratidão por todos os conselhos e encorajamentos dados até os dias de hoje. Também agradecer as ajudas de Valdete, que me ajudou no início dessa empreitada para adquirir o necessário no desenvolvimento da minha pesquisa. Durante o desenvolvimento deste trabalho, não seria possível fazê-lo apenas com a ajuda popular. Logo, uma eterna gratidão ao meu orientador Saulo Roberto de Oliveira Vital, que sempre esteve presente quando o procurava para a resolução dos problemas científicos e para a tomada das melhores decisões no caminho acadêmico. Aproveito para agradecê-lo à escolha das colaborações pela Coorientação do professor José Yure Gomes dos Santos. Para meu Coorientador, muito obrigado por sua paciência, suas madrugadas dedicadas à minha orientação, as sugestões e insistências em fazer o certo. Sei que dei trabalho por nem sempre entender de primeira o que pedia, mas não desistiu do seu papel de coorientador. Meu muito obrigado! Ainda no ambiente acadêmico, gostaria de citar alguns nomes importantes, principalmente para momentos descontraídos. Anderson e Douglas, obrigado pela amizade e conversas mais aleatórias que pude ter no Laboratório de Geoprocessamento e Geografia Física (LAGGEF). Muitas eram sobre trabalhos, mas muitas não significam todas. Senhorita Flávia, obrigado por me fazer enxergar que sempre pode haver problemas maiores que os meus e que os meus também podem piorar, saudades dos desabafos. Moisés e Fernanda, obrigado por serem a figura dos acadêmicos com seriedade, mesmo durante os momentos descontraídos. Agora, Matheus, Jucielho, Fernando, Hígor, Isa, Carol, Rayane e Diego, se sofri não foi com vocês, porque até sorrir do próprio sofrimento vocês me ensinaram. Para Jéssica e Ravena, obrigado pelos conselhos e ajudas prestadas. Tanto falamos que agora estamos aqui, mais um final. E é falando de finais que venho agradecer aos meus amigos Edson e Janaína, os quais estão comigo muito antes da ideia de sonho de mestrado. Ajudas que vem e que vão sem nada em troca. Já passamos por muitos finais, mas carrego vocês sempre comigo. Não só de fins vivemos, mas também de começos e recomeços. Aqui vão três gratidões de longas datas, datas estas que abarcam meu pessoal, profissional e acadêmico. Glauber, Rafaela e Yasmim, três grandes amigos, três pessoas que sempre colaboraram e incentivaram o meu crescimento. Apoio ou apoiador, conselho ou conselheiro, mesmo distantes sempre estão comigo. O combinado é os quatro juntos na velhice, não deixarei esquecerem disso. Em especial, agradeço a toda ajuda de Naína, uma grande amiga que a UFRN me deu sem saber. Conversamos tanto, resolvemos muito, muitos cafés e ajudou bastante durante o mestrado. Falando em cafés, obrigado também ao Senhor Wedson por descontrair um pedaço dos três turnos em que eu ficava desenvolvendo trabalhos dentro da UFRN. Obrigado aos dois por estarem comigo durante a pós-graduação. Também agradeço a Helena e Josy. Foram muitas tardes perturbando e sendo perturbado, mas sempre com cafés deliciosos. Trabalhávamos enquanto matávamos o tempo conversando sobre tudo e sonhando com uma Caicó menos quente. Sempre sorriamos e voltava para casa com um pouco mais de paz de espírito. Obrigado, meninas. Obrigado também aos demais professores que me ajudaram de alguma forma com este trabalho, tanto o corpo docente do programa de mestrado, como também os membros que se tornaram amigos no passar do tempo: Betânia, Bruno, Caio, Tânia e Sara. Vocês ajudaram muito. Obrigado. Enfim, obrigado a todos que, de alguma forma, me ajudaram a chegar até esse momento. Nesses dois anos aconteceram muitas coisas, mas todos vocês me ajudaram a permanecer firme para concluir esse trabalho, nosso trabalho. Eu o produzi, mas não teria sido possível sem a ajuda de todos vocês. Muito Obrigado! Deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim dum jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas um semente e eu plantasse você esperando ver nascer uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois portas. (ABREU, 2009). RESUMO A erosão dos solos pela ação hídrica constitui-se hoje em um problema ambiental que afeta diferentes regiões em todo o globo. O uso desordenado da terra em bacias hidrográficas pode potencializá-lo, desencadeando diversos problemas; a exemplo: deslizamentos, desmoronamentos, assoreamento de reservatórios, entre outros. Assim, é importante realizar análises de implicações nas alterações do uso da terra que venham a gerar sedimentos e perdas de solo. A presente pesquisa objetiva analisar as relações entre o uso da terra e a dinâmicageomorfológica, na Bacia do Rio Barra Nova através de três mecanismos: mapeamento do uso da terra na Bacia do Rio Barra Nova; analisar a dinâmica geomorfológica da região a partir da identificação dos diferentes compartimentos do relevo; e inferir o atual estágio de perdas de solo da Bacia do Rio Barra Nova, a fim de elucidar o nível de suscetibilidade à erosão em toda a bacia. Para tanto foram utilizadas imagens de sensores orbitais para mapeamento do uso da terra e identificação de aspectos geomorfológicos da bacia, além de dados de precipitação e solo. Para a estimativa de perda de solo foi utilizada a Equação Universal de Perdas de Solo (USLE). O mapeamento do uso da terra identificou 11 classes de uso que foram verificadas em campo, destacando-se a classe Pastagem para Animais pelo seu maior predomínio representando 53,15% de área, seguida das classes Caatinga Degradada, Cultivo Temporário Diversificado, Caatinga Arbustiva, Reservatórios Artificiais, Cidades, Uso não Identificado, Caatinga Arbórea, Vilas, Extração de Minerais não Metálicos e Outras áreas Urbanizadas. Também foi realizado o mapeamento geomorfológico até o 4º táxon da metodologia proposta por Ross (1992), identificando 9 modelados em toda a bacia hidrográfica, a qual apresenta índice de dissecação variando entre moderado e muito forte. Quanto à USLE, a bacia mostrou estar em sua maioria classificada com uma estimativa de perda de solo moderada, mas apresentando, se medida por unidades de uso da terra, classificação desde muito baixa até extremamente severa e se medida por modelados, classes de severa a muito severa. Assim, a Bacia Hidrográfica do Rio Barra Nova já demonstra sinais da necessidade de um olhar mais cuidadoso quanto aos usos da terra existentes, para uma melhor gestão de seus recursos naturais e na mitigação da suscetibilidade a erosão, evitando impactos derivados da alta produção de sedimentos. A pesquisa demostra também eficiência na metodologia aplicada tanto para a produção cartográfica quanto para sua verificação, o que permitiu ter mais clareza da realidade do espaço estudado. Palavras-chave: Erosão; Suscetibilidade; Relevo; Uso da terra; USLE. ABSTRACT Soil erosion by water action is today an environmental problem that affects different regions across the globe. The disordered use of land in hydrographic basins can enhance it, triggering several problems; for example: landslides, landslides, silting of reservoirs, among others. Thus, it is important to carry out analysis of implications for changes in land use that may generate sediment and soil losses. This research aims to analyze the relationship between land use and geomorphological dynamics in the Barra Nova River Basin through three mechanisms: mapping land use in the Barra Nova River Basin; to analyze the geomorphological dynamics of the region from the identification of the different compartments of the relief; and infer the current stage of soil losses in the Barra Nova River Basin, in order to elucidate the level of susceptibility to erosion in the entire basin. For this purpose, images from orbital sensors were used to map land use and identify geomorphological aspects of the basin, in addition to rainfall and soil data. For the estimation of soil loss, the Universal Soil Loss Equation (USLE) was used. The mapping of land use identified 11 classes of use that were verified in the field, the Pasture for Animals class standing out for its greater predominance representing 53.15% of area, followed by the classes Degraded Caatinga, Diversified Temporary Cultivation, Caatinga Shrub, Artificial Reservoirs, Cities, Unidentified Use, Arboreal Caatinga, Villages, Extraction of Non- Metallic Minerals and Other Urbanized Areas. Geomorphological mapping was also performed up to the 4º taxon of the methodology proposed by Ross (1992), identifying 9 modeled across the hydrographic basin, which has a dissection index ranging from moderate to very strong. As for the USLE, the basin was mostly classified with an estimate of moderate soil loss, but presenting, if measured by land use units, classification from very low to extremely severe and if measured by modeled, classes from severe to very severe. Thus, the Barra Nova River Basin already shows signs of the need for a more careful look at the existing land uses, for a better management of its natural resources and in mitigating the susceptibility to erosion, avoiding impacts derived from the high production of sediments. The research also demonstrates efficiency in the methodology applied both for the cartographic production and for its verification, which allowed to have more clarity of the reality of the studied space. Keywords: Erosion; Susceptibility; Relief; Land use; USLE. LISTA DE QUADROS QUADRO 01 – Sistema básico de classificação de uso e cobertura da terra – SCUT..... 45 QUADRO 02 – Chave de interpretação da adaptação realizada na classificação das unidades que representam vegetação..................................................... 48 QUADRO 03 – Estações analisadas, séries históricas e seus períodos de falhas de dados..................................................................................................... 51 QUADRO 04 – Descrição dos pontos de validação........................................................ 62 QUADRO 05 – Fator K e características granulométricas dos solos da Bacia Rio Barra Nova...................................................................................................... 77 LISTA DE FIGURAS FIGURA 01 – Taxonomia de geossistemas................................................................ 21 FIGURA 02 – Mapa de localização da Bacia do Rio Barra Nova................................ 29 FIGURA 03 – Localização da Bacia do Barra Nova na divisão de Bacias Hidrográficas....................................................................................... 30 FIGURA 04 – Mapa de solo da Bacia do Rio Barra Nova........................................... 35 FIGURA 05 – Esquematização operacional da pesquisa científica............................. 41 FIGURA 06 – Mosaico elaborado e Bacia do Rio Barra Nova com sua drenagem...... 42 FIGURA 07 – Hipsometria e Declividade (graus) da Bacia Hidrográfica do Rio Barra Nova........................................................................................... 43 FIGURA 08 – Perfis dos vales que representam cada classe de dissecação da matriz de Ross (1994). Proposta de classificação da dissecação feita Ross e propostas alternativas.......................................................................... 50 FIGURA 09 – Mapa das unidades de uso da terra na Bacia do Rio Barra Nova........... 56 FIGURA 10 – Gráfico do número de estabelecimentos agropecuários com efetivo da pecuária e Número de cabeças, por tipologia, espécie da pecuária e condição do produtor em relação às terras......................................... 57 FIGURA 11 – Área (km²) por unidades de uso da terra............................................... 59 FIGURA 12 – Mapa de validação das unidades de uso da terra................................... 61 FIGURA 13 – Mapa Geomorfológico da Bacia do Rio Barra Nova............................ 65 FIGURA 14 – Área de Dissecação de topos tabulares na Bacia do Rio Barra Nova.... 68 FIGURA 15 – Dissecação de Topos Convexos........................................................... 69 FIGURA 16 – Encosta Sem Cobertura Coluvial......................................................... 69 FIGURA 17 – Encosta Com Cobertura Coluvial........................................................ 70 FIGURA 18 – Pediplano Retocado Desnudado a 150, 200, 250 e 300 metros, respectivamente................................................................................... 71 FIGURA 19 – Maciço Serra do Poção, domunicípio de Ouro Branco........................ 72 FIGURA 20 – Leito do Rio Barra Nova em Caicó – RN............................................. 73 FIGURA 21 – Evolução anual da precipitação médias pluvial na bacia do Rio Barra Nova.................................................................................................... 74 FIGURA 22 – Valores do fator R................................................................................ 75 FIGURA 23 – Mapa das classes de solo e seus respectivos valores de K.................... 76 FIGURA 24 – Fator C e os tipos de uso da terra.......................................................... 78 FIGURA 25 – Mapa da espacialização do valor de LS na Bacia do Rio Barra Nova... 79 FIGURA 26 – Estimativa de perda de solo Na Bacia Hidrográfica Rio Barra Nova.... 81 LISTA DE TABELAS TABELA 1 – Nível de declividade em porcentagem por limitação do relevo.............. 44 TABELA 2 – Classificação das perdas de solo em bacias hidrográficas conforme Irvem et al. (2007).................................................................................. 54 TABELA 3 – Fator K e características granulométricas dos solos da Bacia Rio Barra Nova....................................................................................................... 76 TABELA 4 – Classificação de perda de solo utilizado neste estudo............................. 80 TABELA 5 – Distribuição qualitativa das perdas de solo para o cenário de 2018........ 82 TABELA 6 – Perda de solo estimada por tipo de uso da tela........................................ 84 TABELA 7 – Perda de solo estimada por modelados da Bacia do Rio Barra Nova...... 84 TABELA 8 – Estimativa de perda de solo para as morfoesculturas da Bacia Hidrográfica do Rio Barra Nova............................................................ 85 LISTA DE SIGLAS USLE Equação de Perda de Solo (Universal Soil Loss Equation) SIG Sistema de Informação Geográfica ANA Agência Nacional das Águas e Saneamento Básico BP Baixa Pressão AP Alta Pressão ZCIT Zona de Convergência Intertropical VCANs Zona de Convergência Intertropical MEAN Massa Equatorial do Atlântico Norte MEAS Massa Equatorial do Atlântico MAP Massa Polar Atlântica MTA Massa Tropical Atlântica MEC Massa de ar Equatorial Continental DNOCs Departamento Nacional de Obras Contra as Secas SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste MDE Modelo Digital de Elevação EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária SiBCS Sistema Brasileiro de Classificação de Solos SIRGAS Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas CBERS China-Brazil Earth-Resources Satellite PAN Pancromático R Vermelho (red) G Verde (gree) IVP Infravermelho próximo INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais SCUT Sistema básico de classificação de uso e cobertura da terra A Perda de solo R Índice de erosão K Fator de erodibilidade LS Fator topográfico C Fator de cobertura e manejo do solo P Fator de práticas conservacionistas RPA Aeronaves Remotamente Pilotadas) SDR Sediment Delivery Ratio IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 14 1.1 Objetivos ........................................................................................................................ 16 1.1.1 Objetivo Geral ............................................................................................................... 16 1.1.2 Objetivos Específicos .................................................................................................... 16 1.2 Justificativa ............................................................................................................... 16 2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 18 2.1 Dinâmica Geomorfológica e erosão em bacias hidrográficas ................................... 18 2.1.1 O estudo de bacia hidrográfica na geomorfologia ................................................................ 18 2.1.2 Erosão em bacias hidrográficas ............................................................................................ 20 2.2 Uso da terra em regiões semiáridas ............................................................................. 22 2.3 Modelos Hidrossedimentológicos ................................................................................ 25 3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ............................................................. 27 3.1 Aspectos Climatológicos ............................................................................................... 28 3.2 Geologia e Geomorfologia ............................................................................................ 30 3.3 Solos ................................................................................................................................ 32 3.4 Vegetação ....................................................................................................................... 34 3.5 Breve caracterização histórica do semiárido brasileiro ............................................ 34 4 METODOLOGIA ................................................................................................................ 37 4.1 Abordagem Metodológica ............................................................................................ 37 4.2 Procedimentos Metodológicos ..................................................................................... 39 4.2.1 Preparação da Base Cartográfica .......................................................................................... 39 4.2.3 Análise da dinâmica geomorfológica ................................................................................... 47 4.2.4 Estimativa de perdas de solo na Bacia do Rio Barra Nova .................................................. 49 5 ANÁLISE DO USO DA TERRA ....................................................................................... 53 6 ANÁLISE GEOMORFOLÓGICA DA BACIA DO RIO BARRA NOVA .................... 62 7 ESTIMATIVA DAS PERDAS DE SOLO ......................................................................... 72 7.1 Fator R ........................................................................................................................... 72 7.2 Fator K ........................................................................................................................... 73 7.3 Fator C ........................................................................................................................... 75 7.4 Factor LS ....................................................................................................................... 76 7.6 USLE .............................................................................................................................. 78 8 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 84 9 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 86 14 1 INTRODUÇÃO A erosão dos solos constitui-se hoje em um problema ambiental que afeta todas as regiões do globo. Compreender esse processo torna-se difícil pela complexidade de fatores atuantes; por exemplo: clima, vegetação, solos, a geologia, geomorfologia da área e asmodificações feitas pelo homem, cada fator atuando de forma direta ou indireta e a soma dessas atuações gerando muitas pesquisas sobre o tema. Nascimento e Santos (2019), afirmam em seu estudo que o uso da terra em bacias hidrográficas para o desenvolvimento de atividades humanas tem causado alterações significativas e problemas como o empobrecimento dos solos (a partir do carreamento dos nutrientes do solo), poluição das águas, assoreamento de rios e reservatórios, bem como contribuir para enchentes em eventos extremos. Desta forma, o uso da terra é um fator preponderante para a atenuação ou intensificação de processos erosivos. Áreas que possuem uma cobertura do solo adequada, com mecanismos de redução dos impactos causados pelas gotas de chuva no solo, apresentam menor potencial para a produção de sedimentos. Em contrapartida, áreas com coberturas do solo inadequadas, desprotegidas e expostas aos impactos das gotas de chuva no solo, apresentam elevados índices erosivos (SANTOS et al., 2000). Então, a erosão, como relatado por muitos autores, é um fenômeno natural e que, por ação do homem, pode ser intensificada (LIMA; OLIVEIRA; AQUINO, 2002; TIZ; CUNHA, 2007; SILVA et al., 2015). E “a suscetibilidade é o quão provável um determinado fenômeno pode ocorrer independente dos fatores sociais, mas tendo a sociedade como elemento de interferência que acelera ou retarda” (GIRÃO et al., 2018, p 73). Ou seja, a suscetibilidade à erosão mostra como a sociedade tem influenciado em determinado espaço no processo erosivo e como essa influência tem deixado este determinado espaço a disposição da erosão. Saulo e Girão (2015), afirmam que para entender as mudanças da paisagem é fundamental conhecer e compreender a morfodinâmica da área, além de relacioná-la as ações antrópicas de uso da terra, isso porque estaria atrelado de forma significativas a essas mudanças. Logo, a morfodinâmica respalda sobre os aspectos físico-naturais ligados a erosão, e o uso da terra aponta como o homem interfere e/ou intensifica esse processo. Neste sentido, é importante realizar análises das implicações das alterações do uso da terra na produção de sedimentos e conhecer as relações que esses usos possuem com a geomorfologia. As análises de produção de sedimentos também podem ser elaboradas a partir da utilização de modelos hidrossedimentológicos, como mostram diversos autores (FARINASSO 15 et al., 2006; SILVA; MONTENGRO; SANTOS, 2012; SANTOS et al., 2014; OLIVEIRA; SERAPHIM; BORJA, 2015; NASCIMENTO; SANTOS, 2019). Esses estudos realizam estimativas em uma determinada área partindo de características fisiográficas pré-determinadas em bacias hidrográficas. Dentre os modelos hidrossedimentológicos existentes, destaca-se a Equação Universal de Perdas de Solo (USLE), desenvolvida por Wischmeier e Smith (1978), que estima a perda de solo a partir da influência de fatores como pluviometria, tipo de solo, comprimento e declividade das encostas, uso da terra e práticas conservacionistas. A integração de modelos desse tipo com o Sistema de Informação Geográfica (SIG) permite a espacialização das propriedades físicas e características das bacias para a modelagem, além da visualização espacial da distribuição dos resultados dos processos hidrossedimentológicos, bem como a produção de mapas temáticos para análise. O Semiárido brasileiro, assim como as demais regiões semiáridas do mundo, possui características exclusivas nos aspectos físico-naturais (SAULO; GIRÃO, 2015). No livro “Seridó norte-rio-grandense: uma geografia da resistência”, de Morais (2016), vários são os momentos em que são apontados a importância dessas características na formação do território, principalmente no entorno de canais fluviais, ao longo das principais bacias hidrográficas. Porém, o uso da terra em margens de rios, pode gerar impactos consideráveis, dentre eles, a erosão. Santoro (2009, p. 55), afirma que “enquanto a dinâmica da erosão segue uma evolução natural, o sistema ambiental mantém-se em equilíbrio dinâmico. Porém, a partir das intervenções antrópicas, à medida que mais áreas são desmatadas para a produção agrícola, o processo de erosão tende a se acelerar”. Ao apontar sobre a importância da análise de erosão a partir da compreensão do uso da terra, da morfodinâmica e produção de sedimentos, percebe-se que estes fatores são centrais para estudos de impactos sobre bacias hidrográficas, uma vez que estes agem como modeladores. E, também, torna-se imprescindível conhecer a dinâmica do espaço em relação as atividades antrópicas, pois os problemas relacionados a esta vêm gerando preocupações e motivando estudos em diferentes áreas do conhecimento. A Bacia Hidrográfica Rio Barra Nova, encontra-se inserida nesse contexto. De clima semiárido, relevos com declividades consideráveis, solos geralmente pouco desenvolvidos e, em grande parte do ano, expostos por falta de uma cobertura vegetal, a qual durante período de estiagem fica sem suas copas para se manterem vivas, além das atividades antrópicas que são desenvolvidas na área. 16 1.1 Objetivos 1.1.1 Objetivo Geral Analisar as relações entre o uso da terra e a dinâmica geomorfológica na Bacia do Rio Barra Nova. 1.1.2 Objetivos Específicos • Mapear o uso da terra na Bacia do Rio Barra Nova, a fim de compreender as atividades que se desenvolvem nessa área e sua influência sobre a dinâmica geomorfológica; • Analisar a dinâmica geomorfológica da bacia hidrográfica a partir da identificação dos diferentes compartimentos do relevo até seu 4º nível taxonômico; • Inferir o atual estágio de perda do solo na Bacia do Rio Barra Nova, a fim de elucidar o nível de suscetibilidade à erosão em toda a bacia. 1.2 Justificativa À luz dos conhecimentos da ciência geográfica, percebe-se uma importante relação de propriedade com a pesquisa, uma vez que englobam questões relativas ao planejamento e gestão ambiental, sobretudo no tocante ao uso da terra, sua relação com a geomorfologia e as repercussões na hidrografia. Isso pois, a forma como o espaço geográfico é produzido exerce influência sobre os riscos e vulnerabilidades eminentes e as bacias hidrográficas que estão inseridas no contexto urbano/rural tornam-se, assim, palco de inúmeros problemas socioambientais. Além disso, a bacia em questão também exerce papel importante para os municípios que a compõem, tendo em vista o abastecimento de reservatórios públicos e particulares, o que é fundamental em região semiárida para o convívio com a estiagem e desenvolvimento de diversas atividades econômicas. Por fim, a pesquisa também se justifica pelas incertezas sobre a que grau de suscetibilidade à erosão em que se encontra a bacia em questão, assim como as consequências do desmatamento ao longo das margens dos rios e reservatórios do semiárido nordestino. O fato 17 de ainda existirem poucas investigações sobre a repercussão do uso da terra na dinâmica geomorfológica e dos recursos hídricos em áreas semiáridas também justifica esse estudo. 18 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Dinâmica Geomorfológica e erosão em bacias hidrográficas 2.1.1 O estudo de bacia hidrográfica na geomorfologia Christofoletti (1999) aborda a organização espacial como a proposta mais adequada para se trabalhar como conceito geográfico, pois abrange todos os enunciados do cenário científico atual. Assim, seria englobado tanto o socioeconômico quanto o geossistema. Para além disso, ele complementa afirmando que: “todavia, deve-se evitar cometer enganos: a Geografia não é o estudo do espaço nem simplesmente dos lugares, mas sim da organização espacial” (CHRISTOFOLETTI, 1999, p. 41). Dentro da Geografia há o estudo dividido em estrutura e funcionamento; são elas a Geografia Física e a Geografia Humana. Na Geografia Física existe a preocupação em compreender e/ouconhecer a organização espacial dos sistemas ambientais físicos, que também podem ser chamados de geossistemas. Estes, segundo Christofoletti (1999), correspondem aos componentes que se mostram visivelmente no espaço e o ocupam, além de também serem possíveis de visualização em documentos; a exemplo: fotos aéreas, imagens de radar e satélite, entre outros. Assim, a topografia, a vegetação, os solos e as águas podem ser entendidos como geossistemas, claro que na forma de atuação da organização espacial. Os sistemas ambientais físicos representam a organização espacial resultante da interação dos elementos componentes físicos da natureza (clima, topografia, rochas, água, vegetação, animais e solos) possuindo expressão espacial na superfície terrestre e representando uma organização (sistema) composta por elementos, funcionando através dos fluxos de energia e matéria, dominante numa interação areal. As combinações de massa e energia, no amplo controle energético ambiental, podem criar heterogeneidade interna no geossistema, expressando-se em mosaico paisagístico (CHRISTOFOLETTI, 1999, p. 42). A história dos geossistemas parte da literatura soviética, por Sotchava (1962), baseado na preocupação de designar uma tipologia apropriada aos fenômenos geográficos. Sotchava (1977), define geossistema com fenômenos naturais influenciados por fatores econômicos e sociais que compõe as estruturas e particularidades espaciais. E Christofoletti (1999), apresenta a classificação proposta por Sotchava (1963) e Isachenko (1972), onde se classifica o espaço e tudo nele, em três escalas: topologia, regional e planetária. Daí, em escala decrescente de categorias distingue geossistema, geócoros, geômeros e geótopos. 19 Já para Bertrand (1972), geossistema é uma determinada porção do espaço, resultante da combinação dinâmica, logo, instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos, fazendo com que a paisagem seja única e indissociável, em perpétua evolução. Além disso, o autor propõe uma taxonomia, hierarquizando a paisagem em seis níveis temporo-espaciais. Nas unidades superiores se encontram a zona, o domínio e a região, as mesmas correspondem às grandezas de I à VI de Tricart (CHRISTOFOLETTI, 1999). E nas unidades inferiores estão os geossistema, o geofácies e geótopo, os quais representam as grandezas de V à VIII de Tricart (CHRISTOFOLETTI, 1999) (FIGURA 1). Anos mais tarde, teria o próprio Bertrand, em 2007, dito que o termo geossistema seria inapropriado em sua proposta e que geocomplexo tornar-se-ia mais apropriado quando falado das unidades taxonômicas. Deste modo, o geocomplexo pode ser entendido como a escala de análise geográfica, enquanto o termo geossistema passa a ser a categoria de análise que guia a abordagem nesta teoria (SOUZA, 2010; SILVA, 2012; DINIZ E OLIVEIRA, 2015). FIGURA 1 – Taxonomia de geossistemas Fonte: Paisagem e Geografia Física global: esboço metodológico, BERTRAND, 1972. Fazendo uso da abordagem holística, mencionada por Christofoletti (1999), a qual trabalha na análise dos sistemas ambientais inteirada aos sistemas sociais e econômicos, e aplicando à visão geosistêmica de Bertrand (1972), é permitido compreender a bacia hidrográfica como unidade de análise ambiental, alcançando as interações físicas e sociais (ROSA, 2018). Portanto, a área de estudo do presente trabalho, a Bacia do Rio Barra Nova, está exatamente dentro destas características de análise, onde pela classificação sistêmica de 20 Christofoletti (1999), a mesma é entendida como um sistema não isolado aberto, onde a ação do homem passa a ser também energia nesse sistema, contribuindo para o seu modelamento. Para além disso, deve-se complementar à abordagem trazendo a ecodinâmica de Tricart (1977), onde sabe-se que a partir das modificações realizadas pelo homem ao ecossistema, seja ele qual for, haverá modificações. E que, dentro dessas, o ecossistema poderá estar classificado como estável, intergrades e/ou fortemente instáveis, mas que também estará buscando constantemente, tornar-se estável (ROSA, 2018). Dessa forma, essa discussão leva a crer que a Bacia do Rio Barra Nova, ao sofrer com a interferência do homem, não se configura como meio estável, mas que está, por meio de fenômenos naturais, buscando sua estabilidade. Seria uma possível forma à busca constante do nível de base, onde áreas elevadas são erodidas e áreas muito rebaixadas são assoreadas, ou agradadas. Mas, por meio da ação humana, por exemplo, a construção de barragens, pode acontecer uma diferenciação de nível de base para determinada área, fazendo assim, modificações relativas nas áreas de drenagem. 2.1.2 Erosão em bacias hidrográficas Os conceitos de bacia hidrográfica e de erosão são diversos, mas que, de forma geral, apontam para uma mesma definição. Para bacia hidrográfica é entendida toda área da superfície terrestre que tem sua drenagem delimitada pelos divisores de água, a partir da definição de um dado ponto de saída, drenando o fluxo das águas através de um rio principal e seus tributários, convergindo o escoamento para um único ponto: denominado de exutório. (JORGE; UEHARA, 1999; NOVO, 2008; GROTZINGER; JORDAN, 2013; COLLISCHONN; DORNELLES, 2015). A erosão tem sua etimologia vinda do latim erodere, que significa corroer. Essa palavra é usada quando se refere ao desgaste da superfície da Terra causado por ações conjuntas de agentes naturais como a água corrente, o gelo o vento e organismos vivos (ROCHA, 2007). Outra definição utilizada é que erosão significa a “destruição das saliências ou reentrâncias do relevo, tendendo a um nivelamento ou colmatagem, no caso de litorais, enseadas, baías e depressões” (GUERRA, 1993, p. 153) Magalhães (2001, p. 155), traz que “erosão é resultado do impacto sobre as propriedades físicas do solo, e impacta o meio ambiente”. Silva (1995, p. 02), descreve a erosão como sendo “constituída pelo grupo de processor sob os quais material terroso ou rochoso é desagregado, decomposto e removido de algumas superfícies terrestre. É um processo natural de exposição 21 das rochas a condições diferentes das de sua formação”. E Santos (2010, p. 20), que afirma ser “um fenômeno natural que ocorre lentamente a partir de diversas forças motrizes ambientais na condição de intempéries (ventos, chuva, temperatura, etc.) e que tem função essencial na conformação geomorfológica-topográfica da superfície terrestre”. No manual técnico de Geomorfologia (IBGE, 2009), a definição de erosão se encontra da forma mais abrangente possível, tanto em como atua, como em onde atua. Ele afirma que erosão é um conjunto de agentes dinâmicos que atuam de maneira combinada, todos dissecando ou agradando a superfície terrestre, isso por meio de intemperismo, transporte, ações mecânica e química da água corrente e de outros agentes erosivos. Em outras palavras, erosão, como apresentado pelos autores supracitados, é um fenômeno natural e que, por ação do homem, pode ser intensificada (LIMA; OLIVEIRA; AQUINO, 2002; TIZ; CUNHA, 2007; SILVA et al., 2015). Portanto, a erosão como fenômeno natural, pode atuar de diferentes formas a depender do tipo de agente. São apontados como tipos a água, o vento, a temperatura e a ação biológica. Dentro destes, existem especificações de tipos, o que irá definir a forma de erosão. Já as formas são erosão hídrica, erosão eólica, erosão marítima, erosão glacial e erosão a partir da decomposição por intemperismo físico (SILVA, 1995). E, entre os fatores existentes, os de maior destaque nos estudos sobre erosão são: o regime de chuvas, a topografia do terreno, a cobertura vegetal, a natureza do solo e há autores que mencionam a ação antrópica. O regime de chuvas implica no conhecimento do volume e a velocidade da enxurrada, intensidade, duração e frequência. A topografia do terreno estárelacionada a declividade, a qual influenciará na velocidade e no volume da água em escoamento. A cobertura vegetal já traz um pouco do fator ação antrópica. Isso pois, ela é importante para preservação do solo, diminuição da erosão quando ocorrida pelo escoamento superficial, aumento na infiltração do solo, diminuição do assoreamento de canais fluviais, entre outros benefícios. Então como o homem tem feito o uso da terra em relação a vegetação? Suas atividades têm contribuído para a diminuição ou para a intensificação da dinâmica hidrossedimentológica? A natureza do solo também influencia na facilidade do escoamento superficial e subsuperficial, na percolação e infiltração, além de desprendimento e movimento de massa. “As propriedades físicas, principalmente estrutura, textura, permeabilidade e densidade, assim como as características químicas e biológicas do solo exercem diferentes influências” (SILVA, 1995, p. 7). E a ação antrópica pode ser apresentada de várias formas, mas a presente pesquisa vem apresentá-la como uso da terra. A forma pela qual o homem está usando determinada área, 22 implica em quais impactos acontecerão e a intensidade dos mesmos, seja na zona urbana ou na zona rural. Essas ações também variam de uma região para outra do país ou entre os biomas, ou até mesmo nos diferentes climas do Brasil. O que não significa dizer existir apenas um tipo de erosão por área, na verdade sempre há mais de um tipo, mas sempre há um se destaca entre os demais. Como o presente estudo está trabalhando em escala de bacia hidrográfica no semiárido nordestino, sabe-se que a erosão hídrica é predominante. Está erosão pode apresentar as seguintes formas: laminar, ravinas e voçorocas (SILVA, 1995; IBGE, 2009). • Laminar: Conhecida como erosão em lençol ou superficial. Se caracteriza pela desagregação e arraste das partículas da superfície do solo em camadas uniformes, sem formar sulcos, desgastando a camada, por igual, retirando uma lâmina na superfície. É difícil de ser diagnosticada. • Ravinas: As águas concentram-se em determinados pontos, formando pequenos canais, drenos ou escoadouros, que vão se aprofundando, podendo, com o tempo, interferir no trabalho de preparo do solo • Voçorocas: É o deslocamento de grandes massas de solo de modo a formar sulcos imensos em extensão e profundidade. Essa forma de erosão não tem a mesma importância das demais face de sua limitada ocorrência, principalmente no nordeste brasileiro, favorecido pela forma de relevo suave. Logo, “a erosão de solos pode ser monitorada, analisada e compreendida em várias escalas; uma delas é a bacia hidrográfica” (GUERRA; MENDONÇA, 2012, p. 231). E mostra que estudos com essa temática possuem relevância, pois, como afirma Porto e Porto (2008), são nas bacias hidrográficas que se desenvolve as atividades humanas. Todos os sistemas sociais e econômicos, quanto sua estrutura física e concreta, estão inseridos em uma bacia. Assim, o exutório trará como resposta todos os processos que fazem parte desse sistema, com as alterações de uso da terra. 2.2 Uso da terra em regiões semiáridas A erosão dos solos é associada à elementos da natureza, por exemplo a quantidade e distribuição das chuvas, a declividade, o comprimento e forma das encostas, as propriedades químicas e físicas do solo, o tipo de cobertura vegetal. Isso também inclui à ação do homem, que por meio do uso da terra, na maioria das vezes, tende a acelerar os processos erosivos 23 (GUERRA; MENDONÇA, 2012). Dessa forma, ter a compreensão do uso da terra torna-se imprescindível para uma boa gestão e planejamento de áreas de interesse. A erosão do solo, atualmente, é um problema ambiental relevante, pois afeta produção de alimentos, áreas de vegetação, canais fluviais, entre outros. Esses impactos sempre são mais agravados quando associados a áreas com declividade acentuada, ou desmatadas, ou com solos compactados e com a inserção do homem (SILVA, 2017). Logo, ter esse entendimento em estudos sobre bacia hidrográfica, traz resultados que podem contribuir para um bom desenvolvimento econômico, qualidade de vida para a comunidade inserida na área, preservação do ecossistema e, consequentemente, um maior controle da erosão. Casseti (1991), faz uma discussão sobre o homem, sua forma de trabalho como apropriação da natureza, e algumas condições que são impostas pela natureza para o homem. Também, aponta possíveis implicações pela acomodação do homem nas vertentes; que ele traz como categoria de análise. Além disso, faz uma suscinta discussão sobre a relação vertente- sistema hidrográfico, onde mostra o equilíbrio funcional e o momento em que começa o desequilíbrio; sendo este justamente a partir de atividades do homem. Segundo Rosa (2018), o processo de desenvolvimento da sociedade deixou transformações na paisagem ao longo do tempo e uma das formas de se identificar isso tem sido a partir da análise do uso e cobertura da terra. Assim, baseado em Tricart (1977), o meio ambiente busca constantemente tornar-se estável. E, aplicando à visão geosistêmica de Bertrand (1972), é permitido compreender a bacia hidrográfica como unidade de análise ambiental, alcançando as interações físicas e sociais. Dessa forma, as análises ambientais realizadas em bacias hidrográficas devem trazer concomitantemente, aspectos físicos e sociais, buscando explicar e/ou mostrar se o meio em questão se apresenta estável, intergrades, ou fortemente estável. Na região semiárida, principalmente no interior dos estados, as cidades de pequeno e médio porte ainda apresentam grande dinâmica no meio rural. Por isso, se faz necessário entender que no espaço urbano e rural os padrões de ocupação divergem em razão da forma de uso e cobertura, porém os problemas convergem igualmente para a redução da qualidade ambiental (ROSA, 2018). Assim, estudos que englobam compreensões sobre erosão devem sempre trabalhar a bacia hidrográfica como um todo, e não apenas parte dela. Carvalho (2017), afirma que estudos sobre suscetibilidade a erosão em bacias hidrográficas devem trazer em seus mapeamentos as características topográficas, geológicas, geomorfológicas, pedológicas de vegetação e de uso e cobertura locais. E Rosa (2018), corrobora ao dizer que o comportamento de uma bacia deriva de suas características 24 morfológicas, mas também do uso da terra que acontece na mesma. Isto pois, sendo a bacia entendida como um sistema, as ações decorrentes das formas de uso da terra poderão acarretar impactos na estrutura do sistema. A importância de atingir o entendimento da dinâmica do uso da terra está em saber gerir e planejar, de forma adequada, determinada área, seja para uma melhor produção de alimentos, ou para uma exploração de recursos naturais de forma sustentável. No caso deste estudo, a busca por esse entendimento volta-se a uma bacia hidrográfica, a do Rio Barra Nova, na tentativa de compreender a suscetibilidade à erosão que existe na mesma. Esta abrange parte do território de dois estados; Rio Grande do Norte e Paraíba; e diferentes feições de relevo, o que implica em diferentes formas de uso em toda sua extensão. Para Silva (2017), quando aborda a relação entre relevo e o solo, está partindo da ideia de que o relevo influencia no desenvolvimento do solo e este na evolução do relevo. Para além disso, as ações antrópicas interferem de forma significativa na dinâmica dessa relação, onde, geralmente, ocorre de forma negativa. Essa interação entre o homem e o relevo existe desde que povos deixaram de ser nômades e passaram a fixar-se em lugares, se não mesmo ainda nômades, pois não dormiam e caçavam em qualquer ambiente. Essa fixação e desenvolvimento dos povos quanto sociedade gerou mudanças significativas nas áreas ocupadas, assim como as formas de gerir esse processo de ocupação e que atuam até os dias atuais.Casseti (1991), aponta que o gerenciamento de determinada área é regido ao modo de produção capitalista, ou seja, representa as relações de trabalho. Assim, a forma como o homem se relaciona entre si e com o modo de produção, define como eles se relacionam com a natureza. Logo, esta é definida pelo sistema social vigente. Dessa forma, o capitalismo, através de seu modo de produção, determina as relações de trabalho (sociais), e, consequentemente, as relações homem-natureza através de suas formas de uso. No caso da bacia em questão, primeiramente viu-se a necessidade de identificar as formas de produções existentes em sua extensão e corroborá-las. A partir desse mapeamento tentar compreender como a sociedade e o meio natural têm interagido e quais as possíveis consequências desencadeadas. E, diante das formas de mapear uso da terra e as nomenclaturas possíveis, trabalhos recentes têm utilizado o Manual técnico de Uso da Terra (IBGE, 2013) no contexto do semiárido brasileiro, mas com algumas adaptações para melhor aplicabilidade à realidade de uso da região (ALVES, 2009; DAS CHAGAS et al., 2019; BORGES DA SILVA et al., 2019; DA SILVA et al., 2019; MEDEIROS, 2019). 25 2.3 Modelos Hidrossedimentológicos Os modelos hidrológicos servem para mensurar e antecipar eventos de impacto, através de medidas preventivas, evitando eventos extremos; a exemplo: enchentes, desmoronamentos, entre outros (TUCCI, 1998). Assim, a partir do objetivo de estudo poderá ser definido o modelo e, consequentemente, saber quais as variáveis que se farão necessárias para o desenvolvimento de uma dada análise. Christofoletti (1999) cita a bacia hidrográfica como um exemplo de sistema não-isolado aberto, pois recebe influência de vários outros fatores, dinamizando-a. Além disso, Tucci (1998), afirma que sistema é qualquer engenho que possua uma saída e uma entrada. Assim, quando se concluí o sistema que será trabalhado ou analisado, procura-se, correlacionando com o objetivo da pesquisa, definir qual será o modelo. Logo, o modelo é a representação do comportamento de um sistema. Modelo hidrossedimentológico pode ser representado por modelos físicos, modelos analógicos e modelos matemáticos. O primeiro é uma representação de um protótipo em escala menor. O segundo é uma interpretação através de equações para diferentes fenômenos, modelando o sistema de forma mais convincente possível. E o terceiro é o que representa a natureza dos sistemas por meio de equações matemáticas. Estes são mais versáteis, pois podem exibir diferentes situações com grande velocidade de resposta, apenas modificando a lógica do modelo. Para Silva (2010), os modelos matemáticos vêm sendo mais utilizados, nas investigações sobre estimativa de vazão, erosão e produção de sedimentos em bacias hidrográficas. Além disso, ele cita que os modelos hidrológicos vêm se desenvolvendo usando a bacia hidrográfica como objeto de análise, abarcando todos os componentes do ciclo hidrológico. Santos (2015) afirma que nas últimas décadas, pesquisas têm buscado representar processos erosivos através de medidas, como o monitoramento de bacias hidrográficas, coletas de dados hidroclimatológicos, utilização de metodologias e técnicas de modelagem para análise dos processos de vazão e erosão. Assim, a utilização desses modelos se faz importante devido à pouca quantidade de dados hidrológicos em períodos contínuos e de extensão temporal suficiente para o desenvolvimento de estudos hidrológicos. Os mesmos, devidamente calibrados e validados, partindo de séries de dados observados de escoamento superficial e erosão, se configuram como 26 uma importante fonte de conhecimento da variação temporal das vazões e da produção de sedimentos em bacias hidrográficas (SANTOS; PAIVA; SILVA, 2006). Silva (2010) declara que nas últimas décadas, modelos que trabalham chuva-vazão- erosão, vêm sendo sempre mais utilizados nas investigações de mudanças climáticas e nos impactos de uso da terra sobre a produção de sedimentos e escoamento superficial. É o caso da Equação Universal de Perdas de Solo (USLE). Desenvolvida por Wischmeier e Smith (1978,) a USLE foi melhorada ao passar dos anos, sendo ela a equação mais empregada para calcular em termos médios anuais, em bacias hidrográficas (CARVALHO, 2008). Essa equação também pode ser entendida como “um modelo de erosão, destinado a calcular a perda de solo média, em períodos longos, proveniente da erosão laminar e por sulcos” (PAIVA, 2016, p. 367). Além de ser “uma ferramenta de uso integrado ao ambiente SIG para calcular a distribuição espacial das perdas de solo de forma rápida e eficaz” (FISTAROL; SANTOS, 2018, p. 03). Assim, seu uso permite mensurar no espaço as propriedades físicas e características das bacias para modelagem, além da visualização espacial da distribuição dos resultados dos processos relacionados a dinâmica da água e dos sedimentos da fase terrestre do ciclo hidrológico e também, possibilitar a produção de mapas temáticos para análise. Sendo que ela não representa os processos de retenção difusa dos sedimentos em uma bacia, apenas os valores de erosão bruta. 27 3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO A Bacia do Rio Barra Nova (FIGURA 2) compreende sua área em dois estados: Paraíba e Rio Grande do Norte. No estado paraibano abrange os municípios de Junco do Seridó, Santa Luzia, São José do Sabugi e Várzea. E no estado potiguar inclui os municípios Caicó, Santana do Seridó, Jardim do Seridó e Ouro Brando. Dos oito municípios citados Várzea, Jardim do Seridó, Santana do Seridó e Junco do Seridó têm sua área urbana fora dos limites da bacia. A mesma possui uma extensão de 1.373,14 km² (137314 ha) e altitudes que variam de 150 a 850 metros, estando situada às coordenadas 6°25’0” e 7°5’0” de latitude sul, e 36°42’0” e 37º12’0” de longitude oeste. FIGURA 2 - Mapa de localização da Bacia do Rio Barra Nova. Elaborado pelo autor. A Agência Nacional das Águas e Saneamento Básico (ANA) divide o território nacional em 12 regiões hidrográficas, sendo estas regiões definidas por um conjunto de bacias hidrográficas que possuem características naturais, sociais e econômicas mais parecidas. Por essa divisão a Bacia do Rio Barra Nova integra a Bacia do Rio Seridó, que integra, por sua vez, 28 a Bacia Piancó-Piranhas-Açu, a qual pertence a Região hidrográfica Atlântico Nordeste Oriental (FIGURA 3). FIGURA 3 – Localização da Bacia do Barra Nova na divisão de Bacias Hidrográficas Elaborado pelo autor. 3.1 Aspectos Climatológicos A depender da extensão da área de estudo é importante saber como analisar os aspectos climatológicos da mesma. Mendonça e Oliveira (2007) propõe uma identificação por escala local, escala regional e escala zonal. Assim, será apresentado os sistemas climatológicos atuantes a nível de escala regional, por influenciarem na dinâmica pluviométrica da região Nordeste, e as características climatológicas locais para a Bacia do Rio Barra Nova. A referida área sofre forte influência da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e dos Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCAN), no tocante as suas chuvas. A ZCIT se forma nas baixas latitudes, a partir do encontro de ventos de sudeste e os ventos de nordeste criando ascendência de massas de ar úmidas. Ela também acompanha o Equador térmico em seu deslocamento sazonal (MENDONÇA; OLIVEIRA, 2007, p. 91), podendo, assim, deslocar-se até 5° graus ao sul e 10° graus ao norte (TORRES; MACHADO, 2011, p. 105). Por fim, torna- 29 se destaque positivo nos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico, da mesma forma que sobre as áreas continentais adjacentes, por ser o sistema mais importante como gerador de precipitações. Já os VCANS são um sistema que atua no Nordeste e parte do Norte brasileiro, durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, caracterizadospor apresentar chuvas e nebulosidades em suas zonas periféricas e céu claro em seu centro, decorrente dos movimentos verticais subsidentes. Além de atuar em conjunto com a Alta da Bolívia e a Zona de Convergência do Atlântico Sul em outras partes do Brasil e do continente sul-americano (FERREIRA; RAMÍREZ; GAN, 2009, p. 44). Outras influências exercidas ao clima da região vêm pelas massas de ar, que “são uma unidade aerológica, ou seja, uma porção da atmosfera, de extensão considerável, que possui características térmicas e higrométricas homogêneas” (MENDONÇA; OLIVEIRA, 2007, p. 99). Das que atuam na América do Sul, destacam-se por inteira relação com a área de estudo as Massa Equatorial do Atlântico Norte e Sul (MEAN e MEAS), a Massa de ar Equatorial Continental (MEC). As MEAN e MEAS são massas de ar que se formam sobre o oceano Atlântico, tanto no hemisfério norte quanto no hemisfério sul. Demonstram serem quentes e úmidas, e são atraídas para o continente devido as diferentes pressões entre as superfícies continental e oceânica. Enquanto a MEC tem sua formação basicamente explicada pela baixa pressão da região amazônica, ou seja, sob o continente e com predominância de ventos fracos. Esta é uma massa bastante úmida, pois se forma em uma grande área de drenagem, coberta por uma floresta densa, e que tem a atmosfera enriquecida pela atuação da ZCIT. De forma geral, a região Nordeste está localizada em uma área impar do globo, o que permita a ela características peculiares em toda sua extensão territorial. Na mesma há diferentes expressões de climas e destaca-se o clima semiárido por possuir uma maior abrangência na extensão deste território. Tendo em vista que a pesquisa será realizada na Bacia do Rio Barra Nova, que está inserida na região Nordeste, sobre influência do clima semiárido, faz-se apontamentos importantes sobre aspectos climatológicos que compõem a bacia mencionada. O Nordeste brasileiro reside num compacto conjunto de atributos naturais, que são: climáticos, hidrológicos e ecológicos. E pensando no atributo climático, a região possui temperaturas elevadas e relativamente constantes, predominando temperaturas médias entre 25 e 30 °C, intensificadas por longos períodos de estiagens e períodos chuvosos concentrados, com precipitações médias anuais de 700 a 850 mm (AB’SABER, 2003; LOIOLA; ROQUE; OLIVEIRA, 2012). 30 Dentre os estados do Nordeste, os períodos sazonais do regime chuvoso se distribuem da seguinte forma, segundo Nimer (1989, p. 340), “abril, maio, junho para o Rio Grande do Norte e Pernambuco; maio, junho, julho para Pernambuco e Sergipe; abril, maio, junho para o Recôncavo Baiano; e março, abril, maio para do Recôncavo Baiano para o sul”. No caso da referida bacia, seu período de concentração de chuvas está principalmente entre os meses de março, abril e maio, podendo dar início no mês de fevereiro e se estender até junho em anos anómalos. 3.2 Geologia e Geomorfologia Anterior ao Neoproterozóico (900 Ma), dar-se início a formação geológica do continente sul-americano, onde, no Brasil, deu-se origem aos crátons Amazônico, São Francisco e a convergência, mais ou menos no Neoproterozóico, deu origem ao Dobramento Borborema. Dentre esses, a referida bacia está inserida na compartimentação geológico- estrutural Província da Borborema. Crátons (em grego, krato = rígido), são núcleos de rochas arqueanas, em porções com profundidade de até 400 km se apresentando com maior rigidez e resistência diante de processos térmicos e tectônicos futuros (HASUI, 2012a). O sistema Orogênico Borborema, onde está inserida a Província Borborema, estende- se em boa parte na região Nordeste. “É um maciço de porções de embasamento, micro continentais e faixas orogênicas do Arqueano ao Neoproterozoico separadas por zonas de cisalhamento transcorrentes e de empurrão” (HASUI, 2012, p. 254b). O autor ainda aborda a província dividida em setores, sendo os setores da Bacia do Rio Barra Nova, o Setor Setentrional e Setor Transversal. Ainda mais específico, ele fragmenta os setores em domínios, sendo de interesse os domínios Rio Piranhas-Seridó e Granjeiro (Setor Setentrional), e o domínio Alto Pajeú (Setor Transversal). O Domínio do Rio Piranhas-Seridó, apresentas várias unidades geológicas formadas no Oroviciano, Neoproterozoico, Paleoproterozoico, Paleoproterozoico (transamazônico) e Arqueano. Já o Domínio Granjeiro, tem unidades apenas do Neoproterozoico, Paleoproterozoico (transamazônico) e Arqueano. Por último, o domínio Alto do Pajeú, caracteriza-se com a presença de zonas de cisalhamento transcorrentes, e sendo este o domínio de maior variação de unidades geológicas, a saber, Cambriano, Neoproterozoico, Mesoproterozoico-neoproterozoico, Mesoproterozoico, Paleoproterozoico-mesoproterozoico, paleoproterozoico (Pós-transmazônico) e Paleoproterozoico (transamazônico) (HASUI, 2012b). 31 Ademais, Bartorelli (2012), traz uma apresentação de rede hidrográfica do Brasil, diferenciadas dos órgãos e instituições oficiais (ANA e IBGE), onde, além dos limites fisiográficos e características hidrológicas, o autor acrescenta o contexto geotectônico. As redes hidrográficas brasileiras se caracterizam por ser exorreica (apresentam drenagem diretamente para o mar), e no caso da bacia em estudo, assim como muitas bacias da região Nordeste, com percurso intermitente. O sistema hidrográfico do Brasil originou-se de processos evolutivos envolvendo continuada atividade geotectônicas e epirogenética associada a mudanças climáticas no decorrer do tempo geológico. Em sua classificação de rede de drenagem Bartorelli (2012), classifica 11 regiões hidrográficas; são elas: Amazonas, Tocantins-Araguaia, Parnaíba, São Francisco, Paraná, Paraguai, Uruguaia, Atlântico Sul-Sudeste, Atlântico Leste, Atlântico Norte e Atlântico Nordeste, sendo esta a que engloba a área de estudo. Essas unidades geológicas associadas ao clima da região; clima semiárido, são os principais fatores correspondentes as formas de relevo presentes hoje na paisagem. De forma específica, a morfologia dessas áreas se apresenta de duas formas: vertentes íngremes, destacando a presença de áreas elevadas; e planos suavemente ondulados com declives que variam em função dos processos atuantes (RIBEIRO; MARÇAL; CORREA; 2010). Dos processos de desgaste das rochas o intemperismo químico e bioquímico que atuam nos climas úmidos também ocorrem nessa região, mas a velocidade de intemperização é muito menor se comparado ao intemperismo físico. Este tem ao seu favor altas variações de temperaturas entre o período diurno e noturno e insolação intensa, o que dependendo da natureza das rochas e de suas estruturas e texturas, os afloramentos rochosos diferentes formas de falhas e/ou rupturas; o desgaste diferenciado. Outro ponto importante para as formas de relevo, são “as diversidades das formações da cobertura vegetal e da proteção que elas exercem sobre os solos e afloramentos” (RIBEIRO; MARÇAL; CORREA; 2010; p. 129). Logo, sendo a região de clima semiárido, seu regime pluviométrico anual se resume a três meses chuvosos e nove meses de estiagem, e assim, a vegetação só exerce a função de proteção ao solo em um pequeno espaço de tempo e as primeiras semanas de chuva são marcadas por forte atuação da erosão. Todas essas características destacam as formas de relevo presentes na Bacia do Rio Barra Nova, apresentando superfícies aplainadas, maciços e inselbergs, e afloramentos rochosos residuais. 32 3.3 Solos A identificação de solos da área de estudo é fornecida pelo Geobank da CPRM, dados do ano de 2018, com escala 1:250.000, disponível em formato de vetor no link: https://www.ibge.gov.br/geociencias/downloads-geociencias.html; também disponibilizado para visualização na plataforma tecnológica do Programa Nacional de Levantamento e Interpretaçãode Solos no Brasil (PronaSolos). Sendo o mapeamento pedológico oficial realizado pela EMBRAPA Solos, o mesmo foi utilizado para identificação dos tipos de solos da área de estudo, o que permitiu identificar quatro tipos de solos na Bacia do Rio Barra Nova; sendo eles: Argissolos Vermelhos, Luvissolos Crômicos, Neossolos Litólicos e Neossolos Regolíticos (FIGURA 4). Segundo o SiBCS (2018), os Argissolos compreendem solos constituídos por material mineral, que têm como características diferenciais a presença de horizonte B textural de argila de atividade baixa, ou atividade alta desde que conjugada com saturação por bases baixa ou com caráter alumínico. Os Luvissolos são constituídos por material mineral, apresentando horizonte B textural com argila de atividade alta e saturação por bases alta na maior parte dos primeiros 100 cm do horizonte B (inclusive BA), imediatamente abaixo de qualquer tipo de horizonte A (exceto A chernozêmico) ou sob horizonte E, e satisfazendo ao seguinte requisito: Horizontes plíntico, vértico e plânico, se presentes, não satisfazem aos critérios para Plintossolos, Vertissolos e Planossolos, respectivamente, ou seja, não são coincidentes com a parte superficial do horizonte B textural. Quando tem caráter crômico na maior parte dos primeiros 100 cm do horizonte B (inclusive BA). Por fim, os Neossolos são pouco evoluídos, constituídos por material mineral ou por material orgânico com menos de 20 cm de espessura, não apresentando nenhum tipo de horizonte B diagnóstico. Horizontes glei, plíntico, vértico e A chernozêmico, quando presentes, não ocorrem em condição diagnóstica para as classes Gleissolos, Plintossolos, Vertissolos e Chernossolos, respectivamente. https://geoportal.cprm.gov.br/pronasolos/ http://pronasolos.agenciazetta.ufla.br/ 33 FIGURA 4 – Mapa de solo da Bacia do Rio Barra Nova. Elaborado pelo autor. 34 3.4 Vegetação O bioma Caatinga, presente no Nordeste brasileiro, está dentre os três núcleos áridos e semiáridos existentes no continente sul-americano (ARAUJO et al., 2005). Este bioma, abrange todos os estados da região Nordeste em maior ou menor extensão e parte do norte de Minas Gerais (LOIOLA; ROQUE; OLIVEIRA, 2012). Ademais, corresponde a quase 10% do território nacional (OLIVEIRA; CHAVES; LIMA, 2009). Esse bioma apresenta irregularidades climáticas, onde as taxas de insolação são mais altas, as de nebulosidade são menores, altas médias térmicas, evaporação mais acentuada, e menores índices pluviométricos, isso se comparado a qualquer outro domínio do Brasil (AB’SABER, 2003; LOIOLA; ROQUE; OLIVEIRA, 2012). Em anos de regularidade pluviométrica anual, a média varia entre 700 mm e 850 mm. Sendo que essa precipitação ocorre de forma concentrada, mas também irregular, em um prazo de três messes que podem variar entre verão e outono (AB’SABER, 2003). Como consequência, a maioria das espécies vegetais são caducifólias, ou seja, têm folhas decíduas, que caem durante o período de estiagem, o que caracteriza a denominação do termo Caatinga, que significa “mata- branca” no tupi-guarani (LOIOLA; ROQUE; OLIVEIRA, 2012). Agregado ao relevo, ao clima e aos tipos solos da região Nordeste, Araújo et al. (2005), caracteriza o bioma Caatinga com dois tipos fisionômicos de vegetação dominantes; as fisionomias não florestais e as florestais. Nas fisionomias não florestais destaca-se a vegetação lenhosa caducifólia espinhosa (caatinga em sentido restrito), encraves de cerrado, carrasco e outros tipos arbustivos. E as florestais ou florestas perenifólias (matas úmidas serranas) localizadas em vertentes a barlavento das serras e chapadas próximas do litoral e maciços do interior dos estados do Nordeste, enquanto as florestas semidecíduas e decíduas (matas secas) ocorrem nas vertentes a sotavento das serras e chapadas próximas da costa ou nas serras e chapadas situadas também no interior da área semiárida (ARAÚJO et al., 2005). 3.5 Breve caracterização histórica do semiárido brasileiro A partir da leitura de alguns estudiosos sobre a formação histórica do território seridoense e das economias desenvolvidas em outros momentos históricos, a saber, Sousa (1987); Romão Sousa (1996); Diniz; Bernardino; Oliveira (2015); Morais (2016); Sarmento (2020); Santos; Silva; Oliveira (2020); e outros, foi possível entender um pouco mais sobre o contexto de ocupação e uso do território que compreende a Bacia do Rio Barra Nova. 35 Tendo a zona da mata (litoral) ocupada para o desenvolvimento da cultura da cana-de- açúcar, o sertão tem sua ocupação voltada para a produção de animais, comida e couro; sendo estas atividades secundária à cana-de açúcar. (ANDRADE, 1980; MORAIS, 2016). A ida do gado para o sertão se deu pois não havia mais como conviver junto a cultura da cana, não haviam pastos e viviam presos. Assim, com o cultivo cada vez em maiores extensões de terra, foi determinado que a criação de gado deveria acontecer em locais a 10 léguas de distância dos engenhos (COSTA, FARIAS, 2009). Morais (2016, p. 73), diz que esse momento de interiorização, a partir da instalação de currais em várias partes do território foram os “embriões da estrutura de fazendas que viriam a se tornar marcantes no cenário da organização socioespacial seridoense”. Isso porque os leitos dos rios eram o caminho e a garantia de vida em um ambiente com tantas restrições hídricas e pouco conhecido. Então de forma suscinta, a ocupação se deu a partir da pecuária em função da produção de cana-de-açúcar que se desenvolvia no litoral e por muito tempo se manteve no topo da economia da região como principal atividade produtora. Junto a ela outras atividades se desenvolviam, mas de forma não tão expressiva, como por exemplo: as agriculturas de subsistência. Quanto a gestão do espaço, havia o Estado e a Igreja como atuantes. As duas forças se apresentaram inicialmente ligadas, onde o Estado se responsabilizava para que a colônia fosse súdita à Coroa, e a Igreja deveria garantir a obediência dos colonos. Além disso, a Igreja também era o meio pelo qual os colonos passavam a fazer parte da comunidade, através dos atos de batismo, crisma, o casamento religioso, a confissão e a extrema-unção na hora da morte. Ademais havia uma relação de troca, a Coroa ficava com parte dos tributos da Igreja e em troca deveria remunerar o clero e zelar pela conservação dos edifícios destinados aos cultos (FAUSTO, 2009). Morais (2016), também afirma a existência dessas duas forças. Ela ressalta que já existia um ordenamento espacial organizado pelo Estado e a Igreja, e que isso deu início a criação de várias freguesias, o que foi dando cada vez mais, traços do atual recorte espacial a nível de município e estado. Mais tarde, Diniz; Bernardino; Oliveira (2015) e Morais (2016), destacam que além das atividades econômicas que contribuíram para a ocupação do território seridoense, principalmente por serem compatíveis as condições ambientais da região, novas atividades 36 foram sendo implementadas ajudando aos indivíduos a continuarem a habitar aquele espaço, a exemplo: a introdução de rebanhos caprinos e a cotonicultura. Das condições ambientais da região, a que possuía maior impacto na vida das pessoas e animais eram os longos períodos de estiagem. Neto (2017) faz uma discussão sobre a açudagem, como sendo uma política de responsabilidade dos órgãos DNOCS 1 e SUDENE 2 , e complementa dizendo que: “a partir da construção desses sistemas de engenharia, os espaços se transformavam em verdadeiros núcleos de adensamento humano, em áreas potenciais para o desenvolvimento socioeconômico e/ou das condições necessárias para a existência da vida” (NETO, 2017, p. 289). Em estudos anteriores, Rebouças (1997) afirma que as secas de 1825, 1827 e 1830 foram fundamentais para o início das políticas de açudagemno nordeste brasileiro. Além dessa política outras surgem por incentivo à economia a partir de pactos entre governos e oligarquias agrárias, a saber, o surgimento de estradas e eletricidade, a priorização a saúde e educação. Assim, a área que corresponde a Bacia do Rio Barra Nova desenvolveu principalmente a pecuária, o algodão e agricultura familiar. A mesmas entraram em declínio ao longo dos anos principalmente devido a longos períodos de estiagem, desencadeando problemas sociais, econômicos e políticos na área. Logo, esse espaço deixa de ser configurado ou regido apenas pela força cultural e/ou da Igreja passando a ser modificado também pelo poder político. 1 Departamento Nacional de Obras Contra as Secas. Disponível em: https://www.gov.br/dnocs/pt-br. Acessado em: 16 de set. de 2020. 2 Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste. Disponível em: https://www.gov.br/sudene/pt-br. Acessado em: 16 de set. de 2020. 37 4 METODOLOGIA 4.1 Abordagem Metodológica Para compreender o conhecimento científico é preciso diferenciá-lo do que é tido como senso comum. Este, parte do que é transmitido de geração a geração, de modo informal, muito comum entre pessoas que vivem no campo com práticas rudimentares na agricultura. Já o conhecimento científico, assim como mencionado por Marconi e Lakatos (2010), trabalha com fatos, ações e/ou coisas reais, adquiridas e reconhecidas a partir dos desenvolvimentos técnicos. A busca por um conhecimento real vem da necessidade do homem de se mostrar controlador de ações, do sentido de poder, de não apenas ser um indivíduo passivo do acaso (KÖCHE, 2009). Dessa maneira o conhecimento científico é mais utilizado tendo em vista sua veracidade, mas o que não significa que se torne absoluto. Pode também estar correto sob outra perspectiva, pois diferentes estudiosos, ao lançarem seus olhares para o mesmo campo observatório, são capazes de chegar a diferentes conhecimentos. O conhecimento científico é, pois, o que é construído através de procedimentos que dotem atitude científica e que, por proporcionar condições de experimentação de suas hipóteses de forma sistémica, controlada e objetiva a ser exposto à crítica intersubjetiva, oferece maior segurança e confiabilidade nos seus resultados e maior consciência dos limites de validade de suas teorias. (KÖCHE, 2009, p.37). Após breve explanação sobre conhecimento científico, é conveniente elucidar sobre o que se entende por método científico. Primeiro, Marconi e Lakatos (2010, p. 65) entende que “todas as ciências se caracterizam pela utilização de métodos científicos; em contrapartida, nem todos os ramos de estudo que empregam estes métodos são ciências”. Eles ainda definem método dizendo que ele “é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar objetivos - traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista”. Sempre houve a busca pela explicação e o entendimento dos fenômenos da natureza, e já não era suficiente a compreensão de que algo divino fosse o responsável por tais fenômenos. Além disto, a negação dessa verdade não era uma prática permitida. Mas, tempos depois, surgiram novos métodos, pensados a partir de outras perspectivas. Köche (2009), afirma que “é nesse sentido que se deve compreender método científico: como a descrição e a discussão de quais critérios básicos são utilizados no processo de investigação científica. 38 Dentre os métodos científicos oriundos da Filosofia; sendo esses o indutivo, dedutivo, hipotético-dedutivo, dialético e fenomenológico; o presente trabalho se respalda do método indutivo em esclarecimento mais profundo; à Inferência é a Melhor Explicação (IME), mas primeiro será abordado um pouco da indução e, em seguida, sobre o IME. Como já tratado por Bernardino (2019); Diniz e Ribeiro da Silva (2018); e Ribeiro da Silva (2018), a indução surge na ciência por meio de Galileu Galilei (1564 – 1642) e se aperfeiçoa por meio de Francis Bacon (1561 – 1626), Thomas Hobbes (1588 – 1679), John Locke (1632 – 1704) e David Hume (1711 – 1776). Marconi e Lakatos (2010, p. 68) esclarecem a indução simples como: “Um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, não contida nas partes examinadas”. Enquanto Köche (2009, p. 65), descreve o método indutivo, dizendo que: “a indução prega a passagem dos fatos para as teorias em dois momentos: no processo de descoberta, como foi analisado anteriormente, e no processo de justificação da validação da teoria, ou na busca da verificabilidade”. Assim, entende-se que a indução trabalha com a observação criteriosa dos fenômenos, classificando descobertas (casos particulares). Essas descobertas classificadas servem para elaborar hipóteses e construir generalizações sobre o que foi analisado. De forma estrutural, três fatores são basilares para a compreensão do método indutivo: a observação dos fenômenos, a busca de relações existentes entre os fenômenos observados, e a generalização das relações que foram distinguidas. Diniz e Ribeiro da Silva (2018; p. 733), ressaltam que “é importante mencionar que a checagem da verdadeira relação que se pretende generalizar, o perfil idêntico dos fenômenos em circunstâncias iguais e o tratamento matemático deles são passos necessários para a inexistência de equívocos no trabalho indutivo”. Já o IME, como afirma Junges (2008), é uma inferência indutiva, pois a mesma, partindo de determinadas evidências, possibilita e conclusões que melhor às explicam. Como exemplo, ele diz que: “diante de pegadas na areia você infere a melhor explicação, a saber, de que uma pessoa passou por ali” (JUNGES; 2008; p. 82). É importante mencionar que por usar uma explicação não significa que ela seja única, mas que ela é a melhor dentre as possíveis, a partir das evidências expostas. As etapas procedimentais que foram seguidas para o planejamento, estruturação e construção da presente pesquisa encontram-se no fluxograma exposto na FIGURA 5. 39 FIGURA 5 – Esquematização operacional da pesquisa científica. Fonte: Elaborado pelo autor. Neste trabalho, os mapeamentos foram realizados a partir de interpretações de imagens de satélites. As primeiras hipóteses apontam que certos tipos de uso da terra intensificam a erosão laminar na bacia do Rio Barra Nova e que, se associado à determinados tipos de relevo essa intensificação pode se acentuar ainda mais. Nessa perspectiva, as imagens de satélite foram utilizadas para identificar tipos de uso da terra e tipos de relevo, além de usar dados quantitativos para estimar a perda de solo na bacia hidrográfica. A utilização da IME possibilitou as diversas interpretações e classificações que estão expostas nos tópicos seguintes. 4.2 Procedimentos Metodológicos 4.2.1 Preparação da Base Cartográfica Antes de começar os produtos finais desta pesquisa, foi necessário elabora uma base de dados para ambiente SIG permitindo dar início aos mapeamentos de uso da terra, geomorfológico e da USLE. 40 Para delimitar a bacia e sua rede de drenagem foram levantados dados altimétricos da área de estudo por meio do Modelo Digital de Elevação (MDE). Este partiu de imagens disponibilizadas pelo ALOS PALSAR: https://search.asf.alaska.edu/#/, com resolução espacial de 12,5 metros. Neste trabalho, foram baixadas e mosaicadas as cenas: ALPSRP271897040 (path 35; frame 7040); ALPSRP265187050 (path 35; frame 7050); ALPSRP262707060 (path 34; frame7060); ALPSRP262707050 (path 34; frame 7050) e ALPSRP262707040(path 35; frame 7040). Em seguida, foi realizado em ambiente SIG os procedimentos para a delimitação da bacia, extração do MDE da mesma, assim como a sua rede de drenagem (FIGURA 6). FIGURA 6 – Mosaico
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