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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA CELULAR E GENÉTICA LABORATÓRIO DE GENÉTICA TOXICOLÓGICA CURSO DE BIOMEDICINA REBEKA GUERRA DE OLIVEIRA EFEITOS DA RADIAÇÃO IONIZANTE NATURAL NA METILAÇÃO GLOBAL DO GENOMA DA POPULAÇÃO DE LAJES PINTADAS/RN Natal-RN Maio, 2019 EFEITOS DA RADIAÇÃO IONIZANTE NATURAL NA METILAÇÃO GLOBAL DO GENOMA DA POPULAÇÃO DE LAJES PINTADAS/RN por Rebeka Guerra de Oliveira Orientadora: Profa. Dra. Viviane Souza do Amaral Co-orientadora: Msc. Luíza Araújo da Costa Xavier Natal - RN Maio, 2019 Monografia Apresentada à Coordenação do Curso de Biomedicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como Requisito Parcial à Obtenção do Título de Bacharel em Biomedicina. 1 Oliveira, Rebeka Guerra de. Efeitos da radiação ionizante natural na metilação global do genoma da população de Lajes Pintadas/RN / Rebeka Guerra de Oliveira. - 2019. 107 f.: il. Monografia (graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Biociências, Curso de Biomedicina, Natal, RN, 2019. Orientadora: Profa. Dra. Viviane Souza do Amaral. Coorientadora: Ma. Luíza Araújo da Costa Xavier. 1. Radônio - Monografia. 2. Lajes Pintadas/RN - Monografia. 3. Metilação Global - Monografia. 4. LINE-1 - Monografia. 5. Câncer - Monografia. I. Amaral, Viviane Souza do. II. Xavier, Luíza Araújo da Costa. III. Título. RN/UF/BCZM CDU 616-006.6 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede Elaborado por Ana Cristina Cavalcanti Tinôco - CRB-15/262 iv AGRADECIMENTOS Meus sinceros agradecimentos à UFRN em si e ao curso de biomedicina. Lembro que sempre quis fazer um curso na área da saúde, no qual eu pudesse ajudar as pessoas e que envolvesse pesquisa, quando descobri o curso de biomedicina, no meu primeiro ano de ensino médio, eu me apaixonei, decidi que era isso que eu queria fazer. Hoje, 6 anos depois dessa decisão, terminando o curso, eu tenho plena certeza de que escolhi a profissão certa. Sou muito feliz e grata pela minha escolha, e pela brilhante universidade em que estudo, a qual me proporcionou tantos conhecimentos e momentos inesquecíveis. Agradeço imensamente a todos os meus professores, tanto os da escola, como os da universidade. É definitivamente a profissão mais linda que existe e que forma todos os outros profissionais, sem eles não saberia do que sei e não estaria traçando o meu caminho rumo a vida profissional. Minha gratidão especial vai para professora Dra. Viviane Amaral, por me aceitar como estudante de iniciação científica e me presentear com esse maravilhoso projeto que hoje uso para concluir o meu curso, agradeço por toda a ajuda e apoio nessa jornada. Agradeço também ao professor Leonardo Capistrado e a professora Daniella Martins por terem aceitado meu convite para serem minha banca, agradeço a disponibilidade e tempo investido nessa minha avaliação. Um enorme “muito obrigada!” à Luiza Xavier, doutoranda do laboratório da professora Viviane e co-orientadora deste trabalho. Sem ela esse projeto não teria ido pra frente, me ajudou desde o princípio me explicando todos os procedimentos de bancada, compartilhando artigos comigo, analisando minha escrita. Então Luiza, você foi essencial nesse trabalho, muito obrigada mesmo!!! Obrigada, também a Amanda, aluna de mestrado do laboratório, que me ajudou em muitas etapas da bancada. Para finalizar, muito obrigada aos meus pais que sempre me apoiaram a fazer o curso que eu queria, sempre me ajudaram emocional e financeiramente e me trouxeram até aqui, agradeço por todo o apoio e confiança. E por último e mais importante, muito obrigada a Deus, por tudo, por eu ter saúde, capacidade e oportunidades para correr atrás dos meus sonhos, obrigada pelas intuições corretas, por todos os erros e acertos, pelos aprendizados, pela vida. v RESUMO A radiação ionizante (IR) é ubíqua e faz parte do cotidiano das pessoas, porém em doses elevadas traz prejuízos diversos à saúde da população. Um exemplo desse fato pode ser observado no município de Lajes Pintadas (RN), o qual possui o problema de elevada concentração de radônio no ar, um gás radioativo que deriva do decaimento do urânio. Além disso, um fato observado na região é a grande incidência de mortalidade por câncer. É possível relacionar danos causado por IR com alterações na epigenética, para isso foi analisada a metilação do LINE-1, elemento repetitivo mais longo do DNA, o qual devido seu elevado número de repetições fornece uma ideia do panorama global de metilação do genoma. O objetivo do presente trabalho foi avaliar as alterações epigenéticas causadas pela elevada radiação ionizante natural nos moradores de Lajes Pintadas/RN. Foram recrutados 104 indivíduos, entre grupos controle e experimental, após consentimento e esclarecimento sobre a pesquisa foram aplicados questionários e foi extraído o DNA dos participantes para análise do efeito da IR na metilação do gene LINE-1, através do protocolo COBRA, o qual conta com as técnicas de conversão bissulfito, PCR, análise de restrição, eletroforese e densitometria, por fim os valores obtidos foram analisados, avaliados e comparados estatisticamente com dados adquiridos no questionário respondido pelos participantes. Como resultado têm-se que há diferença significativa (p=0,042) nas médias de metilação global entre os grupos estudados, sendo o grupo experimental com uma média de 51,44%, e o grupo controle de 50,17%. No entanto, não foi vista correlação entre os níveis de metilação e os de radônio dosados, tendo uma correlação de p = 0,524, essa era a questão principal do trabalho, mas ainda assim esse resultado abre margem para algumas hipóteses e discussões, inclusive sobre radioproteção. Foram encontradas três correlações significativas, todas inversas, estas entre a metilação e a 8-oxoguanosina dosada na urina (p = 0,047 e Pearson = - 0,291), prática de exercícios físicos (p = 0,064 e Spearman = -0,269) e o tipo de água consumida (p = 0,038 e Spearman = -0,329), assim foi possível relacionar a epigenética com dano oxidativo e hábitos de vida, respectivamente. Entretanto, essas variáveis ainda explicam poucos por cento (R2 = 0,189) da variação nos níveis de metilação, segundo o teste de regressão linear múltipla. Por fim, pôde-se concluir que a pergunta inicial da relação entre radônio e metilação global não foi confirmada, mas ainda há muito para ser estudo, assim deixa margens para futuras pesquisas e novas descobertas relacionadas. Palavras-chave: Radônio; Lajes Pintadas/RN; Metilação Global; LINE-1; Câncer. vii ABSTRACT Ionizing radiation is ubiquitous and is part of the daily lives of people, but in high doses brings several damages to people's health, an example of this fact can be observed in the municipality of Lajes Pintadas (RN) which has the problem of a great concentration of radon gas in the air, this is radioactive and is derived from the uranium decay, a fact noted in the region is the high incidence of cancer mortality. It is possible to relate damage caused by IR with changes in epigenetics, for it was analyzed the methylation of LINE-1, the longest repeating element of DNA, which because of your high number of repetitions provides an idea of the panorama of global methylation of the genome. The purpose of this study was to evaluate the epigenetic changes caused by natural high ionizing radiation in residents of Lajes Pintadas/RN. 104 individuals were recruited, between the control and experimental groups. Afterthe consent and clarification of the research, questionnaires were applied and the participants' DNA was extracted to analyze the effect of IR on the methylation of the LINE-1 gene through the COBRA protocol. with bisulphite conversion, PCR, restriction analysis, electrophoresis and densitometry techniques, in the end the values obtained were analyzed, evaluated and compared statistically with data acquired in the questionnaire answered by participants. As a result, they have that there is significant difference (p=0,042) in average global methylation between the study groups, being the experimental with average of 51,44%, and the control with average of 50,17%. However no correlation was found between levels of methylation and the indoor radon dosed, being a correlation of p = 0,524, that was the main issue of the work, but still this result opens room for some hypotheses and discussions, including on radioprotection. Three significant correlations were found, all inverses, these between methylation and 8-oxoguanosina dosed in the urine (p = 0,047 and Pearson = -0,291), physical exercise practice (p = 0,064 and Spearman = -0,269) and the kind of water consumed (p = 0,038 and Spearman = -0,329), this way it was possible to relate the epigenetics with oxidative damage and habits of life, respectively. However, these variables still explane for a few percent (R2 = 0,189) of the variation in methylation levels, according to the multiple linear regression test. Finally, it was concluded that the initial question of the relationship between radon and global methylation has not been confirmed, but there is still much to be studied, thus leaving margins for future research and related new findings. Keywords: Radon; Lajes Pintadas/RN; Global Methylation; LINE-1; Cancer. vii ÍNDICE Página LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ..................................................................... viii LISTA DE TABELAS ....................................................................................................x LISTA DE FIGURAS ....................................................................................................xi LISTA DE APÊNDICES .............................................................................................xiv 1- INTRODUÇÃO .......................................................................................................15 1.1. – VISÃO GERAL SOBRE RADIAÇÃO E RADIOBIOLOGIA ................................15 1.2. – CASO ESPECÍFICO DE RADIOATIVIDADE NATURAL NO NORDESTE DO BRASIL ......................................................................................................................22 1.3 . - EXPLANÇÃO SOBRE EPIGENÉTICA E DESTAQUE PARA METILAÇÃO..... 26 1.4. – FOCO NO ELEMENTO NUCLEAR LONGO INTERCALADO – 1 (LINE-1) ....36 1.5. – BREVE ENFOQUE NA 8-OXOGUANINA E NA 8-OXOGUANOSINA ............42 1.6.- CONCEITO E IDEIAS GERAIS DO EXPOSOMA ..............................................45 2- OBJETIVOS ...........................................................................................................48 2.1. – OBJETIVO GERAL ..........................................................................................48 2.2 – OBEJTIVOS ESPECIFICOS .............................................................................48 3 - MATERIAIS E MÉTODOS ....................................................................................49 3.1. - CONVOCAÇÃO DE PARTICIPANTES PARA O ESTUDO...............................49 3.2. - EXTRAÇÃO DO DNA .......................................................................................50 3.3 – ANÁLISE DE RESTRIÇÃO COMBINADA COM BISSULFITO (COBRA) .........52 3.3.1. CONVERSÃO BISSULFITO ..................................................................53 3.3.2. REAÇÃO EM CADEIA POLIMERASE (PCR) ........................................55 3.3.3. ANÁLISE DE RESTRIÇÃO ENZIMÁTICA DO pPCR.............................57 3.3.4. ELETROFORESE E DENSITOMETRIA ................................................59 3.4. DOSAGEM DOS NÍVEIS DE 8-OXO-GUANOSINA NA URINA ..........................60 3.5. – ANÁLISES ESTATÍSTICAS .............................................................................61 4 – RESULTADOS .....................................................................................................62 4.1. – CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA ................................................................62 4.2. – AVALIAÇÃO DA METILAÇÃO GLOBAL DO GENOMA ....................................66 5 – DISCUSSÃO ........................................................................................................73 6 – CONCLUSÃO ......................................................................................................83 7 – REFERÊNCIAS ...................................................................................................84 8 – APÊNDICES ......................................................................................................102 viii LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS % 5-met LINE-1 / % 5-mC LINE-1 Porcentagem da metilação do LINE-1 8-oxo-dGMP 8-oxo-2´-desoxiguanosina monofosfato 8-oxo-dGTP 8-oxo-2´-desoxiguanosina trifosfato 8-OxoG 8-oxoguanina β Beta α Alfa γ Gama A Adenina ATP Adenosina Trifosfato BER Reparo por excisão de bases Bq Becquerel C Citosina CAAE Certificado de Apresentação para Apreciação Ética COBRA Análise de Restrição Combinada com Bissulfito Cys Cisteina DNA Ácido Desoxirribonucleico DNMTs DNA-metil-transferases DNTPs Deoxinucleotídeos Trifosfatados EDTA Ácido etilenodiamino tetra-acético FMRP-USP Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto G Guanina Gy Gray HERV-E Retrovírus Endógeno Humano E HERV-K Retrovírus Endógeno Humano K IARC Agência Internacional de Pesquisas em Câncer IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INCA Instituto Nacional do Câncer IR Radiação Ionizante IRSs Sequências Repetitivas Intercaladas ix kDa Quilo Dalton ET Transferência Linear de Energia LINE-1 / L1 Elemento Nuclear Longo Intercalado 1 LINEs Elementos Nucleares Longos Intercalados lncRNAs RNAs longos não-codantes miRNAs Micro RNAs mRNA RNA mensageiro OGG1 8-oxoguanina DNA Glicosilase 1 OMS Organização Mundial de Saúde ORF Quadros abertos de leitura pb Pares de bases PCR Reação em Cadeia da Polimerase piRNAs Piwi-RNAs pPCR Produto da PCR Rn Radônio-222 RN Rio Grande do Norte RNA Ácido Ribonucleico Ser Serina SINEs Elementos Nucleares Intercalados Curtos Sv Sievert T Timina TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte UTR Região não traduzida x LISTA DE TABELAS Tabela 1. Programação do termociclador para a conversão bissulfito. Tabela 2. Concentração e lista de reagentes utilizados na PCR. Tabela 3. Programação do termociclador para a PCR. Tabela 4. Concentração e lista de reagentes utilizados na digestão. Tabela 5. Dados gerais do grupo controle (Natal/RN) e do grupo experimental (Lajes Pintadas). Tabela 6. Análise do exposoma interno em indivíduos residentes em Lajes Pintadas (grupo experimental) e em Natal (grupo controle). Tabela 7. Análise do exposoma externo específico em indivíduos residentes em Lajes Pintadas (grupo experimental) e em Natal (grupo controle). Tabela 8. Análise do exposoma externo geral de indivíduos residentes em Lajes Pintadas (grupo experimental) e em Natal (grupo controle). Tabela 9. Valores da regressão linear múltipla entre a variável dependente, % 5-mC do LINE-1,e das três variáveis independentes analisadas, 8-OxoG na urina, prática de exercício físico e tipo de água consumida. xii LISTA DE FIGURAS Figura 1. Representação esquemática do espectro eletromagnético. Fonte: adaptada do Instituto de Física, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Física e Ufrgs). Figura 2. Fontes de exposição à radiação ionizante, conforme suas contribuições para uma dose anual e suas respectivas proporções. Há alteração dos valores no decorrer da passagem do tempo – 1987 e 2009, respectivamente, nos painéis A e B. Fonte: adaptada de NCRP (MEASUREMENTS). Figura 3. Imagem esquemática para representar o poder de penetração das radiações ionizantes. Fonte: Adaptado de World Nuclear Association (2017) <http://www.world- nuclear.org/getmedia/280bdda7-182d-49d1-9e96- 67f5dc66e2e5/pocket_guide_radiation.pdf.aspx>. Figura 4. Efeitos celulares da radiação ionizante. Representação esquemática tanto o efeito direto, quanto do efeito indireto. Fonte: adaptada de AZZAM et al, 2012. Figura 5. Representação esquemática da cadeia de decaimento do urânio. Em cada hexágono encontra-se escrito, de baixo para cima, o tempo de meia-vida, o símbolo do elemento e a sua massa atômica. Em cima de cada seta está simbolizado o tipo de partícula (alfa ou beta) emitida. Fonte: adaptada de World Nuclear Association (2019) <http://www.world-nuclear.org/information-library/safety-and-security/radiation- and-health/naturally-occurring-radioactive-materials-norm.aspx>. Figura 6. Mapa da localização geográfica de Lajes Pintadas. Em (A) está representado o mapa do Brasil, com destaque em preto no estado do Rio Grande do Norte, o qual aparece ampliado em (B), com a microrregião da Borborema Potiguar em cor cinza; o município de Lajes Pintadas destaca-se dos demais pela preta; as cidades vizinhas são, São Tomé (ST), Santa Cruz (SC) e Campo Redondo (CR); a capital do estado, Natal, encontra-se marcada com um quadrado vermelho. Fonte: Imagem feita com mapas disponíveis na internet. Figura 7. Tabela representando as taxas de mortes por todos os tipos de neoplasias. Em A está representado as taxas de mortalidade por todas as neoplasias, brutas e ajustadas pelas populações mundial e brasileira de 2010, por 100.000 homens e mulheres, Lajes Pintadas - RN, entre 1997 e 2017.Em B está representado as taxas de mortalidade por todas as neoplasias, brutas e ajustadas pelas populações mundial e brasileira de 2010, por 100.000 homens e mulheres, Natal - RN, entre 1997 e 2017. Fontes: MS/SVS/DASIS/CGIAE/Sistema de Informação sobre Mortalidade – SIM file:///C:/Users/Rebeka%20Guerra/Desktop/TCC/ÍNDICE.docx%23_ENREF_20 xii MP/Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE MS/INCA/Conprev/Divisão de Vigilância. Figura 8. Taxas de mortalidade por câncer de brônquios e pulmão, brutas e ajustadas pelas populações mundial e brasileira de 2010, por 100.000 homens e mulheres, em Lajes Pintadas - RN, entre 1997 e 2017. Fontes: MS/SVS/DASIS/CGIAE/Sistema de Informação sobre Mortalidade – SIM MP/Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE MS/INCA/Conprev/Divisão de Vigilância. Figura 9. Representação esquemática da compactação da cromática. Abaixo da linha pontilhada encontrasse a organização de eucromatina, DNA menos compactado; já a cima encontrasse a organização de heterocromatina, DNA mais compactado. Fonte: Adaptada de Gore; Baylin; Herman (2016). Figura 10. Esquema de alguns dos principais mecanismos epigenéticos. Estão representados a metilação do DNA, como forma de modificação epigenética no DNA. E como ação da epigenética na modificação da cromatina estão representados, acetilação, metilação, fosforilação e ubiquitinação das histonas; remodelação da cromatina, na reorganização dos nucleossomos; micro-RNA, Piwi-RNA e Long non- coding RNAs (lncRNAs), como RNAs não codantes modulando a expressão gênica. Fonte: Imagem própria feita baseada em diversos esquemas encontrados em sites e artigos. Figura 11. Representação esquemática da conversão da citosina para 5-metilcitosina, ou seja, a metilação do DNA. Fonte: Imagem adaptada de Kabesch, Michel e Tost, 2010. Figura 12. Representação esquemática do gene LINE-1. Mostra as regiões não transcritas, 5´UTR e 3´UTR, os dois quadros aberto de leitura (ORF1 e ORF2), a atividade de endonuclease (EN), a transcriptase reversa (RT), e as setas indicam sequências repetidas presente em muitos, mas não em todos os sites de inserção. Os comprimentos das diferentes regiões não estão em escala. Fonte: Imagem adaptada de Schulz, Steinhoff e Florl, 2006. Figura 13. Representação esquemática do estado de metilação do LINE-1. Em A está representado uma célula somática normal, na qual o L1 está metilado, portanto inibido. Em B representa-se uma célula neoplásica, na qual o L1 está Hipometilado, logo o “ciclo de vida” do retrotransposons está ativo, o que causa instabilidade no genoma, gerando a célula neoplásica. Neste último é representado também a retrotransposição, em um esquema simplificado da esquerda para a direita, a xiv transcrição, montagem de ORF1p e ORF2p com L1 RNA, e inserção de um novo L1 sequência. Fonte: Imagem adaptada de Rodić e Burns, 2013. Figura 14. Representação esquemática da guanina normal, a esquerda, sendo transformada em 8-oxoguanina, a direita, devido estresse oxidativo. Fonte: Imagem adaptada de Lanier e Williams, 2017. Figura 15. Representação esquemática dos três domínios do exposoma e seus respectivos exemplos. Fonte: Imagem adaptada de Wild, 2012. Figura 16. Representação esquemática das etapas do método COBRA, dependendo se a sequência é metilada ou não. Fonte: Imagem de autoria própria a partir de imagens obtidas na internet. Figura 17. Representação esquemática do local de corte da enzima no DNA metilado. As letras azuis representam a sequência nucleotídica reconhecida pela Hinf I, e as setas laranjas representam o local exato do corte realizado pela mesma. Fonte: Imagem criada a partir do sítio de corte da enzima fornecido pelo site da SibEnzyme (http://sibenzyme.com/info85.php). Figura 18. Gel de agarose 2,5%. A linha A corresponde ao DNA não metilado ou mutado, possui 413 pb. As linhas contidas no colchete B correspondem ao DNA metilado, possuem 285, 247, 166 e 128 pb, respectivamente de cima para baixo. Figura 19. Distribuição da metilação global do grupo controle (caixa da esquerda) e grupo experimental (caixa à direita). Em A está representado valores referentes ao grupo controle, e em B está representado valores referentes ao grupo experimental. * Indica significância estatística a nível p < 0,05. Figura 20. Correlação inversa entre a taxa de metilação do LINE-1 e o nível de 8-oxo- 7-dihidroguanosina (ng/mL) dosada na urina. * Indica p<0,05, logo significância estatística. Figura 21. Distribuição da metilação global do genoma segundo os hábitos não (caixa da esquerda) e sim (caixa da direita) para prática de exercício físico do grupo experimental. Figura 22. Distribuição da metilação global do genoma segundo o tipo de água consumida pelo grupo experimental. xiv LISTA DE APÊNDICES APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). APÊNDICE B – Questionário aplicado aos participantes. 15 1. INTRODUÇÃO 1.1. VISÃO GERAL SOBRE RADIAÇÃO E RADIOBIOLOGIA A radiação é a energia que é propagada na forma de ondas eletromagnéticas ou partículas (Figura 1). Há dois tipos de radiação, não-ionizante e ionizante, a primeira consiste em ondas de maior comprimento e menor frequência, tem como exemplos a luz visível, micro-ondas, sinais de transmissão para televisão e rádio; já a radiação ionizante apresenta alta frequência e menor comprimento de onda, porexemplo a ultravioleta, raios-x, raios gama e raios cósmicos. Um adendo importante é que quanto maior a frequência da onda, maior é a energia transmitida, o que fornece a radiação ionizante a capacidade de ionizar, ou seja, de ejetar (retirar) elétrons da camada de valência de átomos-alvos quando interage com a matéria, transformando- os em íons (ASSOCIATION, 2016). Figura 1. Representação esquemática do espectro eletromagnético. Fonte: adaptada do Instituto de Física, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Física e Ufrgs). Como é mostrado na Figura 1, percebe-se que os seres humanos estão constantemente expostos à radiação e em todos os lugares, ou seja, é uma exposição ubíqua. Esta se dá na forma de fontes naturais, como radiação cósmica e ultravioleta (solar); de forma antrópica, como aparelhos eletrônicos, aplicações médicas de diagnóstico (raio-x, tomografia computadorizada, entre outros); e atividades industriais, como mineração. Dentre todas as fontes de exposição à radiação ionizante, para população a principal é proveniente do meio ambiente (cerca de 52%), 16 em segundo lugar vem a exposição devido procedimentos médicos, estes aumentaram muito nas últimas décadas, hoje ocupa cerca de 48% da exposição anual na população norte-americana (Figura 2) (AGENCY, 2016; MEASUREMENTS ). Figura 2. Fontes de exposição à radiação ionizante, conforme suas contribuições para uma dose anual e suas respectivas proporções. Há alteração dos valores no decorrer da passagem do tempo – 1987 e 2009, respectivamente, nos painéis A e B. Fonte: adaptada de NCRP (MEASUREMENTS). A B NCRP Report no. 93, 1987 NCRP Report no. 160, 2009 17 Um átomo é composto por prótons, neutros e elétrons, no núcleo atômico estão localizados os dois primeiros, enquanto o último se encontra na eletrosfera. O átomo é considerado estável quando possui o mesmo número de prótons e nêutrons e/ou é a forma do elemento mais abundante na natureza e não libera energia. Já um átomo instável possui um excesso de energia (partículas ou cargas) devido ao desbalanceamento em seu núcleo e precisa emitir radiação para liberar esse excesso (BUSHONG, 2010). A radiação de fundo consiste na radiação ionizante (IR) natural, a qual é transmitida por elementos químicos existentes no solo, água ou ar, estes possuem um núcleo atômico pesado e instável. Urânio, polônio e outros, são exemplos de elementos que liberam energia para alcançar a estabilidade, por isso recebem o nome de elementos radioativos ou radionuclídeos, e a atividade de emitir radiação é chamada de radioatividade (NUCLEAR, 2005). Um material que emite radiação é chamado de material radioativo, já o que recebe a radiação é chamado de material irradiado, logo, os elementos são radioativos e os humanos são irradiados. Os elementos são determinados e distribuídos na tabela periódica de acordo com o número de prótons no seu núcleo, assim sempre que um elemento emite radiação ele varia o seu número de prótons, portanto transforma-se em outro elemento de propriedades distintas. Esse fenômeno é conhecido como decaimento radioativo e acontece em uma frequência característica de cada elemento. Há uma cadeia de decaimento, composta pelos subprodutos gerados em decaimentos sucessivos, para acompanhar a duração de cada um desses, criou-se uma medida padrão chamada de tempo de meia-vida que se caracteriza pelo tempo necessário para a atividade radioativa de um radionuclídeo ser reduzida à metade da atividade inicial. A série radioativa acompanha todo esse processo de decaimento e vai do átomo pai (o mais instável) até o átomo filho (estável). A atividade de um material radioativo pode ser representada pela razão entre o número médio de transformações nucleares espontâneas e o intervalo de tempo decorrido, é medida pela unidade Becquerel (Bq), o tempo é medido em segundos (NUCLEAR, 2005; TAUHATA et al., 2014). Em relação aos tipos de IR que os radionuclídeos emitem, podem destacar-se as partículas alfa (α), beta (β) e os raios gama (γ). A partícula alfa é considerada um núcleo de hélio, pois é composta por dois prótons e dois nêutrons, sem elétrons, sendo assim carregada positivamente (+2). A radiação beta ocorre de duas formas: quando o núcleo com excesso de nêutrons e falta de prótons transforma um nêutron em um 18 próton mais um elétron, o qual é emitido na denominada emissão β-, assim mantendo o número de massa e aumentando o número de prótons; ou quando o núcleo com excesso de prótons e falta de nêutrons transforma um próton em nêutron, emitindo um pósitron, resultando na emissão β+, assim mantendo o número de massa e diminuindo o número de prótons. Já os raios gama são ondas eletromagnéticas liberadas pelo núcleo ainda excitado, mesmo após o decaimento alfa ou beta, buscando atingir o estado fundamental ( L’ANNUNZIATA, 2016). Comparando os três tipos de IR, a alfa é a de maior energia (poder de ionização) e menor poder de penetração na matéria, sendo barrada por uma folha de papel; a beta possui uma menor energia e um poder de penetração intermediário, sendo barrada pelo corpo humano; e os raios gama possuem uma menor energia e o maior poder de penetração, não sendo barrada nem mesmo por um bloco de chumbo (Figura 3). Figura 3. Imagem esquemática para representar o poder de penetração das radiações ionizantes. Fonte: Adaptado de World Nuclear Association (2017) <http://www.world- nuclear.org/getmedia/280bdda7-182d-49d1-9e96- 67f5dc66e2e5/pocket_guide_radiation.pdf.aspx>. Devido a diversidade da natureza do material e de modos de interação, a energia transferida das partículas ionizantes nem sempre é totalmente absorvida pela matéria-alvo. Dessa forma, pode ser estabelecida uma razão entre a energia absorvida, isto é, a energia depositada pela radiação em um determinado ponto do alvo, e a massa do volume do material atingido. Essa relação é definida como Dose Absorvida, a unidade de medida é J/Kg ou Gray (Gy). Quando fala-se da interação da IR com amostras biológicas vivas, utiliza-se a grandeza Dose Equivalente (ou http://www.world-nuclear.org/getmedia/280bdda7-182d-49d1-9e96-67f5dc66e2e5/pocket_guide_radiation.pdf.aspx http://www.world-nuclear.org/getmedia/280bdda7-182d-49d1-9e96-67f5dc66e2e5/pocket_guide_radiation.pdf.aspx http://www.world-nuclear.org/getmedia/280bdda7-182d-49d1-9e96-67f5dc66e2e5/pocket_guide_radiation.pdf.aspx 19 Equivalente de Dose), esta é dada pela dose absorvida multiplicada por um fator de qualidade Q, ele constitui o valor adimensional simplificado que representa os diferentes tipos de radiação na indução do mesmo efeito biológico, a unidade de medida também é J/Kg, mas é denominada como Sievert (Sv) (TAUHATA et al., 2014). A fração de energia absorvida pelas células do corpo tem a capacidade de interagir com seus átomos e moléculas causando alterações. No momento em que a radiação é absorvida pelo corpo ela tem a maior probabilidade de se chocar com a água ou com o DNA, sendo estes dois choques responsáveis pelos tipos de efeitos que a radiação tem no organismo. Ao interagir com a água a radiação causará o chamado efeito indireto, no qual essa interação resultará na radilólise da água, isto gera espécies químicas reativas (radicais livres), que irão oxidar proteínas, lipídios e ácidos nucleicos (causando danos no DNA). Já ao interagir diretamente com o DNA a radiação provoca o chamado efeito direto, causando diversas alterações diretamente nele, como a quebra das pontes e da dupla fita (ROBERTSON et al., 2013) (Figura 4). Ambos os efeitos culminam em alterações bioquímicas, as quais induzem sinalizações moleculares a fim de corrigir esses danos, caso o reparo não seja obtido os danos resultam em alterações fisiológicas permanentes (mutação, por exemplo) e podem até levarà morte celular ( AZZAM et al., 2012). Figura 4. Efeitos celulares da radiação ionizante. Representação esquemática tanto o efeito direto, quanto do efeito indireto. Fonte: adaptada de AZZAM et al, 2012. 20 Devido a essa ação danosa nos tecidos vivos, muitos estudos in vitro, in vivo e epidemiológicos fornecem fortes evidências de associação entre a exposição à IR e o aumento do risco de desenvolver algum tipo de câncer (HAMZA, 2008; LENG et al., 2013), mais recentemente tem sido associada também ao desenvolvimento de algumas doenças degenerativas e cardiovasculares (LITTLE et al., 2010; BAKER et al., 2011). O risco à saúde humana e de outros seres vivos quando expostos a radiação ionizante ficou muito mais evidente nos acidentes radioativos, como as bombas atômicas lançadas na Segunda Guerra Mundial, a explosão do quarto reator nuclear em Chernobyl, Ucrânia, e o acidente com cloreto de césio em Goiânia, Brasil. Porém esses acidentes foram casos específicos que ocorreram e pode ser considerado como eventos pouco comum de exposição. Dentre as fontes de radiação que somos expostos cotidianamente destaca-se o gás radônio, como mostrado anteriormente na Figura 2. O radônio-222 (será denominado apenas de Rn no decorrer deste trabalho), é um gás incolor, inodoro e insípido, é um dos isótopos formados na cadeia de decaimento do urânio (Figura 5). Ele possui um tempo de meia-vida curto, de 3,8 dias (National Center for Biotechnology Information, 2019) seus produtos radiativos emitem níveis significantes de partículas alfa e um baixo nível de partículas beta e raios gama, o que leva a danos que podem ser perigosos para saúde humana (ROBERTSON et al., 2013). É possível encontrar traços de Rn em muitas rochas, solos e no ar. Ao ser inalado ele continua seu decaimento no interior dos pulmões, e vai liberando radiação até se transformar no elemento final estável, o chumbo-210 (Figura 5). A radioatividade deste processo pode causar mutações no tecido pulmonar, sendo isto responsável por aumentar o risco de carcinogênese neste órgão (OMS, 2009). Por isso, o radônio e seus subprodutos que também liberam partículas alfa e beta foram categorizados no Grupo 1, que corresponde aos agentes carcinogênicos para humanos (IARC, 2018), pela Agência Internacional de Pesquisas em Câncer (IARC). 21 Figura 5. Representação esquemática da cadeia de decaimento do urânio. Em cada hexágono encontra-se escrito, de baixo para cima, o tempo de meia-vida, o símbolo do elemento e a sua massa atômica. Em cima de cada seta está simbolizado o tipo de partícula (alfa ou beta) emitida. Fonte: adaptada de World Nuclear Association (2019) <http://www.world-nuclear.org/information- library/safety-and-security/radiation-and-health/naturally-occurring-radioactive-materials-norm.aspx>. Tendo em vista o risco para a saúde humana, a exposição natural ao radônio é um fato de preocupação mundial, levando muitos países a adotarem medidas de controle e redução da exposição a este gás, além de informar a população sobre esta problemática (AGENCY, 2016). Nestes projetos vários países construíram mapas dos níveis de radiação de sua região, como observado os mapa dos Estados Unidos (AGENCY, 2016), Canadá (CORP., 2011), Inglaterra e outros países europeus (ENGLAND e UKRADON ; GRUBER et al., 2013). Esses feitos governamentais facilitam gerenciar o risco à saúde das populações. Nos países em desenvolvimento a preocupação de minimizar os riscos da radiação de fundo começou somente no início dos anos 2000. No Brasil ainda não há regulamentos ou leis que delimitam, controlam ou remediam a exposição ao Rn. Porém, esforços tem sido feitos para iniciar atividades de caracterização e gerenciamento de risco, como a realização de medições de radioatividade natural em diversas regiões (ALMEIDA, 2004; BONOTTO, 2014) para futuramente se criar o mapa dos níveis de Rn no Brasil (SILVA et al., 2014). Devido à relevância do assunto radiação e saúde humana, muitos estudos foram feitos em relação a essa temática. Samet (2011) traz em sua revisão o resultado http://www.world-nuclear.org/information-library/safety-and-security/radiation-and-health/naturally-occurring-radioactive-materials-norm.aspx http://www.world-nuclear.org/information-library/safety-and-security/radiation-and-health/naturally-occurring-radioactive-materials-norm.aspx 22 de um estudo de 2005 realizado na América do Norte, o qual contempla 7 estudos com 3.662 casos de câncer e 4.966 controles, este mostra que há um aumento no risco de câncer de pulmão de 11% por 100 Bq/m3; um estudo semelhante realizado na Europa com 7.148 casos e 14.208 controles mostrou algo parecido, um aumento de 8% por 100 Bq/m3. Dessa forma a evidencia do radônio e o risco de câncer de pulmão é substancial e coerente, e a radiação interna das residências é fortemente considerada carcinogênica. Baseado nesses e em muitos outros estudos observa-se que exposição à radiação, especificamente o gás radônio apresenta um grande impacto a saúde pública, sendo essa uma das justificativas para a importância deste trabalho. 1.2. CASO ESPECÍFICO DE RADIOATIVIDADE NATURAL NO NORDESTE DO BRASIL No interior do estado do Rio Grande do Norte (RN), Brasil, há o município de Lajes Pintadas (Figura 6), ela é uma região de interesse para investigações científicas multidisciplinares que envolve tanto Geologia como vários campos da Biologia, pois possui uma problemática particular. Lajes Pintadas foi reconhecida oficialmente como município no dia 31 de Dezembro de 1958; localiza-se na mesorregião Agreste Potiguar a 136 Km de Natal, capital do RN, 13 Km a Noroeste de Santa Cruz, a maior cidade dos arredores, e apresenta limites com as cidades de São Tomé, Santa Cruz e Campo Redondo (Figura 6); possui uma área de aproximadamente 130 Km2 e uma população de 4.612 habitantes, segundo o último censo do IBGE em 2010 (ESTATÍSTICA, 2017). A densidade demográfica é de 35,4 habitantes por Km2, situada a 340 metros de altitude, nas coordenadas de latitude 6° 9' 2'' Sul e longitude: 36° 6' 22'' Oeste. A história conta que o riacho de Lajes Pintadas foi denominado assim por causa da existência de uma pedra com desenhos rupestres, eram figuras humanas e inscrições gráficas não definidas feitas com tinta permanente e de cor vermelha (BIBLIOTECA, 2019). A cidade em questão se desenvolveu em uma região antiga geologicamente conhecida como microrregião da Borborema Potiguar (Figura 6), é formada por rochas da era Pré-Cambriana como o granito, migmatitos, pegmatitas, file:///E:/Biomedicina%20-%20UFRN/TCC/Projeto%20-%20Genética/Introdução.docx%23_ENREF_19 23 entre outras, um problema é que essas formações rochosas possuem em sua constituição traços de urânio e o tório (ANGELIM et al., 2006). Figura 6. Mapa da localização geográfica de Lajes Pintadas. Em (A) está representado o mapa do Brasil, com destaque em preto no estado do Rio Grande do Norte, o qual aparece ampliado em (B), com a microrregião da Borborema Potiguar em cor cinza; o município de Lajes Pintadas destaca-se dos demais pela coloração preta; as cidades vizinhas são, São Tomé (ST), Santa Cruz (SC) e Campo Redondo (CR); a capital do estado, Natal, encontra-se marcada com um quadrado vermelho. Fonte: Imagem feita com mapas disponíveis na internet. O clima de Lajes Pintadas é muito quente e semi-árido, com estações chuvosas, temperaturas médias anuais máxima de 33,0°C e mínima de 21,0°C; umidade relativa média anual de 71%; a vegetação é caatinga hipoxerófila, apresenta arbustos e árvores com espinhos e de aspecto menos agressivo do que a caatinga hiperxerófila, destacam-se as espécies de catingueira, angico, braúna, juazeiro, marmeleiro, mandacaru e aroeira (PAIVA, 2019). A depender de fatores climáticos e da atividade humana, os elementosradioativos e os seus produtos derivados do decaimento podem se acumular e contaminar o ar, solo e águas superficiais e subterrâneas, dessa forma afetando a qualidade e utilidade destes para diversas atividades socioeconômicas. Baseado nesta problemática da região ela foi alvo de alguns estudos relacionados ao assunto. Campos et al. (2013) verificou que as concentrações de radônio no ar dentro das residências (radônio interior) da cidade extrapolam o limite estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) de 100 Bq/m3. Como também foi mostrado que o nível máximo de radônio nas águas preconizado pela Agência Ambiental Americana é de 11 Bq/L, e o valor encontrado no açude de Lajes Pintadas foi entre 48 e 76 Bq/L com uma média de 61 Bq/L, um valor de alfa total entre file:///E:/Biomedicina%20-%20UFRN/TCC/Projeto%20-%20Genética/Introdução.docx%23_ENREF_5 24 0,2 e 0,99 Bq/L com uma média de 0,71, e um beta total entre 0,15 e 0,28 Bq/L e média de 0,18. Ainda, o trabalho realizado por Dantas et al. (2013) comprovou a toxicidade na água da cidade em questão, por radônio e outros metais pesados, foi observado também que no município existem afloramentos rochosos com a presença de urânio que libera radônio e chumbo para o ambiente. Tudo leva a crer que esta é a causa da maior incidência de câncer na cidade, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), de 1997 a 2017, a taxa bruta de mortalidade causa por câncer por 100.000 homens e mulheres por ano, em Natal/RN variou de 70,25 a 120,01, sendo o valor máximo correspondente ao último ano analisado; já na cidade de Lajes Pintadas/RN, no mesmo período de tempo, a taxa bruta variou de 0,00 a 188,84, valor máximo atingindo em 2011, em 2017 a taxa foi de 104,25 (Figura 7). Os tipos de câncer que causam maior taxa de mortalidade no município de Lajes Pintadas são orofaringe, no trato gastrointestinal e pulmão. A mortalidade por câncer de pulmão variou ao longo dos 20 anos analisados, possuindo momentos em alta e momentos ausentes (Figura 8) (INCA, 2017). Baseado nessa problemática e nessas evidências, o objetivo desse trabalho foi avaliar os efeitos da radiação natural no epigenoma dos moradores do município de Lajes Pintadas, estado do RN. 25 Figura 7. Tabela representando as taxas de mortes por todos os tipos de neoplasias. Em A está representado as taxas de mortalidade por todas as neoplasias, brutas e ajustadas pelas populações mundial e brasileira de 2010, por 100.000 homens e mulheres, Lajes Pintadas - RN, entre 1997 e 2017.Em B está representado as taxas de mortalidade por todas as neoplasias, brutas e ajustadas pelas populações mundial e brasileira de 2010, por 100.000 homens e mulheres, Natal - RN, entre 1997 e 2017. Fontes: MS/SVS/DASIS/CGIAE/Sistema de Informação sobre Mortalidade – SIM MP/Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE MS/INCA/Conprev/Divisão de Vigilância. Figura 8. Taxas de mortalidade por câncer de brônquios e pulmão, brutas e ajustadas pelas populações mundial e brasileira de 2010, por 100.000 homens e mulheres em Lajes Pintadas - RN, entre 1997 e 2017. Fontes: MS/SVS/DASIS/CGIAE/Sistema de Informação sobre Mortalidade – SIM MP/Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE MS/INCA/Conprev/Divisão de Vigilância. 26 1.3. EXPLANÇÃO SOBRE EPIGENÉTICA E DESTAQUE PARA METILAÇÃO Epigenética significa “em adição à informação genética codificada no DNA”, ou seja, refere-se às alterações que ocorrem na expressão gênica sem ocorrer nenhuma alteração no código genético em si (WERNER; KELLY; ISSA, 2017). Ela se consolida por modificações químicas reversíveis e herdáveis na cromatina (COSTA; PACHECO, 2013). O código epigenético controla mecanismos do genoma de quando e onde os genes devem ser expressos. Para entender melhor a epigenética e sua relevância é importante relembrar alguns conceitos mais antigos. Como o fato de que além das sequências nucleotídicas de DNA a organização da cromatina é fundamental para os padrões de expressão gênica (Figura 9), assim regiões menos compactadas, chamadas eucromatina, são mais acessíveis a fatores de transcrição e assim são expressos; já as regiões mais compactadas, heterocromatina, não são acessíveis a transcrição e os genes dessa região são silenciados enquanto não há um remodelamento que permita o acesso do maquinário de transcrição, assim apesar de estarem presentes no DNA, não estarão formando proteínas e por isso não possuirão efeito fenotípico. É justamente a epigenética que regula essa compactação da cromatina, dessa forma, a expressão dos genes, pois ela possui mecanismos para a organização estrutural da cromatina tornando-a mais acessível ou não aos fatores de transcrição (CANN; DELLAIRE, 2011). 27 Figura 9. Representação esquemática da compactação da cromática. Abaixo da linha pontilhada encontrasse a organização de eucromatina, DNA menos compactado; já a cima encontrasse a organização de heterocromatina, DNA mais compactado. Fonte: Adaptada de Gore; Baylin; Herman (2016). Apesar de não serem alterações na sequência de DNA, as alterações epigenéticas podem ser mantidas nas divisões celulares por todo o tempo de vida da célula e até mesmo por várias gerações. Essa é uma ideia relativamente recente e inovadora, pois acreditava-se que somente informações contidas no código genético em si eram herdadas, porém hoje sabe-se que informações extras, guardadas na organização da cromatina, que influenciam diretamente na expressão ou silenciamento dos genes também são transmitidas por gerações, relacionando-se ainda com predisposições às doenças e hábitos de vida (MANJREKAR, 2017). De acordo com os hábitos de vida e o ambiente social em que o indivíduo está inserido, podem ocorrer algumas alterações químicas no DNA e nas proteínas que o envolvem, afetando as funções de alguns genes, ou seja, alterações epigenéticas que podem ser transmitidas para os descendentes. Dessa forma, alterações epigenéticas podem ser desencadeadas no genoma de um indivíduo em qualquer momento de sua vida, levando ou não ao desenvolvimento de determinadas patologias (COSTA; PACHECO, 2013). Acreditava-se que em um embrião, o epigenoma era completamente apagado e reconstruído do zero em um processo chamado de reprogramação, do qual o embrião sairia com uma lousa em branco (blank slate) e sem nenhuma marca epigenética prévia. No entanto descobriu-se que isso não é totalmente verdade, alguns traços epigenéticos se mantém em alguns genes (em 1% deles, nos mamíferos) e passam de geração em geração, processo chamado de herança epigenética. Este é um fato não convencional e vai contra a ideia de que herança só acontece através de informações contidas no código do DNA, e mostra que experiências adquiridas ao longo da vida dos pais, em forma de marca epigenética, podem passar para gerações futuras (GAPP; BOHACEK, 2017). A epigenética possui muitas aplicações médicas, está relacionada a doenças genéticas congênitas, a predisposições a determinadas condições ou doenças, marcas epigenéticas, dentre outras situações (SOUBRY, 2017). Em um estudo feito analisando 200 anos de recursos alimentares em uma pequena cidade na Suécia, foi observado uma conexão entre a disponibilidade alimentar (muita ou pouca comida) 28 em uma geração e a incidência de diabetes e doenças cardíacas em gerações futuras (KAATI et al., 2007). Em 1940 iniciou-se um debate sobre epigenética devido a epidemia de obesidade nas crianças dos Estados Unidos, os péssimos hábitos alimentares dos estadunidenses devido aos fast foods é indiscutível, porém estudos apontam que talvez o problema não seja só nutricional, mas também epigenético, acredita-se que os hábitos alimentares das gestantes no primeiro trimestre gestacional impacta fortemente no metabolismodo filho, devido à ligação de alguns compostos a determinados genes que impedem sua expressão. Muitos estudos mostram que compostos como tabaco e alimentos possuem a capacidade de impedir a expressão de genes através de modificações epigenéticas. Outros exemplos de herança epigenética incluem permutação, imprinting genômico (KALISH; JIANG; BARTOLOMEI, 2014), inativação do cromossomo X (śYLICZ et al., 2019), reprogramação (KELLY; ISSA, 2017), progresso de carcinogênese (KANWAL; GUPTA; GUPTA, 2014), efeitos teratogênicos (TUNG; WINN, 2010), regulação das modificações de histona e heterocromatina, limitações técnicas afetando partenogênese e clonagem, dentre outros. Outro ponto importante relacionado a epigenética é a evolução. É importante pensar que o genoma muda lentamente através de mutações aleatórias e seleção natural, dessa forma leva muito tempo para um traço genético se tornar comum em uma população. Por outro lado, o epigenoma pode mudar rapidamente em resposta a sinais do ambiente, além disso, variações epigenéticas podem ocorrer em muitos indivíduos de uma vez. Através da herança epigenética, algumas experiências dos pais podem passar para gerações futuras, e mesmo assim o epigenoma continua flexível às condições ambientais e continua a mudar. A herança epigenética permite que o organismo continuamente ajuste a expressão gênica para se adaptar ao ambiente (QUINTANA-MURCI, 2016). A epigenética é essencial na função das células do organismo, como todas contêm os mesmos genes, ela serve como meio de controle das funções de cada gene, de acordo com cada uma delas. No fim da década de 50, o biologista do desenvolvimento, Conrad Waddington, propôs a epigenética para se referir aos “eventos que conduzem ao desdobramento do programa genético para o desenvolvimento”, assim entende-se que as mudanças epigenéticas desempenham um importante papel no processo de diferenciação celular, permitindo que as células 29 mantenham características estáveis diferentes apesar de conterem o mesmo material genômico (ANELLI, 2019). Como todas as células do corpo originaram-se de uma única célula, o zigoto, todas possuem o mesmo material genético, porém elas se diferenciam em tecidos totalmente diferentes com as mais diversas funções, e isso só é possível devido à epigenética, a qual permite que genes expressos (ativos) em algumas linhagens celulares estejam inativos (não-expressos) em outras (PALDI, 2017). Sabe-se que a expressão gênica segue a ordem de transcrição (DNA gera RNA) e tradução (RNA gera proteína), mas cada célula expressa um número restritos de genes, justamente devido o controle epigenético. Por exemplo, um neurônio não expressa hemoglobina nem mioglobina, porém expressa dopamina; já uma célula muscular não expressa hemoglobina nem dopamina, mas expressa mioglobina; e uma hemácia não expressa mioglobina nem dopamina, mas expressa hemoglobina; as três linhagens celulares possuem os três genes, no entanto dois deles estão silenciados epigeneticamente em cada uma delas, o que as torna especificas para cada uma de suas funções. De forma geral, a regulação epigenética está envolvida na expressão gênica tecido-específica e no silenciamento de elementos transponíveis, inibindo a replicação e transposição dos mesmos e, desse modo, prevenindo a inserção de agentes mutagênicos em outras partes do genoma (HOWELL et al., 2009). Pensando agora de maneira mais ampla é possível trazer o conceito de epigenoma. Se genoma é o conjunto de genes de um organismo, epigenoma é o conjunto de modificações químicas no genoma e na cromatina. Gêmeos univitelinos são formados do mesmo zigoto e possuem o mesmo material genético, porém acumulam diferenças ao longo da vida, pois o ambiente influencia no fenótipo a partir de alterações epigenéticas, fazendo com que o padrão destas sejam diferentes entre os irmãos monozigóticos (ZAMPIERI et al.,2015). É importante ressaltar também que alterações no epigenoma podem afetar as alterações no genoma e vice-versa, por exemplo, a compactação da cromática evita a quebra de trechos do DNA, já a desmetilação pode facilitar essa quebra; outro exemplo é que mutações em genes da produção de enzimas metiladoras afetam os padrões epigenéticos. Como mencionado anteriormente as marcas epigenéticas são pontuais e marcam ou desmarcam o começo ou fim de genes. Muitas são as modificações químicas que ocorrem no DNA e/ou na cromatina que caracterizam a epigenética 30 (Figura 10), essas modificações alteram a interação entre o DNA e as histonas, assim alterando o grau de enovelamento da cromatina e a atividade gênica (MOSS; WALLRATH, 2007), dentre essas mudanças as principais são a metilação do DNA, caracteriza-se pela metilação feita pelas metiltransferases nas ilhas CpG, as quais antecedem, geralmente, regiões promotoras de genes. Esse mecanismo epigenético causa o silenciamento da expressão gênica se houver uma hipermetilação, ou um aumento da expressão caso ocorra uma hipometilação (ELHAMAMSY, 2017). As modificações pós-tradução de histonas, estas são as proteínas ligadas ao DNA deixando-o mais ou menos compactados, podem sofrer metilações, ubiquitinação, fosforilação, sumolação e acetilação (CASTILLO; LÓPEZ-RODAS; FRANCO, 2017), a primeira alteração depende do resíduo de aminoácido onde ocorre a metilação (por exemplo, a metilação no resíduo 9 da histona causa desativação do gene, já a metilação do resíduo 4 da mesma histona causa a ativação da expressão gênica) (CRANE-ROBINSON, 2016), a última alteração relaciona-se com a ativação de genes devido à mudança de carga entre as histonas e o DNA (se ocorre a acetilação a cromatina fica descompactada e ocorre a expressão, já se ocorre a desacetilação a cromatina fica compacta e ocorre o silenciamento) (KHANGURA et al., 2017). A remodelação da cromatina, utiliza a energia da hidrolise do ATP para mover o nucleossomo (um octâmero de histonas envolvidos por 146 pares de bases, de forma que a fita de DNA dá quase duas voltas no octâmero), o que altera a compactação da cromatina, deixando mais ou menos denso/empacotado ou espalhado/desempacotado nos locais de início de transcrição. E ainda os RNAs não-codantes, há vários tipos de RNAs, pequenos, médios e longos, que não codificam proteína (RNA mensageiro), nem são RNAs ribossômicos, nem transportadores, eles servem muitas vezes para controlar a expressão de alguns genes, exemplos deles são micro RNAs (miRNAs) que silenciam genes pós- transcrição se ligando a RNAs mensageiros e impedindo sua tradução, Piwi-RNAs (piRNAs) que controla elementos transponíveis e direciona metilação de DNA dos mesmos, e Long non-coding RNAs (lncRNAs) que agem diretamente como maquinaria epigenética (SZULWACH et al., 2010; JOBE; MCQUATE; ZHAO, 2012). 31 Figura 10. Esquema de alguns dos principais mecanismos epigenéticos. Estão representados a metilação do DNA, como forma de modificação epigenética no DNA. E como ação da epigenética na modificação da cromatina estão representados, acetilação, metilação, fosforilação e ubiquitinação das histonas; remodelação da cromatina, na reorganização dos nucleossomos; micro-RNA, Piwi-RNA e Long non-coding RNAs (lncRNAs), como RNAs não codantes modulando a expressão gênica. Fonte: Imagem própria feita baseada em diversos esquemas encontrados em sites e artigos. Todos os mecanismos epigenéticos mencionados nos parágrafos anteriores são importantes no epigenoma e sua função, porém agora será dada uma explanação maior sobre a metilação do DNA especificamente, pois é uma das modificações químicas que ocorre mais frequentemente em eucariotos como plantas, fungos, vertebrados e invertebrados (KILGORE, 2007; ZILBERMAN, 2007), além disso é o foco de estudo do presente trabalho. A metilação foi o primeiro mecanismo epigenético proposto em 1975,consistindo na adição de um radical metil (CH3) no carbono 5 da base nitrogenada citosina (Figura 11), a qual é seguida por uma guanina. Isso ocorre em uma região especifica, as chamadas ilhas CpG, as quais correspondem a regiões genômicas com mais de 500 pares de bases de comprimento e com um grande número de dinucleotídeos CG, sendo que cerca de 55% dessas ilhas estão localizadas nas regiões promotoras de aproximadamente 40% dos genes dos mamíferos (COSTA; PACHECO, 2013). 32 Figura 11. Representação esquemática da conversão da citosina para 5-metilcitosina. Fonte: Imagem adaptada de Kabesch, Michel e Tost, 2010. A citosina metilada passa a ser chamada de 5-metil-citosina. A adição do grupo metil é feita pelas enzimas DNA-metil-transferases (DNMTs), sendo que há três tipos delas: DNMT3A e DNMT3B que fazem nova metilação, e DNMT1 que faz a manutenção de metilações já existentes (FAN et al., 2009). A DNMT1 reconhece as regiões onde os dinucleotídeos CpG estão metilados na fita molde, e promove a metilação do carbono 5 da citosina na fita filha, recém-formada, garantindo assim a conservação do estado de metilação após a replicação, o que pode por exemplo, assegurar a manutenção das características de uma célula diferenciada (LU et al., 2019). Já o processo da desmetilação poder ser ativo ou passivo. O primeiro envolve um grupo de enzimas especificas, as desmetilases, e parece ser necessário para ativar genes específicos ou apagar a marca epigenética durante o desenvolvimento ou em respostas a perturbações ambientais. O segundo não envolve desmetilases e ocorre quando a manutenção pelas metiltransferases é inativa durante o ciclo celular (OLIVEIRA et al., 2010). A modificação de citosina para 5-metilcitosina faz com que fatores de transcrição como AP-2, cMYC/MYN, CREB, E2F e NFкB não reconheçam e não se liguem aos sítios de iniciação da transcrição, porém esses sítios de ligação podem ser ocupados por outras proteínas como MeCP-2, MBD1, MBD2, MBD3 e MBD4, que se 33 ligam às citosinas metiladas e estimulam a condensação da cromatina, inativando o gene (COSTA; PACHECO, 2013). É dessa forma que a metilação do DNA leva ao recrutamento de histonas que causam a compactação da cromatina, o que impede que a enzima RNA-polimerase se ligue à molécula, impedindo a formação do RNA mensageiro e consequentemente de sua proteína, impedindo assim a expressão gênica (silenciamento gênico). Logo, esta é a principal função da metilação, mas ela desempenha também papeis de imprinting genômico e um desequilíbrio da mesma está relacionado com desenvolvimento de neoplasias (PAN et al., 2017). Em contrapartida, o nível de metilação dos dinucleotídeos CpG fora da ilha chega a cerca de 70%, grande parte destes existem em regiões genômicas de elementos transponíveis inseridos no genoma humano, e a metilação destes ocorre justamente para impedir a iniciação da transcrição e a transposição desses elementos (ZHENG et al., 2017). As ilhas CpG em mamíferos se formaram ao longo do tempo evolutivo devido ao funcionamento das enzimas de reparo. Isso porque as citosinas metiladas tendem a ser excluídas do genoma, pois quando sofrem uma desaminação não geram um componente estranho na molécula de DNA, elas geram uma timina que é indistinguível como mutação e na replicação servirá de molde para parear com uma adenina, o que substitui o antigo par C-G por um par T-A, assim o erro não é detectado e a mutação é transmitida na replicação. Esse problema não ocorre nas citosinas não metiladas, pois ao serem desaminadas elas viram uma uracila, a qual não é comum no DNA por isso é reconhecida e o erro é reparado, impedindo a perpetuação da mutação. Dessa forma estima-se que ao longo do curso evolutivo três de cada quatro CpGs foram perdidas, resultando em uma deficiência desta sequência nos vertebrados. As citosinas e guaninas remanescentes estão em ilhas CpG, as quais são geralmente relacionadas a promotores de genes (YANG et al., 2016). Recentemente estão sendo realizados esforços para criar o “metiloma”, que seria um banco de dados para o reconhecimento e aferimento de regiões contendo característicos pontos de metilação do DNA e seus possíveis efeitos nos organismos. Em humanos, o metiloma é essencial para os avanços nas pesquisas na área de metilação e sua relação com o envelhecimento e desenvolvimento de doenças. Diversas são as implicações da metilação para os organismos, como sua relação com o envelhecimento, recentemente as regiões CpGs metiladas do genoma humano 34 estão sendo utilizadas como biomarcador para o mesmo, são usadas para criar relógios epigenéticos, os quais estimam com alta precisão a idade de certas células e tecidos, possui alto poder de previsibilidade do envelhecimento, longevidade e possíveis causas de morte, porém ainda não se sabe se os níveis de metilação são causa ou consequência do envelhecimento (GRAVINA; VIJG, 2009). Outra correlação feita é entre a desregulação dos níveis de metilação do DNA e a presença de tumores e cânceres, devido a alterações nos níveis de metilação de ilhas CpGs de promotores, reparo do DNA e microRNAs. Esses dados apontam que a relação entre metilação e câncer seria causada pela instabilidade no funcionamento dos mecanismos de silenciamento genético, o que levaria à desregulação de genes envolvidos no controle de fatores relacionados ao desenvolvimento de câncer. É observado que alterações nos padrões de metilação do DNA podem aparecer em organismos com idade avançada e nos estágios iniciais da carcinogênese (HARRISON; PARLE-MCDERMOTT, 2011). Além do ambiente em que o indivíduo está inserido, o próprio microambiente celular pode afetar os padrões epigenéticos. Fato que pode contribuir para o surgimento de neoplasias e tumores, muitos são os genes associados com a supressão de tumores, regulação da divisão celular e outros processos vitais. A primeira evidência da participação da epigenética no desenvolvimento de neoplasias, originou-se da descoberta da hipometilação global do genoma e da hipermetilação de ilhas CpG normalmente não-metiladas, as quais abrigam promotores de genes responsáveis pelo controle do ciclo celular, reparo do DNA e apoptose, em câncer colorretal (FAN et al., 2009). Desde então, a epigenética tem prometido muito para estudos com câncer, pois são vistas aberrações epigenéticas de metilação de DNA (hipermetilação ou hipometilação), de modificações de histonas e variações, de arquitetura nuclear e de RNAs não codantes. Isso causa implicações clínicas para controle das aberrações, procurando-se por diagnóstico usando biomarcadores de alterações epigenéticas, prognósticos com alterações específicas e terapia com inibidores de modificação epigenética. Pensando na metilação envolvida com o desenvolvimento de cânceres, sabe- se que a hipermetilação de um gene supressor tumoral, logo seu silenciamento (inativação), pode levar ao surgimento de algum tipo de câncer, fazendo com que os fenótipos cancerígenos tenham menor resistência dos mecanismos de defesa 35 celulares e sistema imunológico. Assim como a hipometilação, logo expressão (ativação) de um oncogene ou de um transposon também pode levar a formação do tumor (PORTELA; ESTELLER, 2010; JONES, 2012; HEYN; ESTELLER, 2012; JOHNSON et al., 2015; DAURA-OLLER et al., 2009). Ou seja, a ativação de um gene que deveria estar suprimido ou a inativação de um que deveria estar expresso pode levar a muitas desordens no organismo, inclusive o câncer, por isso analisar a metilação do genoma de indivíduos é de grande importância para avaliar a influência ambiental no surgimento de alguns tipos de canceres. Além disso, as marcas epigenéticas também podem indicar como será a resposta de pacientes a determinados quimioterápicos. Pesquisas mostraram que a hipoe a hipermetilação do DNA estão diretamente relacionadas com o câncer por meio de quatro mecanismos: desmetilação global do DNA; hipermetilação de genes supressores tumorais; transição de 5-metilcitosina para timina em células tumorais; e indução da instabilidade cromossômica (GRYZIÑSKA et al. 2013). Como exemplo de câncer relacionado a aberrações no padrão de metilação genômico, é possível citar Russo et al. (2005): o grupo estudou a relação de câncer de pulmão com o padrão de metilação, selecionaram prováveis lesões pré-neoplásicas (células epiteliais brônquicas expostas à fumaça) e neoplásicas (tumores primários de pulmão) com amostras de sangue correspondentes para avaliar o status de metilação de seis genes específicos selecionados, ECAD, p16, DAPK, MGMT, GSTP1 e SMAD8, foi usada a análise MSP, o resultado do trabalho mostrou que dos 6 genes estudados 4 (DAP, ECAD, p16 e MGMT) apresentam metilação aberrante, do tipo hipermetilação, com valor de p significante. Como foi mostrado, a alimentação, a exposição à poluição e à radiação, o uso de drogas, o estresse, o comportamento, a prática de exercícios, dentre outros fatores ambientais, durante os períodos pré e pós-natal também podem servir para alterar algumas funções dos genes, deixando "marcas epigenéticas" que elevam o risco de desenvolvimento de doenças, e poderão ser herdadas pelas gerações futuras daquele indivíduo (JIRTLE; SKINNER, 2007). No caso do presente trabalho a exposição ambiental estudada é a radiação natural pelo gás radônio em Lajes Pintadas/RN, assim tendo em vista a importância da epigenética, especificamente da metilação, no processo de carcinogênese frente a esse tipo de exposição, essa foi o foco de análise escolhido. 36 1.4. FOCO NO ELEMENTO NUCLEAR LONGO INTERCALADO – 1 (LINE-1) Devido estudos realizados no genoma humano, sabe-se que apenas 2% dele são codantes, ou seja, após a tradução resultarão na formação de proteínas, diferentemente dos outros 98% restantes. Por muito tempo estes últimos foram chamados de “DNA Lixo”, porém esse é um termo inadequado, pois apesar de não produzirem proteínas esses genes têm suas respectivas funções e interferem de forma direta na célula e na expressão de outros genes (LING et al., 2015). Desses 98%, 27% são íntrons e regiões não traduzidas (UTRs), 25% correspondem a regiões de elementos regulatórios e genes de RNAs não codantes, e 45-46% são as sequências repetitivas. Dessa forma, fica claro que no genoma são abundantes as sequências repetitivas intercaladas (IRSs), e as quatro principais são: Elementos Nucleares Longos Intercalados (LINEs), Elementos Nucleares Intercalados Curtos (SINEs), Retrovírus Endógeno Humano E (HERV-E) e Retrovírus Endógeno Humano K (HERV- K). Existem dois grandes grupos, baseados em sua localização: os transposons (2,8% do genoma), os quais são elementos saltadores e são recortados e colados em outro local, e os retrotransposons (42,2% do genoma), que sofrem transcrição e depois retrotranscrição. LINE-1 e Alu (um tipo de SINE) são classificadas como retrotransposons sem repetições terminais longas (LTR) (SUKAPAN et al., 2014), destes são três os principais tipos que permanecem inequivocamente ativos: LINE-1 (L1), Alu e SVA. O primeiro é autônomo e capaz de se auto programar através de RNAs intermediários, ele que mobiliza os outros dois que não são autônomos (XIAO- JIE et al., 2015). Dessa forma, analisando o nível de metilação desses elementos é possível obter um panorama geral do nível de metilação do genoma do indivíduo estudado, é por esta razão que no presente trabalho foi feita análise do nível de metilação do LINE- 1, especificamente. Evidências na literatura sugerem que a hipometilação do L1 pode estar associada com o risco de desenvolvimento de vários cânceres, mais especificamente, esse achado no sangue periférico pode ser um biomarcador para câncer de colo retal e de pulmão. Vale lembrar que normalmente tanto o LINE-1 como 37 os demais transposons estão altamente metilados, justamente para garantir sua inativação (POULIN et al., 2018). Focando especificamente no LINE-1, é importante defini-los como sendo elementos transponíveis no DNA, retrotransposons. Ele pertence ao grupo de elementos nucleares longos intercalados (LINEs), o que caracteriza sequências nucleotídicas repetitivas intercaladas por genes, há 500.000 copias de L1, elas compreendem aproximadamente 17% do genoma humano. Devido estarem fortemente presentes no genoma e possuírem a capacidade de “se moverem” dentro dele, “copiando e colando”, o que poderia acarretar em graves danos na sequência de genes importantes do DNA, dependendo de onde esses retransposons sejam inseridos, por exemplo dentro de genes ou sequências regulatórias, a maioria deles estão inativados por mecanismos epigenéticos, principalmente a metilação. Cerca de 50 a 120 L1 são ativos no genoma humano, estes são fontes de mutagêneses endógenas que causam variação genômica individual e pode participar na patogênese de muitas doenças genéticas, inclusive o câncer (KAER; SPEEK, 2013). Estruturalmente, um elemento típico de LINE-1 possui aproximadamente 6.000 pares de bases (pb) de comprimento, é composto por uma região 5´UTR, dois quadros abertos de leitura (ORF) não sobrepostos, locais de destino, e a região 3´UTR com a calda poli A (Figura 12). A região UTR corresponde a uma região não traduzida que contém dois promotores, um senso e outro anti-senso, em humanos ela possui 900 pb, é a região onde a RNA polimerase II se liga e inicia a transcrição do L1. O primeiro ORF (ORF1) codifica uma proteína de 500 aminoácidos, aproximadamente 40 kDa, esta não é semelhante a nenhuma de função conhecida, as proteínas se juntam formando trímeros que abrigam um motivo de reconhecimento de RNA, as quais seriam usadas para retrotransposição. O segundo ORF (ORF2) codifica uma proteína de 150 kDa, a qual possui endonuclease e atividade de transcriptase reversa. Após a transcrição, o RNA mensageiro L1 é transportado para o citoplasma, onde é suprimido ou degradado por RNAs não codantes, caso esse controle não ocorra o mRNA é traduzido em ORF1p e ORF2p, proteínas indispensáveis para a mobilização de L1, as partículas da ribonucleoproteína LINE-1 retorna ao núcleo e o RNA LINE-1 é usado como molde para gerar uma fita de DNA (retrotranscrição), o qual é integrado no genoma. Essa ação deste elemento no DNA induz mutagênese e contribui para evolução e diversidade do genoma humano (WAGSTAFF et al., 2018). 38 Figura 12. Representação esquemática do gene LINE-1. Mostra as regiões não transcritas, 5´UTR e 3´UTR, os dois quadros aberto de leitura (ORF1 e ORF2), a atividade de endonuclease (EN), a transcriptase reversa (RT), e as setas indicam sequências repetidas presente em muitos, mas não em todos os sites de inserção. Os comprimentos das diferentes regiões não estão em escala. Fonte: Imagem adaptada de Schulz, Steinhoff e Florl, 2006. Com a avanço computacional da biologia molecular nos últimos 15 anos, tem ficado mais fácil identificar e caracterizar elementos LINE-1, assim como definir suas marcas e locais de inserção e posicionamento no genoma. Foi detectado, primeiramente, que há muitas subfamílias de L1 baseado em sequências variantes não traduzidas; em segundo, elementos L1 são dimórficos, estão diferentemente presentes em genomas individuais ou estão presentes em um indivíduo, mas ausente da referência do genoma humano; em terceiro, calcula-se que o genoma humano médio contém 80-100 retrotransposons ativos, e um pequeno número de altamente ativos (XING et al., 2009). Todo esse estudo serve para reforçar a ideia de que L1 contribui muito para a variação genética interindividual, por exemplo, um estudo feito para identificar elementos LINE-1 completos nos genomas de seis indivíduosde origem geográfica diversa, foi encontrado que mais da metade dos LINE-1 recém identificados estavam altamente ativos, os chamados “pontos quentes” (hot points), quando analisados em um ensaio de cultura celular, pela genotipagem foi possível revelar um subconjunto de L1 que provavelmente é restrito a africanos e outros estão ausentes no Painel da Diversidade do Genoma Humano, o que sugere que estão presentes em uma frequência alélica muito baixa (ROSENBERG, 2006). Mais estudos feitos nessa área mostraram que cada indivíduo continha entre três a nove L1 em pontos quentes em seu genoma e 55% desses elementos testados estavam quentes para retrotransposição. Uma associação importante é que a maioria desses elementos ativos foram descobertos recentemente, o que embasa a teoria de que retrotransposons antigos estão mais bem inativados e por isso conseguiram ser 39 mantidos durante a evolução, já os novos ainda estão ativos, pois não sofreram a seleção ainda. Dessa forma, os L1 recentes são os mais ameaçadores para a estabilidade genômica, estima-se que os novos tipos de L1 encontrados são um milhão de anos mais novos do que os relatados anteriormente (BECK et al., 2010). O LINE-1 pode formar complexos com uma série de proteínas, incluindo duas codificadas por eles mesmo, ORF-1 e ORF-2, esse complexo entra no núcleo e insere a nova cópia do L1 no genoma. Esse processo não é bem compreendido ainda, e para elucida-lo melhor foi estudado em cultura de células, foi visto então que o LINE-1 volta ao núcleo no momento de divisão celular quando a membrana nuclear se desfaz, e fica lá retido até a membrana se refazer, no momento da duplicação o LINE-1 começa a retrotranscrição, nesse processo apenas o RNA LINE-1 e a ORF-2 estão no núcleo. Essa descoberta mostra que o ciclo celular dita onde os complexos L1 se reúnem e quando LINE-1 está ativo. Recentemente tem sido desenvolvido anticorpos específicos para reconhecerem e localizaram a ORF1, a ORF2 e o RNA LINE-1, o menos desenvolvido até o momento é o anti-ORF2, devido sua expressão bem mais baixa que os demais tornam o desenvolvimento do anticorpo mais difícil. A célula possui alguns mecanismos próprios para tentar restringir a retrotransposição, pode ser metabolismo de RNA, resposta a danos no DNA e autofagia (MITA et al., 2018). Estudos mostram que a maioria dos DNA transposons foram extintos ao longo da evolução nos últimos 37 milhões de anos em primatas, porém em humanos não houve essa extinção, e na verdade alguns descendentes de famílias de transposons possuem sua função no organismo, como a recombinação ativa de genes RAG1 e RAG2 para a formação recombinante de V(D)J na formação dos diversos tipos e com diferentes especificidades dos anticorpos produzidos pelo sistema imune, e estudos vem buscando novas funções e utilidades de transposons (EBERT et al., 2013; RODGERS, 2017). No entanto, inúmeras são as implicações negativas dessas transposições, aproximadamente 65 mutações causadoras de doenças humanas foram atribuídas a retrotransposição do LINE-1, isso pode ocorrer devido inserção no meio de exons ou introns, atrapalhando a expressão gênica ou causando erro no splicing alternativo, gerando assim uma expressão alélica hipomórfica ou nula. Ainda endonucleases podem causar quebra da dupla fita de DNA levando a instabilidade genômica. Um outro dano relacionado a retrotransposição é o desenvolvimento de tumores, o primeiro evento de L1 identificado em célula somática foi em uma célula 40 de câncer colorretal, em outro estudo 6 de 20 células de câncer de pulmão analisadas possuíam atividade de LINE-1 que eram ausentes em células normais (ISKOW et al., 2010). O L1 também desempenha certo papel na regulação epigenética, eles podem ser silenciados epigeneticamente durante ou imediatamente após sua integração, mas além disso, foi observado também que é possível que esse elemento seja um auxiliador na propagação de formação de heterocromatina, isso devido detecção de grande quantidade de L1 na inativação do cromossomo X extra, sua densidade é correlacionada com a propagação da heterocromatina em translocações X/autossômica, e que algumas poucas regiões que escapam da inativação do X são pobres em L1 (BECK et al., 2011). A epigenética, mais especificamente a metilação do DNA, é uma importante forma de controle dos transposons e retrotransposons, mais de 90% de todas as CpGs metiladas são as das sequências ricas em elementos repetitivos, incluindo LINE-1 e Alu. Essa metilação causa silenciamento na expressão desses elementos em células somáticas, da mesma forma que a falta de metilação permite a retrotransposição. A hipometilação de L1 é comum em câncer e doenças relacionadas a idade, devido ao acúmulo de mutações e epimutações (ERICHSEN et al., 2018). Com base em estudos realizados, foi detectado que tumores contendo novos eventos de retrotransposição L1 exibiram padrões de hipometilação (Figura 13), demonstrando uma forte relação entre as mudanças epigenéticas e o aumento da retrotransposição de LINE-1 em tumores (BECK et al., 2011). Outro estudo mostrou que mais de 90% de carcinomas uroteliais, até em estágios mais recentes, estão ligados ao aumento de transcrição do LINE-1, o fato está associado com aberrações cromossômicas (KREIMER et al., 2013). 41 Figura 13. Representação esquemática do estado de metilação do LINE-1. Em A está representado uma célula somática normal, na qual o L1 está metilado, portanto inibido. Em B representa-se uma célula neoplásica, na qual o L1 está Hipometilado, logo o “ciclo de vida” do retrotransposons está ativo, o que causa instabilidade no genoma, gerando a célula neoplásica. Neste último é representado também a retrotransposição, em um esquema simplificado (da esquerda para a direita) transcrição, montagem de ORF1p e ORF2p com L1 RNA, e inserção de um novo L1 sequência. Fonte: Imagem adaptada de Rodić e Burns, 2013. Evidências de modelos experimentais de tumores demonstram que a retrotransposição do L1 realmente contribui para a instabilidade genômica in vivo e que a hipometilação pode promover instabilidade cromossômica e desenvolvimento de tumores (BELANCIO; ROY-ENGEL; DEININGER, 2010). Com o avanço da idade, ocorre um aumento na hipometilação no genoma do indivíduo, isso causa uma redução do silenciamento de LINE-1 e aumenta a instabilidade genômica, e paralelamente, a instabilidade do genoma tem sido apontada como causa do envelhecimento e é uma marca registrada do câncer. Observando a literatura é possível encontrar muitos casos de cânceres causados por LINE-1 e sua atividade, alguns exemplos serão trazidos em seguida. Como um que analisou o padrão de metilação do DNA de sequências LINE-1 e alguns genes específicos na inflamação crônica periodontal e câncer de boca, este ocupa a sexta posição de maior causa de óbitos no mundo e a associação entre inflamação e câncer vem sendo estudada há muito tempo. Os resultados do padrão de metilação foram obtidos pelas análises COBRA e evidenciaram um desequilíbrio no estado de metilação global do DNA nos tecidos inflamados, assim como nos tumorais, no 42 entanto, as regiões CpG analisadas não pareceram estar diretamente ligadas com o nível de expressão gênica (PORTINHO, 2015). LINE-1 é ativo em células germinativas e durante a embriogênese, porém precisa estar suprimido nas células somáticas. O que ocorre durante a tumorigênese é a reativação do L1 devido à hipometilação, evento que participa do processo inicial e da progressão do câncer. Muitos estudos foram realizados observando a posição de inserção do L1 em diversos tipos de cânceres, como no gene c-myc em amostra de câncer de mama (LUO et al., 2019), e no alelo APC mutado e risco de câncer (LESHNO et al., 2015). A atividade de LINE-1 difere entre e dentro
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