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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA ESTUDO ESPECTROSCÓPICO E ELETROQUÍMICO DE NOVOS COMPLEXOS MONO E BINUCLEARES DE Cu(II) E Fe(II) COM LIGANTES NITROGENADOS KATHERINE LIMA BRUNO Dissertação de Mestrado Natal/RN, agosto de 2022 KATHERINE LIMA BRUNO ESTUDO ESPECTROSCÓPICO E ELETROQUÍMICO DE NOVOS COMPLEXOS MONO E BINUCLEARES DE Cu(II) E Fe(II) COM LIGANTES NITROGENADOS Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Química da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como um dos requisitos para obtenção do grau de Mestra em Química. Orientadora: Profª. Drª. Dulce Maria de Araujo Melo Co-orientadora: Prof. Dr. Francisco Ordelei Nascimento da Silva. NATAL 2022 Bruno, Katherine Lima. Estudo espectroscópico e eletroquímico de novos complexos mono e binucleares de Cu(II) E Fe(II) com ligantes nitrogenados / Katherine Lima Bruno. - Natal: UFRN, 2022. 116 f.: il. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Exatas e da Terra - CCET, Instituto de Química. Programa de Pós-Graduação em Química (PPGQ). Orientador: Profª. Drª. Dulce Maria de Araujo Melo. Coorientador: Prof. Dr Francisco Ordelei Nascimento da Silva. 1. Eletroquímica - Dissertação. 2. Complexos de cobre - Dissertação. 3. Complexos de ferro - Dissertação. 4. Ligantes nitrogenados - Dissertação. I. Melo, Dulce Maria de Araujo. II. Silva, Francisco Ordelei Nascimento da. III. Título. RN/UF/BSIQ CDU 544.6(043.3) Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Francisco Gurgel de Azevedo - Instituto Química - IQ Elaborado por FERNANDO CARDOSO DA SILVA - CRB-15 / 759 Katherine Lima Bruno ESTUDO ESPECTROSCÓPICO E ELETROQUÍMICO DE NOVOS COMPLEXOS MONO E BINUCLEARES DE Cu(II) E Fe(II) COM LIGANTES NITROGENADOS. . Dissertação apresentada ao Programa de Pós- graduação em Química da Universidade Federal do Ri o G r a n d e do Norte, em cumprimento a s exigências para obtenção do título de Mestre em Química. Aprovada em : 26 de julho de 2022 Comissão Examinadora: Dra. Dulce Maria de Araújo Melo – UFRN (orientadora) _ __ Dr. Francisco Ordelei Nascimento da Silva – UFRN _ _ _ Dr. Daniel de Lima Pontes – UFRN Dra. Wendy Marina Toscano Queiroz de Medeiros – IFRN MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE SISTEMA INTEGRADO DE PATRIMÔNIO, ADMINISTRAÇÃO E CONTRATOS FOLHA DE ASSINATURAS Emitido em 26/07/2022 DOCUMENTOS COMPROBATÓRIOS Nº 25856/2022 - PPGQ/CCET (12.88.00.05) NÃO PROTOCOLADO)(Nº do Protocolo: (Assinado digitalmente em 28/07/2022 08:36 ) DANIEL DE LIMA PONTES PROFESSOR DO MAGISTERIO SUPERIOR IQ-UFRN (12.88) Matrícula: ###151#9 (Assinado digitalmente em 28/07/2022 12:11 ) DULCE MARIA DE ARAUJO MELO COORDENADOR DE CURSO - TITULAR PPGQ/CCET (12.88.00.05) Matrícula: ###97#0 (Assinado digitalmente em 27/07/2022 20:46 ) FRANCISCO ORDELEI NASCIMENTO DA SILVA PROFESSOR DO MAGISTERIO SUPERIOR IQ-UFRN (12.88) Matrícula: ###453#3 (Assinado digitalmente em 28/07/2022 06:17 ) WENDY MARINA TOSCANO QUEIROZ DE MEDEIROS ASSINANTE EXTERNO CPF: ###.###.164-## Visualize o documento original em informando seu número: , ano: , https://sipac.ufrn.br/documentos/ 25856 2022 tipo: , data de emissão: e o código de verificação: DOCUMENTOS COMPROBATÓRIOS 27/07/2022 b3b96afd8e https://sipac.ufrn.br/public/jsp/autenticidade/form.jsf Aos meus pais, por sempre apoiarem minhas decisões e por mostrarem que a educação é o caminho para a transformação. Aos meus avós, in memoriam, por terem cuidado tão bem de mim e me ensinarem o real significado de amor. A todos os meus familiares. AGRADECIMENTOS Ao Universo, à Energia, à Força Maior, ao meu Guia Espiritual, todos sinônimos do que, costumeiramente, chamo de Deus. Gratidão a Ele pela proteção em tempos tão difíceis; por sempre colocar pessoas de luz em minha vida; e pela orientação de conduzir a todos os caminhos que me trouxessem até aqui. À minha mãe, meu porto seguro, minha inspiração e combustível diário, que me criou sozinha por muito tempo e batalhou para que eu tivesse sempre o melhor. Verdadeiro significado de mulher guerreira, independente e forte. Toda a minha educação eu devo a você, minha heroína. Obrigada por aceitar minha vinda à Natal em busca dos meus sonhos. O meu amor por você é imensurável. Aos meus avós, in memoriam, que cuidaram de mim enquanto minha mãe trabalhava. Por todo amor e carinho que me deram e me ensinaram a doar. Por toda a paciência e cuidado diário. Vocês foram essenciais para a construção do meu ser emocional. Ao meu pai, ainda que, por certos anos, ausente, me ensinou a importância do perdão e da reconciliação. Ensinou-me sobre justiça, sobre o feliz ajudar o infeliz e sobre fazer o que ama. Nossa aproximação, mesmo distantes, foi muito significativa pra mim, obrigada por isso. Ao meu padrasto, que me ensinou que o conhecimento é nosso maior tesouro, pois é a única coisa que ninguém nos tira. Obrigada por todo o incentivo que sempre me deu para trilhar as estradas do saber. A toda minha família que esteve sempre comigo, em todos os momentos, e que, sem eles, não seria 1% do que sou hoje. Tenho a consciência que a maioria não teve oportunidade de acesso ao ensino superior e, por isso, dedico esse trabalho e meu título a todos vocês. Ao meu amor, Lucas, que antes mesmo de ser namorado, foi amigo. Acompanha- me desde 2014 em minha jornada, sempre muito paciente, doce e acolhedor. Um exemplo de homem, amigo e amante. Obrigada por todo apoio e todo amor que me proporciona. Obrigada também pela compreensão e cuidado nesses últimos meses de turbulências acadêmicas. Que possamos sempre desfrutar e compartilhar momentos juntos, sejam eles quais forem. Minha fortaleza, meu melhor amigo, meu companheiro de vida. Aos meus sogros Viviane e Edilson por toda a força, acolhimento e momentos de descontração, desde que cheguei em Natal. Ao professor Francisco Ordelei, por, desde o início da minha jornada na graduação até hoje, no mestrado, ter confiado em mim e no meu trabalho e ter me convidado a participar do laboratório. Obrigada pelos ensinamentos diários que vão além da química, e por toda a paciência, acompanhamento e motivação. Devo grande parte do meu crescimento acadêmico ao senhor, um pai e amigo acadêmico. À professora Dulce Maria por ter me aceitado como orientanda na pós-graduação e pela solicitude e prontidão em ajudar sempre. Aos professores Daniel e Ana Cristina, no esclarecimento de dúvidas, na atenção, nos conselhos, na instrução e nos momentos de descontração. A todos os meus professores, desde a escola até a pós-graduação. Cada um de vocês foi responsável pelo meu encaminhamento até onde cheguei. Obrigada aos meus professores de química do ensino fundamental/médio, em especial Luciano, que criou e nutriu meu sentimento de amor pela química. Obrigada aos meus professores da graduação e pós-graduação pelo entendimento e encantamento ainda maior por essa ciência tão mágica. Ao Lucas Menezes, meu terapeuta, e hoje, amigo. Obrigada por me ajudar a segurar a barra quando eu achava que não tinha mais saída. Esses últimos meses foram bem desgastantes e você me ajudoua enxergar tudo com melhores olhos, ensinou que devo sempre ser eu mesma e que não há problema sentir qualquer sentimento. Você é luz! A todos os meus amigos do Instituto de Química que foram importantes em diversos momentos do meu dia a dia na faculdade e fora dela. Obrigada por pularem de cabeça junto comigo nesse curso e nessa ciência. Agradeço, especialmente, ao meu grupo MQ1: Amanda, Beatriz, Bruno, João, Jean, José, Lalyson, Mike, Nathália, Victor, Victor Moura e Thiago. Cada um tem seu espaço em meu coração. Obrigada pelo convívio e compartilhamento de tantas experiências. Vocês são meu ímpeto e a vitória de cada um é minha vitória também. Minha família que escolhi durante minha caminhada! Aos meus amigos extra-universidade, do Rio de Janeiro e de Natal, em especial Luísa, Bianca, Luana e os meus grandes amigos do Camões, Bahiense e CEI. Obrigada por confiarem sempre em mim e na minha capacidade. Por vocês sempre serem colo e por todo amor e carinho que amigos de verdade entregam. Vocês são incríveis! Aos meus amigos do Laboratório de Química de Coordenação e Polímeros (LQCPol). Obrigada por todos os momentos de alegria, atenção, ensinamentos, instruções e acalento em meio aos estresses não só acadêmicos. Vocês são muito especiais para mim. Agradeço, em especial, aos meus grandes amigos Beatriz, Lalyson, Francimar e Magno pela rede de apoio durante esses dois anos de mestrado, diariamente juntos e dividindo vitórias e angústias em meio à pandemia e aos estresses da pós-graduação. À UFRN pela oportunidade de cursar a pós-graduação em Química e à CAPES pelo apoio financeiro, com concessão de oportunidade de bolsa de estudo. Gratidão a todos que sempre acreditaram em mim e que, de alguma forma, contribuíram para a realização desse trabalho. Reze e trabalhe, fazendo de conta que esta vida é um dia de capina com sol quente, que às vezes custa muito a passar, mas que sempre passa. E você ainda pode ter um muito pedaço bom de alegria. Cada um tem a sua hora e a sua vez: você há de ter a sua. Guimarães Rosa RESUMO Os compostos de coordenação, dentro da química bioinorgânica, vêm apresentando aplicabilidades importantes no desenvolvimento de compostos mais eficientes para tratamentos farmacológicos. Dentre esses, destacam-se os complexos de cobre(II) e ferro(II), que desempenham papeis importantes nos sistemas biológicos, de forma natural – como em enzimas e proteínas – ou artificial – como agentes farmacológicos. Utilizando esses metais associados a moléculas que já possuem atividade biológica retratada na literatura, como a fenantrolina, piperazina e nitrito, torna-se possível o desenvolvimento de fármacos com maior potencialidade, devido não só à possibilidade estrutural diversa, mas ao amplo espectro de aplicações bioquímicas. Nesse sentido, esse trabalho tem como finalidade a contribuição para a química bioinorgânica com a síntese e caracterização de novos compostos mono - [Cu(phen)(pip)NO2]Cl e Na2[Fe(CN)4(NH3)2] – e binuclear – Na[(NO2)(phen)Cu–pip–Fe(CN)4(NH3)] – de cobre(II) e ferro(II), em que phen = 1,10- fenantrolina e pip = piperazina. O complexo mononuclear de cobre foi obtido por meio da reação, em metanol, entre seu precursor – [Cu(phen)Cl2] – e os ligantes piperazina e nitrito; o composto de ferro, em água, por meio da reação entre seu precursor – Na2[Fe(CN)4(DMSO)2] – e o gás amônia, com posterior precipitação (NaI); e o binuclear, a partir da adição dos dois monômeros em metanol e água, sendo todos eles caracterizados por técnicas espectroscópicas (IV e Uv-Vis) e eletroquímica (voltametria cíclica). Por meio do IV e Uv-vis, foi possível verificar os principais modos vibracionais da fenantrolina e piperazina nos sistemas de cobre sintetizados, por meio dos estiramentos C=C (1580, 1517, 1492 e 1427 cm-1) dos anéis e N-H (1615 cm-1) da amina, bem como bandas intensas com transições π→π* (204, 221, 272 e 293 nm) e n→ π* (204 nm) na região do ultravioleta, respectivamente, além das bandas d-d (625 e 692 nm) do Cu2+ na região do visível. Os estiramentos do nitrito foram também evidenciados no IV com os sinais em 1349(a) e 1269(s) cm-1. Para os sistemas de ferro, foi possível identificar seus principais estiramentos (νN-H, νC≡N, δFe-CN), por meio do IV, e suas bandas no UV- vis, como a transferência de carga MLCT (dπ Fe2+ → pπ* CN- em 221 nm) e d-d (405 e 518 nm) do Fe2+. Os voltamogramas cíclicos permitiram a visualização de um sistema quase-reversível para os 3 complexos, com apenas um processo redox cada, referentes ao par Cu2+/1+ e Fe2+/1+ e a sobreposição desses dois no binuclear, além da observação de maior estabilidade e avaliação da natureza dos ligantes. Palavras-chave: Complexos de cobre; complexos de ferro; ligantes nitrogenados. ABSTRACT In an attempt to develop more efficient compounds for pharmacological treatments, bioinorganic chemistry has been playing important roles with the participation of coordination compounds. Among these, copper(II) and iron(II) complexes stand out, which play important roles in biological systems, naturally – as in enzymes and proteins – or artificially – as pharmacological agents. Using these metals associated with molecules that already have biological activity described in the literature, such as phenanthroline, piperazine and nitrite, it becomes possible to develop drugs with greater potential, due not only to the diverse structural possibility, but to the wide spectrum of biochemical applications. . In this sense, this work aims to contribute to bioinorganic chemistry with the synthesis and characterization of new mono compounds - [Cu(phen)(pip)NO2]Cl and Na2[Fe(CN)4(NH3)2] - and binuclear – Na[(NO2)(phen)Cu– pip–Fe(CN)4(NH3)] – of copper(II) and iron(II), where phen = 1,10-phenanthroline and pip = piperazine. The mononuclear copper complex was obtained through the reaction, in methanol, between its precursor – [Cu(phen)Cl2] – and the ligands piperazine and nitrite; the iron compound, in water, through the reaction between its precursor – Na2[Fe(CN)4(DMSO)2] – and ammonia gas, with subsequent precipitation (NaI); and the binuclear, from the addition of the two monomers in methanol and water, all of which are characterized by spectroscopic (IV and UV-Vis) and electrochemical (cyclic voltammetry) techniques. By means of IV and Uv-vis, it was possible to verify the main vibrational modes of phenanthroline and piperazine in the synthesized copper systems, through the C=C (1580, 1517, 1492 and 1427 cm-1) stretching of the rings and N-H (1615 cm-1) of the amine, as well as intense bands with transitions π→π* (204, 221, 272 and 293 nm) and n→π* (204 nm) in the ultraviolet region, respectively, in addition to the d- d bands (625 and 692 nm) of Cu2+ in the visible region. The nitrite stretches were also evidenced in the IR with the signs at 1349(a) and 1269(s) cm-1. For iron systems, it was possible to identify their main stretches (νN-H, νC≡N, δFe-CN), through the IV, and their bands in the UV-vis, such as the MLCT charge transfer (dπ Fe2+ → pπ * CN- at 221 nm) and d-d (405 and 518 nm) of Fe2+. The cyclic voltammograms allowed the visualization of a quasi-reversible system for the 3 complexes, with only one redox process each, referring to the pair Cu2+/1+ and Fe2+/1+ and the overlap of these two in the binuclear, in addition to the observation of greater stability and evaluation of the nature of the ligands. Keywords: Copper complexes; iron complexes; nitrogen ligands. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Estrutura do complexo [Cu(phen)Cl2] ................................................. 24 Figura 2 – Estrutura do nitroprussiato de sódio ........................................................ 25 Figura 3 –Estrutura do complexo IQG607................................................................ 26 Figura 4 – Estrutura molecular da 1,10-fenantrolina.................................................. 27 Figura 5 – Estrutura molecular da piperazina ............................................................ 28 Figura 6 – Principais conformações da piperazina livre ............................................ 29 Figura 7 – Modos de coordenação da piperazina a metais.......................................... 30 Figura 8 – Modos de coordenação do ligante nitrito a centros metálicos.................... 31 Figura 9 – Estrutura do composto [Cu2(NO2–L’)2(μ–H2O)2(H2O)2(NO3)2] .2H2O .... 33 Figura 10 – Estruturas dos compostos (a) [Cu2(pmdien)2(H2O)2(μ- tdpa)](ClO4)2·H2O e (b) [Cu2(tmen)2(H2O)2(μ-OH)2](ClO4)2 .................. 34 Figura 11 – Estrutura dos complexos (a) [Cu2(N22-22)(H2O)2(CF3SO3)2](CF3SO3)2 e (b) [Cu2(apyhist)2dpam](ClO4)4 ............................................................ 34 Figura 12 – Estrutura do complexo [(CO)(LN2S2)FeII-FeII(CO)Cp]+ ............................ 35 Figura 13 – Estrutura genérica dos complexos [(DETC)2Fe2(NO)4] e [(MGD)2Fe2(NO)4]................................................................................... 35 Figura 14 – Estrutura dos complexos (a) [(Cl2)Fe III(μ-HL1)2Fe III(Cl2)]·3H2O e (b) [(Cl2)Fe III(μ-HL2)2Fe III(Cl2)].................................................................... 36 Figura 15 – Estrutura do complexo [Fe(III)Cu(II)(IPCPMP)(OAc)2(μ-O)][PF6] ....... 37 Figura 16 – Estrutura do complexo FeCu(μ-Ph2Ppy)2CO3Cl ...................................... 37 Figura 17 – Estrutura genérica dos complexos [Cu(oxae)Fe(phen)2]SO4 e [Cu(oxae)Fe(bpy)2]SO4 com NN = phen, bpy........................................... 38 Figura 18 – Estrutura do complexo [Fe(PrNPPh2)3Cu(PrNHPPh2)]............................ 38 Figura 19 – Fluxograma de síntese do complexo Na2[Fe(CN)4(NH3)2]....................... 40 Figura 20 – Estrutura proposta para o complexo Na2[Fe(CN)4(NH3)2]........................ 41 Figura 21 – Fluxograma de síntese do complexo [Cu(phen)(pip)NO2]Cl.................... 42 Figura 22 – Estrutura proposta para o complexo [Cu(phen)(pip)NO2]Cl..................... 42 Figura 23 – Fluxograma de síntese do complexo heterobinuclear Na[(NO2)(phen)Cu–pip–Fe(CN)4(NH3)] ................................................. 43 Figura 24 – Estrutura proposta para o complexo heterobinuclear Na[(NO2)(phen)Cu–pip–Fe(CN)4(NH3)] ................................................. 44 Figura 25 – Espectro vibracional do complexo precursor [Cu(phen)Cl2] na região de 4000 a 400 cm-1, em pastilha KBr ............................................................. 47 Figura 26 – Espectro vibracional do complexo precursor [Cu(phen)Cl2] na região de 1650 a 1000 cm-1(a) e de 1000 a 400 cm-1(b), em pastilha KBr ................ 48 Figura 27 – Espectro vibracional da piperazina na região de 4000 a 400 cm-1, em pastilha KBr ............................................................................................. 50 Figura 28 – Espectro vibracional da piperazina na região de 1700 a 1250 cm-1, em pastilha KBr.............................................................................................. 51 Figura 29 – Representação esquemática dos diferentes modos de vibração molecular com vibrações de estiramento e dobramento ............................................ 52 Figura 30 – Espectro vibracional da piperazina na região de 1250 a 400 cm-1, em pastilha KBr ............................................................................................. 52 Figura 31 – Espectro vibracional do composto mononuclear de cobre, [Cu(phen)(pip)NO2]Cl, na região de 4000 a 400cm -1, em pastilha KBr .......................................................................................................... 54 Figura 32 – Espectro vibracional do composto mononuclear de cobre, [Cu(phen)(pip)NO2]Cl, na região de 1650 a 1250 cm -1, em pastilha KBr .......................................................................................................... 55 Figura 33 – Espectro vibracional do composto mononuclear de cobre, [Cu(phen)(pip)NO2]Cl, na região de 1250 a 400 cm -1, em pastilha KBr .......................................................................................................... 56 Figura 34 – Sobreposição dos espectros vibracionais do composto precursor de ferro (preto), [Na2[Fe(CN)4(DMSO)2] e do composto intermediário mononuclear de ferro (laranja) NAT211, Na2[Fe(CN)4(NH3)2], em pastilha KBr ............................................................................................. 59 Figura 35 – Espectro vibracional do composto heterobinuclear de cobre e ferro, Na[(NO2)(phen)Cu–pip–Fe(CN)4(NH3)], na região de 4000 a 400 cm -1, em pastilha KBr........................................................................................ 62 Figura 36 – Espectro vibracional do composto heterobinuclear de cobre e ferro, Na[(NO2)(phen)Cu–pip–Fe(CN)4(NH3)], na região de 1700 a 1200 cm - 1, em pastilha KBr .................................................................................... 63 Figura 37 – Espectro vibracional do composto heterobinuclear de cobre e ferro, Na[(NO2)(phen)Cu–pip–Fe(CN)4(NH3)2], na região de 1200 a 400 cm - 1, em pastilha KBr .................................................................................... 64 Figura 38 – Espectro eletrônico do complexo precursor [Cu(phen)Cl2] na região de 190 a 900 nm, em meio aquoso, na concentração de 2,0 x 10-5 mol.L-1 (a) e sua ampliação na região de 500 a 900 nm (b) .................................... 67 Figura 39 – Espectro eletrônico do complexo [Cu(phen)(pip)(NO2)]Cl na região de 190 a 900 nm, em meio aquoso, na concentração de 1,5 x 10-5 mol.L-1 (a) e sua ampliação na região de 500 a 900 nm (b).................................... 69 Figura 40 – Sobreposição dos espectros do complexo [Cu(phen)(pip)(NO2)]Cl (azul) e da piperazina (preto), em água, na região de 190 a 900 nm e concentração de 1,5 x 10-5 mol.L-1............................................................. 70 Figura 41 – Sobreposição dos espectros do precursor [Cu(phen)Cl2] (verde), da piperazina (preto) e do nitrocomposto, [Cu(phen)(pip)(NO2)]Cl (azul), em água, na região de 190 a 900 nm (a) e sua ampliação na região de 450 a 900 nm (b)....................................................................................... 71 Figura 42 – Espectro eletrônico do complexo mononuclear de ferro – Na2[Fe(CN4)(NH3)2 – na região de 200 a 900 nm, em meio aquoso, na concentração de 2,5 x 10-4 mol.L-1 (a) e sua ampliação na região de 320 a 900 nm (b).............................................................................................. 73 Figura 43 – Espectro eletrônico do complexo binuclear de Cu-Fe, na região de 190 a 900 nm, em meio aquoso, na concentração de 1,0 x 10-5 mol.L-1 (a) e sua ampliação com a deconvolução na região de 400 a 900 nm (b)........... 75 Figura 44 – Sobreposição dos espectros do complexos mononucleares de cobre (azul) e ferro (laranja) e do composto binuclear, Na[(NO2)(phen)Cu– pip–Fe(CN)4(NH3)] (preto), em água, na região de 200 a 900 nm (a) e sua ampliação na região de 350 a 900 nm (b) ............................................ 77 Figura 45 – Sobreposição dos espectros do complexos mononucleares de cobre (azul) e ferro (laranja), do composto binuclear, Na[(NO2)(phen)Cu–pip– Fe(CN)4(NH3)] (preto – linha cheia), e sua deconvolução (preto – linhas tracejadas) em água, na região de 380 a 800 nm ............................................................................................................79 Figura 46 – Influência da concentração do solvente no deslocamento das bandas d-d do Fe2+ para o composto Na2[Fe(CN)4(NH3)2].......................................... 80 Figura 47 – Voltamograma cíclico do complexo precursor de cobre, [Cu(phen)Cl2], em DMSO e TBAP 0,1 mol.L-1................................................................. 82 Figura 48 – Voltamograma cíclico do complexo mononuclear de cobre, [Cu(phen)(pip)NO2]Cl, em DMSO e TBAP 0,1 mol.L -1........................... 84 Figura 49 – Voltamogramas cíclicos sobrepostos do composto mononuclear de cobre, [Cu(phen)(pip)NO2]Cl em diferentes velocidades (a) e a relação entre as correntes de pico catódica e anódica (ipc e ipa) e as raízes quadradas das velocidades de varredura (b) em DMSO e TBAP 0,1 mol/L ........................................................................................................ 87 Figura 50 – Voltamograma cíclico do composto Na2[Fe(CN)4(NH3)2], de 400 a -300 mV, em KCl 0,1 M e pH = 3,5 .................................................................. 89 Figura 51 – Voltamogramas cíclicos sobrepostos do composto mononuclear de ferro, Na2[Fe(CN)4(NH3)2] em diferentes velocidades (a) e a relação entre as correntes de pico catódica e anódica (ipc e ipa) e as raízes quadradas das velocidades de varredura (b) em água e KCl 0,1 mol.L-1, pH=3,5 ..................................................................................................... 90 Figura 52 – Voltamograma cíclico do composto Na[(NO2)(phen)Cu–pip– Fe(CN)4(NH3)], de 350 a -150 mV, em DMSO e TBAP 0,1 mol.L -1......... 92 Figura 53 – Sobreposição dos voltamogramas cíclicos dos complexos Na[(NO2)(phen)Cu–pip–Fe(CN)4(NH3)] (preto), [Cu(phen)(pip)NO2]Cl (azul) e Na2[Fe(CN)4(NH3)2] (laranja), de 400 a -400 mV, em DMSO e TBAP 0,1 mol.L-1............................................... 93 Figura 54 – Voltamogramas cíclicos sobrepostos do composto binuclear, Na[(NO2)(phen)Cu–pip–Fe(CN)4(NH3)], em diferentes velocidades (a) e a relação entre as correntes de pico catódica e anódica (ipc e ipa) e as raízes quadradas das velocidades de varredura (b) em DMSO e TBAP 0,1 mol.L-1................................................................................................ 95 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Reagentes utilizados para os procedimentos experimentais e de análises........................................................................................................ 39 Tabela 2 – Equipamentos utilizados para os métodos de caracterização.............................................................................................. 44 Tabela 3 – Atribuições das principais bandas do espectro de infravermelho do composto precursor [Cu(phen)Cl2] e referências................................................................................................... 49 Tabela 4 – Atribuições das principais bandas do espectro de infravermelho do ligante piperazina e referências............................................................................... 53 Tabela 5 – Atribuições das principais bandas do espectro de infravermelho do composto mononuclear de cobre – [Cu(phen)(pip)NO2]Cl – seu precursor – [Cu(phen)Cl2] e o ligante piperazina ........................................................ 58 Tabela 6 – Atribuição das principais bandas do complexo precursor de ferro e do NAT211...................................................................................................... 60 Tabela 7 – Atribuições das principais bandas do espectro de infravermelho do composto mononuclear de cobre, [Cu(phen)(pip)NO2]Cl, mononuclear de ferro, Na2[Fe(CN)4(NH3)2], e o composto binuclear de cobre e ferro, Na[(NO2)(phen)Cu–pip–Fe(CN)4(NH3)] ................................................... 65 Tabela 8 – Comprimentos de onda, absortividades molares e respectivas atribuições das bandas do espectro do complexo precursor [Cu(phen)Cl2] ............................................................................................. 68 Tabela 9 – Comprimentos de onda, absortividades molares e respectivas atribuições das bandas do espectro do complexo [Cu(phen)(pip)(NO2)]Cl .................. 69 Tabela 10 – Comprimentos de onda, absortividades molares e respectivas atribuições das bandas do espectro do complexo Na2[Fe(CN)4(NH3)2] ........................ 74 Tabela 11 – Comprimentos de onda, absortividades molares e respectivas atribuições das bandas do espectro do complexo binuclear de Cu-Fe ........................... 76 Tabela 12 – Comprimentos de onda, absortividades molares e respectivas atribuições das bandas dos espectros dos complexos mononucleares de Cu, Fe e binuclear de Cu-Fe ..................................................................................... 77 Tabela 13 – Valores calculados para alguns dos parâmetros de reversibilidade para o composto precursor [Cu(phen)Cl2] ............................................................. 83 Tabela 14 – Parâmetros para determinação da reversibilidade frente aos processos de oxirredução do Cu2+/1+/ Cu1+/2+ para o complexo [Cu(phen)(pip)NO2]Cl ............................................................................... 87 Tabela 15 – Parâmetros para determinação da reversibilidade frente aos processos de oxirredução do Fe3+/2+/ Fe2+/3+ para o complexo Na2[Fe(CN)4(NH3) 2] ....... 91 Tabela 16 – Parâmetros para determinação da reversibilidade frente aos processos de oxirredução do Cu2+1+/Cu1+/2+ e Fe3+/2+/ Fe2+/3+ para o complexo binuclear Na[(NO2)(phen)Cu–pip–Fe(CN)4(NH3)] ................................................... 95 LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS Abs Cp CV DETC Absorbância Ciclopentadienil Voltametria Cíclica Dietilditiocarbamato DNA DCNT Ácido Desoxirribonucleico Doenças crônicas não transmissíveis DMSO IQG607 Dimetilsulfóxido [Fe(CN)5(isoniazida)] IV LN2S2 MGD NAT211 Infravermelho 2,2′-(2,2′-bipiridina-6,6′-diil)bis(1,1-difeniletanotiolato) N-metil-d-glucamina ditiocarbamato Na2[Fe(CN)4(NH3)2] NHE Eletrodo normal de hidrogênio Phen 1,10-fenantrolina Pip Pmdien Piperazina Pentametildietilenotriamina ROS SOD SNP Espécies reativas de oxigênio Superóxido dismutase Nitroprussiato de sódio TBAP Tmen Perclorato de tetrabutilamônio Tetrametiletano-1,2-diamina %T Transmitância Uv-Vis Ultravioleta e visível LISTA DE SÍMBOLOS ε ≈ λ ipa ipc δ π ρr ρs ρw Absortividade molar Aproximadamente Comprimento de onda Corrente de pico anódica Corrente de pico catódica Deformação angular (ou dobramento no plano) Deformação angular (ou dobramento fora do plano) Deformação angular (“rocking”) Deformação angular (“scissoring”) Deformação angular (“wagging”) ν Deformação axial (ou estiramento) E1/2 Potencial de meia-onda Epa Potencial de pico anódico Epc ∝ Potencial de pico catódico Proporcional a Δ Variação SUMÁRIO 1 2 2.1 2.2 INTRODUÇÃO.................................................................................................. OBJETIVOS....................................................................................................... OBJETIVO GERAL............................................................................................ OBJETIVOS ESPECÍFICOS............................................................................... 20 22 22 22 3 3.1 3.2 3.3 3.3.1 3.3.2 3.3.3 3.4 REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................. BIOIQUÍMICADO COBRE............................................................................... BIOQUÍMICA DO FERRO E SISTEMAS COM CIANETO.............................. LIGANTES NITROGENADOS E SUA RELEVÂNCIA BIOLÓGICA............. FENANTROLINA .............................................................................................. PIPERAZINA...................................................................................................... NITRITO.............................................................................................................. COMPLEXOS BINUCLEARES: COBRE E FERRO......................................... 23 23 24 26 27 28 30 32 4. MATERIAIS E MÉTODOS.............................................................................. 39 4.1 4.2 4.2.1 4.2.2 4.2.3 4.3 4.3.1 4.3.2 4.3.2.1 4.3.2.2 4.3.2.3 5. 5.1 REAGENTES....................................................................................................... PROCEDIMENTOS DE SÍNTESE............................................................. SÍNTESE DO COMPLEXO Na2[Fe(CN)4(NH3)2].............................................. SÍNTESE DO COMPLEXO [Cu(phen)(pip)NO2]Cl........................................... SÍNTESE DO COMPLEXO HETEROBINUCLEAR Na[(NO2)(phen)Cu–pip– Fe(CN)4(NH3)]............................................................................................. EQUIPAMENTOS E TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO............................ EQUIPAMENTOS............................................................................................... TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO............................................................... ESPECTROSCOPIA VIBRACIONAL NA REGIÃO DO INFRAVERMELHO............................................................................................ ESPECTROSCOPIA ELETRÔNICA DE ABSORÇÃO NA REGIÃO DO ULTRAVIOLETA E VISÍVEL........................................................................... ELETROQUÍMICA............................................................................................. RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................... ESPECTROSCOPIA VIBRACIONAL NA REGIÃO DO INFRAVERMELHO......................................................................................... 39 40 40 41 32 43 44 44 44 44 45 45 46 46 5.1.1 Espectros de Infravermelho............................................................................ 46 5.1.1.1 5.1.1.1.1 5.1.1.1.2 5.1.1.1.3 5.1.1.2 5.1.1.2.1 5.1.1.3 5.1.1.3.1 5.2 5.2.1 5.2.1.1 5.2.1.2 5.2.2 5.2.2.1 5.3 5.3.1 5.3.1.1 5.3.1.1.1 5.3.1.1.2 5.3.1.2 5.3.1.2.1 5.3.1.3 5.3.1.3.1 6. 7. SISTEMA DE COBRE......................................................................................... Complexo precursor de cobre – [Cu(phen)Cl2]..................................................... Ligante piperazina (pip)........................................................................................ Complexo mononuclear de cobre – [Cu(phen)(pip)(NO2]Cl................................ SISTEMA DE FERRO......................................................................................... Complexo mononuclear de ferro – Na2[Fe(CN)4(NH3)2]...................................... SISTEMA DE COBRE-FERRO.......................................................................... Complexo binuclear de cobre e ferro – Na[(NO2)(phen)Cu–pip– Fe(CN)4(NH3)]..................................................................................................... ESPECTROSCOPIA ELETRÔNICA DE ABSORÇÃO NA REGIÃO DO ULTRAVIOLETA E VISÍVEL........................................................................ SISTEMA DE COBRE......................................................................................... Espectro eletrônico do complexo precursor [Cu(phen)Cl2].................................. Espectro eletrônico do complexo [Cu(phen)(pip)(NO2)]Cl.................................. SISTEMA DE FERRO......................................................................................... Espectro eletrônico do complexo Na2[Fe(CN)4(NH3)2]........................................ SISTEMA DE COBRE E FERRO........................................................................ Espectro eletrônico do complexo Na[(NO2)(phen)Cu–pip–Fe(CN)4(NH3)]........ ELETROQUÍMICA.......................................................................................... VOLTAMETRIA CÍCLICA (CV)....................................................................... SISTEMA DE COBRE......................................................................................... Complexo precursor de cobre – [Cu(phen)Cl2].................................................... Complexo mononuclear de cobre – [Cu(phen)(pip)NO2]Cl................................. SISTEMA DE FERRO......................................................................................... Complexo mononuclear de ferro – Na2[Fe(CN)4(NH3)2]...................................... SISTEMA DE COBRE E FERRO........................................................................ Complexo binuclear de cobre e ferro – Na[(NO2)(phen)Cu–pip– Fe(CN)4(NH3)]..................................................................................................... CONCLUSÃO.................................................................................................... REFERÊNCIAS................................................................................................. 46 46 49 54 59 59 61 61 66 66 66 68 72 72 74 74 81 81 81 81 83 88 88 91 91 97 99 20 1. INTRODUÇÃO Os compostos de coordenação vêm apresentando aplicabilidades muito importantes na química bioinorgânica, principalmente no tratamento de patologias, devido a presença de um centro metálico em sua estrutura, que associado às propriedades de moléculas bioativas, pode conferir maior potencialidade a um fármaco, aliada a redução de efeitos colaterais e toxicidade ou ainda menor propensão a geração de resistências ao composto. Dentre os metais de transição de maior relevância biológica, destacam-se os compostos de cobre(II) e ferro(II), dois dos íons metálicos de maior abundância no corpo humano, que devido sua baixa toxicidade e às suas capacidades de oxirredução (Cu2+/Cu1+ e Fe3+/Fe2+), tornam-se essenciais na participação de diversos processos biológicos, sobretudo na composição de proteínas e como cofatores de importantes enzimas. O cobre é essencial por participar de várias vias metabólicas, como a respiração mitocondrial, eliminação de radicais livres e a absorção de ferro (MEDEIROS, 2018). Complexos que contêm esse elemento como centro metálico destacam-se devido à possibilidade de utilização como antitumorais, com a geração de danos em células e proteínas, modificando suas estruturas e induzindo processos como a fragmentação de DNA, mutações e apoptose (XIKERANMU, et. al, 2019). Sobretudo, sistemas com o ligante fenantrolina têm sido investigados por causar danos oxidativos ao DNA, mimetizando as nucleases e conferindo, a esses compostos, atividades antitumoral, antibacteriana, antifúngica, anti-inflamatórias e antivirais (TITI et al., 2019; MEDICI et al., 2015). Do mesmo modo, o ferro também é extremamente relevante e desempenha diversas funções vitais, como o transporte de oxigênio na forma de hemoglobina e armazenamento desse oxigênio nos músculos e dentro da célula, na forma de mioglobina e ferritina, respectivamente (BERRY et al., 2006; OLIVEIRA, 2018). Além disso, esse oligoelemento atua como micronutriente essencial para muitas enzimas e proteínas nos processos do metabolismo das bactérias e, desse modo, esses microrganismosconseguem capturar, transportar e internalizar esse metal (GUPTA, 2008). Em especial, sistemas com cianeto na esfera de coordenação deste metal ganham grande destaque, devido à sua estabilidade e possibilidade estrutural, sendo modelos sintéticos adequados para aplicações em sistemas biológicos, usados para explorar sítios de ligação específicos em aminoácidos, ligantes multifuncionais e metaloproteínas redox (LUIZ et al., 2004). 21 Associados às características do metal, alguns ligantes bioativos também ganham destaque em sua relevância biológica. Ligantes piridínicos, como a fenantrolina, são retratados na literatura como agentes quelantes que desempenham eficientes interações com o DNA (BARONE et al., 2013). Somadas às características da fenantrolina, ligantes heterocíclicos saturados como a piperazina, possuem uma estrutura privilegiada por apresentarem propriedades versáteis de interação intermolecular, atuando como blocos de construção para uma gama extensa de diferentes moléculas e sendo essencial na composição de diversos fármacos (GIRASE et al., 2021). Além desses, o nitrito, que atua como ligante auxiliar nesse trabalho. No entanto, esse íon pode ter importâncias biológicas ligadas à capacidade de redução a óxido nítrico no organismo, desempenhando diversas funções como a vasodilatação, respostas imunológicas e interação com ácido nucleico, em que, a partir de reações do NO com espécies de O2-, O2 ou H2O2, gera radicais livres com potencial capacidade de clivagem do DNA (HO et al., 1997). Além disso, o NO2 - também pode causar estresses nitrosativos e oxidativos em bactérias devido à formação de produtos reativos como peroxinitrito (ONOO-) e trióxido de dinitrogênio (N2O3), causando a ruptura de membranas celulares e, consequentemente, sua disfunção (LI et al., 2018). Tendo em vista a relevância do estudo dos metais descritos, associados às moléculas bioativas, este trabalho busca o desenvolvimento e a caracterização de novos complexos mono – [Cu(phen)(pip)NO2]Cl e Na2[Fe(CN)4(NH3)2] – e binucleares – Na[(NO2)(phen)Cu–pip–Fe(CN)4(NH3)] – de cobre e ferro, buscando características bioquímicas relevantes para aplicação como metalodrogas em sistemas biológicos. A escolha da elaboração de um composto binuclear está intimamente ligada à potencialização das propriedades já observadas em complexos mononucleares similares ao desse trabalho, estando associadas à interação intermetálica ou com efeitos cooperativos entre os diferentes íons metálicos (GOLCHOUBIAN et al., 2010). 22 2. OBJETIVOS 2.1. OBJETIVO GERAL O objetivo do presente trabalho busca contribuir para a área de química, sobretudo para a química de coordenação e a bioinorgânica, com a síntese e caracterização de complexos de cobre(II) e ferro(II), mono e binucleares, com ligantes nitrogenados que já apresentam atividades biológicas conhecidas (piperazina, fenantrolina e nitrito). 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Sintetizar o complexo de cobre, [Cu(phen)(pip)NO2]Cl, a partir do seu precursor [Cu(phen)Cl2], em que phen = fenantrolina, pip = piperazina e NO2 - = íon nitrito; Sintetizar o complexo de ferro, Na2[Fe(CN)4(NH3)2], a partir de seu precursor, Na2[Fe(CN)4(DMSO)2], em que CN = íon cianeto e NH3 = amônia; Sintetizar o complexo heterobinuclear de cobre e ferro, Na[(NO2)(phen)Cu–pip– Fe(CN)4(NH3)], a partir dos seus precursores – [Cu(phen)(pip)NO2]Cl e Na2[Fe(CN)4(NH3)2], em que a piperazina (pip) apresenta-se como o ligante em ponte entre os dois centros metálicos; Realizar o estudo e a caracterização dos complexos e ligantes por meio das técnicas espectroscópicas vibracional na região do infravermelho (IV) e eletrônica na região do ultravioleta e visível (Uv-Vis), bem como avaliar as características eletroquímicas por meio da técnica de voltametria cíclica (CV). 23 3. REFERENCIAL TEÓRICO 3.1. BIOQUÍMICA DO COBRE Muitos cátions de metais e metaloides desempenham papeis fundamentais em processos biológicos, tendo como uma de suas características a maior solubilidade em fluidos biológicos e interação com a maioria das moléculas biológicas, carregadas negativamente, como proteínas e o DNA (ORVIG & ABRAMS, 1999). Um desses elementos é o cobre, o qual participa de diversas funções fisiológicas, além da presença como elemento principal em mais de 300 enzimas no corpo humano. Devido à sua facilidade de interconversão entre seus estados de oxidação (+1 e +2), esse íon metálico possui algumas aplicações biológicas, sobretudo na participação de vias metabólicas, como a respiração celular mitocondrial, eliminação de radicais livres, síntese de neurotransmissores, formação de pigmentos, síntese de tecido conjuntivo e absorção do ferro (CRISPONI et al., 2010). Grande parte da quantidade de cobre no corpo humano também é destinada a diversas funções, principalmente atuando como cofator de diferentes enzimas redox e seus mecanismos de reação, como a citocromo c oxidase, no transporte de elétrons; tirosinase, na produção de melanina; e a superóxido dismutase (SOD), que atua na desintoxicação de radicais livres, controlando o estresse oxidativo (SZÉKÁCS et. al., 2019). Devido a sua influência sobre o estresse oxidativo, a homeostase do cobre é importante, ainda, na proteção contra doenças degenerativas humanas que afetam uma ampla variedade de funções fisiológicas, como a aterosclerose, diabetes, doenças inflamatórias, câncer, doenças neurológicas, hipertensão, doenças oculares, doenças pulmonares e doenças hematológicas (BHAT et al., 2019). O cobre também está presente nos sítios ativos de muitas metaloenzimas e metaloproteínas envolvidas no transporte de oxigênio, reações de oxigenação e redução de nitrito. Para além disso, vários trabalhos relataram atividades antibacterianas, antivirais, antifúngicas, anti-inflamatórias de complexos com esse metal, podendo atuar também como agentes antitumorais (TITI et al., 2019). Todas essas ações do cobre, que é eficaz, também, no controle de microorganismos, devem-se, portanto, aos seus mecanismos de ação, que incluem múltiplos efeitos tóxicos (como a geração de espécies reativas de oxigênio (ROS), peroxidação lipídica, oxidação de proteínas e degradação do 24 DNA), os quais estão intimamente ligados ao seu comportamento redox Cu(I)/Cu(II) (GIANNOUSI et al., 2014). Dentre os complexos de cobre, pode-se destacar o [Cu(phen)Cl2] (figura 1), a partir do qual vários estudos vêm sendo realizados, utilizando-o como precursor para o desenvolvimento de inúmeros compostos derivados com diferentes aplicações biológicas. Esse composto apresenta algumas características interessantes, como a possibilidade de clivagem do DNA e eficientes atividades antitumorais, além de ser utilizado como corante, material condutor e óptico. Sua geometria quadrática também é favorável para aplicações catalíticas, uma vez que os cloretos em sua estrutura podem ser facilmente trocados por outros ligantes na esfera de coordenação (AWAD et al., 2010). Figura 1: Estrutura do complexo [Cu(phen)Cl2]. Fonte: Autora, 2022. 3.2. BIOQUÍMICA DO FERRO E SISTEMAS COM CIANETO Além do cobre, outro oligoelemento abundante no corpo humano é o ferro, destacando-se, principalmente, por sua capacidade de oxirredução (Fe3+/Fe2+), o que o torna fundamental na participação de diversos processos biológicos, como o transporte e armazenamento de oxigênio nos músculos (hemoglobina e mioglobina) e dentro da célula (ferritina) (BERRY et al., 2006; OLIVEIRA, 2018). O ferro também é um micronutriente essencial para algumas bactérias, presente em enzimas e proteínas nos processos do metabolismo e, desse modo, esses microrganismos conseguem capturar, transportar e internalizar esse metal (GUPTA, 2008). Todas essas características suscitaram grande interessena pesquisa e desenvolvimento de complexos e fármacos de ferro(II) para o tratamento de diversas patologias. Dentre esses compostos, os cianoferratos ganham grande destaque, não só em termos de sua aplicabilidade, mas 25 devido à estabilidade e possibilidade estrutural desse sistema, sendo modelos sintéticos adequados para sistemas biológicos, usados para explorar sítios de ligação específicos em aminoácidos, ligantes multifuncionais e metaloproteínas redox (LUIZ et al., 2004). A química dos cianoferratos transcende em suas origens à época de Werner, sendo considerada como a reação mais antiga da química molecular sintética. Os estudos acerca desse sistema foram sendo aperfeiçoados no decorrer das décadas, principalmente com o enfoque no desenvolvimento de seus derivados, como o íon nitroprussiato (CHIARELLA et al., 2006; TOMA, 1979). O nitroprussiato de sódio (SNP), Na2[Fe(CN)5NO] (figura 2), conhecido comercialmente como Nipride®, por exemplo, é um fármaco que atua como um potente vasodilatador, devido a liberação de óxido nítrico (NO) de sua estrutura. É utilizado em casos especialmente graves de hipertensão arterial (HOTTINGER et al., 2014; BENITE, 2007; GLIDEWELL & JOHNSON, 1987), a qual, no grupo das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), é a principal causa de morte no Brasil, estimando-se 7,1 milhões de mortes anuais em todo o mundo (HELENO et al., 2017; SILVA et al, 2020). Figura 2: Estrutura do nitroprussiato de sódio. Fonte: Autora, 2022. Apesar de ser um medicamento eficaz para emergências hipertensivas, o mecanismo de liberação de NO pelo SNP causa não só uma rápida vasodilatação e redução aguda da pressão arterial, devido sua velocidade de liberação, mas também a intoxicação por cianeto, visto que este é liberado simultaneamente ao óxido nítrico (LIU et al., 2018). Por isso, a busca do desenvolvimento de compostos com menor toxicidade e apresentando reatividade controlada ainda é bastante pertinente. 26 Outro complexo de ferro-ciano que apresenta atividade biológica já relatada na literatura é o IQG607 – [Fe(CN)5(isoniazida)] (figura 3) – com alto potencial para o tratamento da tuberculose, tanto para a cepas de Mycobacterium tuberculosis comuns quanto para as multirresistentes. O composto encontra-se na fase I de testes clínicos e com resultados preliminares satisfatórios, com eficácia in vitro e in vivo certificada (PIVETA, 2004, DADDA, 2015; DIOGENES e LOPES, 2017). Figura 3: Estrutura do complexo IQG607. Fonte: SOUSA et al., 2014. 3.3. LIGANTES NITROGENADOS E SUA RELEVÂNCIA BIOLÓGICA Dentro da química de coordenação os ligantes também desempenham um papel fundamental. Com o efeito sinérgico entre o metal e algumas moléculas que já possuem atividades biológicas no tratamento de diversas doenças, torna-se possível o desenvolvimento de fármacos com maior potencialidade. Dentre esses ligantes, podem ser destacados os grupos dos nitrogenados. Ligantes que contém nitrogênio em sua estrutura (N-doadores) têm ganhado notoriedade há décadas pela variedade de formas de coordenação a diferentes metais de transição, formando estruturas diversas que podem mimetizar algumas biomoléculas, como os sítios ativos de enzimas (JACOBS et al., 2007). Esses nitrogênios doadores podem constituir sistemas heterocíclicos aromáticos (fenantrolina), saturados 27 (piperazina), alifáticos ou atuar como ligantes auxiliares (NO2 -), que implicam, ao composto, em inúmeras propriedades bioativas. 3.3.1. FENANTROLINA A fenantrolina é uma molécula orgânica heterocíclica aromática com átomos de nitrogênio doadores em sua estrutura e é usado como ligante na química de coordenação, ligando-se fortemente a maioria dos íons metálicos (FERREIRA et al., 2018). Por ser bidentado e um forte agente quelante, possibilita maior estabilidade nos complexos, principalmente em sistemas de cobre, com o qual possui alta afinidade (RUIZ-AZUARA et al., 2010). Em relação à natureza desse ligante nos complexos, a fenantrolina atua, simultaneamente, como σ-doador, devido à presença do par de elétrons não-ligantes no orbital sp2 no heteroátomo de nitrogênio, e como π-receptor, por possuir orbitais π* vazios, associados aos sistemas de anéis aromáticos (PATRA et al., 2018). A figura 4, a seguir, ilustra sua estrutura molecular. Figura 4: Estrutura molecular da 1,10-fenantrolina Fonte: Autora, 2022. Complexos com ligantes heterocíclicos planares, como a fenantrolina, podem se ligar ao DNA por intercalação e apresentam maior afinidade com esse ácido nucleico quando comparado com os correspondentes ligantes livres (BARONE et al., 2013). Tal efeito pode acarretar um aumento na eficácia de um fármaco. Sistemas cobre-fenantrolina são conhecidos pelas suas propriedades de danificar ou fragmentar oxidativamente os ácidos nucleicos, mimetizando as nucleases (MEDICI et al., 2015), bem como interagir com o DNA via intercalação, e ainda exibir atividades anticancerígenas promissoras, induzindo apoptose em células tumorais (ZHANG et al., 2012). 28 Estudos acerca desses sistemas indicam que essas características, englobando atividades biológicas, clínicas, quimioterapêuticas e farmacológicas promissoras, devem- se a presença de conjugação aromática aliada à coplanaridade desse ligante em seus complexos (HEMALATHA et al., 2019). Ademais, outras investigações, relacionando sua estrutura e atividade, mostraram que a presença de um anel aromático central condensado pode preservar o efeito antiploriferativo, e a natureza doadora do nitrogênio tem efeito em atividades biológicas (EREMINA et al., 2019). 3.3.2. PIPERAZINA A piperazina é um composto orgânico heterocíclico com um anel de seis membros contendo dois heteroátomos de nitrogênio nas posições 1 e 4 (figura 5). É caracterizada como uma “estrutura privilegiada” por apresentar propriedades versáteis de interação intermolecular, sendo essencial em uma gama de medicamentos comercializados com diferentes atividades farmacológicas (GIRASE et al., 2021). Devido a essa característica, a piperazina pode ser considerada como um “bloco de construção” (building block) estrutural no desenvolvimento de diferentes compostos macrocíclicos e acíclicos (NEMATI et al., 2021). Por ser também uma boa receptora de ligação de hidrogênio e ter facilidade na complexação de diversos metais, torna-se um ligante interessante dentro da química de coordenação e da bioinorgânica (KEYPOUR et al., 2008). Figura 5: Estrutura molecular da piperazina. Fonte: Sigma-Aldrich, 2022. A piperazina foi usada pela primeira vez como um anti-helmíntico na década de 1950 e ainda é um dos principais componentes ativos de fármacos no tratamento de infecções por alguns vermes, como Ascaris lumbricoides (lombriga) e Enterobius 29 vermicularis (oxiúro), inibindo a transmissão neuromuscular e paralisando seus músculos neumatoides (VARDANYAN & HRUBY, 2016). Além de vermífugo, esse composto também é utilizado industrialmente como matéria-prima na fabricação de diversos materiais (plásticos, resinas e pesticidas) (LI et al., 2019) e como capturador de CO2 e H2S (YUAN & ROCHELLE, 2019). Muitos derivados dessa molécula são biologicamente ativos e possuem propriedades farmacológicas importantes, pertencendo a diferentes classes terapêuticas como antifúngicos, antidepressivos, anti-histamínicos, antianginosos, antipsicóticos, urológicos, antivirais e inibidores/ativadores da serotonina (OSTROWSKA, 2020; LANARO et al., 2010). Diante de sua versatilidade estrutural, a piperazina torna-se, dentro da química de coordenação, um ligante de grande interesse, seja como fator principal para diversas aplicações, ou como uma porção auxiliar na disposição e estabilidade de um complexo. Quando livre, essa molécula pode adotar 4 diferentes conformações (em ordem crescente de energia): cadeira, bote, bote torcidoe envelope (figura 6), sendo a última identificada apenas como um estado de transição entre as outras formas, enquanto a primeira é a mais favorável termodinamicamente e, portanto, a conformação mais recorrente e majoritária (BOIOCCHI et al., 2004; KUBONO et al., 2003). Figura 6: Principais conformações da piperazina livre. Fonte: Autora, 2022. Ao coordenar-se a metais, no entanto, essa estrutura pode ser alterada e outras conformações menos estáveis podem ser assumidas. De acordo com a literatura, essa mudança pode ser influenciada pelo tamanho do íon metálico ou de outros ligantes dentro da esfera de coordenação, devido ao impedimento estérico (CRETU et al., 2015). 30 Para as formas de bote e bote torcido, a piperazina pode coordenar-se a um ou dois íons metálicos (em ponte), formando complexos mono e binucleares, respectivamente. Já para a forma de cadeira, há a formação de complexos mono ou binucleares na configuração trans tanto na forma equatorial-equatorial como axial-axial (e raramente cis com axial-equatorial), facilitando a formação de estruturas poliméricas (PAITAL et al., 2009). A figura 7, abaixo, ilustra essas diferentes conformações da piperazina coordenada a metais. Figura 7: Modos de coordenação da piperazina a metais. Fonte: Autora, 2022. 3.3.3. NITRITO O íon nitrito (NO2-) também é uma espécie que apresenta atividades bioquímicas, fisiológicas ou terapêuticas. Pode ser utilizado como indicador de qualidade da água ou como adubo nitrogenado na agricultura; na indústria alimentícia, é usado como conservante por possuir atividades antioxidantes e antibacterianas, além de dar cor e sabor à comida (PONTALTI, 2011). O uso desse íon também está associado a sua conversão à óxido nítrico (NO), via reação com algumas proteínas – como hemoglobina ou mioglobina – enzimas ou via redução ácida, tendo esse óxido grande importância na indústria farmacêutica devido às diversas funções e benefícios ao organismo: é um potente vasodilatador e relaxante muscular; atua na regulação da respiração mitocondrial; contribui para prevenção de lesão 31 de tecidos e enfarte, causados pela falta de fluxo sanguíneo (isquemia); é considerada uma molécula sinalizadora e mensageira do sistema nervoso central, coordenando funções motoras e memória; é importante no ciclo do nitrogênio humano; e, por fim, atua no sistema imunológico como antiparasitário, antimicrobiano e antitumoral (GLADWIN et al., 2005). Adicionalmente, pesquisas relatam que a potente ação antibacteriana do óxido nítrico contra um amplo espectro de bactérias se dá por meio de uma reação com radicais livres superóxido (O2-), que resulta em subprodutos reativos como peroxinitrito (ONOO- ) e trióxido de dinitrogênio (N2O3). Estes subprodutos podem causar estresses nitrosativos e oxidativos graves nas bactérias, levando à ruptura da membrana bacteriana e disfunção celular (LI et al., 2018). Diante de tantos aspectos benéficos, houve um progressivo interesse em pesquisas com a utilização do íon nitrito, coordenado a centros metálicos, como ligante auxiliar. Por ser um ligante versátil, tem possibilidade de coordenar-se aos metais de transição de diferentes formas. Em complexos mononucleares, a coordenação pode ocorrer via átomo de nitrogênio, na formação de nitrocompostos, ou oxigênio, formando nitritocompostos. Já em complexos binucleares, a coordenação pode originar compostos bidentados ou em ponte (BYUN et al., 2006; HEINECKE et al., 2010). Esses modos de ligação são representados na figura 8, abaixo. Figura 8: Modos de coordenação do ligante nitrito a centros metálicos. Fonte: NAKAMOTO, 1997. Esses modos de coordenação também podem ser comparados em termos de sua estabilidade no complexo. Nitrocomplexos tendem a conferir maior estabilidade devido 32 aos elétrons π do nitrito estarem deslocalizados entre duas ligações N-O, deixando o nitrogênio com menor densidade eletrônica e causando, consequentemente, um aumento do seu caráter π-receptor, fortalecendo e estabilizando a ligação metal-ligante. Já nos nitritocomplexos, esses elétrons estão localizados apenas entre uma ligação N-O, diminuindo o efeito retirador de densidade eletrônica do oxigênio, apresentando uma leve característica de σ-doador e conferindo menor caráter π-receptor a esse átomo do ligante, tornando essa ligação menos estável. 3.4. COMPLEXOS BINUCLEARES: COBRE E FERRO Dentro da química de coordenação, os complexos binucleares têm uma importância particular, devido não só aos desafios de síntese, ou ao seu aspecto estrutural interessante – aliando características de diversos ligantes e metais – mas em termos de suas aplicabilidades de grande potencial em diferentes campos (WANG et al., 2020), como na medicina (GAO et al., 2020; IQBAL et al., 2015; LIVRAMENTO et al., 2005), bioinorgânica (ARANDA et al., 2020; KUPPUSWAMY et al., 2012; JARENMARK et al., 2011;), catálise (GUO et al., 2021; ZANG et al., 2021; SHENG et al., 2020; HART et al., 2015; WALKER et al., 2015; STEPHAN, 1989), engenharia de materiais e polímeros (LIANG et al., 2020) e magnetismo (BREWSTER et al., 2017; LIU et al., 2017; LIU et al., 2015; RUSANOVA et al., 2015). Dentre as características atrativas dos complexos binucleares, está a presença desses compostos em sistemas biológicos, principalmente na constituição de diversas enzimas, além de suas propriedades físico-químicas singulares, que podem estar relacionadas com aspectos magneto-estruturais, com funções associadas à interação intermetálica ou com efeitos cooperativos de diferentes íons metálicos num mesmo sistema (GOLCHOUBIAN et al., 2010). Esboçando estruturas coerentes e modificando complexos e/ou ligantes já existentes, tais propriedades podem ser potencializadas, tornando alguns complexos binucleares mais interessantes do que mononucleares. Devido aos diversos atributos e vantagens existentes na utilização de centros metálicos como o cobre e o ferro, complexos binucleares constituídos por esses metais, em particular, são frequentemente estudados e relatados na literatura, exibindo diferentes funcionalidades e aplicações. É o caso do composto [Cu2L3(μ-OH2)(μ-OH)(NO3)2] (figura 9), com L = 3-(hidroxiiminometil)-5-(2,5-dimetilfenil)isoxazol, um complexo homobinuclear de cobre com um ligante heterocíclico nitrogenado, que apresentou 33 características antiferromagnéticas, podendo ser aplicado, por exemplo, como um material supercondutor (SHAKIROVA et al., 2021). Figura 9: Estrutura do composto [Cu2L3(μ-OH2)(μ-OH)(NO3)2]. Fonte: SHAKIROVA et al., 2021. Outro caso são os compostos [Cu2(pmdien)2(H2O)2(μ-tdpa)](ClO4)2·H2O (figura 10a) e [Cu2(tmen)2(H2O)2(μ-OH)2](ClO4)2 (figura 10b), com os ligantes nitrogenados pmdien = pentametildietilenotriamina e tmen = tetrametiletano-1,2-diamina, que além de apresentarem propriedades antiferromagnéticas, exibiram citocompatibilidade em células epiteliais humanas e atividade antibacteriana frente às bactérias E. coli e S. aureus (BUCHTELOVA et al., 2019). Figura 10: Estruturas dos compostos (a) [Cu2(pmdien)2(H2O)2(μ-tdpa)](ClO4)2·H2O e (b) [Cu2(tmen)2(H2O)2(μ-OH)2](ClO4)2. 34 Fonte: BUCHTELOVA et al., 2019. Mais um exemplo de destaque com o cobre são os complexos [Cu2(N22- 22)(H2O)2(CF3SO3)2](CF3SO3)2 (figura 11a) e [Cu2(apyhist)2dpam](ClO4)4 (figura 11b), que mimetizam enzimas com ligantes nitrogenados (NUNES et al., 2019). Esses compostos mostraram atividade citotóxica frente a células de melanoma, tornando-se mais uma possibilidade de medicamento para o tratamento de câncer de pele. Figura 11: Estrutura dos complexos (a) [Cu2(N22-22)(H2O)2(CF3SO3)2](CF3SO3)2 e (b) [Cu2(apyhist)2dpam](ClO4)4. Fonte: NUNES et al., 2019. 35 Além do cobre, inúmeros complexos de ferro também são relatados na literatura, apresentando, também, resultados notáveis quantosuas aplicações. Um deles é o complexo [(CO)(LN2S2)FeII-FeII(CO)Cp]+ (figura 12), com LN2S2 = 2,2′-(2,2′-bipiridina- 6,6′-diil)bis(1,1-difeniletanotiolato) e Cp = ciclopentadienil (WANG et al., 2020), o qual, sob condições específicas, atua como uma hidrogenase, enzima responsável por catalisar a reação de oxidação reversível de H2, aplicando-se tanto para produção de hidrogênio molecular em organismos vivos, como a utilização desse combustível como energia limpa, por exemplo. Figura 12: Estrutura do complexo [(CO)(LN2S2)FeII-FeII(CO)Cp]+. Fonte: WANG et al., 2020. Mais complexos binucleares de ferro que podem ser citados são [(DETC)2Fe2(NO)4] e [(MGD)2Fe2(NO)4] (figura 13), com DETC = dietilditiocarbamato e MGD = N-metil-d-glucamina ditiocarbamato, os quais se mostraram como potenciais liberadores de óxido nítrico (NO), um regulador de diversos processos metabólicos, testados em tecidos hepáticos de camundongos (MIKOYAN et al., 2017). Figura 13: Estrutura genérica dos complexos [(DETC)2Fe2(NO)4] e [(MGD)2Fe2(NO)4]. Fonte: MIKOYAN et al., 2017. 36 Também podem ser destacados outros dois complexos, [(Cl2)Fe III(μ- HL1)2Fe III(Cl2)]·3H2O e [(Cl2)Fe III(μ-HL2)2Fe III(Cl2)] (figura 14), em que HL1 e HL2 são isômeros e contêm piridina, fenol, grupos amina e álcool com uma unidade naftólica (MORCELLI et al., 2016), os quais apresentaram atividade antitumoral contra alguns tipos de câncer como o linfoma (U937) e a leucemia (THP-1). Figura 14: Estrutura dos complexos (a) [(Cl2)FeIII(μ-HL1)2FeIII(Cl2)]·3H2O e (b) [(Cl2)FeIII(μ- HL2)2FeIII(Cl2)]. Fonte: MORCELLI et al., 2016. Além da gama de compostos sintéticos binucleares, ainda há uma diversidade de estruturas naturais existentes em organismos vivos e que são frequentemente mimetizadas em laboratório. É o caso das proteínas e metaloenzimas, as quais são formadas por diferentes metais ou pelos mesmos metais com valência mista, como a Superóxido Dismutase (enzima de cobre e zinco que atua na dismutação do superóxido em O2 e H2O2 (FARELLA et al., 2021), a Hemeritrina (proteína de ferro responsável pelo transporte de oxigênio em seres invertebrados) (RAHALKAR e BAHULIKAR, 2018), a Tirosinase (enzima de cobre catalisadora da oxidação de fenóis em animais e plantas) (LI et al., 2021) ou a Citocromo C Oxidase (enzima de cobre e ferro responsável pela redução de O2 em H2O e transporte de elétrons na última etapa da respiração celular) (COLLMAN et al., 2007). 37 Embora haja uma extensa bibliografia acerca dos compostos binucleares – naturais ou artificiais – ainda há escassez de artigos que apresentam, simultaneamente, cobre e ferro em uma mesma estrutura. Na maioria das vezes, esses metais participam de sistemas heterobinucleares combinados a outros íons metálicos diferentes (Cu-M ou Fe-M) ou homonucleares (Cu-Cu ou Fe-Fe). Um exemplo dos poucos trabalhos com um complexo constituído por esses dois metais e que possui aplicação biológica é o [Fe(III)Cu(II)(IPCPMP)(OAc)2(μ-O)]2[PF6]2 (figura 15), capaz de mimetizar o centro ativo da enzima fosfatase ácida (JARENMARK et al, 2011). Outros complexos como [FeCu(μ-Ph2Ppy)2(CO)3Cl] (figura 16) (ZHENG- ZHI et al., 1993), [Cu(oxae)Fe(phen)2]SO4, [Cu(oxae)Fe(bpy)2]SO4 (figura 17) (YAN et al., 1998) e [Fe(PrNPPh2)3Cu2(PrNHPPh2)] (figura 18) (KUPPUSWAMY et al., 2012), são apresentados, em artigos antigos envolvendo síntese e caracterização. Figura 15: Estrutura do complexo [Fe(III)Cu(II)(IPCPMP)(OAc)2(μ-O)]2[PF6]2. Fonte: JARENMARK et al., 2011. Figura 16: Estrutura do complexo [FeCu(μ-Ph2Ppy)2(CO)3Cl] . Fonte: ZHENG-ZHI et al., 1993. 38 Figura 17: Estrutura representativa dos complexos [Cu(oxae)Fe(phen)2]SO4 e [Cu(oxae)Fe(bpy)2]SO4 com NN = phen, bpy. Fonte: YAN et al., 1997. Figura 18: Estrutura do complexo [Fe(PrNPPh2)3Cu2(PrNHPPh2)]. Fonte: KUPPUSWAMY et al., 2012. Nesse contexto, tendo em vista a importância de complexos binucleares em áreas como a medicina, bioinorgânica ou catálise, que contenham em sua estrutura ligantes com diferentes propriedades e aplicações, e sabendo, também, da escassez desse tema na literatura, foi proposto um trabalho de síntese e caracterização de um novo composto de cobre e ferro, com ligantes nitrogenados bioativos (fenantrolina, nitrito, piperazina, amônia e cianeto). O estudo em questão foi planejado e executado tomando como base dois trabalhos autorais realizados anteriormente (BRUNO, 2019; SARAIVA, 2021). 39 4. MATERIAIS E MÉTODOS 4.1. REAGENTES Todos os reagentes e solventes, utilizados para as sínteses, testes de solubilidade, e análises espectroscópicas e eletroquímicas, foram obtidos comercialmente, aplicados sem etapas adicionais de purificação e estão discriminados na tabela 1 abaixo: Tabela 1: Reagentes e solventes utilizados para os procedimentos experimentais e de análises. Reagentes e solventes Fórmula Molecular Pureza Fabricante Acetona P.A. C3H6O 99,5% Dinâmica Água destilada H2O – – Álcool etílico absoluto P.A. CH3CH2OH 99,5% Sciavicco Álcool metílico P.A. CH4O 99,9% NEON Brometo de Potássio KBr – Shimadzu Corporation Cianeto de sódio NaCN 99,0% Êxodo Cloreto de cobre (II) P.A. dihidratado CuCl2.2H2O 99,0% Vetec Química Fina Cloreto de ferro (II) P.A. tetrahidratado FeCl2.4H2O 99,0% Sigma Aldrich Cloreto de sódio NaCl 99,0% Dinâmica Dimetilsulfóxido P.A. ACS C2H6OS 99,0% Vetec Química Fina 1,10-Fenantrolina P.A. C12H8N2 99,5 % Vetec Química Fina Fosfato de tetrabutilamônio C16H38NO4P 99,0% Sigma - Aldrich Hidróxido de amônio NH4OH 30,0 % Labsynth Iodeto de sódio NaI 99,0% Metaquímica Nitrito de sódio NaNO2 99,0% Vetec Química Fina Piperazina C4H10N2 99,0% Vetec Química Fina Fonte: Autora, 2021 4.2. PROCEDIMENTOS DE SÍNTESE 4.2.1. SÍNTESE DO COMPLEXO Na2[Fe(CN)4(NH3)2] 40 Para obtenção do complexo Na2[Fe(CN)4(NH3)2] (figura 20), foi necessária a realização da síntese do composto precursor Na2[Fe(CN)4(DMSO)2] seguindo o método descrito por CHIARELLA; MELGAREJO; KOCH, 2006. Posteriormente, em um balão de reação, 8,3 mmol do precursor foram solubilizados em água e reagidos com o gás amônia (NH3) durante 7 horas e em temperatura ambiente. Após esse período, adicionou- se iodeto de sódio (NaI) e etanol à solução, até a precipitação do produto. O sólido obtido, o qual apresentou coloração amarela, foi filtrado em funil de placa porosa, lavado com etanol e armazenado sob vácuo. O rendimento da reação foi de, aproximadamente, 50%. Esse procedimento apresentado resumidamente no fluxograma abaixo (figura 19). Figura 19: Fluxograma de síntese do complexo Na2[Fe(CN)4(NH3)2]. Fonte: Autora, 2021 Figura 20: Estrutura proposta para o complexo Na2[Fe(CN)4(NH3)2]. Na2[Fe(CN)4(DMSO)2] solubilizado em água Borbulhamento de NH3 durante 7h e 25ºC Adição de NaI solubilizado em etanol Filtração, lavagem com etanol e secagem Obtenção do complexo Na2[Fe(CN)4(NH3)2] 41 Fonte: Autora, 2021 4.2.2. SÍNTESE DO COMPLEXO [Cu(phen)(pip)(NO2)]Cl Em um balão de reação, à 15 mL de metanol, foram adicionados 0,36 mmol do complexo [Cu(phen)Cl2] e, em seguida, adicionou-se mais 1 mL de água. Após a solubilização completa do composto, com uma pipeta de Pasteur de vidro, foi adicionada piperazina (C4H10N2), solubilizada em metanol, numa proporção de 1:1. Essa mistura foi deixada em agitação por 12 horas e à temperatura ambiente, sendo observada, durante esse período, uma mudança de coloração, do verde para o azul claro. Posteriormente, com uma pipeta de Pasteur de vidro, adicionou-se nitrito de sódio (NaNO2) solubilizado em água, numa proporção de 1:1, ao meio reacional. Essa mistura também foi mantida à temperatura ambiente e em agitação por 2 horas. O precipitado obtido, com coloração azul, foi filtrado em funil de placa porosa,lavado com metanol e armazenado sob vácuo. O rendimento da reação foi de 80%. O procedimento reacional e a estrutura proposta para o complexo são exibidos, respectivamente, nas figuras 21 e 22 abaixo. 42 Figura 21: Fluxograma de síntese do complexo [Cu(phen)(pip)NO2]Cl. Fonte: Autora, 2021 Figura 22: Estrutura proposta para o complexo [Cu(phen)(pip)NO2]Cl. Fonte: Autora, 2021 [Cu(phen)Cl2] solubilizado em metanol + água Piperazina solubilizada em metanol NO2 solubilizado em água Agitação durante 2 horas à 25 ºC Obtenção do complexo [Cu(phen)(pip)NO2]Cl Agitação durante 12 horas à 25 ºC Filtração, lavagem com etanol e secagem 43 4.2.3. SÍNTESE DO COMPLEXO HETEROBINUCLEAR Na[(NO2)(phen)Cu–pip–Fe(CN)4(NH3)] Em um balão de síntese, à 10 mL de metanol, foram adicionadas 0,26 mmol do complexo [Cu(phen)(pip)NO2]Cl e deixado em agitação, até sua solubilização, à temperatura ambiente. Em seguida, adicionou-se ao meio reacional, com uma pipeta de Pasteur de vidro, o complexo de ferro Na2[Fe(CN)4(NH3)2], numa proporção de 1:1, previamente solubilizado em água. Essa mistura foi mantida em agitação durante 12 horas à temperatura ambiente, apresentando mudança de coloração, do azul para o preto. Após esse período, o precipitado foi filtrado em funil de placa porosa e armazenado sob vácuo. O rendimento dessa reação foi de 70%. O procedimento reacional e a estrutura proposta para o complexo heterobinuclear são exibidos, respectivamente, nas figuras 23 e 24 abaixo. Figura 23: Fluxograma de síntese do complexo heterobinuclear Na[(NO2)(phen)Cu–pip– Fe(CN)4(NH3)]. Fonte: Autora, 2021 [Cu(phen)(pip)NO2]Cl solubilizado em metanol Na2[Fe(CN)4(NH3)2] solubilizado em água Obtenção do complexo Na[(NO2)(phen)Cu–pip–Fe(CN)4(NH3)] Agitação durante 12 horas à 25 ºC Filtração e secagem 44 Figura 24: Estrutura proposta para o complexo heterobinuclear Na[(NO2)(phen)Cu–pip– Fe(CN)4(NH3)]. Fonte: Autora, 2021 4.3. EQUIPAMENTOS E TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO 4.3.1. EQUIPAMENTOS Tabela 2: Equipamentos utilizados para os métodos de caracterização Equipamento Fabricante Modelo Espectrofotômetro IV Shimadzu FTIR-8400S Espectrofotômetro UV-Vis Shimadzu UV1800 Potenciostato Basi-Bioanalytical Systems, Inc. Epsilon Fonte: Autora, 2021 4.3.2. TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO 4.3.2.1. ESPECTROSCOPIA VIBRACIONAL NA REGIÃO DO INFRAVERMELHO Inicialmente, para a análise espectroscópica dos compostos na região do infravermelho, as amostras sólidas dos complexos foram preparadas numa mistura com brometo de potássio (KBr), sendo triturada até a formação de um pó fino e homogêneo, o qual foi levado à prensagem para obtenção da pastilha. Os espectros vibracionais foram obtidos utilizando um espectrofotômetro de infravermelho, série IRAffinity-1, modelo FTIR-8400S da Shimadzu, por meio do software IRsolution, versão 1.60, com janela espectral de 4000 a 400 cm-1. Posteriormente, os resultados obtidos foram ajustados e tratados no programa Origin 9.0. 45 4.3.2.2. ESPECTROSCOPIA ELETRÔNICA NA REGIÃO DO ULTRAVIOLETA E VISÍVEL Para a obtenção dos espectros eletrônicos, as amostras foram previamente preparadas por meio da solubilização dos compostos sólidos em água e metanol, utilizando cubetas retangulares de quartzo, com caminho óptico de 1 cm. As análises foram realizadas utilizando um espectrofotômetro Uv-visível Shimadzu, modelo UV1800, na faixa espectral de 190 a 900 nm. Os resultados obtidos foram tratados no programa Origin 9.0. A absortividade molar (ε) dos complexos foi obtida por meio dos coeficientes angulares dos gráficos de absorbância versus concentração do composto, de acordo com a Lei de Lambert-Beer (Equação 1). Para tal, foram preparadas dez soluções com concentrações distintas para cada composto, de forma que a absorbância atingisse um valor máximo de aproximadamente ou igual 1. Equação 1: Lei de Lambert-Beer 𝐴 = 𝜀 × 𝑏 × 𝑐 Fonte: SKOOG, 2009. 4.3.2.3. ELETROQUÍMICA Para as análises eletroquímicas, as amostras sólidas foram previamente solubilizadas tanto em meio aquoso, em uma solução de cloreto de potássio (KCl) 0,1 mol.L-1, quanto em meio orgânico, em solução do eletrólito suporte de perclorato de tetrabutilamônio (TBAP) 0,1 mol.L-1 e dimetilsulfóxido (DMSO) como solvente. Foi utilizada como técnica eletroquímica a voltametria cíclica (CV). A célula eletroquímica utilizada é composta por três eletrodos: eletrodo de trabalho de carbono vítreo, eletrodo auxiliar de platina e eletrodo de referência de prata, previamente preenchido com solução de eletrólito suporte (meio aquoso: AgCl; meio orgânico: TBAP). A cada leitura o ferroceno foi utilizado como padrão externo, de modo que os voltamogramas foram registrados associadamente às medidas realizadas com os compostos, apresentando um par redox com E1/2 = 485 mV, sendo condizente com o valor da literatura (KOLIVOŠKAA et. al, 2011). Os voltamogramas foram obtidos em um potenciostato da Bioanalytical Systems, modelo Epsilon, software BASi Epsilon-EC, versão 2.13.77 e posteriormente tratados no programa Origin 9.0. 46 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1. ESPECTROSCOPIA VIBRACIONAL NA REGIÃO DO INFRAVERMELHO Na espectroscopia de infravermelho, para que uma molécula absorva radiação e seus modos vibracionais sejam ativos nessa região, é necessário que haja uma variação no momento dipolar de suas ligações durante os movimentos de vibração (HOLLER, SKOOG, CROUCH, 2009). Essa técnica da espectroscopia vibracional é, portanto, bastante utilizada na química de coordenação como uma importante ferramenta complementar na elucidação de estruturas, identificando grupos funcionais, os tipos de ligação, os efeitos e modos de coordenação de ligantes, auxiliando, portanto, na caracterização dos complexos sintetizados. A caracterização de cianoferratos é frequentemente realizada com base nos estiramentos das ligações do ligante ciano (C≡N) e das ligações ferro-ciano, com a coordenação via átomo de carbono (Fe-CN). Já para os sistemas de cobre com ligantes nitrogenados, a determinação das bandas gira em torno dos estiramentos das ligações envolvendo não só os ligantes – nesse caso, a fenantrolina, piperazina e nitrito (ex: C=N, C-N, N=O) – mas a interação desses com o metal, coordenados via átomo de nitrogênio (Cu-N). Sabendo disso, são apresentados e discutidos brevemente os espectros dos dois complexos que iniciaram as sínteses – [Cu(phen)Cl2] e Na2[Fe(CN)4(DMSO)2] – seguidos pela caracterização detalhada dos compostos mononucleares precursores inéditos – [Cu(phen)(pip)NO2]Cl e Na2[Fe(CN)4(NH3)2] – além de seus ligantes, e por fim, o complexo binuclear de cobre e ferro, Na[(NO2)(phen)Cu–pip–Fe(CN)4(NH3)2], apresentando todas as atribuições das principais bandas. 5.1.1. Espectros de Infravermelho 5.1.1.1. SISTEMA DE COBRE 5.1.1.1.1. Complexo precursor de cobre – [Cu(phen)Cl2] O composto [Cu(phen)Cl2] foi utilizado como precursor da síntese do complexo mononuclear de cobre – [Cu(phen)(pip)NO2]Cl – e seu espectro de infravermelho é 47 apresentado em diferentes faixas nas figuras 25 e 26, a seguir, e caracterizado posteriormente. Figura 25: Espectro vibracional do complexo precursor [Cu(phen)Cl2] na região de 4000 a 400 cm-1, em pastilha KBr. Fonte: Autora, 2022. Ao avaliar o espectro do complexo [Cu(phen)Cl2], observam-se algumas bandas compreendidas na região entre 3079 e 3010 cm-1 as quais indicam a presença de estiramentos assimétricos e simétricos da ligação C-H de carbonos sp2 aromáticos da fenantrolina (PAVIA et al., 2010). Na figura 26, a seguir, são apresentados os espectros do mesmo complexo em faixas de menor frequência de estiramento,
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