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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS ELAINE CRISTINE SOUZA DA SILVA ESTUDO FITOQUÍMICO E AVALIAÇÃO DO EFEITO GASTROPROTETOR E ANTI-INFLAMATÓRIO DO EXTRATO DO CLADÓDIO DE Nopalea cochenillifera EM MODELOS ANIMAIS NATAL-RN 2021 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS ESTUDO FITOQUÍMICO E AVALIAÇÃO DO EFEITO GASTROPROTETOR E ANTI-INFLAMATÓRIO DO EXTRATO DO CLADÓDIO DE Nopalea cochenillifera EM MODELOS ANIMAIS Dissertação apresentada à Coordenação do Programa de Pós- graduação em Ciências Farmacêuticas, como requisito para a obtenção do grau de Mestre em Ciências Farmacêuticas. ORIENTADORA: Profa. Dra. SILVANA MARIA ZUCOLOTTO LANGASSNER COORIENTADORA: Profa. Dra. GERLANE COELHO BERNARDO GUERRA NATAL-RN 2021 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS Silva, Elaine Cristine Souza da. Estudo fitoquímico e avaliação do efeito gastroprotetor e anti-inflamatório do extrato do cladódio de Nopalea cochenillifera em modelos animais / Elaine Cristine Souza da Silva. - 2021. 123f.: il. Dissertação (Mestrado em Ciências Farmacêuticas) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas. Natal, RN, 2021. Orientadora: Profa. Dra. Silvana Maria Zucolotto Langassner. Coorientadora: Profa. Dra. Gerlane Coelho Bernardo Guerra 1. Antioxidante - Dissertação. 2. Citocinas - Dissertação. 3. Flavonoides - Dissertação. 4. Úlceras gástricas – Dissertação. I. Langassner, Silvana Maria Zucolotto. II. Guerra, Gerlane Coelho Bernardo. III. Título. RN/UF/BS-CCS CDU 61:378 Elaborado por ANA CRISTINA DA SILVA LOPES - CRB-15/263 Elaine Cristine Souza da Silva ESTUDO FITOQUÍMICO E AVALIAÇÃO DO EFEITO GASTROPROTETOR E ANTI-INFLAMATÓRIO DA CACTÁCEA Nopalea cochenillifera Banca Examinadora: ___________________________________________ Profa. Dra. Silvana Maria Zucolotto Langassner Presidente – UFRN ____________________________________________ Profa. Dra. Jovelina Samara Ferreira Alves Examinador Externo – USP ____________________________________________ Profa. Dra. Daline Fernandes de Souza Araújo Examinador Interno – UFRN Natal, 22 de novembro de 2021 NATAL / RN 2021 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE SISTEMA INTEGRADO DE PATRIMÔNIO, ADMINISTRAÇÃO E CONTRATOS FOLHA DE ASSINATURAS Emitido em 24/11/2021 DOCUMENTOS DE ACEITAÇÃO Nº 13/2021 - PPGCF/CCS (15.27) NÃO PROTOCOLADO)(Nº do Protocolo: (Assinado digitalmente em 24/11/2021 22:40 ) DALINE FERNANDES DE SOUZA ARAUJO PROFESSOR DO MAGISTERIO SUPERIOR FACISA (10.32) Matrícula: 2865332 (Assinado digitalmente em 24/11/2021 17:11 ) SILVANA MARIA ZUCOLOTTO LANGASSNER PROFESSOR DO MAGISTERIO SUPERIOR DFARM/CCS (15.13) Matrícula: 1490222 (Assinado digitalmente em 25/11/2021 13:41 ) JOVELINA SAMARA FERREIRA ALVES ASSINANTE EXTERNO CPF: 054.759.834-37 Para verificar a autenticidade deste documento entre em informando seu número: https://sipac.ufrn.br/documentos/ , ano: , tipo: , data de emissão: e o código de verificação: 13 2021 DOCUMENTOS DE ACEITAÇÃO 24/11/2021 5c315116df Dedico este trabalho a minha mãe Maria Lúcia de Souza Silva, por todo o seu carinho, amor e educação cedidos, mesmo diante de todas as dificuldades enfrentadas no dia a dia e agradeço pelo seu esforço de me incentivar durante a minha vida acadêmica. Ao meu pai, Eronides Antônio da Silva que sempre me ensinou a lutar pelos meus objetivos com caráter e dedicação. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado força e coragem para enfrentar as dificuldades encontradas durante o curso. A todos os meus familiares, especialmente aos meus pais Eronides Antônio da Silva e Maria Lúcia de Souza Silva; aos meus avós maternos Pedro Manoel de Sousa (in memoriam) e Severina Ester de Souza; aos meus avós paternos Antônio Manoel da Silva e Maria José Pinheiro, pela sabedoria passada durante toda a minha vida. Às minhas tias Margarete de Souza Rodrigues e Marisete de Sousa, que sempre acreditaram na minha capacidade me dando força e conselhos para um futuro melhor. Ao meu irmão Elvis de Souza e à minha cunhada Jessica Marinho pelo carinho e o respeito e por apoiarem minhas escolhas, à minha sobrinha Estephanya Ana por ser o meu maior incentivo em buscar conhecimento, e por encher minha vida de alegria desde o seu nascimento. À professora Silvana Zucolotto, minha orientadora, por me aceitar em seu grupo de pesquisa, me dando a oportunidade de aprender sobre a área de farmacognosia, obrigada pelo apoio e todo ensinamento durante o mestrado. À professora Gerlane Coelho, minha coorientadora, pelo apoio dado durante meus experimentos e todo ensinamento na área de farmacologia, obrigada por toda a atenção e compreensão durante o mestrado. À doutoranda Edilane Araújo, por toda ajuda durante meus experimentos da atividade gastroprotetora, muito obrigada por ser dedicada, responsável e paciente, seu apoio foi de fundamental importância para minha formação. Às doutorandas Emanuelle Tavares, Larissa Marina e Valéria Costa, por toda ajuda e incentivo durante os experimentos. À aluna de iniciação cientifica Renata por toda ajuda nos experimentos. Ao Dr. Guilherme Ferreira da Costa Lima e Dr. Marcone César Mendonça das Chagas por sempre me apoiarem durante o mestrado, entendendo minhas ausências no trabalho para realizar as tarefas da pós-graduação, muito obrigada a esses profissionais que me ajudaram a crescer profissional e pessoalmente. RESUMO Nopalea cochenillifera, da família das Cactáceas, é conhecida popularmente como palma “doce” ou “miúda” e é amplamente cultivada na região Nordeste do Brasil. Esta pesquisa teve como objetivo caracterizar o perfil cromatográfico e avaliar o efeito gastroprotetor e anti-inflamatório do extrato hidroetanólico da Nopalea cochenillifera. Para isso, o cladódio da cactacea foi coletado, cortado e seco em estufa, triturada, macerada com etanol e água, obtendo-se o extrato hidroetanólico, que foi liofilizado. O estudo fitoquímico do extrato hidroetanólico foi realizado por Cromatografia em Camada Delgada (CCD) e Cromatografia em Líquida de Alta Eficiência Acoplada à Espectrômetro de Massas (HPLC-ESI-IT). O teor de fenóis e flavonoides totais foi avaliado por espectrofotometria no ultravioleta. A avaliação por CCD indicou a presença de compostos fenólicos, incluindo os flavonoides. A análise por HPLC-ESI-IT identificou a presença de seis compostos, com predomínio do ácido cafeico hexosídeo. O teor de fenóis e flavonoides totais no extrato foi de 67,85% e 46,16%, respectivamente. No estudo farmacológico para avaliação da atividade anti-inflamatória, foram utilizados camundongos Swiss divididos aleatoriamente em grupos (n=.5) carragenina (tratado com salina), dexametasona (1 mg/g), extrato de N. cochenillifera (200; 400 ou 600 mg/kg). A atividade da enzima mieloperoxidase (MPO) foi avaliada como marcador da infiltração de neutrófilos. Para a avaliação da atividade gastroprotetora foram utilizados Rattus norvegicus (Wistar), distribuídos aleatoriamente em grupos (n=7) controle lesões gástricas, grupo saudável (salina), extrato de N. cochenillifera (50, 100 e 200 mg/kg) e ranitidina (50 mg/kg), administrados por gavagem. Os resultados mostram que o extrato apresentauma atividade antiedematogênica, a dose de 600 mg/kg mostrou o percentual de inibição do edema de 58,00% ± 6,02 (P< 0,01). A atividade anti- inflamatória do extrato pôde ser confirmada pela redução siginificativa da enzima mieloperoxidase (MPO) (P< 0,01). Nos modelos induzidos pelo etanol e indometacina, o extrato mostrou que preveniu a formação das lesões gástricas, na dose de 100 mg/kg, modelo do etanol (P<0,001); e nas doses de 100 mg/kg (P< 0,05) e 200 mg/kg (P< 0,01), no modelo da indometacina. A avaliação macroscópica dos estômagos mostrou redução no índice de ulceração, acompanhado da redução da atividade da mieloperoxidade (MPO), e malondialdeído (MDA), preservação do GSH, redução dos níveis gástricos das citocinas pró-inflamatórias (TNF-α e IL-1β), e elevação da IL-10. As análises histopatológicas revelaram que o extrato preveniu as alterações morfológicas induzidas por etanol e pela indometacina, preservando a integridade tecidual gátrica, e ainda reduziu o infiltrado inflamatório, o que foi confirmado pela redução da MPO. Nas análises imunohistoquímica o extrato diminuiu a expressão da enzina COX-2 e aumentou a expressão da SOD na dosagem de 200 mg/kg quando induzido por indometacina e etanol. O pré- tratamento com extrato da N. cochenillifera não alterou o pH, o volume nem a acidez total do suco gástrico, porém preservou a secreção de muco podendo exercer um efeito citoprotetor. Os resultados do presente trabalho trazem evidências pré-clínicas que o extrato de Nopalea cochenillifera possui atividades gastroprotetoras e anti- inflamatórias, que podem estar relacionadas á riqueza de compostos fenólicos, especialmente flavonoides. PALAVRAS-CHAVES: Antioxidante. Citocinas. Flavonoides. Úlceras gástricas. ABSTRACT Nopalea cochenillifera, from the Cactaceae family, is popularly known as “sweet” or “miúda” palm and is widely cultivated in the Northeast region of Brazil. This research aimed to characterize the chromatographic profile and evaluate the gastroprotective and anti-inflammatory effect of the hydroethanolic extract of N. cochenillifera. For this, the cactaceae cladode was collected, cut and dried in an oven, crushed, macerated with ethanol and water, obtaining the hydroethanolic extract, which was lyophilized. The phytochemical study of the hydroethanolic extract was performed by Thin Layer Chromatography (TCD) and High Performance Liquid Chromatography Coupled with Mass Spectrometer (HPLC-ESI-IT). The content of total phenols and flavonoids was evaluated by ultraviolet spectrophotometry. TLC evaluation indicated the presence of phenolic compounds, including flavonoids. Analysis by HPLC-ESI-IT identified the presence of six compounds, with a predominance of caffeic acid hexoside. The content of total phenols and flavonoids in the extract was 67.85% and 46.16%, respectively. In the pharmacological study to evaluate the anti-inflammatory activity, Swiss mice were randomly divided into groups (n=.5) carrageenan (treated with saline), dexamethasone (1 mg/g), N. cochenillifera extract (200; 400 or 600 mg/kg). Myeloperoxidase (MPO) enzyme activity was evaluated as a marker of neutrophil infiltration. For the evaluation of the gastroprotective activity, Rattus norvegicus (Wistar) were used, randomly distributed in groups (n=7) control gastric lesions, healthy group (saline), extract of N. cochenillifera (50, 100 and 200 mg/kg) and ranitidine (50 mg/kg), administered by gavage. The results show that the extract has an antiedematogenic activity, the dose of 600 mg/kg showed the percentage of inhibition of edema of 58.00% ± 6.02 (P< 0.01). The anti-inflammatory activity of the extract could be confirmed by the significant reduction of the enzyme myeloperoxidase (MPO) (P< 0.01). In models induced by ethanol and indomethacin, the extract showed that it prevented the formation of gastric lesions, at a dose of 100 mg/kg, ethanol model (P<0.001); and at doses of 100 mg/kg (P<0.05) and 200 mg/kg (P<0.01), in the indomethacin model. Macroscopic evaluation of the stomachs showed a reduction in the ulceration index, accompanied by a reduction in myeloperoxide (MPO) and malondialdehyde (MDA) activity, preservation of GSH, reduction of gastric levels of pro-inflammatory cytokines (TNF-α and IL-1β), and elevation of IL-10. Histopathological analyzes revealed that the extract prevented the morphological changes induced by ethanol and indomethacin, preserving gastric tissue integrity, and also reduced the inflammatory infiltrate, which was confirmed by the reduction of MPO. In the immunohistochemical analysis, the extract decreased the expression of the COX-2 enzyme and increased the expression of SOD at a dose of 200 mg/kg when induced by indomethacin and ethanol. The pre-treatment with extract of N. cochenillifera did not change the pH, volume or total acidity of gastric juice, but preserved mucus secretion and could have a cytoprotective effect. The results of the present work provide preclinical evidence that the N. cochenillifera extract has gastroprotective and anti-inflammatory activities, which may be related to the richness of phenolic compounds, especially flavonoids. KEYWORDS: Antioxidant. Cytokines. Flavonoids. Gastric ulcers. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Nopalea cochenillifera ......................................................... 18 Figura 2 - Mecanismo de defesa e fatores de agressão ..................... 31 Figura 3 - Desenho experimental.......................................................... 44 Figura 4 - Cromatografia em Camada Delgada do extrato da Nopalea cochenillifera ......................................................... 56 Figura 5 - Cromatografia em Camada Delgada do extrato da Nopalea cochenillifera ......................................................... 57 Figura 6 - Curva de calibração de fenólicos totais .............................. 58 Figura 7 - Curva de calibração de flavonoides totais.......................... 58 Figura 8 - Cromatogramas do extrato de N. cochenillifera por HPLC- ESI-IT nos comprimentos de onda de 254, 280 e 340 nm... 60 Figura 9 - Cromatograma HPLC-ESI-IT do extrato de N. cochenillifera no modo negativo........................................... 61 Figura 10 - Efeito do extrato hidroetanólico de N. cochenillifera (200, 400 e 600 mg/kg) no edema de pata induzida por carragenina........................................................................... 65 Figura 11 - Efeito do extrato hidroetanólico de N. cochenillifera (200, 400 e 600 mg/kg) na atividade da enzima MPO no edema de pata induzida por carragenina ........................................ 67 Figura 12 - Possíveis mecanismos de ação do extrato hidroetanolico de N. cochenillifera hipotetizados na atividade anti- inflamatória induzidas por carragenina, de acordo com os resultados obtidos no estudo................................................ 69 Figura 13 - Efeito do pré-tratamento com o extrato de N. cochenillifera (50, 100 e 200 mg/kg) nas lesões gástricas induzidas por etanol ................................................................................... 71 Figura 14 Efeito do pré-tratamento com o extrato de N. cochenillifera (50, 100 e 200 mg/kg) nas lesões gástricas induzidas por etanol ................................................................................... 71 Figura 15 - Efeito do pré-tratamento com o extrato de N. cochenillifera (50, 100 e 200 mg/kg) nas lesões gástricas induzidas por indometacina ....................................................................... 73 Figura 16 - Efeito do pré-tratamento com o extrato de N. cochenillifera (50, 100, 200 mg/kg) nas lesões gástricas induzidas por indometacina ....................................................................... 73 Figura 17 - Efeito da administração do extrato de N. cochenilliera (50, 100e 200 mg/kg) no conteúdo total da glutationa reduzida no modelo de lesões gástricas macrosópicas induzidas por etanol e indometacina.................................................... 76 Figura 18 - Efeito do pré-tratamento com o extrato de N. cochenillifera (50, 100 e 200 mg/kg) nos níveis teciduais de malonialdeído (MDA) no modelo de lesões gástricas induzidas por etanol ............................................................ 77 Figura 19 - Efeito do pré-tratamento com o extrato de N. cochenillifera (50, 100 e 200 mg/kg) na atividade da enzima Mieloperoxidase (MPO) nas lesões gástricas induzidas por etanol e indometacina.......................................................... 79 Figura 20 - Efeito do pré-tratamento com o extrato de N. cochenillifera (50, 100 e 200 mg/kg) nos níveis de IL-1β no tecido gástrico ............................................................................... 81 Figura 21 - Efeito do pré-tratamento com o extrato de N. cochenillifera (50, 100 e 200 mg/kg) níveis de TNF-α no tecido gástrico.. 82 Figura 22 - Efeito do pré-tratamento com o extrato de N. cochenillifera (50, 100 e 200 mg/kg) nos níveis de IL-10 no tecido gástrico ................................................................................ 83 Figura 23 - Efeito do pré-tratamento com N. cochenillifera (50, 100 e 200 mg/kg) na histologia da mucosa gástrica de ratos submetidos à indução de úlcera aguda por etanol............... 85 Figura 24 - Efeito do pré-tratamento com N. cochenillifera (50, 100 e 200 mg/kg) na histologia da mucosa gástrica de ratos submetidos à indução de úlcera aguda por indometacina .. 87 Figura 25 - Efeito do pré-tratamento com N. cochenillifera (100 mg/kg) na produção de glicoproteíca no tecido gástrico de ratos submetidos à indução de úlcera aguda por etanol .............. 88 Figura 26 - Efeito do pré-tratamento com N. cochenillifera (100 e 200 mg/kg) na produção de glicoproteíca no tecido gástrico de ratos submetidos à indução de úlcera aguda por indometacina ....................................................................... 89 Figura 27 - Efeito do pré-tratamento com extrato hidroetanólico de N. cochenilliefera (50, 100 e 200 mg/kg) na expressão da enzina COX-2 na mucosa gástrica em ratos no modelo de úlcera induzida por etanol ................................................... 90 Figura 28 - Efeito do pré-tratamento com extrato hidroetanólico de N. cochenilliefera (50, 100 e 200 mg/kg) na expressão da enzina COX-2 na mucosa gástrica de ratos, no modelo de úlcera induzida por indometacina ........................................ 91 Figura 29 - Efeito do pré-tratamento com extrato hidroetanólico da N. cochenilliefera (50, 100 e 200 mg/kg) na expressão da enzina SOD na mucosa gástrica em ratos no modelo de úlcera por etanol .................................................................. 92 Figura 30 - Efeito do pré-tratamento com extrato hidroetanólico de N. cochenilliefera (50, 100 e 200 mg/kg) na expressão da enzina SOD na mucosa gástrica de ratos no modelo de úlcera induzida por indometacina......................................... 93 Figura 31 - Possíveis mecanismos de ação do extrato hidroetanólico de N. cochenillifera hipotetizados na proteção das lesões gástricas induzidas pelo etanol e indometacina, de acordo com os resultados obtidos no estudo................................... 97 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Resumo das triagens fitoquímicas e substâncias químicas já relatadas para a espécie N. cochenillifera....................... 21 Tabela 2 - Estudos não clínicos in vitro e in vivo realizados com a N. cochenilliera ........................................................................ 24 Tabela 3 - Descrição dos grupos experimentais para o modelo edema de pata induzido por carregenina ........................... 45 Tabela 4 - Descrição dos grupos experimentais para o modelo úlcera gástrica induzido por etanol................................................. 48 Tabela 5 - Descrição dos grupos experimentais para o modelo úlcera gástrica induzido por indometacina ..................................... 49 Tabela 6 - Critérios histológicos para avaliação das lesões gástricas.. 53 Tabela 7 - Critérios histológicos para avaliação do infiltrado leucocitário .......................................................................... 54 Tabela 8 - Avaliação dos marcadores por imunocoloração.................. 54 Tabela 9- Teor de fenóis e flavonoides totais no extrato hidroetanólico de N. cochenillifera....................................... 59 Tabela 10- Substâncias identificadas por HPLC-EM do extrato de N. cochenillifera........................................................................ 61 Tabela 11 - Efeito do extrato hidroetanólico de N. cochenillifera (200, 400 e 600 mg/kg) no edema de pata induzida por carragenina.......................................................................... 67 Tabela 12 - Efeito do pré-tratamento com o extrato de N. cochenillifera (50, 100 e 200 mg/kg) no modelo de indução de úlcera por etanol ................................................................................... 72 Tabela 13 - Efeito do pré-tratamento com o extrato de N. cochenillifera (50, 100 e 200 mg/kg) no modelo de indução de úlcera por indometacina ...................................................................... 74 Tabela14 - Efeito do extrato de N. cochenillifera (100 e 200 mg/kg) no pH, acidez total e volume intragástrico por meio do modelo de ligadura do piloro......................................................... 95 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS Ach Acetilcolina AINEs Anti-inflamatórios não-esteroidais ARH2 Antagonistas dos Receptores de Histamina ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária ASC Área sob a curva AcOET Acetato de etila ATPase Adenosina trifosfatase AMPc Monofosfato cíclico de adenosina CCD Cromatografia em Camada Delgada CCK2 Receptores de Colecistocinina Tipo 2 CCKB Receptores H2 para histamina CEUA Comissão de Ética no Uso de Animais CLAE Cromatografia Liquida de Alta Eficiência CLAE-EM Cromatografia Liquida de Alta Eficiência Acoplada a Espectrometria de Massa CLAE-DAD Cromatografia Liquida de Alta Eficiência Acoplada a Detector de Arranjos de Diodos CO2 Dióxido de carbono COX Ciclooxigenase EGF Fator de Crescimento Epidérmico EM Espectrometria de Massa EMPARN Empresa de pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte ERO Espécie reativa de oxigênio EUA Estados Unidos da America GSH Glutationa reduzida HTAB Brometo de Hexadeciltrimetilamônio HCL Ácido clorídrico H+ Íons Hidrogênio IBPs Inibidores de Bomba de Prótons IL-1β Interleucina-1β IU Índice de Ulceração iNOS Oxido nítrico induzível I% Percentual de inibição K+ Potássio MAC Metabolismo ácido das crassuláceas MS Matéria seca MeOH Metanol m/z Razão carga/massa µm Micrometros µL Microlitros µg Microgramas µmol Micromol MPO Mieloperoxidase NFk– B Fator de Necrose Nuclear Kappa B NOS Óxido Nítrico Sintase OMS Organização Mundial de Saúde PAS Ácido Periódico Schiff PBS Solução Tampão Fosfato Sódico Ph Potencial hidrogeniônico PGE2 Prostaglandina E2 PAS Periódico-ácido-Shiff RMN Ressonância Magnética Nuclear RDC Resolução da Diretoria de Colegiado SOD Superóxido Dismutase SUS Sistema Único de Saúde TA Temperatura ambiente TNF-α Fator de Necrose Tumoral Alfa UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFPB Universidade Federal da Paraíba UV Ultravioleta SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...........................................................................................14 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................ 16 2.1 Importância das Plantas Medicinais ................................................... 16 2.2 Nopalea cochenillifera ............................................................................ 17 2.3 Composição Química ........................................................................... 19 2.4 Etnobotânica ......................................................................................... 21 2.5 Atividade Farmacológica...................................................................... 22 2.6 Plantas medicinais e Gastroproteção.................................................. 25 2.7 Estômago................................................................................................ 25 2.7.1 Anatomia e Fisiologia do estômago ..................................................... 25 2.8 Doença Ulcerosa Péptica..................................................................... 30 2.8.1 Conceitos e principais sintomas ......................................................... 30 2.8.2 Úlcera Pépticas ................................................................................... 31 2.8.3 Epidemiologia ...................................................................................... 33 2.9 Tratamento da Úlcera Péptica ........................................................... 34 2.9.1 Antagonistas de Receptores de Histamina Tipo 2 (ARH2) ................ 34 2.9.2 Inibidores da Bomba de Prótons (IBPs) ............................................. 34 2.9.3 Fármacos Protetores da Mucosa ....................................................... 35 2.10 Plantas Medicinais e Inflamações ..................................................... 36 3.0 OBJETIVOS ........................................................................................... 39 3.1 Objetivo geral ........................................................................................ 39 3.2 Objetivos específicos ........................................................................... 39 4 MATERIAIS E METODOS ......................................................................... 40 4.1 Material Vegetal ..................................................................................... 40 4.2 Preparação das Amostras .................................................................... 40 4.3 Estudos Fotoquímicos ......................................................................... 41 4.3.1 Análise por Cromatografia de Camada Delgada (CCD) ...................... 41 4.3.2 Doseamento do Teor de Fenóis Totais no Extrato Hidroetanólico da N. cochenillifera............................................................................................. 41 4.3.3 Determinação do Teor de Flavonoides no extrato Hidroetanólico da Nopalea cochenillifera .................................................................................. 42 4.3.4 Cromatografia Liquida de Alta Eficiência Acoplada em Espectrômetro de Massas (CLAE-EM) ................................................................................. 42 4.4 Estudo Farmacológico ......................................................................... 43 4.4.1 Avaliação da atividade Anti-inflamatória .............................................. 44 4.4.1.1 Animais ............................................................................................. 44 4.4.1.2 Edema de pata induzido por Carragenina......................................... 45 4.4.1.3 Determinação da Atividade da Enzima MPO nas Patas de Camundongos................................................................................................ 46 4.4.2 Avaliação da Atividade Gastroprotetora............................................... 47 4.4.2.1 Animais.............................................................................................. 47 4.4.2.2 Úlcera Gástrica Induzida por etanol................................................... 47 4.4.2.3 Úlcera Gástrica Induzida por Indometacina....................................... 49 4.4.2.4 Avaliação do Estresse Oxidativo ..................................................... 49 4.4.2.4.1 Avaliação da Concentração de Glutationa Reduzida (GSH) ........ 49 4.4.2.4.2 Determinação dos Níveis de Malondialdeído (MDA)..................... 50 4.4.2.5 Avaliação de Marcadores Inflamatórios ............................................ 51 4.4.2.5.1 Determinação da Atividade da Enzima Mieloperoxidase (MPO) ... 51 4.4.2.5.2 Fator de Necrose Tumoral (TNF-α), Interleucina 1β (IL-β) e Interleucina 10 (IL-10) .............................,................................................... 52 4.4.2.5.3 Avaliação Histológica (H&E e PAS) do Dano Induzido por Etanol e Indometacina na mucosa gástrica em ratos .............................................. 53 4.4.2.5.4 Avaliação Imunohistoquímica do Marcador COX-2 e SOD .......... 54 4.4.2.5.5 Avaliação da Secreção Gástrica ................................................... 54 4.5 Análise Estatística .................................................................................. 55 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................... 56 5.1 Cromatografia em Camada Delgada (CCD) ........................................ 56 5.2 Doseamento do Teor de Fenóis e Flavonoides Totais no Extrato Hidroetanólico de N. cochenillifera.............................................. 57 5.3Cromatografia Líquida de Alta Eficiência Acoplada em Espectrômetro de Massas (HPLC-ESI-IT) ................................................ 60 5.4 Avaliação da atividade Anti-inflamatória............................................ 64 5.4.1 Edema de Pata Induzido por Carragenina ........................................... 64 5.4.2. Determinação da Atividade Mieloperoxidase (MPO) nas Patas dos Camundongos................................................................................................ 67 5.5 Avaliação da atividade Gastroprotetora ............................................. 69 5.5.1 Avaliação dos Modelos de Úlcera Aguda Induzida por Etanol e por Indometacina ................................................................................................ 69 5.5.2 Avaliação do Estresse Oxidativo nos Modelos de Indução de Úlcera Aguda por Etanol e Indometacina.................................................................. 75 5.5.3 Avaliação da Atividade da Enzima MPO Níveis de Citocinas .............. 78 5.5.4 Avaliação Histológica do Dano Induzido por Etanol e Indometacina na Mucosa Gástrica em Ratos....................................................................... 84 5.5.5 Avaliação das Glicoproteínas da Mucosa ............................................ 88 5.5.6 Avaliação Imunohistoquimica dos Marcadores COX-2 e SOD ............ 89 5.5.7 Avaliação da Secreção Gástrica .......................................................... 94 6 CONCLUSÃO ............................................................................................ 98 REFERÊNCIAS............................................................................................. 99 ANEXOS ....................................................................................................... 119 14 1 INTRODUÇÃO O uso de plantas medicinais para tratamento de enfermidades é uma prática tradicional em várias civilizações. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) em média 80-85% da população do mundo utiliza plantas medicinais como tratamento de saúde primário (BRASIL, 2006; RIBEIRO, 2014). O Brasil é detentor de uma grande parcela da biodiversidade mundial, sendo esta uma característica que favorece o interesse pela pesquisa com plantas nativas ou exóticas adaptadas ao país (BRASIL, 2006). O interesse pela fitoterapia na assistênciaà saúde da população vem aumentando muito nos últimos anos, seja com a utilização da planta medicinal ou do fitoterápico, que são considerados uma importante fonte de inovação em saúde (BRASIL, 2006). Segundo a RDC N° 26 de 13 de maio de 2014, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), fitoterápico “é um produto obtido de matéria-prima ativa vegetal, exceto substâncias isoladas, com finalidade profilática, curativa ou paliativa” (BRASIL, 2014). Com o intuito de obter novos insumos com espécies vegetais nativas ou bem adaptadas no Brasil, surgiu o interesse de estudar a espécie Nopalea cochenillifera pertencente à família das Cactáceas, popularmente conhecida por palma “doce” ou “miúda” e amplamente distribuída na região Nordeste. Trata-se de uma planta de pequeno porte, que apresenta cladódios pequenos e abundantes, além de possuir uma coloração verde intensa (SILVA et al., 2017). Diferentes partes da N. cochenillifera são utilizadas como terapia alternativa de vários países, os cladódios são utilizados para reduzir o nível de colesterol no soro e a pressão arterial, para tratamento de úlceras, dores reumáticas, feridas, fadiga, fragilidade capilar, e do fígado (Agozzino et al., 2005). A espécie tem sua origem na região central do México, mas já é facilmente encontrada no Nordeste brasileiro, principalmente nas regiões do semiárido por ser uma planta adaptada a grandes períodos de estiagem e devido a esta característica é utilizada como forragem para animais (DONATO et al., 2017). Uma vez que ainda são escassos os estudos na literatura com a espécie N. cochenillifera com relação aos seus constituintes químicos e seu potencial terapêutico, este estudo tem por finalidade avaliar o perfil fitoquímico e as 15 atividades gastroprotetora e anti-inflamatória do extrato hidroetanólico de N. cochenillifera. Esta proposta vai em encontro à Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF), para fortalecer a consolidação da introdução do uso de plantas medicinais e da fitoterapia no Sistema Único de Saúde (SUS), bem como o desenvolvimento do setor, em toda a cadeia produtiva no Brasil, desde o cultivo até o produto acabado (BRASIL, 2006). Este estudo contribuirá fornecendo dados científicos sobre uma espécie abundante no Nordeste, que poderá ser utilizada na obtenção de uma matéria- prima para a indústria farmacêutica, como também para a indústria cosmética e/ou alimentícia. 16 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Importância das Plantas Medicinais Por muitos anos o uso de plantas medicinais foi o único recurso terapêutico disponível para a humanidade. As plantas ainda são utilizadas na medicina tradicional para tratar e prevenir muitas doenças (KAILEH et al., 2007). A natureza apresenta uma grande fonte de substâncias biologicamente ativas que podem ser utilizadas no desenvolvimento de fármacos (LEWINSOHON; PRADO apud por JOLY et al., 2011). Embora o Brasil possua a mais rica fonte de bioprospecção de produtos naturais, que corresponde em torno de 15% a 20% da biodiversidade mundial, que, associada a uma rica variedade cultural e étnica, detém um valioso conhecimento tradicional a respeito do uso de plantas medicinais, nosso país não tem uma atuação destacada no mercado mundial de fitoterápicos, ficando inclusive atrás de países menos desenvolvidos tecnologicamente (YUNES et. al., 2001). A diversidade micromolecular dos biomas brasileiros é ainda pouco explorada como uma fonte de substâncias de interesse farmacológico, assim, várias pesquisas de bioprospecção vêm sendo realizadas na busca racional de bioprodutos de valor agregado (BRASIL, 2006; BARREIRO; BOLZANI, 2009). Os efeitos adversos e em alguns casos o alto custo dos medicamentos sintéticos são algumas das desvantagens na escolha para o tratamento de doenças, e essas características têm incentivado os pesquisadores a procurar novos alvos terapêuticos e novos agentes bioativos, principalmente os provenientes de produtos naturais (GUERRA et al., 2015; ZHANG et al., 2016). Em 2006, foi publicado no Brasil a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, que visa o reconhecimento e a promoção de práticas que sejam cientificamente comprovadas e que garantam eficácia, segurança e qualidade à população. Essas práticas envolvem as diversas formas de uso das plantas medicinais, desde preparações para uso caseiro e comunitário, passando pelas formulações preparadas em farmacêuticas de manipulação, até as formulações fabricadas em indústrias farmacêuticas (BRASIL, 2006). Esta política é de suma importância e visa ampliar as opções terapêuticas ofertadas aos usuários do SUS, 17 com enfoque em garantir o acesso a plantas medicinais, fitoterápicos e serviços relacionados à fitoterapia, com segurança, eficácia e qualidade, na perspectiva da integralidade da atenção à saúde (BRASIL, 2006). Somado a isto, destaca-se também a Política Nacional de Políticas Integrativas e Complementares no SUS, publicada em 2006, que atende principalmente à necessidade de conhecer, apoiar, incorporar e programar as experiências que já vêm sendo desenvolvidas na rede pública de muitos municípios e estados, que dentre outras terapias, estabeleceu a incorporação da fitoterapia no SUS (BRASIL, 2006). 2.2 Nopalea cochenillifera A palma forrageira e outras espécies do mesmo gênero comumente apresentam poliploidia, sua taxonomia é muito complexa, com fenótipos que apresentam alta variedade, dependentes das condições edafoclimáticas tendo uma alta capacidade de hibridação. A palma forrageira é pertencente ao reino vegetal e ao sub-reino Embryophyta, divisão Angiospermae, à classe Dicotyledoneae, à subclasse Archiclamideae, à ordem Opuntiales e à família Cactacea (PESSOA, 1967; NOBEL, 2001; REBMAN; PINKAVA, 2001; SILVA; CARVALHO, 2006; SÁENZ, 2013). A família das cactáceas compreende três subfamílias, que são a Pereskioideae, a Cactoideae e a Opuntioideae (tribo Opuntiae) da qual a palma forrageira faz parte. A subfamília Cactoideae representa as espécies mais derivadas e correspondem a 80% dos cactos, enquanto a subfamília Opuntiae é subdividida em 9 subtribos e possui cerca de 178 gêneros e 2.000 espécies (PESSOA, 1967; NOBEL, 2001; SILVA; REBMAN; PINKAVA, 2001; CARVALHO, 2006; SÁENZ, 2013). A palma forrageira é muito cultivada no México, onde desempenhou um papel fundamental na economia agrícola do Império Asteca. Atualmente é encontrada em diversas partes do mundo, sendo o Brasil o maior produtor mundial desta espécie (BARBERA et al., 2001; FARIAS et al., 2005). As palmas mais cultivadas no Brasil são as espécies pertencentes aos gêneros Opuntia, contando com 170 espécies. As espécies do gênero Nopalea são as mais 18 utilizadas no mundo e seus gêneros são predominantes também no nordeste brasileiro. Dentre as principais espécies da palma forrageira, sobressaem a Opuntia fícus indica Mill e a Nopalea cochenillifera SalmDyck, objeto deste trabalho (PESSOA, 1967; NOBEL, 2001; LIRA et al.,2017) A espécie Nopalea cochenillifera Salm Dyck (Figura 1) tem como sinonímia Cacto cochenillifer L., Nopalea coccifera Lem., Opuntia cochenillifera (L.) Mill. (TROPICOS, 2021). É popularmente conhecida como palma “doce” ou “miúda” e é uma planta de pequeno porte com caule bastante ramificado; apresenta cladódios (raquetes) pequenos com peso de aproximadamente de 350 g e comprimento de 25 cm (PESSOA, 1967; SILVA; SANTOS, 2006; VASCONCELOS et al., 2009). Na espécie N. cochenillifera os cladódios são encontrados em abundância quando comparado com as demais variedades. Possuem forma acentuadamente obovada, sendo a ápice mais larga que a base e com uma coloração verde- brilhante-intensa. As flores são vermelhas e sua corola permanece meio fechada durante o ciclo, já o fruto é uma baga de coloraçãoroxa. Os artículos das extremidades são inermes com poucos espinhos e finos, caracterizando pêlos, nos artículos da base e no centro os espinhos são mais grossos (PESSOA, 1967; SILVA; SANTOS, 2006; VASCONCELOS et al., 2009). Figura 1. Nopalea cochenillifera Fonte: Acervo próprio, 2019 Cladódios ss Flores http://legacy.tropicos.org/Name/5100490 http://legacy.tropicos.org/Name/5108330 19 Segundo Cândido e colaboradores (2013) a palma forrageira consegue sobreviver em regiões secas por ter características bioquímicas, anatômicas, morfológicas e fisiológicas necessárias para manter sua produção. Por apresentar elevado teor de umidade, podendo chegar a 90% e ser rica em carboidratos não fibrosos, diminui os problemas de digestão dos animais (BEM SALEM et al., 2005 apud DANTAS et al.,2017). A família das cactáceas apresenta metabolismo fotossintético do ácido das crassuláceas (MAC). Por apresentar esse tipo de metabolismo, a palma forrageira possui baixa exigência hídrica. As trocas gasosas das plantas MAC ocorrem principalmente à noite, diferentemente de plantas C3 (adaptadas a ambientes frios e úmidos) e C4 (adaptadas a ambientes quentes e ensolarados), característica que indica uma vantagem adaptativa para ambientes áridos (NOBEL, 2001; SANTOS et al., 2017; DONATO, et al., 2017). A abertura dos estômatos durante a noite permite a captação do CO2 necessário para a fotossíntese e menor perda de água (DONATO et al., 2017). Com relação às formas de uso pela população, há relatos de seu uso na alimentação humana no México em sua forma natural (folhas frescas), podendo inclusive, ser encontrada em forma de brotos dos cladódios em supermercados (CALLEJAS et al., 2009). Além disso, também é utilizada na recuperação de desertos, na ornamentação de ambientes, como suporte forrageiro para bovinos e caprinos, além de uso na medicina (DONATO, 2017). No Brasil seu uso está voltado apenas para a alimentação animal, sendo escassos os estudos destas cactáceas em outras áreas. 2.3 Composição Química O gênero Nopalea apresenta em sua composição químico-bromatológica teores consideráveis de carboidratos totais (81,12 ± 5,9%), carboidratos não fibrosos (58,55 ± 8,13%), carboidratos não estruturais (47,9 ± 1,9%), proteína bruta (4,81 ± 1,16%), altos teores de cálcio (2% - 5,7% da Matéria seca (MS)), potássio (1,5% - 2,58% da MS), magnésio (1,3% - 1,7% da MS) e material mineral (12,04 + 4,7%) (FERREIRA et al., 2006). 20 Em estudo preliminar para detecção de metabólitos secundários da N. cochenillifera pelo teste reativo de Fehling A e B, foi detectada a presença de açúcares redutores, saponinas e taninos (FRANÇA, et al., 2010). Gomes-Flores et al. (2006) observaram a presença de flavonoides e taninos no extrato da N. cochenillifera, relacionando esses metabólitos à atividade biológica da espécie. Em reações químicas por meio de caracterização e reações histoquímicas, o extrato etanólico de N. cochenillifera indicou a presença de flavonoides como flavonas, flavanonas e flavonóis (NECCHI et al., 2010; HÁUAD- MARROQUIN, et al., 2008). O extrato da N. cochenillifera apresenta uma maior concentração de flavonoides nas estações chuvosas, detectada pelas reações de Shinoda que é utilizada para confirmar a presença de flavonoides (ALVES et al., 2016, ALVES et al., 2017). Na literatura foram encontrados dois estudos de triagem fitoquímica com a espécie N. cochenillifera, sendo um estudo com análise das frações do extrato hidroetanólico de N. cochenillifera, por cromatografia gasosa acoplada a espectrômetro de massas (SILVA; NASCIMENTO, 2015), e outro estudo por Matos et al., (2021) que realizou análise por UPLC-HRMS integrado a ferramentas quimiométricas e análise metabolômica de diferentes variedades de palma forrageira (Tabela 1). 21 Tabela 1. Resumo das triagens fitoquímicas e substâncias químicas já relatadas para a espécie N. cochenillifera. Parte da planta Classificação Extrato Componentes Referencias Cladódios frescos Flavonoides Taninos Fração: clorofórmica , etanólica e hexânica - GOMES- FLORES et al. (2006) Cladódios frescos Flavonoides Extrato etanólico NECCHI et al., 2010 Cladódios frescos e secos Flavonoides Extrato etanólico, hexânico e clorofórmico flavonas,flavanonas e flavonóis HÁUAD- MARROQUÍN et al. (2008) Cladódios secos Carboidratos Saponinas Taninos Extrato etanólico açúcares redutores, saponinas espumídicas e taninos catéquicos FRANÇA, et al., 2010 Cladódios secos Flavonoides e esteróides Extrato etanólico _- ALVES et al., 2016; ALVES et al., 2017 Cladódios secos Álcool acíclico Fitoesterol Chalcona Esqualeno Acidos graxos Vitamina E Extrato etanólico Fitol β-sitosterol e stigmasterol benzofuranona linoléico e palmítico SILVA; NASCIMENTO, 2015 Cladódios secos Aminoácido Flavonoides Extrato etanólico Triptofano quercetina-3-O-2’’,6’’- dirhamnosilglucosideo; isoramnetina-glucosil- dirhamnosideo isorhamnetina-3-O- rhamnosil hexosideo MATOS et al., 2021 2.4 Etnobotânica Diferentes partes da N. cochenillifera são utilizadas como terapia alternativa em vários países. Em um estudo etnobotânico sobre a utilização de cactáceas, Lucena et al. (2013) relataram o uso do fruto in natura da N. cochenillifera na alimentação humana e os cladódios como forragem animal. A espécie apresenta a capacidade de reduzir o nível de colesterol no soro e a pressão arterial, além de apresentar potencial terapêutico no tratamento de 22 úlceras, dores reumáticas, feridas, fadiga, fragilidade capilar, e problemas no fígado (AGOZZINO et al., 2005). De acordo com Lans (2006), na medicina tradicional N. cochenillifera é utilizada como diurético, anti-inflamatório e analgésico, em particular para otalgias e odontalgias, além de ser usada no tratamento da hipertensão, cálculos renais e como agente hipoglicemiante. A espécie empregada inteira ou macerada vem sendo bastante utilizada devido as suas propriedades anti-inflamatórias e antirreumáticas, geralmente por meio da aplicação local. A essa espécie também são atribuídas propriedades antivirais, principalmente contra a erisipela, e anti-hemorroidas. Assim como a Opuntia fícus-indica, o fruto da Nopalea cochenillifera também se apresenta como antitussígeno (FUENTES, 2000). 2.5 Atividade Farmacológica Em pesquisas realizadas na literatura foram encontrados apenas dois estudos clínicos com suco do cladódio de N. cochenillifera que avaliaram a atividade hipoglicemiante, e seis estudos pré-clínicos in vitro (Tabela 2). Em um modo geral a maioria dos estudos avaliou atividade microbiológica da N. cochenillifera. Estudo in vitro realizado por método colorimétrico demonstrou que três diferentes extratos obtidos com etanol, hexano e clorofórmio do cladódio de N. cochenillifera apresentaram atividade antimicrobiana frente à Escherichia coli, Salmonela entérica e Candida albicans (GOMES-FLORES et al., 2006). Háuad-Marroquín et al. (2008) avaliaram o efeito microbiológico de extratos obtidos dos cladódios frescos e secos da N. cochenillifera preparados com etanol, hexano e clorofórmio frente a entidades infecciosas. Neste estudo destacou-se a atividade antimicrobiana frente à Candida albicans, no qual o extrato obtido com clorofórmio por soxhlet apresentou 60,42% de citotoxicidade e os extratos hexânicos apresentaram 65% de citotoxicidade. Ainda neste estudo foi observada citotoxidade de 37,63 e 44,35% dos extratos obtidos com clorofórmio e hexano, respectivamente, frente à Escherichia coli. 23 O extrato hidroetanólico seco dos cladódios da N. cochenillifera exibiu potencial antifúngico frente a cepas de importância clínica como a Candida dubliniensis, Candida glabrata,Candida parapsilosis e Candida Krusei (SILVA et al., 2018). Já o extrato etanólico dos cladódios da N. cochenillifera apresentou inibição frente às cepas de Micrococcus, Staphylococcus aureus, Klebsiella pneumoniae, Salmonella typhi, Escherichia coli, Candida glabrata, Candida albicans, Prototheca zopffi, Cryptococcus neoformans, Saccharomy cescervisiae e Malassezia furfur, sendo que o extrato teve melhor resultado para Micrococcus e C. albicans (NECCHI et al., 2012). Suryawanshi e Vidyasagar (2016) avaliaram a atividade antimicrobiana da N. cochenilliera em diferentes partes da planta (flores e cladódios) com dois solventes diferentes (metanólico e clorofórmico), o estudo concluiu que o extrato metanólico dos cladódios teve atividade antimicrobiana significativa in vitro. A atividade antineoplásica do extrato etanólico usando cladódios secos da N. cochenillifera mostrou que diferentes concentrações apresentaram efeito inibitório no crescimento de células cancerígenas, sendo neste estudo a análise realizada pelo método de MTT [3-(4,5-dimetiltiazol-2-il)-2,5 difenilbrometo de tetrazolina] em células HCT-116 (colo retal humano), SF-295 (glioblastoma humano) e OVCAR-8 (câncer de ovário humano) (ALVES et al., 2016). Fabela-Illescas et al., (2015) realizaram um ensaio clínico com 20 pacientes dos quais 10 eram diabéticos, os demais tinham hipertensão, sobrepeso e obesidade. Todos os pacientes foram tratados com uma bebida fresca a base de N. cochenillifera que consistia na mistura de 50 g do cladodio de N. cochenillifera com 250 mL de água durante 30 dias. Com isso verificou-se uma diminuição significativa na circunferência da cintura, peso, pressão sistólica e diastólica em pacientes que receberam uma preparação. No caso da glicose, os níveis não foram estatisticamente signiticativos, em contrapartida, foram encontrados valores significativos para a hemoglobina glicosilado, com isso, sendo necessário mais estudos para a avaliação da atividade anti-hiperglicêmica de N. cochenillifera. Em estudo in vivo com animais, Magaña-Cerino et al. (2020) relataram efeito benéfico do suco de cladódios frescos da N. cochenillifera na glicemia pós- prandial quando comparado com arcabose. Ainda nesse estudo foi observado que 24 o extrato metanólico da N. cochenillifera tem uma quantidade considerável de compostos fenólicos e exibiu atividade antioxidante no ensaio DPPH (2,2- difenil- 1-picrilhidrazilo), mas não inibiu a enzima α-glucosidase e teve um baixo efeito antioxidanteno teste ABTS (ácido 2,2'-azino-bis (3-etilbenzotiazolin) 6-ácido sulfônico). Tabela 2. Estudos não clínicos in vitro e in vivo realizados com a N. cochenillifera Parte da planta Extrato / fração / composto Método Resultado Referencias Estudos in vitro Cladódios frescos Etanol, hexano e clorofórmio Método colorimétrico Atividade antimicrobiana frente à Escherichia coli, Salmonela entérica e Candida albicans GOMES- FLORES et al., 2006 Cladódios frescos Etanol, hexano e clorofórmio por soxhlet Avaliação antimicrobiana do extrato de N. cochenillifera Atividade microbiológico frente a Candida albicans e Escherichia coli HÁUAD- MARROQUÍN et al. (2008) Cladódios frescos Extrato etanólico Avaliação da atividade antimicrobiana por bioautografia e microdiluição Atividade antimicrobiana frente a cepas de importância clínica em destaque Micrococcus e C. albicans NECCHI et al., 2012 Cladódios secos Extrato hidroetanólic o Método de difusão em meio sólido para determinação da concentração inibitória mínima (MIC) Atividade antifúngica frente a cepas de importância clínica como a C. dubliniensis, C. glabrata, C. parapsilosis e C. Krusei SILVA et al., 2018 Cladodios secos Extrato etanólico Método de MTT em células HCT- 116 (colo retal humano), SF-295 (glioblastoma humano) e OVCAR-8 (câncer de ovário humano) Efeito inibitório sobre o crescimento de células cancerígenas ALVES et al., 2016 Cladódios e frutos frescos Extrato metanólico e clorofórmico Avaliação da atividade antimicrobiana com extrato dissolvido em Atividade antimicrobiana dos cladódios e dos frutos da N. cochenillifera, o SURYAWANSH I E VIDYASAGAR (2016) 25 Dimetilsulfóxido (DMSO). extrato metanólico dos cladódios apresentaram melhor atividade Estudo in vivo Suco de cladódios Suco Ensaio clínico preliminar para avaliar atividade antidiabética Diminuição significativa na circunferência da cintura, peso, pressão sistólica e diastólica FABELA- ILLESCAS et al., (2015) Suco de cladódios Suco Ensaio não- clínico in vivo para avaliar atividade antidiabética Diminuição da glicemia pós- prandial MAGAÑA- CERINO et al. (2020) 2.6 Plantas Medicinais e Gastroproteção Na busca pelo descobrimento de melhores opções de tratamentos que sejam mais seguros e com menos efeitos adversos para doenças gastrointestinais, as plantas medicinais vêm sendo estudadas, tendo sua atividade frequentemente associada à ação pleiotrópica e sem efeitos adversos excessivos (ALMEIDA et al., 2019). Várias plantas medicinais têm sido usadas para o tratamento de distúrbios gastrintestinais. O primeiro fármaco efetivo contra úlceras gástricas foi a carbenoxolona, substância isolada de Glycyrrhiza glabra (alcaçuz) e comumente usada pelos indígenas (AKTAR; MUNIR, 1989). Na literatura são encontrados muitas plantas e seus metabólitos secundários, com efeito gastroprotetor, sendo uma ótima alternativa para o tratamento da úlcera gástrica. O principal mecanismo envolvido nessa atividade gastroprotetora é o efeito antioxidante, que atua na diminuição da peroxidação lipídica auxiliando na prevenção da inflamação que leva a úlceras gástricas (ATHAYDES et al., 2018). 2.7 Estômago 3.7.1 Anatomia e Fisiologia do Estômago O estômago é a porção dilatada do tubo digestivo responsável pela retenção do alimento durante o período necessário de ocorrência de digestão e 26 transformação do bolo alimentar em quimo (SANTOS et al., 2011). Anatomicamente, o estômago é dividido em fundo, corpo e antro (FERRUA; SINGH, 2010). O fundo está situado à esquerda e acima do nível do esfíncter esofágico inferior ou cárdia. O corpo é a região maior do estômago. O antro está situado na região proximal ao canal pilórico (SEELEY et al., 2008). O fundo e o corpo são secretores de ácido, enquanto o antro abriga o epitélio superficial secretor de alcalinas e células G secretoras de gastrina endócrinas (DAVID; SOYBEL, 2005). No entanto, microscopicamente a região do fundo e corpo são histologicamente parecidas (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008). O estômago está estruturado em duas regiões: córnea e antropilórica. A porção córnea que é contínua ao esôfago apresenta epitélio estratificado e queratinizado, a porção antropilorica possui um epitélio com presença de glândulas tubulares na mucosa (BERTASSOLI et al., 2013). Essas porções são delimitadas internamente por uma prega evidenciada na superfície da mucosa de ambas as faces do estômago, que é chamada de “prega limitante”, fazendo a divisão do estômago aglandular e estômago glandular (OLIVEIRA, 2000). Na porção glandular encontramos quatro camadas que compõem a parede do estômago: Mucosa, Submucosa, Muscular (Muscular oblíqua, muscular circular e muscular longitudinal) e Serocinasa. A Mucosa Gástrica é revestida por um tecido epitelial cúbico simples que sofre invaginações formando as fossetas gástricas. Nelas desembocam secreções das glândulas gástricas ramificadas. Além disso, entre a mucosa e a submucosa encontramos uma camada da muscular da mucosa (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008). O estômago apresenta principalmente duas categorias de glândulas secretoras de substâncias responsáveis pelos processos digestivose homeostáticos do estômago, as glândulas oxínticas ou gástricas e as glândulas pilóricas (MEJIA; KRAFT, 2009). As glândulas pilóricas são constituídas por três tipos de células: as células mucosas que são responsáveis pela secreção do muco, as células do tipo G responsáveis pela síntese e liberação de gastrina e as células D que secretam a somastatina (SCHUBERT; PEURA, 2008). As glândulas oxínticas estão localizadas no fundo e no corpo do estômago (cerca de 80% da superfície interna do estômago) e são constituídas por células 27 de vários tipos e funções: as células principais são responsáveis pela secreção do pepsinogênio (zimogênio), um precursor da enzima proteolítica pepsina e cuja ativação é induzida pelo ácido clorídrico; as células mucosas são responsáveis pela secreção do muco e de bicarbonato, os quais desempenham um importante papel protetor da mucosa à acidez do estômago; as células parietais secretam principalmente ácido clorídrico e fator intrínseco; as células D que secretam somatostatina; e células enterocromoafins que são responsáveis pela secreção da histamina (SCHUBERT; PEURA, 2008; MEJIA; KRAFT, 2009). Os hormônios regulam várias funções fisiológicas importantes no estômago, incluindo secreção e motilidade. A produção anormal de alguns desses hormônios está associada ao desenvolvimento de várias doenças gástricas. No entanto, vários hormônios e peptídeos reguladores são produzidos pelas células no próprio estômago (HUNT et al., 2015). Um hormônio importante secretado pelo estômago é a grelina. A grelina é orexigênica (aumenta o apetite) e as concentrações séricas desse hormônio são elevadas antes das refeições e suprimidas pós-prandialmente. É produzido por células endócrinas no estômago e regula o apetite ao cruzar a barreira hematoencefálica para se ligar a receptores localizados nas células do hipotálamo, bem como por sinalização através de fibras nervosas aferentes vagais (KLOK et al., 2007). O outro hormônio principal produzido pelo estômago é a gastrina, que continua a ser de grande relevância atualmente para gastroenterologistas clínicos, devido à sua associação com várias doenças gastrointestinais. A gastrina é secretada pelas células G, localizadas predominantemente no antro do estômago. Tem funções bem conhecidas na regulação da secreção de ácido gástrico (DOCKRAY et al., 2001). A gastrina é secretada em resposta à ingestão de alimentos e se liga aos receptores CCK2 nas células semelhantes à enterocromafina gástrica, estimulando-as a liberar histamina, que por sua vez se liga ao H2-receptores nas células parietais para estimulá-las a secretar ácido clorídrico. A secreção de gastrina é inibida pela somatostatina, que é secretada pelas células D no estômago e no intestino (DIMALINE; VARRO, 2014). A secreção de ácido gástrico é um processo contínuo e complexo controlado por múltiplos fatores centrais (neurais) e periféricos (endócrino e parácrino), onde cada fator se refere a um evento fisiológico comum a secreção 28 de H+ pelas células parietais, e que, atuando em conjunto, desempenham papéis importantes na regulação da secreção ácida (GOODMAN; GILMAN, 2010). O estomago secreta de 1 a 2 litros de suco gástrico diariamente, composto por ácido clorídrico e o pepsinogênio que em pH ácido é convertido em pepsina. (HERNANDES, 2010) Os principais agentes estimulatórios da secreção de HCl são acetilcolina, gastrina, e histamina, que se ligam a receptores específicos na membrana basolateral das células parietais. Estes receptores são denominados receptores muscarínicos (M3) para a acetilcolina, receptores para a gastrina (CCKB), e os receptores H2 para a histamina. A inibição da secreção é feita pela somatostatina (endócrina quando secretada por células D do antro e parácrina quando secretada por células D do corpo do estômago) por fatores de crescimento epidérmico (EGF) e por prostaglandinas E2 e I2; estas últimas também estimulam as células superficiais a produzir muco e bicarbonato (AIRES, 2008; KOEPPEN; STANTON, 2009). A primeira linha de defesa da mucosa gástrica contra ácido gástrico e pepsina são a secreção de muco gástrico e bicarbonato, aumento do fluxo sanguíneo, inibição da secreção de ácido gástrico, renovação das células epiteliais, geração de prostaglandinas, óxido nítrico e mecanismos antioxidantes (YANDRAPU; SAROSEIK, 2015). A camada de muco funciona como uma barreira física protetora entre o epitélio e o lúmen contra agentes nocivos, microorganismos e pepsina presentes no lúmen. Além disso, mantém o gradiente de pH próximo à neutralidade, protegendo a mucosa contra a acidez do ambiente. O muco é secretado em todo o trato gastrointestinal desde o estômago até o cólon. A secreção de muco é estimulada por hormônios gastrointestinais, incluindo gastrina e secretina, bem como PGE2 e agentes colinérgicos (LAINE et al., 2008; YANDRAPU; SAROSEIK, 2015; LUZ et al., 2018; WALLIG, et al., 2018). O processo natural de controle do fluxo sanguíneo ocorre principalmente por prostaglandinas (PG) e óxido nítrico (NO) (CORUZZI et al., 2000). As prostaglandinas constituem um importante grupo de mediadores no corpo, envolvidas em diversos processos fisiológicos, como modulação da reação inflamatória, agregação plaquetária, angiogênese e fluxo sanguíneo da mucosa gastrointestinal. São provenientes do ácido araquidônico e sintetizadas através das enzimas cicloxigenases 1 e 2 (COX-1 e COX-2, respectivamente) (LAINE et 29 al., 2008; MARTINS, 2015). Embora COX-1 esteja mais esclarecidamente envolvida na proteção gástrica, COX-2 também desempenha importante papel na proteção gástrica, atuando na restauração da mucosa gástrica (MANJEGOWDA et al., 2017). As prostaglandinas protegem a mucosa gástrica mediante a inibição da secreção ácida, estimulação da secreção de muco e bicarbonato, manutenção do fluxo sanguíneo gástrico e controle da motilidade gástrica (TAKEUCHI, 2011; TARNAWSKI, AHLUWALIA; JONES, 2013). As prostaglandinas são agentes anti- úlcera com atividade bem conhecida e efeito inibidor da secreção do ácido gástrico, que protegem a barreira da mucosa gástrica danificada, aumentando a circulação sanguínea local e a secreção de muco gástrico e bicarbonato (SIDAHMED et al., 2018). PGE2 e PGI2 são as principais prostaglandinas envolvidas na gastroproteção e atuam ativando o receptor de prostaglandina do tipo 3 (EP3) das células epiteliais, o que causa uma diminuição da secreção de ácido e aumento da secreção de muco. Além disso, ativam canais de potássio sensíveis a ATP (KATP) que estão envolvidos em diversos outros processos fisiológicos do sistema gastrointestinal, tais como a regulação do fluxo sanguíneo, secreção de ácido e contratilidade do estômago (POSSENTI et al., 2012; SCHNEIDER, 2014). O óxido nítrico é outro mediador importante na defesa gástrica, que atua como vasodilatador endógeno regulando o fluxo sanguíneo gástrico e microcirculação. Além disso, ele pode manter a camada viscoelástica de muco, aumentando a secreção de muco e diminuindo a agregação e secreção de neutrófilos (LUZ et al., 2018; YOO et al., 2018). Este mediador gasoso está envolvido no mecanismo de secreção de bicarbonato em conjunto com a PGE2. Quando há aumento da secreção ácida, o NO estimula a síntese de PGE2, a qual é responsável pela inibição da secreção de ácido e aumento da secreção de bicarbonato (TAKEUCHI et al., 2011; KIM, 2014). Outro importante fator de proteção da mucosa são os antioxidantes, mecanismos de defesa enzimáticos e não enzimáticos presentes no organismo que protegem contra os danos teciduais provocados por estresse oxidativo (WANG et al., 2014). A proteção da mucosa gástrica também envolve fatores bioquímicos, como um sistema antioxidante constituído por vitaminas, flavonoides 30 da dieta, carotenoides, ácido úrico, glutationareduzida (GSH) e as enzimas antioxidantes, superóxido dismutase (SOD), catalase (CAT), glutationa peroxidase (GPx) e glutationa S-transferase (GST), protegendo a mucosa gástrica dos efeitos do ânion superóxido e o peróxido de hidrogênio (KWIECIEN et al., 2014; YANDRAPU; SAROSEIK, 2015). 2.8 Doença Ulcerosa Péptica 2.8.1 Conceitos e Principais Sintomas A úlcera péptica pode ser definida como lesões na camada da mucosa devido à destruição dos tecidos pela ação do ácido clorídrico, com isso, os vasos sanguíneos de maior calibre são danificados, expondo sua superfície e consequentemente ocorrem as fissuras e formam uma cavidade cercada por inflamação aguda e crônica (DAMJANOV, 2006). Dentre o grupo das úlceras pépticas, existem as úlceras duodenais e as gástricas. As úlceras duodenais ficam localizadas no bulbo duodenal, apresentam dispepsia que pode variar em níveis de gravidade, incluindo sangramento gastrointestinal, obstrução da saída gástrica, perfuração ou desenvolvimento de fístula (NAJM, 2011; QUINOMES; WOOLF, 2020). Na úlcera duodenal a dor é tipicamente aliviada com a ingestão de alimento (PROCTOR; DEANS, 2014). As principais causas são o uso recorrente de AINES, infecção por Helicobacter pylorie Síndrome de Zollinger Ellison (MARSHALL; WARREN, 1984). H. pylori tem mostrado ser o maior causador de úlcera duodenal, pois infecta o duodeno, onde o ácido clorídrico e a pepsina desempenham um papel na digestão dos alimentos, o que facilita o dano do revestimento pelo ácido gástrico. H. pylori pode elevar a secreção de ácido em pessoas que desenvolvem úlceras duodenais ou a hipersecreção de ácido gástrico pode por si mesma provocar úlceras duodenais (OLBE et al., 2000; CALAM; BARON, 2001; RA; TOBE, 2004). As úlceras gástricas estão localizadas no estômago, muitas vezes ao longo da pequena curvatura na zona de transição do corpo do estômago para a mucosa antral. Vários fatores estão incluídos na patogênese da úlcera gástrica como 31 secreção de muco, deficiente neutralização por bicarbonato e aumento da secreção de pepsina ácida (KENT; DEBAS, 1994; WADIE, 2011). Por mais de um século, a úlcera gástrica foi uma das principais causas de morbidade e mortalidade (HIGHAM et al., 2002), apresentam lesões inflamatórias ou necrosantes que surgem na mucosa do estômago e atinge cerca de 10% da população em todo o mundo (LANAS; CHAN, 2017). É uma patologia muito comum na população em geral, multifatorial, que possui grande repercussão clínica que inclui também complicações como sangramento, perfuração ou obstrução (SOREIDE et al., 2015; HASSELAGER et al., 2016) A sintomatologia é normalmente definida por dispepsia, dores epigástricas pós-prandial e noturna (YUAN et al., 2006). Outros sinais e sintomas, com menor frequência são a anemia que é provocada pela hemorragia gastrointestinal, a perda de peso relacionada à falta de apetite e o medo de provocar dor ao se alimentar e os vômitos devido à obstrução do piloro (YUAN et al., 2006; BANERJEE et al., 2010). 2.8.2 Úlceras Pépticas As úlceras gastroduodenais podem ser provocadas por meio do desequilíbrio entre alguns fatores agressivos e defensivos da mucosa gástrica (figura 2). Figura 2. Mecanismo de defesa e fatores de agressão 32 Fonte: Tuner, 2010. Formação da úlcera péptica pelo o rompimento da barreira protetora da mucosa do estômago, provocado pelo desequilíbrio entre os agentes defensivos e agentes agressivos da mucosa gástrica. Dentre os fatores agressivos estão os de origem endógena, como: secreção elevada de ácido gástrico e pepsina, inibição da proliferação celular da mucosa, redução do fluxo sanguíneo e supressão das prostaglandinas; já os fatores prejudiciais de origem exógena estão os hábitos de ingestão excessiva de álcool, estresse, infecção por Helicobacter pylori e uso prolongado de anti- inflamatórios não-esteróides (AINEs). Para a proteção da mucosa gástrica, podemos citar a secreção de bicarbonato e muco, biossíntese de prostaglandina gastroprotetora e microcirculação sanguínea adequada do tecido (COOK; GUYATT, 2018; KAVITT et al., 2019). As úlceras podem se desenvolver em qualquer região do trato gastrointestinal, sendo mais comum no estômago na qual é denominada de úlcera gástrica e no duodeno que são as úlceras duodenal (DAMJANOV, 2006). Os efeitos gastroduodenais por AINES variam de gastrite erosiva aguda a ulceração gástrica aguda, até ulceração péptica. A supressão de prostaglandinas pela mucosa, o que aumenta a secreção de ácido clorídrico e reduz a produção de bicarbonato e mucina, é a chave para a ulceração péptica induzida por AINE. A perda de mucina degrada a barreira de muco que normalmente evita que o ácido alcance o epitélio (ROBBINS, 2008). Constantemente nosso organismo produz quantidades pequenas de espécies reativas de oxigênio (EROs) em processos como na cadeia transportadora de elétrons (na fosforilação mitocondrial), no metabolismo de xenobióticos e na resposta inflamatória. A produção de EROs se torna um problema quando ocorre um aumento considerável de radicais livres, capazes de ultrapassar os mecanismos de defesa intrínsecos. Algumas doenças inflamatórias, neurodegenativas ou neoplásicas podem induzir esse desequilíbrio (PINTO, 2013). Para a proteção dos tecidos contra os danos provocados pela EROs, todas as células contêm enzimas antioxidantes, como a glutationa-peroxidase (GPx), catalase (CAT), superóxido dismutase (SOD), glutationa-redutase (GR), e eliminadores de radicais, tais como compostos sulfidrílicos (GSH), que desempenham papéis fundamentais nos mecanismos de defesa, possuindo 33 formulações com ação antioxidante, eficácia na citoproteção e cicatrização das lesões gástricas (AFALOBI, 2011; PINTO, 2013). 2.8.3 Epidemiologia A úlcera péptica é considerada uma questão importante de Saúde Pública, frequentemente associada à perda na qualidade de vida, perda de produtividade no trabalho e crescentes gastos no tratamento das complicações da doença (BARKUN; LEONTIADIS, 2010). A prevalência da úlcera péptica no Brasil em 2008 era de 0,1 – 0,2%, sendo que os resultados podem ter sido subnotificações (OLIVEIRA et al., 2015). Nos Estados Unidos da América (EUA), em 2002 existiam cerca de 500 mil novos casos e 4 milhões de recorrências, apresentando prevalência de 8 a 14% na população em geral (LADABAUM, et al., 2002). Em 2018 Hernández et al. realizaram uma revisão com dados históricos (EUA e África do Sul) (2010-2016) em uma população de 306 adultos com a doença úlcera péptica perfurada. Após a realização de análises comparativas, multivariadas e pareadas, eles descobriram que 42% eram mulheres, com idade média de 56 anos. Um estudo realizado no Peru por Montes et al., (2007) mostra que entre as úlceras pépticas, as mais prevalentes foram as úlceras duodenais, em 49,5% dos casos, seguidas pelas úlceras gástricas, em 42,0%, e pelas lesões em ambos os locais (úlcera gástrica mais duodenal), cuja prevalência foi de 5,5%, enquanto 3% representaram outros tipos de úlceras. De acordo com Carvalho (2000) as hipóteses prováveis da etiopatogênese da doença ulcerosa agrupam fatores genéticos, distúrbios fisiopatológicos e fatores ambientais. Apenas uma pequena proporção de pessoas infectadas pela H. pylori ou em uso de AINE desenvolvem úlcera péptica, o que sugere que a suscetibilidade individual é importante no início do dano da mucosa, além da exposição a agentes externos como álcool e tabaco (LANAS et al., 2017; NARAYANAN et al., 2018). Embora muitas pessoas que usam AINE tenham infecção concomitante por H. pylori, sua interação na patogênese da úlcera péptica permanece controversa (SOREIDE et al., 2015). 34 2.9 Tratamento da Úlcera Péptica As terapias atuais contra úlcera gástrica incluem principalmente, fármacos antagonistasdo receptor H2 da histamina, inibidores da bomba de prótons e antiácidos (KREUTER et al., 2016; KAVITT et al., 2019). No entanto, o uso prolongado desses fármacos pode levar a uma série de efeitos adversos (LA VECHIA; TAVANI, 2002; RAGHUNATH et al., 2005). 2.9.1 Antagonistas de Receptores de Histamina Tipo 2 (ARH2) Os Antagonistas de Receptores de Histamina Tipo 2 (ARH2) inibem de forma seletiva e competitiva a ligação da histamina aos receptores H2 gástricos reduzindo a secreção ácida pelas células parietais. Seu principal uso clínico é como inibidor da secreção de ácido gástrico (RANG, 2007; SANTOS; RAO, 2017). A histamina, ao ligar-se ao receptor H2 na célula parietal, eleva a produção de AMPc, que, por meio da ativação da proteína cinase A (PKA), fosforila as proteínas envolvidas com o transporte da bomba de prótons do citoplasma para a membrana plasmática da célula parietal (SANTOS; RAO, 2017). Essa classe de medicamentos realiza um bloqueio competitivo e dose dependente dos receptores H2, inibindo principalmente a secreção gástrica induzida pela histamina, mas também aquela determinada pela acetilcolina e pela gastrina (PENILDON, 2010). Essa classe de medicamentos é representada por: cimetidina, ranitidina, nizatidina e famotidina e em geral são administradas por via oral, embora existam preparações para uso intramuscular e intravenoso (exceto a famotidina) (PENILDON, 2010). 2.9.2 Inibidores da Bomba de Prótons (IBPs) Os inibidores de bomba de prótons são considerados os medicamentos de primeira escolha do tratamento de úlcera gástrica, pois bloqueiam a etapa final da secreção ácida, produzindo uma supressão ácida mais eficaz. Os IBPs são os medicamentos mais indicados para alívio dos sintomas relacionados à úlcera 35 gástrica, sendo capaz de promover uma cicatrização mais rápida da úlcera (BRANDÃO et al., 2019). Os IBPs são medicamentos que inibem a enzima H+ K+ ATPase, realizando assim, a supressão ácida no estômago. São comercializados seis representantes desta classe: omeprazol, lansoprazol, pantoprazol, rabeprazol, esomeprazol e dexlansoprazol. Embora haja diferenças farmacocinéticas, todos os representantes dessa classe são similares entre si, reduzindo em até 95% a produção diária de ácido gástrico (HOEFLER; FERREIRA, 2009). Os IBPs são bases fracas, com um pKa entre 3.8 e 4.9, o que permite que se aglomerem seletivamente no espaço ácido do canalículo secretório da célula parietal estimulada, onde o pH é de 1.0. A ligação dos IBP à H+/K+ ATPase ocorre após a ingestão alimentar, a qual proporciona a exposição canalicular da bomba. É na superfície canalicular que os IBP são submetidos à clivagem de uma ligação sulfóxido, catalisada pelo ácido, convertendo-se em sulfenamidas. Estas ligam-se irreversível e covalentemente a resíduos de cisteína na H+/K+ ATPase, inibindo a secreção de H+ até novas bombas serem sintetizadas (SHIN; SACHS, 2008; BRUNTON, CHABNER, KNOLLMANN, 2012). Todos os IBPs são rapidamente metabolizados no fígado por enzimas do citocromo P450 (majoritariamente CYP2C19) (STRAND, KIM, PEURA, 2017). Os IBPS não devem, por rotina, ser administrados concomitantemente com outros agentes anti-secretores, incluindo ARH2, análogos de prostaglandinas (por ex., misoprostol) ou análogos da somatostatina (por ex., octeótrido), devido à redução marcada do efeito inibitório desejado (WOLFE; SANCHS, 2000). 2.9.3 Fármacos Protetores da Mucosa A mucosa gástrica é consecutivamente exposta a substâncias danosas, como o ácido clorídrico e a pepsina. Para a conservação de sua integridade estrutural ocorrem mecanismos de defesa. O epitélio gástrico secreta uma barreira de proteção que consiste em água, glicoproteínas ou mucinas, bicarbonato, fosfolipídeos, fatores trefoil, prostaglandinas e proteínas do choque térmico (SANTOS; RAO, 2017). 36 Os sucralfatos fazem parte do grupo de fármacos que protegem a mucosa. É um complexo de hidróxido de alumínio e sacarose sulfatada que libera alumínio em presença de ácido (RANG et al., 2007). Na presença de lesão induzida por ácido, a hidrólise das proteínas da mucosa mediada pela pepsina contribui para a erosão e as ulcerações da mucosa. Esse processo pode ser inibido por polissacarídeos sulfatados, que em ambiente ácido (pH menor que 4), o sucralfato sofre extensa ligação cruzada, produzindo um polímero viscoso e pegajoso, que adere às células epiteliais e às crateras das úlceras durante até 6 horas após uma dose única (GOODMAN; GILMAR, 2010). O misoprostol é um análogo sintético da prostaglandina E1. As modificações estruturais feitas na molécula aumentaram a potência e a duração do efeito anti-secretor, a bioatividade oral e a segurança do fármaco. O grau de inibição da secreção de ácido gástrico pelo misoprostol está diretamente relacionado com a dose (GOODMAN; GILMAR, 2010). Atua exercendo ligação direta sobre a célula parietal, inibindo a secreção basal de ácido gástrico, bem como a estimulação da produção que ocorre em resposta a alimentos, histamina, pentagastrina e cafeína. Também aumenta o fluxo sanguíneo na mucosa e aumenta, ainda, a secreção de muco e bicarbonato (RANG et al., 2007; BRUNTON, CHABNER, KNOLLMANN, 2012). 2.10 Plantas Medicinais e Inflamações Os estudos dos compostos de origem natural e os estudos etnobotânicos são contribuições significativas na descoberta de novos fármacos. Várias plantas são utilizadas medicinalmente para tratar problemas inflamatórios. Devido aos efeitos colaterais indesejáveis apresentados pelos fármacos sintéticos, a utilização dos anti-inflamatórios se torna limitada em alguns casos. Nesse sentido, as plantas medicinais podem ser consideradas uma alternativa terapêutica, pois oferecem como vantagens o baixo custo, o acesso fácil e menos efeitos colaterais (TASNEEM et al., 2018; TUNGMUNNITHUM et al., 2018; SKALLI et al., 2019). Vários são os estudos realizados na busca para encontrar novas substâncias ativas com poucos efeitos colaterais e significativa atividade farmacológica (LEAL et al., 2019). Ribeiro et al. (2018) relataram 70 plantas 37 brasileiras que possuem ação anti-inflamatória significativa, envolvendo diversos mecanismos de ação, conforme dados obtidos a partir de testes experimentais realizados com extratos e substâncias isoladas. A inflamação é uma medida de proteção do organismo ao um dano infeccioso e tem o aspecto fisiológico com o objetivo de restaurar a homeostase do tecido (MEDZHITOV, 2010). Sendo assim, a inflamação não controlada ou não resolvida pode levar a danos nos tecidos, dando origem a uma infinidade de doenças inflamatórias (NATHAN; DING, 2010). O processo inflamatório é classificado em processo agudo e crônico baseado na resposta celular, nos mediadores químicos envolvidos e na duração da resposta inflamatória (KOTAS; MEDZHITOV, 2015). O processo inflamatório agudo é desencadeado após uma infecção ou uma lesão tecidual, iniciando com a resposta vascular que resulta em um aumento da permeabilidade dos vasos e a vasodilatação; com isso, aumenta o fluxo sanguíneo local, ocorrendo assim a hiperemia, que é um processo que consiste em alterações do endotélio vascular, contribuindo para a exsudação de proteínas e fluido sanguíneo para dentro do tecido e para o local inflamado (PERRETTI, 1996; CRECELIUS et al.,2014). Os macrófagos e mastócitos são responsáveis pelo reconhecimento inicial da causa da infecção, induzindo a produção de diversos mediadores inflamatórios como as quimiocinas, citocinas, aminas vasoativas, eicosanoides e produtos das cascatas proteolíticas (POBER; SESSA, 2007). A diapedese inicia-se com o recrutamento de leucócitos presentes na circulação sanguínea, entre estes, os neutrófilos, que são os primeiros leucócitos a desempenharem um papel na resposta imune inata (TENG et al., 2017).
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