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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS DEPARTAMENTO DE FISIOTERAPIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FISIOTERAPIA EXPLORAÇÃO E COMPARAÇÃO DE PONTOS DE CORTE PARA O RASTREIO DA SARCOPENIA EM IDOSOS COMUNITÁRIOS: RESULTADO DO ESTUDO PRO-EVA Sabrina Gabrielle Gomes Fernandes Macêdo Natal/RN 2023 2 SABRINA GABRIELLE GOMES FERNANDES MACÊDO EXPLORAÇÃO E COMPARAÇÃO DE PONTOS DE CORTE PARA O RASTREIO DA SARCOPENIA EM IDOSOS COMUNITÁRIOS: RESULTADO DO ESTUDO PRO-EVA Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como requisito para obtenção do título de doutora em fisioterapia. Linha de Pesquisa: Avaliação e Intervenção no processo de envelhecimento Orientador: Profº Drº Álvaro Campos Cavalcanti Maciel Natal/RN 2023 3 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS DEPARTAMENTO DE FISIOTERAPIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FISIOTERAPIA EXPLORAÇÃO E COMPARAÇÃO DE PONTOS DE CORTE PARA O RASTREIO DA SARCOPENIA EM IDOSOS COMUNITÁRIOS: RESULTADO DO ESTUDO PRO-EVA Sabrina Gabrielle Gomes Fernandes Macêdo Banca examinadora: Professor Dr. Álvaro Campos Cavalcanti Maciel Presidente da banca – Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Professor Dr. Cristiano dos Santos Gomes Membro interno - Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Professora Dra Mayle Andrade Moreira Membro externo - Universidade Federal do Ceará (UFC) Professora Dra Juliana Fernandes de Souza Barbosa Membro externo - Universidade Federal do Pernambuco (UFPE) Professora Dra Daniele Sirineu Pereira Membro externo - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Natal/RN 2023 4 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS DEPARTAMENTO DE FISIOTERAPIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FISIOTERAPIA Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia: Profª Drª Vanessa Regiane Resqueti Fregonezi Sabrina Gabrielle Gomes Fernandes Macêdo Natal/RN 2023 5 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas – SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde – CCS Macêdo, Sabrina Gabrielle Gomes Fernandes. Exploração e comparação de pontos de corte para o rastreio da sarcopenia em idosos comunitários: resultado do estudo Pro-Eva / Sabrina Gabrielle Gomes Fernandes Macêdo. - 2023. 186f.: il. Tese (doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Programa de Pós-graduação em Fisioterapia. Natal, RN, 2023. Orientador: Álvaro Campos Cavalcanti Maciel. 1. Sarcopenia - Tese. 2. Envelhecimento - Tese. 3. Idosos Comunitários - Tese. 4. Valores de Referência - Tese. 5. Predição - Tese. 6. Antropometria - Tese. I. Maciel, Álvaro Campos Cavalcanti. II. Título. RN/UF/BS-CCS CDU 612.748.5 Elaborado por ANA CRISTINA DA SILVA LOPES - CRB-15/263 6 AGRADECIMENTOS “Para tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito debaixo do céu” (Eclesiastes 3:1). Essas palavras, o amor de Deus e a proteção de Santa Rita de Cássia o meu foram conformo nos momentos de dúvidas e sustento para chegar até aqui. Gratidão por todas as bençãos em minha vida. Agradeço imensamente a minha família, em especial aos meus pais, Gorete e Sandoval, por todo amor e dedicação ao longo dos anos. Se hoje estou aqui devo tudo a vocês, que são minhas referências como pessoa e minha inspiração diária. Não existem palavras suficientes para agradecê-los por tudo. Amo vocês. Obrigada ao meu esposo, Pedro Rafael, por ser meu melhor amigo, companheiro e maior incentivador. Agradeço por ser acolhimento e apoio nos momentos que preciso, por acreditar em mim mesmo quando eu quero desistir e por todo amor e felicidade que compartilhamos ao longo desses anos. Te amo. Durante a minha jornada nesses quatro anos, pude compartilhar meus dias com pessoas especiais, como Luiz Eduardo e Rafaella Gonçalves, nos quais agradeço primeiramente pelo acolhimento logo na chegada e por tornar esse processo ainda mais leve. À Rafaella, deixo um obrigada especial, por ter dividido comigo tantas tarefas e preocupações. Que bom que você estava aqui para ser minha dupla e minha amiga. Para além do título e aprendizado acadêmico, levo comigo uma amizade especial. Eujessika Rodrigues, ter você aqui fez tudo ficar mais fácil. Obrigada por ser minha companhia nos dias bons e ruins, por dividir comigo um lar e pelo laço que construímos. Agradeço por nossos caminhos terem se cruzado, mesmo diante de tantas estradas que você percorre, minha irmã. Aos amigos que me apoiam há anos, obrigada por entenderem minha ausência, em especial à Dayane Cassiano, minha amiga querida, que tem trazido graça aos meus dias e mesmo com a distância se faz presente como pode. A todos que fazem o Lab 07, obrigada pelo companheirismo e ensinamentos. Aos meus colegas de PRO-EVA e de orientação (Aline Mendes, Maria Antônia, Tainá Castro, Aline Loraine, Mariana Macêdo, Daniele Aires, Weslley Sales, Caroline Ramalho e Marcella 7 Pimentel) foi um prazer dividir com vocês as coletas, os projetos e os trabalhos. Muito sucesso a todos. Agradeço ao Professor Drº Ricardo Guerra, que com toda sua paciência, humildade e experiência contribuiu para a minha formação como pesquisadora, ter o seu auxílio nessa trajetória é uma honra. À Professora Dra Saionara Aires, obrigada por tanto, você foi imprescindível na minha trajetória e se hoje finalizo essa etapa, sua contribuição foi essencial. Ao meu orientador, Professor Drº Álvaro Maciel, agradeço a confiança, o suporte e a compreensão durante esses quatro anos. Mesmo com seu jeito objetivo, sempre se preocupou com os próximos passos que seriam dados, me abrindo portas e dando oportunidades para meu crescimento. Grata pelos ensinamentos, professor, espero que essa parceria dure por muitos anos. 8 RESUMO INTRODUÇÃO: O tecido muscular esquelético é um componente importante para o estudo da condição de saúde e do estado nutricional dos idosos tem uma grande importância para atividades como deambulação, mobilidade e independência funcional. Identificar a redução da força e da massa muscular esquelética (MME) são essenciais para o estabelecimento do diagnóstico da sarcopenia, portanto, suas medições necessitam serem viáveis para a pesquisa e a prática clínica, principalmente no que diz respeito aos locais de baixa renda e com poucos recursos tecnológicos, como é o caso da população menos favorecida residentes no nordeste brasileiro. Tendo em vista isso, faz-se necessário compreender o que existe na literatura a respeito dos valores de pontos de corte disponíveis e quais outras estratégias de avaliação podem ser utilizadas, levando em consideração as diferenças de composição corporal e de contexto em que a população idosa está inserida. OBJETIVOS: #Artigo 01: Relatar a experiência de implantação e desenvolvimento do Estudo Pro-Eva e apresentar seus resultados preliminares, quanto à aplicação da Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa (CSPI); #Artigo 02: Analisar, através de uma Revisão Sistemática (RS), os diferentes valores de pontos para força de preensão palmar adotados para homens e mulheres no rastreio da sarcopenia;# Artigo 03: Desenvolver valores de pontos de corte para o rastreio da sarcopenia em idosos comunitários residentes no nordeste do Brasil e comparar a prevalência entre os valores definidos pelos consensos e os valores estabelecidos para a população estudada; #Artigo 04: Analisar a validade cruzada de cinco equações de predição para rastreio da MME em idosos comunitários. MÉTODOS: Essa tese compreende quatro artigos: O primeiro é um relato de experiência com dados preliminares de 996 idosos, avaliados através da Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa (CSPI). O segundo artigo é RS que realizou um levantamento sobre os valores de corte para a força de preensão manual (FPM) usada no rastreio da sarcopenia, e tiveram como critérios de inclusão estudos observacionais publicados nos últimos 10 anos que utilizaram a dinamometria como forma de rastreio da baixa força muscular no diagnóstico da sarcopenia. O artigo 03 trata- se de estudo transversal (N=1290 idosos) que desenvolveu valores de corte para as variáveis de FPM, MME, velocidade da marcha e desempenho físico utilizando o percentil 20. O quarto estudo é um metodológico (N=682) composto por idosos comunitários residentes do município de Parnamirim/Rio Grande do Norte, com idade igual ou superior a 60 anos, que foram avaliados quanto a sua MME utilizando a bioimpedância elétrica (BIA) e cinco equações de predição e em seguida, foi realizado os teste de validação cruzada (teste t-pareado, correlação 9 de Pearson (r) e regressão linear múltipla para calcular o erro padrão estimado (EPE) e coeficiente de determinação (R²)), em seguida, foi calculado a concordância entre as variáveis analisadas através do teste de Bland-Altman. Todos os estudos, com exceção da RS, foram aprovados pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CEP/UFRN). RESULTADOS: No Artigo 01 foram avaliados 996 idosos, com média de idade de 70,3 anos, dentre eles, 61,3% eram mulheres. No que diz respeito à avaliação realizada pela CSPI pode-se destacar que condições crônicas como diabetes melitus (22,5%), hipertensão arterial (29,2%), acidente vascular cerebral (16,2%) e anemia (5,8%) foram as mais prevalentes. Na avaliação antropométrica, a média do índice de massa corporal (IMC) foi de 27,8 kg/m², refletindo a categoria sobrepeso e a prevalência de indivíduos com perímetro da panturrilha < 31 cm foi de 27,9% (baixa massa muscular). Para o Artigo 02 (RS) foram identificados inicialmente 19.730 referências, das quais 62 foram incluídas ao final. Todos os estudos analisados usaram algoritmos ou definições de sarcopenia já estabelecidos na literatura, dentre esses, 16 desenvolveram valores específicos de pontos de corte levando em consideração a população estudada. No Artigo 03, os idosos apresentavam uma média de idade de 69,5 anos e 62,5% eram mulheres. Quanto aos valores de pontos de corte desenvolvidos, considerando a população local, observou-se os seguintes valores: Força de Preensão=25,3 kg para homens e 16 kg para mulheres; MME= 7,88 kg/m² e 5,52 kg/m², para homens e mulheres, respectivamente. Para a velocidade da marcha, encontrou-se o valor de 0,71 m/s para homens e 0,63 m/s para mulheres. No que diz respeito a análise de prevalência para ambos os sexos, foi observado uma redução dos valores quando adotados os algoritmos dos consensos FNIH e IWGS e utilizado os pontos de corte desenvolvidos para a presente população. No Artigo 04, a amostra foi composta por idosos com média de idade de 70,06 (±7,06) anos e em sua maioria por mulheres (60,7%). Ao comparar as médias da medida critério (BIA) (6,7±1,1) e as equações antropométricas, foi visto que a Equação de Baumgartner apresentou uma maior média (12,7± 1,4) e uma maior diferença em relação à medida critério (-6,06kg). Quanto a análise da validade-cruzada, apenas a Equação de Visvanhatan 02 atendeu aos critérios de validade propostos por Lohman (p-valor > 0,05, EPE = 0,602 e R²= 0,74), além de apresentar um menor viés (0,04) e um menor intervalo entre os limites de concordância, ao analisar os resultados de Bland-Altman, quando comparado a bioimpedância (BIA). CONCLUSÃO: Conclui-se que: 1. O artigo apresenta uma proposta para o manejo da CSPI, trazendo de forma inovadora informações que podem subsidiar iniciativas similares que busquem fortalecer o uso da caderneta em ambientes de atenção básica à saúde; 2. Há uma diversidade de valores de pontos de corte disponíveis na literatura para 10 definir a baixa força e baixa massa muscular, e essa heterogeneidade pode variar de acordo com o sexo e o local onde a população foi avaliada; 3. Os pontos de corte específicos para a população do nordeste brasileiros foram diferentes daqueles já estabelecidos na literatura, podendo influenciar assim na prevalência da sarcopenia, superestimando ou subestimando esse valor; 4. Apenas uma equação, que utiliza variáveis mais simples (sexo, peso e altura), mostrou uma boa validade quando comparado à medida-critério (BIA). Palavras-chave: Sarcopenia, envelhecimento, idosos comunitários, valores de referência, predição, antropometria. 11 ABSTRACT INTRODUCTION: Skeletal muscle tissue is an important component for the study of the health condition and nutritional status of the older people and is of great importance for activities such as walking, mobility and functional independence. Identifying the reduction in strength and skeletal muscle mass (SMM) are essential for establishing the diagnosis of sarcopenia, therefore, their measurements need to be feasible for research and clinical practice, especially regarding low-income and few technological resources, as is the case of the underprivileged population living in northeastern Brazil. In view of this, it is necessary to understand what exists in the literature regarding the available cutoff values and what other evaluation strategies can be used, considering the differences in body composition and context in which the older population it's inserted. OBJECTIVES: #Article 01: Report the experience of implementing and developing the Pro- Eva Study and presenting its preliminary results, regarding the application of the Health Handbook for the Elderly (CSPI); #Article 02: To analyze, through a Systematic Review (SR), the different point values for handgrip strength (HGS) adopted for men and women in the screening of sarcopenia; #Article 03: Develop cut-off values for sarcopenia screening in community-dwelling older living in northeastern Brazil and compare the prevalence between the values defined by consensus and the values established for the studied population; #Article 04: To analyze the cross-validity of five prediction equations for screening MME in older community-dwelling. METHODS: This thesis comprises four articles: The first is an experience report with preliminary data from 996 elderly people, evaluated through CSPI. The second article is RS, which carried out a survey on the cutoff values for handgrip strength (HGS) used in sarcopenia screening and had as inclusion criteria observational studies published in the last 10 years that used dynamometry as a screening method of low muscle strength in the diagnosis of sarcopenia. Article 03 is a cross-sectional study (N=1290) that developed cutoff values for the variables HGS, SMM, gait speed and physical performance using the 20th percentile. The fourth study is a methodological one (N=682) composed of older community-dwelling.in the city of Parnamirim/Rio Grande do Norte, aged 60 years or older, who were evaluated for their MME using bioelectrical impedance (BIA) and five prediction equations and then the cross-validation test (paired t-test, Pearson correlation (r) and multiple linear regression to calculate the estimated standard error(EPE) and coefficient of determination (R²)), then the agreement between the analyzed variables was calculated through of the Bland-Altman test. All studies, 12 except for RS, were approved by the Ethics and Research Committee of the Federal University of Rio Grande do Norte (CEP/UFRN). RESULTS: In Article 01, 996 older community-dwelling were evaluated, with a mean age of 70.3 years, among them, 61.3% were women. About the assessment carried out by the CSPI, it can be noted that chronic conditions such as diabetes mellitus (22.5%), arterial hypertension (29.2%), stroke (16.2%) and anemia (5.8%) were the most prevalent. In the anthropometric assessment, the mean body mass index (BMI) was 27.8 kg/m², reflecting the overweight category and the prevalence of individuals with calf circumference < 31 cm was 27.9% (low muscle mass). For Article 02 (RS), 19,730 references were initially identified, of which 62 were included at the end. All analyzed studies used algorithms or definitions of sarcopenia already established in the literature, among these, 16 developed specific values of cutoff points considering the studied population. In Article 03, the elderly had a mean age of 69.5 years and 62.5% were women. As for the cutoff values developed, considering the local population, the following values were observed: HGS=25.3 kg for men and 16 kg for women; SMM= 7.88 kg/m² and 5.52 kg/m², for men and women, respectively. For gait speed, a value of 0.71 m/s was found for men and 0.63 m/s for women. Regarding the prevalence analysis for both sexes, a reduction in values was observed when the FNIH and IWGS consensus algorithms were adopted, and the cutoff points developed for the present population were used. In Article 04, the sample consisted of elderly people with a mean age of 70.06 (±7.06) years and mostly women (60.7%). When comparing the means of the criterion measure (BIA) (6.7±1.1) and the anthropometric equations, it was seen that the Baumgartner Equation presented a higher mean (12.7± 1.4) and a greater difference in relation to the criterion measurement (-6.06kg). As for the cross-validity analysis, only the Visvanhatan Equation 02 met the validity criteria proposed by Lohman (p-value > 0.05, EPE = 0.602 and R²= 0.74), in addition to presenting a smaller bias (0.04) and a smaller interval between the limits of agreement, when analyzing the Bland- Altman results, when compared to bioimpedance (BIA). CONCLUSION: It is concluded that: 1. The article presents a proposal for the management of CSPI, bringing in an innovative way information that can subsidize similar initiatives that seek to strengthen the use of the booklet in primary health care environments; 2. There are a variety of cutoff values available in the literature to define low strength and low muscle mass, and this heterogeneity may vary according to sex and the location where the population was evaluated; 3. The specific cutoff points for the population of northeastern Brazil were different from those already established in the literature, thus being able to influence the prevalence of sarcopenia, overestimating or underestimating this value; 4. Only one equation, which uses simpler 13 variables (gender, weight and height), showed good validity when compared to the criterion measure (BIA). Keywords: Sarcopenia, aging, community-dwelling elderly, reference values, prediction, anthropometry. 14 LISTA DE FIGURAS PROBLEMATIZAÇÃO Figura 01. Relação da massa e força muscular em diferentes fases da vida ........................ 23 ARTIGO 01 Figura 01. Logomarca do estudo Pro-Eva, Parnamirim, RN, 2020 ....................................... 40 Figura 02. Localização das duas UBS selecionadas para participar do estudo (Fonte: Prefeitura de Parnamirim/RN). .............................................................................................. 42 Figura 03. Fluxograma criado para preenchimento da caderneta de saúde da pessoa idosa, Parnamirim, RN, 2020. .......................................................................................................... 43 ARTIGO 02 Figura 1. Fluxograma dos estudos encontrados na revisão .................................................. 66 Figura 2. Concentração de publicações de acordo com os locais de publicação ..... 67 Figura 3. Resume os valores mais altos e mais baixos estabelecidos, de acordo com a região e gênero ................................................................................................................... 67 ARTIGO 03 Figura 1. Prevalência (%) de sarcopenia em idosos segundo os pontos de corte estabelecidos em consenso e pelo percentil 20. (A) prevalência para homens e (B) prevalência para mulheres .................................................................................................. 117 Figura 2 Comparação entre o algoritmo EGWSOP2 e o percentil 20. ............................... 117 Figura 3 Comparação entre o algoritmo FNIH e o percentil 20 ......................................... 118 Figura 4 Comparação entre o algoritmo IWGS e o percentil 20 ....................................... 118 ARTIGO 04 Figura 01. Concordância entre as equações de predição e a medida de critério ……...149 15 LISTA DE TABELAS E QUADROS PROBLEMATIZAÇÃO Quadro 01. Potenciais causas da sarcopenia por idade .......................................................... 24 Quadro 2. Resumo dos consensos, suas definições e pontos de corte disponíveis na literatura .................................................................................................................................................. 27 ARTIGO 01 Quadro 01. Divisão da população cadastrada nas UBS’s participantes do Pro-Eva .............. 40 Quadro 02. Instrumentos de avaliação adicionais .................................................................. 44 Tabela 01- Caracterização da amostra quanto aos aspectos sociofamiliares. ........................ 46 Tabela 02- caracterização da amostra quanto aos dados antropométricos ............................ 47 Tabela 03- Caracterização da amostra quanto as questões de avaliação de cognição, humor, ambiental e quedas.................................................................................................................. 49 ARTIGO 02 Material complementar 1. Estratégia de busca utilizada em cada base de dados ................. 64 Tabela 1. Índice de qualidade para estudos transversais analíticos ...................................... 68 Tabela 2. As medidas de qualidade dos estudos de coorte (retrospectivos e prospectivos) . 69 Material suplementar 02. Extração de dados de artigos selecionados ................................. 87 ARTIGO 03 Tabela 1. Pontos de corte originais de acordo com o consenso .................................... 114 Tabela 2. Características da amostra. .................................................................................. 116 Tabela 03. Pontos de corte para idosos da comunidade (percentil 20) ............................... 116 ARTIGO 04 Tabela 01. Equações de predição utilizadas para estimar a Massa Muscular Esquelética (MSM) em idosos comunitários de ambos os sexos............................................................. 138 Tabela 02. Caracterização da amostra (n=682). .................................................................. 139 Tabela 03. Médias entre a medida de critério e as equações preditivas ............................. 140 Tabela 04. Validade cruzada das equações preditivas para estimar o EMM ..................... 141 16 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS APS: Atenção Primária À Saúde AST: Área De Secção Transversa Do MúsculoAVD’s: Atividades de Vida Diária AWGS1: Asian Working Group of Sarcopenia (2010 Version) AWGS2: Asian Working Group of Sarcopenia (2019 Version) BIA: Bioimpedância Elétrica BMI: Body Index Mass CAPES: Coordenação De Aperfeiçoamento De Pessoal De Nível Superior - Brasil CART: Regression Tree Analysis CC: Calf Circumference CI: Confidence Interval CINAHL: The Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature CSPI: Caderneta De Saúde Da Pessoa Idosa DXA: Densitometria por Dupla Emissão De Raio-X EPE: Estimated Standard Error EWGSOP: European Working Group on Sarcopenia in Older People FNIH: Foundation for The National Institutes of Health FPM: Força de Preensão Manual GS: Gait Speed HGS: Handgrip Strength IMIAS: International Mobility in Aging Study IWGS: International Working Group on Sarcopenia JBI: Joanna Briggs Institute’s Kg: Kilogram Kg: Kilograma 17 LA: Limit of Agreement. LCT: Leganès Cognitive Test LILACS: Latin American and Caribbean Health Sciences Literature MESH: Medical Subject Heading MME: Massa Muscular Esquelética MS: Ministério Da Saúde NR: Not Reported. NUTES: Núcleo De Tecnologia Estratégica Em Saúde PHC: Primary Health Care PROEVA: Promoção ao Envelhecimento e Vida Ativa PROSPERO: Prospective Register of Systematic Reviews RMI: Ressonância Magnética por Imagem ROC Curve: Receiver operating characteristic curve SCIELO: Scientific Electronic Library Online SD: Standard Deviation SMI: Skeletal Muscle Mass Index SMM: Skeletal Muscle Mass SPPB: Short Physical Performance Battery. SPPS: Statistical Package for Social Science SR: Systematic Review TC: Tomografia Computadorizada TSL: Teste De Sentar-Levantar UBS: Unidade Básica de Saúde. UFRN: Universidade Federal Do Rio Grande Do Norte UM: Unidades Motoras 18 SUMÁRIO Capítulo 01: Problematização ............................................................................................................ 22 1.1 Processo de envelhecimento e as repercussões no sistema musculoesquelético ......................... 23 1.2 Alterações de força e massa muscular e a sarcopenia ................................................................. 25 1.3 Operacionalização e diagnóstico da sarcopenia .......................................................................... 27 1.4 Formas de avaliação da sarcopenia ............................................................................................ 29 1.5 Justificativa ............................................................................................................................... 31 1.6 Objetivo ..................................................................................................................................... 32 Capítulo 02: Relato de experiência e resultados preliminares do Estudo Pro-Eva: Uma proposta para o manejo da Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa.........................................................................................33 Introdução .......................................................................................................................................... 38 Métodos ............................................................................................................................................. 39 Resultados ..................................................................................................................................... 6646 Discussão ......................................................................................................................................... 721 Conclusão .......................................................................................................................................... 76 Referencias ........................................................................................................................................ 76 Capítulo 03: Cutoff Points for Grip Strength in Screening for Sarcopenia in Community- Dwelling Older-Adults: A Systematic Review. ............................................................................................... 60 Introdução .................................................................................................................................. 11163 Métodos ........................................................................................................................................... 64 Resultados ................................................................................................................................ 11666 Discussão........................................................................................................................................ 72 Pontos fortes e limitações ............................................................................................................. 75 Conclusão .................................................................................................................................. 12476 Referencias .................................................................................................................................... 76 Material suplementar 02 ............................................................................................................. 88 Capítulo 04: Cutoff Points to screening for sarcopenia in community-dwelling older people residents in Brazil.......................................................................................................................... 110 Introdução ................................................................................................................................ 111110 19 Métodos ....................................................................................................................................... 1122 Resultados .................................................................................................................................. 1166 Discussão...................................................................................................................................... 120 Pontos fortes e limitações ........................................................................................................... 123 Conclusão ................................................................................................................................ 124124 Referencias .................................................................................................................................. 125 Capítulo 05: Cross validity of anthropometric equations to predict skeletal muscle mass in community- dwelling older people: results from PRO-EVA study…………………………………………..…………132 Introdução ................................................................................................................................ 111135 Métodos ..................................................................................................................................... 11236 Resultados .................................................................................................................................... 116 Discussão...................................................................................................................................... 120 Pontos fortes e limitações ........................................................................................................... 144 Conclusão ................................................................................................................................ 124145 Referencias .................................................................................................................................. 145 5. Conclusões da tese: ......................................................................................................................151 6. Considerações finais .................................................................................................................... 152 Referências ......................................................................................................................... 17757 Apêndices e anexos .................................................................................................................. 179 20 PREFÁCIO Esta tese de doutorado aborda tópicos relacionados aos métodos de avaliação da sarcopenia e seus critérios operacionais para o diagnóstico, mais especificamente os valores de ponto de corte utilizados para a identificação da baixa força, massa muscular e desempenho físico em idosos comunitários avaliados pelo projeto Promoção ao Envelhecimento e Vida Ativa (PROEVA). A tese será composta por quatro capítulos, sendo eles: Capítulo 01: Contém breve problematização sobre o tema trabalhado, compreendendo tópicos sobre as alterações musculoesqueléticas durante o processo de envelhecimento, com maior ênfase na redução da força e massa muscular, que são componentes essenciais para a identificação da sarcopenia. Nesse capítulo ainda são discutidos a respeito dos diferentes consensos utilizados no rastreio desse comprometimento, principalmente no que diz respeito aos diferentes conceitos, algoritmos e valores de corte utilizados, e como essa heterogeneidade influencia na prevalência da sarcopenia. Por fim, é abordado sobre os diferentes métodos de avaliação recomendados e as estratégias que podem ser utilizadas dentro de um contexto de Atenção Primária à Saúde (APS). Capítulo 02: Compreende um artigo em forma de relato de experiência sobre o desenvolvimento do estudo PRO-EVA no município de Parnamirim/RN. Nesse capítulo será apresentado ainda o fluxograma usado pelos profissionais de saúde para o correto preenchimento da Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa (CSPI) e os resultados preliminares de 996 participantes que passaram pelo processo e tiveram seus dados lançados no sistema. O estudo foi publicado na Revista Estudos Interdisciplinares sobre o Envelhecimento (Qualis A3 – 2017-2020). Para esse artigo, encontro-me na condição de coautora, no entanto, tal trabalho não foi inserido em nenhuma tese anteriormente, sendo ele, inédito para essa tese. Capítulo 03: Consiste em uma revisão sistemática que incluiu 62 estudos e teve como foco realizar um levantamento sobre os diferentes valores de pontos de corte da força de preensão palmar usados no rastreio da sarcopenia em idosos comunitários de ambos os sexos. Para essa revisão foram considerados estudos dos últimos dez anos indexados em seis bases de dados. Todo o artigo seguiu as recomendações do PRISMA 2020. O presente estudo já se encontra publicado no Journal of Nutrition, Health and Aging (Qualis A2 – 2017-2020). Capítulo 04: Apresenta um estudo transversal realizado com 1290 idosos comunitários de ambos os sexos e residentes no nordeste brasileiro. Tal estudo teve como objetivo identificar valores de pontos de corte, por meio do percentil 20, para as variáveis utilizadas no rastreio da sarcopenia (massa e força muscular e de desempenho físico) e em seguida comparar o resultado 21 entre prevalências encontradas utilizando os novos valores de corte com aqueles já estabelecidos na literatura. Esse artigo já está publicado na revista PeerJ (Qualis A2 – 2017- 2020). Capítulo 05: Consiste em um estudo metodológico que teve como objetivo verificar a validade-cruzada entre cinco equações preditivas de massa muscular esquelética (MME) em idosos comunitários do nordeste brasileiro. Para esse estudo, foram considerados 682 idosos de ambos os sexos que tiveram sua MME mensuradas através da bioimpedância elétrica (BIA), considerada como medida-critério nessa análise, e pelas equações de predição. Esse capítulo está formatado nas normas da Revista Brasileira de Fisioterapia, para a qual o artigo será submetido. No final desta tese foram adicionados os anexos e apêndices, tais como a provação do Comitê de Ética e Pesquisa, a ficha de avaliação utilizada e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os anexos referentes aos artigos publicados foram adicionados após os seus respectivos capítulos. 22 CAPÍTULO 01 23 1. PROBLEMATIZAÇÃO 1.1 Processo de envelhecimento e as repercussões no sistema musculoesquelético Envelhecer é um processo natural que implica em mudanças fisiológicas graduais e inevitáveis relacionados à saúde, estando ligado com a capacidade de adaptação do indivíduo frente aos rigores e agressões do meio ambiente (Ciosak et al., 2011). A nível biológico, o envelhecimento é resultado do acúmulo de ampla variedade de danos moleculares e celulares que ao longo do tempo leva a mudanças não lineares, que podem estar associados à redução gradual da capacidade física e mental, aumento do número de doenças crônicas, dependência nos cuidados e, em última instância, à morte (WHO, 2017; WHO, 2021). Associada as inúmeras mudanças decorrentes do processo de envelhecimento em todos os sistemas do corpo humano, ocorrem alterações importantes na composição corporal dessa população, que podem impactar significativamente na qualidade de vida e na funcionalidade da pessoa idosa (Pereira et al., 2013), tais como diminuição da altura, alteração na largura e forma dos discos vertebrais, perda do tônus (OMS, 1995), variabilidade na massa corporal, aumento da gordura corporal, perda de massa óssea, redução da água corporal total, perda de massa muscular e redução da capacidade motora e funcional, (Gómez-Cabello et al., 2012, Svedbom et al., 2013; Popkin et al., 2010; Tengvall et al., 2009; Ramel et al., 2011; Pereira et al., 2013). O tecido muscular esquelético é um componente importante para o estudo da condição de saúde e do estado nutricional dos idosos (Lang et al., 2010 e Rech et al., 2012), sendo composto por fibras musculares e sarcômeros, que por sua vez são responsáveis pela contração e relaxamento dos músculos, tornando o corpo humano capaz de gerar uma variedade de movimentos e, desse modo, ser elemento essencial para um bom desempenho físico (Reid e Fielding, 2012 e Tieland et al., 2018). Dentro deste contexto de mudanças associadas ao envelhecimento, destaca-se a redução de força e de massa muscular esquelética (MME) (Lang et al., 2010). A massa e a força muscular atingem o pico no início da vida adulta e, após um platô, começam a reduzir gradualmente (Ferrucci et al., 2012; Dodds et al., 2012). A presença de fatores como inatividade física, má nutrição, tabagismo, bem como alterações hormonais e susceptibilidade genética contribuem potencialmente para a redução da força, massa e quantidade muscular ao longo do tempo (Rolland et al., 2007; Baumgartner et al., 2006). Além disso, as quantidades alcançadas nos primeiros anos de vida influenciam durante o processo de envelhecimento, tal como ilustrado na figura 01. 24 M as sa e f o rç a m u sc u la r Fase inicial da vida Crescimento e desenvolvime nto até um platô Vida adulta Manutenção do platô Terceira idade Redução Amplitude de massa e força entre os indivíduos Idade Figura 01. Relação da massa e força muscular em diferentes fases da vida (Adaptado de Dodds e Sayer, 2015) Como consequência desse declínio, ocorrem alterações no turnover de proteínas musculares, remodelação do tecido muscular, perda de neurônios motores alfa e apoptose (Rolland et al., 2007), acompanhado de outras mudanças estruturais e funcionais que incluem diminuição da ativação neuromuscular, redução do recrutamento e perda das unidades motoras (UM) lentase rápidas, com decréscimo acelerado das UM rápidas (Lang et al., 2010). Junto a isso, parece haver uma atrofia das fibras glicolíticas rápidas tipo II (Wall e Loon, 2013), havendo assim uma transferência da carga de trabalho para as UM remanescentes, existindo uma rede de conversão de fibras do tipo II para fibras do tipo I. Por consequência, as reduções de ambos os componentes (força e massa muscular) são consideradas as mais significativas do processo de envelhecimento, pois há um aumento do risco de perda de mobilidade e lesões. Além disso, a diminuição da força muscular, por exemplo, aumenta a dificuldade de obtenção de nutrição adequada e elevam os esforços para a realização das atividades de vida diária (AVD) (Lang et al., 2010; Laurentani et al., 2003). 25 Portanto, desequilíbrio nesses itens, de síntese e degradação proteica citados anteriormente, pode trazer prejuízo no desempenho muscular e físico (den Ouden et al., 2011; Berger et al., 2010; Cruz-Jentoft et al., 2010) e contribuir para o surgimento da sarcopenia. 1.2 Alterações de força e massa muscular e a sarcopenia De acordo com a literatura, há uma redução de aproximadamente 30% de MME e um declínio de 20% na área de secção transversa do músculo (AST) (Frontera et al., 2000), sendo essa mais notável nos grupos de membros inferiores, onde a AST do vasto lateral pode estar reduzida em até 40% (Roger et al., 2011). Em uma revisão sistemática realizada por Mitchell et al. (2012) observou-se que após os 30 anos há um declínio de aproximadamente 1% de MME, e que a partir dos 60 anos essa taxa aumenta, por fim, em média de 30% da MME é perdida até os 80 anos. Em paralelo, a força muscular diminui 10-15% por década até os 70 anos, passando posteriormente a ser de 25-40% a cada 10 anos (Siparsky et al., 2014 e Kim et al., 2013). Para Chen et al., (2014), um dos mais importantes desafios advindos do processo de envelhecimento humano é conseguir controlar o declínio progressivo do sistema musculoesquelético que ocorre com o avançar da idade e ficou conhecido como sarcopenia. Descrito pela primeira vez em 1989 por Rosenberg, o termo sarcopenia foi proposto para descrever a redução da massa corporal magra, afetando a mobilidade, estado nutricional e independência dos indivíduos (Rosenberg, 1997; Cruz-Jentoft et al., 2010). Definida como uma desordem progressiva e generalizada que envolve perda acelerada de massa e função muscular (Cruz-Jentoft et al., 2019), a sarcopenia é considerada um problema de saúde pública devido aos impactos sociais, como a limitação das atividades, restrição da participação social, além da solidão e necessidade de cuidados. Tais impactos refletem na elevação dos gastos para o sistema de saúde (Veras, 2011 e Confortin et al., 2018), pois esta condição também está associada a resultados adversos em saúde, incluindo quedas, declínio funcional, fragilidade e mortalidade (Cruz-Jentoft et al., 2019). O seu aparecimento depende de múltiplos fatores contribuintes e vários mecanismos que podem estar envolvidos em sua progressão, sendo um fenômeno com uma complexa e multifatorial etiologia que pode variar com o decorrer da idade (Fielding et al., 2011), assim como exemplificado no quadro 01. 26 Quadro 01. Potenciais causas da sarcopenia por idade Idade Potenciais causas 20-40 Diminuição da atividade física, diminuição do tamanho e quantidade de fibras musculares do tipo II. 40-60 Diminuição da atividade física, aumento da gordura corporal. 60-70 Diminuição da atividade física, níveis reduzidos de hormônios e fatores de crescimento, menopausa, aumento da gordura corporal total e visceral, doença crônica e diminuição da regulação do apetite. 70+ Redução adicional na atividade física, episódios de inatividade forçada devido a doença, hospitalização, depressão, aumento da gordura corporal Adaptado de Fielding et al., 2014. Apesar de ter uma definição proposta por pesquisadores do European Working Group on Sarcopenia in Older People (EWGSOP2) (Cruz-Jentoft et al., 2019), o conceito do que é sarcopenia evoluiu ao longo dos anos e foi marcada por dois pontos importantes (Cruz-Jentoft e Sayer 2019). O primeiro consistiu na introdução do conceito da função muscular (força, potência e desempenho físico) nos consensos desde 2010, visto que ao longo de quase duas décadas a MME foi tida como referência conceitual e operacional para o diagnóstico da sarcopenia. No entanto, evidências apontam que a força muscular é um poderoso fator preditor para o surgimento da sarcopenia, com resultados clinicamente relevantes, quando comparados a MME sozinha (Cruz-Jentoft e Sayer, 2019; Lourenço, 2019). Já o segundo marco refere-se ao reconhecimento da sarcopenia como uma doença muscular, inserida na Classificação Internacional de Doenças (Cruz-Jentoft, 2019 e Cruz-Jentof et al., 2018). No entanto, a maioria dos profissionais de saúde ainda permanecem inconscientes sobre essa condição e quais ferramentas utilizarem para a sua identificação (Cruz-Jentoft e Sayer, 2019), fazendo com que essa condição seja negligenciada e subdiagnosticada para tratamento na prática clínica (Keller, 2018). Atrelado a isso, o alto custo para a avaliação da sarcopenia, as questões práticas relacionadas ao tempo e de acesso aos métodos de avaliação, além da falta de concordância entre os critérios operacionais de definição, tais como o uso dos algoritmos e pontos de corte, podem trazer impactos para a população idosa, para a comunidade científica e para os profissionais de saúde, dificultando mais ainda a identificação precoce dessa condição. 27 1.3 Operacionalização e diagnóstico da sarcopenia Embora tenha havido um aumento na quantidade de publicações e interesses acerca da sarcopenia, o seu conceito ainda é discutido entre os diferentes pesquisadores (Cruz-Jentoft et al., 2010; Bahat et al., 2016). Portanto, pensando em determinar critérios operacionais para a definição da sarcopenia, diferentes grupos de estudo ao redor do mundo se juntaram com o objetivo de facilitar a identificação da sarcopenia (Cruz-Jentoft, 2019; Fernandes et al., 2021), Em 2010, o European Working Group on Sarcopenia in Older People (EWGSOP) publicou um consenso que fornece uma definição e estratégia de triagem para diagnosticar e avaliar a sarcopenia amplamente utilizada em todo o mundo (Cruz-Jentoft et al., 2010). Tal definição foi revisada em 2018, afim de propor uma nova definição operacional e um algoritmo clínico, recomendando os critérios de baixa força muscular e baixa massa para diagnosticar a sarcopenia (Cruz-Jentoft et al., 2019). Além do EWGSOP, outros grupos de especialistas têm empenhado esforços para determinar critérios operacionais para esse diagnóstico, como o International Working Group on Sarcopenia (IWGS), que propôs que o diagnóstico de sarcopenia deve incluir a baixa massa muscular esquelética e o baixo desempenho físico (Fielding et al., 2011); e o National Institutes of Health (FNIH), que considera a fraqueza muscular e a baixa massa magra como critérios de diagnóstico da sarcopenia (Studenski et al., 2014). Porém, apesar dos esforços, a concordância total sobre as variáveis a serem incluídas e os pontos de corte ainda não foram totalmente estabelecidos, como pode ser observado no quadro 02. Logo, diante do quadro abaixo, fica claro que existe uma heterogeneidade na classificação da sarcopenia, tanto nos procedimentos de avaliação quanto nos valores de referência (pontos de corte) usados para a identificação da baixa MME e força muscular, trazendo assim consequências significativas na epidemiologia da sarcopenia. Exemplo disso é a disparidade da prevalência entre os idosos ao redor do mundo, que pode variar de 10-50% (Diz et al., 2012). De acordo com uma revisão sistemática realizada por Petermann-Rocha et al., (2022), ao utilizar diferentesclassificações e pontos de corte, a prevalência variou entre 10-27% nos estudos incluídos na metanálise. Foi possível também observar nesse estudo que houve diferença no que diz respeito ao sexo, a depender da classificação utilizada, sendo a sarcopenia mais prevalente no sexo masculino quando utilizado o European Working Grouop on Sarcopenia In Older People (EWGSOP2), enquanto mais prevalentes nas mulheres quando utilizado o International Working Group on Sarcopenia (IWGS). 28 Quadro 2. Resumo dos consensos, suas definições e pontos de corte disponíveis na literatura. Consenso Definição Ponto de corte utilizado Homens Mulheres EWGSOP Define a sarcopenia utilizando a massa muscular, força muscular e desempenho físico. Nesse consenso, os valores de pontos de corte foram apenas sugeridos. Massa muscular (kg/m²) 7.26 kg/m² 5.5 kg/m² Força muscular (preensão palmar) < 30 kg < 20 kg Desempenho físico (SPPB) ≤8 IWGS Define sarcopenia através da massa muscular e do desempenho físico. Velocidade da marcha (m/s²) 1 m/s² Massa muscular (kg/m²) <7.23 kg/m² <5.68 kg/m2 ASWG Definição de sarcopenia semelhante a estabelecida no EWGSOP. Massa muscular (kg/m²) < 7.0 kg/m² < 5.4 kg/m² Força muscular (preensão palmar) < 28 kg <18 kg Desempenho físico (SPPB) ≤9 FNIH Estabelece a sarcopenia utilizando a massa e a força muscular; o desempenho físico foi usado como um resultado. Massa muscular (kg/IMC) <0.78 kg/IMC < 0,51 kg/IMC Força muscular (preensão palmar) <26 kg < 16 kg EWGSOP2 Atualização da definição do EWGSOP; o desempenho físico foi utilizado para avaliar a severidade da condição Massa muscular (kg/m²) < 7 kg/m² < 5,5 kg/m² Força muscular (preensão palmar) < 27 kg < 16 kg Desempenho físico (SPPB) ≤8 Tabela adaptada de Cruz-Jentoft (2019) e Fernandes et al., (2021). Nota: IWGS = International Work Group of Sarcopenia; FNIH = Foundation for the National Institutes of Health; EWGSOP2 = European Working Group on Sarcopenia in Older People; SPPB= Short Physical Performance Battery. Nesta perspectiva, diante de variações tão significativas, algumas hipóteses foram levantadas na tentativa de explicá-las. Para estudos realizados anteriormente em diferentes partes do mundo, a variação da prevalência da sarcopenia está diretamente relacionada a diferentes formas de avaliação empregadas, as características da população estudada, as condições socioeconômicas nas quais essa população está inserida, além dos diferentes valores de pontos de corte propostos nos consensos, que podem não ser válidos para outras populações (Confortin et al., 2018; Fernandes et al., 2021 e Viana et al., 2018). 29 Tais observações corroboram outro estudo que avaliou idosos comunitários de diferentes origens étnicas e culturais, no qual foi observado que ao usar o algoritmo do EWGSOP houve um elevado número de casos falso positivos (Cordeiro, 2017). Segundo Lourenço et al., 2015 uma das possíveis explicações para isso é que tanto a velocidade da marcha quanto a força de preensão palmar são amplamente sensíveis às características antropométricas e culturais da população, o que torna os valores de corte propostos pelo consenso não utilizáveis em diferentes populações, portanto, a utilização clínica desses algoritmos e pontos de corte ainda são limitados. Logo, recomenda-se o uso de dados normativos, específicos para a população estudada, ao invés de utilizar valores oriundos de populações diferentes (Bahat et al., 2016), reforçando assim a necessidade de se estabelecer valores que respeitem as especificidades das populações. 1.4. Formas de avaliação da sarcopenia No que diz respeito aos métodos de avaliação adotados, uma gama de ferramentas pode ser utilizada, sendo algumas mais acessíveis que outras (Cruz-Jentoft et al., 2019; Fernandes et al., 2022). Para a mensuração da força muscular tem sido recomendado a força de preensão palmar (FPP) por meio da dinamometria manual (Morley, 2008), no entanto, a diversidade racial, o tamanho do corpo, o estilo de vida e as diferenças socioeconômicas mostram-se um obstáculo para padronizar os valores de referência dessa medida (Woo et al., 2014; Leong et al., 2015). Já no que tange a MME o EWGSOP2 (Cruz-Jentoft et al., 2019) apresenta métodos e instrumentos de avaliação que são válidos para essa identificação, tais como Ressonância Magnética por Imagem (RMI), a Tomografia Computadorizada (TC) e a densitometria por dupla emissão de raio-x (DXA). No entanto, devido ao alto custo para sua aplicabilidade, falta de portabilidade e risco de exposição à radiação, tem sido indicado também pelo EWGSOP2 a utilização da Bioimpedância Elétrica (BIA). Porém, apesar de fácil uso e menor custo, comparado aos demais, sua utilização ainda apresenta limitações em um contexto de Atenção Primária à Saúde (APS). Levando em consideração as dificuldades encontradas na APS, o uso de alternativas mais fáceis, válidas, confiáveis, de simples entendimento e de baixo custo são indicados. O próprio EWGSOP2 traz alternativas válidas para a identificação precoce da sarcopenia em um contexto em que o uso de equipamentos não é a realidade. Para o rastreio da força muscular o 30 Teste de Sentar-Levantar (TSL) pode ser considerada uma alternativa válida (Beaudart et al., 2016). Já para a MME, o uso de variáveis como as de medidas antropométricas, incluindo o perímetro da panturrilha, dobras cutâneas, peso e altura (por meio de equações de predição) podem ser viáveis. Tais mensurações são recomendadas para a avaliação da pessoa idosa pelo Ministério da Saúde (MS) e fazem parte da Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa (CSPI). Para Lee et al., (2000), o uso dessas equações preditivas permite estimar a MME, porém, é necessário considerar as características regionais e pessoais dos idosos avaliados. O uso de equações com base nas medidas antropométricas vem se tornado uma alternativa válida, precisa e de baixo custo (Pereira et al., 2013), além de mostrar uma boa correlação com os resultados obtidos pelo DXA e RM (Wen et al., 2011; Lee et al., 2000 e Visvanathan et al., 2012). Apesar de ser uma técnica pouco utilizada em estudos epidemiológicos, as equações preditivas têm garantido espaço nas pesquisas sobre o rastreio da sarcopenia (Heymsfield et al., 2014) e muitas delas vem sendo desenvolvidas e/ou validadas para o uso em diversas populações, sendo bastante úteis no contexto da atenção primária à saúde. Diante do exposto, fica evidente a necessidade de se identificar quais valores de pontos de corte estão disponíveis na literatura para o rastreio da baixa força muscular, e o quanto esses diferentes valores impactam na identificação precoce e na prevalência da sarcopenia. Além disso, pôde-se notar a importância de desenvolver pontos de corte baseados nas características da população local e compreender os motivos que podem levar a heterogeneidade quando comparado àqueles já estabelecidos na literatura. Atrelado a isso, existe ainda uma necessidade de verificar se outras formas alternativas são válidas e confiáveis para a identificação precoce da sarcopenia. 31 1.5 Justificativa Com o aumento do número de idosos, há a necessidade crescente em avaliar as alterações advindas do processo de envelhecimento, dentre elas, a diminuição da força e da MME, componentes para o diagnóstico da sarcopenia. A redução de ambos os componentes pode estar associada a desfechos adversos em saúde, influenciando significativamente a capacidade de decisão e independência da pessoa idosa. Apesar de ser alvo de um crescente número de estudos epidemiológicos, ainda existe uma dificuldade entre os profissionais de saúde quanto a identificação da sarcopenia, uma vez que diferentes métodos e protocolos podem ser utilizados para esse diagnóstico.Além disso, a ausência de equipamentos e seu alto custo torna a avaliação de força e massa muscular inviável no contexto da APS. Ademais, trazer alternativas fáceis, válidas, de baixo custo e de possível aplicação na APS traz importantes benefícios para a manutenção da saúde dos idosos e essa necessidade fica mais evidente em um contexto de baixa renda, como é o caso do nordeste brasileiro. Essa região ainda sofre por falta de insumos e recursos ideias para o trabalho, além da sua população apresentar características sociodemográficas e de composição corporal diferentes dos idosos das demais regiões. Sendo assim, diante da realidade e do baixo nível tecnológico existente, deve-se levar em consideração todo o contexto que os profissionais de saúde e os idosos dessa região estão inseridos e considerar o uso de alternativas fáceis para a avaliação da força e massa muscular. Como exemplos, a avaliação da circunferência da panturrilha, o teste de sentar-levantar e as equações de predição para a identificação da baixa MME, que levam em consideração as variáveis antropométricas, tais como peso e altura, as quais são coletadas na rotina do serviço e estão presentes na CSPI. Portanto, inserir meios de diagnóstico de eventos adversos em saúde, como é o caso da sarcopenia, possibilita aos profissionais o desenvolvimento de estratégias voltadas para a manutenção da independência desses idosos, além de auxiliar no desenvolvimento de estratégias de intervenção que tenham como objetivo a manutenção da funcionalidade desses indivíduos. 32 1.6 Objetivos: a) OBJETIVO GERAL: • Explorar e comparar os pontos de corte existentes na literatura para o rastreio da sarcopenia em idosos comunitários, em uma amostra de idosos estudados no Estudo Pro-Eva. b) OBJETIVO ESPECÍFICO: • Relatar a experiência de implantação e desenvolvimento do Estudo Pro-Eva e apresentar seus resultados preliminares, quanto à aplicação da Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa (CSPI) (Artigo 01). • Analisar os diferentes valores de pontos, através de uma Revisão Sistemática, para força de preensão palmar adotados para homens e mulheres no rastreio da sarcopenia (Artigo 02). • Analisar valores de pontos de corte para o rastreio da sarcopenia em idosos comunitários residentes no nordeste do Brasil e comparar a prevalência entre os valores definidos pelos consensos e os valores estabelecidos para a população estudada (Artigo 03). • Analisar a validade cruzada de cinco equações de predição para rastreio da MME em idosos comunitários (Artigo 04). 33 CAPÍTULO 02 34 ARTIGO 01 TÍTULO: Relato de experiência e resultados preliminares do Estudo Pro-Eva: Uma proposta para o manejo da Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa REVISTA: Estudos Interdisciplinares sobre o Envelhecimento https://doi.org/10.22456/2316-2171.105228 35 36 Relato de experiência e resultados preliminares do Estudo Pro-Eva: Uma proposta para o manejo da Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa Experience report and preliminary results of the Pro-Eva Study: A proposal for the management of the Health Book of the Elderly Person Rafaella Silva dos Santos Aguiar Gonçalves¹ Luiz Eduardo Lima de Andrade¹ Sabrina Gabrielle Gomes Fernandes¹ Isabelle Silva de Albuquerque² Ricardo Oliveira Guerra¹ Álvaro Campos Cavalcanti Maciel¹ 1. Universidade Federal do Rio Grande do Norte 2. Prefeitura Municipal de Parnamirim RESUMO Introdução: Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa estabelece a importância da realização de estratégias voltadas para a saúde, principalmente em relação à preservação da capacidade funcional. No conjunto de iniciativas estabelecidas por essa política encontra-se a implementação da Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa (CSPI). Objetivo: Relatar a experiência de implantação e desenvolvimento do estudo Pro-Eva e apresentar seus resultados preliminares, quanto à aplicação da CSPI. Métodos: O estudo está sendo desenvolvido em cinco Unidades Básicas de Saúde (UBS) em Parnamirim, RN. Foi criada uma versão digital da CSPI, em formato de sistema on-line, com o intuito de inserir as informações coletadas por meio da caderneta, seguindo uma metodologia própria de preenchimento do instrumento. Os critérios de inclusão são: ter pelo menos 60 anos de idade; estar cadastrado em uma das UBS participantes do estudo; aceitar participar da avaliação do estudo em sua totalidade. Resultados: 37 996 pessoas idosas já participaram do processo de preenchimento da CSPI e tiveram seus dados lançados no sistema de monitoramento online. A média de idade da amostra foi de 70,3 (±7,1), sendo a maioria composta por mulheres (61,3%). Aproximadamente metade dos idosos eram pardos (49,5%) e estavam em uma união estável (51,2%). Conclusão: O presente artigo possui pertinência por conduzir um relato de experiência da implementação e do fortalecimento da CSPI, enquanto política de saúde, em um município do Nordeste Brasileiro e por ter desenvolvido um fluxograma de preenchimento da caderneta que poderá ser base para futuros estudos nesta temática. Palavras-chave: Envelhecimento; Serviços de Saúde para Idosos; Saúde Pública. ABSTRACT Introduction: National health policy for the elderly establishes the importance of carrying out strategies aimed at health, especially in relation to preservation of functional capacity. Among the set of initiatives established by this policy there is the implementation of the Health Book of the Elderly Person. Purpose: To report the experience of implementation and development of the Pro-Eva study and present its preliminary results, regarding the application of the book. Methods: The study is being developed in five basic health units in Parnamirim, RN. A digital version of the health book was created, in an online system format, in order to insert the information collected, following a specific methodology for filling in the instrument. The inclusion criteria are: be at least 60 years old; be registered in one of the health units participating in the study; accept to participate in the evaluation of the study in its entirety. Results: 996 elderly have already participated in the process of fill the health book and had their data posted in the online monitoring system. The average age was 70.3 (± 7.1) years, with the majority being women (61.3%). Approximately half of the elderly were brown (49.5%) and were in a stable union (51.2%). Conclusion: This article is pertinent for conducting an experience report on the implementation and strengthening of the health book, in a city in the Brazilian Northeast, and for having developed a flowchart for filling out the book that may be the basis for future studies in this thematic. Keywords: Aging; Health Services for the Aged; Public Health 38 1. INTRODUÇÃO O Brasil, que antes era considerado um país jovem, hoje vem passando por uma alarmante aceleração no envelhecimento de sua população (PAIVA et al., 2015). Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população de pessoas idosas (60 anos ou mais) no Brasil em 2012 era de 25,4 milhões. Em 2017, essa taxa aumentou 18%, contabilizando um total de 30,2 milhões de idosos (IBGE, 2018). Aspectos fisiológicos e fatores socioeconômicos e demográficos, como sexo, escolaridade, renda, condições de saúde e moradia e contexto familiar, podem ser agravantes importantes que refletem na saúde dos idosos (PAULA et al., 2013). Sendo assim, é de extrema relevância que sejam identificadosdeterminantes e condicionantes no processo saúde-doença dos idosos para que se tenha um maior entendimento sobre sua saúde. Com isso, a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI), no Brasil, estabelece a importância da realização de estratégias voltadas para a saúde, principalmente em relação à preservação da capacidade funcional, visto que limitações físicas, cognitivas e sociais são evitáveis no processo de envelhecimento (BRASIL, 2006). A estratégia mais efetiva para evitar um declínio na funcionalidade é a promoção de ações que visem o envelhecimento ativo e, assim, estimulem os idosos a realizarem exercícios e atividades que melhorem a sua capacidade funcional, como recomenda a Organização Mundial da Saúde (OMS) no documento “Envelhecimento Ativo: uma Política de Saúde” (OMS, 2005). Entretanto, qualquer ação de saúde requer previamente a avaliação e o monitoramento do indivíduo, como forma de garantir que o mesmo seja compreendido de uma forma integral, ou seja, que aspectos intrínsecos e extrínsecos possam ser identificados e analisados, conforme estabelece o PNSPI (BRASIL, 2006). No conjunto de iniciativas estabelecidas, alinhado à implantação da PNSPI, encontra-se a implementação da Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa (CSPI), que tem o intuito de identificar particularidades, vulnerabilidades e fragilidades, bem como promover ações específicas que visem o atendimento integral, melhorando a qualidade de vida e diminuindo a mortalidade na população idosa (BRASIL, 2009; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018). Neste contexto, protocolos que agreguem a avaliação ampla do idoso podem trazer benefícios na promoção de saúde desta população, como é o caso do estudo apresentado neste trabalho. Este estudo, intitulado “Pro-Eva” (Promoção ao Envelhecimento e Vida Ativa), surgiu 39 com o objetivo de fortalecer o uso da CSPI para melhorar a assistência à pessoa idosa em um município do Nordeste brasileiro. 2. OBJETIVO O objetivo geral do presente trabalho foi o de relatar a experiência adquirida no desenvolvimento do estudo Pro-Eva, bem como apresentar os resultados preliminares obtidos até o momento, a partir da sua implantação no município de Parnamirim, RN, Brasil. 3. MÉTODOS O presente artigo trata-se de um relato de experiência elaborado a partir do que foi vivenciado em cerca de dois anos de execução do estudo Pro-Eva, no município de Parnamirim, RN, Brasil. Os critérios de inclusão para participação do estudo são: ter pelo menos 60 anos de idade, estar cadastrado em uma das Unidades Básicas de Saúde (UBS) participantes e aceitar participar da avaliação do protocolo em sua totalidade. A coleta dos dados teve início em 2018 e ainda se encontra em andamento, uma vez que a intenção é cobrir todas as pessoas idosas adstritas às UBS. 3.1 Descrição do local do estudo O estudo está sendo desenvolvido em Parnamirim, um município brasileiro localizado no estado do Rio Grande do Norte, pertencente à região metropolitana de Natal. Sua população foi estimada no ano de 2017 em 254.709 habitantes, pelo IBGE (IBGE, 2017), sendo então o terceiro município mais populoso do estado. No tocante ao processo de envelhecimento, a esperança de vida ao nascer é o indicador utilizado para compor a dimensão Longevidade do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM). Em Parnamirim, a esperança de vida ao nascer cresceu 5,4 anos na última década, passando de 69,1 anos, em 2000, para 74,5 anos, em 2010. Em 1991, era de 65,1 anos. Segundo os dados do SISAP Idoso (2019), o município tem aproximadamente 25.584 pessoas idosas, representando cerca de 9,78% da população total. No Brasil, a esperança de vida ao nascer era de 64,7 anos em 1991, de 68,6 anos, em 2000 e 73,9 anos em 2010 (PNUD, 2019). Parnamirim conta na atenção primária à saúde (APS) com 29 UBS distribuídas em seis distritos, que promovem uma cobertura de 76,02% de sua população. Nestas, atuam 56 Equipes https://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil https://pt.wikipedia.org/wiki/Unidades_federativas_do_Brasil https://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Grande_do_Norte https://pt.wikipedia.org/wiki/Regi%C3%A3o_Metropolitana_de_Natal https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_munic%C3%ADpios_do_Rio_Grande_do_Norte_por_popula%C3%A7%C3%A3o 40 de Saúde da Família (ESF) e cinco Núcleos Ampliados de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB). 3.2 Descrição do estudo O estudo Pro-Eva surgiu como fruto da parceria ensino-serviço entre a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e o município de Parnamirim. Esta oportunidade se deu, em outubro de 2017, quando foi lançada a “Chamada pública para seleção de projetos de promoção e defesa dos direitos da Pessoa Idosa”, pelo Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, via Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa. Do ponto de vista de políticas públicas em saúde, o estudo encontra-se em consonância com o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH III), uma vez que atende às diretrizes do seu Art. 2, no Eixo Orientador II, na Diretriz 5, no que tange a Valorização da Pessoa Humana, nesse caso a pessoa idosa, como sujeito central do processo de desenvolvimento; assim como no Eixo III, onde se objetiva universalizar direitos em um contexto de desigualdades, no qual muitas vezes os idosos de baixa renda estão inseridos, principalmente no acesso aos serviços de saúde de qualidade. Pela parte da UFRN, a coordenação do estudo está a cargo de dois professores do Departamento de Fisioterapia, enquanto pela parte da prefeitura, a coordenação está sendo feita por uma enfermeira que responde pela Coordenação de Atenção à Saúde da Pessoa Idosa do município. Quanto as equipes, todos os membros da rede de atenção das UBS estão diretamente envolvidos no estudo, participando ativamente da avaliação da pessoa idosa. Previamente a realização das atividades, uma reunião é realizada para que seja estabelecido um momento para a aplicação do fluxo de preenchimento da CSPI e qual a responsabilidade de cada profissional durante a atividade. Caso as UBS participantes tenham as equipes dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) adstritas, os profissionais desenvolvem atividades de apoio, como por exemplo a organização do fluxo de preenchimento da CSPI ou atividades particularmente relacionadas ao envelhecimento ativo, com palestras, orientações, atividades físicas, lazer, entre outras. 3.3 Desenvolvimento do estudo O início das atividades ocorreu em fevereiro de 2018, a partir da definição das UBS a serem cobertas pelo estudo. Primeiramente, o estudo previa a inclusão de duas Unidades dentre as 29 que existiam no município em 2017. A decisão da escolha das duas Unidades se deu por 41 decisão da gestão do município, sendo escolhidas a UBS do Monte Castelo e UBS Jockey Club, localizadas nos bairros Monte Castelo e Vida Nova, respectivamente. Na época, essas unidades apresentavam uma população adstrita de 948 idosos. Quadro 01. Divisão da população cadastrada nas UBS’s participantes do Pro-Eva UBS População adstrita UBS Monte Castelo 390 UBS Jockey Club 558 UBS Primavera 451 UBS Liberdade 463 UBS Parque das Orquídeas 1.138 UBS COOPAHB 392 Buscando, desde o início, integrar as pessoas idosas do município, uma das primeiras ações foi escolher um nome e uma logomarca para o estudo, que serviria para criar a sua identidade visual. Neste sentido, o nome escolhido, PRO-EVA (Promoção ao Envelhecimento e Vida Ativa), surgiu a partir de uma sugestão de desenho de uma das idosas frequentadoras do grupo. Com o desenho e nome escolhido, foi contratada uma empresa que ficou encarregada de fazer a criação da arte e identidade visual, que serviu de base para a criação do material de apoio, divulgação e treinamento, conforme a figura 01. Figura 01- Logomarca do estudo Pro-Eva, Parnamirim, RN, 2020. 42Em seguida, passou-se para a criação do sistema de monitoramento das pessoas idosas que iriam fazer parte do estudo. Conforme citado, a base para esse sistema foi a CSPI. Segundo o Ministério da Saúde este documento é um instrumento estratégico de qualificação da atenção à pessoa idosa, que objetiva contribuir para a organização do processo de trabalho das equipes de saúde e para a otimização de ações que possibilitem uma avaliação integral da saúde da pessoa idosa, identificando suas principais vulnerabilidades e oferecendo orientações de autocuidado (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018). A partir desse sistema foi criada uma versão digital da CSPI em formato de sistema (endereço eletrônico: http://proeva.ccs.ufrn.br/), com o intuito de inserir todas as informações coletadas nas avaliações das pessoas idosas por meio da caderneta. A segunda etapa do estudo foi a realização de treinamentos com os profissionais de saúde (agentes comunitários de saúde, técnicos de enfermagem, enfermeiros, médicos e dentistas) e os diretores das UBS do município, com o objetivo de implementar e fortalecer o uso da CSPI, além de capacitá-los a realizarem o preenchimento adequado desta ferramenta. Neste sentido, todas as equipes de saúde da atenção básica do município de Parnamirim foram convocadas a participar da capacitação, e foram divididas em seis grupos. Foi realizada uma oficina de treinamento com duração de cinco horas para cada grupo. As oficinas foram ministradas por um fisioterapeuta expert no campo da Gerontologia que foi previamente treinado por integrantes do Ministério da Saúde. A partir de uma metodologia expositiva e dialogada, foram abordados os seguintes tópicos: exposição acerca da população idosa do município de Parnamirim; apresentação das metas, etapas e cronogramas do projeto de implementação e fortalecimento do uso da CSPI; contextualização sobre o desenvolvimento e a importância do uso da Caderneta; explanação detalhada sobre o preenchimento de cada seção da CSPI física. Atualmente, o estudo está sendo desenvolvido em seis UBS em Parnamirim, sendo localizadas, de acordo com o Plano Plurianual Participativo (PPA) da Prefeitura Municipal nos seguintes bairros e territórios: UBS Monte Castelo (Bairro Monte Castelo) e UBS Jockey Club (Bairro Vida Nova), ambas no território 6; UBS Liberdade e UBS Primavera (Bairro Liberdade, território 3), Parque das Orquídeas (Bairro Emaús, território 5) e UBS COOPHAB (Bairro Nova Parnamirim, território 1). Mais detalhes na figura 02. http://proeva.ccs.ufrn.br/ 43 Figura 02. Localização das duas UBS selecionadas para participar do estudo (Fonte: Prefeitura de Parnamirim/RN). 3.4 Fluxo de preenchimento da CSPI Do ponto de vista operacional, entende-se que um dos grandes entraves para uma maior adesão ao uso da CSPI é a falta de uma sistematização do preenchimento da caderneta. Hoje, em praticamente todos os municípios do país, este fato é considerado um dos principais empecilhos para que o instrumento alcance a robustez e a magnitude que outros instrumentos similares (como a Caderneta de Saúde da Criança e da Gestante) alcançaram. Buscando minimizar esse problema, foi elaborada uma proposta que culminou com a criação de um fluxo de preenchimento, apresentado aos profissionais de saúde durante as capacitações e disponíveis para o uso em qualquer UBS que deseje implantar a CSPI. O fluxo de preenchimento permite que ao final a pessoa idosa possa ter seu documento totalmente preenchido, conforme demonstrado na figura 02. 44 Figura 03- Fluxograma criado para preenchimento da caderneta de saúde da pessoa idosa, Parnamirim, RN, 2020. O preenchimento da CSPI inicia-se com a visita do agente comunitário de saúde (ACS) à casa da pessoa idosa em sua microárea, visando realizar o agendamento para a ida a UBS no dia e horário estabelecido. Ao chegar ao local, o idoso é acolhido na recepção e encaminhado para os profissionais de saúde para dar início ao preenchimento da caderneta. Cada profissional é responsável por completar as informações da parte que lhe compete, de acordo com o observado na figura 03. Inicialmente, o ACS coleta informações sociodemográficas e socioeconômicas pessoais do idoso, além de realizar avaliação ambiental, rastreio cognitivo e de humor e aplicar o Protocolo de Identificação do Idoso Vulnerável, por meio do Vulnerable Elders Survey-13 (VES-13). A avaliação realizada pelo ACS pode ser feita também no ambiente domiciliar, durante a visita inicial. Após a avaliação inicial, o idoso é direcionado para o médico que coletará informações sobre o uso de medicamentos e polifarmácia. Em algumas situações, a consulta do médico pode ser o último passo a ser realizado, pois desta forma o profissional já terá em mãos todas as 45 informações preenchidas previamente. O terceiro passo do fluxo são as avaliações realizadas pelos enfermeiros e técnicos de enfermagem. Neste momento os dados vitais, antropométricos e exames de HGT são coletados, além disso, o idoso é questionado sobre a presença de dor crônica, quedas, diagnóstico e cirurgias prévias e hábitos de vida. Por fim, o dentista realiza uma avaliação da saúde bucal do usuário e caso seja identificado algum achado importante, é feito o direcionamento para uma consulta mais detalhada e, se preciso for, é iniciado um tratamento odontológico de acordo com a necessidade do caso. Adicionalmente ao preenchimento da CSPI, o idoso é encaminhado a uma avaliação com instrumentos adicionais (quadro 02), envolvendo saúde e funcionalidade. A mesma é realizada por três fisioterapeutas, doutorandos em fisioterapia da UFRN, e também participantes do Pro-Eva. Esta etapa envolve instrumentos que avaliam os parâmetros descritos no quadro abaixo: Quadro 02. Instrumentos de avaliação adicionais Desfecho Avaliações realizadas Sarcopenia Mensurado de acordo com o European Working Group of Sarcopenia in Older People (EWGSOP2) (Cruz-Jantoft et al., 2019): • Força de preensão palmar, por meio do dinamômetro manual Jamar ® • Índice de Massa Muscular Esquelética, através da bioimpedância elétrica. Fragilidade Mensurado de acordo com Fried et al., (2001): • Perda de peso não intencional • Força de preensão palmar • Fadiga • Velocidade da marcha • Nível de atividade física, por meio do Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ). Risco de quedas Avaliado por meio da Ferramenta de Rastreio de Risco de Quedas (FRRISque) (Chini et al., 2019). Desempenho físico Identificado a partir do Short Physical Performance Battery (SPPB) (Guralnik et al., 1994) Vulnerabilidade Avaliado através do Índice de Vulnerabilidade Clínico-Funcional 20 (Moraes et al., 2016). 46 Finalizado todo o preenchimento, as cadernetas concluídas naquele dia são arquivadas em uma caixa específica para aguardar a digitação. Ato contínuo, um integrante do projeto tem a responsabilidade de organizar todo o material arquivado e digitá-lo no sistema. Finalizada a digitação, a caderneta é devolvida ao idoso pelo ACS, juntamente com um brinde (uma caneca com a logomarca do estudo), como forma de valorizar seu papel e importância no ato de cuidar e manejar sua própria saúde. Caso o idoso não consiga passar por todos os profissionais de saúde em um único dia, o ACS agenda um novo dia de avaliação na própria UBS com o objetivo de concluir o preenchimento. 3.5 Análise dos dados Inicialmente, os dados foram digitados no sistema on-line de gerenciamento das informações coletadas pela CSPI. Em seguida os dados foram transportados para planilha Excel e ajustados de acordo com a necessidade do presente estudo. Com o banco de dados ajustado, os dados foram transportados para o programa SPSS, versão 20.0 (Statistical Package for Social Sciences). Foi utilizada para
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