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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS CURSO DE ADMINISTRAÇÃO LARISSA DA COSTA AMADOR FELIPE ASSÉDIO MORAL EM ESTAGIÁRIOS: CONSEQUÊNCIAS NA VIDA PESSOAL E ACADÊMICA Natal 2022 2 LARISSA DA COSTA AMADOR FELIPE ASSÉDIO MORAL EM ESTAGIÁRIOS: CONSEQUÊNCIAS NA VIDA PESSOAL E ACADÊMICA Projeto de Monografia apresentado ao Curso de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial da 3ª avaliação da disciplina de Oficina de Projeto II, ministrada pela Profa. Msc. Paula Gonçalves Serafini. Orientadora: Professora Dra. Patrícia Whebber Souza de Oliveira Natal 2022 Felipe, Larissa da Costa Amador. Assédio moral em estagiários: consequências na vida pessoal e acadêmica / Larissa da Costa Amador Felipe. - 2022. 64f.: il. Monografia (Graduação em Administração) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Departamento de Ciências Administrativas. Natal, RN, 2022. Orientadora: Profa. Dra. Patrícia Whebber Souza de Oliveira. 1. Gestão de pessoas - Organização - Monografia. 2. Assédio moral - Estagiários - Monografia. 3. Qualidade de vida no trabalho - Monografia. I. Oliveira, Patrícia Whebber Souza de. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/Biblioteca CCSA CDU 005.958.2 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA Elaborado por Eliane Leal Duarte - CRB-15/355 3 LARISSA DA COSTA AMADOR FELIPE ASSÉDIO MORAL EM ESTAGIÁRIOS – CONSEQUÊNCIAS NA VIDA PESSOAL E ACADÊMICA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito básico para a conclusão do Curso de Administração. Orientador (a): Profa. Dra. Patrícia Whebber Souza de Oliveira APROVADO EM: 21 / 07 / 2022 BANCA EXAMINADORA ______________________________________________ Prof.ª Dra. Patrícia Whebber Souza de Oliveira Orientadora Universidade Federal do Rio Grande do Norte ______________________________________________ Prof. MSc. Antônio Carlos Ferreira Universidade Federal do Rio Grande do Norte ______________________________________________ Prof. Dr. Gabriel Martins de Araújo Filho Universidade Federal do Rio Grande do Norte 4 RESUMO Ao ingressar no mercado de trabalho, os estagiários buscam colocar em prática os conhecimentos adquiridos na universidade para conseguir experiência profissional na área de atuação. Todavia, as organizações possuem problemas internos, e os estagiários tornam-se parte deles ao sofrerem situações de assédio moral. Pela característica frágil de pouco poder dentro das organizações e o não-vínculo empregatício, acabam tornando-se alvos fáceis para os agressores. Com base nisso, este trabalho teve como objetivo analisar as experiências de assédio moral em estagiários de instituições públicas e privadas e verificar as consequências que essa violência acarretou em suas vidas, tanto acadêmica como pessoal. Na prática, foi realizado um estudo quantitativo, através de um questionário online com alunos estagiários que foram vítimas de assédio moral dentro do ambiente organizacional durante a experiência. Os resultados apresentam as consequências ocasionadas que são vários problemas de saúde mentais e físicos, interferência nos relacionamentos (amorosos, familiares, amizade, etc.) e diminuição do rendimento acadêmico. Concluiu-se que o assédio moral pode ser bastante danoso para as organizações, mas especialmente danoso na vida dos estudantes que estagiam. Ainda é necessário um aprimoramento no que diz respeito à legislação em relação à criminalização e as penalidades para aqueles que cometem o assédio moral. Palavras-chave: Assédio moral; estagiários; organização ABSTRACT When entering in the job market, interns seek to put into practice the knowledge acquired at the university in order to gain professional experience in their field. However, institutions have internal problems and interns become part of them when they suffer situations of moral harassment. Due to the fragile characteristic of little power within organizations and the lack of an employment relationship, they end up becoming easy targets for aggressors. Based on this, this course conclusion work aimed to analyze the experiences of moral harassment in interns from public and private institutions and to verify the consequences that this violence had on their lives, 5 both academically and personally. In practice, a quantitative study was carried out, through an online questionnaire with interns students who were victims of moral harassment within the organizational environment during the experience. The results present the that are mental and physical health problems, interference in relationships and decreased academic performance. It was concluded that moral harassment can be quite harmful to the organization but specially harmful in the lives of students who are interns. Improvements are still needed with regard to legislation regarding criminalization and punishment for those who commit moral harassment. Keywords: Moral harassment; interns; institution 6 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMA DE PESQUISA ................................. 8 1.2 OBJETIVOS DO ESTUDO ............................................................................... 9 1.2.1 Objetivo Geral ................................................................................................. 9 1.2.2 Objetivos Específicos .................................................................................... 9 1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................. 10 1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO ...................................................................... 12 2. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................. 12 2.1 CONCEITO E EVOLUÇÃO DAS RELAÇÕES TRABALHISTAS .................... 12 2.2 A GLOBALIZAÇÃO: CONSEQUÊNCIAS NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL E O NOVO PERFIL DO TRABALHADOR .................................................................. 13 2.3 A EVOLUÇÃO DA GESTÃO DE PESSOAS NAS ORGANIZAÇÕES ............. 14 2.4 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO .......................................................... 17 2.5 ASSÉDIO MORAL: CONCEITOS E CARACTERIZAÇÃO .............................. 20 2.6 PERFIL DO ASSEDIADOR E DA VÍTIMA ....................................................... 26 2.7 ASSÉDIO: MAIOR FREQUÊNCIA NO SETOR PÚBLICO .............................. 27 2.8 CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDIO MORAL .................................................... 28 2.9 MEDIDAS PREVENTIVAS AO ASSÉDIO MORAL ......................................... 30 2.10 IMPLICAÇÃO JURÍDICA DO ASSÉDIO MORAL ............................................ 31 3. METODOLOGIA ............................................................................................ 32 3.1 TIPO DE ESTUDO ......................................................................................... 32 3.2 UNIVERSO E AMOSTRA .............................................................................. 33 3.3 PLANO DE COLETA DE DADOS ................................................................. 34 3.4 PLANO DE ANÁLISE DOS DADOS............................................................. 35 4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS ..................................... 36 4.1 RELAÇÃO DE FAIXA ETÁRIA ........................................................................ 36 7 4.2 RELAÇÃO DE GÊNERO E SEXUALIDADE ................................................... 37 4.3 RELAÇÃO DE COR/RAÇA ............................................................................. 38 4.4 RELAÇÃO DO TIPO DE INSTITUIÇÃO .......................................................... 39 4.5 RELAÇÃO DE GRAU HIERÁRQUICO ............................................................ 40 4.6 FORMAS DE ASSÉDIO .................................................................................. 41 4.7 SINTOMAS OCASIONADOS PELO ASSÉDIO .............................................. 42 4.8 SINTOMAS QUE PERMANECERAM APÓS O TÉRMINO DO ASSÉDIO ..... 43 4.9 CONSEQUÊNCIAS NO DESEMPENHO ACADÊMICO ................................. 45 4.10 OUTRAS CONSEQUÊNCIAS ......................................................................... 46 5. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES .......................................................... 47 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 49 APÊNDICE ................................................................................................................ 56 8 1 INTRODUÇÃO 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMA DE PESQUISA O assédio moral é um problema social presente nas organizações desde sempre, mas de uns tempos para cá o assunto vem recebendo maior visibilidade e tem sido pauta de discussões e interesse na sociedade. A razão por trás desse aumento não é clara, mas pode ser atribuída a vários fatores, como o aumento da competição entre os funcionários e a diminuição dos valores morais. Os estagiários são especialmente vulneráveis a esse tipo de abuso, pois carecem de poder e status em seus locais de trabalho e muitas vezes têm pouco recurso quando injustiçados. Hirigoyen (2001) caracteriza o assédio moral como o ato de expor pessoas a situações humilhantes e constrangedoras no ambiente de trabalho, de maneira prolongada e repetitiva, no exercício de suas atividades, de modo a ofender sua honra, vida privada, ou sua imagem. De acordo com a autora (2001), o assédio moral é um tipo de conduta prejudicial ao ambiente de trabalho e que coloca a saúde física e psíquica do trabalhador em risco. Pode ocorrer através de palavras, atos, comportamentos gestos ou escritos que possam causar os danos citados mais acima. O assédio moral, diferentemente do que possa ser pensado, pode acontecer em todas as direções na pirâmide hierárquica organizacional, entretanto, é mais comum ocorrer do nível superior para os níveis mais inferiores. Independente das relações hierárquicas quem irá ser responsável e responder judicialmente pela violência ocorrida é a figura da empresa/empregador, pois os funcionários representam a empresa. O cenário mundial direciona as empresas a executar o papel de ênfase em gestão de pessoas, o que significa desenvolver os colaboradores, provendo conhecimento e boas relações de trabalho para com isso alcançar os lucros pretendidos e expandir o mercado consumidor. Contudo, a competitividade traz à cena características sociais enraizadas no indivíduo que acabam por se sobrepor a idealização de crescimento pessoal em conjunto que a nova roupagem empresarial prega como valores, fomentando competição não ortodoxas entre os funcionários de uma companhia, por exemplo. 9 O assédio moral tem uma série de efeitos negativos sobre os estagiários. Isso pode levar os internos a se sentirem estressados, muitas vezes experimentam problemas de sono, ansiedade, perda de apetite, notas mais baixas e até mesmo deixar seus empregos. Em alguns casos, pode até fazer com que eles experimentem sintomas físicos ou distúrbios psicológicos. O assédio também pode levar à perda de confiança e pode desencorajar os estagiários de buscarem um futuro emprego na organização. Em casos extremos, as vítimas podem até cometer suicídio. Dentro do universo do assédio moral, a figura do estagiário é inserida nesse contexto como alvo fácil no mercado de trabalho atual. Conquanto contratados como estagiários, por vezes, os referidos estudantes acadêmicos são obrigados a encarar uma realidade cruel e amarga. Sendo submetidos a constantes pressões, excesso de trabalho, algumas vezes em discordância com o ordenamento jurídico, defronte a fraude praticada pelos empregadores. A fraude caracteriza-se quando o estagiário exerce funções que não são compatíveis com a de estágio, equiparando-se as tarefas a de um profissional no quadro de funcionários da empregadora. Finalmente, ocorrendo um desrespeito efetivo ao estagiário, quando não observado, ou não cumprido, pelo empregador a Lei do Estágio. 1.2 OBJETIVOS DO ESTUDO 1.2.1 Objetivo Geral Analisar o assédio moral sofrido por estagiários e suas consequências na vida acadêmica e pessoal. 1.2.2 Objetivos Específicos 1. Verificar os tipos mais frequentes de assédio moral sofridos pelos estagiários nas organizações; 2. Descrever o fato do assédio em relação ao tipo de instituição, raça e orientação sexual dos estagiários; 3. Analisar os danos causados à saúde física e mental dos estagiários que sofrem assédio no ambiente de trabalho e como isso afeta a qualidade de vida; 10 4. Verificar os efeitos do assédio nos aspectos da vida pessoal e acadêmica dos estagiários. 1.3 JUSTIFICATIVA O interesse pelo tema do estudo surgiu a partir do entendimento de que o assédio moral nas organizações pode trazer consequências tanto para a organização, mas principalmente para os funcionários. Portanto, considera-se a pesquisa, pois ela possibilita uma visão ampla facilitando a compreensão do problema no ambiente organizacional. Ademais, o estudo sobre esse fenômeno pode trazer diversas melhorias para a empresa, e quebrar barreiras em termos de entendimento e ações (preventivas e reparadoras). Neste âmbito, são trazidas contribuições às organizações e profissionais em estudo para que possam lidar melhor com a situação. Embora a sociedade do século XXI tenha evoluído em muitas esferas, alguns temas ainda são pouco tratados ou mesmo considerados tabu. Assédio moral em ambiente de trabalho é um desses pouco aprofundado, mas que paulatinamente passa a ser observado haja vista que as dinâmicas de trabalho e retenção de bons colaboradores está diretamente ligada ao clima organizacional dentro do ambiente de trabalho. Pouco se sabe sobre as consequências que a prática desse comportamento ocasiona nas pessoas que são acometidas por tal, sejam elas físicas e ou psicológicas. O assédio pode existir em quaisquer tipos de instituições, sejam escolas, universidades, ou até mesmo no próprio ambiente de trabalho e, lamentavelmente, por vezes a situação termina não sendo conduzida da forma que deveria ser debatida, sob a desculpa da tolerância de modo compassivo, apática e omitida (FREITAS, 2001). Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa do Risco Comportamental (IPRC) no Brasil mostrou que mais de 40% dos entrevistados relataram já terem sofrido alguma situação de assédio moral no trabalho, dentre as vítimas, não surpreendentemente, a maioria é composta por mulheres. Também estão entre as vítimas mais comuns os negros, homossexuais, pessoas portadoras de necessidades especiais e pessoas com faixa etária acima dos quarenta anos (IPRC, 2020). 11 O assédio moral pode afetar o desenvolvimento psicológico e emocional da vítima alvo. As vítimas alvo encontram maneiras de lidar com os agressores e evitar novos ataques, garantindo assim que sua autoestima permaneça intacta.Os agressores geralmente são pessoas altamente ineptas socialmente que não têm empatia e compreensão. Eles tendem a intimidar por raiva em vez de malícia. Os agressores normalmente não buscam aprovação ou simpatia; em vez disso, eles esperam ver a vítima humilhada, rejeitada e desamparada. Seu objetivo geralmente é a gratificação de curto prazo. A maioria das faculdades hoje exige o estágio como requisito obrigatório para o desenvolvimento e formação dos alunos, que podem vivenciar esse tipo de violência no ambiente de trabalho, sem saber se largam o estágio, recomeçam em outro ou delatam o assediador. Os alunos precisam compreender o assunto e saber lidar com essas situações, o que ajuda a construir relações mais colaborativas e saudáveis no ambiente de trabalho. O assédio a estagiários no ambiente laboral é um problema comum, mas premente no mercado de trabalho brasileiro, pois essa violência já pode ser contida nos indivíduos acometidos que desenvolvem inúmeras doenças e sua saúde mental se exaure, dentro da estrutura organizacional. Muitos se sentem humilhados e intimidados e têm dificuldade de trabalhar efetivamente dentro das organizações. Estudos mostram que o assédio moral pode prejudicar a autoestima, causar estresse e ansiedade, criar conflitos interpessoais, contribuir para o alto absenteísmo entre os funcionários. Para Rodrigues (2017) os estagiários são umas das principais vítimas da prática do assédio moral no ambiente das organizações por serem estudantes e estarem se inserindo no mercado ocupacional trabalhista, o que os torna mais propensos a sucumbir à prática, e como princípio a sociedade os adota como “faz- tudo” ou ‘‘mão de obra barata’’. Ainda segundo o autor (2017), o desvio nas funções e no objetivo do estágio afeta as perspectivas profissionais. Por vezes o estagiário é menosprezado quando se aborda o assédio moral devido a seu contrato não se caracterizar como uma relação empregatícia. 12 1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO Este trabalho encontra-se dividido em cinco partes. Além desta introdução, a segunda parte inclui um referencial teórico que subsidia a análise dos resultados obtidos na pesquisa. Após isto, são apresentados os métodos de pesquisa desenvolvidos para atingir os objetivos acima. Em seguida, são apresentados e analisados os principais resultados obtidos e, por fim, no último tópico, são discorridas as considerações finais, incluindo conclusões e sugestões para pesquisas futuras, e posteriormente referência. 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 CONCEITO E EVOLUÇÃO DAS RELAÇÕES TRABALHISTAS Kanaane (2007) define o trabalho como “o processo entre a natureza e o homem, através do qual este realiza, regula e controla, mediante sua própria ação, o intercâmbio de matérias com a natureza”. Diversos podem ser os conceitos conferidos ao trabalho, contudo, qualquer que seja a denominação, o trabalho adquire um papel importante dentro de um contexto socioeconômico. O trabalho assume incontáveis finalidades para a vida das pessoas, podendo acionar mecanismos psicológicos que ativem o estímulo à produtividade (LUCENA, 1999, p.53). Charelli (2005) recorda que os Babilônicos foram os povos pioneiros em relatar problemas relativos ao trabalho. O Código de Hamurábi regulamentava a escravidão e a aprendizagem profissional, trazendo as primeiras ideias, ainda que de maneira superficial, sobre salário mínimo e repouso a serem reconhecidos ao trabalhador. O trabalho, entre os babilônicos, era exercido por pessoas que se tornaram escravas como forma de pagamento de dívidas. O escravo babilônico não perdia completamente sua condição de pessoa; era uma pessoa mais frágil com função de auxiliar ou até substituir seu dono na missão de batalhar pelo sustento. A partir do século XVIII o trabalho humano começou a ser ressignificado por isso, Beck (2003) recorda que houve uma evolução das relações trabalhistas, com a expansão do contrato de trabalho. No começo da primeira modernidade, perante a 13 dupla revolução, da economia de mercado ascendente, da rápida expansão do capitalismo, houve uma nova valorização do trabalho, que passou a ser o centro da identidade social, da posição social, da garantia existencial do homem. Ferreira (2004) ainda ressalta que foi atribuído valor ao trabalho, inexistente anteriormente, tornando-o fonte de riqueza. No início do desenvolvimento da civilização o valor dado ao trabalho era mínimo ou praticamente nulo, sendo encarado como castigo, pena, sofrimento ao longo da história, para posteriormente adquirir novo significado: tornou-se digno e motivo de honra. Essa mudança de paradigma não ocorreu de maneira repentina nem tampouco pacífica, sendo possível através da tomada de consciência da sociedade e dos trabalhadores. 2.2 A GLOBALIZAÇÃO: CONSEQUÊNCIAS NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL E O NOVO PERFIL DO TRABALHADOR Atualmente, o avanço tecnológico ocasionado pela globalização incentiva a multinacionalização dos meios de comunicação e o aceleramento da mobilidade do capital, cujo deslocamento tornou a se produzir de maneira veloz por vias eletrônicas, abrindo um novo leque de alteração dos valores sociais. A amplificação da competição capitalista levou o capital a buscar novas fontes de trabalho mais baratas e mais flexíveis. “O trabalho humano está sendo, pela primeira vez, eliminado do processo de produção” (RIFKIN, 2001, p. 3). França (2008) elucida que como consequência das transformações que ocorreram no mundo do trabalho, ocasionadas pelo processo de globalização, um novo nível de competição mundial desenvolveu-se nas organizações, determinando novos padrões de qualidade e produtividade. Logo, torna-se imprescindível a reestruturação nos modelos de produção e na concepção de trabalho, aliadas às mudanças tecnológicas. Barreto (2003) relata que a modernização da estrutura produtiva passa a requerer um novo modelo do trabalhador, que também terá que se mostrar mais flexível e polivalente, de maneira a se encaixar ao novo ritmo de trabalho e tecnologias. A busca da qualidade associada a produtividade exige dos trabalhadores alta concentração, maior qualificação, capacidade de adaptação e respostas rápidas às demandas da produção (BARRETO, 2003, p.99). 14 Como aponta Cavalcante (2005, p. 1), as diversas mudanças sucedidas nos últimos anos resultaram em novas configurações de administração, reengenharia, reorganização e reestruturação administrativas, que transpassam a globalização e a industrialização. Novas técnicas de seleção, inserção e avaliação do indivíduo originaram o novo padrão do sujeito produtivo, um sujeito que vai além das metas estabelecidas, ultrapassando-as, mesmo que para atingir esse resultado tenha que sacrificar seus limites humanos e até mesmo desprezar seu semelhante. Nessa direção, o individualismo acentuado é valorizado em detrimento do grupo de trabalho. De acordo com Barreto (2003) e Deluiz (1995) os atributos comportamentais, como capacidade de criticar, de inovar, autonomia, criatividade, dinamismo, responsabilidade e cooperação, complementam o perfil exigido do novo trabalhador. As empresas, fundamentalmente, passam pelo processo de mudanças, adotando novas políticas de gerenciamento, que buscam alcançar o envolvimento dos trabalhadores em prol dos interesses de maior produtividade, a partir de técnicas aperfeiçoadas. Como consequência dessas mudanças há um aumento de lucratividade e diminuição de custos. Entretanto, Ramos (2002) observa que a ocorrência dessas mudanças vem apresentando papel contraditório, originando tanto impactos favoráveis quanto impactos desfavoráveis para o trabalhador. Fazendo uma análise de maneira mais ampla, nota-se que os resultados das novas tecnologias e das novas práticas desenvolvidas nas organizações afetam de maneira distinta os trabalhadores, sejaem países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Conforme Deluiz (1995) a flexibilização abarca a precarização e extinção de postos de trabalho e de direitos conquistados com muita luta, assimetria no contrato de trabalho, imposição de baixos salários, jornadas prolongadas, acréscimo do desemprego, informalidade, bicos e subempregos, acréscimo da miséria e pobreza urbana, e mais, aumento do estresse operacional e surgimento de novas maneiras de violência no trabalho. 2.3 A EVOLUÇÃO DA GESTÃO DE PESSOAS NAS ORGANIZAÇÕES Do ponto de vista de Chanlat (1996) a atmosfera organizacional é um ambiente dirigido para o desenvolvimento do melhor entendimento do comportamento humano, 15 contanto que assim percebido pelas pessoas, e que aproveita este conhecimento para transformar os indivíduos em mais produtivos e satisfeitos nas organizações. Leite (1995) discorre que as organizações configuram lugares de aprisionamento psicológico, sofrimento e repressão, gerando uma incessável batalha entre sujeito e organização individual e coletivo, lei e desejo. Entretanto, também proporcionam a elaboração de objetivos psíquicos sobre sujeito, subjetividade, sujeito trabalhador e trabalho, assim como, a criação e mudança de vivências sociais, históricas e materiais. No entendimento de Dejours (1996), atualmente, pensar no homem é, necessariamente, pensar no trabalho e vice-versa. Para ele a articulação entre indivíduo e coletivo, na vida sócio-cultural, passa pela dimensão do trabalho e sua importância e exaltação na sociedade ocidental concedem ao papel de trabalhador um lugar de destaque entre os diversos papeis sociais representativos do eu. Sendo a organização pertencente ao coletivo, e o sujeito ao individual, e considerando a ideia de que o espaço interno e o espaço externo à empresa são fundamentalmente indissociáveis do ponto de vista psicopatológico, o eterno conflito Individual versus Coletivo, Desejo versus Organização, não pode ser eliminado, e tão pouco desconsiderado ou regrado (DEJOURS, 1996, p. 154). Freitas (2002) diz que as organizações constroem, conscientemente e deliberadamente, sistemas que visam moldar os pensamentos e penetrar o mais íntimo do espaço psíquico, de maneira a concitar comportamentos indispensáveis à sua dinâmica. Para Leite (1995) os gerentes exercem papel fundamental nesse contexto dentro das organizações, pelo fato de terem ligação direta com a equipe e precisarem agir de forma efetiva de maneira a impedir quaisquer tipos de relacionamentos indesejáveis à cultura organizacional. As atribuições atreladas ao papel que os gerentes desempenham nas organizações são o ele entre os trabalhadores e aquela. Embora possam discordar das diretrizes organizacionais, eles têm dever de difundir as ideologias da organização. Utilizando as palavras de Freitas (2002, p. 98): “Uma das funções que este procura exercer é conseguir a adesão, o consentimento, ou seja, a coparticipação de indivíduos ou grupo de pessoas”. 16 Um dos grandes desafios no mundo do trabalho, ao longo dos anos, tem sido a gestão de pessoas, de acordo com França (2008). Frequentemente há um grande abismo entre o alinhamento das necessidades dos indivíduos e das organizações, onde busca-se alcançar um propósito comum, que torne possível o sucesso idealizado da atividade para a qual a organização está desempenhando. Novas alternativas de modelos de gestão mais flexíveis começaram a ser implementados nas organizações tomando o lugar dos arranjos organizacionais mais rígidos, onde tudo era centralizado e hierarquizado. Essas mudanças visam melhores resultados empresariais (FERNANDES, 2004). Wood (2000) defende que a evolução da gestão de pessoas ao longo da história passou por quatro fases as quais ele denominou de pré-jurídico-trabalhista (antes de 1930), burocrática (entre a década de 30 e 50), tecnicista (entre a década de 50 e 60) e sistêmica (em meados da década de 60 e as décadas de 80 e 90). Como aponta Gramigna (2002) qualquer tecnologia, por mais inovadora que seja, é incapaz de funcionar sem indivíduos, pois eles possuem habilidades que contribuem para a ruína ou êxito de qualquer empresa. Além disso, esses empregados possuem a urgência de nivelar seus desejos a um projeto comum, valendo-se de informações, emoções, expectativas, crenças e valores. Quando se deparam a um ambiente favorável, que condizem com seus desejos, os colaboradores são capazes de aplicar todo o seu potencial de maneira a beneficiar as organizações. Quando se sentem respeitados e valorizados tornam-se leais àqueles que criam a oportunidade de crescimento. Em contraparte, as organizações tornam-se mais competitivas em relação ao mercado com esse processo, sendo compostas por uma equipe com união, coesão e integrada em um objetivo comum, que vem a ser o resultado total das organizações. Isso justifica a necessidade de preocupação com elas. Além do mais, o fato das pessoas serem ouvidas, pode levá-las a sentirem- se responsáveis, comprometidas e encorajadas a agir no interesse do todo. A ideia é que as pessoas têm capacidade de identificar problemas e oportunidades (PRADA et al., 1999, p. 17). Segundo Gramigna (2002, p. 4) um dos indicadores de competitividade que mais preocupam os gestores é a capacidade da organização de desenvolver e reter capital intelectual, evitando a alta rotatividade no quadro de funcionários. Empresas que apresentam o elemento humano de maneira sólida destacam-se no mercado. 17 Provavelmente a maior parte das empresas ainda emprega os conceitos de competência e complexidade como maneira de extrair mais resultados do trabalho das pessoas, sem preocupar-se em desenvolvê-las. Como decorrência disso, Dutra (2008, p.206) recorda que a principal consequência nas organizações que permanecem nesse modelo será a dificuldade de manterem-se competitivas, conseguindo atrair e manter pessoas importantes para a organização. Além disso, Dutra (2008) afirma que é importante que seja estabelecido um novo sistema de gestão de talentos humanos, levando em consideração que suas bases formadoras são guiadas pela administração científica, onde uma série de atividades ou funções são desenvolvidas pelos homens, podendo criar distorções de interpretação na atividade organizacional, criando processos, instrumentos, orientações inadequadas para lidar com essa realidade. Para Gramigna (2002) tendências quanto ao foco principal da gestão de pessoas; à estrutura e forma de trabalho; ao foco dos profissionais; aos processos de recursos humanos e as de reformulação dos processos são que direcionam a gestão de pessoas para o futuro. Do ponto de vista da autora (2002), a gestão de pessoas passa a ser encarada como um eixo de resultados, em que parte o ajuste e correção dos processos e estratégias deverão contribuir na rapidez dos processos. Contudo, um ponto que possui grande relevância na existência de uma boa gestão de pessoas é a existência ou não-existência de qualidade de vida no trabalho. Esse ponto influencia diretamente no desenvolvimento da performance individual, e, por conseguinte, organizacional. 2.4 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO Na visão de Wood (2002), para que seja obtido êxito em relação aos programas de qualidade, as organizações voltam sua atenção para o engajamento dos funcionários, considerados parceiros do processo e que apresentam papel de grande relevância nesta relação, por serem os atores responsáveis pelo trabalho, acompanhamento e inspeção da qualidade dos produtos e serviços. Carvalho e Serafim (2002, p.168) falam que o sucesso de qualquer programa de melhoria da qualidade total está relacionado diretamente ao grau de atuação dos gerentes nos diversos níveis hierárquicos organizacionais. Torna-se necessária uma 18 atuação gerencial global voltada ao desejo de melhorana qualidade dos produtos e serviços ofertados. Basicamente o círculo de controle da qualidade procura desenvolver em cada participante seu potencial criativo, constituindo um modo de vida e uma filosofia de trabalho Embora um sistema de gestão da qualidade seja importante para as organizações, para Wood (2000, p.158) a prática desencadeia problemas em sua aplicação, os quais exigirão uma participação efetiva dos dirigentes da organização de modo a mitigar os impactos. Fonseca (2003) diz que os programas de qualidade total, da tolerância zero ao erro, o aparente afrouxamento da vinculação do trabalhador ao espaço e a flexibilização do tempo de trabalho, têm provocado novas questões que se unem às experiências da psicopatologia do trabalho, embora o limite entre a postura assumida pelo indivíduo no trabalho e aquela referente a sua vida privada está cada vez mais insignificante. A realidade empresarial que estimula a competição a qualquer custo, por vezes sem considerar os limites éticos, ocasionada pela alta demanda de oferta de mão-de- obra e pela diminuição de postos de trabalho, estabelece um cenário ideal para a difusão do assédio moral. Nessa conjuntura, práticas de assédio moral são irrompidas por meio de comportamentos abusivos que, “por sua reiteração, provocam danos à dignidade, integridade física e psicológica da pessoa, e, por conseguinte, a deterioração do ambiente de trabalho” (CAVALCANTE, 2005, p. 2). Ferreira (2004) explica como surge o tratamento hostil dentro das organizações, responsável por um processo grave como o assédio moral que gera pessoas infelizes. É provocado a partir de um sistema onde as pessoas são incentivadas a todo momento a defenderem o que é seu – seu emprego, sua produção, sua premiação – a qualquer preço, as outras pessoas que as rodeiam não são mais consideradas colegas de trabalho e são classificadas como inimigos em potencial. Como aponta França (2008), a qualidade de vida no trabalho foi utilizada nos Estados Unidos em meados dos anos 70, com o intuito de melhorar as condições de trabalho dos operários, tornando-as mais agradáveis e satisfatórias. O autor define a qualidade de vida no trabalho como a capacidade de administrar o conjunto de ações, incluindo diagnóstico, implantação de melhorias e 19 inovações gerenciais, tecnológicas e estruturais no ambiente de trabalho alinhada e construída na cultura organizacional, com prioridade absoluta para o bem-estar das pessoas da organização. O autor (2008) diz ainda que o tema qualidade de vida ao ser abordado pode tomar ideias e conceitos peculiares dependendo do ponto de vista analisado, sendo ele o individual ou da organização. Davis e Newstrom (2004) sugerem que a qualidade de vida no trabalho deveria ser considerada como os pontos favoráveis e desfavoráveis de um ambiente de trabalho para as pessoas, desenvolvendo ambientes bons para as pessoas e para a saúde econômica da organização. Para eles a qualidade de vida no trabalho produz um ambiente de trabalho mais humanizado. Sobre a qualidade de vida no trabalho, Honório (1998, p. 35, apud Sá, 2000) define como “uma experiência de humanização do trabalho, através do qual uma organização, alcança ganhos de produtividade e excelência empresarial, procurando satisfazer seus membros criando condições de trabalho que ofereçam: cargos produtivos e satisfatórios, atividades significativas e desafiadoras, sistema de recompensas desafiadores, informações compartilhadas, feedback constante, possibilidade de participação nas decisões e na solução de problemas e oportunidades de realização pessoal e profissional”. Alkimim (2005) diz que a conduta assediante é capaz de destruir o equilíbrio no meio ambiente de trabalho, comprometendo de maneira direta a qualidade de vida no trabalho e a satisfação do empregado, configurando um comportamento antiético, sendo oposta aos bons costumes e a boa-fé que deve guiar qualquer relação social ou jurídica. Walton (1973, apud Sá, 2000) propõe oito categorias conceituais que atuam como ferramenta para avaliação do grau de satisfação dos trabalhadores, sendo: remuneração justa e adequada; condições de trabalho; aplicabilidade e desenvolvimento de capacidades; circunstâncias de crescimento e segurança; integração social/organizacional; constitucionalismo; trabalho e o intervalo total da vida e a importância social do trabalho. Para Davis e Newstron (2004) o aumento da motivação dos colaboradores melhora diferentes aspectos e reduz os efeitos negativos. Com isso, deverá notar-se melhora no desempenho, além de um trabalho mais humano e produtivo. A 20 rotatividade, faltas, queixas e perdas de tempo devem sofrer redução. Desta forma, há um benefício mútuo entre trabalhador e sociedade. 2.5 ASSÉDIO MORAL: CONCEITOS E CARACTERIZAÇÃO Embora o tema assédio moral tenha ganhado mais destaque nos dias atuais, ele não é um assunto novo. Ao aprofundar os estudos sobre o tema pode-se subentender que ele é tão antigo quanto a origem das relações de trabalho, mas tornou-se tema de intenso debate ao final do século XX. O assédio moral sempre esteve presente nas relações humanas, desde os primórdios da civilização. Ele caracteriza-se por uma intimidação social, que pode se instaurar em qualquer tipo de hierarquia ou relação social que seja sustentada pela desigualdade social e autoritarismo, portanto, é uma conduta que pode ser observada em qualquer ambiente, como no lar, na família, na escola, nas corporações militares, eclesiásticas, dentre outras (DARCANCHY, 2005, p. 25). O estudo do assédio moral nas relações laborais começou quando o pesquisador de psicologia do trabalho Heinz Leymann publicou um artigo científico feito pelo Conselho Nacional de Segurança e Saúde Ocupacional da Suécia em 1984, discutindo pela primeira vez as consequências neuropsíquicas do denominado mobbing de pessoas que vivenciam humilhações e hostilidades no ambiente de trabalho (GUEDES, 2003, p.34). Leymann (2000) classifica o mobbing como um terror mental ou terror psicológico, em que as vítimas são superadas por um processo de violação sistemática de seus direitos, levando à exclusão do mercado de trabalho, pois impede as vítimas de encontrar trabalho, por causa do passado de estresse psicológico sofrido nos ambientes de trabalho anteriores. A definição de assédio moral, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o dicionário de Cambridge, é: um comportamento irracional, repetido, em relação a um determinado empregado ou a um grupo de empregados, criando um risco para a saúde mental e emocional como também para a segurança, que vão desde ofensas verbais a importunações sem propósito ou indesejadas de coação, podendo haver contato físico. (OMS, 2003). 21 Na literatura encontram-se diferentes visões sobre assédio moral no trabalho, a depender do contexto e da cultura. Para designar essas situações apresentam-se o uso dos termos mobbing, na Itália, Alemanha e países escandinavos; bulling ou harassment, nos Estados Unidos da América e na Inglaterra; psicoterror ou acoso moral, na Espanha; harcèlement moral, na França; ijime, no Japão e assédio moral ou terror psicológico no Brasil (ÁVILA, 2009). Hirigoyen (2002) aponta que houve a instauração de uma cultura competitiva nas organizações ao longo das últimas décadas, num histórico de evoluções do mundo trabalhista. De acordo com a autora a solidariedade perdeu espaço para o individualismo, egoísmo, perversidade, inveja e perseguições. Esses comportamentos geram um clima de terror psicológico, individual ou coletivamente, causando adoecimento dos trabalhadores que vivem sob medo, silêncio e grande desolação. No Brasil existem poucos estudos sobre o comportamento abusivo que normalmente ocorre em nível hierárquico (cima para baixo, de modo geral). Hirigoyen (2005, p. 17),denomina o assédio moral como ‘psicoterrorismo’. E ainda define o fenômeno como sendo qualquer conduta abusiva – como gestos, palavras, comportamentos ou atitudes – que atentem contra a dignidade ou integridade psíquica de uma pessoa. De acordo com a autora, as vítimas de assédio moral normalmente são subordinados que sofrem perseguição no trabalho de modo inicialmente discreto, pois o assediador não quer mostrar-se para os demais colegas de trabalho como alguém capaz de praticar esse tipo ação. Nas palavras de Barreto (2003, p. 107) o assédio moral é “a violência sutil – explicitada por situações de humilhação, intimidações, ameaças, discriminações, ironias, desvalorizações, desqualificações, assédio sexual e colonização da afetividade, as quais reafirmam a condição de submissão”. Heloani (2004) afirma que a humilhação, desprezo ou inação sofridas em local de trabalho, repetidamente, com o intuito de humilhação é capaz de destruir a autoestima do trabalhador, podendo ocasionar atitudes extremas por parte da vítima como um pedido de demissão ou ainda levá-lo a uma tentativa de cometer suicídio. Para Pamplona Filho (2006) o assédio moral pode ser definido como um comportamento abusivo, repetitivo, de natureza psicológica, que ofende a dignidade 22 psíquica humana e tem como objetivo induzir um sentimento de exclusão na vítima, em relação a interações ambientais e do convívio social. De acordo com Hirigoyen (2006) conduta abusiva pode ser definida como aquela que ocasiona danos à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, pondo seu emprego em risco ou degradando o ambiente de trabalho. Apresentam-se, especialmente, através de comportamentos, palavras, atos, gestos e escritos, constrangimento, partindo desde o isolamento, transpondo pela desqualificação profissional, culminando no terror com destruição psicológica da vítima (GUEDES, 2003, p. 33). O fenômeno do assédio moral ocorre quando uma pessoa, ou um grupo de pessoas pratica violência psicológica excessivamente, de maneira calculada e constante durante um vasto período de tempo – mais de seis meses e com uma frequência média de duas vezes por semana - contra outra pessoa do local de trabalho com o propósito de causar perturbação na execução do trabalho, difamação e conseguir que a(s) vítima(s) abandonem sua posição de trabalho (LEYMAN, 1990, p.121, apud GUIMARÃES E RIMOLI, 2006). Hirigoyen (2002) discorda da visão apresentada pelo autor anterior, e declara que não há necessidade dessa constância dos ataques para que o assédio moral seja caracterizado. As consequências do assédio moral serão vivenciadas pela vítima, sem importar a quantidade de vezes nas quais foi submetida à situação. Quanto maior a quantidade de vezes a que foi exposta, maiores poderão ser as consequências, numa relação de proporção direta. Assim sendo, o assédio moral no trabalho pode ser constatado como uma vivência durável, por parte do trabalhador, a condições constrangedoras e humilhantes de maneira constante e persistente, frequentemente apresentadas nas relações de hierarquia vertical, não sendo impossível o acontecimento na escala horizontal da estrutura organizacional. Ferreira (2004) afirma que o assédio moral subtrai a dignidade do homem como pessoa humana e como trabalhador que anseia pela valorização do seu trabalho. Esse fato independe de onde surgem os ataques, individualmente ou provenientes de um grupo; do intuito do assediador, seja declarado ou velado pela destruição do outro; ou da intenção de sua utilização, se para forçar uma adaptação por parte dos 23 empregados ou força-los a deixar o trabalho. É uma questão complexa que compreende acima de tudo um juízo de valor. Santos (2003) fala sobre a ligação entre as consequências às vítimas de assédio moral e a intensidade e duração da agressão. Ele declara que as consequências específicas em curto prazo são o estresse e a ansiedade combinados ao sentimento de humilhação e impotência. Destes danos derivam perturbações físicas como: cansaço, nervosismo, distúrbios do sono, enxaqueca, distúrbios digestivos, dores na coluna, etc. Devido a uma hiperestimulação o organismo desenvolve tais resultados como autodefesa, que a longo prazo, pode originar choque, ansiedade ou até mesmo depressão. As vítimas de assédio moral passam a ser isoladas do grupo sem explicações, sendo hostilizadas, desacreditadas, ridicularizadas e culpabilizadas perante os pares (HELOANI, 2004). Com base nas definições estudadas pode-se apontar como caracterização do assédio moral a repetição de comportamentos hostis no ambiente organizacional, humilhações constantes, falta de respeito pelo outro e o desejo desumano em prejudicar, rebaixar, desmoralizar e, por fim, fazer com que o trabalhador entregue o cargo ocupado. Ao caracterizar o assédio moral, Hirigoyen (2006) fala que ele inicia de maneira aparentemente inofensiva, quase imperceptível, a princípio a vítima parece não se ofender com o fato e nem dá a devida importância, contudo, quando os eventos passam a ocorrer sistematicamente de maneira mais frequente, este começa a sentir- se perseguido, rebaixado e inferiorizado. No decorrer da situação, a vítima desenvolve fobia ao simples fato de ver quem o assedia, manifestando medo, em caso de resistência, o assediador encontrará uma armadilha para confundir a vítima e a induzir ao erro, de maneira a justificar a situação do assédio moral. Com base em sua pesquisa clínica, Hirigoyen (2006) apontou que o assédio moral inclui três fases distintas, a saber: sedução perversa, comunicação perversa e violência perversa. No estágio da sedução perversa, a vítima é desestabilizada pelo agressor e gradualmente perde a confiança em si mesma. O objetivo é subjugar irresistivelmente os outros, corrompê-lo e suborná-lo, conquistar os desejos daqueles que o respeitam, e o objetivo é destruí-lo porque ele representa uma ameaça. Assim, refere-se à 24 tentação de desestabilizar a vítima, perturbá-la e fazê-la perder a autoconfiança; monitorar e assim, limitar sua liberdade (HIRIGOYEN, 2006, p. 109). Durante a fase da comunicação perversa, o assediador utiliza um mecanismo que faz parecer que há comunicação, não é de fato uma comunicação que adiciona, mas uma comunicação que distancia e dificulta o processo comunicativo, com a finalidade de tirar vantagem da outra pessoa e impedi-la de compreender o processo, tornando-o mais confuso. Outras situações, suposições e silêncios não mencionados podem levar a um estado de sofrimento para a vítima (HIRIGOYEN, 2006, p.112). Por último, começa a fase da violência perversa. Nesse estágio, o assediador se sente ameaçado e em perigo e acredita que precisa se livrar da vítima a todo custo. Neste momento o ódio torna-se visível, o outro é perseguido. O agressor tentar fazer com que a vítima cometa algo contra ele, induz o outro a usar seus mecanismos, induz o outro a quebrar as regras, acusando-o de ser mau, então é natural que ele seja acusado de ser o agressor. O que o perverso quer é inserir seu mal interior na outra pessoa. O que importa é fazer com que a vítima aparente ser culpada pelo que aconteceu, fazê-la perder o orgulho de si mesma, sentindo-se responsável e justificando-se por coisas que não são culpa dela. (HIRIGOYEN, 2006, p. 131-138). Nas palavras de Leal (2009, p.29) o assédio moral é uma prática que ocorre com grande discrição e ocultação, até invisibilidade, por meio de comportamentos considerados legítimos, mas que simulam perseguição, abuso e comportamento arbitrário. Assim, impõe-se a dificuldade de ligar com um inimigo invisível, que ao assediar o sujeito, pode alegar ser apenas uma brincadeira ou uma falsa impressão que o assediado teve, por exemplo. Rufino (2009) ainda ressalta que o caráter da invisibilidade, por vezes presentenas situações de assédio moral, porquanto assegura que essas condutas são sutis, podendo passar desapercebidas pelas pessoas de convívio no trabalho. Por tal motivo, a autora sustenta que o assédio é citado como “risco invisível” frequentemente. Para Guimamães e Rimoli (2006) o assédio moral tem como objetivo a humilhação, intimidação, amedrontamento e o consumo emocional e intelectual das vítimas, objetivando a eliminação do indivíduo da organização ou satisfação do desejo inexplicável de agressão, controle e destruição que se apresenta no assediador, que 25 tira proveito da situação organizacional particular para conduzir uma série de atitudes e comportamentos beirando a psicopatia. O assédio moral pode ocorrer em todas as direções da escala hierárquica organizacional, podendo ser classificado como vertical, horizontal ou misto. O assédio vertical pode acontecer tanto na linha descendente (mais comum), praticado por alguém de posição superior, quanto na linha ascendente (incomum). Também não raro acontece o assédio na linha horizontal praticado entre colegas e o assédio misto, onde acontece assédio vertical e horizontal (HIRIGOYEN, 2006). O assédio vertical descendente é caracterizado por atos perversos praticados pelos superiores hierárquicos contra seus subordinados. É o tipo de assédio mais comum. Refere-se a um comportamento no qual a pessoa detentora do poder de comando busca determinar o espaço desse poder. (GUIMARÃES; RIMOLI, 2006). O assédio vertical ascendente ocorre quando subordinados praticam violência psicológica contra um superior hierárquico. É mais incomum de acontecer, mas não menos cruel (GUEDES, 2003, P. 38). O assédio moral horizontal é aquele praticado entre colegas de trabalho do mesmo nível hierárquico. Os conflitos podem ser ocasionados por motivos pessoais, tais como atributos pessoais, profissionais, dificuldade de relacionamento, falta de cooperação, discriminação sexual, destaque junto à chefia. Outro fator considerado desencadeador desse tipo de violência é a competitividade presente nas organizações atualmente (ALKIMIN, 2005, p. 64). Guedes (2003) endossa que o terror psicológico no trabalho não ocorre obrigatoriamente vindo do superior, também por ser originado dos colegas de trabalho da vítima, através dos quais a violência psicológica pode ser desencadeada. Pamplona Filho (2006, p. 1079) denuncia que o assédio moral nas relações de trabalho adota nuances dramáticas, por causa da necessidade de um dos sujeitos, para quem a possibilidade de perda do posto de trabalho e da subsistência apavora, levando a vítima a se submeter aos mais terríveis caprichos e desatinos, não apenas por parte de seu empregador, mas também por seus colegas de trabalho. Diversos são os conceitos e definições para assédio moral no trabalho, mas todos eles trazem em comum a prática humilhante e degradante, visando atingir a moral, a integridade física e psíquica do trabalho, no ambiente organizacional. Inevitável, assim, que a sujeição do trabalhador a práticas humilhantes representa 26 violação à própria dignidade do trabalhador. O elemento central atingido pelo assédio moral é a dignidade humana (FERREIRA, 2004, p. 96). 2.6 PERFIL DO ASSEDIADOR E DA VÍTIMA Hirigoyen (2006) delineia claramente o perfil do agressor, chegando à conclusão, com base em suas experiências, que todo agressor perverso possui uma personalidade narcisista. Essas pessoas praticam o mal por não acharem outra maneira de existência. São conceituados psicóticos sem sintomas, que tentam alcançar equilíbrio descontando em outrem a dor e as contradições internas que tentam encobrir. Os fatores que movem o manipulador podem ser diversos, como recorda Silva (2005), pode ser desde uma simples inveja até a busca pelo poder, mas a motivação mais constante é a discriminação. Independente da motivação, o assédio indica uma deturpação de caráter do assediador. Para Silva (2005) o assediador é um sujeito desprovido de ética, que age sem qualquer nobreza de caráter, que sente prazer em ver sua vítima perecer diante de seus constantes e perversos ataques. Ege (2000) diz que não é simples sugerir um perfil psicológico que possa tornar a pessoa mais propensa a ser vítima do assédio moral. Estudos demonstram até o momento que qualquer pessoa pode tornar-se vítima, não existindo uma categoria pré-determinada a isso. Guedes (2003) aponta que o assediador busca nas vítimas qualidades que lhe faltam, e que o outro apresenta em abundância. Então, pode-se dizer que as vítimas são escolhidas pelos agressores por possuírem qualidades profissionais e morais consideradas valiosas ao assediador, que tem a intenção de roubá-las. Silva (2005) adverte, no entanto, que não há um perfil exclusivo e que pessoas com características completamente opostas também podem se tornar alvos fáceis da arrogância e da perversidade do assediador. Embora não se possa apontar um perfil psicológico específico para as pessoas assediadas, existem contextos profissionais e situações que favorecem a ocorrência do assédio. Pessoas que possuem personalidades diferentes do padrão perturbam pelo simples fato de serem extremamente honestas, excessivamente éticas ou dinâmicas demais. Essas pessoas têm maior dificuldade em se encaixar no grupo, por 27 serem resistentes em manter sua personalidade e não se tornarem iguais aos outros. Também são alvos fáceis aquelas pessoas que passam a ser alvo de discriminação em função de sexo, cor da pele, aparência física ou competência. Cita-se ainda aquelas pessoas menos produtivas, momentaneamente fragilizadas, empregados estáveis e empregados isolados (HIRIGOYEN, 2005, p. 219). O trabalhador vítima de assédio moral, a priori, não é passível nem dócil. O ato de reagir às ações perversas e discordar da postura administrativa adotada pelo assediador enquanto detentor do poder a torna vítima. A postura de recusa em se submeter à autoridade, a despeito das pressões, a elegem alvo. De acordo com Parreira (2007) em situações de assédio é possível observar cinco grupos distintos. O primeiro grupo identificado é aquele que assiste tudo e nada faz a respeito; o segundo grupo é o que finge não ver o que acontece; o terceiro grupo tenta ajudar a vítima no princípio, mas acaba desestimulado e não toca mais no assunto; o quarto grupo, o menor de todos, que se solidariza com a vítima e se propõem a serem testemunhas, caso necessário; e o quinto grupo, constituído por aproveitadores da situação que também hostilizam a vítima, tendo seus comportamentos estimulados e incentivados pela chefia. 2.7 ASSÉDIO: MAIOR FREQUÊNCIA NO SETOR PÚBLICO No âmbito das organizações privadas, os supervisores diretos têm muito poder sobre seus subordinados e, se um funcionário não atender aos requisitos de produtividade da empresa, ele pode ameaçar o desemprego. Claramente, demissões injustificadas podem desencadear ações trabalhistas que podem resultar em pesadas multas para esses patrões ou empresas. No âmbito do serviço público, seja no regime CLT ou estatutário, a probabilidade de ser demitido é menor. Depois de um tempo, o funcionário passa a ter estabilidade, o que lhe garante privilégios, inclusive impor-se contra seu chefe. O chefe, muitas vezes, devido à falta de preparo e sem poder demiti-lo, começar a praticar humilhações e colocá-lo em sobrecarga de tarefas inúteis (Wagner, 2012, p. 9). Outra razão é que às vezes os chefes são selecionados não por mérito, mas por indicação política. Isso cria uma enorme quantidade de ressentimento, com 28 funcionários conspirando contra o chefe, deixando-o falar sozinho e discordando fortemente dele. A resposta é quase sempre assédio. Despreparado, torna-se mandão, autoritário e se considera intocável. Ele costuma usar a lei para proteger seus aliados e as mesmas leispara destruir psicologicamente seus oponentes. 2.8 CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDIO MORAL De acordo com pesquisas desenvolvidas com a finalidade de conhecer as consequências do assédio moral, a situação do assédio reduz a saúde psicológica e física das vítimas, afetando negativamente o bem-estar e a eficiência de outros trabalhadores, instaurando negligência, absenteísmo e aumento considerável no pedido de licenças médicas e afastamentos por doenças (GUIMARÃES e RIMOLI, 2006, P.188). Barreto (2003) chegou à conclusão que o assédio moral, forma de agressão psicológica, tornou-se um problema de saúde pública, ganhando o juízo de processo biopsicossocial. Ao sentir-se humilhada a vítima acredita que é incapaz, inferior, inútil, um fracasso que não serve para nada, um ninguém, etc. Esses sentimentos causam barreiras ao “normal”, compelindo novas “maneiras de tocar a vida” que perturbam a sua existência, impossibilitando de reagir naturalmente às situações e às “deslealdades do meio”. Segundo Zaft (1999 apud Corrêa, 2004, p.47) o agressor pode ter como objetivo causar o afastamento do assediado da empresa. Ainda assim, uma série de fatores existentes nas organizações também corroboram para o surgimento do assédio moral, tais como cultura da empresa ou também a pressão para o trabalho, ou ainda aspectos individuais dos colaboradores como raça, gênero, religião, preferências políticas, dentre outros. Diante das consequências causas pelo assédio moral, a vítima passa a apresentar um perfil obsessivo, depressivo ou ansioso, podendo refletir negativamente no grupo social. Barreto (2003) elenca algumas práticas humilhantes que configuram assédio moral, tais como: o ato de supervisionar idas ao banheiro, controlar atividades e idas ao médico, amedrontar, vedar conversas no ambiente de trabalho, menosprezar explicita e publicamente as dificuldades, rebaixar, diminuir, não cumprimentar, inferiorizar a vítima, e outras. 29 O autor afirma que “são essas as práticas que qualificam as relações no trabalho como autoritárias, que impõem medo e se refletirá na subjetividade, espaço invisível, que repercutirá nas relações familiares e amizades, impondo uma nova ordem às emoções˜. Ainda de acordo com o autor podem ser mencionados dois momentos distintos na vida do trabalhador: antecedente e posterior ao ato do assédio moral. Antes de passar por humilhações no trabalho, a vítima recordará positivamente da empresa, falando das boas lembranças, com satisfação, felicidade e saúde. Após passar pelo assédio moral, o indivíduo reinterpreta as memórias e passa a ver a empresa com pesar, preenchido de incertezas e com muitas dificuldades. O perverso age de forma a desestabilizar e explorar psicologicamente a vítima através da dominação. Por meio de práticas como recusar comunicação, desqualificar, destruir a autoestima, cortar relações sociais, vexar, constranger, ferir a vítima em seu amor próprio, fazendo que ela sinta sua dignidade atingida, com a súbita perda da autoconfiança (FELKER, 2006, p. 172). As práticas vexatórias, agressivas e constrangedoras afetam profundamente a autoestima das vítimas, despertando nela sentimentos de humilhação e inferiorização que comprometerão sua produtividade no trabalho (NASCIMENTO, S., 2004, p. 924). Silva (2005) ensina que o assédio moral gera consequências severas à vítima, especificamente em duas áreas: saúde e patrimônio. E a partir dessas duas surge uma terceira derivação, tudo quanto provocado pelo processo psicoterrorista às relações interpessoais da vítima, especialmente no que se refere à família e ao convívio social. Para Rufino (2009) os episódios de assédio moral acabam por ocasionar danos psicológicos nos trabalhadores, afetando diretamente no desempenho do trabalho, de maneira a reduzir a produtividade e a lucratividade da empresa. Porém, dentro do contexto levantado pelo autor anterior, para Garcia e Tolfo (2011, p. 191) os maiores efeitos ainda recaem sobre os indivíduos que sofrem o assédio, especialmente porquanto as causas que compreendem o ato ficam inseridas em um espaço confuso e inquestionável, originando inconveniências que levam a graves danos psíquicos, afetando a personalidade, identidade e autoestima das vítimas. 30 O assédio moral afeta o equilíbrio emocional da pessoa e altera seu modo de se relacionar com o mundo e com os demais indivíduos. A insegurança, a baixa autoestima e o sentimento de impotência geram comportamentos de intolerância, frustração, isolamento e agressividade nas relações afetivas do indivíduo, como, por exemplo, as relações familiares (CAMPOS, 2006, p. 40). Os transtornos mentais relacionados ao trabalho são responsáveis por 14,2% das aposentadorias por invalidez e por 9,1% das causas de auxílio doença na década de 1980 (ROUQUAYROL, 1993, p. 392). “Diante de uma situação estressante, o organismo reage pondo-se em estado de alerta, produzindo substâncias hormonais, causando depressão do sistema imunológico e modificação dos neurotransmissores cerebrais” (HIRIGOYEN, 2002, p. 173). O assédio moral pode causar ou agravar muitos transtornos psicopatológicos, psicossomáticos e comportamentais. Isso depende da duração e da intensidade dos estímulos agressores e também das capacidades idiossincrásicas de cada indivíduo, as denominadas “predisposições” ou “fatores intrínsecos” (ROUQUAYROL, 1993, p. 10). Uma pesquisa realizada por Barreto (2003) mostrou alguns sintomas como principais resultados do assédio moral dentro das organizações, tais como: irritabilidade, dores generalizadas e esporádicas, raiva, desejo de vingança, alterações do sono, medo exacerbado, depressão, palpitações e tremores, tristeza, melancolia, dores de cabeça, sentimentos de revolta, pensamentos confusos e alterações na pressão arterial. Ainda segundo o autor (2006), alguns exemplos de emoções relatadas pelas vítimas de assédio moral no trabalho são sentir-se descartado sem querer, perder a finalidade do viver, sentir-se solitário, jogado à própria sorte, doente e sem valor. 2.9 MEDIDAS PREVENTIVAS AO ASSÉDIO MORAL Sendo as organizações responsáveis pelos acontecimentos ocorridos dentro das empresas e pelas ações de seus colaboradores, tornam-se também responsáveis por adotar medidas que coíbam a prática do assédio moral dentro de seu ambiente. 31 Para que isso ocorra, como aponta Hirigoyen (2002, p.191) “o primeiro passo é observar bem o processo do assédio, visando verificar a frequência dos acontecimentos e se estes afetam a integridade e a dignidade humana, através de um ambiente humilhante e hostil”. Guimarães e Rimoli (2006) destacam a importância de elaborar planos preventivos, tanto de formação e informação, bem como inserção de protocolos de ação adequados. Tais protocolos objetivam a orientação da abordagem organizacional de maneira a diminuir e evitar a ocorrência de assédio; criar tipos de gestão do conflito e liderança participativa; instituir ferramentas de comunicação eficazes e que fiquem disponíveis a todos dentro da organização; apresentar indicadores que mostrem a situação organizacional em relação ao assédio moral. 2.10 IMPLICAÇÃO JURÍDICA DO ASSÉDIO MORAL O assédio moral passou a ter relevância jurídica no Brasil desde 1988, quando a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF/88) introduziu a defesa da personalidade como um dos direitos fundamentais do homem e tornou jurídico o dano moral (FONSECA, 2003, p. 675). Menezes (2004, p. 10) expõe que o assédio moral vai contra o princípio constitucional fundamental da dignidade da pessoa humana indicado no artigo 1º, inciso III, da CF/88 como o preceito constitucional que garante o meio ambiente de trabalho sadio imposto no artigo 225 do mesmo diploma legal, direito fundamental também firmado nos preceitos do Capítulo V, do Título II daCLT, que versam sobre segurança e medicina do trabalho. De certo que o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana conduz as relações de trabalho, o assédio moral no ambiente de trabalho viola tal princípio. Portanto, merece tutela jurídica, pois quando uma pessoa sofre humilhação, discriminação, perseguição ou desprezo, a dignidade não lhe está sendo garantida (LEDUR, 1998). Para Guedes (2003, p. 97) o assédio moral merece ser tutelado juridicamente, uma vez que se traduz em verdadeira redução da própria personalidade humana, bloqueando o desenvolvimento do ser humano, afrontando diretamente sua dignidade. 32 Conforme aponta Silva (2005), a realidade no Brasil é que a grande maioria dos trabalhadores não tem ideia do que se trata assédio moral. Alguns trabalhadores que são filiados a sindicatos podem ter alguma noção sobre o assunto, mas a maior parte figura como vítima, incorporando os danos à saúde, ao seu patrimônio e às suas relações interpessoais sem nem ao menos saber do que realmente está acontecendo. Muniz (2006) recorda que as pessoas narram circunstâncias vividas que poderiam ser classificadas como assédio moral, mas não percebem isso; realmente não há um conhecimento sobre o assunto. O autor diz ainda que a informação é o melhor caminho e que o tema assédio moral deveria virar um assunto cotidiano. Santos (2004) declara que o assédio moral também precisa ser reprimido no contexto criminal, de acordo com o projeto de lei federal de reforma do Código Penal, dirigido pelo deputado federal Inácio Arruda, entre outros projetos existentes. O assédio moral perpetrado pelo empregador ou superior hierárquico suscita descumprimento da obrigação contratual e geral do respeito à dignidade da pessoa do trabalhador. Assim, o empregado pode buscar proteção jurídica solicitando a despedida indireta, de acordo com o art. 483, da CLT (ALKIMIN, 2005, p. 63). Recentemente, mais precisamente em março de 2019, foi aprovado pela câmara federal o projeto de lei 4742/2001 que configura o assédio moral no trabalho como crime. De acordo com a lei, o assédio moral define-se pela regulamentar conduta de violação da dignidade de outra pessoa, precursora de danos ou sofrimento físico ou mental. A matéria está em tramitação na Comissão de Constituição e Justiça. O texto altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), para tipificar o crime de assédio moral. 3. METODOLOGIA 3.1 TIPO DE ESTUDO Este estudo se caracteriza como exploratório com abordagem quantitativa. Segundo Gil (2017, p. 41), a pesquisa exploratória "[...] tem como objetivo primordial melhorar o pensamento [...]", enquanto a pesquisa descritiva visa "estudar as características de uma população", proporcionando uma maior aproximação com o 33 objeto estudado. Isso é essencial para identificar e descrever o caráter e a realidade dos estagiários nas suas respectivas organizações. De acordo com os ensinamentos de Richardson (1989), essa abordagem caracteriza-se pelo uso da quantificação, que vai da mais simples à mais complexa, tanto na forma como a informação é coletada quanto na forma como ela é processada por meio de técnicas estatísticas. Ao planejar tal estudo, primeiro identifica-se variáveis específicas que podem ser importantes para explicar a natureza complexa do problema (RICHARDSON, 1989). Além disso, de acordo com Richardson (1989), embora muitos experimentos nas ciências sociais sejam limitados pelas características do sujeito, ferramentas de avaliação utilizadas, fatores de tempo, personalidade humana, etc., isso pode significar que os profissionais estão propensos a imprecisões graves de acordo com resultados experimentais. A pesquisa tem como base histórias reais vivenciadas por algumas pessoas que foram vítimas de assédio moral. Deste modo, tendo como fonte de análise perguntas respondidas através de um formulário do Google Forms. A pesquisa em questão apresenta-se de natureza quantitativa, buscando a interpretação do que está em observação e seu real significado dentro de um dado contexto, nesse caso, o ambiente organizacional. 3.2 UNIVERSO E AMOSTRA A delimitação do público alvo em questão faz com que o universo amostral seja um pouco mais reduzido. Esses se caracterizam pela particularidade vinculada ao tipo de relação de trabalho existente. Assim sendo, o intuito é fazer um levantamento de análises estatísticas, buscando-se não generalizações, mas as particularidades. Preza-se pela objetividade da pesquisa, mas focando-se também nas ideias por trás das respostas à pesquisa. O público da pesquisa é formado por estudantes que foram ou ainda são estagiários, sem instituição específica, que vivenciaram assédio moral dentro da organização e se dispuseram a responder o questionário elaborado. 34 Os voluntários que participaram da pesquisa foram contactados das seguintes formas: através de conversas informais no ambiente universitário, grupos de WhatsApp e plataforma social relacionada a empregos. Vale ressaltar que não há, necessariamente, qualquer tipo de relação entre as pessoas entrevistadas. Ademais, busca-se entender o perfil de um possível subgrupo e uma melhor compreensão das consequências apresentadas tanto na vida acadêmica quanto na vida profissional das vítimas. A amostra foi composta por um total de 53 estudantes que prestam/prestavam estágio em instituições públicas e privadas (que terão seus nomes mantidos em sigilo) e sofreram assédio moral durante o exercício de suas atividades. 3.3 PLANO DE COLETA DE DADOS A coleta de dados se deu através de questionário Google Forms, respeitando- se o sigilo das informações obtidas através das respostas de cada um dos voluntários. Conquanto o objetivo da pesquisa seja, principalmente, criar dados para análises estatísticas, as perguntas foram as mesmas e não mudaram a ordem, pois a alteração na ordem das perguntas não ocasionaria diferença nos resultados esperados. O questionário seguiu um roteiro de 25 perguntas, das quais apenas duas não possuem resposta obrigatória. As perguntas possuem caráter objetivo com questões de múltipla escolha, caixa de seleção e também questões discursivas de respostas breves. O questionário foi aplicado entre as datas de 07 de junho de 2022 a 16 de junho de 2022. O quadro 01 apresentado reúne a relação entre as perguntas a serem respondidas na pesquisa e os objetivos geral e específicos: 35 Quadro 01 – Relação entre questionário aplicado e os objetivos da pesquisa OBJETIVOS QUESTÕES Traçar o perfil das vítimas do assédio moral a fim de analisar possíveis relações entre o fato e o tipo de instituição, raça, orientação sexual ou outra característica. 1 – 11 Verificar as principais formas como o assédio moral é praticado nas organizações 12 - 17 Elencar os sintomas e consequências do assédio moral na vida dos estagiários 18 – 24 Analisar os danos causados à saúde das vítimas e como isso afeta a qualidade de vida. Esse objetivo será atingido com base na análise das respostas Verificar os efeitos causados pelo assédio na vida pessoal e academia dos estagiários. Esse objetivo será atingido com base na análise das respostas Fonte: Quadro elaborado pela autora. 3.4 PLANO DE ANÁLISE DOS DADOS Dois métodos serão utilizados para analisar os dados obtidos através do questionário. O primeiro método é o quantitativo, que de acordo com Richardson (1989), caracteriza-se pelo uso de quantificação, tanto ao coletar informações quanto ao processar as mesmas informações utilizando-se de técnicas estatísticas. Esse apanhado com ênfase em números ou informações pode ser convertido em informações para que possam ser analisados, nas hipóteses de ocorrência ou não ocorrência. O segundo método usado paraa análise do questionário é qualitativo. Segundo Richardson, esse método difere dos métodos quantitativos, pois não se destina a medir ou contar categorias. Neste método, a informação não é representada numericamente (RICHARDSON, 1989, p. 29). Os métodos qualitativos incluem "Reflexão e análise da realidade por meio do uso de ferramentas para uma 36 compreensão detalhada dos objetos em seu contexto histórico e/ou de acordo com sua estrutura" (OLIVEIRA, 2007, p. 16). 4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS 4.1 RELAÇÃO DE FAIXA ETÁRIA O levantamento de faixa etária obteve resultados onde predominam estudantes na idade de 26 a 30 anos, representando aproximadamente 36% do público entrevistado, seguidos pela faixa etária de 21 a 25 anos, o que equivale a aproximadamente 26% do total. A maior incidência dessas faixas etárias nos mostra que a maioria do público se encontra naquela fase de inserção e/ou primeiras experiências no mercado profissional. Além disso, aproximadamente 19% do público respondente apresentou faixa etária acima dos 30 anos. Os outros 19% foram compostos pela faixa etária entre 16 e 20 anos, idade em que muitos jovens estão ingressando em sua primeira graduação. Gráfico 1: Faixa etária 37 4.2 RELAÇÃO DE GÊNERO E SEXUALIDADE Quanto ao gênero dos respondentes, aproximadamente 59% dos estagiários que sofreram assédio são do sexo feminino, o que nos dá um total restante de 41% para o sexo masculino. Gráfico 2: Gêneros Dentro dos 41% de homens que sofreram assédio moral, aproximadamente 73% responderam que são homossexuais. Gráfico 3: Gênero masculino e sexualidade 38 59% de mulheres respondentes vítimas de assédio moral, 39% responderam que são homossexuais. Gráfico 4: Gênero feminino e sexualidade Através dos dados obtidos reforça-se o que foi estudado, onde ficou conhecido que os principais alvos do assédio moral dentro das organizações são as mulheres e, quando homens, em sua maioria possuem orientação sexual homoafetiva (IPRC, 2020). Essas características tornam as vítimas, aos olhos dos assediadores, alvos fáceis, pois os consideram frágeis (HIRIGOYEN, 2005). 4.3 RELAÇÃO DE COR/RAÇA Do total de 53 respondentes, aproximadamente 45% indicaram que são pretos e 34% sinalizaram que são pardos, nos dando o valor de 79% em relação ao total. Apenas 17% responderam que são da cor branca e aproximadamente 4% informaram que são indígenas. Esses dados reforçam que negros e pardos sofrem mais assédio moral do que outras etnias. Isso mostra que há realmente um abismo racial dentro dos ambientes organizacionais, evidenciando a desigualdade estrutural em relação à questão racial na sociedade, conforme constatado pela pesquisa do IPRC (2020). Ao cruzar os dados de gênero e raça, obteve-se que as maiores vítimas de assédio moral são mulheres negras, indo de encontro aos resultados obtidos em 39 pesquisas realizadas pelo IPRC, Vagas.com, Ministério Público do Trabalho (MPT) e Comitê de Prevenção e Enfrentamento do Assédio Moral e do Assédio Sexual e da Discriminação no Poder Judiciário. Gráfico 5: Cor/Raça 4.4 RELAÇÃO DO TIPO DE INSTITUIÇÃO Do total de respondentes, aproximadamente 62% afirmaram que prestaram estágio em instituições públicas e 38% em instituições privadas. Gráfico 6: Tipo de instituição 40 Esses dados seguem a mesma direção apontada no estudo realizado por Wagner (2012), onde constata-se que funcionários de instituições públicas tendem a sofrer mais assédio do que funcionários de instituições privadas, pelo fato dos cargos públicos apresentarem certa estabilidade. Contudo, a porcentagem apresentada em instituições privadas já se apresenta com certa expressividade. Isso pode ser relacionado ao fato dos novos modelos de gestão adotados pelas organizações, conforme apontado por Gramigna (2002). Esses novos modelos ganharam força acompanhando o boom de empresas tipo start-up que apresentam um sistema de escalada profissional competitivo e prometem culturas organizacionais mais engajadas com valores aparentemente humanos, mas que muitas vezes não são postos em prática e ainda por cima estimulam a competição entre os colaboradores. 4.5 RELAÇÃO DE GRAU HIERÁRQUICO Em relação ao grau hierárquico dos assediadores, 85% dos respondentes sinalizaram que sofriam assédio moral por parte de seus superiores/ gestores. Apenas 7,5% responderam que sofriam assédio por parte de colaboradores de mesmo nível hierárquico e os outros 7,5% responderam que sofriam a violência por parte de ambos. Gráfico 7: Grau hierárquico 41 O número expressivo obtido confirma o que foi indicado por Hirigoyen (2006), onde é apontado que o tipo mais comum de assédio moral praticado nas organizações é o vertical descente. Nesse tipo de assédio os superiores praticam atos perversos contra seus subordinados (HIRIGOYEN, 2006). A relação frágil de estágio, não caracterizada como vínculo empregatício, favorece esse tipo de prática (RODRIGUES, 2017). 4.6 FORMAS DE ASSÉDIO Foram elencadas oito formas diferentes de assédio, onde era possível selecionar apenas um ou vários tipos. Do total de 53 respondentes, todos informaram que sofreram assédio moral de maneira psicológica. Outros tipos de assédio mais comumente citados foram na forma de sobrecarga de tarefas, assédio verbal, boatos/ fofocas e controle de tempo (vigilância), conforme observado no gráfico 8. Também foram apontadas outras formas de assédio com menor frequência. Gráfico 8: Formas de assédio Sendo o assédio moral psicológico o mais frequente, tem-se que suas consequências podem afetar não somente a saúde mental, mas também a saúde física dos estagiários. O estresse psicológico vivenciado durante um certo período de 42 tempo também causa estresse físico ao corpo do indivíduo. O terror psicológico é capaz de causar doenças como depressão, stress, etc. (GUEDES, 2003). Lembrando que só estamos caracterizando como assédio quando há frequência de ocorrências, se fosse algo esporádico não causaria danos à saúde e não seriam caracterizados como assédio. 4.7 SINTOMAS OCASIONADOS PELO ASSÉDIO Para opção de respostas foram elencados vinte e dois sintomas, levando-se em consideração os sintomas mais comumente apresentados por vítimas de assédio moral em outras pesquisas. Era possível selecionar apenas um sintoma ou vários sintomas ao mesmo tempo. Os principais sintomas citados foram: ansiedade, desânimo, irritabilidade, insônia ou sonolência excessiva, dor de cabeça, esgotamento físico ou mental, falta de apetite, sentimento de inutilidade, depressão falta de ar e palpitações, tremores. Gráfico 9: Sintomas apresentado após assédio A partir dos dados obtidos é seguro afirmar que as vítimas de assédio não apresentam apenas um sintoma isolado, geralmente os sintomas vêm em duplas ou mais. 43 O sintoma que teve maior número de menções foi o de ansiedade, onde 49 dos respondentes afirmaram terem vivenciado. O segundo sintoma mais mencionado foi o desânimo, seguido por irritabilidade, dor de cabeça e insônia ou sonolência excessiva. Também foram muito citados sintomas tais como esgotamento físico e/ou mental, falta de apetite, sentimento de inutilidade e também a depressão. É possível observar que o assédio moral realmente trouxe danos tanto à saúde física quanto à saúde mental dos estagiários, o que interferiu diretamente na qualidade de vida pessoal, profissional e acadêmica das vítimas em questão. Ao analisar todos os resultados verificou-se que há uma maior incidência de sintomas emocionais em relação aos físicos, porém alguns sintomas emocionais quando prolongados podem findar ocasionando sintomas físicos relacionados a eles. Quando a mente adoece
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