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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA ANDREZA CONCEIÇÃO VÉRAS DE AGUIAR GUERRA BIOMARCADORES URINÁRIOS PARA DETECÇÃO DA ENDOMETRIOSE: UMA REVISÃO INTEGRATIVA NATAL/RN 2022 ANDREZA CONCEIÇÃO VÉRAS DE AGUIAR GUERRA BIOMARCADORES URINÁRIOS PARA DETECÇÃO DA ENDOMETRIOSE: UMA REVISÃO INTEGRATIVA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para a obtenção do título de Bacharel em Farmácia. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Deyse de Souza Dantas NATAL/RN 2022 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS Guerra, Andreza Conceição Véras de Aguiar. Biomarcadores urinários para detecção da endometriose: uma revisão integrativa / Andreza Conceição Véras de Aguiar Guerra. - 2022. 24f.: il. Trabalho de Conclusão de Curso - TCC (graduação) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Farmácia. Natal, RN, 2022. Orientadora: Deyse de Souza Dantas. 1. Endometriose - TCC. 2. Biomarcador - TCC. 3. Urina - TCC. 4. Diagnóstico - TCC. I. Dantas, Deyse de Souza. II. Título. RN/UF/BSCCS CDU 615:616.8 Elaborado por Adriana Alves da Silva Alves Dias - CRB-15/474 ANDREZA CONCEIÇÃO VÉRAS DE AGUIAR GUERRA BIOMARCADORES URINÁRIOS PARA DETECÇÃO DA ENDOMETRIOSE: UMA REVISÃO INTEGRATIVA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para a obtenção do título de Bacharel em Farmácia. Aprovado em: 01/12/2022 BANCA EXAMINADORA __________________________________________ Prof.ª Dr.ª Deyse de Souza Dantas Orientadora/DACT/CCS/UFRN __________________________________________ Prof.ª Dr.ª Emanuelly Bernardes de Oliveira da Silva Convidada/PPgCASM/CCS/UFRN __________________________________________ Msc. Ariadne Sarynne Barbosa de Lima Convidada/PPgCASM/CCS/UFRN AGRADECIMENTOS A Deus por ter me dado condições de realizar mais esse sonho, sem Ele nada disso seria possível. A minha família, pelo apoio e incentivo incondicional durante o curso, em especial à minha mãe Mary Jane que é um grande exemplo pra mim e sempre esteve ao meu lado em todos os momentos, com suas palavras de encorajamento e fé, que não me permitiram desistir, mesmo em meio a dificuldades. Ao meu namorado Adonai Wilson, que foi de fundamental importância com toda sua ajuda, atenção, dedicação, apoio e amor que serviram de alicerce para essa conquista. Aos meus colegas de curso, pelo companheirismo e pela troca de experiências que me permitiram crescer não só como pessoa, mas também como formando. A minha orientadora professora Dr.ª Deyse de Souza Dantas, pelo acolhimento desde o início, por todo aprendizado adquirido ao longo deste ano, além da confiança no desenvolvimento das atividades. Destacando sua paciência, compreensão, disponibilidade e carinho que sempre se fez presente. Além de uma excelente profissional, um ser humano incrível, que tive o prazer de conhecer. A todos os mestres que contribuíram com a minha formação acadêmica e profissional durante a minha vida. Aos convidados que aceitaram compor a banca examinadora, professora Dr.ª Emanuelly Bernardes e mestra Ariadne Sarynne, que certamente contribuirão para a melhoria deste trabalho. As demais pessoas aqui não mencionadas, mas que de certa forma contribuíram, de forma direta ou indireta, para que eu chegasse até aqui. RESUMO A endometriose é uma doença ginecológica caracterizada pela presença e crescimento de tecido idêntico ao endometrial fora do útero, afetando cerca de 10% das mulheres na pré-menopausa. Com uma variedade de sintomas inespecíficos, além da existência de pacientes assintomáticos, o diagnóstico da endometriose é desafiador, o que pode atrasar em até 10 anos a sua detecção e, portanto, adiar o tratamento adequado, além de favorecer a progressão da doença e o desenvolvimento de consequências graves como tumores e infertilidade. Este estudo tem por objetivo a identificação de biomarcadores urinários para diagnóstico precoce e menos invasivo da endometriose através de uma revisão integrativa da literatura. A coleta de dados foi realizada no período de julho a agosto de 2022, utilizando as publicações dos últimos 5 anos encontradas nas principais bases de dados (PubMed/MEDLINE, Portal de Periódicos Capes e SciELO), utilizando na pesquisa avançada os descritores com operadores booleanos, conforme apresentado a seguir: “Biomarkers” and “Endometriosis” and “Urine”. Foram localizados 111 artigos, porém desses, apenas 10 artigos foram selecionados. Diante dos resultados dos trabalhos apresentados nesta revisão, é válido ressaltar que a maioria dos artigos apresentaram correlação positiva entre o biomarcador urinário estudado e a presença de endometriose, podendo ser utilizado no futuro como alternativa para melhoria do diagnóstico, auxiliando aos profissionais de saúde no manejo clínico das pacientes com endometriose, além da atenuação do impacto que essa doença causa no cotidiano das pacientes e nos serviços de saúde no mundo todo. Palavras-chave: Endometriose; Biomarcador; Urina; Diagnóstico. ABSTRACT Endometriosis is a gynecological disease characterized by the presence and growth of endometrial-identical tissue outside the uterus, affecting about 10% of premenopausal women. With a variety of non-specific symptoms, in addition to the existence of asymptomatic patients, the diagnosis of endometriosis is challenging, which can delay its detection by up to 10 years and, therefore, delay the appropriate treatment, in addition to favoring the progression of the disease and the development of serious consequences such as tumors and infertility. This study aims to identify urinary biomarkers for early and less invasive diagnosis of endometriosis through an integrative literature review. Data collection was carried out from July to August 2022, using publications from the last 5 years found in the main databases (PubMed/MEDLINE, Portal de Periódicos Capes and SciELO), using descriptors with Boolean operators in the advanced search, as shown below: “Biomarkers” and “Endometriosis” and “Urine”. A total of 111 articles were found, but of these, only 10 articles were selected. In view of the results of the studies presented in this review, it is worth noting that most of the articles showed a positive correlation between the urinary biomarker studied and the presence of endometriosis, which could be used in the future as an alternative to improve the diagnosis, helping health professionals in the management of patients with endometriosis, in addition to mitigating the impact that this disease causes in the daily lives of patients and health services worldwide. Keywords: Endometriosis; Biomarker; Urine; Diagnosis. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 8 2 OBJETIVOS 11 2.1 OBJETIVO GERAL 11 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 11 3 METODOLOGIA 12 4 RESULTADOS 13 5 DISCUSSÃO 17 6 CONCLUSÃO 20 8 1 INTRODUÇÃO A endometriose é uma doença ginecológica caracterizada pela presença e crescimento de tecido idêntico ao endometrial (glândulas e estroma) fora do útero, que pode se apresentar como lesões peritoneais, implantes superficiais ou cistos no ovário, ou ainda doença infiltrativa profunda, afetando cerca de 10% das mulheres na pré-menopausa, e 35 a 50% das mulheres inférteis mundialmente (PARASAR et al., 2017; CARDOSO et al., 2020) A etiologia de como as lesões endometrióticas se desenvolvem ainda permanece em discussão, dentre as teorias relatadas, a menstruação retrógrada (refluxo de tecido endometrial através das tubas uterinas) e a haste endometrial (presença de remanescentes teciduais que não se diferenciaram ou não migraram adequadamente durante o período fetal) estão entre as possíveis causas, associadasà fatores hormonais, inflamatórios, imunológicos e genéticos que podem influenciar na manutenção desse tecido em locais ectópicos (PARASAR et al., 2017; MALVEZZI et al., 2020). Sobre a apresentação clínica, os sinais e sintomas mais comuns relacionados à endometriose variam de dor leve à intensa (que pode se manifestar como dismenorreia, dor pélvica acíclica, dispareunia profunda, disúria e disquezia) e/ou infertilidade; outros sintomas relatados incluem fadiga, diarréia, constipação, inchaço ou náuseas, bem como manifestações relacionadas à problemas de saúde mental, que envolvem somatização ou depressão, sensibilidade aumentada e ansiedade, causando portanto grande impacto na qualidade de vida das mulheres acometidas (MALVEZZI et al., 2020; SIGNORILE et al., 2022; OLIVEIRA et al., 2018). Pela variedade de sintomas inespecíficos que se sobrepõem a outros sintomas ginecológicos e distúrbios não ginecológicos, além da existência de pacientes assintomáticos, o diagnóstico da endometriose é desafiador, o que pode atrasar em até 10 anos a sua detecção e, portanto, adiar o tratamento adequado, além de favorecer a progressão da doença e a formação de aderências que podem comprometer a fertilidade e aumentar o risco de sensibilização central e dor pélvica crônica (HUNT et al., 2021; AGARWAL et al., 2019; CROMEENS et al., 2021). 9 Ademais, a endometriose está associada a um risco aumentado de desenvolvimento de câncer de ovário epitelial, principalmente o da linhagem endometrióide e de células claras, apresentando o dobro ou o triplo do risco de tumor ovariano do que uma paciente sem essa condição clínica (BRILHANTE et al., 2017; OLMOS et al., 2020). O câncer de ovário é considerado o sétimo câncer mais comum em mulheres e a segunda causa ginecológica de mortes por câncer em todo o mundo, com uma taxa de sobrevida em 5 anos de 47,4%, cujo prognóstico está diretamente associado ao estágio do tumor no momento do diagnóstico (CHEN; ZHANG, 2022). A laparoscopia, seguido preferencialmente do exame histopatológico, é considerado o padrão-ouro para o diagnóstico da endometriose, no entanto, esta técnica não é isenta de limitações (como por exemplo, falso positivos na inspeção visual, heterogeneidade na sensibilidade e especificidade da técnica, diferenças na interpretação e estadiamento da lesão), custos diretos e indiretos (que podem chegar a mais de 4 mil dólares) e riscos (lesões intraoperatórias, complicações da anestesia, eventos adversos, recorrência da dor após cirurgia) (TAYLOR et al., 2017; SOLIMAN et al., 2016). O desenvolvimento de novos biomarcadores não invasivos, ou seja, moléculas biológicas medidas e avaliadas como indicadores de processos normais ou patogênicos (como por exemplo, proteínas, anticorpos, ácidos nucleicos ou metabólitos), que possam ser identificados nos fluidos biológicos das mulheres com endometriose, podem ser uma ferramenta conveniente para diagnóstico mais rápido, triagem de pacientes para tratamento médico ou cirúrgico e monitoramento do progresso da doença e da efetividade terapêutica (ANASTASIU et al., 2020; NJOKU et al., 2020; DHOOGHE et al., 2019). Entre os fluidos biológicos ideais para extração e quantificação de biomarcadores, a urina é considerada um dos meios mais estudados e uma excelente fonte devido à sua composição fluida menos complexa em comparação com o sangue, reprodutibilidade, facilidade de acesso e medição, além de poder ser coletada de forma contínua, com baixo custo e segurança, pois em geral, não possui 10 efeitos colaterais ou complicações (ANASTASIU et al., 2020; PROESTLING et al., 2020; NJOKU et al., 2020). Na urina, peptídeos e proteínas de menor massa molecular são geralmente solúveis e relativamente estáveis (CHEN et al., 2019). Outro fato importante, é que a urina é o local mais provável para encontrar biomarcadores precoces de doenças, se destacando como o local que mais acomoda as alterações in vivo e é mais sensível para refletir o impacto do ambiente interno e as mudanças dentro do organismo (JING, 2018). Vários estudos têm relacionado o uso de biomarcadores urinários para detecção de diversas condições como cânceres (de endométrio, próstata, bexiga), tuberculose ativa, doenças renais, neurodegenerativas, cardiovasculares e hepáticas; entre os quais metabólitos endógenos, proteínas e peptídeos, micro-RNAs, exossomas, marcadores da inflamação e estresse oxidativo (NJOKU et al., 2020; FUJITA, NONOMURA, 2018; LEE, KIM, 2020; ISA et al. 2018; CASTRO-SESQUEN et al., 2020; FERNANDO et al. 2019, SEOL, KIM, SON, 2020; RANI, VIVEK, RAM, 2022; ROTHLISBERGER, PEDROZA-DIAZ, 2017; JUANOLA et al., 2022). Portanto, devido a importância da identificação de novos métodos para diagnóstico precoce e menos invasivo da endometriose, além das vantagens da utilização de amostras de urina na detecção de biomarcadores, somando-se ao fato de que na literatura não foi encontrada uma revisão integrativa nos últimos anos que abordasse o tema proposto, este trabalho objetivou trazer à tona a importância dos avanços nesta área para identificação dos principais biomarcadores urinários em pacientes com endometriose. 11 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Realizar uma revisão integrativa da literatura para identificar biomarcadores urinários para detecção da endometriose. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS - Categorizar os artigos selecionados; - Identificar os principais biomarcadores urinários descritos; - Relacionar a importância do desenvolvimento de novos biomarcadores para o diagnóstico da endometriose. 12 3 METODOLOGIA Este estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura, que é um método de revisão específico com abordagem sistemática e ordenada, que permite a inclusão de artigos de diversas metodologias, reunindo dados quantitativos e qualitativos, baseados em projetos de pesquisa variados. Dessa forma, desempenha um papel importante na prática baseada em evidências, fornecendo uma compreensão mais abrangente de determinadas temáticas na área de saúde (OERMANN, KNAFL, 2021). Para o desenvolvimento da revisão em questão, foi utilizada uma estrutura bem definida, executada com as seguintes etapas: (i) elaboração da pergunta norteadora, (ii) busca ou amostragem na literatura, (iii) coleta de dados, (iv) análise crítica dos estudos incluídos, (v) discussão dos resultados e (vi) apresentação da revisão (LUBBE, HAM-BALOYI, SMIT, 2020). A questão norteadora deste estudo foi: “Quais são os principais biomarcadores urinários para detecção da endometriose?”. Para tanto, foram realizadas buscas na literatura utilizando as bases de dados PubMed/MEDLINE e Portal de Periódicos Capes. Para a pesquisa, foram empregados os seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DeCs), combinados com o operador booleano “AND”: (“Biomarkers”) AND (“Endometriosis”) AND (“Urine”). O período de coleta de dados ocorreu entre julho e agosto de 2022. Inicialmente, para a seleção dos artigos, foram avaliados os títulos e resumos para verificação da relevância dos mesmos para este trabalho, que abordassem a utilização de biomarcadores urinários e apenas para a doença endometriose. Em seguida, foram considerados os critérios de inclusão: artigos publicados em inglês, nos últimos 5 anos e disponíveis gratuitamente. Como critérios de exclusão, foram estabelecidos: estudos que não abordavam a temática proposta, artigos duplicados, revisão da literatura e publicações em que o texto completo não estava disponível. Por fim, os artigos selecionados foram analisados na íntegra. 13 4 RESULTADOS Foram identificados um total de 111 citações, sendo 56 na PubMed/MEDLINE e 55 no Portal de Periódicos Capes. Foram descartados 101 artigos por não se adequarem aos critérios de inclusão. Com isso, foram selecionados 10 artigos científicos para a revisão (Figura 1). Figura 1 - Fluxograma do processo de seleção dos artigos em cada base de dados Fonte: Autoria própria (2022). A síntese dos dados de interesseextraídos após leitura exaustiva, está detalhada no Quadro 1 e abrange: autor, ano de publicação, local de realização, título do artigo, tipo de estudo, número de amostra, biomarcadores urinários descritos, métodos de detecção e principais resultados. 14 Quadro 1 - Apresentação dos estudos incluídos na revisão integrativa Autor, ano e local Tipo de estudo/ amostra Título do artigo Biomarcadores urinários descritos Métodos de detecção Principais resultados Chen et al. (2019) - China Ensaio clínico (n= 97) Elevated urine histone 4 levels in women with ovarian endometriosis revealed by discovery and parallel reaction monitoring proteomics Histona 4 Cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas em tandem (HPLC-MS/MS) A histona 4 (H4) tem um alto potencial diagnóstico para endometriose, com sensibilidade de 70% e especificidade de 80%, estando presente em níveis elevados na urina de pacientes com esta doença. Sansone et al. (2021) - EUA Ensaio clínico (n=30) Evaluation of BCL6 and SIRT1 as Non-Invasive Diagnostic Markers of Endometriosis BCL6 e SIRT1 Ensaio de imunoabsorção enzimática (ELISA) Não foram encontradas diferenças significativas na urina para SIRT1 ou quaisquer fluidos corporais testados para BCL6. Proestling et al. (2020) - Áustria Estudo longitudinal (n= 149) Investigating selected adhesion molecules as urinary biomarkers for diagnosing endometriosis Moléculas de adesão (sVCAM-1, sICAM-1, E-selectina e P-selectina) Análise multiplex (Sistema Luminex Bio-Plex 200) Os níveis urinários de sVCAM-1, sICAM-1, E-selectina e P-selectina não diferiram entre mulheres com e sem endometriose e entre subgrupos. Othman et al. (2020) - Egito Ensaio clínico (n= 114) Markers of Local and Systemic Estrogen Metabolism in Endometriosis Metabólitos de estrogênio (2OHE1, 16α-OHE1, razão 2OHE1/16α-OHE1, 4OHE1, 2OHE2 e 4OHE2). Cromatografia líquida por ionização eletrospray com espectrometria de massa em tandem (LC-ESI-MS/M S) O metabólito 2OHE1 mostrou maior concentração na urina de mulheres com endometriose do que nos controles. Fernandez et al. (2019) - Brasil Estudo observacion al (caso-contr ole) (n= 52) Study of possible association between endometriosis and phthalate and bisphenol A by biomarkers analysis Produtos químicos desreguladores endócrinos (ftalatos e bisfenol A) Cromatografia gasosa acoplada ao detector por espectrometria de massas (GC-MS) Todos os metabólitos foram encontrados em diferentes concentrações nas amostras de urina em ambos os grupos. Os metabólitos ftalatos que apresentaram as maiores concentrações foram MOP e MiBP. Rokhgireh et al. (2020) - Irã Estudo transversal (n= 86) The Diagnostic Accuracy of Combined Enolase/Cr, Enolase-1 Ensaio de imunoabsorção enzimática (ELISA) Os níveis urinários de enolase I e da razão enolase/creatinina foram maiores em 15 CA125, and CA19-9 in the Detection of Endometriosis pacientes com endometriose, mas as diferenças não foram estatisticamente significativas. No entanto, a combinação entre os marcadores séricos (CA125 e CA 19.9) e a razão enolase/creatinina urinária, possuíam sensibilidade, especificidade e outros parâmetros estatísticos aumentados quando avaliados em conjunto. Durmus et al. (2019) - Turquia Estudo transversal (n= 91) The levels of matrix metalloproteinas e-9 and neutrophil gelatinase-assoc iated lipocalin in different stages of endometriosis Lipocalina associada à gelatinase neutrofílica (NGAL) Imunoensaio de micropartículas quimioluminesc entes (analisador de imunoensaios Architect i1000 - Abbott) Nenhuma diferença significativa foi encontrada entre os níveis de NGAL nos grupos estudo e controle. Chen et al. (2022) - Taiwan Ensaio clínico (n= 52) Urinary Biomarkers for Detection of Clinical Endometriosis or Adenomyosis Alfa-1 antitripsina (A1AT), enolase-1, proteína de ligação à vitamina D (VDBP) e CA125 Ensaio de imunoabsorção enzimática (ELISA) Houve diferença significativa entre os pacientes estudados e os controles normais para CA-125 sérico, razão CA-125-creatinina urinária e razão VDBP-creatinina urinária. O melhor nível de acurácia foi observado na combinação entre CA-125 sérica e a razão VDBP urinária. Também foram encontrados níveis de acurácia alta na combinação entre os outros biomarcadores estudados. Peinado et al. (2020) - Espanha Estudo observacion al (caso-contr ole) (n= 124) Association of Urinary Levels of Bisphenols A, F, and S with Endometriosis Risk: Preliminary Results of the EndEA Study Bisfenois A (BPA), S (BPS) e F (BPF) e substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS) Microextração líquido-líquido dispersiva (DLLME) e Cromatografia líquida de ultra eficiência acoplada à espectrometria de massas em tandem (UHPLC-MS/M As concentrações urinárias de BPA foram significativamente associadas a um risco aumentado de endometriose. Não houve diferença estatisticamente significativa nas concentrações de TBARS entre casos e controles; no entanto, a 16 S) análise multivariada revelou uma associação entre essas concentrações e um risco aumentado de endometriose. Simonelli et al. (2017) - Itália Ensaios observacion al e clínico (n= 128) Environmental and occupational exposure to bisphenol A and endometriosis: urinary and peritoneal fluid concentration levels Bisfenol A Cromatografia gasosa acoplada ao detector por espectrometria de massas em série (GC-MS/MS) Níveis detectáveis de BPA urinário foram encontrados em todas as amostras analisadas, com uma diferença estatisticamente significante entre pacientes e controles. Fonte: Autoria própria (2022) A maioria dos estudos foram publicados em 2020 (quatro artigos), três artigos em 2019 e os demais possuíam um artigo em cada ano (2017, 2021 e 2022). Quanto aos países de realização dos trabalhos avaliados, apesar de distintos, se concentram entre os continentes europeu e asiático (Itália, Espanha, Taiwan, Turquia, Irã, China e Áustria). Em relação ao tipo de estudo, 50% das publicações selecionadas são ensaios clínicos, delineados como estudos de intervenção comparativa (grupo controle x grupo com endometriose), onde um dos artigos também teve abordagem observacional através do uso de questionário investigando o contexto ocupacional, ambiente de vida e hábitos (Simonelli et al. 2017). Os demais estudos se distribuíram em observacionais, sendo 2 artigos transversais e 1 longitudinal. Quanto à população estudada, o número amostral apresentou ampla variabilidade e o sexo feminino foi o gênero de interesse. Para confirmação do diagnóstico de endometriose, os artigos destacaram a realização de cirurgia por videolaparascopia com biópsia (confirmação histológica) ou quadro clínico sugestivo que inclui sintomas endometrióticos, adenomiose uterina ou endometrioma ovariano na ultrassonografia ginecológica e exame pélvico, como relacionado por Chen et al. 2022. Algumas publicações definiram critérios específicos para seleção das pacientes, que além de estarem em idade reprodutiva, com ciclo menstrual regular, e 17 sem uso de hormônios, também não deveriam apresentar: diagnóstico prévio de outras patologias pélvicas (Sansone et al. 2021, Othman et. al 2020, Simonelli et. al. 2017); gravidez/lactação nos últimos 6 meses e problemas hepáticos ou renais (Othman et. al 2020; Peinado et al. 2020); doenças subjacentes, como infecção, doença autoimune ou condições cardiovasculares (Rokhgireh et al. 2020; Durmus et al. 2019); a realização de histerossalpingografia ou técnica de fertilização in vitro (Simonelli et al. 2017); abaixo do peso ou obesas, uso de medicamentos nefrotóxicos (Durmus et al. 2019); histórico de câncer (exceto câncer de pele não melanoma) (Peinado et al. 2020). Em relação à amostra biológica, alguns autores avaliaram apenas a urina (Chen et al., 2019; Proestling et al., 2020; Fernandez et al., 2019; Peinado et al., 2020), enquanto que determinados autores consideraram, concomitantemente, outros fluidos corporais, para vias de comparação: como Sansoneet al., 2021 que analisou também a saliva, swab cervical, soro e plasma; Othman et al. 2020, tecidos endometriais; Simonelli et al. 2017, fluidos peritoneais; Rokhgireh et al. 2020, Chen et al. 2022 e Durmus et al.2019, o soro. Quanto ao tipo de biomarcador identificado, seis artigos (60%) avaliaram moléculas proteicas (histona H4; BCL6 e SIRT1; moléculas de adesão; enolase-1; NGAL; A1AT, enolase-1, VDBP e CA125), três artigos (30%) compostos químicos sintéticos (bisfenol A; bisfenois A, S e F e TBARS; bisfenol-A e ftalatos) e um artigo (10%) metabólitos esteróides (metabólitos de estrogênio). 5 DISCUSSÃO No estudo de Chen et al. (2019) o proteoma da urina das pacientes foi examinado, onde observou-se níveis elevados de histonas naquelas com endometriose; em especial a histona 4 (H4) foi identificada como um potencial biomarcador diagnóstico, com sensibilidade de 70% e especificidade de 80%. Além disso, foi considerado o primeiro estudo que identificou a associação entre histonas extracelulares e a endometriose, sugerindo que a lesão celular e a inflamação mediadas por essas proteínas podem estar envolvidas na progressão da doença e 18 que o bloqueio dessas histonas pode oferecer uma estratégia terapêutica promissora. Sansone et al. (2021) em seu estudo explorou a utilização da expressão diferencial de moléculas da cascata inflamatória - linfoma de células B 6 (BCL6) e Sirtuína 1 (SIRT1) - como potenciais biomarcadores para um teste diagnóstico não invasivo para endometriose. Embora a elevação de BCL6 tenha sido relatada em biópsias endometriais de mulheres com essa condição, não houve diferença estatisticamente significativa entre as amostras de fluidos biológicos dos grupos avaliados. Já a SIRT1, apesar de não ter sido detectada na urina, houve elevação sérica nos estágios III/IV de maior gravidade da endometriose, o que aponta para uma possível utilidade da mesma como um preditor de endometriose avançada. Proestling et al. (2020) relatou que não foram encontradas diferenças significativas nos níveis urinários de moléculas de adesão celular (sVCAM-1, sICAM-1, E-selectina e P-selectina) entre mulheres com e sem endometriose. A despeito disso, um estudo anterior do mesmo grupo de pesquisa sugeriu que a sVCAM (soluble vascular adhesion molecule-1) sérica é um biomarcador promissor para o diagnóstico de endometriose, o que pode indicar diferenças na regulação proteica nos diversos biofluidos (KUESSEL et al. 2017). De acordo com Othman et al. (2020), diferentes metabólitos de estrogênio estão relacionados à progressão da endometriose e, portanto, a caracterização do padrão de seu metabolismo poderia ajudar na compreensão da patogênese da doença, na identificação de novos biomarcadores hormonais e na ligação entre a endometriose e câncer de ovário. Em seu trabalho, foi observado que o endométrio eutópico de mulheres com endometriose contêm significativamente mais 2OHE2 (2-hidroxiestradiol), 4OHE1 (4-hidroxiestrona) e 4OHE2 (4-hidroxiestradiol); e ao nível urinário sistêmico, apresentaram níveis significativamente mais altos de 2OHE1 (2-hidroxiestrona) do que o controle. Fernandez et al. (2019) relatou que os metabólitos de ftalatos (MMP, MiBP, MBP, MCHP, MiNP, MOP, MBzP, MEHP) e de BPA avaliados foram encontrados em concentrações variadas nas amostras de urina, tanto de pacientes com endometriose quanto o grupo controle, sem que houvesse diferença estatisticamente 19 significativa na relação entre a doença e os biomarcadores. No entanto, os autores frisaram que altas concentrações de MOP e MiBP foram encontradas e, em especial o “odds ratio” para o metabólito MiBP para endometriose foi de 1,929, ou seja, a condição possui maior probabilidade de ocorrer no grupo de pacientes com a doença. Rokhgireh et al. (2020) revelou níveis mais elevados da enolase-1 urinária, razão enolase/creatinina urinária (enolase/Cr), CA-125 e CA 19.9 séricos em pacientes com endometriose. O estudo destacou que a sensibilidade da enolase/Cr para identificar mulheres com essa condição foi muito superior aos outros biomarcadores avaliados (enolase/Cr: 97,8%; CA-125: 69,5%; CA 19.9: 27,5%). No entanto, os mesmos concluíram através de parâmetros estatísticos, que uma combinação entre essas moléculas aumenta o poder de diagnóstico individual dos testes para a detecção de endometriose, sendo suficientemente preciso e válido. Durmus et al. (2019) diz que os níveis séricos de metaloproteinase-9 (MMP-9) foram significativamente maiores no grupo de mulheres com endometriose, principalmente nos subgrupos mais avançados da doença (estágios III e IV). Porém, não foi encontrada diferença significativa entre os níveis de lipocalina associada à gelatinase neutrofílica (NGAL) urinária nos grupos estudo e controle, nem entre os subgrupos de endometriose leve e grave. Os autores no entanto sugerem que a proporção de MMP-9/NGAL pode ser um biomarcador efetivo para endometriose, visto que a MMP-9 também é uma endopeptidase associada à NGAL, a qual previne a sua degradação promovendo os seus efeitos. No estudo de Chen et al. (2022), a maior precisão para a detecção clínica de endometriose (até 88%) foi encontrada usando uma combinação de CA-125 sérico e razão proteína de ligação à vitamina D/creatinina na urina (VDBP/Cr). Foi encontrado também taxas de acurácia e sensibilidade altas (80% e 81,8%, respectivamente) ao combinar dois biomarcadores urinários, como a relação alfa-1 antitripsina/creatinina (A1AT/Cr) e a relação VDBP/Cr. Combinando os três marcadores citados, o desempenho diagnóstico foi ainda mais reforçado, aparentando ser uma abordagem útil e viável para detectar a endometriose. 20 De acordo com Peinado et al (2020), a exposição inadvertida à bisfenois (principalmente bisfenol A e substitutos) pode aumentar o risco de endometriose em mulheres em idade fértil. Os autores também sugerem que o estresse oxidativo desempenha um papel potencial nos efeitos desreguladores endócrinos do BPA nessas mulheres. Além disso, observaram que as concentrações urinárias de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS) mostraram uma relação próxima a significativa com o aumento do risco de endometriose nas pacientes. Simonelli et al. (2017) também relatou a presença de níveis detectáveis de bisfenol A (BPA) urinário nas amostras analisadas, com uma diferença estatisticamente significante entre pacientes e controles, mostrando uma associação entre a exposição ao BPA e a endometriose. Nesse estudo também foi avaliada a eventual relação entre atividades laborais (e exposição relacionada ao BPA) e o desenvolvimento da doença em questão, obtendo-se que as ocupações onde há maior número de contato com outras pessoas (dentista, enfermeiro, cabeleireiro, vendedor, entre outros), se expõem mais a desreguladores endócrinos e possuem maior risco para endometriose. 6 CONCLUSÃO Alguns dos estudos analisados não obtiveram resultados que evidenciaram a relação entre a detecção de determinado biomarcador urinário e a presença ou gravidade da endometriose. Porém é importante destacar que, diante dos resultados apresentados nesta revisão, a maioria apresentou correlação positiva com a doença em questão, e mesmo aqueles em que não houveram resultados estatisticamente significativos, representam uma possibilidade de novas abordagens, delineamentos de pesquisa, tamanhos de amostra e estudos. É válido ainda ressaltar a importância do desenvolvimento de novos biomarcadores na melhoria do diagnóstico precoce de endometriose, desempenhando um papel fundamental no tratamento e atenuação do impacto que essa doença causa no cotidiano das pacientes e nos serviços de saúde no mundo todo. 21 REFERÊNCIAS AGARWAL, S.K.; CHAPRON, C.; GIUDICE, L.C.G.; LAUFER, M.R.; LEYLAND, N.; MISSMER, S.A.; SINGH, S.S.; TAYLOR, H.S. Clinical diagnosis of endometriosis: a call to action. American Journal of Obstetrics & Gynecology, v. 220, n. 4, p. 354-364, 2019. BRILHANTE,A.V.M.; AUGUSTO, K.L.; PORTELA, M.C.; SUCUPIRA, L.C.G.; OLIVEIRA, L.A.F.; POUCHAIM, A.J.M.V.; NOBREGA, L.R.M.; MAGALHÃES, T.F.; SOBREIRA, L.R.P. Endometriosis and Ovarian Cancer: an Integrative Review (Endometriosis and Ovarian Cancer). Asian Pacific Journal of Cancer Prevention, v. 18, n. 01, p. 11-16, 2017. CARDOSO, J.V.; MACHADO, D.E.; DA SILVA, M.C.; BERARDO, P.T.; FERRARI, R.; ABRÃO, M.S.; PERINI, J.A. 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