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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA (PPG-PSI/UFRN) FUNÇÕES EXECUTIVAS DE CRIANÇAS DE ESCOLA PÚBLICA EM FASE INICIAL DE ALFABETIZAÇÃO Bruna Cardoso Wanderley Natal/RN 2019 Bruna Cardoso Wanderley FUNÇÕES EXECUTIVAS DE CRIANÇAS DE ESCOLA PÚBLICA EM FASE INICIAL DE ALFABETIZAÇÃO Dissertação elaborada sob orientação da Profª Drª Cíntia Alves Salgado Azoni, apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito para o grau de mestre em Psicologia. Natal/RN 2019 Wanderley, Bruna Cardoso. Funções executivas de crianças de escola pública em fase inicial de alfabetização / Bruna Cardoso Wanderley. - 2019. 101f.: il. Dissertação (mestrado) - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Programa de Pós-graduação em Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2020. Natal, RN, 2020. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Cíntia Alves Salgado Azoni. 1. Funções Executivas - Dissertação. 2. Avaliação Neuropsicológica - Dissertação. 3. Crianças - Dissertação. 4. Alfabetização - Dissertação. I. Salgado-Azoni, Cíntia Alves. II. Título. RN/UF/BS-CCHLA CDU 159.94:373.3-053.2 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA Elaborado por Ana Luísa Lincka de Sousa - CRB-15/748 Universidade Federal do Rio Grande do Norte PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO ME PSICOLOGIA ATA Nº 344 Aos dezenove dias do mês de agosto de 2019, às 09:00 horas, na Sala de Reuniões, do Departamento de Saúde Coletiva, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, foi instalada a Comissão Examinadora responsável pela avaliação da dissertação de mestrado: FUNÇÕES EXECUTIVAS DE CRIANÇAS DE ESCOLA PÚBLICA EM FASE INICIAL DE ALFABETIZAÇÃO, apresentada pela mestranda BRUNA CARDOSO WANDERLEY ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia, como parte dos requisitos para a obtenção do título de MESTRE EM PSICOLOGIA. A Comissão Examinadora foi presidida pela professora orientadora CÍNTIA ALVES SALGADO AZONI e contou com a participação da professora doutora IZABEL AUGUSTA HAZIN PIRES na qualidade de examinadora interna e do professor doutor RICARDO FRANCO DE LIMA na qualidade de examinador externo à instituição. A sessão teve a duração de três horas e meia e a mestranda foi considerada: (x)aprovada ( )reprovada (segue em anexo documento sobre as condições de retificação da dissertação). Dr. RICARDO FRANCO DE LIMA, USF Examinador Externo à Instituição Dra. IZABEL AUGUSTA HAZIN PIRES, UFRN Examinadora Interna Dra. CINTIA ALVES SALGADO AZONI, UFRN Presidente BRUNA CARDOSO WANDERLEY Mestranda ii Cientistas são sempre curiosos, e eu quero ser cientista. Eu fico me perguntando: “o que é isso? O que é aquilo?". É alguma coisa. Não pode ser nada. (O Jardim Secreto, 2015, Frances Hodgson Burnett, p.234, traduzido pela autora). iii AGRADECIMENTOS A vida não para quando resolvemos pôr as mãos em uma pesquisa de mestrado. Às vezes queremos fingir que não existem outros canteiros para serem cuidados por termos a ilusão de que já estão prontos ou não precisam ser adubados. É nesse suposto mundo equilibrado que surgem as ervas-daninhas, ou os baobás no frágil planeta do Pequeno Príncipe. Sem esquecer dos pulgões e de outros tipos de insetos prontos a ameaçar a existência da complexa cobertura vegetal disponível em nosso Jardim. Mas não fiquemos com a impressão de que a partir de agora tudo são ervas-daninhas ou pulgões. Isso é uma questão de perspectiva. Muita beleza e alegria há no Jardim e nesse cenário é imprescindível relatar o papel dos moradores mais antigos, jardineiros de toda a vida, que plantaram as árvores e flores mais bonitas, e continuam regando, diariamente, cada folhagem, e adubando o solo fértil da esperança nesse não mais tão pequeno assim Jardim. A eles desejo todo o meu amor: meus pais, Júlio César e Roseli, e meu irmão, Diogo. Obrigada por serem meus eternos jardineiros e cuidarem do meu Jardim com tanto amor e dedicação. Durante o período do mestrado o Jardim recebeu novos visitantes e moradores, criaturas verdadeiramente adoráveis, que ajudaram a adorná-lo e a podá-lo. Esses seres especiais ao cantarem sua melodia e espalharem o pólen das flores às vezes nem sabiam o tamanho da sua contribuição. São eles os amigos que o mestrado me deu, Roberta Mariano, Élison Rixadson e Raquel Campos, e toda a confraria do LAPEN, do LEIA e do ACOLHER, juntamente com os pássaros estrangeiros da Wise Up; sem esquecer, é claro, dos velhos e leais amigos e demais familiares, presentes no meu Jardim faça chuva ou faça sol. Obrigada por me cantaram seus segredos e me motivarem com os seus “avantes!”. As corujas que o frequentam têm um comportamento interessante: não tem hora ou dia a aparecerem, estão sempre por lá, dispostas a guiá-lo com seus conselhos e na torcida para a superação de cada obstáculo. São de uma espécie em extinção, denominada Dom Quixote, e conhecem bem o valor da Educação e dos livros. As primeiras que aqui chegaram fertilizaram a vontade de fazer pesquisa na jardineira-mor. Angela Naschold e Antonio Pereira, obrigada pelas primeiras sementes no canteiro da pesquisa, e por todas as flores colhidas também. Inesperadamente, o Jardim foi privilegiado com a chegada de uma nova corujinha da mesma espécie, de presença tão marcante quanto às demais: Cíntia Salgado Azoni, obrigada pela iv escuta sábia, pelas palavras sinceras e pelo brilho no olhar. Esses últimos anos foram de muito aprendizado e serei eternamente grata por isso. Sem o sorriso das crianças certamente o Jardim seria um tanto acinzentado. Obrigada a todas as crianças participantes da pesquisa e de todas as outras que preencheram/preenchem com as cores mais alegres cada cantinho do Jardim. Agradeço, também, aos responsáveis e a toda comunidade escolar das instituições parceiras por permitirem a presença dessas visitantes ilustres. Um agradecimento caloroso é necessário à agência de pesquisa CAPES, o apoio financeiro e pedagógico foram indispensáveis. Mais um passo dado em direção ao sonho docente. É imprescindível realçar o agradecimento ao magnífico sol que alimenta toda a energia do Jardim e torna possível a sua existência: obrigada Deus e todos os seres de luz, que iluminam e espalham o amor em todo tipo de vida que há no Jardim. Tenho aprendido que as dolorosas ervas- daninhas e pulgões insistentes também são partes importantes no processo da jardinagem e têm a sua função. Dedico essa pesquisa a todos vocês, constantes em meu coração, e, in memoriam, ao meu tio, Miguel Cardoso, e à minha avó, Zildenir Falcão. v SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS…...……………………………………………...………………...….…vii LISTA DE TABELAS…...……………………………………………...…………………..…viii LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS…...………………………...…………………...…ix Resumo………………………...…………………………………………………………….........x Abstract………………………...…………………………………………………………….......xi 1. Introdução……………...…………………………………………………………….............12 2. Fundamentação Teórica…...…………………………………………………………….......14 2.1. Funções Executivas: conceituação………………………………………………..................14 2.2. O Modelo de Diamond…………………………………………………………….............…212.3. Instrumentos de Avaliação Neuropsicológica das Funções Executivas……..…..............….25 2.4. As Funções Executivas no Contexto Escolar………………...........................................……32 3. Hipóteses………….…………………………………………………………….……….........43 4. Justificativa…………………………………………………………………………....….......44 5. Objetivos…………………………………………………………………………....…...........44 5.1. Objetivo Geral…..…………………………………………………………...……................44 5.2. Objetivos Específicos…………………………………………………………....…..............44 6. Aspectos Metodológicos…………………...…………………...……………………….…....44 6.1. Desenho………………….……………………………………………..…………................44 6.2. Caracterização dos Participantes……….……………...………………………….…..........44 6.3. Critérios de Inclusão…………………………………………………....………...................45 6.4. Critérios de Exclusão………………………………………………………..…...….............46 6.5. Local da Pesquisa………………………………………………………....…...…….............47 6.6. Habilidades e Instrumentos de Avaliação………....………………………......……..............46 6.7. Procedimentos…………………………………………………………....…...….........…….51 7. Aspectos Éticos……………...…………………….....................……………….....………....54 8. Metodologia de Análise de Dados…………………………………..…………….......……...55 9. Resultados………………………………………...………..……….……...........................…55 10. Discussão………………………………………...………..…………….........................…...67 11. Considerações Finais…………………………...………..…………….............................…84 vi Referências…......................................…............................................................................…..…88 ANEXO...…......................................…................................................................................……96 APÊNDICE 1…......................................……..........................................................................…97 APÊNDICE 2…......................................……............................................................................100 vii LISTA DE FIGURAS Figura 1. Distribuição de frequências em torno da quantidade de erros em cada um dos quatro domínios do FDT de acordo com o ano escolar..............................................................................57 Figura 2.1. Distribuição de valores de tempo no teste de desempenho para Controle Inibitório em função dos percentis.......................................................................................................................60 Figura 2.2. Distribuição de valores de tempo no teste de desempenho para Flexibilidade Cognitiva em função dos percentis.................................................................................................................60 viii LISTA DE TABELAS Tabela 1. Distribuição amostral caracterizado por sexo, unidade educacional, ano escolar e idade (anos)..............................................................................................................................................44 Tabela 2. Estatística descritiva e inferencial de variáveis de funções executivas em função do ano escolar. ..........................................................................................................................................55 Tabela 3. Associação* entre o desempenho (demonstrado pelo tempo em segundos) e erros em cada domínio dos processos automáticos (FDT)............................................................................59 Tabela 4. Distribuição de frequências do Controle Inibitório em torno de três classes de percentis de acordo com os dados normativos de Sedó, Paula & Malloy-Diniz (2015)..................................64 Tabela 5. Distribuição de frequências da Flexibilidade Cognitiva em torno de 3 classes de percentis de acordo com os dados normativos de Sedó, Paula & Malloy-Diniz (2015)..................................65 ix LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ECA: Estatuto da Criança e do Adolescente FDT: Five Digit Test FE: Funções Executivas FVF: Fluência Verbal Fonológica IDEB: Índice de Desenvolvimento da Educação Básica RN: Rio Grande do Norte PISA: Programme for Internacional Student Assessment TALE: Termo de Assentimento Livre e Esclarecido TCLE: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ToL: Torre de Londres UFRN: Universidade Federal do Rio Grande do Norte WASI: Wechsler Abbreviated Scale of Intelligence WCST: Wisconsin Card Sorting Test WISC: Wechsler Intelligence Scale for Children x RESUMO As funções executivas (FE) são um conjunto de habilidades cognitivas e/ou emocionais recrutadas em situações cujas respostas automáticas ou instintivas não são suficientes. Para utilizá-las é necessário empreender certo esforço. Cruciais para o alcance do desenvolvimento cognitivo saudável dos indivíduos, estão relacionadas à formação de raciocínio, resolução de problemas e planejamento. Ademais, contribuem para o sucesso acadêmico, familiar e social. A característica desenvolvimental das FE favorece a infância enquanto fase ideal para o desenvolvimento eficaz dessas habilidades ao ter disponível o potencial cognitivo das crianças. Logo, as escolas representam espaços oportunos de investigação e de desenvolvimento dessas habilidades. Sendo assim, objetivou-se analisar o desempenho das FE nos domínios memória de trabalho, flexibilidade cognitiva, controle inibitório, planejamento e fluência verbal. Participaram 70 crianças do 1º ao 3º ano do ensino fundamental matriculadas na rede municipal de ensino de Natal/RN, de modo que cada ano escolar constituiu três grupos distintos de avaliação. O estudo é de caráter quantitativo, transversal e aprovado pelo Comitê de Ética sob protocolo CAAE nº 85607718.0.0000.5537. O Modelo de Diamond (2013) fora eleito para a compreensão teórica do construto. Os dados foram tratados por meio de análise descritiva e inferencial, com distribuição normal da amostra, utilizando-se os testes estatísticos One-way ANOVA, com post-hoc de Bonferroni, e r de Pearson. De modo geral, os resultados indicaram que as medidas descritivas das FE aumentaram com a progressão escolar, contudo, apenas a fluência verbal demonstrou significância entre o 2º e 3º anos. As demais apontaram significância entre o 1º e o 2º e/ou entre o 1º e o 3º anos. Portanto, o estudo colaborou na discussão acerca do desenvolvimento das FE nos anos iniciais de alfabetização. Palavras-chave: funções executivas, avaliação neuropsicológica, crianças, alfabetização. xi ABSTRACT Executive functions (FE) are a set of cognitive and/or emotional skills recruited in situations which automatic or instinctive responses are not sufficient. To use them requires some effort. Crucial to achieve healthy cognitive development in individuals they are related to reasoning, problem solving and planning. In addition, they contribute to academic, family and social success. The developmental characteristic of EF favors childhood as the ideal phase for the effective development of these skills by having the cognitive potential of children available. Therefore, schools represent opportune spaces for researching and development of these skills. Thus, the objective was to analyze the performance of EF in the domains working memory, cognitive flexibility, inhibitory control, planning and verbal fluency. Seventy children from the 1st to the 3rd grade of elementary school enrolled in the municipal school of Natal/RN participated in the study, so that each school year constituted three distinct assessment groups. The study is quantitative, cross-sectional and approvedby the Ethics Committee under protocol CAAE No. 85607718.0.0000.5537. The Diamond Model (2013) was elected for the theoretical understanding of the construct. Data were treated by descriptive and inferential analysis, with normal distribution of the sample, using one-way ANOVA statistical tests, with Bonferroni post-hoc and Pearson r tests. Overall, the results indicated that the descriptive measures of EF increased with school progression, however, only verbal fluency demonstrated significance between the 2nd and 3rd years. The others indicated significance between the 1st and 2nd and/or between the 1st and 3rd years. Therefore, the study contributed to the discussion about the development of EF in the early years of literacy. Keywords: executive functions, neuropsychological assessment, children, literacy. 12 1. Introdução A pesquisa intitulada Funções Executivas de Crianças de Escola Pública em Fase Inicial de Alfabetização nasceu do interesse da pesquisadora em estudar habilidades cognitivas necessárias à aprendizagem e ao desenvolvimento de crianças matriculadas na rede pública de ensino. As experiências acadêmicas anteriores permitiram um contato precoce da autora, ainda enquanto psicóloga em formação, na dura realidade que às vezes pode ser a escola pública no Nordeste brasileiro. A carência de infraestrutura e de toda a ordem de investimento público nem sempre é compensada pelo interesse e esforços da comunidade escolar de garantir o pleno desenvolvimento de seus alunos. O contato constante com essa realidade ao longo dos anos fez com que a pesquisadora se deparasse não somente com frustrações e problemas, mas, principalmente, com a curiosidade insaciável das crianças pelo conhecimento que nem sempre encontravam meios de lhe dar vazão. Movidas pelo mesmo interesse, orientanda e orientadora viram seus caminhos acadêmicos entrelaçados e puderam amadurecer as ideias que ainda se encontravam latentes. Nessa busca de significados, a orientadora conseguiu traduzir o que orientanda não conseguia enxergar, daí surgiu o tema funções executivas para este trabalho. A curiosidade perante o tema adveio justamente pela carência de estudos com crianças nordestinas em fase inicial de alfabetização. Criado em 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) visa garantir direitos básicos de crianças e adolescentes residentes no Brasil, como o direito à Saúde e à Educação. No entanto, até que ponto estamos conseguindo desenvolver o potencial cognitivo de nossos cidadãos? Infelizmente, algumas estatísticas conhecidas a respeito do baixo desempenho em leitura, ciências e matemática em avaliações internacionais como o PISA – Programme for Internacional Student Assessment, ou até nas avaliações nacionais, como o IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, já dão pistas importantes sobre as falhas ainda existentes. Falhas que por si só podem repercutir no desenvolvimento das crianças e adolescentes, e por isso mesmo nos levam a refletir se estamos sendo exitosos na tarefa de lhes garantir direitos fundamentais. Sem dúvida o cenário é complexo e incontáveis fatores possivelmente estão atrelados a esses fatos. Mas, talvez, se debruçar no estudo de habilidades tão nobres quanto às funções executivas (mesmo que possam ser consideradas como gotas no oceano nesse cenário imenso do 13 desenvolvimento infantil/cérebro/saúde/educação), possa lançar luz na discussão sobre a adequada promoção do desenvolvimento infanto-juvenil. Utilizando-se das próprias premissas do ECA, também é dever de todo cidadão atuar na defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes. Apesar da pesquisa realizada se constituir apenas como um ato singelo que não tem a pretensão primeira de responder a pergunta anteriormente formulada, tem a responsabilidade de tentar endossar os esforços feitos e em andamento nesse sentido à medida que se propõe avaliar determinadas habilidades de funções executivas de um grupo de crianças. Habilidades simultaneamente relacionadas à Saúde e à Educação. Silogismo considerado neste trabalho, o qual também foi prontamente assumido por Diamond (2011) ao declarar que “muitas problemáticas não são simplesmente problemáticas de educação ou problemáticas de saúde, elas são de ambas”. Diante disso, este estudo abordará as funções executivas como elemento central. Os capítulos da fundamentação teórica tratarão o construto funções executivas, a qual abordará discussão conceitual do tema, seguida de breve explanação sobre a perspectiva que embasa este trabalho. Finalizará com descrição de instrumentos clássicos utilizados nos processos de avaliação neuropsicológica infantil e estudos das funções executivas realizado com crianças escolares. Subsequentemente virá a descrição da pesquisa propriamente dita, com detalhamento dos aspectos metodológicos, discussão e considerações finais. 14 2. Fundamentação teórica 2.1. Funções Executivas: conceituação As FE são um conjunto de habilidades necessárias à vida humana para o raciocínio, resolução de problemas e em situações que exigem mais do que respostas automáticas (Diamond, 2011; 2013). Geralmente é empregado um esforço para utilizá-las (Lesak, Howieson & Loring, 2004; Diamond, 2013). Influenciam a saúde física e mental, sucesso escolar e na vida, e são essenciais para o desenvolvimento cognitivo, social e psicológico (Diamond, 2013). Se encontram prejudicadas em muitos transtornos mentais, incluindo "vícios", transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, transtorno de conduta, depressão, transtorno obsessivo compulsivo e esquizofrenia (Diamond, 2013). Menores medidas em FE estão associadas à casos de obesidade, sobrepeso, abuso de substância e baixa adesão ao tratamento (Diamond, 2013). FE menores também resultam em baixa produtividade e dificuldade em encontrar e manter um emprego; podem levar a problemas sociais, inclusive crime, comportamento imprudente, violência e explosões emocionais. Parceiros com FE baixas também podem ser mais difíceis de se relacionar, serem menos fiéis ou mais propensos a agir impulsivamente (Diamond, 2013). Contrariamente, pessoas com FE mais altas tendem a apresentar uma melhor qualidade de vida, além disso, são preditoras das competências em matemática e leitura ao longo dos anos escolares (Diamond, 2013). Em resumo, a autora compreende as funções executivas como um conjunto de processos cognitivos e metacognitivos fundamentais ao controle e regulação do comportamento. Nesse ínterim, ressalta-se o papel da emoção e da cognição como habilidades relevantes para o aprendizado e para o comportamento autorregulado (Diamond, 2013). Outros estudiosos tendem defini-las genericamente como “o conjunto de habilidades que nos permitem executar as ações necessárias para atingir um objetivo” (Garon, Bryson & Smith, 2008; Lezak, 1995, apud Uehara, Charchat-Fichman & Landeira-Fernandez, 2013) ou que “são habilidades de pensamento que auxiliam no raciocínio, no planejamento, na resolução de problemas e no gerenciamento da vida” (Blair, 2016). Ou ainda nomeiam Função Executiva, no singular, por considerarem-na como um “termo guarda chuva para vários processos cognitivos que facilitam o comportamento orientado a objetivo” (Huizinga, Dolan & van der Molen, 2006). A célebre analogia feita pelo Center on the Developing Child (2011) é interessante de ser 15 lembrada, pois descreve que a função executiva e a autorregulação funcionam como um "sistema de controle de tráfego aéreo do cérebro em um aeroporto movimentado" ao serem capazes de "gerenciar as chegadas e partidas de dezenas de aviões em várias pistas". Isto é, o cérebro utiliza esse grupo de habilidades no momento em que precisa "filtrar distrações, priorizar tarefas, definir e atingirmetas e controlar impulsos" (Center on the Developing Child, 2011). Por vezes, os termos controle executivo, atenção executiva, controle executivo, funcionamento executivo e habilidades fluidas são empregados enquanto sinônimos equivalentes das funções executivas (Zelazo, Blair & Willoughby, 2016). Além disso, desde a gênese as FE são tratadas com notoriedade e continuam sendo alvo de importantes estudos e discussões, mas uma definição geral das Funções Executivas ou Função Executiva, como às vezes o construto é alcunhado, não parece ser tarefa simples, apesar dos inúmeros progressos realizados na área, visto o volume de produção científica associado aos mais variados termos e conceitos encontrados na literatura acadêmica. Basta uma rápida pesquisa em uma base de dados como o Google Scholar para mensurarmos o quão os pesquisadores interessam-se por esse construto. Se escrevermos apenas executive functions sem especificarmos no campo de busca o período inicial em que o material foi produzido encontraremos em torno de 2.620.000 resultados até meados de maio de 2019. E se ampliarmos as nomenclaturas considerando apenas alguns dos termos os quais esse construto por vezes é conhecido, como em executive function OR executive functions OR executive functioning 2.930.000 resultados serão encontrados. Se insistirmos nessa busca e adicionarmos um outro termo equivalente, mas agora em língua portuguesa, como no caso de funções executivas OR função executiva OR funcionamento executivo OR controle executivo chegaremos em 136.000 resultados. Ainda um extenso volume de dados. A concepção do termo é atribuída à Lezak, Howieson & Loring quando a descreveram no Manual de Avaliação Neuropsicológica em 1995 (Lezak, Howieson & Loring, 2004; Salles & Paula, 2016). No entanto, o delineamento do conceito é anterior à criação do termo, devido à longa trajetória de estudos sobre o cérebro, advindos desde os casos de pacientes com lesões nos lobos frontais e consequentes prejuízos causados à cognição, comportamento e emoção, até as pesquisas realizadas com primatas e estudos de neuroimagem (Best, Miller & Jones, 2009). Assim, devido aos estudos sobre o cérebro, as FE, as Neurociências e a Neuropsicologia compartilham um passado histórico em comum (Uehara, Charchat-Fichman & Landeira-Fernandez, 2013). 16 O caso de Phineas Gage merece ser mencionado não apenas por ser o mais famoso dentre os casos de lesões cerebrais, mas por ter sido o primeiro que se tem notícia sobre a existência de uma habilidade relacionada à antecipação do futuro, elaboração de planos, tomada de decisões e comportamento independente (Damásio, 2012). Gage, considerado o homem mais eficiente para conduzir o trabalho de assentar trilhos em uma ferrovia na cidade de Cavendish, no estado de Vermont, Estados Unidos, se viu, em 1848, com uma barra de ferro atravessada em seu crânio após a explosão de uma rocha (Damásio, 2012). Apesar de, aparentemente, manter o intelecto e linguagem preservados - fato novo na história da medicina até então, e, com isso, intrigando os estudiosos da época -, teve sua sociabilidade prejudicada. Era a primeira vez que se observava um caso como esse. Damásio (2012) descreveu que “Gage não era mais Gage”, pois após o acidente perdera não só o casamento, como o emprego, e nunca conseguira finalizar as tarefas que lhe eram atribuídas, migrando constantemente de emprego e, igualmente, passara a ser repelido dos círculos sociais. Lezak, Howieson & Loring (2004) relataram um exemplo contemporâneo semelhante ao que ocorrera com Phineas Gage. Um homem de 45 anos, médico, sofrera uma parada cardíaca e consequente hipóxia durante uma cirurgia facial. Após o episódio, o médico apresentou comprometimento nas habilidades de iniciativa, auto-correção, comportamento autorregulado e memória prospectiva. Por conta disso não conseguira mais voltar a trabalhar como médico e passara a ser motorista de caminhão na empresa do irmão. Ao ser questionado sobre o futuro, relatava não ter nenhum plano em mente, nem questionava sobre o status legal do irmão, que passou a ser seu guardião, nem tampouco sabia como eram pagos os custos financeiros necessários à sua sobrevivência. Com frequência não realizava o trabalho como delivery devidamente, já que se atrasava nas entregas no trabalho e se perdia em longas horas em conversas com clientes. Quando lhe era perguntado o motivo pelo qual se encontrava em um novo emprego ele apenas dizia que gostava de conversar (Lezak, Howieson & Loring, 2004). Nos raros momentos os quais permanecia sozinho em casa, esquecia-se de se alimentar e de cuidar de sua higiene pessoal. Mesmo assim, os testes de inteligência das escalas Wechsler apontavam que o ex-médico apresentava média alta um ano após o acidente e sete anos depois a média aumentou e o homem atingiu a média muito superior (Lezak, Howieson & Loring, 2004). Os autores relataram que, se apenas medidas de Quoeficiente de Inteligência (QI) tivessem 17 sido consideradas em sua investigação clínica, equivocadamente, se concluiria que o ex-médico não sofrera dano algum após o episódio de hipóxia. Dado que não é verdade, uma vez que seu comportamento deliberado fora comprometido (Lezak, Howieson & Loring, 2004). Essa situação exprime que a inteligência, enquanto medida de QI, e as funções executivas são construtos que parecem se diferenciar entre si, e ainda expõe a necessidade de uma investigação contextual e integral de pacientes vítimas de lesões cerebrais. “(...) funções executivas comprometidas prejudicam o auto-cuidado, trabalho, manter relacionamentos sociais saudáveis, independente se as capacidades cognitivas estão preservadas e de pontuações altas em testes de conhecimentos, habilidades e inteligência” (Lezak, Howieson & Loring, 2004, tradução da autora). Destarte, a definição do construto, o interesse demonstrado pela comunidade científica ao longo dos anos e os dois casos acima relatados reforçam, conjuntamente, a importância das funções executivas e a necessidade de continuar somando esforços com o objetivo de desvelá-las. Nesse sentido, é interessante explanar ainda as principais correntes teóricas existentes sobre as FE. Comumente, essas propostas teóricas divergem entre si de acordo com duas hipóteses: a) pela natureza unitária ou múltipla do construto, isto é, se as FE representam um único construto ou mesmo vários que funcionam de forma paralela e integrada e, b) em relação a quais seriam os seus componentes (Garon & Smith, 2008; Malloy-Diniz, Paula, Sedó, Fuentes & Leite, 2014). A literatura ainda apresenta variados modelos teóricos diante das duas hipóteses apresentadas. Seabra, Reppold, Dias & Pedron (2014) afirmaram que há maior consenso quanto à competência não unitária das funções executivas, embora haja maior divergência na delimitação dos componentes. Destacam-se três modelos principais: o Modelo Fatorial, o Modelo de Lezak e o Modelo de Cicerone. O Modelo Fatorial, o mais aceito na literatura, têm Miyake (2000), Huizinga (2006) e Diamond (2013) entre seus expoentes (Seabra, Reppold, Dias & Pedron, 2014). Os adeptos tendem a confirmar a existência de dois ou três componentes principais os quais possuem certo grau de interdependência, são eles: memória de trabalho, flexibilidade e inibição, ou inibição e memória de trabalho, ou memória de trabalho e alternância (Seabra, Reppold, Dias & Pedron, 2014). Miyake, Friedman, Emerson, Witzki, Howerter & Wager (2000) e Miyake & Friedman, (2012) afirmaram que as FE são notadamente importantes de serem estudadas, já que elas são a base da habilidade de autorregulação e, por isso, trazem importantes implicações para a vida diária, 18 como a regulação do uso de substâncias e do comportamento alimentar. Assim, ao conduzirem pesquisas sobre as diferenças entre as funções executivasdos indivíduos e o modelo da unidade/diversidade, se perguntaram, por exemplo, os motivos que permitem a algumas pessoas, serem capazes e a outras não, de resistir a comidas altamente calóricas quando estão em uma dieta e também os fundamentos cognitivos e biológicos das diferenças individuais. Acrescentaram ainda que o esforço em estudá-las é necessário mesmo com o desafio da definição e a dificuldade de mensuração do construto - dificuldade intitulada de problema da tarefa impura, já que outras habilidades, além das FE, poderiam ser requisitadas em uma tarefa utilizada para medi-las. A afirmação dos autores sobre a importância de se debruçar sobre os estudos das FE se apresenta de uma maneira muito convincente, apesar dos 19 anos decorridos desde quando ela foi enunciada pela primeira vez (no artigo de Witzki, Howerter & Wager, 2000) e do volume de produção científica voltado a esse tema, posto que já era possível se deparar com 882.000 resultados no Google Scholar apenas para o termo executive functions até o ano 2000. As conclusões mais recentes desse grupo (Miyake & Friedman, 2012) apontaram quatro elementos gerais a seguir explanados: o primeiro indicou que diferentes FE se correlacionavam entre si demonstrando uma capacidade subjacente comum (seria a noção de unidade), e, ao mesmo tempo, uma separabilidade (noção de diversidade). O segundo pode ser explicado a partir da correlação de gêmeos monozigóticos e dizigóticos em análises genéticas comportamentais, no qual se percebeu contribuições genéticas significativas que refletem diferenças individuais nas FE. No entanto, a hereditariedade não atuaria isolada, mas juntamente com o ambiente, desempenharia um papel central na variabilidade que existe entre as FE das pessoas, tanto que treiná-las efetivamente reforçaria a participação do ambiente na premissa da variabilidade (Miyake & Friedman, 2012). No terceiro elemento, se discutiu que as medidas cognitivas puras das FE conseguem prever diferenças individuais em importantes comportamentos clínicos e sociais devido ao componente unitário das FE, como expressa a correlação significativa entre uma variável latente para desinibição comportamental (presente em pessoas com déficits de atenção) com uma variável comum das FE, o que revela que melhores habilidades gerais nessas habilidades resulta em menores problemas comportamentais, permitindo maior sucesso em dietas, por exemplo. Por último, os autores discutiram que estudos longitudinais indicam que as diferenças individuais nas FE demonstram algum nível de estabilidade durante o desenvolvimento. Apesar de Huizinga, Dolan & van der Molen (2006) nomearem Função Executiva, 19 podendo-se inferir pela consideração de uma proposta unitária do construto, os mesmos salientaram que é necessário reconhecer tanto a unidade quanto a diversidade dos componentes da Função Executiva ao estudá-la em termos de trajetória desenvolvimental. Consideraram, ainda, que a memória de trabalho, a alternância e a inibição eram os componentes mais relatados da literatura científica. Diamond (2013) afirmara que as habilidades atenção seletiva, planejamento, monitoramento das ações em andamento, flexibilidade cognitiva, controle inibitório e memória de trabalho e/ou operacional eram as mais conhecidas das funções executivas, embora alguns autores reconhecessem outras habilidades e considerassem pertinentes tecerem investigações sobre elas (Diamond, 2013; Dias, 2013). No entanto, Diamond (2013) reconhecera a memória de trabalho, inibição e flexibilidade cognitiva como os componentes mais importantes das FE. O Modelo discutido por Lezak, Howieson & Loring (2004) também descrevera quatro domínios das FE: volição (relacionado à capacidade de envolvimento em um comportamento emocional e a formulação de um objetivo ou intenção), planejamento (inclui a identificação e organização de elementos e passos necessários para se atingir a um objetivo), comportamento com propósito (refere-se à capacidade de iniciar e manter uma atividade, alterar seu curso se for necessário e suspender comportamentos sequenciais), e desempenho efetivo (está relacionado ao sistema de automonitoramento, os quais esses domínios são submetidos). Presentes na maioria dos comportamentos complexos, os mesmos afirmaram que as FE estão relacionadas à capacidade do sujeito de responder adaptativamente a situações novas, quando as respostas automáticas não são suficientes, e de serem a base de diversas habilidades cognitivas, emocionais e sociais. O Modelo de Cicerone, na verdade, proposto por Cicerone, Levin, Malec, Stuss & Whyte (2006) compreendera a divisão das FE em quatro domínios, altamente sobrepostos: as funções executivas cognitivas (envolve as habilidades de planejamento, monitoramento, flexibilidade, inibição, memória de trabalho e mecanismos atencionais), as funções autorreguladoras do comportamento (abarcam a regulação do comportamento), as funções de regulação da atividade (participam na tomada de iniciativa e continuidade a ações direcionadas a metas e a processos mentais) e os processos metacognitivos (relacionados à teoria da mente, autoconsciência, ajustamento, comportamento social apropriado e à personalidade). Malloy-Diniz, Paula, Sedó, Fuentes & Leite (2014) sugeriram alguns modelos teóricos sobre a noção de construto único das funções executivas: as divisões funcionais de Luria e o 20 modelo de memória operacional de Baddeley e Hitch. Embora Luria não tenha desenvolvido exatamente um modelo específico para as FE, a proposta teórica dele se aproxima de um conceito de FE. Os estudos com pacientes com lesões frontais contribuíram para que o estudioso considerasse a linguagem diretamente relacionada à ações dirigidas a objetivos (Tonietto, Wagner, Trentini, Sperb & Parente, 2011). Ademais, Luria considerava que todos os processos mentais conscientes dos seres humanos estavam sob domínio da comunicação verbal. A partir disso, pode-se supor que a linguagem seria essencial para o desenvolvimento das funções executivas pela intencionalidade/intenção comunicativa (Luria, 1996 apud Tonietto, Wagner, Trentini, Sperb & Parente, 2011). Posteriormente, as relações entre linguagem e funções executivas foram demonstradas à medida que os estudos avançaram. Em 1974, Baddeley & Hitch propuseram o modelo de três componentes da memória de trabalho (entendida como um sistema de capacidade limitada que permite armazenar e manipular, temporariamente, a informação necessária em tarefas complexas como compreensão, aprendizagem e raciocínio), que são: o sistema de controle de atenção, o executivo central, que auxilia dois sistemas secundários: o loop fonológico e o bloco de esboço visuoespacial (Baddeley, 2000). O loop fonológico desempenharia o papel de sustentar a informação acústica e visual utilizando um sistema de armazenamento temporário e um sistema de ensaio articulatório; e o bloco de esboço visuoespacial conteria informações visuoespaciais (Baddeley, 2000). Porém, ao longo de 25 anos desde a primeira publicação, os autores encontraram um quarto componente da memória de trabalho, o buffer episódico que apresentaria uma capacidade limitada de armazenar temporariamente as informações vinculando-as aos demais sistemas e à memória de longo prazo, em que a percepção consciente é a principal forma de recuperação do buffer episódico. Assim, no novo modelo a atenção foi considerada nos processos de integração da informação (Baddeley, 2000). Convém dizer ainda que os estudiosos das funções executivas, ainda que apresentem diferentes conceituações sobre o construto, consideram, de modo geral, a existência de dois grandes componentes: os aspectos cognitivos “frios” e os aspectos afetivos “quentes”, também denominados de FE metacognitivas e FE emocionais ou motivacionais, respectivamente (Ardila, 2013). Os primeirosestariam relacionados à cognição complexa, como planejamento, abstração, memória de trabalho e/ou operacional e resolução de problema; os segundos, ao controle e à 21 coordenação do comportamento cognitivo e emocional, vinculados ao cumprimento de estratégias socialmente aceitáveis (Ardila, 2013). Mas vale lembrar que os componentes frios e quentes trabalhariam conjuntamente na resolução dos problemas na vida cotidiana (Zelazo, Blair & Willoughby, 2016). O que denotaria o caráter de organização conceitual para a divisão desses dois grandes componentes. Neuroanatomicamente, as FE dependeriam de uma extensa rede envolvendo diferentes áreas cerebrais (Ardila, 2013). Além do córtex pré-frontal, os estudos de neuroimagem apontam, por exemplo, estruturas da conectividade corticolímbica enquanto regiões recrutadas na expressão do funcionamento executivo (Yuan & Raz, 2014; Blair, 2016) e para a existência de duas redes anatômico-funcionais distintas no córtex pré-frontal, o que corrobora para a proposta dos componentes metacognitivos e emocionais (ou frios e quentes) das FE mencionados por Ardila (2013). Por fim, o desenvolvimento pleno das FE também demandariam estímulos ambientais efetivos, todavia, as mesmas seguiriam um longo curso desenvolvimental ligado à maturação do córtex cerebral (Guare, 2014). 2.2. O Modelo de Diamond É interessante aprofundar as considerações sobre o modelo de FE proposto por Diamond (2013; 2016); em parte já apresentadas na seção anterior. Em primeira instância é indispensável retomar que a autora considera a inibição/controle inibitório, memória de trabalho/operacional e flexibilidade cognitiva como o cerne das funções executivas. Isso significa que, embora reconheça a existência de outros subcomponentes envolvidos no construto, elege os três citados como cruciais. Antes de prosseguir, uma observação se faz necessária, a qual está novamente vinculada a dificuldade de circunscrever uma outra terminologia específica. O caso em questão se refere a tradução para o português do termo working memory, utilizado por Diamond (2013), pois, em estudos nacionais, ora encontra-se traduzido como memória de trabalho, ora como memória operacional. A interpretação da autora deste estudo sugere que embora os dois construtos estejam sendo utilizados enquanto sinônimos no Brasil, a opção será pelo descritor memória de trabalho, para harmonizar com o termo em espanhol memoria de trabajo, tal como aparece, por exemplo, em Lázaro & Ostrosky-Shejet (2012). Situação semelhante parece ocorrer entre os termos inibição 22 e controle inibitório, que se mostram intercambiáveis tanto em estudos nacionais, quanto nos internacionais, inclusive por Diamond (2013; 2014; 2016). Quanto à estes últimos, os dois termos serão utilizados neste trabalho à moda da autora. Em seus artigos Diamond (2013; 2014; 2016) discute que a memória de trabalho atuaria quando sustentamos informações na mente e realizamos algum tipo de manipulação mental com elas, a exemplo da reordenação das representações mentais de objetos de acordo com o tamanho. A memória de trabalho seria imprescindível para dar sentido a "qualquer coisa que se desdobre ao longo do tempo", pois permitiria a conexão entre o que aconteceu anteriormente e o que ocorreria agora; a exemplo da linguagem escrita e falada (Diamond, 2014). Tarefas de Span de Dígitos na ordem inversa são tidas como bons exemplos aos quais a memória de trabalho seria recrutada (Wechsler, 2013). Nessas tarefas é solicitado ao examinando uma repetição verbal na ordem inversa de uma sequência de números que ele acabara de ouvir (Wechsler, 2013). Para isso, o examinando precisaria não apenas memorizar a sequência emitida pelo examinador (utilização da memória de curto prazo), mas mantendo essa sequência em mente, ele precisaria emiti-la em ordem inversa à verbalizada pelo examinador (processo conhecido como manipulação mental, o qual caracterizaria a atuação da memória de trabalho no exemplo citado) (Diamond, 2014; 2016). A inibição, por outro lado, se referiria à capacidade do indivíduo de inibir comportamentos, pensamentos, emoções e controlar a atenção em detrimento de uma resposta mais apropriada ao contexto (Diamond, 2013). É um construto heterogêneo quando comparado à memória de trabalho, em razão da existência de diversos subtipos de inibição (Diamond 2013; 2014; 2016). No estudo de 2013 a autora afirmou que a inibição englobaria, dentre outros, a inibição de resposta (response inhibition) e o controle de interferência (interference control). A primeira abrange o autocontrole (self-control) o qual é associado à capacidade de resistir a tentações e não agir impulsivamente. Já o segundo envolve a atenção seletiva (selective attention) e a inibição cognitiva (cognitive inhibition), na qual se encontra vinculada à memória de trabalho, oferecendo-lhe suporte. Já a novidade apresentada pela autora no estudo de 2016 é a de que o controle de interferência, o qual diz respeito à capacidade de inibir distratores, poderia ser encarado como sinônimo da inibição da atenção: seletiva ou focada (inhibition of attention: selective or focused attention). Além disso, fora realçado o subtipo inibição da ação (inhibition of action), relacionado à respostas motoras e verbais, e envolveria diversos subtipos, explanados através de explicações, 23 e não mais com nomenclaturas específicas. Assim percebe-se que a inibição da ação cumpriria um papel desde situações nas quais um indivíduo inibe o impulso para responder ou reagir de maneira imediata a algo até em contextos onde se permanece focado em uma tarefa. Este último também está atuante de duas formas: quando um indivíduo finaliza uma tarefa difícil ou tediosa, a despeito de todas as tentações que poderiam impeli-lo ao contrário e, com isso, engajá-lo em algo mais prazeroso ou divertido; e quando se sustenta a atenção em algo por um longo período de tempo em tarefas igualmente entediantes e com todas as distrações conclamando- lhe (Diamond, 2016). Apesar da proximidade dos dois cenários citados, é possível perceber uma diferença entre eles, pois permanecer focado em uma tarefa por um período de tempo considerável não significaria, necessariamente, terminá-la. No entanto, talvez seja possível dizer que, para findar uma tarefa é preciso manter a atenção por vários minutos. A flexibilidade cognitiva, por sua vez, surgiria mais tardiamente na trajetória desenvolvimental em relação aos demais subcomponentes principais das FE e se construiria e requeriria o controle inibitório e a memória de trabalho (Diamond, 2014; 2016). Isso se dá pois é preciso inibir ou mesmo anular (atuação do controle inibitório) uma perspectiva anterior para poder dar lugar a uma nova (característico da flexibilidade cognitiva) e isso é possibilitado quando a perspectiva anterior está em mente e sendo trabalhada pela memória de trabalho (Diamond, 2013; 2014). No mais, as crianças mais novas e os adultos mais velhos (a exemplo de idosos em idade avançada) tenderiam a recrutar as FE de modo mais reativo, quando existe uma demanda externa para essa atuação (Dimaond, 2013). Por outro lado, as mesmas seriam recrutadas mais proativamente pelas crianças mais velhas e adultos mais jovens, os quais tenderiam a planejar mais e antecipar essa utilização (Diamond, 2013). Apesar de Diamond (2013) não se deter a este exemplo podemos nos servir do cenário proposto por Cecília Meireles no poema "Ou Isto ou Aquilo" (2012), quando o eu lírico se mostra duvidoso entre comprar ou não um doce e, assim, gastar ou não o dinheiro (ver o poema na página 32 deste trabalho). Imaginemos dois irmãos de 5 e 12 anos que acabaram de ser presenteados pela avó com uma determinada quantia em dinheiro e logo se deparam com um elaborado pirulito de chocolate à venda na padaria a caminhoda escola. Haviam se passado apenas 10 minutos desde que guardaram o dinheiro na carteira. Se ambos encontram-se em uma trajetória típica de desenvolvimento é o irmão mais novo que propende a recitar as estrofes de Meireles, já que não 24 havia planejado antecipadamente o destino do dinheiro, enquanto o mais velho, no momento em que o recebe já decidira guardá-lo para a compra de um brinquedo novo ao final do ano. O que essa situação nos mostra? Além da presença efetiva das FE em nossas vidas o amadurecimento delas segundo uma trajetória desenvolvimental. Um indicativo da importância e possibilidade de promovê-las plenamente desde a mais tenra idade. A fim de representar a progressão desenvolvimental das habilidades de memória de trabalho, inibição e flexibilidade cognitiva é conveniente citar o trabalho de Davidson, Amso, Anderson & Diamond (2006), os quais realizaram um estudo com 314 participantes norte- americanos entre 4 e 45 anos. Todos participaram da mesma bateria de testes computacionais apropriados para sujeitos de um amplo espectro de idade. Em relação aos principais resultados do estudo encontraram-se: melhora no desempenho das habilidades supracitadas conforme a idade dos participantes; diferenças significativas em diversas medidas das tarefas entre os adolescentes de 13 anos e os adultos, o que indicaria uma longa trajetória desenvolvimental das FE, já que os adolescentes não alcançaram o desempenho máximo nessas habilidades; as crianças mais novas apresentaram maior variabilidade no desempenho nas tarefas de inibição quando comparadas com as mais velhas e os adultos; sujeitos de todas as idades demonstraram um melhor desempenho na parte exclusivamente incongruente da tarefa de alternância do que na parte composta por congruência e incongruência combinadas. Os resultados também sugeriram que o exercício da flexibilidade cognitiva foi mais fácil a partir dos 13 anos e, sobretudo, para os adultos. No tocante à memória de trabalho, essa habilidade fora mais demandada na parte congruente e incongruente combinadas da tarefa de alternância do que nas demais. Isso ocorreu pois o examinando não pode mais dispor de apoios visuais que o ajudavam na emissão da resposta correta. Até então ícones sugestivos, como figuras de animais e setas apontando para baixo ou diagonalmente, integravam as tarefas e ajudavam o examinando a se lembrar das regras para pressionar o botão correto no teclado do computador. Mas, ao alcançar a parte mais difícil da tarefa de alternância, composta por ícones abstratos, os quais não eram sugestivos, passou-se a ser necessário que o examinando se lembrasse, por si só, das regras e as manipulassem na mente, isto é, o participante passou a depender, sobremaneira, da memória de trabalho. Além disso, na parte mais difícil na tarefa de alternância, o tempo de reação foi maior à medida que a idade avançava. Os participantes mais velhos preservaram a 25 acurácia em detrimento do tempo, porém, as crianças mais novas tiveram menos acurácia, menor tempo de reação e, consequentemente, maior impulsividade. Em estudo de comparação entre bebês e crianças canadenses provenientes de grupos clínicos e não clínicos em tarefas de funções executivas, Diamond (2011) dividiu os grupos a partir das variações de idade em meses. A pesquisadora comparou bebês de 6 a 12 meses em intervalos com 1 mês de diferença. Enquanto isso, as crianças maiores, entre 3 anos e meio a 7 anos, foram divididas a cada 6 meses de diferença para investigar possíveis diferenças nas FE. Diamond (2011) constatou que esses grupos de crianças, mesmo com poucas diferenças cronológicas, apresentavam diferenças importantes nas funções executivas ao longo da trajetória desenvolvimental. Resultados semelhantes foram encontrados no trabalho de Barros et al (2016) sobre o perfil desenvolvimental das funções executivas de crianças do nordeste brasileiro entre 5 e 8 anos após segmentarem a amostra em intervalos de seis meses. As autoras verificaram diferenças significativas em medidas de atenção, inibição e flexibilidade cognitiva. Assim sendo, o robusto estudo de Davidson, Amso, Anderson & Diamond (2006), assim como o de Diamond (2011) tornaram-se referências na literatura das FE e continuam impulsionando investigações sobre a trajetória desenvolvimental do construto, a fim de preencher lacunas e limitações apontadas pelos autores, como o acréscimo de participantes entre os 13 e 26 anos, e produzir mais evidências sobre esse tópico em contextos variados. 2.3. Instrumentos de Avaliação Neuropsicológica das Funções Executivas Em um passado recente, a neuropsicologia infantil ainda encontrava dificuldades em dispor de medidas adequadas nos instrumentos de avaliação das funções executivas (Barros & Hazin, 2013). Essa característica resultante da complexidade, diversidade teórica e definição de quais seriam os componentes principais das funções executivas permitiu a utilização de inúmeras tarefas ou instrumentos para avaliá-las nessa realidade desenvolvimental, dificultando, assim, a construção de medidas confiáveis das FE infanto-juvenis (Barros & Hazin, 2013). Isso impôs a necessidade de uma avaliação integrativa ou utilização de uma bateria fixa, embora o instrumentos mais relatados na literatura das FE infantis continuarem sendo constituídos não só de baterias, como também de instrumentos ou tarefas isoladas, como demonstrado na revisão de Barros & Hazin (2013): BRIEF - Behavior Rating Inventory of Executive Functions -, 26 escalas Wechsler e tarefas baseadas nos paradigmas Go/No-Go e Stroop. Todavia, esse cenário de dificuldades na avaliação das FE de crianças parece ligeiramente alterado ao longo do tempo, apesar do crescimento exponencial no número de pesquisas sobre instrumentos de avaliação das FE de modo geral, como demonstrado no artigo de revisão sistemática de Santana, Melo & Minervino (2019). Foram pesquisados artigos em línguas portuguesa e inglesa em diferentes bases de dados entre os anos de 2010-2016, cujo alcance após a etapa da análise foi de 35 artigos. Do total, apenas 9 se dedicaram aos instrumentos de avaliação das FE de crianças abaixo de 12 anos, isto é, a maioria dos estudos voltaram-se à população adulta e/ou idosa, embora somente 5 consideraram os adolescentes (Santana, Melo & Minervino, 2019). Sendo assim, estudos com adolescentes foram ainda mais raros do que àqueles com crianças, e apenas 1 se dedicou às três faixas etárias conjuntamente (Santana, Melo & Minervino, 2019). A justificativa para essa discrepância atrela-se à escassez de instrumentos padronizados e normatizados para o público infanto-juvenil ou que sejam capazes de avaliar as FE em um amplo espectro de idade (Santana, Melo & Minervino, 2019). Como se observa, esse cenário parece ter sido pouco alterado desde o estudo de Barros & Hazin (2013). É importante mencionar também que os estudos dedicados às avaliações das FE de crianças e adolescentes expressaram um interesse considerável nas relações entre FE e aprendizagem, provavelmente, devido à influência das FE para o sucesso escolar (Santana, Melo & Minervino, 2019). Além disso, considerando todos os 35 artigos pesquisados e, por sua vez, diferentes faixas etárias, os instrumentos Wisconsin Card Sorting Test, Teste de Trilhas (Trail Making Test), as escalas Wechsler e o Teste Stroop, respectivamente, foram os mais relatados na literatura (Santana, Melo & Minervino, 2019). Isso significa que as escalas Wechsler e o Teste Stroop se mantiveram na preferência dos pesquisadores quando confrontam-se esses resultados com os de Barros & Hazin (2013). Sob o apoio de estudos clássicos as descrições de tais instrumentos podem ser lidas a seguir: Teste de Classificação de Cartas de Wisconsin (ou Wisconsin Card Sorting Test – WCST): o teste deve seu surgimentoa partir de experimentos com macacos rhesus em laboratórios (Berg, 1948). Ao observar que os macacos que apresentavam lesões cerebrais eram capazes de resolver problemas desde que não envolvessem alternância, e os que não possuíam qualquer tipo de lesão eram capazes de resolver problemas diversos, inclusive, com alternância, Berg (1948) percebeu a influência no comprometimento na habilidade de alternância em casos de lesões cerebrais. Essa 27 descoberta associada à necessidade de se dispor de medidas objetivas e confiáveis para medir essa habilidade, medidas inexistentes no período em questão, levou à criação do WCST (Berg, 1948). Posteriormente, o teste foi aperfeiçoado e passou a ser considerado como um teste complexo do funcionamento executivo (Axelrod et al, 1996). O instrumento é composto por dois baralhos formados por 64 cartas e cada uma apresenta figuras que se diferenciam pela cor (azul, amarela ou verde), forma (cruz, triângulo, círculo ou estrela) ou número (um, dois, três ou quatro) (Miguel, 2005). O examinador dispõe quatro cartas- estímulo na frente do examinando e lhe pede para retirar uma carta do baralho, em seguida, associá- la a uma das cartas-estímulo. Após, o examinador apenas responde se a associação foi correta ou não. A configuração inicial é cor e depois de 10 respostas corretas o examinador inicia uma nova configuração até completar as 128 cartas (Miguel, 2005). As respostas são anotadas em um protocolo de registro, o qual contém itens para anotar a quantidade de respostas corretas, perseverativas, erros perserverativos e não-perseverativos, entre outras informações (Miguel, 2005). Os estudos de normatização no Brasil tornou possível a utilização do instrumento com sujeitos de diferentes faixas etárias, desde os 6 anos e meio até os 89 anos (Miguel, 2005; Coelho et al, 2012). Mas no conhecido estudo de Huizinga, Dolan & van der Molen (2006) sobre a trajetória desenvolvimental dos componentes da função executiva memória de trabalho, alternância e inibição (os componentes mais relatados da literatura, segundo eles) e análise fatorial latente, os pesquisadores investigaram o desempenho de crianças, adolescentes e adultos jovens por meio das tarefas neuropsicológicas de FE pelo Teste de Classificação de Cartas de Wisconsin e pela Torre de Londres. Os resultados sugeriram a continuidade do desenvolvimento da FE na adolescência, a qual a alternância continuou se desenvolvendo na adolescência e a memória de trabalho modificou- se até a idade adulta jovem, embora as variáveis para inibição revelaram-se não relacionadas. No entanto, a memória de trabalho é a que mais contribuiu no desempenho do Teste de Classificação de Cartas em todas as faixas etárias estudadas. Teste de Trilhas: é um instrumento utilizado na avaliação de diversas medidas, como velocidade de processamento e funções executivas (Tombaugh, 2004). Contudo, é utilizado, especialmente, enquanto medida de flexibilidade cognitiva (Pereira, León, Dias & Seabra, 2012). É dividido em duas partes: na parte A o examinando precisa conectar sequencialmente 25 números distribuídos aleatoriamente sem retirar a mão do papel, e a parte B impõe um pouco mais de 28 dificuldade, já que são acrescentadas letras. Desse modo, é necessário alternar entre números e letras para realizar a tarefa adequadamente, isto é, o participante conecta o número 1 com a letra A e depois segue para o número 2 e a letra B, e, assim, sucessivamente (Tombaugh, 2004). Além disso, é solicitado ao examinando que responda o mais rápido e da melhor maneira possível; caso erre e perceba o erro, a instrução é que volte ao número ou à letra que errou e continue a partir dele(a) (Tombaugh, 2004). O escore é anotado com base no tempo total de realização em cada parte do teste, junto com a quantidade de acertos e erros (Tombaugh, 2004). As pontuações geralmente variam conforme a idade dos participantes e nível de escolaridade: os sujeitos mais velhos e com menor nível de escolaridade tendem a apresentar menores desempenhos, sobretudo na parte B do teste (Tombaugh, 2004; Zimmermann, Cardoso, Kristensen & Fonseca, 2017). O nível de escolaridade dos pais também parece influenciar o desempenho de crianças, conforme demonstrando no estudo de Arango-Lasprilla et al (2017). Os pesquisadores estudaram um grupo de 3.337 crianças típicas entre 6 e 14 anos, sendo oriundas de nove países latino- americanos falantes de espanhol. Os resultados apontaram que as crianças cujos pais possuíam acima de 12 anos de escolaridade também apresentavam melhores desempenhos do que àquelas com pais que possuíam menos de 12 anos de escolaridade (Arango-Lasprilla et al, 2017). No entanto, as crianças mais velhas tenderam a apresentar melhores desempenhos do que as mais novas em ambas as partes do teste (Arango-Lasprilla et al, 2017). No Brasil, detalhes sobre a fundamentação teórica, estudos de caso, qualidades psicométricas e tabelas de normatização do Teste de Trilhas, assim como a versão do instrumento para escolares podem ser encontradas no primeiro volume da Coleção Avaliação Neuropsicológica Cognitiva organizada por Seabra & Dias (2012) (Araújo, 2016). O Teste de Trilhas Para Escolares (adaptado na versão brasileira por Trevisan & Seabra, 2012, citados por Pereira, Dias, Araújo & Seabra, 2018) substitui os números e as letras por figuras para adequar-se ao nível de escolaridade das crianças ao não requerer conhecimento acadêmico formal (Pereira, Dias, Araújo & Seabra, 2018). Na parte A, é solicitado à criança que ligue os cachorros de acordo com o tamanho, e na parte B, o(a) examinando(a) precisa alternar entre cachorros e ossos, que também devem ser ligados por ordem do tamanho (Pereira, Dias, Araújo & Seabra, 2018). O interesse crescente na avaliação das funções executivas em idade precoce também estimulou a investigação de indicadores de desatenção e hiperatividade em crianças escolares, de 29 modo que o instrumento demonstrou ser um bom indicador nesse sentido (Pereira, León, Dias & Seabra, 2012). Mais recentemente, pesquisadoras brasileiras (Pereira, Dias, Araújo & Seabra, 2018) têm contribuído na criação de dados normativos preliminares em uma amostra de crianças portuguesas pré-escolares entre 5-6 anos. Os resultados evidenciaram melhores desempenhos significativos das amostras brasileiras do que as portuguesas nas duas partes do teste, sobretudo em relação aos participantes de 5 anos quando comparados aos de 6. Contrário à literatura, não foram observadas diferenças de desempenho significativas entre os dois grupos etários de crianças portuguesas (Pereira, Dias, Araújo & Seabra, 2018). As autoras explicaram esses resultados devido à possível influência do contexto cultural o qual permitiu diferenças entre as amostras de crianças brasileiras e portuguesas, e também se apoiaram em Diamond (2013) pela autora considerar a flexibilidade cognitiva uma habilidade mais complexa e que surgiria mais tardiamente na trajetória desenvolvimental. Escalas Wechsler (WISC, WAIS, WIAT e WPPSI): pesquisadores utilizam essas escalas tanto para avaliar as funções executivas, sobretudo por meio do subteste Dígitos Ordem Inversa, quanto para outras habilidades cognitivas (Santana, Melo & Minervino, 2019), apesar de, originalmente, tais escalas terem sido desenvolvidas enquanto ferramentas para o construto inteligência. Para ampliar a compreensão sobre esse contexto de empregá-las na avaliação das funções executivas vale citar o estudo de Duff, Schoenberg, Scott & Adams (2005) sobre as relações entre as funções executivas, aprendizagem verbal e visual e memória com 212 pacientes de condições de saúde diversas e na faixa etária entre 17 e 84 anos. Para avaliá-los foram escolhidos inúmeros instrumentos, a exemplo do COWAT (Benton & Hamsher, 1989 citados por Duff, Schoenberg, Scott& Adams, 2005), WCST, Teste de Trilhas e WAIS-R. Após a organização dos dados em quatro correlações canônicas e posterior análise os autores encontraram que as habilidades executivas apresentavam forte correlação com as medidas de memória (os construtos se sobrepuseram em mais de 50% na população estudada). Sobreposição ainda maior acontecera, especificamente, entre as funções executivas e a memória verbal, em torno de 55%. Os autores ressaltaram que, devido a isso, não foi surpresa ao observarem que a inteligência, medida com a WAIS-R, influenciou nesse “índice” de memória verbal. Assim, os achados também indicaram que os participantes com melhores desempenhos nas funções executivas apresentavam melhores medidas de memória e também tenderam a ter os mais altos QIs. Embora o contrário também fosse verdadeiro, àqueles achados foram mais robustos do 30 que estes últimos (Duff, Schoenberg, Scott & Adams, 2005). Teste de Stroop (Stroop Test): inicialmente utilizado para testar o efeito de interferência ou inibição o examinador apresenta cartões com estímulos específicos os quais devem ser lidos em voz alta da esquerda para a direita, e de cima para baixo, e o mais rapidamente possível (Stroop, 1935; Comalli Jr, Wapner & Werner, 1962). A literatura acadêmica demonstra diferentes variações no teste de Stroop, com interferência mínima ou máxima (Jensen, 1965; Davidson, Amso, Anderson & Diamond, 2006; Oliveira, Mograbi, Gabrig & Charchat-Fichman, 2016). No artigo de Comalli Jr, Wapner & Werner (1962) verifica-se um exemplo de utilização clássica do teste de Stroop. Os pesquisadores se apoiaram em três tipos de cartões, apresentados sucessivamente. Todavia, as diferentes versões do teste de Stroop, geralmente, dispõem de cartões formados por 10 linhas no total, em que cada linha contém 10 itens, cujos estímulos estão distribuídos aleatoriamente seguindo essa configuração, mas sem se repetir imediatamente (Stroop, 1935; Comalli Jr, Wapner & Werner, 1962). O cartão A (ou condição de interferência mínima) é formado por palavras ou pontos impressos em tinta preta, no entanto, todas as palavras ou pontos se referem à cores (azul, vermelho, verde, etc.) (Comalli Jr, Wapner & Werner, 1962; Oliveira, Mograbi, Gabrig & Charchat-Fichman, 2016). O cartão B é constituído por quadrados preenchidos com cores diferentes, ou seja, solicita-se que o examinando nomeie os quadrados coloridos. O fato dos estímulos nos cartões A e B terem que ser lidos tal qual estão impressos, diz- se que essas duas partes do teste exibem uma condição congruente (Comalli Jr, Wapner & Werner, 1962). O cartão C, quando empregado, normalmente, representa a condição máxima de interferência no contexto clínico ou de pesquisa, inclui, novamente, palavras-cores impressas, isto é, palavras apenas da categoria cores; a novidade é que o grau de dificuldade (ou interferência) da tarefa é maior, já que as palavras-cores estão impressas em tintas diferentes da palavra-cor (condição incongruente) (Comalli Jr, Wapner & Werner, 1962; Oliveira, Mograbi, Gabrig & Charchat-Fichman, 2016). Assim, se uma palavra-cor for azul e estiver impressa em tinta vermelha, a resposta correta a ser emitida é vermelho. Igualmente, se uma palavra-cor for amarelo e estiver impressa em tinta verde, o participante deve ler verde. O tempo total de execução em cada parte do teste é anotado em segundos e utilizado enquanto medida do teste. Melhores desempenhos indicam menores tempos de execução (Stroop, 1935; Comalli Jr, Wapner & Werner, 1962; Jensen, 1965; Oliveira, Mograbi, Gabrig & Charchat-Fichman, 2016). 31 Sobre a condição máxima de interferência Davidson, Amso, Anderson & Diamond (2006) argumentaram que nos estudos clássicos sobre o efeito Stroop, a condição de alternância, isto é, formada por um conjunto de blocos congruentes e incongruentes, é geralmente isenta do bloco de tarefas administrado. Mas, apesar de ser considerada a condição mais difícil, ela deveria estar incluída, pois é altamente sensível à progressão desenvolvimental (Davidson, Amso, Anderson & Diamond, 2006). No Brasil, um estudo de normatização do teste de Stroop realizado com 390 crianças neurotípicas entre 7 e 14 anos corroborou a literatura tocante à sensibilidade do teste ao curso desenvolvimental, as quais as crianças mais velhas apresentaram melhores desempenhos do que as mais novas (Oliveira, Mograbi, Gabrig & Charchat-Fichman, 2016). No entanto, independente da idade, o tempo e a quantidade de erros no teste aumentou à medida que a interferência aumentava (Oliveira, Mograbi, Gabrig & Charchat-Fichman, 2016). Os resultados da análise de cluster também indicaram que a atenção era um domínio cognitivo recrutado no teste de Stroop. Dado que também ratificou a literatura acadêmica, ao mesmo tempo que apontou para evidências de validade do estudo em questão, já que a atenção seletiva é uma das habilidades consideradas presentes na realização do teste (Oliveira, Mograbi, Gabrig & Charchat-Fichman, 2016). A despeito das diferenças procedimentais entre os estudos dedicados à trajetória desenvolvimental das FE, Davidson, Amso, Anderson & Diamond (2006) não se esqueceram de ressaltar a surpresa ao perceberem que os resultados do trabalho deles foram consistentes com outros publicados. Depreende-se que os pesquisadores puderam se valer de comparações entre os diversos estudos sobre esse tópico mesmo diante de importantes diferenças nos procedimentos adotados. Outro ponto importante de ser mencionado sobre instrumentos de avaliação neuropsicológica refere-se à questões de ordem estatística. Toplak, West & Stanovich (2013) ao questionarem se as medidas dos sujeitos (incluindo adultos e crianças advindos de grupos clínicos, não clínicos e combinados) baseadas no desempenho e na avaliação de funções executivas acessavam o mesmo construto, concluíram que apenas 24% das principais correlações entre esses dois níveis de mensuração pelos artigos examinados revelaram-se estatisticamente significativas. Isto é, os dois tipos de medidas avaliam diferentes construtos mentais subjacentes às FE, e não as avaliam diretamente. Tais resultados vão de contramão ao que é estabelecido como um princípio básico na 32 ciência sobre validade convergente, as quais as diferentes maneiras de operacionalizar medidas de um mesmo construto devem estar fortemente correlacionadas para serem válidas (Toplak, West & Stanovich, 2013). As medidas baseadas no desempenho indicam a eficiência de processamento (mente algorítmica) e as medidas de avaliação presumem a busca de objetivos individuais (mente reflexiva) (Toplak, West & Stanovich, 2013). As implicações do estudo é que embora ambos os tipos de medidas sejam úteis e eficientes isoladamente, não devem ser utilizadas de forma paralela e intercambiável nas avaliações clínicas (Toplak, West & Stanovich, 2013). A despeito das dificuldades, complexidade, dicotomias e limitações, Handan & Pereira (2009) salientaram a importância da escolha de um modelo teórico para a avaliação das funções executivas. Por isso, para o presente trabalho, fora escolhido o Modelo de Diamond (2013). Por fim, a complexidade, dificuldades, juntamente com os ganhos e as perdas inerentes ao definir um modelo teórico que subjaza um trabalho sobre funções executivas, bem como a escolha dos testes neuropsicológicos mais adequados à população em estudo, associadas aos objetivos e contextos clínicos ou de pesquisa, metaforicamente, faz ressoar a poeta brasileira Cecília Meireles em seu poema Ou Isto ou Aquilo (2012). Ao mesmo tempo o próprio poema poderia ser uma indicação literária da presença das FE em nossas vidas, como demonstram as estrofes a seguir: Ou guardo o dinheiro e não compro o doce, ou compro o doce e gasto o dinheiro. Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo… E vivo escolhendo o diainteiro! Não sei se brinco, não sei se estudo, Se saio correndo ou fico tranquilo. Mas não consegui entender ainda qual é melhor: se é isso ou aquilo. (Cecília Meireles, Ou Isto ou Aquilo, 2012) 2.4. As Funções Executivas no Contexto Escolar Os artigos apresentados nesta seção privilegiou estudos realizados em escolas e que conseguissem contemplar ou se aproximar dos anos escolares e do leque de idade dos alunos participantes do presente trabalho. Objetivou-se, com isso, compreender a avaliação das funções 33 executivas sob esse contexto, a fim de, a posteriori, comparar, mais satisfatoriamente, a literatura acadêmica com os resultados demonstrados na seção dedicada a esse fim. A autora deparou-se com um corpo teórico denso, o qual, ressalta-se que os estudos voltados às avaliações das funções executivas com crianças escolares geralmente eram acompanhados por avaliações de outras medidas para além das FE. Em resumo, é possível dizer que os estudos que apontaram para as FE como habilidades centrais em crianças pré-escolares e/ou escolares trouxeram contribuições quanto à importância do desenvolvimento precoce das FE e demonstram a longa trajetória de desenvolvimento das FE até a vida adulta (Huizinga, Dolan & van der Molen, 2006; Best, Miller & Jones, 2009; Brooks- Gunn, Markman-Pithers & Rouse, 2016; Diamond, 2013; 2014; 2016; Cirino et al., 2018; Beisly, Kwon & Jeon, 2019). Àqueles que relacionaram funções executivas e matemática demonstraram as correlações significativas entre os dois construtos (Allen, Higgins & Adams, 2019; Nguyen, Duncan, Bailey, 2019). Os que se propuseram avaliar, concomitantemente, funções executivas e habilidades de leitura revelaram o quão as FE participavam no desenvolvimento em habilidades de leitura e estão implicadas com o sucesso leitor (Salles & Paulla, 2016; Follmer, 2017; Franchis, Usai, Viterbori & Traverso, 2017; Cirino, Ahmed, Miciak, Taylor, Gerst & Barnes, 2018; Cartwright, Marshall, Huemer & Cartwright, Marshall, Huemer & Payne, 2019). Os estudos que se propuseram discutir, ao mesmo tempo, funções executivas, habilidades de leitura e matemática e/ou outras habilidades acadêmicas reforçaram a importância das primeiras para o adequado sucesso acadêmico e o quanto as habilidades de FE conseguiriam prever o desempenho acadêmico posterior (Ahmed, Tang, Waters & Davis-Kean, 2018; Megherbi, Elbro, Oakhill, Segui & New, 2018; Nguyen & Duncan, 2018; Beisly, Kwon & Jeon, 2019; Kyttälä, Kanerva, Munter & Björn, 2019; McKinnon & Blair, 2019; Morgan, Farkas, Wanga, Hillmeier, Oh & Maczuga, 2019; Cartwright, Marshall, Huemer & Payne, 2019; Son, Choi, & Kwon, 2019). Trabalhos que relataram programas interventivos ou estratégias pedagógicas com o objetivo de favorecer o desenvolvimento das FE demonstraram benefícios às FE, habilidades acadêmicas e/ou sociais das crianças quando essas propostas são inseridas no currículo escolar, sobretudo por estimularem as FE de crianças que apresentavam o desempenho frágil nessas habilidades (Dias, 2013; Diamond, 2016; Brooks-Gunn, Markman-Pithers & Rouse, 2016). 34 Já estudos de funções executivas que decidiram privilegiar o contexto escolar relacionando-as com outros construtos ainda não mencionados anteriormente, a exemplo de habilidades de linguagem, motoras, sociais e/ou contexto sociodemográfico apontaram correlações entre eles (Martens, Friede & Molitor, 2018; Pace, Alper, Burchical, Golinkoff & Hirsh-Pasek, 2018; Purpura & Schmitt, 2017; Sanders, Berninger & Abbott, 2018; Spengler, Damian & Roberts, 2018; Willoughby, Piper, Kwayumba & McCune, 2018). No entanto, os parágrafos subsequentes concentraram-se em trabalhos sobre a avaliação das funções executivas de escolares mais estritamente. Isto é, na ausência de outras variáveis, a exemplo de medidas de leitura, matemática, entre outras. A exceção se fez para determinados tipos de estudos, quando as qualidades apresentadas por eles superavam a importância desse recorte. A princípio, é interessante expor um estudo conduzido nos Estados Unidos com 846 estudantes entre 8 e 12 anos, oriundos de 147 salas de aula e 19 escolas. Verificou-se que uma parte considerável dos estudantes apresentavam dificuldades de leitura e provinham de contextos demográficos variáveis. Esses participantes foram propositadamente incluídos na amostra, sem distingui-los entre si. Ao todo, 27 medidas (e tarefas) de funções executivas foram consideradas, embora as 27 tarefas não tenham sido realizadas ao mesmo tempo com todas as crianças. As variáveis foram: memória de trabalho, inibição, alternância, aprendizagem autorregulada, fluência gerativa, metacognição e regulação comportamental (Cirino, Ahmed, Miciak, Taylor, Gerst & Barnes, 2018). Os autores afirmaram que esses subcomponentes das funções executivas não têm sido estudados simultaneamente, sobretudo com essa faixa etária e tamanho da amostra. As medidas foram analisadas por meio de modelos estruturais das funções executivas (dos modelos unitários aos metodológicos), servindo-se de técnicas analíticas de fatores de comparação de modelos. Os resultados apontaram para uma correlação positiva entre a idade das crianças e funções executivas de modo geral. À vista disso, os resultados corroboraram a literatura no tocante ao aumento progressivo das FE conforme escolaridade e idade das crianças avança (Cirino, Ahmed, Miciak, Taylor, Gerst & Barnes, 2018). Outrossim, evidenciaram tanto uma uniformidade, quanto uma separabilidade potencial das funções executivas, de modo que não foi possível concluir quais das funções executivas contribuíam igualmente para um único fator e quais eram “separáveis” e não se sobrepunham. No entanto, foi possível esclarecer quais dos subcomponentes se revelaram mais 35 independentes (aprendizagem autorregulada, metacognição e várias medidas de desempenho das funções executivas) e quais demonstraram estar mais relacionados (medidas de alternância, memória de trabalho como span/manipulação, planejamento e fluência gerativa) (Cirino, Ahmed, Miciak, Taylor, Gerst & Barnes, 2018). Uma contribuição evidente que se pode perceber desse estudo foi a proposta de analisar medidas variáveis de funções executivas a partir de modelos preponderantes desse construto. Frequentemente os trabalhos sobre a avaliação das FE se restringem a um número menor de subcomponentes estudados ou mesmo a um único subcomponente isolado (Cartwright, Marshall, Huemer & Payne 2019; Son, Choi, Kwon; 2019) , em geral, memória de trabalho (Allen, Higgins & Adams, 2019; Gonthier, Zira, Colé & Blaye, 2018; Kyttälä, Kanerva, Munter & Björn, 2019). No entanto, quando diferentes medidas de FE são consideradas em um único estudo, além de enriquecê-lo, fortalecem-se as evidências. Pertinente também foi a análise dos dados à luz de diferentes perspectivas teóricas, pois os autores pareceram mais interessados em discutir o construto FE do que enquadrá-lo em um modelo particular quando as discussões sobre o que é e/ou são a(s) FE ainda estão em curso e provavelmente se encontram longe de se encerrarem. Com isso, é possível indagar sobre o grau de relevância da escolha de um modelo teórico das funções executivas em igualdade ou em detrimento das possíveis contribuições derivadas dos achados das pesquisas. A escolha de um modelo teórico das funções executivas em uma pesquisa deveria mesmo ser encarada como uma premissa ou como uma evidência de resultados? Não seria mais oportuno se todas as pesquisas analisassem os resultados a partir de diferentes lentes teóricas? Afinal, as tarefas utilizadas na avaliação das funções executivas muitas vezes coincidem, independentemente do modelo teórico eleito pelo grupo de pesquisadores. Por outro lado, a despeito da amostra ser propositadamente heterogênea ao incluir estudantes de diferentes estratos
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